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ISSN 2176-1396 AUTONOMIA E PRÁTICA NA DIDÁTICA DO PROFESSOR DE LINGUA PORTUGUESA FRENTE ÀS NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO SUPERIOR Diva Conceição Ribeiro 1 - CESUPI - BA Almir Milanesi 2 - CESUPI - BA Fabiano Schaper Portela 3 - CESUPI - BA Josefa Maria A. Pimenta 4 - CESUPI- BA Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: Centro de Ensino Superior de Ilhéus CESUPI-BA Resumo O ensino de Língua Portuguesa mesmo no ensino superior é um desafio diário e consiste em transpor obstáculos do cotidiano sem destruir paradigmas culturais desde a colonização do Brasil. Estabelecer objetivos claros como compreender as diferenças existentes entre as variações regionais e a língua coloquial são fatores imprescindíveis para que se estabeleça a harmonia entre a manutenção da fala e o domínio das regularidades gramaticais de que nos falam estudiosos dos fenômenos linguísticos da contemporaneidade. O tema, portanto, está em buscar recursos na modernidade através do meio no qual se vive, incluindo nele, os recursos da tecnologia que permeiam os mais longínquos recantos do planeta. Como metodologia para este trabalho, buscamos observar, registrar por meio de fotografias e impressão de documentos vistos em Ilhéus, sul do litoral da Bahia, em suas ruas, praças, lojas, 1 Doutora em Língua Portuguesa PUC-SP, Mestre em Educação pela PUC-PR, Especialista em Língua Portuguesa pela Unioeste-PR/Unicamp-SP. Estuda gênero, tem interesse por estudos da linguística de textos da literatura brasileira contemporânea. Professora Titular de Comunicação Empresarial e Língua Portuguesa nos Cursos de ADM/CC, Enfermagem, e Nutrição, e da disciplina de Hermenêutica Jurídica do Curso de Direito do Centro de Ensino Superior de Ilhéus- BA. E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Educação, pela Universidad del Norte, Paraguai; Mestre em Engenharia de Produção, pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil; Especialização em Gerência Contábil, pelo Centro de Estudos Pesquisa e Pós Graduação; graduação em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Econômica de Colatina, graduação em Administração, pela Faculdade de Ciências Econômica de Colatina (1987). É funcionário público federal do Instituto Nacional de Seguridade Social, professor titular do Centro de Ensino Superior de Ilhéus. 3 Graduado em Ciências da Computação pela UNIFENAS-MG, Especialista em aplicações Pedagógicas dos Computadores pela UESC-BA, Mestre em Educação: UNINORTE Assunção - Paraguai. Professor Titular da Faculdade de Ilhéus, Chefe da Divisão de Desenvolvimento de Software da Prefeitura Municipal de Itabuna-BA. E-mail: [email protected]. 4 Mestre em Educação pela Universidad Del Norte - UNINORTE Assunção Paraguai. Pós-graduação em Língua Brasileira de Sinais pela Faculdade FINOM. Especialista em Deficiência Auditiva pela Universidade do Estado da Bahia UNEB. Especialista em Língua Portuguesa pela PUC-MG, Graduada em Letras pela FESPI. Professora de Libras da Faculdade de Ilhéus. Professora do AEE da educação básica no CERRLS. E-mail: [email protected]/ [email protected].

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ISSN 2176-1396

AUTONOMIA E PRÁTICA NA DIDÁTICA DO PROFESSOR DE

LINGUA PORTUGUESA FRENTE ÀS NOVAS TECNOLOGIAS NO

ENSINO SUPERIOR

Diva Conceição Ribeiro1 - CESUPI - BA

Almir Milanesi2 - CESUPI - BA

Fabiano Schaper Portela3 - CESUPI - BA

Josefa Maria A. Pimenta4 - CESUPI- BA

Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas

Agência Financiadora: Centro de Ensino Superior de Ilhéus – CESUPI-BA

Resumo

O ensino de Língua Portuguesa mesmo no ensino superior é um desafio diário e consiste em

transpor obstáculos do cotidiano sem destruir paradigmas culturais desde a colonização do

Brasil. Estabelecer objetivos claros como compreender as diferenças existentes entre as

variações regionais e a língua coloquial são fatores imprescindíveis para que se estabeleça a

harmonia entre a manutenção da fala e o domínio das regularidades gramaticais de que nos

falam estudiosos dos fenômenos linguísticos da contemporaneidade. O tema, portanto, está

em buscar recursos na modernidade através do meio no qual se vive, incluindo nele, os

recursos da tecnologia que permeiam os mais longínquos recantos do planeta. Como

metodologia para este trabalho, buscamos observar, registrar por meio de fotografias e

impressão de documentos vistos em Ilhéus, sul do litoral da Bahia, em suas ruas, praças, lojas,

1Doutora em Língua Portuguesa – PUC-SP, Mestre em Educação pela PUC-PR, Especialista em Língua

Portuguesa pela Unioeste-PR/Unicamp-SP. Estuda gênero, tem interesse por estudos da linguística de textos da

literatura brasileira contemporânea. Professora Titular de Comunicação Empresarial e Língua Portuguesa nos

Cursos de ADM/CC, Enfermagem, e Nutrição, e da disciplina de Hermenêutica Jurídica do Curso de Direito do

Centro de Ensino Superior de Ilhéus- BA. E-mail: [email protected]. 2Doutor em Educação, pela Universidad del Norte, Paraguai; Mestre em Engenharia de Produção, pela

Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil; Especialização em Gerência Contábil, pelo Centro de

Estudos Pesquisa e Pós Graduação; graduação em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Econômica de

Colatina, graduação em Administração, pela Faculdade de Ciências Econômica de Colatina (1987). É

funcionário público federal do Instituto Nacional de Seguridade Social, professor titular do Centro de Ensino Superior de Ilhéus. 3 Graduado em Ciências da Computação pela UNIFENAS-MG, Especialista em aplicações Pedagógicas dos

Computadores pela UESC-BA, Mestre em Educação: UNINORTE – Assunção - Paraguai. Professor Titular da

Faculdade de Ilhéus, Chefe da Divisão de Desenvolvimento de Software da Prefeitura Municipal de Itabuna-BA.

E-mail: [email protected]. 4 Mestre em Educação pela Universidad Del Norte - UNINORTE – Assunção – Paraguai. Pós-graduação em

Língua Brasileira de Sinais pela Faculdade FINOM. Especialista em Deficiência Auditiva pela Universidade do

Estado da Bahia – UNEB. Especialista em Língua Portuguesa pela PUC-MG, Graduada em Letras pela FESPI.

Professora de Libras da Faculdade de Ilhéus. Professora do AEE da educação básica no CERRLS. E-mail:

[email protected]/ [email protected].

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mercados, avenidas, meios publicizados e em ambientes virtuais (Facebook), por ser um dos

meios pelos quais nossos alunos se comunicam diariamente e podem colher não somente

informações sobre diferentes assuntos de seus interesses mas, também pode ser reconhecido

como como fonte de registro do conhecimento da população que frequenta esse universo.

Selecionamos, para este evento, exercícios feitos por um grupo de alunas do Curso de

Enfermagem do primeiro semestre do Cesupi – em Ilhéus, e também do Curso de Nutrição

que fazem o reflexo dos exercícios dos alunos dos cursos de Administração e de Ciências

Contábeis, nos quais há mostras do problema trazido por alunos egressos do ensino médio de

diferentes municípios circunvizinhos: Trazem estes acadêmicos conteúdos linguísticos

básicos que lhes deem suporte para cursarem uma graduação de qualidade? O resultado foi

significativo e trouxe aspectos de relevância para minimizar as dificuldades mediante

propostas de exercícios para os semestres vindouros já que é uma característica de variação

linguística regionalizada e como tal precisa ser respeitada, mas deve receber o alerta quanto

ao uso da norma culta.

Palavras-chave: Ensino. Pesquisa. Reflexão

Introdução

Este estudo teve por objetivo encontrar um recurso didático mais envolvente que

pudesse manter o aluno motivado e atento durante as atividades e que buscasse, de alguma

maneira, voltar seus interesses aos aspectos relacionados às dificuldades apontadas na

produção escrita, feita em sala de aula, pelas turmas de primeiros semestres dos Cursos de

Administração, Ciências Contábeis, Enfermagem, e Nutrição.

As dificuldades verificadas entre as populações dos cursos são semelhantes e estão

relacionadas às questões de territorialidade, já que os alunos são oriundos de Ilhéus e

adjacências da região do sul da Bahia.

Assim, buscamos mostrar como nossos alunos fizeram as atividades a partir de um

comando e, deste comando alcançaram os objetivos propostos e ainda assim, aconteceram

outros equívocos, alguns por conta de comandos dados pelo professor e outros pela não

explicitação destes sobre a acentuação gráfica e ortografia.

O marco teórico deste trabalho está em estudiosos como Carboni e Maestri (2003,

p.110) para os quais: “Na luta pela libertação social, não importa apenas o que se diz e,

portanto, o que se escreve, mas também o como se diz e o como se escreve” e que vem

fortalecer, de certo modo, o nosso pensamento, pois que o que ‘classifica’ efetivamente, é o

como se escreve. A forma de escrever mostra se o aluno ‘sabe’ escrever. Deste modo,

entende-se que a norma culta é a que classifica, finalmente, o estudante a melhores situações

de trabalho ou de outras oportunidades em diferentes eventos sociais. Nesse mesmo viés,

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Antunes (2007, p.78), afirma: “As nomenclaturas Gramaticais [...] dizem respeito aos nomes

que as unidades da gramática têm. Funcionam como rótulos, como expressões de designação,

para [...] falar de todas elas chamando-as por seus nomes, embora também expressem

determinada visão dos fatos que designam”. Apoia-se em Maia(1994) que faz consideráveis

explicações acerca de usos das letras j e g e também em Cipro Neto e Ulisses(1998), e em

Cunha e Cintra (2008); já Moura Neves(2000) mostra claras reflexões sobre a natureza dos

substantivos; Severino(2000) e Silva et al(2010) alicerçam reflexões sobre a metodologia que

respalda nossas buscas.

Por tudo isso, faz-se muito necessário que se saiba e que se reconheça a gramática de

Língua Portuguesa do Português falado no Brasil e, sobretudo, que se lance mão desta, com

domínio, quando necessário, sem perder de vista, o respeito ao falar bem brasileiro da

comunidade da qual o utente é oriundo e de cujos padrões é referência em uma fala

despreocupada e singular na espontaneidade natural da conversa que define os grupos de

falantes e sua brasilidade.

Ensino e aprendizagem no munda da tecnologia

Estar no mundo é muito mais do que existir, pois o mundo construído pelo homem é

aprimorado também para e pelo homem e nunca sofreu com tanta e tamanha intensidade e

transformação quanto o fez neste último século.

Nestes tempos modernos, as inovações tecnológicas passaram a compor o material

escolar dos alunos e se tornaram produtos de primeira necessidade. As escolas, de modo

geral, mostram-se despreparadas para lidar com o corpo discente e o uso de seus parelhos,

muitas vezes, de primeira geração, como notebook, celulares, smartfones, tablets e outros

durante as aulas, uma vez que estes passaram a ter diferentes finalidades como fotografar as

atividades registradas no quadro (não mais de giz, mas agora com o uso de pincel), para

substituir as atividades escritas no caderno de exercícios.

Nós, professores, perplexos, precisamos retomar algumas reflexões para redirecionar

as nossas práticas pedagógicas frente às novas realidades emergentes em uma sociedade

tecnologizada, digitalizada e conectada em redes sociais sem ferir uma motivação que não

deve ser esquecida para não criar um novo caos e tornar outra vez, a escola mecanizada como

já ocorreu em um passado bem recente, a exemplo dos exercícios repetitivos, apenas, como

“siga o modelo” desta vez, porém, porém, com o uso da alta tecnologia.

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Assim, é necessário o professor estar atento ao que ocorre nos novos canais virtuais de

comunicações, na variação linguística praticada nesses diferentes espaços sem descuidar da

norma culta e sem se deixar levar pelos extremos gramaticais da norma padrão que também,

por sua vez, tornam-se pouco usados.

Em nosso propósito, o palco de estudos delimitado está nas praias de Ilhéus, nas ruas e

avenidas, no comércio, repartições públicas e nos posts do Facebook, todos frequentados

pelos acadêmicos que podem consultar e trabalhar com as práticas escritas mediante o que

preceitua a gramática da norma padrão, o que se exige da norma culta e com o que se trabalha

em sala de aula conforme o conteúdo programático da ementa definida de acordo com o

curso. Esses conteúdos têm, como finalidade, preparar o acadêmico das diferentes graduações

para alcançar conhecimentos que o preparem não só à compreensão de leitura e de escrita de

diferentes disciplinas, mas também para a leitura de mundo.

Nessa direção, apropriamo-nos de reflexões de Carboni e Maestri (2003):

a consciência do mundo é uma aproximação-apropriação do mundo. Ela não é, porém, o próprio mundo. Expressão da consciência, a linguagem é representação

conceptual, relativamente compartilhada pelos membros de uma comunidade

falante. A linguagem verbal é nominação mais ou menos fiel do mundo, sem que

jamais haja identificação essencial entre linguagem e o mundo. O conceito é sempre

menos rico do que o objeto conceitualizado(CARBONI e MAESTRI, 2003, p.204).

Nosso caminho para entrar em estudos da escrita sistematizada pela tecnologia,

entendida como registro ativo e que atribui à nossa causa um sentido ‘vivo’ de fala usual do

mundo contemporâneo pode ser um parâmetro para ilustrar uma língua falada no litoral sul da

Bahia e, também, indicar aspectos sobre o domínio da norma padrão do português do Brasil

praticado pelo acadêmico de Ilhéus.

A variação linguística nas regiões do Brasil possui peculiaridades significativas que

indicam a colonização e informam outras características pertinentes aos sujeitos que nelas

vivem e sobre sua cultura, de modo geral. Isto passa a dizer, também, da influência que essa

população sofreu (e sofre) e de como seu modo de vida foi configurado, explicando, ainda o

porquê de seu comportamento ser como é.

No sul da Bahia, a população de Ilhéus é composta por 182 350 habitantes, conforme

dados do IBGE indicando as etnias que formam a população ilheense. Cor/Raça: Parda:

58,6%, Branca: 19,5%, Preta: 18,7%, Indígena: 2,1% e Amarela: 0,9%. Parte considerável

dessa população produz algumas construções morfológicas e sintáticas bem particulares

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conforme sinalizamos na Figura 1 e chamamos a atenção para o emprego dos termos mim em

lugar de me, e é praticado por parte da população de Ilhéus, assim como o verbo no infinitivo

usado no Modo Indicativo, na primeira pessoa da singular.

Em cada turma de cada curso iniciante - Administração, Contábeis, Enfermagem e

Nutrição há um número de cinquenta alunos. As figuras representam aproximadamente 32

alunos que escrevem de forma semelhante ou igual.

Figura 1 - Uso do mim em lugar de me

Fonte: Curso de Enfermagem 2013.1 – Própria pesquisa

Na mesma proporção da Figura 1, a Figura 2 mostra o emprego do verbo aprender no

infinitivo como aprendir e escolhir. O acadêmico deveria usar a primeira pessoa do singular

do Modo Indicativo no Pretérito Imperfeito. Isto determina a forma pela qual este estudante

não consegue, ainda, estabelecer as flexibilizações verbais e seus empregos em diferentes

conjugações, tempos e modos. Também não faz distinção entre o operador argumentativo mas

(conjunção adversativa e o mais, como termo de adição ou de intensidade) e o operador

argumentativo mais. Para estes estudantes faltou clareza entre o sentido dessas palavras e a

importância de usá-las apropriadamente conforme o que se pretende expressar.

Figura 2 - Emprego do Verbo no Infinitivo para a primeira pessoa do singular no Presente do Indicativo

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Fonte: Curso de Nutrição 2014.2 – Própria pesquisa, (2014).

A Figura 3, apesar de mostrar uma grafia legível, traz o registro quase fiel da língua

em sua verbalização cotidiana e reafirma o uso do verbo no Infinitivo em lugar de usar a

primeira pessoa do singular do Pretérito Imperfeito do Modo Indicativo: Sentir um frio na

barriga... em vez de escrever: Eu senti (ou manter a opção pela elipse – Senti)

Figura 3 – Emprego do verbo no Infinitivo em lugar da primeira pessoa do singular do Presente do modo Indicativo.

Fonte: Nutrição - Própria da Pesquisa, (2014).

Novos caminhos para aprender e ensinar língua portuguesa

Por metodologia compreende-se o percurso traçado para alcançar o resultado que

desejamos conforme a necessidade de nossos alunos para chegar a uma aprendizagem

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satisfatória do primeiro período de cada curso no qual atuamos com o ensino da Língua

Portuguesa.

Ao entrar em sala de aula, nos cursos de Enfermagem, Nutrição, Ciências Contábeis,

Administração, notória é a manipulação do celular durante as aulas e em quase todos os casos,

o acesso às redes sociais. Assim sendo, pensamos em nos valer desses recursos para a

ensinagem da língua padrão a partir dos posts nas redes sociais e da comparação desses

escritos frente aos critérios que regem a norma culta.

Estabelecemos alguns critérios pelos quais os alunos, reunidos em equipes com quatro

indivíduos, deveriam cada um destes, selecionar cinco diferentes quadros que contivessem

algum tipo de erro: ortográfico, de concordância verbal ou nominal ou ambos, ou outros

aspectos e, em seguida, imprimi-los em papel sulfite.

Como exemplo, mostramos um material exposto na praça Cairu, em Ilhéus, do qual

estudamos a acentuação gráfica das palavras oxítonas e suas regras de não acentuação em

oxítonas terminadas em i e u, conforme as gramáticas consultadas e referenciadas no final do

trabalho.

Figura 4 - Placa de um Bar na Praça Cairu no Centro de Ilhéus

Fonte: Própria da Pesquisa, (2014).

Em seguida, seriam consultados os dicionários de papel e/ou virtuais assim como as

respectivas gramáticas (pelo menos duas) que justificassem as escritas como estavam feitas

nos quadros, nas placas, e como deveriam ser grafadas mediante as normas da língua padrão.

Para Silva et al.(2010, p.46-47) “Por materiais e métodos compreende-se o instrumental

empregado e a descrição das técnicas adotadas, incluindo também o processo da

experimentação (...) com certa riqueza de detalhes.” Desse modo, inserimos, ainda, os

primeiros passos da referencialidade dos dados da pesquisa científica já que os acadêmicos

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deveriam elencar as obras consultadas em sites ou em livros consultados, conforme critérios

da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Para Severino (2000, p.144): “A

ciência se faz através de trabalhos de pesquisa especializada, própria das várias ciências;

pesquisa que, além do instrumental epistemológico de alto nível, exige capacidade de

manipulação de um conjunto de métodos e técnicas específicos às várias ciências”.

O professor de português precisa conquistar sua autonomia didática, assumir-se como especialista da área, comprometer-se com a causa da educação linguística de

seus alunos[...] precisa ter competência que lhe confira a autonomia necessária à

condução de seu trabalho, o que, em nenhum momento dispensa sua inserção nas

preocupações do grupo com o qual atua. Significa que o professor esteja consciente

de como deve ser seu trabalho [...] (ANTUNES, 2003, p.170).

Os grupos em ativo exercício e buscando as informações virtuais e em gramáticas de

papel sinalizavam para algumas falhas do professor da disciplina quando selecionaram uma

gramática antiga (1985), e que pela desatualização permitiram a reincidência de outros erros.

Evidentemente, esses mesmos equívocos serão alerta para a não recorrência em novos

registros desta natureza. Nesse horizonte, o trabalho surtia efeito e, mediante dúvidas, éramos

consultados para dirimi-las na medida de como iam surgindo.

Durante essa atividade que teve um espaço de quinze dias, da data da instituição à data

da entrega, percebemos a reflexão sobre os fenômenos gramaticais acerca das construções

linguísticas da norma culta e das ocorrências sobre algumas exceções e o porquê dessas

mesmas ocorrências.

Era a equipe que estava produzindo pensamentos e reflexões em busca de

fundamentação teórica das funções gramaticais da norma culta. Pierre Lévy considera as redes

de relacionamento como canais de produção imensa de uma série incontável de ações da

mesma forma, também, na nominação em sua obra As tecnologias da inteligência: O futuro

do pensamento na era da informática (1993, p.175):

quem pensa? Uma imensa rede loucamente complicada, que pensa de forma múltipla, cada nó da qual é por sua vez um entrelace indiscernível de partes

heterogêneas, e assim por diante em uma descida fractal sem fim. Os autores desta

rede não param de traduzir, de repetir, de cortar. De flexionar em todos os sentidos

aquilo que recebem de outros. Pequenas chamas evanescentes de subjetividade

unitária correm na rede como fogos-fáctuos no matagal das multiplicidades.

Subjetividades infrapessoais do gesto, do olhar, da carícia. É claro, a pessoa pensa,

mas é porque uma megarrede(sic) cosmopolita pensa dentro dela, cidades e

neurônios, escola pública e neurotransmissores, sistemas de signos e reflexos. Quando deixamos de manter a consciência individual no centro, descobrimos uma

nova paisagem cognitiva, mais complexa, mais rica(LÉVY, 1993, p.175).

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No desenvolvimento deste exercício com este material foi possível verificarmos a

fonte consultada, a página, o ano, a autoria, a localização eletrônica (virtual), e também novos

erros ortográficos cometidos pelos alunos durante a correção. Isto nos ofereceu subsídios para

uma nova reverificação de conteúdo a fim de que pudéssemos reforçar as formas pelas quais

os vocábulos deveriam receber acentos gráficos e quando deveriam deixar de ser acentuados

em função de que perderam a sílaba tônica por mudarem a sílaba mais forte e adquirirem a

tonicidade em nova sílaba.

Contempla a fala de Antunes (2003) sobre o assunto referente aos aspectos de

regularidades gramaticais:

[...] as regras (mais precisamente: as regularidades) de como se usa a língua nos mais variados gêneros de textos orais e escritos [...] de como ensinar tais

regularidades, com que concepções, com que objetivos e posturas, desenvolvendo

que competências e habilidades [...] uma gramática sozinha nunca foi suficiente para

alguém conseguir ampliar e aperfeiçoar seu desempenho comunicativo(ANTUNES,

2003, p.88).

Deste modo, os grupos foram construindo as normas que regem os deslocamentos da

sílaba tônica da palavra e também possibilitou rever com maior nível de compreensão o

emprego da palavra viagem quando substantivo e viajem quando assume a função de verbo. É

importante frisar que o emprego dessas diferentes grafias ainda causam dificuldades na escrita

no ensino superior em um expressivo número de alunos, como mostra a Figura 5.

Para este estudo, uma obra de excelente qualidade está em Gramática de Usos do

Português de Maria Helena de Moura Neves (2000, p.67), no capítulo de que trata sobre a

natureza da classe do substantivo e que traz importantes e ricas informações sobre essa classe

gramatical que, até certo ponto parece esquecida nos conteúdos programáticos em nossas

escolas.

Cipro Neto e Ulisses (1998) explicam que:

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a letra g somente representa fonema /ƺ/ diante das letras e e i. Diante das letras a, o, e u, esse fonema é necessariamente representado pela letra j. Usa-se a letra g:

Nos substantivos terminados em – agem, - igem, – ugem:

a)Agiotagem, aragem, contagem, coragem, garagem, malandragem, miragem,

viagem. Fuligem, impingem, (ou impingem), origem, vertigem; ferrugem,

lambujem, salsugem.

Exceções: Pajem e Lambugem

b)Nas palavras terminadas em – ágio, égio, ígio, ógio, úgio; adágio, contágio,

estágio, pedágio; colégio, egrégio; litígio, prestígio; necrológio, relógio, refúgio,

subterfúgio.

[...] ainda nas palavras grafadas com g: aborígine, agilidade, algema, apogeu, argila, auge, bege, bugiganga, cogitar, drágea, faringe, fugir, geada, gengiva, gengibre,

gesto, gibi, herege, higiene, impingir, monge, rabugice, tangerina, tigela,

vagem(CIPRO NETO e ULISSES, 1988, p37).

Esse tipo de recomendação era trabalhada na época em que crianças iniciavam a

alfabetização e davam os primeiros passos na escrita de palavras mais complexas, depois de

frases e posteriormente de textos. Essas palavras apreciam escritas em tiras de papel e coladas

nas paredes da sala de aula. Eram feitos ditados de palavras soltas, apenas para memorizá-las

quanto à grafia e, conforme relatos de professores e até meus relatos, pouco adiantavam para

que os alunos dominassem a escrita de tais vocábulos. Nesse sentido, os mesmos autores

trabalham com a grafia da letra j.

Na Figura 5 a grafia do vocábulo mostra um exemplo de escrita. Outras palavras que

têm a semelhante pronúncia também sofrem a mesma escrita, como é o caso de garajem.

Figura 5 – Trabalho dos alunos - Emprego da letra J

Fonte: Própria da Pesquisa, (2014).

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Maia(1994) explica o uso da letra j e da letra g conforme a origem africana ou

ameríndia da seguinte maneira:

a) Nas formas dos verbos terminados em – jar: arranjar (arranjo, arranje, arranjem, por exemplo); despejar (despejo, despeje, despejem); enferrujar(enferruje,

enferrujem), viajar (viajo, viaje, viajem).

b)Nas palavras de origem tupi, africana, árabe ou exótica: jê, jiboia, pajé, jirau,

caçanje, alfanje, alforje, canjica, jerico, manjericão Moji.

c)Nas palavras derivadas de outras que já apresentam j: gorjear, gorjeio, gorjeta,

(derivado de gorja; cerejeira (derivada de cereja); laranjeira (derivada de laranja);

lisonjear, lisonjeiro (de lisonja), lojinha, lojista (de loja); sarjeta (de sarja); rijeza,

enrijecer (de rijo); varejista (de varejo).

Atente para: berinjela, cafajeste, granja, hoje, intrujice, jeito, jejum, jerimum, jérsei, jiló, laje, majestade, objeção, objeto, ojeriza, projétil (ou projetil), rejeição,

traje, trejeito(MAIA, 1994, p.28).

O mesmo autor chama a atenção para a seguinte e interessante questão: “após a letra

inicial a - ágil, agente. São exceções as palavras em que o a é um prefixo acrescido a um

radical iniciado por um j: ajeitar (jeito).

Concordância em trânsito

No Brasil é comum o utente respeitar a concordância mais próxima com o primeiro

verbo, mas não mantê-la nos transcorrer do discurso verbal e também no discurso escrito. De

acordo com Cunha e Cintra (2008, p.510): “A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele

faz viver no tempo, exterioriza-se na CONCORDÂNCIA, isto é, na variabilidade do verbo

para conformar-se ao número e à pessoa do sujeito.” De acordo com o site consultado Regra

geral:

o artigo, o numeral, o adjetivo e o pronome adjetivo concordam com o substantivo a

que se referem em gênero e número. Ex.: Dois pequenos goles de vinho e um

calçado certo deixam qualquer mulher irresistivelmente alta (PORTAL R7, Português, acesso 16/08/2015).

As exceções sobre Concordância Verbal e Concordância Nominal também fizeram

parte das buscas para o trabalho. Os grupos buscavam no professor esclarecimentos sobre as

concordâncias encontradas nas gramáticas e que são feitas com a ideia de soma, mas estão

singularizadas e neste sentido, íamos adentrando, inclusive nas questões de Figuras de

Linguagem, um estudo que ficou apenas na superfície dos conhecimentos porque o tempo se

torna insuficiente para estudar as questões que são levantadas durante esse processo de buscas

pelas respostas e o espaço ser de apenas um semestre traduzido em um quadrimestre.

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Figura 6 – Do trabalho das alunas do Curso de Enfermagem

Fonte: – Própria da Pesquisa, (2014).

Esta Figura 6 nos oportunizou trabalhar, exaustivamente, com as interações sociais

praticadas diariamente e nos levou à percepção de outros falares incluindo os televisivos

jornalísticos para identificar as concordâncias usadas nesses canais televisivos e também às

redes sociais.

Assim, maior era a oportunidade de servir na seara do repasse das indicações das obras

para consulta como também o processo pelo qual as exceções se efetivam no mecanismo das

práticas linguísticas. Em alguns momentos, somos obrigados a confessar que aprendemos,

principalmente em relação à operação das máquinas (computador). Neste caso, cabe muito

bem o que afirma Antunes(2003):

[...] a imagem do professor já não carrega aquela aura misteriosa de quem está

‘pronto’ para ‘ensinar’, de quem já estocou os saberes necessários para a

transmissão pedagógica em sala de aula. [...]o professor que se refaz, que

redescobre, que reinventa, que revê suas concepções e atitudes, que não está

“formado” e, portanto, redimensiona seus saberes. Um professor que não pode deixar se “ser aluno”, isto é, que não sabe tudo, que não pode deixar de ser

aprendiz. Eternamente aprendiz. (ANTUNES, 2003, p. 174).

Neste movimento, o aluno traz para a sala de aula o material a ser estudado e pode

formar, também, a partir deste mesmo material a linha teórica mediante a fundamentação

gramatical os critérios que asseguram os preceitos que regem a norma culta e que fazem do

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acadêmico um sujeito autônomo e senhor de sua aprendizagem e construtor de seu

conhecimento por meio das suas próprias reflexões. Corrobora as reflexões de Antunes(2003)

e mostra como o professor poder ser eternamente ‘aprendiz’.

A Figura 7 permitiu o trabalho para o uso da letra x e do dígrafo ch. Este exercício

trouxe novidade aos acadêmicos (e a nós, como professor), já que era esperado que esta

distinção tivesse sido feita ao longo do percurso escolar.

O trabalho trouxe, porém, grandes benefícios, inclusive ao professor, pois que

retomamos os estudos do Acordo Ortográfico e as novas orientações sobre o uso do hífen e

suas aplicabilidades e continuamos nas consultas às gramáticas, as quais recomendam usar x

após o emprego de ditongos, como Cipro Neto e Ulisses (1998, p.35-36): “A letra x

representa esse fonema: a) após um ditongo: ameixa, caixa, peixe, eixo, frouxo, trouxa, baixo,

encaixar, paixão, rebaixar.” Os autores atentam para: “ Cuidado com a exceção recauchutar

e seus derivados”.

Figura 7 – Do trabalho das alunas do Curso de Enfermagem

Fonte – Própria da Pesquisa, (2014).

Essas revivescências, para nós, são, certamente, benéficas, pois que fora do exercício

diariamente constante, fogem-nos da lembrança.

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Resultados esperados

O homem sempre produziu conhecimentos e deixou-os registrados de alguma forma,

como é o caso das paredes rupestres nas cavernas, dos hieróglifos, dentre outros mais

aproximados de nossa era. A cibercultura vem de um modo muito mais veloz revelar questões

de subjetividade que fazem do sujeito um ser mais que racional. As redes sociais, por sua vez,

descomprometidas, até certo ponto, com determinados e específicos objetivos, promovem a

oportunidade de podermos analisar a produção escrita por pessoas que por meio delas se

comunicam, mostram a aquisição escrita e revelam, pelas palavras, também, a forma pela qual

a escola aportou em suas vidas, em especial, no que diz respeito às nossas buscas: um

caminho para entender o ensino de língua portuguesa no ensino fundamental e médio cujo

reflexo é visível no alunado de modo geral, e, em nosso caso, no acadêmico de Ilhéus e

egressos dos municípios circunvizinhos.

Os resultados esperados foram além dos propostos em nosso projeto, já que os alunos

fizeram apontamentos sobre variação linguística, ortográficas, concordâncias, fonéticas, de

níveis sociais, descobriram palavras que indicam nomes de alimentos de origem africana,

indígena e de prefixação e outras palavras formadas por sufixação. Além disso, surgiram

ainda, outros interesses pela composição das palavras, que é um conteúdo não contemplado

em nossa ementa e que ficou como sugestão ‘de cultura geral’ para ser discutida no

encerramento do trabalho. Evidentemente, falhas também ocorreram como de praxe, pois

houve alunos que deixaram transparecer nenhuma familiaridade com a experiência.

Outro ganho havido pela experiência foi de ordem pedagógica. Percebemos que por

um descuido de nossa parte, os alunos pesquisaram em gramáticas bem antigas e não

cuidaram com as novas edições. Já o Acordo Ortográfico de 1990 foi bastante discutido e

bastante consultado.

O cuidado com a leitura ‘correta’ no sentido de ler para escrever e avaliar se

corresponde ao que preceitua a norma culta foi um item bem abordado pelos grupos. Todas as

equipes relataram erros em placas de localização que receberam acento indevidamente,

transgredindo a norma culta, como, por exemplo, a placa da Praça Cairu que dá o mesmo

nome ao Bar Cairu. No caso da Placa explicativa no DETRAN de um município

circunvizinho de Ilhéus – BA, o verbo assumir escrito conforme a pronúncia da população

quando o faz de modo despreocupado reforça nosso pensamento de que a norma culta escapa

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dos critérios rígidos que dão estrutura ao idioma e a ausência da acentuação gráfica na palavra

pública na última linha confirma nossa posição, conforme registro na Figura 8.

Figura 8 – Placa Exposta no Detran de um município circunvizinho de Ilhéus-2014

Fonte – Da própria pesquisa

No texto da placa do Detran o registro escrito mais uma vez mostra o falar da

população tal como é e não como preceituam as normas gramaticais da língua portuguesa e

sinaliza a autonomia linguística da língua viva, livre, presa apenas nos liames das regras

gramaticais e que, quando menos se espera, mesmo com vida inerte e determinada pela tinta

do pincel, as palavras revelam a realidade de uma fala bem brasileira de um povo capaz de

realizar uma comunicação eficaz porque se entende e sabe como e o que fala.

Considerações finais

Enveredar por novos caminhos de ensinar Língua Portuguesa é sempre um desafio

salutar que traz ao professor dessa disciplina novos horizontes, novos olhares e novas

caminhadas, principalmente porque mostra novas possibilidades de descobrir novos caminhos

para diferentes motivações.

Nessa caminhada, ao ensinar por algumas décadas, é possível afirmar que a maioria do

alunado chega ao curso superior com insuficiente conhecimento da regularidade da

normalização gramatical que rege os princípios da norma culta do português falado no Brasil.

O período do ensino fundamental ao ensino médio é insuficiente para dar ao estudante

os instrumentos necessários para que este seja capaz de redigir com clareza, coesão e fluidez

gramatical e seja, ainda, autossuficiente em momentos específicos, para eleger a norma culta

com a finalidade de classificar-se em situações que assim o requeiram.

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Desde as décadas de 1980, nas figuras de João Wanderley Geraldi(1984), Sírio

Possenti (1996) e de outros representantes e profundos estudiosos de estratégias do ensino de

Língua Portuguesa, muito se tem feito, mas os resultados não são, de todo, satisfatórios. Em

nosso entender, parte desse não sucesso está enraizado na cultura não letrada do aluno, na

prática linguística única feita apenas na região de convivência e na não variação dos sujeitos

na comunidade. Porém, a principal causa da inflexibilidade e a resistência pela não aceitação

da possibilidade do uso da norma culta está na não prática da leitura como atividade constante

na vida do estudante desde as séries da vida escolar. As práticas repetitivas de exercícios

desvinculados de reflexões contextualizadas também reforçam as dificuldades já verificadas.

Um exemplo claro do que ora afirmamos está no ensino do uso dos porquês feitos

neste mesmo percurso das placas, discutidos em sala de aula, corrigidos em equipes, e

colocados em exposição em local de ampla visibilidade, pois o aluno, ao produzir o seu texto

e empregar o operador argumentativo ‘porque’ conforme o seu uso, faz isto com erro, mesmo

após estudo. A pergunta que fica é: Por que o aluno não aprendeu a aplicar na produção

escrita o que aprendeu em relação ao emprego dos porquês (por quê)?

Parece-nos que a recomendação, o lembrete deve sempre ser refeito quando precedido

ao ato da escrita, ou o sistema de desconto de nota como forma de penalidade deve ser

colocado em ação, muito embora sejamos totalmente contrários a esta prática. Talvez, este

seja o único mecanismo interessante para não perder ‘nota’, o que para nós é entendido como

fator negativo, mas que fará nosso aluno se lembrar dos recursos gramaticais disponíveis na

língua para específicas finalidades.

Quanto aos recursos da língua verbalizada no litoral baiano acentua-se o linguajar

identificado nas redações e que são também encontrados amplamente escritos nas redes

sociais como instrumentos de comunicação na interação social. Isto torna mais plural nossos

falares e dão conta de mais uma variedade linguística viva e em uso nas práticas sociais

cotidianas da vida do brasileiro, inclusive nos meios sociais letrados, mediante maior atenção

dispensada às diferentes falas.

Aprender é uma das coisas mais bonitas, mais gostosas da vida. Acontece em qualquer tempo, em qualquer idade, em qualquer lugar: Ajudar as pessoas a

descobrir esse prazer, a “degustar” o sabor dessa iguaria é ascender às mais altas

esferas da atuação humana. A escola existe para estimular a “gula” pelas delicias de

poder saber..., pois “a capacidade de sentir prazer não é um dom natural. Precisa ser

aprendida”, como lembra Rubem Braga (2000: 133 apud Antunes, 2003, p.175)

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É o professor, não só da disciplina de Língua Portuguesa como de todas as disciplinas

se reinventando e aprendendo em todos os momentos, saindo das suas diversas áreas de

‘conforto’ e atribuindo novos valores e novas cores à sua vida e, muitas vezes, dando outras

diretrizes a sua caminhada e estabelecendo novas significações aos seus conceitos, isto é,

refazendo seus valores.

REFERÊNCIAS

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_________. Muito além da Gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho.

São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

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1998.

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<http://ibge.gov.br/cidadesat/painel/populacao.php?lang=PT&codmun=291360&search=bahia|ilheus|infograficos:-evolucao-populacional-e-piramide-etaria>. Acesso em 25 ago. 2015.

LEVY, P. As tecnologias da inteligência: O futuro do pensamento na era da informática. Rio

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<http://www.portugues.com.br/gramatica/concordancia-nominal-htm1>. Acesso em 16 ago. 2015.

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das Letras: Associação de Leitura do Brasil, 1996.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 21ª ed. São Paulo: ed. Cortez, 2000.

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SILVA, E. et al. Metodologia do trabalho acadêmico. Curitiba: ed. Juruá, 2010.