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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE -CCS
CURSO DE PSICOLOGIA
A SEXUALIDADE FEMININA DIANTE DO PUERPÉRIO:
Um olhar.
NIVIA APARECIDA MEDEIROS SEDREZ
Itajaí,(SC) 2007.
2
NÍVIA APARECIDA MEDEIROS SEDREZ
A SEXUALIDADE FEMININA DIANTE DO PUERPÉRIO:
Um olhar.
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.
Orientador: Profª Maria Lúcia Lorenzetti, MSc
Itajaí, SC 2007.
3
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar meu profundo agradecimento a Deus! Ele, que ao
longo de toda caminhada foi a luz no meu caminho, embora tantas vezes me
visse na escuridão causada pelas dificuldades da vida... Se encontrei a luz e a
saída no fim do túnel, foi porque jamais perdi a fé em Deus!
Agradeço também a minha família pelo apoio e incentivo. Ao meu
marido e a minha filha por entenderem minha ausência tantas vezes
necessária em detrimento de meus trabalhos.
À minha mãe por me apoiar e me socorrer cuidando de minha filha,
quando não pude estar presente.
Aos meus amigos: Andressa, Janaína, Maria Amélia e Peterdione por
não deixar que eu desistisse quando me parecia impossível!
Meu agradecimento ás mulheres que contribuíram neste trabalho e
principalmente á Drª. Joceane Andréia César de Barros que me abriu as portas
de seu consultório com muito acolhimento, para indicar as puérperes.
À minha DEDICADA orientadora Maria Lúcia Lorenzetti que contribuiu
de forma decisiva para este trabalho e durante o período acadêmico se
mostrou uma grande amiga e as bancas pela disponibilidade.
4
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................................06
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................07
2 EMBASAMENTO TEÓRICO.......................................................................10
2.1 Saúde e puerpério..................................................................................10
2.2 Sexualidade feminina.............................................................................12
2.3 Maternidade............................................................................................14
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS...............................................................17
3.1 Método....................................................................................................17
3.2 Participantes da pesquisa....................................................................17
3.3 Procedimentos......................................................................................19
3.3.1 Coleta de dados.................................................................................19
3.3.2 Análise e interpretação dos dados..................................................19
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.........................22
4.1 Sentimentos.........................................................................................23
4.1.1 Sentimento de ser mãe....................................................................23
4.1.2 Sentimento atual..............................................................................24
4.1.3 O apoio da família............................................................................26
4.2 Atividade sexual..................................................................................27
4.2.1 Mudança corporal............................................................................27
4.3 Relacionamento conjugal...................................................................31
4.3.1 O cuidado com o outro....................................................................31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................35
5
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................38
7 APÊNDICES............................................................................................40
APÊNDICE A..............................................................................................40
APÊNDICE B..............................................................................................42
6
PENSAMENTO
Bebe a água do teu poço e das correntes de tua cisterna. Derramar-se-ão tuas fontes por fora e teus arroios nas ruas? Sejam eles para ti só, sem que os estranhos nele tomem parte. Seja bendita a tua fonte. Regozija-se com a mulher de tua juventude, Corça de amor, cerva encantadora. Que sejas sempre embriagado com seus encantos e que seus amores te embriaguem sem cessar! Por que hás de enamorar de uma alheia e abraçar o seio de uma estranha? Pois o Senhor olha os caminhos dos homens e observa todas as suas veredas. (Pv 5,15-21)
7
A SEXUALIDADE FEMININA DIANTE DO PUERPÉRIO: um olhar.
Orientadora: Maria Lúcia Lorenzetti
Defesa: Junho de 2007.
Resumo:
A sexualidade é um fator inegável ao ser humano e fundamental à continuação das espécies, embora por muito tempo tenha sido vinculada à reprodução e a negação do corpo, principalmente nas mulheres, onde a repressão da sexualidade era maior. Com o passar do tempo, a sexualidade na mulher foi sendo aceita pela sociedade e a mulher de hoje, tem mais liberdade no campo sexual, no que diz respeito á expressar-se e vivenciar sua sexualidade. No período gravídico-puerperal, a mulher sofre grandes mudanças metabólicas, que influenciam no estado físico e emocional, caracterizando inclusive, mudança de identidade e influenciando diretamente em sua sexualidade. Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo verificar a visão que as mulheres puerperais têm de sua sexualidade; descrever a expectativa dessas mulheres em relação á sua vida sexual, verificar o conhecimento através do relato das mulheres puérperes, em relação ao tema “maternidade/mulher”, bem como, identificar aspectos influentes quanto à expressão da sexualidade feminina puérpere. Refere-se a uma pesquisa qualitativa, estudo exploratório. Para organização dos dados, utilizou-se a técnica “Análise de Conteúdo” Minayo (2000). Como resultado obteve-se categorias que demonstraram a importância da sexualidade no período gravídico-puerperal e quais fatores são fundamentais para que a mulher possa passar por esse período com segurança, fortalecendo sua identidade de mãe e de mulher. Destaca-se, como fator relevante, o apoio da família e, principalmente do cônjuge, numa etapa significativa, em que se relacionam aspectos afetivos e emocionais, envolvidos na tríade mãe, mulher, esposa. Palavras-chave: Sexualidade, mulher e puerpério.
8
1 INTRODUÇÃO A sexualidade é um tema relevante, pois se trata de um componente
biológico e fundamental à continuação das espécies, embora por muito tempo
tenha sido vinculada à reprodução e a negação do corpo, principalmente nas
mulheres, onde a repressão da sexualidade era maior. Mas com o passar do
tempo, as mulheres vêm buscando espaço e igualdade na sociedade, inclusive
no que diz respeito a sexualidade (GIDDENS, 1993).
A mulher de hoje tem mais liberdade no campo sexual, no que diz
respeito a expressar-se e vivenciar sua sexualidade, sendo que essa mesma
liberdade lhe concedeu trabalhar, estudar e ter direitos iguais aos homens,
porém, com toda essa liberdade, perde-se muito tempo para as funções e
atividades maternas e de cuidados consigo própria (LANGER, 1986).
Uma das primeiras atividades maternas se remete ao período gravídico-
puerperal, onde a mulher sofre grandes mudanças metabólicas, que vão
influenciar no seu estado físico e emocional, caracterizando inclusive, mudança
de identidade. Esse período de transição é um período de desenvolvimento,
que tanto pode contribuir para o crescimento pessoal e emocional da mulher,
como pode caracterizar rupturas de papéis e desorganização interna,
resultando em depressão pós-parto, consequentemente, declínio na
sexualidade da mulher (MOREIRA e LOPES, 2006).
9
Referindo-se a sexualidade da mulher puérpere, Carvalho (1997),
realizou uma pesquisa na cidade de Fortaleza (CE) com quinze (15) mulheres,
com idade média de 26 anos e constatou que a maioria demonstrou medo em
reiniciar as atividades sexuais após o parto, apresentando carência afetiva
quando sentiam a necessidade da atenção do companheiro, que muitas vezes
se afastavam com a chegada do bebê, tendo em vista que na maior parte do
tempo, as puérperes se encontravam com a atenção voltada somente para o
bebê.
Segundo Lazar (2002), é no período gravídico-puerperal que ocorre na
mulher, a negação da existência da sexualidade. Conforme o autor, este
fenômeno tenta se apoiar em fundamentos biológicos se comparando a
períodos como o menstrual (onde normalmente a mulher se abstém ao sexo) e
sem informações precisas, acabam se baseando em fontes que são da
especulação e da experiência pessoal particular. Afirma ainda o autor, que
muito do que se sabe sobre o tema advém do senso comum.
Conforme levantamento bibliográfico realizado pela pesquisadora (em
fontes on line, em indexadores bibliográficos, livros e revistas, como consta nas
referências), constatou-se a escassez de bibliografia existente sobre o referido
tema. Sendo assim, origina-se com maior ênfase a curiosidade da
pesquisadora sobre o assunto, visando também oferecer aos interessados
contribuição no sentido de sanar algumas de suas dúvidas e curiosidades
diante do tema “Sexualidade da mulher puérpere” e também para o próprio
conhecimento da pesquisadora, no sentido de que esse conteúdo possa ser
usado como fonte, para trabalhos posteriores, como artigos, palestras, etc.
10
Esta contribuição bibliográfica é também oferecida, à academia, para que
agregue conteúdo teórico/científico, para os futuros pesquisadores e que sirva
como fonte de conhecimento sobre este tema, a expectativa é de acrescentar
conteúdo sobre o tema sexualidade da mulher puérpere, pois quanto mais é
explorado o tema, maior é sua divulgação e o esclarecimento absorvido pelas
pessoas.
Espera-se como relevância social, contribuir com as mulheres puerpéres
no sentido de possibilitar mudanças na visão da sociedade e que favoreça
melhor compreensão das alterações fisiológicas e psicológicas que influenciam
diretamente na sexualidade da mulher no período gravidico-puerperal.
.
11
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 Saúde e puerpério
Quando se fala em saúde da mulher, deve-se considerar que a
sexualidade humana deve ser estudada dentro de um contexto socioeconômico
e cultural, em que esta está inserida, pois suas relações se dão através das
interações dentro desse meio. Quando a mulher se encontra no período
gravídico-puerperal a atenção é ainda maior, pelas transformações sofridas
que são tanto físicas quanto psicológicas (MOREIRA e LOPES, 2006).
A OMS (Organização Mundial de Saúde) define como saúde: um bem
estar biológico, psicológico e social do ser humano, portanto, quando um
desses três fatores se desarmoniza, considera-se o surgimento da doença.
Segundo Langer (1986) o período puerperal é considerado um período
de alterações físicas e psicológicas que interferem diretamente na saúde da
mulher, no sentido de que todas as mudanças corporais ocorridas nesse
período, caracterizam a perda de uma identidade (apenas mulher) e a
construção de outra (a de mãe).
Para a autora, esse período é considerado de diferentes formas,
dependendo da sociedade, pois cada sociedade tem seus preconceitos frente
às funções procriativas da mulher.
12
Soifer (1980) relata que os primeiros seis meses após o parto são
fundamentais para a saúde mental da mulher e sua relação com o bebê e seus
familiares.
A fase puerperal sempre foi foco de atenção e cuidados especiais, pois
até meado do século XVIII, o parto era um acontecimento que oferecia risco de
morte e o maior desafio era desenvolver técnicas que evitassem a infecção no
puerpério, reduzindo assim, os índices de mortalidade materna. Todos os
cuidados em relação a saúde da mulher eram feitos de maneira privada no
âmbito familiar e muitos desses cuidados se opunham ao que é instituído para
o cuidado da saúde da materna (STEFANELLO, 2005).
Para este autor, o puerpério é uma fase adaptativa ao papel materno
onde a mulher se encontra em dois momentos muito importantes, o primeiro
momento compreende os três primeiros dias após o parto, pois é um período
de recuperação, onde a mulher está refazendo suas forças sobre todo
desgaste ocorrido (físico e psicológico) e o segundo momento que compreende
do terceiro ao décimo dia, é quando a mulher começa a participar mais
ativamente dos cuidados com o filho.
Após estes dois momentos iniciais, Lazar (2002), cita um terceiro
momento que se refere á sexualidade da mulher puérpere, no sentido de que
ela deve cuidar de si e de seu relacionamento sexual, pois este parece ser um
dos momentos mais vulneráveis do relacionamento do casal, e estando a
sexualidade da mulher neste momento fragilizada, poderá acarretar até mesmo
em crises conjugais.
Diante do exposto, o tema seguinte referir-se-á a sexualidade feminina,
desenvolvendo melhor o tema.
13
2.2 Sexualidade feminina
Para Corbetti (2000), falar da sexualidade feminina é muito mais do que
falar da libido,1 é considerar o relacionar-se com a vida e com o outro. È
considerar o prazer e a realização de várias funções como geradora,
companheira e concretizar projetos e sonhos.
Conforme a autora, a sexualidade feminina é identificada no corpo
feminino que expressa através das sensações e emoções da mulher o que ela
sente e como ela está.
O sexo também faz parte da sexualidade feminina e é expresso através
da vinculação com a emoção e criatividade, sendo considerado como energia
que nos envolve. Essa energia contribui para o equilíbrio emocional e mental,
trazendo também bem estar físico (CORBETTI, 2000).
Reich (2004), considera essa energia como orgônio cósmico, ou seja, a
energia que ocupa os corpos e o cosmo, que envolve e move o indivíduo.
Segundo Reich, o conhecimento das funções emocionais da energia biológica
é indispensável para a compreensão das suas funções físicas e fisiológicas.
O mesmo autor observou que a sexualidade feminina, está intimamente
ligada ao que diz respeito a energia vital que regula todo o organismo,
considerando este, na sua totalidade: corpo, alma e cosmo.
1 Libido- Na tradução do vocabulário latino, significa desejo, inclinação,vontade, ânsia, apetite ou paixão.Em psicanálise, o termo é empregado exclusivamente vinculado a prazer e desejo sexual, Deve-se entender libido, como intensidade da energia dinâmica do instinto sexual.
14
Alguns autores como Giddens (1993), acreditam que diferentemente de
muitos anos atrás, o sexo hoje é visto de forma mais clara, sendo este,
discutido e investigado e Foucault (apud Giddens, 1993, p.28) cita: “se alguma
outra ordem social tem se preocupado de forma tão persistente e intensa com
o sexo?”.
Foucault (apud GIDDENS, 1993) critica a repressão contra a
sexualidade, inclusive a de ordem religiosa, que transformou o confessionário
em controlador da conduta sexual da pessoa, neste caso, dos fiéis. Desta
forma o sexo vai pouco a pouco, tornando-se algo proibido e vergonhoso, onde
a melhor opção é reprimir.
Segundo Giddens (1993), logo no começo do século XIX, a sexualidade
feminina foi reconhecida e imediatamente reprimida, sendo assim tratada como
de ordem patológica da histeria.
Lazar (2002) cita que a sexualidade no período puerperal sofre
alterações, principalmente nos primeiros meses após o parto e coloca que “há
alterações físicas como dificuldade de lubrificação vaginal devido ao
hipoestrogenismo fisiológico, os seios ficam sensíveis e doloridos e há
alterações psicológicas tais como depressões” .
É no período gravídico-puerperal que a sexualidade feminina fica mais
fragmentada, pois além de todo tabu criado pela sociedade em torno do coito
durante a gravidez, há também, o modelo de beleza atual que propõe a mulher
excessiva magreza, fazendo com que ela engorde o menos possível, com
medo de perder o companheiro ou de ele não se sentir atraído por ela (op.cit.).
15
A mesma autora ressalta a importância do companheiro, dentro da
sexualidade da mulher, no sentido de vivenciar com ela este momento,
entendendo ser um momento de transição corporal e psicológica, pois esta
compreensão corrobora para que sua auto-estima continue e para que a
mulher permaneça com sua sexualidade em evidência. Observa ainda que
apesar da diminuição á atividade sexual, é nesse momento que a mulher mais
necessita da presença do companheiro e de ser beijada e acariciada.
A mulher pode até mesmo se sentir ressentida com o marido, pois se
encontra geralmente cansada e gorda, com baixa auto-estima, onde a
identidade neste momento foca-se na qualidade de mãe (LAZAR, 2002).
O que significa ser mãe para a maioria das mulheres, será abordado
pelo tema seguinte, desenvolvendo melhor a importância da maternidade.
2.3 Maternidade
Na mulher existe uma relação entre os processos biológicos e
psicológicos que ocorre desde a menarca até a menopausa, onde neste
período desenvolve-se nela, processos biológicos destinados a maternidade
como o desenvolvimento e amadurecimento do sistema reprodutor, que
incluem os ovários, trompas e útero (Langer,1986).
Segundo Moreira e Lopes (2006), a mulher passa em toda sua vida por
três períodos críticos: adolescência, gravidez e climatério. Ele considera critico
pelas mudanças biologicamente determinadas, que ocasionam momentos de
crise e troca de identidade. As mudanças biológicas ocorridas nesses três
períodos, influenciam diretamente no estado emocional da mulher e se faz
16
necessário conhecimento prévio de tais mudanças, para estas, ocorram da
melhor maneira possível.
Para estes autores, a experiência de estar grávida, parir e cuidar de uma
criança mobiliza na mulher, uma nova identidade (a de mãe) que pode tanto
contribuir quanto desequilibrar o estado emocional da mulher, pois é um
período que pode gerar dúvidas medos, angustias e fantasias e o contexto
familiar tem grande influência e deve estar preparado para receber esta nova
fase.
Os autores Moreira e Lopes (2006) fazem referência para as mudanças
ocorridas dentro da constelação familiar (famílias extensivas por famílias
nucleares). Tais mudanças viabilizaram o rompimento nas relações familiares,
no sentido de apoio a mulher que se encontra no período gravídico-puerperal.
Este apoio colabora na construção de identidade materna, pois esta se dá,
também através da família quando esta apóia e incentiva o cuidado mãe/bebê,
possibilitando uma aproximação afetiva e fortalecimento da identidade materna.
Segundo Lazar (2002), há também a maternidade negada por muitas
mulheres, que só procuram os serviços de pré-natal em estágios avançados da
gravidez.
Conforme a autora, a presença do companheiro é fundamental para a
segurança da gestante e para a construção de identidade de ambos, tendo em
vista, que a alteração de identidade, também acomete ao pai que se vê agora,
como protetor e mantenedor de uma criança, cujo momento, é de transição e
adaptação.
A mesma autora se refere a maternidade como um momento de
transição e adaptação de toda família, pois, os familiares que estão
17
diretamente envolvidos com “os grávidos” (nesse caso, os pais), se mobilizam
a espera do bebê, podendo acarretar em mudanças positivas ou negativas nas
relações familiares.
A importância de conhecer sobre este período, pode evitar ou minimizar
o surgimento de problemas emocionais como psicoses pós-parto, depressões e
manifestações psicossomáticas (MOREIRA e LOPES, 2006).
18
3 ASPÉCTOS METODOLÓGICOS
3.1 Método
A presente pesquisa considera como objeto principal, as Ciências
Sociais. E segundo Minayo (2000), remete-se a elas, o estudo com seres
humanos, onde “numa ciência onde o observador é da mesma natureza que o
objeto, o observador, ele mesmo, é uma parte de sua observação” (p.14).
Segundo a autora, sendo histórico o objeto das Ciências Sociais,
caracteriza-se esta pesquisa como qualitativa, não podendo ser quantificada,
pois,
“a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e
relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações,
médias e estatísticas” (p.22).
3.2 Sujeitos
19
Optou-se por entrevistar 6 (seis) mulheres que se encontravam no
período puerperal, que freqüentavam um consultório particular na cidade de
Itajaí (SC), e que foram indicadas pelo médico que as assiste, após o mesmo
ter conhecimento do referido trabalho e aceitaram colaborar com a pesquisa de
forma voluntária.
A quantidade especificada se justifica por Minayo (2000), quando esta
se refere que, “a relevância de sua atuação está na capacidade de interação
com o grupo e de coordenação da discussão”, não sendo apropriado um
grande número de sujeitos, quando o objetivo é de pesquisa qualitativa.
Foram utilizados alguns critérios para a seleção dos sujeitos:
- Ter passado recentemente pelo período puerperal (entre os 40 dias após o
nascimento do bebê);
- Freqüentar o consultório especificado desde os primeiros meses da gestação;
- Ter disponibilidade para a pesquisa e interesse pelo tema abordado;
Respeitando o sigilo ético, fez-se uma breve descrição das entrevistadas
como podemos ver no quadro abaixo:
NOME J.E.G.P. M.A. K.P.A. A.R. I.P. K.G.H.
IDADE 22 23 26 21 20 27
ESTADO
CIVIL
Casada Casada Casada Casada Casada Casada
PRIMEIRA
GRAVIDEZ
Sim Sim Sim Não Sim Sim
20
3.3 Procedimentos
3.3.1 Coleta de dados
O primeiro contato com as mulheres, foi no Consultório Médico, local
onde as pacientes (mulheres no período gravídico-puerperal), realizam suas
consultas ginecológicas, sendo o primeiro contato individual para o convite,
seguida da apresentação do projeto e a assinatura do termo de consentimento
livre e esclarecido (APÊNDICE A).
Após consentimento para a pesquisa, foram realizadas as
entrevistas semi-estruturadas (APÊNDICE B) individualmente em local
previamente combinado com as mesmas, visando conforto e comodidade das
puérperes e por coincidência todas escolheram suas respectivas casas como
local para a entrevista. A coleta dos dados foi feita pela própria pesquisadora,
estando esta, o tempo necessário para realizar a entrevista de modo que as
puérperes sentissem segurança para falar sobre o referido assunto.
3.3.2 Análise e interpretação dos resultados
21
Tendo a pesquisadora feita a coleta dos dados, as entrevistas foram
transcritas segundo a Técnica de Análise de Conteúdo (Minayo 2000), fazendo
a compilação e interpretação dos resultados, considerando a sexualidade
feminina como principio de base e os pressupostos teóricos iniciais.
Após a realização da análise dos dados, foram definidas as categorias e
subcategorias, constituindo o conteúdo relevante frente aos objetivos desta
pesquisa.
Segundo a Técnica de Análise de Conteúdo (ibidem), deve-se destacar
dois pressupostos deste método: o primeiro se refere “à idéia de que não há
consenso e nem ponto de chegada no processo de produção do conhecimento”
e o segundo cita que “a ciência se constrói numa relação dinâmica entre a
razão daqueles que a praticam e a experiência que surge na realidade
concreta”.
No processo de análise dos dados, os conteúdos semelhantes foram
identificados e incorporarados, segundo as questões norteadoras da pesquisa.
A partir daí, surgiram as categorias, que ao longo da análise estiveram em
constante mudança para a elaboração de uma pesquisa de leitura acessível e
de fácil compreensão, para que o seu conteúdo atenda, não só os acadêmicos
da área, mas todos os interessados. Por fim, as transcrições possibilitaram as
categorias e subcategorias que podemos observar abaixo:
1 Sentimentos
1.1 Sentimento de ser mãe
1.2 Sentimento atual
22
1.3 Apoio da família
2 Atividade sexual
2.1 Mudança corporal
3 Relacionamento conjugal
3.1 O cuidado com o outro
Como és bela e graciosa, ó meu amor, ó minhas delícias! Teu porte assemelha-se ao da palmeira, que teus dois seios são os cachos. ‘Vou subir a palmeira’ disse eu comigo mesmo, ‘e colherei os seus frutos”. (...) Eu sou para o meu amado o objeto de seus desejos. Vem, meu bem-amado, saiamos ao campo, passemos a noite nos pomares (...). Ali te darei minhas carícias. As mandágoras exalam o seu perfume.
(Cr 7,7-9.11-14).
23
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A construção deste trabalho se deu, sobre a base teórica fundamentada
por LAZAR (2002) e LANGER (1986), onde os temas, maternidade e sexo são
aceitos sem preconceito ou tabus.
O trabalho apresenta várias categorias, construídas através dos relatos
das participantes da pesquisa, onde foi possível observar que a sexualidade
feminina no puerpério existe e é importante para a relação desta, com o meio
em que vive e a visão que estas mulheres têm de si em relação a sua
sexualidade.
Diante das categorias que surgiram através da análise, destacaram-se
dois pontos como o apoio familiar que a puérpere recebe neste período e o
sentimento de felicidade que transcende todas as dificuldades. Outras
categorias ainda, não menos importantes, estão descritas cuidadosamente no
decorrer deste trabalho.
24
4.1 Sentimentos
4.1.1 Sentimento de ser mãe
Segundo os relatos coletados nas entrevistas, observou-se entre as
entrevistadas o quanto ser mãe é uma “experiência maravilhosa e diferente”.
Essa opinião vem ao encontro do que Moreira e Lopes (2006) ressaltam como
sendo um período critico na vida da mulher com muitas transformações. Ele
considera crítico por todas as mudanças biologicamente determinadas que
ocorram neste período e compreende que o conhecimento prévio da gestante
ou puérpere em relação a esta mudança, facilita a transição de identidade que
ocorre neste período e é justamente o que pudemos perceber na fala de I.P. ao
comentar sobre sua nova identidade: a de mãe! I.P. relata: “Pra mim ser mãe
é algo muito diferente, porque quando eu morava com minha mãe, ela
fazia tudo e de repente eu me vi sozinha cuidando de uma casa e agora de
um bebê, então é tudo novo pra mim, mas é muito gostoso”. Também
observamos as mudanças ocorridas neste período na fala de A.R.: “Pra mim
ser mãe é uma experiência nova e bem maravilhosa, mas aquele ditado
que diz que ser mãe é padecer no paraíso é a mais pura realidade (risos),
porque é um misto de muitas coisas , assim, de não saber o que fazer e
25
de saber que tu tens responsabilidade pela criança mas ao mesmo tempo
é uma coisa maravilhosa!
Langer (2002) considera que no período puerperal a saúde da mulher
sofre alterações físicas e psicológicas e segundo o relato de K.G.H.,
constatamos em sua fala, que nem sempre essas mudanças são agradáveis e
que a mulher puérpere pode sofrer sentimentos de angústia e ansiedade: “Eu
acho que é o extremo de tudo, é o extremo da alegria, o extremo da
preocupação, do cuidado, extremo do nervosismo, extremo da ansiedade,
é o extremo de tudo, eu acho que nunca cheguei tão ao extremo de tantos
sentimentos como eu to me sentindo agora, mas eu acredito que pra mim
foi a melhor experiência de vida, é incomparável!”.
Na fala de J.E.G.P. observamos a construção da identidade de mãe com
os novos comportamentos quando ela relata: “Antes quando eu não tinha era
uma coisa assim, que eu não pensava que ia ter paciência, mas eu acho
que Deus manda, porque eu olhava o filho dos outros e não tinha
paciência, mas com ele eu tenho uma paciência e é ótimo!”. Essa
aquisição de identidade pode tanto contribuir, quanto desequilibrar o estado
emocional da mulher e neste momento o apoio familiar é de extrema
importância (MOREIRA e LOPES, 2002).
4.1.2 Sentimento atual
26
O relato das mães entrevistadas em relação ao sentimento atual mostra
predominantemente que o sentimento comum existente entre as mães, é o de
felicidade! Segundo Costa (2007) o sentimento de ser mãe é tão poderoso que
supera qualquer limite e encoraja a mãe à medida que a barriga cresce. É tão
prazeroso que a mulher consegue realizar mil e uma tarefas, mesmo depois de
um dia cheio, a mulher consegue sentir prazer em trocar as fraldas, amamentar
e fazer carinho no neném.
A idéia do autor acima citado compreende o relato de K.G.H. quando se
refere ao sentimento atual dizendo: “...com uma alegria muito intensa e a
cada dia uma coisa nova, diferente e é uma descoberta muito grande, mas
gradativa, tu aprendes com ele, aceita ele, ele te aceita, é um ser novo
contigo, tu aprende a ter mais paciência, tu aprende a ser mais volúvel, tu
aprende, aprende, aprende...”.. Outra entrevistada, J.E.G.P. também
concorda ao afirmar: Eu estou me sentindo muito feliz, eu não esperava ser
tão feliz assim e vou querer mais um ainda, a gente passa noite em claro,
mas é muito bom.
Costa (2007) afirma que ser mãe vai muito além da gravidez, pois, “dar à
luz ¨ é o início de uma fase que durará para sempre. Os filhos podem crescer o
mundo se transformar, porém, as mães permanecerão ali sempre prontas para
abraçar, cuidar, beijar e amar de uma forma singular. Sem dúvida, elas são
especiais e merecem toda a homenagem que se faz no dia das mães”.
Um outro sentimento que apareceu em um dos relatos, foi a solidão pela
ausência do cônjuge. A.R. relatou em sua entrevista sentir a falta específica de
seu marido, pois o mesmo viaja muito pelo trabalho que exerce. Ela afirma
ainda, que não se sente sozinha por estar só com o neném, mas por ele (o
27
marido) não estar por perto. A.R. afirma: “o meu marido viaja muito então a
maior parte do tempo eu fico sozinha, mas eu não gosto de ficar sem ele
em casa! As vezes a minha mãe diz assim: quando ele for viajar me
chama que eu venho ficar aqui, mas não é questão de ter alguém contigo,
é questão de ter ele comigo entende?”. Na fala de A.R. observa-se como o
apoio familiar é importante para a puérpere, por isso, o próximo tópico abordará
com mais detalhes essa questão.
4.1.3 O apoio da família
Para os autores Moreira e Lopes (2006) a família é de fundamental
importância para a puérpere que se encontra ainda em um período de
construção de identidade, pois, a experiência de estar grávida, parir e cuidar de
uma criança gera na mulher dúvidas, medos, angústias e fantasias e a família
que está preparada para esta nova fase, colabora para o fortalecimento de
vínculo mãe-bebê e evitam possíveis problemas emocionais como a depressão
pós-parto, psicoses e manifestações psicossomáticas.
Todas as entrevistadas relataram “ser apoiada pela família” e de
passarem pelo período puerperal sem maiores dificuldades emocionais.
Destacaram também a importância da família e em especial do cônjuge.
Em relação á sua família J.E.G.P. relata: “Eles me apóiam em tudo,
cada um dá um palpite em alguma coisa pra ajudar a gente a melhorar
cada vez mais porque eu sou nova ainda né, é meu primeiro filho”.
28
M.A. é só sorriso ao falar do apoio familiar: “Bastante! Todo mundo dá apoio,
dá chameguinho... (risos) A minha mãe e o meu marido”.
Segundo Rodrigues (...) a alegria de ser mãe e amamentar se contrapõe
ao tempo que a mulher tinha antes para se cuidar, manter a casa impecável e
até mesmo fazer as refeições e para uma melhor adaptação desta fase, o
apoio do esposo é fundamental. O valor dado ao apoio do esposo é visto
claramente na fala de I. P.: “...é mais o marido que me apóia mesmo, ele me
ajuda com o bebê, levanta as vezes a noite pra pegar ele pra mamar...”.
K.P.A. atribui ao marido toda força que teve para se adaptar a nova
identidade: a de mãe. Ela fala: “- Meu marido, ele é bem companheiro. Ele
ajuda nos cuidados com a neném, no trocar, mamadeira, tudo... no
começo mesmo ele me ligava de duas em duas horas, com medo assim
porque eu fiquei meio deprimida, com medo de eu maltratar o neném, mas
eu jamais ia fazer isso... (risos)”.
Rodrigues (...) dá algumas dicas para o companheiro ajudar sua esposa
a passar por esse período de forma mais tranqüila possível, como por exemplo,
ajudar nas tarefas domésticas e com o bebê (dar banho, pegar no colo, trocar
fraldas, etc) não reclamar, cuidar de outros filhos se já tiverem, levar líquidos
como água e sucos para a nova mamãe beber enquanto amamenta, mostrando
a ela o quanto se preocupa com ela, para que esta se sinta de fato apoiada.
Também é importante manter a auto-estima da mãe elevada para que ela
adquira confiança em si e em sua relação com o parceiro. Para tanto, abordar-
se-à no próximo tópico as mudanças corporais durante o período gravídico-
puerperal e suas implicações.
29
4.2 Atividade sexual
4.2.1 Mudança corporal
Segundo Langer (1986), o período puerperal é considerado um período
de grandes alterações psicológicas e físicas e tais alterações interferem
diretamente na identidade da mulher, no sentido de que a mulher agora tem
ainda outra identidade, a de mãe.
A pesquisa mostra a opinião de algumas mulheres sobre a mudança
corporal e como estas mudanças podem interferir psicologicamente,
principalmente nos primeiros 30 dias, pois, neste período a mulher já não está
mais com o bebê dentro da barriga para justificar a alteração corpórea, durante
a gestação apesar de a mudança corporal e o aumento de peso incomodar
algumas mães, a justificativa é de que tem um bebê dentro do corpo, como
podemos ver na fala de I.P. : “ eu só engordei 10 kg, sempre fui magra e
nunca tive problemas com isso, mas to um pouco incomodada agora que
não tem mais neném e a barriga ainda ta muito inchada...” também na fala
de K.G.H. observamos a mesma opinião de I.P., ela relata: “ eu não tive
nenhum problema com relação a isso (corpo) porque eu sei que uma hora
a gente engorda, mas depois a gente volta... mais difícil pra mim foi a
cesárea e o 30 primeiros dias que eu tava toda inchada, eu me olhava e
dizia: meu Deus! Será que eu vou voltar pro meu peso?”.
Outras mães manifestaram acreditar ser uma fase a mudança corporal,
contudo, em suas falas observa-se o quão diferente e novo é tudo isso!
30
J.E.G.P. relata: “agora eu já voltei um pouco ao normal, mas no começo é
meio estranho, a barriga é meio estranho!”, também M.A. confirma em sua
fala a mesma opinião: “ é uma fase né... eu sei que vai mudar mas depois
volta ao normal!”.
A mudança corporal é algo afeta de forma consistente a relação sexual,
pois verificamos nas falas de todas as entrevistadas o incomodo que tais
alterações podem trazer, principalmente em função do crescimento da barriga.
Conforme Corbetti (2000), o sexo é importante á sexualidade feminina, pois
contribui para o equilíbrio emocional e mental, trazendo bem estar físico.
Algumas mulheres como M.A. afirmam a dificuldade em manter relações
sexuais em função da mudança corporal e que a freqüência diminui durante a
gravidez, porém, existe a crença de que tal dificuldade desapareça após o
período puerperal. M.A. relata que reiniciou as relações sexuais após 40 dias
decorrentes do parto e afirma: “quando eu tava grávida eu não tinha
vontade, aí eu não fazia nada... A gente fica mais assim com vergonha né,
Antes por causa da barriga, fica tudo sem jeito assim né... mas depois
não né e comigo não teve muita diferença porque eu só engordei 9 kg”.
A seguir veremos algumas falas das entrevistadas se referindo ao
incômodo da mudança corporal em relação à atividade sexual: J.E.G.P.
relatou: “...a gente tem um pouco de vergonha porque também não tá
como era antes... Acho que eu tinha medo de fazer, eu sabia que era
normal que não precisava ter medo, mas assim muitas coisas a gente
deixou de fazer depois dos 5 meses de gravidez, a maioria cortou, fazia
(sexo) de um jeito só, eu tinha medo da barriga também, imagina né a
barriga tinha que ficar pra cima, aí mudou”. Também na fala de K.P.A.: “... a
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barriga incomodava um pouco, aí relação sexual só até o sétimo mês,
depois não!... Influencia sim, a gente fica toda flácida parecendo um
monstrinho. No começo eu ia pro banheiro e Deus me livre se ele abrisse
a porta!”. K.P.A. foi entrevistada aos 47 dias após o parto e afirmou não ter
tido relação sexual após o parto até esta data: “Por receio e medo. Meu
abdômen ainda tá meio dormente por causa da cirurgia, mais é medo. Não
sei mas é tão estranho, parece que eu to toda sensível, eu sei que um
pouco é psicológico...”.
A.R. solta risos ao ser indagada sobre a mudança corporal na relação
sexual, pois confessa que apesar de ser incomodo, fugiu á regra e iniciou suas
atividades sexuais após 20 dias decorrentes do parto: “A primeira foi com 20
dias, mas como a amamentação ficou meio assim, a gente esperou dar os
40 dias. – A gravidez é horrível né, ninguém merece! E depois nos últimos
meses é pra acabar, nos últimos meses coitado do marido! (risos) porque
é muito difícil, mas agora já ta tudo normal
I.P. também afirma que a mudança corporal influencia na relação sexual:
“a gente se vê com aquele barrigão e vê as outras magras, bonitas, a
gente se acha uma melancia. Eu não sinto saudades nenhuma da
barriga... (risos)”.
Lazar (2002) ao se referir á sexualidade no período puerperal, afirma
que nos primeiros meses se seguem após o parto, há entre muitas alterações
físicas, a falta de lubrificação vaginal, entretanto, a maioria das puérperes
entrevistadas relataram a falta de lubrificação já no período gravídico como
mostram os relatos abaixo:
32
“- na hora da relação foi mais seca, parece que foi minha primeira vez...”
(J.E.G.P.);
“- é um pouco estranho aquela barrigona né! (risos) mas não doía nada,
só um pouco seca a vagina, mas a médica disse que era normal, mas deu
pra fazer até uns 7 meses e meio, depois a barriga incomodava” (I.P.);
“ - Na gestação não tinha mais lubrificação, é como se tivesse secado a
fonte, mas depois tudo voltou ao normal, como tava antes” (A.R.).
Segundo Lazar (2002) é no período puerperal que a sexualidade da
mulher fica mais fragmentada, pois há todo um tabu advindo da sociedade em
torno do coito na gestação como algo proibido e há também o atual padrão de
beleza que propõe uma mulher excessivamente magra, fazendo com que a
gestante sinta-se insegura em relação á seu companheiro. Este momento que
deve ser de felicidade pode sofrer muitas alterações que veremos a seguir no
relato das entrevistadas.
4.3 Relacionamento conjugal
4.3.1 O cuidado com o outro
Referente ao relacionamento conjugal, algumas entrevistadas referem
algum tipo de mudança e a grande maioria revela maior responsabilidade
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depois do parto, pois referem ter de cuidar além do bebê do companheiro
também como J.E.P.G. que diz:
“– Olha, no começo tem que ser forte o casal, porque antes era só
atenção pro marido e aí já força um monte, porque agora tem que dar
mais atenção pro filho que é recém nascido, daí depois é o marido e ainda
tem que ajudar um monte né, tem que ser bem companheiro nessa hora
de começo!”. Outra entrevistada (K.P.A.) também remete grande atenção aos
cuidados depois do parto, como podemos conferir: “Eu sempre tratei ele
como uma criança sempre paparicando e continuo assim, só que agora
tem duas crianças! (risos)”.
Os autores Moreira e Lopes (2006) fazem referência para as mudanças
ocorridas dentro da constelação familiar e chamam á atenção para a
importância da família (em voga, o cônjuge) no cuidado e apoio à puérpere,
pois esse apoio colabora na construção de identidade materna e
posteriormente na relação que a mãe terá com o filho.
Acordando com o autor acima citado, as entrevistadas que referem estar
felizes com o relacionamento conjugal, citam o apoio do companheiro como
fundamental nesta fase como relata I.P.: “...ele ficou mais carinhoso, mais
cuidadoso, na verdade, ele mudou da água pro vinho, porque quando a
gente namorava, ele me incomodava um monte, não sei nem como eu
aturei tudo, ele me deixava em casa e saia, me traia, não me dava nada,
agora, parece até que é outra pessoa, me dá dinheiro, não deixa faltar
nada, chega cedo, olha, mudou da água pro vinho! (risos)”. Também
K.G.P. relata: “... eu acho que a gente se aproximou mais e eu tolero mais,
mas o principal, é que com ele me ajuda muito desde quando o bebê
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nasceu, ele que cuidou do umbigo, aquela coisa toda... então nessa fase
eu tava meio insegura e ele me ajudou e assim, eu sempre tomei muito a
frente no relacionamento, tipo assim, eu era homem e mulher da casa, eu
não deixava muito espaço, eu era muito mandona e de repente eu vi que
eu podia me segurar nele um pouco e ta aumentando cada vez mais, hoje
eu já digo: - olha isso aqui é meu, isso é teu, sem olhar pra traz e ver se
ele fez certo! A tolerância foi uma das coisas que mudou”. Apenas uma
entrevista demonstrou em sua entrevista preocupação em seu relacionamento
conjugal referindo-se á conduta de seu companheiro: “Eu tô mais exigente
com ele, eu tô querendo ele mais na linha, ah, porque agora ele é pai né!
Tem que ser tudo certinho, tem que dar exemplo né...” (M.A.).
A todas as entrevistadas foi pedido que enumerassem pontos positivos e
negativos no relacionamento conjugal, no que em suas entrevistas observamos
como uma terceira pessoa (neste caso o bebê) modifica a estrutura familiar e
principalmente o relacionamento do casal. Como diz J. E. G. P: “Olha, eu acho
que a gente ta um pouquinho nervoso um com o outro ainda, porque é
muita coisa que a gente não era acostumado, daí as vezes ele não tem
paciência comigo e nem eu com ele. Só isso que tenho a dizer, tem hora
que a gente quer dormir e o neném chora muito daí não dá e um
pouquinho de nervosismo todo mundo tem, mas ele é muito bom”.
Também M.A. relatou algumas mudanças no relacionamento conjugal: “A
positiva (mudança) foi o afeto né, a gente ficou mais unido e a negativa foi
a sexualidade né, a gente fica com medo que ele saia com outra, quando
ele saia de casa eu não queria que ele saísse, a gente fica insegura né...”.
K.P.A. também acrescenta: “A única coisa ruim é antes a gente saia muito e
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agora com ela, a gente não pode sair muito porque ela ainda é muito
pequena e o horário, que antes eu não tinha horário pra nada e agora é
tudo com horário (de médico, de comida, etc.) e de bom continua tudo
igual”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa procurou investigar aspectos da sexualidade
feminina no puerpério na atualidade, considerando este assunto, um tema
pouco explorado. Pode-se assim, contribuir com informações á aqueles
interessados nessa área ginecológica e, sobretudo psicológica, principalmente
ás futuras gestantes, cuja gravidez é a primeira e a experiência é quase nula.
Observa-se através da analise realizada, que a sexualidade da mulher
puérpere começa a mudar no período gravídico com as mudanças corporais e
se estendem até o período de puerpério, perpassando mudanças psicológicas.
Quando o corpo da mulher sofre as alterações advindas da gestação, começa
o processo de aquisição de nova identidade: Mãe! Essa nova identidade
influencia diretamente a sexualidade de modo que, muitas mulheres trazem a
figura da mãe ao próprio marido, sinalizando a este, um período de guarda ás
atividades sexuais. Contudo, notou-se na maioria das entrevistadas que a
atividade sexual nesse período é muito importante, pois traz segurança á
puérpere quanto á sua relação conjugal e a sua auto-estima, pois a puérpere
36
que se sente desejada enquanto mulher sofre menos com angustias e medos
(sentimentos considerados comuns nesse período).
Observa-se, através dos relatos das puérperes, o quão importante é este
momento para a mulher. Os relatos apresentam que ser mãe traz um
sentimento de felicidade intenso, misturado com o sentimento da
responsabilidade por mais uma vida, em que o amor relatado pelas puérperes
é maior do que qualquer amor, antes experimentado por elas.
O apoio da família também foi um fator que surgiu através dos relatos
das puérperes. Nesta categoria observou-se, que o apoio da família é de
fundamental importância, tanto no que diz respeito ao cuidado com o bebê,
quanto á própria puérpere, pois ambos precisam de atenção e cuidados.
Quando atendida em suas necessidades, sejam elas, o auxílio no cuidado com
o bebê ou mesmo nas tarefas domésticas, que esta era acostumada á realizar
e que agora, já não as realiza, pois tem que dividir seu tempo com o bebê, este
período de puerpério, segundo elas, torna-se mais fácil.
Notou-se através do relato das puérperes, a importância dada a
presença do cônjuge ou companheiro neste período gravídico-puerperal, para
que a mesma adquira a identidade de mãe sem perder a identidade de mulher.
Algumas puérperes relatam que, muitas vezes após o nascimento do bebê,
tanto elas (as puérperes) quanto os companheiros, podem ficar nervosos um
com o outro e é necessário paciência. Neste período o cônjuge ou
companheiro deve cercá-la de carinho, gentilezas e muita atenção, inclusive no
cuidado do bebê, pois, como podemos observar na subcategoria “mudança
corporal”, mesmo que as mudanças corporais tenham transformado o corpo até
então belo em um corpo flácido, gordo e sensível, é possível passar por esta
37
fase transitória com tranqüilidade, quando o companheiro está por perto
afirmando seu amor e compreensão.
A maioria das puérperes entrevistadas que afirmaram receber total apoio
do companheiro, relataram sentirem-se seguras em reiniciar a atividade sexual
após o parto, pois nestes casos, a mudança corporal não foi relevante e o que
foi citado como incômodo entre as puérperes após o parto foi a falta de tempo
para si mesmas. Este é um fator que chama á atenção para que os
companheiros auxiliem á mulher, todos os dias com um tempo necessário para
que ela possa “se olhar”, pois nesta fase de puerpério, a atenção é voltada
principalmente ao bebê e ao companheiro e muitas esquecem que precisam
cuidar de si, uma vez que a satisfação com a aparência eleva a auto-estima.
Nota-se que, se a puérpere conseguir manter a auto-estima, se sentindo
amada e se “amando”, passará por esse período com tranqüilidade e com
muitas boas lembranças. Desta forma a sexualidade da mulher puérpere..é fato
evidente através dos relatos e como elas colocaram é algo necessário para o
relacionamento desta com seu companheiro e com seu meio social, seja este,
família, amigos ou grupos sociais.
Diante dos relatos nos deparamos com a fragilidade em alguns
relacionamentos conjugais, em virtude de “um outro” na relação. A vinda do
bebê é motivo de alegria com unanimidade, contudo, acarreta a divisão do
“sujeito mulher” que se vê na dualidade do cuidado com o outro. Por outro lado
também, afirma-se com a análise dos dados, a importância que o companheiro
tem de estar presente no cuidado com a mulher e na divisão das atividades
que acarretam esse período como os cuidados de higiene e atenção ao bebê.
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“O apoio do companheiro neste período é permitir á mulher, que ela não
esqueça que é mulher!”.
A satisfação pela realização deste trabalho, foi imensa, por poder
colaborar com a academia em trabalhos posteriores, como material de apoio á
estudos e também com possíveis puérperes, oferecendo á estas, informações
sobre este período tão importante para a mulher e que muitas vezes, tem um
olhar social repleto de tabus e restrições sexuais desnecessárias.
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PENSAMENTO
Sinto-me feito folha no outono jogada ao vento. Sinto-me leve e por instantes Pesada... Sinto-me forte e ao mesmo tempo fragilizada... Contemplo o fruto Amadureceu... Já não sou mais eu Há uma vida Antes intrínseca Agora aqui...ao lado Que clama por mim. A primavera chegou! Mas e nós dois? Esperemos o sol... Que vem nos aquecer na certeza do verão. (Jana Mafra)
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, Francisco Ana Martins. Sexualidade da mulher no ciclo gravídico-puerperal e valores culturais. Fortaleza;s.n.,1997, p.70. Disponível em: www1.capes.gov.br/estudos/dados Acesso:24/04/06. CORBETT, Maria Silvia. Falando em sexualidade. Disponível em :http://www.planetanatural.com.br/detalhe.asp?cod_secao=57&idnot=544 Acesso: 30/04/06.
COSTA, Mônica Carvalho. O desafio de ser mãe. Disponível em http://www.exoduspress.net/sermae.htm Acesso :28/03/07.
GIDDENS, Anthony. A transformação da Intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. 4 ed. São Paulo : Unesp, 1993.
LANGER, Marie. Maternidade e sexo: estudo psicanalítico e psicossomático. 2 ed. Porto Alegre:1986.
LAZAR, Maria Cristina da Silva. Práticas Sexuais de mulheres no ciclo gravídico-puerperal. UNICAMP- SP. Tese de doutorado, 2002.
MINAYO, Maria Cecília de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira; NETO, Otávio Cruz; GOMES, Romeu. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 17 ed. Editora Vozes, Petrópolis: 2000.
MOREIRA, Rita de Cássia Rocha; LOPES, Regina Lúcia Mendonça. Sexualidade e gravidez: aspectos da vida da mulher – revisão de literatura. Online Brazilian Journal of Nursing/ vol 5, No 1 (2006) ISSN: 1676-4285. Disponível em: http://www.uff.br/objnursing/viewarticle.php?id=250&layout=html Acesso: 27/04/06.
REICH, Wilhelm. Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
41
SOIFER, Raquel. Psicologia da gravidez, parto e puerpério. Porto Alegre: Broch, 1980.
STEFANELLO, Juliana. A vivência do cuidado no puerpério: as mulheres construindo-se como mães. Ribeirão Preto. Dissertação de Pós-graduação,2005 . Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22133/tde-07122005-110838/publico/STEFANELLO_J.pdf Acesso:27/04/06.
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7 APÊNDICES APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
APRESENTAÇÃO
Gostaria de convidá-lo (a) para participar de uma pesquisa cujo objetivo é verificar em mulheres puerperais, a visão que elas tem de si em relação à sexualidade. Sua tarefa consistirá na participação de entrevista semi-estruturada em local previamente combinado. Quanto aos dados coletados, somente a pesquisadora terá acesso á eles, sendo que após análise dos dados será divulgado aos sujeitos envolvidos na pesquisa. Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que: a) seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, sendo garantido o seu anonimato; b) os resultados desta pesquisa serão utilizados somente com finalidade acadêmica, podendo vir a ser publicado em revistas especializadas, porém, como explicitado no item (a), seus dados serão mantidos em anonimato; c) não há comportamentos certos ou errados, o que importa é sua participação; d) a aceitação não implica que você estará obrigado á participar, podendo interromper sua participação a qualquer momento, mesmo que já tenha iniciado, bastando para tanto, comunicar aos pesquisadores; e) você não terá direito a remuneração por sua participação, ela é voluntária; f) esta pesquisa é de cunho acadêmico e não visa uma intervenção imediata; g) durante a participação se tiver alguma reclamação, do ponto de vista ético, você poderá contatar com o responsável por esta pesquisa. Eu___________________________________________ declaro estar ciente dos propósitos da pesquisa e da maneira como será realizada e no que consiste minha participação. Diante destas informações, aceito participar da pesquisa. Assinatura____________________ Data de nascimento___________ Orientadora: Maria Lúcia Lorenzetti Assinatura____________________ e-mail: lorenzetti@univali.brTelefone: 9965-2756 Cursode Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – CCS
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R: Uruguai,448 – bloco 25b –sala 401. Pesquisadora: Nívia Aparecida Medeiros Sedrez Assinatura:____________________ e-mail: nivinha_s@hotmail.comTelefone: 9101-0520 Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – CCS R: Uruguai,448 – bloco 25b – ala 401.
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APÊNDICE B
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
Curso de Psicologia
Questionário de Pesquisa para Trabalho de Conclusão de Curso
Sentimentos:
1- Como é para você ser mãe?
2- Descreva como você está se sentindo no momento atual.
3- Você está se sentindo cuidada e apoiada pela família?
4- Em relação às mudanças corporais como você as aceita?
5- Neste momento o que mais te faz feliz e o que mais te incomoda?
Atividade Sexual:
1- Você já iniciou as atividades sexuais? Se sim, quanto tempo após o
parto? Se não, por quê?
2- Você notou mudanças na relação sexual no período gravídico-
puerperal? Se sim, quais?
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3- A mudança corporal é um fator que influencia na atividade sexual? Se
sim, por que e onde influencia e se não por quê?
Relacionamento Conjugal:
1- Você percebe mudanças suas no relacionamento com seu parceiro? Se
sim, em qual período? Antes ou após o parto?
2- Como você percebe a atuação de seu parceiro com você no período
gravídico-puerperal?
3- As modificações fisiológicas interferem nas relações estabelecidas com
seu parceiro no dia-a-dia?
4- Enumere mudanças positivas e não positivas na relação conjugal, no
período gravídico-puerperal.
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