Coluna Muito Prazer

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Coluna Muito Prazer do dia 08 de abril de 2012

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degustaE S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 8 D E A B R I L D E 2 0 1 2

EDUARDO AVELAR

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MUITOprazer

Bar do Primocomemora seus 59anos consagradopela freguesiacativa reunida nashistóricas mesas,experimentandodelícias que atéhoje fazem parteda memóriapolítica, cultural egastronômicada cidade

RAFAEL MOTTA/TV ALTEROSA

Quase seis décadas de

FOTOS: PEDRO MOTTA/ESP. EM

Ovo que

É Páscoa, tempo de renovar asesperanças e uma das maisimportantes datas para reflexõesespirituais. O ano, enfim,realmente se inicia, cheio deplanos e, é claro, com muita festa,bacalhau e ovo de chocolate.

E por falar em ovos e reflexões,andei pensando no assunto.Nunca antes na história destepaís se falou, se comercializou ouse comeu tanto ovo. Esse herói,mesmo que transformado emvilão em algumas sessões de“medicoterapia de colesterol”,continua sendo uma das maioresestrelas da gastronomia em todo

o mundo. Faço uma viagem notempo para relembrar todas asminhas Páscoas, ou melhor,passagens em companhia dosovos de galinha, de codorna oumesmo de chocolates.

Lá na infância, o grito dasgalinhas no quintal da “vó” Sinhásinalizava que poderíamosbuscar nos ninhos o pretextopara tamanha algazarra e colher,ainda quentes, aquelescaipirinhas. Já na feira de rua, nabarraca do “seu” Antônio, aliperto de casa, conheci ospequeninos de codorna, queaprendi a cozinhar em água

te quero ovo

fervente. Nessa época, iniciava asincursões na cozinha, e o ovoquente já fazia parte do meu diaa dia nos seus não mais do quetrês minutos em água ferventepara não cozinhar – ou, se aintenção fosse essa, mais doisminutinhos para ficarem duros,dando até para lhes retirar asclaras e deixar aquelas bolasamarelas bonitas para enfeitar otutu de feijão.

São várias as lembranças queainda me fazem salivar ereverenciar esse herói. Asgemadas para ajudar a sarar osresfriados na infância. Os ovoscom cascas coloridas nos botecosda adolescência. Os infinitosomeletes e ovos mexidos.A farofa com a farinha única deBocaiúva (Norte de Minas),preparada pela amiga Marta,cheia de cebola crocante.

Nas principais cozinhas domundo, o ovo nos remete apratos e iguarias maravilhosas,seja um simples “rozcôvo” como

o da Elza, na casa da amigaMárcia, ou o do Zé Prates, emSalinas (Vale do Jequitinhonha);no tropeirão do Mineirão, cheiode couve e torresmo; no “zoiudo”dos mexidões nos bares e farrasdas madrugadas da vida, ou nos“peéfes” de tantas outras.

Ainda pelo mundo afora, notoucinho do céu, pastéis, fios deovos, entre outras doçurasportuguesas, ele reina, assimcomo nos cremes franceses, noimperdível zabaione italiano, nossuflês e flãs. Bolos, quitandas,pães de queijo, roscas, biscoitos,massas, sorvetes e outrainfinidade de delícias falandodiferentes línguas completam oriquíssimo repertório do ovonosso de cada dia.

Poderíamos ficar o resto doano elencando a participaçãodesse artista nas fichas técnicasdas milhares de atraçõesgastronômicas. Sem falar empassagens menos nobres, comoo banho de ovos quebrados

reservado aos calouros oumesmo nos protestos públicos.E quem nunca deixou cairalguns ao retirá-los do carrodepois das compras ou aocolocá-los na geladeira?

Mas como é Páscoa, que talfecharmos com umabacalhoada cheia de ovoscozidos, antes, é claro, deprocurar pelos rastros docoelhinho e nos esbaldarmosnos ovos de chocolate?Ou quem sabe umatortinha de bacalhau? Aí vaiuma receitinha rápida parahoje. Misture um quilo dopeixe dessalgado e desfiado emeio quilo de batatascozidas e amassadas.Acrescente quatro gemas,azeite e algumas azeitonas.Confira o tempero, bata asquatro claras em neve emisture delicadamente namassa. Leve ao forno pré-aquecido até começar adourar. Feliz Páscoa!

MÍRIAN PINHEIRO

ão muitas horas de pessoas eterni-zadas numa extensa e improvisa-da galeria de fotos construída nasparedes do bar. Um lugar que estácompletando 59 anos fincado nu-ma esquina já lendária do Bairro deLourdes. Neste mesmo endereço, oDegusta encontrou Relines GarciaBlanco, uma das filhas dos donos.Há 15 anos, desde que o pai, JoséGarcia Ballesteros, o famoso “Pri-mo”, faleceu, ela toca a famosa pe-tisqueira. Foi ela também quem,nos anos mais antigos do passado,resolveu emoldurar a clientela.Gente comum e incomum queachou por bem registrar a visita.Assim, Relines foi enchendo a pa-rede do bar e o coração com me-mórias de grande mérito. Hoje, elae aquelas paredes se tornarammais que testemunhas de casospitorescos. São de fato persona-gens de uma história que entre bo-linhos de bacalhau, moelas, dobra-dinhas, almôndegas e frutos domar escreveram e ainda contamnão só a história da cidade, mas dopaís. Um enredo que mistura pre-sidentes da República, artistas, ad-vogados, jornalistas, políticos ilus-tres a irresistíveis sabores.

As mesas do Primo foram seuquintal. Ali, Relines passou a infân-cia e hoje passeia com sua bonitamaturidade. Ela não sabe se passa-rá seu legado pra frente. É que paramanter o bar requer muito amor ededicação, algo que talvez os filhosnão tenham tanto para doar. O Pri-mo, e a mãe, Nina Ballesteros, imi-grantes espanhóis da Galícia, abri-ram a casa exatamente em 25 dejulho de 1953, dia de São Thiago. Oapelido carinhoso dado ao pai pe-los parentes serviu de inspiraçãopara o bar, montado com a inten-ção de se ter um comércio qual-quer para tentar a vida depois depassar um tempo trabalhando napadaria dos familiares.

NOSTALGIA O Bar do Primo, segun-do Relines, acabou virando pontode encontro de políticos de todosos partidos, muito em razão da sualocalização. Por ser o Lourdes umbairro estritamente residencial nopassado, quem morava lá erampessoas de posse, como médicos,advogados, intelectuais, artistas,

tradiçãopolíticos. O primeiro que conhe-ceu e se tornou cativo foi HélioGarcia, que nem político era naépoca . “Até hoje ele vem aqui”,comenta Relines, contando que,quando ele não pode ir ao bar,pede o prato predileto, a rabada,que é prontamente entregue emsua casa. Outro ilustre do bar,Juscelino Kubitschek, toda vezque ia visitar a irmã, vizinha dobar, passava lá. “Dr. Tancredo(Neves) almoçava muito no bar.Um dia, preparando um frango,perguntei a ele se gostava de co-xas. Ele respondeu: ‘Me tira des-sa dificuldade, minha filha!’ Pa-pai o recebia de bermudas e pa-no de prato amarrado na cintu-ra. Ele não fazia distinção. Paraele, todos eram clientes iguais. Oneto nunca veio aqui, mas o avôera fiel”, diz orgulhosa.

Muitas reuniões políticas fo-ram feitas dentro do Bar do Pri-mo e outras tantas decisões to-madas naquelas mesas, como aque escolheu Hélio Garcia paravice-governador na chapa enca-

beçada por Tancredo Neves. Con-versas que definiram subsecreta-riados, escolheram ministros epor aí. Além da comidinha boa, odono era atração à parte do bar.Relines fala que o pai era meiotosco, mas brincalhão, gozador. Àsvezes precisava xingar algum fre-guês – e o fazia –, mas ninguém fi-cava com raiva não, ele era muitoespirituoso”, comenta. “Um dia opai fez uma brincadeira com o re-nomado dentista Hamilton Mou-rão, chamando-o de colega. Ha-milton, estranhando, perguntouo porquê do ‘colega’, ao que Primorespondeu dizendo que era por-que os dois eram conhecidos co-mo os ladrões da praça.” Por essase por outras, o Bar do Primo viroulenda , mais até, uma superstição.José Alencar ia lá na véspera de to-da e qualquer eleição e era tratadocom muita distinção pela cliente-la. A não ser uma vez, que em quefoi abordado por um sujeito queo cumprimentou dizendo que eleera uma ótima pessoa, mas esta-va andando em más companhias.

Gentleman que era, respon-deu, na maior elegância, colo-cando a mão no ombro da pes-soa, que todos viviam uma de-mocracia e que ele tinha o direi-to de pensar o que quisesse. Reli-nes, indignada, sem titubear,chamou a atenção do freguêsargumentando que José Alen-car não ia lá pedir votos a nin-guém, e sim porque se sentiabem ali, por isso não admitiriaque ninguém fosse indelicadocom um cliente seu na sua ca-sa. Tirando esse episódio, ja-mais precisou intervir no con-vívio democrático da cliente-la. “Até a vez em que Rogériaesteve aqui, se não fosse umcliente pedir que ele cantasse,todos ignorariam sua presen-ça, embora, na surdina, meperguntassem a todo momen-to em qual banheiro ela entra-ria”, conta, achando a maiorgraça. Uma das receitas maisfamosas da petisqueira do Pri-mo os leitores do Degusta co-nhecem agora.

PPaaeellllaa ddee ffrruuttooss ddoommaarr ddoo BBaarr ddoo PPrriimmoo

INGREDIENTES PARA 4 PORÇÕES

8camarõesrosadotipoVG,300gdecamarõespequenos(paramolho);500gdelulaemanéis;500gdetentáculosdepolvo;8mexilhões;50gdeervilha;1cebolamédiapicadaemcubos;3tomatessempelepicados;1pimentãovermelhopequeno;temperocaseiro;50gdeaçafrãoespanhol;250gdearrozcozido;2xícarasdebrócoliscozido;azeite,cheiroverde,azeitonasesalagosto.

MODO DE FAZER

LULA: refogar a lula em uma colher de azeite, um pouco detempero caseiro e uma colher de chá de açafrão. Cobrirtudo com água e deixar cozinhar por cerca de30 a 40 minutos. Reserve.

POLVO: Colocar em água fervente por 40 minutos. Reserve.

MONTAGEM

Em uma panela de barro ou frigideira grande, frite os camarõesVG em duas colheres de azeite, acrescente uma colher de chá deaçafrão e misture. Retire os camarões e reserve. Na mesma pane-la, coloque mais duas colheres de azeite, uma colher de sopa detempero caseiro e acrescente os tomates, a cebola, o pimentão eos camarões pequenos. A seguir, coloque uma colher de sopa de

açafrão, misturando sempre.Junte a lula e o polvo e umpouco do caldo do co-zimento de ambos.Logo depois,acrescente oarroz brancocozido e o bró-colis. Para de-corar, disponhaos camarõesgrandes, a ervilha,os mexilhões, asazeitonas e salpique comcheiro-verde picado.

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