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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE PSICOLOGIA
HELOÍSA CURSI CAMPOS
ANEDONIA: INTERAÇÕES ENTRE O CHRONIC MILD
STRESS E O DESEMPENHO OPERANTE
SÃO PAULO
2007
2
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE PSICOLOGIA
HELOÍSA CURSI CAMPOS
ANEDONIA: INTERAÇÕES ENTRE O CHRONIC MILD
STRESS E O DESEMPENHO OPERANTE
Trabalho de conclusão de curso como exigência parcial
para graduação no curso de Psicologia, sob orientação da
Professora Doutora Fátima Pires de Assis.
SÃO PAULO
2007
3
“Não menos que o saber, agrada-me duvidar”.
(Dante Alighieri, Inferno)
4
Agradecimentos
Quero agradecer:
À Professora Fátima, pelas orientações e por ter caminhado junto a mim no estudo
sobre a pesquisa básica e o Chronic Mild Stress.
À Professora Nilza, pelas oportunidades de Iniciação e do trabalho no ateliê que
contribuíram enormemente para a minha formação acadêmica e de vida, pela confiança em
mim com o Laboratório durante a fase de coleta de dados e por ter me incentivado com esse
estudo quando ele era apenas um projeto.
Às Professoras Nilza, Téia e Maria Amália pelas discussões pelos corredores sobre
este estudo.
Aos Professores Marcelo, Nilza, Téia, Maria Amália, Dinha, Roberto, Maly, Ziza,
Fátima, Paula, Mônica, Fani e Sérgio Luna pela dedicação e disponibilidade com os alunos,
por terem contribuído para a minha formação e por serem modelos de professores e
pesquisadores.
À Professora Maly e à Cássia, por terem me apresentado o Chronic.
À Cássia, Ana Carmen e Luciana, pelas discussões sobre o Chronic.
À Neusa, Conceição e Maurício pelos ensinamentos e cuidado com os animais deste
estudo e pelas conversas e risos.
À Dinalva, pelos risos e pela alegria.
À Joana, pelos desejos de boa coleta.
Aos meus pais e à Má, pelo carinho e apoio.
Ao Pibe, por me ajudar com a coleta e por esses quatro anos e meio...
Aos meus amigos, Vi, Dê, Dani, Cá, Ana, Dri, Júlia, pelas sugestões de “estressores”
(risos), por perguntarem e ouvirem-me contar sobre esta pesquisa, simplesmente; e pela
compreensão nos momentos nos quais não apareci, cheguei mais tarde ou sai mais cedo por
causa da coleta. Fico felicíssima por fazermos parte das vidas uns dos outros! À Dê,
novamente, pela preciosa ajuda com o cálculo da solução de sacarose.
5
Título: Anedonia: interações sobre o Chronic Mild Stress e o desempenho operante
Autora: Heloísa Cursi Campos
Orientadora: Professora Doutora Fátima Pires de Assis
Ano: 2007
Resumo
O Chronic Mild Stress é um modelo animal que pretende estudar a anedonia, um dos sintomas
da depressão, através da submissão de animais a um protocolo de estressores crônicos e
moderados. Em ratos, a anedonia é verificada na diminuição do consumo e da preferência por
água com sacarose. O presente estudo pretendeu investigar (a) se a exposição de animais por
três semanas de protocolo de estressores produziria redução do peso e diminuição do consumo
de líquidos e da preferência por água com sacarose, vistos nos estudos nos quais a submissão
ocorreu por seis semanas e (b) se a submissão a sessões operantes em esquema concorrente
FR4-FR4 não permitiria e/ou recuperaria a redução no peso e os valores de consumo e
preferência de líquidos. Este trabalho foi composto de: teste de consumo e preferência de
líquidos, esquema concorrente FR4-FR4 e protocolo de estressores. Todos os sujeitos tiveram
aferidos o peso e o consumo de água e ração e passaram pelos testes de consumo e preferência
de líquidos. Dois sujeitos passaram pelo protocolo de estressores e um deles, pelas sessões
operantes; o terceiro sujeito não passou pelo protocolo nem pelas sessões. Os resultados
revelaram que o protocolo teve efeitos sobre: o peso, o consumo de água e ração e a
preferência por água com sacarose, para o sujeito não submetido às sessões operantes. Esses
valores retornaram após o protocolo. As sessões operantes mantiveram o peso, o consumo de
água e ração e o valor reforçador da água com sacarose. O sujeito controle apresentou redução
da preferência por água com sacarose.
Palavras-chave: Protocolo de estressores crônicos e moderados, esquema concorrente, valor
reforçador, anedonia, depressão.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1
MÉTODO ............................................................................................. 11
RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 18
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 43
7
Modelos animais de psicopatologia têm sido uma metodologia para o estudo de
problemas comportamentais humanos (Seligman, 1975; Willner, 1991).
Trabalhar com as observações feitas em animais de laboratório constitui uma das
fontes de materiais de uma ciência do comportamento (Skinner, 1953/19741). Ainda que haja
diferenças entre o homem e os outros animais quanto à complexidade, diversidade e
amplitude de realizações (Skinner, 1953/1974), diversos estudos sugerem que os mesmos
processos básicos ocorram tanto nos homens, bem como nos animais (Skinner, 1974/1993).
McKinney e Bunney (1969) vão ao encontro de Skinner ao afirmarem que a lacuna de
homologia entre as espécies não impede a existência de estudos comparativos.
Segundo Skinner (1953/1974), a utilização de estudos do comportamento de animais
reside nos argumentos de que: (a) o comportamento animal é mais simples; (b) a ciência
avança do mais simples para o mais complexo; (c) os processos básicos podem ser mais
facilmente descobertos, registrados e manipulados durante longos períodos; e (d) pode-se
manipular circunstâncias que no comportamento humano seriam de difícil controle.
Assim, os modelos são tomados como ferramentas e, portanto, seus valores residem no
trabalho que se pode fazer com eles (Willner, 1991; Auriacombe, Reneric e Le Moal, 1997),
ou seja, as conclusões derivadas do uso da simulação realizada em laboratório podem se
tornar hipóteses que necessitam ser testadas nos seres humanos (Willner, 1991). Um modelo
que considerasse a manipulação sistemática das variáveis hipotetizadas como importantes
poderia fornecer condições para a clarificação das relações entre tais variáveis, procedimento
esse que é de limitado manejo em uma situação controlada em humanos (McKinney e
Bunney, 1969; Willner, 1997; Eifert, Forsyth, Zvolensky, Lejuez, 1999) e intervenções seriam
planejadas a partir desses princípios (Seligman, 1975; Eifert et al, 1999). Nesse sentido,
pesquisas experimentais se apresentam como relevantes e indispensáveis para o avanço da
compreensão e tratamento sobre problemas comportamentais humanos (Eifert et al, 1999).
McKinney e Bunney (1969) enumeram requisitos para um modelo experimental
estudar a depressão: (a) analogia razoável entre os sintomas induzidos e os observados nos
seres humanos; (b) observação de comportamentos que podem ser objetivamente avaliados;
(c) concordância entre observadores independentes sobre critérios objetivos a respeito do
estado subjetivo; (d) eficiência da reversão da depressão em humanos nos animais; (e)
reprodução do modelo por outros investigadores.
1 A primeira data se refere à data da publicação original e a segunda, à data da edição consultada.
8
Seligman (1975) traça quatro linhas de demonstrações básicas necessárias para
verificar se um fenômeno de laboratório pode ser um modelo de uma forma de psicopatologia
humana, a saber: (a) sintomas comportamentais e fisiológicos, (b) etiologia ou causa, (c) cura
e (d) prevenção. Segundo o autor, se um fenômeno humano e um fenômeno animal são
semelhantes em um ou dois dos critérios apontados acima, pode-se, então, testar o modelo a
procura das semelhanças previstas para os demais critérios.
Para Willner (1984) quando um modelo experimental de psicopatologia é proposto ele
deve satisfazer três critérios para ser aceito:
(a) Validade Preditiva (Predictive Validity2): trata-se da acuracidade das previsões que
podem ser feitas a partir de um modelo em relação à condição que está sendo simulada;
(b) Validade Aparente (Face Validity3): refere-se à similaridade entre o modelo e a
desordem encontrada no homem;
(c) Validade de Construção Teórica (Construct Validity4): diz respeito à racionalidade
teórica que sustenta o modelo.
Auriacombe et al (1997) apontam que os modelos animais conferem importância e
focalizam a etiologia do distúrbio. Contudo, segundo os autores, a depressão é resultado de
um ou mais fatores, a saber: de desenvolvimento, sócio-ambiental e genético. Willner (1984),
Borsini (1997) e Cabib (1997) enfocam o aspecto ambiental, ao afirmarem que o estresse é
um potente contribuidor para a depressão.
Dessa maneira, a etiologia pode ser um obstáculo nos modelos animais de patologia,
uma vez que não se têm esclarecidas as causas da patologia (Willner, 1991; Borsini, 1997). A
saída seria, então, tentar criar nos animais um ou mais sintomas da desordem a ser estudada
(Borsini, 1997).
Diversos modelos que pretendem estudar a depressão se baseiam em comportamentos
anormais causados por estressores (Willner, 1991) que se assemelham à intensidade das
dificuldades cotidianas enfrentadas pelos indivíduos (Willner e cols, 1987; Willner, 1991,
1995, 2005).
Contudo, apenas alguns modelos possuem validade para serem considerados modelos
de depressão (Willner,1984). Um dos modelos que estudam a depressão causada por estresse
e que possui validade como um modelo de depressão em animais (Willner, 1984, 2005;
2 Tradução de Dolabela (2004).
3 Tradução de Dolabela (2004).
4 Tradução de Dolabela (2004).
9
Willner, Moreau, Nielsen, Papp, Sluzewska, 1996) é denominado Chronic Mild Stress, o
modelo que foi utilizado no presente estudo5.
O Chronic Mild Stress é um modelo que consiste na exposição de um animal a um
protocolo de estressores6 moderados
7 e variados por um período de semanas, produzindo
efeitos vistos em pacientes com depressão (Willner, 1991, 2005; Borsini, 1997): diminuição
da atividade sexual, do comportamento de exploração do ambiente, da atividade motora e da
agressividade, alteração das fases do sono e presença de anedonia (observada como a redução
da sensibilidade à recompensa, no caso a água com sacarose) (Willner, 1997, 2005).
Assim, em particular na depressão, está-se propondo criar em laboratório um dos
sintomas da patologia, a anedonia (Willner, 1995). Para o DSM-IV, o manual de diagnóstico
de doenças mentais publicado pela Associação Psiquiátrica Americana, um dos critérios que
podem diagnosticar a depressão é definido como a perda de interesse por qualquer atividade
anteriormente considerada prazerosa e agradável.
Para propor esse modelo, Willner, Towell, Sampson, Sophokleus e Muscat (1987)
realizaram um estudo composto de quatro experimentos que tinha o objetivo de reproduzir,
através da exposição a estressores moderados, avaliar e reverter com a administração de um
antidepressivo, a anedonia em laboratório.
O primeiro experimento investigou os efeitos da exposição a estressores crônicos e
moderados no consumo e preferência por sacarina.
Vinte e quatro ratos machos adultos após privação de água e ração por quatro horas
foram expostos por uma hora a uma solução de sacarina a 0,1%. Doze sujeitos formaram um
grupo controle enquanto outros doze foram submetidos, durante cinco semanas, aos
estressores: privação de comida, privação de água, iluminação contínua, inclinação da gaiola a
30º, permanência de outro sujeito na gaiola, gaiola suja (água derramada na gaiola) e
exposição à temperatura baixa (10º C). Na primeira e segunda semanas do experimento foi
realizado um teste de consumo de líquidos com a apresentação de uma garrafa de água com
sacarina para os dois grupos. Nas três semanas seguintes, foram disponibilizadas
simultaneamente duas garrafas, uma contendo água e a outra, solução de sacarina a 0,1%.
5 Para apontamento de outros modelos animais que pretendem estudar a depressão, sugerem-se os trabalhos de
McKinney; Bunney, (1969), Willner (1984, 1991) e Thomaz (2001).
6 Nesse trabalho o conjunto de estressores é denominado protocolo de estressores. Willner (1987) trata como
estressores os eventos aversivos para os sujeitos.
7 Estressores moderados são considerados como tal de acordo com a legislação inglesa para procedimentos
científicos com animais (Willner, 1991; Borsini, 1997).
10
Os autores verificaram uma diminuição do consumo de e na preferência por sacarina
desde a primeira semana de exposição aos estressores. Essas alterações não foram observadas
no grupo controle.
O segundo experimento alterou o protocolo de estressores e examinou a preferência
por sacarina e sacarose e os efeitos do antidepressivo desmetilimipramina (DMI).
Dois grupos, cada um com vinte ratos machos adultos, foram privados de água e ração
por vinte e três horas antes de serem expostos a duas garrafas, uma com água e a outra com
água com sacarose a 1%, para um grupo e para o outro grupo, água e a outra garrafa com água
e cloreto de sódio a 0,5%. Em seguida, ambos os grupos foram divididos em dois subgrupos
cada. Um subgrupo de cada grupo foi exposto a um protocolo de estressores por seis semanas
consecutivas que tiveram o acréscimo dos estressores: barulho intermitente (85 dB), luz
estroboscópica (300 flashes/min), exposição a uma garrafa vazia após um período de
privação, acesso restrito à comida, presença de odores (purificadores de ar) e presença de
objeto estranho (plástico ou madeira) na gaiola. Além disso, alguns estressores foram
intensificados ao longo das semanas, como o aumento da inclinação da gaiola (de 30º a 45º) e
a presença de quatro sujeitos, ao invés de dois, na mesma gaiola. Semanalmente foram
conduzidos testes de preferência de líquidos com a exposição de duas garrafas ao sujeito.
Após três semanas de submissão ao protocolo de estressores, os subgrupos foram novamente
divididos e para cada grupo foi administrado diariamente o antidepressivo DMI.
Os resultados indicaram uma redução no consumo de água e água com sacarose no
grupo submetido aos estressores. O antidepressivo utilizado pareceu anular os efeitos dos
estressores, uma vez que aumentou o consumo de e a preferência por água com sacarose nos
animais submetidos ao protocolo. Ainda, o total de líquido ingerido pelos sujeitos não
submetidos ao protocolo não diferiu entre os grupos que consumiram água com sacarose e
água com cloreto de sódio. Também não houve diferenças entre o grupo controle e o grupo de
animais que passaram pelo protocolo quanto à preferência pela solução de cloreto de sódio.
O terceiro experimento replicou os efeitos do protocolo de estressores e do
antidepressivo DMI na preferência por água com sacarose e examinou seus efeitos nas taxas
de corticosterona e glicose no sangue.
Dois grupos, sendo cada grupo composto de vinte e dois ratos machos adultos,
passaram pelo teste de consumo de líquidos (água e água com sacarose a 1%). Um grupo de
onze ratos foi submetido ao mesmo protocolo de estressores do segundo experimento durante
nove semanas e o outro grupo não foi submetido. Após três semanas, foi administrado em
metade dos sujeitos de cada grupo o antidepressivo DMI. Durante esse período e pelas quatro
11
semanas seguintes à retirada dos estressores, testes semanais mediram o consumo de água
com sacarose, exceto nas semanas oito e dez. Nessas semanas, testes de nível de glicose e
corticosterona no sangue foram realizados para verificar a hipótese de que o estresse
aumentaria os níveis de glicose e de corticosterona no sangue.
Os resultados revelaram que não foram encontradas alterações nessas taxas. Ainda,
houve diminuição do consumo e preferência por água com sacarose nos animais submetidos
ao protocolo de estressores desde a primeira semana de submissão. Diminuição esta que
permaneceu por quatro semanas após o término da exposição ao protocolo de estressores. O
efeito do antidepressivo DMI foi nulo nos animais do grupo controle, contudo aumentou
gradualmente a preferência por sacarose nos animais expostos ao protocolo.
O quarto experimento verificou o efeito do antidepressivo DMI em uma solução
menos concentrada de sacarose.
Dois grupos, cada um composta de doze ratos adultos machos, foram submetidos a um
teste de consumo e preferência de líquidos com uma solução de água com sacarose a 0.6%
após serem submetidos ao protocolo de estressores. Ainda, o mesmo antidepressivo DMI foi
administrado em um grupo durante seis semanas e durante esse período os testes de consumo
e preferência de líquidos foram realizados a cada três dias.
Os resultados mostraram que uma solução menos concentrada produziu uma
preferência menor pela solução de água com sacarose do que a verificada nos Experimentos 2
e 3 e que o antidepressivo usado não teve efeitos sobre na preferência da solução a 0.6% de
água com sacarose.
Dessa maneira, o estudo de Willner e cols. (1987) produziu anedonia nos animais, uma
vez que reduziu o consumo de água com sacarose, o que o autor considerou como diminuição
das propriedades de recompensa. Essa redução parece ter sido produzida pela submissão dos
sujeitos ao protocolo de estressores e não por alterações fisiológicas.
Thomaz (2001) replicou o estudo de Willner e cols. (1987). Segundo a pesquisadora
no estudo de Willner e cols. (1987) não há a afirmação de que a água com sacarose é um
estímulo reforçador e que a diminuição no seu consumo e na sua preferência seja uma
variação em seu valor reforçador, já que ela não foi produzida por uma classe de respostas do
sujeito. Para responder esta pergunta, Thomaz (2001) procurou investigar se a submissão de
sujeitos ao protocolo de estressores teria o efeito de alterar o valor reforçador da água com
sacarose em sessões operantes de pressão à barra antes e após o protocolo de estressores.
Para isso, a autora trabalhou com doze ratos machos com idade de três meses e
utilizou um protocolo de estressores composto de privação de comida, iluminação contínua,
12
permanência de outro sujeito na gaiola, gaiola suja (água limpa misturada à serragem no chão
da caixa), barulho intermitente, luz estroboscópica, exposição a uma garrafa de água vazia
após privação de água, acesso restrito à comida, presença de cheiro (desodorante purificador
de ar) e presença de um objeto estranho na gaiola.
Ainda, o estudo envolveu testes semanais de consumo de líquidos, nos quais duas
garrafas estiveram disponíveis ao sujeito, uma contendo água e a outra, água com sacarose.
Os sujeitos tiveram a classe de respostas de pressão à barra modelada, em duas barras
existentes na gaiola, em esquemas progressivos de reforçamento até atingirem o esquema
FR15-FR158.
Um sujeito foi utilizado como controle de peso durante o experimento e não foi
submetido ao protocolo de estressores. Dois sujeitos passaram por sessões operantes de
pressão à barra e por testes semanais de consumo e de preferência de líquidos antes de
submetidos ao protocolo. Outros dois sujeitos passaram pelos testes semanais de consumo e
de preferência de líquidos antes e após serem submetidos ao protocolo de estressores durante
seis semanas.
Os resultados encontrados indicam o peso dos sujeitos diminuiu cerca de 10%. Quanto
ao consumo e preferência de líquidos, houve uma redução no consumo total de líquidos e uma
diminuição na preferência por água com sacarose para todos os sujeitos, exceto para o sujeito
controle. Essas reduções foram observadas ainda após o término da submissão ao protocolo
de estressores. Mesmo os dois sujeitos que foram submetidos às sessões operantes antes do
protocolo mostraram essa redução do consumo e preferência de líquidos. Pode-se afirmar,
então, que as sessões operantes antes do protocolo de estressores não foram suficientes para
atenuar ou anular os efeitos dos estressores sobre os sujeitos. Já os sujeitos que passaram
pelas sessões operantes antes e após o protocolo de estressores tiveram o consumo de líquidos
aumentado após o término do protocolo. Assim, verificou-se que a submissão dos sujeitos às
sessões operantes após o protocolo de estressores teve efeito semelhante ao antidepressivo
utilizado no estudo de Willner e cols. (1987).
Dolabela (2004) replicou o estudo de Thomaz (2001), realizando sessões operantes
durante a exposição dos sujeitos ao protocolo de estressores. Dolabela (2004) pretendeu
8 A sigla FR indica um esquema de reforçamento intermitente de Razão Fixa, que corresponde à razão das
respostas reforçadas pelas não reforçadas (Skinner, 1953/1974). No caso de FR15, está-se dizendo que a cada
quinze respostas de pressão à barra, o sujeito foi reforçado após a décima quinta resposta. FR15–FR15 indica
que esse esquema ocorreu tanto na barra correspondente à liberação de água, bem como na barra correspondente
à liberação de água com sacarose.
13
verificar se a exposição dos sujeitos às sessões operantes de pressão à barra em esquema
concorrente FR água-FR água com sacarose de mesmo valor durante o protocolo de
estressores iria (a) alterar o número de respostas de pressão à barra emitidas durante e após o
término da submissão ao protocolo de estressores; (b) alterar o consumo de água e de água
com sacarose nos testes semanais de preferência de líquidos; e (c) alterar o peso dos sujeitos.
Para isso, a pesquisadora trabalhou com oito ratos machos com idade de três meses
que foram submetidos a três condições experimentais: teste de consumo e preferência de
líquidos, esquema concorrente e protocolo de estressores. Nos testes de consumo e
preferência de líquidos, cada sujeito foi alocado separadamente em uma caixa experimental
por uma hora e foram disponibilizadas duas garrafas, uma contendo água e a outra, água com
sacarose. Na condição de esquema concorrente, os sujeitos tiveram a classe de respostas de
pressão à barra modelada e fortalecida, tendo água como consequência em seis sessões e água
com sacarose nas seis sessões seguintes. O protocolo de estressores foi uma replicação do
estudo de Thomaz (2001) de acordo com o modelo de Chronic Mild Stress proposto por
Willner e cols. (1987).
Um sujeito controle foi submetido apenas aos testes de consumo e preferência de
líquidos; dois sujeitos foram expostos ao protocolo de estressores e aos testes de consumo e
preferência de líquidos; outros dois sujeitos passaram pelo protocolo de estressores, testes de
consumo e preferência de líquidos e sessões de esquema concorrente antes e depois do
protocolo de estressores; e três sujeitos foram expostos ao protocolo de estressores, aos testes
de consumo e preferência de líquidos e às sessões de esquema concorrente antes, durante e
após o protocolo.
O estudo de Dolabela (2004) teve como resultados, em relação ao peso corporal dos
sujeitos, uma redução no peso corporal que variou entre 12% e 22% durante a exposição ao
protocolo de estressores.
Contudo, os sujeitos submetidos às sessões operantes antes, durante e depois do
protocolo recuperaram mais rapidamente o peso após o término do mesmo quando
comparados com aqueles que passaram pelas sessões antes e depois. Estes, por sua vez,
recuperaram o peso mais rapidamente do que os sujeitos que não passaram pelas sessões
operantes.
Outro resultado revelado foi a diminuição no consumo de líquidos e a preferência por
água com sacarose verificada nos sujeitos expostos ao protocolo de estressores. Além disso,
os sujeitos que não foram submetidos às sessões operantes não voltaram a apresentar nos
testes de consumo e de preferência de líquidos a mesma quantidade de consumo anterior à
14
exposição ao protocolo. Os sujeitos que passaram pelo protocolo de estressores voltaram a
ingerir a mesma quantidade de líquidos que ingeriam antes da exposição ao protocolo quando
do término do mesmo. Dolabela (2004) afirma que para esses sujeitos as sessões operantes
não foram capazes de impedir a redução na ingestão de água com a sacarose, mas
contribuíram para que tal preferência se restabelecesse aos valores iniciais quando comparada
com os sujeitos que não foram submetidos às sessões operantes durante a exposição.
Quanto ao número de respostas de pressão à barra, ele foi maior na barra com
liberação de água com sacarose do que na barra com liberação de água. Para a autora, a
submissão ao protocolo de estressores diminuiu o valor reforçador da água com sacarose e as
sessões operantes não foram suficientes para manter esse valor reforçador.
O trabalho de Dolabela (2004) foi replicado por Rodrigues (2005) que pretendeu
investigar (a) as possíveis relações entre a perda de peso e as alterações no consumo de água e
ração; (b) verificar se a diminuição do valor do esquema concorrente nas sessões operantes
(de FR15-FR15 para FR5-FR5) poderia reduzir o custo da resposta e (c) verificar possíveis
alterações na exposição ao protocolo de estressores.
Para tanto, Rodrigues (2005) trabalhou com doze ratos machos com idade de dois
meses e realizou um delineamento experimental composto por três condições experimentais, a
saber: testes de consumo e preferência de líquidos, sessões operantes de esquema concorrente
e protocolo de estressores. Essas condições experimentais foram semelhantes às do estudo de
Dolabela (2004).
Rodrigues (2005), semelhante a Dolabela (2004), trabalhou com dois sujeitos
submetidos ao teste de consumo e de preferência de líquidos, esquema concorrente (FR15
água–FR15 água com sacarose) antes, durante e depois da submissão ao protocolo de
estressores e o protocolo. Outros dois sujeitos foram submetidos aos testes de consumo e
preferência de líquidos e ao protocolo de estressores. Outros dois sujeitos passaram por
arranjos das condições experimentais diferentes das de Dolabela (2004). Dois sujeitos
formaram o grupo controle e passaram apenas pelo teste de consumo e preferência de
líquidos. Outros dois sujeitos foram submetidos aos testes de consumo e preferência de
líquidos e às sessões operantes em esquema concorrente FR9 água–FR9 água com sacarose
para um sujeito e FR5 água–FR5 água com sacarose para outro. Outros dois sujeitos passaram
pelos aos testes de consumo e preferência de líquidos, sessões operantes em esquema
concorrente FR5-FR5 antes e depois do protocolo de estressores e pelo protocolo. Dois
sujeitos passaram pelos testes de consumo e preferência de líquidos, sessões operantes em
15
esquema concorrente FR5-FR5 antes, durante e depois do protocolo e pelo protocolo de
estressores.
Os resultados de Rodrigues (2005) indicam que todos os sujeitos tiveram o peso
corporal reduzido, resultado semelhante ao encontrado por Dolabela (2004). A diferença na
variação da perda de peso entre os sujeitos sugere que ela está relacionada à condição de
esquema concorrente que pretendeu atenuar o efeito do protocolo de estressores. A submissão
ao esquema concorrente pareceu interferir na recuperação do peso corporal: os sujeitos que
não foram submetidos ao esquema concorrente não recuperaram o peso. Já os sujeitos
submetidos às sessões operantes antes, durante a após o protocolo recuperaram o peso antes
dos sujeitos que passaram pelas sessões operantes antes e após o protocolo, outro resultado
semelhante ao encontrado por Dolabela (2004).
Um terceiro resultado encontrado no trabalho de Rodrigues (2005) e Dolabela (2004)
foi a diminuição na preferência de água com sacarose. No que se refere à recuperação da
preferência por água com sacarose, os sujeitos que não foram submetidos às sessões operantes
e passaram pelo protocolo de estressores não voltaram a ingerir a quantidade de água com
sacarose nos valores apresentados antes da submissão ao protocolo de estressores. Já os
sujeitos que passaram pelo esquema concorrente FR5-FR5 apresentaram uma porcentagem de
consumo de água com sacarose maior do que aqueles submetidos à sessões operantes em
esquema FR15-FR15.
Há outro resultado de Rodrigues (2005) em concordância com Dolabela (2004). O
número de respostas de pressão à barra com liberação de água com sacarose foi maior do que
na outra barra. Ainda, os sujeitos que passaram pelas sessões operantes durante o protocolo de
estressores recuperaram o padrão de respostas na barra com liberação de água com sacarose
apresentados antes do protocolo. O sujeito que foi submetido às sessões operantes em
esquema FR5-FR5 antes, durante e após o protocolo manteve a estabilidade nas respostas de
pressão à barra com liberação de água com sacarose ao longo do estudo.
Resumidamente, os resultados de Dolabela (2004) e Rodrigues (2005) indicam que os
sujeitos submetidos às sessões operantes durante o protocolo de estressores recuperaram mais
rapidamente a taxa de consumo de água com sacarose que apresentaram antes da exposição ao
protocolo. No estudo de Thomaz (2001), ainda que os sujeitos não tenham sido submetidos às
sessões operantes durante o protocolo de estressores, a recuperação do consumo de água com
sacarose ocorreu no mesmo tempo ou até mais rapidamente após os sujeitos passarem pelas
sessões operantes após o protocolo quando comparados com os sujeitos de Willner (1984,
1991), Willner e cols. (1987) e Monleon et al (1995) e os citados em Willner (1997, 2005)
16
nos quais foram administrados um antidepressivo. Ainda, Rodrigues (2005) diminuiu o custo
da resposta nas sessões operantes de FR15–FR15, como nos trabalhos de Thomaz (2001) e
Dolabela (2004), para FR9-FR9 e FR5–FR5 e os sujeitos submetidos às sessões operantes
com esse último valor pareceram manter uma estabilidade no consumo de água com sacarose.
Os sujeitos dos estudos que utilizaram o protocolo de estressores crônicos e
moderados permaneceram em uma situação na qual suas respostas não alteraram as condições
ambientais, não produzindo mudanças na existência ou amplitude dos estressores. Por outro
lado, quando os sujeitos de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005) foram
expostos às sessões operantes, houve uma dependência entre a resposta de pressão à barra e a
conseqüência produzida, água ou água com sacarose.
Segundo Seligman (1975), a depressão é causada pela perda de controle sobre os
reforçadores, ou seja, há uma independência entre a resposta e a conseqüência que pode
indicar ao organismo a incontrolabilidade da experiência. Em contrapartida, o autor afirma
que os sujeitos que são resistentes à depressão são aqueles que passaram por experiências nas
quais puderam manipular as fontes de sofrimento e alívio.
O presente estudo procurou continuar os trabalhos que investigaram relações entre
manipulações de situações ambientais e alterações na anedonia. Teve os objetivos de (a)
investigar se a exposição de animais por três semanas de protocolo de estressores produziria a
redução do peso corporal e a diminuição do consumo de líquidos e da preferência por água
com sacarose, efeitos de anedonia vistos nas pesquisas nas quais os animais passaram por seis
semanas, além de uma redução no consumo de água e ração e (b) se a submissão dos sujeitos
a sessões operantes em esquema concorrente FR5-FR5 não permitiria uma redução no peso
corporal ou recuperaria a perda e os valores de consumo e de preferência de líquidos.
17
MÉTODO
Sujeitos
Foram utilizados como sujeitos experimentais três9 ratos machos da raça Wistar,
experimentalmente ingênuos, com idade de sete meses no início do estudo. Os sujeitos foram
mantidos a aproximadamente 85% do peso ad lib, restringindo o acesso à água.
Equipamento
o Uma balança digital da marca Filizola com capacidade máxima de dois quilos e
sensibilidade de 0,5 gramas;
o Gaiolas individuais de alumínio com dimensões de 20 cm x 25 cm x 21 cm. Durante o
protocolo de estressores, as gaiolas dos sujeitos que foram submetidos ao mesmo
permaneceram em uma sala do Laboratório de Psicologia Experimental da PUCSP,
medindo 0,90 m x 2 m de forma a facilitar a manipulação das alterações ambientais que
compuseram o protocolo. Durante as demais fases do procedimento e para o sujeito que
não passou pelo protocolo de estressores, os sujeitos permaneceram na sala do biotério do
Laboratório. A cada 24 horas as salas permaneceram iluminadas por doze horas, salvo nos
dias que a sala do protocolo de estressores esteve determinada a permanecer com a
iluminação contínua. Houve também a presença de um exaustor e um aquecedor em
ambas as salas a fim de manter a temperatura em torno de 23 graus centígrados;
o Caixas de condicionamento operante Med Associates, modelo Env-008. As caixas foram
colocadas dentro de outra caixa com isolamento acústico e dimensões: 47 cm x 67 cm x
47 cm. A caixa esteve equipada com uma barra de pressão e um bebedouro ou duas barras
e dois bebedouros. Quando a caixa esteve com um bebedouro e uma barra, o bebedouro
esteve localizado no centro de uma das paredes laterais da caixa experimental a uma altura
de 2 cm da grade do chão e ao lado, próximo à porta da caixa, esteve uma barra de pressão
9 Até o início do protocolo de estressores, um quarto sujeito participou do estudo. Seu delineamento
experimental envolveria testes de consumo e preferência de líquidos, protocolo de estressores por três semanas e
sessões operantes em esquema concorrente FR5-FR5 antes, durante e depois do protocolo. Contudo, o sujeito
não apresentou um maior número de respostas na barra com liberação de água com sacarose nas sessões
anteriores ao protocolo e em virtude do tempo não foi possível aguardar que se estabelecesse essa preferência e
atingisse o valor de FR5 nas sessões operantes. Portanto, foi excluído do estudo.
18
a uma altura de 8 cm da grade do chão. Quando a caixa esteve equipada com dois
bebedouros e duas barras, cada par bebedouro-barra se localizou em uma parede lateral da
caixa experimental, posicionados frente ao outro, estando o bebedouro no centro da
parede e a barra ao lado e próxima à porta da caixa;
o A apresentação dos estímulos e o registro do desempenho dos sujeitos foram controlados
pelo software (Schedule) Manager para Windows, produzido pela Med Associates, versão
2.0, em um computador IBM 486;
o Uma lâmpada de luz estroboscópica com capacidade para disparar até trezentos flashes
por minuto;
o Um aparelho de MP3 Player no qual foram gravados ruídos;
o Duas caixas de som de computador;
o Um medidor de decibéis;
o Serragem;
o Garrafas de água com capacidade para 250 mililitros;
o Seis potes de plástico;
o Dois objetos de metal redondo de aproximadamente 7 cm de diâmetro e 1,5 cm de altura
(latas de bala);
o Um desodorante purificador de ar da marca Glade modelo sachet para armários e gavetas
e de odor lavanda.
Procedimento
Quando os sujeitos alcançaram sete meses de vida foram alojados em gaiolas
individuais e começaram a ser pesados. O consumo de água e ração foi livre.
Após o peso estabilizar por um mês sem oscilações maiores do que 10% do peso por
dez dias foi restringida a quantidade de água para cada sujeito de modo a reduzir e manter o
peso a 85% do peso ad lib. Até o início do protocolo de estressores, o acesso à ração
continuou livre para os três sujeitos. Durante o protocolo, o acesso à ração foi livre apenas
para o sujeito controle de peso.
Foram medidos o consumo de líquidos, a ração e o peso de todos os sujeitos. A
medida do consumo de líquidos foi feita a partir da diferença entre o volume do líquido
disponibilizado e o volume final restante na garrafa ou seringa (quando o sujeito se encontrou
na gaiola ou foi submetido ao esquema concorrente na caixa operante) acrescido, no caso dos
19
testes de líquidos, do líquido caído de cada garrafa em um pote de plástico localizado
embaixo de cada garrafa.
A medida da ração foi realizada a partir da diferença entre o peso em gramas da ração
disponibilizada e o peso final restante na gaiola e na bandeja localizada embaixo da gaiola.
Tanto a medida da ingestão de líquido, quanto a medida do consumo de ração foram
calculados em valores aproximados.
Este trabalho foi composto das seguintes condições experimentais:
o Teste de consumo e de preferência de líquidos;
o Esquema concorrente;
o Protocolo de estressores.
A cada sete dias, cinco foram reservados às sessões de esquema concorrente, um dia
para os testes de consumo e preferência de líquidos e um dia nenhuma intervenção foi
realizada (o dia seguinte ao testes de consumo e preferência de líquidos).
Teste de consumo e de preferência de líquidos
Quando o peso dos sujeitos foi estabilizado a 85% do peso ad lib tiveram início os
testes de consumo e preferência de líquidos a cada sete dias até o final do estudo.
Foram utilizadas, para cada sujeito, duas garrafas, uma contendo água e a outra
contendo uma solução de água com sacarose a 8%. As garrafas estiveram localizadas cada
uma em uma das paredes laterais da gaiola, sendo o lado alterado em cada teste. Embaixo de
cada garrafa esteve um pote de plástico utilizado para coletar o líquido que caiu da garrafa.
Ao final de cada teste, foi medida a quantidade de líquidos consumidos.
Esquema concorrente
Com o objetivo de avaliar o valor reforçador dos estímulos água e água com sacarose
foram realizadas sessões em caixas experimentais nas quais foi registrada a freqüência das
respostas de pressão à barra com liberação de água e na barra com liberação de água com
sacarose.
Essa situação experimental envolveu:
a) Modelagem e fortalecimento da resposta de pressão à barra: Em sessões diárias a caixa
experimental esteve equipada com uma barra, próxima à porta, em uma de suas paredes e ao
lado, um bebedouro. O critério para encerrar as sessões foi a liberação de cinqüenta gotas de
20
água (uma gota a cada liberação). A modelagem e o fortalecimento da resposta foram
realizados em duas fases.
Na primeira fase foi utilizada água como conseqüência em quatro sessões. Na primeira
sessão, as respostas de pressão à barra foram modeladas por aproximações sucessivas e
fortalecidas em CRF em um lado da caixa operante. Na segunda sessão, a barra e o bebedouro
estiveram no lado oposto àquele apresentado na primeira sessão. Respostas de pressão à barra
foram modeladas da mesma maneira. A terceira sessão foi igual à primeira e a quarta, igual à
segunda. Dessa forma, totalizaram cem pressões à barra em cada lado da caixa operante tendo
água com conseqüência.
A segunda fase conteve quatro sessões e foi utilizada a solução de sacarose como
conseqüência. Do mesmo modo descrito na primeira fase, foram alternadas duas sessões nas
quais o par bebedouro-barra esteve localizado em um lado da caixa e duas sessões nas quais o
par esteve localizado no lado oposto. Foram assim totalizadas cem pressões à barra em cada
lado da caixa tendo a água com sacarose como conseqüência.
b) Esquema concorrente: Encerradas as sessões descritas acima, tiveram início as sessões em
esquema concorrente com duração de vinte minutos cada. As caixas experimentais foram
equipadas com duas barras e dois bebedouros, sendo que cada par bebedouro-barra esteve
localizado em uma parede lateral da caixa, um frente ao outro. Uma barra era correspondente
à liberação da água e a outra, água com sacarose. Inicialmente, o esquema concorrente foi
CRF água-CRF água com sacarose. Em seguida, foram empregados valores progressivos de
FR (FR2 e FR3) até atingir FR410
.
Na primeira sessão de esquema concorrente, a sacarose foi liberada após as pressões a
barra no lado em que o sujeito apresentou menor freqüência de respostas durante a fase de
modelagem e fortalecimento das respostas de pressão à barra. Nas sessões seguintes, o lado de
apresentação dos líquidos variou de acordo com o desempenho do sujeito. Após os sujeitos
apresentarem maior freqüência de respostas na barra correspondente à água com sacarose por
três sessões consecutivas, foi alterado o lado de apresentação da sacarose como conseqüência
de pressão à barra para o outro lado da caixa. Quando o sujeito apresentou maior freqüência
de respostas na barra referente à água com sacarose, por três sessões consecutivas, o valor do
FR foi aumentado igualmente para as duas barras. Isso foi repetido até que o sujeito atingisse
10
Ainda que um dos objetivos do presente estudo fosse investigar os efeitos da submissão a sessões operantes
em esquema concorrente FR5-FR5, em virtude do tempo destinado à coleta de dados não foi possível esperar
que o sujeito atingisse o valor FR5 nas sessões operantes e continuou-se o procedimento tendo o sujeito atingido
o valor FR4.
21
a razão de FR4. Se por acaso o sujeito não pressionasse a barra com a liberação de sacarose
por três sessões consecutivas, o valor do FR anterior seria retomado até novamente atingir
maior número de respostas na barra com liberação de sacarose por três sessões consecutivas.
Protocolo de estressores
Foi realizada uma replicação do protocolo de estressores de acordo com o protocolo
do Chronic Mild Stress de Willner e cols. (1987), utilizado por Thomaz (2001), Dolabela
(2004) e Rodrigues (2005). Os estressores foram apresentados aos sujeitos designados a
serem submetidos ao protocolo de estressores em ciclos de sete dias, durante o período de três
semanas consecutivas.
Os estressores foram:
a) Inclinação da gaiola: a gaiola viveiro foi inclinada 30º para trás da 1ª até a 17ª hora do 1º
dia e da 18ª a 24ª hora do 4º dia;
b) Luz estroboscópica: uma luz estroboscópica disparando 300 flashes por minuto esteve
disposta no chão da sala, de frente para as gaiolas viveiro, da 18ª hora até a 19ª hora do 1º dia
e da 18ª até a 24ª hora do 3º dia;
c) Privação de ração: os sujeitos foram privados de ração da 23ª hora do 1º dia até a 22ª hora
do 2º dia, da 1ª hora do 4º dia até a 17ª hora do 5º dia, da 18ª hora do 6º dia até a 19ª hora do
7º dia;
d) Ruído intermitente: um ruído branco (ruído produzido numa faixa de freqüência
determinada), intermitente, de 85 Db, permaneceu ligado da 23ª hora até a 24ª hora do 2º dia e
da 20ª hora até a 24ª hora do 5º dia;
e) Gaiola suja: uma mistura de 50g de serragem com 100 mililitros de água foi espalhada no
chão da caixa viveiro. A mistura esteve presente da 1ª a 17ª hora do 2º dia;
f) Iluminação contínua: a luz da sala permaneceu acessa da 1ª até a 17ª hora do 3º dia e da 1ª
até a 19ª hora do 7º dia (horários nos quais a luz estaria apagada seguindo o ciclo de doze
horas);
g) Exposição a uma garrafa de água vazia após período de privação na 18ª hora do 3º dia;
h) Presença de um objeto estranho na gaiola: um objeto de metal redondo de
aproximadamente 7 cm de diâmetro e 1,5 cm de altura (lata de bala) ficou dentro da gaiola
viveiro da 1ª até a 17ª hora do 4º dia;
22
i) Agrupamento: os dois sujeitos foram agrupados em uma mesma gaiola. A cada
agrupamento a dupla ficou alojada na gaiola de um dos sujeitos da dupla. Este estressor
ocorreu da 1ª a 17ª hora do 5º dia;
j) Acesso restrito à ração: nas 18ª e 19ª horas do 5º dia, após 41 horas de privação de ração,
foram colocadas na gaiola viveiro três pelotas de ração com aproximadamente 2 g cada;
k) Cheiro: um desodorante purificador de ar esteve disposto no chão da sala em frente às
gaiolas viveiro da 1ª até a 17ª hora do 6º dia.
O Quadro1 apresenta a distribuição semanal do protocolo de estressores e dos testes de
consumo de líquido que foram repetidos por três semanas.
Delineamento experimental
A distribuição dos sujeitos foi a seguinte: um sujeito foi utilizado para controle de
peso, de consumo de água e ração e de consumo e preferência de líquidos. Outro sujeito
passou pelos testes de consumo e de preferência de líquidos e pelo protocolo de estressores
por três semanas consecutivas. O terceiro sujeito passou pelos mesmos testes, pelo mesmo
protocolo de estressores com a mesma duração e pelas sessões operantes em esquema
concorrente FR4-FR4 antes e depois do protocolo de estressores.
Quadro 1: Distribuição semanal dos estressores e do teste de consumo e preferência de líquidos.
dia 1 dia 2 dia 3 dia 4 dia 5 dia 6 dia 7
1
inclinação da gaiola privação de ração +
gaiola suja iluminação contínua
privação de ração +
objeto estranho
privação de ração +
agrupamento cheiro purificador de ar
privação de ração +
iluminação contínua
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18 luz estroboscópica
privação de ração
luz est + garrafa vazia
privação de ração +
inclinação da gaiola
acesso restrito à ração
privação de ração
privação de ração +
iluminação contínua 19
luz estroboscópica
20
barulho intermitente
teste de consumo
21
22
23 privação de ração
barulho intermitente
24
24
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta sessão serão apresentados, analisados e discutidos os dados referentes ao peso,
ao consumo de água e ração e aos testes de consumo e preferência de líquidos para todos os
sujeitos e ao esquema concorrente para o sujeito submetido a essa condição.
Peso corporal
Os sujeitos tiveram seus pesos corporais aferidos.
Esses dados estão apresentados em figuras nas quais o eixo x indica o dia no qual foi
realizada a pesagem e o eixo y mostra o peso do sujeito em gramas. A primeira linha tracejada
na vertical indica o início da privação de água e as segunda e terceira linhas circunscrevem o
período de submissão do sujeito ao protocolo de estressores. As linhas horizontais pretas
indicam a média do peso durante as últimas dezoito pesagens antes da exposição ao
protocolo, as dezoito pesagens durante o protocolo e as dezoito seguintes para os Sujeitos H1
e H3.
Na Figura 1 podem ser vistos os dados referentes ao Sujeito H1 que passou pelo
protocolo de estressores, mas não pelas sessões operantes.
290
320
350
380
410
440
470
500
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
Dia
Peso (
g)
Estabilização
do peso
PrivaçãoPrivação Regime de
estressores
Média do peso
Peso
Figura 1. Valor do peso em gramas do Sujeito H1, por dia, nas diferentes condições do
estudo.
25
Na fase de estabilização do peso, no dia 1, o Sujeito H1 pesou 347 gramas,
aumentando até o dia 38, início da privação de água, para 408,5 gramas.
Nos dias 39 e 40, o peso decresceu até 395 gramas. Contudo, no dia 43 nota-se um
aumento para 421,5 gramas provavelmente devido a um excesso de ração liberada pela
pesquisadora para o sujeito. Desse dia até o dia 60, o peso diminuiu até 321 gramas. A partir
do dia 60 até o dia 170, início do protocolo de estressores, o peso sofreu variações em torno
de 85% do peso ad lib, valor referente a 342,5 gramas. Nesse período, no dia 64, notaram-se o
valor mais baixo de peso, 319 gramas, e no dia 69, o valor mais alto, 369 gramas.
No dia 171, primeiro dia do protocolo de estressores, o peso diminuiu para 321,5
gramas. Durante todo o período, o Sujeito H1 teve seu peso abaixo do valor 342,5 gramas,
sendo que o valor mais baixo alcançado foi verificado no dia 190 (décimo nono dia do
protocolo) com o valor 309,5 gramas, ou seja, a redução foi equivalente a 9,6% do valor de
85% do peso ad lib. Ainda, verifica-se uma diminuição do peso durante os dias 183 e 190, a
terceira semana de exposição ao protocolo. No dia 191, último dia na condição do protocolo,
o sujeito pesou 334,5 gramas.
Após a submissão ao protocolo, entre os dias 192 e 220, o peso se restabeleceu aos
valores encontrados antes da exposição ao protocolo. Exceto nos dias 195, 197 e 204 o peso
esteve em 314,5, 359,5 e 360 gramas, respectivamente, as maiores variações encontradas.
Devido às variações de peso observadas durante o estudo, calculou-se a média das
últimas dezoito pesagens antes, durante a depois. O divisor dezoito foi escolhido por ser o
número de pesagens durante o protocolo.
A média de peso nas últimas dezoito pesagens antes do protocolo foi 337 gramas,
diminuindo para 325 gramas, durante o protocolo, e aumentando para 338 gramas após a
suspensão do protocolo de estressores.
Esses dados apontam que o protocolo de estressores com duração de três semanas
consecutivas foi provavelmente o responsável pelo decréscimo do peso do sujeito. Ainda,
parece que o protocolo interferiu no peso somente quando o sujeito esteve exposto a ele e essa
diminuição não se manteve quando do término do protocolo.
A Figura 2 apresenta os dados de peso do Sujeito H2, não submetido ao protocolo de
estressores.
O Sujeito H2 pesou no dia 1 409 gramas, aumentando o peso durante a fase de
estabilização do peso. No dia 38, o valor foi 483 gramas.
26
290
320
350
380
410
440
470
500
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
Dia
Peso (
g)
Privação
Figura 2. Valor do peso em gramas do Sujeito H2, por dia, nas diferentes condições do
estudo.
Nos dias 39 e 40, dois dias após o início da privação de água, o peso decresceu até 463
gramas. Porém, nos dias 43 a 47 houve um aumento no peso devido provavelmente a um
excesso de ração fornecida. Entre os dias 48 a 60, o peso diminuiu até 366,5 gramas. A partir
desse dia, o peso se manteve em torno de 406 gramas, referente a 85% do peso ad lib. O valor
mais baixo encontrado ocorreu no dia 74 e consistiu em 379,5 gramas e o valor mais alto foi
medido no dia 131 em 442,5 gramas.
A Figura 3 indica o peso do Sujeito H3, que foi exposto ao protocolo de estressores e
às sessões operantes em esquema concorrente FR4-FR4 antes e depois de passar pelo
protocolo.
O peso do Sujeito H3 no dia 1 foi 325 gramas, aumentando até o início da privação no
dia 38, no qual atingiu 400,5 gramas.
Nos dias 39 e 40, o peso foi reduzido até 395 gramas. Contudo, nos dias 43 a 46 houve
um aumento no peso devido a um excesso de ração fornecida ao sujeito. Do dia 47 a 60 o
peso diminuiu até 327,5 gramas. A partir desse dia até o início do protocolo de estressores, o
peso variou entre 318 gramas no dia 83 e 361,5 gramas no dia 131.
Durante o protocolo de estressores, o Sujeito H3 teve seu peso diminuído no dia 173,
segundo dia de exposição e em todos os dias o peso foi inferior a 334 gramas, valor de 85%
do peso ad lib, sendo que o valor mais baixo foi verificado no dia 190 (décimo nono dia do
Estabilização do peso
27
protocolo) e consistiu 300 gramas, ou seja, houve uma redução de 10,1% do peso. No dia 191,
último dia na condição, o peso do Sujeito H3 esteve em 319 gramas.
290
320
350
380
410
440
470
500
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
Dia
Peso (
g)
Estabilização
do peso
Privação e
sessões
operantes
Privação e
sessões
operantes
Regime de
estressores
Figura 3. Valor do peso em gramas do Sujeito H3, por dia, nas diferentes condições do
estudo.
No dia 192, após o protocolo, o peso restabeleceu seus valores em torno dos aferidos
anteriormente, variando entre 315,5 gramas no dia 195 e 348,5 gramas no dia 214.
As médias de peso nas últimas dezoito pesagens antes do protocolo foram 327 gramas
antes do protocolo, reduzindo para 316 gramas durante o protocolo e na suspensão deste
aumentou para 333 gramas, o que aponta uma diminuição do peso durante o protocolo e
retorno ao valor encontrado antes dessa situação na suspensão do protocolo.
Na comparação das Figuras 1, 2 e 3, nota-se um aumento de peso constante durante a
fase de estabilização do peso, seguido de redução do peso nos dois dias seguintes da restrição
de consumo de água, sendo que houve um aumento nos dias posteriores. As três curvas
apresentam variações nos valores do peso. Ainda, observa-se uma diminuição constante do
peso dos Sujeitos H1 e H3 durante o protocolo. O peso de ambos esteve abaixo do valor de
85% do peso ad lib, entre os dias 172 a 191 e diminuiu até 9,6%, no caso do Sujeito H1, e
10,1%, no caso do Sujeito H3. O Sujeito H2, no entanto, manteve seu peso em torno de 85%
do peso ad lib.
Essa verificação indica que o protocolo de estressores com três semanas de duração ou
algum aspecto dele foi provavelmente responsável pela diminuição do peso dos dois sujeitos.
28
A redução de peso dos sujeitos submetidos ao protocolo de estressores também foi
encontrada por Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005). A redução do peso de
até 9,6% (Sujeito H1) e de até 10,1% (Sujeito H3), foi também verificada por Thomaz (2001),
cuja porcentagem de variação do peso ficou em torno de 10%. Já Dolabela (2004) encontrou
porcentagens que variaram de 12% a 20% e Rodrigues (2005) encontrou variações entre 4,8%
e 19,5%.
Uma vez que as porcentagens de perda de peso dos sujeitos do presente estudo
constituem valores próximos, não é possível estabelecer relação entre a redução do peso e a
não submissão às sessões operantes. Assim, parece que as sessões operantes anteriores ao
protocolo não serviram para prevenir a redução de peso durante o mesmo.
Os pesos dos Sujeitos H1 e H3 retornaram aos valores anteriores ao protocolo,
sugerindo que essas sessões não podem ser relacionadas à retomada do peso. Os sujeitos de
Dolabela (2004) e Rodrigues (2005) que não passaram pelas sessões operantes não retornaram
aos valores de peso aferidos antes do protocolo, diferentemente do verificado no presente
estudo. Esse resultado provavelmente aponta que um protocolo de estressores com três
semanas de duração não reproduziu os resultados da não recuperação do peso após o término
do protocolo nos sujeitos não submetidos às sessões operantes. Novamente parece que a
duração do protocolo foi a variável responsável pelos resultados encontrados. Já os sujeitos do
estudo de Dolabela (2004) que passaram pelas sessões operantes antes e depois do protocolo
retornaram aos valores de peso em cerca de treze dias após o término do protocolo. Os
sujeitos do trabalho de Rodrigues (2005) retornaram em dezessete dias, no caso de um sujeito,
e vinte e um dias no caso do outro, após o encerramento do protocolo. Os sujeitos que
passaram pelas sessões operantes antes, durante e depois apresentaram a recuperação mais
rapidamente: aproximadamente onze dias no trabalho de Dolabela (2004). Dois sujeitos do
estudo de Rodrigues (2005) recuperaram o peso em cerca de treze dias após o término do
protocolo e um sujeito começou a recuperar o peso durante a exposição ao mesmo.
Interessante destacar que Willner e cols. (1987) utilizaram antidepressivos na reversão
da anedonia produzida. No entanto, após a administração desses medicamentos o peso dos
sujeitos se manteve nos valores para os quais haviam decaído durante a exposição ao
protocolo de estressores. Dessa maneira, os antidepressivos não reverteram a queda dos
valores do peso.
As sessões operantes pelas quais foi submetido o Sujeito H3 tiveram um valor inferior
ao utilizado nos estudos de Dolabela (2004) e de Rodrigues (2005), ou seja, no presente
estudo as sessões operantes foram realizadas em esquema concorrente FR4-FR4, ao passo que
29
no estudo de Dolabela (2004) o valor do esquema concorrente foi FR15-FR15, e em
Rodrigues (2005), FR15-FR15, FR9-FR9 e FR5-FR5. Um dos sujeitos do estudo de
Rodrigues (2005) que foi submetido às sessões operantes em esquema concorrente FR5-FR5
recuperou o peso perdido durante a exposição ao protocolo após quinze dias do término do
mesmo e o outro sujeito recuperou o peso na sexta semana de exposição. No presente estudo,
esse valor menor empregado no esquema concorrente foi próximo ao valor de FR5-FR5 do
estudo de Rodrigues (2005). Mesmo um valor menor não impediu que o peso do sujeito se
mantivesse durante o protocolo.
Consumo de água e ração
As Figuras 4, 5 e 6 apresentam os dados referentes ao consumo de água e ração
durante o estudo. O eixo x indica o dia de aferição, o eixo y da esquerda, o consumo de ração
e o eixo y da direita, a quantidade de água ingerida. Os pontos quadrados brancos indicam a
quantidade de ração consumida e os pontos losangos pretos marcam a quantidade de água. A
primeira linha tracejada na vertical indica o início da privação de água e as segunda e terceira
linhas circunscrevem o período de submissão do sujeito ao protocolo de estressores.
A Figura 4 mostra os dados do Sujeito H1 que, como já descrito, foi exposto ao
protocolo de estressores.
Estabilização Protocolo de
do peso estressores
Privação Privação
0
10
20
30
40
50
0 40 80 120 160 200
Dia
Raçã
o (
gra
mas)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Águ
a (
mili
tros)
Ração (g)
Água (mL)
Figura 4. Consumo de ração e água do Sujeito H1 por dia.
30
Nota-se que o consumo de água e ração foi maior durante a fase de estabilização do
peso, do que nas fases seguintes. O Sujeito H1 ingeriu entre 0 e 75 mililitros de água durante
a fase de estabilização do peso e entre 9,5 e 29 gramas de ração.
Os pontos que marcam consumo nulo de água se referem aos dias nos quais a
pesquisadora não liberou água ao sujeito a fim de manter seu peso em 85% do peso ad lib.
Na fase de privação, seu consumo esteve entre 0 e 31 mililitros de água e 0 e 24
gramas de ração. Houve uma diminuição maior no consumo de água do que de ração e uma
tendência de queda até o final da condição.
Da mesma maneira que ocorrido durante a fase de estabilização do peso, os pontos que
marcam consumo nulo de água se referem aos dias nos quais a pesquisadora não liberou água
ao sujeito a fim de manter seu peso em 85% do peso ad lib. Já os valores nulos de ingestão de
ração indicam os dias nos quais o sujeito não ingeriu ração, ainda que ela estivesse disponível.
Quando o protocolo de estressores teve início, os valores de consumo do Sujeito H1
ficaram entre 0 e 50 mililitros de água e 0 e 39 gramas de ração. Observa-se maior variação
no consumo desses alimentos durante a referida condição quando comparado com o período
antes da exposição aos estressores.
Os pontos que marcam o valor 0 gramas e 0 mililitros se referem aos dias de exposição
ao protocolo de estressores nos quais os sujeitos passaram por restrição ou privação hídrica e
alimentar, dias anteriores aos testes de consumo e preferência de líquidos, condição para os
sujeitos serem submetidos aos testes. Os pontos que indicam os valores mais altos de
consumo de água e ração estão localizados nos dias seguintes aos quais o sujeito permaneceu
em privação de água e ração.
Essa constatação sugere uma relação entre o protocolo de estressores ou alguma
característica deles, provavelmente a restrição/privação hídrica e alimentar, e o consumo
desses alimentos durante a exposição aos estressores.
Quando o Sujeito H1 deixou a condição do protocolo de estressores, entre os dias 200
e 218, seu consumo atingiu valores entre 0 e 34 mililitros de água e 0 e 23 gramas de ração.
Esses valores mostram menor variação do consumo após a submissão ao protocolo de
estressores quando comparado com a condição anterior. Ainda, o consumo se restabeleceu aos
valores obtidos antes da submissão ao protocolo, apontando que a exposição do Sujeito H1 ao
protocolo de estressores de três semanas de duração provavelmente não teve efeitos sobre o
consumo de água e ração quando do término do protocolo.
Os valores do consumo de água e ração do Sujeito H2, que como escrito anteriormente
não ficou exposto ao protocolo de estressores estão apresentados na Figura 5.
31
Estabilização Privação
do peso
0
10
20
30
40
50
0 40 80 120 160 200
Dia
Ração (
gra
mas)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Água (
mili
litro
s)
Ração (g)
Água (mL)
Figura 5. Consumo de ração e água do Sujeito H2 por dia.
Na fase de estabilização do peso, o consumo de água e ração esteve entre 19 e 53
mililitros de água e entre 17,5 a 29 gramas de ração. Esses valores foram maiores antes de ter
início a privação de água do que no período posterior, quando o Sujeito H2 ingeriu entre 0 e
29 mililitros de água e 0 e 32 gramas de ração.
Os pontos que marcam consumo nulo de água se referem aos dias nos quais a
pesquisadora não liberou água ao sujeito a fim de manter seu peso em 85% do peso ad lib. Já
os valores nulos de ingestão de ração indicam os dias nos quais o sujeito não ingeriu ração,
ainda que ela estivesse disponível.
A ingestão de ração parece apresentar variação ao longo dos dias de aferição e nota-se
uma ligeira queda no consumo. Os valores de consumo de água e ração sofreram variações ao
longo do estudo.
Os dados referentes ao consumo de água e ração para o Sujeito H3, exposto ao
protocolo de estressores e às sessões operantes em esquema concorrente FR4-FR4 antes e
depois dessa condição são apresentados na Figura 6.
O consumo de água e ração foi maior durante o período que precedeu a privação de
água do que nos períodos seguintes. O Sujeito H3 consumiu entre 0 e 96 mililitros de água
antes de ser submetido à restrição hídrica e ingeriu entre 15,5 e 32 gramas de ração. No dia
17, o consumo nulo de água indica que o sujeito não ingeriu o líquido, ainda que ele estivesse
disponível.
32
Estabilização Protocolo de
do peso estressores
Privação Privação
0
10
20
30
40
50
0 40 80 120 160 200
Dia
Ração (
gra
mas)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Água (
mili
litro
s)
Ração (g)
Água (mL)
Figura 6. Consumo de ração e água do Sujeito H3 por dia.
Na fase de privação, seu consumo esteve entre 0 e 29 mililitros de água e 0 e 27
gramas de ração.
Os pontos que marcam consumo nulo de água se referem aos dias nos quais a
pesquisadora não liberou água ao sujeito a fim de manter seu peso em 85% do peso ad lib. Já
os valores nulos de ingestão de ração indicam os dias nos quais o sujeito não ingeriu ração,
ainda que ela estivesse disponível.
Durante a submissão ao protocolo de estressores, os valores de consumo estiveram
entre 0 e 24 mililitros de água e 0 e 31,5 gramas de ração, o que sugere a manutenção dos
valores de consumo desses alimentos durante essa condição quando comparado com o
período anterior à exposição aos estressores.
Da mesma maneira que ocorrido com o Sujeito H1, os pontos que marcam os valores 0
gramas e 0 mililitros referem-se aos dias de exposição ao protocolo de estressores nos quais
os sujeitos sofreram privação/restrição hídrica e alimentar e aos dias anteriores aos testes de
consumo e de preferência de líquidos. Os pontos que indicam os valores mais altos de
consumo de água e de ração estão localizados nos dias seguintes aos dias nos quais os sujeitos
permaneceram em privação de água e ração.
Uma vez que o Sujeito H3, submetido às sessões operantes anteriores ao protocolo de
estressores, manteve os valores de consumo de água e ração durante o protocolo, e que o
33
Sujeito H1, não submetido às mesmas sessões, e que apresentou maior variação de consumo,
parece que as sessões operantes possuem relação com a manutenção do consumo durante o
protocolo.
Após a suspensão da condição do protocolo de estressores, o Sujeito H3 consumiu
entre 0 e 30 mililitros de água e 0 e 29,5 gramas de ração.
Os pontos que marcam consumo nulo de água se referem aos dias nos quais a
pesquisadora não liberou água ao sujeito a fim de manter seu peso em 85% do peso ad lib. Já
os valores nulos de ingestão de ração indicam os dias nos quais o sujeito não ingeriu ração,
ainda que ela estivesse disponível.
Os valores de consumo do Sujeito H3 foram próximos aos aferidos antes e durante a
exposição ao protocolo. Entretanto, o mesmo não foi verificado nos valores de consumo do
Sujeito H1, o que sugere que as sessões operantes em esquema concorrente FR4-FR4 antes do
protocolo podem ser relacionadas à manutenção do consumo de água e ração durante o
protocolo.
Comparando-se as curvas das Figuras 4, 5 e 6, nota-se que as três apresentam
variações nos valores de consumo de água e ração. Verifica-se, também, uma maior variação
no consumo de ambos pelo Sujeito H1 quando submetido ao protocolo de estressores, ao
passo que o Sujeito H2, que não foi exposto ao protocolo, e o Sujeito H3, que passou pelas
sessões operantes, mantiveram o consumo durante o protocolo. Assim, provavelmente a
apresentação do protocolo de estressores ou algum aspecto dele interferiu no consumo de
água e ração do Sujeito H1 e as sessões operantes mantiveram o consumo do Sujeito H3.
Diferentemente, os sujeitos do estudo de Rodrigues (2005) mantiveram o consumo de água e
ração, durante o protocolo, nas quantidades verificadas antes da exposição ao mesmo.
No entanto, o Sujeito H1 retornou aos valores de consumo de água e ração após a
suspensão do protocolo de estressores, indicando que o período de três semanas do protocolo
parece não ter interferido no consumo desses alimentos quando o sujeito não estava mais
sendo exposto a ele.
Nota-se ainda, que o Sujeito H3, que passou pelas sessões operantes em esquema
concorrente FR4-FR4, manteve os valores de consumo de água e ração durante o protocolo,
sugerindo que as sessões operantes anteriores ao protocolo estão relacionadas ao consumo.
Willner e cols. (1987) e Dolabela (2004) hipotetizaram que a redução de peso
verificada em seus estudos poderia ter sido relacionada com a diminuição do consumo de
água e ração durante o protocolo, o que seria atestado por uma aferição sistemática do
consumo de líquido e ração. Segundo Rodrigues (2005) e o presente estudo, as alterações no
34
peso podem ser relacionadas aos períodos de privação/restrição hídrica e alimentar que
compunham o protocolo de estressores, sendo 23 horas, 41 horas e 25 horas sem acesso à
ração, com o acréscimo a esse último período de 23 de privação de água, como condição para
participação dos testes de líquidos. Em contrapartida, nos dias seguintes aos períodos de
privação de água e ração, verificou-se no presente estudo que os sujeitos que passaram pelo
protocolo ingeriram uma quantidade maior de água e ração do que antes da submissão, o que
por sua vez, aumentou o peso do sujeito no dia.
Testes de consumo e de preferência de líquidos
Ocorreram vinte e cinco testes de consumo e preferência de líquidos. Os testes de
número 1 a 19 ocorreram antes da submissão dos Sujeitos H1 e H3 ao protocolo de
estressores, os testes de 20 a 22 foram realizados durante a exposição e os testes de número 23
a 25 foram efetuados após o término do protocolo.
As figuras nas quais estão dispostos os dados referentes a esses testes são as Figuras 7,
8 e 9. Em cada figura, o eixo x apresenta o teste realizado e o eixo y, os valores de líquidos
ingeridos em mililitros. Duas linhas tracejadas demarcam o período de exposição dos Sujeitos
H1 e H3 ao protocolo. Há três curvas: uma referente ao consumo de água (pontos em
triângulos cinza e linha contínua), outra de água com sacarose (pontos quadrados brancos e
linha contínua) e a terceira marca a porcentagem de preferência de ingestão de água com
sacarose sobre a ingestão da água (pontos em losangos pretos e linha tracejada). Os valores
que compõem a última curva foram calculados a partir da seguinte fórmula: valor do consumo
de água com sacarose dividido pela soma dos valores de consumo de água com sacarose e de
água, em seguida multiplicado por 100%.
A Figura 7 mostra os dados dos testes realizados com o Sujeito H1.
Em relação ao consumo de água, é possível notar que do teste 1 ao 14, o consumo
variou entre 1 e 35 mililitros. Do teste seguinte até a submissão do Sujeito H1 ao protocolo de
estressores, a ingestão de água diminuiu até alcançar um consumo nulo no teste 19.
Durante a exposição ao protocolo, nos testes 20, 21 e 22, os valores foram,
respectivamente, 2, 3 e 13 mililitros, denotando um aumento no consumo de água no último
teste realizado durante a submissão ao protocolo. Essa verificação sugere que a exposição do
Sujeito H1 ao protocolo de estressores teve efeitos no aumento do consumo de água na última
semana de exposição do sujeito.
35
Protocolo de
estressores
Privação Privação
0
15
30
45
60
75
90
105
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 101112131415 161718192021 22232425
Testes
Qu
an
tid
ad
e e
m m
L
0
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20
30
40
50
60
70
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90
100
Po
rce
nta
ge
m
Água (mL) Água com sacarose (mL) % sacarose
Figura 7. Distribuição do consumo de água e água com sacarose e porcentagem de preferência
de água com sacarose sobre a ingestão da água do Sujeito H1 por teste.
Os testes 23, 24 e 25, ocorridos após a suspensão do protocolo de estressores, exibem
valores, respectivamente, de 11, 5 e 8 mililitros de água ingerida, apresentando um
decréscimo no consumo. Vale destacar que no teste em seguida ao término do protocolo, o
valor de água ingerida esteve próximo do último teste realizado durante o protocolo.
O consumo de água não retornou aos valores obtidos antes da submissão ao protocolo,
ainda que esses valores tenham sofrido decréscimo nos três testes subseqüentes ao término do
protocolo.
Esse dado indica que o consumo de água pode ter sofrido efeito da submissão do
sujeito ao protocolo durante a primeira semana após a suspensão do protocolo, não se
mantendo durante as duas semanas seguintes.
Quanto ao consumo de água com sacarose, do teste 1 ao 19, ele esteve entre 12 e 105
mililitros, excetuando os testes 2, 7 e 12 nos quais o consumo foi maior, respectivamente 54,
50 e 50 mililitros. Nos testes 15 a 19, pareceu que o consumo se estabilizou, pois marcaram
valores entre 15 e 18 mililitros.
Já os testes realizados durante a exposição ao protocolo, testes 20, 21 e 22, marcaram,
respectivamente, valores 23, 29 e 21 mililitros, mostrando um aumento no consumo de água
com sacarose do primeiro teste realizado durante a submissão ao protocolo para os seguintes.
36
Esse dado sugere que o protocolo de estressores teve efeitos na redução do consumo de água
com sacarose na terceira semana de exposição do Sujeito H1.
No teste 23, o consumo de água com sacarose atingiu um valor menor do que no teste
22, quando o sujeito ainda passava pelo protocolo, 17 mililitros. Nos dois testes seguintes, o
consumo foi de 44 e 22 mililitros, respectivamente, apresentando um aumento no consumo
em relação ao teste 22 e restabelecendo o consumo de água com sacarose à faixa de valores de
consumo observada desde o início dos testes. Isso indica que provavelmente o consumo de
água com sacarose ficou afetado pela submissão do sujeito ao protocolo durante a primeira
semana após a suspensão do protocolo, contudo não se manteve durante as semanas seguintes.
Sobre a porcentagem de preferência do consumo de água sobre o consumo de água
com sacarose, nota-se que do teste 1 ao 14 os valores variaram entre 30% e 95%. Do teste 15
ao 19 essa porcentagem de preferência aumentou, passando de, no teste 15, 78%, ao teste 19,
a 100%.
Durante a exposição ao protocolo, verifica-se um aumento nas duas primeiras
semanas, testes 20 e 21, subindo de 88% para 93%. Contudo esse aumento não se manteve na
semana 22, pois a preferência foi de 61%.
Esse resultado sugere que a exposição do Sujeito H1 ao protocolo de estressores teve
efeitos na queda da porcentagem de preferência do consumo de água com sacarose na terceira
semana de submissão ao protocolo.
O teste 23, seguinte à suspensão do protocolo, exibe um valor da porcentagem de
preferência próximo ao último teste realizado durante a exposição do protocolo, 60%. Vale
destacar que nos testes 22 e 23, nos quais as porcentagens de preferência estiveram em 61% e
60%, o consumo de água e de água com sacarose atingiu valores próximos. Os valores
seguintes, teste 24 e 25, são, respectivamente, 89% e 73%, aumentando o valor do teste 24 em
relação ao 23. O valor do teste 25 retorna aos valores obtidos nos testes 14 a 20, últimos testes
anteriores ao protocolo.
Essa constatação indica que a porcentagem de preferência do consumo de água com
sacarose pode ter sofrido efeito da submissão ao protocolo de estressores durante a primeira
semana após a suspensão do protocolo, não se mantendo durante as duas semanas seguintes.
Os dados sobre a ingestão e preferência de líquidos do Sujeito H2 estão apresentados
na Figura 8.
O consumo de água parece apresentar uma constância ao longo dos testes, com valores
entre 0 e 6 mililitros, apresentando maiores variações nos testes 1, 2, 5, 10, 21, 22 e 23, nos
quais o consumo esteve entre 13 e 92 mililitros.
37
0
15
30
45
60
75
90
105
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425
Teste
Qu
an
tid
ad
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m m
L
0
20
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100
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ge
m
Água (mL) Água com sacarose (mL) % sacarose
Figura 8. Consumo de água e água com sacarose e porcentagem de preferência de ingestão de
água com sacarose sobre a ingestão da água do Sujeito H2 por teste.
Quanto ao consumo de água com sacarose, com exceção do teste 2, no qual o consumo
de água com sacarose atingiu 96 mililitros, nos demais testes o consumo variou entre 12 e 30
mililitros.
Quanto à porcentagem de preferência do consumo de água com sacarose, até o teste
19, houve oscilação que variou entre 51% e 100%. Do teste 20 ao 22, a porcentagem esteve
entre 50% e 84%. Nos três testes seguintes, 23 a 25, ela marcou valores entre 56% a 90%.
Importante apontar que durante os testes 21 a 23, testes realizados durante a submissão ao
protocolo para os demais sujeitos, o Sujeito H2 apresentou uma queda na preferência por água
com sacarose.
Na maioria dos testes, o consumo de água com sacarose foi maior do que o consumo
de água, sendo que em apenas três testes, 5, 10 e 22, o consumo foi igual.
Quanto à preferência, ela ocorreu em todos os testes, salvo nos testes 2, 5, 10 e 22.
Os dados sobre a ingestão de líquidos e a preferência de água com sacarose do Sujeito
H3 podem ser vistos na Figura 9.
Do teste 1 ao 12 o consumo de água oscilou entre 0 e 40 mililitros. A partir do teste
seguinte, teste 13, a ingestão de água permaneceu entre os valores 0 e 4 mililitros, inclusive
durante o protocolo de estressores, o que sugere que a exposição do Sujeito H3 ao protocolo
de estressores não teve efeitos sobre o consumo de água.
38
Protocolo de
estressores
Privação Privação
0
15
30
45
60
75
90
105
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425
Teste
Qu
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tid
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L
0
20
40
60
80
100
Po
rce
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ge
m
Água (mL) Água com sacarose (mL) % sacarose
Figura 9. Consumo de água e água com sacarose e porcentagem de preferência de ingestão de
água com sacarose sobre a ingestão da água do Sujeito H3 por teste.
Do teste 1 ao 14 o consumo de água com sacarose variou entre 12 e 76 mililitros. Nos
testes 15 a 19, pareceu que o consumo se estabilizou, pois marcaram valores entre 21 e 27
mililitros.
Já os testes realizados durante a exposição ao protocolo marcaram valores 28, 35 e 28
mililitros nos testes 20, 21 e 22, respectivamente, mostrando uma estabilidade no consumo
durante a submissão ao protocolo.
Nos testes 23 a 25, após a retirada do sujeito do protocolo, o consumo de água com
sacarose esteve em 29, 29 e 26 mililitros, novamente uma estabilidade no consumo.
Esses dados sugerem que ou o protocolo de estressores não teve efeitos sobre o
consumo de água com sacarose ou as sessões operantes em esquema FR4-FR4 antes, ou
ambos, tiveram efeitos sobre o consumo durante a exposição ao protocolo.
Sobre a porcentagem de preferência do consumo de água sobre o consumo de água
com sacarose, do teste 1 ao 14 os valores variaram entre 23% e 100%. Do teste seguinte até o
19 a porcentagem de preferência variou entre 87% e 100%.
Essa porcentagem durante a exposição ao protocolo foi de 100% no teste 20 e
diminuiu nos testes 21 e 22 para 89% e 90%, respectivamente, mantendo-se nos valores
observados anteriormente à submissão ao protocolo.
39
Esses dados sugerem que ou o protocolo de estressores não teve efeitos sobre o
consumo de água com sacarose ou as sessões operantes em esquema FR4-FR4 antes, ou
ambos, tiveram efeitos sobre o consumo durante a exposição ao protocolo.
Nos testes seguintes à suspensão do protocolo, os valores da porcentagem de
preferência estiveram em 100%, indicando que esta não sofreu efeito da submissão ao
protocolo de estressores após sua suspensão.
Como conclusão, nota-se que os sujeitos deste estudo, antes da submissão ao
protocolo, assim como os de Willner e cols. (1987), Thomaz (2001), Dolabela (2004) e
Rodrigues (2005) demonstraram preferência por água com sacarose.
Durante o período de exposição ao protocolo de estressores, os Sujeitos H1 e H2
apresentaram alterações no consumo e na preferência de líquidos, ao passo que o Sujeito H3
manteve o consumo de líquidos como observado anteriormente à exposição ao protocolo. No
caso do Sujeito H1, houve queda no consumo de e na preferência por água com sacarose e um
aumento na ingestão de água na terceira semana de exposição ao protocolo. O Sujeito H2
apresentou aumento no consumo de água e diminuição na preferência por água com sacarose
durante as três semanas nas quais dos Sujeitos H1 e H3 foram submetidos ao protocolo. Esse
resultado questiona a hipótese da relação entre a submissão ao protocolo e a queda na
preferência por água com sacarose. Talvez outro(s) fator(es) nesses dias tenham interferido no
consumo de líquidos e na preferência por água com sacarose que não o protocolo. Esse
resultado não está em concordância com os resultados de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e
Rodrigues (2005) que verificaram alterações no consumo de líquidos e na preferência por
água com sacarose durante o período de submissão ao protocolo somente para os sujeitos
submetidos a ele.
Ainda assim, para o Sujeito H2, a queda na preferência de água com sacarose foi mais
acentuada quando comparada com a queda na preferência do Sujeito H3, submetido ao
protocolo e às sessões operantes, sugerindo que essas últimas provavelmente foram as
responsáveis pela diminuição menos acentuada na preferência por água com sacarose.
Os sujeitos de Willner e cols. (1987), Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues
(2005) apresentaram queda na ingestão de líquidos e na preferência por água com sacarose,
contudo a ingestão de água com sacarose se manteve maior do que a de água. Os dados
obtidos durante o protocolo do estudo aqui descrito não demonstram uma estabilidade, o que
também pode-se verificar em 4 sujeitos, de 7, em Dolabela (2004) e em 7 sujeitos, de 8, em
Rodrigues (2005) durante as três primeiras semanas do protocolo. Para esses sujeitos, os
40
dados se estabilizaram a partir da quarta semana do protocolo. Dessa maneira, um protocolo
de estressores com três semanas de duração não apresenta dados confiáveis.
A manutenção da preferência por água com sacarose ainda revela que as sessões
operantes em esquema concorrente FR4-FR4 antes do protocolo foram suficientes para
manter a porcentagem de preferência de água com sacarose durante a submissão ao protocolo.
Uma relação entre as sessões operantes anteriores ao protocolo e a exposição dos sujeitos a
ele também foi verificada nas três primeiras semanas de exposição ao protocolo com os
sujeitos de Thomaz (2001), Dolabela (2004), cujo valor do esquema concorrente foi FR15-
FR15, e Rodrigues (2005), cujo valor foi FR5-FR5. Assim, um esquema concorrente de
menor valor do que o empregado nos estudos anteriores parece ter mantido a preferência por
água com sacarose durante o protocolo.
Cabe destaque que o Sujeito H3 atingiu o valor de 100% de preferência de água com
sacarose na primeira semana após o término do protocolo, ao passo que o Sujeito H1 manteve
na mesma semana a preferência verificada no último teste durante o protocolo. Esse resultado
sugere que a presença das sessões operantes anteriores ao protocolo foram responsáveis por
essa retomada. Diferentemente, os sujeitos de Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues
(2005), nesse último mesmo aqueles que passaram pelas sessões em esquema concorrente
FR5-FR5, valor próximo ao empregado no presente estudo, não demonstraram esse retorno.
Dessa forma, não está claro se o retorno à porcentagem de preferência pode ser relacionado à
presença das sessões operantes ou à duração do protocolo de estressores.
Por outro lado, os sujeitos de Dolabela (2004) e Rodrigues (2005) que retornaram à
porcentagem de preferência de água com sacarose ou a valores próximos verificados antes do
protocolo foram os sujeitos que passaram pelas sessões operantes antes, durante e depois do
protocolo em esquema concorrente FR15-FR15. Já todos os sujeitos de Rodrigues (2005) que
foram submetidos às sessões com valores de FR5-FR5 antes, durante e depois do protocolo
retornaram às porcentagens anteriores. Esses resultados sugerem que a passagem pelas
sessões operantes durante o protocolo foram as responsáveis pela retomada da porcentagem
de preferência de água com sacarose. Todavia, não está claro se a atribuição a essa retomada
foi devido a um maior número de sessões operantes e o fortalecimento da relação entre
resposta e conseqüência ou se foi por causa do momento de submissão às sessões, durante o
protocolo.
Durante o presente estudo, o valor do esquema concorrente e a duração do protocolo
foram menores do que os empregados nos estudos anteriores e foi observado que a
porcentagem de preferência de água com sacarose se manteve durante o protocolo. Em
41
Dolabela (2004), os sujeitos mantiveram a porcentagem de preferência durante o protocolo ao
passarem pelas sessões operantes em esquema concorrente FR15-FR15. Já em Rodrigues
(2005), somente os sujeitos submetidos ao esquema concorrente FR5-FR5 antes, durante e
depois mantiveram a preferência pela água com sacarose durante o protocolo. Dessa maneira,
parece que a diferença dos resultados encontrados nos diferentes estudos para que se
mantenha a porcentagem de preferência de água com sacarose foi a presença das sessões
operantes durante o protocolo com duração de seis semanas, e as sessões operantes antes e
depois de um protocolo com menor duração, três semanas.
Esquema concorrente
Como descrito na seção de Método, dos três sujeitos do presente estudo apenas o
Sujeito H3 passou pelas sessões operantes em esquema concorrente FR4-FR4 antes e depois
de ser submetido ao protocolo de estressores.
Serão analisadas e discutidas as seis sessões que antecederam o protocolo de
estressores e as quinze sessões que o seguiram.
A Figura 10 é composta por dois eixos y. O eixo y da esquerda apresenta o número de
respostas de pressão à barra correspondente tanto à liberação de água, bem como à liberação
de água com sacarose. O eixo y da direita mostra a porcentagem de respostas emitidas na
barra correspondente à liberação de água com sacarose sobre o total de respostas emitidas
sobre a barra com liberação de água acrescido do total de respostas emitidas na barra
correspondente com a liberação de água com sacarose.
O eixo x apresenta o número das sessões.
Há três curvas: uma referente às respostas emitidas na barra com liberação de água
(pontos em triângulos cinza e linha contínua fina), outra correspondente à liberação de água
com sacarose (pontos quadrados brancos e linha contínua grossa) e a terceira marca a
porcentagem do número de respostas emitidas na barra correspondente à liberação de água
com sacarose sobre o número de respostas emitidas nas duas barras (pontos em losangos
pretos e linha tracejada). Os valores que compõem essa curva foram calculados a partir do
seguinte cálculo: número de respostas emitidas na barra que liberou água com sacarose
dividido pela soma dos números de respostas emitidas nas barras com liberação de água com
sacarose e de água, em seguida multiplicado por 100%. A linha tracejada preta marca as
sessões que ocorreram antes da submissão do sujeito ao protocolo de estressores e depois.
42
Antes do protocolo Após o protocolo
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Sessões
Nú
me
ro d
e r
esp
osta
s
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Po
rce
nta
ge
m
Água Água com sacarose % sacarose
Figura 10. Número de respostas de pressão à barra emitidas nas barras correspondentes à
liberação de água e à liberação de água com sacarose e a porcentagem de respostas emitidas
na barra correspondentes à liberação de água com sacarose do Sujeito H3 por sessão.
Nas sessões 40 a 45, o número de respostas de pressão emitidas na barra
correspondente à água com sacarose variou entre 221 a 789 respostas.
Já o número de respostas de pressão à barra que liberou água ficou entre 0 e 46
respostas.
A porcentagem do número de respostas emitidas na barra correspondente à liberação
de água com sacarose variou entre 83% e 100%.
Isso indica que, em uma amostra das sessões realizadas, o número de respostas antes
da exposição ao protocolo foi maior na barra correspondente à liberação de água com
sacarose.
Contudo, nas sessões que seguiram o término do protocolo de estressores o número de
respostas de pressão à barra com liberação de água com sacarose variou de 101 (Sessão 60) a
336 (Sessão 48). O número de respostas emitidas na barra que liberou água aumentou de 198
a 520. A porcentagem do número de respostas emitidas na barra correspondente à liberação de
água com sacarose variou entre 17% e 75%. Os valores apresentaram um aumento no
consumo de água e uma diminuição no consumo de água com sacarose e preferência por água
com sacarose em relação com as últimas sessões anteriores ao protocolo.
43
Esses dados sugerem que a passagem do Sujeito H3 pelo protocolo de estressores
interferiu no valor reforçador da água com sacarose seguida da pressão à barra nas sessões
operantes.
Assim como em Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), o Sujeito H3,
submetido às sessões operantes, apresentou um número de respostas antes da exposição ao
protocolo maior na barra correspondente à liberação de água com sacarose em quase todas as
sessões. No padrão de respostas de um sujeito de Thomaz (2001) e nos sujeitos do estudo de
Dolabela (2004) esse número se manteve após a submissão dos sujeitos ao protocolo,
indicando que o valor reforçador da água com sacarose não foi menor do que o da água apesar
da submissão ao protocolo. O outro sujeito de Thomaz (2001) emitiu maior número de
respostas na barra com liberação de água até a quarta sessão operante após o término do
protocolo. Contudo, Dolabela (2004) discute que essa diferença pode ter sido relacionada com
o número de sessões realizadas antes do protocolo: os sujeitos de Thomaz (2001) passaram
por 18 sessões e os de Dolabela (2004) por 55. Essa relação pode se estender para o estudo de
Rodrigues (2005), cujos sujeitos foram submetidos a 58 sessões, e o presente estudo, no qual
o número de sessões operantes foi 45.
Contudo, na análise do desempenho do Sujeito H3, houve uma redução do número de
respostas de pressão à barra com liberação de água com sacarose após a submissão do sujeito
e um aumento no número de respostas de pressão à barra com liberação de água, diminuindo
assim a porcentagem do número de respostas de pressão à barra com liberação de água com
sacarose. Isso sugere que a passagem do Sujeito H3 pelo protocolo de estressores interferiu no
valor reforçador da água com sacarose seguida da pressão à barra, assim como verificado em
Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005). Isso indicaria que o Sujeito H3
desenvolveu anedonia, caracterizada como insensibilidade ao prazer. Contudo, foi verificado
que nos testes de consumo e preferência de líquidos, o sujeito manteve durante e após o
protocolo, os valores observados antes da submissão. Assim, não está claro se o Sujeito H3
desenvolveu anedonia.
Quanto à recuperação da preferência por água com sacarose, medida pela porcentagem
de respostas de pressão à barra com liberação de água com sacarose, o Sujeito H3 não a
recuperou após a submissão ao protocolo. Os dois sujeitos do estudo de Rodrigues (2005) que
foram submetidos às sessões operantes em esquema concorrente FR5-FR5 antes e depois do
protocolo recuperaram a porcentagem de respostas na barra com liberação de água com
sacarose.
44
Dolabela (2004) e Rodrigues (2005) discutem que os sujeitos que passaram pelas
sessões operantes durante o protocolo de estressores recuperaram as porcentagens de
respostas de pressão à barra com liberação de água com sacarose apresentadas anteriormente
ao protocolo mais rapidamente do que os sujeitos que não foram expostos às sessões durante
o protocolo. O presente estudo pretendeu estabelecer uma comparação sobre esse aspecto.
Contudo, o sujeito destinado a essa condição não apresentou um maior número de respostas
na barra com liberação de água com sacarose nas sessões anteriores ao protocolo e em virtude
do tempo não foi possível aguardar que se estabelecesse essa preferência e atingisse o valor de
FR4 nas sessões operantes. Portanto, o sujeito foi excluído do estudo.
Já os sujeitos de Rodrigues (2005) que passaram pelas sessões operantes antes, durante
e depois com esquema concorrente FR5-FR5 apresentaram uma recuperação no padrão de
respostas mais rápida (apesar de o autor não definir a medida de mais rápida), do que os
sujeitos que passaram pela mesma condição com a exceção de que o valor do esquema
concorrente foi FR15-FR15. O desempenho de um sujeito que passou pelas sessões com o
valor FR5-FR5 mostra uma estabilidade no padrão de respostas emitidas na barra com
liberação de água com sacarose, discutido pelo autor como se as sessões operantes tivessem
“imunizado” o sujeito dos efeitos encontrados quando da exposição ao protocolo.
45
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como descrito anteriormente, o objetivo do presente estudo foi investigar (a) se a
exposição de animais por três semanas de protocolo de estressores produziria a redução do
peso corporal e a diminuição do consumo de líquidos e da preferência por água com sacarose,
efeitos de anedonia vistos nas pesquisas nas quais o protocolo de estressores durou seis
semanas, além da redução no consumo de água e ração e (b) se a submissão dos sujeitos a
sessões operantes em esquema concorrente FR4-FR4 não permitiria uma redução no peso
corporal ou recuperaria uma perda e os valores de consumo e de preferência de líquidos.
Os resultados do presente estudo apontaram, quanto ao peso corporal, que o protocolo
de estressores com três semanas de duração ou algum aspecto dele foi provavelmente
responsável pela diminuição do peso dos dois sujeitos. Parece que as sessões operantes
anteriores ao protocolo não serviram para prevenir a redução de peso durante o mesmo, ainda
que tenha sido empregado um valor de esquema concorrente menor do que nos estudos de
Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005). Ainda, os sujeitos que tiveram o peso
diminuído retornaram aos valores anteriores ao protocolo, sugerindo que essas sessões não
podem ser relacionadas à retomada do peso. Esse resultado provavelmente mostra que um
protocolo de estressores com três semanas de duração não reproduziu, no sujeito não
submetido às sessões operantes, os resultados da não recuperação do peso após o término do
protocolo. Novamente parece que a duração do protocolo foi a variável responsável pelos
resultados encontrados.
Quanto ao consumo de água e ração, verificou-se maior variação no consumo pelo
sujeito exposto ao protocolo, mas não às sessões operantes, ao passo que os demais sujeitos
mantiveram seus consumos. Assim, provavelmente a apresentação do protocolo de estressores
ou algum aspecto dele e a ausência das sessões operantes interferiu(ram) no consumo de água
e ração para um sujeito durante a exposição a ele, não se mantendo posteriormente. Ainda, o
sujeito que passou pelas sessões operantes em esquema concorrente FR4-FR4 manteve os
valores de consumo de água e ração durante o protocolo, sugerindo que as sessões operantes
anteriores ao protocolo estão relacionadas ao consumo.
Notou-se que os dois sujeitos expostos ao protocolo atingiram consumos nulos de água
e ração em alguns dias de submissão ao mesmo. Ainda que o estudo de Rodrigues (2005) e o
presente estudo tenham realizado aferições do consumo de água e ração, parece que faltam
investigações que analisem a relação entre redução do peso e submissão ao protocolo e
redução de peso, e redução de peso e apresentação de períodos de privação/restrição. Como
46
sugestão para uma futura investigação, poder-se-ia eliminar esses estressores de privação e
investigar se os demais estressores produziriam a redução do peso.
Em relação aos testes de consumo e de preferência de líquidos, notou-se que os
sujeitos deste estudo, antes da submissão ao protocolo, demonstraram preferência por água
com sacarose.
Durante o período de exposição ao protocolo os sujeitos que não foram submetidos às
sessões operantes apresentaram alterações no consumo e na preferência de líquidos.
Provavelmente outro(s) fator(es) interferiram no consumo de líquidos e na preferência por
água com sacarose que não o protocolo.
A análise dos resultados de Dolabela (2004) e Rodrigues (2005) não demonstrou uma
estabilidade no consumo e na preferência de líquidos para a maioria dos sujeitos durante as
três primeiras semanas do protocolo. Para esses sujeitos, os dados se estabilizaram a partir da
quarta semana do protocolo. Dessa maneira, um protocolo de estressores com três semanas de
duração não apresenta dados confiáveis.
Não foi observada queda na preferência de água com sacarose no sujeito submetido às
sessões operantes. Entretanto, não se pode estabelecer a mesma relação para os sujeitos de
Thomaz (2001), Dolabela (2004) e Rodrigues (2005), uma vez que mesmo os sujeitos que
passaram pelas sessões em esquema concorrente FR5-FR5 em Rodrigues (2005), valor
próximo ao empregado no presente estudo, não demonstraram esse retorno. Dessa forma,
parece que a manutenção da porcentagem de preferência pode ser relacionada à duração do
protocolo de estressores. Novamente, estudos que empregassem maior número de sujeitos
poderiam encontrar mais dados para embasar essas afirmações.
Contudo, no presente estudo, mesmo um esquema concorrente de menor valor do que
o empregado nos estudos anteriores não interferiu na diminuição da preferência por água com
sacarose durante o protocolo.
Por outro lado, na comparação dos estudos de Dolabela (2004) e Rodrigues (2005),
parece que a retomada da porcentagem de preferência de água com sacarose ou a valores
próximos verificados antes do protocolo ocorreu nos testes dos sujeitos que passaram pelas
sessões operantes antes, durante e depois do protocolo em esquema concorrente FR15-FR15 e
FR5-FR5. Esses resultados sugerem que a passagem pelas sessões operantes durante o
protocolo foram as responsáveis pela retomada do valor da porcentagem. Todavia, não está
claro se a atribuição à retomada foi devido a um maior número de sessões operantes e o
fortalecimento da relação entre resposta e conseqüência ou se foi devido ao momento de
submissão às sessões, durante o protocolo. Um estudo que manipulasse a ocasião das sessões
47
operantes para apenas durante a exposição ao protocolo ou após o término, contribuiria para
esclarecer esse ponto.
Quanto às sessões operantes, o sujeito submetido a elas apresentou um número de
respostas maior na barra correspondente à liberação de água com sacarose em quase todas as
sessões anteriores ao protocolo.
Entretanto, o mesmo não ocorreu após o término do protocolo. Diferentemente, os
sujeitos do estudo de Rodrigues (2005) que foram submetidos às sessões operantes em
esquema concorrente FR5-FR5 antes e depois do protocolo recuperaram a porcentagem de
respostas na barra com liberação de água com sacarose. Assim, mesmo um protocolo de seis
semanas de duração parece não ter interferido na recuperação da preferência de água com
sacarose. Talvez esse resultado possa ser relacionado entre Rodrigues (2005) e o estudo aqui
descrito quanto ao número de sessões operantes anteriores ao protocolo, como apontado
anteriormente. Contudo, esse resultado não está claro, uma vez que a comparação foi
realizada entre três sujeitos, dois do estudo de Rodrigues (2005) e um do presente estudo.
Seria sugerido um estudo com maior número de sujeitos para se estabelecer alguma relação
entre a duração do protocolo e a preferência pela água com sacarose.
Ainda, faz-se necessário um estudo cujo delineamento envolva sujeitos submetidos ao
protocolo de três semanas de duração com às sessões operantes antes e depois, e antes,
durante e depois para se estabelecer uma comparação entre a submissão às sessões operantes
durante o protocolo e a recuperação das porcentagens de preferência de água com sacarose.
Interessante destacar que Willner e cols. (1987) fizeram uso de medicamentos
antidepressivos para a reversão da anedonia produzida, ao passo que em Thomaz (2001),
Dolabela (2004) e Rodrigues (2005) as sessões operantes parecem ter tido efeitos na reversão
da anedonia. Uma explicação possível reside no fato de que durante o protocolo de
estressores, os sujeitos foram expostos a uma situação de independência entre as respostas
emitidas e as conseqüências. Diferentemente, durante as sessões operantes, a relação
estabelecida entre as respostas e as conseqüências, o que segundo Seligman (1975) é
caracterizada pela controlabilidade, evitou ou reduziu os efeitos que são comumente
produzidos pela exposição aos estressores.
A implicação para os seres humanos de estudos que investiguem relações entre
manipulações de situações ambientais e alterações na anedonia em animais está no fato de que
os seres humanos no mundo Ocidental estão entediados, apáticos e deprimidos devido às suas
práticas culturais que enfraquecem a relação temporal entre a resposta e suas conseqüências
no repertório do indivíduo e na promoção da sobrevivência da cultura e das espécies (Skinner,
48
1987). Isso ocorre especialmente por causa do uso de reforços condicionados e generalizados
quando, por exemplo, a divisão do trabalho é especializada e alienada do produto final; paga-
se outros indivíduos para realizar tarefas e evita-se o lado aversivo do trabalho; age-se por
conselhos e não se estabelece novas contingências; obedece-se a regras e a leis. Em todos os
exemplos, não há a presença do reforço, pois respostas não são emitidas. A correção desses
efeitos pode ser realizada pelo fortalecimento das contingências (Skinner,1987), o que parece
ocorrer durante as sessões operantes.
49
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