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8/14/2019 Dissertacao Rivail Vanin de Andrade O processo de producao dos parques e bosques publicos de curitiba
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RIVAIL VANIN DE ANDRADE
O PROCESSO DE PRODUO DOS
PARQUES E BOSQUES PBLICOS DE CURITIBA
Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de Mestre, pelo Curso de Ps-Graduao em Geografia - rea Produo do Es-
pao Urbano Regional, do Setor de Cincias daTerra da Universidade Federal do Paran.
Orientador:Prof. Dr. Francisco A. Mendona
CURITIBA2001
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TERMO DE APROVAO
RIVAIL VANIN DE ANDRADE
O PROCESSO DE PRODUO DOS
PARQUES E BOSQUES PBLICOS DE CURITIBA
Dissertao aprovada como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre noCurso de Ps-Graduao em Geografia, Setor de Cincias da Terra, UniversidadeFederal do Paran, pela seguinte banca examinadora:
Orientador: Prof. Dr. Francisco de Assis MendonaDepartamento de Geografia, UFPR
Prof. Dr. Yara VecentiniDepartamento de Arquitetura, UFPR
Prof. Dr. Leonardo Jos Cordeiro SantosDepartamento de Geografia, UFPR
Com obteno do conceito A, nota 10 (dez), com meno de distino.
Curitiba, 15 de agosto de 2001.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo ao meu orientador, Prof. Dr. Francisco de Assis Mendona, pelas
crticas que propiciaram uma nova abordagem sobre o assunto, pelo acompanhamen-
to e pela reviso do estudo sem, contudo, interferir de forma a descaracterizar meu
texto, sabendo respeitar a minha individualidade e forma de pensar.
Aos meus amigos que souberam compreender os encontros a que no pude
ir, as festas a que faltei e a minha freqente ausncia nos encontros.
A minha famlia que sempre me incentivou e, principalmente, a minha me pe-
lo lanchinhos quando as horas j avanavam madrugada a dentro.
No entanto, devo agradecer de forma muito especial a minha futura esposa,
Adriana Rita Tremarin, a quem dedico este trabalho. Sem os seus constantes incenti-
vos, a sua sempre freqente ajuda, os seus conselhos, o seu apoio e, acima de tudo,
o seu amor, no teria sido possvel chegar ao trmino deste trabalho.
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SUMRIO
Introduo................................................................................................................ 1
Fundamentos tericos.................................................................................... 4Caracterizao da rea de estudo................................................................. 12
CAPTULO 01........................................................................................................... 18
1. O VERDE E A CIDADE.............................................................................. 181.1 Consideraes iniciais sobre o meio ambiente urbano.................. 181.2 reas verdes: uma abordagem conceitual..................................... 20
1.2.1 Conceito de reas verdes a partir do Plano Preliminarde Urbanismo............................................................................. 22
1.3 A funo das reas verdes nos centros urbanos........................... 26CAPTULO 02........................................................................................................... 30
2. O PAPEL DE PARQUES E BOSQUES NA HISTRIA DA PRODUODO ESPAO URBANO DE CURITIBA.......................................................... 30
2.1 O processo de produo de parques e bosques pblicos em umperodo de concepes sanitaristas..................................................... 33
2.2 O processo de produo de parques e bosques pblicos em umperodo de administrao tecnocrata................................................... 40
2.3 O processo de produo de parques e bosques pblicos em um
perodo de promoo do City Marketing.............................................. 60CAPTULO 03........................................................................................................... 84
3. PARQUES E BOSQUES PBLICOS DE CURITIBA/PR: DISTRIBUI-O ESPACIAL, VALORIZAO IMOBILIRIA E CRIAO DEIDENTIDADE CULTURAL.............................................................................. 84
3.1 Diferenas entre o adensamento espacial de parques e bosquespblicos da regio norte e da regio sul de Curitiba............................ 84
3.2 Parques e bosques pblicos de Curitiba/Pr: os cursos dguacomo definidores de localizao........................................................... 98
3.3 A valorizao imobiliria no entorno dos parques e bosques p-
blicos de Curitiba/Pr.............................................................................. 101 3.4 A relao entre agentes privados e a criao dos parques e
bosques pblicos de Curitiba/Pr...........................................................105
3.5 Apropriao da imagem dos parques e bosques pblicos de Cu-ritiba/Pr por parte das administraes polticas.................................... 107
3.6 Manipulao dos ndices de reas verdes de Curitiba/Pr.............. 112
Consideraes finais.............................................................................................. 117
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................ 123
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Roteiro metodolgico............................................................................ 11
Figura 02 - Localizao de Curitiba em relao ao Brasil, ao Paran e RegioMetropolitana......................................................................................... 13
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LISTA DE TABELAS
Tabela 01 - Linha cronolgica dos mandatos polticos e data da implantao dosparques e bosques em Curitiba............................................................ 32Tabela 02 - Perfil dos parques e bosques pblicos de Curitiba............................... 76
Tabela 03 - rea, populao e densidade populacional por bairros da poronorte de Curitiba.................................................................................... 89
Tabela 04 - rea, populao e densidade populacional por bairros da poro sulde Curitiba............................................................................................. 90
Tabela 05 -Renda mediana do chefe de famlia em salrios mnimos por bairrosde Curitiba............................................................................................. 93
Tabela 06 - reas e percentuais dos parques e bosques pblicos de Curitiba...... 95
Tabela 07 - rea total dos parques e bosques pblicos de Curitiba em relaoas pores norte e sul de Curitiba........................................................ 96
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LISTA DE MAPAS
Mapa 01 - Rede hidrogrfica de Curitiba............................................................... 16
Mapa 02 - Plano Agache........................................................................................ 36
Mapa 03 - reas de Proteo Ambiental............................................................... 52
Mapa 04 - Localizao espacial dos parques e bosques pblicos de Curitiba..... 77
mapa 05 - Proposta de diviso de Curitiba em pores norte e sul...................... 88
Mapa 06 - Populao por bairros de Curitiba - 1996............................................. 91
Mapa 07 - Densidade populacional por bairros de Curitiba - 1996........................ 92
Mapa 08 - Renda mediana do chefe de famlia em salrios mnimos por bairrosde Curitiba - 1991..................................................................................
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Mapa 09 - Monitoramento das reas verdes de Curitiba 97
Mapa 10 - Parques e bosques pblicos e rede hidrogrfica de Curitiba............... 100
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LISTA DE PRANCHAS
Prancha 01 - Portais de logradouros pblicos de Curitiba......................................... 78Prancha 02 - Rplicas de igrejas em parques e bosques pblicos de Curitiba......... 79
Prancha 03 - Formaes lacustres em parques pblicos de Curitiba........................ 80
Prancha 04 - Alguns memoriais culturais de Curitiba................................................. 81
Prancha 05 - Alguns elementos em estrutura de madeira da identidade arquitet-nica de Curitiba...................................................................................... 82
Prancha 06 - Alguns elementos em estrutura metlica da identidade arquitetnicade Curitiba............................................................................................. 83
Prancha 07 - Tipologia construtiva antes e aps a implantao do Parque Tingi... 104
Prancha 08 -Logomarcas da Prefeitura Municipal de Curitiba e do Governo doEstado do Paran, durante administraes do grupo poltico de Jai-me Lerner.............................................................................................. 111
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SIGLAS
APA............................ rea de Proteo AmbientalARENA....................... Aliana Renovadora Nacional
BADEP....................... Banco de Desenvolvimento do Estado do Paran
BNH........................... Banco Nacional da Habitao
CIC............................. Cidade Industrial de Curitiba
CODEPAR................. Companhia de Desenvolvimento Econmico do Paran
COMEC...................... Coordenao da Regio Metropolitana de Curitiba
COPLAC.................... Comisso de Planejamento de CuritibaETA............................ Estao de Tratamento de gua
ETE............................ Estao de Tratamento de Esgoto
IBGE.......................... Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IPARDES................... Instituto Paranaense de Desenvolvimento
IPPUC........................ Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
IPTU........................... Imposto Territorial Urbano
MDB........................... Movimento Democrtico Brasileiro
PAVOC...................... Parque Aqutico e Vila Olmpica de Curitiba
PMC........................... Prefeitura Municipal de Curitiba
PMDU........................ Plano Municipal de Desenvolvimento Urbano
SAGMACS................. Sociedade de Anlises Grficas e Mecanogrficas Aplica-das aos Complexos Sociais
SMCS......................... Secretaria Municipal de Comunicao Social
SMMA........................ Secretaria Municipal do Meio Ambiente
OMS........................... Organizao Mundial da SadeONU........................... Organizao das Naes Unidas
URBS......................... Companhia de Urbanizao e Saneamento de Curitiba
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Em 1854, o presidente dos Estados Unidos fez uma oferta aos ndios para a compra de uma grande ex-tenso de suas terras, oferecendo, em troca a concesso de uma outra reserva para o povo indgena. Aresposta do chefe ndio, um dos mais belos pronunciamentos j feitos em defesa do meio ambiente.Sua antiguidade - data de mais de um sculo - converte-a em uma pea de sabedoria proftica sobre osproblemas ecolgicos.Como se pode comprar ou vender o firmamento, ou mesmo o calor da terra? Essa idia desconhecidapara ns. Se no somos donos do frescor do ar nem do fulgor das guas, como podero ser compra-dos? Cada poro desta terra sagrada para o meu povo. Cada brilhante mata de pinheiros, cada grode areia nas praias, cada gota de orvalho nos escuros bosques, cada colina e at o som de cada inseto,tudo sagrado memria e ao passado de meu povo. Os mortos do homem branco esquecem seu pasde origem quando empreendem seus passeios entre as estrelas; nossos mortos, no entanto, nunca po-
dem esquecer esta bondosa terra, pois que a me dos peles vermelhas. Somos parte da terra, assimcomo ela parte de ns. As flores perfumadas so nossas irms; o veado, o cavalo, a grande guia, es-tes so nossos irmos. Os escarpados penhascos, os midos prados, o calor do corpo do cavalo e ohomem, todos pertencemos mesma famlia. Por tudo isso, quando o grande chefe de Washington nosenvia a mensagem de que precisa comprar nossas terras, nos est pedindo demasiado. Tambm nos dizo Grande Chefe que nos reservar um lugar no qual possamos viver confortavelmente entre nosso povo.Ele se converteria em nosso pai e ns em seus filhos. Por isso consideremos sua oferta para comprarnossas terras. Se lhe vendermos as terras, devem ensinar a seus filhos que so sagradas. Os rios sonossos irmos e tambm so seus, portanto, devem trat-los com a mesma doura com que se trataum irmo. Sabemos que o homem branco no compreende nosso modo de vida. Ele no sabe distinguirentre um pedao de terra e outro, j que um estranho que chega de noite e toma da terra o que ne-
cessita. A terra no sua irm e sim sua inimiga. No sei, mas nossa forma de vida diferente da devocs. A simples vista de suas cidades aflitiva aos olhos do ndio. Mas isso talvez seja porque o ndio um selvagem e no compreende nada. No existe um lugar tranqilo na cidade do homem branco nem umlugar onde ouvir como se abrem as folhas das rvores na primavera ou como adejam os insetos. O baru-lho somente parece insultar nossos ouvidos. E depois de tudo, para que serve a vida se o homem nopode escutar o grito solitrio do noitib. Ns preferimos o murmrio do vento na superfcie do lago e oseu perfume identificado pela chuva do meio dia, O ar tem um valor inestimvel para o pele vermelha, jque todos os seres compartilham o mesmo,alento; a besta, a rvore, o homem, todos respiramos omesmo ar. O homem branco parece no ter conscincia do ar que respira; como um moribundo que ago-niza durante muitos dias, insensvel ao ftido odor. Mas se lhe vendermos nossas terras, devem re-cordar que para ns o ar inestimvel. Sou um selvagem e no compreendo outra forma de vida. Vi mi-lhares de bfalos apodrecendo nos prados, mortos a tiros pelo homem branco de um trem em marcha.Sou um selvagem e no compreendo como uma mquina fumegante pode importar mais do que bfalo,que no matamos somente para sobreviver. Que seria do homem sem os animais? Se todos fossem ex-terminados, o homem tambm morreria de uma grande solido espiritual. Porque o que quer que sucedaaos animais, tambm suceder ao homem. Tudo est entrelaado. Tudo quanto ocorre terra ocorreraos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, cospem sobre si mesmos. A terra no pertence aohomem: o homem pertence a terra. Tudo est entrelaado. Tudo o que ocorrer a terra ocorrer aos fi-lhos da terra. O homem no teceu a trama da vida. Ele somente um fio. O que ele faz com a trama eleo faz a si mesmo. Onde est a floresta espessa? Destruda. Onde est a guia? Desapareceu. Termina avida e comea a sobrevivncia.
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RESUMO
A partir da Revoluo Industrial do sculo XVIII, as cidades tornaram-se ele-mentos cada vez mais constantes, ampliando sua rea ocupada e seus impactos so-bre a natureza. Com a urbanizao, e a conseqente diminuio das reas verdes,houve o aparecimento de inmeros problemas decorrentes da ausncia desses espa-os e, conseqentemente, regies que contavam com maior cobertura vegetal come-aram a ser associadas maior qualidade de vida. As reas verdes, conforme seu vo-lume, distribuio, densidade e tamanho, podem interferir no entorno imediato de di-versas maneiras. Dentro dos centros urbanos, as reas verdes tm por finalidade amelhoria da qualidade de vida pela criao de reas de lazer, paisagismo, preserva-o ambiental, preservao das reas de fundo de vale, dos recursos hdricos e daqualidade da gua, encontros sociais, atenuao da paisagem urbana, disciplinariza-
o do uso do solo, valorizao imobiliria, manuteno e regulao do equilbrio cli-mtico, minimizao da poluio, proteo acstica, conforto psicolgico, atuao sa-nitria e preservao da fauna e flora entre outros. Tendo em vista a associao entrequalidade de vida e reas verdes, a prefeitura da cidade de Curitiba tem adotado, du-rante os ltimos trinta anos, um modelo de gesto municipal que explorar a imagemde cidade-ecolgica. Como resultado desse projeto, Curitiba tida pela mdia nacionale internacional, como a cidade brasileira que melhor equacionou o binmio desenvol-vimento urbano/meio ambiente e como tal, detentora do ttulo de cidade modelo, prin-cipalmente pela criao de parques e bosques. Embora Curitiba possua uma grandequantidade de parques e bosques, e uma boa relao entre rea verde/populao, e-xistem aspectos que devem ser levados em considerao na anlise da poltica ambi-ental da cidade: 1. Quase a totalidade dos parques e bosques pblicos esto localiza-dos na poro norte de Curitiba, enquanto que a poro sul, mais populosa e mais ca-rente, quase no conta com reas verdes. 2. A maior parte dos parques possui lagosem seu interior objetivando a amenizao dos impactos das enchentes. Essa caracte-rstica, fornece implantao dessas reas um carter sanitrio. 3. Os terrenos locali-zados no entorno dos parques e bosques vm recebendo inmeros empreendimentosimobilirios de alto padro, que acabam seletivizando essas reas e promovendo se-gregao scio-espacial pela valorizao dos imveis. 4. O grupo poltico que tempredominado desde a dcada de 70 vem utilizando intensamente a poltica ambientalpara a sua promoo e da cidade. Os parques recebem elementos arquitetnicos e
temticos que visam associar Curitiba com as cidades do Primeiro Mundo. A vendadessa imagem de cidade bem resolvida, atrai investimentos nos mais diversos setorese uma unanimidade e complacncia de seus cidados perante os produtos oferta-dos. Desse modo, a criao de reas verdes em Curitiba possui alguns elementosmarcantes, presentes em quase todos os parques e bosques pblicos, so eles: agrande interferncia dos agentes imobilirios, a valorizao do entorno, o carter est-tico e de marketing, o uso para promoo do grupo poltico e da cidade e o aspectosanitarista.
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ABSTRACT
Since the Industrial Revolution in the century XVIII, the cities had becomemore frequent elements each time, extending its area and its impacts on the nature.With the urbanization, and the consequent reduction of the green areas, many prob-lems occurred due to the absence of these spaces and, consequently, regions thatcounted on bigger vegetal covering started to be associated to the biggest quality oflife. The green areas, as its volume, distribution, density and size, can intervene withimmediate environment in diverse ways. Inside urban centers, the green areas havethe purpose of improving the quality of life, through creation of pleasure areas, land-scaping, ambient preservation, preservation of the areas of deep of valley, of the hydricfeatures and the water quality, social meeting, attenuation of the urban landscape, dis-ciplining the ground use, real estate valuation, maintenance and regulation of the cli-
matic balance, minimization of the pollution, protection acoustics, psychological com-fort, sanitary performance and preservation of the fauna and flora among others. Inview of the association between quality of life and green areas, the city hall of Curitibahas adopted, during last the thirty years, a model of municipal management that ex-plore the picture of an ecological city. As result of this design, Curitiba is known by thenational and international media, as the Brazilian city that better equated the binomialsurrounding urban/environment development. It is also known as having the city head-ing model, mainly for the creation of parks and forests. Although Curitiba possesses agreat amount of parks and forests, and a good relation between green area/population,aspects exist that must be taken in consideration in the analysis of the ambient politicsof the city: 1. Almost all of the parks and public forests is located in the north portionof Curitiba, while that the south portion, more populous and more devoid, almost doesnot count on green areas. 2. Most of the parks possess lakes in its inward objectifyingthe amenization of the impacts of floods. This feature, supplies to the implantation ofthese areas a sanitary character. 3. The lands located in neighborhood of the parksand forests receive innumerable high standard real estate investment, causing a selec-tive increase of value, concentrating richer people in those areas. 4. The politiciangroup that has predominated since the decade of 70 intensely used the ambient poli-tics for its self-promotion and the citys. The parks receive architectonic thematic ele-ments and that they aim associating Curitiba to First World cities. This picture of welldecided city marketing, attracts investments in the most diverse sectors and also cre-
ates an unanimity and agreement of its citizens to the offered products. This way,the creation of green areas in Curitiba displays some outstanding elements, present inalmost all the parks and public forests. They are: the great interference of the real es-tate agents, the valuation of surrounding areas, the aesthetic character and of market-ing, the use for promotion of the group politician and the city, and the sanitarist aspect.
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1I n t r o d u o
Como principal produto da transformao da natureza pelo homem esto as
cidades, que geram impacto direto e imediato no meioambiente, consistindo na mu-
dana paisagstica, substituindo o cenrio expressivo da cobertura vegetal pelo do ca-
sario e ruas com aglutinao de um contingente populacional (CHRISTOFOLETTI,
1994 p. 131).
As cidades, habitat do ser humano, so construdas inicialmente de forma a
tentar criar espaos mais propcios para a sociedade humana. No entanto, as conse-
qncias indiretas dos impactos no meio ambiente no so planejadas nem previstas,sendo catalogadas como indesejveis tanto social como economicamente
(CHRISTOFOLETTI, 1994 p. 132).
A interveno do homem sobre o meio ambiente acelerou em progresso ge-
omtrica a partir da Revoluo Industrial do sculo XVIII, quando as cidades torna-
ram-se elementos cada vez mais constantes, ampliando sua rea ocupada e seus im-
pactos sobre a natureza. J no sculo XX, houve a transformao definitiva de um
mundo rural em um mundo urbano. Os interesses dos agentes econmicos, sociais,culturais e polticos transformaram as cidades em espaos hostis natureza, afetando
a estabilidade do ecossistema do qual depende a sobrevivncia humana.
Os impactos ambientais, promovidos pelas cidades, no se do de forma i-
gual na sua distribuio geogrfica, na sua intensidade ou nos seus efeitos. Cidades
mais industrializadas tero um consumo maior de energia e, conseqentemente, so-
frero mais com a poluio dos derivados desse consumo, tais como gases e res-
duos slidos. Cidades com ocupao em reas de mananciais e leitos de rios, e combaixa rea de permeabilizao, tero constantes problemas com o abastecimento de
gua e inundaes. Enfim, os impactos ambientais sero diferenciados conforme o s-
tio em estudo, mas eles sempre existiro em maior ou menor escala.
Face aos problemas ambientais promovidos pelas cidades, e considerando a
dependncia do homem ao ecossistema, torna-se impretervel que as aes de plane-
jamento urbano-regional considerem as caractersticas do meio fsico e da produo
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2humana atravs de estudos cientficos que forneam elementos para os programas de
desenvolvimento econmico e social de forma sustentvel.
Parece evidente que a funo do planejamento na gesto ambiental absolutamente ne-cessria para orientar a localizao das atividades produtivas no territrio e ordenar a utili-zao dos recursos naturais com a perspectiva de no exaurir estes recursos e inviabilizaras condies para a continuidade da expanso econmica e a busca da qualidade de vida(BARONI apud MENEZES, 1996 p. 24).
Ainda em MENEZES (1996 p.15), encontra-se a citao de SACHS-JEANTEL
que diz que o planejamento urbano-regional deve Encontrar formas concretas de
harmonizar os critrios de eqidade social, sustentabilidade ecolgica, eficcia eco-
nmica, aceitabilidade cultural e distribuio espacial equilibrada das atividades e dosassentamentos humanos.
De acordo com os autores acima, as reas verdes, dentro dos centros urba-
nos, tm por finalidade a melhoria da qualidade de vida pelacriao de reas de lazer,
preservao ambiental, preservao das reas de fundo de vale, preservao da qua-
lidade da gua, encontros sociais, atenuao da paisagem urbana, disciplinarizao
do uso do solo, valorizao imobiliria, manuteno e regulao do equilbrio climti-
co, entre outros.Geralmente a produo desses espaos est mais subordinada a questes
tcnicas, econmicas e polticas do que a questes sociais e naturais, como aponta
PEREIRA LEITE (1993, p.140) as prticas do urbanismo, porm, de modo geral no
fazem uso desse conjunto de caractersticas naturais e sociais de um lugar - da natu-
reza desse lugar - para avaliar, selecionar, emitir juzo ou implantar concepes de or-
ganizao urbana, mas parecem procurar perpetuar, numa atitude temerria, a repro-
duo de modelos parciais, generalizantes e dogmticos.As relaes entre a natureza e a cidade tornam-se cada dia mais interdepen-
dentes; alteraes na produo urbana atingem diretamente a natureza, que res-
ponsvel pelo fornecimento de energia e matria-prima para as atividades urbanas.
No entanto, a maior parte dos planos urbanos elaborados perpetua a dissociao en-
tre a cidade e o natural.
Essas interaes do meio urbano com o meio natural, e a desarticulao des-
ses sistemas nas propostas de planejamento urbano, seja por questes econmicas,
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3polticas ou tcnicas, conduzem ao objetivo central desta pesquisa, que analisa como
ocorreu o processo de produo das reas verdes na cidade de Curitiba-PR que ,
provavelmente, a capital brasileira que mais explora a imagem da qualidade de vida
associada ao planejamento de reas verdes.
Considerada Cidade Modelo, Curitiba tem sua imagem repercutida em mbi-
to nacional e internacional como a capital brasileira que superou os problemas urba-
nos conseqentes da concentrao populacional dos grandes centros.
Com algumas idias inovadoras, que revolucionaram as formas urbanas e a
estruturao espacial da cidade, a partir da elaborao do atual Plano Diretor nos a-
nos 60, Curitiba passa a ser reconhecida como uma cidade de sucesso em planeja-
mento urbano.Durante a implantao do novo modelo urbanstico, uma das preocupaes
bsicas foi equipar a cidade com reas de lazer tais como parques, bosques, praas e
reas pblicas ajardinadas, objetivando criar espaos que refletissem qualidade de vi-
da urbana.
A partir da dcada de 70, comeam a ser criados na cidade inmeros parques
e bosques. A questo ambiental ganha status e passa a ser incorporada ao discurso
poltico. Em sua posse como prefeito municipal, em 1971, Jaime Lerner afirmava:Realce especial ser dado recreao (...) construo de novas praas e de gran-
des parques, preservao das reas verdes expressivas, execuo de um plano
de arborizao da cidade e uma poltica de ocupao de solo, destinada a coibir o
processo de intensificao da poluio do ar e da gua (LERNER apud MENEZES
1996, p. 102).
Se os primeiros parques de Curitiba tinham uma funo primordialmente es-
trutural, como a conteno de enchentes, a partir da terceira administrao do prefeitoJaime Lerner (1989-92), e da administrao do prefeito Rafael Greca (1993-96) na
seqncia, os parques passam a ter, principalmente, um carter emblemtico, smbo-
los arquitetnicos a favor da promoo poltica.
Nos anos que seguiram implantao do Plano Diretor, a forma de produo
da cidade foi, gradualmente, sofrendo mudanas; hoje o marketing um importante
elemento definidor de polticas urbanas, caracterizando a supremacia da imagem so-
bre a funo.
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4Para esmiuar a investigao e delimitao do problema principal desta pes-
quisa, que avaliar como os parques e bosques pblicos se inserem no proces-
so de produo do espao urbano de Curitiba, sero analisados vrios aspectos
histrico, poltico, econmico e espacial abordados na seqncia:
O captulo 01 serve de base terica conceitual. Inicialmente so feitas consi-
deraes gerais sobre o meio ambiente urbano e discutidos conceitos sobre reas
verdes, em seguida so explicitadas algumas funes das reas verdes nos centros
urbanos.
O captulo 02 avalia como as reas verdes foram inseridas nos sucessivos
modelos urbano-polticos da cidade de Curitiba, identifica os principais agentes atuan-
tes na sua produo e os fatores determinantes de sua criao. Partindo do pressu-posto que o principal agente na produo dos parques e bosques o poder pblico,
resgatada parte da histria poltica da cidade, avaliando como cada administrao p-
blica se apropriou do verde em sua gesto. O captulo 02 um resgate histrico, des-
creve as diferenas que ocorreram no processo de produo dos parques e bosques
pblicos da cidade.
O captulo 03 analisa as reas verdes de uma forma global, identificando ele-
mentos padres na produo dos parques e bosques pblicos. So apresentados fa-tores que determinaram as diferenas de espacializao e adensamento dos parques
e bosques pblicos de Curitiba nas regies norte e sul, tambm analisada a rele-
vncia dos cursos de gua para a definio do local de implantao dessas reas
verdes, bem como, a valorizao imobiliria ocorrida no entorno desses espaos e os
grupos beneficiados.
Fundamentos tericos
Para que se atinja este objetivo adotada uma abordagem metodolgica
fundamentada no materialismo histrico.
Essa linha filosfica tem como um dos seus principais pilares a anlise histri-
ca, ou seja, todo o fenmeno ou evento s pode ser compreendido por meio da per-
cepo crtica do seu processo de formao (como surgiu, que agentes contriburam
para sua formao, qual era o contexto econmico-poltico-social, que foras antag-
nicas atuaram no seu surgimento etc), pois segundo MORAES (1994 p. 52) o mar-
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5xismo: alm da lgica dialtica e da postura materialista, o marxismo trabalha com a
anlise histrica, isto , para ele qualquer fenmeno s pode ser explicado quando
apreendido em sua gnese, em seu desenvolvimento.
ABREU, (1994, p.270), refora a importncia do resgate do processo histrico
pelos gegrafos.
a partir desses pressupostos tericos, e atrados pelas transformaes radicais por quetm passado as cidades brasileiras (e em especial as metrpoles nacionais) nos ltimos 100anos, que alguns gegrafos tm dedicado especial ateno recuperao do processo his-trico subjacente a essas mesmas transformaes, pretendendo com isto resgatar toda acomplexidade subjacente ao processo de produo contnua do espao urbano (ABREU,1994 p. 270).
Na Geografia Crtica, o espao geogrfico compreendido como um produto
de relaes contraditrias da acumulao de capital, isto , a forma como a sociedade
interage que vai definir o espao. Portanto o espao dinmico e se altera conforme
se alteram as relaes entre os agentes produtores (Estado, proprietrios de terra, in-
corporadores, trabalhadores, sociedade civil e outros). O espao acaba incorporando
as contradies das classes em determinado momento, na medida em que condio
e resultado das atividades sociais. Como esclarece MORAES (1994 p.57) nosso ob-
jetivo dever ser um processo social referido ao espao terrestre, logo, nossa teoriza-
o dever se inscrever dentro de uma teoria geral da sociedade. Em outras pala-
vras, a Geografia Crtica no aceita a autonomia do espao, o espao materialidade
social, produzido pelo trabalho do homem e pela sociedade da qual faz parte.
ABREU (1994 p.257) refora essa opinio:
J que produto da sociedade, o espao geogrfico ir refletir, obviamente, tanto a sua es-trutura como a sua dinmica. Em outras palavras, como da sociedade que espao geogr-
fico recebe sua forma e seu contedo, a sua compreenso total s ser possvel se estiveracoplada a compreenso da sociedade. Esta, por sua vez, no imutvel . Da, toda acompreenso que obtenhamos do espao ser sempre (e necessariamente) historicamentedeterminada, isto , estar sempre relacionada ao grau de desenvolvimento a que chega-ram, nesta sociedade, as foras produtivas, as relaes de produo e a cultura (ABREU,1994, p. 257).
No caso de Curitiba, a grande articulao da municipalidade com os principais
grupos econmicos da cidade tem conseguido elaborar polticas que visam atender,
principalmente, aos interesses de promoo poltica do grupo no poder, aos interes-
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6ses econmicos dos setores imobilirios e de transporte e tecnocracia de uma pe-
quena parcela de urbanistas. Talvez poucas administraes pblicas tenham conse-
guido articular com tamanha maestria um projeto poltico que atende aos anseios das
elites e, simultaneamente, tem apoio to intenso da populao. Tem-se, em Curitiba,
um processo de produo do espao geogrfico onde os agentes produtores pouco
conflitam entre si; de um lado as elites que se beneficiam com as polticas de valoriza-
o imobiliria, e de outro a populao civil que, sem perceber que prejudicada, a-
caba por apoiar e perpetuar no poder os grupos que to bem articulam estas relaes.
Exemplo notvel dessa articulao entre o poder pblico e a iniciativa privada
pode ser observado no processo de produo dos ltimos parques de Curitiba, como
ser visto nos captulos 2 e 3. Para uma melhor compreenso desse processo soabordadas algumas reflexes tericas para compreender como os chamados espa-
os livres, entre eles as reas verdes pblicas, so incorporados pelo modo capitalis-
ta.
Na concepo do filsofo e socilogo francs Henri LEFEBVRE, o espao,
produzido pelas relaes sociais, guarda uma contradio que prpria do sistema
capitalista, por isso, identifica nele duas dimenses: a primeira, que denomina espao
abstrato, a exteriorizao das prticas econmicas e polticas entre as classes como Estado; a segunda, denominada espao social, o espao dos valores de uso pro-
duzido pelas interaes da vida cotidiana (GOTTDIENER, 1977 p. 131).
Segundo o prprio LEFEBVRE:
O espao no apenas econmico, onde todas as partes so intercambiveis e tem valorde troca. O espao no apenas um instrumento poltico para homogeneizar todas as par-tes da sociedade. Ao contrrio... O espao continua sendo um modelo, um prottipo perma-nente do valor de uso que se ope s generalizaes do valor de troca na economia capita-lista sob a autoridade de um Estado homogeneizador. O espao um valor de uso, mas a-
inda assim tempo ao qual ele est, em ltima anlise, vinculado, porque tempo nossavida, nosso valor de uso fundamental. O tempo desapareceu no espao social da moderni-dade (apud GOTTDIENER, 1977 p. 132).
Segundo esta formulao, o espao reproduz os conflitos sociais gerados pe-
los interesses econmicos de acumulao, que so inerentes ao capitalismo, em de-
trimento dos interesses coletivos. Desse modo, o espao social torna-se, historica-
mente, fragmentado e segregado.
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7Apesar desta constatao, LEFEBVRE defende a autonomia do espao, em
contraposio ao pensamento estruturalista de Manuel CASTELLS. Para o primeiro, a
apreenso da lgica de produo do espao pode servir ao movimento de revoluo
social. Para LEFEBVRE, segundo GOTTDIENER (1977):
A questo do controle sobre as relaes e o desingespaciais, portanto, tem para a socieda-de a mesma importncia revolucionria que a luta pelo controle dos outros meios de produ-o, porque tanto as relaes de posse quanto as de exteriorizao material isto , a pro-duo do espao esto unidas nas relaes de propriedade que formam a essncia domodo de produo capitalista (p. 129).
Fundamental na teorizao de LEFEBVRE a considerao pelo tempo hist-
rico na produo do espao, principalmente do espao urbano, sendo os processoshistricos responsveis pela materializao espacial das relaes sociais:
A cidade tem uma histria; ela a obra de uma histria, isto , de pessoas e de grupos bemdeterminados que realizam essa obra nas condies histricas. [...] Se se considera a cida-de como obrade certos agentes histricos e sociais, isto leva a distinguir a ao e o resul-tado, o grupo (ou os grupos) e seu produto. Sem com isso separ-los. No h obra semuma sucesso regulamentada de atos e de aes, de decises e de condutas, sem mensa-gens e sem cdigos. Tambm no h obra sem coisas, sem uma matria a ser modelada,sem uma realidade prtico-sensvel, sem um lugar, uma natureza, um campo e um meio(LEFEBVRE, 1991 p. 47 e 48).
A partir dessa concepo da cidade como obra histrica das relaes sociais,
possvel considerar o modo como os espaos livres, resqucios de uma natureza
sem transformaes antrpicas diretas, so inseridos na atual lgica de produo do
espao urbano.
Segundo Milton SANTOS (1997 p. 188): Quando tudo era meio natural, o
homem escolhia da natureza aquelas suas partes ou aspectos considerados funda-
mentais ao exerccio da vida, valorizando, diferentemente, segundo os lugares e as
culturas, essas condies naturais que constituam a base material da existncia do
grupo.
No perodo primitivo da histria, conforme a citao, a natureza dominava
amplamente a superfcie terrestre e era, por isso, abundante em recursos. No entanto,
medida que a tcnica evoluiu, a natureza passou a sofrer transformaes em ritmo
crescente, mais ainda quando o desenvolvimento levou industrializao e urbani-
zao como formas de acumulao de capital.
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8Assim o homem, circunscrito neste contexto (capitalismo e modernidade), se definiria pelarazo, a razo pela tcnica, a tcnica pela produo, a produo pelos objetos, os objetospelo consumo e o consumo pela necessidade. Portanto, neste contexto e nesta lgica, se ohomem possui necessidades, necessita produzir e logicamente se utiliza da fonte ltima dosseus bens: a natureza (SCARIM, 1999 p. 172-3).
Ainda segundo SCARIM (1999), o meio natural, que antes era dominante, a
partir deste perodo, em que as cidades ressurgem e se expandem por causa das f-
bricas, tornar-se cada vez menos extenso: Durante as primeiras fases da industriali-
zao, no feita nenhuma aluso aos elementos livres (gua, ar), pois abundantes,
eles no tinham valor de troca, no tinham trabalho incorporado. Hoje, a pureza e a
qualidade destes elementos livres esto se tornando raros (p. 175).
Atualmente essa raridade, que no possua valor para o mercado capitalista,
na paisagem urbana-industrial adquire valor de troca pelo acesso restrito e torna-se
mercadoria para o consumo, conforme SANTANA (1999):
O que abundante e o que passa a ser raro se redefine sob a lgica da acumulao capita-lista enquanto necessidade de reproduo do capital. Deixando de ser bem livre, disponvela todos, as desigualdades sociais so reforadas, pois passa a ser regido por leis de propri-edade. Quanto mais raro um bem, e mais demandado for, maior seu valor de troca, assimmais diferenciada ser a apropriao deste bem. As novas raridades so adotadas estra-tegicamente. [...] A condio da dignidade do homem e da vida na cidade como um todo a-caba sendo desigual. Uma desigualdade estabelecida pelas desigualdades sociais em ter-mos de apropriao para o uso e pelos conflitos sociais, econmicos e polticos (p. 178).
Nessa condio, os bens naturais so restritos ao uso de quem pode assumir
seu valor de troca. No caso especfico das reas verdes pblicas, que propriamente
no podem ser adquiridas pelo capital privado, esses interesses podem ser exemplifi-
cados pela negociao dos lotes do entorno de um parque ou bosque, ou pela apro-
priao que as vantagens locacionais da proximidade com uma destas reas pode o-ferecer, ou ainda pela explorao de seus atrativos pelo turismo local.
No caso especfico do mercado imobilirio, tais vantagens so incorporadas
ao valor dos imveis como renda diferencial, que corresponde parcela de valor a-
gregado pela instalao de algum equipamento ou realizao de alguma benfeitoria
pelo poder pblico (VILLAA, 1998). Nesta condio, grupos sociais so segregados
num movimento que corresponde teoria marxista de renda da terra e localizao.
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9A mercantilizao dos espaos livres no meio urbano refora a idia do quarto
domnio das relaes sociais sobre o espao, identificado por LEFEBVRE, segundo
GOTTDIENER (1997 p. 127), aquele que seria, alm da produo, do consumo e da
troca, o conjunto dessas atividades e localizaes que resultam na forma ou design
espacial. O designespacial, segundo LEFEBVRE, uma das foras produtivas da so-
ciedade. Assim, a forma como reas verdes pblicas so arranjadas no tecido urbano
pode servir para a acumulao de capital.
Como bens negociveis pelo mercado capitalista, os elementos que remetem
ao passado, ao meio natural na paisagem urbana, so, muitas vezes, transformados
em marcos referenciais da cultura da cidade e emblemas de qualidade ambiental.
Para LYNCH (1997 p. 88), marcos referenciais so elementos singulares dapaisagem urbana, por isso, fceis de serem identificados e memorizados, tm desta-
que justamente pelo contraste, agradvel ou no, com os demais elementos do con-
junto, em termos de escala, beleza, funcionalidade, localizao, etc.
Numa cidade, os marcos referenciais podem ter diversas utilidades, desde
servir para orientao dos transeuntes e at como atrativos simblicos para a constru-
o de uma imagem de qualidade urbana, como vem ocorrendo com muitas adminis-
traes municipais que passaram a adotar o modelo de planejamento estratgico emsua cidade.
O planejamento estratgico, detalhado na crtica de VAINER (1999), alm de
outros pressupostos, tem como principal objetivo recriar a imagem urbana para atrair
investimentos. Para tanto, prega a criao de marcos ou smbolos que sejam ampla-
mente incorporados no iderio popular como sendo a imagem da qualidade de vida
que a cidade oferece. Alm disso, esses marcos ou smbolos devem estabelecer um
sentimento na populao de orgulho da cidade, de identidade e pertencimento a esseespao, de valorizao cultural. Desse modo, a administrao municipal pretende que
a populao passe a valorizar sua cidade e a acatar as transformaes no gerencia-
mento e nas prioridades do investimento pblico.
A criao de uma identidade com o espao e sua valorizao pela incorpora-
o de espaos livres ao meio urbano avaliada positivamente por LYNCH (1997):
Uma boa imagem ambiental oferece a seu possuidor um importante sentimento de seguran-a emocional. Ele pode estabelecer uma relao harmoniosa entre ele e o mundo sua vol-ta. Isso o extremo oposto do medo que decorre da desorientao; significa que o doce
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10sentimento da terra natal mais forte quando no apenas esta familiar, mas caracterstica(p. 5).
No entanto, referindo-se ao consumo do que chama signose espetculosnoespao urbano, LEFEBVRE (1991) denuncia:
O signo comprado e vendido; a linguagem torna-se valor de troca. Sob a aparncia designos e de significaes em geral, so as significaes desta sociedade que so entreguesao consumo. Por conseguinte, aquele que concebe a cidade e a realidade urbana como sis-tema de signos, est entregando-as implicitamente ao consumo como sendo objetos inte-gralmente consumveis: como valor de troca em estado puro. Mudando os lugares em sig-nos e valores, o prtico-sensvel em significaes formais, essa teoria tambm muda em pu-ro consumidor de signos aqueles que os percebem (p. 64).
Esses signos e marcos adquirem uma grande importncia no processo de
produo dos parques e bosques pblicos de Curitiba e, de acordo com GARCIA
(1997), ajudam na criao de uma cidade espetculo onde h a supremacia da ima-
gem sobre o objeto.
Os conceitos tericos at aqui abordados encontraro nos prximos captulos
inmeros exemplos. A importncia dos signos fica evidenciada nas inmeras edifica-
es de carter simblico, como o pera de Arame, o Jardim Botnico ou os memori-ais. A questo de valorizao imobiliria encontra no processo de produo dos par-
ques Tingi e Tangu ricos exemplos e a segregao espacial fica evidenciada pelas
diferenas de acesso e concentrao espacial dos parques e bosques entre as por-
es norte e sul da cidade.
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Figura 01Roteiro metodolgico
Captulo 02 Dimenso temporal
Anlise do processo de produo dos par-ques e bosques pblicos nos sucessivos
modelos urbano-polticos de Curitiba.
Fontes:Jornais, revistas, reportagens diversas, do-cumentos histricos, livros, decretos, dis-
sertaes, teses e outros documentos queforneam as informaes sobre um deter-
minado perodo histrico.
Captulo 03 Dimenso espacial
Anlise dos parques e bosques pblicos nomomento atual, avaliando a sua distribuio
espacial, as mudanas ocorridas no seuentorno aps a sua implantao, os ndicesde rea verde por habitante e a influnciados cursos de gua para definio dos lo-
cais de implantao.
Fontes:Mapas, visitas in loco, fotografias, tabelas edocumentos diversos alm dos utilizados
no captulo 02.
Produto:Texto com anlise do processo de produ-o dos parques e bosques pblicos nossucessivos modelos urbano-polticos de
cada poca
Produto:Texto contendo elementos comuns no pro-cesso de produo dos parques e bosquespblicos de Curitiba. Mapas, Tabelas e fo-
tografias
Ca tulo 01 - Conceitua o sobre reas verdes e meio ambiente urbano
Introdu o- Caracteriza o da rea de estudo Curitiba/Pr
ProblemaComo os parques e bosques pblicos se inserem no
processo de produo do espao urbano de Curitiba?
Introdu o- Defini o da metodolo ia Materialismo histrico
Consideraes finais - Correlacionar as anlises anteriores para a elaborao de uma sntesecontendo consideraes finais sobre como as reas verdes se inserem
na produo do espao urbano de Curitiba.
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12Caracterizao da rea de estudo
No sculo XVII, transpondo a barreira da Serra do Mar, mineradores da cata
de ouro de aluvio do litoral chegaram ao Primeiro Planalto Paranaense. Nesta terra,
tiveram contato com ndios tingis que habitavam a regio. Constituram arraiais e,
mais tarde, fundaram a Vila de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais.
Quando o ciclo decaiu, as tropas de bois e muares, a erva-mate e a explorao da
madeira sustentaram a povoao que, elevada condio de cidade em 1842, tornou-
se capital da nova provncia, desmembrada de So Paulo, em 1853. Neste sculo,
chegaram ao Brasil muitos povos imigrantes da Europa, que tambm contriburam pa-
ra a formao tnica do Paran e da ento denominada cidade de Curitiba (em lngua
indgena, lugar de muito pinho) (IPPUC; IPEA, s/d).
Curitiba, capital do estado do Paran, localiza-se na poro leste do estado,
entre as coordenadas geogrficas mdias de 25 25 48 de latitude sul e 49 16 15
de longitude oeste de Greenwich (Ver Figura 02).
Com uma altitude mdia de 908 m acima do nvel do mar, o municpio de Cu-
ritiba ocupa, atualmente, uma rea de 432.418 m, sendo sua extenso de 20 Km na
direo leste-oeste e de 35 Km na direo norte-sul.
Seu stio urbano encontra-se sobre terrenos suavemente ondulados do Pri-
meiro Planalto Paranaense que, leste, delimitado pela Serra do Mar; ao norte, pe-
los terrenos acidentados da Regio Serrana do Aungui; oeste, pela Escarpa Devo-
niana, no trecho da Serra de So Luiz do Purun, e pelo Segundo Planalto (Campos
Gerais ou Planalto de Ponta Grossa) e, ao sul, por grandes extenses planas e sua-
ves ondulaes (IPPUC; IPEA, s/d p. 01). De acordo com HARDT (1994), ocorre em
Curitiba uma predominncia das vertentes voltadas s direes leste e oeste.Juntamente com outros 24 municpios, forma a Regio Metropolitana de Curi-
tiba (RMC), da qual o municpio plo. Seus municpios limtrofes so: Campo Magro,
Almirante Tamandar, Colombo, Araucria, Campo Largo, Fazenda Rio Grande, So
Jos dos Pinhais e Pinhais.
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BRASIL
R
EGIOMETROPOLITANA
DECURITIBA(RMC)
ESTADO
DO
PARAN
CUR
ITIBA
Figura02
Localiza
odeCuritibaem
relaoaoBrasil
,ao
ParaneRegioMetropolitana
MATRIZ
PORT
O
PINHEIR
INHO
BOAVISTA
SANTA
FELICIDADE
CAMPO
COMPRIDO
UMBA
R
CAJURU
BOQUEIRO
DR.ULISSES
1990
CERRO
AZUL
1897
ADRIANPOLIS
1960
ESTADO
DE
SO
PAULO
TUNAS
DO
PARAN
1990
BOCAIVAD
O
SUL
1871
RIO
BRANCO
DO
SUL
1871
ITAPERUU
1990
ALMIRANTE
TAMANDAR
1890
CAMPO
MAGRO
1986
CAMPINA
GRANDE
DO
SUL
1883
QUAT
RO
BARR
AS
196
1
PIRAQUARA
1890
PINHAIS
1992
CURITIBA
1693
SO
JOSDOS
PINHAIS
1852
FAZENDA
RIO
GRANDE
1990
CAMPO
LARGO
1870
COLOMBO
1890
BALSA
NOVA
1961
ARAUCRIA
1890
CONTENDA
1951
QUITANDINHA
1961
MANDIRITUBA
1960
TIJUCAS
DO
SUL
1951
AGUDOS
DO
SUL
1960
ESTADO
DE
SANTACATA
RINA
ADMINIST
RAESREGIONAIS491615
Escalaaproximada
1:330
.000
250000
Escalaaproximada
1:4.200.000
483500
250000
T
rpicodeCapricnio232700
Escalaaproxim
ada1:7.100.000
523000
500000
00000
100000
200000
300000
400000
500000
600000
Escala
aproximada
1:50.800.000
252548
700000
ELABORAO:ANDRADE,
R.
V.
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14Segundo os resultados preliminares do Censo de 2000, realizado pelo Institu-
to Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Curitiba possui uma populao de
1.586.848 habitantes, com uma taxa de crescimento de 1,82% ao ano.
De acordo com a classificao de MONTEIRO (apud MENDONA, 2001 p.
129-33), Curitiba est na faixa dos climas Mesotrmicos Controlados por Massas de
Ar Tropicais e Polares, no subgrupo CW Tropical de Altitude com Inverno Seco e
Chuvas de Vero e do tipo Cfb, com vero fresco.
A temperatura mdia anual de 16,5 C Durante o ms mais frio, a tempera-
tura mdia de 12,6 C e no mais quente de 20,1 C A variao mdia da tempera-
tura diria da ordem de 11 C (BONGESTABS, 1983 s/p).
Em Curitiba, a umidade relativa do ar de 80%; segundo MAACK (1981), es-sa umidade sempre elevada se deve proximidade do oceano, altitude e situao
topogrfica da regio.
Durante o vero, os dias mais longos compensam o efeito da latitude; no en-
tanto, durante o inverno, os dias mais curtos reduzem a carga trmica do sol e incre-
mentam os efeitos da localizao sobre a temperatura do ar. Outros elementos, como
a altitude, a nebulosidade e as condies atmosfricas, exercem grande influncia so-
bre a insolao local (BONGESTABS, 1983 s/p).A nebulosidade, relao entre reas abertas por nuvens e cu limpo, alta
em Curitiba. Durante o inverno, o nmero de horas de sol maior que no vero, o que
de certa forma, ajuda a compensar a distribuio anual da energia solar e da lumino-
sidade do cu (BONGESTABS, 1983 s/p).
O regime pluviomtrico de Curitiba no permite que se defina estao seca e
mida, embora haja certo predomnio de chuvas no vero. A precipitao mdia anual
de 1.413 mm (Prefeitura Municipal de Curitiba s/d).Sobre o regime dos ventos, BONGESTABS (1983 s/p) afirma que: (...) o sis-
tema de circulao atmosfrica na regio sul do pas tem uma grande influncia sobre
o clima regional, sendo responsvel pelas freqentes e inesperadas variaes do
tempo atmosfrico, tanto no que se refere mudana de temperatura, ocorrncia de
chuvas e ao padro dos ventos locais. Os ventos setentrionais so predominantes.
Ainda de acordo com BONGESTABS (1983 s/p) a proximidade do mar tem uma no-
tvel influncia sobre o clima de Curitiba, mas os corpos de gua da regio tm pouco
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15significado, porque estando situada nas cabeceiras de bacias hidrogrficas, os nossos
rios tm pequeno porte e a disponibilidade de gua na regio pequena, embora por
aqui nasa o mais importante rio do estado: o Iguau.
O fato de Curitiba estar posicionada nas cabeceiras de bacias hidrogrficas
tem grande influncia na criao dos parques e bosques da cidade como ser abor-
dado mais adiante.
Curitiba drenada pela bacia do Rio Iguau, principalmente pelos seus aflu-
entes da margem direita: Rio Bacacheri, Rio Atuba, Rio Ira, Rio Belm, Rio gua
Verde, Ribeiro dos Padilhas, Rio Ponta Grossa, Arroio da Prensa, Arroio Andrada,
Rio Passo do Frana, Rio Formosa, Rio Tangu e Rio Barigi, entre outros (Ver Mapa
01). De acordo com a Prefeitura Municipal de Curitiba (s/d), o arranjo dos cursos flu-viais da regio, apresenta um padro de drenagem do tipo radial com configurao
centrpeta, pois os rios convergem para o Rio Iguau nas direes sul e sudeste. (...)
Os rios de Curitiba tm suas nascentes nos municpios limtrofes e possuem uma rea
de drenagem de 1.550,7 Km.
Sobre sua configurao fisiogrfica, Curitiba est assentada no Primeiro Pla-
nalto Paranaense, que composto por rochas cristalinas, rochas duras e antigas.
Grande parte do municpio possui, sobre o embasamento cristalino, uma camada desedimentos denominada Formao Guabirotuba (SALAMUNI, 1969 p. 03).
O Municpio de Curitiba, genericamente, pode ter sua geologia dividida em trs comparti-mentos distintos: o embasamento cristalino, constitudo por um complexo de rochas meta-mrficas; assentado sobre o mencionado embasamento, h ocorrncia de depsitos doquaternrio antigo, formao Guabirotuba, ou Bacia de Curitiba e, finalmente, ocorrem de-psitos de sedimentos bem mais recentes, resultantes das atividades de rios que ainda hojesulcam o Municpio. (...) O relevo mais suave corresponde poro central da cidade deCuritiba, apresentando vales muito abertos e vastas plancies aluviais que se desenvolvemao longo dos rios Passana, Barigi e Belm. (Prefeitura Municipal de Curitiba s/d) .
Os nveis hipsomtricos mais elevados aparecem nas pores norte, noroeste
e oeste e coincidem com as reas de maior declividade. As regies sul e sudeste ca-
racterizam-se por serem mais baixas, principalmente na rea de vrzea do Rio Igua-
u, onde observa-se tambm reas de declividades mais suaves.
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ESCALAAPROXIMADA1:150.000
Mapa 01Rede hidrogrfica de Curitiba
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17De acordo com VELOSO (apud HARDT, 1994 p. 37), Curitiba est situada na
regio de ocorrncia da Floresta Ombrfila Mista e da Estepe-Gramneo-Lenhosa.
Segundo a Prefeitura Municipal de Curitiba (s/d), pode-se classificar, de forma geral, a
cobertura vegetal da regio como pradaria de altitude, campos entremeados por pe-
quenos bosques de araucria.
A cobertura vegetal original apresentava campos limpos, capes e matas-
galeria, que se formavam devido maior umidade do solo nos afloramentos do lenol
fretico. Nas pores oeste e noroeste, que so reas de relevo suave, encontrava-se
a mata das araucrias cobrindo um denso sub-bosque composto por diversas outras
espcies vegetais. A vegetao caracterstica de vrzea tinha predomnio nas pores
sudeste e sudoeste, na regio formada por um relevo de plancies aluvionares e comsolos fortemente influenciados pelas guas freticas. Na regio sul, de relevo mais
baixo, assim como nas pores centro e nordeste, a vegetao era de campos entre-
meados de arbustos e matas ciliares (Prefeitura Municipal de Curitiba s/d).
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Captulo 01
1. O VERDE E A CIDADE
Neste captulo so levantados alguns conceitos sobre o meio ambiente urba-
no e reas verdes, bem como as funes dessas reas dentro das cidades.
1.1 Consideraes iniciais sobre o meio ambiente urbano
Com o grande crescimento populacional mundial, torna-se cada vez mais dif-
cil encontrar locais onde no tenha havido, em alguma escala, interferncias danosas
ao meio provenientes de atividades humanas. Muitas vezes, atividades realizadas em
uma determinada regio expandem suas conseqncias a quilmetros de distncia. A
extrao mineral irregular aumenta os ndices de mercrio em rios afetando espcies
nas reas mais densas da floresta tropical, onde dificilmente o homem tem acesso; a
poluio gerada pelas indstrias se propaga com os ventos atingindo outras regies.
A cidade se expande e se une com outras por meio de rodovias, ferrovias, sistemas
de comunicao e informtica. J no mais to simples encontrar reas isentas da
influncia da ao do homem.
Aparentemente tornou-se invivel dissociar cidade e meio ambiente, pois o
processo de urbanizao influencia e influenciado pelo entorno de sua rea de ocu-
pao, so meios integrados que no podem ser desvinculados. No entanto, neces-
srio extrema cautela para que no se reduza tudo ao urbano/antropizado, pois cadameio tem sua dinmica prpria e as influncias que um exerce no outro so diversas.
Inicialmente faz-se necessrio conceituar meio ambiente urbano. Pode-se
considerar o meio ambiente urbano como a articulao e a interdependncia do sis-
tema natural e do sistema cultural, sendo o primeiro constitudo de fatores biticos
(fauna e flora) e de fatores abiticos (subsolo, solo, gua, ar, clima), enquanto que o
segundo sistema constitudo pelo homem e suas atividades (uso e ocupao do so-
lo, demografia, distribuio espacial). Para TRINDADE (1998, p.40), o meio ambien-
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19te possui inmeras definies (...) pode-se entend-lo como: Os fatores biticos e a-
biticos existentes em um espao qualquer. Entende-se de uma maneira simples, os
fatores biticos como os componentes do reino vegetal e animal e os fatores abiticos
como todos os outros elementos atuantes.
Nas cidades, a energia transformada e o resduo da transformao dessa
energia no , em grande parte, absorvido ou reaproveitado pelo sistema urbano; so
sistemas que consomem oxignio, gua, alimento, combustvel e geram, como sub-
produto, gases poluentes e dejetos orgnicos.
Essa ausncia de reaproveitamento dos resduos gerados faz com que as ci-
dades tenham uma dependncia de elementos externos a ela. Pode-se defini-la como
um sistema consumidor sem reposio. Esse fluxo de energia unidirecional faz comque haja um menor aproveitamento nas cidades do que nos sistemas naturais, logo,
enquanto nos sistemas naturais a estabilidade aumenta com a complexidade, nos
meios urbanos esta estabilidade diminui com a complexidade.
(...) considera-se, stricto sensu, que as cidades esto estressando severamente o ecossis-tema global, necessitando cada vez mais de matria-prima, energia e desenvolvimento eco-nmico para superar problemas econmicos e sociais bsicos. O impacto sobre a naturezase traduz em reduo da complexidade biolgica, pondo em risco a sobrevivncia dos sis-temas naturais. O conceito de limite e renovabilidade do meio ambiente tem sido superadopela cidade: os efeitos benficos da mesma possuem limites, os quais parecem estar sendoatingidos (MELLO, 1993 p. 61).
O processo de urbanizao vem crescendo continuamente, e torna-se cada
vez mais difcil encontrar reas onde no haja seqelas da presena das atividades
humanas. A dicotomia rea natural/rea construda vai sendo substituda pela dicoto-
mia rea com grande impacto da ao humana/rea com baixo impacto da ao hu-
mana.Pode-se concluir que a estabilidade ambiental vai reduzindo na medida em
que as reas naturais vo sendo substitudas pelas reas urbanas. Como parece pou-
co provvel a conteno do crescimento de reas antropizadas, faz-se mister uma
mudana de mentalidade na relao extrao, consumo e reposio nos meios antro-
pofizados.
Houve um tempo onde se associava a cidade ao progresso e o campo es-
tagnao. Dentro dessa viso era necessrio retirar das cidades elementos que reme-
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20tessem ao campo; assim, imponentes prdios e largas rodovias foram substituindo os
remanescentes das reas verdes dentro dos centros urbanos e o gramado dos quin-
tais das casas modificados com largas extenses de lajotas. Essa atitude eliminou
enormes reas verdes, principalmente nos centros das cidades, e o custo de reim-
plantao dessas reas, uma vez eliminadas, tornaram-se economicamente inviveis.
Logo, tm-se cidades como So Paulo que, mesmo j tendo percebido a necessidade
econmica da implantao de reas naturais, no consegue mais implant-las pela to-
tal ausncia de espao fsico. Portanto, essas reas devem ser implantadas desde o
incio do processo de produo da cidade, destinando reservas espalhadas por diver-
sos pontos da malha urbana.
As cidades so a expresso mxima do impacto do ser humano sobre a natu-reza, so uma tentativa de organizao funcional do espao, onde cada objeto tem
sua forma e funo e est estrategicamente posicionado dentro da estrutura urbana,
e submetido ao processo de especulao econmico-social. Assim, as reas verdes
dificilmente ocupam posies privilegiadas dentro das cidades.
1.2 reas verdes: uma abordagem conceitual
Diversos autores como MILANO (1991), HARDT (1994) e CAVALHEIRO
(1992), entre outros, ao estudarem o tema, divergem no enfoque, mas, de forma ge-
nrica, conceituam reas verdes urbanas como reas livres da cidade, com caracte-
rsticas predominantemente naturais, independente do porte da vegetao; ou seja,
so predominantemente reas permeveis, podendo possuir apenas vegetao ras-
teira ou grande cobertura arbrea. No entanto, no chegam a um consenso se a rea
mnima, se deve ser contgua ou no, ou se devem entrar, para efeitos de clculo, os
corpos de gua.
Alguns desses autores como OLIVEIRA (1996) e LIMA (1991), classificam
como reas verdes os espaos de recreao pblica, tais como: largos, jardinetes,
praas, bosques, parques, eixos de animao, jardins ambientais, ncleos ambientais,
centros esportivos e ruas arborizadas.
Ainda segundo esses autores, as reas verdes tambm podem ser classifica-
das como:
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21Particulares:reas de propriedade particular, tais como: lotes no ocupados,
quintais de casas, chcaras e jardins;
Potencialmente coletivos: reas de propriedade particular, no entanto de uso
coletivo ou pblico, tais como: clubes e campos esportivos (golfe, tnis, futebol);
Pblicas:reas de propriedade pblica, tais como praas, bosques e parques.
As reas particulares apresentam maior facilidade de manuteno, porm
tendem a ser eliminadas por construes de maior uso individual ou econmico, en-
quanto as reas pblicas, embora requisitadas pela maioria da populao, atingem
rapidamente um processo de degradao por falta de comprometimento da populao
em sua implantao ou manuteno, deixando que a preservao fique delegada ex-
clusivamente ao descaso do poder pblico. Como afirma PEREIRA LEITE (1993):
Ao longo do tempo, a evoluo dos povoados, vilas e cidades brasileiras assistiu a um lento,porm irreversvel, processo de indefinio sobre a propriedade privada e a de uso coletivo.(...) Com o adensamento das cidades e seu conseqente avano sobre as reas circundan-tes instalaram-se, simultaneamente, os processos de renncia ao espao pblico urbano ede privatizao da natureza. (...) A cidade responde a essa rejeio recproca entre classessociais e poder pblico, exibindo uma paisagem fragmentada e desorganizada: espaos pri-vados fortemente defendidos e espaos pblicos abandonados e deteriorados (p. 141).
consenso entre os autores que os parques e bosques pblicos se inseremdentro das reas verdes, mas no correspondem ao seu total. Os objetos de estudo
desta dissertao sero os parques e bosques de uso pblico reconhecidos ofi -
cialmente pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba, sendo eles:
Passeio Pblico, Parque da Barreirinha, Parque So Loureno, Parque Barigi, Par-
que Iguau, Parque lber de Mattos (Bacacheri), Parque das Pedreiras, Parque do
Passana, Jardim Botnico, Parque dos Tropeiros, Parque Caiu, Parque Diadema,
Parque Tingi, Parque Tangu, Bosque Boa Vista, Bosque Joo Paulo II, Bosque Ca-po da lmbuia, Bosque Gutierrez, Bosque Reinhard Maack, Bosque do Pilarzinho,
Bosque Zaninelli, Bosque de Portugal, Bosque da Fazendinha, Bosque Alemo, Bos-
que Italiano, Bosque do Trabalhador e Bosque So Nicolau.
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221.2.1 Conceito de reas verdes a parti r do Plano Preliminar de Urbanismo
At o Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba, que posteriormente trans-
formou-se no Plano Diretor (1966), no havia uma definio regulamentada pela pre-
feitura sobre reas verdes. No Plano Preliminar de Urbanismo, na prancha 1.2, so
feitos levantamentos sobre reas de recreao descoberta, no entanto o termo reas
verdes utilizado com bastante freqncia como pode-se observar na seguinte cita-
o:
As reas verdes dentro do contexto urbano
Neste estudo foram consideradas como reas verdes todas as reas municipais destinadasa esse fim. Equipadas ou no (h 15 reas num total de 55 que so simples terrenos baldi-os). As reas menores de 1.000 m foram consideradas aproveitveis para recreao decriaas de 0 a 5 anos; as reas de 1.000 a 30.000 m para crianas de 0 a 15 anos.Para Jovens de 15 a 25 anos foram consideradas as reas maiores de 30.000 m, que cor-respondem ao Passeio Pblico, Parque Municipal, Horto da Barrerinha e Horto do Matadou-ro.Foram considerados os seguintes raios de influncia:Crianas de 00 - 05 anos - 500 mCrianas de 05 - 15 anos - 1.000 mJovens de 15 - 25 anos - 5.000 m(SERETE, 1965 p. 133-4)
Um pouco mais para frente o documento da SERETE (1965) alega que as
funes das reas verdes no esto bem definidas, havendo pouqussimas reas e-
quipadas para recreao ativa 7 reas de um total de 55 possuem playgrounds e al-
guns deles mal equipados. (p.138).
Fica claro que o Plano Preliminar de Urbanismo considerava como reas ver-
des todos os tipos de praas e jardinetes, mesmo os que eram simples terrenos baldi-
os e inclua ainda nesta relao os dois parques municipais (Passeio Pblico e Muni-cipal) e os dois hortos (Barrerinha e do Matadouro). No entanto na pgina 147 do do-
cumento da SERETE (1965) sugerida uma reconceituao de reas verdes como
recreao passiva ou contemplativa, traduzida por considerveis reservas nas reas
de expanso.
O Plano Preliminar de Urbanismo (1965, p. A69-71) classificou as reas ver-
des da seguinte forma:
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24Ainda em 1988, o decreto n 471, normatizou o uso dos parques pblicos, definindo-os co-mo: Setores especiais constitudos por reservas de reas de interesse pblico, criados vi-sando a proteo e conservao dos recursos naturais existentes, a formao e manuten-o de bens de uso comum, aliados promoo de atividades cientficas, educacionais, la-zer contemplativo, recreativos e culturais (UNILIVRE, 1997 p. 101).
Por intermdio da Lei n 9.804, de 03 de janeiro de 2000, a PMC criou o Sis-
tema de Unidades de Conservao, que classificou as reas verdes do municpio. De
acordo com a lei n 9.804 (PMC, 2000), as Unidades de Conservao so: reas no
Municpio de propriedade pblica ou privada, com caractersticas naturais de relevante
valor ambiental ou destinadas ao uso pblico, legalmente institudas, com objetivos e
limites definidos, sob condies especiais de administrao e uso, as quais aplicam-
se garantias de conservao, proteo ou utilizao pblica.
A PMC, atravs da Lei n 9.804/00, classificou as unidades de conservao
em nove tipos distintos: reas de Proteo Ambiental (APA), Parques de Conserva-
o, Parques Lineares, Parques de Lazer, Reservas Biolgicas, Bosques Nativos Re-
levantes, Bosques de Conservao, Bosques de Lazer e especficas.
I - REAS DE PROTEO AMBIENTAL (APA): so reas de propriedade pblica ou priva-da, sobre as quais se impem restries s atividades ou uso da terra, visando a proteo
de corpos dgua, vegetao ou qualquer outro bem de valor ambiental definido pela Secre-taria Municipal de Meio Ambiente SMMA;
II - PARQUES DE CONSERVAO: so reas de propriedade do Municpio destinadas proteo dos recursos naturais existentes, que possuam uma rea mnima de 10 ha (dezhectares) e que se destinem manuteno da qualidade de vida e proteo do interessecomum de todos os habitantes;
III - PARQUES LINEARES: so reas de propriedade pblica ou privada, ao longo dos cor-pos dgua, em toda a sua extenso ou no, que visam garantir a qualidade ambiental dosfundos de vale, podendo conter outras Unidades de Conservao dentro de sua rea de a-
brangncia;
IV - PARQUES DE LAZER: so reas de propriedade do Municpio, que possuam uma reamnima de 10 ha (dez hectares) e que se destinem ao lazer da populao, comportando e-quipamentos para a recreao, e com caractersticas naturais de interesse proteo;
V - RESERVAS BIOLGICAS: so reas de propriedade pblica ou privada, que possuamcaractersticas representativas do ambiente natural do Municpio, com dimenso varivel eque se destinem preservao e pesquisa cientfica;
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25VI - BOSQUES NATIVOS RELEVANTES: so os bosques de mata nativa representativosda flora do Municpio de Curitiba, em reas de propriedade particular, que visem a preser-vao de guas existentes, do habitat da fauna, da estabilidade dos solos, da proteo pai-sagstica e manuteno da distribuio equilibrada dos macios vegetais, onde o Municpioimpe restries ocupao do solo;
VII - BOSQUES DE CONSERVAO: so reas de propriedade do Municpio, destinadas proteo dos recursos naturais existentes, que possuam rea menor que 10 ha (dez hecta-res), e que se destinem manuteno da qualidade de vida e proteo do interesse comumde todos os habitantes;
VIII - BOSQUES DE LAZER: so reas de propriedade do Municpio com rea inferior a10(dez hectares), destinadas proteo de recursos naturais com predominncia de usopblico ou lazer;
IX - ESPECFICAS: so unidades de conservao criadas para fins e objetivos especficos,tais como: Jardim Botnico, Pomar Pblico, Jardim Zoolgico e Nascentes. (CURITIBA, Lein 9.804/00, Art. 3)
De acordo com a lei, a definio de outros espaos como praas, jardinetes,
jardins ambientais, largos, eixos de animao e ncleos ambientais ainda ser objeto
de regulamentao especfica.
Segundo funcionrios da PMC, essa legislao foi realizada visando padroni-
zar os conceitos de parques e bosques e, para isso, levou-se em considerao os as-
pectos considerados em outros municpios que j possuem essa regulamentao. At
a elaborao dessa legislao, no havia nenhuma documentao oficial que distin-
guisse parques e bosques, e os critrios para a classificao eram muito subjetivos.
Como exemplo disso, o Parque Man Garrincha, foi planejado para ser uma praa, no
entanto, conforme funcionrios da PMC, o ento prefeito Rafael Greca achou que,
com a vinda da esposa de Garrincha para a inaugurao, seria necessrio dar mais
importncia ao espao, que acabou recebendo a denominao de parque. Emboraaparea nos mapas da cidade como Parque Man Garrincha ele no aparece nos do-
cumentos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) como tal.
Uma mesma unidade de conservao pode se enquadrar em mais de uma
classificao; o Parque Regional do Iguau, por exemplo, enquadra-se como rea de
Proteo Ambiental (APA), como parque de lazer, como parque de manuteno ou
como unidade especfica em funo do zoolgico e dos pomares.
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261.3 A funo das reas verdes nos centros urbanos
Com o crescimento das cidades e a diminuio das reas verdes, houve o
aparecimento de inmeros problemas decorrentes da ausncia dessas reas e, con-
seqentemente, regies que contavam com maior cobertura vegetal comearam a ser
associadas maior qualidade de vida. As reas verdes, conforme seu volume, distri-
buio, densidade e tamanho, podem interferir no entorno imediato de diversas ma-
neiras. Essa qualidade de vida, associada s reas verdes, reflete-se pela(o): ameni-
zao climtica, minimizao da poluio, proteo acstica, paisagismo, conforto
psicolgico, atuao sanitria, opo recreativa, valorizao imobiliria, preservao
dos recursos hdricos e preservao da fauna e flora.
Sobre a primeira funo, os revestimentos artificiais das superfcies no meio
urbano (concreto, asfalto), conciliados distribuio espacial dos edifcios e poluio
atmosfrica, fazem com que a incidncia dos raios solares, no microclima nos centros
urbanos, sejam processados de forma muito diversa das reas naturais. H, assim,
uma grande diferena de temperatura entre os centros urbanos e seu entorno. As -
reas verdes nas cidades possibilitam que os vegetais interceptem, reflitam, absorvam
e transmitam radiaes solares possibilitando reduo na temperatura. Um fator rele-
vante nesse processo a evapotranspirao dos vegetais e sua distribuio espacial,
que ir contribuir para direcionar ou barrar o vento (MILANO, 1984; TRINDADE, 1998;
LIMA, 1991).
Os centros urbanos tambm so geradores de uma quantidade significativa
de poluio produzida pelas indstrias, automveis e gerao de eletricidade (oznio,
xido de nitrognio, fluorados, nitratos e dixido sulfrico). Quando essa poluio no
de nvel permanentemente txico pode ser absorvida pelos vegetais. Alm de reter eminimizar a ao de gases txicos, a vegetao tambm auxilia na reteno de part-
culas suspensas (MILANO, 1984).
Outra funo das reas verdes urbanas refere-se ao adensamento populacio-
nal, que faz com que a maioria das edificaes permanea muito prxima s vias de
circulao e outros elementos geradores de barulho, como fbricas e bares. A utiliza-
o correta da vegetao pode fazer com que ela funcione como uma barreira fsica,
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27fazendo com que um percentual das ondas sonoras seja absorvido e outro seja refle-
tido (MILANO, 1984; TRINDADE, 1998).
A vegetao possibilita, tambm, a criao de ambientes esteticamente agra-
dveis, que atuam como elementos amenizadores de estresse e valorizam uma rea
(MILANO, 1984; TRINDADE, 1998).
A funo paisagstica, quando aliada ao sistema virio, possibilita que a aten-
o do condutor do veculo seja despertada por elementos vegetais que podem, por
exemplo, avisar a existncia de uma rtula ou de uma curva fechada (LIMA, 1991).
Uma outra funo pode ser identificada quando a distribuio adequada da
vegetao, dentro do paisagismo nos quintais, contribui para o aumento de privacida-
de, impossibilitando que pessoas na rua observem o que se passa dentro das casas(LIMA, 1991).
As atividades intensas e aceleradas das cidades geram elevados ndices de
estresse e irritabilidade. As reas verdes esto associadas vida no campo, ao lazer
e segurana. O contato com a natureza proporciona a sensao de paz e calma,
remete o homem s suas origens de integrao com a natureza (LIMA, 1991).
A funo mais comumente associada s reas verdes sem dvida a funo
recreativa. Elas funcionam como reas de encontro onde so ofertados diversos tiposde atividades (caminhadas, jogos e relaxamento). So reas de refgio na cidade, o
contraponto rea construda/rea natural. Essas reas geralmente recebem equipa-
mentos da prefeitura e sua utilizao varia conforme o carter social e cultural do usu-
rio (LIMA, 1991).
Outra importante funo das reas verdes urbanas est relacionada ao mer-
cado imobilirio. Obviamente se as reas verdes esto associadas qualidade de vi-
da, normal que as regies prximas a esses aglomerados vegetais apresentemmaior valorizao. Portanto, a implantao de parques e bosques pode definir ou alte-
rar o perfil da populao de uma determinada rea, ou seja, alterar o uso por segre-
gao scio-espacial decorrente do valor agregado por renda diferencial aos imveis
(TARNOWSKI, 1991).
Renda diferencial um conceito analisado e redefinido por VILLAA (1998)
como sendo aquela parcela do valor atribuda pelas vantagens locacionais que o im-
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28vel apresenta, neste caso a proximidade a um parque ou bosque. Nestas situaes,
diz-se que ocorre segregao branca, j que promovida pelo Estado:
Os estudos at agora realizados tm destacado amplamente o papel exercido pelo Estado,que se transformou ultimamente (seja por ao direta, por ao indireta, ou por simples o-misso) um dos principais agentes indutores (seno principal) do crescimento urbano dascidades brasileiras, especialmente daquelas de porte mdio. E isso se deve principalmenteao efeito imediato que as polticas pblicas tm sobre a planta de valores do solo urbano.Com efeito, por ser mercadoria que gera rendas queles que a possuem, e por ser tambmfixa no espao, a terra urbana extremamente sensvel a qualquer variao que ocorra noseu entorno. Isso porque a renda que ela aufere a seu proprietrio diferencial, isto , variaem funo dos mais diversos fatores, como, por exemplo, a presena ou ausncia de bensurbansticos os mais diversos. por essa razo que os proprietrios de terra iro tentar, pe-los mais variados meios, influenciar a tomada de decises do Estado a seu favor, atraindopara as reas onde possuem terras as polticas que aumentem a sua capacidade de apro-priao de renda territorial e afastando delas qualquer deciso que possa resultar numa di-
minuio dessa capacidade (ABREU, 1994 p. 268).
Esse fenmeno em que a populao que deveria ser beneficiada pela implan-
tao do equipamento levada a mudar sua residncia pelo aquecimento do mercado
imobilirio local com a implantao do parque ou bosque, tambm ocorre em Curitiba:
Hoje, trs anos mais tarde, a mesma rea faz parte do parque Tangu, um dos mais belosda cidade, e os terrenos vizinhos, do loteamento construdo pela famlia, tiveram uma valori-zao de pelo menos 40%. (...) No caso do Parque Tangu os proprietrios da rea doaram
45% do terreno e construram um loteamento na rea remanescente.(...) alm da valoriza-o dos terrenos, o que aumentou tambm foi liquidez, a facilidade de vender os imveiscom um parque ao lado (GAZETA DO POVO, 02/05/99 p. 11).
A explorao turstica dessas reas verdes ainda possibilita, como outra fun-
o desses espaos, a criao de uma nova fonte de renda e arrecadao para a mu-
nicipalidade (MILANO, 1984).
H ainda a relao das reas verdes com a drenagem das micro-bacias e a
qualidade da gua, pois as cidades apresentam altos ndices de impermeabilizao e
inmeras edificaes em reas imprprias, acarretando o aparecimento freqente de
enchentes e a perda de qualidade na captao da gua que abastece a cidade. As
reas verdes possibilitam maior absoro da gua no solo pela vegetao e, concili-
ando a presena de lagos, possibilitam a amenizao das enchentes (TRINDADE,
1998).
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231 Classificao das reas verdes segundo funes:
MonumentalRecreao AtivaRecreao Passiva
2 - Classificao das reas de recreao ativa segundo as idades dos usurios
Crianas de 00 a 05 anosCrianas de 05 a 15 anosJovens de 15 a 25 anos
3 - Definio de raio de influncia e rea de influncia de uma rea verdeRaio de influncia r de uma rea verde a distncia mxima razovel a ser percorridapelo usurio, de acordo com a sua idade, para atingi-la.rea de influncia S de uma rea verde o crculo cujo raio o de influncia r damesma
4 - Consideraremos como razoveis os seguintes raios de influncia:00 - 05 r1 = 500m05 - 15 r1 = 1.000m
15 - 25 r1 = 5.000m
5 - A experincia mostra que o nmero mximo de usurios simultneos das reas verdes:00 - 05 1/3 do nmero total de crianas residentes na rea de influncia da rea verde05 - 15 1/3 do nmero total de crianas residentes na rea de influncia da rea verde15 - 25 1/4 do nmero total de jovens residentes na rea de influncia da rea verde
6 - Os ndices utilizados para clculo da rea verde de recreao necessria foram:6,25 m/usurio para crianas de 0 a 5 anos12,50 m/usurio para crianas de 5 a 15 anos60,00 m/usurio para jovens de 15 a 25 anos
7 - Para o clculo da rea verde total para toda a cidade, considerando toda a populao,utilizamos o ndice de 5 m de rea verde por habitante, no mnimo.
(SERETE, 1965 p. A69-71)
Esses estudos do Plano Preliminar de Urbanismo se aplicavam principalmen-
te a praas e jardinetes e pouco falavam sobre bosques e parques. Vale ressaltar que
na poca eram consideradas reas verdes somente as reas pertencentes ao poder
pblico e classificadas como praas, jardinetes, parques ou bosques, enquanto hoje
so consideradas reas verdes todas aquelas com caractersticas predominantemente
naturais com vegetao de qualquer porte passvel de ser identificada por softwares
de gerenciamento ambiental. Embora o ndice oficial da PMC supere em onze vezes o
recomendado pelo Plano Preliminar de Urbanismo necessrio perceber que houve
uma grande mudana na definio do critrio para mensurar reas verdes.
Em 1988 foi institudo o decreto n 471 definindo os parques pblicos, no en-
tanto no aparecia o termo bosque, gerando dvidas quanto s diferenas entre eles.
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29Os parques e reas de proteo impedem que construes (indstrias ou re-
sidncias) ocupem reas prximas aos mananciais e reas de vrzea, procurando
preservar a qualidade da gua captada (TRINDADE, 1998).
Por fim, as reas verdes urbanas tambm contribuem para a preservao da
vida biolgica, tendo em vista que as cidades so o expoente mximo da ao huma-
na sobre o meio ambiente. Ao desenvolver uma cidade, o homem elimina ou altera a
maior parte dos elementos naturais do stio urbano. Via de regra, so introduzidas i-
nmeras espcies exticas e exterminadas grande quantidade das nativas. As reas
verdes, como bosques nativos, possibilitam a preservao de algumas espcies nati-
vas de plantas, alm de pequenos animais e insetos (LIMA, 1991).
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30C a p t u l o 0 2
O PAPEL DE PARQUES E BOSQUES NAHISTRIA DA PRODUO DO ESPAO URBANO DE CURITIBA
Para responder aos objetivos desta pesquisa, que como os parques e bos-
ques pblicos de Curitiba se inserem no processo de produo do espao urbano da
cidade, este captulo est divido em trs perodos histricos visando identificar os e-
lementos que definiram a produo dos parques e bosques de Curitiba. Estes pero-
dos foram definidos a partir das concepes que fundamentaram a criao dessas -reas pblicas, bem como pela forma e funes que passaram a ter em cada momento
da histria da cidade. Essa periodizao um exerccio para auxiliar na distino en-
tre os diferentes modelos de produo de parques e bosques adotados em cada mo-
mento histrico da cidade, para tanto criou-se um m