View
213
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
A EDUCAÇÃO COMO SUPERAÇÃO DA POBREZA E A DESIGUALDADE SOCIAL
NO MUNICÍPIO DE ANTÔNIO JOÃO/MS
Ari Miguel de Souza
Resumo: A educação como superação da pobreza e a desigualdade social, nos sugere uma
pesquisa que mostre como o bolsa família contribui na superação da pobreza e a desigualdade
social através da educação no município de Antônio João/MS. Este trabalho tem como objetivo
investigar uma questão relevante no momento, que é o bolsa família, bem como sua influência
no desenvolvimento dos beneficiários, crianças adolescentes e suas famílias, como são
aplicadas as condicionantes que o programa exige e quais as exigências que os beneficiários
devem cumprir para que continuem recebendo o benefício. No entanto, devemos dizer que
historicamente a educação perpetua a pobreza, porém com as lutas dos coletivos sociais
organizados esperamos reverter a situação. Para o desenvolvimento da pesquisa realizamos
entrevistas com a direção e coordenação de uma escola pública de Antônio João/MS. Os
resultados mostraram que ainda falta muito para ser feito no sentido de superar a pobreza e/ou
extrema pobreza através da educação. Concluímos que não só através da educação poderemos
superar a pobreza e/ou extrema pobreza em nosso município, para tanto devemos unir esforços
na busca desta superação unindo todos os autores engajados nesta causa.
Palavras-chave: Superação. Desigualdade. Educação Escolar. Bolsa Família.
1 INTRODUÇÃO
O tema desta pesquisa é a relação entre o Programa Bolsa Família, a educação escolar
e a desigualdade social. O Programa Bolsa Família sempre se torna centro de discussões,
principalmente quando o assunto é política. Este estudo parte da compreensão da importância
do Programa Bolsa Família para o enfrentamento da desigualdade social e da pobreza através
da educação. Nossa pesquisa tem como ponto de partida as seguintes questões: Qual a
relevância do programa bolsa família na superação da pobreza e/ou extrema pobreza no
Graduado em Pedagogia pela Faculdade de Educação Ciências e Letras de Ponta Porã/MS – MAGSUL. Membro
do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente – CMDCA. Pedagogo técnico na Secretaria
Municipal do Trabalho e Assistência Social, no Município de Antônio João – Mato Grosso do Sul.
município de Antônio João/MS? Qual a visão de diretores, coordenadores pedagógicos e
professores sobre a pobreza e seu lugar nos currículos escolares?
Esta pesquisa tem como objetivo investigar a visão da equipe pedagógica (diretor e
coordenador) de uma escola pública de Antônio João/MS sobre a pobreza e o Programa Bolsa
Família. Analisar a percepção do professor, coordenador e diretor escolar diante da
desigualdade social em uma escola pública do município, bem como suas contribuições para a
formação humana dos beneficiários do Programa Bolsa Família.
Para a realização da pesquisa faremos entrevistas semiestruturadas com o Diretor
escolar e o Coordenador pedagógico de uma escola pública do município de Antônio João/MS.
2 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA EM ANTONIO JOÃO/MS
O município de Antônio João possui as seguintes características econômicas e politicas
envolvendo a pobreza e extrema pobreza. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e
Agrário (MDSA),
No acompanhamento do Plano Brasil Sem Miséria, o MDS utiliza as
informações do Cadastro Único. Ele provê dados individualizados,
atualizados no máximo a cada dois anos, sobre os brasileiros com renda
familiar de até meio salário mínimo per capita, permitindo saber quem são,
onde moram, o perfil de cada um dos membros das famílias e as características
dos seus domicílios. De acordo com os registros de fevereiro de 2016 do
Cadastro Único e com a folha de pagamentos de abril de 2016 do Programa
Bolsa Família, o município tem: - 2.334 famílias registradas no Cadastro
Único - 901 famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família (37,87 % da
população do município) Cobertura cadastral e Busca Ativa Para avaliar as
necessidades da gestão do Cadastro Único em cada cidade, o MDS trabalha
com estimativas municipais da quantidade de famílias que devem ser incluídas
no Cadastro (todas as famílias do município com renda mensal de até meio
salário mínimo por pessoa). (BRASIL, 2016, p. 2).
O município de Antônio João como os demais municípios do País, não ficou de fora
desta grande politica de erradicação da extrema pobreza, passando assim a compor junto ao
MDSA os serviços e programas por ele oferecido, assim sendo no ano de 2005 o município
passou a ter em seu território os seguintes serviços de atendimento a população:
O fortalecimento da agenda municipal da assistência social, em especial no
que diz respeito à estruturação do SUAS, requer reforço no seu financiamento.
É por isso que o MDSA disponibiliza aos municípios recursos para a
ampliação da rede e a qualificação de seus serviços. Em abril de 2016 o
município tinha em seu território: - 1 Centro de Referência da Assistência
Social (CRAS) financiado pelo MDSA. - 1 Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS) financiado pelo MDSA,
(BRASIL, 2016, p. 3).
Com estes serviços e programas o município passou a oferecer a um numero de
beneficiários conforme orientação do Ministério do desenvolvimento Social e Agrário, MDSA,
ao seguinte número de famílias.
Em abril de 2016, o município tinha 901 famílias no Programa Bolsa Família.
Isso representa 96,06 % do total estimado de famílias do município com perfil
de renda do programa (cobertura de 96,06 %). Foram transferidos R$
162.017,00 às famílias beneficiárias do Programa em abril de 2016. De junho
de 2011 (início do Plano Brasil Sem Miséria) a abril de 2016, houve aumento
de 12,91 % no total de famílias beneficiárias. Em março de 2013, o benefício
do Brasil Carinhoso, inicialmente pago a famílias extremamente pobres com
filhos de 0 a 15 anos, foi estendido a todas as famílias do Bolsa Família. Com
a mudança, todas as famílias do programa superam a extrema pobreza,
(BRASIL, 2016, p.3).
Estas famílias beneficiarias do programa bolsa família são convidadas a cumprir
algumas condicionantes para se manter recebendo os benefícios do Governo Federal que são
repassado de fundo a fundo, ou seja direto na conta de cada beneficiário, as condicionantes são
requisito ou contra partida de cada família terá que desempenhar para continuar recebendo o
benefício, segundo o MDSA, são as seguintes:
Ao entrar no Bolsa Família, a família assume alguns compromissos: as
crianças e jovens devem frequentar a escola; as crianças precisam ser
vacinadas e ter acompanhamento nutricional; e as gestantes devem fazer o pré-
natal. No município, 73,90 % das crianças e jovens de 6 a 17 anos do Bolsa
Família têm acompanhamento de frequência escolar. Na área da saúde, o
acompanhamento chega a 64,51 % das famílias com perfil, ou seja, aquelas
com crianças de até 7 anos e/ou com gestantes, (BRASIL, 2016, p.4).
No entanto o município possui uma população de 8.208 habitantes (IBGE 2010), sendo
deste total, 1.162 na extrema pobreza, com renda per capta abaixo de R$ 70,00 perfazendo
14.2% da população municipal. Deste total de 1.162 da extrema pobreza 397(34,1%) estavam
no meio rural e 765 (65,9 %) viviam na no meio urbano, (IBGE 2010). Segundo Teles Stein
(2013):
Consequência de discussões, o PBF foi apresentado por meio da Medida
Provisória no 132, de 20/10/2003, transformada na Lei no 10.836,de
09/01/2004, sendo o programa regulamentado em setembro de 2004, com o
Decreto no 5.209. O PBF se define como um PTCM que beneficia famílias
em situação de pobreza e de extrema pobreza no Brasil. Atualmente, o
programa integra o Plano Brasil Sem Miséria (PBSM), este baseado na
garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos. O PBF
não exige qualquer tipo de contribuição previa para o acesso aos benefícios,
dividindo opiniões de pesquisadores que ora o classificam como um favor
(não se constitui como direito), ora como “quais-direito social” (direito
condicionado a meta orçamentaria) (MEDEIROS; BRITTO; SOARES, 2007,
p. 9). No polemico debate do direito aos benefícios do programa, a lei assim
declara: “o Poder Executivo devera compatibilizar a quantidade de
beneficiários do Programa Bolsa Família com as dotações orçamentarias
existentes” (BRASIL, 2004). Com efeito, tratando-se de quase direito ou não,
Soares e Satyro (2009) entendem que, quando um programa e regido por
orçamento definido e custos rígidos, a definição de metas de famílias
beneficiarias e de orçamento passa a ser indispensável, (TELE e STEIN, 2013,
p. 191).
3 ESCOLA E POBREZA: SUPERANDO A DESIGUALDADE SOCIAL
A escola pode ajudar ou excluir ainda mais os pobres, ensinar ou segregar os educandos.
No entanto, entendemos que a superação da pobreza não passa tão somente pela educação
escolar, mas também pelo entendimento do que é ser pobre classe social historicamente
marginalizada a fim de conhecer e entender o que é ser pobre num contexto educacional
celetista e horizontal.
Sendo assim, o currículo deve acabar com questão moralizante.
De acordo com esse entendimento, a pobreza se repete, se alimenta de si
mesma, ou está em lentas mutações circulares que deixam os(as) pobres no
mesmo lugar, porque continuam sendo pensados como coletivos tradicionais,
atolados em valores tradicionais que, na própria cultura pobre, reconstroem as
mesmas visões, as mesmas técnicas elementares de sobrevivência, tal como
se sua moral fosse insuficiente para o progresso econômico. De acordo com
essa visão, essas pessoas permanecem à margem da evolução da sociedade,
da ciência, das tecnologias. A lógica do viver dos(as) pobres seria essa
repetição, essa permanência, estar num círculo de pobreza fechado à evolução
e ao desenvolvimento. A vida cotidiana dos pobres reproduziria esse círculo
da pobreza: sobreviver no presente. É preciso romper com essa visão para que
alunos e alunas pobres de nossas escolas sejam tratados com dignidade, e sua
pobreza compreendida como fruto de relações históricas sociais injustas,
(ARROYO, 2015, p,10).
Historicamente a educação perpetua a pobreza, porém com as lutas dos coletivos sociais
organizados sempre esteve presente na superação da pobreza e foi através dos movimentos
sociais que chegaram às conquistas almejadas dentro da educação. Nesta tentativa vemos que
Young (2007) nos mostra qual o papel da escola neste contexto:
Todo pai e todo professor devem fazer a pergunta: “Para que servem as
escolas?”. É claro que a família e a escola não são as únicas instituições com
propósitos que devemos questionar, mas são um caso especial. As famílias,
como tal, têm um papel único, que é o de reproduzir sociedades humanas e
fornecer condições que possibilitem suas inovações e mudanças. Quanto às
escolas, sem elas, cada geração teria que começar do zero ou, como as
sociedades que existiram antes das escolas, permanecer praticamente
inalterada durante séculos. Há, no entanto, motivos mais específicos para se
perguntar: “Para que servem as escolas?” hoje em dia. Desde a década de
1970, educadores radicais e muitos sociólogos críticos questionam o papel das
escolas e as vê em de maneira bem negativa. Devo argumentar que, apesar de
terem um fundo de verdade que não devemos esquecer, essas críticas são
fundamentalmente equivocadas. Mais recentemente, John White, o filósofo da
educação, deu uma resposta crítica, mas explicitamente positiva a essa
pergunta (WHITE, 2007, apud YOUNG, 2007, p. 6).
No entanto, a escola através de seus currículos tenta mostrar um lado do qual pouco
interessa a classe menos favorecida, nesta lógica voltamos a Young (2007), quando nos diz que:
A luta histórica pelos propósitos da escolaridade pode ser vista em termos de
duas tensões. A primeira é entre os objetivos da emancipação e da dominação.
A segunda tensão é entre as perguntas; “Quem recebe a escolaridade?” e “O
que o indivíduo recebe?”. A luta pelas escolas neste país, com algumas
exceções, considerou a segunda pergunta como já resolvida e se concentrou
na primeira. É claro que os termos nos quais cada uma dessas perguntas foi
debatida mudaram. A questão do “acesso” começou com a campanha por
escolaridade básica gratuita no século XIX, provocou lutas pelos exames 11+2
e seleção e hoje se expressa em termos de objetivos de promover a inclusão
social e ampliar a participação. (YOUNG, 2007, p. 6).
Diante destas questões podemos dizer que a escola através dos profissionais da educação
tenta amenizar a questão da pobreza, porém pouco se faz para superá-la, pois, sabemos que só
a educação não conseguirá esta meta, daí os programas como bolsa família para manter ou
segurar a criança ou adolescentes na escola. Segundo Arroyo (2015).
A postura mais comum é ver a pobreza como carência e, consequentemente,
os(as) pobres como carentes. Porém, de que forma esse desprovimento é,
muitas vezes, entendido? Percebemos que, na pedagogia, frequentemente ele
tem sido compreendido como escassez de espírito, de valores e, inclusive,
incapacidade para o estudo e a aprendizagem. Contudo, sabemos que, ao invés
disso, deve-se atentar para as privações materiais que impossibilitam uma vida
digna e justa a esses sujeitos, (ARROYO, 2015, p. 06).
No entanto, enquanto estivermos tratando o pobre como um ser invisível, a escola não
estará fazendo nada para mudar esta realidade. Temos sim que passar a ver e trabalhar a pobreza
não como uma coisa feia, porém, auxiliando o aluno pobre a reconhecer uma situação da qual
ele faz parte, impulsionando-o na busca pela superação. No entanto, reconhecemos que não é
somente a educação que o levará a uma posição de superação da pobreza, a educação, fará com
que ele passe a entender sua própria situação e que o mesmo passe a aceitar sua classe social.
A escola tem esta obrigação de fazer o pobre reconhecer sua posição social e obter
conhecimentos para superá-la.
Para tanto, é preciso que a escola assuma sua função de transmitir conhecimentos
relevantes e necessários para o aluno compreender sua história e a si mesmo como um sujeito
que pode modifica-la. Ao contrário do que percebemos no cotidiano escolar, quando a pobreza
é estigmatizada e o aluno subestimado em sua capacidade e direitos.
Podemos observar que a pedagogia e a docência tendem a considerar,
sobretudo, supostas carências intelectuais e morais que os(as) estudantes
pobres carregariam para as escolas. Essas são carências de conhecimentos, de
valores, de hábitos de estudo, de disciplina, de moralidade. Desse modo,
reforça-se uma concepção moralista sobre os pobres que se encontra há muito
tempo em nossa cultura política e pedagógica: a pobreza moral dos pobres
produzindo a sua pobreza material, (ARROYO, 2015, p. 6).
Nesta perspectiva é que devemos levar a escola a reconhecer a situação de pobre e não
a ignorar como se nada estivesse acontecendo e até mesmo contribuindo para a perpetuação
desta condição. “Reconhecer a pobreza e as desigualdades, fundamentalmente, significa levar
em conta que a existência persistente dos pobres nas escolas brasileiras traz reflexões
importantes para as práticas pedagógicas e para a gestão educacional” (ARROYO, 2015, p. 6),
nesta mesma linha podemos também afirmar que não só a escola mas, seus profissionais
também terão que saber reconhecer a pobreza como classe social e não como uma situação
marginalizada do ser humano.
4 A EDUCAÇÃO E A POBREZA EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE ANTONIO
JOÃO/MS
Para a realização desta pesquisa, buscamos analisar a visão do Coordenador e Diretor
de uma escola pública municipal de Antônio João acerca do programa bolsa família. Nossa
preocupação está em conhecer se a educação tem atingido seus objetivos na superação da
pobreza e/ou extrema pobreza no âmbito do município, tendo como mediador o professor, o
projeto político pedagógico e a escola como um todo imbuída de fazer cumprir o currículo
básico da educação nacional na busca de mudanças de atitudes por parte dos menos favorecidos
e marginalizados pela sociedade capitalista.
Entretanto, a educação tem atingido seus objetivos na superação da pobreza e/ou
extrema pobreza no âmbito do município, tendo como mediador o professor, o projeto político
pedagógico e a escola como um todo imbuída de fazer cumprir o currículo básico da educação
nacional na busca de mudanças de atitudes por parte dos menos favorecidos e marginalizados
pela sociedade capitalista.
Para tanto devemos ter a visão dos Coordenadores e Diretor diante do olhar educacional
ao programa bolsa família. Para a realização da pesquisa realizamos entrevistas com Diretor
escolar e Coordenador pedagógico, na busca de melhor informar nossa pesquisa estas
entrevistas serão escritas e cada entrevistado terá liberdade de discorrer sobre o assunto a ele
direcionado.
Neste cenário passamos a contar com a participação dos entrevistados, sendo um Diretor
e um Coordenador. Assim, quanto ao desempenho da escola frente seus beneficiários a diretora
nos mostra a seguinte situação:
Nossa escola conta com um numero de 292 bolsistas do programa bolsa
família, não temos problema com as famílias, pois, elas cumprem todas as
condicionantes exigidas pelo programa, à evasão é mínima representando
menos de 1%, a repetência também é muito baixa de forma que podemos a
firmar que nesta escola o bolsa família é muito bem aproveitada, em sala de
aula há uma participação de todos com o objetivo de aprender, nossos bolsistas
são acídulos e participativos. A escola trabalha a pobreza com clareza sem
esconder esta realidade até porque faz parte da vida da escola por ela esta
localizada em uma região periférica da cidade e sua clientela é composta por
pessoas de baixa renda ou desempregados, mães solteiras, avós chefes de
famílias, típico de uma classe social extremamente pobre. Em nosso currículo
oculto trabalhamos esta questão de forma simples fazendo com que todos
entendam sua realidade ensinando sem fazer com que o estudo seja a parte
mais importante de sua vida, assim é nosso dia a dia nesta escola municipal
de Antônio João, (DIRETORA).
Na fala da diretora é percebido que, mesmo que a pobreza seja a realidade evidente
daquela comunidade, a temática é trabalhada de forma velada, ou seja, no currículo oculto da
escola. Desta forma, a pobreza não tem centralidade no trabalho pedagógico, passa a ser
secundária no processo educativo.
No que diz respeito ao aprendizado dos bolsistas, a diretora foi enfática em afirmar que:
Em nossa escola tratamos todos por igual independente de pertencer ou não
ao programa bolsa família, isto porque para a escola o que interessa é o
aprendizado do aluno e não a qual programa ele faz parte. (DIRETORA).
Ao ser questionada sobre a forma como a pobreza é trabalhada no fazer pedagógico, a
entrevistada nos conta que:
Todos os profissionais estão orientados a trabalhar sem distinção social,
porém sabemos que cada pessoa tem suas crenças, seus ideais e os
profissionais não são diferentes. Eles trabalham segundo sua visão social,
porém são incentivados a não tratar as diferenças pela diferença e, sim,
mostrar ao aluno que ele tem valor a ser preservado e não será sua condição
social que o fará melhor ou pior. (DIRETORA)
Neste caso a diretora deixa claro que cada profissional dentro da escola tem visões e
crenças diferentes, ou seja, sua própria individualidade. O que muitas vezes faz com que tenham
atitudes e formas de trabalho também diferenciados. Apesar da escola, segundo a diretora,
incentivar o trabalho com a pobreza, a mesma é tratada no âmbito do respeito às diferenças. O
que pode, dependendo dos objetivos do trabalho a ser desenvolvido, reforçar a aceitação desta
situação.
Ao perguntarmos sobre os benefícios do programa bolsa família aos seus usuários, a
diretora diz:
Os beneficiários do bolsa família que frequentam a escola nos tem mostrado
que o benefício por eles recebido serve para incentivá-los a estudar e não só
frequentar a escola, nesta perspectiva vejo que os beneficiários estão
preocupados em realmente estudar e não frequentar por que participam de
programa de repasse do Governo Federal, sendo assim resta me dizer que não
temos problemas de ordem prejudicial aos nossos beneficiários
(DIRETORA).
Podemos dizer que, para a diretora, o Programa Bolsa Família (PBF), é uma fonte de
recurso para as famílias, e que, além disso, tem incentivado o estudo na vida escolar das crianças
e adolescentes beneficiários. No entanto, nos perguntamos, até que ponto este incentivo é pela
ação do estudo, para o aprendizado significativo, ou, se pode ser somente uma questão de
necessidade financeira. Já que, segundo a própria diretora, esta comunidade vive em situação
de pobreza e extrema pobreza.
Perguntamos, “qual o desempenho da escola na superação da pobreza e/ou extrema
pobreza?” para o coordenador da escola, que nos respondeu:
Nossa escola há muitos anos vem trabalhando com esta questão, estou na
escola faz vários anos sempre participando da vida destes bolsistas, e vejo o
bolsa família como sendo um grande avanço por parte do governo, por
oferecer esta oportunidade aos menos favorecidos, nossos beneficiários são
assíduos e participativos, bem como as famílias que atendem nossos chamados
quando necessário. Neste cenário podemos afirmar que não só os alunos, mas,
a família como um todo está imbuída em ver seus filhos participando da vida
da escola em sua plenitude. Por outro lado, não podemos deixar de dizer da
participação do professor que são os grandes incentivadores destes que são os
mais importantes para escola na busca do conhecimento sistematizado, os
alunos, (COORDENADOR).
Nesta fala a coordenadora aponta as vantagens do bolsa família para auxiliar nas
necessidades das famílias que vivem na pobreza e extrema pobreza. Além disso, aponta a
participação destas nas atividades escolares. O que é, para nós, um ponto muito importante no
que diz respeito à formação do aluno. Visto que esta formação passa pela escola, mas não pode
se fechar nela mesma. É preciso que a família participe e incentive os alunos para o aprendizado
do conhecimento.
Outro fator relevante é o papel dos professores para que os processos de ensino e de
aprendizagem ocorram. Portanto, a conscientização dos próprios professores é fundamental,
pois, os objetivos do trabalho pedagógico são determinados de acordo com suas próprias visões
e crenças, como lembrou a diretora entrevistada.
Neste sentido, no que diz respeito ao aprendizado dos bolsistas:
Esta coordenação não vê diferença no trabalho pedagógico até porque em sala
de aula não faz diferença se o aluno participa ou não de algum programa de
repasse de verbas do Governo Federal ou Estadual, estamos focados em
oferecer o ensino sistematizado independente de sua situação ou condição
social (COORDENADOR).
Mais uma vez fica evidente que não há um trabalho voltado especificamente para a
temática da pobreza na escola, visto que esta realidade social é tida como uma mera diferença
entre os alunos e precisa ser respeitada. No entanto, o respeito passa pela atitude de ignorá-la
como uma realidade que precisa ser discutida e compreendida para, então, ser superada. De
acordo com a coordenação pedagógica.
A pobreza não possui um destaque na pratica pedagógica, até porque nossa
escola vive a pobreza do município por estar em uma região pobre da cidade,
sendo assim nosso trabalho já contempla a pobreza uma vez que a clientela da
escola é na sua maioria de pobre e baixa renda, estamos localizados na
periferia da cidade e atendemos não só esta região e também grande parte da
zona rural do município é atendido por nossa escola, (COORDENADOR).
Na visão da Coordenação o bolsa família traz benefício aos seus usuários, pois,
Uma vez que temos uma baixa evasão escolar bem como um baixo índice de
reprovação, podemos dizer que o bolsa família traz sim bons benefícios aos
seus beneficiários. A escola acompanha esta questão desde os tempos do
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. A meu ver só a questão da
frequência é que deixa muito a desejar, mais isto é uma questão da
Coordenação do Programa no Município e do Governo Federal através da
Caixa Econômica Federal que quem gerencia os cadastros dos Programas do
Governo Federal, (COORDENADOR).
Diante da fala destes profissionais podemos observar que a escola de maneira aleatória
faz alguma coisa pela pobreza, porém, não deixa claro sua efetiva preocupação com o assunto.
A escola e seus profissionais precisa definir uma posição mais combativa para a formação do
pobre dentro da escola e para isto devemos contar com outros mecanismos que nos levarão a
superação desta situação de desigualdade social na sociedade capitalista, ou seja, a superação
das classes sociais. O Programa Bolsa Família tem sido essencial para que essas crianças
tenham a oportunidade de aprender e estar na escola, amenizando os efeitos da pobreza.
Por meio da relação entre os três eixos de sua composição – transferência de
renda, condicionalidades e programas complementares –, são apresentados os
seguintes objetivos do PBF: promover o alivio imediato da pobreza; contribuir
na redução da desigualdade de renda; reforçar o acesso a direitos sociais nas
áreas de educação, saúde e assistência social; e colaborar no desenvolvimento
das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação em
que se encontram (TELES e STEIN, 2013, p. 191).
Entretanto, precisamos ir além, é necessário que a compreensão e conscientização desta
situação. Com isto a escola passa a desenvolver um papel fundamental na vida não só dos
bolsistas, mas também na comunidade estudantil da qual esteja envolvida.
No entanto, o Projeto Político Pedagógico da escola não deixa claro como a pobreza
pode e deve ser tratada no âmbito escolar, esta ação é puramente oculta e pouco se faz para que
aja a superação da pobreza e/ou extrema pobreza. No trabalho desenvolvido em sala de aula o
aluno é ajudado por ser pobre ou por fazer parte do programa Bolsa Família (PBF), não há um
trabalho direcionado para trabalhar a questão da pobreza e isto fica claro no Currículo escolar,
a partir do qual são trabalhados com toda ênfase as matérias que fazem parte da base nacional
pedagógica.
O currículo escolar pouco trata da pobreza, assim como o Projeto Politico Pedagógico.
A ênfase é nas matérias elencadas nacionalmente sem muitas mudanças, embora a escola tenha
a autonomia de elaborar conforme sua realidade, isto não é levado em consideração. Para
Saviani (2015),
A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que
possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio acesso
aos rudimentos desse saber. As atividades da escola básica devem se organizar
a partir dessa questão. Se chamarmos isso de currículo, poderemos então
afirmar que é a partir do saber sistematizado que se estrutura o currículo da
escola elementar. Ora, o saber sistematizado, a cultura erudita, é uma cultura
letrada. Daí que a primeira exigência para o acesso a esse tipo de saber é
aprender a ler e escrever. Além disso, é preciso também aprender a linguagem
dos números, a linguagem da natureza e a linguagem da sociedade. Está aí o
conteúdo fundamental da escola elementar: ler, escrever, contar, os
rudimentos das ciências naturais e das ciências sociais (história e geografia
humanas), (SAVIANI, 2015, p.3)
No entanto a escola não cumpre com essa realidade e faz desta uma instituição de
reprodução e de levar o conhecimento de fato como deveria ser feito cumprindo suas
formalidades legais e deixando seu principal papel de lado.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados mostraram que ainda falta muita coisa para ser feito no sentido de superar
a pobreza e/ou extrema pobreza temos que ter é ação que mostre a preocupação com esta classe
marginalizada pela sociedade.
Nosso esforço no sentido de melhor esclarecer através deste trabalho a questão da
pobreza e de como superá-la através da educação, neste sentido concentramos nossos estudos
na busca de melhor entender a temática da pobreza no âmbito educacional e traçar alguns
caminhos para a superação da mesma através da superação da pobreza e da desigualdade social,
tanto do lado social, mas, com muito mais efetivação na educação.
Concluímos que não só através da educação poderemos superar a pobreza e/ou extrema
pobreza em nosso município, para tanto devemos unir esforços na busca desta superação unindo
todos os autores engajados nesta nobre causa.
Este estudo nos leva a refletir que enquanto não reconhecermos a pobreza e sua
existência nada poderá ser feito a fim de superá-la. Diante disso, não só a educação, mas, todos
os setores envolvidos nesta temática deverão de forma atuante levar o assunto da pobreza
mesmo que de maneira a reconhecer que ser pobre não é ser marginal, mas pertencer a uma
classe social marginalizada pelas classes mais abastadas. Ser pobre é um sofrimento e não uma
condição de vida.
6 REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel González. Pobreza e Currículo: uma complexa articulação - Módulo IV,
2015.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e
Documentação - referencias - elaboração. Rio de Janeiro 2002.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário – MDSA: acessado em
20/05/2016 http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/portal/
TELES Alan e STEIN, Rosa Helena,YANNOULAS, Silvia Cristina, (coord.). Politica
educacional e pobreza: múltiplas abordagens para uma relação multideterminada / Brasilia:
Liber Livro, 2013.
SAVIANI, Dermeval. Sobre a natureza e especificidade da educação. Germinal: Marxismo e
Educação em Debate, Salvador, v. 7, n. 1, p. 286-293, jun. 2015.
YOUNG, Michael. Para Que Servem As Escolas?- Artigo, 1287 Educ. Soc., Campinas, vol.
28, n. 101, p. 1287-1302, set./dez. 2007 Disponível em http://www.cedes.unicamp.br
Recommended