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8/6/2019 Cirurgias a cu aberto
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Nosculo17, asoperaeseramessencialmentemutiladoras. Parase terumaideia, o instrumentaldocirurgio eraumafacaque pareciaumafoicegrande,obisturideento,para fazerasamputaesdosferidosdeguerra (...).O arsenal deleera issoeferro embrasaparaapararo sangue
PauloTubino,professor emrito daUnBe membro doColgioAmericano de Cirurgia
Construtores dofuturo
Ed
ito
ra
: Ana PaulaMacedoanapaula.df@dabr.com.br
3214-1195 3214-1172 /fax: 3214-1155
1955Denis Melrose desenvolve um mtodode parar e retomar o funcionamento do craodurante uma cirurgia. Trs anos depois, elerealiza uma cirurgia de corao abertotransmitida, ao vivo, pela televiso americana
1967Christian Barnard faz o primeirotransplante de corao
1968Euryclides de JesusZerbinie suaequipe fazemo primeirotransplantecardaco(f
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t
o) daAmricaLatina
1938Realizao do primeiro CongressoBrasileiro de Cirurgia
1946Primeira operao de troca de sexo
1950No Brasil, criam-se as especialidadescirrgicas: torcica, cardaca, plstica epeditrica
1951Euryclides de Jesus Zerbini realiza, noHospital de Clnicas de So Paulo, a primeiracomissurotomia mitral (inciso de fibrasmusculares na vlvula cardaca) digital. EmParis, cirurgies fazem um transplante de rins
1970No Instituto de Cardiologiado Rio Grande do Sul, realizada a primeiraoperao de ponte de safenaaortocoronariana, pelo cirurgio Ivo Nesralla
1998Primeira motransplantada na histria (f
o
t
o)
2005 Primeiro transplante facial, em Paris
F
ont
e
s
: CirurgiesElaine Alves e PauloTubino; livro Sanguee entranhas a assustadora histria da cirurgia, deRichard Hollingham;artigo Pequenahistria da cirurgia cardaca: e tudoaconteceu diantede nossos olhos.,de Paulo R. Prates, publicadona RevistaBrasileirade Cirurgia Cardiovascular
2010Na Espanha, primeirotransplante facial total
PALOMA OLIVETO
Nasbarbearias da ento colnia por-
tuguesa, cortava-secabelo, aparavam-se bigodes e,de quebra, erapossvelar-rancar um dente inflamado,afinar osangue com sanguessugas ou extrairumaverruga incmoda.Comono restodo mundo,no Brasil, os primeiroscirur-giesno tinhamformao e a tarefadesujaras mosficavacom a escria dasociedade: escravos ou cristos novosquefugiramda inquisiode Portugal.
A gravura O cirurgio negro colocan-do ventosas,de Jean-BaptisteDebret, dumaideia de como as coisas funciona-vam. Deitadono chode uma rua noidentificada do Rio de Janeiro, um pa-cientese submete a cincoaplicaes deventosasnas costas (duasdelas,j entu-pidas de sangue, foram descartadas),enquanto o doutor aplica a mesmatcnicana cabea deoutro homem. Um
terceiroaguarda o efeito, comas vento-sas nastmporas. A cena, habitual nosidos de1800, observada comdesinte-resse porum provvelmendigo.
Os cirurgies eram consideradosinferiores. Eles no iam para universi-dades, no aprendiam latim, observaElaine Alves, professora da Universi-dade de Braslia (UnB) e membro daSociedade Brasileira de Histria daMedicina. At as roupas que usavameram diferentes das dos mdicos: ves-tes mais curtas, para deixar claro suaposio pouco privilegiada. A cirurgipeditrica conta que, at hoje, emboranaprticaos cirurgies e clnicoscom-partilhem o mesmo status, na Ingla-terra, o tratamento formal que rece-bem ainda diferente. Mdicos sochamados de doctors (doutores), en-quantoos cirurgies tmde seconten-tarcomum mister(senhor).
Ato sculo19,a medicinae a cirur-giabrasileira reproduziamo modelo eu-ropeu. Entre os cirurgies, havia umapequena diferena.Dentroda insignifi-cncia a queeram confinados,os maisimportantes amputavam membros. Osbarbeiros esses,sim, a escriada es-cria eramresponsveis porarrancarverrugas,fazer sangriase tirardentes.Aclientelados barbeiros erabem maior,
j que eles tambm faziam a barba ecortavamos cabelos, brinca Elaine.
No sculo17,as operaes eram es-sencialmente mutiladoras. Para se terumaideia, o instrumentaldo cirurgioera uma faca que parecia uma foicegrande, o bisturide ento,parafazer as
amputaes dosferidosde guerra,quej estavam com necroses e infeces,dizPauloTubino,professoremritodaUnB e membro do Colgio Americanode Cirurgia.O arsenal dele era isso eferroem brasa paraapararo sangue, re-lata.A cirurgiaaindaera o ltimo recur-so, lembra.
Religioe guerras
Onde havia colniasjesutas, os pa-dres faziam as vezes dedoutores. A his-toriadora JulianeSerres, diretorado Mu-seude Medicinado RioGrandedo Sul,conta que os membros da ordem deIncio de Loyola chegaram a escrevertratados de cirurgia. Provavelmente,eles mesmos operava m os pacientes,diz. Um desses compndios do sculo
17encontra-seno RioGrandedo Sul,nabiblioteca da Universidade doVale doRiodos Sinos (Unisinos).
O suldo pas, alis,era umverdadei-rocentrode prtica da cirurgia.Por cau-sadas guerrasque marcama histriadaregio,como a RevoluoFarroupilha eas batalhasde fronteira, eramrealizadasmuitas operaes em soldados. Nos-
Conheaalguns brasileirosque marcarama histriadacirurgia:
AugustoBrandoFilho(1881-1957)
Nascido em Cantagalo (RJ), foi cirurgio do
Hospital da Misericrdia e professor de clnicacirrgica da Faculdade Nacional de Medicinada Universidade do Brasil (hoje UniversidadeFederal do Rio de Janeiro). Pioneiro no Brasilna realizao de ventriculografia e angiografiacerebral, tem o ttulo de prncipe doscirurgies. Foi o primeiro presidente doColgio Brasileiro de Cirurgies.
AlfredoAlbertoPereiraMonteiro(1891-1961) Com apenas 23 anos, era professor de
anatomia da Faculdade Nacional de Medicinada Universidade do Brasil. Foi o primeiroprofessor de neurocirurgia no Brasil e deuimpulso especialidade, publicando vriostrabalhos sobre o assunto. consideradoprecursor da neurocirurgia brasileira.Escreveu vrios livros de tcnica cirrgica e,em 1946, publicou a Novela da cirurgia, na
qual enfatizou seus princpios de tcnicaoperatria, definindo com rigor a rotinatcnica de uma operao, a ttica cirrgica, o ritmooperatrio e a sistematizao das tcnicas operatrias.
FernandoPaulino(1906-1988) Criador e chefe de cirurgia da Casa de Sade So Miguel, onde exerceu a clnica particular e criou
um curso de ps-graduao em cirurgia e a residncia em cirurgia geral. Foi o nico brasileiroeleito para a Sociedade de Cirurgia da Unio Sovitica. Autor de mais de 300 trabalhos e captulosde livros, tornou-se membro emrito da Academia Nacional de Medicina.
BenedictoMontenegro(1888-1979) Em 1947, foi elevado ao cargo de membro
honorrio do Colgio Americano de Cirurgiese, aps mais de 5 mil gastrectomias, foiapontado como o melhor do mundo nacirurgia gastroduodenal. Seu maior orgulho,porm, eram seus discpulos, como AlpioCorra Neto, que se destacou pela formadiferente de tratar os alunos, com maiorproximidade.
EdmundoVasconcellos( 1905-1990) Considerado o gnio da cirurgia inovadora e
desbravadora. Ajudou a criar algumasespecialidades. Concentrou sua ateno naformao de seus assistentes e novosprofessores. Seus principais trabalhos foramsobre megaesfago e megacolo.
EliseuPaglioli(1898-1985) A histria das universidades gachas pode ser
dividida em antes e depois de Eliseu Paglioli(neurocirurgio). Paglioli foi o primeiro a
organizar a residncia mdica no Rio Grande do Sul no seu servio de neurocirurgia.Dizia: O dever do mdico trabalhar, o direito do mdico trabalhar.Foi ministro da Sade no governo Joo Goulart.
FernandoLuz(1916-1942) Dono de grande percia e elevada noo de
disciplina, Fernando Luz no admitia duranteas operaes uma s palavra que no serelacionasse com o ato cirrgico. Morreu aos56 anos, aps ter salvado a vida de umpaciente em uma cirurgia de baoextremamente delicada.
Euryclidesde JesusZerbini(1912-1993) Pioneiro da cirurgia cardaca na Amrica
Latina. Alm de desempenhar comcompetncia o ofcio de curar, desenvolveu
novas tecnologias cirrgicas que permitiramcriar as primeiras tcnicas de operao docorao no Brasil, a despeito da escassez e dadeficincia de recursos existentes poca. Foio idealizador do Instituto do Corao (Incor).
Fo
nt
es: Medicina no Brasil, artigo dos professoresElaine Alves e Paulo Tubino, Colgio Brasileiro deCirurgies e Instituto do Corao
Cirurgias a cuaberto
culo 19, montavam-se hospitais decampanha e, sem anestesia nem assep-sia,os cirurgiestentavam curar feridase arrancavam membros com equipa-mentos prosaicos, como serrotes deconstruocivil.
Foi poressapoca queo cenrio da
cirurgia no Brasil comeou a mu dar.Com a vinda da corte de Dom Joo VIpara o Riode Janeiro,em 1808, o cirur-gio-mordo Reino, Jos Correia Pican-o, recomendou a Sua Majestade queinstitusseescolas de medicina no pas.
Asprimeiras foramconstrudas nomes-moano,no Rioe emSalvador. Duas d-cadas depois, virariam faculdades. Adiscriminao, porm, continuava. Aescola erade medicinae cirurgia.Ou se-
ja, as profisses continuavam separa-das. Oscirurgies estudavam porme-nostempoe eramconsiderados inferio-res, diz JulianaSerres.
Nos anos 1800, porm, mesmo su-bestimadospelos colegas, os cirurgiesassistiram ao florescimento da prtica.Osculo19 consideradoo sculodoscirurgies,porquehouveo controle da
hemorragia, a assepsia,a anestesia comter. Essefoi o grandesculoda mudan-a. Foi umsalto,nos para a cirurgia,mas para a humanidade. Acabou a in-feco,acaboua dor, observa PauloTu-bino. Foi fundamental paraa cirurgiase desenvolver. A operaoem cavida-des seria imposs vel sem a anestesi a,completaElaine.
Umdos pioneirosno Brasilda cirur-gia peditrica,Tubino diz que, a partirdesse momento, a rease desenvolveueo pas acompanhou o novo movimentomundial. Graas aos avanos anterio-res, o sculo 20 comeou mais favor-vel.Em 1920,foram criadas as primeirasespecialidades da cirurgia e, em 1929,fundou-seo Colgio Brasileiro de Cirur-gies.Um dosgrandesmestresdo col-gio, diz Tubino, foi Alfredo Monteiro,que inaugurou uma nova maneira deoperar.Eledava nfase maiorao atoci-rrgico, no cheio de sangue, feio. Aoperao era bonita, l impa, elegante,dizo mdico.
Disputas
O colgio, porm, tambm foi umambientede rivalidades.Na dcada de1950, quando cirurgies comearam aadvogar a necessidade de se criar o ra-mo da cirurgia peditria, houve gran-deresistncia interna.Os cirurgies deadultos no queriam perder mais pa-cientes. Parase teruma ideia, quandosaiu a primeira tabela do Inamps (Ins-tituto Nacional de Assistncia Mdicae Previdncia Social, rgo que entofazia os repasses financeiros) para pa-gar as operaes de convnio, as feitasnas crianas, fossem de crnio ou t-rax, eram enquadradas como peque-
nas cirurgias. Parece piada, mas ver-dade, diz.Outro nome queo cirurgio destaca
o de EdmundoVasconcelos. Ocirur-gio, infelizmente, no adianta negar,tem poucos direitos e muitos deveres.O Vasconcelos dizia que o cirurgio stinha deveres, conta. Aos poucos, osprofissionais brasileiros tambm co-mearam a valorizar a humanizao.Os cirurgies de antigamente erammuitochega para l, eramquase deu-ses, recordaTubino. Houvemuitas ex-cees. Entre elas, Octavio Freitas Vaz,umdosprimeirosa defender queo pa-ciente no poderia ficar sozinho nasinternaes. Quando era estudante,Paulo Tubino visitou a unidade pedi-trica do Hospital Estadual Jesus, dirigi-do porVaz. Na poca, era proibido in-
ternar outras pessoas juntas, mas, ali,as mes ficavam. Porque o doutor Vazdizia ou deixa ou mato. Olhei para olado e vium cirurgio sentado nochoda enfermaria, brincando com umacriana. Eu nunca tinha visto isso an-tes.Era o ltimoingredienteque falta-va para a cirurgia brasileira se igualarsmelhoresdo mundo.
A visode Debret,no Rio, emOcirurgionegrocolocandoventosas: primrdiosAca
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Biografiade Christian Barnard/Reproduo Biomed/Divulgao
Museuda Histriada Medicina doRio Grandedo Sul/Reproduo/Divulgao
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