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ATENDIMENTO AO DOCUMENTO DE CONSIDERAÇÕES,
QUESTIONAMENTOS E RECOMENDAÇÕES AO AHE BELO MONTE
APRESENTADO PELOS MOVIMENTOS SOCIAIS DO RIO XINGU
SUMÁRIO
1. Quais os impactos sobre a população de cada um dos onze municípios atingidos
diretamente pelo empreendimento (Pacajá, Rurópolis, Porto de Moz, Anapu, Altamira,
Vitoria do Xingu, Senador José Porfirio, Brasil Novo, Medicilândia, Uruará e Placas) e
o que aconteceria com cada um deles com a implantação das obras da AHE Belo Monte,
considerando as áreas alagadas, canteiro de obra, áreas de bota fora outros
empreendimentos associados à AHE Belo Monte? ........................................................ 10
2. Quais os impactos sobre a população de cada um dos onze municípios atingidos
diretamente pelo empreendimento (citadas na questão anterior) e o que aconteceria com
cada um deles com a implantação das obras da AHE Belo Monte, considerando o
grande contingente populacional extra que vem para a região (96.000 pessoas segundo
projeções do EIA)? .......................................................................................................... 13
3. Quais os impactos na saúde da população de cada uma dos onze municípios citados
acima, com a criação de ambientes favoráveis para a reprodução de mosquitos vetores
de doenças como a malaria e outras epidemias? ............................................................. 16
4. Quais os impactos específicos sobre as populações rurais que terão que deixar suas
áreas por alagamento ou construção dos canais (região dos reservatórios) em cada um
dos travessões e localidades ribeirinhas? ........................................................................ 17
5. Quais as ruas especificamente alagadas dos bairros Aparecida, Boa Esperança, Alberto
Soares e Jardim Independência II na cidade de Altamira? ............................................. 20
6. Quais os impactos específicos sobre as populações que vivem na Volta Grande do
Xingu onde a vazão será drasticamente reduzida (abaixo da Barragem)? ...................... 21
7. Qual o conceito de população impactada considerada pelos estudos? Quais são os
parâmetros e critérios utilizados para determinar se uma população é ou não diretamente
impactada?....................................................................................................................... 22
8. Quais as condições das terras para onde as populações compulsoriamente expulsas serão
reassentadas em termos de qualidade para plantio, proximidade dos centros urbanos,
condições de transporte, estradas, energia, sociabilização, escolas e postos de saúde?
Onde estão localizadas essas terras e quais as condições fundiárias dessas terras? Como
serão calculadas as indenizações para essas populações, o que será considerado? Como
essas famílias serão preparadas para o reassentamento?................................................. 23
9. Como se dará a indenização ou compensação dos moradores dos baixões e igarapés que
não possuem o título de suas propriedades? Como será calculado o valor a ser pago
pelos empreendedores pelas propriedades e benfeitorias perdidas com o alagamento?
Esse valor permitirá que as famílias deslocadas adquiram novas propriedades e as
trabalhem para chegar no mesmo nível em que estão nas propriedades atuais, o que
muitas vezes representa décadas de trabalho? ................................................................ 26
2
10. Qual a situação fundiária das terras no perímetro urbano em Altamira identificadas
pelos empreendedores para reassentar parte dos moradores compulsoriamente expulsos?
......................................................................................................................................... 29
11. Com a formação do reservatório do Xingu e a subida do nível da água, como ficara a
qualidade da água potável em Altamira? De que forma será afetado o esgoto já precário
na cidade? Qual será o impacto sobre o lençol freático e os poços que abastecem de
água as moradias em Altamira? Com uma forte cheia no Xingu, como ficará o nível da
água na cidade de Altamira? É certo que o nível da água não poderá subir acima da cota
100? ................................................................................................................................. 30
12. O que acontecera com as Unidades de conservação com o grande contingente
populacional que vem para região? ................................................................................. 32
13. Quais os impactos previstos nas Resex do Rio Iriri, Resex do Rio Xingu e Resex do
Riozinho do Anfrísio, acima da Foz do Rio Iriri? Quais as prevenções e mitigações
previstas para essas populações? ..................................................................................... 33
14. Quais as quantificações feitas sobre a perda da biodiversidade que será perdido com a
inundação provocada pela barragem de Belo Monte? Foi feito um diagnostico do
impacto da perda dessa biodiversidade para as populações locais que utilizam esses
recursos? .......................................................................................................................... 34
15. O projeto traz conseqüências sobre o rio Bacajá? Quais as conseqüências sobre a vida
das pessoas que moram rio Bacajá acima, a partir da sua foz no Xingu, incluindo
indígenas da TI Trincheira Bacajá, homologada? ........................................................... 36
16. Quais as conseqüências da obra proposta sobre o lençol freático na Volta Grande
(baixo) e na cidade de Altamira (alto)? ........................................................................... 38
17. Como deve ser o impacto da formação do lago nos igarapés da cidade? ....................... 41
18. Como ficaria a situação das praias do rio Xingu utilizadas para o lazer da população de
Altamira e região no período da seca? Em muitos casos nas praias artificiais ao redor
dos lagos de barragens, têm havido problemas de ataques de piranhas além do
incômodo ocasionado por um forte cheiro de podre em conseqüências de apodrecimento
de vegetais no fundo dos lagos........................................................................................ 42
19. Como seria o impacto nos peixes migratórios e os peixes endêmicos (inclusive os peixes
ornamentais), considerando a vazão reduzida e o canal lateral para transposição de
peixes? ............................................................................................................................. 43
20. Como ficará a operação da “vazão ecológica” em situação em escassez de água. Todas
as turbinas seriam desligadas na casa de força principal?............................................... 45
21. Foi apresentado na Avaliação Ambiental Integrada (AAI) e no EIA que há grande
atividade antrópica na bacia, principalmente nas cabeceiras, região de São Felix e
Altamira. Qual o limite de desmatamento para a saúde física e biológica da Bacia do
Rio Xingu? ...................................................................................................................... 47
3
22. Quais são os cenários de desmatamento para a região a curto, médio e longo prazo
considerando-se a implantação de Belo Monte e todos os impactos dela decorrentes
como o asfaltamento da Transamazônica, a abertura e melhoria de vias de acesso, a
chegada de uma grande contingente populacional que se encontrará após o término das
obras em sua maioria desempregada? ............................................................................. 48
23. O hidrograma ecológico proposto garantira a manutenção das condições ecológicas
atuais da Volta Grande do Xingu e conseqüentemente da fauna aquática sobre a qual se
apóiam a segurança alimentar das famílias ribeirinhas e dos povos indígenas aldeados e
não aldeados que vivem nas margens da Volta Grande do Xingu?..... ........................... 50
24. Como dar continuidade a um projeto monstruoso como este com sérias e irreversíveis
interferências no modo de vida das populações locais (Potencializando inclusive
conflitos fundiários) sem que estejam solucionadas anteriormente todas as questões
relacionadas a regularização das terras indígenas (TI Arara da Volta Grande, TI
Cachoeira Seca, TI Juruna da Boa Vista e TI Paquiçamba?) .......................................... 52
25. Como estão planejados e realizadas as Oitivas Indígenas? Quando? De que forma? .... 52
26. O que acontecerá com as terras indígenas com o grande contingente populacional que
vem para a região? .......................................................................................................... 52
27. Por que não foram feitos estudos e projeções de impacto para os povos indígenas
Xipaya e Kuruaya? .......................................................................................................... 54
28. Quando, onde e com que agenda as associações indígenas foram contatadas pelas
empresas no decorrer desses anos dando algum tipo de explicação sobre o aumento dos
impactos em razão da construção da hidrelétrica? .......................................................... 54
29. Quais os impactos do aumento do contingente populacional para a região do Xingu e da
Transamazônica? ............................................................................................................. 60
30. Como os municípios da área de influência estão sendo preparados para acolher este
contingente populacional extra? Considerando que a região afetada tem um precário
serviço de saúde, educação, segurança pública que já não atende a demanda da região,
como ficará a questão da segurança pública, saúde, educação nos 11 municípios? Qual o
cronograma dos programas de mitigação, os custos e quem pagará essa conta? Quem
assegura? ......................................................................................................................... 60
31. Qual a capacidade em cada município da área de influência de absorver a mão de obra
extra, considerando-se o nível de desemprego local? ..................................................... 61
32. Considerando que a região já vive um caos fundiário, com a chegada de um grande
contingente populacional, qual seria o impacto sobre as unidades de conservação, terras
indígenas, assentamentos rurais, PDS e outras áreas ainda não destinadas pelo governo
federal? ............................................................................................................................ 62
33. Quem garantirá e como será garantida a segurança alimentar de toda a população desta
região com a chegada de um grande contingente populacional, considerando-se o
aumento da pressão sobre as terras indígenas, as propriedades rurais, os rios da região, a
4
especulação fundiária e o deslocamento de agricultores familiares responsáveis pela
produção de alimentos na região? ................................................................................... 64
34. Qual será o impacto da chegada deste contingente populacional formado em sua maioria
por pessoas do sexo masculino sobre a violência sobre as mulheres e as crianças? E
sobre a violência, o abuso sexual, prostituição infantil, o trabalho infantil, foram feitas
projeções? ........................................................................................................................ 65
35. Qual é afinal o custo previsto para a obra, incluindo todos os custos das ações de
prevenção, monitoramento, mitigação e potencialização? Como foram calculadas essas
medidas? Nem os custos citados e nem a forma de cálculo de tais custos foram
encontrados no EIA-RIMA e em nenhum outro documento divulgado para a sociedade.
O que está sendo analisado pelo Tribunal de Contas da União (TCU)? ......................... 67
36. Como chegaram no valor de R$ 476.182.000 para “Meio Ambiente” e o que está
contido nos R$ 766.089.000 da rubrica denominada “Outros custos + eventuais”
(Apresentado também na página 48 do volume 1)? Já houve revisão para esses custos?
Se sim, qual o novo número e como foi determinado, o que foi considerado? Apresentar
memorial de cálculo detalhado........................................................................................ 67
37. O que, de fato, será de responsabilidade do governo e o que será de responsabilidade
dos empreendedores? Quais as garantias legais de que serão realizadas as medidas de
prevenção, mitigação, monitoramento e potencialização? O que há de diferente em
termos de garantia de outros empreendimentos já realizados na Amazônia como
Tucuruí, e as usinas do Madeira, por exemplo? .............................................................. 67
38. Muitas das mitigações precisam ser efetuadas antes do início das obras e demandam
tempo, como processos de regularização fundiária, formação de mão de obra qualificada
ou infra-estrutura de saúde, educação e segurança pública, por exemplo. Quais as
garantias de que essas mitigações serão realizadas nos tempos necessários? Como os
cronogramas de implantação da obra estão relacionados com os cronogramas das ações
de prevenção, mitigação, potencialização e monitoramento? ......................................... 68
39. Em audiências na cidade de Altamira e no EIA, foi apresentado que Belo Monte é um
empreendimento que gera uma energia muito barata (R$ 748/kW). Considerando que o
custo da obra pode ser mais de quatro vezes maior que o valor divulgado no EIA e que a
energia firme (4.462 MW) é de 39% da potência instalada, qual é o custo do kWh para a
sociedade? ....................................................................................................................... 69
40. Quais as Justificativas para o caráter de urgência da obra? ............................................ 70
41. Na apresentação da equipe de Avaliação Ambiental Integrada foram citadas 8 PCH‟s na
bacia do Xingu. Quantas PCH‟s estão com processo tramitando nesse momento na
Bacia do Xingu? Qual o limite de PCH‟s que a bacia suporta considerando também o
AHE Belo Monte? Quais os impactos mapeados das PCH‟s para a Sociobiodiversidade
da Bacia? ......................................................................................................................... 70
5
42. Qual a correlação identificada entre a construção do AHE Belo Monte e PCH‟s na Bacia
do Xingu, considerando também as obras previstas nas BR-163 e Transamazônica e as
construções das linhas de transmissão de Belo Monte e PCH‟s? ................................... 72
43. Qual a demanda prevista de madeira para a construção de Belo Monte em cada uma das
fases da obra? Considerando a obra em si, acampamentos, casas para funcionários em
Altamira, Vitória do Xingu, Belo Monte e outras cidades da região? Considerando
também a instalação de no mínimo 96.000 pessoas na região? Qual a origem prevista
dessa madeira? Há algum programa que prevê a legalização de projetos de manejo para
oferecer madeira legalizada para o empreendimento? .................................................... 73
44. Qual o cenário previsto no Plano Decenal para a expansão das indústrias
eletrointensivas na Amazônia? Qual o plano para a expansão dessas indústrias no estado
do Pará ou em áreas de influência na Bacia do Xingu? Caso tenha esse plano, há uma
projeção de demanda energética para esses empreendimentos? Quanto? ...................... 73
45. Qual o quadro de disponibilidade futura de energia considerando o Plano Decenal de
expansão de energia, a previsão da Eletrobrás de construção de 5 a 15 hidrelétricas de
grandes dimensões no Peru, com a maioria da energia (80%) destinada para o Brasil?
Isso não significa que vai ter energia sobrando na próxima década? ............................. 74
46. Há um plano de desenvolvimento sustentável da região? Esse plano foi discutido com as
comunidades? Quando? Quem participou? Como foi a metodologia do processo?. ...... 74
47. Qual o quadro de disponibilidade futura de energia considerando o Plano Decenal de
expansão de energia, a previsão da Eletrobrás de construção de 5 a 15 hidrelétricas de
grandes dimensões no Peru, com a maioria da energia (80%) destinada para o Brasil?
Isso não significa que vai ter energia sobrando na próxima década? ............................. 75
48. Qual a demanda prevista de peixe, carne bovina e cereais e que porcentagem estima-se
que será fornecida pela região? O quanto virá de outras regiões? De onde? Como a
região será preparada para esse empreendimento do ponto de vista do abastecimento das
cidades que terão inchaço populacional? ........................................................................ 75
49. Qual a viabilidade técnica de Belo Monte?..................................................................... 75
50. Qual o destino da energia de Belo Monte? ..................................................................... 76
51. Tendo em vista alguns estudos apresentados por cientistas e o histórico do
empreendimento na região, quem garante que Belo Monte consistirá em apenas um
barramento? Qual a força legal das resoluções do CNPE para assegurar um único
barramento? ..................................................................................................................... 76
52. O quanto é necessário de energia para o país? Não há possibilidade de essa energia vir
de fontes alternativas como, por exemplo, Solar e Eólica? Quanto se consegue de
energia adicional com a potencialização das Usinas que já existem instaladas no país? 77
53. São 14 planos e 53 programas de desenvolvimento previstos no EIA, porém estão
apresentados de forma muito superficiais, como uma carta de intenções. Assim quais os
6
investimentos em cada um deles? Qual o cronograma de implantação e principais ações
previstas nesses programas? ............................................................................................ 78
54. Qual o cenário de demanda energética a hidrelétrica de Belo Monte pretende atender?
Quem serão os principais beneficiários da energia gerada em Belo Monte? .................. 80
55. Há diversas ações de prevenção e mitigação propostas que geram impactos
socioambientais e que de acordo com a legislação cada empreendimento necessitará
também de licenciamento ambiental específico que envolverá tempo e recursos. Essa
questão foi considerada? ................................................................................................. 80
56. Qual a capacidade máxima da linha de transmissão prevista de escoamento da energia
que será produzida durante o período de pico (11.000 MW) e para a energia firme
(4.000 MW)? ................................................................................................................... 80
LISTA DOS QUADROS
QUADRO 1-1 Impactos na Área Diretamente Afetada ........................................................... 11
QUADRO 1-2 Impactos no Trecho de Vazão Reduzida e Áreas Próximas aos Reservatórios e
Canteiros de Obras ................................................................................................................... 12
QUADRO 1-3 Impacto Relativo à Atração de População ....................................................... 15
QUADRO 20-1 Hidrograma Ambiental – vazões médias mensais propostas para o TVR ..... 46
QUADRO 28-1 Agenda de Reuniões realizadas com as Populações Indígenas ...................... 55
QUADRO 41-1 Impactos que representam efeitos importantes .............................................. 71
LISTA DAS TABELAS
TABELA 4-1 População Residente na ADA (Área Rural) do AHE Belo Monte .................... 18
TABELA 4-2 Aproveitamento das Terras na ADA Rural do AHE Belo Monte - Áreas
Cultivadas ......................................................................................................... 18
TABELA 4-3 Situação Fundiária dos Imóveis Rurais na ADA Rural ..................................... 19
TABELA 4-4 Atividades Produtivas na ADA Rural do AHE Belo Monte - Criação de
Animais ............................................................................................................. 19
TABELA 11-1 Cidade de Altamira. Comparação dos níveis d‟água e vazões do rio Xingu
para as condições atuais e com Reservatório. ................................................... 31
7
ATENDIMENTO AO DOCUMENTO DE CONSIDERAÇÕES,
QUESTIONAMENTOS E RECOMENDAÇÕES AO AHE BELO MONTE
APRESENTADO PELOS MOVIMENTOS SOCIAIS DO RIO XINGU
Introdução
O presente documento consubstancia os esclarecimentos da ELETROBRÁS às questões
manifestadas pelos “Movimentos Sociais do Xingu e da Transamazônica”, explicitados
através de requerimento protocolado no IBAMA em 01/10/2009.
As respostas seguiram o mesmo padrão do documento original, organizado em oito temas
distintos, estando referenciadas aos documentos que apóiam o processo de licenciamento
ambiental, a saber: Estudos de Impacto Ambiental - EIA, Estudos Etnoecológicos, Avaliação
Ambiental Integrada - AAI e Estudos de Viabilidade de Engenharia.
As respostas seguiram o mesmo padrão do documento original, organizado em oito temas
distintos. Para cada questionamento analisado foi indicado o local onde o assunto está tratado
nos estudos e apresentado um resumo ou esclarecimento adicional no intuito de sanar as
dúvidas sobre a abordagem do tema. Com relação às propostas e sugestões apresentadas ao
final de cada tema, a equipe considera que para essa etapa de licenciamento os estudos
realizados no EIA estão adequados sendo desnecessário estudos mais aprofundados de
qualquer assunto abordado no documento.
Destaca-se que algumas questões colocadas pelos Movimentos Sociais requerem um
detalhamento de soluções que não faz parte dessa etapa do licenciamento e que, com certeza
deverão ser detalhadas no Plano Básico Ambiental, que é o instrumento de detalhamento das
medidas apontadas no EIA e que deve instruir a Licença de Instalação, correspondente a
segunda etapa do licenciamento ambiental do AHE Belo Monte, no caso de ser obtida a
Licença Prévia objeto do EIA ora em avaliação.
8
TEMA 1 – Alterações na vida das populações da região a ser afetada pela AHE Belo
Monte, caso o empreendimento seja construído.
Considerações
Apresentam-se a seguir alguns esclarecimentos a afirmações consideradas equivocadas que
são apresentadas no texto de Considerações do Tema 1:
a) No que concerne aos conceitos de ADA, AID e AII observa-se que os mesmos foram
adotados de acordo com o estabelecido no Termo de Referência do IBAMA Indique-se ainda
que para o meio socioeconômico as áreas de influência são abordadas considerando-se o
território como expressão de processos históricos, sociais e culturais e econômicos.
Para definição de Área de Influência foi avaliada a área de incidência dos impactos como
explicitado no volume 5 do EIA. Conforme ali identificado tais áreas são diferenciadas de
acordo com cada meio em função das características e abrangência dos impactos.
b) No que diz respeito ao conceito de “atingido” é importante esclarecer que no EIA tal
conceito é entendido como “um grupo social, um grupo familiar ou um individuo, que
tenha seu modo de vida alterado em decorrência da implantação de empreendimentos
ou da realização de intervenções (públicas ou privadas) sobre o território onde vive ou
do qual depende para sobreviver. O reconhecimento da condição de Atingido se faz
acompanhar da legitimação de direitos; pois, ao se identificar um dado grupo social,
familiar ou indivíduo como Atingido, se estará reconhecendo seu direito a algum tipo de
indenização e ou reparação, pecuniária ou não. “(Volume 33, página 198). Destaca-se
ainda que tal conceito não limita o entendimento de atingidos a população residentes na ADA,
como pode ser verificado no item público-alvo do Plano de Atendimento a População
Atingida, (volume 33, pag. 205 a 207).
c) Quanto ao conceito de Grupo Doméstico utilizado para efeito da pesquisa socioeconômica
censitária cabe indicar que o mesmo não é sinônimo de família nuclear. Um “Grupo
Doméstico” corresponde ao conjunto de pessoas dependentes de um orçamento doméstico,
não se limitando, portanto a questão de consangüinidade. Desta forma, em lugar de restringir,
amplia-se a unidade de atendimento em caso de compensação/indenização/relocação uma vez
que permite um tratamento específico para cada grupo doméstico (casa/terra/reparação), e não
para a unidade familiar, muitas vezes extensiva, composta de mais de um “grupo doméstico”
(pais e filhos casados que constituem grupo domésticos distintos, por exemplo). Observe-se
ainda que a média de 3 pessoas por grupo doméstico foi obtida a partir dos dados da pesquisa
censitária realizada na área e considera o número de pessoas que dependem do orçamento
familiar e não o número de pessoas que moram em uma residência.
d) Quanto aos indígenas que moram em áreas da ADA, como nas margens dos igarapés de
Altamira ou nas áreas rurais na margem do Rio Xingu, observa-se que os mesmos são
considerados dentre os atingidos, estando garantido para todos os mesmos direitos da
população que precisará ser reassentada por causa do AHE Belo Monte, conforme dito no
RIMA, página 57.
e) Com relação à afirmação de que “...são considerados os impactos sobre o território
(entendido como espaço físico, desprovido de significado social e cultural) e não sobre as
pessoas que aí vivem e seus processos sócio-culturais.”..., informa-se que foram realizados
9
estudos detalhados que abrangeram as pessoas, seus modos de vida, os recursos naturais que
utilizam para a sua sobrevivência e para a transmissão de sua cultura.
f) No caso dos povos indígenas afetados, a FUNAI definiu as Terras Indígenas (TIs) que
deveriam ser objeto dos Estudos Etnoecológicos, que foram ordenadas em dois grupos
distintos, em virtude das especificidades apresentadas e da sua relação com a área de
abrangência do projeto. No primeiro grupo foram incluídas as TIs Paquiçamba e Arara da
Volta Grande do Xingu e a AI Juruna do km 17, as mais próximas do empreendimento. O
segundo grupo abrangeu as TIs contíguas, mais afastadas das frentes de obra: Trincheira
Bacajá, Koatinemo, Araweté Igarapé Ipixuna, Apyterewa, Arara, Kararaô e Cachoeira Seca.
A FUNAI definiu, também, a necessidade da realização de estudos para os índios moradores
de Altamira e da Volta Grande do Xingu.
Os estudos efetuados abrangeram os aspectos históricos, de territorialização, populacionais,
socioeconômicos, políticos, ambientais, incluindo modos de vida, aspectos culturais e sociais
e a apropriação dos recursos naturais por esses povos indígenas. Após um extenso diagnóstico
foi possível avaliar os impactos e propor programas para compensá-los ou mitigá-los.
g) Sobre a afirmação de que “... os índios que moram nas cidades não têm tratamento
diferenciado dos demais moradores dos municípios e povoados. Como habitam margens de
igarapés e do Rio Xingu, seriam diretamente afetados e o RIMA aponta que “parte destes
índios terá que ser reassentada por causa do AHE Belo Monte” (57)”, cabem os seguintes
esclarecimentos:
Os índios citadinos e moradores indígenas da Volta Grande do Xingu foram tema de um
estudo etnoecológico específico, realizado por uma equipe de 10 profissionais, em
obediência a um termo de referência da FUNAI intitulado Estudos referentes à
população indígena urbana da cidade de Altamira e às famílias indígenas
moradoras da região da Volta Grande do rio Xingu no âmbito do EIA/RIMA do
AHE Belo Monte, processo FUNAI n. 08620 2339/2000-DV, processo IBAMA n.
02001.001848/2006-75.
Os estudos resultantes, incluindo diagnósticos, análise de impactos e propostas de
medidas, estão integralmente apresentados no TOMO 7 do Volume 35 do EIA.
Esse segmento da população – índios citadinos moradores em Altamira e moradores na
Volta Grande do Xingu – também foi contemplado na Pesquisa Socioeconômica
Censitária do EIA e encontram-se incluídos nas propostas apresentadas no Programa de
Negociação e Aquisição de Terras e Benfeitorias nas Áreas Urbana e Rural. Contudo,
dadas as particularidades de sua vida social e da relação com o empreendimento foi
realizado um estudo específico junto a este segmento, resultando, entre outros, no
Programa de Realocação das Famílias Indígenas que vivem em áreas requeridas pelo
empreendimento (EIA – Volume 35 – TOMO 7, página 446), cujo objetivo é assegurar
que a transferência compulsória das famílias de Altamira e de localidades da Volta
Grande signifique para elas melhoria de condições de vida, recuperação cultural, acesso
à saúde e educação diferenciadas e de boa qualidade, condições de dar continuidade às
suas atividades tradicionais de complementação de renda, assim como novas
oportunidades de trabalho sustentável.
10
1. Quais os impactos sobre a população de cada um dos onze municípios atingidos
diretamente pelo empreendimento (Pacajá, Rurópolis, Porto de Moz, Anapu,
Altamira, Vitoria do Xingu, Senador José Porfirio, Brasil Novo, Medicilândia,
Uruará e Placas) e o que aconteceria com cada um deles com a implantação das
obras da AHE Belo Monte, considerando as áreas alagadas, canteiro de obra, áreas
de bota fora outros empreendimentos associados à AHE Belo Monte?
A identificação dos impactos sobre a população dos municípios atingidos pelo AHE Belo
Monte encontra-se nos volumes 29, 30 e 31.
Na Área de Influência Indireta foram considerados onze municípios: Altamira, Vitória do
Xingu, Brasil Novo, Senador José Porfírio, Anapu, Placas, Uruará, Medicilândia, Porto de
Moz, Gurupá e Pacajá. Rurópolis não está incluído.
Na AID foram consideradas as sedes municipais de Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador
José Porfírio e Vitória do Xingu e partes dos territórios destes municípios.
Na ADA foram considerados os territórios que serão ocupados pelas estruturas a serem
construídas, pelos canteiros de obras e alojamentos, bota foras e reservatório a ser formado e
abrangem terras dos municípios de Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu. Apenas nesses
municípios e nos municípios da AID encontram-se identificada a possibilidade de impactos
decorrentes da “implantação das obras da AHE Belo Monte, considerando as áreas
alagadas, canteiro de obra, áreas de bota fora outros empreendimentos associados à
AHE Belo Monte” conforme questão apresentada. N
Para tais municípios os impactos estão relacionados no QUADRO 1-1, com a indicação dos
municípios e as localidades afetadas com respectivos impactos e Planos Programas propostos.
11
QUADRO 1-1 Impactos na Área Diretamente Afetada
Municípios Localidades Impactos Planos/programa
Altamira Sede: igarapés e
orla
Transassurini
Cana Verde
Imóveis rurais da
margem Direita e
ilhas
Perda de Imóveis e Benfeitorias
Perda de Atividades Produtivas
Perda de Renda e Fontes de
Sustento
Transferência Compulsória da
População
Modificação / Desestruturação
da Rede de Relações Sociais
Perda de Referências Sócio-
espaciais e Culturais
Surgimento de Tensões Sociais
Perda de Equipamentos Sociais
Comprometimento de acessos
1) Plano de Atendimento à População
Atingida com os seguintes Programas:
a. Programa de Negociação e
Aquisição de Terras e Benfeitorias
da Área Urbana e Da Área Rural
(Projetos de Reassentamento Rural
e Urbano, Projeto de Indenização e
Aquisição de Terras e Benfeitorias
na área Rural e Urbana, Projeto de
Reparação para as Áreas rural e
urbana, Projeto de Reorganização
de Áreas Remanescentes
b. Programa de Recomposição das
Atividades Produtivas Rurais;
c. Programa de Apoio à Pequena
Produção e Agricultura Familiar;
d. Programa de Recomposição da
Infraestrutura Rural ( Projetos de
Recomposição da Inflarestrutura
viária, da Infraestrutura Fluvial ,
da Infraestrutura de Saneamento e
de Relocação dos Cemitérios)
e. Programa de
Recuperação/Adequação dos
Serviços e Equipamentos Sociais
f. Programa de Acompanhamento
Social
2. Plano de Relacionamento com a
População
a. Programa de Interação Social e
Comunicação;
b. Progama de Educação Ambiental
Vitória do
Xingu
Santo Antônio
São Raimundo
Nonato
Deus é Amor
Bom Jardim
Santa Luzia
Paratizão
Imóveis rurais da
margem
esquerda e ilhas
Brasil Novo Imóveis rurais da
margem
Esquerda e ilhas
Perda de Imóveis e Benfeitorias
Perda de Atividades Produtivas
Perda de Renda e Fontes de
Sustento
Na AID foram identificados os principais impactos nas proximidades das áreas necessárias
para as obras e no trecho de Vazão Reduzida, conforme explicitados e localizados no
QUADRO 1-2.
12
QUADRO 1-2
Impactos no Trecho de Vazão Reduzida e Áreas Próximas aos Reservatórios e Canteiros de
Obras
Continua Trecho de Vazão Reduzida
Município Localidade Impacto Planos/Programas
Vitória do Xingu
Região de São Pedro
Belo Monte
TI Paquiçamba
Dificuldade do
Escoamento da
Produção nos Períodos
de Estiagem
Dificuldade do
Transporte Fluvial nos
Períodos de Estiagem
Dificuldade do
Acesso aos
Equipamentos Sociais
(Escolas, Postos de
Saúde, Igreja) nos
Períodos de Estiagem;
Pressão sobre os
usos sustentáveis dos
recursos pesqueiros –
Sobre pesca e perda de
modalidades de
pescarias
1. Plano de Gerenciamento
Integrado da Volta Grande
do Xingu
Programa
2. Plano de Atendimento à
População Atingida
a. Programa de
Recomposição da
Infra-estrutura Rural -
(Projetos de
Recomposição da
Infra-estrutura viária,
da Infra-estrutura
Fluvial),
3. Plano de Conservação
dos Ecossistemas
Aquáticos
a. Programa de
Conservação da
Ictiofauna
4. Plano de Relacionamento
com a População
a. Programa de
Interação Social e
Comunicação;
b. Programa de
Educação Ambiental
5. Plano de Sustentabilidade
Econômica da População
Indígena
a. Programa de
desenvolvimento de
Atividades Produtivas
e de Capacitação da
População Indígenas
b. Programa de Garantia
de segurança
alimentar e
nutricional da
população indígena
6. Programa de Garantia das
condições de acessibilidade
das populações indígenas a
Altamira
Anapu Belo Monte do Pontal
Senador J. Porfírio Ilha da Fazenda
Ressaca
Garimpo do Galo
TI Arara da Volta Grande
13
QUADRO 1-2
Impactos no Trecho de Vazão Reduzida e Áreas Próximas aos Reservatórios e Canteiros de
Obras
Conclusão Áreas Próximas aos Reservatórios e Obras
Vitória do Xingu Imóveis rurais da margem
esquerda
Perda de
Equipamentos
Sociais
Comprometimento
de acessos
(Travessões 27, 40,
45, 55);
Modificação /
Desestruturação da
Rede de Relações
Sociais
Plano de Atendimento à
População atingida
a. Programa de
Recomposição da
Infraestrutura Rural (
Projetos de
Recomposição da
Inflarestrutura viária,
da Infraestrutura
Fluvial , da
Infraestrutura de
Saneamento e de
Relocação dos
Cemitérios)
b. Programa de
Recuperação/Adequa
ção dos Serviços e
Equipamentos Sociais
Nos demais municípios que fazem parte da AII: Placas, Uruará, Medicilândia, Porto de Moz,
Gurupá e Pacajá, os estudos avaliaram que não serão verificados impactos decorrentes das
ações enunciadas na questão em tela.
2. Quais os impactos sobre a população de cada um dos onze municípios atingidos
diretamente pelo empreendimento (citadas na questão anterior) e o que
aconteceria com cada um deles com a implantação das obras da AHE Belo Monte,
considerando o grande contingente populacional extra que vem para a região
(96.000 pessoas segundo projeções do EIA)?
Esta questão foi abordada no volume 29 – Avaliação de Impactos, página 73 do EIA.
Foi realizado um estudo de atração de população utilizando, como base, modelo de geração de
empregos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)1.
Considerou-se, segundo esse modelo, a mobilização de população relacionada aos empregos
diretos, empregos indiretos e efeito renda, que provoca a geração de outros empregos a partir
das demandas geradas pelo aumento do dinheiro (renda) em circulação.
Como resultado, chegou-se a cerca de 96.000 pessoas mobilizadas pelo empreendimento, aí
considerando os empregos diretos (18.700), indiretos (23.000), aqueles causados pelo efeito
1 A metodologia do BNDES utilizada é aquela apresentada no “Modelo de Geração de Emprego: Metodologia e
Resultados” – textos para discussão 72, 1999, e, ainda a versão mais atualizada, publicada na Sinopse
Econômica nº 133, de março de 2004.
14
renda, bem como familiares dos trabalhadores e outras pessoas atraídas, calculadas com base
em coeficientes utilizados no modelo (54.300)
O contingente populacional de 96.000 pessoas, citado anteriormente, refere-se ao total de
pessoas que deverão ser mobilizadas pelo empreendimento não significando que todas
virão de fora dos municípios da região. Nesse sentido, observe-se que constituiu diretriz do
estudo avaliar a disponibilidade de mão de obra local em atividades direta e indiretamente
ligadas ao empreendimento. Com tal diretriz, no modelo de análise utilizado adotou-se como
referência o contingente de pessoas não ocupadas da região, de 8.815 trabalhadores, de acordo
com o Censo Demográfico de 2000 (IBGE). A absorção de mão de obra local pelo
empreendimento, por tanto, dentro do modelo adotado, implica na redução do número
de pessoas que necessitarão afluir para a região, incluindo trabalhadores e seus
familiares.
Como assinalado no Volume 29, relativo à avaliação dos impactos, página 90, o estudo
mostra com clareza a necessidade de o empreendedor desenvolver efetivas ações de
ampliação das possibilidades de aproveitamento da mão de obra local no empreendimento e
nas oportunidades geradas a partir deste, de forma a diminuir a demanda por trabalhadores
que não residem na região. Esta constatação, como vista nas audiências públicas, vai ao
encontro da preocupação de muitos setores organizados dos municípios da região, para que o
empreendimento propicie a geração de trabalho para um amplo contingente de pessoas que
perderam seus empregos pela decadência de setores econômicos importantes como o
madeireiro, por exemplo.
É importante esclarecer que a atração do empreendimento ocorre em um determinado período
de tempo, (implantação de 10 anos,) com maior demanda de mão de obra no segundo e
terceiro anos da obra, decaindo a partir do quarto ano.
Conforme indicado na avaliação de impacto (Volume 29, pag. 88 e 89), o Aumento do Fluxo
Migratório é um impacto primário negativo, de alta magnitude e ampla abrangência e dele
derivam vários outros impactos relevantes: aumento da demanda por serviços sociais, uso e
ocupação desordenada do solo, especulação imobiliária, aumento da demanda por segurança
pública, aumento da disseminação de doenças endêmicas e infecto-contagiosas, sobrecarga
para a administração pública, especialmente a municipal, dentre outros.
Os impactos devido à mobilização de população provocada pelo empreendimento deverão
ocorrer, principalmente, nos municípios de Altamira (sede) e Vitória do Xingu (sede, Belo
Monte e proximidades dos canteiros de obra do barramento principal) e Anapu (Belo Monte
do Pontal), localidades indicadas com possibilidades de ocorrerem os impactos mais
significativos relativos ao aumento do Fluxo Migratório (detalhados no volume 29 –
Avaliação de Impactos, páginas 73 a 173), QUADRO 1-3.
15
QUADRO 1-3
Impacto Relativo à Atração de População
Municípios Localidades Impactos
Altamira Sede
Alteração na Relação Oferta-demanda por Insumos,
Mercadorias e Serviços;
Dinamização da Economia;
Ampliação de Oferta de Trabalho;
Maior Demanda por Equipamentos e Serviços
Sociais;
Aumento da Demanda por Segurança Pública;
Aumento da Disseminação de Doenças Endêmicas e
de Doenças Infecto-contagiosas;
Intensificação do Uso e Ocupação Desordenada do
Solo e Especulação Imobiliária;
Sobrecarga na Gestão da Administração Pública.
Impactos específicos em áreas rurais
Aumento da Pressão de Caça;
Aumento da Pressão sobre os Recursos Florestais
Madeireiros e Não Madeireiros;
Impactos sobre os Usos Sustentáveis dos Recursos
Pesqueiros – Sobre pesca e Perda de Modalidade de
Pescarias.
Vitória do Xingu
Sede
Belo Monte
Área rural da Volta
Grande
Anapu Sede
Belo Monte do Pontal
Brasil Novo Sede
Senador José
Porfírio Sede
Nos demais municípios que fazem parte da AII: Placas, Uruará, Medicilândia, Porto de Moz,
Gurupá e Pacajá, os estudos avaliaram que os impactos nestes municípios estarão associados à
possibilidade, prevista nos estudos de atração de população, que estima que 10% do
contingente de população atraída possa se fixar de maneira dispersa na AII, principalmente
nas sedes municipais ao longo da Transamazônica, como Medicilândia, Uruará e Pacajá,
decorrente de reflexos da demanda por atividades que possam ser expandidas para atender as
necessidades decorrentes do empreendimento e efeitos correlatos em função da dinamização
da economia.
Para fazer frente a estes impactos foram definidas as seguintes ações:
Fortalecimento das instituições públicas com o intuito de prepará-las e capacitá-las
para a gestão dos diferentes serviços que serão submetidos ao incremento de
demanda e, conseqüentemente, à pressão derivada do aumento do fluxo migratório e
de um quadro de maior exigência das instâncias da administração pública,
especialmente no nível municipal. Este fortalecimento é consubstanciado, no EIA, no
bojo do Plano de Articulação Institucional, mais especificamente no âmbito do
Programa de Fortalecimento da Administração Pública e do Programa de Apoio à
Gestão dos Serviços Públicos;
Apoio à qualificação da mão-de-obra local e regional com vistas a aumentar a
capacidade de suprimento, pela população local (das AID e AII), das demandas de
trabalho que surgirão com as obras e, assim, diminuir o fluxo migratório, além de
incentivar a compra na própria região de insumos e serviços necessários a
implantação do empreendimento;
Apoio à melhoria da infra-estrutura social e urbana para que os municípios suportem
as mudanças decorrentes do aumento populacional da região. Neste contexto, três
programas são propostos no EIA, incluídos no Plano de Requalificação Urbana,
direcionados para os municípios e localidade que deverão materializar-se como os
16
principais pólos atratores de migrantes, a saber: Programa de Intervenção em
Altamira; Programa de Intervenção em Vitória do Xingu; e Programa de Intervenção
nas Vilas de Belo Monte e Belo Monte do Pontal, em Anapu;
Monitoramento e controle de vetores de doenças endêmicas no âmbito de programa
com este objetivo específico integrante do Plano de Saúde Pública, através do
Programa de Vigilância Epidemiológica, sendo que a questão da malária foi tratada
individualmente no contexto do Programa de Ações de Controle da Malária
(PACM), também integrante do Plano supracitado;
Acompanhamento, monitoramento e apoio a população migrante;
Programa de Conservação da Ictiofauna, integrante do Plano de Conservação dos
Ecossistemas Aquáticos, voltado para mitigar os impactos derivados das pressões
sobre os recursos pesqueiros que, conforme antes abordado, poderão ser decorrentes
do aumento do fluxo migratório, além de outros que serão advindos de processos
diferenciados ligados ao AHE Belo Monte, interferindo sobre o ecossistema aquático
nas ADA e AID; e
Ações de comunicação e de educação ambiental voltadas para minimizar as pressões
sobre os recursos faunísticos, através do incremento da caça, e sobre os recursos
extrativos madeireiros e não madeireiros. Estas ações serão contempladas,
respectivamente, no âmbito do Programa de Interação Social e Comunicação e do
Programa de Educação Ambiental, ambos integrantes do Plano de Relacionamento
com a População.
3. Quais os impactos na saúde da população de cada uma dos onze municípios citados
acima, com a criação de ambientes favoráveis para a reprodução de mosquitos
vetores de doenças como a malaria e outras epidemias?
Atualmente, a malária e a leishmaniose tegumentar são as principais endemias prevalentes na
AII. Os municípios de Pacajá, Altamira e Anapu concentram 80% dos casos, sendo a
maioria destas ocorrências relacionada aos projetos de assentamento implantados pelo
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
A incidência da doença leishmaniose tegumentar na região também é alta: o número de casos
registrados entre os anos de 2001 a 2007 corresponde a cerca de 15% do total das ocorrências
do Estado do Pará. Os municípios de Medicilândia, Altamira e Uruará respondem por 62%
destes casos.
O fluxo migratório decorrente do processo de mobilização de mão-de-obra, associado a
impactos gerados por outros processos a desenvolverem-se na Etapa de Construção - como
desmatamentos e barramento do rio - na Etapa de Enchimento dos Reservatórios e na Etapa
de Operação que resultem na alteração da qualidade da água, tendem a aumentar a incidência
de doenças endêmicas como malária, leishmaniose tegumentar, dengue, febre amarela e
outras arboviroses.
O AHE Belo Monte poderá vir a incrementar os índices de incidência das doenças atualmente
já verificados na região. Os municípios de Altamira e Vitória do Xingu tendem a ser os mais
atingidos, em função da concentração das obras do empreendimento e atração de população.
17
Entre as ações ambientais propostas de caráter preventivo e/ou mitigatório, destacam-se:
Fortalecimento das instituições públicas com o intuito de capacitá-las para a gestão e
para promover a estruturação da Atenção Básica à Saúde dos municípios. Tais ações
estão consubstanciadas nos programas, integrantes do Plano de Articulação
Institucional, quais sejam: Programa de Fortalecimento da Administração Pública e
Programa de Apoio à Gestão dos Serviços Públicos;
Apoio à qualificação da mão de obra local e regional com vistas a suprir, dentro do
possível, as demandas de trabalho que surgirão com as obras e, assim, diminuir o
fluxo migratório. Este tipo de ação é objeto também do Plano de Articulação
Institucional, mais especificamente do Programa de Incentivo à Capacitação
Profissional e ao Desenvolvimento Profissional e às Atividades Produtivas;
Intensificação da vigilância epidemiológica, bem como das ações de prevenção e
controle de doenças, no âmbito do Programa de Vigilância Epidemiológica,
Prevenção e Controle das Doenças, do Projeto de Monitoramento e Controle de
Vetores de Doenças Endêmicas e do Programa de Ação de Controle à Malária
(PACM), todos inseridos no Plano de Saúde Pública;
Controle do uso e ocupação desordenado do solo, visando evitar a formação de
núcleos carentes de infra-estrutura, tais como invasões periurbanas e rurais em todos
os municípios da AII, com destaque para a AID, bem como a intensificação da
ocupação por palafitas nas margens dos igarapés Altamira, Ambé e Panelas, na sede
urbana de Altamira. Neste caso, são válidas aqui todas as ações antes explicitadas
para o impacto “Intensificação do Uso e Ocupação Desordenada do Solo, em
Especial no Entorno das Vilas Residenciais”; e
Acompanhamento e monitoramento social das comunidades localizadas nas
proximidades dos canteiros de obras e das vilas residenciais do AHE Belo Monte, no
âmbito do Programa de Acompanhamento Social, um dos objetos do Plano de
Atendimento à População Atingida.
As ações de natureza preventiva estarão voltadas à eliminação da formação de poças,
através de derrocamentos a serem feitos, durante a Etapa de Construção, no trecho do
rio Xingu onde está inserido o Núcleo de Referência Rural São Pedro. Tais ações
farão parte do Plano Ambiental de Construção.
4. Quais os impactos específicos sobre as populações rurais que terão que deixar suas
áreas por alagamento ou construção dos canais (região dos reservatórios) em cada
um dos travessões e localidades ribeirinhas?
O processo de aquisição de terras para implantação do AHE Belo Monte, tanto no caso da
execução das obras necessárias ao empreendimento (infra-estrutura de apoio e obras
principais), quanto no caso da formação dos reservatórios, provocará a perda de atividades
produtivas na área rural e a necessidade de deslocamento compulsório de parte da população
residente nessas áreas. Afetará também equipamentos sociais (escolas, igrejas, postos de
saúde), atividades comerciais e associativas.
18
Serão afetadas diretamente por tais impactos as seguintes comunidades:
Municípios Localidades
Altamira
Sede do município: igarapés Altamira, Ambé e Panelas e a orla da rio Xingu
Transassurini
Cana Verde
Imóveis rurais da margem Direita e ilhas necessárias a formação dos reservatórios
Vitória do Xingu
Santo Antônio
São Raimundo Nonato
Deus é Amor
Bom Jardim
Santa Luzia
Paratizão
Imóveis rurais da margem esquerda e ilhas necessários a formação dos reservatórios
Brasil Novo Imóveis rurais da margem Esquerda e ilhas necessárias a formação dos
reservatórios
Para estas áreas que conformam a Área Diretamente Afetada foi realizada uma pesquisa
socioeconômica censitária que levantou uma série de informações que permitiram estabelecer
um perfil da população que será atingida, formada por proprietários / posseiros de imóveis,
produtores agropecuários que podem ser os mesmos proprietários, mas também parceiros /
meeiros /arrendatários / agregados / ocupantes e trabalhadores rurais, além de pescadores e
extrativistas. A pesquisa também abordou informações para a caracterização dos imóveis
rurais e estabelecimentos produtivos existentes em cada imóvel, identificando toda a produção
que poderá vir a ser renunciada e os equipamentos sociais existentes. (Volume 24 -
Diagnóstico da Área Diretamente Afetada).
As TABELAS 4-1 a TABELA 4-4 a seguir, resumem os principais dados da Área Rural
Diretamente Afetada (Volume 29 - Avaliação de Impactos).
TABELA 4-1 População Residente na ADA (Área Rural) do AHE Belo Monte
População
residente
Reservatório dos
Canais / Sítios Obras
Reservatório do Xingu
Ilhas
Vila de
Santo
Antônio
Total Margem
Direita
Margem
Esquerda
1.166 487 569 449 151 2.822
FONTE Pesquisa socioeconômica censitária rural 2007/2008 – EIA do AHE Belo Monte (LEME, 2008).
TABELA 4-2 Aproveitamento das Terras na ADA Rural do AHE Belo Monte - Áreas Cultivadas
Cultivos Área Plantada (ha)
Cultivos permanentes 4.048,64
Cultivos temporários 1.684,79
Cultivos permanentes e temporários (consórcio de culturas) 391,50
Pasto plantado 47.170,74
FONTE: Pesquisa socioeconômica censitária rural 2007/2008 – EIA do AHE Belo Monte (LEME, 2008).
19
TABELA 4-3 Situação Fundiária dos Imóveis Rurais na ADA Rural
Imóveis Rurais N° de Imóveis % Área (ha) % Área Média
Grande 3 0,24 8582,35 7,93 2860,78
Médio 34 2,74 17787,00 16,44 523,15
Pequeno 621 50,04 67185,57 62,08 108,19
Minifúndio 551 44,40 14663,64 13,55 26,61
Não informada 32 2,58 - - -
Total 1241,00 100,00 108218,56 100,00 -
FONTE: Pesquisa socioeconômica censitária rural 2007/2008 – EIA do AHE Belo Monte (LEME, 2008).
TABELA 4-4 Atividades Produtivas na ADA Rural do AHE Belo Monte - Criação de Animais
Tipo de Criação de Animais Número de Cabeças*
Pecuária (bovinos) 73.738
Pecuária (bubalinos) 205
Caprinos 2.322
Eqüinos 1.345
Suínos 2.093
Galináceos 30.216
Apicultura (caixas) 26
FONTE: Pesquisa socioeconômica censitária rural 2007/2008 – EIA do AHE Belo Monte (LEME, 2008).
A ocorrência de impactos sobre a população é certa em função da necessidade de aquisição de
imóveis nos quatro sítios construtivos para a implantação da infra-estrutura de apoio, para as
obras principais e para a formação do reservatório, locais onde, de forma geral, são
desenvolvidas atividades produtivas, o que acarretará, além da perda dos imóveis e
benfeitorias, a perda de renda e fontes de sustento para as populações vinculadas a estes
imóveis. A transferência compulsória de parte de tais populações para outros locais afetará a
rede de relações sociais podendo acarretar perda de referências socioculturais e o surgimento
de tensões sociais.
Implicará, ainda, na necessidade de transferência dos equipamentos sociais (escolas, postos de
saúde, igrejas, cemitérios). Na área rural pesquisada foram identificadas 18 escolas, 4 postos
de saúde e 18 igrejas a serem remanejadas, além de outras próximas, às áreas afetadas (8
templos religiosos, 1 posto de saúde e 6 escolas).
Outra interferência importante ocorrerá em vias de acesso (travessões, 27, 40, 45, 55) na
região de formação do Reservatório dos Canais, que serão seccionados e precisarão ser
refeitos para garantir o acesso aos imóveis remanescentes.
Frente a estes impactos, são propostas no EIA um conjunto de ações integradas em um Plano
de Atendimento à População Atingida (definidas em detalhe no volume 33 – Planos
Programas e Projetos, página 194) que estabelece os seguintes Programas:
Programa de Negociação e Aquisição de Terras e Benfeitorias na Área Rural que
objetiva disciplinar os procedimentos adotados no tratamento das questões referentes
ao deslocamento compulsório da população atingida; definir, junto com as famílias, a
melhor opção para cada grupo de atingido, de maneira a atender suas demandas,
esclarecendo-os sobre seus direitos; garantir transparência na aplicação dos
fundamentos jurídicos e técnicos das indenizações, para que sejam justas;
20
Programa de Recomposição das Atividades Produtivas Rurais voltado para a
recuperação das atividades produtivas impactadas e/ou na indução de novas
atividades identificadas como viáveis no contexto das populações atingidas; oferecer
alternativas para a recuperação e reintegração dos produtores na dinâmica econômica
regional; identificar o aparecimento de demandas decorrentes da implantação do
empreendimento, que possam representar o incremento da produção de produtos
agropecuários, seja os das áreas remanescentes seja para os reassentados; contribuir
para o desenvolvimento econômico e social local, investindo em alternativas
produtivas que adotem os princípios da sustentabilidade econômica, social e
ambiental para a área de influência do AHE Belo Monte. Incluem projetos
específicos para as atividades extrativistas;
Programa de Recomposição da Infra-Estrutura Rural que visa identificar,
dimensionar, fazer a reconstrução de toda a infra-estrutura que poderá ser
comprometida pela implantação do empreendimento;
Programa de Recomposição/Adequação dos Serviços e Equipamentos Sociais, que
está voltado para a recuperação dos equipamentos e serviços sociais (escolas, postos
de saúde e igrejas) que deverão ser remanejadas de áreas necessárias à implantação
da infra-estrutura e pela constituição dos reservatórios ou serão afetados pela perda
de clientela, com a transferência compulsória de parte da população usuária,
adequando-os a reconfiguração da população nas áreas diretamente afetadas e suas
cercanias, bem como garantir o adequando atendimento da população realocada;
Programa de Acompanhamento Social que tem como objetivo o acompanhamento
social regular e sistemático das situações que podem ameaçar a população atingida,
provendo suporte social para a resolução dessas dificuldades ou, quando for o caso,
apoiando o encaminhamento para os serviços de atendimento público.
Para as famílias indígenas que habitam a Volta Grande do rio Xingu, no trecho a ser
alagado para a formação do reservatório da calha do rio, deverão ser adotados estes
mesmos programas, além do programa apresentado no TOMO 7 do Volume 35 do
EIA: Programa de Realocação das Famílias que Vivem em Áreas Requeridas para o
Empreendimento
5. Quais as ruas especificamente alagadas dos bairros Aparecida, Boa Esperança,
Alberto Soares e Jardim Independência II na cidade de Altamira?
As vias urbanas que serão afetadas pela formação do Reservatório no rio Xingu se distribuem
por vários bairros e, em muitos casos, serão parcialmente atingidas, justamente nos trechos
com maior proximidade dos igarapés, abaixo da cota 100, estabelecida como referência para
os levantamentos da população que deverá ser realocada. O volume 23 do EIA, relativo à
caracterização da Área Diretamente Afetada na cidade de Altamira detalha a pesquisa
socioeconômica censitária realizada.
Nos bairros indicados na pergunta em epígrafe as ruas, avenidas e travessas afetadas são
relacionadas, a seguir:
21
Bairro Aparecida: Rodovia Ernesto Acioly, Rua/Passagem Bom Jardim, Rua Abel
Figueiredo, Rua Fausto Pereira; Alameda Projetada, Acesso Cinco, Rua Seis, Rua
Sete;
Bairro Jardim Independência II: Rua Osterno de Alencar Maia, Rua Salustiano Sales,
Rua Coronel José Porfírio, Rua Francisco das Chagas, Rua Humberto Trindade, Rua
Nicolu Martins, Rua Umbelino de Oliveira, Rua Belízia de Castro, Rua Aristides
Martins de Souza, Rua Marina Nasceimento, além das Avenidas João Pessoa e
Floriano Peixoto, Alamedas W8, W7, W5, W6, W2 e Acessos Quatro e Um;
Bairro Boa Esperança: Rua do Sossego, Rua da Alegria, Rua da Amizade, Rua da
Trindade, Rua da Concórdia, Rua da Harmonia, Rua dos Crizantemos, Rua São
Francisco e Rua Nordeste.
Alberto Soares: Rua Natividade Batista de Menezes
6. Quais os impactos específicos sobre as populações que vivem na Volta Grande do
Xingu onde a vazão será drasticamente reduzida (abaixo da Barragem)?
Os impactos específicos sobre as populações que vivem na Volta Grande do Xingu são
tratados no Volume 31 – Avaliação de Impactos – Parte III, pág. 288 a 297.
Conforme identificado no EIA, atualmente, no trecho da Volta Grande do Xingu vivem mais
de 1.000 pessoas, distribuídas entre o Núcleo Rural São Pedro, com 80 habitantes, e as
localidades de Ressaca (286 habitantes), Garimpo do Galo (207 habitantes), Ilha da Fazenda
(343 habitantes), as terras indígenas Paquiçamba (81 habitantes) e Arara da Volta Grande
(107 habitantes) e assentamentos rurais.
Além desses moradores, outros habitantes da bacia fazem uso deste trecho do rio Xingu para a
pesca de subsistência e comercial e também como meio de transporte e escoamento de
produção, como é o caso dos índios da TI Trincheira Bacajá que descem o rio Bacajá e sobem
o rio Xingu até Altamira.
Esse trecho da Volta Grande do rio Xingu, com 100 km de extensão, terá sua vazão natural
reduzida em função do desvio de parte da água para geração de energia na casa de força
principal. O trecho final do rio Bacajá (cerca de 30 km) também sofrerá influência da redução
de vazão do rio Xingu. Estas alterações podem trazer conseqüências para a mobilidade da
população residente nas margens do rio Xingu, da comunidade indígena Arara da Volta
Grande que sobe o rio Bacajá para pesca e da comunidade da TI Trincheira Bacajá que desce
o rio Bacajá e sobe o rio Xingu até Altamira.
Os impactos sobre as populações indígenas da Volta Grande do Xingu encontram-se no
Volume 35 do EIA, nos TOMOS 2 para a TI Paquiçamba, TOMO 3 para a TI Arara da Volta
Grande do Xingu, TOMO 5 para a Trincheira Bacajá e TOMO 7 para as famílias indígenas
moradoras da região da Volta Grande do rio Xingu, a jusante da Barragem do Sítio Pimental.
Foi avaliado no EIA que uma vazão de 700 m3/s no período de seca, aliada à implantação de
um sistema de transposição de barcos na barragem do sítio Pimental, permite a manutenção da
navegação no rio Xingu. Para a garantia de mobilidade foi previsto também um programa de
monitoramento das condições de navegabilidade. Esse programa busca a identificação de
22
locais que venham a se configurar como pontos de restrição à navegação e que demandarão
ações pontuais.
Outro impacto que deve ser considerado para a população que habita a Volta Grande do
Xingu, correspondente ao trecho de vazão reduzida, esta relacionado ao escoamento da
produção, resultante das atividades econômicas desenvolvidas nessa região. A pesca e o
extrativismo vegetal, principalmente a coleta de castanha, são as principais atividades
econômicas que dependem do rio para serem comercializadas. O transporte da produção não é
realizado durante todo o ano pela restrição de água no período de estiagem. Com a
implantação do empreendimento, as condições do período de estiagem serão prolongadas e as
dificuldades para escoamento da produção poderão ser maiores.
Ainda conforme identificado no diagnóstico as atividades de pesca comercial e de
subsistência são importantes (Volume 19, página 180), tanto para as comunidades ribeirinhas
quanto para as indígenas. Os impactos identificados sobre os usos sustentáveis dos recursos
pesqueiros – sobre pesca e perda de modalidade de pescaria no Trecho de Vazão Reduzida
(TVR) - estão relacionados principalmente ao aumento da captura, uma vez que haverá maior
exposição dos peixes em decorrência da diminuição da vazão . As medidas mitigadoras e
compensatórias propostas no EIA para esse impacto estão consubstanciadas no Programa de
Conservação da Icitiofauna - Projeto de Incentivo à Pesca Sustentável. Com esse projeto
pretende-se produzir informações e realizar atividades que facilitem e induzam a um manejo
mais adequado dos recursos pesqueiros da região.
Para a população indígena além da inserção dos programas mencionados foi proposto ainda
um Plano de Sustentabilidade Econômica com o Programa de Garantia da Segurança
Alimentar e Nutricional e o Programa de Garantia das condições de acessibilidade à
Altamira.
7. Qual o conceito de população impactada considerada pelos estudos? Quais são os
parâmetros e critérios utilizados para determinar se uma população é ou não
diretamente impactada?
O conceito utilizado no âmbito do EIA do AHE Belo Monte atinente a população que sofrerá
os impactos decorrentes do AHE Belo Monte foi o de População Atingida, entendida como:
“um grupo social, um grupo familiar ou um indivíduo, que tenha seu modo de vida
alterado em decorrência da implantação de empreendimentos ou da realização de
intervenções (públicas ou privadas) sobre o território onde vive ou do qual depende para
sobreviver” EIA, Volume 33, pag. 198. Destaque-se que de acordo com a bibliografia das
Ciências Sociais,2 ”Território” é entendido no âmbito de tais estudos, como a base material
onde uma determinada população estabelece suas relações econômicas, sociais,políticas,
culturais e simbólicas.
2 De acordo com Santos (2002:62) a configuração territorial “ é dada pelo conjunto formado pelos sistemas naturais
existentes em um dado país ou dada área e pelos acréscimos que os homens superimpuseram a esses sistemas naturais”.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.´
Haesbaert (2002:26) trabalhando as diversas concepções de território no discurso das ciências sociais afirma que “o território
é relacional não apenas no sentido de incorporar um conjunto de relações sociais, mas também no sentido, destacado por
Godelier, de envolver uma relação complexa entre processos sociais e espaço material, seja ele visto como a primeira ou a
segunda natureza...”. HAESBAERT, Rogério. Concepções de território para entender a desterritorialização. In: Território
Territórios. PPGEO-UFF/AGB. Niterói, 2002. 17-38.
23
O reconhecimento da condição de Atingido se faz acompanhar da legitimação de direitos para
todos aqueles assim considerados, pois, ao se identificar um dado grupo social, familiar ou
indivíduo como Atingido, se estará reconhecendo seu direito a algum tipo de indenização e ou
reparação, pecuniária ou não.
Dessa forma são considerados como atingidos todos aqueles que sofrerão impacto em
decorrência das ações do empreendimento. Para todos são previstas medidas
compensatórias/mitigadoras ou potencializadoras, conforme explicitado no Plano de
Atendimento a População Atingida, integrante do volume 33, página 194.
O Volume 33, páginas 194-203, que apresenta a justificativa do Plano de Atendimento da
População Atingida, faz considerações relativas à evolução do tratamento das principais
questões afeitas a este tema, nas últimas décadas.
8. Quais as condições das terras para onde as populações compulsoriamente expulsas
serão reassentadas em termos de qualidade para plantio, proximidade dos centros
urbanos, condições de transporte, estradas, energia, sociabilização, escolas e postos
de saúde? Onde estão localizadas essas terras e quais as condições fundiárias
dessas terras? Como serão calculadas as indenizações para essas populações, o que
será considerado? Como essas famílias serão preparadas para o reassentamento?
As respostas às perguntas deste item estão no Volume 33 – Planos, Programas e Projetos, item
1.9, especificamente no Programa de Indenização e Aquisição de Terras e Benfeitorias, pág.
216 e seguintes. A implantação do referido Programa deverá viabilizar o processo de
indenização de terras e benfeitorias para cada atingido e garantir transparência na aplicação
dos fundamentos jurídicos e técnicos das indenizações para que sejam justas.
Ressalte-se que, na etapa atual dos estudos, foram identificadas e avaliadas diferentes
alternativas locacionais atendendo às condições de plantio e infra-estrutura, e considerando a
disponibilidade de terras para a implantação dos reassentamentos. O detalhamento referente à
localização de tais áreas será realizado no Plano Básico Ambiental – PBA. A escolha entre
tais alternativas deverá ser resultado de processo participativo, no qual a população atingida
será envolvida no processo decisório. Considerando o exposto, no âmbito do programa
proposto foram apresentadas diretrizes que deverão nortear todo o processo de aquisição de
terras e transferência de população, relacionadas a seguir, e presentes no Volume 33 do EIA,
conforme referenciado anteriormente.
Nesse sentido, no que concerne às condições de negociação, condições fundiárias, cálculo das
indenizações e forma de preparação das famílias para o reassentamento foram definidas
diretrizes, que são relacionadas a seguir:
Processo de negociação com ampla participação da população atingida, garantindo-se seu
envolvimento nas escolhas e tomada de decisões, destacando-se as seguintes premissas:
Garantir a oferta de diferentes opções de atendimento, considerando as diferentes
realidades da população atingida;
Garantir a liberdade de escolha aos que serão indenizados quanto à forma de
atendimento;
24
Garantir que a avaliação imobiliária das benfeitorias seja realizada com base no
princípio da reposição do bem;
Garantir aos realocadas ou para os que se mantiverem nas áreas remanescentes de
seus imóveis a oferta de serviços sociais básicos, como por exemplo: educação,
saúde, além da infra-estrutura de acessos;
Disponibilizar para todos os atingidos, a retirada do material de construção
aproveitável da antiga moradia e demais benfeitorias;
Transportar móveis, utensílios, animais, produção e materiais provenientes da
demolição da benfeitoria atingida, para o novo local/residência;
Minimizar os impactos sociais e/ou ambientais sobre a população.
Condições das terras para onde as populações serão reassentadas:
Participação dos atingidos na escolha das áreas de reassentamento, após a pesquisa,
identificação e estudo de viabilidade técnica e econômica e na definição das
dimensões do lote agrícola e padrão construtivo das moradias;
O tamanho mínimo dos lotes deverá obedecer ao módulo fiscal rural, que para a
região do empreendimento é de 75 hectares, desse modo os lotes não poderão ter
dimensões menores dos que estas;
A escolha dos locais para reassentamento terá de considerar os seguintes aspectos:
solos de boa qualidade; localização de preferência no mesmo município atual ou nos
municípios próximos, topografia compatível com a do imóvel anterior; preferência
por propriedades extensas para serem desapropriadas, sem acarretar grandes
problemas fundiários; e, com acesso adequado;
Quando da regularização fundiária - o título de propriedade será conferido tanto ao
homem quanto à mulher (a ambos independentemente do estado civil) ou à
associação civil que represente o beneficiário;
Reconhecimento pelo INCRA/ITERPA – este reconhecimento é importante para que
o assentamento receba o mesmo tratamento dos assentamentos do governo federal,
no que se refere, principalmente, ao direito dos assentados ao acesso às modalidades
de créditos para as áreas de assentamento, conforme prevê o art. 4º, § 2º, b da
Instrução Normativa INCRA nº 15, de 15 de março de 2004;
Garantia de infra-estrutura de serviços essenciais - as moradias a serem
disponibilizadas deverão ser providas dos serviços de água, luz e esgoto, condições
de iluminação e ventilação conforme normas da ABNT. Os reassentamentos serão
dotados também de Centro Comunitário, escola de 1o grau, Posto de Saúde e espaço
para a Associação de Moradores;
Garantia de manutenção da renda e da produção: as áreas escolhidas para o
reassentamento deverão propiciar a manutenção ou incremento da renda familiar.
25
Uma vez definida a opção do reassentamento, deverá ser constituída uma Comissão de
Representantes dos Atingidos que terá como atribuição mobilizar as discussões e acompanhar
todas as etapas do projeto, participando da escolha dos locais de reassentamento rural;
A abordagem participativa embasada em amplo processo de informação consulta e decisão
conjunto ajuda a estimular as reivindicações e prioridades individuais e coletivas, bem como a
trazer para o debate os conflitos emergentes. Nesse sentido, organizações comunitárias fortes
facilitam o processo de reassentamento e estimulam a comunidade a assumir suas
responsabilidades no processo.
Cálculo das indenizações
No que concerne ao cálculo das indenizações, o Programa estabelece que seja elaborada uma
planilha de preços para a aquisição de terras e benfeitorias por equipe técnica e discutida com
a população atingida. O ponto de partida será a pesquisa de mercado realizada pela equipe e
apresentada aos representantes da população para discussão e composição de uma Pauta de
Valores que deverá minimamente contemplar:
Terras – considerando o valor da terra nua, que será determinado com base no tipo
do solo, no valor do mercado e principalmente na sua capacidade potencial de uso.
Benfeitorias - o cálculo para determinação dos valores das benfeitorias corresponderá
ao valor de reposição para a reconstrução do bem. O valor da moradia dos atingidos
será calculado pelo valor de reposição, sem considerar o estado de conservação e
qualidade do imóvel. Deverá ser negociado com os atingidos um valor mínimo de
referência para moradias, de forma a que o valor da indenização permita a reposição
do imóvel.
Cobertura vegetal - o valor da cobertura vegetal será calculado, de forma a se obter o
valor da reposição, determinando-se todas as etapas necessárias para se chegar ao
estágio vegetativo em que se encontra o item a ser avaliado no momento. Algumas
espécies de cobertura vegetal são indenizadas pela unidade existente (pé), outras em
hectares. No primeiro caso estão às espécies permanentes (arvores frutíferas em
geral) e espécies nativas e no segundo as culturas temporárias de ciclo curto;
Avaliação dos Imóveis - ocorrerá a partir dos entendimentos com os atingidos quanto
ao valor, a forma e o cronograma do pagamento. Freqüentemente pagam-se em
primeiro lugar as benfeitorias, enquanto se providencia a documentação do imóvel,
para depois realizar os demais pagamentos.
Realização do Pagamento - os valores da aquisição de terras e benfeitorias serão
pagos sempre em dinheiro, de acordo com os valores estabelecidos na tabela de
preços e acordados durante as discussões coletivas.
Reparação dos danos causados temporariamente – será ofertado valor referente ao
aluguel e o transporte para as mudanças, acrescido de uma compensação monetária
devido à interrupção da produção, no caso de imóvel agrícola situado próximo as
áreas ocupadas pelas obras que se torne insalubre devido ao excesso de poeira,
explosões e/ou tráfego intenso de máquinas.
26
Aquisição de Unidades Comerciais – essa aquisição, além do valor patrimonial do
imóvel, deverá considerar o montante do Fundo de Comércio e dos Lucros
Cessantes. Destaca-se que os cálculos para apurar o lucro cessante devem levar em
conta as despesas operacionais das atividades que deixaram de ser realizadas.
Custos cartoriais - serão de responsabilidade do empreendedor as seguintes despesas:
custas cartoriais e valores referentes a taxas, tributos e impostos decorrentes das
transações integrantes do processo indenizatório.
Serão passíveis de indenização as pessoas físicas ou jurídicas, conforme indicado:
Proprietário ou posseiro dos imóveis afetados, inclusive os imóveis localizados nas
ilhas;
Morador, parceiro ou meeiro, arrendatário, rendeiro, herdeiro, autônomo e
trabalhador rural - não detentor da posse ou do domínio da terra, que mora e/ou
produz no imóvel, ou possui benfeitorias nele instaladas;
Ocupantes de imóveis situados próximos às áreas ocupadas pelas obras que se
tornem insalubres devido ao excesso de poeira, explosões e/ou tráfico intenso de
máquinas. Esses imóveis, benfeitorias e culturas, localizadas na área de entorno e
prejudicadas pela implantação do empreendimento, são também passíveis de
indenização desde que um estudo específico comprove o dano ou a inviabilidade da
atividade econômica.
Pessoas ou grupos sociais dependentes do território afetado e dos recursos naturais
ali presentes para os quais seja identificado algum tipo de comprometimento para a
continuidade de sua atividade.
9. Como se dará a indenização ou compensação dos moradores dos baixões e igarapés
que não possuem o título de suas propriedades? Como será calculado o valor a ser
pago pelos empreendedores pelas propriedades e benfeitorias perdidas com o
alagamento? Esse valor permitirá que as famílias deslocadas adquiram novas
propriedades e as trabalhem para chegar no mesmo nível em que estão nas
propriedades atuais, o que muitas vezes representa décadas de trabalho?
O AHE Belo Monte afetará três igarapés que cortam a área da cidade de Altamira e também
uma parte da orla do Xingu. Isto deverá provocar a relocação de várias famílias,
principalmente nos igarapés Ambé e Altamira. No EIA foi proposto um Programa de
Negociação e Aquisição de Terras e Benfeitorias na Área Urbana que é composto por várias
ações que deverão cuidar dos impactos provocados às pessoas que moram na cidade de
Altamira. Para o desenvolvimento dessas ações, o empreendedor deverá formar parcerias com
as instituições competentes, como o Incra, por exemplo, para a questão de regularização
fundiária urbana.
27
No quadro abaixo são especificados os projetos para cada um dos grupos de atingidos:
GRUPOS DE ATINGIDOS OPÇÕES DE TRATAMENTO
MORADORES PROPRIETÁRIOS de
habitações localizadas na área delimitada para o
reservatório na cidade de Altamira
Projeto de Regularização Fundiária
Projeto de Aquisição/Indenização Urbano
Projeto de Reassentamento Urbano
Projeto de Reparação
FILHOS DE PROPRIETÁRIOS que constituam
unidade familiar própria e que residem na moradia
atingida em Altamira
Projeto de Regularização Fundiária
Projeto de Aquisição/Indenização Urbano
Projeto de Reassentamento Urbano
OCUPANTES (não proprietários) das habitações
localizadas na área delimitada para o reservatório
na cidade de Altamira
INQUILINOS das habitações localizadas na área
delimitada para o reservatório na cidade de
Altamira
PROPRIETÁRIOS DE UNIDADES
COMERCIAIS, PRESTADORAS DE
SERVIÇOS E INDÚSTRIAS localizadas na área
delimitada para o reservatório na cidade de
Altamira
PROPRIETÁRIOS DAS OLARIAS
ATINGIDAS localizadas na área delimitada para
o reservatório na cidade de Altamira
Projeto de Aquisição/Indenização Urbano
FONTE: RIMA – Relatório de Impacto Ambiental
Complementando, as respostas às perguntas deste item estão no Volume 33 – Planos,
Programas e Projetos, item 1.9, Plano de Atendimento à População Atingida, especificamente
no Projeto de Negociação e Aquisição de Terras e Benfeitorias na Área Urbana – pág. 258,
Nesse Programa está estabelecido:
Que são considerados para efeito das indenizações tanto quem possui como quem
não possui documentação dos imóveis;
O cálculo para determinação dos valores das benfeitorias corresponderá ao valor de
reposição para a reconstrução do bem. O valor da moradia dos atingidos será
calculado pelo valor de reposição, sem considerar o estado de conservação e
qualidade do imóvel. Deverá ser negociado com os atingidos um valor mínimo de
referência para moradias, de forma a que o valor da indenização permita a reposição
do imóvel em condições satisfatórias do ponto de vista construtivo, correspondente a
pelo menos ao tamanho médio das habitações locais;
A avaliação dos Imóveis ocorrerá a partir dos entendimentos com os atingidos
quanto ao valor, a forma e o cronograma de pagamento. Freqüentemente pagam-se
em primeiro lugar as benfeitorias, enquanto se providencia a documentação do
imóvel, para depois realizar os demais pagamentos.
Realização do Pagamento - o valor da aquisição será pago quando a opção for à
indenização, sempre em dinheiro, de acordo com os valores estabelecidos na tabela
de preços e acordados durante as discussões coletivas e posteriores acordos
individuais;
28
A aquisição de Unidades Comerciais além do valor patrimonial do imóvel deverá
considerar o montante do Fundo de Comércio3 e dos Lucros Cessantes
4. Destaca-se
que os cálculos para apurar o lucro cessante devem levar em conta as despesas
operacionais das atividades que deixaram de ser realizadas. Conforme preceitua o
artigo 402 do Código Civil, o lucro cessante vem a ser o que se deixou de lucrar com
a ocorrência do fato danoso. Consiste na frustração da expectativa de lucro, na perda
de um ganho esperado, na diminuição potencial do patrimônio da vítima. Caso os
imóveis de uso comercial estejam alugados, os inquilinos receberão a ajuda para que
possam fazer sua re-inserção no mercado imobiliário;
Serão de responsabilidade do empreendedor as seguintes despesas: custas cartoriais e
valores referentes a taxas, tributos e impostos decorrentes das transações integrantes
do processo indenizatório.
A partir da definição da poligonal para a área urbana, deverá ser constituído o Fórum de
Discussão Permanente – incluindo a composições dos diferentes grupos de negociação e
acompanhamento das etapas:
Cadastro Imobiliário e Socioeconômico5 – nesse momento deverá ser feita a
atualização das condições socioeconômicas da população da área. Tendo em vista as
características da região do AHE Belo Monte esse Cadastro deverá ser feito por
pessoas da comunidade e acompanhado através de reuniões e de outros mecanismos
de participação social. Os resultados daí decorrentes permitirão definir com exatidão
o universo de imóveis e benfeitorias atingidos, bem como conhecer a população e as
relações sociais atingidas.
Decreto de Desapropriação por Utilidade Pública - de posse dos limites da área
passível de desapropriação deverá ser providenciada a formalização do Decreto de
Utilidade Pública, que será o aviso formal de que a área em questão poderá ser
desapropriada.
Cadastro de Bens – que consiste no levantamento dos imóveis com o objetivo de
determinar o valor dos bens a serem indenizados.
No levantamento físico do imóvel atingido deverá minimamente constar:
Elaboração de um croqui do imóvel com todas as medidas;
Cadastro de todos e quaisquer investimentos realizados pelo seu ocupante e/ou
proprietário, como por exemplo, muros, cisternas, fossas, hortas, pomares, canil etc.;
3 O valor do Fundo de Comércio é conjunto de bens e valores corpóreos (terrenos, benfeitorias, instalações etc.)
e incorpóreos, indispensáveis à atividade comercial. Freqüentemente é definido pelo: valor atribuído ao ponto
(local onde está estabelecido), investimentos por ventura realizados visando o uso do estabelecimento; e, o
faturamento mensal. 4 O Lucro Cessante é definido como a perda mediata correspondente ao acréscimo patrimonial que atingido teria
conseguido se não tivesse ocorrido o fato danoso. A indenização por lucros cessantes pode ser feita observando o
faturamento em exercícios anteriores e estimando o que seria o faturamento futuro até a recomposição da
atividade. 5 Que inclui avaliação da condição de vulnerabilidade social das famílias.
29
Definição de medidas, limites e confrontações do terreno e descrição das condições
de localização;
Acompanhamento do ocupante ou representante durante o levantamento do imóvel;
Cadastro de todos os serviços disponíveis no imóvel, como por exemplo, água, luz,
esgoto, telefone, pavimentação etc., e os serviços próximos como escola, comércio,
transporte, associação, postos de saúde, quadras esportivas etc.;
Identificação e registro da opção da família, que neste momento será ainda apenas
um elemento indicador.
Após a definição das informações básicas, o modelo de cadastro é elaborado e aplicado a
100 % das famílias atingidas, dado a necessidade de se conhecer a todos os que serão
desapropriados e ou indenizados. O adequado cadastramento das famílias é parte fundamental
do processo, uma vez que é com base nas informações coletadas que são definidas as opções a
serem apresentadas a cada família.
Composição da Tabela de Preços
A tabela de preços para a aquisição dos imóveis será elaborada por uma Equipe Técnica da
qual participarão representantes da população atingida, conforme os bairros. O ponto de
partida será a pesquisa de mercado imobiliário realizada pela equipe e apresentada aos
representantes da população para discussão e composição de uma Pauta de Valores que
deverá minimamente contemplar:
Avaliação dos imóveis - ocorrerá a partir dos entendimentos com os atingidos quanto
ao valor, a forma e o cronograma do pagamento. Freqüentemente pagam-se em
primeiro lugar as benfeitorias, enquanto se providencia a documentação do imóvel,
para depois realizar os demais pagamentos;
Realização do pagamento - o valor da aquisição de terras e benfeitorias será pagos
sempre em dinheiro, de acordo com os valores estabelecidos na tabela de preços e
acordados durante as discussões coletivas.
Ressalta-se que, com já indicado no item anterior, alguns detalhamentos do Programa de Negociação e
Aquisição de Imóveis e Benfeitorias Urbanas, como por exemplo a seleção de área para
reassentamento, não são objetos da etapa atual dos estudos, devendo ser contemplados no Plano
Básico Ambiental - PBA
10. Qual a situação fundiária das terras no perímetro urbano em Altamira
identificadas pelos empreendedores para reassentar parte dos moradores
compulsoriamente expulsos?
As áreas para reassentamento no perímetro urbano da cidade de Altamira são as áreas de
expansão urbana previstas no Plano Diretor da cidade. De modo geral, conforme os
levantamentos de campo indicaram, são áreas particulares que deverão ser obrigatoriamente
adquiridas pelo empreendedor e, quando necessário, regularizadas juridicamente. Os
levantamentos para seleção dessas áreas serão realizados no Plano Básico Ambiental – PBA.
30
11. Com a formação do reservatório do Xingu e a subida do nível da água, como ficara
a qualidade da água potável em Altamira? De que forma será afetado o esgoto já
precário na cidade? Qual será o impacto sobre o lençol freático e os poços que
abastecem de água as moradias em Altamira? Com uma forte cheia no Xingu,
como ficará o nível da água na cidade de Altamira? É certo que o nível da água
não poderá subir acima da cota 100?
As informações referentes à qualidade da água potável de Altamira estão no volume 11-
Diagnóstico da AID e ADA, no item 7.7.3.4 - Avaliação do Comportamento do Lençol
Freático (pags. 208 a 215) e aos impactos associados à elevação do nível freático no volume
31 de Avaliação de Impactos – parte 3, item 10.4.3.1.1. – Impactos associados ao processo de
inundação das áreas para formação dos reservatórios (pags. 24 a 27).
Conforme avaliado no diagnóstico, os poços cadastrados em Altamira são, de maneira geral,
poços rasos, do tipo cacimba e poucos são do tipo tubular. Os poços rasos estão localizados
junto aos igarapés e sobre os terrenos aluvionares, nas porções planas da cidade. Os poços
profundos estão localizados nas porções de relevo mais elevado.
Os estudos realizados avaliaram a dinâmica sazonal dos níveis d‟água e a qualidade da água
em poços rasos de Altamira. Com relação à qualidade da água, verificou-se que a água que é
extraída dos poços rasos, situados em terrenos aluvionares, está comprometida para
abastecimento em vários locais da cidade. As fontes de contaminação são variadas e incluem
cemitério, postos de gasolina, inexistência de rede de esgoto e presença de fossas.
Conforme avaliado no EIA, a formação do reservatório do Xingu altera a dinâmica das águas
subterrâneas. Em Altamira, situada em terreno aluvionar, o nível freático nos poços rasos
situados nas proximidades dos igarapés passará a ficar permanentemente na posição mais
elevada verificada naturalmente durante o período de cheia na região. Essa condição afetará
também o esgotamento sanitário da cidade, predominantemente feito por meio de fossas.
A medida proposta para o abastecimento de água em Altamira faz parte do Plano de
Requalificação Urbana - Programa de Intervenção em Altamira, apresentado no volume 33 –
Planos, Programas e Projetos (págs. 310 a 325). O Programa prevê a implantação de redes de
abastecimento de água para as áreas a serem objeto de reassentamento da população, para as
áreas destinadas às habitações dos funcionários vinculados às obras que terão residência em
Altamira, bem como aquelas a serem ocupadas pela população afluente a Altamira com a
implantação das obras, o que, em conjunto, corresponde a aproximadamente 50% da área
ocupada da cidade. Prevê ainda a implantação de nova captação de água e estação de
tratamento.
O PBA detalhará as condições de abastecimento em Altamira, a rede de abastecimento a ser
fornecida pelo empreendedor e a avaliação da alternativa de captação de água subterrânea
com a utilização de poços profundos, nos aqüíferos constituídos pelos arenitos das formações
Maecuru e Ererê.
O Plano de Requalificação Urbana - Programa de Intervenção em Altamira, apresentado no
volume 33 – Planos, Programas e Projetos (páginas. 310 a 325) propõe também a implantação
de um sistema de coleta e tratamento de esgoto para a cidade. O detalhamento de projeto
executivo desse sistema de tratamento será objeto da próxima fase de licenciamento, no
âmbito do detalhamento do PBA.
31
O volume 11 – Diagnóstico da ADA e AID (físico) apresenta a caracterização hidráulica do
rio Xingu ao longo do reservatório que será formado (pags. 24 a 59). Na seqüência, o mesmo
relatório apresenta ainda a modelagem em Altamira considerando a interferência do
reservatório nos três igarapés que cortam a cidade e que terão seu nível d‟água elevado em
função do reservatório do rio Xingu.
A TABELA 11-1 apresenta uma comparação para diferentes situações de vazões e níveis
d‟água do rio Xingu, entre a condição atual e com o reservatório.
TABELA 11-1 Cidade de Altamira. Comparação dos níveis d‟água e vazões do rio Xingu para as condições
atuais e com Reservatório.
Características das vazões Vazão
Condição atual
Cota
Condição com
reserv.
Cota
(m3/s) (m) (m)
Rio em condição de estiagem 1017 93,29 97,01
Rio em condições médias (mês de
janeiro/fevereiro) 7.851 95,27 97,29
Rio em condição da cheia anual 23.414 97,90 98,90
Rio em condição da maior cheia registrada
(17/03/1980) 32.330 99,29 99,92
FONTE: Leme Engenharia, EIA do AHE Belo Monte, Tabela 7.7.2-31
Cabe destacar que as oscilações que ocorrem no rio Xingu hoje entre o período de estiagem e
o período de cheia ocorrerão, depois da implantação do reservatório, entre as cotas 97 e 100.
No período de estiagem o rio Xingu ficará sempre na cota 97m e nos meses de cheia o nível
poderá subir até a cota 100m. Em situação extrema em que o rio estaria demasiadamente
cheio, o nível poderá ultrapassar a cota 100m, mas os efeitos dessa inundação não estarão
mais associados ao empreendimento, ou seja, a interferência máxima do empreendimento será
até a cota 100m. É importante destacar que durante todo o período de observação de cota em
Altamira (desde 1971) o rio nunca chegou a essa cota.
32
TEMA 2 – Alterações nos ecossistemas e Unidades de Conservação da região a ser
afetada pela AHE Belo Monte.
12. O que acontecera com as Unidades de conservação com o grande contingente
populacional que vem para região?
As argumentações apresentadas nesta resposta encontram-se detalhadas no Volume 7 relativo
ao diagnóstico dos meios físico e biológico da AII.
Considerando as Unidades de Conservação existentes nas quatro áreas de análise de
abrangência dos impactos decorrentes da implantação do empreendimento (ADA, AID, AII e
AAR), apenas parte de uma UC de Uso Sustentável (Reserva Extrativista – RESEX Verde
para Sempre) está localizada na AII, isto para aspectos físicos e bióticos.
Unidades pertencentes à categoria de RESEX são utilizadas por populações extrativistas
tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura
de subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Estas áreas têm como objetivos
básicos proteger os recursos naturais, garantir os meios de vida e a cultura dessas populações,
como também de assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. A Reserva
Extrativista Verde para Sempre, localiza-se em terras do município de Porto de Moz e possui
uma área de 1.288.717ha.
Na AII ainda encontra-se inserida parte da Zona de Amortecimento da Floresta Nacional -
FLONA de Caxiuanã, embora a área da FLONA não se localize na bacia do rio Xingu e sim
na do rio Caxiuanã.
Avaliando-se os potenciais impactos sobre a Reserva Extrativista Verde para Sempre e sobre
a zona de amortecimento da FLONA Caxiuanã decorrentes do AHE Belo Monte, os mesmos
não são, em princípio antevistos, dado que, mesmo considerando os usos permitidos para
estas unidades e as atuais pressões sobre os recursos naturais de ambas, não devem ser
verificados aumento significativo destas pressões como decorrência da mão de obra a ser
indiretamente atraída pelo empreendimento. Tal hipótese justifica-se em função da distância
das mesmas em relação a centros/localidades de concentração populacional já no cenário
atual, bem como a inexistência de acesso terrestre.
Não se pode deixar de destacar outra área localizada na AII que apresenta status diferenciado
de conservação: o Sítio Pesqueiro Turístico Estadual Volta Grande do Xingu. Esta área não se
enquadrada como Unidade de Conservação, nos termos da Lei Federal nº 9.985/2000, porém
possui restrições de natureza legal, tendo sido, por isto, consideradas nos estudos ambientais
do AHE Belo Monte. Para a região onde está localizado o sítio pesqueiro, os impactos
previstos são inerentes a alteração das comunidades de peixes e relativos à modificação dos
padrões de atividades pesqueiras e turísticas, cujos programas de mitigação e controle são
previstos no âmbito dos programas ambientais (Volume 33).
Por outro lado, analisando a distribuição das áreas protegidas nas áreas de influência do
empreendimento, pelo estágio avançado de alteração ambiental e por não ter nenhuma
unidade de conservação de proteção integral, foi proposto no âmbito do programa de
compensação ambiental do EIA a criação de duas áreas protegidas de proteção integral
localizadas na margem direita do rio Xingu. Esta região já está sofrendo expansão e pressão
do desmatamento, resultando em fragmentação dos ambientes florestais, entretanto, ainda
33
apresenta grandes áreas florestais sem ocupação humana. Logo, a criação de áreas protegidas
poderá reduzir esse processo de fragmentação dos remanescentes florestais dessa região.
A proposição do programa de compensação vem ao encontro do que é preconizado na Lei nº
9.985/00, que institui o SNUC. Esta legislação estabelece que para casos de licenciamento
ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, com fundamento em
estudo de impacto ambiental e respectivo relatório (EIA e RIMA), é obrigação do
empreendedor apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de
Proteção Integral.
Esclarece-se que o projeto previsto no capítulo de Planos, Programas e Projetos (Volume 33
do EIA), apresenta ações estruturantes que visam tanto à criação de Unidades de
Conservação, que citamos anteriormente, quanto o apoio de Unidades previamente existentes,
neste caso foi indicada a Estação Ecológica - ESEC Terra do Meio. Esta unidade de
conservação é a unidade de proteção integral mais próxima do empreendimento e está
localizada na bacia do rio Xingu, atendendo desta forma o que preconiza a Lei 9.885/2000,
em seu artigo 36.
Tais proposições estão embasadas na avaliação de impacto e nas orientações governamentais
para criação e manejo de Unidades de Conservação da Natureza, atendendo as prerrogativas
legais e a política nacional de meio ambiente.
13. Quais os impactos previstos nas Resex do Rio Iriri, Resex do Rio Xingu e Resex do
Riozinho do Anfrísio, acima da Foz do Rio Iriri? Quais as prevenções e mitigações
previstas para essas populações?
Parte desta questão já foi respondida na questão 12, cuja pergunta é muito semelhante. No
entanto, cabe esclarecer que quando da avaliação de impacto foram consideradas quatro áreas
de abrangências: ADA, AID, AII e AAR.
Em vários trechos dos estudos são indicados os impactos de abrangência regional,
apresentados de forma detalhada e embasada no diagnóstico do EIA, podendo ser observados
nos Volumes 29 e 30 – Avaliação de Impactos Ambientais.
Desta forma, as Reservas Extrativistas supracitadas situam-se na área de abrangência regional
- AAR, que não sofreram impactos relevantes diretos ou indiretos do empreendimento. Os
impactos nesta área são de ordem social e estão identificados no volume 29 do EIA como de
abrangência regional localizados na AAR, e se referem basicamente a possibilidade de
geração de expectativas na população local e regional
Ainda assim, as ações previstas nos programas ambientais (Volume 33 do EIA) têm a
indicação e intenção de controlar ou mitigar efeitos negativos dos impactos com a
implantação do empreendimento nos recursos naturais da região e nas populações tradicionais
que dependem desse recurso. Nesse sentido são previstos os programas integrantes dos Planos
de Conservação dos Ecossistemas Terrestres e Aquáticos, em especial aqueles voltados para
recursos florestais e ictíicos, os quais foram elaborados e propostos como estratégia de
propiciar o desenvolvimento de ações de manejo adequadas, considerando aspectos
biogeográficos, ecológicos e de biologia da conservação.
Cabe ressaltar que os problemas atuais que estão sendo enfrentados não só pelas populações
das RESEXs mencionadas na pergunta, mas também por outras Reservas Extrativistas da
34
região amazônica são estruturantes e de ordem institucional, haja vista o pouco recurso
orçamentário alocado para estas unidades de conservação, além do deficiente quadro de
pessoal das Unidades de Conservação da Natureza, quer sejam de proteção integral, quer
sejam de uso sustentável.
O Programa de Compensação Ambiental, que visa à aplicação de recursos financeiros na
Estação Ecológica da Terra do Meio, localizada nas proximidades das RESEXs, cuja
indicação está de acordo com a legislação ambiental vigente (SNUC, Lei nº 9.985/00 e
Decreto nº 4340), terá como objetivo fortalecer a unidade foco do programa e indiretamente
beneficiam as outras unidades de perfazem o mosaico de UC da bacia do rio Xingu, haja vista
sua inserção central e grande extensão territorial.
14. Quais as quantificações feitas sobre a perda da biodiversidade que será perdido
com a inundação provocada pela barragem de Belo Monte? Foi feito um
diagnostico do impacto da perda dessa biodiversidade para as populações locais
que utilizam esses recursos?
Quando se refere à perda de biodiversidade significa que há espécies que desaparecerão de
uma determinada região, ou seja, diz respeito à extinção local de espécies. Esta perda pode
ocorrer por três motivos:
Perda da diversificação do ambiente;
Perda de habitats específicos;
Perda das relações ecológicas, em função do desaparecimento ou do número reduzido
de espécies.
Desta forma, os impactos referentes à perda de biodiversidade devido à implantação do
empreendimento têm abrangência regional e foram analisados, por exemplo, nos seguintes
impactos:
Perda da Diversidade da Flora (Volume 29, Avaliação de Impacto, descrição página
134), com abrangência regional, o que envolve a região da área de influência indireta
do empreendimento;
Perda de Diversidade da Fauna (Volume 29, página 137);
Intensificação da perda de cobertura vegetal e hábitat natural (Volume 29, página 268)
Por outro lado, a pergunta se refere à perda de biodiversidade, considerando apenas as áreas
inundadas pela barragem de Belo Monte.
Os estudos e levantamentos realizados no âmbito do EIA, bem como estudos pretéritos
disponíveis não indicaram a presença de espécies endêmicas da região que sofrerá impacto.
Isto se refere tanto para os grupos de mamíferos, répteis, anfíbios, aves, como também para
os vegetais, uma vez que as espécies identificadas ocorrem em outros trechos da bacia do rio e
seus tributários, os quais não sofrerão inundação. Algumas espécies inclusive têm distribuição
que extrapola a bacia e mesmo a região amazônica.
35
Os principais recursos naturais utilizados pela população local que se referem às espécies
animais normalmente caçadas, pescadas ou os vegetais utilizados para construção de casas,
retirada de palhas e cipós (espécies vegetais) apresentam ampla distribuição geográfica e,
portanto, considerando a área de inserção do empreendimento, não haveria perda regional da
diversidade destes organismos. No entanto, em função do já avançado estado de alteração da
paisagem na AID e ADA, tais recursos serão reduzidos localmente com a inundação dos
reservatórios. Desta forma, como medidas mitigadoras prevêem a conservação e manejo dos
recursos da flora, da fauna e da ictiofauna.
Dentre as espécies associadas aos ambientes aquáticos que sofrerão impacto com a inundação,
destacam-se os quelônios, os quais também são muito utilizados pelas populações locais. Este
grupo de animais, num estudo de biologia reprodutiva realizado no âmbito do EIA (cujo
conteúdo na íntegra está no Volume 20 – Relatórios do MPEG – Fauna Aquática), mostrou
que a taxa de predação de ninhos de quelônios, principalmente por humanos, nas praias
existentes no trecho da Volta Grande do rio Xingu até a confluência com o Iriri, chegam até a
100%. Já a caça praticada na região observou-e que devido à alteração de habitat já está se
tornando escassa.
Desta forma, considerando o conjunto de espécies de quelônios identificadas no estudo, sua
ampla distribuição geográfica e como estas populações responderam a implantação de
hidrelétricas em outras regiões amazônicas, não há indícios de que haverá desaparecimento
das espécies de quelônios do trecho do rio Xingu na região do Reservatório da Calha do rio,
mas sim alteração na estrutura das populações, diminuição da abundância e modificação da
dinâmica populacional desta e de outras espécies de quelônios.
Por outro lado, com relação à ictiofauna, vários impactos foram previstos para a perda de
espécies, tanto pela conversão de habitat-chave, quanto pela intolerância destes organismos às
alterações na qualidade da água. A descrição destes impactos está no Volume 29 Avaliação de
Impactos – Parte 1, página 329 do EIA.
Entre as ações propostas para mitigar e compensar os impactos previstos inerentes à perda de
diversidade de flora e fauna com a implantação do empreendimento destacam-se:
- Plano de Conservação dos Ecossistemas Aquáticos, que reúne as medidas
voltadas para a criação de espécies de peixe em cativeiro, manejo e conservação
dos recursos pesqueiros, ações de sustentabilidade da pesca, manejo e
conservação dos quelônios aquáticos, e
- Plano de Conservação dos Ecossistemas Terrestres cujas ações de manejo e
conservação são ali indicadas, como também o Programa de Compensação
Ambiental.
- PACUERA – Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de
Reservatórios Artificiais cuja prerrogativa é buscar conciliar o uso e ocupação
do solo com a manutenção e conservação dos recursos naturais.
Esses programas estão descritos no Volume 33 do EIA. Apresentam grau de detalhamento
apropriado para um Estudo de Impacto Ambiental e atendem o que estava preconizado no TR
emitido pelo IBAMA que norteou o estudo.
36
Para a ictiofauna é indicada no Volume 29 página 331 ações preventivas, mitigadoras e de
controle, a saber: Plano de Conservação do Ecossistema Aquático, com ações de conservação
e monitoramento da ictiofauna. Além destas ações, observa-se ainda que, no bojo do Plano de
Gestão dos Recursos Hídricos, está proposto o monitoramento dos igarapés interceptados
pelos diques.
Deve-se considerar ainda que, com a implantação dos reservatórios haverá mais abundância
de algumas espécies de peixes comerciais, como já foi relatado em outros reservatórios em
regiões tropicais. Para o uso sustentável tanto dos recursos pesqueiros tanto na região onde
estes ficarão mais escassos quanto na região do reservatório, onde serão mais abundantes, são
propostas ações de ordenamento da pesca estabelecidas no Programa de Sustentabilidade da
Pesca.
Para os recursos madeireiros e não madeireiros que sofrerão impactos com a implantação dos
reservatórios, são propostas ações preventivas e mitigadoras do impacto para evitar a perda
de diversidade da flora com abrangência regional. Estas medidas estão apontadas, no subitem
a.2.9.3 para o impacto que o origina, isto é, o “Aumento da Pressão sobre os Recursos
Florestais Madeireiros e Não Madeireiros”.
Já a título de medida compensatória, mas também guardando um caráter preventivo em
relação a um provável avanço de frentes de ocupação, e conseqüente aumento da pressão
sobre os recursos madeireiros e não madeireiros, propõe-se, no EIA, no bojo do Programa de
Compensação Ambiental, a criação de Unidades de Conservação, voltadas para a conservação
dos recursos florestais de terra firme e aluviais presentes na margem direita do rio Xingu, e
hoje já submetidos a uma potencial ameaça derivada do avanço de projetos de assentamento.
Estas ações estão descritas e apresentadas de forma detalhada no Volume 33 do EIA, que
corresponde a Planos, Programas e Projetos Ambientais.
15. O projeto traz conseqüências sobre o rio Bacajá? Quais as conseqüências sobre a
vida das pessoas que moram rio Bacajá acima, a partir da sua foz no Xingu,
incluindo indígenas da TI Trincheira Bacajá, homologada?
O EIA apresenta em diversos momentos as interferências que o AHE Belo Monte causará no
rio Bacajá sobre os diversos temas de estudo. Entretanto, para atendimento à solicitação de
informações complementares ao EIA, todos os temas foram integrados em um único
documento e apresentado como anexo aos Estudos Etnoecológicos – Análise Ambiental,
entregue ao IBAMA e FUNAI em 10/07/09.
Com relação às alterações hidrológicas do rio Bacajá, o EIA apresenta no volume 11 –
Diagnóstico da AID e ADA, pags. 138 a 172, uma caracterização do escoamento não só no rio
Bacajá, mas nos outros afluentes do rio Xingu, pela margem direita, que se localizam no
trecho de vazão reduzida. Esse estudo foi complementado com o resultado de novas seções
topobatimétricas e apresentado ao IBAMA como atendimento aos itens elencados no Parecer
COHID/CGENE/DILIC/IBAMA no 29/2009, considerados necessários à análise de mérito
dos estudos ambientais do AHE Belo Monte.
O objetivo desse estudo de modelagem dos afluentes foi avaliar a interferência física que a
redução de vazão provocará nos mesmos. O que os estudos mostraram é que a interferência
do rio Xingu no rio Bacajá é maior do que nos demais afluentes e a redução de vazão na calha
37
do rio Xingu na Volta Grande impacta diretamente as planícies de inundação hoje aí
verificadas, importante refúgio da ictiofauna.
Dessa forma, parte da bacia do rio Bacajá foi considerada, no EIA, dentro das áreas de
influência do empreendimento e verifica-se que a parcela da bacia do rio Bacajá inserida na
AID (Meios Físico, Biótico e Socioeconômico e Cultural) é aquela que efetivamente sofrerá
impactos diretos advindos do empreendimento e que poderão resultar em efeitos negativos
para a comunidade indígena Xikrin do Bacajá, avaliada no volume 35 do EIA “Estudos
Etnoecológicos”- Tomo 5 – TI Trincheira Bacajá”. Isto por que:
Os estudos de detalhe de remanso realizados no rio Bacajá, inclusive à luz de
levantamentos topobatimétricos realizados ao longo desse corpo hídrico, mostram
que a influência da redução de vazão no rio Xingu motivada pela liberação do
hidrograma ecológico proposto estará restrita a uma extensão de 25 a 30 km a partir
da foz do rio Bacajá e, portanto, inferior à extensão de 40 km assumida como limite
da AID no EIA.
Essa influência hidráulica se fará sentir sobre diferentes variáveis ambientais,
implicando na redução das áreas inundáveis nesse trecho de 30 km do rio Bacajá,
com conseqüentes impactos diretos sobre a vegetação associada a essas planícies
aluviais, sobre a fauna aquática (ictiofauna e quelônios aquáticos) que têm nessas
planícies ambientes propícios à sua nidificação, abrigo e alimentação, com
conseqüências para a pesca e a caça, e também sobre a navegação nesse trecho final
do rio Bacajá.
Os estudos da TI Trincheira Bacajá indicam que o limite perimetral dessa TI que
intercepta o rio Bacajá situa-se a 51 km de sua foz no rio Xingu e, portanto, livre dos
efeitos diretos de redução das planícies de inundação derivados da redução de vazão
no Trecho de Vazão Reduzida. A primeira aldeia Xikrin de Bacajá (Aldeia Pykaiaká)
localiza-se 6 km a montante dessa interseção e, portanto, a 57 km da foz.
Observando-se o Mapa de Uso e Ocupação Indígena apresentado no volume 35 do
EIA e reproduzido no Parecer anexo ao Documento Estudos Etnoecológicos –
Análise Ambiental, verifica-se que as áreas de caça e coleta extrativista apontadas
pelos moradores dessa aldeia localizam-se distantes da margem do rio, associados a
igarapés e grotas presentes na TI e que não serão afetadas por efeitos de remanso do
rio Xingu sobre o rio Bacajá. Há que se observar, neste sentido, que mesmo áreas de
pesca localizadas nas margens do rio, e que são utilizadas pelos indígenas, não
sofrerão impactos diretos de perda de ambientes para a ictiofauna.
Os estudos mostram que dificuldades sobre a navegação deverão ocorrer na porção
do rio Bacajá que sofrerá a influência direta da redução de vazão no rio Xingu – os
25 a 30 km anteriormente mencionados, principalmente quando se considera que as
profundidades se reduzirão até 3 m por um período superior ao que ocorre hoje.
Os estudos apresentados reconhecem que outros impactos que poderão interferir
negativa e diretamente no modo de vida dos Xikrin de Bacajá podem ser advindos de
frentes de ocupação que já se fazem sentir, em especial, nas porções sul e leste do
território indígena. Esses impactos poderão exercer uma pressão sobre a atividade
pesqueira e alterar a qualidade da água, dado que o recurso hídrico que drena a TI
Trincheira Bacajá tem sua qualidade determinada pelos usos que se faz do recurso a
38
montante ou interiormente à própria área indígena. Assim, processos de erosão
associados à ocupação antrópica ou a desmatamentos a montante poderão alterar a
turbidez da água ou a deposição de sedimentos ao longo do rio.
O incremento dessas pressões antrópicas sobre a TI, e as conseqüentes alterações na
qualidade das águas, não podem ser atribuídos diretamente à implementação do AHE
Belo Monte. Isto porque, o estudo mostra que, a despeito de se ter um número
significativo de pessoas atraídas pelo empreendimento, não há motivos para se antever
que a região no entorno da TI Trincheira Bacajá possa vir a representar um fator de
fixação territorial. O estudo de distribuição dessa população mostra que o entorno dos
Sítios Construtivos e as cidades de Altamira e Vitória do Xingu, e mesmo aquelas
localidades situadas na Volta Grande do Xingu, às margens do Trecho de Vazão
Reduzida, como Ressaca e Ilha da Fazenda serão locais mais atrativos. Isto porque a
infra-estrutura nesses locais é melhor, além de serem mais próximos dos centros onde
estarão os serviços.
Como forma de atenuação aos impactos avaliados, foram desenvolvidos planos e programas
indicados nos estudos etnoecológicos da TI Trincheira Bacajá, tais como:
- Programa de Conservação e Manejo da Flora, visando incentivar a recomposição da
mata ciliar do rio Bacajá e dos rios e igarapés afluentes a ele;
- Projeto de Criação de Unidades de Conservação, visando reforçar a necessidade de
implantação das UCs propostas no EIA, que contribuirão para a proteção de suas
fronteiras, proteção das margens do rio Bacajá, evitando processos de ocupação
irregular, simplificação de habitats e degradação de áreas ambientalmente sensíveis;
- Programas de Conservação da Fauna Terrestre e Aquática e Programa de
Monitoramento da Flora, com o objetivo de acompanhar a evolução da vegetação
aluvial e das ilhas e pedrais utilizados pelas populações indígenas;
- Programa de Conservação da Ictiofauna, estendendo-se o monitoramento ao longo do
rio Bacajá;
- Programa de Monitoramento Limnológico e de Qualidade da Água e Programa de
Monitoramento Hidráulico, Hidrológico e Sedimentológico do rio Bacajá.
16. Quais as conseqüências da obra proposta sobre o lençol freático na Volta Grande
(baixo) e na cidade de Altamira (alto)?
a) Volta Grande
As conseqüências da implantação do AHE Belo Monte sobre o lençol freático na Volta
Grande do rio Xingu foram avaliadas no EIA no volume 31 – Avaliação de Impactos- parte3
(pags. 229 a 233) sobre o ponto de vista do comprometimento do abastecimento por poços
rasos.
Para avaliar os impactos da alteração na dinâmica de escoamento fluvial no trecho de vazão
reduzida e suas alterações sobre o nível do lençol freático, foram selecionados três locais para
uma análise hidráulica detalhada, conforme apresentado no EIA:
39
- Margem esquerda do rio Xingu na altura da Ilha Pimental, o trecho entre a barragem e
o núcleo de referência rural São Pedro;
- Margem esquerda do rio Xingu em frente a TI Paquiçamba, e
- Margem direita nas proximidades da foz dos afluentes: Ituna; Itatá; Bacajaí; e Bacajá.
Um dos impactos mais significativos ocorre no trecho de 10km do rio Xingu, na margem
esquerda da Ilha Pimental, onde se localiza o núcleo de referência rural de São Pedro. Por este
canal são veiculadas atualmente cerca de 10% das vazões totais do Xingu, ocorrendo
variações sazonais de vazão que fazem parte dos processos de inundação das ilhas fluviais e
áreas alagadiças marginais aos canais. Nos estudos de viabilidade, não foram previstos
vertedouro ou outro tipo de estrutura para veicular as vazões que normalmente passam por
estes canais, ou seja, não haverá vazão nesse trecho com extensão aproximada de 10km.
Avaliações feitas no capítulo de recursos hídricos do diagnóstico da ADA/AID do meio
físico, Volume 11, demonstraram que a parte mais de jusante deste canal, mais próximo ao
final da Ilha Pimental, será alimentada pelo nível de jusante.
Outro impacto relevante poderá ocorrer na região da TI Paquiçamba. Análises das linhas
d‟água e velocidades e de imagem de satélite mostraram que nessa seção, este braço do rio
Xingu ficaria praticamente seco, com alguma quantidade de água com baixíssima velocidade
de escoamento.
O que se conclui no EIA é que com a diminuição na quantidade de água que escoa esse trecho
da Volta Grande ocorrerá rebaixamento do lençol freático, o que poderá afetar os aqüíferos
constituídos por aluviões e por solos de alteração de rochas do Complexo Xingu. Esse
rebaixamento condiciona e compromete o abastecimento por poços rasos nesta região.
Nos 10 km do barramento até o núcleo de referência rural de São Pedro o impacto no lençol
freático será maior do que no restante do trecho, portanto, foi adotado no EIA a possibilidade
de relocação da população que vive próxima ao rio ou nas ilhas desse trecho.
Os níveis d água dos poços cadastrados responderam às variações do nível do rio Xingu quase
que diretamente. Esse comportamento é de importância para os poços rasos com
profundidades predominantes da ordem de 3 a 5,0 m especialmente para aqueles instalados
em aluvião a jusante do barramento, tanto nas planícies fluviais como nas ilhas. Em situações
de estiagem observadas atualmente, muitos desses poços secam ou têm sua qualidade alterada
com sua utilização interrompida até o enchimento do rio.
No trecho onde esses poços foram identificados, a redução acentuada de vazões deverá
provocar impacto direto sobre o abastecimento feito dessa forma. Como medida de mitigação
o EIA previu no Programa de Recomposição da Infra-estrutura Rural, Projeto de
Recomposição da Infra-Estrutura de Saneamento, volume 33 – Planos, Programas e Projetos
(pags. 255 e 256), que visa dotar as comunidades afetadas de condições adequadas de água e
esgoto.
Outro impacto avaliado no EIA que está relacionado ao rebaixamento do lençol no trecho de
vazão reduzida foi tratado no volume 31 como um impacto derivado da alteração do
escoamento, que é a alteração na vegetação presente na região das ilhas como também das
margens dos igarapés e do rio Xingu (Floresta Ombrófila Aluvial), os quais estão descritos
40
nas pags. 201 a 207. Neste aspecto poderá ocorrer alteração da composição das espécies
vegetais alterando a fitossociologia desta formação, em função das condições ecológicas de
adaptação ao alagamento sazonal.
Esse impacto sobre a vegetação aluvial é também possível de ocorrer nas florestas dos
tributários da margem direita do rio Xingu e em todo o trecho deste rio que será submetido à
redução da vazão. No caso das florestas aluviais presentes nos igarapés da margem direita, em
especial, o Bacajá, Bacajaí, Ituna e Itatá, poderão sofrer diminuição do efeito de remanso do
rio Xingu em vazões menores que as naturais. Isto poderá promover também a diminuição
longitudinal e lateral das inundações destas formações florestais durante o período de cheia e
conseqüentes alterações também na umidade do solo, uma vez que o lençol subterrâneo de
toda a região da Volta Grande será alterado. Então, os impactos relacionados à alteração de
composição e estrutura das comunidades florísticas também são possíveis de ocorrência para
as formações que margeiam estes igarapés.
No conjunto de Programas Ambientais, foram previstos Programas de monitoramento e
conservação da flora, cuja tônica é buscar soluções adequadas, após o conhecimento do
comportamento fenológico destas espécies para manter a funcionalidade destes habitats
sazonais. Dentre estes, o Projeto de Monitoramento das Florestas Aluviais tem como objetivo
monitorar os padrões fenológicos existentes e evolutivos dos principais grupos de plantas
existentes nas formações de florestas ombrófilas densas aluviais, nas áreas dos reservatórios e
no Trecho de Vazão Reduzida de forma a propiciar a ocorrência de ambientes adequados para
o desenvolvimento da ictiofauna, dos quelônios e de outros organismos que dependem das
florestas aluviais. Outro objetivo deste projeto é conhecer os padrões fitossociológicos
vigentes e quais alterações que ocorrerão em função da implantação e operação do
empreendimento.
Acredita-se que em decorrência do grande prazo existente para que o trecho de vazão
reduzida se torne um trecho com oferta menor de água, adaptações poderão ser assimiladas
com alterações no tipo de vegetação e na fauna associada dessas ilhas de margem que não
mais serão inundadas, mas a conservação desses ambientes pode ser uma medida
compensatória ao impacto avaliado.
b) Altamira
As conseqüências da elevação do lençol em Altamira foram avaliadas, sob o ponto de vista da
qualidade da água potável, na resposta dada a questão 11. Há que se considerar ainda o
impacto avaliado no EIA de formação e acréscimo de áreas úmidas e alagadas, em caráter
perene, nos aluviões de Altamira.
Avalia-se que as áreas de maior criticidade quanto a esses processos são aquelas onde o nível
d‟água está situado a profundidades menores que 2,0 m e, de maneira geral, nas regiões da foz
do igarapé Altamira e entre os igarapés Altamira e Ambé (ver Desenhos 6365-EIA-DE-G91-
019 a 021). Áreas úmidas e alagadas também poderão ser formadas nos terraços aluviais do
igarapé Trindade, localizados na margem esquerda do rio Xingu, cerca de 10 km a jusante de
Altamira.
Áreas atualmente sujeitas à inundação nas épocas de cheia serão inundadas permanentemente
com o reservatório. Esse impacto foi avaliado com de magnitude alta e como medida o Plano
41
de Requalificação Urbana de Altamira prevê o tratamento dessas áreas que serão formadas a
partir da reurbanização das baixadas existentes.
17. Como deve ser o impacto da formação do lago nos igarapés da cidade?
A resposta a essa pergunta foi abordada no item 11 – Nível d‟água na cidade de Altamira.
Apresentado no volume 11 do EIA (pags. 59 a 101).
Esse item dos estudos ambientais apresenta os estudos efetuados para a determinação dos
níveis de inundação nos Igarapés Panelas, Altamira e Ambé, situados no município de
Altamira e que serão influenciados pela presença do futuro reservatório da AHE Belo Monte.
Conforme consta dos Termos de Referência do IBAMA, foram feitos estudos específicos para
o Município de Altamira para avaliar as condições de vazão nos Igarapés no caso de
ocorrência de eventos críticos de pluviometria nas bacias dos Igarapés de Panelas, Altamira e
Ambé, observando-se dados históricos e as áreas sujeitas à inundação recorrente no perímetro
urbano de Altamira. Foram consideradas as condições atuais para a realização do diagnóstico
e as condições futuras para o prognóstico.
Para identificar as condições para as quais podem ocorrer inundações usuais nos igarapés,
realizou-se um cálculo de remanso tomando-se por base as seções topobatimétricas
levantadas, associando-se os níveis d‟água no rio Xingu a vazões nos igarapés tais que
resultassem nos níveis d‟água máximos levantados no campo a partir de entrevistas junto a
moradores.
Complementando essa análise, também se considerou a recorrência de 100 anos preconizada
nos Termos de Referência do IBAMA , que equivale a um risco anual de 1% de ser
ultrapassado o nível d‟água obtido nos cálculos de remanso.
Para o prognóstico da situação após a construção da AHE Belo Monte, quando se formar o
reservatório, efetuou-se um novo estudo de remanso nos igarapés, considerando as condições
previstas para os igarapés, após a reurbanização considerada nas medidas de mitigação para a
cidade de Altamira.
No prognóstico foi considerada a presença do reservatório e algumas diretrizes determinadas
pela equipe de Socieconomia do EIA para a reurbanização da cidade de Altamira.
Constatou-se que as recorrências das inundações relatadas como “máximas” pelos moradores,
na realidade correspondiam a recorrências da ordem de 5 a 10 anos. Ou seja, cheias pouco
freqüentes como as consideradas como critério nos Termos de Referência do IBAMA (TR =
100 anos) não são normalmente detectadas em entrevistas de campo. Isto é fato, pois, exceto
no tramo superior do Igarapé Altamira, a cota da maior cheia ocorrida no rio Xingu
(7/03/1980), que tem reflexo direto nos igarapés, não foi detectada nas entrevistas.
Por meio dos resultados dos estudos, foram elaborados mapas com manchas de inundação
referentes às cheias do Xingu com e sem a presença do reservatório. A conclusão a que se
chega é que para a cheia máxima considerada (TR de 100anos) os níveis no igarapé Altamira
que chegam hoje a até 102m de cota ficariam na cota 100,78m com as interferências do
empreendimento considerando a retirada das obstruções que hoje funcionam como
estrangulamentos e retém o fluxo de água nas épocas de cheia.
42
Portanto, com a execução de duas travessias no Altamira, com uma seção com vão livre de
40m, resulta em redução da suscetibilidade às inundações em relação às condições atuais das
áreas lindeiras ao Igarapé.
18. Como ficaria a situação das praias do rio Xingu utilizadas para o lazer da
população de Altamira e região no período da seca? Em muitos casos nas praias
artificiais ao redor dos lagos de barragens, têm havido problemas de ataques de
piranhas além do incômodo ocasionado por um forte cheiro de podre em
conseqüências de apodrecimento de vegetais no fundo dos lagos.
Os estudos do EIA mapearam e identificaram quais as praias que desaparecerão (Volumes 21
a 24 que se referem ao Diagnóstico do Meio Sócio-econômico) em função da implantação do
reservatório na calha do rio Xingu, como também aquelas situadas a montante do remanso do
Reservatório do Xingu que não serão alteradas.
Para as praias situadas mais próximas a cidade de Altamira e que serão perdidas, como
medida de compensação e mitigação, há a previsão de implantação de praias artificiais.
Com base na experiência em outros empreendimentos hidrelétricos houve realmente registros
de ataques de piranhas e proliferação de algas em regiões próximas às praias artificiais. Isto
ocorreu durante o ano de 2007 relatado por moradores e usuários destas praias que foram
construídas próximas à cidade de Palmas para substituir as praias de lazer que foram perdidas,
com a implantação da Hidrelétrica de Lajeado no rio Tocantins.
As espécies de peixes predadoras serão beneficiadas com a implantação do Reservatório do
Xingu, o que foi previsto na avaliação de impacto do EIA (Volume 29), implicando na
modificação da estrutura das comunidades de peixes que habitam a calha do rio Xingu. As
espécies oportunistas e predadoras como as piranhas, pescada e tucunaré se beneficiarão, pois
haverá maior disponibilidade de alimentos como peixes pequenos, por exemplo. Com isso,
entre outras espécies piscívoras, possivelmente haverá aumento da população de piranhas na
região.
Caso o problema venha a ser identificado nas praias a serem construídas no reservatório do rio
Xingu, pode-se adotar a mesma solução adotada em algumas hidrelétricas, onde foram
colocadas telas de proteção em volta das praias artificiais, e mantendo regras adequadas de
manejo e uso dessas praias, como evitar pescarias e jogar lixo e restos de comidas na água.
Quanto ao odor provocado pelo apodrecimento dos vegetais no fundo do lago, também houve
registros de ocorrência de algas em algumas praias artificiais que foram construídas como
ações ambientais em reservatórios de hidrelétricas, devido aos efeitos provocados pelas
florações de cianobactérias.
A exposição humana em níveis indesejáveis de cianobactérias em águas de uso recreacional
depende da heterogeneidade da distribuição da biomassa no sistema e das características das
atividades recreacionais. No caso de praias, os contatos podem ser primários e secundários, o
que irá determinar o grau de exposição.
O monitoramento dos locais onde ocorreram tais problemas, destacaram nível de alerta 1 , o
que indicou o início de um estágio de eutrofização. (Para maiores detalhes vide: Ocorrência
de cianobactérias na praia Nova Graciosa: área de influência do Reservatório da UHE
43
Lajeado, Palmas, Tocantins - Vera L Reis, José G Tundisi, Anelise K Marques, Hyalene C
Pereira).
Dessa forma, objetivando evitar a eutrofização da água do reservatório do Xingu, há uma
orientação de retirada de 50% da cobertura florestal existente na área do reservatório. Além
disso, quando da escolha dos locais para a implantação das praias artificiais a possibilidade de
proliferação de algas cianofícias devem ser consideradas, priorizando regiões onde ocorra
uma maior taxa de renovação da água e promovendo a retirada total da vegetação local, o que
evitaria o apodrecimento da matéria orgânica e aumento nas demandas químicas e biológicas
de oxigênio da água.
Em locais propícios para o desenvolvimento de eutrofização, há também o aumento do aporte
de nutrientes advindo do uso intenso das praias, prejudicando sua balneabilidade. Ainda como
medida de controle deverá ser feito o monitoramento da qualidade da água na região, como
também da proliferação de macrófitas aquáticas para evitar problemas de balneabilidade e
indicar ações de manejo, pois a proliferação de macrófitas e de algas, estão associadas com a
baixa qualidade da água.
Já na região da Volta Grande, abaixo da barragem do sítio Pimental, as praias permanecerão
exposta e em condições de uso por mais tempo maior durante o ano, devido à redução da
vazão.
19. Como seria o impacto nos peixes migratórios e os peixes endêmicos (inclusive os
peixes ornamentais), considerando a vazão reduzida e o canal lateral para
transposição de peixes?
A descrição deste impacto é apresentada abaixo e foi retirada do Volume 29 – Parte 1, página
336.
O impacto relacionado aos peixes migratórios, endêmicos e outras espécies da ictiofauna que
habitam a região do médio Xingu foi designado como “Fragmentação de Populações –
Metapopulações ou Eliminação de Espécies da Ictiofauna Intolerantes à Perda de
Conectividade Lateral ou Longitudinal entre Habitats – chave”, estão associados a duas
etapas: de Construção e de Formação dos Reservatórios.
Os efeitos associados ao impacto em tela se manifestarão principalmente pela: interrupção das
migrações longitudinais de pequenos migradores por barreira hidrológica no canal de desvio
durante a construção da Barragem do Sítio Pimental; interrupção das migrações longitudinais
dos peixes migradores por obstrução do canal do rio Xingu após o fechamento da barragem
no Sítio Pimental, que permitirá a formação do Reservatório do Xingu.
O rio Xingu funciona como um grande fluxo de água que flui e transporta nutrientes e
organismos que, por esta via, têm acesso a outros ambientes. Assim, o rio funciona como uma
via de dispersão de nutrientes, matéria orgânica, frutos, plantas flutuantes, larvas, ovos e,
eventualmente, organismos adultos. Com a instalação da barragem no Sítio Pimental, ocorrerá
alterações no fluxo natural do rio, na região da Volta Grande. Esta ação terá, portanto, um
impacto direto no fluxo destes materiais vivos e inertes; dentre estes inclusive a comunidade
de peixes migradores.
44
O diagnóstico da ictiofauna apontou que, independente do grupo trófico envolvido e das
preferências de habitats, mais da metade das espécies do Baixo Xingu possuem estratégias de
vida que dependem das planícies de inundação (para reprodução, desenvolvimento dos jovens
ou alimentação dos adultos) e dos remansos da calha principal. Alterações nesses habitats
acarretariam impactos importantes para essas espécies.
Algumas espécies sobem os rios no início da enchente à procura de locais apropriados para a
desova, que garantem a sobrevivência dos filhotes. As distâncias percorridas exatamente pelas
diferentes espécies não foram determinadas no contexto desse diagnóstico, mas os estudos de
genética deixaram claras evidências de que existe uma conectividade entre as comunidades a
montante (desde o rio Iriri) e a jusante (até a cidade de José Porfírio) do rio Xingu, mesmo
considerando a existência das barreiras geográficas impostas pelas grandes cachoeiras.
Os dados de ictioplâncton reforçam estas evidências. Larvas de espécies migradoras, ainda
com saco vitelínico (dois dias de idade) foram capturadas no trecho do futuro Reservatório do
Xingu sendo carreadas pela correnteza a dois metros de profundidade. Por outro lado não
foram encontradas evidências (nos levantamentos da ictiofauna e nas entrevistas com
pescadores) de que os grandes bagres migradores transponham as cachoeiras do rio Xingu.
Mas com relação a outro conjunto de espécies que fazem migrações longitudinais, fica claro
que a implantação da barragem, irá obstruir o trânsito rio acima dos peixes adultos, e rio
abaixo dos jovens recrutas. Esta interrupção deverá induzir alterações na abundância dos
peixes migradores, abaixo do reservatório. É provável também que mudanças na abundância
destas espécies sejam observadas, em longo prazo, a montante do reservatório, bem como a
jusante das cachoeiras, como conseqüência da interrupção deste fluxo.
Por outro lado, os Estudos de Viabilidade do AHE Belo Monte já previram a construção de
uma escada de peixes para viabilizar a transposição dos cardumes em migração e mitigar este
impacto. Contudo, os estudos e experiências atualmente conhecidos no Brasil indicam que as
escadas de peixes, classicamente construídas em barragens de hidrelétricas, não estão
contribuindo para as finalidades que foram planejadas. A maior parte dos trabalhos de
monitoramento dos sistemas de transposição existentes na América do Sul comprova que, em
lugar de auxiliar na conservação das comunidades ícticas, as escadas de peixes podem
contribuir negativamente, selecionando certas espécies e evitando a subida ou descida de
outras. Além disso, os peixes que sobem e desovam acima da barragem têm o sucesso
reprodutivo comprometido pela perda das larvas, que decantam na baixa correnteza das
represas (OLDANI, et al., 2007; AGOSTINHO et al., 2007a; 2007b; SANTOS, et al., 2007;
PELICICE; AGOSTINHO, 2008) .
Dessa forma, o EIA sugere uma modificação do projeto original; de uma escada de peixes
para um canal de deriva, além de solicitar que seja realizado o monitoramento deste
mecanismo de transposição dos peixes. O canal de deriva seria uma solução experimental, que
se baseia no conceito de usar um igarapé natural para essa transposição, buscando reproduzir
melhor as condições naturais, antes do barramento.
Para o trecho de jusante, a diminuição da vazão do rio poderá acarretar uma diminuição da
abundância relativa de todas as espécies, inclusive as que realizam migrações. Espera-se,
portanto, que a densidade de peixes diminua, de acordo com a diminuição da vazão. Para
mitigar em parte este impacto, propõe-se uma alteração nos regimes de vazão, que atendam ao
mínimo necessário para a reprodução dos peixes, que habitam na Volta Grande. Para tal,
utilizaram-se duas medidas de vazão, a primeira de 4.000 m3/s, corresponde ao valor que
45
garante a inundação da maior parte dos pedrais. Nesta vazão poderá ser garantida a desova,
alimentação e refúgio dos peixes que são característicos deste ambiente, como os cascudos
que são alvos da pesca de ornamentais, da família Loricariidae (os acaris). Estes peixes são
sedentários e relacionados a ambientes de pedrais.
A segunda medida de vazão sugerida foi de 8.000 m3/s Com esta vazão foi observada a
desova da maior parte dos peixes que habitam as planícies de inundação durante a enchente,
bem como a entrada das larvas nas planícies de inundação. Assim, a busca deste valor,
poderia garantir a reprodução e desenvolvimento de boa parte dos peixes da região.
Por tanto, o hidrograma proposto, denominado de “hidrograma ecológico”, teve como base,
no caso da ictiofauna, a relação entre os valores de vazão observados e as etapas do ciclo de
vida das espécies (reprodução, desenvolvimento, alimentação, recrutamento) e devem,
portanto garantir que parte destas funções vitais sejam mantidas mesmo com o represamento
do rio.
A redução de vazão deve afetar também a migração dos peixes rio acima. Contudo, com base
em estudos anteriores, espera-se que muitos das espécies migradoras continuem subindo as
corredeiras e optem por outras vias alternativas, ao encontrarem as barreiras da represa ou da
pequena vazão. Neste caso, igarapés e rios da rede hidrográfica do rio Xingu (Bacajá, Bacajaí,
etc), a jusante da barragem, poderão servir como rotas de migração.
As principais ações ambientais associadas a estes impactos têm caráter preventivo, inseridas
no âmbito do Plano Ambiental de Construção, referenciando-se à prévia seleção das áreas
para disposição do material dragado, de forma que as mesmas não ocorram sobre planícies
aluviais ou em locais que venham a interromper o acesso de espécies da ictiofauna a estas
planícies.
Também são previstas ações de controle, manejo e conservação dos recursos aquáticos no
âmbito do Plano de Conservação do Ecossistema Aquático, mais especificamente no
Programa de Conservação da Ictiofauna, através do Projeto de Monitoramento da Ictiofauna,
de forma a se verificar se efeitos deletérios não estarão ocorrendo sobre espécies habitat-
dependentes dessas planícies aluviais e Projeto de Monitoramento das Florestas Aluviais que
visa acompanhar as alterações destes ambientes frente a redução de vazão para indicar
medidas de manejo e conservação dos habitats reprodutivos da ictiofauna.
20. Como ficará a operação da “vazão ecológica” em situação em escassez de água.
Todas as turbinas seriam desligadas na casa de força principal?
O volume 33 de Avaliação de Impactos – parte 3 (pags. 234 a 288) apresenta a avaliação feita
pela equipe do EIA sobre o hidrograma ecológico para o trecho de vazão reduzida.
A conclusão desse estudo aponta para uma proposta de compatibilidade entre viabilidade
comercial do empreendimento (geração de energia) e a proposição de um hidrograma que
atenda às condições mínimas ambientais, identificadas como fundamentais no TVR. Isto
implica em liberar o hidrograma de manutenção do ecossistema para o TVR em um
determinado ano e admitir que no próximo ano o sistema possa ser submetido a um
“estresse” hídrico ainda maior. Tal hipótese pressupõe que o “bioma” possa ser submetido a
um regime maior restrição, por no máximo um ano, desde que no ano seguinte vazões de, pelo
menos, 8000 m3/s fossem liberadas, o que possibilitaria manter a produtividade mínima,
46
garantindo sua sustentabilidade. Dessa forma, o hidrograma ambiental proposto para o TVR
deverá ser o indicado no QUADRO 20-1 a seguir:
QUADRO 20-1 Hidrograma Ambiental – vazões médias mensais propostas para o TVR
Hidrogramas Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
I 1.100 1.600 2.500 4.000 1.800 1.200 1.000 900 750 700 800 900
II 1.100 1.600 4.000 8.000 4.000 2.000 1.200 900 750 700 800 900
As vazões a serem obrigatoriamente liberadas para jusante na barragem do Sítio Pimental não
serão constantes e deverão obedecer a uma variação sazonal, acompanhando a variação
natural do rio Xingu.
O hidrograma I é o hidrograma mínimo a ser liberado e tem como vazão média mensal
mínima 700 m3/s e uma vazão máxima de 4.000 m
3/s. Desta forma, uma vez praticado tal
hidrograma, no ano seguinte a vazão média mensal deve atingir 8.000 m3/s em pelo menos 1
mês obedecendo a forma do hidrograma II ou pelo menos o volume anual desse.
A vazão mínima do rio Xingu usada como referência nesse estudo é a vazão de 1.017 m3/s,
que representa a mínima média anual obtida a partir de dados de mínimas diárias anuais do
período de 1971 a 2000.
O estudo mostra que vazões superiores a essa ocorrem em 43% do tempo do período de
estiagem, ou seja, quase metade dos anos analisados (30 anos) teve valores mínimos
superiores a 1017 m3/s. Análises comparativas do escoamento entre vazões dessa ordem e
vazões de 700 m3/s e análises das imagens de satélite para essas condições mostraram que não
existem diferenças significativas de escoamento entre esses dois valores. Considerando a
necessidade de se derivar alguma vazão para o reservatório dos canais, optou-se por manter
uma mínima de 700 m3/s no TVR e derivar o restante para oxigenar e promover a renovação
da água no reservatório dos canais.
As avaliações do escoamento nas seções transversais levantadas ao longo do TVR mostram
que vazões inferiores a 700m3/s, apesar de já terem ocorrido no histórico de vazões com uma
freqüência de 10%, reduzem significativamente as áreas molhadas deixando canais secos ou
com baixas profundidades.
A ocorrência natural de vazões inferiores a 700m3/s além de ser um evento raro, gera
impactos isolados e de curta duração que se resolvem naturalmente sem necessidade de
intervenções. Por outro lado, a proposição de uma vazão mínima no hidrograma ecológico
será um evento freqüente (todos os anos no período de estiagem) e de maior duração quando
comparado aos eventos naturais, ressaltando, portanto, a necessidade de se indicar um valor
no qual se possa conviver com as limitações oferecidas por ele.
Dessa forma, o mínimo definido para o trecho da Volta Grande do rio Xingu é uma vazão de
700m3/s. Em situações de escassez acentuada quando as vazões do rio Xingu forem inferiores
a 1000m3/s deverá sempre passar 700m3/s no trecho da Volta Grande e o restante no
reservatório dos canais. Nessas situações será mantida a geração na casa de força
47
complementar e se necessário poderá ser interrompida temporariamente a geração na casa de
força principal.
21. Foi apresentado na Avaliação Ambiental Integrada (AAI) e no EIA que há grande
atividade antrópica na bacia, principalmente nas cabeceiras, região de São Felix e
Altamira. Qual o limite de desmatamento para a saúde física e biológica da Bacia
do Rio Xingu?
A Bacia do rio Xingu abrange dois grandes biomas, Cerrado e Amazônico, com ampla
extensão geográfica e grande diversidade de ecossistemas, ambientes e formas de uso e
ocupação. Para estabelecer o limite do desmatamento com vistas de avaliar a „saúde‟ física e
biológica da bacia do rio Xingu devem ser considerados vários fatores socioeconômicos e
ambientais, bem como aspectos inerentes aos usos dos recursos hídricos, a ocupação do solo e
a geopolítica regional.
O estudo de Avaliação Ambiental Integrada - AAI da bacia do rio Xingu analisou os aspectos
de uso e ocupação do solo na bacia e destacou a intensa ocupação antrópica na região dos
formadores do rio Xingu, condição apontada na pergunta como “principalmente nas
cabeceiras”.
Até o momento, não existem estudos científicos conclusivos que possam atestar o „limite‟ de
desmatamento para a „saúde‟ física e biológica da Bacia do Xingu, no entanto, cenários e
prognósticos realizados no âmbito da AAI e do EIA indicam tendências para a região de
inserção do empreendimento.
Sendo assim a análise de cenário apresentada no Volume II da Avaliação Ambiental
Integrada, que se inicia na página 135 mostra quadros que quantificam as áreas desmatadas
por município nos anos de 2000 e 2007, como também apresentam tendências para os anos de
2015 e 2025.
Os resultados demonstraram que se a velocidade do desmatamento for mantida, é de se
esperar que a disponibilidade líquida de áreas dos municípios São Felix do Xingu, Porto de
Moz, Altamira, Brasil Novo, Vila Rica e Vitória do Xingu seja exaurida em seis anos, ou seja,
em 2014.
A taxa de desflorestamento reside no tamanho da disponibilidade de terras florestadas, pois a
velocidade de exaustão do estoque de florestas para muitos municípios sinaliza uma pressão
altíssima de desflorestamento. Ultrapassando 40% da área dos mesmos, alguns dos quais tem
praticamente esgotadas suas disponibilidades, como é o caso de Vitória do Xingu que em
2007 já tinha 51,4% de seu território desflorestado (página 134, Tabela 5-1, Volume II, da
AAI). Altamira apresentava 3 %, Brasil Novo 33,2% e a Bacia do rio Xingu, quase 15%
(14,7% mais precisamente).
No entanto, o estudo da AAI destaca que 92% das terras de Altamira são constituídas por
Unidades de Conservação e Terras Indígenas, as quais segundo a legislação apresentam
proteção especial para os recursos florestais.
Além disso, considerando-se a legislação brasileira, através de seu código florestal, são
definidos os percentuais mínimos para manutenção da floresta nativa na região amazônica em
áreas que não sejam de UC. Garantida essa condição, associada à manutenção/criação de UCs
48
(federais, estaduais e municipais), é esperado que estejam preservados trechos significativos
dos ecossistemas da bacia do rio Xingu, o que com certeza contribuem de forma importante
para que sejam mantidas as funções ecológicas dos ecossistemas, a estrutura e a função da
paisagem. Destaca-se que atualmente o território das áreas protegidas corresponde à
aproximadamente a 60% do território da bacia hidrográfica (página 135 da AAI).
Informações adicionais poderão ser obtidas nos Volumes 28 – Análise Integrada, do EIA do
AHE Belo Monte.
22. Quais são os cenários de desmatamento para a região a curto, médio e longo prazo
considerando-se a implantação de Belo Monte e todos os impactos dela decorrentes
como o asfaltamento da Transamazônica, a abertura e melhoria de vias de acesso,
a chegada de uma grande contingente populacional que se encontrará após o
término das obras em sua maioria desempregada?
Quanto as cenários de desmatamento para região, há de se considerar a situação atual da
região de inserção do empreendimento, cuja frente de expansão da região Amazônica pela
rodovia Transamazônica, favoreceu a abertura de áreas e o desmatamento, sem que as leis
ambientais fossem cumpridas, especialmente, na manutenção de reservas legais (80% da área
da propriedade) como também de APPs. Nos dias atuais, observam-se na região,
remanescentes de florestas, resultantes da ocupação estimulada por projetos governamentais
de desenvolvimento baseado em substituição da floresta, especialmente por pastagens, o que
vem sendo praticado na região há mais de 30 anos.
No Prognóstico Global Volume 31 do EIA são analisados cenários de evolução da bacia do
rio Xingu sem o empreendimento (páginas 2 a 30) e com o empreendimento, neste caso, sem
serem consideradas as medidas ambientais propostas (páginas 32 a 53) e considerando tais
medidas (páginas 54 a 74).
Os estudos de AAI também abordam a questão dos cenários de desmatamento para a bacia do
rio Xingu (Estudos da AAI páginas 128 a 148 e Resumo Executivo - páginas 41 e 42).
A síntese dos resultados é a seguinte: para os cenários tendenciais 2015, processando-se as
informações disponibilizadas para o período 2000/2007, sumarizam-se alguns pontos notáveis
da projeção 2007/2015, sendo que a taxa efetiva de crescimento da área desmatada é de
4,11%.
Em termos absolutos, o incremento da área desflorestada é de 23.800 km2. Em 2015, a área
desmatada passaria para 98.776 km2, evoluindo de um valor inicial em 2007 de 74.976 km2.
Há uma quantidade expressiva de municípios da bacia que se encontram com o estoque de
florestas disponíveis (fora das áreas protegidas) praticamente exaurido, como os de Altamira
(3,3%), São Félix do Xingu (6,11%) e Ourilândia,do Norte (3,62%), entre outros. Em se
considerando 20% de área florestada como „o mínimo a ser preservado‟, esses municípios já
não se enquadram nessa situação, pois já ultrapassaram o limite de 80% de ocupação.
Há ainda, pontos notáveis a serem destacados no cenário tendencial 2025: a taxa efetiva de
crescimento da área desflorestada é de 3,15%, em vez de dos 4,11% preliminarmente
assumidos, devido à redução de estoques florestais e do possível aumento de fiscalização.
49
O incremento da área desflorestada é de 49.153 km2 e em 2025, a área desmatada passaria
para 134.699 km2, evoluindo de um valor de referência em 2015 da ordem de 98.776 km2.
Os sete maiores municípios, com participações acima de 4% em termos da contribuição ao
incremento da área desflorestada projetada para 2025, correspondem a São Félix do Xingu,
Altamira, Cumaru, Querência, Nova Ubiratã, Brasil Novo e Gaúcha do Norte, sinalizando,
mais uma vez, o direcionamento dos incrementos da ocupação.
Como se depreende, a manutenção de taxas de crescimento do desflorestamento de 4,11% e
3,15% a.a. do Cenário Tendencial deve levar a exaustão dos estoques de áreas em mais de
uma dezena de municípios.
Mais detalhes podem ser encontrados nas paginas 128 a 148 do relatório da AAI. Ver página
145 (volume 28), Avaliação Ambiental Integrada.
É importante enfatizar, entretanto, que a dinâmica que impulsiona a atual motivação do
desflorestamento, cujo padrão procurou-se estabelecer em alguma medida, relaciona-se
também a outras demandas de ordem socioeconômica.
O asfaltamento das estradas e vicinais da região , nos moldes de outras rodovias da
Amazônica (por exemplo, a BR-364), promoverá o uso alternativo do solo, com ocupação das
margens da rodovia e a expansão da substituição da vegetação florestal por plantios agrícolas,
pastagens e monoculturas. Para alguns segmentos da sociedade brasileira a floresta é vista
como fator impeditivo ao desenvolvimento, pois há fragilidade na implantação das políticas
alternativas para a conservação das florestas (redução de impostos, pagamento pela
manutenção da floresta em pé, pelos benefícios ambientais daquela floresta protegida).
Enquanto persistir o estímulo, através de políticas públicas para a conversão da floresta para
uso alternativo do solo, o desmatamento continuará acontecendo, independente da
implantação de hidrelétricas.
Não é devido a implantação de hidrelétricas que ocorre o desmatamento na região amazônica,
em termos proporcionais, as áreas que são desmatadas para a implantação de pastagem e
agricultura e que atualmente se encontram abandonadas, são muitas vezes maiores do que
áreas desmatadas ou alteradas pela implantação de hidrelétricas. Estes empreendimentos
podem, no máximo, potencializar uma situação que já ocorre no seu local de implantação
(AID). Em função da ausência do poder público local, estadual e federal.
Exemplos de criação de Unidades de Conservação como medida de compensação em torno de
empreendimentos hidrelétricos são vários na região amazônica, além de apoio na fiscalização
de limites de unidades já existentes e mesmo de terras indígenas (exemplos de Tucurui,
Balbina, Samuel) . No caso da UHE Balbina a efetiva implantação e manutenção das Terras
Indígena Waimiri Atroari e da Reserva Biológica do Uatumã, permitiu a proteção de cerca de
3,5 milhões de hectares de floretas nativas, ou seja, uma área dez vezes maior que a inundada
pelo reservatório.
Objetivando indicar áreas para a criação de unidade de conservação de proteção integral na
região do empreendimento, é proposto no AHE Belo Monte, o Projeto de Criação de
Unidades de Conservação, inserido no Programa de Compensação Ambiental (Volume 33,
item 12.7.5.1, págs. 154 a 160). Neste Projeto são propostos estudos em duas regiões de
interesse, situadas na margem direita do rio Xingu. A primeira região situa-se próxima Volta
Grande, margem direita do rio Bacajá, um dos mais importantes afluentes do Xingu. Esta
50
região limita-se com a T.I. Arara da Volta Grande situada na margem esquerda do rio Bacajá.
O polígono de interesse apresenta cerca de 80.000 hectares de floresta em melhor estado de
conservação, quando comparado com as florestas na margem esquerda do rio Xingu na região
da Volta Grande. A criação de uma unidade de conservação nesta região permitirá a proteção
dos últimos maciços florestais de terra firme presentes na região e também propiciará a
proteção das florestas aluviais do rio Bacajá.
A outra área potencial para ser uma unidade de conservação de proteção integral, situa-se do
sul da AII do AHE Belo Monte entre as T.I. Koatinemo e a T.I. Trincheira Bacajá (Unidade
2). Há um polígono com cerca de 200.000 ha, ainda com florestas bem conservadas, que
poderia, junto com as supracitadas terras indígenas, formar um bloco contínuo de floresta com
cerca de 1,6 milhões de hectares. A indicação de proteção de grandes extensões de maciços
florestais na Amazônia vem sendo preconizado por pesquisadores e estudiosos, sendo que
estas áreas teriam a capacidade de funcionar como unidades evolutivas, mantendo populações
viáveis de espécies em longo prazo (Peres 2005).
23. O hidrograma ecológico proposto garantira a manutenção das condições ecológicas
atuais da Volta Grande do Xingu e conseqüentemente da fauna aquática sobre a
qual se apóiam a segurança alimentar das famílias ribeirinhas e dos povos
indígenas aldeados e não aldeados que vivem nas margens da Volta Grande do
Xingu?
Para a região da Volta Grande, como já foi dito, espera-se um decréscimo na abundância nas
espécies de peixes. A proposição do hidrograma foi feita com base em eventos naturais, tais
como reprodução, recrutamento, alimentação.
Os estudos de ictioplâncton realizados no âmbito do EIA, observaram a ocorrência de larvas
de peixes com apenas dois dias de vida em vazões próximas de 8.000 m3/s. Isto indicou que
em vazões próximas a este valor, iniciam-se as atividades reprodutivas de peixes que realizam
deslocamentos laterais, utilizando as planícies de inundação (as florestas de várzea)
localizadas principalmente nos igarapés e afluentes do rio Xingu e nas regiões das ilhas
aluviais.
Os resultados completos dos estudos de ictioplâncton são apresentados no Volume 16 do EIA.
Neste Volume podem ser observados nas páginas 385 a 387 gráficos demonstrando a
composição e distribuição do ictioplâncton em vários períodos estudados, apontando os
estágios de desenvolvimento das larvas coletas por setor, biótopo e habitat amostrados.
Além destes resultados, com base nos levantamentos da ictiofauna foram feitas análises da
estrutura da comunidade de peixes existentes na Volta Grande, considerando os padrões
ecológicos e reprodutivos das espécies, como também quais as espécies são comumente
utilizadas pelas comunidades locais e de que forma. Tais levantamentos envolveram técnicas
de capturas utilizando diversas artes de pesca, como também entrevistas com moradores e
pescadores e levantamentos do desembarque pesqueiro. Os resultados dos levantamentos dos
estudos de ictiofauna e pesca são também apresentados no Volume 16 – Diagnóstico da AID e
ADA, capítulo de ictiofauna.
Com base nos parâmetros acima exposto e na dependência da comunidade de peixes
consumidos pela população humana, que utilizam as planícies de inundação para reprodução,
alimentação e recrutamento, foi sugerido um hidrograma de compromisso cuja vazão mínima
51
anual a ser atingida no período da cheia é de 8.000 m3/s a cada dois anos, com a replicação do
pulso de inundação das planícies. Espera-se que essa vazão atenda as necessidades ecológicas
e tróficas das espécies de peixes (para reprodução e recrutamento), propiciando a devida
reposição do estoque pesqueiro da região da Volta Grande.
Do ponto de vista pesqueiro, a redução de vazão irá facilitar a pesca, pois a capturabilidade
dos peixes aumenta com a extensão do período de estiagem. Por isso, será preciso um
monitoramento cuidadoso desta região para evitar a sobre pesca de certas espécies,
particularmente aquelas que são alvo da pesca ornamental, devido a maior facilidade de pesca
e ao aumento do esforço.
Para mitigar este impacto, foram sugeridas a indução e capacitação dos pescadores
ornamentais em atividades alternativas de geração de renda (principalmente cultivo de peixes
- no âmbito do Projeto de Aquicultura de Peixes Ornamentais e envolvê-los em atividades
turísticas), que poderão garantir a sobrevivência das comunidades da região da Volta Grande,
retirando um pouco a pressão sobre os estoques pesqueiros.
Especificamente para a população indígena são previstos os seguintes programas:
- Programas de Incentivo à Pesca Sustentável e de Aqüicultura de Peixes Ornamentais
os Projetos de Desenvolvimento de Atividades Produtivas e de Capacitação das
Populações Indígenas para a aqüicultura;
- Plano de Sustentabilidade Econômica e Programa de Desenvolvimento de Atividades
Produtivas e Capacitação da População Indígena, visando adequar as práticas de
pesca e a aqüicultura e desenvolver outras atividades produtivas e extrativistas.
Ainda, com o intuito de integrar o desenvolvimento de ações que visam a manutenção dos
recursos naturais da região da Volta Grande do Xingu mediante a redução da vazão a jusante
do barramento foi concebido um plano de gerenciamento do trecho de vazão reduzida, cujo
monitoramento de diversos parâmetros físicos, biológicos e sociais deverão gerar informações
para corrigir e controlar possíveis desvios que ocorram.
52
TEMA 3 – Povos Indígenas
Considerações:
Apresentam-se, a seguir, alguns esclarecimentos a afirmações consideradas equivocadas que
são apresentadas no texto de Considerações do Tema 3:
a) Foram realizados estudos antropológicos específicos para as TIs Arara da Volta Grande e
Paquiçamba, conforme TOMOS 2 e 3 do Volume 35 do EIA. Foram feitos levantamentos
primários sobre os recursos naturais e modos de vida destas comunidades, resultando no
diagnóstico, prognóstico e programas mitigadores. Portanto, estas comunidades integram o
conjunto da população impactada pelo empreendimento.
b) As TIs Xipaya e Kuruaya não constaram dos Termos de Referência emitidos pela FUNAI.
c) Os estudos etnoecológicos incluíram a TI Cachoeira Seca, identificando, entre outros, o
possível aumento da pressão sobre o território e seus recursos naturais. Estudos relativos a
regularização e desintrusão desta Terra Indígena são de competência legal da FUNAI.
24. Como dar continuidade a um projeto monstruoso como este com sérias e
irreversíveis interferências no modo de vida das populações locais (Potencializando
inclusive conflitos fundiários) sem que estejam solucionadas anteriormente todas
as questões relacionadas a regularização das terras indígenas (TI Arara da Volta
Grande, TI Cachoeira Seca, TI Juruna da Boa Vista e TI Paquiçamba?)
A regularização fundiária, revisão de limites e desintrusão de Terras Indígenas são
procedimentos de competência legal da FUNAI. Caso o empreendimento obtenha as licenças
necessárias para sua implantação, o empreendedor apoiará as articulações institucionais para a
regularização fundiária, fiscalização e melhoria da infra-estrutura das Terras Indígenas.
25. Como estão planejados e realizadas as Oitivas Indígenas? Quando? De que forma?
Em relação à oitiva dos índios, o Supremo Tribunal Federal, em decisão proferida pela
Ministra Ellen Gracie, em 16.03.2007, nos autos da Suspensão de Liminar nº 125, determinou
que se deve “permitir ao IBAMA que proceda à oitiva das comunidades indígenas
interessadas.”
Sendo assim, em consonância com o posicionamento do STF acerca da correta interpretação a
ser dada ao artigo 231, §3º, da Constituição Federal, e ao Decreto Legislativo federal 788 de
2005, e seguindo o procedimento de audiência pública, previsto nos artigos 32 a 35 da Lei
Federal 9.784/99 e na Resolução CONAMA 09/87, tem-se que as audiências públicas
conduzidas dos dias 10 a 15 de setembro de 2009 devem ser consideradas o momento em que
o IBAMA proporcionou a oitiva das comunidades afetadas pelo projeto do AHE Belo Monte.
26. O que acontecerá com as terras indígenas com o grande contingente populacional
que vem para a região?
Esta questão está abordada e analisada nos Estudos Etnoecológicos, Volume 35 do EIA,
TOMOS 2, 3, 4, 5 e 6.
53
A distância de cada Terra Indígena em relação aos locais das obras define a magnitude das
pressões advindas do fluxo migratório, assim como a proximidade das Terras em relação às
principais vias de acesso à cidade de Altamira. As Terras Indígenas situadas na região da
Volta Grande do Xingu e no entorno das rodovias Transamazônica e da BR-358
(Transassuriní) serão as mais suscetíveis as pressões decorrentes do incremento populacional
da região caso este empreendimento venha a ser implementado.
As possíveis conseqüências desta pressão para as populações indígenas incluem:
- Aumento da insegurança territorial;
- Aumento da competição pelos recursos naturais – caça, peixes, remanescentes
florestais;
- Aumento de doenças e maior exposição a situações de risco – prostituição,
alcoolismo, drogas;
- Aumento da demanda por serviços públicos de saúde e
- Alteração no modo de vida e nas fontes de sobrevivência dos povos indígenas.
A efetividade da implementação das medidas, planos e programas propostos para os povos
indígenas é essencial para a mitigação dos possíveis conflitos e dos impactos a que eles
estarão sujeitos. Assim, deverão ser implantados os programas gerais propostos no EIA, bem
como aqueles específicos para os povos indígenas, previstos nos Estudos Etnoecológicos,
Volume 35, dentre eles:
- Programa de Orientação e Monitoramento da População Migrante, visando orientar
os migrantes sobre a importância da integridade física e ambiental dos territórios das
TIs e AI, as particularidades culturais e modos de vida das populações indígenas;
- Programa de integridade e segurança territorial das TIs, incluindo apoio a aviventação
dos limites da TI Paquiçamba, à demarcação da TI Arara da Volta Grande do Xingu e
à capacitação e instrumentação de Agentes de Fiscalização Indígenas;
- Projeto de regularização fundiária, através do apoio a articulações institucionais para
a regularização das TIs Arara da Volta Grande do Xingu e Cachoeira Seca e AI
Juruna do km 17, desintrusão das TIs Apyterewa e Cachoeira Seca e revisão de
limites e aquisição de terras para a TI Paquiçamba;
- Programa de sustentabilidade econômica, incluindo desenvolvimento de atividades
produtivas e capacitação da população indígena;
- Programa de Incentivo à Estruturação da Atenção Básica à Saúde e de Vigilância
Epidemiológica, Prevenção e Controle de Doenças, incluindo apoio à capacitação de
Agentes Indígenas de Saúde e de Saneamento e Agentes Comunitários de Saúde.
Neste programa também estão incluídos o apoio à construção, instalação e reforma de
postos de saúde nas TIs, apoio à melhoria das instalações e do atendimento da Casai e
da Casa do Índio, além de apoio a ações preventivas de saúde e saneamento.
54
27. Por que não foram feitos estudos e projeções de impacto para os povos indígenas
Xipaya e Kuruaya?
Os povos Xipaya e Kuruaya, moradores das TIs homônimas, não foram incluídos nos Termos
de Referências da FUNAI.
Quando da realização dos estudos dos índios citadinos, identificou-se nesta população
significativa presença de indivíduos destas etnias na cidade de Altamira e no trecho da Volta
Grande do Xingu. Tendo em vista a distância dessas TIs aos locais das obras, não são
previstos impactos sobre essas comunidades que habitam essas Terras Indígenas. No entanto,
para os índios Xipaya e Kuruaya que residem na área urbana de Altamira e na Volta Grande
foram feitos estudos específicos relativos aos impactos sobre essas comunidades e previstas
ações de mitigação.
28. Quando, onde e com que agenda as associações indígenas foram contatadas pelas
empresas no decorrer desses anos dando algum tipo de explicação sobre o aumento
dos impactos em razão da construção da hidrelétrica?
As comunidades indígenas das TIs situadas na região do AHE Belo Monte vêm sendo
contatadas desde 2007, tendo recebido informações sobre o Empreendimento, seus Impactos e
os Programas para mitigá-los. Esses contatos foram registrados por meio de fotos e filmagens
e encontram-se disponíveis para consultas.
Os estudos realizados junto aos grupos indígenas pelos especialistas contaram com a
participação indígena e foram também períodos de troca de informações e esclarecimentos
sobre o empreendimento.
Nos Quadros a seguir estão demonstrados os contatos com as TIs e AI e os povos indígenas
durante os estudos realizados:
55
QUADRO 28-1 Agenda de Reuniões realizadas com as Populações Indígenas
Continua AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES CONSEQUÊNCIAS
VISTORIA INICIAL DA
FUNAI
- Obtenção de subsídios
para a elaboração do TR
- Apresentação do projeto
do AHE Belo Monte e seus
impactos
- Solicitação da indicação
de antropólogo da
confiança da comunidade
para a realização dos
Estudos Etnoecológicos
- Aldeia da TI
Paquiçamba
18/12/2007
FUNAI
ELETROBRÁS
ELETRONORTE
CNEC
THEMAG
- Aldeia da TI Arara da
Volta Grande do Xingu 19/12/2007
Indicação da
antropóloga Marlinda
Melo Patrício
- Aldeia da AI Juruna do
km 17 20/12/2007
Indicação dos
antropólogos
Antônio Carlos
Magalhães dos
Santos ou Maria
Elisa Guedes Vieira
- TI Trincheira Bacajá
Aldeia Bacajá
Aldeia Mrotidjãm
Aldeia Patikrô
Aldeia Pykayaká
28/10/2008
29/10/2008
09/12/2008
10/12/2008
Indicação dos
antropólogos Clarice
Cohn ou William
Fischer nas duas
primeiras aldeias
visitadas, indicação
endossada pelas
demais aldeias.
REUNIÃO PARA
APRESENTAÇÃO DAS
EQUIPES
- Retomada a explanação
sobre o projeto do AHE
Belo Monte e seus impactos
- Apresentação das equipes
técnicas responsáveis pelos
Estudos Etnoecológicos
- Aldeia da AI Juruna do
km 17 13/08/2008
FUNAI,
ELETROBRÁS,
ELETRONORTE,
CNEC, THEMAG,
Antropólogas M.
Elisa G. Vieira,
Marlinda M.
Patrício e equipes
- Aldeia da TI
Paquiçamba
14/08/2008
- Aldeia da TI Arara da
Volta Grande do Xingu 14/08/2008
56
QUADRO 28-1 Agenda de Reuniões realizadas com as Populações Indígenas
Continuação
AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES CONSEQUÊNCIAS
1º TRABALHO DE
CAMPO
- TI Paquiçamba
14/08/2008
a
25/08/2008
Antropóloga M.
Elisa G. Vieira e
equipe
- TI Arara da Volta
Grande do Xingu
14/08/2008
a
25/08/2008
Antropóloga
Marlinda Melo
Patrício e equipe
- AI Juruna do km 17
26/08/2008
a
29/08/2008
Antropóloga Maria
Elisa Guedes Vieira
e equipe
- TI Trincheira Bacajá
17/02/2009
a
03/03/2009
Antropólogas
Isabelle Vidal
Giannini e
Clarice Cohn
2º TRABALHO DE
CAMPO
- AI Juruna do km 17
07/11/2008
a
20/11/2008
Antropóloga M.
Elisa G. Vieira e
equipe
- TI Paquiçamba
12/11/2008
a
01/12/2008
Antropóloga Maria
Elisa Guedes Vieira
e equipe
- TI Arara da Volta
Grande do Xingu
13/11/2008
a
03/12/2008
Antropóloga
Marlinda Melo
Patrício e equipe
1ª. PALESTRA SOBRE O
AHE BELO MONTE
- Reapresentação do projeto
do AHE Belo Monte,
etapas de construção e
impactos
- Aldeia da TI
Paquiçamba
15/11/2008 ELETROBRÁS,
ELETRONORTE,
LEME,
Antropóloga Maria
Elisa Guedes Vieira
e equipe
- Aldeia da AI Juruna do
km 17
17/11/2008
57
QUADRO 28-1 Agenda de Reuniões realizadas com as Populações Indígenas
Continuação
AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES CONSEQUÊNCIAS
3º TRABALHO DE
CAMPO
- TI Paquiçamba
04/02/2009
a
27/02/2009
Antropóloga M.
Elisa G. Vieira e
equipe
- AI Juruna do km 17
06/02/2009
a
10/02/2009
Antropóloga Maria
Elisa Guedes Vieira
e equipe
- TI Arara da Volta
Grande do Xingu
14/02/2009
a
23/02/2009
Antropóloga
Marlinda Melo
Patrício e equipe
2ª. PALESTRA SOBRE O
AHE BELO MONTE
- Reapresentação do projeto
do AHE Belo Monte e
impactos
- Aldeia da AI Juruna do
km 17 10/02/2009 ELETROBRÁS,
ELETRONORTE,
LEME,
Antropóloga Maria
Elisa Guedes Vieira
e equipe
- Aldeia da TI
Paquiçamba
11/02/2009
REUNIÃO INICIAL
- Apresentação do projeto
do AHE Belo Monte, seus
impactos e os estudos
etnoecológicos em
andamento
- Aldeia da TI Kararaô 17/03/2009
FUNAI,
ELETROBRÁS,
ELETRONORTE,
Antropólogas
Regina Aparecida
P. Muller e Alice
Martins Villela
Pinto
- Aldeia da TI Arara
18/03/2009
e
19/03/2009
- Aldeia da TI Cachoeira
Seca
19/03/2009
e
20/03/2009
- Aldeias da TI
Apyterewa 21/03/2009
- Aldeia da TI Koatinemo 23/03/2009
- Aldeias da TI Araweté
Igarapé Ipixuna 24/03/2009
58
QUADRO 28-1 Agenda de Reuniões realizadas com as Populações Indígenas
Continuação
AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES CONSEQUÊNCIAS
AUDIÊNCIAS
INDÍGENAS
- Apresentação dos
resultados dos Estudos
Etnoecológicos realizados
- Esclarecimentos de
dúvidas dos índios sobre
os estudos, o
Empreendimento, os
impactos e o EIA
- Obtenção de informações
adicionais junto às
comunidades para
subsidiar o parecer da
FUNAI
- Aldeia da AI Juruna do
km 17
11/05/2009
FUNAI,
ELETROBRÁS,
ELETRONORTE,
CNEC, LEME,
THEMAG,
Antropóloga Maria
Elisa Guedes Vieira e
equipe
- Aldeia da TI
Paquiçamba
12/05/2009
e
13/05/2009
FUNAI,
ELETROBRÁS,
ELETRONORTE,
CNEC, LEME,
THEMAG,
Antropóloga Maria
Elisa Guedes Vieira e
equipe
- Aldeia da TI Arara da
Volta Grande do Xingu
13/05/2009
e
14/05/2009
FUNAI,
ELETROBRÁS,
ELETRONORTE,
CNEC, LEME,
THEMAG,
Antropóloga
Marlinda Melo
Patrício e equipe
- Aldeias da TI
Trincheira Bacajá
15/05/2009
e
16/05/2009
FUNAI,
ELETROBRÁS,
ELETRONORTE,
CNEC, LEME,
THEMAG,
Antropólogas Isabelle
Vidal Giannini e
Clarice Cohn
- Aldeias da TI
Apyterewa 17/05/2009
FUNAI,
ELETROBRÁS,
ELETRONORTE,
CNEC, LEME,
THEMAG,
Antropólogas Regina
Aparecida P. Muller,
Sônia da Silva Lorenz
e Fábio Augusto
Nogueira
- Aldeias da TI Araweté
Igarapé Ipixuna
18/05/2009
e
19/05/2009
- Aldeia da TI
Koatinemo
20/05/2009
e
21/05/2009
- Aldeia da TI Kararaô 21/05/2009
- Aldeia da TI Arara 22/05/2009
- Aldeia da TI Cachoeira
Seca 22/05/2009
59
QUADRO 28-1 Agenda de Reuniões realizadas com as Populações Indígenas
Conclusão
AGENDA LOCAL DATA PARTICIPANTES CONSEQUÊNCIAS
COMUNICAÇÃO DO
PARECER DA FUNAI
- Apresentação do parecer
preliminar da FUNAI sobre
a viabilidade do
empreendimento
- Oitivas Indígenas com
representantes do
Congresso Nacional.
- Audiências Públicas.
- Oportunidade dos índios
formularem perguntas sobre
o empreendimento e as
mesmas serem respondidas
pelos integrantes da equipe.
- Assinatura da ata de
reunião
- Aldeia da AI Juruna do
km 17 19/08/2009
IBAMA
FUNAI
ELETROBRÁS
ELETRONORTE
LEME
CNEC
- Aldeias da TI
Trincheira Bacajá 20/08/2009
- Aldeias da TI
Apyterewa 22/08/2009
- Aldeias da TI Araweté
Igarapé Ipixuna
23/08/2009
e
24/08/2009
- Aldeia da TI Koatinemo 25/08/2009
- Aldeia da TI Kararaô 26/08/2009
- Aldeia da TI Arara 26/08/2009
- Aldeia da TI Cachoeira
Seca 27/08/2009
- Aldeia da TI Arara da
Volta Grande do Xingu 02/09/2009
MPF
IBAMA
FUNAI
ELETROBRÁS
ELETRONORTE
CNEC
- Aldeia da TI
Paquiçamba 02/09/2009
AUDIÊNCIAS PÚBLICAS
AHE BELO MONTE
- Apresentação geral do
EIA pelo IBAMA em
Altamira, com a
viabilização da participação
das comunidades indígenas
estudadas
- Altamira 13/09/2008
Propostas e sugestões:
- Estudos específicos do tipo sugerido, de qualificação da grilagem de terras na TI
Cachoeira Seca, com proposta de ações, cronograma, custos e responsáveis não
podem ser levados a cabo pelo Empreendedor tendo em vista que não são decorrentes
do empreendimento fugindo assim totalmente ao escopo das propostas de um EIA.
60
TEMA 4: O Fluxo Migratório decorrente de Belo Monte e o Impacto para a Região
29. Quais os impactos do aumento do contingente populacional para a região do
Xingu e da Transamazônica?
Como já indicada na resposta da pergunta de número 1, os municípios de Altamira (sede) e
Vitória do Xingu (sede, Belo Monte e proximidades ) e Anapu (Belo Monte do Pontal) foram
identificados como as localidades em que deverão ocorrer os impactos mais significativos
relativos ao aumento do Fluxo Migratório (detalhados no volume 29 – Avaliação de Impactos,
paginas 73 a 173). São eles:
Alteração na Relação Oferta-demanda por Insumos, Mercadorias e Serviços;
Dinamização da Economia;
Ampliação de Oferta de Trabalho;
Maior demanda por equipamentos e serviços sociais;
Aumento da Demanda por Segurança Pública;
Aumento da Disseminação de Doenças Endêmicas e de Doenças Infecto-contagiosas;
Intensificação do Uso e Ocupação Desordenada do Solo e Especulação Imobiliária;
Sobrecarga na Gestão da Administração Pública;
Aumento da Pressão de Caça;
Aumento da Pressão sobre os Recursos Florestais Madeireiros e Não Madeireiros;
Impactos sobre os Usos Sustentáveis dos Recursos Pesqueiros – Sobre pesca e Perda
de Modalidade de Pescarias.
30. Como os municípios da área de influência estão sendo preparados para acolher
este contingente populacional extra? Considerando que a região afetada tem um
precário serviço de saúde, educação, segurança pública que já não atende a
demanda da região, como ficará a questão da segurança pública, saúde, educação
nos 11 municípios? Qual o cronograma dos programas de mitigação, os custos e
quem pagará essa conta? Quem assegura?
As limitações e precariedades dos serviços públicos da região estão devidamente identificadas
na caracterização socioeconômica dos municípios estudados (Volume 9 - Diagnóstico da Área
de Influência Indireta e nos Volumes 21 e 22 – Diagnóstico da Área de Influência Direta e no
Volume 29 - Avaliação de Impactos).
Estas fragilidades, que foram consideradas na proposição das ações ambientais previstas no
EIA, podendo-se destacar:
61
A necessidade de uma maior estruturação da atenção básica à saúde, através da
ampliação do Programa de Saúde da Família;
Na educação: a precariedade dos equipamentos escolares e da qualificação do corpo
docente, principalmente na área rural; a necessidade de maior acesso dos jovens ao
ensino médio e o alto índice de analfabetos;
A falta, para a maior parte da população, de serviços de saneamento adequados
(abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta e correta destinação dos
resíduos sólidos);
As limitações das estruturas administrativas públicas, principalmente as municipais;
Deficiência na estrutura dos serviços de segurança pública da região.
Considerando tais fragilidades foram propostas as seguintes ações, já relacionadas na resposta
da questão 1:
Fortalecimento das instituições públicas com o intuito de prepará-las e capacitá-las
para a gestão dos diferentes serviços que serão submetidos ao incremento de demanda;
Apoio à qualificação da mão-de-obra local e regional com vistas a aumentar a
capacidade de suprimento, pela população local (das AID e AII), das demandas de
trabalho que surgirão com as obras;
Apoio à melhoria da infra-estrutura social e urbana para que os municípios suportem
as mudanças decorrentes do aumento populacional da região.
Acompanhamento, monitoramento e apoio a população migrante, visando verificar a
evolução do afluxo migratório associado à implantação do AHE Belo Monte.
Essas ações, preferencialmente, devem ter início previamente à implantação do
empreendimento, de modo de que as administrações municipais estejam mais bem preparadas
para enfrentar os desafios que terão pela frente durante o período de construção, pois diversas
das medidas a serem tomadas deverão ter caráter antecipatório, a fim de se evitarem ou
minimizarem os prováveis impactos, o que é possível, pois uma vez que eles ocorram, irão
exigir um enorme esforço e dispêndio para serem revertidos.
Todos os custos definidos para as ações mitigadoras propostas são de responsabilidade do
empreendedor. As ações propostas nesses estudos estarão vinculadas ao licenciamento
ambiental do empreendimento.
31. Qual a capacidade em cada município da área de influência de absorver a mão de
obra extra, considerando-se o nível de desemprego local?
As projeções em relação a geração de empregos com a implantação do AHE Belo Monte
estimam a criação de 18.700 empregos diretamente vinculados às obras e outros 23.000
indiretos, com uma grande dinamização da economia de Altamira e Vitória do Xingu,
conforme detalhado na resposta da questão 2.
62
Portanto, para a implantação do AHE Belo Monte deverá prevalecer nos primeiros cinco anos
de sua construção uma demanda de trabalhadores acima da disponibilidade da mão de obra na
região, com a geração de muitos postos de trabalho e de oportunidades para a população
desocupada da AII, que conforme dados do Censo de 2000 chegava a 8815 pessoas, ou cerca
de 6% da população economicamente ativa. Destaque-se, ainda, que o maior contingente de
população que deverá afluir para a região se fixará preferencialmente nos municípios de
Altamira e Vitória do Xingu, com já mostrado na resposta da questão 2.
Naturalmente, haverá uma posterior redução destes postos de trabalho, resultante da
desmobilização dos trabalhadores e de parte da população atraída, a partir do quarto ano de
obra. Como características das grandes obras, observa-se que estes trabalhadores
desmobilizados, em sua maioria, partem em busca de outras oportunidades de trabalho. As
projeções indicam, também, que uma parte da população atraída para a região deverá
permanecer, quando do término da implantação do empreendimento, se incorporando a
população local, situação que deverá ocorrer em números expressivos em Altamira e Vitória
do Xingu.
No entanto, a definição antecipadamente de como ficará o mercado de trabalho para depois de
cinco ou mais anos após a construção de Belo Monte é prematura, já que importantes
mudanças podem ocorre na região, em função das melhorias significativas da infra-estrutura
local, previstas para os próximos anos, a possibilidade de dinamização de algum setor
específico da economia local, ou a implementação de planos de desenvolvimento ou
programas governamentais que gerem novos cenários futuros.
32. Considerando que a região já vive um caos fundiário, com a chegada de um grande
contingente populacional, qual seria o impacto sobre as unidades de conservação,
terras indígenas, assentamentos rurais, PDS e outras áreas ainda não destinadas
pelo governo federal?
A complexidade fundiária da região é tratada no Volume 9 – Diagnóstico da Área de
Influência Indireta, item 7.6.9, pág. 392 a 432. Conforme explicitado neste item, o histórico
da estrutura fundiária atual na AII, marcada por conflitos pela posse de terra e grilagem, é
diferenciada segundo o processo de ocupação e o tipo de uso da terra em cada um dos 11
municípios que a compõem, correspondendo a um mosaico fundiário complexo que inclui
projetos de assentamento governamentais de diferentes épocas; terras Indígenas e unidades de
conservação.
Na AII do AHE Belo Monte, por exemplo, estão situadas 15 Terras Indígenas, todas no
Médio Xingu, a maioria (67%) no Município de Altamira, com diferentes estágios de
reconhecimento, Entre essas TI‟s, 10 foram definidas para serem objetos de estudos
etnoecológicos, conforme Termos de Referência específicos emitidos pela FUNAI. Existem
ainda Reservas Extrativistas e outras unidades de conservação.
Os municípios de Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu não possuem
nenhuma Unidade de Conservação; a porção do Município de Altamira correspondente à sua
inserção na AID também não possui.
Nas áreas rurais contidas na Área de Influência Direta do AHE Belo Monte, pode-se observar
que após 30 anos de ocupação conduzida principalmente pelos assentamentos do INCRA,
incluindo os municípios de Altamira, Anapu, Brasil Novo e Vitória do Xingu e Senador José
63
Porfírio, observam-se situações diferenciadas de consolidação de áreas de atividade
agropecuária, processos de degradação do ambiente natural e disputas pela terra.
Em linhas gerais, há uma estabilização da ocupação das áreas rurais mais antigas com, em
muitos casos, o decréscimo de população, em oposição ao crescimento da população das áreas
mais ao sul, na margem direita do rio Xingu. Tal crescimento populacional vem pressionando
as áreas ainda preservadas, incluindo áreas de jurisdição do INCRA e do ITERPA, as terras
indígenas, especialmente a TI Arara da Volta Grande, através dos usos dessas áreas para a
exploração da madeira e para as atividades agropecuárias tradicionais da região.
Na margem esquerda deve-se destacar a condição da TI Paquiçamba que ficará no Trecho de
Vazão Reduzida e em local relativamente perto de um dos canteiros de obra.
Portanto, avalia-se que as áreas de florestas ainda não ocupadas da margem direita do rio
Xingu, nos municípios de Altamira, Senador José Porfírio e Anapu e as Terras Indígenas
Paquiçamba e Arara da Volta Grande são as áreas mais vulneráveis, onde pode ocorrer um
incremento da pressão sobre áreas ainda preservadas, em função da implantação do
empreendimento.
Por outro lado, alguns aspectos relacionados a seguir, são fatores que contribuem para
diminuir a possibilidade da ocorrência de impactos decorrentes da atração de população para a
região em outras áreas protegidas:
O empreendimento estar sendo proposto em áreas de ocupação rural de 20/30 anos já
bastante antropizadas;
Uma grande disponibilidade de áreas agricultáveis e para manutenção de rebanho
bovino já consolidadas;
A grande distância de muitas das áreas protegidas do local do empreendimento;
O perfil predominantemente urbano da população que será atraída para a região e a
tendência a sua concentração espacial próxima aos locais de obra e nas sedes
municipais.
Em relação aos impactos descritos destacam-se as seguintes ações:
Criação de duas novas Áreas de Preservação Permanentes com cerca de 280.000 ha,
na margem direita do rio Xingu;
Ações de apoio a garantia dos limites das Terras Indígenas;
Utilizar áreas já em uso para fins agropecuários para o reassentamento da população
rural que terá que ser remanejada, como previsto do Programa de Negociação e
Aquisição de Terras.
64
33. Quem garantirá e como será garantida a segurança alimentar de toda a população
desta região com a chegada de um grande contingente populacional, considerando-
se o aumento da pressão sobre as terras indígenas, as propriedades rurais, os rios
da região, a especulação fundiária e o deslocamento de agricultores familiares
responsáveis pela produção de alimentos na região?
O provimento da alimentação da população mobilizada pelo empreendimento ocorrerá de
diversas maneiras, através de fornecedores da região, de outros municípios do Pará e mesmo
de outros estados da federação, que levará a um incremento na demanda de produtos
alimentícios in natura e industrializados.
O empreendedor e empreiteiras por ele contratadas, necessariamente, terão que garantir a
alimentação dos funcionários diretamente vinculados a implantação do empreendimento.
Os estudos mostraram que, de acordo com os dados do Censo Agropecuário de 2006,
analisados no volume 9 - Diagnóstico da Área de Influência Indireta, os municípios que
compõem a AII possuem um grande rebanho bovino (cerca de 1.700.000 cabeças de gado),
destinado, em sua maior parte, para ser abatido em municípios fora da região do Xingu, como
Marabá.
Outro dado a ser considerado, é que as áreas destinadas à agricultura, nesses mesmos
municípios, são cerca de 316.000 ha, dos quais 103.000 ha destinados as lavouras
temporárias, existindo tradição de produção de mandioca, arroz, feijão, milho, banana,
melancia, mamão, tomate, dentre outros produtos.
Portanto, existem significativas áreas para uso agrícola e para a manutenção de amplo
rebanho bovino já consolidadas nos onze municípios estudados, o que indica que não há
necessidade de incorporação de novas áreas para estes fins.
Outro insumo alimentar importante é o pescado e ao avaliar esta questão constata-se que
existe uma pesca comercial de importância econômica no rio Xingu, que captura entre 1.500 e
3.000 t por ano. A frota comercial que atua no Baixo Xingu, com sede em José Porfírio ou em
Macapá, Belém e Santarém não tem acesso aos locais de pesca acima de Belo Monte, devido
às cachoeiras, que atuam como barreiras à navegação. Outra frota atua acima de Belo Monte.
Parte significativa da produção é destinada para mercados fora da bacia do Xingu, como
Macapá, Belém e Santarém.
Este aumento de demanda poderia ser potencialmente suprido se a produção fosse direcionada
apenas para o mercado local. Contudo, isto parece improvável, já que a demanda externa não
teria como ser atendida em outros portos, considerando a produção pesqueira atual do estado.
Desta maneira deve-se avaliar a possibilidade do aumento da pressão pesqueira sobre os
recursos existentes no rio Xingu, bem como os impactos decorrentes nas alterações
ambientais e da biodiversidade ictiítica, que podem ter como conseqüência mudanças nos
padrões de pesca da região.
As ações preventivas e mitigadoras deste impacto objetivam primeiramente implantar o
monitoramento contínuo e a análise integrada dos dados de pesca com aqueles sobre a
ecologia das espécies alvo das pescarias. Além disso, incluem também a criação de
ferramentas no que diz respeito ao controle da pesca e suas modalidades de manejo, evitando
65
medidas centralizadas, como é comum na gestão dessa atividade. Mecanismos adaptativos de
gestão, que possuam uma forma de compartilhar as responsabilidades das decisões tomadas
entre o governo, a empresa e os pescadores, poderão garantir maior eficiência e menores
níveis de conflito na pesca.
No âmbito do Plano de Conservação do Ecossistema Aquático, destacam-se os projetos de
Aqüicultura de Peixes Ornamentais, de Monitoramento da Ictiofauna e de Incentivo à Pesca
Sustentável, como também o PACUERA que tem como prerrogativa ordenar o uso dos
reservatórios e a ocupação do seu entorno.
Portanto, existe um potencial para que parte dos insumos alimentares necessários seja suprida
pela região, potencial que deve ser incentivado para ampliar os benefícios advindos da
dinamização econômica que o empreendimento pode propiciar, devendo-se, no entanto, serem
observados os cuidados mencionados.
Ações neste sentido estão propostas no Programa ao Desenvolvimento de Atividades
Produtivas, que visa ampliar às alternativas da população local de inserção nas atividades a
serem desenvolvidas, aproveitando oportunidades de geração de renda vinculadas ao período
de implantação e operação da AHE, através da qualificação de produtores agropecuários a se
tornarem fornecedores de insumos para o empreendimento.
Quanto às populações das Terras Indígenas está proposto um Programa de Segurança
Alimentar.
34. Qual será o impacto da chegada deste contingente populacional formado em sua
maioria por pessoas do sexo masculino sobre a violência sobre as mulheres e as
crianças? E sobre a violência, o abuso sexual, prostituição infantil, o trabalho
infantil, foram feitas projeções?
Esses impactos estão tratados no EIA no Volume 29, a partir da página 73, relacionando-se à
rede de precedência derivada do impacto de aumento do fluxo migratório, conseqüente da
ação de mobilização e contratação de mão-de-obra, podendo-se destacar, em linhas gerais:
A tendência ao agravamento das deficiências e a sobrecarga dos serviços de saúde. O
maior problema deverá residir na migração da população atraída pelo
empreendimento e pelo aumento da razão de masculinidade (maior número de
adultos jovens do sexo masculino, solteiros ou longe da família);
O exposto acima terá um efeito negativo sobre os serviços de saúde dos municípios,
podendo ocorrer ainda a perda de recursos financeiros dos municípios sobre os
repasses federais do Sistema Único de Saúde (SUS), devido à população real ser
maior que a população estimada nos anos intercensitários (esta estimativa é utilizada
para o cálculo de vários repasses financeiros provenientes da União);
Ao lado dos problemas supracitados, outros poderão ser agravados, como a
prostituição adulta e infantil;
A pressão sobre a estrutura de segurança pública, já deficiente, motivada pelo
aumento do fluxo migratório, poderá acarretar o crescimento das ocorrências
66
policiais e, em conseqüência, da demanda por melhoria na estrutura de segurança
pública.
Percebe-se que a situação, que hoje já é deficitária, tenderá a piorar se não forem adotadas
medidas de antecipação e neutralização dos problemas, estimando-se que a maior demanda
pela melhoria da segurança ocorra nos ambientes urbanos, onde deverá se concentrar a
população atraída, principalmente na sedes municipais, nos aglomerados humanos e no
entorno dos canteiros de obras. Assim, as cidades de Altamira e Vitória do Xingu, o distrito
de Belo Monte e as localidades próximas aos canteiros de obras dos Sítios Bela Vista,
Pimental e dos Canais (Ressaca, Garimpo do Galo, Ilha da Fazenda) deverão exibir as
maiores demandas por segurança pública.
Por fim, ressalta-se que as previsíveis oscilações no fluxo migratório ao longo do período de
construção da usina, condicionadas pelo ritmo das obras, determinarão uma maior ou menor
demanda por segurança pública ao longo do tempo. Neste sentido, lembra-se que, conforme
atestam os estudos de projeção demográfica realizados, a população atraída tende a crescer
durante os quatro primeiros anos de implantação do empreendimento, passando a declinar a
partir daí.
As ações propostas concentram-se no Programa de Apoio à Gestão dos Serviços Públicos.
Esse Programa visa ampliar a capacidade dos organismos públicos no atendimento das
demandas da população em relação às necessidades de habitação, saneamento ambiental,
energia, transporte, comunicação, educação, saúde, cultura, esporte e lazer e de segurança
pública.
67
TEMA 5 – Custos da Obra
35. Qual é afinal o custo previsto para a obra, incluindo todos os custos das ações de
prevenção, monitoramento, mitigação e potencialização? Como foram calculadas
essas medidas? Nem os custos citados e nem a forma de cálculo de tais custos
foram encontrados no EIA-RIMA e em nenhum outro documento divulgado para
a sociedade. O que está sendo analisado pelo Tribunal de Contas da União (TCU)?
O custo previsto para a obra, incluindo todos os custos das ações de prevenção,
monitoramento, mitigação e potencialização, está sendo revisado pela Empresa de Pesquisa
Energética - EPE e encaminhado para o Tribunal de Contas da União – TCU.
36. Como chegaram no valor de R$ 476.182.000 para “Meio Ambiente” e o que está
contido nos R$ 766.089.000 da rubrica denominada “Outros custos + eventuais”
(Apresentado também na página 48 do volume 1)? Já houve revisão para esses
custos? Se sim, qual o novo número e como foi determinado, o que foi
considerado? Apresentar memorial de cálculo detalhado.
Os números citados para Meio Ambiente referem-se aos valores previstos no estudo de
viabilidade elaborado pela ELN em 2002 e, portanto, não contemplam as medidas sugeridas
no presente EIA entregue ao IBAMA. Retratam, portanto, os valores que tinham sido
propostos em etapas anteriores.
37. O que, de fato, será de responsabilidade do governo e o que será de
responsabilidade dos empreendedores? Quais as garantias legais de que serão
realizadas as medidas de prevenção, mitigação, monitoramento e potencialização?
O que há de diferente em termos de garantia de outros empreendimentos já
realizados na Amazônia como Tucuruí, e as usinas do Madeira, por exemplo?
A responsabilidade pela implementação dos planos e programas ambientais previstos no EIA
é do empreendedor, podendo ser efetivados convênios específicos com instituições públicas
visando a racionalização da implantação, sem, contudo, haver transferência do ônus
financeiro e da responsabilidade legal pelos resultados.
A licença prévia, instrumento que embasa a viabilidade do empreendimento, tem valor legal,
oferecendo garantias suficientes quanto à obrigatoriedade do empreendedor cumprir com a
implantação dos planos e programas previstos no EIA.
A licença prévia é específica para cada empreendimento, refletindo as especificidades de cada
local e obra. Nesse sentido, somente após a emissão da LP para o empreendimento Belo
Monte, será possível avaliar a condição específica que será imposta para este empreendimento
e eventuais distinções em relação a outros empreendimentos já implantados na região.
Em complemento, destaca-se que as exigências contidas na Licença Prévia e de Instalação
serão fiscalizadas pelo IBAMA, o que garantirá a sua execução, sendo que adicionalmente
outras ações ficarão a cargo do Governo Federal e do Governo Estadual no âmbito do PDRS
Xingu.
68
38. Muitas das mitigações precisam ser efetuadas antes do início das obras e
demandam tempo, como processos de regularização fundiária, formação de mão
de obra qualificada ou infra-estrutura de saúde, educação e segurança pública, por
exemplo. Quais as garantias de que essas mitigações serão realizadas nos tempos
necessários? Como os cronogramas de implantação da obra estão relacionados
com os cronogramas das ações de prevenção, mitigação, potencialização e
monitoramento?
As respostas para essa questão estão nos volumes 1, item 4.2.4.11.4 – Cronograma de
Construção e de início de Operação, páginas 295 a 307; e no volume 33, que apresenta todos
os Planos, Programas e Projetos previstos no EIA, com seus respectivos cronogramas de
implantação.
De fato, muitas ações deverão ser iniciadas antes do começo das obras. É por isso que grande
parte dos planos, programas e projetos propostos no EIA, especialmente os relacionados às
ações socioeconômicas, têm previsão de serem implantados antes do inicio das obras, sendo
que alguns deverão se iniciar tão logo se conheça o empreendedor, ou seja, após o leilão. Um
exemplo, é a implementação do Sistema de Gestão Ambiental, que é sistema gestor de todos
os Planos, Programas e Projetos previstos no EIA. Esse sistema deverá obrigatoriamente ter
seu início previamente às atividades de mobilização da(s) empresa(s) construtora(s),
perdurando durante toda a Etapa de Implantação, bem como aquelas de Enchimento e de
Operação.
A título de exemplo são citados mais alguns desses programas/projetos previstos para iniciar
antes das obras. O Programa de Negociação e Aquisição de Terras e Benfeitorias na Área
Rural deverá ser implementado ainda na Etapa de Planejamento, após a concessão da LP em
função da necessidade de complementação de levantamentos de campo necessários ao
detalhamento do Plano Básico Ambiental, devendo se estender durante toda a etapa de
construção do empreendimento.
O Projeto de Regularização Fundiária Rural, conforme estabelecido no EIA (Volume 33, pág.
216) deverá ter início na Etapa de Planejamento, estendendo-se por toda a etapa de construção
do empreendimento.
Para esse Programa é prevista a seguinte seqüência de atividades:
- Organização do sistema de apoio jurídico e social para os atingidos;
- Contatos e formalização de parceria com os órgãos estadual e federal (INCRA e
ITERPA);
- Levantamento cartorial e documental das situações de posse dos imóveis;
- Identificação e agrupamento dos atingidos por situações específicas;
- Encaminhamentos administrativos e jurídicos para viabilizar o processo de
regularização fundiária, acompanhamento periódico e avaliação, em conjunto
com os órgãos parceiros.
O Programa de Capacitação de Mão de obra deverá iniciar antes da mobilização para
implantação dos canteiros, perpassando, pelo menos, os cinco primeiros anos de obra. Ou
69
seja, as ações deste Programa deverão ter seu começo logo após a definição do empreendedor
a ser responsável pela implantação e operação do AHE Belo Monte, a partir da realização do
Leilão de Concessões da ANEEL, considerando-se o cenário de concessão da LP para o
empreendimento pelo IBAMA (Volume 33, pag.29).
39. Em audiências na cidade de Altamira e no EIA, foi apresentado que Belo Monte é
um empreendimento que gera uma energia muito barata (R$ 748/kW).
Considerando que o custo da obra pode ser mais de quatro vezes maior que o valor
divulgado no EIA e que a energia firme (4.462 MW) é de 39% da potência
instalada, qual é o custo do kWh para a sociedade?
O edital da ANEEL para o leilão de concessão do AHE Belo Monte conterá um valor teto de
referência para o MWh que será remunerado pelo Setor Elétrico ao empreendedor vencedor
do certame. No leilão serão apresentadas as propostas sendo vencedora aquela que
corresponder ao menor valor, sempre menor ou igual ao valor teto definido pelo edital.
70
TEMA 6 – Questões Gerais
40. Quais as Justificativas para o caráter de urgência da obra?
O Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2008-2017 do Ministério de Minas e
Energia-MME, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética-EPE, apresenta a seguinte
projeção de acréscimos anuais à carga de energia (MWmédio) do Sistema Interligado
Nacional-SIN.
unidade: MWmédio
ANO CARGA DE ACRÉSCIMOS ANUAIS
ENERGIA DO SIN A CARGA DO SIN
2008 52.189
2009 54.995 2.806
2010 57.838 2.843
2011 60.605 2.667
2012 64.262 3.757
2013 67.155 2.893
2014 70.129 2.974
2015 73.201 3.072
2016 76.686 3.485
2017 80.111 3.425
Fonte: EPE - PDEE 2008-2017
De acordo com esta projeção, que inclui as interligações dos sistemas isolados do Acre e
Rondônia ao subsistema Sudeste/CO em 2009 e dos sistemas isolados de Manaus, Macapá e
margem esquerda do Amazonas ao subsistema Norte em 2012, pode-se observar o expressivo
crescimento anual dos acréscimos a carga de energia do SIN.
O cronograma de implantação do AHE Belo Monte prevê a entrada em operação de uma
unidade geradora a cada três meses, estimando-se que a motorização plena do
empreendimento seja concluída em cerca de 51 meses.
Se fosse possível a entrada em operação de todas as suas unidades geradoras em apenas um
ano, hipótese infactível, pelo porte e dimensão do empreendimento, a energia produzida pelo
AHE Belo Monte (da ordem de 4.600 MWmédios) seria totalmente absorvida pelo
crescimento do mercado de energia do SIN em apenas 20 meses.
Se Belo Monte não for construída, as alternativas de mais rápida implantação em substituição
a esta contribuição energética de fonte limpa e renovável, seriam as termelétricas a óleo
combustível, a exemplo dos resultados obtidos nos recentes leilões de energia nova
promovidos pelo Governo Federal.
41. Na apresentação da equipe de Avaliação Ambiental Integrada foram citadas 8
PCH’s na bacia do Xingu. Quantas PCH’s estão com processo tramitando nesse
momento na Bacia do Xingu? Qual o limite de PCH’s que a bacia suporta
considerando também o AHE Belo Monte? Quais os impactos mapeados das
PCH’s para a Sociobiodiversidade da Bacia?
O estudo da AAI da bacia do rio Xingu, através dos dados fornecidos pela ANEEL,
identificou oito PCHs localizadas nas cabeceiras do rio Xingu e seus principais formadores e
afluentes (Iriri), consideradas aquelas previstas, em implantação e implantadas.
71
Não existe norma jurídica ou mesmo estudo técnico que defina de antemão um “limite” para o
número de PCHs que “a Bacia Suporte”.
A implantação de uma PCH em determinada bacia hidrográfica está condicionada a
aprovação de um estudo técnico e outorga de uma concessão pela ANEEL e ao processo de
licenciamento ambiental específico, definido pelo órgão ambiental competente.
Os estudos da AAI avaliam as conseqüências da implantação conjunta de empreendimentos
hidrelétricos na bacia, propondo diretrizes e recomendações. Porém, não tem por objetivo
avaliar a viabilidade ambiental desse conjunto de empreendimentos ou mesmo determinar um
“limite” para a bacia.
O QUADRO 41-1 a seguir apresenta os efeitos ambientais avaliados como importantes no
âmbito da AAI.
QUADRO 41-1 Impactos que representam efeitos importantes
Ecossistemas Aquáticos e Terrestres
Perdas de potencial mineral
Perda e fragmentação de habitats terrestres
Alteração na dinâmica hidráulica dos rios e alteração da qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos
Depreciação da Ictiofauna Nativa
Desflorestamento
Socioeconomia
Incremento do Valor Adicionado Fiscal Municipal
Aumento da receita municipal devido ao aumento da quota parte municipal
Interferência sobre populações
De forma resumida, o resultado da avaliação indicou:
a) Intensidades baixas ou muito baixas para o impacto do meio físico;
b) Entre baixas e médias para ecossistemas terrestres, à exceção do AHE Belo Monte,
avaliado como alta;
c) Entre baixas a muito altas intensidades (pelo menos para um impacto) para
ecossistemas aquáticos, sendo alta para PCH Culuene, muito alta para as PCHs
Paranatinga I e II e para a UHE Belo Monte;
d) Baixas para aspectos socioeconômicos à exceção de Belo Monte.
72
42. Qual a correlação identificada entre a construção do AHE Belo Monte e PCH’s na
Bacia do Xingu, considerando também as obras previstas nas BR-163 e
Transamazônica e as construções das linhas de transmissão de Belo Monte e
PCH’s?
Os estudos da AAI analisaram os efeitos sinérgicos e cumulativos existentes entre as PCHs e
a AHE Belo Monte, o que se entende contempla a questão da “correlação” entre PCHs e
AHE Belo Monte, bem como demais processos de ocupação antevistos para a bacia do rio
Xingu, citado no requerimento (AAI páginas 145 a 160).
Em resumo, os estudos da AAI indicam que não são previstos efeitos sinérgicos e cumulativos
significativos entre as PCHs e a AHE Belo Monte, particularmente condicionados pela longa
distância que separa os empreendimentos, pelas características das regiões onde se inserem
cada um deles e pelo reduzido número e porte das PCHs.
A AAI em suas análises aponta as seguintes conclusões sobre efeitos sinérgicos e cumulativos
entre a AHE Belo Monte e as PCHs (Páginas 43 e 44 - Resumo Executivo).
Para os ecossistemas terrestres:
“Em síntese, a implantação dos aproveitamentos hidrelétricos não cria sinergias de impactos
relacionados com os efeitos dos empreendimentos, mas se relaciona com a dinâmica de
ocupação existente e com os processos de desflorestamento em curso. A presença de PCHs,
dada a distância em que se encontram do AHE Belo Monte e sua pequena expressão em
termos de território afetado, não induz, per se, processos de transformação da paisagem
considerando-se o médio e longo prazo e a escala regional e, portanto, não se relacionam
com a dinâmica da porção central e norte da bacia hidrográfica.”
Para os ecossistemas aquáticos:
“As grandes distâncias que separam as PCHs, situadas a montante da bacia, do
compartimento Corredor Transamazônico, onde está projetada o AHE Belo Monte
(superiores à 900 km) e as dimensões reduzidas de seus reservatórios fazem com que não
existam interferências entre compartimentos e entre os efeitos dos empreendimentos, do
ponto de vista do regime hidrológico e dos aspectos limnológicos e qualidade da água”
Para a socioeconomia:
“Para tanto, deve-se considerar que, no campo da socioeconomia, as possibilidades de
interação entre duas regiões são determinadas basicamente pelo grau de acessibilidade física
resultante da infra-estrutura de transporte, considerando suas distâncias e graus de
polarização prevalecente entre seus núcleos urbanos, sendo importante adicionar também a
disponibilidade de rede de telecomunicações e energia.
Desse modo, esses aspectos são aqueles que concorrem para viabilizar em maior ou menor
grau a transmissão de impactos socioeconômicos no território da bacia, sendo importantes
nesse sentido as duas rodovias que correm paralelo no sentido norte sul, a Belém- Brasília
(BR 010) e a Cuiabá-Santarem (BR 163).
Conforme visto no capítulo referente ao diagnóstico, esses aspectos determinam um reduzido
grau de interação internamente à bacia, para o que contribui também a existência do
73
compartimento Continuum de Áreas Legalmente Protegidas ocupando vastos territórios no
centro da bacia no sentido norte-sul.
Do que resulta que a maior parte dos núcleos urbanos da bacia mantém relações
socioeconômicas mais intensas com cidades exteriores a bacia, condição que determinará de
modo geral uma baixa sinergia entre os compartimentos e seus impactos derivados dos
empreendimentos.”
43. Qual a demanda prevista de madeira para a construção de Belo Monte em cada
uma das fases da obra? Considerando a obra em si, acampamentos, casas para
funcionários em Altamira, Vitória do Xingu, Belo Monte e outras cidades da
região? Considerando também a instalação de no mínimo 96.000 pessoas na
região? Qual a origem prevista dessa madeira? Há algum programa que prevê a
legalização de projetos de manejo para oferecer madeira legalizada para o
empreendimento?
Este nível de detalhamento só é possível de ser feito no projeto básico de engenharia que é
será desenvolvido pelo empreendedor responsável pela construção e operação do
empreendimento definido após o leilão. Atualmente, em grandes obras de engenharia os
empreendedores utilizam madeira com certificação.
44. Qual o cenário previsto no Plano Decenal para a expansão das indústrias
eletrointensivas na Amazônia? Qual o plano para a expansão dessas indústrias no
estado do Pará ou em áreas de influência na Bacia do Xingu? Caso tenha esse
plano, há uma projeção de demanda energética para esses empreendimentos?
Quanto?
Os cenários do PDE 2008-2017 consideram as expansões de todas as atividades econômicas,
variando segundo a intensidade de crescimento do Produto Interno Bruto – PIB; baseiam-se
em premissas de crescimento econômico e demográfico formando as premissas setoriais.
As indústrias eletro intensivas, como todas as indústrias, foram contempladas no perfil
produtivo da região Amazônica, nas regiões e estados cujas potencialidades apontam para a
sua utilização no período decenal do PDE.
As empresas interessadas na implantação de processos eletro-intensivos no país apresentam
seus planos de investimentos, novas expansões (projetos existentes ou novos projetos), os
quais são avaliados pelo Setor Elétrico Brasileiro (MME, EPE, Operador Nacional do Sistema
- ONS e concessionárias de energia elétrica) quanto à sua viabilidade temporal e à
factibilidade legal e institucional, para então serem incorporadas ao planejamento setorial.
Existem, sim, projetos de indústrias eletro intensivas previstos no PDE para o Estado do Pará,
onde ocorrem as grandes reservas minerais da Amazônia. Neste item, cabe destacar uma
questão estratégica regional de cunho estritamente econômico. Trata-se de oportunidade
peculiar que a região Amazônica dispõe no que concerne aos seus recursos naturais,
associando o potencial mineral ao potencial hidráulico para exploração energética. A
possibilidade de exploração sustentável da cadeia mineral associada à exploração da energia
renovável dos recursos hídricos pela hidroeletricidade, faz da Amazônia uma fronteira de
destaque para o país, com oportunidade de se colocar como fronteira para o mundo, evoluindo
74
de posição de exportador de commodities, agregando valor a estes, e estabelecer-se como
grande produtor mundial com desenvolvimento sustentável desta região.
Trata-se de exploração de minério de ferro, de cobre, de níquel, de bauxita, de caulim,
localizados tanto na província mineral de Carajás quanto na calha do Rio Amazonas, margens
esquerda e direita. No horizonte decenal do PDE, incidem projetos da cadeia mineral da
bauxita, cobre, níquel e minério de ferro.
No PDE 2008-2017 existe uma projeção de demanda de energia elétrica para esses projetos,
os quais são detalhados pelas empresas/agentes e encaminhadas à EPE, ONS e outras
instituições, que por sua vez se utilizam das informações para elaborar seus planejamentos de
expansão e operação.
45. Qual o quadro de disponibilidade futura de energia considerando o Plano Decenal
de expansão de energia, a previsão da Eletrobrás de construção de 5 a 15
hidrelétricas de grandes dimensões no Peru, com a maioria da energia (80%)
destinada para o Brasil? Isso não significa que vai ter energia sobrando na
próxima década?
O governo peruano propôs uma parceria com o governo brasileiro para estudar seis
aproveitamentos hidrelétricos na Amazônia Peruana, que totalizam 7.564 MW.
A viabilidade destes empreendimentos e a viabilidade da importação de sua energia é uma
hipótese que depende de fatores técnicos e políticos para a sua confirmação. O atual estágio
dos estudos, não permite demonstrar uma opção de garantia de suprimento ao mercado de
energia elétrica brasileiro.
O PDE 2008-2017 do Ministério de Minas e Energia-MME, elaborado pela Empresa de
Pesquisa Energética-EPE, não considerou a importação da energia produzida por esses
empreendimentos pelo SIN até 2017, uma vez que os estudos de viabilidade técnica,
econômica e ambiental dos mesmos estão sendo elaborados.
46. Há um plano de desenvolvimento sustentável da região? Esse plano foi discutido
com as comunidades? Quando? Quem participou? Como foi a metodologia do
processo?
O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Xingu – PDRS Xingu - elaborado pelo Núcleo
de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará, sob a orientação da Secretaria
de Estado de Integração Regional do Pará e coordenação da Casa Civil da Presidência da
República, é o plano de referência que deverá pautar o desenvolvimento regional de forma
sustentável. A metodologia utilizada no processo de elaboração do PDRS Xingu foi a
realização de consultas públicas nos municípios da área de influência do AHE Belo Monte.
As consultas públicas ocorreram no período de 15 a 21 de fevereiro de 2009, conforme
cronograma abaixo:
75
CONSULTAS PÚBLICAS DO PDRS XINGU
16/02/2009 Municípios de Altamira, Brasil Novo, Anapu e Pacajá
18/02/2009 Municípios de Senador José Porfírio, Vitória do Xingu e Porto de Moz
20/02/2009 Municípios de Uruará, Medicilândia e Placas.
As Consultas Públicas foram organizadas e divulgadas pela Secretaria de Estado de
Integração Regional do Pará e contaram com a participação ampla da sociedade civil
organizada, dos órgãos de governo estadual e municipais, da Casa Civil e da Secretaria Geral
da Presidência da República, de instituições federais atuantes na região como o INCRA e o
DNIT e de vários ministérios: MME, MMA, MI, MT, MAPA, MCidades, MDA, MDS.
47. Qual o quadro de disponibilidade futura de energia considerando o Plano Decenal
de expansão de energia, a previsão da Eletrobrás de construção de 5 a 15
hidrelétricas de grandes dimensões no Peru, com a maioria da energia (80%)
destinada para o Brasil? Isso não significa que vai ter energia sobrando na
próxima década?
Questão igual à nº 45. Vide resposta na questão 45.
48. Qual a demanda prevista de peixe, carne bovina e cereais e que porcentagem
estima-se que será fornecida pela região? O quanto virá de outras regiões? De
onde? Como a região será preparada para esse empreendimento do ponto de vista
do abastecimento das cidades que terão inchaço populacional?
É certo que na região, como mostrado na resposta da questão 33, existe a disponibilidade de
áreas usadas para a agricultura e tradição na produção de alimentos, um grande rebanho
bovino e pesca comercial destinada a municípios de fora da bacia do rio Xingu.
Portanto, avalia-se que há um potencial para que partes dos insumos alimentares necessários
sejam supridos pela região, potencial que deve ser incentivado para ampliar os benefícios
advindos da dinamização econômica que o empreendimento pode propiciar.
Ações neste sentido estão propostas no Programa ao Desenvolvimento de Atividades
Produtivas que visa ampliar às possibilidades para a população local aproveitar
oportunidades de geração de renda vinculadas ao período de implantação e operação da AHE,
através da qualificação de produtores agropecuários para se tornarem fornecedores de
insumos para o empreendimento ou para que possam ampliar a produção de alimentos que
será demandada com o aumento de população.
49. Qual a viabilidade técnica de Belo Monte?
O estudo de viabilidade técnica do aproveitamento hidrelétrico Belo Monte foi realizado pela
Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A – Eletronorte, no período de agosto de 2000 a
fevereiro de 2002 e complementado em 2009 em decorrência das alterações propostas pelos
estudos ambientais. Foi desenvolvido segundo o documento “Instruções para Estudos de
Viabilidade de Aproveitamentos Hidrelétricos”, publicado pela Eletrobrás e aceito pelo setor
elétrico e pela engenharia consultiva brasileira, além das diretrizes da Agência Nacional de
Energia Elétrica – ANEEL e das normas técnicas brasileiras.
76
O referido estudo está em análise para aprovação pela Agência Nacional de Energia Elétrica –
ANEEL, sendo que foram geradas informações e alternativas, com amplas e detalhadas
avaliações técnicas e construtivas, as quais permitiram definir a concepção final do AHE Belo
Monte, compreendendo, além de outros elementos informativos de importância, a definição
da potência a instalar, o dimensionamento das novas estruturas, o estabelecimento da infra-
estrutura da obra, o uso múltiplo da água e bem como os efeitos do reservatório e da
derivação do rio sobre o meio ambiente. Os estudos, que são públicos, concluíram que esta é
uma obra perfeitamente exeqüível pela engenharia nacional.
50. Qual o destino da energia de Belo Monte?
A energia elétrica produzida pelo AHE Belo Monte será destinada a todos os consumidores
brasileiros interconectados ao Sistema Interligado Nacional-SIN.
51. Tendo em vista alguns estudos apresentados por cientistas e o histórico do
empreendimento na região, quem garante que Belo Monte consistirá em apenas
um barramento? Qual a força legal das resoluções do CNPE para assegurar um
único barramento?
O primeiro inventário do rio Xingu, que identificou dois barramentos no rio, foi desenvolvido
na segunda metade da década de 1970, com premissas já ultrapassadas. Nos anos de 2007 e
2008, foi realizado novo estudo de inventário, com diretrizes adequadas e modernas, que foi
aprovado pela ANEEL em 28 de Julho de 2008, pelo despacho 2.756. Este estudo identificou
como único aproveitamento viável o AHE Belo Monte, composto por barramento a jusante da
cidade de Altamira. Devido à importância estratégica, o Conselho Nacional de Política
Energética – CNPE emitiu a Resolução nº 06 de 03 de Julho de 2008, em que aconselha à
ANEEL aprovar os estudos de inventário do rio Xingu nesses termos. Integram o CNPE:
I - O Ministro de Estado de Minas e Energia, que o presidirá;
II - O Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia;
III - O Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão;
IV - O Ministro de Estado da Fazenda;
V - O Ministro de Estado do Meio Ambiente;
VI - O Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
VII - O Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República;
VIII - um representante dos Estados e do Distrito Federal;
IX - um cidadão brasileiro especialista em matéria de energia; e
X - um representante de universidade brasileira, especialista em matéria de energia.
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) é um órgão de assessoramento do
Presidente da República. Sua função é formular políticas e diretrizes de energia destinadas,
77
entre outros, a promoção do desenvolvimento sustentado, ampliação do mercado de trabalho e
valorização dos recursos energéticos, proteção do meio ambiente e promoção da conservação
de energia, utilização de fontes renováveis de energia, mediante o aproveitamento dos
insumos disponíveis e das tecnologias aplicáveis.
52. O quanto é necessário de energia para o país? Não há possibilidade de essa energia
vir de fontes alternativas como, por exemplo, Solar e Eólica? Quanto se consegue
de energia adicional com a potencialização das Usinas que já existem instaladas no
país?
a) Conforme já apresentado na resposta à Questão no 40, o Plano Decenal de Expansão de
Energia 2008-2017, do Ministério de Minas e Energia-MME, elaborado pela Empresa de
Pesquisa Energética-EPE, apresenta a seguinte projeção de carga de energia (MWmédio)
do Sistema Interligado Nacional-SIN. unidade: MWmédio
ANO CARGA DE
ENERGIA DO SIN
2008 52.189
2009 54.995
2010 57.838
2011 60.605
2012 64.262
2013 67.155
2014 70.129
2015 73.201
2016 76.686
2017 80.111
Fonte: EPE - PDEE 2008-2017
Essa projeção mostra uma evolução da carga de energia do SIN de 52.189 MWmédio, em
2008, para 80.111 MWmédio, em 2017, representando um crescimento de cerca de 53% em
10 anos.
b) A hipótese de utilização de fontes alternativas como principal fonte supridora do
crescimento do mercado de energia elétrica do SIN, merece uma reflexão especial.
No caso da energia solar, sua aplicação atual através de sistemas de geração fotovoltaicos, de
elevado custo de instalação por unidade de energia produzida, comparativamente a outras
fontes convencionais, mostra-se viável apenas para o suprimento a pequenas cargas isoladas,
quando o atendimento convencional mostre-se inviável economicamente. Esses sistemas,
constituídos por painéis solares, acumulam a energia neles gerada em baterias para
atendimento a cargas geralmente interruptíveis, fator associado à autonomia da carga das
baterias.
No caso da energia solar térmica, a exigência de elevados níveis de radiação solar direta
limita a utilização dessa tecnologia no Brasil, devido a sua grande cobertura de nuvens ou a
fumaça proveniente das queimadas. Mundialmente, essa forma de geração tem se mostrado
economicamente viável apenas em regiões desérticas.
No caso da energia eólica, podemos destacar uma característica básica e fundamental em sua
consideração como fonte energética: os períodos chuvosos implicam redução nas velocidades
médias de vento. Nos últimos dois anos, o regime favorável de chuvas no Brasil refletiu-se
positivamente na hidrologia e no despacho das usinas hidrelétricas do SIN, reduzindo a
78
necessidade de complementação de geração de energia através de fonte térmica. Da mesma
forma, as usinas eólicas em operação no SIN tiveram sua produção de energia reduzida
durante o regime de chuvas observado.
Nesse sentido, pode-se considerar que, em termos energéticos, a energia eólica tem a função
de complementaridade da energia hidráulica. Essa consideração vem tomando corpo nas
decisões do MME para diversificação da matriz energética brasileira, predominantemente
hidráulica, através de programas de incentivo a utilização de fontes renováveis, iniciado em
2004 com o PROINFA.
Além do seu elevado custo de instalação, atualmente na faixa de R$ 5 milhões/MW (valor
médio para os projetos cadastrados no leilão de energia de reserva, base eólica, previsto para
novembro de 2009) existem outras restrições a serem superadas pelas eólicas. Dentre elas,
destaca-se, o baixo fator de capacidade (energia produzida/potência instalada) quando
comparado com as fontes convencionais e a necessidade de regiões potenciais que apresentem
médias anuais de velocidade de vento suficientes para viabilizar técnica e economicamente a
produção de energia em escala comercial. Aspectos ambientais, principalmente em regiões
costeiras (dunas, rotas migratórias de pássaros, áreas de conservação, parques, etc) também
tem sido relevantes na avaliação do uso dessa tecnologia.
O ainda elevado custo de geração das eólicas (na faixa de R$ 200,00/MWh), tem reduzido sua
competitividade com outras fontes de geração nos leilões de energia nova (os últimos leilões
apresentaram hidrelétricas na faixa de R$ 145,00/MWh), certames onde o foco principal é a
modicidade tarifária, ou seja, obter a menor tarifa de energia elétrica para o consumidor final.
Em virtude disso, o Governo Federal decidiu realizar um leilão específico para incentivo às
eólicas previsto para 25/11/2009, caracterizado como leilão de energia de reserva, dado ao
caráter de complementaridade já aqui explanado, contribuindo para o desenvolvimento desta
tecnologia no Brasil.
c) De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética-EPE, através de sua Nota Técnica DEN
03/08 “Considerações Sobre a Repotenciação e Modernização de Usinas Hidrelétricas”,
de junho de 2008, os resultados obtidos indicaram que a repotenciação e modernização de
hidrelétricas não agrega energia nova ao SIN em volumes significativos, que dispensem a
utilização de novas fontes de geração de energia elétrica.
53. São 14 planos e 53 programas de desenvolvimento previstos no EIA, porém estão
apresentados de forma muito superficiais, como uma carta de intenções. Assim
quais os investimentos em cada um deles? Qual o cronograma de implantação e
principais ações previstas nesses programas?
a) Sobre o escopo dos Planos e Programas
Na etapa de elaboração do EIA/RIMA os Planos, Programas e Projetos têm como objetivo
sistematizar as ações de prevenção, minimização e/ou compensação dos impactos ambientais
resultantes da implementação do empreendimento.
No caso do AHE Belo Monte, esses Planos, Programas e Projetos foram suficientemente
detalhados para a etapa de um EIA/RIMA, em termos de objetivos, justificativas, principais
ações, procedimentos metodológicos e cronograma descritivo.
79
Conforme explicitado na página 06 do Volume 33 – Planos, Programas e Projetos e
Conclusões, em coerência com a prática consagrada para elaboração de EIAs de
aproveitamentos de naturezas e portes diferenciados, na etapa de licenciamento prévio as
ações que comporão o sistema de gestão ambiental de um dado projeto são apresentadas em
linhas gerais de escopo de trabalho, responsabilidades pela sua futura implementação e
indicação de parcerias antevistas para tal, dado que as mesmas serão objeto de detalhamento
obrigatório quando da elaboração do Projeto Básico Ambiental (PBA). Isto porque a
concessão da Licença Prévia (LP) para o empreendimento representa não só a aceitação, por
parte do órgão ambiental licenciador, das proposições feitas pelo empreendedor para gerir
ambientalmente o projeto, mas como também a complementação destas por outras indicadas
pelo órgão, através das condicionantes da licença, e consideradas por ele como necessárias e
obrigatórias para que o projeto mostre-se efetivamente viável sob o ponto de vista ambiental
e, conseqüentemente, sustentável.
Assim, somente após obtida a LP tem-se o espectro completo das ações que deverão compor o
sistema de gestão ambiental para o empreendimento, podendo-se, a partir de então, na fase de
licenciamento de instalação, detalhar todos os componentes do sistema, em nível executivo,
para sua implementação ao longo das diferentes etapas e fases futuras do projeto.
b) Cronograma de implantação
Conforme já descrito na resposta à Questão 38, os cronogramas de cada programa e projeto
foram estabelecidos em relação à etapa em que deverão se iniciar e o período de duração.
Nesse sentido, uma série de programas, especialmente os relacionados aos aspectos
socioeconômicos, têm previsão de inicio antecipado para logo após a concessão da LP e
definição do empreendedor a ser responsável pela implantação e operação do AHE Belo
Monte, a partir da realização do Leilão de Concessões da ANEEL. São eles:
- Programa de Capacitação de Mão-de-obra
- Programa de Negociação e Aquisição de Terras e Benfeitorias na Área Rural
- Programa de Recomposição das Atividades Produtivas Rurais
- Programa de Negociação e Aquisição de Terras e Benfeitorias na Área Urbana
- Programa de Recomposição das Atividades Produtivas Urbanas
- Programa de Acompanhamento Social
- Programa de Intervenção em Altamira
- Programa de Intervenção em Vitória do Xingu
- Programa de Intervenção nos povoados de Belo Monte e Belo Monte do Pontal
- Programa de Apoio à Gestão dos Serviços Públicos
- Programa de Incentivo à Capacitação Profissional e o Desenvolvimento de Atividades
Produtivas
80
- Programa de Interação Social e Comunicação
- Programa de Salvamento Arqueológico
- Programa de Incentivo à Estruturação da Atenção Básica dos Municípios
54. Qual o cenário de demanda energética a hidrelétrica de Belo Monte pretende
atender? Quem serão os principais beneficiários da energia gerada em Belo
Monte?
Respondido nas Questões 40 e 50
55. Há diversas ações de prevenção e mitigação propostas que geram impactos
socioambientais e que de acordo com a legislação cada empreendimento
necessitará também de licenciamento ambiental específico que envolverá tempo e
recursos. Essa questão foi considerada?
Na etapa de elaboração do PBA, os Planos, Programas e Projetos serão especificados em
nível de projetos executivos, detalhando-se e dimensionando as ações a serem desenvolvidas,
e aquelas que forem passíveis de licenciamento ambiental serão submetidas ao órgão
licenciador competente. Por essa razão, a etapa de elaboração do PBA é prevista de se iniciar
tão logo se conheça o empreendedor responsável pela implantação do empreendimento, que é
o responsável pela obtenção de todas as licenças ambientais, assim como pelos custos e
cronogramas de implantação do PBA.
56. Qual a capacidade máxima da linha de transmissão prevista de escoamento da
energia que será produzida durante o período de pico (11.000 MW) e para a
energia firme (4.000 MW)?
Os sistemas de transmissão associados a empreendimentos de geração são dimensionados
para transportar a totalidade de sua capacidade geradora instalada, o que, no caso do AHE
Belo Monte, terá uma capacidade de transmissão de 11.233 MW (potência total instalada na
casa de força principal e na casa de força complementar).
81
TEMA 7 – Sobre a Condução do processo de Licenciamento
a) Quanto à ausência de consulta aos povos indígenas no âmbito dos Estudos de Inventário,
esclarece-se que tais estudos têm por objetivo estudar o potencial de geração de
hidroeletricidade de uma bacia hidrográfica e, dessa forma, subsidiar o planejamento do
setor elétrico brasileiro. Nesse sentido, não se constitui em instrumento de autorização para
a execução de obras de geração de hidroeletricidade.
Os procedimentos que geram atos de autorização para a implantação de hidrelétricas,
especificamente para a questão ambiental, são aqueles previstos na legislação do
licenciamento ambiental, do qual não faz parte o estudo de inventário hidrelétrico. Entendido
o objetivo a que se propõe o estudo de inventário, não há o que justifique se efetuar consulta
formal às comunidades indígenas de uma bacia hidrográfica quando da realização de estudos
desse tipo.
b) Em relação à oitiva dos índios a ser realizada pelo Congresso, como já comentado na
questão 25, o Supremo Tribunal Federal, em decisão proferida pela Ministra Ellen Gracie,
em 16.03.2007, nos autos da Suspensão de Liminar nº 125, determinou que se deve
“permitir ao IBAMA que proceda à oitiva das comunidades indígenas interessadas.”
Sendo assim, em consonância com o posicionamento do STF acerca da correta interpretação a
ser dada ao artigo 231, §3º, da Constituição Federal, e ao Decreto Legislativo federal 788 de
2005, e seguindo o procedimento de audiência pública, previsto nos artigos 32 a 35 da Lei
Federal 9.784/99 e na Resolução CONAMA 09/87, tem-se que as audiências públicas
conduzidas dos dias 10 a 15 de setembro de 2009 devem ser consideradas o momento em que
o IBAMA proporcionou a oitiva das comunidades afetadas pelo projeto da UHE Belo Monte.
Cabe um último esclarecimento sobre a consideração feita para este TEMA, onde se tem
“Considerando-se a especificidade da região enquanto a diversidade dos povos indígenas, os
documentos apresentados (EIA/RIMA) devem estar traduzidos nas suas línguas indígenas
aqui faladas para que eles possam se pronunciar sobre o projeto”.
Não obstante a previsão legal de se realizar as audiências públicas e nela garantir o acesso da
comunidade indígena, condição que foi verificada para a AHE Belo Monte, deve-se ter em
conta que a comunidade indígena foi objeto de estudo particularizado sobre as implicações do
empreendimento em sua vida – os estudos etno-ecológicos. Esses estudos, realizados por
profissionais aceitos pela comunidade, foram realizados em conjunto com a própria
comunidade, constituindo processo coletivo de análise dos impactos do empreendimento
sobre seus modos de vida.
Adicionalmente, como já relatado na questão 28, um conjunto de reuniões técnicas foram
realizada para discutir diretamente com a comunidade os impactos do empreendimento.
c) quanto à sugestão de traduzir-se o EIA/RIMA para a língua indígena, entende-se que a
realização de inúmeras reuniões técnicas com as comunidades indígenas conforme relatado
na resposta à Questão 28 se mostra mais adequado do que a simples tradução de
documentos técnicos, o que com certeza, dada a complexidade desse tipo de estudo, não
conseguiriam transmitir de maneira fiel e compreensível a dimensão do problema que se
busca equacionar.
82
TEMA 8 – Sobre as quatro audiências públicas realizadas na região
Sobre as críticas ao modelo das audiências públicas, onde se alega que “não está adequado às
especificidades da Amazônia.”, cabe destacar que o empreendedor seguiu todas as
especificações definidas pelo órgão ambiental e legislação correlata e, nesse sentido, entende-
se que foi garantido o amplo acesso ás comunidades para participação nesses eventos.
Por outro lado, a participação da população nas audiências foi expressiva, da ordem de mais
de 8.000 pessoas de todas as regiões, fato que corrobora o amplo acesso da população ao
acesso. Observe-se que apenas em Altamira toda a grande imprensa nacional estimou a
presença de aproximadamente 5.000 pessoas na Audiência Pública ali realizada em
13/09/2009, com duração de mais de 11horas.
Destaca-se também que para atendimento aos moradores não residentes na área urbana das
cidades sedes das audiências o empreendedor colocou a disposição da população infra-
estrutura de transporte específica, visando facilitar o acesso ao evento, ai considerado a
disponibilização de ônibus, microônibus, barcos e “voadeiras” (Quadro Abaixo).
Dentre os locais atendidos têm-se os municípios de Uruará, Medicilândia, Placas, Gurupá,
Porto de Moz, Senador José Porfírio, Pacajá e Anapu e em específico as comunidades dos
Travessões da Transamazônica e ribeirinhos, o que contempla a totalidade da região
relacionada com o empreendimento, inclusive as comunidades apontadas no requerimento.
Especificamente para a população indígena, em atenção a determinação da FUNAI/Brasília, o
empreendedor disponibilizou infra-estrutura de transporte que garantia de participação de 10
representantes de cada Terra Indígena na audiência pública de Altamira, realizada em 13 de
setembro de 2009.
Os serviços disponibilizados para as comunidades indígenas das Terras Indígenas envolveram
transporte (barco, ônibus), alimentação, hospedagem, atendimento de saúde e segurança para
cerca de 160 indígenas das Terras Indígenas Grupo Juruna do KM 17, Paquiçamba, Arara da
Volta Grande do Xingu, Trincheira Bacajá, Koatinemo, Araweté, Igarapé Ipixuna,
Apyterewa, Kararaô e Cachoeira Seca.
83
DISPONIBILIZAÇÃO DE TRANSPORTE PARA PARTICIPAÇÃO NAS AUDIÊNCIAS
PÚBLICAS DE ALTAMIRA, VITÓRIA DO XINGU E BRASIL NOVO.
LOCAL
DA
AUDIÊNCIA
MUNICÍPIO
mobilizado COMUNIDADE
TIPO DE
TRANSPORTE
ALTAMIRA
PACAJÁ
RODOVIA
TRANSAMAZONICA KM 240
02
MICROONIBUS
ANAPU
RODOVIA
TRANSAMAZONICA KM 140
04
MICROONIBUS
TOTAL 06 MICRO-
ÔNIBUS
ALTAMIRA
VITÓRIA DO
XINGU BELO MONTE II KM 62
02
MICROONIBUS
ANAPÚ BELO MONTE I KM 62 01
MICROONIBUS
VITÓRIA DO
XINGU
AGROVILA SANTO ANTONIO
KM 50 (Rodovia
Transamazônica)
01
MICROONIBUS
VITÓRIA DO
XINGU
TRAVESSÃO DO CNEC
KM 55 e Paquiçamba
Comunidade Deus é Amor (ramal
de ligação entre o km 45 e km 55)
01
MICROONIBUS
VITÓRIA DO
XINGU
TRAVESSÃO COBRA -
CHOCA KM 45
(LOCALIDADES: BOM
JARDIM I E II, COMUNIDADE
PORTA DA LIBERTAÇÃO,
COMUNIDADE NOVA
JERUSALÉM, COMUNIDADE
SÃO RAIMUNDO NONATO)
02
MICROONIBUS
OBS: 1° ONIBUS
DEIXOU OS
PASSAGEIROS
NO MERCADO
VITÓRIA DO
XINGU
TRAVESSÃOKM 27 (Ramal dos
Penas, Vila Rica I e II, São
Francisco das Chagas, Santa
Luzia, Ramal Transcatitu)
01
MICROONIBUS
VITÓRIA DO
XINGU
AGROVILA LEONARDO DA
VINCI KM 18 (Rodovia
Transamazônica)
01
MICROONIBUS
Altamira
RODOVIA TRANSASSURINI
KM 28 (RAMAL DOS NENÊS,
RAMAL DOS CRENTES E
PALHAL DE CIMA E DE
BAIXO, AGROVILA SOL
NASCENTE)
01
MICROONIBUS
TOTAL 09 MICRO-
ÔNIBUS
84
LOCAL
DA
AUDIÊNCIA
MUNICÍPIO
mobilizado COMUNIDADE
TIPO DE
TRANSPORTE
ALTAMIRA
VITÓRIA DO XINGU
COMUNIDADE RIBEIRINHA
ARROZ CRU I (SANTA
LUZIA)
11 VOADEIRAS
VITÓRIA DO XINGU COMUNIDADE RIBEIRINHA
ARROZ CRU II (SÃO PEDRO)
VITÓRIA DO XINGU COMUNIDADE RIBEIRINHA
PARATIZÃO
ALTAMIRA COMUNIDADE RIBEIRINHA
BOM JARDIM I
ALTAMIRA COMUNIDADE RIBEIRINHA
BOM JARDIM II
ALTAMIRA COMUNIDADE RIBEIRINHA
POÇÃO
ALTAMIRA COMUNIDADE RIBEIRINHA
COTOVELO/PARATIZINHO
SENADOR JOSÉ
PORFÍRIO
COMUNIDADE RIBEIRINHA
RESSACA
VITÓRIA DO XINGU COMUNIDADE RIBEIRINHA
ILHA DA FAZENDA
ALTAMIRA COMUNIDADE RIBEIRINHA
BARRO DURO
ALTAMIRA COMUNIDADE RIBEIRINHA
CANA VERDE
ALTAMIRA
COMUNIDADE RIBEIRINHA
MORRO DOS
ARARA/MORRO DO JABUTI
TOTAL 11 VOADEIRAS
TOTAL ALTAMIRA
15 MICRO-
ÔNIBUS
11 VOADEIRAS
85
LOCAL
DA
AUDIÊNCIA
MUNICÍPIO mobilizado COMUNIDADE TIPO DE
TRANSPORTE
BRASIL
NOVO
PLACAS
RODOVIA
TRASAMAZONICA KM
242
01 ONIBUS
URUARA
RODOVIA
TRANSAMAZONICA KM
182
02 ÔNIBUS
MEDICILÂNDIA
RODOVIA
TRANSAMAZONICA KM
90
02 ONIBUS
TOTAL BRASIL NOVO 05 ÔNIBUS
LOCAL
DA
AUDIÊNCIA
MUNICÍPIO mobilizado COMUNIDADE TIPO DE
TRANSPORTE
VITÓRIA
DO XINGU
GURUPÁ
01 BARCO COM
CAPACIDADE
PARA 160
PESSOAS
PORTO DE MOZ
SENADOR JOSÉ
PORFIRIO
TOTAL VITÓRIA DO
XINGU 01 BARCO
TOTAL GERAL ALTAMIRA, BRASIL NOVO E VITÓRIA DO
XINGU
16 MICRO-
ÔNIBUS
05 ÔNIBUS
GRANDES
01 BARCO
11 VOADEIRAS
Obs.: Algumas Prefeituras disponibilizaram transporte para que a população pudesse participar das
Audiências Públicas.
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