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ISSN 2176-1396
A GEOVISUALIZAÇÃO COMO POSSIBILIDADE DE TECNOLOGIA
DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO
Tadeu Jussani Martins1 - UNESP
Grupo de Trabalho - Comunicação e Tecnologia
Agência Financiadora: CAPES - CNPq
Resumo
As tecnologias atuais, no âmbito da comunicação, convergem no sentido de tornar as
informações cada vez mais fluídas e síncronas no espaço e no tempo. Sem entrar no mérito da
qualidade e perícia dessas informações instantâneas e entendendo que a escola e o ensino
como partes da sociedade, também estão imersos nas alterações estruturantes que nela
ocorrem, torna-se necessário discutir os caminhos pelo qual a transmissão do conhecimento,
através da informação e por meio das tecnologias, percorrerá. Na linha de tendência no ensino
de geografia, pontua-se a geovisualização como uma trajetória possível. A geovisualização é
um paradigma na ciência cartográfica na qual estabelece normas metodológicas para o
desenvolvimento de representações gráficas interativas com o usuário: mapas animados,
mapas interativos, atlas digitais, entre outros. Logo, quando aplicada ao ensino de geografia
torna-se uma tecnologia interessante que visa à comunicação por meio da exploração,
(interação do usuário com o material didático) de informações geográficas, levando ao
aprimoramento de conceitos científicos pelos alunos, possibilitado pela antecipação de
imagens mentais. Neste sentido e na perspectiva da Cartografia Escolar, o termo
geovisualização é discutido, além da apresentação de uma proposta de material didático: o
Atlas Escolar Municipal de Ourinhos em versão digital, fundamentado nesse viés tecnológico
e que estimula reflexões sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação atuantes no
ensino de Geografia. Contudo, faz-se um paralelo entre abordagens presentes nas orientações
constantes em documentos oficiais no Brasil, como os Parâmetros Curriculares Nacionais de
Geografia e a Proposta Curricular do Estado de São Paulo; e, a partir dessas considerações são
estabelecidas as possíveis animações e interatividades explícitas nas páginas temáticas do
material didático apresentado.
Palavras-chave: Geovisualização. Mapas Interativos. Materiais Didáticos.
1Bacharel e Licenciado em Geografia pela UNESP/Ourinhos/SP. Atualmente é Mestrando do Programa de Pós-
Graduação em Geografia da UNESP/Rio Claro/SP – Brasil. E-mail: [email protected].
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Introdução
A pesquisa, apresentada no XII Congresso Nacional de Educação – EDUCERE,
pautou-se na investigação de uma linguagem digital como proposta para o desenvolvimento
de mapas interativos que instigasse nos alunos de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, das
escolas do Município de Ourinhos, SP; o interesse sobre o lugar onde vivem, a partir de um
Atlas Municipal Escolar. Portanto, trata-se de uma abordagem sobre materiais didáticos de
natureza digital.
Há no Município de Ourinhos o curso de Geografia do Campus Experimental da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, muitas pesquisas sobre a região
ocorreram desde a instalação da unidade em 2004. Isso levou a professora Doutora Andréa
Aparecida Zacharias, através do Grupo de Pesquisa em Geotecnologias e Cartografia
Aplicadas à Geografia (GEOCART), a compilar e transformar essas informações em um
Atlas que pudesse ser gratuitamente acessível à população da cidade, mas com o objetivo
principal de servir como instrumento para o professor abordar, com seus alunos, questões
referentes ao município, e, tendo em vistas as inovações tecnológicas que ocorrem em toda
sociedade e uma maior acessibilidade a elas, uma das propostas do Atlas é ser digital e
divulgado pela internet.
No decorrer da pesquisa, houve várias inquietações que se configuraram, à priori, em
obstáculos que deveriam ser superados para que o trabalho se justificasse. Questões como:
Por que o lugar? O que justificaria a construção de materiais didáticos voltados a este estudo?
Logo, por que a construção de um atlas municipal escolar? Foram presentes no início da
pesquisa e se avolumaram quando considerado os materiais didáticos do tipo digital, pois será
que a escola (enquanto ambiente / instituição) possui estrutura adequada para implantação e
uso? Será que os alunos preferem este tipo de material? E será que este cumpre com o
propósito de mediar conhecimento ou falha neste processo sendo apenas um item de
curiosidade temporária? O professor, o mediador, que usará o atlas como ferramenta
(transformando este num instrumento de aprendizagem), será que sabe usar essas novas
tecnologias? E, além do conhecimento técnico, será que acredita ser relevante estas novas
abordagens?
Um atlas escolar só tem sentido de existir se for usado para instigar indagações nos
alunos, levando-os as reflexões sobre várias temáticas que, no caso do lugar, os afetam
diretamente. E, neste caso, o professor ao escolher as estratégias para possibilitar esse
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desenvolvimento em seu aluno, ao escolher um atlas em versão digital, outorga-se um papel
preponderante na legitimação deste material.
Sobre o ensino do lugar e sua leitura, estas abordagens são justificadas e estimuladas
nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia e na Proposta Curricular do Estado de
São Paulo, que mencionam o “lugar” como um conceito imprescindível nas abordagens atuais
da Geografia, buscando “[...] práticas pedagógicas que permitam colocar aos alunos as
diferentes situações de vivência com os lugares, de modo que possam construir compreensões
novas e mais complexas a seu respeito” (BRASIL, 1998, p.30).
Pois, “o lugar é onde estão as referências pessoais e o sistema de valores que
direcionam as diferentes formas de perceber e constituir a paisagem e o espaço geográfico”.
(BRASIL, 1998, p.29).
E, justamente, “[...] são esses valores que fundamentam a vida em sociedade,
permitindo a cada indivíduo identificar-se como pertencente a um lugar e, a cada lugar,
manifestar os elementos que lhe dão uma identidade única”. (SÃO PAULO, 2010, p.78).
Numa perspectiva similar, Santos (2000) destaca que:
[...] um lugar não é apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, isto é, de experiência sempre renovada, o que permite, ao mesmo tempo, a reavaliação das
heranças e a indagação sobre o presente e o futuro. A existência naquele espaço
exerce um papel revelador sobre o mundo. (p. 114).
Esta é uma singela reflexão da importância de estudar o lugar através do que ele
representa para um indivíduo, logo, seu estudo possibilita que o aluno desenvolva uma
compreensão crítica de sua realidade, materializada neste espaço geográfico. Sendo os Atlas
Municipais Escolares um dos meios que possibilitam um acúmulo de informações nesta
abordagem.
No entanto, há carência, em alguns municípios, de materiais didáticos que apresentem
as informações da escala geográfica local, geralmente os materiais didáticos e de suporte ao
professor focalizam escalas mais amplas como Brasil regional ou o mundo.
Consequentemente, o estudo do espaço de vivência é muitas vezes negligenciado,
minimizando as orientações curriculares de Geografia presentes em documentos oficiais que
atestam sua importância.
A ausência dos materiais aumenta quando se analisa a versão digital. Considerando
que existe uma demanda por parte dos alunos em relação às tecnologias, esta pesquisa propôs
como solução a elaboração de um Atlas Municipal Escolar em versão digital que apresentasse
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mapas interativos com temática específica do lugar (no caso, Ourinhos) e comprometeu-se
com a democratização desta metodologia, a Geovisualização.
Geovisualização: uma tecnologia possível na Cartografia Escolar
O Atlas Municipal Escolar de Ourinhos em versão digital trata-se de um projeto em
Web Cartografia, nas proposições de Taylor (1991), pois as páginas contendo animações e
interatividades com o usuário/aluno serão publicadas na internet.
Para tanto, como base metodológica, encontra-se a Geovisualização.
Este conceito popularizou-se a partir da década de 1990 com as pesquisas2 de Alan M.
MacEachren, David DiBiase, Danny Dorling, D. R. Fraser Taylor, Ferjan Ormeling, Georg
Gartner, Keith C. Clarke, Jason Dykes, Menno-Jean Kraak, Michael P. Peterson, Robert G.
Cromley, Terry A. Slocum, entre outros autores que procuraram estabelecer estratégias
metodológicas cuja função pautava-se na melhoria das técnicas de representações gráficas.
A Geovisualização refere-se a um conjunto de ferramentas e técnicas de apoio à
análise de dados geoespaciais sendo, sobretudo, um campo relacionado à visualização
científica (MACEACHREN; KRAAK, 1997) cuja essência possibilita a visualização da
informação (STUART; MACKINLAY; SHNEIDERMANN, 1999).
Em síntese, a geovisualização permite comunicar informações geoespaciais de uma
maneira que, quando combinado com a compreensão humana, instiga a exploração de dados,
levando a processos de tomada de decisão mais precisa (MACEACHREN; KRAAK, 1997)
(MACEACHREN, 2004) (JIANG; LI, 2003). No campo da educação, a tomada de decisão
pode ser compreendida como formação e validação de conceitos científicos.
Pesquisas em Cartografia Escolar no Brasil possuem uma estrutura teórica bem
desenvolvida, nas reflexões3 de Adriany de Ávila Melo Sampaio; Elza Yasuko Passini;
Helena Copetti Callai; Janine Gisele Le Sann; Lana de Souza Cavalcanti; Maria Elena Ramos
Simielli; Nídia Nacib Pontuschka; Núria Hanglei Cacete; Rafael Straforini; Rosangela Doin
de Almeida; Sonia Maria Vanzella Castellar; Tomoko Iyda Paganelli entre outros autores.
Dentre eles, é notória a contribuição da professora Rosangela Doin de Almeida acerca da
temática dos Atlas Municipais Escolares.
2 Veja mais em: (MACEACHREN; KRAAK, 1997), (SLOCUM, 1998), (ORMELING, 1999) e
(MACEACHREN, 2004) 3 Veja mais em: (CASTELLAR, 1996), (ALMEIDA, 1999; 2003), (PASSINI, 1999) e (CAVALCANTI, 2005)
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É, portanto, no conhecimento estruturado na Cartografia Escolar que se desenvolvem
os Atlas Escolares. E, com a identificação da importância singular do lugar, como categoria
geográfica, o município é desmembrado e reconstituído nos mapas nessas vertentes.
O catalizador entre Geovisualização (visa sobre a técnica) e a Cartografia Escolar (visa
sobre o conteúdo) são as Tecnologias da Informação e Comunicação (visa sobre o processo).
Pois é justamente este conceito que estuda os impactos positivos ou não que as tecnologias,
quando aplicada ao ensino, produz no campo da educação.
Essas tecnologias são expoentes do processo de ensino, muitas vezes pautadas no uso
do computador e/ou de outros aparelhos eletrônicos, sendo, justamente, neste contexto que se
desenvolvem as geotecnologias, pois em linhas gerais,
[...] as tecnologias permitem mostrar várias formas de captar e mostrar o mesmo objeto, representando-o sob ângulos e meios diferentes: pelos movimentos, cenários,
sons, integrando o racional e o afetivo, o dedutivo e o indutivo, o espaço e o tempo,
o concreto e o abstrato. (MORAN, 2007, p.52).
O ensino com o computador implica no entendimento que este passa a mediar o
processo de ensino e aprendizagem, estabelecendo (novas) comunicações, facilitando o acesso
a “novos conhecimentos e informações”, levando, consequentemente, as “transformações
sociais vertiginosas” (RAMOS, 2009, p.97).
Pois ao considerar, neste processo, o uso “[...] do computador e/ou da internet, as
possibilidades de interação são ampliadas, potencializando o processo de internalização de
conteúdos”. (ROZENFELD; PINTO, 2009, p.153)
Contudo, a estrutura teórico-metodológica da Geovisualização pode ser aplicada na
construção de mapas interativos voltados para escolares, pontuando-se no universo da
Cartografia Escolar, sendo em primazia uma Tecnologia de Informação e Comunicação
implementada no currículo de Geografia, na forma de geotecnologia.
O Atlas Municipal Escolar em versão digital
O atlas municipal escolar estimula o estudo de diversas feições geográficas, através de
representações gráficas, de um determinado local. Sendo, muitas vezes, interdisciplinar, pois
suas abordagens amarram a geografia, a história, o meio ambiente, e, pela dimensão técnica, o
conhecimento cartográfico, nos diversos mapas que o compelem.
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Essas áreas do conhecimento foram definidas como eixos temáticos dentro do projeto
Atlas Municipal Escolar de Ourinhos permeando as quatro versões proposta do projeto:
analógica, imagética, tátil e digital.
A versão digital deste material é regulada pela geovisualização cujo objetivo é a busca
de soluções para tornar os mapas estáticos em representações gráficas interativas.
Além de ser base teórica da pesquisa, a geovisualização contém em si os
procedimentos metodológicos que dão diretrizes ao desenvolvimento desses tipos de
representação. É, sobretudo, um paradigma, compreendendo uma nova forma de pensar, criar
e usar um mapa.
Portanto, os procedimentos metodológicos adotados, na perspectiva da
geovisualização, seguem resumidamente as seguintes etapas:
a) pontua a elaboração e/ou adaptação dos mapas temáticos em formato de dados
vetorial - isto é necessário para se obter, à posteriori, interatividade entre o
produto (o mapa) e o usuário (o aluno);
b) possibilita, consequentemente, à construção de mapas interativos e animações
cartográficas através de técnicas nas quais implicações multimídias são
articuladas, permitindo a exploração em meio digital do conteúdo geográfico;
c) compreende a observação do uso deste material que acontecerá por meio de
estudo de caso; e
d) leva a finalização do material sendo confrontado pelas análises inferidas por meio
de investigações sobre o seu uso e de outras Tecnologias de Informação e
Comunicação no ensino de Geografia; contudo;
e) potencializa a articulação das páginas em formato de atlas digital por meio da
elaboração de uma plataforma exploratória, pois através dela os usuários (alunos)
poderão explorar as informações dispostas em mapas interativos, gráficos, vídeos,
imagens, além de várias animações cartográficas e/ou geográficas.
Esses passos mostram como ocorre a construção do Atlas que apresentará diferentes
leituras por meio de mapas, fotografias e textos. É um processo que manteve uma constante
interação com as necessidades dos professores, considerando opiniões dos alunos e se atendo
as abordagens tecnológicas mais atuais.
As diferentes leituras são ratificadas a partir de experiências apresentadas por Almeida
(2003) ao enfatizar que um Atlas Municipal Escolar deve:
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[...] possibilitar aos alunos do Ensino Fundamental, diferentes leituras - a leitura gráfica (mapa), a leitura iconográfica (fotografia) e leitura textual (texto) - a respeito
do espaço local, por explicar que na atualidade “o mapa é a representação gráfica
reduzida e seletiva dos espaços, a fotografia pode melhor expor os conceitos
geográficos, históricos e ambientais e o texto constitui uma legenda explicativa das
informações relativas às fotografias e aos mapas. (p. 157).
Com essas observações, as diferentes leituras – mapas, fotografias e textos – ganham
interatividades e efeitos multimídias na versão digital.
Assim as fotografias, os gráficos ou imagens pictóricas; identificadas como
ilustrações, entre outros efeitos multimídias, além, de textos explicativos, deverão servir de
“ponte interativa” entre o usuário e o conteúdo curricular explorado.
A partir da estrutura apresentada foi desenvolvido, até o momento, onze páginas,
sendo elas:
O mapa temático pedológico;
O mapa temático geológico;
O mapa temático geomorfológico;
O mapa político-administrativo;
O modelo tridimensional em cores hipsométricas;
O mapa de drenagem;
O mapa de desenvolvimento urbano;
O brasão municipal de Ourinhos;
O hino municipal de Ourinhos;
A bandeira municipal de Ourinhos;
A página de fotos históricas (com recurso que revela a paisagem atual do lugar).
Inicialmente essas páginas foram desenvolvidas no aplicativo de animação gráfica
Adobe Flash, entretanto novas abordagens levou o projeto a se redefinir totalmente, levando
as páginas a serem reestruturadas em um sistema de páginas da web utilizando a linguagem
HTML, CSS e o JavaScript, responsáveis, respectivamente, pela estrutura, formatação e
interatividade, além do uso de imagens vetoriais de extensão SVG.
Algumas páginas do atlas estão compiladas na Figura 1, apresentando os diversos
temas que este material didático aborda.
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Figura 1 – Algumas páginas que formam o Atlas Municipal Escolar de Ourinhos em versão digital
Fonte: O autor.
Todavia, outros mapas poderão ser elaborados a partir de cogitações decorrentes do
grupo de pesquisa GEOCART, dialogando com professores de geografia e alunos através de
estudo de caso e até mesmo de reflexões de grupos de trabalhos nos quais esta pesquisa é
apresentada.
Um estudo de caso: Proposições através do uso do Atlas por alunos da “E.M.E.F. Maria
Adelaide Pedroso Racanello”
Como o aluno é um foco imprescindível da pesquisa, pois o projeto se destina a eles,
investigar como se relacionam com as Tecnologias de Informação e Comunicação torna-se
imperativo.
A princípio, em 2012, foi desenvolvida uma pesquisa exploratória com o Google
Earth. Esta investigação preliminar consistiu numa aula em que a plataforma Google Earth foi
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utilizada com alunos de 6º e 7º ano do Ensino Fundamental da “E.E. Prof Josepha Cubas da
Silva”.
Através de observações desta aplicação foi constatado o interesse dos alunos e anseios
deles por atividades que fugissem dos velhos métodos convencionais, pontos de vistas que
ficaram evidentes nas falas e nas interações entre eles, com os instrutores que desenvolveram
a atividade e com a plataforma de geoinformação (MILENA, 2012).
Portanto, a resposta positiva dos alunos comprovou, numa primeira instância, que o
uso de Tecnologias de Informação e Comunicação no ensino de Geografia é viável, entre as
diversas proposições confirmando sua eficácia. Porém havia, ainda, a necessidade de
aprofundamento das investigações para uma maior compreensão da influência que essas
tecnologias exercem sobre o processo de aprendizagem do aluno.
Um desses esforços passa pelo uso e observação, em escolas públicas do município,
dos mapas interativos constantes no Atlas Municipal Escolar de Ourinhos na versão digital.
Uma primeira abordagem, neste contexto, foi à aplicação em 2014 de uma página do
atlas por meio de um Estudo de Caso na “E.M.E.F. Maria Adelaide Pedroso Racanello”,
(Figura 2), a partir de uma sequencia didática em que se observou a interação do aluno com o
mapa. Também, houve a aplicação de questionários com os alunos, com o objetivo de
identificar a viabilidade das representações gráficas interativas.
Figura 2 – Uso do mapa interativo sobre o desenvolvimento urbano de Ourinhos-SP numa aula de geografia,
com alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental da “E.M.E.F. Maria Adelaide Pedroso Racanello”.
Fonte: O autor.
Destaca-se que a metodologia de Estudo de Caso foi proposta porque este parte do
princípio da singularidade, em que em cada caso há elementos únicos que dão uma tônica
divergente dos demais, logo, generalizações são superadas, havendo uma maior aproximação
do que se pretende conhecer.
20238
André (1984) expõe que a ênfase deste estudo está no particular, na unicidade, na
singularidade do que é real, sendo este situado na história e multidimensional. E André e
Lüdke (1986) buscam a definição de Estudo de Caso como metodologia, considerando suas
aplicações na investigação do ensino.
Logo,
A característica mais distintiva deste estudo em relação a outros é a ênfase na singularidade, no particular, implicando que o objeto seja examinado como único,
uma representação singular da realidade, realidade esta, multidimensional e
historicamente situada (ANDRÉ, 1984, p.53)
É, portanto, necessário conhecer as interações, as falas, as especulações, o interesse, o
não interesse, etc. dos alunos das escolas de Ourinhos. Saber o porquê utilizar estes materiais
didáticos e como o fazer é uma forma de autenticar o Projeto Atlas e por isso, como estratégia
investigativa, optou-se pelo Estudo de Caso.
O resultado novamente apontou que os alunos gostaram da atividade, acharam alguns
pontos difíceis de compreender (acusaram que o material possuía muitos textos), alguns
compararam com o Google Earth e esperava um material ainda mais interativo, entretanto, a
grande maioria se surpreendeu com a cidade “se formando” na tela do computador, e através
das informações apontaram elementos conclusivos como “a linha do trem estava lá antes”, “a
cidade cresceu em volta dela...”, “tinha cana[de-açúcar] antes?”, “cadê a minha casa?” etc.
(essas são algumas transcrições das falas dos alunos observadas durante o estudo).
Essas falas confirmam o interesse dos alunos. Deles, poucos demonstraram total apatia
pela atividade realizada e quando perguntado se gostariam de trabalhar outras páginas, em
torno de 81 e 95% (porcentagem por turma) disseram que sim, a porcentagem mais baixa é
referente aos alunos do 7º ano. Outro ponto importante observado é o que os alunos mais
jovens demonstraram maior interesse pela atividade, mas dispersaram com maior facilidade
também.
Considerações Finais
O Atlas Municipal Escolar de Ourinhos é muito mais que um produto. Mesmo que
seja, obviamente, um material didático composto de quatro versões: analógica, imagética, tátil
e digital; suas implicações extrapolam a simples questão de usabilidade.
É, portanto, um conceito.
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Uma forma inovadora, dinâmica e mais completa (através de suas várias linguagens)
de representar o espaço, sendo, também, mais democrático ao conter em sua gênese o
compromisso de ser distribuído de forma gratuita nas escolas públicas municipais e estaduais
do município.
Em específico, está pesquisa parte para o entendimento profundo da linguagem
estruturante da versão digital deste material didático. Deste modo, a linguagem digital,
balizada pelo paradigma da Geovisualização, situada no cerne da Cartografia Digital, foi o
foco investigativo.
O Atlas encontra-se na fase de aplicações nas escolas parceiras do projeto, como o
caso apresentado neste trabalho, e em ajustamentos necessários pós-aplicação, além do
desenvolvimento e/ou adaptação de algumas de suas páginas.
O projeto em versão digital, até o momento, tem despertado a curiosidade de alunos e
professores, mostrando-se tratar de uma possibilidade interessante ao propor a interatividade
como recurso, e ao abordar o estudo do lugar, leva o aluno à análise deste e ao
questionamento de sua realidade imediata.
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