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Breve panorama dos estudos em argumentação textual (2010-2016)
Ariane Bones Budke – UNIOESTE
arianebudke@hotmail.com
Carmen Teresinha Baumgärtner – UNIOESTE
carmen.baumgartner@yahoo.com.br
Resumo: A argumentação textual é de extrema importância na construção das redações
realizadas pela maioria dos vestibulandos, já que grande parte dos gêneros solicitados nos mais
diversos vestibulares encontram-se classificados na ordem do argumentar, como: dissertações
descritivas, dissertações argumentativas, cartas do leitor, de solicitação e de reclamação, artigos
de opinião, comentários críticos-interpretativos, cartas argumentativas, etc. A
argumentatividade aparece em menor ou maior grau até mesmo em textos narrativos ou
descritivos que também são cobrados nos concursos. Os gêneros tipicamente argumentativos
exigem dos candidatos a construção de uma opinião de forma progressiva, utilizando-se de
argumentos coerentes e consistentes para o sucesso na exposição e uma consequente boa
classificação. Dada a relevância da temática para o sucesso da construção textual e da
necessidade de estudos que contribuam para a melhoria do ensino e aprendizagem de gêneros
na escola, este artigo busca expor os dados iniciais da construção de um estado da arte das
pesquisas já realizadas no campo da argumentação textual entre os anos de 2010 e 2016,
procurando contribuir para a identificação das subáreas já abordadas nesse âmbito e daquelas
que ainda merecem atenção dos pesquisadores da área.
Palavras-chave: Argumentação textual; Estado da arte; Gêneros argumentativos;
Mapeamento.
Resumen: La argumentación textual es de gran importancia en la construcción de las
redacciones hechas por la mayoría de los vestibulandos, pues grande parte de los géneros
textuales pedidos en las más diversas pruebas de acceso a la universidad se encuentran
clasificados en el orden del argumentar, como: disertaciones descriptivas, disertaciones
argumentativas, cartas del lector, de solicitud y de reclamación, artículos de opinión,
comentarios críticos interpretativos, cartas argumentativas, etc. La argumentatividade aparece
en menor o mayor grado hasta mismo en textos narrativos o descriptivos que también son
cobrados en los concursos. Los géneros típicamente argumentativos exigen de los candidatos
la construcción de una opinión de forma progresiva, utilizándose de argumentos coherentes y
consistentes para el éxito en la exposición y una consecuente buena calificación. Dada la
relevancia de la temática para el éxito de la construcción textual y de la necesidad de estudios
que contribuyan para la mejora de la enseñanza y aprendizaje de géneros en la escuela, este
artículo busca exponer los datos iníciales de la construcción de un estado del arte de las
búsquedas ya hechas en el campo de la argumentación textual entre los años de 2010 y 2016,
buscando contribuir para la identificación de las sub-áreas ya abordadas en ese ámbito y de
aquellas que aún necesitan atención de los investigadores del área.
Palabras-clave: Argumentación textual; Estado del arte; Géneros argumentativos;
Levantamiento.
Considerações iniciais
Este trabalho versa sobre o estado da arte acerca da pesquisa sobre a argumentação
textual voltada para a sala de aula, com o objetivo de apresentar a produção científica
acumulada sobre a temática, tendo como marco temporal para a construção da investigação o
período de 2010 a 2016. Como referência para a análise dos dados, utilizamos as teses,
dissertações e artigos publicados em bancos de teses e dissertações da Capes, de universidades,
como: UNIOESTE, USP, UNICAMP, plataforma de dados da Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações (BDTD) e os dados da grande rede.
Medeiros e Dias (2015)
destacam que estudos acerca do estado da arte são construídos e publicados
em diversas áreas do saber, evidenciando um inventário significativo de
conhecimentos que foram produzidos e socializados em pesquisas, em tempos
e espaços em que se desenvolvem as discussões. (MEDEIROS; DIAS, 2015,
p.117).
Quanto a esse artigo, a intenção é contribuir para a identificação das subáreas já
abordadas nesse âmbito e daquelas que ainda merecem atenção dos pesquisadores da área.
Optamos pelo recorte temporal 2010 a 2016 dada à amplitude da investigação, o que dificulta
uma análise mais cuidadosa e significativa sobre o tema.
Compreendemos como estado da arte o estudo de caráter bibliográfico que busca
mapear a produção acadêmica em diferentes áreas do conhecimento, verificando quais os
aspectos estudados em determinadas épocas e regiões e utilizando “como fontes básicas de
referência para realizar o levantamento dos dados e suas análises, principalmente, os catálogos
de faculdades, institutos, universidades, associações nacionais e órgãos de fomento da
pesquisa.” (FERREIRA, 2012, p.259).
Destacamos que o interesse primário por realizar o levantamento dos estudos já
produzidos e publicados envolvendo a argumentação textual em sala de aula surge em virtude
de a argumentação textual ser o tema central na dissertação intitulada “Desvios de
argumentação em redações do vestibular da Unioeste 2016” que se encontra em andamento no
Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE (campus Cascavel).
Esclarecemos que ao realizar as buscas nos bancos de dados milhares de resultados
apareceram ao inserirmos os termos: “argumentação textual, argumentação ou argumentação e
redações”, porém, ao refinarmos os resultados por áreas de conhecimento e ano e ao adentrar
na leitura dos documentos (títulos, resumos, introduções) identificamos 80 trabalhos que
contemplavam a temática de interesse. Grande parte dos trabalhos relacionavam o termo
“argumentação” a outras vertentes de investigação, tais como: argumentação jurídica ou em
textos jurídicos, na argumentação presente em discursos políticos, em questões de vestibulares,
no aprendizado do português como língua estrangeira, no ensino de línguas, dentre outros.
É preciso frisar que a construção de um texto bem argumentado e articulado é essencial
para o sucesso na aprovação às mais variadas universidades brasileiras, tanto públicas como
privadas, já que grande parte dos gêneros solicitados nas provas de redação dos mais diversos
vestibulares encontra-se classificados na ordem do argumentar, como: dissertações descritivas,
dissertações argumentativas, cartas do leitor, de solicitação e de reclamação, artigos de opinião,
comentários críticos-interpretativos, cartas argumentativas, etc.
Argumentamos o tempo todo, pois em todas as interações: familiares, de trabalho ou
entre os amigos somos instigados a apresentar nossas opiniões, a sustentá-las ou discuti-las
para tentar convencer o outro. Dessa forma, argumentamos antes mesmo de dominar o código
escrito ou dos professores nos ensinarem tecnicamente a argumentar nas produções escritas em
sala, como parte de avaliações bimestrais ou em provas de acesso a universidades.
Depreende-se que o argumentar deve ganhar destaque tanto no momento da construção
do texto pelos vestibulandos, quanto ganhará no momento da avaliação. Sousa (2012) frisa que
argumentar implica articular pontos de vista, posicionar-se de forma pessoal em relação a um
tema polêmico, defender uma tese com argumentos válidos do ponto de vista racional e ético.
Isto é, tal competência envolve habilidades complexas necessárias não só para a entrada na
universidade ou conclusão do ensino médio, mas também para a vida profissional, vida
acadêmica futura, para a participação social e o exercício de cidadania.
Diante das inúmeras queixas de alunos, professores e corretores em relação aos
problemas apresentados no momento da escrita das redações e dificuldades de criar textos
claros, coesos e coerentes, acredita-se que os alunos, infelizmente, não desenvolveram durante
os anos de escolaridade as competências avaliadas nos processos de seleção para o acesso ao
ensino superior.
O exame do material encontrado no mapeamento e dialogado no texto visa explicitar as
temáticas recorrentes nas pesquisas. Dessa forma, dividimos o texto em duas seções: na
primeira, discorremos algumas considerações sobre a argumentação textual no ensino, com o
objetivo de esclarecer ao leitor a vertente argumentativa e a metodologia na pesquisa para a
concretização da investigação; no segundo momento, apresenta-se a análise dos dados
identificados, os quais demonstram a pesquisa em argumentação textual no período de 2010-
2016.
Discussão teórica
A argumentação está intrinsecamente ligada à linguagem, visto que quando interagimos
utilizando-se da língua, temos sempre objetivos, efeitos que pretendemos causar, relações que
buscamos estabelecer, tudo isso a fim de atuar sobre o interlocutor para obter respostas e
reações. Assim Koch (2010) afirma que “[...] o uso da linguagem é essencialmente
argumentativo: pretendemos orientar os enunciados que produzimos no sentido de
determinadas conclusões [...].”
Para Ducrot (apud Koch, 2010, p.29) a argumentatividade está inscrita na própria
língua. A autora afirma ainda que qualquer língua apresenta em sua estrutura elementos que
possibilitam indicar a orientação da argumentativa das declarações faladas ou escritas. Esses
mecanismos são nomeados de marcas lingüísticas da enunciação ou da argumentação ou de
modalizadores. “Dessa forma, a linguagem passa a ser encarada como forma de ação, ação
sobre o mundo dotada de intencionalidade, veiculadora de ideologia, caracterizando-se,
portanto, pela argumentatividade.” (KOCH, 2009, p. 15)
Ao adotar essa visão de língua fica mais evidente a necessidade de promover, no ensino
de língua portuguesa nas escolas, o desenvolvimento da capacidade de refletir e analisar de
maneira crítica sobre a utilização da língua como forma de interação e comunicação, para que
os alunos/falantes/agentes/escritores se tornem capazes de compreender, analisar, interpretar,
agir e produzir textos verbais e escritos eficazes.
Koch (2009) salienta que o ato de argumentar subjaz uma ideologia, pois ao nos
expressarmos orientamos o discurso para determinadas conclusões. A estudiosa adota a posição
de que
[...] a argumentação constitui atividade estruturante de todo e qualquer
discurso, já que a progressão deste se dá, justamente por meio das articulações
argumentativas, de modo que se deve considerar a orientação argumentativa
dos enunciados que compõem o texto como fator básico não só de coesão,
mas principalmente de coerência textual. (KOCH, 2009, p. 21).
Nesse sentido a coerência e a coesão textual dependem das relações argumentativas
para se estabelecerem, dado que aquela é definida como a relação de sentido que se estabelece
entre conceitos, situações, fatos, afirmações e ideias no texto; e esta caracteriza-se como a
manifestação linguística da coerência, ao se efetivar nas relações entre os elementos dos
enunciados como: artigos, pronomes, adjetivos, conjunções, advérbios, entre outros. Segundo
Koch, o texto é coerente para os sujeitos em determinadas situações de comunicação. Por
consequência, para construir a coerência deve-se levar em conta os elementos lingüísticos que
formam o texto e o conhecimento enciclopédico, crenças, convicções, pressuposições e
contexto sócio-cultural.
Segundo Marcuschi (2008), a comunicação se dá através de textos que vão além das
frases e se constituem como unidades de sentido que “refratam o mundo na medida em que o
reordena e reconstrói” (MARCUSCHI, 2008, p. 72), assim os textos como unidades de sentido
que comunicam, nas quais convergem ações lingüísticas, sociais e cognitivas podem ser orais
ou escritos. É importante ressaltar que em nosso estudo quando mencionada a palavra texto a
entendemos, nesse momento, como a expressão escrita realizada pelos aprendizes.
Para o pesquisador o ensino ou trabalho com a língua portuguesa deveria privilegiar a
diversa produção textual e suas contextualizações na vida cotidiana, uma vez que a sequência
de enunciados em um texto não é aleatória e, do ponto de vista sociointerativo, produzir um
texto assemelha-se a jogar um jogo. Conforme Marcuschi (2008),
[...] produtores e receptores de texto (ouvinte/leitor – falante/escritor todos
devem colaborar para um mesmo fim e dentro de um conjunto de normas
iguais. Os falantes/escritores da língua, ao produzirem textos, estão
enunciando conteúdos e sugerindo sentidos que devem ser construídos,
inferidos, determinados mutuamente. A produção textual, assim como um
jogo coletivo, não é uma atividade unilateral. Envolve decisões conjuntas.
(MARCUSCHI, 2008, p. 77).
De acordo com Marcuschi (2008), o texto surge na complexa relação entre: linguagem,
cultura e sujeitos históricos que operam em contextos diferentes e só se completa com a
participação do leitor/ouvinte. Para o estudioso o texto com um ato comunicativo deve
obedecer a um conjunto de critérios de textualização, visto que ele não é a escolha aleatória de
um conjunto de frases nem aparece em qualquer ordem. Os critérios elencados pelo autor são
sete: coesão e coerência (conhecimentos lingüísticos), aceitabilidade, informatividade,
situacionalidade, intertextualidade e intencionalidade ( conhecimentos de mundo), sendo estes
critérios de acesso à produção de sentido e não de formação de textos.
Desse modo
Considerando o texto como uma atividade sistemática de atualização
discursiva da língua na forma de um gênero, os sete critérios de textualização
mostram o quão rico é um texto em seu potencial para conectar atividades
sociais, conhecimentos lingüísticos e conhecimentos de mundo.
(MARCUSCHI, 2008, p. 97).
É nos critérios de textualidade coesão e coerência que as operações argumentativas
tomam maior relevância e se efetivam, contribuindo para a progressão textual. Para Viana
(2010) escrever bem é argumentar bem e a manutenção do texto (coesão) e a produção de
sentidos (coerência) só se dá se soubermos argumentar. Deste modo para escrever deve-se
planejar, pois o modo que adotamos para argumentar determina a estruturação do texto. Logo,
argumentar exige organização, visto que um argumento deve articular o outro de maneira
natural, buscando sentido. Ao criarmos textos argumentativos demonstramos ao nosso leitor
nossa capacidade de criação, avaliação e crítica, passando a ele certas indagações, análises e
conclusões sobre o tema discutido. (VIANA, 2010)
Na articulação e organização textual, que estabelecem a enunciação do evento
comunicativo e dos argumentos, os operadores argumentativos, as marcas das intenções e os
modalizadores elencados por Koch (2009) assumem papel de importância, uma vez que
encadeam os enunciados, determinando a orientação discursiva e revelam a atitude perante o
enunciado que se produz.
Para Koch (1996 apud HOFFMANN et al, 2009) a qualidade da produção e da recepção
textual inicia-se com o conhecimento da língua e do valor argumentativo das marcas, pois a
argumentatividade está inscrita na língua.
O estudo aprofundado das questões argumentativas textuais passa a ser interessante
nesse direcionamento, visto que predomina nas solicitações dos vestibulares a produção de
textos dissertativos, dissertativos argumentativos, cartas do leitor, artigos de opinião,
comentários críticos interpretativos a respeito de determinados temas, indicando, na maior
parte dos casos o meio de publicação e a exigência de manifestação da opinião. O texto de teor
argumentativo é visto por muitos autores e pelos próprios vestibulandos ou aprendizes da
língua em ambiente escolar como complexo, pois exige de seu autor a defesa de uma ideia, de
uma opinião, uma tese, procurando que o leitor aceite-a ou creia nela. Destarte, o argumento
seria “[...] todo e qualquer procedimento discursivo que contribua para a sustentação de um
ponto de vista e favoreça sua aceitação pelo interlocutor [...]”. (DITTRICH; FAVARETTO;
MORAES, 2009, p. 41)
Dittrich, Favaretto e Moraes (2009) salientam que no momento em que o
aluno/candidato produz seus textos argumentativos este é avaliado na medida em que suas
asserções estão apoiadas em dados, evidências ou de que modo ele articula sua produção em
torno de informações carentes de sustentação. É preciso ainda que o texto esteja articulado em
torno de uma tese central, a fim de que os argumentos sirvam de estrutura de apoio que
permitam revelar em que linha argumentativa apontam.
Depreende-se da caracterização de avaliação proposta por Dittrich, Favaretto e Moraes
(2009) que o bom argumentar deve ganhar destaque tanto no momento da construção do texto
pelo aluno/candidato, quanto ganhará no momento da avaliação.
Diante dos resultados indesejados nas provas de redação dos variados vestibulares e das
inúmeras queixas de alunos, professores e corretores em relação aos problemas apresentados
no momento da escrita das produções e dificuldades de criar textos claros, coesos e coerentes,
acredita-se que os alunos, infelizmente, não desenvolveram durante os anos de escolaridade as
competências avaliadas nos concursos de vestibular.
É necessário frisar que a aprendizagem e domínio da língua escrita impõem ao aluno
graus de reflexão sobre o funcionamento da língua, por isso os “erros” ou “falhas” podem ser
tomados como indícios dos processos pelos quais os alunos constroem o conhecimento sobre
a língua escrita e o professor precisa auxiliar o aluno a superar suas dúvidas e seus conflitos
sobre a organização da escrita e sistematizar esse conhecimento para a plena apropriação e uso
do código. Nesse contexto, faz-se necessária a existência de estudos que versem sobre a
argumentação textual em idade escolar.
Dolz e Schneuwly (2004 apud Leal e Morais, 2006) salientam que os objetivos
principais do processo pedagógico no ensino de língua portuguesa são preparar os alunos para
dominar a língua em situações variadas, fornecendo-lhes instrumentos
eficazes; desenvolver nos alunos uma relação com o comportamento
discursivo consciente e voluntária, favorecendo estratégias de auto-regularão;
ajudá-los a construir uma representação das atividades de escrita e de fala em
situações complexas, como produto de uma lenta elaboração (DOLZ;
SCHNEUWLY, 2004, p.49).
Nesse sentido, para Leal e Morais (2006) é importante que os aprendizes tenham
contato com a maior diversidade possível de textos e em diferentes contextos de interação em
suas trajetórias escolares para que possam desenvolver suas capacidades de escrita,
comunicação e cognição. Para os autores é relevante trabalhar com texto de opinião na escola,
dado que argumentar é uma atividade social fundamental, que permeia a vida dos indivíduos
em todos os campos da sociedade, pois defender uma visão é essencial na conquista de espaço
social e autonomia.
Alguns autores têm se debruçado sobre o estudo do desenvolvimento da capacidade de
defender ideias. Muitos desses trabalhos apontam as dificuldades na produção de textos escritos
tanto por crianças, como por adolescentes e adultos quando tentam argumentar.
De acordo com Leal e Morais (2006), as dificuldades podem ser oriundas de: 1)
inabilidade nas operações cognitivas necessárias para a produção; 2) de maior nível de
complexidade das estruturais textuais; 3) da falta de familiaridade com esses modelos na
escola; 4) das condições de produção de textos em que se busca argumentar; 5) da conjugação
de alguns desses fatores; 6) de outros fatores; 7) ou de processos didáticos inadequados, que
não conduzem a práticas diversificadas de escrita.
Ao partilhar da mesma visão teórica de Leal e Morais (2006), de que é preciso ensinar
os alunos a criarem produções da ordem do argumentar desde o início da escolarização e que
precisamos refletir sobre as melhores estratégias para fazer isso, propomos esse estado da arte
sobre a temática com o intuito de avaliar como estão sendo realizados os estudos sobre a
argumentação em sala de aula ou no âmbito dos vestibulares no período de 2010 a 2016.
Análise dos dados
De 2010 a 2016, foram identificadas 28 dissertações, 23 teses, 29 artigos, totalizando
80 trabalhos relacionados com o trabalho com a argumentação textual voltado para práticas de
sala de aula ou em redações de vestibulares. É importante destacar que esse número é
significativo, principalmente devido ao curto recorte temporal para a busca das pesquisas que
foi realizado.
Como primeiro dado para análise, apresentamos uma tabela que demonstra a quantidade
de investigações desenvolvidas sobre a temática encontradas na busca. Com base nos dados é
perceptível que há um equilíbrio entre as produções de teses, dissertações e artigos.
Quadro 1 – Quantidade de investigações encontradas
QUADRO GERAL PUBLICAÇÕES (2010-2016)
TESES 23
DISSERTAÇÕES 28
ARTIGOS 29 Fonte: Dados dos pesquisadores.
A fim de melhor ilustrar a distribuição da produção cientifica quantificada, organizamos
os dados no quadro seguinte, de acordo com as instituições em que as pesquisas foram
realizadas, bem como a quantidade específica de teses e dissertações publicadas na área em
levantamento.
Quadro 2 - Quantitativo de teses e dissertações por universidade
UNIVERSIDADES TESES DISSERTAÇÕES TOTAL
UNIOESTE 0 4 4
UNITAU 0 1 1
UFU 2 1 3
UFRN 1 5 6
UCS 0 1 1
UEFS 0 2 2
USP 1 4 5
PUC-SP 4 2 6
UERJ 2 2 4
UNICAMP 1 1 2
UFAL 1 1 2
UNICAP 0 1 1
UFPB 1 1 2
UFES 0 1 1
UNISINOS 1 1 2
UEL 2 0 2
UFC 2 0 2
UFRJ 1 0 1
UFMG 1 0 1
UFPR 2 0 2
UFPE 1 0 1 Fonte: Dados dos pesquisadores.
Das 51 teses e dissertações encontradas, 25 do total se localizam nas seguintes
universidades: USP, PUC-SP, UFRN, UNIOESTE e UERJ, sendo essas consideradas as que
mais contemplam a produção em argumentação textual voltada para o ensino.
No que tange às universidades que apresentaram maior concentração de investigações
destacamos: a Universidade de São Paulo (USP), com 4 dissertações e 1 tese; a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com 4 teses e 2 dissertações e a Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com 5 dissertações e 1 tese.
É importante destacar aqui a concentração dos estudos na região sudeste do país, visto
que para além das 11 produções citadas acima, ainda temos 3 estudos na Universidade Federal
de Uberlândia, 2 estudos na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2 estudos na
Universidade Estadual de Campinas, 1 estudo na Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1
estudo na Universidade Federal de Minas Gerais, 1 estudo na Universidade Federal do Espírito
Santo e 1 estudo na Universidade de Taubaté, totalizando 22 trabalhos.
Dentro dessa conjuntura, chamam-nos a atenção as poucas investigações realizadas pela
região norte do país e concretizadas pelas universidades tanto estaduais quanto federais que
totalizam uma ou duas produções no período demarcado.
O quantitativo de estudos identificados (teses, dissertações e artigos) mostra a o
interesse dos pesquisadores por estudos voltados para o trabalho e análise da argumentação
textual em sala de aula, no entanto, segundo Damasceno e Beserra (2004 apud Medeiros e Dias,
2015), tal interesse não nasce da clareza ou sensibilidade dos estudiosos do tema, mas, sim, das
próprias circunstâncias da realidade em estudo, ou seja, o crescimento de ações e atividades
direcionadas à argumentação textual, devido à necessidade de aprofundar os estudos nessa área,
já que grande parte dos vestibulares, nas últimas décadas, exigem dos candidatos melhor
desempenho crítico e argumentativo, ao solicitar gêneros da ordem do argumentar em suas
propostas de redação.
As principais áreas da argumentação textual abordadas nos estudos identificados são
apontadas no gráfico abaixo detalhadamente.
Quadro 3 – Áreas investigadas sobre a argumentação textual voltada para o ensino
Fonte: Dados dos pesquisadores.
No topo das subáreas estudadas dentro da argumentação textual aparecem os estudos
relacionados à identificação/categorização de fatores e processos argumentativos nos gêneros
da ordem do argumentar, como: carta do leitor, artigo de opinião, ensaios, dissertações-
argumentativas e textos de opinião. Destaca-se que todos esses estudos foram realizados sob
produções ou trabalhos de/com séries finais do ensino fundamental, no ensino médio, em séries
de educação de jovens e adultos ou em redações de vestibulares. Tal categoria contempla 50%
dos trabalhos levantados.
Com fluxo também representativo surgem os estudos sobre termos, articuladores e
operadores argumentativos (17,5%), seguidos da categoria “Outras” (15%). Nesta categoria,
falamos de trabalhos que não se vinculam às temáticas apreciadas previamente, no entanto,
comungam diretamente com a abordagem da argumentação textual no ensino. Categorizamos
12 trabalhos nessa área, estes aparecem elencados abaixo.
Quadro 4 – Trabalhos categorizados em “Outras”
Argumentação e cidadania no artigo de opinião em sala de aula (tese) - USP 2015
Saberes e interlocuções em redações de vestibular (artigo) 2013
Avaliação e argumentação: uma análise da produção textual no ensino médio
(artigo)
2015
Por que os educadores devem preocupar-se com a argumentação (artigo) 2016
A importância da leitura para a realização de uma argumentação efetiva no
texto dissertativo (artigo)
2010
O ensino da argumentação na leitura, na produção textual e na análise
linguística: reflexões teórico-propositivas (artigo)
2015
Produção textual na escola: práticas de letramento em argumentação 2015
O ethos discursivo nas redações de vestibular (tese) - UERJ 2012
A objetivação da linguagem no contexto do vestibular: movimentos na
história e no político (tese) - UFU
2016
A redação do vestibular sob uma perspectiva multidimensional: uma
abordagem da linguística de corpus (tese) - PUC-SP
2016
A elaboração do discurso argumentativo por alunos do ensino fundamental
(tese) - UFMG
2012
Argumentação e redes sociais: o tweet como gênero e a emergência de novas
práticas comunicativas - USP
2014
Fonte: Dados dos pesquisadores.
Nas demais áreas, percebemos pouca representação no número de investigações e
destacamos a necessidade de mais estudos incidindo sobre elas. É preciso dedicar-se a esses
âmbitos, pois a redação do ENEM, caracterizada como uma proposta de produção dissertativo-
argumentativa, exige do candidato domínio das práticas textuais argumentativas e o processo
seletivo, atualmente, possibilita o acesso a inúmeras universidades e faculdades do Brasil.
Já na abordagem da argumentação nos matérias didáticos, percebe-se que há uma
insuficiência de produções efetivas que auxiliem realmente professores e alunos no processo.
Por último, é imprescindível a continuação do trabalho com a argumentação nos textos que os
estudantes produzem em avaliações no meio acadêmico, uma vez que os desvios
argumentativos identificados nas produções de redações de acesso às universidades
demonstram falhas na estrutura argumentativa textual dos acadêmicos que ainda podem ser
repetidas, sanadas e estudadas ao longo da vida acadêmica.
Considerações finais
Este trabalho buscou identificar a produção científica sobre a argumentação textual
voltada para o ambiente escolar publicada no período de 2010 a 2016. No decorrer da pesquisa,
foram detectados 23 teses, 28 dissertações e 29 artigos versando sobre o assunto em estudo.
Enfatizamos que a pesquisa sobre essa temática apresentou produção significativa em
determinadas áreas do processo argumentativo textual, como: identificação de fatores,
estratégias e processos presentes em textos da ordem do argumentar.
Verificamos que alguns campos da argumentação textual ainda são poucos explorados
e merecem maior atenção, como: a abordagem do argumentar nos materiais didáticos, a análise
da argumentação na produção de acadêmicos e estudos sobre a redação do ENEM. Destacamos
ainda a necessidade de estudos voltados para os desvios argumentativos nos textos, estudos
teóricos da argumentatividade que levem à análise, à leitura/produção de textos e a respeito da
relação do argumentar com as práticas de leitura.
Acreditamos que as publicações enriquecem o conhecimento na esfera da argumentação
e oferecem alguns subsídios para o aprimoramento do ensino de leitura/produção textos em
língua portuguesa, uma vez que os olhares dos investigadores trazem investigações
significativas.
Por fim, indicamos que o estado da arte a respeito da produção de conhecimentos acerca
da argumentação textual voltada para o ambiente escolar no período de 2010 a 2016, aponta
caminhos, mas não preenche todas as lacunas existentes na busca de um conhecimento mais
abrangente e mais profundo na área, sendo necessário buscar outros caminhos para a pesquisa
sobre o tema no país.
Referências
DITTRICH, I. J.; FAVARETTO, R. A. MORAES, M. A. B. de.; Dissertação e argumentação
na redação do vestibular. In: CATTELAN, J. C.; LOTTERMANN, C. (Coord.) A redação do
vestibular da Unioeste: alguns apontamentos á luz da linguística textual. Cascavel:
Edunioeste, 2009.
FERREIRA, N. S. de. A. As pesquisas denominadas “estado da arte”. ago. 2012. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v23n79/10857.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2017.
HOFFMANN, C. A. et al. A argumentação em texto de vestibular da Unioeste de 2007. In:
CATTELAN, J. C.; LOTTERMANN, C. (Coord.) A redação do vestibular da Unioeste:
alguns apontamentos á luz da linguística textual. Cascavel: Edunioeste, 2009.
KOCH, I. V. A inter-ação pela linguagem. 10.ed. São Paulo: Contexto, 2010.
. Argumentação e Linguagem. 12.ed. São Paulo: Cortez, 2009.
LEAL, T. F.; MORAES, A. G. de. A argumentação em textos escritos: a criança e a escola.
Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão.São Paulo:
Parábola, 2008.
MEDEIROS, A. E. de.; DIAS, A. M. I. O estado da arte sobre a pesquisa em educação do
campo na região nordeste (1998 – 2015). Revista Cadernos de Pesquisa. [on-line]. São Luís.
v. 22. n. 3, set./dez. 2015. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.18764/2178-
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SOUSA, V. de. Redação. Belo Horizonte: Editora Educacional, 2012. Coleção préEnemVest.
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