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Estudo objetivando determinar os efeitos da reabilitação virtual, através da plataforma Xbox 360®, no tratamento de incontinência urinária feminina em Parnaíba.
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ANÁLISE DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO VIRTUAL NO TRATAMENTO DA
INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA
Alex Vieira dos Santos Costa1, Jordeane Araújo de Sousa2, Susan Karolliny Silva Fontenele
Coutinho3, Marcelo de Carvalho Filgueiras4
1Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí – Parnaíba/PI2Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí – Parnaíba/PI3Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia, Supervisora de Estágio do setor de Urogineco e
Obstetrícia da Universidade Federal do Piauí – Parnaíba/PI4Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia, Orientador do Mestrado de Ciências Biomédicas
Resumo: Este estudo objetivou determinar efeitos da reabilitação virtual, através da plataforma Xbox 360®, no tratamento de incontinência urinária feminina em Parnaíba. A pesquisa realizada na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí, de maio a junho de 2015, incluiu 10 pacientes, com idade média de 37,4 ± 16,4 anos, avaliados no primeiro e no último dia de tratamento, através de uma ficha de anamnese, avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA), esquema PERFECT e questionário de qualidade de vida (King's Health Questionnaire). Os pacientes foram divididos em um grupo de cinesioterapia e outro de reabilitação virtual. Não houve diferenças significativas entre as variáveis observadas força, tônus, repetições e AFA, em comparações intragrupo, nos dois momentos da avaliação. A análise subjetiva do questionário mostrou uma melhora na percepção de seus voluntários acerca do quadro geral de saúde. Com base no estudo, ambos os tratamentos têm características semelhantes em suas especificidades.
Palavras-chave: Fisioterapia; incontinência urinaria; qualidade de vida; assoalho pélvico.
Abstract: This study aimed to determine the effects of virtual rehabilitation, through the Xbox 360® platform for the treatment of female urinary incontinence in Parnaiba. The research conducted at the Clinical School of Physiotherapy of the Federal University of Piauí, from May to June 2015, included 10 patients, mean age of 37.4 ± 16.4 years, evaluated in the first and the last day of treatment through a medical history form, functional evaluation of the pelvic floor (FEPF), PERFECT scheme and questionnaire about quality of life (King's Health Questionnaire). Patients were divided into two groups, kinesiotherapy and virtual rehabilitation. There were no significant differences between the observed variables strength, tonus, repeats and AFA in intragroup comparisons, in both evaluation times. A subjective analysis of questionnaire showed an improvement in the perception of its volunteers about the overall picture of health. Based on the study, both treatments have similar characteristics in their specificities.
Keywords: Physical therapy; urinary incontinence; quality of life; pelvic floor.
INTRODUÇÃO
A incontinência urinária (IU) segundo a Sociedade Internacional de Continência
(International Continence Society) é definida como uma “perda involuntária de urina que é um
problema social ou higiênico”, que ocorre não somente em mulheres idosas, como também em
mulheres jovens e de meia-idade.1 A qualidade de vida (QV) de mulheres com IU por muitas vezes
é comprometida, causando situações constrangedoras e estressantes, provocando implicações na
vida social, na saúde psicológica, física e sexual.2
Em revisão bibliográfica, Leroy et al.3 afirmam que estudos epidemiológicos revelam uma
prevalência de IU de 26,5% em mulheres de 35 a 64 anos e 41% naquelas acima de 65 anos.
Descrevem ainda uma prevalência de 49,6% em mulheres acima dos 20 anos e 45% nas que se
encontram entre 30 e 90 anos. A prevalência da IU aumenta com a idade, sendo assim, esta
condição se tornará extremamente comum com o envelhecimento da população. Os fatores de risco
frequentemente apontados são, dentre outros: idade avançada, elevado Índice de Massa Corpórea
(IMC), raça branca, paridade, menopausa, histerectomia e comorbidades como depressão e diabetes.
No Brasil, os estudos populacionais são exíguos e utilizam metodologias distintas, abrangendo, em
geral, grupos específicos como mulheres (durante a gravidez ou em distintos períodos após o parto)
idosos ou doentes crônicos institucionalizados e pacientes em pós-operatório de prostatectomia total
retropúbica.4 A IU é considerada um problema de saúde pública que afeta cerca de 25 a 45% das
mulheres em todo o mundo, sendo que no Brasil essa prevalência varia entre 5,8 a 72% das
mulheres, de acordo com as características da região.5 A integridade do assoalho pélvico é essencial
para a manutenção da continência urinária, sendo suas principais funções apoio, esfincterianas e
sexuais, além de manter a posição do colo vesical. Na mulher, as forças de retenção são vulneráveis,
visto que ela apresenta uretra curta e fatores de risco como assoalho pélvico submetidos aos
traumatismos obstétricos, lesões do nervo pudendo, das fáscias e musculatura do assoalho pélvico e
avanço da idade, menopausa e modificações hormonais.1
Existem duas condições básicas para que os mecanismos de continência sejam mantidos:
uma é a estabilidade do músculo detrusor; a outra, a manutenção do gradiente de pressão entre
uretra e bexiga. Normalmente eles são mantidos às custas de uma interação harmônica entre
Sistema Nervoso Central, Sistema Nervoso Periférico, Sistema Nervoso Autônomo e Sistema
Musculoesquelético, funcionando como uma unidade fisiológica.6 A coordenação nervosa periférica
da bexiga e esfíncter inferior externo ocorre por inervação parassimpática, simpática e somática,
que emergem da região sacral e toracolombar da medula espinhal. Os nervos pélvicos exercem ação
excitatória na bexiga e apresentam caráter inibitório na uretra. Os nervos hipogástricos representam
a principal inervação simpática da bexiga. A inervação simpática toracolombar excita, por liberação
de noradrenalina, o esfíncter uretral, assim como inibe a atividade parassimpática e a contração das
células musculares lisas do detrusor. As mais importantes aferências para início da micção são
provenientes dos nervos pélvicos, na região sacral.7
A incontinência urinária pode ser classificada em três tipos: IU de esforço (IUE) que é a
queixa de perda involuntária de urina no esforço físico, espirro ou tosse; IU de urgência (IUU)
caracterizada pela perda de urina acompanhada por forte sensação de urgência para urinar; e a IU
mista (IUM) quando há a associação entre a de urgência e a de esforço.8,9 Portanto, avaliar a função
e força da musculatura do assoalho pélvico (MAP) torna-se uma importante ferramenta para
monitorização dos resultados clínicos, além de servir como aprendizado e motivação para o
paciente, proporcionando uma eficácia terapêutica contra incontinência urinária.10 A reabilitação
conservadora é mais recomendada por ser uma opção menos invasiva e com menor risco de
complicações, acarretando também a diminuição de custos necessários para cirurgias.1
A cinesioterapia é considerada uma das formas de manutenção da força e integridade da
MAP, sendo os exercícios nessa região o tratamento adequado para pacientes portadoras de IUE.
Tal abordagem conduzida e supervisionada de forma correta alcança resultados satisfatórios. Outros
autores estão de acordo que o uso da cinesioterapia é efetivo e citam a motivação da paciente como
sendo uma importante parte para o sucesso do tratamento. A cinesioterapia tem determinado a
melhora ou a cura de várias pacientes com efeito duradouro por mais de 5 anos. 11 Entretanto, como
se trata de treinamento de musculatura, é de se esperar que a manutenção dos ganhos obtidos, como
em qualquer tipo de treinamento muscular, só possa acontecer caso a prática dos exercícios seja
feita com regularidade, no mínimo semanal.1
A Reabilitação por Realidade Virtual (RRV) é uma abordagem de tratamento que combina
exercícios dinâmicos funcionais (aqueles que incidem sobre os músculos inferiores do corpo e
estabilizadores do core, para simular movimentos comuns, preparando-os para as tarefas diárias) e
os jogos virtuais, a fim de aumentar a motivação, a participação, a adesão ao tratamento e reduzir
taxas de abandono. RRV emprega ambiente gerado por computador (realidade virtual) utilizando
consoles de jogos amplamente disponíveis (Nintendo Wii®, Microsoft Xbox®) para orientar os
pacientes através de exercícios funcionais de maneira divertida e envolvente. Apesar de muitos
estudos terem demonstrado a eficácia e vantagens motivacionais de terapias de realidade virtual
para várias condições e populações de pacientes, como pessoas com problemas de equilíbrio,
poucos estudos avaliaram os efeitos dessa abordagem no tratamento de incontinência urinária e,
mais especificamente, para as mulheres mais velhas com IU.12
A utilização de novas tecnologias na reabilitação, a exemplo da realidade virtual, tem
mostrado resultados importantes no tratamento de pacientes com comprometimento motor.13 Tendo
isso em vista, surgiu um interesse em verificar os efeitos da utilização da reabilitação virtual através
da plataforma Microsoft Xbox 360® no tratamento de mulheres com incontinência urinária da
cidade de Parnaíba-PI.
MÉTODOS
A pesquisa foi realizada na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí,
Parnaíba-PI, nos períodos de maio e junho de 2015. Inicialmente foram avaliadas 13 voluntárias, do
sexo feminino, com idades entre 20 e 66 anos. O recrutamento foi realizado através de divulgação
no campus e em pontos da cidade por meio de informativos sobre o estudo. Para os critérios de
inclusão foram selecionadas aquelas que apresentaram qualquer modalidade de incontinência
urinária e aceitaram participar do estudo mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Foram excluídas voluntárias que apresentavam qualquer comprometimento
osteomuscular, que já praticavam fisioterapia ginecológica, que eram virgens e que apresentaram
déficit cognitivo.
Se tratou de um estudo comparativo entre grupos onde a coleta dos dados foi feita a partir
dos resultados encontrados nos instrumentos da avaliação e reavaliação. Para avaliar as voluntárias
foi utilizado uma ficha de anamnese onde registrou-se dados como nome, endereço, queixa
principal e análise sobre os atos miccionais. Logo após foi aplicado o questionário de qualidade de
vida King’s Health Questionnaire (KHQ) validado em português que, em estudos anteriores,
mostrou-se sensível para distinguir os diferentes graus de incontinência urinária, apresentando uma
pior qualidade de vida, quanto maior a gravidade da incontinência urinária. O KHQ é composto por
30 questões organizadas em 9 quesitos: percepção da saúde, impacto da incontinência, limitação do
desempenho de tarefas, limitação física, limitação social, relações pessoais, emoções, sono e
energia e as medidas de gravidade. Possui ainda uma escala de sintomas composta pelos seguintes
itens: frequência urinária, noctúria, urgência, hiperreflexia vesical, incontinência urinária de
esforço, enurese noturna, incontinência no intercurso sexual, infecções urinárias e dor na bexiga,
além de uma opção onde o paciente refere qualquer outro problema relacionado a bexiga. O KHQ é
pontuado por domínio individualmente com valores de escore variando entre 0 e 100, onde quanto
maior a pontuação obtida, pior a qualidade de vida naquele quesito.14
Em seguida as voluntárias receberam uma aula de anatomia, para conhecimento corporal e
verificarem o local exato da contração da MAP. Foi realizado um treino para que a correta
contração pudesse ocorrer. A Avaliação da Força do Assoalho Pélvico (AFA) foi realizada pela
palpação bidigital com a paciente em decúbito dorsal em posição ginecológica modificada (flexo
abdução de coxofemoral), com os pés apoiados sobre a maca; os dedos indicador e médio do
examinador foram introduzidos no canal vaginal, com a mão devidamente enluvada e untada em gel
e então solicitado que a paciente contraísse a musculatura ao redor dos dedos e sustentasse essa
contração, pelo tempo máximo que conseguir. Para avaliação da força de contração e resistência da
musculatura do assoalho pélvico foi utilizada a classificação de Ortiz.15 Também foi realizado com
as voluntárias o esquema PERFECT para avaliar a função subjetiva do assoalho pélvico.
Desenvolvida por Bø e Larsen em 1990, o objetivo desse esquema é quantificar a intensidade, a
duração e a sustentação da contração muscular perineal.16
Após a avaliação as voluntárias foram divididas igualmente e aleatoriamente entre dois
grupos: grupo cinesioterapia (GC) e grupo reabilitação virtual (GRV). A modalidade cinesioterapia
foi composta de 7 exercícios cinesioterapêuticos associados a exercícios de Kegel, de forma
individualizada. A terapia teve uma duração média de 40 minutos para cada paciente. A série de
Kegel baseia-se em contrações voluntárias da MAP, onde intercala as contrações mantidas com as
rápidas com o propósito de estimular as fibras musculares do tipo I e do tipo II.17,18 A execução dos
exercícios foi realizada em associação à respiração abdomino-diafragmática com instrução verbal
do terapeuta solicitando a realização da inspiração diafragmática e, ao expirar lentamente, contrair a
região perineal, como se fosse reter a urina, uma vez que há uma relação agonista-antagonista entre
diafragma respiratório e o períneo.18 O protocolo de tratamento cinesioterapêutico constitui em:
primeiro exercício, contrações isoladas da MAP; segundo exercício, propriocepção do MAP na bola
suíça; terceiro, dissociação de cintura pélvica sobre a bola; quarto, agachamento sumô com bola
pequena; quinto, agachamento com bola suíça; sexto, ponte simples com bola; sétimo, abdominal
com quadril e joelhos a 90°.
Para o grupo reabilitação virtual (GRV) foi utilizado um componente de realidade virtual,
sendo este a plataforma Xbox 360® com o sensor de movimento Kinect através do jogo Just Dance
2014. Foram selecionadas 5 músicas com duração média de 3 minutos e meio cada, com dicas
visuais dos passos a serem realizados em cada música. A sequência de passos era demostrada na
região inferior da tela com um marcador indicando o passo a ser executado no momento exato. O
participante era orientado a executar o passo indicado na dança quando a figura do movimento
passar nesse marcador. Diferentes sequências de passos foram executadas em todas as 5 músicas.
As contrações de MAP foram indicadas através do estímulo verbal durante passos pré-
determinados, intercalando movimentos para fibras fásicas e tônicas. Os passos foram escolhidos
por se assemelhar a movimentos cinesioterapêuticos, como agachamentos, dissociação de cintura
pélvica, a fim de proporcionar um melhor resultado a terapêutica. A reabilitação virtual foi
observada através da adição do treino da MAP em auxílio do ambiente virtual.12
Um total de 12 intervenções foram realizadas em cada indivíduo de cada grupo, e ao final
foi realizado uma reavaliação da MAP através da AFA e do esquema PERFECT, além de uma nova
aplicação do questionário de qualidade de vida.
O protocolo de estudo foi submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal do Piauí, parecer nº 1.087.650, e todos os procedimentos adotados seguiram as normas
determinadas na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
Os valores foram organizados de forma a se comparar as diferenças entre os momentos
observados nas avaliações realizadas. As medidas das variáveis numéricas foram expressas em
média e desvio padrão. Para comparação das variáveis de distribuição normal foi utilizado o teste t
de Student para amostras independentes, e nas de distribuição não normal, o teste de Mann-
Whitney. Foi considerado um valor de significância p<0,05. As análises foram realizadas no
programa GraphPad Prism 5.0.
RESULTADOS
Das 13 voluntárias avaliadas inicialmente, 10 permaneceram até o fim do protocolo. Essas
apresentaram média de idade 37,4±16,4 anos. Os resultados a seguir mostram a comparação entre
os grupos cinesioterapia e reabilitação virtual, nos quesitos média de força (figura 1), tônus (figura
2), repetição (figura 3) e AFA (figura 4), e na comparação das médias das diferenças entre esses
grupos durante os momentos de avaliação (tabela 2). Não foram observadas diferenças significantes
(p<0,05) entre as variáveis força, tônus, repetições e AFA nas comparações intragrupos nos dois
momentos de avaliação. A tabela 3 mostra os resultados de média e desvio padrão antes da
aplicação dos tratamentos e a tabela 4 mostra os resultados após a reavaliação. A análise do
questionário de qualidade de vida foi realizada avaliando as respostas subjetivas das voluntarias,
comparando o questionário inicial com o questionário final. As respostas obtidas no questionário
final de ambos os grupos inferiram uma melhora na percepção das voluntárias do seu quadro geral
de saúde. Também relataram uma melhora da continência urinária, expressada na tabela 5, que
mostra a diminuição dos sintomas no momento da reavaliação.
Tabela 01: Perfil antropométricos dos grupos estudadosGrupo Cinesioterapia Grupo Reabilitação Virtual p-valor
Idade 40,2±23,2 34,6±11,0 0,8345
Peso 64,8±20,6 71,6±12,3 0,5434
Altura 154,8±8,3 158,6±10,3 0,5375
IMC 26,6±5,3 28,8±6,5 0,5741
Comparação das médias de idade, peso, altura e índice de massa corpórea (IMC) entre os grupos estudados, Parnaíba/PI, 2015. (n = 10)
Tabela 02: Comparação das médias das diferenças entre os momentos de avaliação na mensuração
de força, tônus, repetição e AFA dos grupos estudados, Parnaíba/PI, 2015. (n = 10)
Grupo Cinesioterapia Grupo Reabilitação Virtual p-valor
FORÇA
Diafragma Urogenital 4,0±4,8 1,6±3,3 0,3862
Musc. Elevad. do Ânus 2,2±3,0 2,2±2,9 0,6015
TÔNUS
Diafragma Urogenital 2,2±1,3 0,2±2,9 0,1172
Musc. Elevad. do Ânus 3,0±2,9 2,0±2,9 0,6024
REPETIÇÕES
Diafragma Urogenital 1,6±1,5 2,0±2,5 0,7707
Musc. Elevad. do Ânus 0,0±3,1 2,8±2,6 0,1583
AFA
Diafragma Urogenital 0,6±0,5 0,0±1,2 0,4647
Musc. Elevad. do Ânus 1,6±1,3 0,2±0,4 0,0283*
Musc. Elevad. Do Ânus = Músculo elevador do ânus
Tabela 3: Media dos domínios do KHQ antes do tratamento
Scores do KHQ Número Mínimo Máximo MédiaDesvio
Padrão
Percepção da saúde 10 0 50,0 27,5000 14,19116
Impacto da incontinência 10 0 66,6 26,6400 21,06077
Limitação do desempenho de
tarefas10 0 66,6 23,3000 26,27022
Limitação física 10 0 66,6 29,9700 33,14802
Limitação social 10 0 33,3 4,9900 11,23214
Relações pessoais 10 0 66,6 8,3250 23,54666
Emoções 10 0 77,7 14,4300 25,12188
Sono e Energia 10 0 100,0 19,9800 31,22836
Medidas de gravidade 10 0 41,6 22,4700 14,70873
Tabela 4: Media dos domínios do KHQ após o tratamento
Scores do KHQ Número Mínimo Máximo MédiaDesvio
Padrão
Percepção da saúde 10 0 50,0 25,0000 11,78511
Impacto da incontinência 10 0 66,6 16,6500 23,54666
Limitação do desempenho de
tarefas10 0 33,3 11,6500 15,79383
Limitação física 10 0 66,6 9,9800 21,05727
Limitação social 10 0 33,3 3,3300 10,53038
Relações pessoais 10 0 11,1 1,3875 3,92444
Emoções 10 0 22,2 5,5500 9,43319
Sono e Energia 10 0 16,6 3,3200 6,99917
Medidas de gravidade 10 0 25,0 11,6660 11,91555
Tabela 5: Escala de sintomas do KHQ1ª Avaliação 2ª Avaliação
Sintomas NãoUm
pouco
Mais ou
menosMuito Não
Um
pouco
Mais ou
menosMuito
Frequência 0 40% 20% 40% 0 60% 40% 0
Noctúria 30% 30% 30% 10% 40% 50% 10% 0
Urgência 10% 40% 20% 30% 50% 30% 20% 0
Bexiga hiperativa 10% 50% 30% 10% 80% 20% 0 0
IU de esforço 30% 40% 10% 20% 70% 20% 10% 0
Enurese noturna 100% 0 0 0 100% 0 0 0
Incontinência no
intercurso sexual90% 10% 0 0 100% 0 0 0
Infecções frequentes 40% 60% 0 0 80% 20% 0 0
Dor na bexiga 60% 30% 10% 0 70% 30% 0 0
Figura 01: comparação das médias de força entre os grupos nos dois momentos avaliados (DUG = diafragma urogenital; MEA = musculatura elevadora do ânus).
Figura 02: comparação das médias de tônus entre os grupos nos dois momentos avaliados (DUG = diafragma urogenital; MEA = musculatura elevadora do ânus).
Figura 03: comparação das médias de repetições entre os grupos nos dois momentos avaliados (DUG = diafragma urogenital; MEA = musculatura elevadora do ânus).
Figura 04: comparação das médias de AFA entre os grupos nos dois momentos avaliados (DUG = diafragma urogenital; MEA = musculatura elevadora do ânus).
DISCUSSÃO
Como descrito no estudo de Leon19, o desconhecimento sobre o que é, para que serve e
como funciona a musculatura do assoalho pélvico pode ser um fator precipitante para IU, podendo
levar a uma hipotrofia e fraqueza. Além disso, para as mulheres, a perda de urina é um fator crucial
para um baixo índice na qualidade de vida.
Atualmente a fisioterapia é considerada o tratamento de primeira linha para IU e os recursos
terapêuticos mais utilizados são: cinesioterapia do assoalho pélvico, cones vaginais, biofeedback,
eletromiografia de superfície, reeducação miccional e a eletroestimulação (EE)20
Gomes21 afirma que o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico é uma das principais
modalidades de tratamento para pacientes com IUE, e que a contração correta e o acompanhamento
adequado por um fisioterapeuta qualificado são a chave para o sucesso do tratamento. Buscando a
conscientização das voluntárias quanto a forma correta de realizar os exercícios, os pesquisadores
do presente estudo realizaram uma aula de anatomia e um treino para a contração correta do
assoalho pélvico, bem como os comandos de voz adequados utilizando uma linguagem clara e
objetiva, semelhante ao estudo de Santos22.
Para o protocolo de tratamento cinesioterapêutico, foram escolhidos exercícios semelhantes
ao proposto por Silva et al.23 em seu estudo de caso, no qual demonstrou um resultado satisfatório
com a paciente. Tais exercícios consistiam em contrações isoladas da MAP, propriocepção do MAP
na bola suíça, dissociação de cintura pélvica sobre a bola suíça, agachamento sumô com bola
pequena, agachamento com bola suíça, ponte simples com bola, e abdominal com quadril e joelhos
a 90°. O protocolo se mostrou eficiente e possível de realização pelas pacientes.
Em estudo realizado por Lopes et al.24 a fim de verificar as restrições causadas pela IU à
vida da mulher, 164 mulheres foram recrutadas, no qual 53 sofriam de IUE, sendo que todas as
pacientes estudadas apresentavam restrições, nas atividades sexuais, sociais, domésticos e
ocupacionais. Com base nessa relação entre IU e QV, a fisioterapia se mostra eficaz no
fortalecimento da MAP e consequente redução das perdas urinárias, fato comprovado no estudo em
questão, que após a intervenção constatou melhoras significativas na percepção da saúde, impacto
da incontinência, limitação dos desempenhos das tarefas, limitações físicas, limitações sociais,
emoções, sono e energia e medidas de gravidade de ambos os grupos, de acordo com o relato das
voluntárias.
Um outro fator observado é o aumento da força muscular do assoalho pélvico visto nos
resultados do AFA e do esquema PERFECT durante a reavaliação, que demonstraram valores
maiores após as intervenções, o que pode ser também observado no estudo de Matheus et al. 18 e
Pinheiro et al.25.
No presente estudo foi observado que tanto o grupo cinesioterapia quanto o grupo
reabilitação virtual não obtiveram diferenças significantes (p<0,05) quanto aos quesitos força,
tônus, velocidade, presentes no esquema PERFECT, como também na AFA. Isso pôde demonstrar
que a proposta de reabilitação virtual presente no estudo age de forma semelhante a proposta
terapêutica da cinesioterapia, gerando sua aceitabilidade. Em um estudo desenvolvido por Elliot et
al.12, 24 mulheres com IU participaram de um programa de tratamento utilizando a reabilitação
virtual associado aos exercícios para musculatura do assoalho pélvico proposto por Kegel. Os
pacientes apresentaram uma diminuição da perda de urina e uma melhora significante na qualidade
de vida. O protocolo de tratamento da reabilitação virtual usado no presente estudo foi baseado no
proposto por Elliot.
A reabilitação virtual vem se destacando como terapêutica em várias áreas como demonstra
o estudo de Borges e Mendes26 onde avaliam a influência do Xbox nas alterações fisiológicas,
cognitivas e de equilíbrio em idosos e observam um aumento das pontuações desses quesitos pós
tratamento. Porém, por se tratar de uma área nova e pouco explorada, ainda tem-se escassez de
estudos comprovando sua efetividade científica.
CONCLUSÃO
O estudo demonstrou que há uma aparente eficácia na utilização da realidade virtual como
forma de reabilitação. É importante ressaltar que, por ser uma área de pesquisa relativamente nova,
as evidências obtidas nos estudos ainda não são tão fortes, pois muitos têm baixo teor científico,
possuem amostras pequenas ou são relatos de caso. É sugerido que novas pesquisas sejam
realizadas para verificar possíveis variáveis não abarcadas por esse estudo, assim como abrangendo
um maior número de participantes, consequentemente aumentando a qualidade das informações.
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