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ALINE VANIN
MUITO MAIS DO QUE AZUL
COR, EMOÇÕES E SIGNIFICAÇÕES NO CINEMA CONTEMPORÂNEO
Monografia de Conclusão do Curso de Comunicação Social, habilitação
em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul,
apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.
Orientador (a): Prof. Dr. Ivana
Almeida da Silva
Caxias do Sul
2017
ALINE VANIN
MUITO MAIS DO QUE AZUL:
COR, EMOÇÕES E SIGNIFICAÇÕES NO CINEMA CONTEMPORÂNEO
Monografia de Conclusão do Curso de
Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda da
Universidade de Caxias do Sul, apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.
Aprovado em: __/__/____
Banca Examinadora
_____________________________________
Prof.ª Dr.ª Ivana Almeida da Silva
Universidade de Caxias do Sul – UCS
_____________________________________
Prof.ª Me.ª Candice Kipper Klemm
Universidade de Caxias do Sul – UCS
_____________________________________
Prof.ª Me.ª Marliva Vanti Gonçalves
Universidade de Caxias do Sul – UCS
AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente aos meus pais, que me inspiram a ser uma boa
pessoa e crer que o futuro pode ser bom, que me apoiam em todos os passos da
vida e que com muita paciência, persistência e amor me fizeram ser quem sou.
Agradeço a minha irmã Denise, minha maior incentivadora. Acredito que as
pessoas estão nas nossas vidas para que possamos aprender com elas, e este é o
caso. Aprendi com ela e com meu cunhado, Ronaldo, dois seres humanos incríveis,
que persistir e lutar sempre valem a pena, que enquanto estivermos unidos todas as
dificuldades podem ser vencidas.
Aos meus amigos e colegas de graduação que muitas vezes foram tão
presentes e importantes como minha família. Um agradecimento especial à Juliane e
à Pamela, pelo companheirismo e apoio, pelos trabalhos em grupo e, principalmente
pelos ótimos momentos vividos durante esta caminhada. À Bárbara, minha
companheira de escrita deste trabalho e dos muitos outros durante os longos anos
que nossa amizade existe.
Aos meus professores incríveis, que me ensinaram e incentivaram a nunca
desistir. Em especial, a Prof. Ivana, minha orientadora desta pesquisa e minha
grande inspiração para o futuro.
A todos, que de uma forma ou outra, me inspiraram, me ajudaram a nunca
desistir e fizeram parte da minha formação, muito obrigada.
“Quem não sonha o azul do voo, perde
seu poder de pássaro.”
Carl Jung
RESUMO
O objetivo do estudo é descobrir como as cores traduzem emoções e apresentam
diferentes manifestações de sentimento no cinema contemporâneo. Para tanto, valemo-nos inicialmente da pesquisa bibliográfica, onde é encontrada a base teórica
necessária para dar andamento à análise fílmica apresentada ao final, onde são examinados filmes contemporâneos que apresentam a cor azul em suas paletas de cor. Desse modo, observa-se que cada filme analisado utilizou-se de uma
composição de cores diferente envolvendo o azul, trazendo às cenas destacadas emoções diferenciadas. Isso permite concluir que a cor azul possui significações
intrínsecas, a partir de suas combinações na tela do cinema, que expandem seu sentido inicial e conhecido por todos. Ao final podemos compreender melhor uma obra cinematográfica. A criação da imagem fílmica é algo complexo, que envolve
percepção, emoção, profissionais capacitados, tendo a cor papel fundamental na relação do espectador com a obra fílmica. Palavras-chave: Cor. Cinema Contemporâneo. Emoção. Significação. Azul.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Arte Barroca e Uso da Cor: Medusa de Caravaggio ...................................... 17
Figura 2 – Exemplo de logotipo facilmente identificável ........................................... 21
Figura 3 – Logotipo Coca-Cola ................................................................................. 22
Figura 4 - Primeiridade, Secundidade e Terceiridade: Coca-Cola .......................... 24
Figura 5 - Identificando um desenho animado pelas cores ...................................... 25
Figura 6 - Surgimento das emoções conforme a idade ............................................ 29
Figura 7 - Pôster de “Chegada de um Trem à Estação” .......................................... 32
Figura 8 - Películas pintadas à mão: filme Cinderella, 1899 .................................... 34
Figura 9 – Primeiro filme colorido ............................................................................. 35
Figura 10 – Cores que comunicam: La La Land e as estações ............................... 40
Figura 11 – Explorando a paleta de cores ................................................................ 42
Figura 12 - Antes, durante e depois de Angelina Jolie como “Malévola” ................. 45
Figura 13 – O quarto de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) ................. 46
Figura 14 - Correção de cor para o filme Dave (2016) ............................................. 48
Figura 15 – Notas musicais e cores análogas .......................................................... 51
Figura 16 – Frame de O Grande Hotel Budapeste (2014) ....................................... 53
Figura 17 - Pigmentos na pré-história: diversas cores eram aplicadas .................... 56
Figura 18 – Máscara mortuária de Tutancâmon ...................................................... 58
Figura 19 – A Mesquita Azul .................................................................................... 59
Figura 20 - Pôster de Blue (1993) ............................................................................ 62
Figura 21 - Pintura monocromática de Yves Klein ................................................... 63
Figura 22 - Frame do filme Blue (1993) .................................................................... 63
Figura 23 – Pôster de O Regresso (2015) ............................................................... 65
Figura 24 - Acorde Cromático: o distante ................................................................. 66
Figura 25 - O Regresso (2015): acorde cromático de “distanciamento” .................. 67
Figura 26 - Pôsteres de Azul é a Cor Mais Quente (2013) ao redor do mundo ....... 69
Figura 27 - Acordes cromáticos: paixão e encanto .................................................. 70
Figura 28 - Azul é a Cor Mais Quente (2013): acorde cromático de “simpatia” e
“encanto” .................................................................................................................. 71
Figura 29 - Pôster de “Moonlight: sob a luz do luar” (2016) ..................................... 72
Figura 30 - Chiron conhece Juan e Teresa .............................................................. 75
Figura 31 - Acordes cromáticos de “confiança” e de “força” .................................... 75
Figura 32 - Chiron na escola .................................................................................... 76
Figura 33 - Acordes cromáticos de “passividade” e “introversão” ............................ 77
Figura 34 - O azul enquanto componente de cena .................................................. 78
Figura 35 - Acorde cromático de distanciamento ..................................................... 79
Figura 36 - Pôsteres de “Tron: uma odisseia eletrônica” e “Tron: o legado” ............ 80
Figura 37 - Acordes cromáticos de “inteligência”, “ciência” e “dinamismo” .............. 82
Figura 38 - Acorde cromático da “inteligência” ......................................................... 82
Figura 39 - Acorde cromático da “ciência” ................................................................ 83
Figura 40 - Acorde cromático de “dinamismo” ......................................................... 85
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
1.1 METODOLOGIA ................................................................................................ 12
2 CORES, EMOÇÃO E SIGNIFICAÇÃO ................................................................. 15
2.1 O QUE É COR? ................................................................................................. 15
2.2 COR E SUA RELAÇÃO COM EMOÇÕES E SIGNIFICADOS .......................... 19
3 COR E CINEMA .................................................................................................... 32
3.1 COR E CINEMA: RELAÇÃO HISTÓRICA ......................................................... 33
3.2 A COR E O CINEMA: LINGUAGENS ................................................................ 36
3.3 A ABORDAGEM DA COR ENQUANTO MATERIAL DE CENA ........................ 40
3.4 PREMIAÇÕES ................................................................................................... 52
4 MUITO MAIS DO QUE AZUL ............................................................................... 55
4.1 A COR AZUL ...................................................................................................... 55
4.2 O AZUL ENQUANTO RECURSO NARRATIVO ................................................ 60
4.3 ANÁLISE DE FILMES CONTEMPORÂNEOS ................................................... 61
4.3.1 O Regresso (2015) ....................................................................................... 64
4.3.1.1 Azul: perturbação e tristeza .......................................................................... 65
4.3.2 Azul é a Cor Mais Quente (2013) ................................................................ 68
4.3.2.1 Azul: aflição e inquietação ................................................ ............................ 69
4.3.3 Moonlight: sob a luz do luar (2016) ............................................................ 72
4.3.3.1 Azul: confiança, vergonha e incômodo ......................................................... 74
4.3.4 Tron: o legado (2010) ................................................................................... 79
4.3.4.1 Azul: interesse, curiosidade e inquietação ................................................... 81
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 88
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 91
FILMOGRAFIA ......................................................................................................... 96
ANEXO ..................................................................................................................... 97
9
10
INTRODUÇÃO
Há muito se conhece a importância das cores na vida dos seres humanos e
como elas estão presentes em todos os aspectos de nossa existência. As cores
começaram a ser utilizadas há milhares de anos atrás, inicialmente com o intuito de
representar a caça. As pinturas rupestres são a prova disso. Grandes filósofos,
como Aristóteles, pintores, como da Vinci e físicos, como Isaac Newton, foram
alguns dos responsáveis pelas teorias e conceitos mais antigos acerca das cores.
Existem muitas maneiras de nos expressarmos e diversos meios pelos quais
é possível fazê-lo. A exteriorização de sentimentos e emoções pode acontecer
através da fala, da escrita ou da simbolização de um objeto, por exemplo. As cores
são meios pelos quais, muito comumente, se demonstra um sentimento e, através
dos estudos semióticos é que somos capazes de compreender essa simbolização. A
semiótica é utilizada para que a simbolização de qualquer tipo de linguagem possa
ser interpretada e compreendida.
A cor está inserida em nossa vida de diversas formas e uma delas é no
cinema. O cinema foi uma grande revolução em termos comunicacionais, no início
mudo e preto e branco, mas com os grandes avanços tecnológicos e o decorrer dos
anos, tornou-se colorido.
Através da junção do estudo semiótico das cores com o cinema, este
trabalho propõe-se a responder a seguinte pergunta: como as cores traduzem as
emoções e apresentam diferentes manifestações de sentimento no cinema
contemporâneo?
Para que possamos compreender como esta manifestação de emoções
acontece e como as cores são capazes de manifestar estas emoções precisaremos
compreender primeiramente o que é a cor e como ela se manifesta através da
semiótica.
Precisaremos entender também como as cores são utilizadas pelos
profissionais envolvidos na produção do filme. O maquiador, o figurinista, o colorista,
os diretores geral e de fotografia possuem papel fundamental na empregabilidade
das cores em uma produção cinematográfica e, por isso, buscaremos descobrir
como este “mundo” funciona e qual a sua contribuição para o resultado final do filme.
11
A fim de elucidar os questionamentos através de um estudo prático,
realizaremos a análise de filmes contemporâneos para que possamos entender
como as cores influenciam na tradução de emoções subjetivas.
Com o intuito de demonstrar o quão importantes são as cores para a
interpretação de sentimentos e emoções nos filmes contemporâneos, realizaremos o
estudo dos mesmos e buscaremos elucidar a questão de como a transmissão das
emoções ocorre.
Para que a explanação se dê de forma mais completa, os capítulos serão
trabalhados de forma a discutir todos os tópicos envolvidos na análise a ser
realizada na etapa final. Para isso, o segundo capítulo abordará os tópicos de cor,
emoção e significação, a fim de contextualizar a relação entre eles e fazer com que
o leitor esteja ciente de como funcionam em conjunto.
O capítulo três, tratará das cores e do cinema contemporâneo e de sua
relação de interdependência. O estudo analisará como, quando colocados juntos,
cor e cinema possuem significação distinta. Para explanar a ideia dos dois assuntos
sendo trabalhados em conjunto, trataremos também dos profissionais que estão
envolvidos na manipulação das cores e das escolhas envolvidas no fazer
cinematográfico. Além disso, também tratar-se-á da questão da linguagem do
cinema e das cores, como os dois trabalham em conjunto e dão ao espectador, de
forma subjetiva, mais informações sobre o mundo envolto nas cenas.
No quarto capítulo serão abordadas as análises dos filmes contemporâneos
e através delas buscaremos entender a relação das cores com o cinema e como, em
conjunto, os dois são capazes de transmitir ao espectador as emoções e
apresentam diferentes manifestações de sentido que estão subjetivas.
Os filmes escolhidos para a realização da análise foram os seguintes: O
Regresso (2015), Azul é a Cor Mais Quente (2013), Moonlight: sob a luz do luar
(2016) e Tron: o legado (2010). Para cada um dos filmes serão apresentados
sinopse, curiosidades sobre o mesmo, tais como os prêmios recebidos e,
posteriormente a análise, na qual trataremos sobre a paleta de cores e as emoções
relacionadas com as mesmas em frames retirados das obras através da análise de
seu conteúdo com auxílio de livros sobre os assuntos.
12
1.1 METODOLOGIA
A fim de desenvolver a pesquisa proposta para este trabalho, faremos uso
de diversas técnicas de pesquisa com o intuito de entender a relação das cores com
o cinema e como juntos os dois transmitem ao espectador as emoções.
Para que possamos desenvolver os capítulos de forma mais concreta e para
que os mesmos contenham informações relevantes sobre cada tema, utilizar-nos-
emos da pesquisa em material bibliográfico proposto por grandes teóricos
relacionados aos assuntos e também em teses e dissertações de mestrado e
doutorado, que propõem visões mais atuais e arrojadas dos tópicos em questão.
Segundo Flick (2009, p. 23), as pesquisas bibliográficas consistem “[...] nas
reflexões dos pesquisadores a respeito de suas pesquisas como parte do processo
de produção de conhecimento; e na variedade de abordagem e métodos” e, por
tanto são imprescindíveis para o bom desenvolvimento do assunto.
Para tratarmos sobre as cores, usaremos, por exemplo, Eva Heller,
importante escritora e cientista social alemã, responsável por estudo aprofundados
da psicologia das cores e como as mesmas afetam a vida das pessoas. Johann
Wolfgang von Goethe é outro exemplo, pois através de seus livros mudou a
percepção sobre as cores e tornou-se um dos mais importantes teóricos à escrever
sobre o assunto.
No campo do cinema e percepção de imagem, faremos uso dos
ensinamentos de Jacques Aumont, importante teórico francês que ainda publica
regularmente seus estudos e contribui para o avanço dos estudos na área. Christian
Metz, um grande teorizador do cinema, pioneiro do uso das técnicas semióticas em
seus estudos, também se fará presente, a fim de aprimorar os conceitos incluídos
nesta pesquisa.
Ao tratarmos especificamente da ciência semiótica, Charles Sanders Peirce
e Lucia Santaella serão nossos guias durante o percurso. Os conceitos a serem
aplicados e as bases teóricas a serem utilizadas partirão destes dois autores.
Santaella é uma das mais importantes divulgadoras dos estudos de Peirce e possui
importante contribuição para o estudo da significação.
Com o objetivo de trabalharmos as emoções e torná-las mais
compreensíveis e acessíveis para o espectador e para que possam enriquecer as
análises, farão parte de nosso estudo os ensinamentos cunhados por David Le
13
Breton, antropólogo francês, renomado teórico da área e José Maria Martins, teórico
que examina a fundo os principais estudos e pesquisas atuais sobre as emoções,
oferecendo uma visão panorâmica e integrada dos diversos campos que o estudo
das emoções pode tomar.
Para realização das análises das imagens fílmicas, escolhemos trabalhar
com filmes contemporâneos que sejam datados do ano de 2010 até agora, a fim de
que a discussão contemple um olhar sobre o cinema contemporâneo, foco de nosso
problema de pesquisa, organizando nosso olhar.
Para que a análise venha a se tornar mais abrangente no campo das
emoções, decidimos então escolher filmes que fiquem dentro da faixa de tempo
proposta e que tenham em suas paletas de cor o azul como uma das cores que mais
se destaca. A escolha de uma única cor para a análise final das cenas deu-se um
função da busca de um olhar diferenciado sobre a discussão das cores no cinema,
uma vez que pesquisas preliminares demonstraram, já na época do projeto, que os
trabalhos que discutiam as cores no cinema, o faziam sem dar foco em uma delas,
tratando-as como um conjunto. O estudo proposto, surgiu com o objetivo de analisar
a cor azul inserida nos filmes contemporâneos afim de avaliar como uma única cor
pode apresentar diversas significações em diferentes inserções.
A análise a ser realizada se baseia no livro “Psicologia das Cores: como as
cores afetam a razão e a emoção” (2004), escrito por Eva Heller com base em
pesquisas e entrevistas. O livro aborda as cores que estão em conjunto, formando
um acorde cromático e mostra-nos como elas atuam de forma composta a fim de
expressar uma emoção.
Para que possamos complementar as constatações obtidas através do
pensamento de Heller, faremos uso dos registros de José Maria Martins em seu livro
a “Lógica das Emoções: na ciência e na vida” (2004), um estudo realizado pelo autor
que aprofunda as emoções e faz com que possamos relacioná-las uma com as
outras a fim de que surjam novos sentimentos.
As imagens extraídas dos filmes são escolhidas com base nas paletas de
cores, visto que a análise baseia-se justamente nas cores que foram utilizadas na
montagem dos cenários. De acordo com Aumont (2004, p. 78) “a produção de
imagens jamais é gratuita, e, desde sempre as imagens foram fabricadas para
determinados usos” e, sendo assim, as imagens selecionadas compreendem um
determinado espaço que dá sentido à análise a ser feita.
14
15
2 CORES, EMOÇÃO E SIGNIFICAÇÃO
As cores estão ao nosso redor de forma ininterrupta, pois estão em todos os
fenômenos que nos cercam, tais como os alimentos, a natureza, os animais, os
objetos, as roupas, etc. E é através desta vasta quantidade de diferentes
apresentações que mostram a sua riqueza e cativam o olhar, fazendo com que cada
vez mais descubramos formas de replicá-las e inserir em mais e mais objetos.
Através da tecnologia, que muito avançou nos últimos anos, podemos citar o
cinema como um exemplo de uso das cores. Em seu “nascimento” e durante um
longo período, o cinema era preto e branco, mas a inconformidade de produtores
que queriam sempre mais e mais, deu origem às películas pintadas a mão, trazendo
cores sutis às cenas que eram apresentadas. Com o passar dos anos e o aumento e
desenvolvimento da tecnologia, o cinema ganhou cor. Hoje, as cores possuem tanta
importância no mundo cinematográfico que acabam ganhando destaque nas cenas,
passam a ter papel fundamental na ação que está acontecendo e, através delas,
pode-se compreender mensagens subliminares, que estão ali para que sejam
desvendadas pelos espectadores justamente com a ajuda das cores aplicadas.
Segundo Goethe (1993, p. 37) “cada olhar envolve uma observação, cada
observação uma reflexão, cada reflexão uma síntese [...]” e as cores apresentam-se
como parte destas observações, reflexões e sínteses, pois influenciam na formação
de opiniões através da construção cênica em que foram colocadas, gerando
emoções e significações.
As emoções e as significações andam juntas quando tratamos das cores. Ao
pensarmos na significação de uma cor, estamos pensando diretamente no efeito que
a mesma causa em seu receptor, ou seja, na emoção que ela provoca na pessoa
que está enxergando-a.
2.1 O QUE É COR?
A cor pode ser definida como um acontecimento físico, visto que é formada
pelos raios de luz que atravessam a pupila humana e penetram o sistema ótico
dando origem, através da ação do cérebro, às cores que vemos. Para Goethe (1993,
p. 45), “a cor é um fenômeno elementar da natureza para o sentido da visão”, pois a
16
natureza gera a cor e a “envia” para o olhar, que o mistura, funde, intensifica e
neutraliza, formando assim, as cores que enxergamos.
Apesar das cores serem formadas em nosso cérebro, na maioria das vezes
depreendemos que as mesmas são propriedade e/ou qualidade dos objetos. Foi
Isaac Newton, em 1704, em sua obra “Opticks”, que definiu que as cores são
resultados das variações dos raios de luz em detrimento da reflexão e da absorção
dos mesmos por parte dos corpos.
Em 1810, surge a contestação das ideias newtonianas e a nova, e mais bem
aceita, teoria sobre a origem das cores.
As cores são ações e paixões da luz. Nesse sentido, podemos esperar
delas alguma indicação sobre a luz. Na verdade, luz e cores se relacionam perfeitamente, embora devamos pensá-las como pertencendo à natureza em seu todo: é ela inteira que assim quer se revelar ao sentido da visão
(GOETHE, 1993, p. 35).
Na teoria de Goethe (1993), além dos objetos naturais (natureza), ainda são
citados dois outros importantes fatores para a construção do conceito de cor: a visão
e a sensibilidade individual, ou seja, cada pessoa vê de acordo com seu ânimo.
De acordo com Guimarães (2004), o conceito mais bem aceito atualmente é
o de Schopenhauer, seguidor e, ao mesmo tempo, contestador das ideias de
Goethe. Jacques Aumont (2004) e alguns outros teóricos seguem esta mesma
concepção: “a cor não está ‘nos objetos’, mas sim ‘em’ nossa percepção”.
De qualquer forma, desde os mais remotos tempos as cores já se faziam
presente na vida dos seres humanos, como é possível perceber através das pinturas
rupestres, que datam do período Paleolítico e eram utilizadas para planejar ataques
e caçadas a animais.
Desde as antigas civilizações, como na China, Índia e Egito, por exemplo,
acreditava-se que as cores possuíam diferentes simbologias, e estavam mais para a
necessidade psicológica do que para a estética (FARINA, 1990) e, por isso, eram
utilizadas para embelezar e ornamentar príncipes, reis, imperadores e sacerdotes.
Quanto mais atrativa aos olhos e mais rara fosse a cor, mais atributos ela possuía e
mais aumentava sua necessidade de ser utilizada por um nobre.
Para as artes visuais, a cor é peça indispensável, pois ela fundamenta e
ajuda o autor a expressar-se. Para Farina (1990, p. 23) “[a cor] é o fundamento da
expressão. Está ligada à expressão de valores sensuais e espirituais” e, por este
17
motivo, está intimamente ligada à arte e é considerado elemento individualizador da
obra artística, pois cada artista a utiliza de forma particular e renova sua importância
na arte.
Por se tratar de uma condição, ou seja, cada cor possui uma determinada
simbologia, elas acabam por tornar-se marcos de diferentes épocas. Os períodos da
arte podem ser utilizados como exemplos disso. A Arte Barroca1, considerada como
um dos mais importantes movimentos da história da arte ocidental, fazia uso das
cores para dar ideia de emoções exageradas ou mesmo dramaticidade e eram
empregadas com intuito de evocar texturas às pinturas.
Figura 1 - Arte Barroca e Uso da Cor: Medusa de Caravaggio
Fonte: <http://www.uffizi.com/painting-medusa-uffizi-gallery.aspx>. Aceso em 21 nov.
2017.
Estes diversos exemplos de aplicações nas antigas civilizações e estes
grandes estudiosos buscando conceituar da melhor maneira possível para seu
1 A arte barroca a arte é a arte desenvolvida no século XVII. As obras dos artistas deste período mostram certa tendência ao bizarro, ao assimétrico, ao extravagante, ao apelo emocional, inexistente até então na arte renascentista. O artista barroco compreende a natureza como infinita e para expressar tal sentimento utiliza recursos como contrastes abruptos de luz e sombra, manchas difusas de cores, passagens súbitas entre primeiro e segundo planos, diagonais impetuosas, au sência de simetria. A questão da veracidade do instante representado se dá na arte barroca pelo apelo à emoção do espectador, por isso as contorções exageradas dos corpos e rostos e os efeitos irreais de luz e sombra são alguns dos recursos teatrais utilizados para convencer (in: ENCICLOPÉDIA Itaú
Cultural de Arte e Cultura Brasileiras, 2017).
18
tempo a origem e a formação das cores são úteis como exemplo para provar a
onipresença das mesmas.
Diversas ciências tornaram as cores seu objeto de estudo pois as mesmas
nos cercam por todos os lados. Sua presença pode ser aferida nas atividades da
vida cotidiana, nos esportes, na política, na religião. Elas podem ser usadas para
comunicar e essa comunicação se dá de forma verbal e não-verbal, através de
manifestações artísticas, como nas pinturas, por exemplo.
Para abarcar as definições de todos os grandes nomes que já se
debruçaram sobre este tema e fornecer um conceito que seja abrangente e
satisfatório, Guimarães (2004, p. 12) define que “a cor é uma informação visual,
causada por um estímulo físico, percebido pelos olhos e decodificado pelo cérebro”,
onde cada parte da formação do conceito recebe uma definição.
O estímulo físico, ou o meio, carrega consigo a materialidade de uma das fontes, ou causas da cor [...]. O cérebro - e o órgão da visão como sua extensão - é o suporte que decodificará o estímulo físico, transformando a informação da causa em sensação, provocando, assim, o efeito da cor
(GUIMARÃES, 2004, p. 12).
O órgão da visão é o responsável por permitir ao homem uma conexão entre
o mundo exterior e o interior de si mesmo: “os olhos são as janelas da alma”, diz
Leonardo Da Vinci (1452-1519). É através dos olhos que reconhecemos o mundo ao
nosso redor, é através deles, em conjunto com o cérebro, que identificamos as
cores.
A influência cromática encontrada no mundo varia de cultura para cultura.
Cada povo, país, religião se identifica e trabalha com as cores de uma forma
diferente.
Cada cor atua de modo diferente, dependendo da ocasião. O mesmo
vermelho pode ter efeito erótico ou brutal, nobre ou vulgar. O mesmo verde pode atuar de modo salutar ou venenoso, ou ainda calmante. O amarelo pode ter um efeito caloroso ou irritante. Em que consiste o efeito especial?
Nenhuma cor está ali sozinha, está sempre cercada de outras cores. A cada efeito intervêm várias cores – um acorde cromático (HELLER, 2004, p. 17).
Segundo Heller (2004), as cores também funcionam em grupo e variam de
significado de pessoa para pessoa. Além de tudo, as cores ainda servem como
19
fornecedoras de informações e podem ser separadas em relações taxionômicas e
relações semânticas. As taxionômicas possuem princípios de organização, por isso,
destacam, hierarquizam ou direcionam; enquanto as semânticas possuem a função
de simbolizar, denotar, conotar (GUIMARÃES, 2003).
Essas funções são expressas de acordo com o emprego das cores em
diferentes funções. A função taxionômica é utilizada enquanto meio para que o
receptor entenda que existe uma certa mensagem a ser entregue, pois destacam
uma parte do que está escrito.
Enquanto isso, as semânticas, variam de acordo com o campo em que as
cores estão inseridas. Por exemplo, no jornalismo servem para exaltar, chamar a
atenção do leitor para algum fato importante que está sendo noticiado. Geralmente,
os jornais trazem quadros explicativos sobre um assunto com cores que se
relacionem ao tema, pois, de acordo com Guimarães (2003, p. 29), “a simples
organização de informações por meio de cores pode também transferir significados
e valores para cada grupo de informações” e, sendo assim, cada cor será atribuída à
uma divisão pré-estabelecida geralmente pela cultura popular, como é o caso, por
exemplo, do azul e vermelho para os universos masculino e feminino.
As cores podem ser encaradas de diversas formas, cada qual com sua
particularidade. Estas diferentes visões e convenções sobre as cores, fazem com
que pensemos sobre e ponderemos como elas estão infiltradas em nossa vida e
como somos incapazes de tirá-las ou separá-las de nossa existência.
2.2 COR E SUA RELAÇÃO COM SIGNIFICADOS E EMOÇÕES
Há muitos séculos as cores vêm sendo usadas com diversos propósitos, e
mesmo nas civilizações mais antigas já eram símbolos, já estavam ligadas a um
sentido psicológico (FARINA, 1990). As antigas civilizações faziam uso das cores
pois acreditavam que as mesmas traziam consigo boas energias e tinham
significados positivos.
Os artistas, principalmente os pintores, faziam uso das cores com o intuito
de demonstrar cargas emotivas e psicológicas e passar para o interlocutor o estado
de espírito em que se encontrava ao pintar.
Goethe em “A Doutrina das Cores” (1993), fala de como as cores possuem
capacidade de significar, que cada cor produz um efeito específico em cada ser
20
humano, que as mesmas podem ser usadas em diferentes relações, sejam elas
alegóricas, simbólicas ou míticas. Por alegóricas, o autor refere-se ao significado
que deve ser transmitido, por simbólicas, sua consonância com o efeito, seu
verdadeiro significado e, por místicas, sua relação com a linguagem para exprimir
relações primordiais.
“As pessoas em geral sentem grande prazer com a cor. O olho necessita
dela tanto quanto da luz”, diz Goethe (1993, p. 128), os seres humanos já estão
habituados a buscar nas cores informações. Por exemplo, a área médica, que faz
uso da cor vermelha, principalmente, como sinal de atenção ou perigo. E o mesmo
com placas que indicam perigo em casos como os de produtos químicos ou
eletricidade.
O indivíduo que recebe a mensagem expressa pela cor, sofre três diferentes
tipos de influências: a de impressão, a de expressão e de construção (FARINA,
1990). A impressão acontece quando a cor é vista, pois a retina a identifica. A
expressão se dá através da provocação de uma emoção ou sentimento. E a
construção acontece com a compreensão da ideia que está sendo comunicada pela
determinada cor.
Uma cor pode nos informar sobre inúmeros fatos, mas o nível de
compreensão dessa informação variará de acordo com o receptor, pois o mesmo
pode não conhecer o contexto do uso desta cor enquanto meio de informação, pode
não saber que o uso dela se dá como sendo um signo.
A cor influencia tudo o que encontramos, moldando a nossa percepção por acidente ou de maneira intencional. Ela pode comunicar interações complexas de associação e simbolismo ou uma simples mensagem mais
clara que as palavras (FRASER, 2012, p. 6).
As reações provocadas pelas cores não se restringem a um determinado
período de tempo. Não existem barreiras capazes de deter a mensagem que a cor
“deseja” informar. Em qualquer parte do mundo, a cor é um elemento de peso.
Existem diversos campos onde é possível citar o uso da cor enquanto
artifício, e na maioria das vezes, a cor possui uma determinada significação. O uso
das cores em logotipos é um exemplo disso. É o caso das grandes marcas, as de
renome internacional. Os logotipos estão tão presentes em nossas vidas que,
21
instantaneamente, identificamos a qual marca determinadas cores são pertencentes,
mesmo que seus nomes tenham sido deixados de fora do logotipo.
Figura 2 - Exemplo de logotipo facilmente identificável
Fonte: <https://www.visitnacogdoches.org/listing/mcdonalds/100//>. Acesso em: 13 out. 2017.
Um retângulo vermelho e dois arcos dourados são facilmente reconhecidos
como pertencentes à empresa de fast-food McDonald’s. Mundialmente famosos, os
hambúrgueres servidos pela rede de lanches, estão presente na mente das pessoas
e isso faz com que as cores características da marca remetam com facilidade à ela.
Ainda considerando as marcas famosas, podemos pensar na Coca-Cola e
no uso da cor vermelha. Desde o início da marca, o vermelho foi utilizado, mas foi
em 1948 que a marca adotou o disco vermelho com as escritas na cor branca.
22
Figura 3 - Logotipo Coca-Cola
Fonte: <http://www.cocacolabrasil.com.br/historias/conheca-os-130-anos-da-evolucao-do-logotipo-da-coca-cola>. Acesso em 23 jul. 2017.
O chamado “vermelho Coca-Cola” não está em nenhuma escala de cores,
mas é reconhecido pelas pessoas sem nenhuma dificuldade. James Sommerville,
vice-presidente de Design Global da Coca-Cola, considera o uso da cor vermelha a
“segunda fórmula secreta” da empresa2. É impressionante como o uso da cor
remonta ao ícone da marca, pois quando se vê um disco vermelho na frente de uma
loja, já se sabe que naquele local poderá encontrar uma Coca-Cola.
Esta associação da cor com a marca pode ser explicada através da
semiótica. A semiótica é uma ciência relativamente nova e seu nome possui origem
grega (“semeion”), que quer dizer signo. Esta ciência estuda todos os tipos de
linguagens existentes e busca entender os signos que estão presentes nos mais
diversos campos da vida social dos seres humanos.
Segundo Santaella (2003, p. 1) “semiótica é a ciência dos signos [...], a
ciência geral de todas as linguagens”. Ao falarmos das linguagens estudadas pela
semiótica, é importante ressaltar que não são apenas as verbais ou escritas, mas
também uma extensa lista de formas sociais de comunicação como a música, a
televisão, o cinema, os gráficos, os gestos, etc.
O pensamento semiótico foi consagrado como um aspecto de extrema
importância para a investigação das linguagens (SANTAELLA, 2003) que há muito
vinham sendo utilizadas. Charles Sanders Peirce, considerado pai dos estudos
semióticos, foi um grande incentivador das pesquisas neste campo. Suas definições
são, até os dias de hoje, de grande importância para os estudos desta área.
2 Informações retiradas do site oficial da marca. Disponível em: <https://www.cocacolaportugal.pt/historias/a-hist-ria-da-nossa-segunda-grande-f-rmula-secreta-a-cor-
vermelha>. Acesso em 14 out. 2017.
23
Os estudos de Peirce resultaram em classificações dentro do estudo da
semiótica conhecidas como primeiridade, secundidade e terceiridade. Estas três
categorias resultam nas modalidades de apreensão de todo e qualquer fenômeno e
através de sua “apreensão-tradução” é possível que identifiquemos o processo de
entendimento da simbologia do fenômeno em questão (SANTAELLA, 2003).
A primeiridade se apresenta como a primeira apreensão de consciência que
ocorre no cérebro ao ser ligado ao fenômeno. É chamado por Peirce de “qualidade
de sentimento”, pois segundo Santaella (2003, p. 10) “a qualidade de sentir é o
nosso modo mais imediato [...]”.
A secundidade ocorre ao tomarmos consciência do fenômeno, torná-lo real
torna-o parte do “segundo”. De acordo com Santaella (2003, p. 10), “certamente
onde haja um fenômeno, há uma qualidade, isto é, sua primeiridade. Mas a
qualidade é apenas uma parte do fenômeno, visto que, para existir, a qualidade tem
de estar encarnada numa matéria”.
A terceiridade é resultado da junção do primeiro com o segundo, que resulta
na elaboração e compreensão de uma simbologia, de um signo. Para Santaella
(2003, p. 11), “[é a] camada de inteligibilidade, ou pensamento em signos, através
da qual representamos e interpretamos o mundo”.
As três classificações podem ser melhor expressas através de um exemplo,
representado na figura 5: temos a família de ursos polares, personagens tradicionais
das propagandas da Coca-Cola.
A primeiridade é representada pelo sentimento de afeto que existe
representado na imagem e, além disso, as cores utilizadas, o branco e azul, ainda
dão a ideia de um ambiente frio. A secundidade acontece com a identificação de que
a família de ursos está reunida, tornando “material” o afeto da primeiridade. E a
terceiridade acontece com o entendimento de que a Coca-Cola está sendo tomada e
compartilhada entre as diferentes gerações, formando uma espécie de tradição de
família, além de fazer valer as cores da primeiridade, dando a ideia de que o produto
deve ser consumido gelado.
24
Figura 4 - Primeiridade, Secundidade e Terceiridade: Coca-Cola
Fonte: <https://www.lsa-conso.fr/coca-cola-fait-revivre-son-ours-blanc,136228>.
Acesso em 14 out. 2017.
Goethe (1993, p. 129), diz que “a experiência nos ensina que cores distintas
proporcionam estados de ânimo específicos” e por isso, podemos entender que as
cores podem sofrer variações nas suas significações dependendo de como o
indivíduo está se sentindo no momento.
[...] percebemos que a cor, em suas manifestações mais gerais e elementares [...], produz sobre o sentido que lhe é mais adequado, a visão, e, por meio deste, sobre a alma, um efeito que, isoladamente, é específico
[...] (GOETHE, 1993, p. 128).
A variação no significado da cor também pode ser observada nas diferentes
culturas ao redor do mundo. As emoções a serem provocadas podem ser
influenciados pelo meio cultural no qual esta pessoa está inserida, visto que, o que
possui um enorme significado para um ocidental, não significa nada para um
oriental.
Exemplo muito interessante disto, é a cor que representa o luto. Na Índia, o
branco é esta cor, uma mulher ao ficar viúva só pode usar roupas brancas, já no
ocidente o preto é a cor relacionada a este sentimento. Diferentemente da Índia,
mesmo sendo viúva, uma mulher pode usar todos os tipos e cores de roupas.
Segundo Fraser (2012, p.13), “vincular um conceito a uma cor ajuda-a a
carregar todas as significações que queremos que ela contenha - “sangue-azul”,
25
“ameaça-vermelha”, “revolução-verde”.”, através de simples expressões podemos
perceber a real importância e a grande presença das cores em nosso meio. Por isso,
é possível argumentar que quanto mais vermos uma determinada cor que está
relacionada a determinado objeto ou personagem, mais facilmente nos lembraremos
dele, como é o caso do exemplo apresentado na figura 5:
Figura 5 - Identificando um desenho animado pelas cores
Fonte: <http://lounge.obviousmag.org/advibe/2014/03/as-melhores-aberturas-de-os-
simpsons.html>. Acesso em 23 jul. 2017.
Os Simpsons são uma série de comédia americana, que está desde 1989 no
ar e divertiu muitas gerações de crianças, adolescentes e adultos. O seriado retrata
de forma satírica a vida de uma família de classe média em uma cidade fictícia onde
tudo pode acontecer. O grande diferencial da série, fica por conta do humor negro
trabalhado de forma irônica em relação à cultura e a sociedade americana, a
televisão e diversos aspectos da condição humana.
A série chama atenção pela caracterização de seus personagens, pois todos
são amarelos e isto acontece porque o criador, Matt Groening, queria que sua mais
nova criação se destacasse perante os demais desenhos que já estavam em
exibição, queria que “Os Simpsons” tivessem algo que os tornassem únicos.
Segundo o próprio Groening, a cor foi escolhida por ser diferente de todas as
outras cores de desenhos animados que já existiam: “quando você está passando
26
pelos canais com o controle remoto, e um 'flash' amarelo aparece, você sabe que
está assistindo aos Simpsons”, disse Groening em entrevista à BBC3.
De acordo com Heller (2004), o amarelo é uma cor chamativa, brilhante,
criativa e alegre, por isso, além de visíveis, como pretendia Groening, o amarelo dos
Simpsons os torna mais visíveis, mais divertidos e mais radiantes, o que os faz
serem facilmente reconhecíveis e lembrados.
Personagens de desenhos animados são somente um dos diversos
possíveis exemplos que seriam facilmente encontrados para demonstrar a
lembrança que a cor é capaz de provocar em um espectador.
Ainda segundo Fraser (2012, p. 6) “ao longo de toda a história, nossas
posturas diante da cor - pessoais ou profissionais - foram moldadas por gostos e
normas vigentes” e por isso, podemos inferir que as cores funcionam como um
gatilho que ativa memórias e faz com o indivíduo relembre algo que já tenha visto e
que seja relacionada a mesma.
A natureza, nas suas mais diversas formas, faz uso das cores como
elemento. O exemplo mais comum, é a camuflagem. Animais, como os camaleões,
fazem uso desta técnica para proteger-se de predadores. Mas no reino animal,
também podemos encontrar aqueles que fazem uso de suas plumagens ou
penugens com o intuito de chamar atenção.
As fêmeas, no período de acasalamento, buscam por seus parceiros e
sempre dão preferência aos machos que possuem penugens mais coloridas.
Segundo Darwin, em seus Estudos de Seleção Natural, que aconteceram durante o
período de1832 até 18444, isso se dá pois quanto mais colorido mais forte seria sua
linhagem genética. Podemos assim perceber que mesmo os animais, percebem
certa significação nas cores.
Placas de trânsito dizem o que fazer sem o uso de palavras e todas as
pessoas as obedecem, pois são signos que indicam a necessidade ou proibição de
determinada ação no trânsito. As placas vermelhas indicam proibição, as amarelas,
atenção e as azuis, são informativas.
3 Informações retiradas de artigo do Jornal Estadão. Disponível em:
<http://emais.estadao.com.br/noticias/tv,ha-uma-explicacao-cientifica-para-os-simpsons-serem-amarelos,70001754358>. Acesso em: 14 out. 2017. 4 Informações disponíveis em: <https://www.khanacademy.org/science/biology/her/evolution-and-
natural-selection/a/darwin-evolution-natural-selection>. Acesso em 21 out. 2017.
27
É possível exemplificar ainda que, ninguém interpreta um carro vermelho
como sendo sinônimo de parada, muito pelo contrário, a lataria vermelha é vista
como indicativo de velocidade. Ainda tratando de trânsito, os táxis são, em muitos
lugares do mundo, amarelos por um motivo muito específico: a cor é facilmente
reconhecível e pode ser avistada de longe em meio ao fluxo de veículos, tornando o
reconhecimento perante os demais automóveis nas metrópoles cinzentas com maior
facilidade.
A cromoterapia, segundo Gaspar (2002), é utilizada com o intuito de curar
doenças e se vale do estudo psicológico das cores e como elas influenciam as
pessoas nas mais diversas áreas da vida. Cada cor possui diferentes significados,
como por exemplo, o vermelho, instiga, o verde representa a vivacidade e o amarelo
é uma cor alegre e cheia de particulares. Esta técnica é utilizada desde as primeiras
civilizações, novamente reforçando o conceito de que as cores fazem parte da vida
das pessoas desde o início.
Segundo Fraser (2012, p. 20), “todas as teorias da cor são, em algum
sentido, teorias da linguagem, e o modo como “falamos”, “ouvimos” ou “lemos” as
cores nos revela muito sobre a maneira pela qual entendemos o mundo”. Analisando
as palavras do autor, podemos perceber novamente como a cultura na qual estamos
inseridos influencia nossa percepção de mundo e influencia também como vemos os
significados que estão inseridos em nosso cotidiano, como é o caso das cores.
As significações são subjetivas e variam de acordo com o meio social e
cultural em que o indivíduo está inserido. Para Le Breton (2009, p. 9), “as
percepções sensoriais, ou a experiência, e a expressão das emoções parecem
emanar da intimidade mais secreta do sujeito [...]”, ao analisarmos as palavras do
autor, podemos inferir que cada ser humano possui sua própria impressão perante
determinada significação, o que acaba por gerar diferentes emoções.
De acordo com Le Breton (2009, p. 11), “as emoções nascem de uma
avaliação mais ou menos lúcida de um acontecimento presenciado por um ator
provido de sensibilidade própria”, ou seja, cada emoção apresentada por uma
pessoa provém de uma situação pela qual ela passou e é um artefato que acontece
sem a percepção ou aprovação do indivíduo que está “sofrendo” a emoção.
28
As emoções acontecem independente da vontade ou concordância de quem
as sofre e as mesmas podem ser geradas através da observação das cores em
objetos, por exemplo.
Mas o que são as emoções? Segundo Martins (2004, p. 23) “são reações
globais, inatas e passageiras que tem uma função específica na vida de cada ser”.
Desde muito cedo passamos a manifestar emoções e as manifestaremos durante
todo o período de vida. No século XIX, as emoções eram consideradas distúrbios
que afetam as pessoas, mas com o passar dos anos e os estudos de diversos
teóricos compreendeu-se que, na realidade, elas são manifestações da mente e
podem ser boas ou ruins.
Na figura 6, desenvolvida por Martins (2004) é possível acompanhar o
desenvolvimento das emoções segundo a idade e, também, identificar que as
mesmas são divididas em três diferentes grupos. As proto-emoções estão
relacionadas com o bebê, pois são relativas às funções primárias. Quando a criança
ainda é dependente, tais como segurança e proteção. As emoções básicas são
reações globais que não estão ligadas a partes específicas do corpo e são subjetiva
e qualitativamente diferentes de todas as outras emoções, ou seja, não podem ser
subdivididas em outras emoções. As emoções combinadas são resultados da
ativação simultânea de vários mecanismos e funções que geram variações e novas
emoções.
29
Figura 6 - Surgimento das emoções conforme a idade
Fonte: A Lógica das Emoções na Ciência e na Vida (2004, p. 30).
As emoções podem ser desencadeadas de diversas formas, e uma delas é
através da significação das cores. As significações são atribuídas através de
instituições antigas e podem ser explicadas através da teoria semiótica.
As cores são parte importante da vida dos seres humanos e as mesmas
possuem fundamentalmente significações atribuídas por diversas gerações e
culturas que, ao longo do tempo, foram percebendo sutilezas e características em
cada uma delas e, assim, concedendo significados e sentidos distintos as mesmas.
A semiótica busca estudar estes significados e desvendar os significados que foram
“escondidos” durante anos.
Nas profissões que trabalham diretamente com cores, como designers,
arquitetos e decoradores, a significação das cores também é muito importante. As
cores afetam as emoções das pessoas, então é necessário que se leve isso em
conta ao pintarmos ambientes, por exemplo, para que elas não afetem o estado de
espírito de quem os vê. Os profissionais que trabalham diretamente com as cores,
30
precisam estar atentos às significações que cada cor denota, para que esteja hábil a
utilizá-las da melhor forma.
31
32
3 COR E CINEMA
Foi em 28 de dezembro de 1895 que aconteceu o que, geralmente, é
considerada como a primeira exibição cinematográfica da história. Ocorrida em Paris
e orquestrada pelos Irmãos Lumière, nesta data fora exibido um único filme, de
cinquenta segundos de duração, chamado de “L'Arrivée d'un train en gare de La
Ciotat” ou “A Chegada de um Trem à Estação”. Nascera ali o cinema.
Figura 7 - Pôster de “Chegada de um Trem à Estação”
Fonte: <http://www.imdb.com/title/tt0000012/mediaviewer/rm3743353088>. Acesso
em 06 ago. 2017.
O invento dos Lumière fora batizado de “cinematógrafo” e fora inspirado em
nas engrenagens de uma máquina de costura. Seu funcionamento era manual,
através de uma manivela.
Diz a lenda que durante a exibição do filme sobre a chegada do trem, as
pessoas que estavam presentes, ao verem a locomotiva se aproximando cada vez
mais, começaram a correr e fugir do teatro, pois estavam com medo de serem
atropeladas pelo mesmo. Aos olhos daquelas pessoas, a cena que estava sendo
exibida era tão incomum e tão surreal para estar apenas em uma tela, que elas
estavam realmente imaginando que o trem as atropelaria.
33
Porém, antes da exibição histórica dos Lumière, houveram muitos outros
pesquisadores, artistas, matemáticos e físicos que tentaram e, definitivamente,
contribuíram imensamente para o desenvolvimento do cinematógrafo Lumière e para
o nascimento do que viria a ser considerada a “Sétima Arte”.
A partir da descoberta da “persistência retínica” - característica presente em
nosso órgão visual que torna possível a percepção do movimento quando uma
sequência de imagens é apresentada em alta velocidade (ROSENFELD, 2002),
muitos foram os que começaram a produzir equipamentos que fossem capazes de
mostrar essa reprodução dos movimentos.
Taumatrópio, fanaquitoscópio, zootrópio, praxinoscópio, foram muitos os
inventos e todos, de uma forma ou de outra, conseguiram atingir seus propósitos:
reproduzir o movimento. Fosse através de uma rotação em eixo vertical ou através
de uma jogo de espelhos, os aparelhos surgiram em diversas partes do mundo ao
longo do final do século XIX.
Sendo assim, a reprodução dos movimentos há muito vinha sendo buscada.
Segundo Rosenfeld (2002, p. 52) “reproduzir o movimento pela imagem é uma das
aspirações mais antigas da humanidade” e as pinturas rupestres registradas nas
paredes das cavernas são um exemplo muito comum, pois as atividades diárias, tais
como a caça, eram transcritas em forma de desenhos, formando uma espécie de
diário e reproduzindo a movimentação dos primeiros hominídeos.
Segundo Rosenfeld (2002, p. 62 - 63), “entre os anônimos, que desenharam
os afrescos na caverna de Altamira reproduzindo movimentos de animais e o Irmãos
Lumière, que projetavam uma vida saltitante e héctica numa tela de Paris,
decorreram cerca de 20 mil anos”. A réplica dos movimentos finalmente fora
alcançada, o sonho de tantos homens que se dedicaram a este propósito finalmente
fora alcançado e, ainda com certas limitações, o fluxo da vida poderia ser registrado
com toda a movimentação que lhe cabe.
3.1 COR E CINEMA: RELAÇÃO HISTÓRICA
Com a invenção do cinematógrafo, a indústria cinematográfica nascia para
trazer ao mundo uma inovação gigantesca e que, com o passar dos anos, acabaria
por se tornar um dos maiores veículos de comunicação existentes.
34
Ao pensarmos no nascimento do cinema, geralmente inferimos que naquela
época os filmes que eram exibidos eram preto e branco, visto que ainda não havia
sido possível descobrir como funcionava a captura das cores, porém a grande
maioria dos filmes produzidos até a década de 20, eram coloridos5.
Já que a captura das cores naturais não era possível, a saída encontrada foi
colorir à mão, quadro a quadro, as películas. A “técnica” consistia basicamente em
aplicar no negativo a cor desejada. O processo era muito lento e dispendioso, além
de ser considerado bastante artesanal.
Figura 8 - Películas pintadas à mão: filme Cinderella, 1899
Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com/>.
Acesso em 06 ago. 2017.
Geralmente, atribuísse a empresa Technicolor a inserção das cores no
cinema através de um processo que não fosse artesanal. Mas no ano de 2012, 110
anos depois, as imagens do primeiro filme colorido passaram a ser conhecidas.
Datado de 1902, as imagens encontradas, faziam parte de um experimento do
inventor inglês Edward Raymond Turner. Os experimentos de Turner foram
patenteados em 1899 e seus primeiros testes começaram a ser realizados em 1902,
mas foram interrompidos devido a morte precoce do inventor6.
As filmagens feitas por Turner foram encontradas na Inglaterra e retratam a
os filhos dele brincando no jardim, alguns soldados marchando, aves domésticas e
outras cenas.
As cenas simples retratados nas filmagens de Turner são relativas ao
cotidiano vivenciado pelo mesmo e se tratam de experimentações realizadas com
5 Informações do site Cinéfilos. Disponíveis em: http://cinefilos.jornalismojunior.com.br/uma-viagem-
preto-e-branco-para-o-colorido/. Acesso em: 22 nov. 2017. 6 Informações obtidas no site G1. Disponíveis em: <http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/09/primeiro-filme-colorido-e-descoberto-110-anos-apos-sua-invencao.html>. Acesso
em 22 nov. 2017.
35
cor e iluminação, reafirmando o desejo dos pioneiros do cinema em inserir cores em
suas produções.
Figura 9 – Primeiro filme colorido
Fonte: < http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/09/primeiro-filme-colorido-e-
descoberto-110-anos-apos-sua-invencao.html>. Acesso em 22 nov. 2017.
Então foi com o surgimento da Technicolor7, em 1915, que tudo mudou. A
empresa lançou uma película que fazia uso das três cores primárias para captar as
cores naturais e conceder maior realismo aos filmes. Na época, muitas dúvidas em
relação aos uso das cores por parte dos produtores surgiram e uma delas, e talvez a
principal, era que a cor roubasse a cena, que ela tirasse a atenção da atuação dos
atores ou mesmo do enredo da história (EBERT, 2010).
Segundo texto de Carlos Ebert (2010)8, publicado pela Associação Brasileira
de Cinematografia, um artigo datado de 1935 e publicado pela revista da Society of
7 Surgida em 1915, a Technicolor se destacou da concorrência ao desenvolver um processo, primeiro
de duas cores e depois de três, adequado para os estúdios gravarem filmes coloridos. A empresa participou da criação das cores sutis no cinema e, para que os produtos oferecidos fossem melhores aproveitados, fornecia um consultor de cores e um cinegrafista aos clientes. Informações do jornal O
Globo. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/os-100-anos-do-technicolor-saturacao-sutileza-nas-telas-de-cinema-16650173>. Acesso em 22 nov. 2017. 8 Disponível em <http://www.abcine.org.br/artigos/?id=114&/cor-e-cinematografia>. Acesso em 14
ago. 2017.
36
Motion Picture & Television Engineers, ao tratar das cores traz à tona o papel
fundamental de Nathalie Kalmus - esposa de Herbert Kalmus, inventor do processo
Technicolor de três películas. Nathalie foi responsável por atuar como consultora de
cor e definir “regras básicas” de uso da cor na estética hollywoodiana. Ela prestou
consultoria para mais de trezentos filmes e ajudou a determinar a linha de aparência
do cinema de Hollywood pelos próximos trinta anos.
Neste mesmo artigo, pode-se ainda observar que Nathalie Kalmus, de certa
forma, fazia uso da semiótica das cores em suas consultorias, pois ela as classificou
segundo seu poder de evocar sentimentos e estabelecer clima nas pessoas e nas
cenas.
Segundo a classificação feita por Nathalie, as cores quentes, tais como
vermelhos, alaranjados e amarelos, despertavam sensações de excitação, atividade
e calor, enquanto, as cores frias, verdes, azuis e roxos, evocavam repouso,
tranquilidade e frieza.
Segundo May (1967, p. 115) “a cor talvez seja a aventura mais apaixonante
do cinema, desde a descoberta dos Lumière [...]”, pois é através dela que o cinema
passou a comunicar-se com seu espectador de uma forma não-verbal. Através das
cores o espectador do filme recebe informações diversas do estado de ânimo e da
situação física, por exemplo, da personagem que está sendo retratada na tela.
Segundo Guimarães (2003, p. 21) “a cor é, certamente, um dos mediadores
sígnicos de recepção mais instantânea na comunicação [...]”, pois com a ajuda das
cores é possível que os mais diversos tipos de informações sejam passados. E na
distribuição destas informações existem muitos conceitos técnicos e pessoas
envolvidas.
3.2 A COR E O CINEMA: LINGUAGENS
A linguagem cinematográfica busca compreender como o cinema enquanto
meio de comunicação se expressa e troca informações e valores com seu público.
Para entender essa comunicação, faz-se uso de estudos, tais como a teoria do
cinema. Segundo Andrew (2002, p.15) “o objetivo da teoria do cinema é formular
uma noção esquemática da capacidade dessa arte” através de perguntas e
respostas formuladas pelos teóricos dessa indústria.
37
Cada uma das perguntas formuladas pelos teóricos procura conceituar e
entender como a indústria cinematográfica funciona e como ela se apresenta aos
espectadores. As questões formuladas podem ser divididas em quatro categorias:
matéria-prima, métodos e técnicas, formas e modelos e objetivo ou valor.
(ANDREW, 2002, p.16). As categorias em questão apresentam, cada qual,
diferentes enfoques e, juntas, todas explicam os aspectos que compõem o cinema.
A “matéria-prima” busca analisar e entender quais são os meios utilizados
para que o cinema se torne mais real. Nesta categoria, pode-se incluir a cor, pois
através dela tornamos o fazer cinematográfico mais próximo da realidade, tanto por
trazê-lo ao mesmo patamar da visão humana, quanto por, através dela,
concedermos significados e detalhamentos as cenas.
Os “métodos e técnicas” abrangem o processo criativo enquanto montagem
e concessão de forma à matéria-prima. Trata sobre como a cena será vista pelo
espectador, como o desenvolvimento da mesma se dará e como nela serão
incluídos, ou não, determinados objetos. Novamente a cor se faz presente, pois ao
pensar na composição cinematográfica, pensaremos na estética que a mesma terá
e, assim, nos objetos e cores a serem inseridos, concedendo significação aos
mesmos que, posteriormente, serão apreciados e entendidos pelos espectadores.
As “formas e modelos” tratam de como os filmes foram ou poderiam ser
desenvolvidos, trata-se da análise da construção e, novamente, pode-se pensar na
cor, pois aqui analisa-se como o público irá interpretar a construção proposta e se
será capaz de compreender a significação imposta nas cenas.
Já a categoria de “objetivo e valor” refere-se justamente ao objetivo que o
cinema apresenta na vida do homem. Como este meio de comunicação afeta os
mais amplos campos da existência das pessoas que o consomem.
A divisão apresentada baseia-se em Aristóteles e existem diversas outras
versões, mas pode-se inferir que, basicamente, estas seriam as perguntas mais
frequentemente respondidas pelos teóricos.
Existem alguns dos estudiosos que também pensavam nas perguntas do
ponto de vista dos espectadores. Como é que as pessoas que estavam assistindo
aos filmes estavam reagindo à eles? É o caso de inverter as perguntas, vê-las ainda
como questões que precisam ser respondidas a fim de entender a prática
cinematográfica, mas passar a ver também da forma que o espectador enxerga.
38
Segundo Andrew (2002, p. 21) “o cinema, argumentavam [os teóricos], era
igual às outras artes porque transformava o caos e a ausência de significado do
mundo numa estrutura e num ritmo autossustentado”, por este motivo é que é
necessário encarar essa concessão de significados de duas formas: a proposta pelo
diretor do filme e a entendida pelo espectador, pois cada pessoa pode compreender
a linguagem e as técnicas utilizadas de diferentes formas.
O cinema desenvolveu um estilo próprio de linguagem, uma evolução de
uma linguagem comum, que passou a caracterizar um novo tipo de comunicação
que transmite conteúdos e informações e narrar uma nova linguagem que se tornou
completamente independente das demais linguagens exercidas (ESPINAL, 1980).
O cinema não é só transporte de imagens, mas é uma superação da linguagem verbal. É uma linguagem nova, uma nova cultura e uma nova
mentalidade está no fundo deste fenômeno. Esta linguagem [...] nos dá as coisas com uma totalidade e ambientação afetiva convincente. A linguagem do cinema nos chega ao subconsciente de uma maneira inteiramente nova
e mais eficaz do que costuma fazer a linguagem da palavra (ESPINAL, 1980, p. 88).
A linguagem cinematográfica se faz presente para comunicar ao espectador
o que é proposto pelo roteiro do filme e sua intenção primordial é a representação
deste fator, sua consequência é que a pessoa que está sendo atingida pela mesma
compreenda o que o filme pretende mostrar. Segundo Espinal (1980, p. 89) para a
linguagem do cinema o “[...] seu objeto não é a realidade, mas a representação”.
Ao analisarmos a realidade fílmica estaremos analisando o universo
proposto pelo roteiro em conjunto com o diretor geral. O universo em questão será
completamente real para as personagens envolvidas na trama do filme, já para o
espectador será somente uma representação. De acordo com Espinal (1980, p. 89)
“[...] a linguagem do cinema não se preocupa tanto com a realidade, mas com uma
representação que pode ser completamente alheia a toda realidade existente.”
Raramente a realidade apresentada em uma filme será totalmente efetiva na
existência das pessoas, a não ser que o mesmo seja uma cinebiografia.
As cores são consideradas elementos narrativos, visto que as mesmas
comunicam ao espectador informações sobre a realidade fílmica. A linguagem
cinematográfica se aplica as cores, pois elas estão em sintonia com o universo da
produção em questão.
39
A verdadeira invenção da cor cinematográfica data do dia em que os
realizadores compreenderam que ela não necessitava de ser realista (isto é, conforme com a realidade) e que devia ser utilizada, principalmente, em função do valores (como o preto e branco) e das implicações psicológicas
das diversas tonalidades (cores quentes e cores frias) (MARTIN, 2005, p. 86).
De acordo com a fala de Martin (2005) desde os primórdios do uso da cor no
cinema os realizadores perceberam qual era o “modelo” de emprego da cor nos
filmes, pois entenderam que as mesmas, apesar de serem parte da vida cotidiana
das pessoas, quando postas na tela podem exercer uma função muito especial e
serem usadas como elemento construtor da linguagem cinematográfica. Exemplo
disso é o atual emprego de cores nos filmes contemporâneos, eles são usados
como linguagem para indicar os mais diversos tipos de comunicação dentro da
realidade fílmica (figura 10).
Exemplo disso, é o filme “La La Land: Cantando Estações” (2016), o longa-
metragem premiado com o Oscar de melhor fotografia e melhor direção de arte, traz
o empregos das cores como um “localizador” temporal. O filme se passa durante as
quatro estações do ano e, em cada uma delas, acontece algo marcante na vida dos
personagens principais.
Cada uma das estações está marcada pela ambientação através de cores
marcantes das mesmas. O inverno é em tons de azul escuro e a primavera é em
cores vibrantes, mostrando ao espectador que as emoções dos personagens nas
duas estações são opostas. O verão e o outono são marcados por cores mais sutis,
mas tão importantes e notáveis quanto nas outras duas.
40
Figura 10 - Cores que comunicam: La La Land e as estações
Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com>.
Acesso em: 26 ago. 2017.
3.3 A ABORDAGEM DA COR ENQUANTO MATERIAL DE CENA
Ao pensarmos na construção de uma cena cinematográfica, geralmente, são
muito diversos os itens que percorrem nossa mente. Para que uma cena seja feita, é
necessário o envolvimento de diversos profissionais, visto que precisa-se de atores,
figurantes, operadores de câmera e muitos mais.
O desenvolvimento de uma cena é um trabalho conjunto, em equipe. São
diversos profissionais que se envolvem e contribuem para que uma obra
cinematográfica seja possível.
O diretor geral é o responsável pela organização de todo o filme, é ele quem
comanda e gerencia os acontecimentos do set de filmagem. Ele deve conhecer o
roteiro como "a palma de sua mão", saber quais são as especificidades do mesmo e
conhecer todas as técnicas necessárias para o desenvolvimento do roteiro em
questão. É incumbência dele também, ser o canal de confluência dos resultados
esperados, pois ele está à frente dos demais profissionais envolvidos nas filmagens.
A direção de arte é o "setor" que organiza e gerencia todos os profissionais
que trabalham nos bastidores dos filmes, pois é ela a responsável por toda a
comunicação visual expressa pelo filme.
41
O termo “direção de arte” é geralmente usado para descrever o processo de
organização e direção dos elementos visuais de qualquer tipo de elemento para meios de comunicação, seja ele um filme, um programa de televisão, uma instalação digital, um comercial ou um anúncio impresso. Nesse
sentido, a direção de arte é uma atividade que possui uma ampla aplicação no leque de atividades relacionadas com a comunicação visual (MAHON, 2010, p. 11).
O diretor de arte, então, é o encarregado de gerenciar o projeto visual da
produção fílmica, é através do trabalho dele que tudo toma forma. Juntamente com o
diretor de arte, trabalham ainda muitos profissionais que o ajudam a desenvolver o
aspecto visual desejado para a produção, visto que são muitos os detalhes
envolvidos no processo. É neste campo e com a ajuda de diversas pessoas que se
constrói a realidade e o contexto do filme que devem ser apresentados ao público.
O diretor de arte, segundo Rodrigues (2007, p. 80), é o profissional que
“trabalha diretamente com o desenhista de produção executando suas instruções,
tais como desenho e ambientação de cenários e supervisão de sua execução junto
ao cenógrafo”, porém podemos acrescentar a esta definição uma das mais
importantes partes do trabalho do diretor de arte, juntamente com sua equipe e o
diretor do filme: a criação da paleta de cores.
A paleta de cores é desenvolvida em parceria com o diretor do filme e com o
diretor de fotografia e é, basicamente, um conjunto de cores escolhidas para
ambientar o projeto. As cores inseridas na paleta servem para ambientar o filme, dão
tom, personalidade, humor aos personagens e através dela são construídos diversos
campos utilizados na cenografia, na maquiagem, no figurino.
A direção de fotografia, segundo artigo da Academia Internacional de
Cinema9:
É a área que controla o processo de construção e registro das imagens de
um filme, levando para a tela toda a atmosfera e a linguagem imaginadas na pré-produção, por meio de ferramentas técnicas como iluminação, filtros, lentes, movimentos de câmera, enquadramento, cor, exposição (KREUTZ,
2017, n.p.).
O diretor de arte dá início ao seu trabalho através do estudo do roteiro, para
que comece o processo de desenvolvimento das ideias com base na descrição das
cenas. É com a leitura do script que começam a ser pensadas as cores que devem
9 Disponível em <http://www.aicinema.com.br/quero-ser-diretor-de-fotografia/>. Acesso em 15 ago.
2017.
42
ser usadas para ambientar o set de filmagem e quais objetos podem ser utilizados
para essa ambientação, por exemplo.
Juntamente com o diretor de arte e o diretor geral, o diretor de fotografia
constrói o cenário e faz uso das técnicas de iluminação, filtros, lentes e
posicionamento de câmera, além do uso das cores para transmitir ao público a
significação buscada. Para exemplificar o uso dos enquadramentos e movimentos
de câmera em harmonia com a utilização da paleta de cores, podemos citar o filme
“A Liberdade é Azul” (1993), representado na figura 11.
Esta produção cinematográfica adotou o azul como a cor principal de sua
paleta e através dela transmite ao público o sentimento de luto vivido pela
personagem principal que perde a filha e o marido em acidente de carro. Os objetos
presentes nas cenas do filme representadas a seguir, o móbile e o papel do pirulito,
são de extrema importância na construção do enredo do filme e estão presentes,
pois são parte do trabalho da direção de arte.
Figura 11 - Explorando a paleta de cores
Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com>.
Acesso em: 15 ago. 2017.
Fazem parte do trabalho de composição pré-filme mais alguns profissionais,
tais como o figurinista e o maquiador, ambos pertencentes à equipe de direção de
arte. Os dois são de extrema importância para a estrutura do filme. Tanto o
figurinista quanto o maquiador trabalham em conjunto com o diretor de arte e de
fotografia e seguem também a paleta de cores.
43
O trabalho do figurinista consiste em elaborar os trajes de cena dos atores,
que complementam e colaboram com a construção da personagem. O figurino é
desenvolvido em conjunto com os diretores de arte, fotografia e geral, a fim de que
permaneçam em concordância com o que está sendo proposto no filme e para que
também possam carregar o simbolismo das personagens, inclusive através das
cores escolhidas.
O simbolismo é a raiz da criação dos figurinos, que se tornam metáforas da personalidade de seus personagens, sendo que as roupas refletem suas ações e condições, mesmo aquelas que atuam como pano de fundo e que
estabelecem um mundo povoado pelos personagens principais (IGLECIO; ITALINO, 2012, p. 2)10
O figurinista possui a tarefa de construir o respaldo do personagem, pois
através das vestes dos mesmo são reafirmadas as características e trejeitos
adotados pelos atores para desenvolver aquele papel e dar vida àquela nova
pessoa. O trabalho deste profissional é de extrema importância e representa um
forte componente na construção da trama cinematográfica.
A maquiagem também é um elemento muito importante na trama
cinematográfica, visto que ela ajuda a compor o personagem, da mesma forma que
o figurino.
A maquiagem como um dos elementos dos procedimentos criativos na
construção da cena tem conquistado cada vez mais um “lugar” de valor na construção visual da cena, por estar fazendo parte da construção da cena e não apenas como um filtro atenuante entre a iluminação e as expressões
dos atores. Na cena atual a maquiagem é um elemento que atua mais próximo das ações e expressões dos atores e está se relacionando com mais propriedade do conjunto de signos que atuam na cena contemporânea
(SAMPAIO, 2012, p. 5)11.
A maquiagem pode, ainda, ser dividida em duas categorias, a maquiagem
comum, que é a utilizada no dia a dia e a chamada maquiagem criativa.
10 Artigo do 8º Colóquio de Moda da USP - “O Figurinista e o Processo de Criação de Figurino”. Disponível em: <http://coloquiomoda.hospedagemdesites.ws/anais/anais/8-Coloquio-de-
Moda_2012/GT09/COMUNICACAO-ORAL/103760_O_figurinista_e_o_processo_de_criacao_de_figurino.pdf>. Acesso em 15 ago. 2017. 11 Artigo do VII Congresso da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas,
ABRACE - “A Maquiagem nas Formas Espetaculares”. Disponível em: <http://www.portalabrace.org/viicongresso/completos/historia/Jose%20Roberto%20Santos%20SAMPAIO%20Laplane%20-%20A%20maquiagem%20nas%20formas%20espetaculares.pdf>. Acesso em
18 ago. 2017.
44
A maquiagem comum pode ser desde uma simples base ou pó translúcido,
utilizado para esconder o brilho do rosto, até as utilizadas em situações mais
específicas, como é o caso das cenas de festas ou mesmo de época, onde certos
traços específicos são utilizados para caracterizar o que está sendo retratado, como
é o exemplo das décadas de 1940/1950 e o estilo pin up (delineado marcado, batom
vermelho e cílios postiços (SALLES, 2008).
Já a maquiagem criativa é aquela que envolve uma produção maior para ser
realizada e, geralmente está presente nos filmes de terror ou ação, nestes casos são
utilizados produtos especiais (SALLES, 2008). Nestes gêneros de filme, na maioria
das vezes, vemos atores com grandes cortes, queimaduras, sangue escorrendo e
fatos deste gênero. O “maquiador criativo” é o responsável pela criação destas obras
de arte assustadoras e extremamente realistas.
O maquiador exerce o uso das cores no seu trabalho o tempo todo. A
maquiagem utilizada nos atores, como já mencionado, compõe o personagem e,
como em todas as partes do filme, também obedece uma pré-seleção de cores e
efeitos, baseados na paleta de cores do filme. A figura 12 é um exemplo de
construção de personagem através da maquiagem. Nela, o ator passa pela
transformação e, através dela, entra no corpo do personagem que interpretará.
45
Figura 12 - Antes, durante e depois de Angelina Jolie como “Malévola”
Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com>.
Acesso em: 18 ago. 2017.
Ainda como parte do setor da direção de arte, existe o ramo da cenografia,
tão ou mais importante quanto as demais áreas deste âmbito. A cenografia é a parte
responsável pela montagem do ambiente em que serão gravadas as cenas.
[A cenografia] abrange atualmente todo o processo de criação e construção
do evento estético-espacial e da imagem cênica. O cenógrafo utiliza-se de elementos como cores, luzes, formas, linhas e volumes, para solucionar as necessidades apresentadas pelo espetáculo e suas matizes poéticas em
diversos meios e fins (URSSI, 2006, p. 14)
O trabalho do cenógrafo além de compor o cenário, também consiste em
organizar os objetos, principais e secundários, da melhor forma possível, a fim de
que se obtenha um resultado harmonioso (BETTON, 1987), para que, por exemplo,
seja viável utilizá-lo de maneira prática ou que seja possível que ele traduza sua
função semiótica. São muito comuns os casos em que o cenário torna-se,
praticamente, um personagem da trama cinematográfica.
A cena representada na figura 13 é do filme O Fabuloso Destino de Amélie
Poulain (2001), e mostra o trabalho desenvolvido pela cenografia do filme ao
46
escolher cores vibrantes para a decoração. As cores ali colocadas representam a
personalidade da personagem, refletem seu estado de espírito.
Figura 13: O quarto de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)
Fonte: < http://www.mydomainehome.com.au/amelie-apartment>. Acesso em 22 nov. 2017.
Segundo Betton (1987, p. 51-52) “o elemento principal [provavelmente a
personagem em destaque na cena] e seu ambiente são interdependentes e
interagem, formando juntos um sistema macroscópico [...]”, ou seja, o ator enquanto
elemento do filme, interage com o cenário e junto com ele forma um conjunto que se
faz importante na cena.
Os elementos que são colocados nos cenários, são estudados e analisados
e inseridos por algum motivo. Em geral, o roteiro indica quais são os elementos
necessários para a construção do cenário, mas também leva-se em conta a paleta
de cores e os signos estabelecidos pelo autor.
A criação e a construção do material cênico exige a compreensão das questões conceituais e práticas específicas da encenação. Uma análise dos
espetáculos de acordo com estes princípios proporciona informações primordiais sobre sua concepção, projeto e construção, ampliando a compreensão de suas consequências como um evento estético e espacial
da estimulação social na produção cultural contemporânea. (URSSI, 2006, p. 77)
A direção de arte é uma área muito vasta e muito importante para o
desenvolvimento de um projeto cinematográfico, visto que ela abrange desde a
47
produção do set de filmagem até a produção do ator, através das roupas e
maquiagem utilizadas pelo mesmo. Ela faz uso de técnicas e ferramentas, por isso,
o cinema deve a ela muito de sua grandiosidade.
Ainda como parte da composição do filme cinematográfico, existe a pós-
produção. Já com a filmagem toda pronta, a pós-produção entra em cena para
finalizar o filme. Esta esfera do cinema pode ser dividida em diversas partes, como
colorimetria, sonoplastia e edição.
A colorimetria é o processo de ajuste e melhora das cores no filme. É o
trabalho exercido pelo colorista. A correção da cor agrega valor ao filme, pois é
através deste trabalho que as cores são enriquecidas e podem tornar-se mais reais,
a fim de melhor ajustarem-se a linguagem e ideia do autor e transmitir a determinada
significação proposta através delas.
Os coloristas trabalham em estreita colaboração com diretores e
cinematógrafos para concretizar sua visão. Seja criando um visual estilizado, corrigindo imagens que são expostas de forma incorreta, melhorando os tons de pele, destacando um produto ou remasterizando um filme antigo, os coloristas usam sua sensibilidade artística, juntamente com
seus conhecimentos técnicos, para que cada quadro seja o melhor (DÍAZ, 2016, n.p.).
A definição do trabalho proposta anteriormente foi escrita por uma das mais
conhecidas coloristas dos últimos tempos, Caitlin Díaz. Caitlin vem trabalhando
como freelancer nos últimos anos e possui em seu currículo filmes independentes,
clipes de artistas famosos, como Nick Jonas e Beyonce, web series e vários outros
trabalhos.
Em seu blog12 Díaz (2016), além de explicar o trabalho desenvolvido por ela
e pelos colegas de profissão, ainda traz um vídeo com exemplos de correção de
cores desenvolvidas por ela com o antes e depois do tratamento.
12 Blog da colorista Caitlin Días. <http://caitlindiaz.com/Color-Reel>. Acesso em 23 ago. 2017.
48
Figura 14 - Correção de cor para o filme Dave (2016)
Fonte: Caitlin Díaz blog. Disponível em: <http://caitlindiaz.com/Color-Reel>. Acesso
em 23 ago. 2017.
O trabalho do colorista é desenvolvido através de softwares de computador
e é um trabalho que acaba por ser desenvolvido através do ponto de vista do próprio
colorista, que durante a carreira e com o contato com a profissão desenvolve cada
vez mais as habilidades, tornando-se cada vez melhor no que faz.
A tarefa do colorista é melhorar a qualidade da filmagem, tornar as cores
mais atrativas e interessantes e dar à obra cinematográfica um visual mais instigante
e que faça com que o espectador tenha acesso a algo mais bonito visualmente.
Mas, João Theodoro, colorista desde 1994, alerta que mesmo que o trabalho da
correção de cor seja agregar valor ao filme, ela não tem o poder de salvar uma obra
que não está boa, “se o filme é fraco em roteiro, diálogos, atores e direção, ele já
chega morto para a correção de cor, não há nada o que se possa fazer”13.
Outra das áreas da pós-produção que é muito importante para a composição
cinematográfica é a sonoplastia. Segundo o Dicionário Houaiss (2001, p. 2609), a
palavra sonoplastia tem origem na junção do Latim com o Grego, respectivamente,
“son(o)- [som] + -plastia [que é possível modelar]”, e é “o conjunto das atividades de
equalização e edição de sons provenientes de vários canais”, ou seja, a sonoplastia
13 Artigo da Associação Brasileira de Cinematografia, ABCine - “A Arte da Correção de Cor”. Disponível em: <http://www.abcine.org.br/artigos/?id=452&/a-arte-da-correcao-de-cor>. Acesso em 23
ago. 2017.
49
consiste na modelagem e adequação do som ao meio de comunicação e espetáculo
em que será utilizado.
A sonoplastia é ao mesmo tempo uma técnica e um processo de criação realizado em diferentes etapas. A primeira etapa consiste no levantamento prévio dos elementos sonoros que serão postos em cena com base nas
rubricas do autor e/ou pela direção teatral. A segunda etapa consiste na seleção, considerando o porquê do som, a intenção do diretor ao empregar determinado efeito, o que estes sons podem representar no contexto e
estrutura da peça. A terceira etapa refere-se à produção de sons. A quarta à adequação, ordenação de material, considerando a coerência e o bom gosto. A quinta consiste na relação entre a sonoplastia e os outros
elementos da cena. A sexta refere-se à operação propriamente dita (CAMARGO apud LIGNELLI, 2014, p. 5)
Foi nos anos 1920 que o som começou a ser introduzido nas produções
cinematográficas, pois durante cerca de duas décadas o cinema foi mudo. Quando o
som finalmente passou a integrar as produções, ele era muito rústico e deixava
muito a desejar em termos de qualidade, sem contar que era muito difícil conseguir
sincronia entre o som e a imagem. Os sons inseridos se resumiam a fundos
musicais e efeitos básicos (KREUTZ, 2017)14.
Foi em 06 de outubro de 1927, em New York, que o primeiro filme com som
foi ao ar. O Cantor de Jazz (1927), foi o precursor no uso do som, mas ainda não era
completamente sonoro, pois existiam partes mudas. O filme contava a história de Al
Joelson, cantor e compositor norte americano, e nas cenas sonoras era possível
ouvi-lo tanto cantando quanto falando (CASTRO, 2012)15.
O sonoplasta é o profissional responsável pela manipulação e ajuste dos
sons em um filme. Segundo Tankel (1990, p. 34) “um sonoplasta é a pessoa que
transforma o som da atuação no som que irá para a obra”, ou seja, através do
julgamento do profissional são adaptados os sons conforme se faz necessário
através do roteiro. O profissional da sonoplastia faz uso do subjetivo, de sua
percepção e do que julga que melhor se encaixa naquela cena para compor a trilha
a ser incluída no filme.
A sonoplastia, através da sensibilidade do sonoplasta, ambienta o filme e
concede à ele um clima que não poderia ser atingido sem a ajuda do som. O som e
a cor, trabalham em conjunto para dar clima e significação aos filmes e, assim, levar
14 Artigo da Academia Internacional de Cinema. Disponível em <http://www.aicinema.com.br/quero-
trabalhar-com-som-no-cinema/>. Acesso em 23 ago. 2017. 15 Informações compiladas em artigo no site da EBC - Empresa Brasileira de Comunicação. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/cultura/2012/10/cantor-de-jazz-completa-85-anos>. Acesso
em 23 ago. 2017.
50
aos espectadores a ambientação que fora planejada para atingi-los. Através da
junção dos dois elementos, pode-se transmitir ao espectador as emoções
exploradas subjetivamente.
É interessante mencionar a proximidade dos sons e das cores no sentido de
ambientar uma determinada cena. Ao pensarmos em um filme de suspense ou
terror, por exemplo, logo imaginaremos cores escuras e sombrias, como o preto, e
uma trilha sonora arrepiante, este exemplo torna compreensível a ligação entre os
dois elementos, pois graças a junção de cor e som é possível transmitir ao
espectador uma emoção mais verdadeira, visto que dois de nossos sentido estão
sendo aguçados ao mesmo tempo, produzindo em nossa mente um sentimento de
medo, como é o caso dos filmes de terror, ainda mais forte em relação ao filme.
Pitágoras, Da Vinci, Newton, matemáticos, teólogos, poetas, cientistas e
diversos outros estudiosos ao longos dos séculos estudaram as relações que as
cores e os sons estabeleciam entre si.
Louis Bertrand Castel, físico, matemático, jornalista e teórico francês que
dentre outras teorias, estudou a fundo a correspondência entre sons e cores
desenvolveu depois de mais de trinta anos de pesquisa o que chamou de Teclado
Ocular. O instrumento, datado de 1754, possuía teclas que estavam ligadas a um
quadro com sessenta janelas de vidro, ao tocar uma tecla a janela se abria e revela
a cor correspondente à frequência do som. Castel ainda desenvolveu outras
experiências baseadas em sua teoria, mas não existem registros de conservação de
seus protótipos (OROZCO, 2015)16.
O funcionamento do Teclado Ocular apresentava a ligação entre cores e
sons através da teoria desenvolvida por Castel de que os dois elementos seriam
análogos por natureza, por serem derivados de vibrações.
Na figura a seguir é possível conferir as ligações estabelecidas por Castel
através de seus experimentos com o Teclado Ocular.
16 Informações compiladas em: Orozco (2015, p. 45). Disponível em: <https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/1852/1/FINAL%20A%20melodia%20das%20c
ores%20Marcado%20Comp%20Tayane%20Orozco.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2017.
51
Figura 15 – Notas musicais e cores análogas
Fonte: Orozco (2015, p. 45). Disponível em:
<https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/1852/1/FINAL%20A%20melodia%20das%20cores%20Marcado%20Comp%20Tayane%20Orozco.pdf>. Acesso em: 24 nov.
2017.
Existe mais um importante trabalho na composição do filme e, este é
especialmente significativo, pois se dá na finalização do mesmo. A edição acontece
a partir do momento em que todos os demais trabalhos já se encerraram, pois o
editor entra em ação para exercer a montagem das cenas que serão exibidas no
cinema.
A montagem cinematográfica não pode ser vista somente como um
procedimento técnico em que planos são combinados com o único objetivo de traduzir o que está previsto no roteiro ou no pensamento do diretor. A montagem é essencial no processo de realização de um filme (ou de uma
obra audiovisual) uma vez que é o momento em que se organizam os materiais e se define a estrutura da narrativa no jogo que se instaura na associação de imagens e sons. Vista como um momento de criação ela se
impõe e passa a ter um papel central e significativo. (MOURÃO, 2006, p. 231).
O editor é o responsável pela transmissão de ideias e sensações. É através
do trabalho dele que são definidos onde e de qual maneira serão inseridos no filme
os efeitos especiais, qual o enquadramento a ser colocado em determinada cena,
qual a trilha sonora que melhor se encaixa para o momento que está sendo
apresentado naquela cena.
No decorrer de sua existência, a montagem [edição] passou a ser organizada como profissão e tornou-se uma atividade técnica responsável pela capacidade inventiva do realizador, produzindo no cinema o
movimento vibratório dos signos capaz de lhe fornecer força poética. (AUGUSTO apud ROCHA; LIRA, 2010, p.3)
52
É através do trabalho do editor que as partes de um filme são colocados
juntos, é através da percepção dele que tudo se encaixará e transmitirá, ou não, o
sentido que foi proposto no roteiro e buscado pelo diretor. A edição insere no
contexto do filme o que Rocha; Lira (2010) chamam de “gramática audiovisual”. Este
termo pode ser definido como as ferramentas de construção de sentido e
transmissão de ideias que são utilizadas pela linguagem cinematográfica para
entregar ao espectador o que o escritor e o diretor planejaram.
3.4 PREMIAÇÕES
Todas as áreas de pré e pós-produção de um filme passam pela análise e
“julgamento” de pessoas, fundações e academias que prezam e buscam a
excelência do cinema. Desde 1927, por exemplo, existe a Academia de Artes e
Ciências Cinematográficas, uma “associação” de mais de seis mil pessoas que se
reúnem e escolhem os melhores filmes. A Academia é responsável pela indicação e
“eleição” do maior prêmio de cinema do mundo, o Oscar.
O Oscar conta com vinte e quatro categorias para diferentes prêmios: melhor
filme, melhor ator e melhor atriz, melhor trilha sonora, melhor direção, melhor
figurino, melhor fotografia e etc. O evento sempre ocorre na noite do dia 22 de
fevereiro, está na sua octogésima nona edição (2017) e é conhecido como a “grande
noite de Los Angeles”, cidade onde acontece17.
Além do Oscar existem outros prêmios tão importante e concorridos quanto.
O Urso de Ouro, por exemplo, é um deles. O evento acontece em paralelo com o
Festival de Berlim e é entregue desde 1951. O Festival de Cinema de Cannes é um
outro exemplo, ele acontece desde 1946 e é realizado na cidade francesa de mesmo
nome. Os prêmios entregues neste festival são o Palma de Ouro, que é considerado
o mais importante do festival e é entregue desde 1955 e o Grand Prix, segundo
prêmio mais importante e entregue desde 196718.
No Brasil acontece o Festival de Cinema de Gramado. Importante prêmio
nacional, realiza-se desde 1973, mas foi apenas em 1992 que passou a receber
17 Informações compiladas do site oficial do evento. Disponíveis em: <http://oscar.go.com/>. Acesso
em: 26 ago. 2017. 18 Informações compiladas nos sites dos respectivos eventos. Disponíveis em: <https://www.berlinale.de/en/HomePage.html> e <http://www.festival-cannes.com/en/>. Acesso em:
26 ago. 2017.
53
concorrentes estrangeiros. Acontecendo há 45 anos e se tornando um importante
evento nacional e internacional, o festival é palco de encontros, conversas e debates
entre figuras do cinema, estudantes e pesquisadores. Os prêmios mais importantes
do evento são o Kikito e o Oscarito, ambos de grande importância no cenário do
audiovisual19.
Cada um dos festivais que premiam obras cinematográficas no mundo,
levam em conta diversos itens para a eleição do filme vencedor nas categorias
analisadas. A cor é um dos itens que é analisado para estas premiações. Direção de
arte, fotografia, figurino e efeitos visuais, são algumas das categorias onde a cor é
muito importante. Para cada filme a ser premiado, os jurados buscam analisar os
detalhes de cada obra para que possam extrair deles as características de cada uma
destas categorias.
O Grande Hotel Budapeste, filme de 2014, levou o Oscar de Melhor Direção
de Arte, Melhor Figurino e Melhor Maquiagem e Penteados no ano de 2015. Este é
um exemplo do uso das cores enquanto um material de cena, encaixando-as nas
escolhas feitas pelos diretores, respeitando a paleta de cores e trazendo para o
espectador, através das cores, as emoções a serem compreendidas.
Figura 16 – Frame de O Grande Hotel Budapeste (2014)
Fonte: <http://www.imdb.com/title/tt2278388/mediaviewer/rm2170344704>. Acesso
em 22 out. 2017.
19 Informações compiladas no site do evento. Disponíveis em: <http://www.festivaldegramado.net/>.
Acesso em: 26 ago. 2017.
54
55
4 MUITO MAIS DO QUE AZUL
O estudo da cor azul neste trabalho se dará através da análise de imagens
fílmicas previamente escolhidas. O critério de escolha utilizado tem o intuito de gerar
um olhar amplo sobre o cinema contemporâneo e, por isso os filmes escolhidos são
datados de 2010 até os dias de hoje.
Além de especificar o recorte temporal do filmes, também estabelecemos
que seriam utilizadas obras que possuíssem paletas de cores com azul como cor
predominante. A fim de proporcionar um novo olhar sobre o campo da semiótica das
cores e sua relação com as emoções, para que pudéssemos analisar como uma
única cor pode se comportar e transmitir diferentes sentimentos de acordo com o
local de inserção da mesma.
Na análise são apresentadas cenas retiradas dos filmes escolhidos e através
delas será analisado o comportamento da cor azul em cada situação apresentada
nos filmes.
4.1 A COR AZUL
O linguista israelense Guy Deutscher, publicou em 2010 o livro “Through the
Language Glass: why the world looks different in other languages”20, onde compila
os estudos dos filósofos William Ewart Gladstone (1809-1898) e Lazarus Geiger
(1829-1870), sobre as antigas civilizações.
Uma das descobertas propostas por Deutscher (2010), foi a de que não
existe menção à cor azul nos livros antigos. Os dois filósofos estudados pelo
linguista, analisaram livros como “A Ilíada” e “A Odisseia”, de Homero, versões da
Bíblia em hebraico, o Alcorão e diversos outros livros importantes para a história da
humanidade, mas em nenhum momento encontraram a descrição do céu, por
exemplo, como sendo azul. Ambos os filósofos e, também Deutscher (2010),
atribuem a não aparição ao fato de que houve um lento surgimento de palavras que
denominaram as cores, e o azul, por ser um pigmento de difícil obtenção acabou
demorando para ser nominado.
20 Do inglês, tradução nossa: “Através do Cristal das Linguagens: porque o mundo parece diferente
em outras línguas”.
56
Para Gladstone (apud Deutscher, 2010, p. 55) “[as antigas civilizações]
entendiam o azul com a mente, mas não com a alma” e, por isso, não faziam uso de
palavras para descrevê-lo. Com a evolução tecnológica das civilizações passou a
ser necessário existir um refinamento nos conceitos das cores. E assim, cada cor
passou a receber um nome.
A cor azul é a última, porque, além de não ser encontrada tão comumente na natureza, levou muito tempo para fazer este pigmento. [...] Era perfeitamente normal dizer que o mar era preto, porque, quando está azul
escuro, parece preto, e isso é suficiente nesta época. Uma sociedade funciona bem com o preto, o branco e um pouco de vermelho (DEUTSCHER, 2010, p. 92).
O pigmento azul foi o mais difícil de ser obtido, pois não se encontra na
natureza grandes quantidades de materiais azuis de onde se possa efetuar a
extração.
Os pigmentos são materiais que mudam as cores das luzes transmitidas ou
refletidas como resultado de uma absorção seletiva num dado comprimento de onda
(BRANCO, 2015)21. Os pigmentos utilizados para pinturas, em plásticos e em
tecidos são, geralmente, corantes em pó. Existem registros do uso de pigmentos
desde a pré-história, onde os homens primitivos faziam uso dos mesmos para as
pinturas rupestres e também para pinturas corporais (figura 17).
Figura 17 - Pigmentos na pré-história: diversas cores eram aplicadas
Fonte: Revista Galileu. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com>. Acesso em
05 set. 2017.
21 Informações compiladas do artigo de Pércio de Moraes Branco (2015), no site da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-Ametista/Canal-Escola/Pigmentos-Minerais-1263.html>.
Acesso em: 05 set. 2017.
57
Os pigmentos que são obtidos através de materiais botânicos, como cascas
de árvore e pétalas de flores, resíduos animais, insetos e moluscos, são conhecidos
como orgânicos. E existem também os pigmentos minerais, que são obtidos através
de rochas e de terra.
A dificuldade de obtenção do pigmento azul fez com que o mesmo acabasse
ficando vinculado à realeza, visto que, seu preço era muito alto. O pigmento azul era
extraído da pedra semipreciosa lápis lázuli, encontrada em maior quantidade no
Afeganistão e no Paquistão.
Seu histórico de nobreza foi tão fortemente marcado que surgiu o ditado “ter
o sangue azul”. O ditado foi herdado da época em que a aristocracia da Península
Ibérica era extremamente orgulhosa de não ter nenhuma miscigenação com os
mouros que invadiram o país. Possuíam uma pele muito clara, que se diferenciava
da dos mouros e dos que eram miscigenados com os mesmos. Devido a este tom
de pele, era possível então enxergar as veias e artérias por baixo da mesma e, por
isso, parecia que o sangue dos mesmos era azul. Surge aí a expressão citada
anteriormente (QUINION, 2017).
A nobreza do azul também chegou à arte. A dificuldade de obtenção do
corante e seu alto preço de comercialização, fizeram com que essa cor fosse
utilizada apenas em peças muito especiais. Na pintura, a cor era empregada apenas
na representação de santidades, como é o caso do manto de Nossa Senhora
Aparecida, ou em divindades, tais como a máscara mortuária do Deus Tutancâmon,
faraó do Egito Antigo (figura 18) (TRINDADE, 2009).
58
Figura 18 - Máscara mortuária de Tutancâmon
Fonte: Disponível em: < http://www.newgreenfil.com/pages/a-magnifica-mascara-de-
tutankamon>. Acesso em: 22 nov. 2017.
Simbolicamente, o azul, em várias culturas, era tido como a cor do céu, da
imensidão da água e observado pelos pensadores como cor transparente, pura, imaterial e cor do divino, da verdade e da fidelidade, no que diz respeito às três religiões monoteístas, e ainda do apego à verdade e ao
firmamento celeste. Na arte pictórica da cristandade medieval, o azul é a cor da santidade [...] (TRINDADE, 2009, p. 236)
A arte trabalhou a aplicação dos corantes naturais e sintéticos em seus mais
diversos vieses. A arquitetura árabe, por exemplo, utilizou-se de mosaicos azuis
para revestir mosteiros no século XV, pois acredita-se que o azul era a cor favorita
do profeta Maomé (figura 19) (TRINDADE, 2009). Como é possível ver na figura 18,
A Mesquita Azul, construída entre 1609 e 1616, foi completamente revestida de
azulejos azuis, a fim de alegrar o profeta Maomé.
59
Figura 19 – Mesquita Azul
Fonte: disponível em <http://www.myhomeandstudio.com/blog/tiles-with-the-color-
blue/>. Acesso em 05 set. 2017.
As porcelanas chinesas, amplamente comercializadas na Europa a partir do
século XVIII, também são exemplos do emprego do pigmento azul na fabricação de
objetos. A porcelana além de ser um material muito delicado, possuía traços muito
requintados nas pinturas, o que encantava os nobres e aristocratas, fazendo com
que o comércio das mesmas fosse muito grande entre eles, resultando em peças
caras e reservadas aos que possuíam poder aquisitivo (TRINDADE, 2009).
As roupas e tecidos tingidas com o pigmento azul, até certo tempo, eram
exclusividade das figuras ilustres e aristocratas. Devido ao valor de produção do
corante e da vasta nobreza representada pelo mesmo, visto seu uso em pinturas e
louças muito caras e superiores, o uso de tecidos tingidos desta cor também
reservava-se às pessoas de maior poder aquisitivo.
A saída encontrada para fugir dos empecilhos - preço/dificuldade de
produção - e tornar o azul uma cor mais “acessível”, veio através dos egípcios que
acabaram por desenvolver um corante sintético22 para substituir o que era produzido
a partir do lápis lázuli. O novo corante era extraído de uma combinação de dióxido
de silício, cobre e álcali e tornou-se mais barato para produzir e consequentemente
mais acessível.
Com a descoberta egípcia, o acesso ao azul tornou-se muito mais fácil, mas
a cor em si, nunca perdeu seu ar de nobreza. Segundo pesquisa realizada por Eva
22 Os corantes sintéticos são uma classe de aditivos introduzidos nos alimentos, bebidas, tecidos, etc., com o único objetivo de conferir cor e torná-los mais atrativos. São cada vez mais usados, especialmente por apresentarem maior uniformidade, estabilidade e poder tintorial em relação às
substâncias naturais (PRADO; GODOY, 2003).
60
Heller para o livro Psicologia da Cor: como as cores afetam emoção e a razão
(2004), o azul é a cor preferida de 46% dos homens e 44% das mulheres. Segundo
as próprias pessoas entrevistadas por Heller (2004), o azul está ligado às boas
qualidades e aos bons sentimentos, principalmente aos que se referem a
reciprocidade.
Existem no mundo cento e onze diferentes tons de azul. Cada um deles
possui um nome específico e, em muitos circunstâncias, aplicação em áreas
especiais. Como é o caso dos azuis cobalto, ultramarino e phthalo, cada um deles
tem uma determinada função no campo das artes, por exemplo.
4.2 O AZUL ENQUANTO RECURSO NARRATIVO
Quando pensamos nas cores no cinema, é possível imaginá-las em diversos
aspectos, visto que, elas podem se apresentar no cenário, no figurino, na
maquiagem, etc. Como as cores possuem designações sígnicas que são passadas
de geração em geração, quando desejamos transmitir algo à alguém, fazemos uso
das mesmas.
Segundo Gobé (2002, p. 126 - 127) “a partir dos dez anos de idade, a visão
é o sentido predominante dos seres humanos, na exploração e na compreensão do
mundo. [...] [e] as cores desencadeiam respostas muito específicas no sistema
nervoso central e no córtex cerebral. Uma vez afetado o córtex cerebral, as cores
podem ativar os pensamentos, a memória e os tipos particulares de percepção”, ou
seja, fazemos uso de nossa visão para entender o que está nos cercando e através
dela ocorre a ativação de memórias e percepções e assim as pessoas são capazes
de fazer ligações e “ativar” signos.
As cores estão inseridas em nosso mundo e através dela compreendemos
diversos componentes da vida em sociedade. No cinema, as cores se apresentam
como fortes transmissoras de significados e estão a todo momento necessitando da
compreensão humana para que sejam compreendidas.
O azul, por ser uma cor muito querida pelas pessoas está presente em
muitas ambientações. Segundo Heller (2004), o azul índigo é a cor de mais prestígio
de todas as épocas no vestuário, por exemplo.
Ao pensarmos nos filmes contemporâneos, são muitos os que trazem
consigo a ideia de uma cor inserida como um meio de traduzir ao espectador um
61
determinado sentimento ou visão das cenas que estão sendo apresentadas e, sendo
assim, pode-se pensar nas cores com um papel muito importante nas produções
cinematográficas.
Também o azul, em seus mais diversos tons, é utilizado para demonstrar
diversas emoções, entre elas, a sensação de algo ser divino. Como antes citado, o
azul sempre foi de difícil obtenção, e por consequência, ligado à nobreza e dessa
forma, foi utilizado, principalmente na pintura, para retratar as divindades. A ligação
do azul ao divino, ao sagrado e ao santificado, também pode ser justificada por estar
ligada a cor do céu (HELLER, 2004).
A harmonia, a simpatia, a amizade e a confiança também são sentimentos
ligados à cor azul, e segundo Heller (2004), estes sentimentos são aqueles que
somente surgem com o tempo, ou seja, aqueles que são despertados pela
reciprocidade. Heller (2004) também constatou que estas emoções estão ligadas à
ideia de o céu ser azul, da cor ser divina e estar relacionada com o eterno,
simplificando, o azul é a cor de tudo aquilo que desejamos que permaneça, que dure
eternamente.
A cor azul traz consigo a ideia da eternidade, devido aos sentimentos a está
ligada e, dessa forma incorpora a significação de que quando utilizada enquanto
recurso de linguagem cinematográfica, que a utiliza para enriquecer e aprimorar seu
diálogo com o espectador, passa a ser um meio de comunicação com o mesmo. A
comunicação através das cores funciona de forma subjetiva e se dá através dos
significados e simbologias inseridos no meio cinematográfico pela cultura popular.
Ao tratarmos do azul enquanto linguagem cinematográfica aplicada aos
sentimentos, estaremos falando de emoções permanentes, como a simpatia, a
amizade e a confiança. Ao tratarmos desta cor enquanto material de cena,
componente de cenário e figurino, geralmente a mesma aparece denotando leveza,
repouso, tranquilidade ou frieza.
4.3 ANÁLISE DE FILMES CONTEMPORÂNEOS
Ao assistirmos uma produção cinematográfica, são poucas as pessoas que
levam em conta os elementos de cena para entender as circunstâncias da trama que
está se desenrolando. Porém é cada vez mais frequente que os produtores
62
envolvidos no desenvolvimento do filme acrescentem mais do que somente os
atores como fonte de transmissão de signos para o espectador.
As cores estão presentes como um dos elementos utilizados para que o
espectador seja capaz de captar os estados emocionais dos personagens que estão
inseridos nos acontecimentos da trama fílmica. É possível identificar a presença das
mesmas em diversos aspectos e em diferentes representações.
Com o intuito de referir a uma determinada emoção, os diretores fazem uso
de diversos itens para serem capazes de transmitir o sentimento desejado. A
sonoplastia ajuda a conferir o clima para as cenas, por exemplo, enquanto que o
cenário concede um espaço-tempo para a narrativa. Mas as cores inseridas nas
cenas fazem com que o som e o cenário recebam um sentido maior através de suas
propriedades sígnicas.
As propriedades sígnicas são concedidas através das crenças populares e
todas as formas de linguagens possuem seus próprio signos. Os signos podem
variar de cultura para cultura, mas estão presentes em cena com o intuito de tornar a
produção cinematográfica mais interessante e mais desafiadora para o espectador.
Um exemplo do poder representativo da cor pode ser obtido no filme Blue
(1993), de Derek Jarman. O filme trata da história de vida do próprio Jarman
enquanto homossexual e portador do vírus da AIDS em estágio terminal.
Figura 20 - Pôster de Blue (1993)
Fonte: <http://www.imdb.com/title/tt0106438/mediaviewer/rm998543872>. Acesso
em 06 out. 2017.
63
Jarman trabalha, durante os 70 minutos do filme, apenas com uma tela azul
estática. O som é o responsável por todo o enredo. Em decorrência das
complicações da doença, o mesmo perdeu quase cem por cento da visão, e, sendo
assim, ele escolheu trabalhar com a tela estática com o intuito de evocar no
espectador as sensações descritas no discurso do filme, sem que as mesmas
pudessem ser experienciadas pelo olhar.
A cor azul foi escolhida pois o autor se inspirou em uma obra de Yves Klein,
uma pintura monocromática, vista durante uma visita ao TATE Britain, em Londres,
em 1974. Depois desta exposição Jarman ficou tentado a realizar uma obra em
homenagem a Klein, onde pudesse utilizar o que chamou de “International Klein
Blue”, uma cor vibrante que expressa uma experiência sensorial rarefeita, que
transcende a realidade e alcança um futuro imaterial e espiritual23.
Figura 21 - Pintura monocromática de Yves Klein
Fonte: <http://www.tate.org.uk/art/artists/yves-klein-1418>. Acesso em 06 out. 2017.
Figura 22 – Frame de Blue (1993)
Fonte <http://www.imdb.com/title/tt0106438/mediaviewer/rm3931217408. Acesso em 06 out.
2017
23 Informações compiladas do site do TATE Britain, museu de arte independente. Disponíveis em:
<http://www.tate.org.uk/whats-on/tate-modern/display/derek-jarman-blue>. Acesso em 06 out. 2017.
64
Para que a concepção de sentido de uma cor aconteça, não
necessariamente ela se apresentará sozinha. As produções utilizam-se de acordes
cromáticos para que um efeito seja atingido e se torne tangível para o espectador.
Segundo Heller (2004, p. 18), “um acorde cromático se compõe daquelas
cores que mais frequentemente associam-se a um efeito particular. [...] Um acorde
cromático não é nenhuma combinação acidental de cores e, sim, um todo
inconfundível”, ou seja, cada cor está em determinado lugar porque precisa estar lá.
Nenhuma cor aparece em cena sem ter sido colocada naquele ambiente com um
determinado intuito e com um significado a ser transmitido.
Um exemplo de acorde cromático pode ser percebido na criação das paletas
de cores do filmes. Todas as cores inseridas, estão ali com o intuito de ambientar o
roteiro, de dar seguimento à ideia proposta e entregar ao espectador aquilo que ele
precisa perceber.
As cores são colocadas nas paletas para agir como signos, como
representações de algo maior que precisa ser apresentado ao espectador. Segundo
Peirce (apud Santaella, 2005, p. 43), “[...] o signo é uma mediação entre o objeto
(aquilo que ele representa) e o interpretante (o efeito que produz) [..]” e, por este
motivo, os signos dependem da interpretação do espectador para que passem a
mensagem correta.
4.3.1 O REGRESSO (2015)
Como exemplo disto, temos o filme O Regresso (2015), foi vencedor de três
categorias do Oscar 2016 e indicado em outras nove. O filme conta a história de
Hugh Glass (Leonardo DiCaprio), um explorador norte-americano, que em 1823,
durante uma exploração no Velho Oeste, é atacado por um urso e deixado para trás
por seu companheiro para morrer; Hugh sobrevive e, então, sai em território
selvagem em busca de vingança contra o ex-companheiro, pois este além de
abandoná-lo, ainda matou seu filho.
65
Figura 23 – Pôster de O Regresso (2015)
Fonte: <http://www.imdb.com/title/tt1663202/mediaviewer/rm2770541312>. Acesso
em 22 nov. 2017.
Ao analisar o projeto cinematográfico de Alejandro Iñarritu (diretor geral) e
Emmanuel Lubezki (diretor de fotografia), é possível perceber nitidamente o uso das
cores enquanto meio de comunicação com o espectador e como elas são usadas
para ambientar o cenário.
4.3.1.1 AZUL: PERTURBAÇÃO E TRISTEZA
Iñarritu e Lubezki fizeram uso de um acorde cromático chamado por Heller
(2004) de “distante” (figura 24). Para a autora, o azul é a cor da frieza, da
passividade, da serenidade e da fidelidade e, de certa forma, todos estes
sentimentos podem ser encontrados em Hugh durante o filme.
66
Figura 24 - Acorde Cromático: o distante
Fonte: Heller (2004, n.p.)
Este acorde cromático pode ser encontrado durante toda a extensão do
projeto cinematográfico, mas em especial a partir do momento em que a
personagem principal começa a buscar o retorno ao seu vilarejo.
A frieza é sentida tanto no próprio cenário, que traz imagens de nevascas,
de um inverno muito rigoroso, quanto na personagem, pois a mesma não se abala
com os imprevistos que encontra pelo caminho, tais quais sua dificuldade de andar
ou de precisar abrigar-se dentro do corpo de um animal morto para sobreviver.
Neste caso, trata-se do sentimento de frieza emocional.
Apesar da situação à qual está exposta, a personagem mantém-se serena
durante sua jornada. Parece sentir que apesar de todos os percalços que encontrou
pelo caminho conseguirá chegar ao seu destino e atingir seu objetivo. Sua
serenidade pode ser observada até mesmo através de gestos bondosos que pratica
durante seu percurso, como é o caso do salvamento de uma jovem que estava
sendo abusada por índios em um acampamento do qual se aproxima.
A personagem mantém-se durante todo o desenrolar do filme em busca de
vingança pela morte do filho e pode-se, de certo modo, dizer que ele se mantém fiel
a seu ideal e à memória do menino que foi assassinado.
Segundo o estudo realizado por Heller (2004), uma cor complementa a outra
e dá significado, ajudando o espectador a entender alguns dos sentimentos da
personagem que não são expressos de forma verbal, por exemplo.
67
O acorde cromático de distanciamento pode ser observado na figura a seguir
(figura 25), que foi retirada do filme citado, onde é possível enxergar todas as cores
descritas por Heller (2004) no acorde cromático trabalhado em seu livro.
Figura 25 - O Regresso (2015): acorde cromático de “distanciamento”
Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.
Acesso em: 24 set. 2017.
Ao analisarmos a cena representada na figura 25 juntamente com a tabela
(figura 6) do acorde cromático proposto por Heller (2004), é possível inferir que a
construção de um sentimento pode dar-se pela junção de diversos itens de
construção de cena, mas um dos mais importantes é a cor. Através das cores
podemos compreender o que está se passando com a personagem.
Da mesma forma que a composição do acorde cromático em O Regresso
(2015) conversa com o espectador e transmite a ideia do distanciamento emocional
dos sentimentos que a personagem que está à espera da vingança não expressa
verbalmente, ela nos mostra o quanto a composição da paleta de cores a ser
empregada em um filme é importante.
A figura 6 (página 29), onde de acordo com Martins (2004), estão listados os
diferentes tipos de emoções, pode nos dar ideia de como uma combinação de
68
sentimentos transforma-se em novas emoções. Em O Regresso (2015), a
personagem principal enfrenta diversas “classificações” de sentimentos.
Segundo a figura 6 e seu agrupamento de emoções, dos sentimentos
considerados “positivos”, a personagem demonstra apenas um: o amor.
Considerado como uma emoção combinada, ele é o resultado da junção de diversos
sentimentos e pertencente à “classe” que provêm da identidade/socialização. Hugh
Glass, sente um amor incondicional e avassalador por seu filho, que se torna o
motivo de todos os outros sentimentos virem à tona (MARTINS, 2004).
Os demais sentimentos expressos pelo personagem ou descobertos através
da análise semiótica do filme, se apresentam como “emoções negativas”: a
perturbação, o incômodo, a raiva, a tristeza e o nojo, são classificados por Martins
(2004), como proto-emoções ou emoções básicas, fazem parte das pessoas desde
que nascem e incluem-se na “classe” da autorregulação, apego e defesa. Além
destes, a personagem ainda apresenta a culpa, que é considerada uma emoção
combinada, e se origina a partir do momento em que o mesmo não consegue evitar
a morte de seu filho, mesmo que o fato tenha ocorrido a partir de uma trapaça do ex-
companheiro da personagem.
A paleta inserida em uma obra cinematográfica é de extrema importância
para a transmissão das emoções ocultas, visto que ela é capaz de revelar aos olhos
dos espectadores o que está velado, o que é uma mensagem codificada esperando
para ser explorada.
Os profissionais que estão envolvidos na produção de um filme precisam
estar atentos a todos os sinais que os componentes inseridos nas cenas
representam, pois, como vimos, uma simples combinação de cores pode resultar em
um desastroso sentimento quando “traduzido” em uma análise.
4.3.2 AZUL É A COR MAIS QUENTE (2013)
O filme Azul é a Cor Mais Quente (2013), conta a história de Adèle, uma
adolescente de 15 anos que descobre sua sexualidade com uma moça mais velha,
chamada Emma. A história narra o amadurecimento de Adèle enquanto mulher e
suas descobertas ao longo dos anos. O enredo é baseado, de forma livre, na história
Le Bleu est une Couleur Chaude24, datado de 2010 e escrito por Julie Maroh.
24 Do francês: O Azul é Uma Cor Quente.
69
Na França, o longa-metragem recebeu o nome de La Vie D’Adèle, já em
suas traduções ao redor do mundo, inclusive no Brasil, ficou conhecido como Azul é
a Cor Mais Quente, fazendo referência principalmente ao cabelo e aos olhos
marcantes da personagem Emma (figura 22).
Figura 26 - Pôsteres de Azul é a Cor Mais Quente (2013) ao redor do mundo
Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com/>.
Acesso em 01 out. 2017.
4.3.2.1 AZUL: AFEIÇÃO E INQUIETAÇÃO
O filme Azul é a Cor Mais Quente (2013) faz uso da paleta de cores para
revelar a mensagem do encanto e da simpatia, ambas abordadas por Heller (2004),
enquanto acordes cromáticos, mesmo quando as personagens não haviam tido
contato uma com a outra e portanto não se conheciam.
Tanto o encanto quanto a simpatia, segundo Heller (2004), são
representadas por cores vibrantes como o vermelho e o verde. O azul se faz
presente em ambos os sentimentos e isto se deve ao fato de serem emoções que,
depois de sentidas, são carregadas por um longo tempo. É a ideia da cor azul estar
intimamente ligada aos sentimentos eternos.
70
Figura 27 - Acordes cromáticos: simpatia e encanto
Fonte: Heller (2004, n.p.)
Durante a obra cinematográfica, o azul é uma das cores que mais se
percebe, mas não somente pelo fato de uma das personagens ter o cabelo e os
olhos azuis. Em todas as cenas analisadas a cor está presente de uma forma ou de
outra. Nas roupas, no mar, em objetos colocados nos cenários, o azul se faz
presente e, segundo Heller (2004), quando é combinado com o verde e o vermelho,
o mesmo desperta emoções de harmonia.
Na figura 28 as cores elencadas por Heller (2004) em seus acordes
cromáticos (figura 27) se fazem presentes de forma palpável. O encanto, acorde
cromático que utiliza as cores rosa, vermelho, verde, cinza e azul, se apresenta
ainda quando as duas personagens se cruzam em um lugar movimentado. É um
sentimento que aparece assim que o primeiro contato visual acontece.
Já o acorde da simpatia, representado pelas cores azul, verde, vermelho,
amarelo e laranja, pode ser percebido quando as duas trocam suas primeiras
palavras. Elas se encontram em um bar e conversam por alguns minutos, é
perceptível tanto pela linguagem corporal das duas, quanto pelas cores usadas no
“encontro” e na cena subsequente em que Adèle escreve em seu diário sobre
Emma, que a simpatia foi instantânea.
71
Figura 28 - Azul é a Cor Mais Quente (2013): acorde cromático de “encanto” e
“paixão”
Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.
Acesso em: 01 out. 2017.
As emoções que podemos perceber, tanto por demonstração quanto por
análise semiótica do filme, são o interesse, a curiosidade, a alegria, afeição e a
inquietação.
Segundo o quadro das emoções (figura 6) elaborado por Martins (2004), as
quatro primeiras citadas são positivas e se encontram na área das emoções básicas,
que são desenvolvidas desde a infância. Já a última, a inquietação, é considerada
por Martins (2004), como sendo negativa, como sendo um desprazer. Para Adèle,
pode ser considerada como uma emoção negativa, visto que, ela fica muito
interessada em Emma, o que a faz se questionar sobre sua sexualidade quando a
homossexualidade é um assunto muito distante de sua realidade.
Pode-se dizer que as cores são utilizadas nos filmes com o intuito de traduzir
ao espectador aquilo que foi planejado pelos diretores, mas que não pôde ficar
implícito de forma verbal e teve de ficar subjetivo.
72
Os estados emocionais das personagens geralmente estão enquadrados
nestes casos, pois não há como narrar ou falar de como estão se sentindo durante
todos os momentos do filme.
Estado emocional, segundo Edwards (1973, p. 91), “trata[-se] de uma
experiência que contém uma carga afetiva, psicológica em sua origem e [é] revelada
no comportamento e nas funções fisiológicas”, através das atitudes das
personagens podemos perceber muito a seu respeito e, quando associamos suas
ações às cores empregadas nas cenas, passamos a entender melhor como funciona
sua percepção da situação em que a mesma está inserida.
4.3.3 MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR (2016)
Um dos mais marcantes filmes da atualidade, enquanto uso de cor nas
cenas a fim de transmitir emoções, é o vencedor do Oscar 2017 de “Melhor Roteiro
Adaptado” e do Globo de Ouro do mesmo ano de “Melhor Filme”. Moonlight: sob a
luz do luar é uma adaptação da peça In Moonlight Black Boys Look Blue25 de Tarell
Alvin McCraney.
Figura 29 - Pôster de Moonlight: sob a luz do luar (2016)
Fonte: <http://www.imdb.com/title/tt4975722/mediaviewer/rm1452607488>. Acesso
em 03 out. 2017.
25 Do inglês: Sob a Luz do Luar Meninos Negros parecem Azuis.
73
O filme conta a história de Chiron em três diferentes fases de sua vida.
Quando criança, quando adolescente e quando adulto. Quando pequeno, Chiron
sofria bullying na escola por ser diferente dos demais colegas. Em sua primeira
aparição no filme, o mesmo está tentando fugir de um grupo de garotos que o
ameaçava.
Logo no início do longa-metragem, Chiron conhece seu “salvador”. Juan, seu
mais novo amigo e protetor, é narcotraficante, chefe do tráfico na região onde o
menino mora. Ele encontra em Juan alguém que o ajuda a se entender e se aceitar
do jeito que é. Chiron vive com a mãe em Liberty City, Miami. Seu nome é Paula, e
ela é usuária de drogas e abusa emocionalmente do filho. Nesta primeira parte
também conhecemos as personagens Teresa, mulher de Juan, e Kevin, amigo de
Chiron.
Na segunda parte, durante a adolescência de Chiron, uma das piores partes
desta fase, acontece quando o menino precisa lidar com a situação em que a mãe
se encontra. Ela está cada vez mais incontrolável e instável. Chiron ainda conta com
a ajuda de Teresa para sobreviver a esta fase, mas Juan já não o pode ajudar, pois
morreu. Na escola, o menino continua sofrendo bullying por sua diferença perante os
colegas: Chiron é homossexual e encontra em Kevin apoio, compreensão e prazer.
Os dois têm um encontro na praia onde acabam fazendo sexo.
Nesta faixa etária, os colegas nomeiam-no como “bicha” e “veado”, o que o
deixa muito mal consigo mesmo. Em determinado período, Chiron não aguenta mais
sofrer com as agressões dos colegas, que neste momento se tornam físicas e muito
hostis. Depois de ser espancado por Kevin, junto com outros três colegas de escola,
Chiron revida com uma cadeirada em um deles e acaba preso.
A terceira fase começa com um Chiron já adulto e livre. Nesta fase, ele é
conhecido como “Black” e comanda o narcotráfico de Atlanta. Ele recebe muitas
ligações de Paula, sua mãe, que pede que ele o visite na clínica de tratamento de
viciados em drogas em que está internada, pois está muito arrependida de tudo o
que o fez passar. Em uma certa noite, ele recebe o telefonema de Kevin, que o
convida para voltar a Miami para uma visita.
Neste reencontro, Kevin, que está surpreso pela nova vida de Chiron,
principalmente com seu “trabalho”, desculpa-se e conta sobre sua vida desde a
última vez em que se viram. Os dois conversam durante longas horas, e Chiron
74
conta a Kevin que nunca mais foi íntimo de ninguém desde seu encontro. Kevin o
conforta enquanto Chiron relembra seus tempos de criança na praia.
4.3.3.1 Azul: confiança, vergonha e incômodo
A história de filme conta de forma muito completa e complexa todas as
emoções pelas quais Chiron passa durante as três fases de sua vida. Analisando o
pôster do filme (figura 29), podemos perceber ali mesmo o quão fundamental são as
cores no enredo dessa narrativa. O cartaz é divido em três partes, que representam
as três fases da vida de Chiron que serão abordadas no filme.
A primeira faixa traz a imagem da primeira fase, acompanhado de um tom
de azul mais suave, que acompanha o menino durante toda a primeira fase do filme.
A segunda faixa apresenta um tom de roxo, característica da introspecção e da
tristeza, que representa a fase mais sofrida da vida de Chiron. Na terceira faixa,
encontra-se um tom mais escuro de azul, um indício de que, com a passagem do
tempo e as dificuldades encontradas, Chiron endureceu e tornou-se mais sombrio,
mais “escuro”.
A infância (primeira fase retratada), pode ser representada em duas partes
específicas: o lado positivo, que é seu encontro com Juan, e o lado negativo:
formado pela depreciação que sofre por parte da mãe e do bullying que sofre na
escola.
Na figura 30 podemos acompanhar o momento em que Chiron conhece
Juan e Teresa, seus novos amigos e uma espécie de salvação para o menino, pois
com eles, Chiron não tem medo de ser quem é e acreditar que sua vida pode ser
melhor. Além de acompanhar o momento de encontro entre os personagens,
podemos ver através da paleta de cores da mesma, que o momento resume-se em
cores vibrantes e alegres.
75
Figura 30 - Chiron conhece Juan e Teresa
Fonte: Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.
Acesso em: 07 out. 2017.
Ao analisarmos a paleta formada a partir dos frames do filme e utilizarmos o
livro de Heller (2004) para relacioná-la com emoções, chegaremos a dois acordes
cromáticos que possuem relação com os sentimentos de Chiron. A confiança e a
força foram os acordes cromáticos escolhidos para a moldagem desta análise.
Figura 31 - Acordes cromáticos de “confiança” e de “força”
Fonte: Heller (2004, n.p.)
De uma forma muito espontânea, e própria das crianças, Chiron confia em
Juan. Apesar de não querer falar com o homem, aparentemente o menino se sente
76
seguro com o mesmo e concorda, não apenas em sair com ele, como também ir a
sua casa e dormir lá.
Pode-se dizer que a força se mostra presente também através da confiança,
pois Juan salva o menino e o ajuda em um momento difícil. É como se Chiron
encontrasse em Juan a força de sair do lugar abandonado onde estava e seguir em
frente. Aqui podemos falar de maneira literal, pois quando se encontraram pela
primeira vez, o menino estava em uma casa abandonada, mas também
metaforicamente, visto que Chiron estava perdido em sua casa, sem suporte e
sofrendo com os transtornos da mãe e da mesma forma que também estava perdido
na escola, sofrendo bullying e apanhando dos colegas.
Na segunda etapa do filme, durante a adolescência de Chiron, pode-se dizer
que houve um escurecimento nos tons utilizados para ambientação das cenas. Os
tons passaram de um azul mais claro para um tom de roxo, indicando o quão difícil
esta fase se mostra para a personagem.
O Chiron adolescente continua sofrendo com a mãe e com problemas na
escola, pois nesta fase os colegas o apelidam e usam o vício da mãe para zombá-lo.
Também nesta fase, ele passa a ter emoções mais escuras, passa a se sentir
isolado e não consegue defender-se dos ataques.
Figura 32 - Chiron na escola
Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.
Acesso em: 07 out. 2017.
77
De acordo com os acordes cromáticos de Heller (2004), podemos classificar
a cena representada na figura 32 como sendo combinações de cores que indicam a
passividade e a introversão.
Figura 33 - Acordes cromáticos de “passividade” e “introversão”
Fonte: Heller (2004, n.p.)
A passividade de Chiron é questionada por Kevin ainda quando eram
crianças, quando o menino assiste aos outros zombarem e baterem em Chiron.
Percebe-se que com a passagem de tempo que ocorre no filme, infelizmente, o
menino continua inerte a todas as coisas que lhe incomodam, como por exemplo o
bullying que sofre.
A introversão de Chiron é aparente durante todo o longa e, boa parte dela,
se deve aos problemas que enfrentou com a mãe desde pequeno, pois sempre foi
julgado e criticado por ela. Ele aprendeu ainda em casa, quando criança, que não
devia se abrir com ninguém, pois seria censurado e depreciado pelos demais.
Referente aos sentimentos de Chiron, podemos inferir que nele existe uma
mistura de perturbação, inquietação, incômodo, tristeza, medo e vergonha. Martins
(2004) classifica os três primeiros como proto-emoções negativas e as três últimas
também como emoções negativas, no entanto como sendo básicas, pois como
aconteceu com Chiron, estas emoções são “cultivadas” desde que somos pequenos
e estão ligadas às defesas que criamos.
Não é apenas uma coincidência que Chiron tenha criado emoções negativas
todas ligadas à infância, visto que, estes sentimentos surgiram a partir do que o
menino viu e ouviu quando era pequeno, tanto por parte da mãe, quanto por parte
dos “amigos”.
78
É importante ressaltar que na fase adolescente de Chiron, são muito raros
os momentos em que o menino teve um momento alegre. Pode-se citar também,
que ele passa para o final da fase adolescente com cores cada vez mais escuras e
que, por sinal, acabam prevendo o futuro infeliz que o espera em pouco tempo.
Depois de apanhar de Kevin e outros três colegas, Chiron se vinga com uma
cadeirada em um deles e é preso.
A fase três do filme retrata a etapa adulta da vida de Chiron. Neste
momento, ele já está fora da prisão e comanda o tráfico de Atlanta. As cenas
passam a trabalhar com uma luz avermelhada, dando ideia de que ele está mais à
vontade com a vida que leva agora, que se sente mais confortável do que se sentia
na infância e na juventude.
A cor azul, no entanto, aparece agora em detalhes e continua sendo de total
importância para o enredo do filme, pois da mesma forma que fazia nas outras duas
fases, ainda ajuda a exteriorizar os sentimentos de Chiron. Apesar de não ser mais
uma pessoa retraída como era antes, Chiron ainda guarda muitas mágoas e
segredos e o azul aplicado nos detalhes das cenas aparece para representar isto.
Figura 34 - O azul enquanto componente de cena
Fonte: Netflix. Acesso em 07 out. 2017.
Através da figura 34 podemos perceber o quão importante o azul inserido
nos detalhes é, pois, em todos os frames selecionados, Chiron está fazendo alguma
coisa que o deixa desconfortável, o que acaba trazendo para a superfície de seu ser
o menino inseguro, introvertido e envergonhado que era na infância e na
adolescência.
79
Para retratar o momento adulto do personagem, escolhemos o acorde
cromático de Heller (2004) que representa o distanciamento (figura x). Chiron não é
mais o mesmo menino assustado e vacilante que era nas outras duas fases de sua
vida, mas agora é um adulto distante, que quer deixar seu passado para trás para
não ter que enfrentar as mágoas e dificuldades novamente. Suas emoções são
escondidas pela nova vida criminosa de chefe do tráfico, mas a insegurança e o
medo do julgamento alheio ainda lhe incomodam.
Figura 35 - Acorde cromático de “distanciamento”
Heller (2004, n.p.)
Através deste exemplo, confirmamos mais uma vez o quão importante é o
trabalho dos profissionais que trabalham na cenografia, maquiagem, figurino de um
longa-metragem, pois os detalhes, o posicionamento de todos os objetos, a
iluminação e até o da câmera, fazem toda a diferença para que os instrumentos
utilizados estejam bem colocados e façam com que os espectadores percebam o
sentido dos mesmos.
4.3.4 TRON: O LEGADO (2010)
Como exemplo de filme contemporâneo que faz uso do tema da tecnologia
relacionado às novas descobertas, podemos citar Tron: o legado (2010). O filme se
trata da continuação de Tron: uma odisseia eletrônica (1982) que, diferentemente do
primeiro, traz como personagem principal Sam Flynn, filho de Kevin Flynn, que foi o
personagem principal do primeiro filme.
80
Figura 36 - Pôsteres de Tron: uma odisseia eletrônica (1982) e Tron: o legado (2010)
Fonte: Imagem elaborada pela aluna através de imagens disponíveis em:
<http://www.imdb.com/>. Acesso em 08 out. 2017.
Em “O Legado”, Kevin, um programador dono da maior empresa de
tecnologia do mundo, a ENCOM, desaparece sem deixar rastros quando Sam ainda
é uma criança, deixando todos curiosos sobre seu paradeiro. Vinte anos se passam,
Sam já é um adulto e, misteriosamente, um dos amigos de seu pai, Alan, recebe
uma mensagem em um pager, um pedido de Kevin para que ele vá até seu antigo
fliperama.
Quem se dirige até lá é Sam, que descobre o laboratório secreto de seu pai,
e da mesma forma que ele, acaba sendo sugado para a realidade virtual da Grade,
um mundo digital desenvolvido por Kevin, há muitos anos atrás.
Neste mundo virtual, Sam encontra CLU, um programa criado por Kevin para
manter a ordem e a perfeição da realidade virtual, que se voltou contra ele e desde
então o mantém preso na Grade. CLU é uma reprodução física de Kevin, visto que
este não podia passar o tempo inteiro no mundo virtual, acabou criando uma cópia
de si mesmo para que tomasse conta do lugar enquanto estivesse fora. Além disso,
CLU ainda reprogramou Tron, o programa de segurança criado por Kevin e Alan e
seu maior aliado no mundo virtual. Com a reprogramação, Tron passou a ser o fiel e
inescrupuloso vassalo de CLU.
Sam, ao ser sugado, é levado a um campo de batalhas, onde diferentes
programas se enfrentam por sua sobrevivência. CLU é o chefe deste mundo e ao
descobrir que o filho de Kevin está ali, vê sua chance de conseguir o que sempre
81
quis: o disco de identificação de Kevin, uma espécie de diário, onde tudo fica
registrado. Tudo o que se aprende, tudo o que se vê e todas as informações sobre
os dados que passam pela vida de cada programa. O disco de Kevin é uma espécie
de chave-mestra, que comanda todo o sistema e o mantém de pé, visto que o
criador de tudo isso é o próprio Kevin.
Após uma batalha, Kevin e Sam se reencontram depois de muito tempo,
contam como têm levado a vida, mas discutem, principalmente, o porquê de Kevin
nunca ter voltado para casa. Então Sam fica sabendo de tudo o que CLU fez para
dominar o mundo virtual e como planeja dominar o mundo real também.
4.3.4.1 AZUL: INTERESSE, CURIOSIDADE E INQUIETAÇÃO
Os filmes que trabalham com o tema da tecnologia são exemplos do uso
abundante do azul para ambientação de seus cenários, visto que, a tecnologia
possui uma relação muito forte com o que é relacionado ao progresso, às
descobertas e ao futuro. Como dito anteriormente, segundo Heller (2004), o azul
está relacionado às emoções de longa duração e, de certo modo, com o futuro, com
o que está porvir.
O filme trabalha as cores intensamente e, através delas, explora as emoções
de todos os personagens envolvidos na trama. O azul é utilizado, principalmente
para referir-se a tecnologia e as descobertas que estão sendo feitas, mas também
com relação às memórias afetivas de Kevin e aos sentimentos que são descobertos
ao longo da história.
Ao analisarmos as imagens do filme e colocá-las lado a lado com a análise
de Heller (2004), podemos inferir que os acordes cromáticos que mais se encaixam
com a trama e as cores empregadas nela, são a ciência, a inteligência e o
dinamismo.
82
Figura 37 - Acordes cromáticos de “inteligência”, “ciência” e “dinamismo”
Fonte: Heller (2004, n.p.)
Para que a análise do filme seja feita de uma forma mais completa,
escolhemos frames de partes diferentes do filme, visto que o azul, em seus mais
diversos tons é usado em abundância durante a produção.
A inteligência, o primeiro acorde cromático representado na figura 37,
mostra-se presente em diversas partes do enredo, visto que o filme trata de
tecnologia e novas descobertas.
Figura 38 – Tron: acorde cromático da “inteligência”
Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.
Acesso em: 08 out. 2017.
83
Podemos perceber através da figura 38 que, neste caso, a tecnologia se
apresenta através de diversas cores, devido ao acorde cromático, mas que todas
elas puxam sua matiz para o azul. Segundo os estudos de Heller (2004), o azul
desperta as emoções da serenidade e da harmonia e, se levarmos em conta os
momento em que estamos “exercitando” a nossa inteligência, na maior parte das
vezes, estamos em um ambiente calmo, onde podemos estar em harmonia com nós
mesmos e, assim, desenvolver um trabalho de qualidade. A serenidade é uma aliada
da inteligência e, por isso, podemos percebê-la através da análise do acorde
cromático de Heller (2004).
O segundo acorde cromático representado na figura 37 é a ciência e este é
muito parecido com o acorde da inteligência. Isto não acontece por acaso, pois
ambas estão intimamente ligadas. Para desenvolvermos a ciência, precisamos da
inteligência, faz parte do processo de concepção de novas realizações ou projetos
que haja um estudo por trás dele. Todo e qualquer desenvolvimento de projeto
requer o estudo dos passos, seja uma tarefa simples, como montar um móvel em
casa, ou uma tarefa mais complexa, como a estruturação do cenário de um filme,
por exemplo. Para que haja ciência, precisamos de inteligência.
Figura 39 – Tron: acorde cromático da “ciência”
Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.
Acesso em: 08 out. 2017.
84
A ciência também é uma parte fundamental do enredo do filme, pois as
personagens envolvidas trabalham com ela o tempo todo. Além disso, a história
apresentada só acontece porque Kevin, ainda no primeiro filme, inventa o portal que
dá acesso ao mundo virtual. Em sua invenção, o personagem se vale de leis da
física, de matemática e de outras ciências para desenvolver seu trabalho.
Como o intuito aqui é relacionar a ciência enquanto emoção, podemos dizer
que a mesma é uma espécie de emoção combinada, que ela se torna um resultado
de emoções que já conhecemos. Kevin sente amor, afeição, interesse, curiosidade
pela ciência em que trabalha. Ele se sente tão apegado em relação às suas
descobertas, acha tão fantástico o acesso à isso, que acaba transformando a ciência
em seu sentimento mais poderoso.
Seu filho, porém, sente aversão, inquietação e incômodo em relação à
mesma ciência que seu pai amava, pois ela foi a responsável por separá-los quando
ainda era pequeno. Com o desenrolar da história e com o contato que estabelece
com o pai, ao final da trama, entretanto, o menino descobre o prazer da ciência e até
mesmo assume o lugar do pai na empresa da família.
O último acorde cromático representado na figura 37 é o dinamismo. Este
acorde vem representando os momentos de ação do filme, as lutas, os embates, os
problemas enfrentados pelos personagens. É possível identificar este acorde,
principalmente, quando CLU e seu exército se apresentam.
85
Figura 40 - Acorde cromático de “dinamismo”
Fonte: Imagem elaborada pela autora através do site: <https://color.adobe.com/>.
Acesso em: 08 out. 2017.
A figura 40 foi composta com frames de diversos momentos do filme e, por
isso, mostra o acorde cromático do dinamismo de forma mais completa. No primeiro
frame escolhido, Sam está sendo encaminhado para a preparação antes de entrar
na arena de batalha. No segundo e terceiro frames, temos a primeira aparição de
CLU e o momento em que Sam se encontra com ele e, no último, o momento em
que o vilão dá as boas-vindas a seu exército. Os momentos descritos definem partes
muito importantes do longa-metragem.
Cada vez que vemos CLU e seus homens, podemos associá-los ao
dinamismo, pois ser dinâmico está relacionado a movimentar, a mudar uma situação
e é isso que estes personagens fazem.
Se relacionarmos o dinamismo que provêm de CLU e seu exército, teremos
diversos sentimentos ligados a eles e, isto faz com que este dinamismo acabe por
ser tornar uma emoção no contexto do filme. Analisemos os momento representados
na figura 40. Por exemplo, no primeiro frame Sam está indo para os jogos, portanto
a perturbação, a inquietação e o medo se fazem presentes, visto que ele não sabe
do que estes jogos se tratam.
86
O dinamismo enquanto emoção será sentido e nomeado através de outras
emoções e sentimentos, mas como faz Martins (2004), podemos uni-los e formar
emoções combinadas, emoções que nascem a partir da junção de outras emoções.
Na análise de Tron: o legado (2010), utilizamo-nos da estrutura montada por
Martins (2004), das proto-emoções que se transformam em emoções básicas e que
mais tarde se transformam em emoções combinadas e, sendo assim, através da
combinação de diversas classificações de emoções fomos capazes de nomear
novas emoções. Essas novas emoções, como o dinamismo e a ciência, são
formadas a partir de emoções comuns a todos os seres, mas adquirem um novo
nome e um significado especial devido ao contexto em que estão inseridos no filme.
Os profissionais que executaram a montagem dos cenários e figurinos do
filme em questão, fizeram uso de cores opostas nos diferentes momentos da
produção do longa-metragem. Percebe-se que nos momentos de quietude, de
tranquilidade do filme as cores são mais escuras e fechadas, porém nas lutas e
confrontos, as cores se abrem e se tornam mais claras e vibrantes, demonstrando
ação, movimento.
De acordo com Joly (1999, p. 48), “uma das funções da análise da imagem
pode ser a procura ou a verificação das causas do bom funcionamento, ou pelo
contrário, do mau funcionamento da mensagem visual” e, é exatamente este o
intuito de analisar o emprego da cor azul nestas obras cinematográficas, procurar e
verificar a utilização da mesma enquanto um meio de comunicação com o
espectador do filme, mas também avaliar o trabalho dos profissionais que estão
atrás das câmeras, nos bastidores, os que são responsáveis por cada aparição de
cada tom empregado em cada cena assistida.
87
88
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho tem como tema a relação das cores com o cinema
contemporâneo e a manifestação de emoções através das mesmas. O problema de
pesquisa proposto é: como as cores traduzem as emoções e apresentam
diferentes manifestações de sentimento no cinema contemporâneo? A fim de
solucionar este problema, utilizaremos os métodos de pesquisa bibliográfica e
análise de imagens fílmicas com base na semiótica das cores e sua relação com as
emoções.
A fim de melhor explorar os assuntos abordados e entender o quão profundos
e complexos os mesmo são, decidimos dividi-los em partes tratar deles em
diferentes esferas e correlações.
As cores são apresentadas no segundo capítulo para que pudéssemos
entender sua relação com o mundo em que vivemos e como estão intrínsecas aos
demais temas que viriam a ser abordados posteriormente.
As cores são elementos compositores de ambientes e objetos nos quais
encontram-se inseridas. Através delas, torna-se possível o envio de mensagens às
pessoas, pois cada uma está ligada à uma significação, à uma acepção dada,
geralmente, pelas antigas civilizações.
As antigas civilizações já tratavam as cores como um elemento repleto de
significados ocultos. Quanto mais rara e difícil de se obter fosse a cor, mais nobre
ela seria e, por consequência, maior seria a sua significação, pois haveria um
acréscimo no montante de signos atribuídos à mesma em relação à sua
singularidade
Ainda neste segundo capítulo, também abordamos o tema das emoções,
suas classificações e como as mesmas se apresentam, se formam e são
caracterizadas. Além disso, ainda trazemos a teoria semiótica para a discussão, com
o intuito de entendermos de que forma as cores e as emoções se entrelaçam e
influenciam na vida dos seres humanos.
A abordagem realizada, além de tratar dos conceitos e características de
ambos os temas, também fez menção às relações que foram estabelecidas entre
89
eles, fazendo com que nascesse a visão esperada para o desenvolvimento deste
trabalho, que se trata justamente da subjetividade gerada através da junção dos do
cinema com as cores e a análise dos mesmo através da teoria semiótica.
Tratamos no terceiro capítulo sobre o cinema contemporâneo e os
profissionais que se envolvem na produção de uma obra cinematográfica. A cor se
faz presente novamente, desta vez enquanto participante do fazer cinematográfico,
trazendo para o espectador novas percepções. Na visão dos profissionais,
explanamos sobre como cada um deles pode contribuir para com a obra através da
aplicação das cores em cena, trazendo um aperfeiçoamento para a obra, através,
por exemplo, do correto uso da correção de cores, utilizada para melhorar a
aparência do filme e enriquecer a obra como um todo.
O resultado obtido através da junção da cor com o cinema contemporâneo, é
um tipo de linguagem, pois comunica fatos, acontecimento e circunstâncias para o
espectador e, por isso, também foram abordadas, pois são importantes para a
compreensão do universo que faz parte da filmagem e da análise fílmica,
empregada por teóricos e estudiosos da área.
Para o último capítulo, elegemos os filmes a serem analisados: datados de
2010 até os dias de hoje. Queríamos um vasto leque de opções de obras
cinematográficas que pudéssemos analisar e entender como as cores se
manifestavam nelas. A fim de que o estudo ficasse mais aprofundado em
determinados pontos, escolhemos trabalhar com filmes que fizessem uso da cor azul
como uma das mais abrangentes em suas paletas de cores.
A escolha do azul se caracterizou porque o mesmo é uma cor muito
abrangente, apesar de, na maioria das vezes, ser reconhecido apenas como a cor
do distanciamento e da frieza. Esta cor possui um vasto campo de atuações e é
muito versátil. Através dos acordes cromáticos desenvolvidos por Heller (2004),
fomos capazes de contemplar o quão ampla é a gama de sentimentos que se
associam à cor azul.
Pretendíamos através deste estudo compreender o que é a cor e como ela se
manifesta através da semiótica e, através do método de pesquisa aplicado, fomos
90
capazes de desenvolver uma pesquisa que fosse capaz de explanar de qual
maneira este fenômeno ocorre.
Além disso, também buscávamos entender como as cores traduzem as
emoções dos personagens nos filmes e como os profissionais que estão envolvidos
na produção cinematográfica ajudam a ambientar este cenário. Sendo assim,
através da análise de textos e teses fomos capazes de fundamentar a manifestação
efetiva da emoção nos filmes, através da análise do exercício de cada atividade.
Com a realização deste estudo, fomos capazes de entender a complexidade
que envolve a manifestação de emoções através das cores e como isto ocorre
durante uma obra cinematográfica. Aprendemos que existem diversos vieses que
podem ser analisados durante o desenvolvimento da pesquisa e que estes vieses
direcionam o estudo para novas descobertas e aprendizados.
Através das experiências e vivências que aconteceram durante o processo de
escrita deste trabalho, fomos capazes de perceber que existe muito a ser descoberto
no campo das cores, da semiótica e das emoções e que quando trabalhamos os três
temas juntos, o assunto torna-se muito fascinante e complexo e que muitas
pesquisas ainda podem ser feitas nas áreas que abrangem. São temas muito
importantes e complexos e abrangem diversos vieses e possibilidades de pesquisa
e, portanto se tornam de muita relevância para a área da Publicidade e Propaganda,
visto que, traz um novo olhar sobre as diferentes significações acerca de uma única
cor.
91
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95
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<http://www.tate.org.uk/whats-on/tate-modern/display/derek-jarman-blue>. Acesso em: 06 out. 2017.
96
FILMOGRAFIA
A CHEGADA de um Trem à Estação. Direção de Auguste Lumière; Louis Lumière.
Paria: Cinématographe Lumière, 1895. P&B.
A LIBERDADE é Azul. Direção de Krzystof Kieslowski. Produção de Marin Karmitz.
Roteiro: Agnieszka Holland; Edward Zebrowski; Krzysztof Piesiewicz; Slawomir Idziak; Krzysztof Kieslowski. Paris, 1993. (98 min.), DVD. Série A Trilogia das Cores.
AZUL É A COR MAIS QUENTE. Direção de Abdellatif Kechiche. Paris: Quat'sous Films, 2013.
BLUE. Direção de Derek Jarman. Londres: Derek Jarman, 1993.
CINDERELLA. Direção de Georges Mèliés. Paris: Méliès's Star Film Company, 1899. (6 min.).
LA LA LAND. Direção de Damien Chazelle. Los Angeles: Summit Entertainment, 2016.
MOONLIGHT: sob a luz do luar. Direção de Barry Jenkins. Miami: A24, 2016.
O ANJO AZUL. Direção de Josef von Sternberg. Berlim: Universum Film AG, 1930. P&B.
O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN. Direção de Jean-Pierre Jeunet. Paris: Lumière, 2001.
O GRANDE HOTEL BUDAPESTE. Direção de Wes Anderson. Görlitz: TSG Entertainment, 2014.
O REGRESSO. Direção de Alejandro Iñarritu. Ushuaia: New Regency Pictures, 2015.
TRON: o legado. Direção de Joseph Kosinski. Burbank: Walt Disney Studios, 2010.
TRON: uma odisseia tecnológica. Direção de Steven Lisberger. Burbank: Walt Disney Studios, 1982.
97
Anexo A – Projeto – Monografia I
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
ALINE VANIN
ESTUDO EM AZUL:
COR E SIGNIFICAÇÕES NO CINEMA CONTEMPORÂNEO
Caxias do Sul
2017
98
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA
ALINE VANIN
ESTUDO EM AZUL:
COR E SIGNIFICAÇÕES NO CINEMA CONTEMPORÂNEO
Projeto de Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia I Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Ivana Almeida
da Silva
Caxias do Sul 2017
99
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 04
1.1 PALAVRAS-CHAVE ................................................................................................... 05 2 TEMA ................................................................................................................................ 06
2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ......................................................................................... 06 3 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 07
4 QUESTÃO NORTEADORA ......................................................................................... 09
5. OBJETIVOS ................................................................................................................... 10
5.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 10
5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 10 6. METODOLOGIA ............................................................................................................ 11
7. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 13
7.1 COR ................................................................................................................................ 13 7.2 CINEMA CONTEMPORÂNEO................................................................................... 16 7.3 DIREÇÃO DE ARTE .................................................................................................... 19
7.4 EMOÇÃO ...................................................................................................................... 21 7.5 SIGNIFICAÇÃO ................................................................................................ 24 8. ROTEIRO DOS CAPÍTULOS ...................................................................................... 26
9. CRONOGRAMA ............................................................................................................ 27
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 28
100
1 INTRODUÇÃO
Há muito se conhece a importância da cor nos diversos aspectos da vida do
ser humano. Por estarem presentes em tudo o que nos cerca, a cor faz parte da
existência dos seres humanos. Roupas, ambientes, alimentação e natureza são
alguns dos meios pelos quais a cor se introduz em nossas vidas.
As cores começaram a serem utilizadas há milhares de anos atrás
inicialmente com o intuito de representar a caça. As pinturas rupestres são a prova
disso. Grandes filósofos, como Aristóteles, pintores, como da Vinci e físicos, como
Isaac Newton, foram alguns dos responsáveis pelas teorias e conceitos mais antigos
acerca das cores.
O Dicionário Houaiss, define a cor como:
s.f. propriedade de radiação eletromagnética, com o comprimento de
onda pertencente ao espectro visível, capaz de produzir no olho uma
sensação característica [outras sensações fisiológicas podem
resultar na mesma sensação.] [...] (HOUAISS, 2009, p. 833).
Como é possível é perceber nessa definição do Dicionário Houaiss, a cor
pode, sim, provocar sensações fisiológicas, desencadeando emoções, sentidas pelo
espectador ao ser apresentado à ela.
A cor está inserida em nossa vida de diversas formas e uma delas é no
cinema. O cinema foi uma grande revolução em termos comunicacionais, no início
mudo e preto e branco, mas com os grandes avanços tecnológicos e com o decorrer
dos anos, tornou-se colorido.
O cinema é uma peça de interação entre a tela e as pessoas, diferentemente
da fotografia que é estática, segundo Metz (1977, p 19), “há uma constante
interação entre os dois fatores: uma reprodução bastante convincente desencadeia
no espectador fenômenos de participação – participação ao mesmo tempo afetiva e
perceptiva”, e é esta participação perceptiva que nos importa no momento.
A fotografia engaja o observador, mas é o movimento do cinema que o
prende ao filme, que o liga à sensação de realidade. Como pode-se explicar esta
necessidade de movimento? É Metz (1977, p 20) que nos dá a definição novamente:
“em relação a fotografia, o cinema nos traz portanto um índice de realidade
suplementar (já que os espetáculos da vida real são móveis)”, ou seja, nos
101
prendemos aos encantos do cinema porque seu movimento imprime realidade, algo
que a fotografia, por exemplo, não faz.
Ainda dentro da participação perceptiva, temos a presença das cores no
cinema. E a presença das mesmas nos causa uma percepção ainda maior. Sabe-se
que em muitos filmes as cores são usadas como elementos de cena. Muitas vezes é
através das cores que se percebe um sentido do filme, uma intenção, algo que a
narração explícita não indicou, uma emoção apresentada por um personagem.
A presença das cores no cinema pode ser observada e estudada através dos
estudos de significação e, dentre estes, pelo viés semiótico. A semiótica, segundo
as palavras de Lúcia Santaella (2003, p. 1) “[...] é a ciência geral de todas as
linguagens”, no caso deste estudo, a linguagem a ser analisada através desta
ciência é a das cores no cinema. Pois, ainda segundo Santaella (2003, p. 2), “existe
um linguagem verbal, linguagem de sons que veiculam conceitos [...], mas existe
simultaneamente uma enorme variedade de outras linguagens que também se
constituem em sistemas sociais e históricos de representação do mundo.” Ou seja,
todas as cores utilizadas em uma cena são propositalmente lá colocadas. São
pensadas, estudadas e esquematizadas através de uma paleta de cores.
A paleta de cores consiste em uma tabela onde são especificadas as cores a
serem usadas durante o projeto, ela é formada pela indexação das cores em índices
e associadas aos pixels presentes na tela, formando então um sistema de
apresentação das cores que podem ser vistas na tela. A paleta é seguida durante o
filme todo e todas as cores contidas nela tem um motivo para estar ali. A paleta de
cores e seu uso são pensados por um “setor” muito importante do cinema: a direção
de arte.
O que quer-se saber aqui, é como se dá a manifestação da emoção a partir
da cor em um filme? Para responder a este questionamento deve-se considerar o
trabalho de composição de cena, visto que, a cenografia, o figurinista, a música, a
iluminação e muitos outros aspectos, são responsáveis pela montagem do ambiente
onde acontece a cena e de como o espectador olhará para a composição em busca
de significações.
1.1 Palavras-Chave
Cor, cinema contemporâneo, direção de arte, emoção, significação.
102
2 TEMA
A presença da cor no cinema.
2.1 Delimitação do tema
A cor está presente em todas as esferas da vida humana. Nos vemos
cercados por ela o tempo inteiro e no cinema não poderia ser diferente. Os filmes
contemporâneos são meios pelos quais as cores são levadas até as pessoas e este
meio a utiliza de uma forma especial. A significação das cores é este meio e o
cinema vale-se dele para transmitir aos espectadores um determinado sentimento.
103
3 JUSTIFICATIVA
Trabalhos sobre cores não são exatamente uma novidade, visto que, há muito
este é um tema recorrente e importante. As cores são fundamentais em nosso dia a
dia, pois estão presentes em tudo o que nos cerca. Uma das formas mais comuns
de estuda-las é a semiótica. Os estudos semióticos consistem na análise dos signos,
como por exemplo, do significado que determinada cor tem para pessoas de
diferentes culturas, países, religiões.
Com base na disciplina Teorias da Comunicação II, hoje Estudos de
Significação, do curso de Comunicação Social – habilitação em Publicidade e
Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, esta aluna tomou conhecimento
sobre signos e significados, sobre significação das cores e semiótica segundo a
visão de diversos autores, como Roland Barthes, Umberto Eco e Charles Sanders
Peirce. A experiência foi tão enriquecedora e causou tanta fascinação pela área que
ela decidiu então trabalhar com a semiótica das cores neste trabalho.
A direção de arte engloba a concepção visual de toda uma produção,
inclusive a cenografia, o figurino, a maquiagem, os adereços e todas as demais
necessidades para a montagem de cenários e personagens. São estes profissionais
que “escolhem” o que colocar ou não em uma cena, e é através deles que as cores
traduzem para as pessoas as emoções dos filmes. Por exemplo, se no filme A
Liberdade é Azul, não existisse o móbile, um dos detalhes mais marcantes, a
produção possivelmente não seria a mesma. O trabalho destes profissionais é um
dos mais importantes e decisivos na montagem, produção e aperfeiçoamento do
filme, quando considerado o campo semiótico e a intenção de dar significado as
cenas que estão sendo idealizadas.
Foram vários os locais pesquisados em busca de trabalhos já produzidos
sobre o tema da semiótica das cores no cinema, com foco principalmente no
trabalho da direção de arte.
A Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD1, um banco de dados
com pesquisas científicas brasileiras, traz apenas para os últimos cinco anos, 6820
teses e dissertações como resultados para a pesquisa do termo “cor”. Teses e
dissertações com os mais variados assuntos, tais como as cores nas cidades e
como elas afetam os seres humanos, a semiótica discursiva e sua ligação com a
neurobiologia visual, como as cores influem na seleção visual. São resultados ainda
104
mais interessantes quando se analisam as áreas de aplicação dessas pesquisas:
engenharia, odontologia, arquitetura, publicidade e muitos outros. Muitos dos
resultados obtidos não referem-se a cor com a mesma designação adotada neste
trabalho, em muitos casos “cor” significa raça, parâmetro para experimento químico
e outras aplicações.
Para o termo “cinema” o resultado da busca é consideravelmente grande:
1440 teses e dissertações sobre o assunto. São diversos os campos de pesquisa, as
análises de filmes são muito recorrentes, assim como análises do trabalho de um
diretor específico e de gêneros específicos, como o cinema noir, por exemplo.
Já para o termo “direção de arte” quando o conceito da semiótica aplicado a
significação de cor é levado em conta, obtêm-se como resultado apenas três
dissertações que se encaixam aqui.
Pesquisando nos registros da Universidade de Caxias do Sul, encontrados no
site do Centro de Ciências Sociais, ao qual o curso de Publicidade e Propaganda é
pertencente, os resultados são muito poucos. No Portal Frispit2, são colocados à
disposição monografias e trabalhos de conclusão de curso desde o ano de 2008.
Para os termos “cor” e “cinema”, são encontrados apenas dois resultados, e apenas
um deles remete ao campo semiótico. Já para “direção de arte”, nenhum resultado é
encontrado.
As cores estão presentes em tudo o que nos cerca e na publicidade isso não
poderia ser diferente. Uma das maiores preocupações é o balanceamento das
cores, visto que, é preciso ajustá-las ao que estamos produzindo. Este é um dos
campos fundamentais e mais fascinantes da publicidade. Como saber qual cor usar
em determinada peça se o intuito é passar determinada emoção? A resposta é:
através da semiótica. Este um pilar fundamental da criação publicitária e é
extremamente importante que os estudantes o conheçam e o valorizem, para que
possam usufruir do mesmo com sabedoria, visto que quando se trata de cores e
emoções, a publicidade é uma das áreas que mais faz uso das mesmas juntas.
_____________________
26 Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia: Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações. Disponível em: <http://bdtd.ibict.br/vufind/>. Acesso em: 14 abr. 2017.
105
4 QUESTÃO NORTEADORA
Como as cores traduzem as emoções e apresentam diferentes manifestações de
sentimento no cinema contemporâneo?
106
5 OBJETIVOS
5.1 Objetivo geral
Entender como a as cores se manifestam e fornecem as emoções de um filme
através da análise da composição do ambiente fílmico, ou seja, através da análise
da música, do enquadramento, dos objetos colocados na cena, das roupas dos
personagens, dentre diversos outros aspectos.
5.2 Objetivos específicos
Compreender o que é a cor e como ela se manifesta através da semiótica;
Entender como as cores traduzem as emoções dos personagens nos filmes e
como a iluminação, os enquadramentos, a música podem ajudar neste
momento;
Assimilar o que é o trabalho da direção de arte e o quanto ele é fundamental
para a manifestação efetiva da emoção nos filmes, além de entender o
trabalho do colorista e do sonoplasta na pós-produção;
Analisar filmes contemporâneos afim de entender a real influência das cores e
sua relação com a tradução das emoções nos mesmos.
107
6 METODOLOGIA
Para a definição da metodologia adotada para o desenvolvimento desta
pesquisa, nos valemos de diversos métodos.
Durante o aprofundamento dos estudo, muitos livros são utilizados e, é
através da análise deles que se obtém base científica para o desenvolvimento deste
estudo. Segundo Marconi; Lakatos (2009, p.23) “analisar é, portanto, decompor um
todo em suas partes [...] indicar os tipos de relações existentes entre as ideias
expostas” e é exatamente o que fazemos durante a leitura dos livros, buscamos
analisar os textos e extrair dos mesmos os seus significados e conclusões sobre os
assuntos abordados.
A pesquisa bibliográfica é fundamental neste projeto. Através dela
identificamos informações e apuramos fatos de importante relevância para o
decorrer do estudo. Conforme Marconi; Lakatos (2009, p. 43), “toda pesquisa implica
o levantamento de dados de variadas fontes” e, por este motivo é que foram
incluídos diferentes estudiosos para cada um dos tópicos da pesquisa bibliográfica
do presente estudo. A averiguação feita através desta pesquisa resulta em relatos e
pareceres de consagrados autores que auxiliam no teor e na relevância do conteúdo
incluído na análise a ser desenvolvida e de acordo com Marconi; Lakatos (2009, p.
44), “a pesquisa bibliográfica pode, portanto, ser considerada também como o
primeiro passo de toda a pesquisa científica”.
A internet também é usada como um método de busca para o
desenvolvimento desta pesquisa. A mesma é atualmente o maior e mais acessível
meio de se obter informações e oferece todos os tipos de conteúdo com grande
facilidade de acesso, para se ter ideia de quão importante ela é, a Universidade de
Washington desenvolveu uma disciplina para estudar o fenômeno dos mecanismos
de busca enquanto fenômeno cultural (DUARTE; BARROS, 2005, p.146-147). Esta
ferramenta pode ser utilizada para consulta de sites de busca de diversos tipos, tais
como de teses e dissertações que muito ajudam a perceber a importância da
pesquisa a ser desenvolvida em relação ao tema abordado.
Segundo Duarte; Barros (2005, p. 203) estudarmos “semioticamente um
objeto de pesquisa significa relacioná-lo com o maior e mais significativo número e
natureza de possibilidades que ele comporta, buscando compreendê-lo em
movimento, dinâmico e operante”, ou seja, buscamos atribuir signos, significados e
significantes a este objeto e entender de que forma ele se comporta.
108
A análise da imagem fílmica é outro dos meios de pesquisa para a elaboração
deste projeto, pois é através dela que se complementam as investigações do uso da
cor como símbolo dentro de uma cena. A importância da análise de uma imagem
pode ser percebida pela grande importância que as mesmas representam nos
registros visuais da vida dos seres humanos, da vida em sociedade, das origens e
de diversos outros aspectos. Mais uma vez, segundo Duarte e Barros (2005, p. 330)
“[...] em linhas gerais, poderíamos dizer que a análise de imagens seria uma espécie
de faculdade “natural” de todo ser humano, uma de suas formas de comunicação
com o outro, a sociedade”, ou seja, analisar o que se vê é tão espontâneo para o ser
humano que acabou por se tornar comum, é como respirar, é involuntário.
Porém a analise a ser utilizada se aprofunda um pouco mais e busca ir mais a
fundo no quesito semiótico, afim de entender como as cores no cinema passaram a
ser utilizadas para fazer com que o espectador entenda um sentido, um fundamento
ou uma razão. Para a realização desta análise, elegemos filmes que trabalham a cor
azul em suas paletas de cores.
Esta análise é feita através do método semiótico e os filmes analisados se
referem especificamente aos elaborados com paletas de cores em tons de azul.
Procuraremos trabalhar com filmes contemporâneos, de forma que possamos
perceber como a cor azul é usada para transmitir um sentimento no filme. O intuito
de trabalhar com esta cor também se dá pelo motivo de que encontramos diversos
filmes, em diferentes gêneros, com paletas trabalhadas com o azul e queremos as
variações de emoção, em busca do tom emocional que esta cor transmite.
109
7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
7.1 COR
Quando pensamos em cor, existem diversos vieses possíveis de serem
explorados, um deles é sua formação no cérebro humano. Um raio de luz branca
atravessa nossos olhos e “atinge” nosso cérebro, dando origem então a um
cromatismo intenso no qual vivemos mergulhados. Diz Farina (1990, p.21) que é
“uma sensação visual que nos oferece a natureza através dos raios de luz irradiados
em nosso planeta”.
Estamos cercados de cores por todos os lados, no céu, no mar, na decoração
das casas, nos alimentos que consumidos, em tudo o que nos cerca. Passamos a
perceber as cores do momento em que nascemos até nossa morte. Não é possível
passar pelo mundo sem constatar a importância e a presença das mesmas. Como
afirma Guimarães (2004. p. 7), “podemos depreender de forma corrente que
compreendemos a cor como propriedade ou qualidade natural dos objetos”, a cor já
é vista como sendo parte do que vemos e não uma produção de nosso cérebro.
Pedrosa (2002, p. 17), afirma que “a cor não tem existência material: é
apenas sensação produzida por certas organizações nervosas sob a ação da luz”,
esta afirmação está correta, no entanto, as cores começaram a ser usadas ainda
nos primórdios da humanidade e há mais ou menos 100 anos atrás com a
intensidade com que se faz hoje, segundo Farina (1990), e estão tão introduzidas
em nosso meio que não somos capazes de perceber que são mesmo imateriais e
separá-las de nosso convívio.
No início dos tempos, as cores existentes eram os pigmentos fornecidos pela
natureza e eram utilizados principalmente para a montagem dos planos de caça
através das pinturas rupestres, que ainda hoje são encontradas nas cavernas. A
influência cromática encontrada no mundo varia de cultura para cultura. Cada povo,
país, religião se identifica e trabalha com as cores de uma forma diferente.
Cada cor atua de modo diferente, dependendo da ocasião. O mesmo vermelho pode ter efeito erótico ou brutal, nobre ou vulgar. O mesmo verde pode atuar de modo salutar ou venenoso, ou ainda calmante. O amarelo pode ter um efeito caloroso ou irritante. Em que consiste o efeito especial? Nenhuma cor está ali sozinha, está sempre cercada de outras cores. A cada efeito intervêm várias cores – um acorde cromático (HELLER, 2012, p. 17).
110
Heller (2012), com esta definição, explica que as cores podem ser encaradas
de diversas formas, cada qual com sua particularidade. Pode-se citar nesta linha o
filme Azul é a Cor Mais Quente, de 2013, que trata a cor azul, considerada a mais
fria dentre todas exatamente como seu oposto.
Figura 1 – Pôster do filme Azul é a Cor Mais Quente
Fonte: Disponível em: http://www.imdb.com/title/tt2278871/mediaviewer/rm3122082560.
Acesso em 20 jun. 2017.
Estas diferentes visões e convenções sobre as cores, fazem com que
pensemos sobre e ponderemos como elas estão infiltradas em nossa vida e como
somos incapazes de tirá-las ou separá-las de nossa existência.
Por muitos anos, as cores foram usadas para a caça, com o desenvolvimento
da humanidade e a influência do homem, elas passaram a ser usadas para milhares
de fins, TV, cinema, tecidos, tintas, papeis de parede e um dos mais curiosos, é a
chamada cromoterapia. Esta técnica se vale do estudo psicológico das cores e como
elas influenciam as pessoas nas mais diversas áreas da vida. Cada cor possui
diferentes significados, como por exemplo, o vermelho é instigante, o verde
representa a vivacidade (principalmente das plantas) e o amarelo é uma cor alegre e
cheia de particulares.
111
O significado das cores é muito presente nos ambientes hospitalares, nas
decorações de casas, nos museus e as pessoas conhecedoras do assunto também
usam este tipo de estudo para vestirem-se, é o caso de Eneida Duarte Gaspar,
estudiosa da cromoterapia e autora de um livro sobre o assunto.
A técnica e o estudo da psicologia das cores e dos significados das mesmas é
muito usada no cinema devido a sua real e grande influência e importância.
A cor é a forma mais imediata de comunicação não verbal. É natural que tenhamos reações a ela: evoluímos com certa compreensão das cores [...]. A cor é usada para representar pensamentos e emoções de uma forma que nenhum outro elemento do design consegue, e pode chamar a atenção de modo instantâneo no papel, na tela ou na prateleira do supermercado (AMBROSE, 2009, p. 6).
O cinema, mais do que qualquer outro meio, usa das características da
psicologia das cores para trabalhar cenários e personagens. É desta forma que são
compostos os filmes, para que os espectadores sejam impactados e marcados até
mesmo pelo uso cromático escolhido para a montagem de uma cena.
112
7.2 CINEMA E AS CORES
Os irmãos Lumierè, ao criarem o cinematógrafo no final do século XIX,
provavelmente não tinham ideia, mas estavam revolucionando de uma maneira
grandiosa a comunicação de massa para todo o sempre.
No início do século XX, apenas as pinturas e os museus eram aceitos, pois
possuíam fama de cultos por serem programas da aristocracia da época. O cinema
infelizmente demorou alguns anos para derrubar este estereótipo e não foi aceito de
imediato, pois segundo Ferro (2010, p. 9) “tudo o que possuía a imagem era uma
legitimidade contestada [...] e apenas a sua alta aristocracia [...] podia adentrar as
portas do mundo da cultura ou poder”.
A indústria cinematográfica demorou algum tempo para desenvolver técnicas
sofisticadas o suficiente para que um filme fosse colorido ou mesmo que tivesse o
som das falas. Durante a época do cinema mudo, os filmes eram acompanhados
apenas por uma canção ao fundo e muito perguntou-se o porquê disto, visto que
geralmente, ela não tinha relação concreta com as cenas que estavam sendo
apresentadas. A resposta, segundo Rosenfeld (2002, p. 123), é simples “alega-se,
por exemplo, que a música, no início, não veio satisfazer um impulso artístico, mas a
simples necessidade de encobrir os ruídos do projetor”. Esta é uma curiosidade que
faz com que percebamos como os tempos antigos do cinema eram difíceis.
Para chegar a era do cinema colorido, muito penou-se. No entanto, os
cineastas de época sempre buscaram inserir a cor em suas produções, tanto que
existem muitas películas antigas que eram pintadas a mão para dar a ideia da cor.
Cinderella, de 1899, um curta-metragem francês de apenas cinco minutos, é um dos
exemplos de películas coloridas manualmente. Vida e Paixão de Jesus Cristo, de
1903, é um dos mais conhecidos filmes de películas manualmente pintadas já
produzidos.
113
Figura 2 – Exemplo de película pintada manualmente
Fonte: <http://cinemaclassico.com/filmes/vida-e-paixao-de-jesus-cristo-1903/>. Acesso em:
21 jun. 2017.
O cinema já tentava ser colorido desde a época em que era preto e branco,
por isso as películas eram pintadas. Porém, a alguns anos, alguns diretores
decidiram investir novamente no chamado cinema P&B. Neste sentido, podemos
nos valer da fala de May (1967, p. 116) de que “a realidade cromática é percebida
por nós no quotidiano de modo inteiramente passivo e obedecendo a um
automatismo psicológico elementar” e pensando desta forma é possível que
entendamos o porquê da grande surpresa quando, em pleno século XXI, um filme
em preto e branco seja lançado.
O cinema, como já mencionado, é um meio de comunicação de massa e por
isso é um importantíssimo meio de dispersão de ideias, impressões e um grande
“registrador” de acontecimentos. A história e o cinema são muito próximos, pois,
segundo Ferro apud Costa (1989, p. 30), ele é capaz de pôr “em evidência, com
grande clareza, de que forma o cinema pode ser visto como fonte, ou seja, como
fator de documentação histórica [...] e como agente da história, ou seja, como
elemento que entra de modo ativo em processor históricos”, sendo assim, os filmes
podem ser considerados grandes registros da evolução do homem, do tempo e de
acontecimentos em geral.
Existem muitos estúdios e produtoras de cinema em todo o mundo. O cinema
hollywoodiano, por exemplo, é uma indústria gigantesca que produz centenas de
filmes por ano. Os filmes produzidos além de serem fonte e agente históricos,
engajam uma grande equipe de produção e requerem uma enorme estrutura de
114
produção. Mas o que mais chama atenção nestas produções é o quão encantadoras
elas são e os artefatos de comunicação de que fazem uso.
Figura 3 – Pôsteres de cinema contemporâneo
Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com>.
Acesso em: 21 jun. 2017.
Ao observarmos os três pôsteres acima, podemos constatar o quão
importante é a pré-produção do filme, a escolha das cores e a ambientação das
cenas. O cinema é um meio de comunicação de massa e por isso trabalha de
diversas formas a comunicação com o público. Os textos e a ambientação de uma
cena apresentados nos filmes podem variar de significado para cada espectador
presente em frente a tela, segundo Turner (1997, p. 122) “o significado do filme não
é simplesmente uma propriedade de seu arranjo específico de elementos; seu
significado é produzido em relação a um público” e por isso, podemos incluir nesta
linha de raciocínio que a direção de arte de um filme é uma das áreas mais
importantes da construção do mesmo.
As técnicas avançadas e a tecnologia que se encontra ao alcance de um
clique são fatores que contribuem muito com o cinema atual, fazendo dele uma
indústria ainda mais atrativa e lucrativa. Estas tecnologias e o trabalho da pré e pós-
produção alinhados fazem dos filmes contemporâneos grandiosas fenômenos da
atualidade.
115
7.3 DIREÇÃO DE ARTE
A direção de arte é o campo da comunicação visual que se relaciona
diretamente com o aspecto visual do que se produz.
O termo “direção de arte” é geralmente usado para descrever o processo de organização e direção dos elementos visuais de qualquer tipo de elemento para meios de comunicação, seja ele um filme, um programa de televisão, uma instalação digital, um comercial ou um anúncio impresso. Nesse sentido, a direção de arte é uma atividade que possui uma ampla aplicação no leque de atividades relacionadas com a comunicação visual (MAHON, 2010, p. 11).
A direção de arte é uma das mais importantes partes para a construção de
um filme. E é dentro dela que encontramos todo o mundo da cenografia, da
construção da maquiagem e dos itens do figurino, além de seu trabalho conjunto
com itens de diversas partes da composição do filme, tais como a sonoplastia, o
enquadramento das cenas e o tratamento das imagens na pós-produção.
Basicamente, é nesta área em que é construída a realidade e o contexto de um filme
para que, posteriormente, ele seja moldado através de múltiplas técnicas ao que se
quer mostrar.
Rodrigues (2007, p. 80) descreve o diretor de arte da seguinte forma:
“[profissional que] trabalha diretamente com o desenhista de produção executando
suas instruções, tais como desenho e ambientação de cenários e supervisão de sua
execução junto ao cenógrafo”, porém podemos acrescentar a esta definição uma
das mais importantes partes do trabalho do diretor de arte, juntamente com sua
equipe e o diretor do filme: a criação da paleta de cores.
Através da paleta de cores do filme é que se escolhe quais tipos de objetos,
roupas, maquiagens irão entrar em cena com os atores. São muito comuns
exemplos de filmes que adotaram uma cor específica para sua paleta e foram
acrescentando variações de tom nas cenas conforme necessário.
A escolha da paleta de cores, geralmente, é feita em conjunto pelos
profissionais envolvidos na produção do filme, mas Fraser (2012, p. 118)
complementa explicando que “o diretor (e, as vezes, o roteirista) normalmente
decidirá e controlará o que é comunicado pela cor, embora os efeitos [passados por
esta determinada cor] sejam controlados pelo diretor de arte e pelo diretor de
fotografia”. É importante complementar que todos os objetos colocados em uma
cena são devidamente pensador para ali estar, nada aparece por acaso.
116
Martin, em A Linguagem Cinematográfica (2005), trata do que ele chama de
“Elementos Fílmicos Não-específicos”: a iluminação, os cenários, a cor, a “tela larga”
e o desempenho dos atores. Durante as muitas páginas nas quais discorre sobre
todos estes assuntos, cita a importância dos mesmos para a estética do filme e para
a percepção dos espectadores para o que é proposto nas cenas. O estudo, a
elaboração e a concepção da montagem e funcionamento destes importantíssimos
pontos do universo fílmico fazem parte do trabalho da direção de arte.
Pensemos agora na direção de arte como fundamentadora da criação de
símbolos e signos. Através do trabalho do diretor de arte e sua equipe, são
instituídos os elementos que participarão de cena e, estes objetos vêm a tornar-se
marcantes em muitos casos, e sendo assim é possível citar Chklovski (1917, p. 40)
que institui que “a arte é antes de tudo criadora de símbolos". Por exemplo, em A
Liberdade é Azul (1993), o pirulito que Julie encontra na bolsa e o móbile que
aparece em diversas cenas são dois componentes de extrema importância para a
estética do filme e são ambos instituídos pelo trabalho da direção de arte, através do
estudo do que as determinadas cenas desejam transmitir.
Figura 4 – Elementos chave
Fonte: Imagem elaborada através de imagens disponíveis em: <http://www.imdb.com>.
Acesso em: 21 jun. 2017.
Quando se trata de direção de arte, é muito importante citar que este
segmento do trabalho de preconcepção de um filme é imprescindível para a inserção
e apresentação do que chamamos de tom emocional, ou seja, da transmissão dos
sentimentos de um personagem através do que uma determinada cena inclui. Martin
(2005, p. 73), refere-se a ambientação e as escolhas da direção de arte para cenário
e iluminação em A Noite de São Silvestre (1923), de um exemplo de filme com “um
117
notável êxito de criação de ambiência” e é exatamente este termo e seus
semelhantes ou derivados que nos interessam.
118
7.4 EMOÇÃO
Em A Lógica das Emoções (2004, p. 23-25), José Maria Martins esclarece-
nos as diferentes visões acerca das emoções, que no início dos estudo foram vistas
de formas negativas e encaradas com desconfiança por pesquisadores. Nos últimos
cem anos, as emoções passaram a ser estudadas em diferentes vertentes, campos
e níveis da sociedade e podem ser descritas como um estado de espírito, uma
experiência subjetiva do ser humano, um fenômeno complexo que envolve reações
corporais e sofre influências culturais.
A emoção que aqui queremos tratar, fala especificamente da experiência de
excitação mental que pode-se perceber em uma pessoa. Não é necessário que
“emoção” seja a palavra utilizada para demonstrar o sentido que buscamos, existem
diversas outras expressões que denotam o mesmo sentido que queremos
demonstrar.
Em A Linguagem Cinematográfica (2005, p. 71), Michel Martin, ao falar da
iluminação utilizada nos filmes, diz que “a sua importância [da iluminação] é
desconhecida e o seu papel não se impõe diretamente aos olhos do espectador
inexperiente porque contribuem sobretudo para criar a <<atmosfera>>”. É através
desta fala de Martin que podemos entender a visão e o sentido de emoção que
abordaremos aqui.
Ao falar de emoção, podemos ligá-la diretamente ao que queremos que o
espectador de um filme perceba, por exemplo. Geralmente, nestes casos, os
responsáveis por alcançar esta difícil meta são o diretor geral do filme e a equipe de
direção de arte.
Gérard Betton, em A Estética do Cinema (1987, p. 91), fala do insucesso do
filme A Cidade das Mulheres, de Federico Fellini, datado de 1980. O autor diz que
“[...] o inconsciente do espectador não reagiu ao inconsciente do diretor, não houve
acordo, eco, ressonância [...]” e por isso o filme não foi bem aceito, o público não
“comprou” o que o diretor e sua equipe quiseram passar e é nisso que o conceito de
emoção buscado aqui se baseia, é que a emoção do diretor e do espectador
possam se conectar, que o espectador seja capaz de “comprar” a ideia do diretor.
O que queremos dizer ao falar de emoção é justamente o que o público, o
espectador, leva para si do que acabou de assistir. É o sentido que ele tira da
música que escutou ou da peça ou cena ou filme a que assistiu. Desse modo,
119
podemos colocar o pensamento de Rudolf Arnheim, (citado por AUMONT et
al.,1995, p. 226) que diz que “nossa visão absolutamente não se reduz a uma
questão de estímulo da retina, é um fenômeno mental que implica todo um campo
de percepções, de associações [...]” e que nos faz absorver um mundo bem mais
complexo e farto.
Ao falar do sentido de uma cena, é muito difícil deixar de pensar diretamente
nas cores, pois elas são grandes aliadas para a transmissão da emoção requerida
pelo emissor do mesmo. Fraser (2012, p. 22) exemplifica que “existem certos
significados “naturais” da cor que nos afetam independentemente do
condicionamento social ou cultural” e sendo assim, mesmo que não percebamos, as
cores afetam nossa vida e a maneira como vemos determinadas situações.
As cores atuam sobre a emotividade dos seres humanos, e afetam nossa
realidade de formas expressivas. Geralmente classificadas em quentes ou frias, elas
conduzem as reações das pessoas e os fazem reagir a ela. Pode-se novamente
citar o cinema como exemplo, pois filmes como os dramas trabalham com paletas de
cores voltadas para as cores frias – tons azulados ou acinzentados, enquanto que
os filmes de ação, trabalham paletas de cores quentes – cores vivas e brilhantes
como o vermelho e o laranja. Farina (1990, p. 107), ao falar de como as cores
atuam sobre o sistema nervoso e neurovegetativo das pessoas diz que “todas as
experiências comprovam a validade do uso da cor na terapia ou a importância de
não usar determinadas cores quando se deseja evitar certos efeitos psíquicos ou
fisiológicos”.
É muito interessante pensar nas associações simbólicas que cada cor
apresenta. Existem muito mais sentimentos do que cores no mundo, mas todo
sentimento está relacionado a uma cor: podemos ficar “verdes de fome” e “roxos de
raiva”, por exemplo.
Em uma pesquisa realizada por Eva Heller, para escrever A Psicologia das
Cores (2004), ela entrevistou duas mil pessoas e fez perguntas como “qual sua cor
favorita?”, “qual a cor que você menos gosta?” e “que impressões essa cor lhe
causa e com qual sentimento você a associa?”. Não foi uma surpresa para Heller
(2004), ao final da pesquisa, constatar que as cores e os sentimentos citados não se
combinavam de forma acidental e que na verdade eram “experiências universais,
profundamente enraizadas desde a infância em nossa linguagem e nosso
120
pensamento”. Esta constatação feita por Heller pode ser explicada através da
significação.
É cientificamente comprovado que as cores provocam diferentes emoções
nas pessoas e que as influenciam a pensar ou agir de determinada forma. Oliver
Sacks, em Um Antropólogo em Marte (2006, p. 43) diz que “a visão colorida, na vida
real, é parte integrante de nossa experiência total, está ligada a nossas
categorizações e valores”, as cores estão diretamente ligadas a emoção e esta
ligação pode ser vista de forma muito evidente quando observamos um filme.
121
7.5 SIGNIFICAÇÃO
Significação é um substantivo feminino que indica significado, “representação
mental relacionada a uma forma linguística, um sinal, um conjunto de sinais, um fato,
um gesto etc.; aquilo que um signo quer dizer; acepção, sentido, significado”,
segundo o HOUAISS (2001, p. 2569, grifo nosso).
Ao ler uma das definições de significação, “aquilo que um signo quer dizer”, é
possível pensar diretamente na semiótica. A semiótica, segundo Santaella (2003, p.
1) “é a ciência dos signos [...], a ciência geral de todas as linguagens” e, sendo
assim, através dela é possível investigar o significado de qualquer linguagem
existente. Ao falarmos em linguagem, é bom esclarecer, que não estamos falando
apenas da linguagem verbal ou escrita, mas também de uma extensa lista de formas
sociais de comunicação como a música, a televisão, o cinema, gráficos, gestos e
etc.
O pensamento semiótico foi consagrado como um aspecto de extrema
importância para a investigação das linguagens (SANTAELLA, 2003) que há muito
vinham sendo utilizadas. Charles Sanders Peirce, considerado pai dos estudos
semióticos, foi um grande incentivador das pesquisas neste campo. As definições
semiológicas de Peirce são, até os dias de hoje, de grande importância para os
estudos desta área.
Voltando a fala de Santaella (2003) referente à semiótica ser o estudo dos
signos, é necessário que entendamos o que ser um signo significa, pois assim é
possível que entendamos também seu funcionamento dentro do campo semiótico.
A palavra Signo será usada para denotar um objeto perceptível, ou apenas imaginável, ou mesmo inimaginável num certo sentido [...] para que algo possa ser um Signo, esse algo deve “representar”, como costumamos dizer alguma outra coisa, chamada seu Objeto [...] (PEIRCE, 2010, p. 46-47).
Através desta fala de Peirce, fica perceptível o que é o signo dentro da
semiótica, mas é importante acrescentar que na teoria peirceana figuram outras
diversas classificações, tanto para o signo, quanto divisões do próprio estudo
semiótico.
Ao tratarmos de semiótica e signos, é muito difícil não falarmos em Ferdinand
Saussure. Saussure foi um importante linguista e filósofo que contribuiu muito com as
122
teorias semióticas. Foi ele o responsável pela elaboração da análise de um signo
dividido em duas partes: significante e significado. O significante é a parte material do
signo (um som, por exemplo) e o significado é a imagem mental fornecida pelo signo
(Netto, 1999). Vale salientar que não existe signo sem significante e sem significado.
Podemos, ainda seguindo as especulações acerca dos signos, fazer algumas
considerações a respeito de como fazemos uso dos mesmos durante nossa vida e
acabamos por não nos darmos conta de sua presença constante.
Souza (2006, p. 47), vale-se das palavras de Eco para caracterizar que o ser
humano enquanto “emissor é capaz de atribuir significados aos significantes, que
serão decodificados por receptores também capazes de manter ou modificar os
significados”, ou seja, nós (emissores), enquanto falantes da Língua Portuguesa,
podemos subverter palavras comuns em signos e as pessoas que estão ao nosso
redor (receptores) são capazes de entender a subversão que elaboramos. Este
exemplo pode ser atribuído a linguagem falada e escrita, mas também ao cinema,
através das cores ou objetos inseridos nas cenas.
A semiótica cinematográfica possui algumas particularidades, tais como a
diegese. A diegese se refere a realidade da narrativa e nada possui em comum com o
mundo externo ou real. Ao assistirmos um filme, somos inseridos no mundo do
personagem e, por muitas vezes, as unidades diegéticas nos passam despercebidas
– como é o caso da significação das cores. As cores de um filme estão ali por um
motivo específico: transmitir um sentimento, incluir e comunicar a emoção de uma
cena.
Para Metz (1973), não necessitamos de palavras para entender o significado
da cena e isto é chamado por ele de “semiótica não-verbal”. A semiótica não verbal
de Metz se manifesta através da diegese e fornece informações sobre o universo do
filme. Estas informações fazem com que percebamos o que Metz (1973) chama de o
todo-da-imagem. O todo-da-imagem se refere ao ambiente do filme e envolve as
diferentes figuras de discurso e as edições das imagens, por exemplo. As cores
presentes no filme são composições do todo-da-imagem, pois ajudam a formar o
conjunto do filme e situar o espectador no universo de acontecimentos do mesmo,
dando-as significados que fazem diferença no contexto.
123
8 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS
1 INTRODUÇÃO
1.1 Metodologia
2 CORES, EMOÇÃO E SIGNIFICAÇÃO
2.1 O Que é Cor?
2.2 Cor e Sua Relação com Emoções e Significados
3 COR E CINEMA
3.1 Cor e Cinema: relação histórica
3.2 Direção de Arte: a abordagem da cor enquanto material de cena
3.3 A Cor e o Cinema: linguagens
4 O ESTUDO AZUL
4.2 A Cor Azul
4.3 O Azul enquanto Personagem
4.4 Análise de Filmes Contemporâneos
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 REFERÊNCIAS
124
9 CRONOGRAMA
Defesa da Monografia em 2017/4
JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Organização de materiais, revisão
bibliográfica e introdução
X X
Escrita do capítulo 2 X
Escrita do capítulo 3 X
Escrita do capítulo 4 X
Considerações finais, revisão e
impressão
X
Preparação da apresentação X
Defesa da Monografia X
125
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CINDERELLA. Direção de Georges Mèliés. Paris: Méliès's Star Film Company, 1899. (6 min.).
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