A TEORIA CRÍTICA

Preview:

Citation preview

1

1

A TEORIA CRÍTICAA TEORIA CRA TEORIA CRÍÍTICATICARelaRelaçções Internacionaisões Internacionais

2

• A chamada Teoria Crítica surge em 1924, no âmbito da sociologia alemã, com a formação da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais, sediados na Universidade de Frankfurt amMain, Alemanha.

2

3

• Um dos principais objetivos do Instituto de Pesquisas Sociais era o de explicar, historicamente, como se dava a organização e a consciência dos trabalhadores industriais. Entretanto, os pressupostos teóricos da Escola de Frankfurt se estenderam a diversas áreas das relações sociais, entre elas a Comunicação Social, o Direito, a Psicologia, a Filosofia, a Antropologia, entre outras diversas, inclusive as Relações Internacionais.

4

• A primeira geração de cientistas sociais que integrou a Escola de Frankfurt foi composta por um grupo de intelectuais alemães de esquerda, entre os quais figuram: Walter Benjamin, Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse.

• Em seu aspecto geral, pode-se afirmar que a Teoria Crítica está baseada numa interpretação ou abordagem materialista - de caráter marxista e multidisciplinar (porque agrega contribuições de várias ciências: sociologia, filosofia, psicologia social e psicanálise) - da sociedade industrial e dos fenômenos sociais contemporâneos. A chamada Revista de Pesquisa Social foi a principal publicação da Escola de Frankfurt.

3

5

• A teoria parte do princípio de uma crítica ao caráter cientificista das ciências humanas, ou seja, de uma crítica da crença irrestrita na base de dados empíricos e na administração como explicação dos fenômenos sociais (por exemplo, como crítica ao Funcionalismo). A preocupação, pautada pela organização dos trabalhadores, está centrada, principalmente, em entender a cultura como elemento de transformação da sociedade.

6

• Neste sentido, a Teoria Crítica utiliza-se de pressupostos do Marxismo para explicar o funcionamento da sociedade e a formação de classes, e da Psicanálise para explicar a formação do indivíduo, enquanto elemento que compõe o corpo social. Esta postura se fortalece, principalmente, com o Nazismo e o Fascismo na Europa. Um dos principais questionamentos se dava no sentido de entender como os indivíduos se tornavam insensíveis à dor do autoritarismo, negando a sua própria condição de indivíduo ativo no corpo social.

4

7

Contexto histórico• Os programas de pesquisas teóricas

associados à Teoria Crítica passaram por significativas mudanças no decorrer das décadas, em razão da alternância de intelectuais no cargo de diretor do Instituto de Pesquisas Sociais - e também devido ao contexto histórico mais amplo, tanto da Alemanha como da realidade mundial.

• A Escola de Frankfurt, contudo - e, por conseguinte, a Teoria Crítica -, conseguiram se institucionalizar apenas no final da década de 1940, justamente após o fim da Segunda Guerra Mundial.

8

Contexto histórico• Como o Instituto era patrocinado com recursos judeus,

além de sua explícita linha marxista de análise, os pesquisadores como Max Horkheimer (diretor) e Theodor Adorno, entre outros, se veêm obrigados a deixar a Alemanha Nazista, fugidos da perseguição de Hitler. Já nos Estados Unidos, estes pesquisadores acompanham o surgimento do que os funcionalistas chamam de "Cultura de Massa" com o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação, principalmente o Rádio. Os pensadores da Escola de Frankfurt contestam o conceito de Cultura de Massa, no sentido de que ele seria uma maneira "camuflada" de indicar que ela parte das bases sociais e que, portanto, seria produzida pela própria massa.

5

9

• Ainda nos anos 1940, os pesquisadores de Frankfurt propõem o conceito de Indústria Cultural em substituição ao conceito de Cultura de Massa. Pensadores como Adorno e Lazarsfeld chegaram a desenvolver pesquisas em conjunto, buscando aproximar os conceitos do Funcionalismo com o da Teoria Crítica. Entretanto, a proposição de Indústria Cultural e de Cultura de Massa estavam distantes demais.

• O processo tardio de institucionalização da Teoria Crítica se deve ao advento do regime nazista na Alemanha, com a ascensão de Adolf Hitler ao poder. A maioria dos membros da Escola de Frankfurt era formada por judeus, e as perseguições políticas na Alemanha dividiram o grupo e forçaram a transferência do Instituto de Pesquisas Sociais para Genebra (Suíça), Paris (França) e, depois, Estados Unidos.

Contexto histórico

10

• A dispersão da primeira geração de cientistas sociais da Escola de Frankfurt dificultou a unidade e a regularidade da produção teórica e da realização de pesquisas consistentes. Por conta disso, uma das características da Teoria Crítica ésua fragmentação numa série de estudos, muitos deles contraditórios e antagônicos.

Contexto histórico

6

11

• A primeira geração de cientistas sociais pertencentes à Escola de Frankfurt desejava que todo conhecimento social produzido no âmbito do Instituto de Pesquisas Sociais transbordasse para fora do círculo acadêmico, de modo que pudesse ser utilizado para produzir intervenções práticas na sociedade, com o objetivo de provocar mudanças ou transformações sociais.

Contexto histórico

12

Propostas da Teoria Crítica• Ela propõe a teoria como lugar da autocrítica do

esclarecimento e de visualização das ações de dominação social, visando não permitir a reprodução constante desta dominação (na verdade, esta formação crítica a que se propõem os pensadores de Frankfurt pode ser entendida como um alerta à necessidade do esclarecimento da sociedade quanto às ordens instituídas). Neste sentido, a Teoria Crítica visa oferecer um comportamento crítico nos confrontos com a ciência e a cultura, apresentando uma proposta política de reorganização da sociedade, de modo a superar o que eles chamavam de "crise da razão" (nova crítica ao Funcionalismo). Eles entendiam que a razão era o elemento de conformidade e de manutenção do status quo, propondo, então, uma reflexão sobre esta racionalidade.

7

13

• Desta forma, há uma severa crítica àfragmentação da ciência em setores na tentativa de explicar a sociedade (ordens funcionais - a sociedade entendida como sistemas e sub-sistemas). Assim, propõem a dialética como método para entender a sociedade, buscando uma investigação analítica dos fenômenos estudados, relacionando estes fenômenos com as forças sociais que os provocam. Para eles, as disciplinas setoriais desviam a compreensão da sociedade como um todo e, assim, todos ficam submetidos àrazão instrumental (o próprio status quo) e acabam por desempenhar uma função de manutenção das normas sociais.

Propostas da Teoria Crítica

14

• A dialética se dá no sentido de entender os fenômenos estruturais da sociedade (como a formação do capitalismo e a industrialização, por exemplo), fazendo uma crítica à economia política, buscando na divisão de classes os elementos para explicar a concepção do contexto social (como o desemprego, o terrorismo, o militarismo, etc.). Em resumo, há uma tentativa de interpretar as relações sociais a fim de contextualizar os fenômenos que acontecem na sociedade.

Propostas da Teoria Crítica

8

15

• Partindo deste pressuposto, as ciências sociais que "reduzem" seus estudos à coleta e classificação de dados (como acontece com a pesquisa norte-americana) estariam vedando a si próprias a verdade, porque estariam ignorando as intervenções que constantemente ocorrem no contexto social.

Propostas da Teoria Crítica

16

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

• A partir dos anos 80, o debate chamado neox neo (em referência ao neo-realismo e neoliberalismo) dominou as pesquisas no campo das RI. No entanto, e ao mesmo tempo, perspectivas alternativas começaram a surgir, desafiando a visão convencional das relações internacionais.

• Esse debate interparadigmático (ou seja, entre os paradigmas) abriram a disciplina para uma diversidade de abordagens que, anteriormente, não encontravam espaço diante do domínio do realismo nas áreas de pesquisa em RI

9

17

• A Teoria Crítica é uma das mais importantes, senão a mais importante, contribuição alternativa surgida desde então, apresentando uma crítica contundente à concepção realista das relações internacionais como política de poder e questionando a pretensão científica das teorias internacionais, em particular seu compromisso com o positivismo.

• Ampliou o leque de temas, indo além das esferas tradicionais como segurança e política externa.

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

18

• O crescimento da influência da Teoria Crítica reflete a insatisfação dos estudiosos com as teorias dominantes diante de suas evidentes limitações na compreensão e análise das mudanças em curso na política mundial.

• No decorrer da Guerra Fria, cresceram demandas por perspectivas alternativas que levassem a reflexões sobre outras questões importantes tais como:– Ameaça nuclear;– Terrorismo;– Pobreza;– Devastação do meio ambiente;– Outras.

• Pode-se dizer, então, que a teoria crítica nas RI nasce no contexto de turbulências característico de um período de transição para uma ordem mundial cada vez mais globalizada.

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

10

19

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

• O objetivo do texto é discutir as contribuições dos principais expoentes da teoria crítica nas RI, destacando os temas e conceitos que mais influenciaram o desenvolvimento do debate na área dos últimos 20 anos:

1. Novas interpretações da obra de Marx;2. Os intelectuais da Escola de Frankfurt;3. A teoria da hegemonia de Antonio Gramsci.• Ao trazer a obra desses autores para o campo das

RI, os teóricos críticos abriram o caminho para o desenvolvimento de uma crítica vigorosa ao realismo, cujo impacto transformou, definitivamente, a maneira como pensamos a teoria na disciplina hoje.

20

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

• A teoria crítica traz o marxismo de volta para as Relações Internacionais.

• Os autores resgatam os escritos filosóficos e políticos de Marx nos quais estão presentes análises complexas de processos históricos.

11

21

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

• Nas obra de Marx 18 de Brumário e Guerra na França há uma preocupação do autor em compreender as mudanças na relação entre economia e política, tendo em vista as formas mais complexas de organização do Estado, que tornavam impossível simplesmente atribuir sua ação ao atendimento dos interesses econômicos da burguesia.

• A dimensão econômica dos conflitos muitas vezes era superada por interesses políticos orientados para a conquista de poder por grupos não vinculados ao universo da produção.

22

Karl Marx• Marx foi herdeiro da filosofia alemã, considerado ao lado de

Kant e Hegel um de seus grandes representantes. Foi um dos maiores (para muitos, o maior) pensadores de todos os tempos, tendo uma produção teórica com a extensão e densidade de um Aristóteles, de quem era um admirador. Marx criticou ferozmente o sistema filosófico idealista de Hegel. Enquanto que, para Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a filosofia precisa incidir sobre a realidade. Para transformar o mundo é necessário vincular o pensamento à prática revolucionária, união conceitualizadacomo práxis: união entre teoria e prática.

• A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas. Mas é uma crítica que não se limita a teoria em si. Marx, aliás, se posiciona contra qualquer separação drástica entre teoria e prática, entre pensamento e realidade, porque essas dimensões são abstrações mentais (categorias analíticas) que, no plano concreto, real, integram uma mesma totalidade complexa.

12

23

Karl Marx• O marxismo constitui-se como a concepção materialista da

História, longe de qualquer tipo de determinismo, mas compreendendo a predominância da materialidade sobre a idéia, sendo esta possível somente com o desenvolvimento daquela, e a compreensão das coisas em seu movimento, em sua inter-determinação, que é a dialética. Portanto, não é possível entender os conceitos marxianos como forças produtivas, capital, entre outros, sem levar em conta o processo histórico, pois não são conceitos abstratos e sim uma abstração do real, tendo como pressuposto que o real é movimento.

• Karl Marx compreende o trabalho como atividade fundante da humanidade. E o trabalho, sendo a centralidade da atividade humana, se desenvolve socialmente, sendo o homem um ser social. Sendo os homens seres sociais, a História, isto é, suas relações de produção e suas relações sociais fundam todo processo de formação da humanidade. Esta compreensão e concepção do homem é radicalmente revolucionária em todos os sentidos, pois é a partir dela que Marx irá identificar a alienação do trabalho como a alienação fundante das demais. E com esta base filosófica é que Marx compreende todas as demais ciências, tendo sua compreensão do real influenciado cada dia mais a ciência por sua consistência.

24

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

• Os teóricos críticos rejeitam as leituras ortodoxas do marxismo, que tendem a transformá-lo em uma fórmula aplicável a qualquer tempo e lugar, para propor um marxismo mais próximo do próprio Marx, que reconhecia que toda teoria é relativa ao seu tempo histórico

13

25

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

• A teoria crítica procura incorporar àanálise marxista conceitos que ajudem a explicar o papel de fatores como o nacionalismo e o autoritarismo nos conflitos entre Estados e, para tanto, recorre aos escritos de Marx que abordam temas como a ideologia e a alienação.

• Marx faz a crítica da própria razão ao identificar os mecanismos que limitam nossa capacidade de compreensão da realidade ao mesmo tempo em que ameaçam nossa liberdade e autonomia.

26

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

• O mais importante desses mecanismos é a alienação, que nos impede de distinguir a realidade objetiva de construções sociais destinadas a promover o interesse de uma classe.

• Na verdade a alienação faz com que os indivíduos tratem estruturas sociais resultantes da ação humana como um dado da natureza que dificilmente pode ser transformado pelos próprios seres humanos.

14

27

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

• As teorias positivistas eram o alvo principal da Escola de Frankfurt;

• As teorias tradicionais abordam os problemas sociais de maneira análoga às ciências exatas, na busca de um rigor científico que julgam faltar às ciências sociais;

• Separação entre sujeito e objeto;• O positivismo almeja uma ciência social

livre de valores, cientificamente neutra, de modo a produzir teorias capazes de explicar a realidade e fazer previsões sobre as possibilidades de ocorrência de certos fenômenos.

28

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

• Nas teorias de RI o realismo é tido como uma “teoria tradicional” justamente porque busca compreender a realidade como realmente é, evitando a contaminação de crenças e valores em análises, levando a erros desastrosos como havia ocorrido com os liberais utópicos.

• O problema com as teorias tradicionais é o seu conservadorismo, pois, ao considerar o objeto de estudo dado, assumem que éimutável.

15

29

A TEORIA CRÍTICA E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ANTECEDENTES

• Os pensadores da Escola de Frankfurt não fizeram nenhuma contribuição específica para a análise das relações internacionais. Contudo, exerceram grande influência sobre um grupo de autores preocupados em renovar, criticamente, a teoria de Relações Internacionais

30

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações Internacionais• O autor canadense Robert Cox publicou uma série

de artigos que se tornaram clássicos da perspectiva crítica nas Relações Internacionais;

• Pioneiro no resgate do neomarxismo e das obras de Antonio Gramsci;

• Tornou-se conhecido por sua brilhante crítica ao realismo contida em um artigo publicado no volume organizado por Robert Keohane em 1986;

• Afirma abertamente que “toda teoria é para algo e para alguém”, ou seja, toda teoria é interessada em um estado de coisas, seja ele político, social ou econômico;

16

31

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações Internacionais

• Cox defende a idéia que toda teoria érelativa ao seu tempo e lugar e, portanto, não pode ser transformada em um modelo absoluto, aplicável universalmente, como se não estivesse associada a certo contexto histórico e político. As teorias têm sempre uma perspectiva, um olhar engajado com a realidade sobre a qual está refletindo, sendo influenciada e influenciando tal realidade.

32

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações Internacionais

• Para Cox, não faz sentido separar, como fazem os positivistas, modelos científicos de teoria normativa.

• Cox propõe duas classificações para as teorias existentes:

• Teoria de solução de problemas• Teoria Crítica

17

33

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações Internacionais

• Teorias de solução de problemas:• Voltadas para a análise do funcionamento das

diferentes áreas de um sistema social, produzindo conhecimento especializado com vistas a solucionar entraves e desequilíbrios que comprometam o desempenho do sistema;

• Procuram identificar como as diferentes variáveis interagem, sem questionar se os problemas que se propõe a solucionar estão relacionados às características intrínsecas da sociedade;

• Nunca consideram a possibilidade de mudanças, de transformação, assumindo, portanto, o perfil de uma teoria conservadora.

34

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações Internacionais• Teorias críticas:• Reconhecem seu lado relativo e historicamente

situado;• Reconhece a necessidade de refletir sobre uma

realidade em constante mudança e assume seu interesse em transformar tal realidade no sentido de superar as formas de dominação existente;

• Procura sempre atualizar seus conceitos de modo a ser capaz de acompanhar a natureza dinâmica de seu objeto de estudo e ser capaz de melhor analisar o significado dos conflitos e contradições que movem os processos históricos;

• Não se trata de uma visão utópica ou idealista, mas, antes, de uma teoria que não se conforma em explicar a realidade como ela é.

18

35

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações Internacionais

• A partir dessa diferenciação, Cox procede à crítica do realismo, considerada uma teoria de solução de problemas pois o realismo:- adota uma metodologia que se diz neutra;- saber técnico- considera-se uma teoria que transcende a história, ou seja, aplicável a qualquer contexto histórico

36

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações Internacionais

• Para Cox, a falta de interesse do realismo por processos de mudança reflete seu conservadorismo e sua preferência por uma ordem mundial dominada por um pequeno número de Estados poderosos;

• O realismo privilegia as unidades mais poderosas e limita as possibilidades de mudança em sua estrutura anárquica;

• A Teoria Crítica nega que a realidade social seja imutável e afirma que Estados e sistemas de Estados não são governados pela natureza, mas sim resultado da ação humana e em constante mudança;

• O realismo assume os contornos de uma técnica preocupada, fundamentalmente, com a produção de equilíbrios que preservem a ordem internacional

19

37

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações Internacionais• É desse ponto de vista que os críticos afirmam que

a teoria não reflete simplesmente o real, mas também o molda. A separação rígida entre sujeito e objeto é falsa. Há uma relação dialética entre teoria e prática, fazendo com que as contradições do real, que impulsionam mudanças, tenham impactos na atividade intelectual.

• Para Cox, o realismo não pode ser considerado neutro. Ao contrário, ao tratar o mundo da anarquia e da política de poder como natural, tem um papel decisivo na reprodução das estruturas da política mundial tal como elas existem e na exclusão de alternativas que visem a transformá-las.

38

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações Internacionais

• Inspirado na obra de Antonio Gramsci, Coxdesenvolve um modelo no qual tenta incorporar três dimensões básicas para entendermos a dinâmica da política mundial:- a dimensão vertical das relações internacionais;- a relação entre Estado e sociedade civil;- a dinâmica do processo produtivo

20

39

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações

Internacionais• As relações de poder no realismo, por

exemplo, são horizontais, ou seja, baseadas nas diferentes capacidades de poder dos Estados. A tradixãomarxista, que inspira a Teoria Crítica, dirige seu foco para a dominação dos Estados mais ricos e poderosos sobre os mais fracos.

40

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações

Internacionais• Cox acredita que seja necessário

compreender melhor como se estruturam essas relações verticais de poder na política mundial e, para tanto, introduz o conceito gramsciano de hegemonia para analisar como as ordens mundiais formam relações hierárquicas que não são necessariamente imperialistas, mas muitas vezes baseadas numa combinação de consenso e coerção

21

41

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações

Internacionais• Ao contrário do realismo, portanto, a

hegemonia não deve ser entendida apenas como a supremacia dos Estados mais poderosos, mas também como uma relação na qual as potências assumem um papel dirigente com base em uma combinação de recursos materiais, idéias e instituições que convençam os demais Estados das vantagens daquela ordem para o conjunto do sistema.

42

ANTONIO GRAMSCI• Antonio Gramsci (1891 — 1937) foi um filósofo, político,

cientista político, comunista e antifascista italiano

• Hegemonia significa, para Gramsci, a relação de domínio de uma classe social sobre o conjunto da sociedade. O domínio se caracteriza por dois elementos: força e consenso. A força é exercida pelas instituições políticas e jurídicas e pelo controle do aparato policial-militar. O consenso diz respeito sobretudo à cultura: trata-se de uma liderança ideológica conquistada entre a maioria da sociedade e formada por um conjunto de valores morais e regras de comportamento. Segundo Gramsci, “toda relação de hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica”, isto é, de aprendizado.

22

43

ANTONIO GRAMSCI• A hegemonia é obtida, segundo Gramsci, por meio

de uma luta “de direções contrastantes, primeiro no campo da ética, depois no da política”. Ou seja, énecessário primeiro conquistar as mentes, depois o poder. Isso nada tem a ver com propaganda ou manipulação ideológica. Para Gramsci, a função do intelectual (e da escola) é mediar uma tomada de consciência (do aluno, por exemplo) que passa pelo autoconhecimento individual e implica reconhecer, nas palavras do pensador, “o próprio valor histórico”. “Não se trata de um doutrinamento abstrato”, diz Paolo Nosella, professor de filosofia da educação da Universidade Federal de São Carlos.

44

ANTONIO GRAMSCI• O terreno da luta de hegemonias é a

sociedade civil, que compreende instituições de legitimação do poder do Estado, como a Igreja, a escola, a família, os sindicatos e os meios de comunicação. Ao contrário do pensamento marxista tradicional, que tende a considerar essas instituições como reprodutoras mecânicas da ideologia do Estado, Gramsci via nelas a possibilidade do início das transformações por intermédio do surgimento de uma nova mentalidade ligada às classes dominadas.

23

45

ANTONIO GRAMSCI• Na escola prevista por Gramsci, as classes

desfavorecidas poderiam se inteirar dos códigos dominantes, a começar pela alfabetização. A construção de uma visão de mundo que desse acesso à condição de cidadão teria a finalidade inicial de substituir o que Gramsci chama de senso comum – conceitos desagregados, vindos de fora e impregnados de equívocos decorrentes da religião e do folclore. Com o termo folclore, o pensador designa tradições que perderam o significado, mas continuam se perpetuando. Para que o aluno adquira criticidade, Gramsci defende para os primeiros anos de escola um currículo que lhe apresente noções instrumentais (ler, escrever, fazer contas, conhecer os conceitos científicos) e seus direitos e deveres de cidadão.

46

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações

Internacionais• A teoria crítica tal como proposta por

Cox nega a possibilidade de separar a política da economia e afirma que as relações de poder na esfera da produção estão em relação constante com as relações de poder entre Estados.

24

47

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações

Internacionais• O esforço de Cox se concentra na

tentativa de integrar os universos da política, da produção, das estruturas internacionais e dos conflitos de classe com um enfoque teórico cuja qualidade principal é sua historicidade, ou seja, ser capaz de trabalhar com conceitos que levem em conta as forças que transformam os contornos da ordem mundial.

48

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações

Internacionais• Esse enfoque não é estático como o

realismo pois concebe as estruturas sociais como construções históricas que combinam condições materiais, idéias e instituições que constrangem a ação dos atores. Para Cox, as estruturas são um quadro de referência para a ação política, estando sujeitas a mudanças resultantes dos projetos e estratégias levados a cabo pelo atores sociais.

25

49

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações

Internacionais

IDÉIAS INSTITUIÇÕES

CAPACIDADES MATERIAIS

50

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações

Internacionais• Ao inspirar-se em Gramsci para formular

sua teoria crítica, Cox pode incorporar àreflexão sobre as relações internacionais fatores políticos e normativos excluídos das abordagens positivistas. Aplicado às relações internacionais, esse pensamento permite valorizar o papel das instituições e das idéias na interpretação dos processos de construção das ordens mundiais, indo além da mera consideração das capacidades de poder, como o realismo

26

51

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações

Internacionais

FORÇAS SOCIAIS ORDENS MUNDIAIS

FORMAS ESTATAIS

A relação entre os três níveis também é recíproca e nunca unilateral. É preciso tomá-las conjuntamente para compreender como as hegemonias se formam, se consolidam e entram em crise.Nesse sentido, o modelo reflete com clareza a preocupação da teoria crítica em identificar as possibilidades de transformação da ordem vigente, uma vez que comporta uma abordagem dinâmica dos processos de crise como momentos em que o novo pode surgir no lugar do velho.

52

Robert Cox e a crítica às teorias dominantes nas Relações Internacionais

• Para Cox, a política mundial não se estrutura, primordialmente, em torno das fronteiras entre o externo e o interno que definem a disciplina em seus moldes tradicionais. Como vimos anteriormente, os Estados continuam a ser uma dimensão importante das estruturas históricas, mas o que define sua forma e, como consequência, seu padrão de comportamento e suas estratégias, é o modo das relações com a sociedade civil.

• A partir desse modelo de análise, torna-se possível estudar a globalização – um tema que as teorias convencionais procuram evitar – a partir da disciplina de RI. Cox nos mostra, portanto, como uma teoria ligada ao movimento da história pode se adequar para compreender as transformações profundas em curso na política mundial. Seu programa de pesquisa nos convida a investigar como idéias, capacidades materias e instituições cada vez mais ignoram limites territoriais, redefinindo os espaços de articulação das forças sociais e dos Estados, bem como as características estruturais das ordens mundiais.

27

53

Ética, soberania e cosmopolitismo crítico de Linklater

• A teoria crítica quer recolocar no centro da reflexão sobre as relações internacionais a vocação marxista original de reafirmar princípios éticos comuns a toda humanidade, criando condições para superar suas divisões e conflitos. Para tanto, seria necessário desenvolver elementos teóricos capazes de fundamentar uma nova reflexão sobre o universalismo em um mundo fragmentado política e culturalmente. Ou seja, devemos recuperar a capacidade de pensar a evolução moral da humanidade no sentido da formação de uma comunidade mais ampla e inclusiva, que ultrapasse os limites do Estado-nação. Um passo necessário para empreender tal tarefa é formular uma crítica consistente do Estado e das teorias Estadocêntricas.

54

Ética, soberania e cosmopolitismo crítico de Linklater

• O alvo principal da teoria crítica é o neo-realismo:• - Estado único ator relevante nas RI;• - Generalização de conceitos para diferentes

circunstâncias histórico-políticas;• - Aspecto a-histórico da estrutura do sistema

internacional;• - Ação do Estado se resume a uma resposta

mecânica às circunstâncias;• - Aura de imutabilidade sobre o sistema

internacional

28

55

Ética, soberania e cosmopolitismo crítico de Linklater

• Em contraste a essa definição, os críticos do neo-realismo desenvolveram estudos sobre as diferentes formas e funções assumidas pelo Estado ao longo da história moderna. Ao contrário do que afirmam os relatos convencionais, o Estado, tal como conhecemos hoje, não é resultado de um processo natural de organização das comunidades nacionais para se defender de um ambiente perigoso como a anarquia. Ele é uma construção social e histórica que deriva de conflitos e idéias sobre como deve ser estruturada a política entre grupos humanos diferentes.

56

Ética, soberania e cosmopolitismo crítico de Linklater

• Respaldados em numerosos estudos da sociologia histórica, os teóricos críticos encontraram um forte argumento empírico a favor de sua visão da teoria como uma atividade sempre circunscrita a seu tempo e lugar. Se a definição de soberania, por exemplo, assume significados tão diferentes ao longo da história, devemos desenvolver métodos e conceitos que reflitam essas variações, sob pena de naturalizarmos aquilo que é artificial, ou seja, produto da ação humana. Com base nessa orientação, abrem-se novas avenidas para a pesquisa do tema da mudança na política mundial, antes fechadas pela concepção determinista e anistórica do neo-realismo.

29

57

A exclusão• Para os teóricos críticos nas Relações

Internacionais, a reprodução das estruturas políticas que dividem a humanidade, organizando-a em grupos nacionais que, frequentemente, recorrem à violência para realizar seus interesses, torna-se um ponto central de sua reflexão. Não se trata de deixar de lado o estudo das formas de exploração econômica que tornaram o marxismo uma referência das lutas sociais modernas. O argumento defende a necessidade de questionar as formas de exclusão promovidas pelo particularismo do Estado-nação, que podem ser tanto de tipo cultural, racial ou étnico como também social e econômico.

58

A exclusão• O que a teoria crítica quer colocar no centro dos

debates da disciplina é a inevitável dimensão ética das diferentes questões investigadas pelas Relações Internacionais, dimensão esta absolutamente ausente das análises convencionais, que simplesmente aceitam as consequências negativas do sistema de Estados como um aspecto trágico de uma realidade que não podemos mudar. O problema parece estar, então, na incapacidade de pensar a política para além do Estado, ou melhor, na insistência em pensar a política como um domínio exclusivo e excludente de uma comunidade circunscrita a um determinado espaço territorial.

Recommended