A Igualdade Social Nao Sera Obra Da Generosidade Dos Ricos Elisee Reclus Bpi

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    BPI Biblioteca Pblica Independente

    A Igualdade Social no ser obra da generosidade de ricoslise Reclus

    Extrado da obra A Evoluo, a Revoluo e o Ideal Anarquista, lanada pela EditoraImaginrio em 2002. O ttulo nosso. (retirado do blog

    http://www.coletivopaem.blogspot.com/ do coletivo PAEM de Dourados e lanado na BPI).

    As boas almas esperam que, no obstante, tudo se arranjar, e que, em um dia derevoluo pacfica, veremos os defensores do privilgio cederem de bom grado pressovinda de baixo. verdade, confiamos que eles cedero um dia, mas ento o sentimento que os guiarno ser certamente de origem espontnea: a apreenso do futuro e principalmente apercepo de fatos consumados, portanto o carter do irrevogvel, impor-lhes-o umamudana de rumo; eles se modificaro, sem dvida, mas quando houver para elesimpossibilidade absoluta de continuar os erros seguidos. Esses tempos ainda estodistantes. Faz parte da prpria natureza das coisas que todo organismo funcione nosentido de seu desenvolvimento normal: ele pode parar, quebrar-se, mas no funcionar savessas. Toda autoridade procura crescer s expensas de um maior nmero deindivduos; toda monarquia tende forosamente a se tornar monarquia universal. Para umCarlos V, que, refugiado em um convento, assiste de longe a tragicomdia dos povos,quantos outros soberanos cuja ambio de comandar nunca ser satisfeita e que, exceto aglria e o gnio, so outros tantos Alexandres, Csares e tilas? Assim tambm, osfinancista que, cansados de ganhar, do todos os seus haveres a uma bela causa, soseres relativamente raros: mesmo aqueles que tivessem a sabedoria de moderar seusdesejos no podem parar diante dessa fantasia: o meio no qual eles se encontramcontinua a trabalhar para eles; os capitais no cessam de reproduzir-se em rendimentos ajuros compostos. To logo um homem investido de uma autoridade qualquer, sacerdotal,militar, administrativa ou financeira, sua tendncia natural us-la, e sem controle; noexiste carcereiro que no gire sua chave na fechadura com um sentimento glorioso de suaonipotncia; no h guarda campestre que no vigie a propriedade dos senhores comolhares de dio contra o ladro de frutas; no h oficial de justia que no sinta umsoberbo desprezo pelo pobre diabo ao qual ele intima. E se os indivduos isolados j esto enamorados pela parte de realeza queimprudentemente se lhes distribuiu, muito mais ainda os corpos constitudos com tradiesde poder hereditrio e um ponto de honra coletivo! Compreende-se que um indivduo,submetido a uma influncia particular, possa estar acessvel razo ou bondade, e que,tocado por uma repentina piedade, abdique de seu poder ou entregue sua fortuna, feliz de

  • reencontrar a paz e ser acolhido como um irmo por aqueles que outrora oprimia sem seuconhecimento ou inconscientemente; mas como esperar semelhante ato de toda umacasta de homens ligados, uns aos outros, por uma corrente de interesses, pelas iluses epelas convenes profissionais, pelas amizades e pelas cumplicidades, e at mesmo peloscrimes? E quando as garras da hierarquia e o chamariz da promoo controlam o conjuntodo corpo dirigente como uma massa compacta, que esperana se pode ter de v-lomelhorar repentinamente; que beno poderia humanizar essa casta inimiga exrcito,magistratura, clero? possvel imaginar-se logicamente que um semelhante grupo possater acessos de virtude coletiva e ceder a outras razes seno ao medo? uma mquina,viva, verdade, e composta de engrenagens humanas; mas ela caminha sua frente,como animada por uma fora cega, e, para det-la, ser preciso nada menos que a foracoletiva, insupervel, de uma revoluo. Admitindo, todavia, que os bons ricos, tendo ingressado todos no caminho deDamasco, fossem iluminados repentinamente por um astro resplandecente e fossemconvertidos, renovados como por um raio, admitindo o que nos parece impossvel queeles tivessem conscincia de seu egosmo passado e que, livrando-se apressadamente desua fortuna em proveito daqueles que lesaram, devolvessem tudo e se apresentassem demos abertas na assemblia dos pobres dizendo-lhes: Tomai!, se eles fizessem todasessas coisas, pois bem, ainda assim no seria feita justia; eles conservariam o belo papelque no lhes pertence e a histria os apresentaria de modo mentiroso. Foi assim quebajuladores, interessados em louvar os pais para se servirem dos filhos, exaltaram emtermos eloqentes a noite de 4 de agosto, como se o momento em que os nobresabandonaram seus ttulos e privilgios, j abolidos pelo povo, tivesse resumido todo oideal da Revoluo Francesa. Se se envolve com essa aurola gloriosa um abandonofictcio, consentido sob a presso do fato consumado, o que no se diria de um abandonoreal e espontneo da fortuna mal-adquirida pelos antigos exploradores? Seria temerrioque a admirao e o reconhecimento pblicos os reintegrasse no seu lugar usurpado. No, preciso, para que a justia se faa, para que as coisas retomem seu equilbrio natural, preciso que os oprimidos se ergam por sua prpria fora, que os espoliados recuperem oque seu, que os escravos reconquistem a liberdade. Eles s a obtero realmente depoisde t-la ganhado por intensa luta.