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ISSN 2176-1396
AUTONOMIA E PRÁTICA NA DIDÁTICA DO PROFESSOR DE
LINGUA PORTUGUESA FRENTE ÀS NOVAS TECNOLOGIAS NO
ENSINO SUPERIOR
Diva Conceição Ribeiro1 - CESUPI - BA
Almir Milanesi2 - CESUPI - BA
Fabiano Schaper Portela3 - CESUPI - BA
Josefa Maria A. Pimenta4 - CESUPI- BA
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: Centro de Ensino Superior de Ilhéus – CESUPI-BA
Resumo
O ensino de Língua Portuguesa mesmo no ensino superior é um desafio diário e consiste em
transpor obstáculos do cotidiano sem destruir paradigmas culturais desde a colonização do
Brasil. Estabelecer objetivos claros como compreender as diferenças existentes entre as
variações regionais e a língua coloquial são fatores imprescindíveis para que se estabeleça a
harmonia entre a manutenção da fala e o domínio das regularidades gramaticais de que nos
falam estudiosos dos fenômenos linguísticos da contemporaneidade. O tema, portanto, está
em buscar recursos na modernidade através do meio no qual se vive, incluindo nele, os
recursos da tecnologia que permeiam os mais longínquos recantos do planeta. Como
metodologia para este trabalho, buscamos observar, registrar por meio de fotografias e
impressão de documentos vistos em Ilhéus, sul do litoral da Bahia, em suas ruas, praças, lojas,
1Doutora em Língua Portuguesa – PUC-SP, Mestre em Educação pela PUC-PR, Especialista em Língua
Portuguesa pela Unioeste-PR/Unicamp-SP. Estuda gênero, tem interesse por estudos da linguística de textos da
literatura brasileira contemporânea. Professora Titular de Comunicação Empresarial e Língua Portuguesa nos
Cursos de ADM/CC, Enfermagem, e Nutrição, e da disciplina de Hermenêutica Jurídica do Curso de Direito do
Centro de Ensino Superior de Ilhéus- BA. E-mail: www.diconri@yahoo.com.br. 2Doutor em Educação, pela Universidad del Norte, Paraguai; Mestre em Engenharia de Produção, pela
Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil; Especialização em Gerência Contábil, pelo Centro de
Estudos Pesquisa e Pós Graduação; graduação em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Econômica de
Colatina, graduação em Administração, pela Faculdade de Ciências Econômica de Colatina (1987). É
funcionário público federal do Instituto Nacional de Seguridade Social, professor titular do Centro de Ensino Superior de Ilhéus. 3 Graduado em Ciências da Computação pela UNIFENAS-MG, Especialista em aplicações Pedagógicas dos
Computadores pela UESC-BA, Mestre em Educação: UNINORTE – Assunção - Paraguai. Professor Titular da
Faculdade de Ilhéus, Chefe da Divisão de Desenvolvimento de Software da Prefeitura Municipal de Itabuna-BA.
E-mail: schaper@faculdadedeilheus.com.br. 4 Mestre em Educação pela Universidad Del Norte - UNINORTE – Assunção – Paraguai. Pós-graduação em
Língua Brasileira de Sinais pela Faculdade FINOM. Especialista em Deficiência Auditiva pela Universidade do
Estado da Bahia – UNEB. Especialista em Língua Portuguesa pela PUC-MG, Graduada em Letras pela FESPI.
Professora de Libras da Faculdade de Ilhéus. Professora do AEE da educação básica no CERRLS. E-mail:
jmapimenta@hotmail.com/ Josefaargolopimenta@gmail.com.
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mercados, avenidas, meios publicizados e em ambientes virtuais (Facebook), por ser um dos
meios pelos quais nossos alunos se comunicam diariamente e podem colher não somente
informações sobre diferentes assuntos de seus interesses mas, também pode ser reconhecido
como como fonte de registro do conhecimento da população que frequenta esse universo.
Selecionamos, para este evento, exercícios feitos por um grupo de alunas do Curso de
Enfermagem do primeiro semestre do Cesupi – em Ilhéus, e também do Curso de Nutrição
que fazem o reflexo dos exercícios dos alunos dos cursos de Administração e de Ciências
Contábeis, nos quais há mostras do problema trazido por alunos egressos do ensino médio de
diferentes municípios circunvizinhos: Trazem estes acadêmicos conteúdos linguísticos
básicos que lhes deem suporte para cursarem uma graduação de qualidade? O resultado foi
significativo e trouxe aspectos de relevância para minimizar as dificuldades mediante
propostas de exercícios para os semestres vindouros já que é uma característica de variação
linguística regionalizada e como tal precisa ser respeitada, mas deve receber o alerta quanto
ao uso da norma culta.
Palavras-chave: Ensino. Pesquisa. Reflexão
Introdução
Este estudo teve por objetivo encontrar um recurso didático mais envolvente que
pudesse manter o aluno motivado e atento durante as atividades e que buscasse, de alguma
maneira, voltar seus interesses aos aspectos relacionados às dificuldades apontadas na
produção escrita, feita em sala de aula, pelas turmas de primeiros semestres dos Cursos de
Administração, Ciências Contábeis, Enfermagem, e Nutrição.
As dificuldades verificadas entre as populações dos cursos são semelhantes e estão
relacionadas às questões de territorialidade, já que os alunos são oriundos de Ilhéus e
adjacências da região do sul da Bahia.
Assim, buscamos mostrar como nossos alunos fizeram as atividades a partir de um
comando e, deste comando alcançaram os objetivos propostos e ainda assim, aconteceram
outros equívocos, alguns por conta de comandos dados pelo professor e outros pela não
explicitação destes sobre a acentuação gráfica e ortografia.
O marco teórico deste trabalho está em estudiosos como Carboni e Maestri (2003,
p.110) para os quais: “Na luta pela libertação social, não importa apenas o que se diz e,
portanto, o que se escreve, mas também o como se diz e o como se escreve” e que vem
fortalecer, de certo modo, o nosso pensamento, pois que o que ‘classifica’ efetivamente, é o
como se escreve. A forma de escrever mostra se o aluno ‘sabe’ escrever. Deste modo,
entende-se que a norma culta é a que classifica, finalmente, o estudante a melhores situações
de trabalho ou de outras oportunidades em diferentes eventos sociais. Nesse mesmo viés,
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Antunes (2007, p.78), afirma: “As nomenclaturas Gramaticais [...] dizem respeito aos nomes
que as unidades da gramática têm. Funcionam como rótulos, como expressões de designação,
para [...] falar de todas elas chamando-as por seus nomes, embora também expressem
determinada visão dos fatos que designam”. Apoia-se em Maia(1994) que faz consideráveis
explicações acerca de usos das letras j e g e também em Cipro Neto e Ulisses(1998), e em
Cunha e Cintra (2008); já Moura Neves(2000) mostra claras reflexões sobre a natureza dos
substantivos; Severino(2000) e Silva et al(2010) alicerçam reflexões sobre a metodologia que
respalda nossas buscas.
Por tudo isso, faz-se muito necessário que se saiba e que se reconheça a gramática de
Língua Portuguesa do Português falado no Brasil e, sobretudo, que se lance mão desta, com
domínio, quando necessário, sem perder de vista, o respeito ao falar bem brasileiro da
comunidade da qual o utente é oriundo e de cujos padrões é referência em uma fala
despreocupada e singular na espontaneidade natural da conversa que define os grupos de
falantes e sua brasilidade.
Ensino e aprendizagem no munda da tecnologia
Estar no mundo é muito mais do que existir, pois o mundo construído pelo homem é
aprimorado também para e pelo homem e nunca sofreu com tanta e tamanha intensidade e
transformação quanto o fez neste último século.
Nestes tempos modernos, as inovações tecnológicas passaram a compor o material
escolar dos alunos e se tornaram produtos de primeira necessidade. As escolas, de modo
geral, mostram-se despreparadas para lidar com o corpo discente e o uso de seus parelhos,
muitas vezes, de primeira geração, como notebook, celulares, smartfones, tablets e outros
durante as aulas, uma vez que estes passaram a ter diferentes finalidades como fotografar as
atividades registradas no quadro (não mais de giz, mas agora com o uso de pincel), para
substituir as atividades escritas no caderno de exercícios.
Nós, professores, perplexos, precisamos retomar algumas reflexões para redirecionar
as nossas práticas pedagógicas frente às novas realidades emergentes em uma sociedade
tecnologizada, digitalizada e conectada em redes sociais sem ferir uma motivação que não
deve ser esquecida para não criar um novo caos e tornar outra vez, a escola mecanizada como
já ocorreu em um passado bem recente, a exemplo dos exercícios repetitivos, apenas, como
“siga o modelo” desta vez, porém, porém, com o uso da alta tecnologia.
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Assim, é necessário o professor estar atento ao que ocorre nos novos canais virtuais de
comunicações, na variação linguística praticada nesses diferentes espaços sem descuidar da
norma culta e sem se deixar levar pelos extremos gramaticais da norma padrão que também,
por sua vez, tornam-se pouco usados.
Em nosso propósito, o palco de estudos delimitado está nas praias de Ilhéus, nas ruas e
avenidas, no comércio, repartições públicas e nos posts do Facebook, todos frequentados
pelos acadêmicos que podem consultar e trabalhar com as práticas escritas mediante o que
preceitua a gramática da norma padrão, o que se exige da norma culta e com o que se trabalha
em sala de aula conforme o conteúdo programático da ementa definida de acordo com o
curso. Esses conteúdos têm, como finalidade, preparar o acadêmico das diferentes graduações
para alcançar conhecimentos que o preparem não só à compreensão de leitura e de escrita de
diferentes disciplinas, mas também para a leitura de mundo.
Nessa direção, apropriamo-nos de reflexões de Carboni e Maestri (2003):
a consciência do mundo é uma aproximação-apropriação do mundo. Ela não é, porém, o próprio mundo. Expressão da consciência, a linguagem é representação
conceptual, relativamente compartilhada pelos membros de uma comunidade
falante. A linguagem verbal é nominação mais ou menos fiel do mundo, sem que
jamais haja identificação essencial entre linguagem e o mundo. O conceito é sempre
menos rico do que o objeto conceitualizado(CARBONI e MAESTRI, 2003, p.204).
Nosso caminho para entrar em estudos da escrita sistematizada pela tecnologia,
entendida como registro ativo e que atribui à nossa causa um sentido ‘vivo’ de fala usual do
mundo contemporâneo pode ser um parâmetro para ilustrar uma língua falada no litoral sul da
Bahia e, também, indicar aspectos sobre o domínio da norma padrão do português do Brasil
praticado pelo acadêmico de Ilhéus.
A variação linguística nas regiões do Brasil possui peculiaridades significativas que
indicam a colonização e informam outras características pertinentes aos sujeitos que nelas
vivem e sobre sua cultura, de modo geral. Isto passa a dizer, também, da influência que essa
população sofreu (e sofre) e de como seu modo de vida foi configurado, explicando, ainda o
porquê de seu comportamento ser como é.
No sul da Bahia, a população de Ilhéus é composta por 182 350 habitantes, conforme
dados do IBGE indicando as etnias que formam a população ilheense. Cor/Raça: Parda:
58,6%, Branca: 19,5%, Preta: 18,7%, Indígena: 2,1% e Amarela: 0,9%. Parte considerável
dessa população produz algumas construções morfológicas e sintáticas bem particulares
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conforme sinalizamos na Figura 1 e chamamos a atenção para o emprego dos termos mim em
lugar de me, e é praticado por parte da população de Ilhéus, assim como o verbo no infinitivo
usado no Modo Indicativo, na primeira pessoa da singular.
Em cada turma de cada curso iniciante - Administração, Contábeis, Enfermagem e
Nutrição há um número de cinquenta alunos. As figuras representam aproximadamente 32
alunos que escrevem de forma semelhante ou igual.
Figura 1 - Uso do mim em lugar de me
Fonte: Curso de Enfermagem 2013.1 – Própria pesquisa
Na mesma proporção da Figura 1, a Figura 2 mostra o emprego do verbo aprender no
infinitivo como aprendir e escolhir. O acadêmico deveria usar a primeira pessoa do singular
do Modo Indicativo no Pretérito Imperfeito. Isto determina a forma pela qual este estudante
não consegue, ainda, estabelecer as flexibilizações verbais e seus empregos em diferentes
conjugações, tempos e modos. Também não faz distinção entre o operador argumentativo mas
(conjunção adversativa e o mais, como termo de adição ou de intensidade) e o operador
argumentativo mais. Para estes estudantes faltou clareza entre o sentido dessas palavras e a
importância de usá-las apropriadamente conforme o que se pretende expressar.
Figura 2 - Emprego do Verbo no Infinitivo para a primeira pessoa do singular no Presente do Indicativo
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Fonte: Curso de Nutrição 2014.2 – Própria pesquisa, (2014).
A Figura 3, apesar de mostrar uma grafia legível, traz o registro quase fiel da língua
em sua verbalização cotidiana e reafirma o uso do verbo no Infinitivo em lugar de usar a
primeira pessoa do singular do Pretérito Imperfeito do Modo Indicativo: Sentir um frio na
barriga... em vez de escrever: Eu senti (ou manter a opção pela elipse – Senti)
Figura 3 – Emprego do verbo no Infinitivo em lugar da primeira pessoa do singular do Presente do modo Indicativo.
Fonte: Nutrição - Própria da Pesquisa, (2014).
Novos caminhos para aprender e ensinar língua portuguesa
Por metodologia compreende-se o percurso traçado para alcançar o resultado que
desejamos conforme a necessidade de nossos alunos para chegar a uma aprendizagem
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satisfatória do primeiro período de cada curso no qual atuamos com o ensino da Língua
Portuguesa.
Ao entrar em sala de aula, nos cursos de Enfermagem, Nutrição, Ciências Contábeis,
Administração, notória é a manipulação do celular durante as aulas e em quase todos os casos,
o acesso às redes sociais. Assim sendo, pensamos em nos valer desses recursos para a
ensinagem da língua padrão a partir dos posts nas redes sociais e da comparação desses
escritos frente aos critérios que regem a norma culta.
Estabelecemos alguns critérios pelos quais os alunos, reunidos em equipes com quatro
indivíduos, deveriam cada um destes, selecionar cinco diferentes quadros que contivessem
algum tipo de erro: ortográfico, de concordância verbal ou nominal ou ambos, ou outros
aspectos e, em seguida, imprimi-los em papel sulfite.
Como exemplo, mostramos um material exposto na praça Cairu, em Ilhéus, do qual
estudamos a acentuação gráfica das palavras oxítonas e suas regras de não acentuação em
oxítonas terminadas em i e u, conforme as gramáticas consultadas e referenciadas no final do
trabalho.
Figura 4 - Placa de um Bar na Praça Cairu no Centro de Ilhéus
Fonte: Própria da Pesquisa, (2014).
Em seguida, seriam consultados os dicionários de papel e/ou virtuais assim como as
respectivas gramáticas (pelo menos duas) que justificassem as escritas como estavam feitas
nos quadros, nas placas, e como deveriam ser grafadas mediante as normas da língua padrão.
Para Silva et al.(2010, p.46-47) “Por materiais e métodos compreende-se o instrumental
empregado e a descrição das técnicas adotadas, incluindo também o processo da
experimentação (...) com certa riqueza de detalhes.” Desse modo, inserimos, ainda, os
primeiros passos da referencialidade dos dados da pesquisa científica já que os acadêmicos
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deveriam elencar as obras consultadas em sites ou em livros consultados, conforme critérios
da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Para Severino (2000, p.144): “A
ciência se faz através de trabalhos de pesquisa especializada, própria das várias ciências;
pesquisa que, além do instrumental epistemológico de alto nível, exige capacidade de
manipulação de um conjunto de métodos e técnicas específicos às várias ciências”.
O professor de português precisa conquistar sua autonomia didática, assumir-se como especialista da área, comprometer-se com a causa da educação linguística de
seus alunos[...] precisa ter competência que lhe confira a autonomia necessária à
condução de seu trabalho, o que, em nenhum momento dispensa sua inserção nas
preocupações do grupo com o qual atua. Significa que o professor esteja consciente
de como deve ser seu trabalho [...] (ANTUNES, 2003, p.170).
Os grupos em ativo exercício e buscando as informações virtuais e em gramáticas de
papel sinalizavam para algumas falhas do professor da disciplina quando selecionaram uma
gramática antiga (1985), e que pela desatualização permitiram a reincidência de outros erros.
Evidentemente, esses mesmos equívocos serão alerta para a não recorrência em novos
registros desta natureza. Nesse horizonte, o trabalho surtia efeito e, mediante dúvidas, éramos
consultados para dirimi-las na medida de como iam surgindo.
Durante essa atividade que teve um espaço de quinze dias, da data da instituição à data
da entrega, percebemos a reflexão sobre os fenômenos gramaticais acerca das construções
linguísticas da norma culta e das ocorrências sobre algumas exceções e o porquê dessas
mesmas ocorrências.
Era a equipe que estava produzindo pensamentos e reflexões em busca de
fundamentação teórica das funções gramaticais da norma culta. Pierre Lévy considera as redes
de relacionamento como canais de produção imensa de uma série incontável de ações da
mesma forma, também, na nominação em sua obra As tecnologias da inteligência: O futuro
do pensamento na era da informática (1993, p.175):
quem pensa? Uma imensa rede loucamente complicada, que pensa de forma múltipla, cada nó da qual é por sua vez um entrelace indiscernível de partes
heterogêneas, e assim por diante em uma descida fractal sem fim. Os autores desta
rede não param de traduzir, de repetir, de cortar. De flexionar em todos os sentidos
aquilo que recebem de outros. Pequenas chamas evanescentes de subjetividade
unitária correm na rede como fogos-fáctuos no matagal das multiplicidades.
Subjetividades infrapessoais do gesto, do olhar, da carícia. É claro, a pessoa pensa,
mas é porque uma megarrede(sic) cosmopolita pensa dentro dela, cidades e
neurônios, escola pública e neurotransmissores, sistemas de signos e reflexos. Quando deixamos de manter a consciência individual no centro, descobrimos uma
nova paisagem cognitiva, mais complexa, mais rica(LÉVY, 1993, p.175).
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No desenvolvimento deste exercício com este material foi possível verificarmos a
fonte consultada, a página, o ano, a autoria, a localização eletrônica (virtual), e também novos
erros ortográficos cometidos pelos alunos durante a correção. Isto nos ofereceu subsídios para
uma nova reverificação de conteúdo a fim de que pudéssemos reforçar as formas pelas quais
os vocábulos deveriam receber acentos gráficos e quando deveriam deixar de ser acentuados
em função de que perderam a sílaba tônica por mudarem a sílaba mais forte e adquirirem a
tonicidade em nova sílaba.
Contempla a fala de Antunes (2003) sobre o assunto referente aos aspectos de
regularidades gramaticais:
[...] as regras (mais precisamente: as regularidades) de como se usa a língua nos mais variados gêneros de textos orais e escritos [...] de como ensinar tais
regularidades, com que concepções, com que objetivos e posturas, desenvolvendo
que competências e habilidades [...] uma gramática sozinha nunca foi suficiente para
alguém conseguir ampliar e aperfeiçoar seu desempenho comunicativo(ANTUNES,
2003, p.88).
Deste modo, os grupos foram construindo as normas que regem os deslocamentos da
sílaba tônica da palavra e também possibilitou rever com maior nível de compreensão o
emprego da palavra viagem quando substantivo e viajem quando assume a função de verbo. É
importante frisar que o emprego dessas diferentes grafias ainda causam dificuldades na escrita
no ensino superior em um expressivo número de alunos, como mostra a Figura 5.
Para este estudo, uma obra de excelente qualidade está em Gramática de Usos do
Português de Maria Helena de Moura Neves (2000, p.67), no capítulo de que trata sobre a
natureza da classe do substantivo e que traz importantes e ricas informações sobre essa classe
gramatical que, até certo ponto parece esquecida nos conteúdos programáticos em nossas
escolas.
Cipro Neto e Ulisses (1998) explicam que:
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a letra g somente representa fonema /ƺ/ diante das letras e e i. Diante das letras a, o, e u, esse fonema é necessariamente representado pela letra j. Usa-se a letra g:
Nos substantivos terminados em – agem, - igem, – ugem:
a)Agiotagem, aragem, contagem, coragem, garagem, malandragem, miragem,
viagem. Fuligem, impingem, (ou impingem), origem, vertigem; ferrugem,
lambujem, salsugem.
Exceções: Pajem e Lambugem
b)Nas palavras terminadas em – ágio, égio, ígio, ógio, úgio; adágio, contágio,
estágio, pedágio; colégio, egrégio; litígio, prestígio; necrológio, relógio, refúgio,
subterfúgio.
[...] ainda nas palavras grafadas com g: aborígine, agilidade, algema, apogeu, argila, auge, bege, bugiganga, cogitar, drágea, faringe, fugir, geada, gengiva, gengibre,
gesto, gibi, herege, higiene, impingir, monge, rabugice, tangerina, tigela,
vagem(CIPRO NETO e ULISSES, 1988, p37).
Esse tipo de recomendação era trabalhada na época em que crianças iniciavam a
alfabetização e davam os primeiros passos na escrita de palavras mais complexas, depois de
frases e posteriormente de textos. Essas palavras apreciam escritas em tiras de papel e coladas
nas paredes da sala de aula. Eram feitos ditados de palavras soltas, apenas para memorizá-las
quanto à grafia e, conforme relatos de professores e até meus relatos, pouco adiantavam para
que os alunos dominassem a escrita de tais vocábulos. Nesse sentido, os mesmos autores
trabalham com a grafia da letra j.
Na Figura 5 a grafia do vocábulo mostra um exemplo de escrita. Outras palavras que
têm a semelhante pronúncia também sofrem a mesma escrita, como é o caso de garajem.
Figura 5 – Trabalho dos alunos - Emprego da letra J
Fonte: Própria da Pesquisa, (2014).
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Maia(1994) explica o uso da letra j e da letra g conforme a origem africana ou
ameríndia da seguinte maneira:
a) Nas formas dos verbos terminados em – jar: arranjar (arranjo, arranje, arranjem, por exemplo); despejar (despejo, despeje, despejem); enferrujar(enferruje,
enferrujem), viajar (viajo, viaje, viajem).
b)Nas palavras de origem tupi, africana, árabe ou exótica: jê, jiboia, pajé, jirau,
caçanje, alfanje, alforje, canjica, jerico, manjericão Moji.
c)Nas palavras derivadas de outras que já apresentam j: gorjear, gorjeio, gorjeta,
(derivado de gorja; cerejeira (derivada de cereja); laranjeira (derivada de laranja);
lisonjear, lisonjeiro (de lisonja), lojinha, lojista (de loja); sarjeta (de sarja); rijeza,
enrijecer (de rijo); varejista (de varejo).
Atente para: berinjela, cafajeste, granja, hoje, intrujice, jeito, jejum, jerimum, jérsei, jiló, laje, majestade, objeção, objeto, ojeriza, projétil (ou projetil), rejeição,
traje, trejeito(MAIA, 1994, p.28).
O mesmo autor chama a atenção para a seguinte e interessante questão: “após a letra
inicial a - ágil, agente. São exceções as palavras em que o a é um prefixo acrescido a um
radical iniciado por um j: ajeitar (jeito).
Concordância em trânsito
No Brasil é comum o utente respeitar a concordância mais próxima com o primeiro
verbo, mas não mantê-la nos transcorrer do discurso verbal e também no discurso escrito. De
acordo com Cunha e Cintra (2008, p.510): “A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele
faz viver no tempo, exterioriza-se na CONCORDÂNCIA, isto é, na variabilidade do verbo
para conformar-se ao número e à pessoa do sujeito.” De acordo com o site consultado Regra
geral:
o artigo, o numeral, o adjetivo e o pronome adjetivo concordam com o substantivo a
que se referem em gênero e número. Ex.: Dois pequenos goles de vinho e um
calçado certo deixam qualquer mulher irresistivelmente alta (PORTAL R7, Português, acesso 16/08/2015).
As exceções sobre Concordância Verbal e Concordância Nominal também fizeram
parte das buscas para o trabalho. Os grupos buscavam no professor esclarecimentos sobre as
concordâncias encontradas nas gramáticas e que são feitas com a ideia de soma, mas estão
singularizadas e neste sentido, íamos adentrando, inclusive nas questões de Figuras de
Linguagem, um estudo que ficou apenas na superfície dos conhecimentos porque o tempo se
torna insuficiente para estudar as questões que são levantadas durante esse processo de buscas
pelas respostas e o espaço ser de apenas um semestre traduzido em um quadrimestre.
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Figura 6 – Do trabalho das alunas do Curso de Enfermagem
Fonte: – Própria da Pesquisa, (2014).
Esta Figura 6 nos oportunizou trabalhar, exaustivamente, com as interações sociais
praticadas diariamente e nos levou à percepção de outros falares incluindo os televisivos
jornalísticos para identificar as concordâncias usadas nesses canais televisivos e também às
redes sociais.
Assim, maior era a oportunidade de servir na seara do repasse das indicações das obras
para consulta como também o processo pelo qual as exceções se efetivam no mecanismo das
práticas linguísticas. Em alguns momentos, somos obrigados a confessar que aprendemos,
principalmente em relação à operação das máquinas (computador). Neste caso, cabe muito
bem o que afirma Antunes(2003):
[...] a imagem do professor já não carrega aquela aura misteriosa de quem está
‘pronto’ para ‘ensinar’, de quem já estocou os saberes necessários para a
transmissão pedagógica em sala de aula. [...]o professor que se refaz, que
redescobre, que reinventa, que revê suas concepções e atitudes, que não está
“formado” e, portanto, redimensiona seus saberes. Um professor que não pode deixar se “ser aluno”, isto é, que não sabe tudo, que não pode deixar de ser
aprendiz. Eternamente aprendiz. (ANTUNES, 2003, p. 174).
Neste movimento, o aluno traz para a sala de aula o material a ser estudado e pode
formar, também, a partir deste mesmo material a linha teórica mediante a fundamentação
gramatical os critérios que asseguram os preceitos que regem a norma culta e que fazem do
16776
acadêmico um sujeito autônomo e senhor de sua aprendizagem e construtor de seu
conhecimento por meio das suas próprias reflexões. Corrobora as reflexões de Antunes(2003)
e mostra como o professor poder ser eternamente ‘aprendiz’.
A Figura 7 permitiu o trabalho para o uso da letra x e do dígrafo ch. Este exercício
trouxe novidade aos acadêmicos (e a nós, como professor), já que era esperado que esta
distinção tivesse sido feita ao longo do percurso escolar.
O trabalho trouxe, porém, grandes benefícios, inclusive ao professor, pois que
retomamos os estudos do Acordo Ortográfico e as novas orientações sobre o uso do hífen e
suas aplicabilidades e continuamos nas consultas às gramáticas, as quais recomendam usar x
após o emprego de ditongos, como Cipro Neto e Ulisses (1998, p.35-36): “A letra x
representa esse fonema: a) após um ditongo: ameixa, caixa, peixe, eixo, frouxo, trouxa, baixo,
encaixar, paixão, rebaixar.” Os autores atentam para: “ Cuidado com a exceção recauchutar
e seus derivados”.
Figura 7 – Do trabalho das alunas do Curso de Enfermagem
Fonte – Própria da Pesquisa, (2014).
Essas revivescências, para nós, são, certamente, benéficas, pois que fora do exercício
diariamente constante, fogem-nos da lembrança.
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Resultados esperados
O homem sempre produziu conhecimentos e deixou-os registrados de alguma forma,
como é o caso das paredes rupestres nas cavernas, dos hieróglifos, dentre outros mais
aproximados de nossa era. A cibercultura vem de um modo muito mais veloz revelar questões
de subjetividade que fazem do sujeito um ser mais que racional. As redes sociais, por sua vez,
descomprometidas, até certo ponto, com determinados e específicos objetivos, promovem a
oportunidade de podermos analisar a produção escrita por pessoas que por meio delas se
comunicam, mostram a aquisição escrita e revelam, pelas palavras, também, a forma pela qual
a escola aportou em suas vidas, em especial, no que diz respeito às nossas buscas: um
caminho para entender o ensino de língua portuguesa no ensino fundamental e médio cujo
reflexo é visível no alunado de modo geral, e, em nosso caso, no acadêmico de Ilhéus e
egressos dos municípios circunvizinhos.
Os resultados esperados foram além dos propostos em nosso projeto, já que os alunos
fizeram apontamentos sobre variação linguística, ortográficas, concordâncias, fonéticas, de
níveis sociais, descobriram palavras que indicam nomes de alimentos de origem africana,
indígena e de prefixação e outras palavras formadas por sufixação. Além disso, surgiram
ainda, outros interesses pela composição das palavras, que é um conteúdo não contemplado
em nossa ementa e que ficou como sugestão ‘de cultura geral’ para ser discutida no
encerramento do trabalho. Evidentemente, falhas também ocorreram como de praxe, pois
houve alunos que deixaram transparecer nenhuma familiaridade com a experiência.
Outro ganho havido pela experiência foi de ordem pedagógica. Percebemos que por
um descuido de nossa parte, os alunos pesquisaram em gramáticas bem antigas e não
cuidaram com as novas edições. Já o Acordo Ortográfico de 1990 foi bastante discutido e
bastante consultado.
O cuidado com a leitura ‘correta’ no sentido de ler para escrever e avaliar se
corresponde ao que preceitua a norma culta foi um item bem abordado pelos grupos. Todas as
equipes relataram erros em placas de localização que receberam acento indevidamente,
transgredindo a norma culta, como, por exemplo, a placa da Praça Cairu que dá o mesmo
nome ao Bar Cairu. No caso da Placa explicativa no DETRAN de um município
circunvizinho de Ilhéus – BA, o verbo assumir escrito conforme a pronúncia da população
quando o faz de modo despreocupado reforça nosso pensamento de que a norma culta escapa
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dos critérios rígidos que dão estrutura ao idioma e a ausência da acentuação gráfica na palavra
pública na última linha confirma nossa posição, conforme registro na Figura 8.
Figura 8 – Placa Exposta no Detran de um município circunvizinho de Ilhéus-2014
Fonte – Da própria pesquisa
No texto da placa do Detran o registro escrito mais uma vez mostra o falar da
população tal como é e não como preceituam as normas gramaticais da língua portuguesa e
sinaliza a autonomia linguística da língua viva, livre, presa apenas nos liames das regras
gramaticais e que, quando menos se espera, mesmo com vida inerte e determinada pela tinta
do pincel, as palavras revelam a realidade de uma fala bem brasileira de um povo capaz de
realizar uma comunicação eficaz porque se entende e sabe como e o que fala.
Considerações finais
Enveredar por novos caminhos de ensinar Língua Portuguesa é sempre um desafio
salutar que traz ao professor dessa disciplina novos horizontes, novos olhares e novas
caminhadas, principalmente porque mostra novas possibilidades de descobrir novos caminhos
para diferentes motivações.
Nessa caminhada, ao ensinar por algumas décadas, é possível afirmar que a maioria do
alunado chega ao curso superior com insuficiente conhecimento da regularidade da
normalização gramatical que rege os princípios da norma culta do português falado no Brasil.
O período do ensino fundamental ao ensino médio é insuficiente para dar ao estudante
os instrumentos necessários para que este seja capaz de redigir com clareza, coesão e fluidez
gramatical e seja, ainda, autossuficiente em momentos específicos, para eleger a norma culta
com a finalidade de classificar-se em situações que assim o requeiram.
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Desde as décadas de 1980, nas figuras de João Wanderley Geraldi(1984), Sírio
Possenti (1996) e de outros representantes e profundos estudiosos de estratégias do ensino de
Língua Portuguesa, muito se tem feito, mas os resultados não são, de todo, satisfatórios. Em
nosso entender, parte desse não sucesso está enraizado na cultura não letrada do aluno, na
prática linguística única feita apenas na região de convivência e na não variação dos sujeitos
na comunidade. Porém, a principal causa da inflexibilidade e a resistência pela não aceitação
da possibilidade do uso da norma culta está na não prática da leitura como atividade constante
na vida do estudante desde as séries da vida escolar. As práticas repetitivas de exercícios
desvinculados de reflexões contextualizadas também reforçam as dificuldades já verificadas.
Um exemplo claro do que ora afirmamos está no ensino do uso dos porquês feitos
neste mesmo percurso das placas, discutidos em sala de aula, corrigidos em equipes, e
colocados em exposição em local de ampla visibilidade, pois o aluno, ao produzir o seu texto
e empregar o operador argumentativo ‘porque’ conforme o seu uso, faz isto com erro, mesmo
após estudo. A pergunta que fica é: Por que o aluno não aprendeu a aplicar na produção
escrita o que aprendeu em relação ao emprego dos porquês (por quê)?
Parece-nos que a recomendação, o lembrete deve sempre ser refeito quando precedido
ao ato da escrita, ou o sistema de desconto de nota como forma de penalidade deve ser
colocado em ação, muito embora sejamos totalmente contrários a esta prática. Talvez, este
seja o único mecanismo interessante para não perder ‘nota’, o que para nós é entendido como
fator negativo, mas que fará nosso aluno se lembrar dos recursos gramaticais disponíveis na
língua para específicas finalidades.
Quanto aos recursos da língua verbalizada no litoral baiano acentua-se o linguajar
identificado nas redações e que são também encontrados amplamente escritos nas redes
sociais como instrumentos de comunicação na interação social. Isto torna mais plural nossos
falares e dão conta de mais uma variedade linguística viva e em uso nas práticas sociais
cotidianas da vida do brasileiro, inclusive nos meios sociais letrados, mediante maior atenção
dispensada às diferentes falas.
Aprender é uma das coisas mais bonitas, mais gostosas da vida. Acontece em qualquer tempo, em qualquer idade, em qualquer lugar: Ajudar as pessoas a
descobrir esse prazer, a “degustar” o sabor dessa iguaria é ascender às mais altas
esferas da atuação humana. A escola existe para estimular a “gula” pelas delicias de
poder saber..., pois “a capacidade de sentir prazer não é um dom natural. Precisa ser
aprendida”, como lembra Rubem Braga (2000: 133 apud Antunes, 2003, p.175)
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É o professor, não só da disciplina de Língua Portuguesa como de todas as disciplinas
se reinventando e aprendendo em todos os momentos, saindo das suas diversas áreas de
‘conforto’ e atribuindo novos valores e novas cores à sua vida e, muitas vezes, dando outras
diretrizes a sua caminhada e estabelecendo novas significações aos seus conceitos, isto é,
refazendo seus valores.
REFERÊNCIAS
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_________. Muito além da Gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho.
São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
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1998.
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<http://ibge.gov.br/cidadesat/painel/populacao.php?lang=PT&codmun=291360&search=bahia|ilheus|infograficos:-evolucao-populacional-e-piramide-etaria>. Acesso em 25 ago. 2015.
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das Letras: Associação de Leitura do Brasil, 1996.
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