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Resumo de bioética na produção animal
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A ORIGEM DA BIOÉTICA
Em 1927, Fritz Jahr utilizou pela primeira vez a palavra bioética,
caracterizando-a como sendo o reconhecimento de obrigações éticas, não apenas
com relação ao ser humano, mas para com todos os seres vivos.
Em 1998, Potter a redefiniu bioética como uma ciência indispensável à
sobrevivência humana, em uma perspectiva holística, um estudo sistemático da
conduta humana no âmbito das ciências da vida e da saúde enquanto essa conduta
é examinada à luz de valores e princípios morais.
A investigação do uso e exploração da vida animal como um todo,
implica em considerações sobre a ação humana, comprometimento social e
ecológico, numa visão que obrigatoriamente deverá extrapolar os interesses
científicos e econômicos.
A Bioética, dessa forma, nasceu provocando a inclusão das plantas e dos
animais na reflexão ética, já realizada para os seres humanos. Posteriormente, foi
proposta a inclusão do solo e dos diferentes elementos da natureza, ampliando
ainda mais a discussão
Bioética x Ética = muitas vezes, a palavra ética é utilizada também como
adjetivo, com a finalidade de qualificar uma pessoa ou uma instituição
como sendo boa, adequada ou correta. O ideal é sempre utilizá-la na forma
adverbial, ou seja, ela própria merecendo ser qualificada – eticamente
adequada ou eticamente inadequada.
Bioética x Humanidade = a humildade é uma característica fundamental.
Ao assumir que a incerteza e a mudança são componentes sempre
presentes, assume-se, igualmente, que os resultados das reflexões são
sempre passíveis de discussão. A humildade permite reconhecer que não
são definitivos nem imutáveis.
Bioética x Responsabilidade = respeita, em princípio, cada ser vivo como
uma finalidade em si e trata-o como tal, na medida do possível. A
discussão sobre direitos e deveres com a inclusão de todos os seres vivos,
tanto contemporâneos quanto ainda não existentes, amplia a
responsabilidade e a perspectiva atual da Bioética.
Bioética x Competência interdisciplinar = a interdisciplinaridade só ocorre
quando existe interação de pessoas; ela necessita da troca de saberes e
opiniões. As condições necessárias para que a interdisciplinaridade ocorra
são as seguintes: a existência de uma linguagem comum; objetivos
comuns; reconhecimento da necessidade de considerar diferenças
existentes; domínio dos conteúdos específicos de cada um dos
participantes; e elaboração de uma síntese complementar.
Bioética x Competência intercultural = fruto do reconhecimento da
humildade e da tolerância entre diferentes grupos e culturas. A Bioética
tem que assumir esta perspectiva intercultural de compreensão da
realidade para poder ser utilizada de forma consequente e abrangente.
Existem 5 pontos básicos que diferenciam ou igualam as culturas
nacionais: a relação com a autoridade; a relação do próprio indivíduo com
a sociedade; o conceito individual de masculinidade e feminilidade; s
formas de lidar com conflitos e incertezas e a perspectiva de longo prazo.
Bioética x Sensos de humanidade = bioética, como se diz hoje, não é uma
parte da biologia; é uma parte da ética, é uma parte de nossa
responsabilidade simplesmente humana; deveres do ser humano para com
outro ser humano, e de todos para com a humanidade. Este senso de
humanidade é inerente e fundamental à Bioética. Pensar Bioética é pensar
de forma solidária, é assumir uma postura íntegra frente ao outro e,
consequentemente, frente à sociedade e à natureza.
BEM-ESTAR ANIMAL
O bem-estar de um indivíduo é seu estado em relação às suas tentativas
de adaptar-se ao seu meio ambiente. Quando as condições são difíceis, os
indivíduos usam vários métodos para tentar reagir aos efeitos adversos que lhe
são impostos, o comportamento pode ser usado para alterar o estado motivacional
e assim aliviar distúrbios psicológicos extremos, onde os opióides peptídicos no
cérebro exercem um efeito analgésico, fazendo o animal reduzir a aversão através
da auto-narcotização.
As formas de adaptação dos animais ao ambiente dependem na sua
grande maioria de alterações e demandas adicionais no funcionamento de seus
órgãos internos e da utilização de suas possibilidades comportamentais, razão
pela qual o conhecimento da fisiologia e da etologia serem pré-requisitos para se
entender o bem-estar animal.
Para se avaliar o bem-estar animal deve-se utilizar uma combinação de
indicadores:
Alimentação = ausência de fome e sede prolongadas;
Alojamento = comodidade durante o descanso, conforto térmico e
facilidade de movimento;
Saúde = ausência de lesões e doenças, assim como de dor causada por
práticas de manejo, como castração, descorna, entre outros;
Comportamento e emoções = expressão do comportamento social e de
outros, uma boa relação entre os animais e seus manejadores e ausência
de medo nos aninais.
BIOÉTICA E A EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL
Existem inúmeros movimentos em defesa dos animais, estejam eles em
extinção ou não, incentivando a criação de um novo valor para a sociedade.
Ainda que alguns grupos reiterem as grandes diferenças entre seres humanos e
animais, capazes dificultar as extrapolações dos resultados obtidos em modelos
animais, outros afirmam não serem necessárias as pesquisas, porque já existem
técnicas alternativas mais válidas, estudos epidemiológicos, ensaios em células e
tecidos, bactérias ou até mesmo simulações em computadores.
A avaliação bioética na perspectiva do uso da experimentação animal,
torna-se importante ao estabelecer e examinar os princípios bioéticos
relacionando-os com a interferência da atividade humana em suas dimensões
psicológicas e sociais na vida animal.
O uso de animais vivos na pesquisa científica e/ou em atividades de
ensino traz à tona dilemas éticos de ampla repercussão na sociedade
contemporânea. Os animais são seres vivos, muitos dos quais capazes de sentir
dor, angustia e expressar reações de desconforto e tristeza durante a
experimentação, e que portanto merecem cuidado e atenção.
Os aspectos éticos da experimentação animal utilizam:
Fundamentos Contratualistas = aprovação da experimentação animal
depende do escopo de moralidade da sociedade, ou seja, ela será aceita se
não houver oposição quanto ao mérito e sua forma de execução.
Fundamentos Utilitários = as consequências da experimentação animal
para os homens e animais é que são avaliadas e deverão ser justificáveis.
Fundamentos Deontológicos = deverá considerar os deveres prima facie
de beneficiência aos seres humanos. Deverão ser considerados ante os
deveres prima facie de não maleficência e respeito à integridade animal.
Contudo, os animais utilizados para experimentação deverão ser
considerados pelo seu valor intrínsico e não exclusivamente pelo seu
valor instrumental.
Estatísticas realizadas pelo Home Office Statistics mostraram que cerca
de 50 milhões de animais são utilizados mundialmente ao ano em pesquisas, onde
1/3 é utilizado na pesquisa biomédica básica a fim de ampliar o conhecimento
científico, 1/3 na pesquisa aplicada visando benefícios para seres humanos e
animais e o terço restante no melhoramento genético animal.
Os procedimentos executados em animais, de acordo com sua
severidade poderão ser classificados como:
Leves = amostrados, em pequena quantidade sangue ou tecido;
Moderadas = categoria ampla e diversa na qual analgésicos e anestésicos
são utilizados para minimizar a dor;
Substanciais = envolvem grandes cirurgias, testes de toxicidade e uso de
animais como modelos de patologias severas
Sem classificação = animais são anestesiados antes dos procedimentos e
sacrificados sem terem recuperado a consciência.
Ainda que seja difícil quantificar a dor e o sofrimento animal, esta é uma
das questões mais debatidas pela sociedade e que necessita criteriosa análise antes
da experimentação. O estresse de natureza emocional ou psicológica, juntamente
com a dor ou sofrimento é capaz de interferir no bem-estar animal alterando
respostas fisiológicas e comportamentais também devendo ser evitado e
minimizado através do aprimoramento técnico e da metodologia de pesquisa.
O conceito de modelo animal é necessário para um melhor entendimento
de como tornar os resultados obtidos em um experimento reprodutíveis em outras
circunstâncias tornando-o científica e metodologicamente válidos. O modelo
animal portanto, refere-se à espécie mais adequada para determinado experimento
considerando-se o conhecimento disponível sobre sua biologia, tamanho, ciclo
reprodutivo, número de prole, precocidade, adaptação e também a qualidade dos
resultados.
Quanto aos status genético, os animais de laboratório que classificam- se
como:
Não-consanguíneos = apresentam elevado percentual de heterozigose e
ampla diversidade genética.
Consanguíneos ou isogênicos = produtos de consecutivas gerações de
acasalamentos a fim de que elevada homozigose seja observada.
Híbridos = obtidos através do cruzamento controlado entre duas
linhagens consanguíneas.
Geneticamente modificados = com elevada uniformidade, permitem uma
redução no número de animais por experimento e uma maior
uniformidade nos resultados quando observadas com rigor as condições
macro e microambientais.
PRINCÍPIOS ÉTICOS NA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL
O Princípio Humanitário da Experimentação (3R) animal deve ter como
diretrizes norteadoras a clara definição de objetivos legítimos, a garantia do
tratamento humanitário, a fiscalização e responsabilização pública:
Replacement- evidencia a necessidade da busca de alternativas à
experimentação animal como por exemplo culturas de tecidos, testes in
vitro, simulações em computador, etc.;
Reduction- indica que caso não seja possível a obtenção de alternativas,
um número mínimo de animais seja utilizado ainda que garantindo
resultados estatisticamente confiáveis. Salienta-se assim a importância da
escolha do modelo animal, controle das fontes de variação e erro da
experimentação. O uso de animais com estado sanitário e genético
adequados, o perfeito controle das condições ambientais e o amparo da
bioestatística podem permitir o planejamento adequado das condições
experimentais previamente a implantação da pesquisa;
Refinement- aprimoramento da técnica, manejo e treinamento do pessoal
envolvido na pesquisa, maximizando bem-estar e reduzindo o estresse
Logo, a experimentação animal deverá se ajustar, baseada em critérios
metodológicos e estatísticos, ao uso de um número mínimo de animais, a
não duplicação de experimentos além de garantir bem-estar e controle da
dor dos animais em estudo.
A pesquisa poderá lançar mão da experimentação animal se houver
objetivos justificáveis para tal e não houverem alternativas disponíveis adequadas
capazes de fornecer os resultados necessários. Contudo, o processo deverá ser
conduzido de forma organizada e responsável, garantindo o respeito à vida
animal, garantindo as condições adequadas de tratamento e minimizando o
sofrimento de acordo com procedimentos reconhecidamente adequados.
Destacamos assim a importância dos Comitês de Ética em Pesquisa,
contemplando em sua composição a formação multidisciplinar e cujo treinamento
contínuo deve ser previsto e estimulado como fonte geradora de informação e
fiscalizadora.
CÓDIGO BRASILEIRO DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL
I. Todas as pessoas que pratiquem a experimentação biológica devem tomar
consciência de que o animal é dotado de sensibilidade, de memória e que
sofre sem poder escapar à dor;
II. O experimentador é, moralmente, responsável por suas escolhas e por
seus atos na experimentação animal;
III. Procedimentos que envolvam animais devem prever e se desenvolver
considerando-se sua relevância para a saúde humana ou animal, a
aquisição de conhecimento ou o bem da sociedade;
IV. Os animais selecionados para um experimento devem ser de espécie e
qualidade apropriadas e apresentar boas condições de saúde, utilizando-se
o número mínimo necessário para se obter resultados válidos. Ter em
mente a utilização de métodos alternativos (modelos matemáticos,
simulações por computador e sistemas in vitro);
V. É imperativo que se utilizem animais de maneira adequada, incluindo aí
evitar o desconforto, angústia e a dor. Os investigadores devem
consideram que os processos determinantes de dor e angústia em seres
humanos causam o mesmo em outras espécies a não ser que o contrário
tenha se demonstrado;
VI. Todos os procedimentos com animais, que possam causar dor ou
angústia, precisam se desenvolver com sedação, analgesia ou anestesia
adequadas. Atos cirúrgicos ou outros atos dolorosos não podem se
implementar em animais não anestesiados e que estejam apenas
paralisados por agentes químicos e/ou físicos;
VII. Os animais que sofram dor ou angústia intensa ou crônica, que não
possam se aliviar e os que não serão utilizados, devem ser sacrificados
por método indolor e que não cause estresse;
VIII. O uso em procedimentos didáticos e experimentais pressupõe a
disponibilidade de alojamento que proporcione condições de vida
adequadas às espécies, contribuindo para saúde e conforto. Transporte,
acomodação, alimentação e cuidados com os animais criados ou usados
para fins biomédicos devem ser dispensados por técnico qualificado;
IX. Os investigadores e funcionários devem ter qualificação e experiência
adequadas para exercer procedimentos em animais vivos. Deve-se criar
condições para seu treinamento no trabalho, incluindo aspectos de trato e
uso humanitário dos animais de laboratório.
DESAFIOS ÉTICOS FRENTE AOS NOVOS PARADIGMAS DA
BIOTECNOLOGIA ANIMAL
No campo das ciências agrárias é inquestionável que a biotecnologia
confere grande poder ao complexo industrial. Em sua aplicação na produção
animal, as modernas biotecnologias podem ser distribuídas em 2 categorias:
reprodutivas e genéticas. Os riscos potenciais no uso destas tecnólogas aumentam
em função dos objetivos de melhoramento, visto que a ênfase no aumento da
produtividade pode exceder a capacidade fisiológica dos animais.
Uma questão crucial na reflexão ética acerca da manipulação genética de
uma determinada espécie diz respeito a se este procedimento afeta propriedades
relevantes ao bem-estar animal, devendo ser também considerados a liberdade
comportamental e os valores intrínsecos do animal. Não sendo uma tarefa fácil de
ser avaliada, deve ser invocado o princípio da precaução no sentido de fazer uma
avaliação minuciosa, caso a caso, para evitar os impactos negativos da tecnologia
empregada. Alguns autores já haviam comentado que quatro inquietações são
sempre reclamadas como sendo eticamente relevantes na biotecnologia:
a) Bem-estar animal e humano;
b) Cientistas não podem agir como Deus;
c) Animais não poder ser tratados como coisas;
d) A integridade genética dos animais não deve ser violada.
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