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Trabalho de Conclusão de Curso A FREQUÊNCIA X RENDIMENTO ESCOLAR DE ALUNOS INTEGRANTES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE NAVIRAÍ Fernanda Alves Souto RESUMO: O presente trabalho aborda a temática do Programa Bolsa Família e sua condicionalidade da frequência escolar, buscando verificar se a frequência do aluno beneficiário garante seu aprendizado, se melhora o desenvolvimento/aproveitamento escolar do aluno. Foi inicialmente realizado um levantamento de dados na Assistência Social do município para se verificar o número de famílias beneficiarias do programa, na sequencia a pesquisa foi realizada na rede municipal de ensino de Naviraí/MS, com alunos que são beneficiários do programa há três anos, seus professores, os boletins e pastas dos anos anteriores dos alunos. Observou-se que a frequência escolar não é, todavia determinante do bom desempenho escolar. Mas que o Programa Bolsa Família contribuiu muito para o desenvolvimento de alguns de seus beneficiários. Se o Programa aliasse a frequência escolar ao desempenho escolar, fazendo com que o desempenho escolar se tornasse uma das condicionalidades a eficácia do Programa seria muito melhor. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Programa Bolsa Família. Frequência Escola. Aprendizagem. Aproveitamento/desenvolvimento Escolar. 1 INTRODUÇÃO Com base nos estudos realizados durante o Curso de Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social escolheu-se o tema da frequência e aproveitamento escolar de alunos integrantes do Programa Bolsa Família com o objetivo de verificar se a frequência escolar se relaciona de forma significativa com o aproveitamento escolar dos alunos, identificar o desenvolvimento/desempenho escolar dos alunos a partir do ingresso ao Programa Bolsa Família e analisar se a frequência escolar é determinante para o bom desempenho do aluno. Muito se tem falado a respeito do bom aproveitamento escolar dos alunos beneficiários do Programa Bolsa Família, com este estudo será possível constatar se realmente o programa tem propiciado este bom aproveitamento. Sendo a frequência escolar uma das condicionalidades do Programa Bolsa Família, mas será que somente a

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Trabalho de Conclusão de Curso

A FREQUÊNCIA X RENDIMENTO ESCOLAR DE ALUNOS INTEGRANTES DO

PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE NAVIRAÍ

Fernanda Alves Souto

RESUMO:

O presente trabalho aborda a temática do Programa Bolsa Família e sua condicionalidade da

frequência escolar, buscando verificar se a frequência do aluno beneficiário garante seu

aprendizado, se melhora o desenvolvimento/aproveitamento escolar do aluno. Foi

inicialmente realizado um levantamento de dados na Assistência Social do município para se

verificar o número de famílias beneficiarias do programa, na sequencia a pesquisa foi

realizada na rede municipal de ensino de Naviraí/MS, com alunos que são beneficiários do

programa há três anos, seus professores, os boletins e pastas dos anos anteriores dos alunos.

Observou-se que a frequência escolar não é, todavia determinante do bom desempenho

escolar. Mas que o Programa Bolsa Família contribuiu muito para o desenvolvimento de

alguns de seus beneficiários. Se o Programa aliasse a frequência escolar ao desempenho

escolar, fazendo com que o desempenho escolar se tornasse uma das condicionalidades a

eficácia do Programa seria muito melhor.

PALAVRAS-CHAVE: Educação. Programa Bolsa Família. Frequência Escola.

Aprendizagem. Aproveitamento/desenvolvimento Escolar.

1 INTRODUÇÃO

Com base nos estudos realizados durante o Curso de Especialização em Educação,

Pobreza e Desigualdade Social escolheu-se o tema da frequência e aproveitamento escolar de

alunos integrantes do Programa Bolsa Família com o objetivo de verificar se a frequência

escolar se relaciona de forma significativa com o aproveitamento escolar dos alunos,

identificar o desenvolvimento/desempenho escolar dos alunos a partir do ingresso ao

Programa Bolsa Família e analisar se a frequência escolar é determinante para o bom

desempenho do aluno.

Muito se tem falado a respeito do bom aproveitamento escolar dos alunos

beneficiários do Programa Bolsa Família, com este estudo será possível constatar se

realmente o programa tem propiciado este bom aproveitamento. Sendo a frequência escolar

uma das condicionalidades do Programa Bolsa Família, mas será que somente a

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obrigatoriedade da frequência escolar será suficiente para garantir o aprendizado do aluno

beneficiário? Será que seu rendimento escolar melhorará somente com a frequência.

O estudo se faz relevante no tocante a sua abordagem atual sendo algo para ser

pensado se realmente se deveria cobrar somente a frequência, pois programas como o Fies e

Prouni, Bolsa Permanência e outros cobram além da frequência bom rendimento escolar,

sendo esta uma forma de tentar garantir uma melhor aprendizagem aos alunos participantes

dos programas e não somente o acesso e a permanência, mas uma forma de o aluno realmente

ter um aprendizado que será relevante para o seu futuro. É preciso fornecer meios de acesso,

de permanência e meios de aprendizagens, a partir dos quais o aluno seja formado de maneira

o mais eficiente possível, conforme suas habilidades.

Os objetivos da pesquisa foram verificar se a frequência escolar se relaciona de forma

significativa com o aproveitamento escolar do aluno integrante do Programa Bolsa Família e

com isso identificar como era o desenvolvimento/desempenho escolar do aluno antes do

ingresso ao Programa Bolsa Família. A pesquisa foi realizada com dois alunos, cada um em

uma escola da rede municipal de educação do município de Naviraí, sendo dessa forma um

estudo de caso.

2 CONSIDERAÇÕES A CERCA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR

A Educação escolar é o processo de educação que se realiza em um sistema escolar de

ensino, sendo desenvolvido em institutos e demais instituições autorizadas pelo Ministério da

Educação (MEC) como as escolas particulares, as públicas nas esferas municipais, estaduais e

federais.

O surgimento da educação escolar está ligado ao aparecimento formal das escolas e

consequentemente das políticas educacionais desenvolvidas e executadas pelo Estado.

O conceito de educação escolar surge para diferenciar-se do processo de educação,

sendo que esta não ocorre necessariamente em uma instituição conforme demostrado pelo da

Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em seu Art. 1º A educação abrange os processos formativos

que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de

ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas

manifestações culturais (BRASIL, 2016).

Dessa forma, a escola é um espaço físico com normas e regras, para a transmissão de

uma determinada cultura, denominada de cultura escolar, evidenciada no inciso 1º da (LDB)

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a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em

instituições próprias (BRASIL, 2016).

Conforme consta na Constituição Federal de 1988 a educação escolar é:

Art. 205 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho.

Art. 206 (*) O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I -

igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade

de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III

- pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de

instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público

em estabelecimentos oficiais; [...] VII - garantia de padrão de qualidade. (*)

Emenda Constitucional Nº 19, de 1998.

Art. 208 (*) O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a

garantia de:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele

não tiveram acesso na idade própria;

II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

(BRASIL, 2016).

3 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Os programas de transferência de renda constituem-se em uma política efetiva de

combate à pobreza, ao focar na população mais carente e apresentar condicionalidades que

beneficiam a proteção e o acúmulo de capital humano, por meio da obrigatoriedade de

presença no sistema escolar e atendimento médico disponível.

Os mesmos resultados são observados em programas de transferência de renda com

condicionalidade que, em geral, visam a aumentar a frequência à escola e o aproveitamento

escolar, além de melhorar comportamentos de prevenção à saúde.

O Programa Bolsa Família tem como principal objetivo combater a pobreza e a

desigualdade social existente no Brasil, criado em 2003, possui três eixos principais, que

norteiam o seu funcionamento, sendo eles: complemento da renda e acesso a direitos,

possuindo articulação com outras ações (BRASIL, 2016).

O eixo de complemento da renda compreende no valor mensalmente recebido

do benefício em dinheiro, repassado pelo governo federal às famílias brasileiras. Com

esse eixo podemos perceber que é ele quem permite amenizar a situação de pobreza

na qual os beneficiários se encontram (BRASIL, 2016).

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O segundo eixo, do acesso a direitos, trata-se das condicionalidades existentes às quais as

famílias beneficiárias têm de se enquadrar, voltados para as áreas da educação, saúde e

assistência social, permitindo assim a inclusão social destas pessoas e melhores condições

para saírem da realidade na qual se encontram. Estas condicionalidades têm a

intencionalidade de garantia de direitos básicos para a população em situação de pobreza,

cabendo ao poder público assegurar os serviços que atendam estes direitos na área da

educação, saúde e assistência social (BRASIL, 2016).

Terceiro e último eixo, articulação com outras ações, vem colocar que o programa

pode unir políticas sociais para que os beneficiários possam se desenvolver através delas, e

podendo se sobressair às condições de pobreza e de vulnerabilidade social. A partir de 2011,

o Programa passou a pertencer ao Plano Brasil Sem Miséria, que articulou várias ações, para

terem garantia de acesso a esses direitos, oportunidade de emprego, desenvolvimento.

(BRASIL, 2016).

O Programa Bolsa Família está previsto na Lei Federal nº 10.836, de 9 de janeiro de

2004, sendo regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004, e demais

normas (BRASIL, 2016).

O Programa Bolsa Família, dessa forma, é uma estratégia do Governo que tem como

objetivo minimizar as consequências da desigualdade social no Brasil e promover o acesso e

permanência dos sujeitos na escola e com isso possui condicionalidades para a educação e

para a saúde, condicionalidades estas que os beneficiários devem cumprir para que possam

fazer jus ao beneficio (PIRES, 2013).

As condicionalidades da educação são relacionadas à frequência escolar. É preciso

que as crianças e adolescentes frequentem a escola, e a mesma é responsável pelo registro da

frequência e repasse ao órgão responsável. Os beneficiários precisam matricular as crianças e

adolescentes de seis a quinze anos em estabelecimento regular de ensino, garantir a

frequência escolar de no mínimo oitenta e cinco por cento da carga horária mensal do ano

letivo e informar à escola em casos de falta por motivos de doença ou outros apresentar

justificativa plausível (BRASIL, 2016).

As condicionalidades em relação à educação e à saúde do PBF foram

estabelecidas com o propósito de contribuir para o aumento das capacidades

das pessoas, tendo em vista o combate à pobreza. O pressuposto desse

entendimento é que os filhos dos mais pobres, por meio do acesso aos

serviços de educação e saúde, ampliariam seu Capital Humano e, assim,

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obteriam maiores possibilidades de ingressar no mercado de trabalho, gerar

renda e sair da condição de pobreza quando adultos (PIRES, 2013, p.515).

Sendo dever da família manter o cadastro atualizado no sistema do programa, indo até

o CRAS, informar sempre sobre as mudanças, seja de endereço, de escola, de trabalho, dentre

outras (BRASIL, 2016).

Com base no material disponível sobre o Programa Bolsa Família foi possível

observar que com esta política, com base em suas condicionalidades, existem um número

maior de crianças no ensino fundamental fase I que anteriormente estavam fora da escola,

sendo estas crianças provenientes de famílias de baixa renda. Mas este número vai

diminuindo no ensino fundamental II, e no médio se torna menor ainda (LEITE, 2014).

Sendo, observado que se tornam mais dificultoso para os alunos tanto beneficiários do

Programa Bolsa Família quanto para os nãos beneficiários continuarem seus estudos, pois

normalmente precisam ingressar no mercado de trabalho para ajudar a família. Dessa forma,

a quantidade de alunos ingressantes no ensino fundamental I, que finalizam o ensino médio é

muito discrepante, sendo uma parcela muito pequena que consegue finalizar esta etapa da

educação básica (LEITE, 2014).

Em relação à taxa de abandono da escola por parte dos beneficiários do Programa

Bolsa Família é menor do que a dos não participantes, ou seja, os alunos do programa, de

uma forma ou de outra, continuam na escola, mesmo enfrentando muitas dificuldades

(LEITE, 2014).

A taxa de aprovação dos alunos beneficiados do programa bolsa família é bem

próxima a dos alunos sem o programa bolsa família no ensino fundamental. Já no ensino

médio ocorre ao contrario a maior taxa é para os alunos com o beneficio, mas algo que

chamou atenção foi na região nordeste na qual os alunos sem o beneficio possuem menor

nível de aprovação do que os com beneficio (LEITE, 2014).

4 RENDIMENTO ESCOLAR

O rendimento escolar é o resultado do equilíbrio e da adequada ação dos diversos

fatores tanto de origem interna como externa que influenciam no processo de aprendizagem

do aluno. As dificuldades de aprendizagem vivenciadas pelo aluno poderão ter repercussões

negativas no rendimento escolar. O rendimento escolar como sucesso e insucesso escolar

poderá ser influenciado por fatores das mais variadas ordens e dimensão, desde que alterem a

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funcionalidade psicossocial do aluno em interação e relação com o mundo que o cerca

(PEREIRA, 2015).

Há alunos cujo insucesso escolar está relacionado com problemas do âmbito

das dificuldades de aprendizagem, as quais têm origem em particularidades

das suas aptidões cognitivas, ou até de vivências emocionais na família ou

com pares, mas também há alunos em que o insucesso escolar depende

exclusivamente da sua dedicação ao estudo e da falta de motivação para

tarefas escolares, porque noutras, por exemplo lúdicas, demonstra elevado

rendimento. Na opinião de J. A. Bzuneck (2009), a responsabilidade pela

desmotivação do aluno não poderá ser-lhe atribuída na totalidade, porque

também existem problemas motivacionais que emergem das condições

ambientais e da própria interacção do aluno com outros agentes – familiares,

pares, professores. Embora muitas das vezes a desmotivação do aluno tem a

ver com o facto deles mesmos trazerem para a sala de aula os seus interesses

e valores individuais (PEREIRA, 2015, p.527).

Dessa forma, o insucesso ou sucesso escolar depende de uma gama intensa e

complexa de diversos fatores tanto internos quanto externos que envolvem o aluno, no

contexto da escola, da família, da sociedade, ou seja, o todo que envolve o aluno e suas

relações sociais.

Muitas vezes o aluno sofre bloqueios com a aprendizagem, os quais demoram e

muitas vezes nem são superados e o aluno fica com estas falhas na aprendizagem, com déficit

de aprendizagem de alguns conceitos, conteúdos, que o atrapalham na progressão dos estudos

escolares.

5 METODOLOGIA E DADOS COLETADOS

No presente trabalho utilizou-se a pesquisa qualitativa, de natureza descritiva que visa

coletar informações de forma direta e indireta. O pesquisador dessa forma dessa forma

procura diminuir a distância entre a teoria e os dados coletados. As experiências pessoais do

pesquisador são importantes para a interpretação e analise dos dados coletados na pesquisa

(TEIXEIRA, 2006).

Foi realizada primeiramente uma pesquisa bibliográfica para a fundamentação teórica,

para se aprofundar o conhecimento sobre a temática. Dessa forma, Severino (2007, p.122)

afirma que:

A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro

disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos,

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como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas

já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos

tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a

partir das contribuições dos outros autores dos estudos analíticos constantes

dos textos.

Para a coleta de dados será aplicada a pesquisa de campo, contendo pesquisa

documental para coleta de documentos legais, e para se obter maiores informações/dados será

necessários a realização de entrevistas semiestruturadas. A pesquisa de campo é com a qual

se podem ter condições de obter dados sem a interferência do pesquisador, a pesquisa

documental de acordo com Severino (2007, p.123) pode ter diversas fontes como:

[...] pesquisa documental, tem-se como fonte documentos no sentido amplo,

ou seja, não só de documentos impressos, mas sobretudo de outros tipos de

documentos, tais como jornais, fotos, filmes, gravações, documentos legais.

Nestes casos, os conteúdos dos textos ainda não tiveram nenhum tratamento

analítico, são ainda matéria-prima, a partir da qual o pesquisador vai

desenvolver sua investigação e análise.

Foi realizado um levantamento de quantas famílias beneficiárias do Programa Bolsa

Família existem no município junto a Assistência Social no CRAS.

A pesquisa será realizada por amostragem, com alunos que são beneficiários do

Programa Bolsa Família, que ingressaram no programa quando estavam no terceiro ano do

ensino fundamental e que no momento atual estão no quinto ano, ou seja, que são

beneficiários do programa há três anos, e de preferencia que estudam na mesma escola desde

o primeiro ano do ensino fundamental. A pesquisa foi realizada na rede municipal de ensino

da cidade de Naviraí/MS.

Foram realizadas observações nas pastas dos alunos dos anos de 2011 a 2016, para se

verificar as notas bimestrais e faltas e consequentemente a evolução ou não dos alunos. Em

2011 os alunos se encontravam no primeiro ano, em 2012 no segundo ano, em 2013 no

terceiro ano, em 2014 no quarto ano e em 2016 no quinto ano do ensino fundamental.

A pesquisa foi realizada em duas escolas, um aluno por escola, sendo pesquisados

dois alunos no total. Foram entrevistados os atuais professores regentes destes alunos e a

coordenação pedagógica das duas escolas com a finalidade de se investigar o

desenvolvimento escolar desses alunos ano no decorrer desses anos e nos anos anteriores.

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Trabalho de Conclusão de Curso

No município de Naviraí o Programa atende por volta de cinco mil famílias, nas mais

diversas organizações familiares, sendo a maioria composta de mães como genitora do lar e

os filhos (crianças e adolescentes) seus dependentes. Levando-se em conta que o município

apresenta uma população aproximadamente de cinquenta mil habitantes, o Programa atende

dez por cento dessa população.

Foram traçados alguns requisitos para a escolha dos alunos/beneficiários para a

pesquisa. O aluno deveria estar no quinto do ensino fundamental e de preferência ter estudo

desde o primeiro ano na mesma escola e ser beneficiário do programa há dois anos.

Foram escolhidos dois alunos no total, em duas escolas municipais que apresentaram

os requisitos desejados. Sendo um aluno em cada escola.

Foram coletadas as informações referentes ao rendimento escolar desde o primeiro

ano do ensino fundamental do ano de 2011até o segundo bimestre do quinto ano do ensino

fundamental do ano de 2016. As pastas continham notas de atividades avaliativas e as médias

bimestrais, anotações em relação ao comportamento e a evolução do aluno e suas faltas.

Foram realizadas entrevistas com a equipe da coordenação das escolas, com o intuito

de buscar maiores informações referentes aos alunos.

6 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

As duas escolas são municipais e ficam na periferia da cidade, as escolas foram

identificadas por E1e E2, o aluno da escola E1 de A-1 e o aluno da escola E2 de A-2, uma

forma de manter o anonimato das escolas e dos alunos envolvidos na pesquisa.

Primeiramente foi realizada a verificação das pastas dos alunos, desde o primeiro ano

do ensino fundamental, comparando a relação das notas, comportamentos e faltas. Em

relação ao primeiro ano os alunos não apresentaram notas, pois o sistema avalia com base no

desenvolvimento individual de cada aluno atribuindo conceitos.

Os alunos da escola E1 e E2 no primeiro ano realizavam as atividades, eram

participativos e dedicados, tendo se desenvolvido e evoluído dentro do esperado para a fase.

A única diferença encontrada foi em relação às faltas o aluno A-1 tinha cento e oito faltas e

em sua pasta foi registrado que isso dificultou seu aprendizado, pois acabou perdendo de

realizar diversas atividades importantes para o seu desenvolvimento escolar, sendo que o

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aluno possuía um grande potencial para ser explorado, segundo anotações da professora na

pasta. O aluno A-2 tinha dezesseis faltas.

Para melhor exemplificação dos dados coletados foram construídas duas tabelas para

expor as médias anuais dos alunos no segundo, terceiro e quarto anos do ensino fundamental.

Tabela 1

Aluno A-1 / Escola E1

Matérias 2013 / 2º Ano 2014 / 3º Ano 2015 / 4º Ano

Português 6.0 5.5 (Exame) 7.5

Matemática 6.0 5.5 (Exame) 6.5

Ciências 6.0 6.0 7.5

Geografia 6.0 6.5 7.5.

História 6.0 6.5 8.0

Artes 7.0 7.5 8.0

P.I 6.5 5.5 (Exame) 7.5

Inglês 6.0 6.5 7.0

Ed. Física 7.5 7.0 9.0

Faltas 98 123 08

Fonte: Autor. Tabela de notas anuais aluno A-1.

O aluno A-1 ingressou no Programa Bolsa Família em abril de 2014, em suas pastas

de 2012 e 2013 havia registros referentes às faltas, que as mesmas prejudicavam seu

rendimento escolar e em 2013 ficou de exame por que faltou muito e perdeu muitos

conteúdos, mas acabou conseguindo recuperar . Ao passou que ingressou ao Programa, sendo

uma das condicionalidades a frequência a escola, o aluno diminuiu consideravelmente as

faltas e apresentou uma melhora considerável em relação as notas como se pode observar na

tabela acima.

Em entrevista com a coordenação a mesma comentou que após o ingresso da família

no programa, a mãe do aluno passou a frequentar a escola com maior frequência e verificar se

realmente o filho estava melhorando e frequentando.

A coordenação evidenciou que a mãe mudou radicalmente sua atitude frente aos

cuidados com o filho. Em 2015 a mãe voltou a estudar na EJA para terminar o ensino

fundamental e assim incentivar os filhos aos estudos. A mãe passou por momentos difíceis

com a saúde de um de seus filhos memores e por isso de tantas faltas, já que ela tinha que

sempre estar viajando para Campo Grande a tratamento e quem cuidava era o pai, mas o

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mesmo só vivia bêbado, e por isso que o aluno A-1 tinham tantas faltas, mas hoje ela se

encontra separada do marido, relatos da coordenação.

No quinto ano em 2016 o aluno A-1 nos dois primeiros bimestres apresentou notas

acima da média, e faltas apenas duas faltas, a professora regente em entrevista comentou que

ele é dedicado, não falta, sempre presta muito atenção, ajuda os colegas que precisam de

ajuda faz todos os trabalhos, que o aluno realmente gosta de estudar.

Tabela 2

Aluno A-2 / Escola E2

Matérias 2013 / 2º Ano 2014 / 3º Ano 2015 / 4º Ano

Português 6.0 6.5 5.5 (exame)

Matemática 6.0 6.0 5.5 (exame)

Ciências 6.0 6.0 6.0

Geografia 6.0 6.0 6.0

História 6.0 6.0 6.0

Artes 6.5 7.0 6.5

P.I 6.0 6.5 6.5

Inglês 6.0 7.5 6.0

Ed. Física 8.5 8.0 7.5

Faltas 09 06 08

Fonte: Autor. Tabela de notas anuais aluno A-2.

O aluno A-2 ingressou no Programa Bolsa Família em fevereiro de 2014, observando

as pastas do aluno do segundo, terceiro e quarto ano as notas estão na media, as anotações são

referentes à falta de interesse do aluno, que o mesmo possui grande potencial, mas que brinca

demais e faz as atividades correndo.

O aluno não apresentou falta que pudesse prejudicar seu desenvolvimento, mas

mesmo assim seu desenvolvimento não melhorou ao com o ingresso no programa.

A coordenação relatou que o mesmo tem uma mãe presente desde o primeiro ano, e

que ele realmente não se esforça e não faz por preguiça, para terminar logo e ir à carteira do

colega conversar, que para ele é tudo brincadeira. Que em 2014 quando ficou de exame

chorou e estudou bastante para os exames e tirou boas notas, apenas falta nele interesse e

comprometimento com os estudos, palavras da coordenação.

Em 2016 nos dois primeiros bimestres ele não apresentou nem uma falta, mas as notas

não estão boas, Português, Matemática e P.I estão abaixo da media, o restante esta na média.

Em conversa com a professora que é a mesma do ano anterior, ou seja, do quarto ano, disse

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que ele esta fazendo igual ao ano passado só brincando, fazendo as atividades de maneira

rápida e mal feita para conversar, e mas provas é do mesmo jeito, faz correndo para terminar

logo e não ler corretamente, deixa questão sem responder.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na pesquisa realizada junto as pastas dos alunos, aos professores e a

coordenação foi possível observar que em um dos casos a frequência auxiliou no

desenvolvimento do aluno, mas no outro caso não. Dessa maneira não se pode dizer que a

frequência é determinante ou não para um bom desempenho do aluno.

No primeiro caso ela foi determinante para a melhora do desempenho do aluno A-1,

pois o mesmo faltava muito e perdi muitos conteúdos, sendo difícil acompanhar a turma, e ao

passou que ingressou ao Programa Bolsa Família e que teve sua frequência garantida, seu

desenvolvimento melhorou consideravelmente. O Programa não só contribuiu para ofertar a

frequência do aluno, como a melhora na qualidade de vida da família como um todo.

Já no caso do aluno A-2, o mesmo nunca apresentou problemas com faltas, mas seu

rendimento ficou estagnado na maioria das disciplinas, em Português e Matemática caiu

ficando de exame e neste ano de 2016 nos dois primeiros bimestres apresentou notas baixas,

ou seja, a obrigatoriedade da frequência neste caso não alterou em nada o desenvolvimento

do aluno, já que o mesmo não havia problemas com falta.

Mas, o que não se pode negligenciar é que o Programa Bolsa Família contribui e

muito para a melhora no rendimento escolar do aluno A-1. Já no caso do aluno A-2 não se

pode dizer que o programa com a condicionalidade da frequência tenha o auxiliado em seu

desenvolvimento escolar, pode-se aferir que podem ter outras causas por motivadoras da falta

de interesse do aluno em questão, e que mesmo ele não faltando, estando todos os dias em

sala de aula, acaba por não acomodar os conhecimentos repassados e apreendidos em sala de

aula, que podem ser fatores tanto internos como externos, neste caso precisaria de uma

investigação minuciosa e ajuda de profissionais competentes para tentar entender a falta de

interesse desde aluno, esta é uma situação complexa que vai além deste mero ensaio de

pesquisa, que abordou somente dois casos específicos. Podendo posteriormente ser expandido

para um número maior de participantes integrantes do Programa Bolsa Família para se

analisar de mais ampla quantitativamente a relação entre a frequência e o bom rendimento

escolar.

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Trabalho de Conclusão de Curso

8 REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel González. Pobreza, desigualdades e educação. Módulo Introdutório.

UFSC: ETV, 2014.

ARROYO, Miguel González. Pobreza e Currículo: uma complexa articulação. Módulo

IV. UFSC: ETV, 2014.

BRASIL. Decreto nº 5.209 de 17 de setembro de 2004. Regulamenta a Lei nº 10.836, de 9

de janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa Família, e dá outras providências. Diário

Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 20 set. 2004. p. 3. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5209compilado.htm>.

Acesso em: 25 nov. 2015.

______. Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Cria o Programa Bolsa Família e dá outras

providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 12 jan. 2004. p. 1.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-

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