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Brasil e Alemanha:
Uma relação do século XXIOportunidades de comércio, investimentos e finanças
Brasil e Alemanha:
Uma relação do século XXIOportunidades de comércio, investimentos e finanças
Viviane Maria Bastos, Andreas Esche, Renato Flores, Samuel George, Antonio Carlos Porto Gonçalves, Thieß Petersen e Thomas Rausch
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Índice
Índice
Introdução 7
CapítuloI:Comércio 11
1. Umarelaçãodecomplementaridadecomespaçoparacrescimento 12
2. Ospropulsoresdocomércio 12
3. Políticacomercialalemãebrasileira 16
4. VisãogeraldocomérciobilateralBrasil-Alemanha 18
5. DificuldadesnocomércioBrasil-Alemanha 20
6. RumoaumacordodelivrecomércioUE-Mercosul? 22
7. OportunidadesdoséculoXXIparaumrelacionamentodoséculoXXI 24
CapítuloII:Fluxosdecapitaiseinvestimentos 27
1. Amicroeconomiadosfluxosfinanceirosinternacionais 28
2. Investimentodiretoeinvestimentoemcarteirainternacional,
noBrasilenaAlemanha 32
3. Amacroeconomiadosfluxosfinanceirosinternacionais 37
CapítuloIII:Recomendações 45
1. Priorizandooinvestimentodiretobilateral 46
2. Harmonizaçãodapolíticamonetária 47
3. Rumoaumentendimentosobremigração 49
4. Umdenominadorcomumparaapolíticacomercial 50
5. BrasileAlemanhacomolíderesnarelaçãodelivrecomércioentreUE-Mercosul 51
Seguindoemfrente:Encontrandoodenominadorcomum 53
Obrascitadas 54
GlobalEconomicDynamics(GED) 57
6
Comércio e finanças Brasil-Alemanha: Complementos e advertências
Comércio e finanças Brasil-Alemanha: Complementos e advertências
ComplementosDotes: Recursos naturais
O Brasil é abundantemente dotado de recursos naturais e terras, enquanto a Alemanha é pobre no primeiro item e relativamente pobre no segundo. Por isso, as exportações brasileiras de recursos naturais são bem-vindas na Alemanha, que depende da importação de matérias-primas do exterior.
Dotes: Mão de obra A Alemanha é relativamente abundante em mão de obra qualificada e menos abundante em mão de obra não qualificada. Assim, a Alemanha detém uma vantagem comparativa na produção de bens e serviços que exigem mão de obra preparada. Enquanto isso, o populoso Brasil está trabalhando para melhorar seu sistema de ensino. Assim, o Brasil e a Alemanha não são concorrentes no que diz respeito aos produtos que exigem mão de obra qualificada ou que dependem de mão de obra não qualificada.
Dotes: Saldos em conta corrente e de capital
A fim de ampliar o estoque de capital brasileiro, grandes investimentos são necessários. A pou-pança do Brasil não é grande o suficiente para financiar o investimento doméstico. A Alemanha tem um alto nível de renda, alta taxa de poupança e superávit em conta corrente. A poupança da Alemanha (e seu superávit em conta corrente) está, portanto, disponível para financiar o investimento no Brasil (e seu déficit em conta corrente).
AdvertênciasContexto da política comercial
As políticas comerciais brasileiras e alemãs estão firmemente enraizadas nas diferenças antigas entre as estruturas institucionais e mentalidades dos dois países. A política comercial do Brasil coloca um prêmio elevado no desenvolvimento de indústrias nacionais e na promoção dos interesses dos países em desenvolvimento. A política econômica da Alemanha é tradicionalmente focada em exportações e está fortemente entrelaçada com seus vizinhos europeus, à medida em que não existe uma política de comércio alemã independente, apenas os interesses alemães que contribuem para a formulação da política comercial da UE. Essas abordagens distintas podem levar a diferentes estratégias de comércio.
Produtos agrícolas O Brasil detém uma vantagem comparativa em muitos produtos agrícolas, o que implica uma desvantagem para os produtores alemães. Os agricultores alemães, por sua vez, são protegidos através de restrições e subsídios da política agrícola comum da UE. Essas medidas são objeto de disputas persistentes.
Criação de emprego focada nas exportações
Ambos os países têm um forte interesse na obtenção e manutenção de elevados níveis de emp-rego. O aumento nas exportações é um instrumento fundamental para satisfazer esse objetivo, especialmente para a Alemanha. Como resultado, ambos os países buscam altas exportações e, consequentemente, superávits em conta corrente. Como todos os países não podem ter simul-taneamente superávits em conta corrente, o superávit da Alemanha pode, mais cedo ou mais tarde, se tornar um objeto de disputa.
Resultados desejados Embora o Brasil e a Alemanha partilhem o objetivo comum de aumentar o emprego com atividades de comércio exterior, eles diferem no que diz respeito aos resultados mais deseja-dos e profundos de comércio. No Brasil, a luta contra a pobreza, aumentando a prosperidade material da população e importando conhecimento tecnológico são de maior importância do que na Alemanha. Na Alemanha, o crescimento econômico e empregos sólidos são os principais objetivos do comércio.
Regras de comércio e riqueza
Se os termos de troca de um país aumentam, esse país recebe uma quantidade maior de mercadoria importada para um determinado total de produtos exportados. Portanto, os termos de troca de uma economia tem um impacto positivo sobre a riqueza do país. No entanto, dadas as carteiras de exportação contrastantes, uma melhoria nos termos de troca brasileiros implicaria em uma redução nos termos de troca alemães (e vice-versa). Isso representa um trade-off (conflito de interesses) sem solução.
A política cambial A depreciação real da moeda nacional tem um impacto positivo sobre o volume de exportações de um país. Se, por exemplo, o Brasil tenta aumentar suas exportações ao desvalorizar sua moeda, o resultado é uma valorização relativa da moeda da Alemanha, que tem um impacto negativo sobre as exportações alemãs. Como resultado, há um outro trade-off sem solução, se ambos os países tentarem aumentar as exportações através da desvalorização de suas moedas. No entanto, como membro da zona do euro, a Alemanha tem influência limitada sobre a taxa de câmbio.
7
Introdução
Introdução
Emprincípio,oBrasileaAlemanhaapresentammuitasoportunidadesfrutíferasparaocomércio
einvestimentobilateral.Emtermosdevantagenscomparativas,acarteiradeexportaçãobrasileira
secompõefortementedematérias-primasqueosfabricantesalemãesnecessitamenãotêmno
mercado interno.Poroutro lado,osprodutoresalemãesespecializadosembens tecnológicose
deconhecimentodepontapoderiamencontrarumabasedeconsumidoresemexpansão, tanto
nacrescenteclassemédiabrasileiracomonocomérciodeempresaparaempresa,comparceiros
brasileiros.Emtermosdeinvestimento,oBrasilpareceserumexcelentedestinoparaossaldos
daeconomiaalemã.Porexemplo,oBrasilenfrentaumdéficitdeinfra-estrutura,easempresas
alemãspossuemespecialsofisticaçãonessesetor.Paraasempresasalemãs,oinvestimentoem
infra-estruturanoBrasilpodeoferecerretornosatualmenteindisponíveisnaEuropacontinental.
Atécertoponto,asestatísticasrefletemascrescentesoportunidadesentreosdoispaíses.Como
este estudo demonstra, tanto o comércio bilateral como os investimentos têm aumentado nos
últimosanos.Noentanto,arelaçãoaindanãoatingiutodooseupotencial.Apolíticaeaspolíticas
econômicas reduziram a expansão do comércio. A participação do Brasil no bloco comercial
MercosuleparticipaçãodaAlemanhanaUniãoEuropeiatêmdificultadoacapacidadedosdois
países chegarem a um acordo de comércio bilateral, pois cada bloco mantém certas posições
defensivasquelimitamooutroaexercerassuasvantagenscomparativas.Osfluxosdecapital
entreosdoispaíses–especialmenteoinvestimentodiretoestrangeiroalongoprazo–permanecem
abaixodopotencial.
Esteartigo,deautoriaconjuntaporeconomistasecientistaspolíticosdaBertelsmannStiftungda
AlemanhaedaFundaçãoGetúlioVargasdoBrasil,analisaasrelaçõeseconômicasentreosdois
países,comfocoespecialemdestacartantoasoportunidadesquantoosobstáculosqueimpedem
ocomércioeosinvestimentosbilaterais.Otextoestáorganizadodaseguinteforma:
• Capítulo I, de autoria principalmente dos especialistas da Bertelsmann Stiftung, analisa
a situação do comércio Brasil-Alemanha. O capítulo analisa os determinantes do comércio
decadapaís,bemcomoaspolíticasdecomerciaisadotadas.Analisaanaturezadopróprio
comérciobilateral,bemcomoasquestõespolíticasqueimpedemocrescimentodomesmo.O
capítuloemseguidaconsideraosprogressosemumacordodelivrecomércioUE-Mercosul,e
concluidescrevendoasoportunidadesdecomérciodoséculoXXI.
• Capítulo II, de autoria principalmente de especialistas da Fundação Getúlio Vargas,
consideraoinvestimento,comparandoosfluxosdecapitalalemãoebrasileirocomoquea
teoriatradicionalprevê.Ocapítulofazumadistinçãoentreuminvestimentoemcarteiramais
transitórioeoinvestimentodiretoestrangeirodelongoprazo.Eletambémanalisacomoafalta
deharmonizaçãoemmatériadepolíticamacroeconômicapodelevaradistorçõesnosfluxos
financeiros.
8
Introdução
• Capítulo III tentaesboçar recomendaçõesconcretaseviáveiscombasenosdoisprimeiros
capítulos.EstecapítuloaceitaqueaAlemanhaeoBrasilpossambuscardiferentespolíticas,e
quesãolimitadosporseusrespectivosblocosregionais,masargumentaqueexistempontos
emcomum.Apolíticafuturapodeserorientadaparaestes.
No séculoXXI,nemosmercadosemergentesnemospaísesdesenvolvidospodemsustentar o
crescimentoglobalsozinhos.Pelocontrário,seráainteraçãoentreoconhecimentodeeconomias
avançadas e o dinamismo das economias emergentes que promoverá o crescimento mundial.
AcreditamosqueoBrasileaAlemanhapossamestarnavanguardadessainteração.
EstetextorepresentaoresultadodeumacolaboraçãodeumanoentreaBertelsmannStiftunge
aFundaçãoGetúlioVargas.Ambasasinstituiçõesvãocontinuaraestudardasrelaçõesbilaterais
entreBrasileAlemanhaeajudaraconstruirumrelacionamentoprofícuonoséculoXXI.
Antes de abordar o futuro desse relacionamento, esta introdução oferece primeiramente uma
perspectivadopassadoedescreveasituaçãoatual.
Brasil e Alemanha: Dois países com fortes laços históricos
AsrelaçõesbilateraisentreBrasileAlemanhasãoantigaseabrangentes.Ahistóriadaimigração
alemãparaoBrasilremontaaoséculoXVI.EssaimigraçãoaumentounoiníciodoséculoXIX;de
1872até1939,cercade200.000alemães imigraramparaoBrasil.Essamaréchegouaoápice
entre1920e1929,quando76.000alemãescruzaramoAtlânticoparaoBrasil.Nasdécadasde
1940e1950,aspessoasdeorigemalemãsomavamcercade20%dapopulaçãoemalgunsestados
brasileiros,comoSantaCatarinaeRioGrandedoSul(videGregory,2013,p.114–121).
Esseslaçosfortesresultaramemumaparceriaeconômicabilateralintensivaapartirdasegunda
metadedosanos50.Em1954,porexemplo,aempresadeaçoalemãMannesmanncomeçousuas
operaçõesnoBrasil.Em1955,aSofunge,quemaistardesetornouumapartedaMercedes-Benz,
fezomesmo.AmontadoraalemãVolkswagenabriuumafábricaem1959.Nadécadade1970,a
participaçãoalemãatingiuoseuápicequandoasempresasalemãsdeindústriapesada,indústria
química,máquinas,engenhariadefábricaeindústriaautomobilísticainvestiramgrandessomas
dedinheironoBrasileabriraminúmerasplantas.Duranteosanos80,asempresasalemãseos
investidoresreduziramseusenvolvimentosporcausadacriseeconômicanoBrasil.Noentanto,
atualmenteexistemcercade1.600empresasnoBrasilcomcapitalalemãoecâmarasdecomércio
alemãsemSãoPaulo,RiodeJaneiroePortoAlegre(videLohbauer,2013,p.133–135e144–145).
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Introdução
Há também uma forte relação comercial entre os dois países. O Brasil é, de longe, o parceiro
comercialdaAméricaLatinamaisimportanteparaaAlemanha,enquantoaAlemanhaéhojeo
quintoousextoparceirocomercialmaisimportanteparaoBrasil,atrásdaChina,EUA,Argentina,
HolandaeJapão(videLohbauer,2013,p.144).
As relações entre o Brasil e a Alemanha não estão restritas aos laços econômicos. Por mais
de140anos, osdoispaíses são ligadospor relaçõesdiplomáticasbilaterais ativas.Pessoasde
ambos os países compartilham valores importantes, com destaque especial para a democracia
eas instituiçõescorrespondentes.Acooperaçãobilateralocorreemquestõescomoaeducação,
a cultura (há, por exemplo, cinco Goethe-Instituts no Brasil), ciência e tecnologia, mudanças
climáticasemeioambiente,trabalhoeassuntossociais,energiaegestãodecrisesinternacionais.
Essas conexões extensas formam uma base sólida de confiança, respeito e apoio mútuos, que
servedesuporteparaumaexpansãodasrelaçõeseconômicasbilaterais,embenefíciodeambos
ospaíses.
Brasil e Alemanha: As maiores economias de suas respectivas regiões
OBrasiléocentrodaeconomiadaAméricaLatina,eaAlemanhadesempenhaessepapelnaUE.
Medidaemtermosdeprodutointernobruto(PIB),aAlemanhatemumaquotade20%dototaldo
PIBdaUE,enquantoaparticipaçãodoBrasilnoPIBdaAméricaLatinaeCaribeéaindamaior,
sendoresponsávelporquase38%(videtabela1).
A importância do Brasil e da Alemanha para suas respectivas regiões geográficas também se
refletenotamanhodapopulação.AAlemanharespondeporcercade16%detodaapopulação
europeia, enquanto os brasileiros respondem por um terço da população da América Latina e
Caribe(videtabela2).
Tabela 1: PIB estimado em 2013, expresso em preços correntesRegião/país PIB absoluto em
US$ (bilhões)Parcela de percentagem da
região relevanteUE 17,267 100%Alemanha 3,593 20,8%
América Latina e Caribe 5,774 100%Brasil 2,190 37,9%Fonte: Fundo Monetário Internacional, World Economic Outlook Database, outubro de 2013
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Introduction
Assim, devido à sua força econômica, Brasil e Alemanha podem ser consideradas economias
“âncora”paraaAméricaLatinaeparaaUniãoEuropeia.
Tabela 2: População, expressada em milhõesRegião/país População em meados de 2013 Parcela de percentagem da
região relevanteUE 506,0 100%Alemanha 80,6 15,9%
América Latina e Caribe 606,0 100%Brasil 195,5 32,3%Fonte: World Population Reference Bureau: Ficha de dados da população mundial em 2013, págs. 8–11
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Capítulo I: Comércio
Capítulo I:
Comércio
1. Uma relação de complementaridade com espaço para crescimento 2. Os determinantes do comércio 3. Política comercial alemã e brasileira 4. Comércio Brasil-Alemanha 5.DificuldadesnocomércioBrasil-Alemanha 6. Rumo a um acordo de livre comércio entre Mercosul e UE? 7. Oportunidades para um relacionamento no século XXI
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Capítulo I: Comércio
Capítulo I: Comércio
EstecapítuloanalisaosdeterminantesdocomércioentreoBrasileaAlemanha,bemcomoas
oportunidadesinerentesàrelaçãocomercialbilateraldosdoispaíses.ASeção1ofereceumabreve
visãogeraldoBrasil e a relaçãocomplementardaAlemanha, comespaçoparao crescimento,
aomesmotempoemqueaSeção2analisaosdeterminantescomerciaisparaambosospaíses.
ASeção3revisaapolíticacomercialbrasileiraealemã,que,porsuavez,influenciaaSeção4,
queanalisaocomérciorealBrasil-Alemanha.ASeção5revisaasdificuldadesdessecomércio,
enquantoqueaSeção6revisaosavançosparaumacordodelivrecomércioUE-Mercosul(ALC).
1. Uma relação de complementaridade com espaço para crescimento
ArelaçãocomercialBrasil-Alemanhaémutuamentebenéficaecrescente.Ocrescentecomércio
deriva-se de carteiras de exportação compatíveis e doações nacionais. A demanda alemã por
matérias-primasbrasileirasécompensadapelademandabrasileiraporprodutosdealtaqualidade,
fabricadosnaAlemanha.AAlemanhaofereceaoBrasildiversificaçãodeparceirospredominantes,
comoaChinaeosEUA,bemcomooacessoaocapitaletecnologiadeponta.Enquanto isso,o
BrasilofereceaAlemanhaummínimodesegurançaderecursos,bemcomooacessoaumaclasse
médiaemrápidaexpansão,cujosmembrossãopotenciaisclientesparabensindustriaisalemães.
Asrelaçõescomerciaisnãosãoditadasapenaspelaeconomiaemsi.Emambosospaíses,apolítica
comercialéparcialmentemoldadapor fatorespolíticose institucionaisquetornamcomplexoo
caminhoparamelhorarorelacionamentocomercial.
2. Os determinantes do comércio
Determinantes do comércio exterior do Brasil
DeterminaradotaçãodefatoresdoBrasilémaisdifícildoquedeseuspaísesvizinhos,economicamente
menosdinâmicos,comoArgentinaeChile,porcausadagrandeecomplexacarteiradeimportações
eexportaçõesdoBrasil(MurieleTerra,2009).Alémdisso,asverdadeirasabundânciasedeficiências
dopaístêmsidomoldadas,talvezdistorcidas,poranosdepolíticacomercialprotecionista.
Apesar dessa ressalva, certas tendências são claras. Em particular, o Brasil desfruta de forte
dotaçãodemãodeobrae,especialmente,deterraederecursosnaturais.Comumapopulaçãode
maisde200milhõeseumsistemaescolaraindaemdesenvolvimento,oBrasilpossuiabundância
emmãode obranãoqualificada.Essa abundância é frequentemente explorada agricolamente,
comonocultivodecafé.OBrasil,queéoquintomaiorpaísdomundoemárea,masquepossui
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Capítulo I: Comércio
umadensidadepopulacionalrelativamentebaixa,claramentetemumaabundânciadeterras.É
ricoemrecursosnaturais,incluindoterrasférteis,recursosminerais,águaeflorestas.Ospadrões
comerciaisbrasileirostambémindicamumcertograudeintensidadedecapitalmanufatureiro.
Muriel e Terra postulam que esse capital pode refletir interações com os países ainda menos
desenvolvidos,ouoperíododeindustrializaçãoporsubstituiçãodeimportações(ISI).
NoBrasil,ovolumeeaestruturadasexportaçõessãofortementeinfluenciadosporumaabundância
de recursos brutos, pelos altos preços das commodities e pelos fortes níveis de crescimento
global.OBrasiléricoemrecursosminerais,comominériodeferroeprodutosagrícolas,como
asoja,quesãovitaisparaosgrandesmercadosemergentes, especialmenteaquelesqueestão
buscandoumaestratégiadeurbanização,comoaChina.Ocrescimentodemercadosemergentes
e,consequentemente,osaltospreçosdascommodities,vêmsendoospropulsoresdasexportações
brasileiras no século XXI. Além de certas indústrias específicas, como a Embraer, do setor da
aviação, a expansão das exportações brasileiras nos últimos anos tem sido influenciada pela
demandamundialpormatérias-primas.
As importações brasileiras são normalmente motivadas pela necessidade de fornecer aos
fabricantes nacionais peças, bem como a necessidade de satisfazer a demanda brasileira por
produtos manufaturados, que vai além das capacidades das empresas nacionais. O grande
crescimentodoempregoformaledossaláriosreais,combinadocominiciativascomooprograma
de transferência condicionada de renda, denominado Bolsa Família, vem retirando milhões de
brasileiros dapobreza e criandouma classemédia emédiabaixa crescentede consumidores,
queagorapodempagarporbensmanufaturadosimportados.Orecentecrescimentoeconômico
tambémtempromovidoumaclassesuperior,interessadaemimportaçõeseuropeiasluxuosas.
Aescassezde fatoresdeproduçãonoBrasilpareceestarnasua relativa faltademãodeobra
qualificada,comoengenheiros.Aquiéimportantefazerdistinçõesregionais,poisaqualificação
dotrabalhonoBrasilédiferenciadanasdiversasregiõesdopaís.Oscentrosurbanos,comoSão
PauloeRiodeJaneiro,podemtermaisacessoàmãodeobraqualificada.Emoutrasáreas,comoo
norteeonordeste,háfaltadela.Emgeral,oBrasilviveumaescassezdemãodeobraqualificada
emsetoresimportantes,taiscomoinfra-estruturaeextraçãoderecursosnaturais.
Em relação à competitividade global, o Brasil tem demonstrado um enorme potencial, mas
ineficiênciaspersistem.Opaístemumacomunidadeempresarialsofisticadaeasvantagensde
ummercadointernoenorme.Masasuacompetitividadeédificultada,entreoutrascoisas,pelas
deficiênciasdeinfra-estruturaquecustamàsempresasbrasileirasbilhõesdedólaresanualmente.1
1 DeacordocomumBluePaperde2010daMorganStanley,aagriculturabrasileiraproduzgrãosduasvezesmaisrápidoquenorestodomundo.Masconseguirfazercomqueessesgrãoscheguemaoportoatravésdeestradasinadequadaspodecustarquase metade do seu valor. Enquanto isso, enormes depósitos minerais permanecem enterrados nas profundezas da terrapor falta de transporte. As estatísticas apoiam essas descrições. O estudo descobriu que o investimento em infraestruturabrasileiratemdeclinado,de5,4%doPIBem1970até2,1%nadécadade2000,apenasligeiramenteacimadaestimativados2%necessáriosparasimplesmentemanteroestoquedeinfraestruturaexistente(videPaiva,2010).Comoresultado,oRelatóriodeCompetitividadeGlobaldoFórumEconômicoMundialde2013–2014classificaoBrasilem114ºdentreos148paísesemtermosdequalidadedeinfraestruturadetransporteemgeral(FórumEconômicoMundialde2013).
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Capítulo I: Comércio
Determinantes do comércio exterior da Alemanha
Na Alemanha, o volume e a estrutura das exportações e importações são determinados
principalmentepelaabundânciadecapital,pelaforçadetrabalhobemtreinada,custosunitários
detrabalhofavoráveis,altopadrãodeconhecimentoscientíficosetécnicos,integraçãonacadeia
desuprimentosdaEuropaepelafaltaderecursosnaturais.Porcontadisso,aeconomiaalemã
dependedaimportaçãodematérias-primasdoexterioreexportaçãodeprodutosmanufaturados
quecontêmumaltograudecapitalhumanoefísico.
AAlemanhatemumamãodeobrabastantequalificadaeespecializada,oquepode,emespecial,
seratribuídoaosistemadaeducaçãoprofissionaldopaís.Esse“sistemadeensinoduplo”combina
aaprendizagememumaempresacomaformaçãoemescolasprofissionalizantes.Comoresultado,
aAlemanhapodeserdescritacomoumaeconomiabemdotadademãodeobraqualificada,mas
relativamentepoucodotadaemmãodeobranãoqualificada.Assim,opaísexportabenseserviços
produzidoscomaajudademãodeobraqualificadaeimportaprodutosdoexteriorquenecessitam
demãodeobranãoqualificada.Emtermosdecapital,aAlemanhapodeserclassificadacomo
umpaísricoe,portanto,teoricamentedestinadoaexportarbenseserviçosintensivosemcapital.
Outropropulsordovolumeedaestruturadasexportaçõesalemãséoaltoníveldetecnologia,que
permiteàAlemanhaexportarprodutoseserviçosdegrandeconteúdotecnológico.Umindicador
dacapacidadetecnológicaalemãéonúmerodepedidosanuaisdepatentes.Em2009,aAlemanha
ficouemquintolugarnonúmerodepedidosdepatentespormilhãodetrabalhadoresassalariados,
àfrentedetodososoutrosgrandespaísesindustrializados(ExpertenkommissionForschungund
Innovation,2012).
Apesardaescassezdemãodeobraemumcontextoglobal,aAlemanhasebeneficiadecustos
unitários favoráveisdemãodeobra.Emborasejaumpaísdealtossalários,ocrescimentodos
saláriosaolongodosúltimos15anostemsidomenordoqueemoutraseconomiasdesenvolvidas.
A restrição aos aumentos decorreu principalmente de um período de alto desemprego e das
reformasestruturaisdomercadodetrabalhonadécadade2000,bemcomodoenfraquecimento
dopoderdebarganhadossindicatosalemães.
Após a reunificação, em 1990, o desemprego na Alemanha chegou a dois dígitos em 1994 e
permaneceuelevadopormaisdeumadécada.Apersistentealtataxadedesempregoeacrescente
possibilidadedeterceirizaçãodeempregosparaaEuropaCentraleOrientallevouaumaredução
significativa dos salários reais alemães. Em resposta à crise contínua de emprego, o governo,
comochancelerGerhardSchröder,promulgouumconjuntodereformasdomercadodetrabalho
destinadasaaumentaraparticipaçãonaforçadetrabalho,permitindoformasmaisflexíveisde
empregoereduçãodosbenefíciosaosdesempregadospormuitotempo.Essasreformastambém
agiram para reduzir o crescimento dos salários. Por último, e relacionado a essas mudanças
estruturaisdaeconomiaalemã,asindicalizaçãodaforçadetrabalhodiminuiusignificativamente.
15
Capítulo I: Comércio
Em1990,maisde11milhõesdepessoaserammembrosdeumsindicato.Em2011,aparticipação
caiupara6,15milhões.
OutropropulsordasexportaçõesalemãséasuaparticipaçãonaUEenazonadoeuro.Alocalização
nocentrodaEuropaeseuelevadograudeintegraçãocomospaísesvizinhosatravésdomercado
comumeuropeulevouaumfortecrescimentodocomérciointra-industrialentreaAlemanhaeos
outrospaíseseuropeus.Produtoresalemãesparticipamdecadeiasdefornecimentoqueincluem
empresasemmuitospaíseseuropeus,eseaproveitamdaespecializaçãoedocustocompetitivo
(ouseja,custostrabalhistasmaisbaixosnaEuropaCentraleOriental).Auniãomonetáriadazona
doeurotambémbeneficiaacompetitividadealemã,impedindoumavalorizaçãodamoeda.
Emumestudo separado, aBertelmannStiftungestimaque se amoedaalemãaindaexistisse,
ela teriavalorizadocercade23%,aopassoqueasmoedasdosdemaispaísesdazonadoeuro
teriamsedesvalorizado,emmédia,quase7%(BertelsmannStiftung,2013a).Esseaumentonos
preços relativos teriaum impactonegativo sobre as exportações alemãs.Aomesmo tempo, as
importaçõesalemãsteriamaumentado.Ao integrarazonadoeuro,aAlemanhanãosofrecom
umavalorizaçãodesuamoeda,porqueasexportaçõesdetodosos17paísesqueutilizamoeuro
sãomaisoumenosequilibradascomasimportações–pelomenosaté2011.
Avaliando a competitividade global, a Alemanha é especificamente forte na estabilidade
macroeconômica, capacidade de inovação, qualidade e quantidade de fornecedores locais,
Figura 1: Custos da mão de obra por unidade, por países e anos (índice: o custo de mão de obra por unidade no ano base 2000 = 100)
Fonte: OCDE, cálculos do Instituto para o Estudo do Trabalho (Institute for the Study of Labor, IZA), Bonn.
Reino Unido Itália Canadá
EUA Alemanha OECD
França
60
70
80
90
100
110
120
130
140
2010
2009
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
1997
1996
1995
1994
1993
1992
1991
1990
16
Capítulo I: Comércio
independênciadojudiciário,proteçãodapropriedadeintelectualenaqualidadedeinfra-estrutura
emgeral.AAlemanhamantémumgrandesuperávitcomercialetambémumsuperávitemconta
corrente.
3. Política comercial alemã e brasileira
Política comercial brasileira
A política comercial brasileira é historicamente protecionista, desde a época do modelo de
desenvolvimentoda industrializaçãoporsubstituiçãode importações (ISI),usadonametadedo
séculoXX.Desdealiberalizaçãodomercadodosanos80,oBrasilembarcouemumperíodode
aberturacomercialrelativa,reduzindotarifasunilateralmenteebuscandoaintegraçãocomercial
regionalcomaArgentina,UruguaieParaguaiviaMercosul.
A implementação da política comercial brasileira é supervisionada pelo Ministério do
Desenvolvimento,IndústriaeComércio,cujoministrotambématuacomopresidentedaCâmara
deComércioExterior(CAMEX).EsseórgãofoicriadonogovernodopresidenteFernandoHenrique
Cardoso, em 1995, para assegurar a coordenação política de multi-agências, bem como para
assessorar o presidente (Cantarino da Costa Ramos, 2010). Como um membro do Mercosul, o
Brasiléobrigadoanegociarnovosacordoscomerciaiscomoblocoregionalcomoumtodoaoinvés
de bilateralmente. Depois de ficarem paradas por vários anos, as negociações UE-Mercosul se
reiniciaramem2010.
ApolíticacomercialatualdoBrasilaindatemtraçosherdadosdeseuperíodoISI,comênfasena
proteçãodossetoresquecompetemcomasimportações,principalmenteautomóveis,equipamentos
elétricoseeletrônicos,têxteis,vestuário,borrachaeplástico(DaMottaVega,2009).Aproteção
geralmentetomaaformanãoapenasdetarifas,mastambémdebarreirasnão-tarifárias,incluindo
esquemascomplexosdelicençasdeimportação,taxasdeimportaçãoeosdireitosantidumping
(fixaçãodospreçosabaixodoscustos),quepassaramde63medidasem2008para83medidas
emmeadosde2012(OMC,2009;OMC,2013).2
Emmaiode2010,comoresultadodeumadeterioraçãodabalançacomercialdebensmanufaturados,
ogovernobrasileirointroduziuumamargemdepreferênciade25%nascomprasgovernamentais
para concorrentes nacionais, bem como um aumento nas tarifas de importação de peças para
veículos(Cornetetal.,2010).Em2011,oBrasilimplementouumimpostode30%sobreosveículos
importados,isentandocarrosecaminhõesproduzidosinternamente,emumamedidadestinada
originalmenteparadurarumano,masque foi estendidapormais cinco anos em2012.Essas
medidasresultaramemumpedidoformaldeconsultasnaOMC,ajuizadaspelaUniãoEuropeia,
em19dedezembrode2013.
2 Maisdemetadedasmedidasantidumpingemvigorem2011foramdirecionadascontraaChina(Lima/Ragir2011).
17
Capítulo I: Comércio
ApolíticacomercialdoBrasiltambémapresentaapromoçãodasexportações.Ferramentaspara
issoincluemoProgramadeFinanciamentoàsExportações(PROEX),visandoprincipalmenteas
pequenas e médias empresas que, de outra forma, se esforçam para obter crédito, bem como
oFundodeGarantiadeExportação (FGE).Em2012,oPROEXforneceuUS$4,88bilhõespara
osexportadoresbrasileiros.Entre2009e2012,oFGEapoiou253operaçõesdeexportaçãono
valordeUS$32,6bilhões.3Finalmente,oBancoNacionaldeDesenvolvimentoEconômicoeSocial
(BNDES)temváriosprogramasparaaliviaracargadataxadejurossobreosexportadores(OMC,
2013).
Política comercial Alemã
ApreferênciadaAlemanhaparaaintegraçãoglobalétambémumadiretrizbemaceitaporseus
legisladores.ApolíticacomercialalemãéformadaeimplementadapeloMinistérioFederalAlemão
de Economia e Tecnologia (BMWi). O Ministério tem promovido uma série de iniciativas para
melhoraracompetitividadealemã.4OEscritórioAlemãodeEconomiaeControledeExportação
(BAFA) apoia pequenas e médias empresas, e supervisiona os regulamentos de exportação e
importação(BAFA,2012).AAgênciaAlemãdeNegócioseInvestimento(GTAI)éumaagênciaque
promoveaAlemanhacomoumlocalparafazernegócioseauxiliaasempresasqueoperamem
mercadosestrangeiros.
Noentanto,aAlemanhanãopodecontrolarsuaprópriapolíticacomercial.ComopartedaUnião
Europeia,éapenasatravésdainstituiçãointergovernamentaldoConselhodaUniãoEuropeia(CEU),
bemcomoaComissãoEuropeiasupranacional(CE)eoParlamentoEuropeu(PE),queapolítica
comercialenvolvendoaAlemanha(configuraçãodetarifasounegociaçãonaOMCeoutrospactos,
porexemplo)podesercriada.EnquantoaUEconsideraaliberalizaçãodocomércioessencialparao
crescimentoeconômico,tambémhápaíseseindústriasquerepresentaminteressesprotecionistas
importantesdentrodaUnião.Aposturadeumúnicopaísmembro,mesmoumdosmaisimportantes,
talcomoaAlemanha,podemuitasvezesnãoserclara,umavezqueestáescondidaportrásdo
véu da política comum da UE que representa um consenso entre 28 preferências de políticas
nacionais.AUEtemcomoprioridadealiberalizaçãoemáreastaiscomoocomérciodeserviços,
contratospúblicoseproteçãodosdireitosdepropriedadeintelectual.Elatambémestápreocupada
emgarantirofornecimentodematérias-primaseenergiaparaospaísesindustrializados(CE,2011).
Noentanto, aUEbusca tambémumapolíticaparaproteger certas indústrias,principalmentea
agricultura,atravésdetarifasaltas,bemcomoconcedendosubsídiosaosagricultoreseuropeus,o
quefrustra,decertaforma,ospaísesemdesenvolvimento(OMC,2013a).
3 AFGEapoiouessasoperaçõesdeexportação,garantindoaté100%doriscocomercial,políticoeextraordinário.
4 A iniciativa apresenta quatro elementos: 1) Apoiar as pequenas e médias empresas alemãs no exterior, especialmente emmercados emergentes; 2)Esgotar todos osmecanismosdisponíveispara os formuladoresdepolíticas comerciais, incluindoumacampanhademarketingparainvestirnaAlemanha,correspondênciadeempresaseorealinhamentodosesquemasdedesenvolvimento de exportação e garantias de crédito à exportação; 3) Reduzir a burocracia, abolindo regulamentações deexportaçãodesnecessáriaseaceleraroprocessodeconcessãodegarantiasàexportaçãoedecréditodeinvestimento;4)Reforçaroquadrodocomérciointernacional,trabalhandoparaaconclusãobemsucedidadaRodadadeDohaeasnegociaçõessobreoAcordodeComércioAnti-Contrafação(ACTA),bemcomoaconclusãodeacordosbilateraisdecomérciocomaseconomiasemergentesdaÁsiaedaAméricaLatina.
18
Capítulo I: Comércio
OSistemaGeraldePreferências(SGP)daUEconcedeacessopreferencialaomercadodaUEpara
ospaísesemdesenvolvimento.AUErevisouoSGPem2013paraseconcentraremajudarospaíses
menosdesenvolvidosqueosderendamédia.Desde1ºdejaneirode2014,umasériedepaíses
classificadoscomopaísesderendamédia-alta,oualta,nãosebeneficiamdessaspreferências.O
Brasil,juntamentecomtodososmembrosdoMercosul,excetooParaguai,éumdospaísesque
perderamesseacessopreferencial.
4. Visão geral do comércio bilateral Brasil-Alemanha
O comércio Brasil-Alemanha tem aumentado de forma consistente ao longo da última década,
emboraocrescimentotenhadesaceleradoapósacriseeconômicade2008–2009.Dosprincipais
paísesmembrosdaUE,aAlemanhaé,delonge,omaiorparceirocomercialdoBrasil,tantoem
termosdeimportaçõesquantodeexportações.AAlemanhaéatualmenteoquartomaiorparceiro
comercialdoBrasilatrásdaChina,dosEUAedaArgentina(GED,2013).
A conexão Brasil-Alemanha alimenta o comércio entre a UE e a América do Sul. Em 2010, a
AlemanhafoiresponsávelporumterçodetodoocomérciodoBrasilcomaUniãoEuropeia,eesse
númeroprovavelmentesubestimaovalorglobal,devidoaochamadoefeitoRoterdã.5
Os principais produtos de exportação do Brasil para a Alemanha incluem minério de ferro,
soja e derivados de soja, derivados de café, carne, cobre e petróleo bruto (Ministério Alemão
das Relações Exteriores, 2012). Enquanto matérias-primas predominam, máquinas e algumas
partesdeaviõestambémfiguramnacarteiradeexportaçãoBrasil-Alemanha.Agrandemaioria
dasexportaçõesbrasileirasparaaUE,emgeral,édeprodutosnãoindustrializados.Umtotalde
21%dasimportaçõesdemineraisdazonadoeurosãoorigináriasdoBrasil,assimcomo11%das
importaçõesdeprodutosagrícolas(CE,2012).
AsprincipaisexportaçõesalemãsparaoBrasilincluemmáquinas,veículosesuaspeças,bemcomo
produtosquímicosbásicoseprodutosfarmacêuticos(MinistérioAlemãodasRelaçõesExteriores,
2012).Emcontrastecomacarteiradeexportaçãobrasileira,asexportaçõesalemãsparaoBrasil
sãopredominantementedeprodutosmanufaturados,paraconsumofinal,oubensintermediários
ebensdecapitalparaasempresasbrasileiras.Maisumavezaqui,ocomércioBrasil-Alemanhaé
umindicativodamaiorrelaçãoUE-AméricadoSul.Em2011,porexemplo,88,5%dasimportações
doMercosulprovenientesdaUEforamdeprodutosmanufaturados,comocomérciodemáquinas
eequipamentosdetransporterepresentando49,2%dototal(CE2012).
Emtermosdevalorglobal,ocomércioBrasil-Alemanhaérelativamenteequilibrado.OBrasilteve
umsuperávitcomercialcomaAlemanhaemsetedosoitoanosentre2003e2010,chegandoaUS$
5 OefeitoRotterdamrefere-seaosbensdestinadosaumdeterminadopaísqueentramnazonadoeuroemterceirospaíses,comoaHolanda.NoscasosemqueessesbenssãoentãonegociadosparaaAlemanha,essastransaçõessãoregistradascomocomércioholandêscomoBrasile,posteriormente,comoocomérciodazonadoeuroentreosPaísesBaixoseAlemanha.
19
Capítulo I: Comércio
2,78bilhõesem2007.Estesuperávittemsido,emmédia,deapenasUS$1,1bilhão.Osuperávit
comercialdoBrasil comaAlemanhaparece refletirumamudançadamaré,poisoBrasil teve
déficitcomaAlemanhanoperíodode2000a2003.
Atransiçãonãorefleteumadiminuiçãonoapetitebrasileiroporprodutosalemães.Pelocontrário,
asexportaçõesalemãsparaoBrasilquasetriplicaramentre2000e2010,passandodeUS$4,43
bilhõesparaUS$11,75bilhões.Oaumentonasexportaçõesbrasileirassimplesmenteultrapassou
osaumentosdasimportaçõesbrasileirasprovenientesdaAlemanha.
Fonte: Fundação Bertelsmann, Global Economic Dynamics
Figura 2: Visão geral do comércio Brasil-Alemanha
Alemanha Brasil
426,89 bi
Importações
497,44 bi
Exportações
46,47
bi
Impo
rtaçõ
es
51,94
bi
Expo
rtaçõ
es
2001
Alemanha Brasil 0 500 1000 1500 2000 2500
Importações Exportações
178,8
8 bi
Impo
rtaçõ
es
210,8
2 bi
Expo
rtaçõ
es
0 500 1000 1500 2000 2500
2011
Alemanha Brasil
846,21 bi
Importações
957,51 bi
Exportações
69,35
bi
Impo
rtaçõ
es
177,8
8 bi
Expo
rtaçõ
es
2006
0 500 1000 1500 2000 2500
1,091 biImportações
1,242 bi
Exportações
20
Capítulo I: Comércio
Osfluxoscomerciaisbilateraissãocomplementaresemutuamentebenéficos.Dopontodevista
alemão, exportar para o Brasil oferece aos fabricantes nacionais a oportunidade de alcançar a
crescenteclassemédiadopaís,umnovogrupoenormedeconsumidores.Hátambémumacrescente
classe de consumidores brasileiros ricos, que representa um bom mercado para os produtos
alemãesdeponta.Finalmente,oaumentodaatividadedenegóciosnoBrasilgeraoportunidades
parabensintermediáriosebensdecapitaisalemães,comoprodutosquímicosepeçasdemáquinas
eequipamentos,quecompõemaespinhadorsaldosetordeexportaçãoalemão.
Dopontodevistabrasileiro,exportarparaaAlemanhaajudaoBrasiladiversificarsuacarteira
comercial. Sem o comércio para a Europa, os exportadores de commodities brasileiras podem
ficar particularmente vulneráveis a uma desaceleração na China. Enquanto o Brasil tem um
maiorvolumedecomérciocomaArgentinaeosEUA,oBrasiltambémcompetecomessasnações
emexportações comosoja, carnebovinaehidrocarbonetos. Issonãoapenaspode criar atritos
comerciais,comotambémsignificaqueopaísdeveencontrarconsumidoresadicionaisparatais
bens.AAlemanhaseencaixanessadescriçãoperfeitamente,umavezquenãocompetecomo
Brasilnamaioriadossetoresdecommodities.
Os fabricantes alemães dependem das importações de commodities para gerar seus produtos
finais. Um grande produtor de commodities politicamente estável como o Brasil pode oferecer
segurança de recursos para a Alemanha. Enquanto isso, a demanda alemã por commodities
brasileirasnãosóampliaaquantidadedevendasanuais,comotambémajudaaaumentaropreço
globaldecommodities–ambososefeitosvantajososparaoBrasil.
5. Complicações no comércio Brasil-Alemanha
Apesardanaturezacomplementardadotaçãodefatoresdosdoispaíses,outalvezporcausadisso,
aUEeoBrasilestãoenvolvidosemumasériededisputascomerciaisdelongadata.OBrasile
aUEestiveramenvolvidosemdozecasosperanteaOMC;setedelesforamtrazidospeloBrasil,
enquantoaUEagiucomoreclamantecincovezes(paraumavisãogeral,consulteatabela1).
Figura 3: Visão dos propulsores do comércioPara a Alemanha Para o BrasilUm amplo mercado em crescimento para os bens alemães
, Importante diversificação comercial, não limitada aos EUA e a China
O desenvolvimento brasileiro implica em maiores oportunidades de comércio para as empresas da Alemanha
,A especialização alemã é crucial para o desenvolvimento da infraestrutura brasileira
Manutenção da segurança nacional de recursos para o setor industrial
, A demanda por commodities alemãs aumentará a quantidade/preços das exportações brasileiras
Líder global em exportações de energia verde , Dedicação ao desenvolvimento de tecnologias verdesFonte: Bertelsmann Stiftung
21
Capítulo I: Comércio
Embora as queixas brasileiras concentrem-se em restrições à importação da UE de produtos
agrícolasematérias-primas,aUEopôs-seaoqueelavêcomoprotecionismobrasileirodeinsumos
intermediáriosebensfinais.Barreirascomerciaisnão-tarifáriasealémdasfronteirasaparecem
comdestaquenamaioriadasdisputas.ComaUEaindalutandoparaserecuperardaquedadevido
acrisefinanceiraeeconômicaquecomeçouem2008,oriscodeprotecionismoenovasdisputas
comerciais permanece elevado. Especialistas temem que, como as negociações da Agenda de
DesenvolvimentodeDohaaindapermanecemcom impasses, o riscodepedidosdesoluçãode
controvérsias comerciais também aumente. Como um diplomata disse, “Quanto menos você
negocia,maisvocêcontesta”(Miles2012).
NaatualrodadadeDoha,oBrasileaUEtêmpontosdevistaopostosemmuitasquestõescruciais.
E o mais importante é que eles discordam sobre novas concessões para produtos agrícolas e
industriais.Devidoàaltacompetitividadedeseusagricultores,oBrasilvêenormepotencialpara
aumentaraquotadeseusprodutosagrícolasnomercadoglobal.Portanto,eleparticularmentese
mostrapreocupadocomaliberalizaçãodosmercadosagrícolas.OBrasiltemumaposturabastante
agressivaemacessoamercados,apoiodoméstico,bemcomoossubsídiosàexportação(Nogueira,
2009).Economiasdesenvolvidas, emparticularaUEeosEUA,ofereceramcortes,masambos
têmsidobastanteinflexíveissobreoempregodemedidasespeciaisdesalvaguarda(SSM),que
permitem a utilização temporária de restrições à importação de certos produtos (por exemplo,
açúcar)nocasodeumaumentosúbitodasimportações.
Tabela 1: Disputas comerciais Brasil-UE perante a OMCNº Reclamante Reclamado ProblemaDS69 Brasil EU Cota tarifária da UE sobre aves congeladasDS81 UE Brasil Medidas brasileiras que regulam a importação de carros e autopeças DS116 UE Brasil Novas condições de pagamento introduzidas pelo Banco Central do BrasilDS154 Brasil EU Tratamento preferencial especial da UE para o café solúvelDS183 UE Brasil Medidas de importação do Brasil para os têxteisDS209 Brasil EU Tratamento preferencial especial da UE para o café solúvelDS219 Brasil EU Tarifas antidumping da UE sobre as importações de ferro do BrasilDS266 Brasil* EU Subsídios da UE para a indústria de açúcarDS269 Brasil** EU Reclassificação tarifária da UE sobre as aves congeladasDS332 UE Brasil Medidas brasileiras que regulam a importação de pneusDS409 Brasil EU Apreensão pela UE de medicamentos genéricos destinados ao BrasilDS472 UE Brasil Tributação brasileira e encargos sobre determinados bens manufaturados*Junto com a Tailândia e Austrália**Junto com a TailândiaFonte: Bertelsmann Stiftung com base em dados da OMC (de 11 de março de 2014)
22
Capítulo I: Comércio
6. Rumo a um acordo de livre comércio UE-Mercosul?
Devidoaosseuslaçoscomerciaiscomplementaresecrescentes,tantoaAlemanhaquantooBrasil
se beneficiariam de políticas comerciais bilaterais diretas. No entanto, dada a participação da
primeiranaUEeaassociaçãodoúltimoaoMercosul,umacordodelivrecomércio(ALC)exigiria
umanegociaçãoamplaentreosdoisblocos.Jáem1995,aUEeoMercosulassinaramumacordo
deprincípioseiniciaramumdiálogocomoobjetivodeestabelecerolivrecomércioentreosdois
blocos.Desde então, porém, asnegociações sobreumpossívelALCUE-Mercosul têmoscilado
entreosnovosimpulsosparaumacordoeastentativasinúteisdeseresolverosdetalhes.
Em29demaiode1992,umAcordodeCooperaçãoConjuntaInstitucionalfoiassinadopelaUEe
pelos(então)quatropaísesdoMercosul.Emjulhode1998,aUEdecidiunegociarumALCcomo
MercosuleChile;reuniõesediscussõescomeçaramnomesmoano.Asnegociações,desdeentão,
oscilaramentreosnovos impulsosparacorrigiroacordoe tentativas inúteisdeseresolveros
detalhes(Flores,2013a).Duranteesteperíododemaisde15anos,poucosestudosformaisforam
feitossobreoprovávelimpactodoALC.
Emumaanálisedeequilíbrioparcial,CalfateFlores(2006)mostramqueosganhospotenciais
da UE com um acordo desse tipo são muito espalhados, particularmente por vários produtos
manufaturados, enquanto o Mercosul vai colher vantagens de inúmeras exportações de
commodities.ApesardosignificativodesviodocomércioparaaChinapelamaioriadosmembros
doMercosuldesdeaépocadoestudo,asavaliaçõesaindasãovaliosasfeitascomolimitessuperiores
paraosganhosaoníveldoprodutoindividual.
FlôreseMarconini(2003)argumentamquemuitassinergiaspoderiamserencontradasforada
esferaclássicadaagricultura.Amigraçãodecapitalhumano–umaquestãodelicadaparaaUE
–poderiasustentarresultadosinteressantesegratificantesparaambososlados;osserviçosde
telecomunicaçõessãooutraáreacompotenciaisvantagensparaambososlados.
Asnegociaçõesforamoficialmenteretomadasemmaiode2010,comoBrasilemergindocomolíder
importantenosdiálogos.TantooBrasilcomoaAlemanhapoderiamobterganhossignificativos
emumacordo:osfluxosdecomércioBrasil-Alemanharesponderampormaisdeumquintodo
comércioUE-Mercosulem2010.
SeriamuitobenéficoaoBrasilseessepossuísseumALCcomumaeconomiamaisdesenvolvida.
Masasdificuldadesehesitaçõesaindaassolamoavançodoprocesso.Do ladodoMercosul, a
Argentina,eemmenorescala,aVenezuela,têmcolocadoalgumasdemandaseobjeções.Dolado
europeu,apesardaretóricaextremamentepositiva,poucodemonstrouemtermosdeconcessões,
oquenaverdademantémopadrãooferecidohámuitotempo.
Alémdisso,duasnovasvariáveisestãoemjogo.
23
Capítulo I: Comércio
AprimeiraéaChina,ummercadonovoeenormequediminuiuconsideravelmenteaansiedade
dosexportadoresdecommoditiesdoMercosul–especialmenteosprodutoresdecarne–tornando
aUEummercadoaindaatraente,masmenos importantedoqueerahádez anos.Do ladoda
UE,alémdasváriascrisesqueaindaocupamamaiorpartedopessoaldeBruxelas,naarenado
comércio,asperspectivasdeumaParceriadeComércioeInvestimentoTransatlântico(TIPT)está
atraindoumaatençãoconsiderável.Estaéumatentativaambiciosa,complicada,semresultados
claros,eseráumprocessodemoradoecustosoemtermosderecursoshumanos.
Um estudo realizado pela Bertelsmann Stiftung e pelo Instituto IFO concluiu que, em termos
econômicosglobais,tantoosEUAcomoaUElucrariamcomumaTIPTabrangente(Felbermayr,
2013),comosmembrosdosuldaUEeoReinoUnidosendoosprincipaisbeneficiários.Paísesfora
daTIPT,especialmenteaquelescomrelaçõescomerciaismuitoestreitascomumdosdoisblocos,
comooMéxico,iriamenfrentarumacontraçãodocomércio,queresultariaemreduçõesnarenda
realenoemprego.
OestudoprevêqueasexportaçõesbrasileirasparaaUEsecontrairiamem9,4%seaTIPTfor
concluída,equeasexportaçõesbrasileirasparaaAlemanhasofreriamumacontraçãode7,9%.O
estudotambémconstataqueasexportaçõesbrasileirasparaosEUApoderiamdiminuirematé
29,7%.Emgeral,essascontraçõespoderiamcustaraoBrasilmaisde2%doPIBpercapita.
OimpactosobreoBrasiléumtantodiscutívelepreliminar,umaavaliaçãogeralcomaqualFlôres
(2013b) concorda. A questão-chave, mais do que desvio de comércio, é a plataforma unificada
previstadenormastécnicas,regrasepadrõesparaosfabricantes,serviçosecommodities.Isso
implicaqueoBrasileoMercosuldeveriamdefinirumaforça-tarefaparaanalisarprofundamente,
entre as normas potencialmente comuns que podem resultar6, aquelas que eles já cumprem,
aquelasquegostariamdeadotar,eaquelasquenãopensaemadotar.Naconduçãodesteesforço,a
Alemanha,comseuslaçosestreitoscomaindústriabrasileiraesuaexperiênciatécnicasuperior,
poderiaserumaparceiraimportanteparaoBrasil.
Emfevereirode2012,oMinistrodoExterioralemão,GuidoWesterwelle,visitouoMinistrobrasileiro,
AntonioPatriota,eosdoisemconjuntosemanifestarampeloprogressonosdiálogosUE-Mercosul
sobrelivre-comércio.Emboraadmitindoqueossubsídioseuropeusaosagricultoresrepresentam
um ponto de divisão fundamental, ambos deixaram claro que os seus governos apoiariam um
acordo.Emumareuniãodecúpulaemjaneirode2013,achanceleralemã,AngelaMerkel,obteve
ocompromissodapresidentedoBrasil,DilmaRousseff,edapresidentedaArgentina,Cristina
FernándezdeKirchner,detrocarpropostasconcretasparaareduçãodasbarreirascomerciaisaté
ofinalde2013(Emmott,2013),algoqueBruxelasnãoconseguiufazer.
Em24defevereirode2014,RousseffsereuniucomlíderesdaUEparadiscutirasnegociações
(GMF,2014).MembrosdoMercosulseencontraramnoiníciodomêsparadiscutirumaproposta
6 Dizemos“normaspotencialmentecomunsquepodemresultar”,porqueemmuitasáreas,comoosGMO,odomíniodaInterneteprodutosquímicos,édifícilconceberumaharmonizaçãoUE-EUA(vertambémFlôres,2013b).
24
Capítulo I: Comércio
conjuntasobreareduçãodetarifas.Alémdisso,asdiscussõessobreapossibilidadedeavançosdas
negociaçõesseguiramsemaArgentina;umprocessodenegociaçãochamadode“doistempos”.
Embora essa abordagem exija revisão das regras do Mercosul, Brasil e Uruguai têm sugerido
preparativosparaessefimseaArgentinacontinuarinsistindoemumapolíticacomercialmais
protecionista(Mercopress,2014b).ApoderosaConfederaçãoNacionaldaIndústria(CNI)doBrasil
saiurecentementeemapoioaessaideia,observandoqueacordosdelivrecomérciocomaUEeos
EUAsãonecessáriosparamanteracompetitividadedoBrasil(Ridout,2014).OParaguaitambém
mostrouainclinaçãodeseguirosoutrosdoismembros.
No entanto, os obstáculos permanecem. Lobbies agrícolas europeus colocam uma etiqueta de
preçode25bilhõesdeeurosemumpotencialacordode livrecomércioUE-Mercosul,dizendo
queosagricultoreseuropeusvãosofrerperdasextensasnocasodeliberalizaçãodosetoragrícola
(Mercopressde2011).AvaliaçãodaprópriaCEdescobriuqueasperdasseriamconsideravelmente
maisbaixas,variandoentre1bilhãoe3bilhões(Burrelletal.2011).Olobbyagrícola,noentanto,
édifícildeserconvencidopeloscálculosdaCE–quereconhecidamenteapoiaolivrecomércio.
EssesdesenvolvimentossugeremqueoBrasileaAlemanhadevemexplorarasrelações
bilateraismaisprofundamente,semviolarasregrasdasuniõesaduaneirasexistentes,eque
issocriariamaisoportunidadeseempreendimentosespecíficossuperpostosrelacionamento
tradicionaloqual,felizmente,estáflorescendonovamente.
7. Oportunidades para um relacionamento no século XXI
A relação comercial entre Brasil e Alemanha não é apenas caracterizada por dotações
complementaresdefatoresdeproduçãoeconcorrênciaentreasindústriasnacionais.Elatambém
apresentaoportunidadessignificativasnochamadocomércio“novo”ou“doséculoXXI”–muitas
dasquaisdeveriamseraproveitadas.
Anovateoriadocomérciofoidesenvolvidanoiníciodosanos1970,combasenaobservaçãodeque
umapartecrescentedocomérciointernacionalestavaocorrendoentreindústriasdomesmosetor
enãopoderiaserexplicadapelasteoriasclássicasdavantagemcomparativaedasdiferençasna
dotaçãodefatores(Krugman,1979).Ocomérciointra-industrial,querepresentaastrocasdebens
finaisentrepaíses,mastambémdepeçasecomponentesdentrodomesmosetor,émotivadopor
fatorescomoaconcorrênciamonopolística,apreferênciadosconsumidorespeladiversidade,os
retornoscrescentesdeescalaeosefeitosdeaglomeração.Ocomérciointra-industrialrepresentou
umagrandepartedocrescimentoexponencialdocomérciointernacionalnaeradaglobalização
(cominícionadécadade1990),poisaaberturadasfronteiras,bemcomooscustosmenoresde
transporteecomunicação,permitiamaintegraçãodecadeiasdesuprimentosentreospaíses.
25
Capítulo I: Comércio
OBrasileaAlemanhatêmtidodiferentesabordagensparaestesdesenvolvimentos.Enquantoa
Alemanhaparticipadaintegraçãoemcadeiasregionaisdefornecimentos,oBrasiltem,emgeral,
favorecidoaintegraçãovertical–aligaçãodeváriasfasesdeproduçãodentrodeumpaís.
Para a Alemanha, a integração da cadeia de suprimentos veio naturalmente, graças à posição
centraldopaísnomercadocomumeuropeu,aescassezderecursoseaoaltograudeespecialização
industrial.AaberturadaseconomiasdaEuropadoLesteeCentralnadécadade1990forneceuuma
oportunidadeespecialparaasempresasalemãsobteremnãosónovosmercados,mas também
novasfontesdetrabalhorelativamentebaratas.Aterceirizaçãooureposicionamentodepartesda
produçãoparapaísesvizinhosdoLestedaAlemanhapermitiuqueasempresasseconcentrassem
nasetapasdeproduçãomaiseficientes,feitasemcasa,aumentandoaprodutividadeglobal.
No Brasil, a integração vertical é, em grande parte, uma herança do modelo de ISI de
desenvolvimentodedécadaspassadas.Aproteçãodeumpaísparaassuasindústrias,pormeio
demedidastarifáriasenão-tarifáriasepelapreferênciapelaindústriadoméstica,éuminibidor
daintegraçãodascadeiasdesuprimentos.Outrofatorfundamentaléasuadistânciageográfica
dasregiõesmaisdinâmicaseintegradasdaeconomiamundial(Europa,AméricadoNorte,Leste
daÁsia),combinadacomumainfra-estruturalogísticadeficiente.ComacriaçãodoMercosul,em
1991,oBrasilapostaemseuprópriomodelodeintegraçãoregional.OMercosultemgeradoalguma
integraçãodacadeiadesuprimentosnaregião–umnotávelexemploéaindústriaautomotivano
BrasilenaArgentina–masaabordagemfechadadoMercosulparaoexteriorealongaestagnação
emtermosdeaprofundamentodaintegraçãointernalimitoudrasticamenteaintegraçãodacadeia
desuprimentosdasindústriasbrasileiras.Curiosamente,oúnicosegmentoindustrialnoBrasil
comforte inserção internacional,a indústriaaeroespacial (fortementeconcentradaemtornoda
fabricantede aeronavesEmbraer), tambéméumdospoucos segmentos industriais brasileiros
experimentandoumfortecrescimentonosúltimosanos.
Considerando-se a gama de indústrias presentes em ambos os países, uma maior integração
dascadeiasdesuprimentosentreoBrasileaAlemanhadevecriaroportunidadessignificativas
paraambosospaíses,especialmentenosetordemanufaturas.ParaoBrasil,atransferênciade
conhecimentoetecnologiaalemãespodeajudarasempresasasetornaremmaiseficientes.Paraa
Alemanha,oBrasilnãorepresentaapenasummercadoatraente,mastambémumafontepotencial
de insumos (aqueles que incorporam trabalho e recursos naturais) e até mesmo tecnologia,
em áreas onde as empresas brasileiras têm encontrado nichos (por exemplo, biocombustíveis,
aeroespacial).
A integraçãodascadeiasdesuprimentostambémestá ligadaaoutronovotemaimportanteno
comércio internacional: o comércio de serviços. A produção de bens finais em uma indústria
moderna, globalmente integrada, não apenas incorpora um grande número de componentes
ouprodutos intermediários,mas também umagamade serviços, muitos dosquais podemser
obtidosanívelmundial.Essesserviços transacionáveis incluemdiversasatividades, taiscomo
26
Chapter II: Capital Flows and Investment
transporte,logística,TI,finanças,segurosedesign.Alémdestes,oturismotambéméumserviço
comercializávelemcrescimento.
Como o comércio de serviços tem crescido, o Brasil ainda não se aproveitou plenamente
das oportunidades resultantes. Isso não é surpresa, pois os serviços às empresas tendem a
estar intimamente ligados à integração da cadeia de fornecimento. A Alemanha no entanto, é
relativamente mal integrada no comércio de serviços global, também, onde muitos setores
importantes permanecem fechados. Assim, os serviços são uma oportunidade para ambos os
paísesaprofundaremaintegraçãoentresi,bemcomocomorestodomundo.Oturismotambémé
umaoportunidadebilateral.OBrasil,comseusolabundanteepraiasexuberantes,deveexplorar
omercadoparaosalemães,sedentosporsol,rivalizandocomoCaribeesudestedaÁsiacomo
destinoturísticodeverão.Damesmaforma,aAlemanhaatéagoraperdeuoaumentodramáticode
brasileirosqueviajamaoexterior.Levando-seemcontaquemuitosbrasileirossãodescendentes
dealemãesequeopaístemmuitoaofereceremtermosdehistóriaecultura,háumagrande
oportunidadeparaatrairmaisturistas.
OutraáreainteressantedeoportunidadeparaaintegraçãoentreaAlemanhaeoBrasiléaárea
deenergiaverdeedebiocombustíveis.Ambosospaísessãolíderesemsegmentosdemercado
nestaárea,masacooperaçãotemsidolimitada.OBrasilélídernodesenvolvimentodeetanolde
canadeaçúcar(fontemaiseficientequeomilhoououtrasplantas)etecnologiasrelacionadas,tais
comomotoresflex(quefuncionamcomgasolina,etanolouqualquermisturadosdois)eenergia
elétricaapartirdesubprodutosdabiomassadecanadeaçúcar(aoinvésdeseremconsumidores
deeletricidade,asusinasbrasileirasdeaçúcar,naverdade,fornecemquantidadessignificativas
paraaredeelétrica).AAlemanha,porsuavez,élídernodesenvolvimentodepainéissolarese
turbinaseólicas,quesãoclaramenteumaopçãoatraentedeenergiaparaoBrasil.Noentanto,
emvezdebeneficiarospontosfortesdecadaumdosoutros,cadapaístemtidoumaabordagem
protecionistaemrelaçãoaosprodutosdooutro,comcustosparaambasaseconomias,bemcomo
paraomeioambiente.DevidoaofatodoBrasiledaAlemanhaaspiraremtantoparaseremlíderes
naagendaclimáticaglobal,umamaiorcooperaçãonestaáreadeveriaserumaprioridadepolítica.
No século XX, os dois países cooperaram para o desenvolvimento da energia nuclear, com a
empresaalemãSiemensfornecendoosreatoresdausinanucleardoBrasilemAngradosReis.Por
quenãoembarcaremcooperaçãosemelhanteemfontesdeenergiaparaoséculoXXI?
27
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
Capítulo II:
Fluxos de capitais e de investimentos
1.Fluxosfinanceiros 2. Investimento direto estrangeiro e investimento em carteira 3.Estabilidademacroeconômicaefluxosfinanceirosinternacionais
28
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
Capítulo II: Fluxos de capitais e investimentos
Estecapítulodescreveosfatoresqueinfluenciamosfluxosfinanceirosedeinvestimentoentrea
AlemanhaeoBrasil.ASeção1analisaosprincipaisfatoresqueinfluenciamosfluxosfinanceiros
internacionais, como reveladopela literatura relevante, enquantoaSeção2descreveeanalisa
dadossobreoinvestimentodiretoestrangeiroesobreoinvestimentointernacionalemcarteira,
comfocoespecialsobreoBrasileaAlemanha.ASeção3analisaarelaçãoentreaestabilidade
macroeconômica e os fluxos financeiros internacionais, particularmente à luz da recente
volatilidadedataxadecâmbionoBrasil,sendoconcluídacomumabreveconsideraçãoacercados
potenciaisbenefíciosdaharmonizaçãodaspolíticasmacroeconômicas.
1. A microeconomia dos fluxos financeiros internacionais
As decisões financeiras de investidores estrangeiros são influenciadas pelos riscos e retornos
esperados,comoéocasodequalquerfluxofinanceiro.Opapeleconômicodosfluxosfinanceiros
internacionaiséatransferênciadepoupançaentreospaíses.DeacordocomLucas(1990),deve-se,
portanto,esperarqueosgrandesfluxosdecapitaldospaísesricossejatransferidoparaospaíses
pobres,umavezqueaproporçãomaisbaixadecapitalportrabalhadornospaísespobresimplicaria
maioresretornosmarginaisaocapital.Noentanto,comoReinharteRogoff(2004)observaram,a
dívida externa per capita não parece seguir esta lógica. Pelo contrário, quanto maior a renda
percapitadeumpaís,maiortendeaserasuadívidaexternapercapita.GertlereRogoff(1989,
1990)mostramqueháevidênciasdeexpansãodefluxosdecapitaisdospaísespobresparaos
paísesricos,enquantoAlfaroetal.(2003)apresentaevidênciasdeaumentodoinvestimentodireto
estrangeiroempaísescomaltarendapercapita.
Finalmente, Reinhard e Rogoff (2004) descobriram que um grupo de 20 ou mais países
emergentesrecebemamaiorpartedosfluxosfinanceirosdospaísesmaisricos,comospaíses
em desenvolvimento restantes recebendo, em geral, fundos através da auxílios e investimento
diretoestrangeiro.EssasdivergênciasempíricasdiretascomasexpectativasdeLucasemrelação
aos fluxos de capital vieram a ser conhecidas como o “Lucas Paradox”. Embora pudesse ser
parcialmenterelacionadocomofenômenodo“homebiaspuzzle”(resenhadoemLewis,(1999),
referindo-se àpreferênciados investidores em investirno seupaísde origem), existemvários
fatoresadicionaisenvolvidos,algunsdosquaissãodiscutidosabaixo.
A escassez de capital humano e dos recursos naturais
Ao contrário da postulação de Lucas, os retornos do capital não são necessariamente mais
elevadosnospaísespobres.Umdosprincipaismotivoséqueosequipamentoseocapitalfísico
emgeral são fatores complementaresdeprodução ao capital humanoe aos recursosnaturais.
29
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
Consequentemente, a escassez relativa de capital humano, em muitos países pobres, e dos
recursosnaturaisnosmaisricos,diminuioprodutomarginaldocapitalfísico.
EstaafirmaçãoésuportadaporCasellieFeyrer(2007),quedesenvolveramumametodologiapara
corrigiroprodutomarginaldocapital(MPC)levandoemconsideraçãosuascomplementaridades
com o capital humano e os recursos naturais. Eles acham que, embora existam diferenças
significativasnoMPCcalculadoentrepaísesricosepobresdeacordocommetodologias“ingênuas”
(11,4nospaísesricoscontra27,2nospaísespobres),ascorreçõespelascomplementaridadesentre
ocapital físicoeocapitalhumano,bemcomoosrecursosnaturais,diminuioMPCdospaíses
pobres(8,4paraospaísesricoscontra6,9paraospaísespobres),esugerequeospaísesricos
podematéterumMPCumpoucomaior.
Se o capital, apesar de ser o fator relativamente móvel de produção, deve ter capital humano
complementarmente(e/ourecursosnaturais),pode-seperguntarseamigraçãodetrabalhadores
nãopoderiaserumaforçaimportantequeequalizeprodutosmarginais.Arecenteintensificação
da migração internacional de trabalho sugere que pode ser, embora com muitas restrições e
limitações. Incluem-se, nesse cenário, de restrições e limitações, conflitos (religiosos, étnicos)
ecustospecuniáriosenãopecuniáriosdemigração (restrições legais,asdiferençasdevalores
culturais,hábitos,perdaderelaçõesedeconexões,faltadeinformação,etc.).
OBrasil temamplos recursosnaturais,massua faltadecapitalhumanopodedesencorajaros
potenciais investidores, pelomenos a curtoprazo.O sistemade educaçãodopaísnão fornece
onúmeronecessáriodetrabalhadoresqualificados,nemamigraçãorecentetemsidocapazde
preencherestalacuna.
Qualidade institucional
Outro fator por trás da escassez relativa de capital nos países pobres é o maior risco do
investimento. Papaionnau (2004, 2009) analisou os dados de fluxo financeiro dos bancos de
140 países (industriais, emergentes e subdesenvolvidos). Sua principal conclusão foi que a
qualidade institucionaléumcorrelatoprimordialparaosempréstimosdebancosestrangeiros.
Umpaíscominstituiçõescomummaudesempenho,incluindoosdireitosdepropriedadepouco
sólidosealtosriscosdeexpropriação,aineficiênciajurídica,acorrupçãoburocrática,etc.,inibe
aconcessãodeempréstimosdebancosestrangeiros.Assim,estes fatoresagemcomo impostos
(incertosevariáveis),restringindoaentradadecapitais.Poroutrolado,aliberalizaçãopolítica,a
privatização,umsistemabancárioindependenteecaracterísticasestruturaishomogêneasatraem
substancialmentemaiscapitaldebancosestrangeiros.
Papaionnau (2009) também realizou testes de assimetrias de informação e associações etno-
linguísticas como variáveis de controle (ver também Glick e Rose, 2002), mas os fatores
30
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
institucionais permaneceram proeminentes. Lane (2003) chegou a uma conclusão semelhante
sobreocapitalpróprioeoinvestimentodiretoestrangeiro;suapesquisasugerequeamáqualidade
dasinstituiçõeseaprevalênciadacorrupçãoinibiraminvestimentosestrangeiros.Umtantoao
contrário, Lucas (1990)descartaa importânciado fatorde riscopolítico, citandooexemploda
Índiaantesde1945.Duranteesseperíodo,aÍndiaaindaestavasujeitaàdominaçãobritânicae,
consequentemente,aomesmoriscopolítico,masasuarelaçãocapital/trabalhomanteve-seabaixo
daqueladaGrã-Bretanha.
Em linhacomos resultadossobreaqualidade institucionalemsentido lato,Reinhart eRogoff
(2004)focamnainadimplênciadadívidasoberanaeseusefeitossobreareputaçãodospaíses(o
quepodeserconsideradoumresultadodaqualidade institucionalpobre)comouminibidorda
entradadecapitais.Atabela1abaixomostraonúmerode“calotes”(oureestruturaçõesdedívida)
duranteoséculo20paraváriospaíses.
AimportânciadoscalotesemsérielevouCasellieFeyrer(2007)asugerirque,afimdemantera
suacredibilidadeeatrairpoupançaexterna,umpaíscomumhistóricodeinadimplênciapassado
devemantersuadívidaexternanaproporçãomáximade30%doPIB,equeessaproporçãodeve
ser prudentemente diminuída se a dívida pública for muito alta. A tabela 2 mostra os valores
dessesíndicesparaoBrasileaAlemanhaem2012.
Aconclusãoevidenteéqueorisco(principalmentedecorrentedeinstituiçõesfracasepolíticas
inadequadas)éumfatorimportantequeinfluenciaasentradaslíquidasdecapital.Asagências
deavaliaçãoderiscoestimamoriscosoberanoparamuitospaíses.Emjulhode2013,aStandard
& Poor’s avaliou o Brasil como BBB/negativo/A-2 e Alemanha como AAA/estável/A-1 + O
Tabela 1: Número de inadimplências* durante o século XX para os países selecionados
País Número de episódios inadimplência*Equador, Uruguai e Libéria 6Brasil e Peru 5Venezuela, Áustria e Iugoslávia 4México, Colômbia, Argentina, Bulgária, Rússia e Polônia 3Alemanha, Chile e China 2*Ou reestruturação da dívidaFonte: Reinhart e Rogoff (2004)
Tabela 2: A dívida externa bruta, dívida pública e PIB (2012)Dados Brasil AlemanhaDívida externa bruta (como percentual do PIB) 19,6 168,2Dívida pública (como percentual do PIB) 58,8 81,9PIB (US$ bilhões) 2.252,7 3.399,6Fonte: Banco Mundial, FMI e CIA
31
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
rebaixamento feito pela Standard & Poor’s em março 2014 do Brasil para BBB-, confirma esta
tendêncianegativa.Asclassificações“negativas”e“estáveis”refletemaperspectivadaagênciade
classificaçãoemrelaçãoàfuturareclassificação.OutramedidaderiscoglobaldoBrasiléoprêmio
dataxadejurossobreadívidabrasileiraeostítulosdoTesourodosEUA,conhecidocomoEMBI+.
Afigura1mostraaevoluçãorecentedestadiferença.Eleflutuaconsideravelmente,etemhavido
uma tendência recente de aumento desde fevereiro de 2013 (um aumento de 100 pontos-base
significaqueadiferençadataxadejurosaumentoudeumpontopercentualporano).
Aliteraturaeasevidênciassobreosfluxosdecapitaisinternacionaissugeremqueaafirmação
típicada teoriade investimentokeynesiana,dequeadiminuiçãodas taxasde juros reais iria
aumentaroinvestimento,talvezsejasimplística.Orisco(decorrentemuitasvezesdeinstituições
fracasouemenfraquecimentooudepolíticas inadequadas) e a escassezde capitalhumanoe
recursosnaturaistambémsãofatoresmuitoimportantes.QuantoaoBrasil,alémdaatualescassez
detrabalhadoresqualificadosnopaís(umfatorcomplementaraocapital),oquadropolíticorecente
leva a uma percepção generalizada de instituições enfraquecidas e políticas macroeconômicas
inadequadas,comorefletidonomovimentorecentedoprêmioderiscomostradonafigura1.
Fonte: JP Morgan.
Figura 1: Risco Brasil medido pelo EMBI + Risco Brasil
100
150
200
250
300
jul.
jun.
mai
.ab
r.m
ar.
fev.
jan.
dez.
nov.
out.
set.
ago.jul.
jun.
mai
.ab
r.m
ar.
fev.
jan.
dez.
nov.
out.
set.
ago.jul.
jun.
mai
.ab
r.m
ar.
fev.
jan.
dez.
nov.
out.
set.
ago.jul.
jun.
mai
.ab
r.m
ar.
fev.
jan.
2010 2011 20132012
32
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
2. Investimento direto e investimento em carteira internacional, no Brasil e na Alemanha
Investimento direto estrangeiro
Dados sobre o estoque de investimento direto estrangeiro (IDE) do Brasil e da Alemanha são
apresentadosnastabelas3,4e5.7
7 AsestatísticascomoIDEdaHolanda,LuxemburgoedasIlhasCaymansãoprovavelmenteinadequadas.AHolandatematuadocomointermediáriaemtransaçõesdoIDEentreaEuropaeospaísesdaAméricaLatina,ecomoumparaísofiscal.Alémdisso,oBrasilnãoinformadadossobrelucrosreinvestidos,oqueiriainflarofluxodoIDE.Levandoessesdoisfatoresemconsideração,o IDEdaHolanda em relação aoBrasil é certamentemuitomenor.No entanto, nãopodemosdesconsiderar o investimentoholandês que existe. Há muitas empresas holandesas estabelecidas no Brasil, incluindo Shell, Heineken, Makro, Phillips eUnilever.
Tabela 3: Posição do IDE no Brasil, por país de origem, final de 2011Categoria País US$ bilhões
Total 688,61 Holanda7 171,22 Estados Unidos 119,33 Espanha 92,44 França 34,25 Japão 34,26 Luxemburgo 32,77 Reino Unido 20,48 México 17,19 Alemanha 16,7
10 Ilhas Cayman 16,5Fonte: Pesquisa Coordenada sobre Investimentos Diretos pelo FMI (Coordinated Direct Investment Survey – CDIS)
Tabela 4: Posição do IDE da Alemanha em outros países, fim de 2011Categoria País US$ bilhões
Total 1.206,31 Estados Unidos 221,52 Reino Unido 126,53 Holanda 113,54 Luxemburgo 101,65 Bélgica 55,36 França 52,57 China 44,28 Áustria 43,09 Itália 42,0
10 Espanha 33,917 Brasil 16,3
Fonte: Pesquisa Coordenada sobre Investimentos Diretos pelo FMI (Coordinated Direct Investment Survey – CDIS)
33
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
ATabela6mostra o estoquedo IDEem relação aoPIBdas20maiores economiasdomundo.
OestoquedoIDEnessespaísescorrespondea28,3%doseuPIBcombinado,aopassoqueseu
estoquedoIDEnoexteriorcorrespondea32,1%.Comoumtodo,essegrupodepaísesrecebeuem
enviouparaoexterioraproximadamenteamesmaquantidadedeinvestimentodireto.OBrasil(e
outrosmercadosemergentes,comooMéxico)recebeuoIDEemlinhacomamédiaglobal,mas
enviouaoexteriorumvalorbastanteabaixodamédia.AAlemanha recebeuummontanteum
poucoabaixodamédiaeenviouaoexteriorumaquantiaacimadela.Japão,ÍndiaeCoreiadoSul
podemserconsideradospaísescomeconomiasrelativamentefechadasemtermosderecepçãode
IDE.
Aavaliaçãocuidadosadastabelas3,4,5e6permiteváriasconclusões:
1) OestoquetotaldoIDEnoBrasil,emrelaçãoaoPIB,éde31%.ParaaAlemanha,essenúmeroé
de27%.Osnúmerossãopróximos,oquesugere,talcomoalegadopelosautoresmencionados
na seção anterior, que as economias emergentes não sãonecessariamente as beneficiárias
preferenciais do IDE. Ao contrário, os países ricos recebem uma parcela considerável do
mesmo.
Osnúmerosnaúltimacolunadatabela6sãoumamedidadaaberturadecadaeconomiaem
relaçãoaoIDE.Éumamedidaimportante,umavezqueoestoquedoIDEéacumuladoaolongo
demuitosanos.Consequentemente,elerefleteinformaçõessobreocomportamentohistórico
delongoprazodopaísemrelaçãoaoIDE,ouseja,asinformaçõessobreasuarelaçãoeconômica
comoutrospaísese,emparticular,asuaabsorçãodecapitalestrangeiroetecnologia.
Ocoeficientedecorrelaçãoentreamedidadeaberturadescritanatabela6(últimacoluna)e
umamedidamaistradicionaldeabertura,talcomo(importação+exportações)/PIB-éde0,368.
Eumtesteestatístico“tdeStudent”mostraqueacorrelaçãoésignificativamentediferente
Tabela 5: Posição do IDE na Alemanha, final de 2011 Categoria País US$ bilhões
Total 915,31 Holanda 229,32 Luxemburgo 130,93 Estados Unidos 91,44 França 83,45 Suíça 79,16 Reino Unido 75,57 Itália 46,58 Áustria 30,99 Japão 20,6
10 Suécia 19,7161 Brasil 0,3
Fonte: Pesquisa Coordenada sobre Investimentos Diretos pelo FMI (Coordinated Direct Investment Survey – CDIS)
34
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
dezeroaoníveldeconfiançade95%.Aconclusãoéqueaquelespaísesqueestãoabertosao
comércioexteriortendemaserabertosaoIDE(evice-versa).
DeacordocomoscritériosdeaberturaemrelaçãoaoIDE,comoumpaísreceptor,oBrasil
ocupaanonaposiçãoentreas20maioreseconomias.AAlemanhaestáem11ºlugar.
2) Supondoumarelaçãorenda/capitalde20%,atotalidadedocapitalfísiconoBrasilteriaum
valordeUS$11,3 trilhões.Consequentemente,considerandoa tabela3,ovalordoestoque
deinvestimentodiretoestrangeironoBrasilseriadecercade6%dovalordototaldocapital
físiconopaís.Searelaçãorenda/capitalfossede25%,opercentualdoestoqueacumuladode
investimentodiretoestrangeironoBrasilgirariaemtornode7,5%dototaldoestoquedecapital
dopaís.
Para a Alemanha, os índices para cada hipótese seriam um pouco menores: 5,5% e 6,9%,
respectivamente. Consequentemente, não há muita diferença entre um país de renda per
capitaalta,comoaAlemanha,eumpaísderendapercapitamédia,comooBrasil.Osvalores
globais(veraúltimalinhadatabela6)tambémsugeremque,fazendosuposiçõessemelhantes
sobrearelaçãorenda/capitalparatodosos20países,opercentualdoestoquedeinvestimento
Tabela 6: Estoque do IDE como percentagem do PIB (para os 20 países com maior PIB)
Posição (com base no PIB)
País 1. Estoque do IDE no país como percentagem do PIB
2. Estoque do IDE do país no ex-terior como percentagem do PIB
1 + 2
1 Estados Unidos 16,2 26,5 42,72 China 23,2 0,0 23,23 Japão 3,8 16,2 19,94 Alemanha 26,9 35,5 62,45 França 37,2 61,1 98,46 Reino Unido 43,7 70,8 114,57 Brasil 30,6 6,8 37,48 Rússia 22,6 18,0 40,69 Itália 16,9 25,8 42,7
10 Índia 9,7 3,3 13,011 Canadá 32,2 36,3 68,512 Austrália 33,9 22,6 56,513 Espanha 43,8 44,9 88,714 México 29,8 8,4 38,215 Coreia do Sul 11,8 15,2 27,016 Indonésia 21,2 0,0 21,217 Peru 14,4 3,3 17,718 Holanda 443,1 550,8 993,919 Suíça 102,0 162,9 264,920 Suécia 64,7 67,2 131,9
Global 28,3 32,1 Fonte: CDIS/FMI
35
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
diretoestrangeiroparaototaldeestoquedecapitalfísicodecadapaís,paraumpaísmédiodo
grupo,seriadecercade6ou7%.
3) OestoquedoinvestimentodiretodaAlemanhanoBrasiléde1,4%dototaldoinvestimentodireto
realizadopelosalemãesnoexterior.Aolongodosanos,osEUA—umpaísdesenvolvido—tem
sidooprincipalbeneficiáriodoinvestimentodiretodaAlemanha(18,4%dototal,representando
US$119milhões);dadosdamesmafonteindicamqueosEUAdetém10%(novalordeUS$91,4
milhões)doestoquedoIDEnaAlemanha.OBrasil,comUS$260milhõesdeinvestimentodireto
totalnaAlemanha,éo161ºinvestidorestrangeirodiretodomundonaAlemanha.Tendoemconta
queoestoquetotaldeinvestimentosbrasileirosdiretosnoexteriorvalemUS$154bilhões,o
investimentodiretobrasileironocapitalsocialnaAlemanhaémuitopequeno.
4) Atabela7(derivadadatabelaanterior)mostraadistribuiçãopercentualdoIDEnoBrasil,por
paísdeorigem.
OestoquedeinvestimentosdiretosdaAlemanhanoBrasilequivalea2,4%dototal,eocupaanona
posição,atrásdaHolanda,dosEUAedaEspanha(masvejaanotaderodapénapágina4,para
umaexplicaçãodovalorholandês).
Investimento estrangeiro em carteira
OsnúmerossobreoestoquetotaldeinvestimentoestrangeiroemcarteiranoBrasilesuadistribuição
porpaísesdeorigemaparecemnatabela8.Oinvestimentoemcarteiratotalpermanecemenordo
queovalortotaldoIDEnopaís.AAlemanhaéresponsávelpor1%desseinvestimentoemcarteira,
muitoatrásdosEUA,omaiorinvestidor,com39%dototal.(Arepresentaçãoexcessivadepaísescomo
LuxemburgoeIlhasCaymanprovavelmenterefleteacondiçãodessespaísescomoparaísosfiscais.)
Tabela 7: Distribuição do estoque do IDE no Brasil por país de origem, final de 2011Categoria País Percentagem
1 Holanda 24,82 EUA 17,33 Espanha 13,44 França 5,05 Japão 5,06 Luxemburgo 4,87 Reino Unido 3,08 México 2,59 Alemanha 2,4
Fonte: Cálculos do autor com base nos dados da CDIS/FMI
36
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
Atabela9mostraosinvestimentosemcarteirapelaAlemanhaemoutrospaíses(quetotalizam
cercadeduasvezesaquantidadedeinvestimentosdiretosalemãesnoexterior).Luxemburgoéo
beneficiárioNº1,enquantoqueoBrasilrepresentaapenas0,2%dototal.
Atabela10fazumacomparaçãoentreasposiçõesacumuladasbrasileirasealemãsdeinvestimentos
diretosestrangeirossomadosaosinvestimentosemcarteira,comopaísesreceptoreseinvestidores.
Atabela10mostraque,emgeral,oBrasilrecebemuitomaisentradasdecapitalemcarteirado
queinvesteemcarteirasnoexterior.EmboraaAlemanhanãoinvistafortementenoexterior,opaís
éumreceptorlíquidodeinvestimentosemcarteira.
Tabela 9: Recursos de investimento em carteira da Alemanha em outros países, final de 2011
Categoria País US$ (bilhões)Total 2.380,4
1 Luxemburgo 301,52 França 237,33 Holanda 202,54 Estados Unidos 202,25 Reino Unido 173,76 Itália 163,77 Espanha 125,38 Irlanda 92,09 Áustria 53,8
28 Brasil 5,0Fonte: CPIS/FMI
Tabela 8: Passivos em investimento em carteira do Brasil em outros países, final de 2011
Categoria País US$ (bilhões)Total 497,1
1 Estados Unidos 196,22 Reino Unido 106,03 Luxemburgo 53,04 Japão 28,95 Ilhas Cayman 17,46 Holanda 11,87 Canadá 11,78 Irlanda 11,79 Noruega 7,9
10 França 7,811 Alemanha 5,0
Fonte: Pesquisa Coordenada sobre Investimentos Diretos (Coordinated Portfolio Investment Survey – CPIS)/FMI
37
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
3. A macroeconomia dos fluxos financeiros internacionais
A diminuição drástica dos custos de comunicação e transporte, e o consequente processo de
globalizaçãoemgeral,levouaumaextraordináriaexpansãodocomércioedosfluxosdetodosos
tiposdecapital.Asfiguras2e3mostramaevoluçãodoIDEnomundoeaevoluçãodocomércio
exteriorparaaseconomiasbrasileiraealemã,respectivamente.
Osnúmerosrevelamaclaraexpansãodocomércioedosfluxosdecapitais(IDE):
Fonte: Banco Mundial.
Figura 2: Fluxo mundial de IDE por ano como percentual do PIB mundial
0,0 %
0,5 %
1,0 %
1,5 %
2,0 %
2,5 %
3,0 %
3,5 %
4,0 %
20112000199019801970
Tabela 10: Estoque do IDE e investimento em carteira; Brasil e Alemanha como países beneficiários e investidores, final de 2011
Brasil, percentual do PIB
Alemanha, percentual do PIB
Receptor Investidor Receptor InvestidorInvestimento direto estrangeiro 30,6 6,8 26,9 35,5Investimento em carteira 22,1 1,3 82,9 70,0Fonte: CPIS/FMI e CDIS/FMI
38
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
Ospaísesreceptoreslíquidosdosfluxosfinanceirospodemincorreremdéficitsdecontacorrente
(ouseja,elespodemreceberumvalorexcedentelíquidopositivodebenseserviçosdoexterior,
permitindo-lhesmanterumnívelmaiselevadodeinvestimentoe,consequentemente,obteruma
taxadecrescimentodoPIBpotencialmaiselevada).Ospaísesquesãofornecedoresdepoupança
apresentamsuperávitsemcontacorrente,transferindoparaoexteriorbenseserviços,eesperando
receberfuturospagamentosdebenseserviços(verObstfeldeRogoff,1996).Afigura4mostra
que,duranteosúltimos20anos,oBrasilabsorveumaispoupançaexternadoqueaAlemanha:A
Alemanhatemsidoumexportadordepoupançadesde2000e,particularmentenosúltimoscinco
anos,acontacorrentealemãesteveemconsideravelmentesuperavitária,enquantoadoBrasilera
deficitária.
Figura 4: Saldo em conta corrente como percentagem do PIB, Alemanha e Brasil
–5 %
–4 %
–3 %
–2 %
–1 %
0 %
1 %
2 %
3 %
4 %
5 %
6 %
7 %
8 %
2012
2011
2010
2009
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
1997
1996
1995
1994
1993
1992
1991
1990
Fonte: Banco Mundial.
Alemanha Brasil
Figura 3: Importações + exportações como percentural do PIB, Brasil e Alemanha
0 %
10 %
20 %
30 %
40 %
50 %
60 %
70 %
80 %
90 %
100 %
2012
2011
2010
2009
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
1997
1996
1995
1994
1993
1992
1991
1990
49,7
97,6
15,2
26,9
Fonte: Banco Mundial.
Alemanha Brasil
39
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
Desuaparte,oBrasilprecisadepoupançaexternaparaaumentaroseuinvestimentoemcapital
fixodevidoàrelativamentebaixa/taxadepoupançainternaemrelaçãoaoPIB.Oinvestimentofixo
emrelaçãoaoPIBoscilouentre15,5e18%,bemacimadobaixoníveldepoupançainterna(de14
a15%doPIB).Atabela11,abaixo,mostraoinvestimentofixototalnoBrasilcomoumpercentual
doPIB.Arelaçãotemsidoumpoucoabaixode20%duranteaprimeiradécadadoséculoatual.
Emcomparação,naChinaessa relação foi de cercade50%.O investimento fixobrasileiro em
relaçãoaoPIBéanualmentecercadedoisacincopontospercentuaismenordoquemesmataxa
emmuitosoutrospaíseslatino-americanos,incluindoChile,Argentina,Peru,ColômbiaeMéxico.
Osfluxosfinanceirosinternacionaisrepresentamomecanismodetransmissãocrucialdepoupança
entreospaíses.Essesfluxosfinanciamdéficitsdecontacorrente.Noentanto,aexpansãorecente
esubstancialdosfluxosinternacionaisdecapitaisentreospaísesemoedaslevantouaquestão
desaberseessesfluxossãoumaameaçaparaaestabilidademacroeconômica.Otemoréqueum
direcionamentovolátil,possivelmenteindevido,dessesfluxospoderiaexagerartantoavalorização
quantoadesvalorizaçãodascondiçõeseconômicasdeumpaís.
Assim,aquestãofundamentalésaberseolivrefluxodecapitaléemgeralmaisumbenefício
paraospaísesenvolvidosdoqueumdesserviço.Pararesponderaessapergunta,nosreportamos
o professor Jagdish Bhagwati e seu reconhecido artigo intitulado “The Capital Mith” (1998).
Bhagwati é a favor do livre comércio de bens e serviços, mas argumenta que movimentos de
capitaistotalmenteliberalizados—ouseja,capitaldequalquerespécieeemquaisquermontantes—
apresentamdesvantagensquenãoestãopresentesnocasodolivrecomércio.
Oproblemainerenteaofluxodecapitaisemcarteiraéqueelesestãosujeitosaocontágioeao
comportamentodemanada,queé,porvezesconduzidoporpânicos,maniasefalhas.Especuladores
desestabilizadores,definidoscomoaquelesqueapostamcontraosfundamentoseconômicosdeum
determinadopaís,podemauferirgrandes lucrosquandooprópriocomportamentoespeculativo
Table 11: Fixed Investment as percent of GDP in BrazilAno Investimento fixo (Em percentagem do PIB)2000 16,82001 17,02002 16,42003 15,32004 16,12005 15,92006 16,42007 17,42008 18,72009 16,72010 18,4Fonte: Dados do IPEA
40
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
mudaosfundamentos.Osmodeloseconômicoscomcomportamentoespeculativotêmdiferentes
posiçõesdeequilíbrio.Consequentemente,oargumentoconhecidodeMiltonFriedman(1953),de
queaespeculaçãodesestabilizadoraacabariaporpunirosespeculadores,comperdas,quandoos
fundamentossubjacentessereafirmarem,éteoricamenteincorreto.Aespeculaçãosimplesmente
mudaosfundamentosemmodeloscomespeculação.PesquisadorescomoTriffin(1957),Aliber
(1962), Obstfeld (1986), e outros, mostraram isso, aumentando a possibilidade de múltiplos
equilíbrios econômicos. Além disso, o fluxo livre de capitais de curto prazo na presença de
distorçõescomerciaisjáexistentes(tarifas,quotas,etc.),podemnãosereficienteeconomicamente,
deacordocomosargumentosdesenvolvidosporCooper(1998,1999).
Nemtodasasformasdeinvestimentocausamessestiposderisco.Naverdade,osmaioresganhos
dos fluxosdecapitalparaospaísesemdesenvolvimento (incluindoaaquisiçãodehabilidades
e tecnologia)podemserobtidospormeiodo incentivoao investimentodiretoestrangeiro. Isso
implicarianofatodequeumapolíticabem-sucedidapoderiaconcederconversibilidadedecâmbio
livre apenas para os lucros e os capitais das empresas. Bancos, empresas e cidadãos comuns
nãodevemteracapacidadederetirarlivrementeocapitaldecurtoprazodopaísemqualquer
magnitudequedesejarem.Nãodevemsercapazesdefazermovimentosdecapitaisdecurtoprazo,
oquepodemultiplicar-sedrasticamentenapresençademovimentosinsustentáveisdepreçosde
ativosquepodemreforçarainstabilidadeeconômica.
OcasodoBrasilapresentaumexemploesclarecedordeinstabilidadesrelacionadascomaentrada
decapitais.Emparticular,noBrasil,encontramosresultadosinteressantesquandoessesfluxos
interagem com o sistema político, servindo como um excelente estudo de caso de economia
política.Avolatilidadedo fluxode capitais temsidoum fator importantepor trásdoaumento
da volatilidade da taxa de câmbio doméstica durante a última década. Por exemplo, o choque
decorrentedacriseglobaldesetembrode2008 (vistana figura5),por intermédioda fugade
investimentoemcarteiraparaoutrospaíses,foiseguidoporumaumentodecercade50%nataxa
decâmbiodemercadodamoedabrasileiraemrelaçãoaodólardosEUA,emmenosdeummês.
Alémdapressãoinflacionária,essadesvalorizaçãodamoedacausouproblemasparaasempresas
eosbancoscompassivosemdólar,comalgumasdessasempresasindoafalência.Maistarde,no
mesmoano,quandoaextensãodacrisetornou-semaisclara(eaposiçãofinanceirarelativamente
sólidadoBrasiltornou-seconhecida),ataxadecâmbioemrelaçãoaodólarvoltouaoseunível
anterior.
41
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
OscapitaisentraramnoBrasilatraídospelasaltastaxasdejurosnopaís(essastaxasaltaseram
umresquíciodos anos1990,quandooBrasil enfrentoualtas taxasdomésticasde inflação).A
figura7abaixomostraaevoluçãodataxadejurosdomercadomonetárionoBrasil,enquantoa
figura6mostraastaxasdecâmbiodefimdeano.
Fonte: Dados do IPEA.
Figura 6: Taxa de câmbio, do real brasileiro para o dólar dos EUA
0,0 %
0,5 %
1,0 %
1,5 %
2,0 %
2,5 %
3,0 %
3,5 %
20122011201020092008200720062005200420032002
2,892,65
2,342,14
1,77
2,34
1,74 1,67 1,88 1,97
Figura 5: Passivos de investimento em carteira do Brasil para outros países; estoque de títulos patrimoniais 2001–2011, relatados pelo Brasil
0
50
100
150
200
250
300
350
400
20112010200920082007200620052004200320022001
Fonte: CPIS/FMI.
Ações do capital
US$
, milh
ões
42
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
Avalorização substancialdo realnesseperíodo causouproblemasparao setordeexportação,
sobretudoporqueataxabrasileiradeinflaçãomédianomesmoperíodofoimaiordoqueataxa
deinflaçãodosparceiroscomerciaismaisimportantesdoBrasil.Astaxasbrasileirasdeinflação
atingiramumamédiadepoucomenosde6%em2003–2013,deformaconsistenteatingindooteto
dasmetasdepolíticamonetáriaedelongesuperandoastaxasempaísesparceiroscomerciais,
comoaAlemanha(1,82%nesseperíodo)eosEUA(2,4%).Asexportaçõesindustriaisbrasileiras
foramseriamenteabaladasapartirdacombinaçãodaapreciaçãonominaldocâmbioedainflação
mais elevada, uma vez que esses fatores implicaram em uma significativa valorização real da
moedadopaís.
O governo brasileiro reagiu à valorização do real através da compra de moeda estrangeira no
mercadodecâmbio,afimdeevitaradesvalorização.Comoresultado,asreservasinternacionais
do país aumentaram substancialmente, de US$ 49 bilhões para US$ 373 bilhões, ao longo do
períodoentre2003–2013.Noentanto,aaquisiçãodereservasinternacionaisnãopodeimpedir
umavalorização cambial, sendo, ainda,umamedidacaraparaogovernoem termosdos juros
desuadívidapúblicainterna.Asreservasemmoedaestrangeira,quandoinvestidasembancos
internacionais,nãorecebiamumpagamentode juroscomparáveis.Alémdisso,umavezquea
moeda estrangeira continuou a se desvalorizar em relação ao real, o governo brasileiro sofreu
perdascambiaisenormesemsuasreservasemmoedaestrangeira (édifícilavaliarexatamente
quanto,masessasperdasultrapassaram,provavelmente,omontantede100bilhõesdereais).
Como o real continuou a se valorizar em termos reais, as exportações industriais brasileiras
tornaram-se cada vez menos competitivas. Exportadores de commodities foram compensados
pelospreçosanormalmentealtosdeseusprodutos(videfigura8),masomesmonãoacorreucom
osexportadoresdeprodutosindustriais(videfigura9).
0 %
5 %
10 %
15 %
20 %
2012201120102009200820072006200520042003
% p
or a
no
Figura 7: Taxa de juros do mercado monetário do Brasil (SELIC), 2003–2012
16,5017,75 18,0
13,25
11,25
13,75
8,7510,75
11,0
7,25
Fonte: Dados do IPEA.
% por ano Média anual
43
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
Oscustosnoorçamentopúblicodas reservas internacionaisedavalorizaçãocontínuado real,
finalmente,levaramaumapolíticagovernamentalem2012decortardrasticamenteastaxasde
jurosparaevitaraatraçãodecapital financeiroexterno, levandoàdesvalorizaçãodoreal,eao
aumentodasexportaçõesedos investimentos industriais.Apreocupaçãocomestaabordagem,
no entanto, é que a diminuição das taxas de juros domésticas levou ao aumento da inflação,
exacerbadapeladepreciaçãodataxadecâmbio.
Paraevitaroressurgimentodainflação,ogovernobrasileirointerveioparaconterospreçosde
energia (petróleo e eletricidade) e adiando outros aumentos de preços (em transporte público,
por exemplo). Além dessas ações, o governo começou a se engajar no que foi chamado de
“contabilidade criativa” (manipulandoos resultadosdo orçamentodo setorpúblico e adotando
Fonte: Dados do IPEA.
Figura 8: Os preços da soja por tonelada
0
100
200
300
400
500
600
2012201120102009200820072006200520042003
233,25276,83
223,17
217,42
317,25
453,33
378,50 385,00
484,25
538,00
US$
por
ton
Fonte: Dados do IPEA.
Figura 9: Exportações industriais ÷ produção industrial total
0 %
5 %
10 %
15 %
20 %
25 %
2012201120102009200820072006200520042003
20,50
21,60
20,80 19,90
19,00
16,80
14,80 13,90
15,10
14,00
44
Capítulo II: Fluxos de capitais e de investimentos
práticasnãousuais, taiscomooadiamentocontábildegastos),afimdepermanecerdentroda
metadesuperávitdoorçamentopúblico.Enfim,asenormesreservasinternacionaistêmumcusto,
emtermosdereduçãodossuperávitsdoorçamento,oumesmodedéficits.
EssaspolíticasintervencionistaseomenorcompromissodoBancoCentralcomasmetasrígidas
deinflaçãotêmcausadooaumentodaincertezaparaosinvestidoresnaeconomiabrasileira:O
investimentoem2012caiuem4%emrelaçãoa2011.
Em conclusão, os fluxos de capitais internacionais livres iniciaram uma cadeia de eventos
que, paradoxalmente, acarretou a diminuiçãodo investimento e do crescimentoda capacidade
produtivadaeconomiabrasileira.Os fluxosdecapitaisespeculativos têmsidoparticularmente
problemáticosparaos formuladoresdaspolíticasbrasileiras.Esses fluxos tambémcausam,no
entanto, a diferença substancial das políticas econômicas entre países que interagem. A sua
interaçãoconduzaumainfluênciamútuaquedeveserlevadaemcontapelosdecisoresemcada
umdospaíses.Naverdade,afaltadecoordenaçãodaspolíticasmacroeconômicaspoderesultar
emumprocessodedecisãoaquémdoideal,típicodosjogosnãocooperativos.
Senãohouvercoordenaçãodaspolíticas,ocontroledosfluxosfinanceirosdecurtoprazopodeser
necessárioparaumpaíssedefendercontraaseventuaisexternalidadesnegativasprovenientesdo
estrangeiro.Poroutrolado,sehouverumacoordenaçãopolíticaadequada,entãoofluxodecapital
podesercompatívelcomaestabilidadeeocrescimento.Seasprincipaiseconomiasdomundo
adotam macropolíticas que tratam seus parceiros emergentes como adaptadores passivos, a
economiapolíticapodemlevaroscontrolesdecapitaldecurtoprazodesejáveisparaaseconomias
pobreseemergentes.
45
Capítulo III: Recomendações
Capítulo III:
Recomendações
1. Foco no investimento direto bilateral 2. Harmonização da política monetária 3. Rumo a um entendimento sobre migração 4. Encontrar o denominador comum sobre a política comercial 5. Brasil e Alemanha como líderes em um Acordo de Livre Comércio
UE-Mercosul
46
Capítulo III: Recomendações
Capítulo III: Recomendações
AsrelaçõeseconômicasBrasil-Alemanhaestãocrescendo,maselasestãolongedeseupotencialtotal.
Emalgunscasos,diferentesabordagenspolíticasevitamqueambosospaísesexerçamplenamente
assuasvantagenscomparativasouseengajememtrocasmutuamentebenéficas.Emoutroscasos,a
participaçãoemblocospolíticoseeconômicosrestringeacapacidadedeambosospaísesemampliar
suasrelaçõeseconômicasemaspectosqueatendamaosseusinteressesnacionais.
Dadaanaturezaprofundaemuitasvezespolíticadessesobstáculos,recomendaçõesconcretase
viáveispodemserdifíceis.Noentanto,estedocumentoindicaqueháumdenominadorcomum
significativocompartilhadoentreoBrasileaAlemanha,ehárecomendaçõesconcretasquepodem
ajudarambosospaísesaconstruiressasrelaçõessobreestabasecomum.
Essas recomendações visam aprofundar as relações econômicas, que são menos expostas a
riscospolíticossoberanos,equedependemmaisdoconhecimentoedaaçãodegrandesagentes
econômicos.Aomesmotempo,asrecomendaçõesnãocoíbemosdiscursospolíticosdifíceis,mas
importantes,quepermanecem.Emvezdetentardefinirpolíticascorretasouincorretas,buscamos
estratégiasparatornaraspolíticasdiferentesmutuamentecompatíveis.
Emparticular,estaseçãooferecerecomendaçõespara1)promoveroinvestimentodiretobilateral;
2)harmonizarapolíticamonetária,3)facilitaramigraçãocomoummecanismoparaestimularas
relaçõeseconômicas,4)encontrarumdenominadorcomumdepolíticacomercial,e5)incentivar
oBrasileaAlemanhaaassumirempapéisdeliderançanoavançodeumALCUE-Mercosul.
1. Priorizando o investimento direto bilateral
Emborasejadifícilumconsensofirmesobrecomoofluxodecapital,dequalquertipo,especulativo
porexemplo,beneficiaumadadaeconomia,hámaiorespaçoparaumacordosobreoinvestimento
estrangeirodireto(IDE).Alémdisso,emcontrastecomaliberalizaçãodocomércio,queexigeum
demorado e trabalhosoprocessodenegociação, umaprofundamentodo IDEbilateral pode ser
alcançadonabasedeprojetoaprojeto.Assim,oIDEéumtemafértilparaanáliseedebate,porque
érelativamenteimuneaosprocessospolíticos.Alémdisso,dadaarelaçãoentreoIDEeocomércio
internacional, especialmente no que se refere a “novas questões comerciais” (comércio intra-
industrial, integraçãodacadeiadesuprimentos,direitosdepropriedadeintelectual),aabertura
aoIDEpodelevaraoaumentodaaberturacomercial(participaçãodasexportaçõeseimportações
naeconomia).
SeriaumaoportunidadeimportanteparaasempresasalemãsinvestiremnoBrasil,aproveitando
assimocrescentemercadoconsumidorbrasileiro,queestáprontoparaosprodutosquefazem
usoda“engenhariaalemã”,equepoderiamserproduzidoslocalmenteemquantidadesmaciças.
47
Capítulo III: Recomendações
Da mesma forma, as equipes de pesquisa e desenvolvimento (P&D) brasileiras—cujos projetos
podemnuncaviraserconcretizadosdevidoàsrestriçõesdomercadodemãodeobraespecializada
do Brasil—podem se beneficiar através do estabelecimento de suas operações na Alemanha.
Oportunidadesdemédioelongoprazoparaasindústriaslocais(Alemanha,Brasileira)também
podemsercriadasatravésdageraçãodeindústriascomplementaresnoexterior(Brasil,Alemanha),
seja apartir da fragmentaçãodeprocessos industriais ou, emcenáriosmais complexos, pelos
efeitosdemarcaeexternalidadesderede.
Noentanto,essasligaçõesnemsempresurgemdeformaorgânica.TantooBrasilcomoaAlemanha
podemtomarmedidasparaincentivaroIDEbilateral,chamandoaatençãoparaasoportunidades
emambosospaíses.AfimdeexpandiroinvestimentodiretoentreBrasileAlemanha,sugerimos
que os dois países promovam isenção parcial ou total de impostos corporativos e impostos de
importaçãoentreeles.Tambémrecomendamosqueotratadodeinvestimentobilateralassinado
peloBrasileaAlemanhaem1995sejaratificado,umavezqueiriaofereceraosinvestidoresa
confiançadequeosseusdireitosserãoprotegidos.
Há tambémopotencialdecolaboraçõesproveitosasemergirementre instituiçõessemelhantes,
como o banco de desenvolvimento brasileiro (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social ou BNDES) e o Banco de Desenvolvimento Alemão (KfW Entwicklungsbank). Em
particular,essasorganizaçõespodemtrabalharemconjuntoparafacilitaroinvestimentoalemão
na infraestrutura do Brasil— uma área onde vemos a demanda urgente do lado brasileiro e a
capacitaçãoespecíficadoladoalemão.
Finalmente,umaconferênciaanualcominvestidoresecomformuladoresdepolíticaseconômicas
poderia facilitarasconexõese tambémoferecerumpalcoparaharmonizarasnormas legaise
regulamentares. Inicialmente, tal conferência poderia tratar de questões fundamentais, como
o motivo pelo qual o investimento alemão no Brasil (medido em percentagem do PIB) está
significativamentedefasadoemrelaçãoaodeoutrospaíses,incluindoosEUAeEspanha.OBrasil-
AlemanhaBusinessDay,organizadoanualmentepelaFederaçãodas IndústriasAlemãs(BDI)e
seuhomólogobrasileiro,aConfederaçãoNacionaldaIndústria(CNI),podeserexpandidoemuma
conferênciamaisamplaquereúnaacomunidadedenegócioscomospolíticoseosacadêmicos.
2. Harmonização da política monetária
AfimdealavancartotalmenteopotencialdeinvestimentobilateralBrasil-Alemanha,osdoispaíses
deveriamconciliarsuasperspectivasdiferentessobrecontrolesdecapital.
Em geral, a Alemanha apoia os mercados de capitais livres e rejeita o controle de capitais. A
Alemanha recebe o IDE porque tais investimentos proporcionam novos empregos. O interesse
no IDE alemão no exterior resulta também de um desejo de melhorar o acesso aos mercados
48
Capítulo III: Recomendações
estrangeiros. Devido aos seus excedentes de exportação, a Alemanha busca oportunidades de
investimentonoexterior,tantoemtermosdoIDEquantoinvestimentosemcarteira.Emcontraste
comosmercadosemergentes,aAlemanhanãoprecisadeelevadasreservasdemoedaestrangeira
para evitar depreciações de sua própria moeda. Também, diferentemente das economias em
desenvolvimento,aintensidadedecapitalnaeconomiaalemãérelativamentegrande.Éporisso
queademandapor investimentodomésticoécomparativamentepequena.A receitaexcedente
docomércioexteriorégastaeminvestimentosnoexterior,no lugardereservasdemoedasou
investimentosinternos.Portanto,aAlemanhaapoiaumIDEmuitoabertoetambémapolíticade
investimentosemcarteira.
OBrasil,poroutrolado,foiprejudicadocomavolatilidadedataxadecâmbionosúltimosanos,a
qualtemultrapassadooqueseriaesperadocombasenaincertezasubjacentesobreaeconomia
real.Algunspolíticosbrasileirosargumentamquevariaçõesbruscasdemovimentosdecapitais
decurtoprazopodemsercausadaspela faltadeharmonizaçãodaspolíticasmacroeconômicas
internacionais,comoevidenciadorecentementepelaturbulênciadomercadoemergentecausada
peloapertodapolíticamonetárianosEUA.EmboraapolíticamonetáriadosEUAsejaconduzida
exclusivamentetendoemmenteosinteresseseconômicosdosEUA,elatemimplicaçõesglobais
porqueodólaré,efetivamente,umamoedaglobal.Porrazõessemelhantes,oBrasileaAlemanha
devemseesforçarparamanteraestabilidademacroeconômicaglobal,oquepodenecessitarum
graumaiordeharmonizaçãoedecoordenaçãodepolíticasmacroeconômicas.
Omodelochilenodecontroledecapitaléummodelopossívelcomobaseparacompatibilizaros
interessesdeambosospaíses.Entre1991e1998,oBancoCentraldoChiledecretouoencaje,
que exigia que uma fração da entrada de capital fosse depositada no banco central por um
determinadoperíododetempo(geralmenteumano)esemremuneração(exigênciadereservanão
remunerada–unremuneratedreserverequirementouURR).Oencajefoimodificadováriasvezes,
umavezqueosresponsáveisprocuraramestabeleceroequilíbriocorreto.Alternativamente,os
investidoresestrangeirospoderiampagarumataxainicialparaobancocentraleevitaraURR.
Estudossugeriramqueoencajeconseguiualongaramaturidadedosfluxosdecapital,fornecendo
ao governo mais espaço para a política monetária independente. Esse meio termo pode ser
suficientementeprevisívelparaosinvestidoresestrangeiros.Aomesmotempo,fenômenoscomo
seleçãoadversaemfavordocapitalespeculativopodemserevitadospormeiodanãoutilização
da taxasde juroscomoprincipalmeiodeestabilizaros fluxosdecapital.Emúltimaanálise,a
estabilidadebeneficiariaatodos.
Enquantoalgumasrestriçõessobreofluxode“dinheiroquente”(investimentoemcarteiradecurto
prazo)possamserconcedidasaoBrasil,oinvestimentodiretodeveserbem-vindo.OBrasiltemsido
bastantebemsucedidoematrairoIDE,principalmenteporcausadaatratividadedeseumercado
internoeabundânciaderecursosnaturais.Noentanto,essesinvestimentosembuscademercados
erecursos,emborabem-vindos,nãocriammuitasoportunidadesemtermosdetransferênciade
tecnologiaeaumentodaprodutividade.Porissodeveserincentivadooinvestimentoemoutras
49
Capítulo III: Recomendações
áreas,comoosserviçoseasmanufaturas.Paraatrairessetipodeinvestimento,noentanto,oBrasil
podeprecisarsetornarmaisabertoemáreascomocomércioeimigração,quesãonecessáriaspara
aproduçãonessessetores.
3. Rumo a um entendimento sobre migração
Demografia,migraçãoetrabalhopodemdesempenharumpapelfundamentalnoaprofundamento
do investimentobilateraldiretoentreBrasileAlemanha.Porexemplo,oBrasilenfrentadéficit
naqualificaçãodos trabalhadoresda indústria. Emcontraste, aAlemanhaépropensa a sofrer
deescassezdetrabalhodevidoamudançasdemográficas,apesardeserolardoterceiromaior
númerodemigrantesinternacionais,deacordocomaONU,dosquaisapenascercadeumterço
vemdaUniãoEuropeia.
Nessecontexto,oBrasileaAlemanhadevemprocurarumacompreensãomutuamentebenéfica
sobre a migração. O destino do IDE está muitas vezes ligado ao movimento de pessoas. Uma
condição fundamental para a viabilidade de um projeto de investimento é a informação e o
conhecimento,muitasvezestácitodosprincipaisinvestidoreseespecialistas-chave,equenãopode
serusadonaconstruçãodeumnegócioemoutrolugar.Aviabilidadedosprocessosindustriais
tambémpodedependerdequalificaçõesespecíficasquenãopodemsertransferidasfacilmente,
necessitando de uma força de trabalho com habilidades específicas. Além disso, as regras de
migraçãodesempenhamumpapel importanteparaserviçostransacionáveis,especialmenteem
termosdecirculaçãotemporáriadepessoas.Aproveitandoaoportunidadedeampliarocomércio
bilateraldeserviços,portanto,ambosospaísessebeneficiariamcomumregimedemigraçãomais
aberto.
Taisrealidadesnemsempresãoóbviasparaosformuladoresdepolíticasquelidamcommigração.
ComoaEuropaestáatoladaemumacriseeconômica,algunsdeseuscidadãosestãocadavezmais
cautelososcomaexpansãodaimigraçãonãoeuropeiaparaaEuropacontinental.Dopontodevista
brasileiro,opaísestápreocupadoemperdermuitosdeseusespecialistasaltamentequalificados
(ochamadoefeitode“fugadecérebros”).Tambémossindicatoseassociaçõesdeprofissionaisno
Brasil (porexemplo,associaçõesmédicas)tendemaopor-seaaberturadesuasprofissõespara
imigrantes;esãoumgrupodeinteressesespeciaissignificativoeorganizado.
Assim,umacordosobreamigraçãoqueseadapteaoaprofundamentodoinvestimentobilateral
nãodeveserdeixadoparaoprocessopolíticoexistente,masentendidocomoalgoquesurgea
partirdosobjetivosdeinvestidoreseoutrosagenteseconômicosenvolvidosemprojetosdoIDE
emqualquerpaís.
Emumanotarelacionada(etalvezmenoscontroversa),recomenda-seapromoçãodeprogramas
deintercâmbiointercultural.OBrasilcontinuaaserumdestinoexóticoemalcompreendido,aos
50
Capítulo III: Recomendações
olhosdemuitosalemães,eomesmoéverdadecomrelaçãoàAlemanha,dopontodevistados
brasileiros.Comoresultado,osprojetosdeinvestimentoestrangeiroentreosdoispodemparecer
muito arriscados. No entanto, devido às origens étnicas alemãs de uma parcela considerável
dapopulaçãodoBrasil,osestadosdosuldopaís(ondeaspessoasdeascendênciaalemãestão
concentradas)têmrelaçõesinteressantescomdiversossegmentosdasociedadealemã,incluindo
acordosdecidadesindividuaiseirmãs,colaboraçõescruzadasentrepequenasemédiasempresas,
ointercâmbiodetecnologiaentreoscentrosdepesquisacientíficaeindustrial,earteefestivais
culturais.Acreditamosqueaexpansãodetaisprogramasinterculturais,comooportunidadesde
estudonoexterioremníveldoensinomédioeuniversitário,poderiarenderdividendosexpressivos.
Damesmaforma,oturismomútuoéumaáreaquepodeserexpandidaemambosospaíses.
4. Um denominador comum sobre a política comercial
Nossasprimeirasrecomendaçõesconcentram-senoIDE,porquenósacreditamosqueessesserão
maisfáceisdeseobter.Noentanto,dadasascarteirasdeexportaçãocomplementareseapotencial
deintegraçãomutuamentebenéficaentreosdoispaíses,nenhumdosdoisdevefugirdosdiálogos
difíceisnecessáriosparaaprofundarocomérciodebenseserviços.
Ressaltamosqueocomércioexteriortemumimpactopositivosobreodesenvolvimentoeconômico
doBrasiledaAlemanha.Deummodogeral,apolítica-chaveaquiéqueosdoispaísesdevem
ampliaraliberalizaçãoereduzirasrestriçõescomerciaistarifáriasenãotarifáriasexistentese,
especialmente,aquelasmaisrelevantesparaarelaçãocomercialBrasil-Alemanha.Comodisse,
foradoâmbitodeumAcordodeLivreComércioUE-Mercosul,aindahámuitoquepodeserfeito.
A União Europeia consistentemente mantém altos impostos e barreiras não tarifárias sobre os
produtosagrícolas,osquaisdesempenhamumpapelimportanteparaasexportaçõesbrasileiras.
AAlemanhadevesolicitarumareduçãodetaisbarreirasaníveleuropeu.Alémdisso,aAlemanha
poderiapressionarpormudançasnaPolíticaAgrícolaComumdaUEparareduzir–oumesmo
abolir–subsídiosparaaagricultura;umadistorçãodaconcorrênciaemdetrimentodepaísesem
desenvolvimentoeemergentes,comooBrasil.Emtroca,oBrasilpoderiareduzirosimpostossobre
osprodutosindustriaisfinais.Taismedidasseriambenéficasparaambososlados.
A liberalização dos fluxos de comércio também deve facilitar o estabelecimento de cadeias de
fornecimento internacionaisentreas indústriasnaAlemanhaenoBrasil.Tendoemcontaque
ambosospaísessãooscentrosmanufatureirosmais importantesemsuasrespectivasregiões,
deveráhaverganhossignificativosapartirdaintegraçãodessascadeiasdesuprimentos.
Outro aspecto é que as formas contemporâneas de produção e consumo não são sustentáveis,
especialmentedevidoàenormedemandaimplícitaporrecursosnaturaiseovolumedeemissões
nocivas. A fim de mudar para modelos mais sustentáveis, o aumento do preço dos recursos
51
Capítulo III: Recomendações
naturaisedecarbonopareceinevitável.Noentanto,seumaúnicaeconomiadáumpassopara
reduzirademandainternaporrecursosnaturais,pelomenosemcurtoprazo,essadecisãoteráum
impactonegativosobreasuacompetitividadeinternacional,umavezqueoscustosdeprodução
provavelmenteaumentariam.
Como o Brasil e a Alemanha poderiam reduzir sua demanda e seu consumo de recursos
naturais,semperderacompetitividadeinternacionaleaumentarodesemprego?ComooBrasil
e a Alemanha poderiam manter sua capacidade de exportação e, simultaneamente, promover
a sustentabilidade ambiental? Pode um aumento na produção de serviços e as exportações
combinaremsustentabilidadeecológicacomcompetitividadeinternacional?
Uma resposta possível seria a cooperação entre o Brasil e a Alemanha no desenvolvimento e
disseminação de tecnologias verdes. Ambos os países têm experiência em diferentes formas
deenergiarenovável.Emvezdeprotegersuasindústriasnacionais,ospaísesdeveriambuscar
aprenderumcomooutroedarboas-vindasaimportaçãodeprodutosrelacionadoscomaenergia
renovável.IssoincluiapermissãodaexportaçãodeetanolàbasedecanadeaçúcardoBrasilpara
aEuropa.
Essassãoquestõescruciaisparaosdoispaíses.Acapacidadedeencontrarummeiotermopode
ajudararesolvê-las,auxiliandonareduçãodosdesequilíbriosnosfluxosdecomércioexistentes.
Maispesquisassobreoassuntosão,semdúvida,necessárias.
Porúltimo,masnãomenos importante,ossímbolosesinaispolíticospositivosnãodevemser
subestimados.Aimportânciamútuadosdoispaísesdeveriaserenfatizada,entreoutrascoisas,
pormeiodevisitasdepolíticosdealtoescalão.Desdequeassumiuocargoemnovembrode2005,
achanceleralemã,AngelaMerkel,visitouaChinaseisvezes.Duranteessemesmoperíodo,ela
visitouoBrasilapenasumavez,emmaiode2008.
5. Brasil e Alemanha como líderes na relação de livre comércio entre UE-Mercosul
ComoevidenciadopelasreuniõesdealtonívelemambososladosdoAtlântico,aUEeoBrasilestão
interessadosemevoluirrapidamenteparaodiálogodecomércio livre.Noentanto,oprogresso
permanece uma incógnita. Alguns membros do Mercosul continuam relutantes em liberalizar
ocomércioemummomentoemqueseuspaísesenfrentamuma turbulênciamacroeconômica
significativa. E a UE mantém os subsídios agrícolas que impedem os países do Mercosul de
alavancarsuasvantagenscomparativas,desmotivando,assim,acooperação.
52
Capítulo III: Recomendações
Noentanto,existeumajaneladeoportunidade.UruguaieParaguaiseuniramaoBrasilexpressando
interesseemrápidoavançododiálogo.Enquantoisso,funcionáriosdoParlamentoEuropeutêm
insinuadoquepodehaver“maisespaçoparamanobra”sobreossubsídiosagrícolasdaUE,desta
vez(Leahy,2013).Todooprocessopodesebeneficiardeumaliderançaforte,tantoemnegociações
privadasquantonaesferadodebatepúblico.Comoosmaiorespaísesdeambososlados(tanto
emtermosdepopulaçãoePIB),BrasileAlemanhaestãoparticularmentebemposicionadospara
assumiressepapeldeliderança.
Embora o comércio com o Brasil seja atualmente menos importante para os alemães, ele
representaumaoportunidadeimportante,umavezqueaAméricadoSuléumaregiãoaindapouco
integradacomaAlemanha.Ogovernoalemãopoderia,portanto,serumproponentedetalacordo,
neutralizandoosgovernosmaisprotecionistasdaUE.
Internamente, os negociadores brasileiros podem trabalhar em estreita colaboração com os
parceirosdoMercosulquesãomaispropensosaumacordoUE-Mercosul.SeoBrasil,Uruguai
eParaguaiconcordaremcomcondiçõesrazoáveisparaapresentaràUE, issovaicolocarmaior
pressãosobreosoutrosmembrosdoMercosulparaparticiparem.SeaVenezuelaeaArgentina
continuaremaresistir,corremoriscodeempurraroBrasilparaumprocessodenegociaçãode
duasviasquepoderiaredefiniroMercosul.
Externamente,líderesdossetorespúblicoeprivadobrasileirospoderiammontarumacampanha
chamandoaatençãoparaomotivopeloqualumALCUE-Mercosulpoderiabeneficiarrealmente
aeconomiabrasileira.Enquantoapenaslíderestêmfaladosobreoassunto,umacampanhacom
umaestratégiaconsistenteedelongoprazoseriamaiseficazparaimpulsionaroprojeto.
AAlemanha,porsuavez,deveatuarnaUEparaqueadoteumaposiçãomenosdefensivaquanto
as importações de produtos agrícolas, a fim de seduzir o bloco sul-americano a participar do
acordo.AAlemanhadeveusarseupoderdebarganhadentrodaUE,afimdelevaràreduçãodas
barreirascomerciaispendentes.
Aomesmotempo,essasiniciativasmultilateraisimportantesnãodevemrestringiraexpansãodas
relaçõesbilaterais.Nosetordeserviços,bemcomonodeprodução,háumvastolequedeparcerias
emedidasdefacilitaçãodecomérciopreferenciais,dentrodasregrasOMC,quepodemaumentar
significativamenteosfluxosbilaterais. Juntamentecomumatransferênciasábiaemutuamente
benéficadetecnologia,elesrepresentamumaabordagempragmáticaorientadapararesultados,
quepodeseriniciadaimediatamente.
53
Seguindo em frente: Encontrando o denominador comum
Seguindo em frente: Encontrando o denominador comum
TodasessasrecomendaçõesmostramqueháumcampocomumentreoBrasileaAlemanhaem
termosdeestratégiaseconômicasepolíticas.Aofocalizaressedenominadorcomum,acrescente
relaçãoentreosdoispodesedesenvolveraceleradamente.
Comoesteprocesso,de“denominadorescomuns”,coordenadoemváriosníveis(entregovernos,
instituições e investidores), a conversa sobre o comércio, tecnologia e outros temas políticos
importantespodesetornarcadavezmaisviável,enovosacordosmutuamentebenéficospodem
serrealizados.
Comotal,arelaçãoentreaeconomiaalemãdesenvolvidaeaeconomiabrasileiradinâmica,eem
rápidodesenvolvimento, pode realmente se transformar emumgrande relacionamentopara o
séculoXXI.
54
Obras citadas
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Global Economic Dynamics (GED)
Sobre os autores
Dr. Viviane Maria Bastos –ProfessoradeMétodosQuantitativosnaUniversidadeFederaldoRio
deJaneiro,PesquisadoraAssistentenaFundaçãoGetúlioVargas,RiodeJaneiro
Dr. Renato G. Flores – Professor, da Faculdade de Economia da Fundação Getúlio Vargas e
AssistenteEspecialdoPresidentedaFundaçãoGetúlioVargas,RiodeJaneiro.
Dr. Antonio Carlos Porto Gonçalves–ProfessordeEconomiadaFundaçãoGetúlioVargaseda
UniversidadeFederaldoRiode Janeiro.DiretordeDesenvolvimentodeNegóciosdaFundação
GetúlioVargas,RiodeJaneiro.
Andreas Esche–DiretordeModelagemdeEconomiasSustentáveis,BertelsmannStiftung,
Gütersloh.
Samuel George–GerentedeProjeto,GlobalEconomicDynamics(GED),Bertelsmann
Foundation,WashingtonDC.
Dr. Thieß Petersen–EspecialistaSênior,GlobalEconomicDynamics(GED),Bertelsmann
Stiftung,Gütersloh.
Thomas Rausch–GerentedeProjeto,FutureEconomicDialogue,BertelsmannStiftung,
Gütersloh.
Sobre o projeto „Global Economic Dynamics“ (GED)
O instituto Bertelsmann Stiftung desenvolveu o projeto “Global Economic Dynamics” (GED)
para esclarecer a crescente complexidade das relações econômicas internacionais. Utilizando
ferramentasemétodosmodernosparaamedição,projeçãoeexibiçãodadinâmicanaeconomia
mundial,oprojetotemcomoobjetivofazercomqueaglobalização,seusefeitoseconômicos,assim
comosuasconsequênciaspolíticastornem-semaistransparentesetangíveis.
Contato
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EquipeGED
ModelagemdeEconomiasSustentáveis
Carl-Bertelsmann-Straße256
33311Gütersloh|Alemanha
Telefone +49524181-81353
Fax +49524181-681353
ged@bertelsmann-stiftung.de
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Global Economic Dynamics (GED)
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