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Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Ciências Biológicas
Concepções de alunos e professores sobre
valores e o ensino de Ciências
Maíra Fernandes Almeida Franco
São Paulo
2015
MAÍRA FERNANDES ALMEIDA FRANCO
CONCEPÇÕES DE ALUNOS E PROFESSORES SOBRE VALORES E
O ENSINO DE CIÊNCIAS
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado junto ao curso de Ciências
Biológicas da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Licenciando em
Ciências Biológicas.
Professora orientadora: Magda Medhat
Pechliye
SÃO PAULO
2015
Agradeço à Universidade Presbiteriana Mackenzie e a todos os seus
professores pelos ensinamentos e contribuições ao longo da graduação
Agradeço à minha professora orientadora Magda Medhat Pechliye, por ser
esse exemplo de profissional e por todo o incentivo, sabedoria, dedicação
comigo e com todos os seus alunos, e também por cada abraço dado o longo
destes 4 anos de curso e por ter me acolhido como ‘filha’.
Agradeço ainda ao Prof. Dr. Adriano Monteiro de Castro e ao Prof. Dr. Claudio
Bastidas, por todo o conhecimento compartilhado e reflexões realizadas em
suas aulas. E também por participarem gentilmente da banca.
Agradeço às coordenadoras, professores e alunos do Colégio Presbiteriano
Mackenzie por serem responsáveis pela minha formação básica e por
colaborarem com a realização de estágios ao longo da graduação.
Agradeço aos ensinamentos do Budismo de Nitiren, e todos os membros do
distrito Higienópolis, por todo incentivo de foco e determinação para que eu
concretiza-se meus objetivos, e em especial à Miner por ter sido uma mãe
para mim em tantos sentidos e sempre tentar me colocar no caminho certo.
Agradeço a minha mãe por ser minha referência sempre, por todos seus
ensinamentos e por todo legado que deixou para nossa família.
Agradeço ao meu pai Décio, meu tio, Joari, e ao meu irmão Tales por estarem
comigo em todos os momentos me incentivando, apoiando e acreditando no
meu potencial.
Às minhas amigas Catarina Latorraca e Marina Staibano por me
acompanharem por tantos anos, e por todo companheirismo e lealdade.
À todos os meus amigos da Universidade Presbiteriana Mackenzie, André
Duarte, Fernanda Zambom, Guilherme Marchesi, Thales Netto, Mayra Gaspar,
Renato Degam, Luíse Garcia por cada risada, por cada lembrança, por cada
conversa, e por todos os momentos compartilhados; e em especial ao Gustavo
Pacheco por ser sempre o meu porto seguro.
8
Resumo: O ensino de valores é essencial para a formação da personalidade e
caráter de cada indivíduo que compõe a sociedade. Para que este ensino
ocorra, é necessária a união entre escola e família, sendo as principais
referências de educação e exemplo que crianças e adolescentes têm para
adquirir experiências no convívio social, desenvolvendo princípios e objetivos
pessoais. No que se refere à escola, mostra-se necessário construir junto aos
alunos não apenas os conteúdos específicos de cada disciplina, mas também é
de responsabilidade do docente ensinar a julgar e realizar escolhas dentro do
sistema de valores, aqueles que irão acompanhá-los ao longo de todos seus
projetos pessoais. Com base nisso, o trabalho aqui apresentado buscou
verificar e analisar a concepção de professores e alunos sobre este ensino de
valores, atrelados ao ensino de ciências, pois trata-se de uma disciplina que
permite a contextualização do conteúdo científico relacionado a questões
sociais e do cotidiano. Para atender os objetivos propostos, foi aplicado um
questionário, respondido no total por 31 alunos de duas turmas do Ensino
Fundamental II, uma de 6º ano (16 alunos) e outra de 9º ano (15 alunos), e
seus resultados foram apresentados a partir de quadros. Também foi realizada
uma entrevista com cada docente das respectivas turmas, tendo seu áudio
gravado e transcrito. A análise evidenciou algumas divergências entre a visão
expressada por professores e alunos em relação ao conceito de valor e sua
relevância. A turma de 6º ano se mostrou mais próxima às definições do
referencial, porém não aprofundaram suas respostas, já o 9º ano demonstrou
respostas mais completas, mas ficaram evidentes concepções distintas em
relação ao tema. Os resultados dos questionários e da entrevista mostraram
pontos em comum, tornando possível a tentativa de confrontar as respostas e
estabelecer uma relação entre o ensino de valores e ciências. Ambos os
professores ressaltaram a importância familiar e sua colaboração e influência
para que o ensino de valores ocorra de maneira eficaz, ressaltando que a
escola sozinha não pode exercer esse papel. A conclusão consiste no
contraste de pontos de vista dos professores, que sempre vinculam o ensino de
valores com conteúdos do ensino da disciplina de ciências, e os alunos que
não fazem esta relação, levantando pontos distintos entre os dois.
Palavras-chave: Valores, ciências, ensino, escola, concepção, docente.
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Abstract: The teaching of values is essential for the formation of personality
and character of each individual which compouses society. For this education to
occour, it is necessary the union between school and family, being the principal
references of education and model that children and adolescents have to
acquire experiences on the social conviviality, developing principals and
personal objectives. In relation to school, it is necessary to build specific
contents of each subject with the students, but it is also responsability of the
teacher to teach how to judge and make choices within the system of values,
those that will follow the students along all of their personal projects. Based on
this, the work hereby presented has aimed to verify and analyse the
conceptions of teachers and students on the subject of this teaching of values,
coupled to the teaching of sciences, because it is a discipline that allows
contextualization of the scientific content related to social and daily questions.
To comply with the proposed objectives, a questionnaire was applied and
answered in full by 31 students of two classes of elementary school, one from
the 6th grade (16 students) and one from the 9th grade (15 students), and the
results were presented through tables. An interview was also held with each
instructor from their respective classes, having their answers recorded and
transcripted. The analysis showed some differences between the view
expressed by teachers and students in relation to the concept of value and
relevance. The class of 6th grade was closer to the reference settings, but not
deepened their responses, since the 9th grade demonstrated more complete
answers, but were evident distinct concepts in this regard. The results of the
questionnaires and interviews showed common ground, making it possible to
attempt to confront the answers and establish a relationship between the
teaching of values and science. Both teachers stressed the importance of family
and their cooperation and influence on the teaching of values occurs effectively,
noting that the school alone cannot exercise this role. The finding is contrasting
views of teachers, who always link the teaching of values with the content of
teaching the discipline of science, and students who do not make this
connection, raising different points between the two
Keywords: Values, Sciences, Education, School, Conception, Instructor.
10
Sumário
1. Introdução..............................................................................................07
2. Referencial Teórico...............................................................................09
2.1 Quadro A..........................................................................................17
3. Objetivos................................................................................................18
4. Metodologia...........................................................................................18
5. Resultados e Discussão.......................................................................23
5.1. QuadroI........................................................................................24
5.2. Quadro II......................................................................................26
5.3. Entrevista P1...............................................................................33
5.4. Entrevista P2...............................................................................37
6. Conclusão..............................................................................................43
7. Referências Bibliográficas...................................................................46
8. Apêndices..............................................................................................48
8.1. Apêndice 1 – Questionário........................................................48
8.2. Apêndice 2 – Entrevistas...........................................................48
8.2.1. Entrevista P1.....................................................................48
8.2.2. Entrevista P2.....................................................................53
8.3. Apêndice 3 - Carta de Informação à Instituição e Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.........................................60
8.4. Apêndice 4 - Carta de Informação ao Sujeito e Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Aluno)...........................61
8.5. Apêndice 5 - Carta de Informação ao Sujeito e Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Professor).....................62
8.6. Apêndice 6 – Questionários Respondidos ...........................63
7
Introdução
Durante o meu curso de licenciatura tive contato com diversos temas
dentro da área de educação, e certa vez, em uma das aulas, a professora
dividiu capítulos de um livro entre grupos de alunos, para realizarmos a leitura
e posteriormente discutir cada capítulo entre nós. O tema dado ao meu grupo
era referente a ensino de valores, e a leitura deste assunto me chamou muito a
atenção e me fez refletir como este ensino era aplicado, e como ensinaram
para mim valores? O mais curioso, foi que até aquele momento, eu nunca
havia pensado sobre o assunto!
Entretanto, ao pensar sobre estas questões, só me vinha na cabeça os
ensinamentos vindos da minha criação familiar, e por parte da escola, as aulas
de ‘Ensino Religioso’ que era a aula em que discutíamos mais temas sociais,
pessoais, debatendo opiniões e pontos de vista, sendo o mais próximo de
ensino de valores que eu cheguei o longo da minha formação no colégio.
Porém, eu não conseguia compreender porque este ensino deveria se restringir
à uma única disciplina, afinal, todos os professores buscam tanto a formação
pessoal quanto profissional de cada aluno, certo?
Ao longo da graduação em licenciatura, aprendi que a conduta e postura
do professor dentro de sala de aula estão relacionadas ao seu objetivo como
educador, e percebi que a resposta para a pergunta acima é: depende. Nem
sempre a prática e a teoria andam na mesma direção. Esta constatação foi
meio chocante, e me fez perceber que talvez, a maioria dos meus professores
até então, tinham seu foco voltado a lecionar sua disciplina específica, aplicar
avaliações e obter resultados de aprovação ou reprovação em sua matéria.
Para ser sincera, antes de estudar para ser professora, eu também não
entendia e nem saberia citar como um educador pode ir além deste estereótipo
convencional do ensino. Educar, ter comprometimento com o aluno e com sua
formação exige muito trabalho e dedicação, mas é possível sim ir muito além
do que as notas, do que abordar conteúdos e ter relações superficiais em sala
de aula.
8
O ensino de valores, para mim se tornou algo muito importante, e que
merecia atenção. Ao longo dos estágios obrigatórios que tive ao longo da
graduação, pensei que seria interessante explorar o ensino de valores atrelado
ao ensino de ciências. Pois se trata de uma disciplina que naturalmente já traz
associações de diversas áreas como Física, Química, Biologia, Geografia e
Saúde, e ao longo da minha formação me lembro que nas aulas de Ciências
havia sempre muitos exemplos e contextualizações quere tratavam situações
do nosso cotidiano, e acreditei que seria relevante explorá-la também para o
ensino de valores.
Todos estes fatos originaram minha vontade e curiosidade em abordar o
tema do presente trabalho, buscando descobrir quais são as concepções dos
alunos e professores de Ciências, que estão cursando e lecionando,
respectivamente o Ensino Fundamental II, sobre o ensino de valores atrelado a
esta disciplina, realizando uma coleta de dados específica para poder
contrastar os diferentes pontos de vista, e também a prática escolar com o
referencial teórico selecionado.
Desde o momento em que entrei em contato com o tema até a minha
decisão do objetivo do TCC senti falta de mais referências e materiais de
estudo sobre o tema de valores, e mais ainda sobre valores atrelados às
disciplinas. Eu ingenuamente achei que seria um tema mais fácil do que
realmente foi, mas ao mesmo tempo representou um desafio, e aprendi muitas
coisas com o desenvolvimento deste trabalho, reformulei alguns conceitos
pessoais, e tive surpresas incríveis com meus resultados.
É fundamental descobrir as concepções de alunos e professores,
visando melhorar o próprio ensino de valores na escola, pois trata-se da
formação de jovens que integram uma nova geração da sociedade, e que
precisam de atenção na sua formação pessoal, moldando seus ideias,
concepções e opiniões.
O presente trabalho foi desenvolvido a partir de objetivos específicos,
apresentação da metodologia, coleta de dados bem como dos resultados, e
posteriormente análise, baseada no referencial teórico a seguir.
9
2. Referencial Teórico
A educação, enquanto fruto da ação da escola, é responsável pela
formação acadêmica, por permitir que o aluno tenha contato com diferentes
áreas do conhecimento. Isso torna possível seu avanço pessoal e profissional,
em conjunto com as influências familiares e sociais. Dessa forma, ainda que a
educação seja o objetivo das escolas, a mesma (educação) não se restringe ao
contexto ou ambiente escolar.
Além da criação pessoal de cada indivíduo, a escola também é
responsável pela formação de um futuro cidadão que deverá ter acesso ao
ensino de valores, que vise sua convivência social, o desenvolvimento de sua
conduta e a construção de seu caráter. A partir disto, surge o questionamento
de como este aprendizado é executado pela escola e educadores ao longo do
cotidiano escolar, e como isso é ou não compreendido pelos alunos.
Por isso, é relevante a pesquisar para entender a visão que professores
e alunos trazem desta prática bem como de que forma ela ocorre. No caso, foi
escolhida a disciplina de Ciências, do Ensino Fundamental II, levando em conta
a faixa etária dos alunos, e partindo do conceito que o docente não deve se
limitar ao ensino de sua disciplina.
Atualmente, os educadores têm a tendência de supor que a família é
responsável pela tarefa de ensinar hábitos, comportamentos e valores para as
crianças. Por conta disso, a escola se vê no papel de ensinar tudo, e a principal
reclamação é que as famílias estão transferindo a responsabilidade de educar
para a escola. Neste raciocínio, existe uma separação radical entre educar e
instruir, na qual entende-se que a escola e os professores só deveriam
encarregar-se da instrução, ou seja, fornecer informação, saberes, conteúdos
intelectuais e modos de fazer (CORDEIRO, 2009).
Por outro lado, caberia às famílias cuidar do comportamento, da moral e
da ética. Esta separação é impossível, uma vez que quem instrui também
educa; além disso, é indesejável que se faça esta distinção, visto que pode
trazer perdas para o campo da educação (CORDEIRO, 2009).
10
Na leitura do artigo 2º da LDB (9394/96) é ressaltado que o ensino de
valores é o objetivo da educação escolar, juntamente com a aquisição de
novos conhecimentos, competências e habilidades, e tal ensino deve estar
presente desde a educação básica até o ensino médio, com diferentes focos e
objetivos. Como objetivo principal tem-se a formação de valores básicos para a
vida e para a convivência, que integram os cidadãos em uma sociedade
(BRASIL, 1996)
Entretanto, como barreiras para a realização dos objetivos descritos
acima, Aquino (1996) ressalta que, atualmente, o ensino teria como um de
seus obstáculos centrais a conduta desordenada dos alunos, traduzida em
termos como: bagunça, desordem, maus comportamentos e desrespeito às
figuras de autoridade.
Além disso, Machado (2004) ressalta que todas as ações educacionais
devem considerar o desenvolvimento dos projetos pessoais, sendo que o
professor precisa ter comprometimento com a realidade extraescolar, ainda
que sua atuação seja dentro da escola. Segundo Kuiava e Sangalli (2008),
abordar a questão da formação ética e valores morais no processo de ensino e
aprendizagem é um desafio teórico-prático. Os autores destacam que é papel
da educação atender a demanda por uma prática educacional voltada para o
discernimento do modo mais adequado de viver e agir tanto na esfera da vida
pessoal como social.
Já Cordeiro (2009) explicita de modo geral, que a instituição familiar e a
escolar lidam com requisitos distintos e realizam atividades diferentes, mas
devem trabalhar juntas para a aprendizagem dos conteúdos e comportamentos
necessários para integrar o indivíduo na sociedade. Para isso, a escola é
pensada como espaço privilegiado em que a criança, afastada da família,
passa a ter contato com modelos morais mais valorizados socialmente, e
passaria a interiorizá-los.
Ainda, é apontado por Machado (2002) que não é possível depositar
somente na educação a expectativa de solução para todas as crises sociais. O
autor destaca a necessidade de uma arquitetura de projetos e valores para que
seja possível o permanente exercício de se preparar e projetar o futuro,
11
visando à educação moral da sociedade tanto em nível individual quanto em
nível coletivo.
Entretanto, é enfatizado por Cortella (2015) que existe uma inversão de
valores preocupantes na realidade escolar, há muitas crianças imperativas, que
se comportam de forma autoritária, tal atitude é entendida como a
sobreposição da própria vontade, independente das circunstâncias e das
outras pessoas. Com relação às crianças, quando não são cobradas em seu
cotidiano, perdem a noção do que é responsabilidade, encontrando este limite
no convívio escolar, e na figura do professor, quando são cobradas em relação
ao material, uma tarefa, ou postura.
Dessa forma, é essencial que o aluno aprenda estabelecer relações,
justificar, analisar, criar, compreender e transformar o mundo em que vive,
considerando valores éticos e responsabilidade social (KUIAVA; SANGALLI,
2008).
Para que o aluno consiga se desenvolver de tal forma, Puig (2004)
considera a importância das práticas da educação moral no processo escolar.
Essas práticas exigem um objetivo bem definido com relação aos valores
implícitos e explícitos que se manifestam durante a realização de atividades,
trabalhos, projetos e interações entre alunos e professores.
O papel do educador, nessa questão, é o de ensinar a julgar, a escolher
entre um sistema de valores (Respeito, Justiça, Afetividade, etc.), construído na
dialógica “sujeito e comunidade”, por meio da qual a vida acontece
concretamente (PUIG, 2004). O educando pode buscar tais valores em seu
universo intelectual, nas qualidades subjetivas, nas informações que vêm do
meio em que ele vive, no sistema de valores compartilhados coletivamente, em
sua experiência, sendo estes os guias para suas escolhas (VOSS, 2013).
Especificamente no que se refere ao Ensino Fundamental, a LDB aponta
que a educação em valores é baseada em três competências: a compreensão
do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos
valores em que se fundamenta a sociedade; o desenvolvimento da capacidade
de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades
e a formação de atitudes e valores; e o fortalecimento dos vínculos de família,
12
dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
assenta a vida social (BRASIL, 1996).
Para Ronca e Gonçalves (1999), é necessário que essas competências
que baseiam o ensino de valores se tornem objetos de reflexão de diferentes
ciências escolares, como a História, Geografia e Ciências Naturais,
especialmente no que diz respeito a valores como liberdade, respeito, justiça e
igualdade.
Gouveia (2003), por sua vez, explicita que os valores têm sido
considerados como tipos específicos de atitudes, crenças, metas e
preferências. Porém, os valores precisam ser pensados independentemente
destes tipos de categorização, pois, nesta perspectiva, família, dinheiro, casa,
trabalho, democracia e patriotismo, por exemplo, seriam todos considerados
como valores. Uma vez identificadas as necessidades específicas, é possível
reconhecer o conjunto de valores que precisa ser desenvolvido e utilizado pelo
indivíduo
Estas necessidades, de acordo com o autor, são consideradas
universais, funcionando como categorias de orientação, que podem variar em
magnitude, nas pré-condições para satisfazê-las, e abrangem, nos elementos
que as constituem, desde as necessidades fisiológicas (comer, beber, ter
relações sexuais), passando pelas de segurança (estabilidade, proteção), de
amor e afiliação (receber e dar carinho, ter companheiros), as cognitivas
(desejo de conhecimento, entendimento, explicação e satisfação da
curiosidade), estética (desejo de beleza, simetria e boa forma) até chegar à
auto-realização (vontade de melhorar e ser autossuficiente), que é objetivo do
homem ao longo de sua existência (GOUVEIA, 2003).
Seguindo estas classificações, Gouveia (2003) criou um modelo teórico,
baseado em categorias de orientação, visando a relação “necessidades e
valores”, ou seja, são definições e objetivos específicos de grupos de valores,
que mesmo sendo absolutos, e visando a harmonia do convívio social, podem
ser ou não adotados por cada indivíduo, o que vai ser determinado por suas
necessidades, que podem variar em diferentes fases da vida. Este modelo se
divide em três grandes grupos, que se subdividem em dois outros menores;
13
são eles os valores Pessoais (de experimentação e realização) que ressalta o
conceito de pessoas que estabelecem relações do tipo contratual, geralmente
com objetivos proveitosos para si; valores Centrais (de existência e
suprapessoais), que sugerem condições mínimas para que exista convivência
em sociedade; e valores Sociais (normativos e interacionais) direcionados aos
demais, como alguém que busca ser incluso em algo. É possível visualizar no
“Quadro A”, logo após o referencial, a definição destes grupos e subgrupos,
assim como alguns exemplos de valores dentro destas categorias.
Dentro desses grupos e subgrupos foram citados alguns exemplos
específicos de valores, sendo que Gouveia (2003) explica cada um de forma
mais aprofundada como, por exemplo, valores que proporcionam de alguma
forma segurança, como “Saúde”, a ideia é não estar doente. A pessoa que
adota este valor lida com um drama pessoal originando um sentimento de
incerteza que está implícito na doença. Assim, o indivíduo é orientado a
procurar manter um estado ótimo de saúde, evitando coisas que possam
ameaçar sua vida ou bem-estar.
Outro exemplo é a “Religiosidade”, que não está atrelada a nenhum
preceito religioso. É reconhecida a existência de uma entidade superior,
através da qual as pessoas podem lograr a certeza e a harmonia social
requeridas para uma vida pacífica (GOUVEIA, 2003).
Ainda de acordo com o autor, há também valores que exigem uma pré-
condição, tal qual a “Justiça”, que se trata de um valor que representa a pré-
condição igualdade para satisfazer as necessidades. As pessoas que dão
importância a este valor pensam nos outros como um membro a mais da
espécie humana, sendo que todos têm os mesmos direitos e deveres que
capacitam uma vida social com dignidade (GOUVEIA, 2003).
Outro caso é a “Honestidade”, que representa a pré-condição da
responsabilidade para satisfazer as necessidades. É um valor que enfatiza um
compromisso em relação aos demais, permitindo manter um ambiente
apropriado para as relações interpessoais, as relações em si são consideradas
metas (GOUVEIA, 2003).
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Ainda, existem determinações para os valores de convívio social, como
a “Afetividade”, que representa a necessidade de amor e afiliação. As relações
de amizade e familiares são enfatizadas, assim como o compartilhamento de
cuidados, afetos e pesares, que estão relacionada diretamente com a vida
social (GOUVEIA, 2003).
Já o valor “Prazer” corresponde à necessidade orgânica de satisfação,
em um sentido amplo (comer ou beber por prazer, ter diversão, etc.), embora
sua particularidade se fundamente no fato de que a fonte da satisfação não é
de um tipo específico, a origem do prazer pode ser física, psicológica,
emocional, ou material. (GOUVEIA, 2003).
Gouveia (2003) ainda ressalta diversos valores considerados mais
clássicos e individuas. A “Obediência”, por exemplo, evidencia a importância de
cumprir os deveres e as obrigações diárias, além de respeitar aos pais e aos
mais velhos, sendo uma questão de conduta individual. Os membros da
sociedade assumem um papel e se conformam à hierarquia social
tradicionalmente imposta, com tal valor sendo típico de pessoas mais velhas ou
que receberam uma educação tradicional.
Também é possível ressaltar a “Tradição”, que sugere respeito aos
padrões morais seculares e contribui para aumentar a harmonia na sociedade,
onde os indivíduos precisam respeitar símbolos e padrões culturais (GOUVEIA,
2003).
Além disso, os valores no geral devem propiciar a construção de
convívio harmônico com o mundo da informação, de entendimento histórico da
vida social e produtiva, de percepção evolutiva da vida, do planeta um
aprendizado com caráter prático e crítico (BRASIL, 1996).
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino
fundamental, a disciplina de Ciências Naturais deve enfatizar conteúdos
socialmente relevantes e processos de discussão coletiva de temas e
problemas de significado e importância reais (BRASIL, 1996).
Dessa forma, o aprendizado deve contribuir não só para o conhecimento
técnico, mas também para uma cultura mais ampla, desenvolvendo meios para
15
a interpretação de fatos naturais, a compreensão de procedimentos do
cotidiano social e profissional (BRASIL, 1996).
Entretanto, Santos (2007) aponta uma dificuldade para o cumprimento
dos PCNs, os alunos não conseguem identificar a relação entre o que estudam
em ciência e o seu cotidiano e, por isso, entendem que o estudo de ciências se
resume a memorização de nomes complexos, classificações de fenômenos e
resolução de problemas
É fundamental destacar que há uma abordagem limitada no que se
refere ao ensino de ciências atrelado à valores e ao cotidiano na escola. Muitos
professores consideram o princípio da contextualização como sinônimo de
abordagem de situações do cotidiano, no sentido de citar ou descrever,
nominalmente, um fenômeno com a linguagem científica, não promovem a
reflexão do assunto (SANTOS, 2007).
Tal abordagem é desenvolvida, em geral, sem explorar as dimensões
sociais nas quais os fenômenos estão inseridos, servindo somente como um
pano de fundo. Desse modo, cada vez mais é adicionada uma maior
quantidade de conteúdos ao currículo programático, como se o conhecimento
isolado e específico por si só fosse a condição para preparar os estudantes
para a vida social (SANTOS, 2007).
O autor ainda sugere, no que se refere ao ensino de Ciências, medidas
essenciais para que a contextualização do conteúdo disciplinar atrelado ao
ensino de valores ocorra. A primeira medida é desenvolver atitudes e valores
em uma perspectiva humanística diante das questões sociais relativas à
ciência e à tecnologia (SANTOS, 2007).
A segunda medida envolve auxiliar na aprendizagem de conceitos
científicos e de aspectos relativos à natureza da ciência, e a terceira consiste
em encorajar os alunos a relacionar suas experiências escolares em ciências
com problemas do cotidiano (SANTOS, 2007).
Santos (2007) ainda enfatiza que, neste processo, é preciso buscar o
desenvolvimento de atitudes e valores aliados à capacidade de tomada de
decisões responsáveis diante de situações reais, com isso, procura-se, por
16
meio da contextualização temática, desenvolver valores e atitudes
comprometidos com a cidadania.
Isso também é destacado por Voss (2013), que explicita que os valores
estão ligados à realidade factual e, sendo assim, o educador deve conferir
sentido ao ensino e considerar às experiências vividas para que seja eficaz.
Machado (2004) ressalta que projetos de valores, que são essenciais
para a base da educação, sendo socialmente negociados e acordados,
inovando a educação e os valores abordados. Estes projetos são o equilíbrio
entre o que se deseja projetar e os valores que serão utilizados para que este
projeto se sustente, a realização de projetos gira-se em torno de seis valores
fundamentais: cidadania, profissionalismo, tolerância, integridade, equilíbrio e
personalidade. Não mais se justifica educar como forma de treinar os alunos
para exames.
Dessa maneira, abordar o problema da formação ética e valores morais
significa, no contexto atual, retomar analiticamente os referenciais políticos,
epistemológicos e pedagógicos da educação e, consequentemente, repensar a
formação do docente, e sala de aula bem como os processos de ensinar e
aprender, em todos os níveis e estágios de formação, uma vez que o estudo da
ética não pode ser abordado simplesmente como um conteúdo a ser estudado,
mas como fundamento de todas as atividades da prática docente (CORTELLA,
2015).
Este referencial teórico buscou explicar e enfatizar a importância do
ensino de valores, assim como o quão fundamental tal ensino é para a
formação de cada indivíduo, visto que permite o desenvolvimento de
habilidades e ideais que irão acompanhar cada indivíduo no seu futuro
profissional e pessoal.
Também foi ressaltado que este ensino deve ocorrer envolvendo a
família, instituição escolar e, principalmente, do educador, explicitando a
relevância de verificar e analisar na prática, como os alunos e professores
identificam aplicações e situações de ensino de valores, especificamente no
ensino de Ciências, e a partir deste levantamento, promover a reflexão e
discussão do tema.
17
2.1. Quadro A - Modelo teórico, baseado em categorias de orientação, visando
a relação “necessidades e valores” baseado nos autores Fonseca (2006) e
Gouveia (2003).
Grandes grupos de
valores
Subgrupos Exemplos de valores Definição
Pes
soai
s
Experimentação Estimulação, emoções, sexual e
prazer.
Enfatiza o descobrimento e a apreciação de novos estímulos ou sensações bem como o enfrentamento de situações limites.
Realização Êxito, poder, prestigio, autodireção
e privacidade.
Caracterizadas pelo sentimento de ser importante, obter poder, e ser uma pessoa com identidade, que tenha espaço próprio.
Cen
trai
s
Existência Sobrevivência, saúde e estabilidade
pessoal.
Expressam preocupação individual de cada um, com objetivo de garantir a própria existência.
Suprapessoais Justiça, conhecimento e
maturidade.
Procuram alcançar ideais independentes do grupo ou condição social, englobando pessoas que não se limitam às características específicas para iniciar uma relação ou proporcionar benefícios
Soc
iais
Normativos Religiosidade, ordem social, tradição e
obediência.
Foco para a vida social, estabilidade grupal, além de respeitar os símbolos e padrões culturais que prevaleceram durante anos.
Interacionais Afetividade, apoio social, convivência e
honestidade.
Adotados por indivíduos que baseiam seus interesses em se sentirem queridos, terem amizades verdadeiras, intimidade e uma vida social ativa.
18
3. Objetivos
Objetivo geral:
• Analisar as concepções de valores de alunos e professores do Ensino
Fundamental II de Ciências.
Objetivos específicos:
• Verificar e analisar como os alunos identificam situações que ocorre
ensino de valores.
• Verificar e analisar a visão e aplicação do ensino de valores pelos
professores, dentro da disciplina de Ciências.
• Promover a reflexão sobre o tema.
4. Método
A metodologia do presente trabalho foi realizada em duas partes, a
primeira, em questionários com alunos do Ensino Fundamental II de uma
escola particular de São Paulo. Tais questionários foram aplicados em uma
sala de aula de 6º ano e uma sala do 9º ano, com idade entre 11 a 15 anos. O
número de participantes do 6º ano foi de 16 e do 9º foi de 15 , visto que a
participação dependia diretamente da entrega da “Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido”, que deveria ser assinada pelo responsável legal do aluno
participante. Desta forma, totalizando, o número de alunos participantes foi de
31.
Com a devida permissão da escola, dos professores e responsáveis, os
alunos responderam ao questionário (Apêndice 1), considerando que
anteriormente, foi esclarecida o objetivo da respectiva coleta de dados, assim
como a garantia de total anonimato, e desistência ao longo da aplicação.
Este instrumento foi escolhido, pois de acordo com Pádua (2007), são
instrumentos de coletas de dados preenchidos pelo próprio informante, sendo
necessário limitar o questionário em sua extensão e finalidade, a fim de que
possa ser respondido num curto período de tempo. Este fator é importante
19
levando em conta o grande número de alunos analisados, e a praticidade que
este instrumento fornece para a análise, comparação e tabulação de dados
coletados.
Complementando, Barros et al. (1986) ressalta que uma vantagem do
questionário é que o pesquisado tem o tempo suficiente para refletir sobre as
questões e respondê-las mais adequadamente, outra vantagem, é a garantia
do anonimato, pois não é cobrado nome, idade nem determinação do sexo dos
participantes, além da maior liberdade nas respostas, com menor risco de
influência do pesquisador sobre as mesmas.
Tais características são essenciais para este tipo de coleta, visto que o
número previsto para participar da pesquisa era de 60 indivíduos (36 do 9º no e
24 do 6º ano). Sendo assim, não haveria tempo suficiente para entrevistar cada
aluno, levando em conta também o fato de que o questionário pode ser
aplicado e respondido de forma rápida e prática, não atrapalhando o cotidiano
das aulas e o cronograma escolar, tomando apenas minutos da aula de
Ciências, disciplina que foi escolhida para análise e aplicação do instrumento.
Como desvantagens deste instrumento é possível apontar, segundo
Lüdke e André (2008), que ao usar questionários perde-se o caráter interativo
da entrevista, bem como a captação imediata e corrente da informação
desejada que esta permita, ainda, diferentemente da entrevista, o questionário
não permite correções, esclarecimentos e adaptações.
Entretanto, o objetivo do questionário (Apêndice 1), é reunir os conceitos
dos alunos em relação ao ensino de valores atrelado à disciplina de Ciências,
desta forma, não é necessário a interação e esclarecimentos mais profundos,
e sim obter através das perguntas diretas do instrumento as considerações
dos alunos.
O segunda parte do método, foi realizada com entrevistas (Apêndice 2)
com dois docentes da disciplina de Ciências do Ensino Fundamental II de uma
escola particular de São Paulo, a mesma onde os questionários foram
aplicados. Sendo assim, a entrevista foi realizada com o professor que leciona
para o 6º ano, que será identificado como P1, e para o do 9º ano, que será
identificado como P2.
20
Com o mesmo procedimento dos questionários, foi necessária a
permissão da instituição, para que fosse possível realizar as entrevistas
(Apêndice 2), também considerando a finalidade da pesquisa e objetivo da
coleta de dados, assim como a garantia de total anonimato, e desistência ao
longo da aplicação. As entrevistas foram realizadas pessoalmente, em
períodos alternativos aos horários de aula, dentro das dependências da própria
instituição de ensino, através de áudio gravado, que posteriormente foi
transcrito no presente trabalho.
Para os docentes, foi escolhido este método, consistindo em uma
entrevista semi estruturada, que segundo Lüdke e André (2008) este tipo de
entrevista permite a captação rápida da informação e maior aprofundamento
dos assuntos abordados, facilitando adaptações, modificações e
esclarecimentos ao longo de seu andamento, em que o entrevistado tem a
possibilidade de discorrer sobre suas respostas e reflexões. Entretanto, as
desvantagens estão direcionadas ao próprio entrevistado, que pode manifestar
falta de disponibilidade de horário para realizar a entrevista, insegurança em
relação ao anonimato de informações, ponderando suas respostas ou
respondendo vagamente.
Tratando-se do número pequeno de entrevistados, o objetivo com os
professores era justamente entender, questionar e analisar suas visões e
conceitos sobre a prática do ensino de ciências atrelado ao ensino de valores,
para posteriormente confrontá-los com os questionários dos alunos, sendo a
entrevista, o meio mais adequado para que tal objetivo fosse atingido.
As respectivas turmas de cada ano foram escolhidas com o auxílio dos
professores, foi pedido a eles que escolhessem as salas mais comprometidas e
colaborativas pra a aplicação do questionário. Para que fosse possível a coleta
de dados, foi feito contato com a instituição pessoalmente, sendo entregue os
seguintes documentos, dentre eles o Projeto da Comissão de Ética, assim
como sua aprovação (processo nº L002/04/15), a Carta de Informação ao
Sujeito (destinada à alunos e professores), Carta de Informação à Instituição,
além do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (também destinada à
alunos e professores), como citado anteriormente.
21
Sendo entregue a Carta de Informação à Instituição e o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 3), foi permitido pela diretora e
coordenadora do colégio todo o procedimento de aplicação dos instrumentos
metodológicos. A partir disto, os participantes, professores receberam a Carta
de Informação ao Sujeito e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Apêndice 5), a partir da qual, depois de assinados pelos docentes, foi aplicada
e registrada.
Além disso, visto que os alunos participantes eram menores de 18 anos,
foi solicitada a autorização do representante legal do aluno na Carta de
Informação ao Sujeito e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Apêndice 4), com o instrumento de pesquisa sendo aplicado somente para os
alunos que trouxeram a autorização assinada.
Os horários de realização dos questionários foram definidos de acordo
com os horários de aula dos professores responsáveis por cada turma, dentro
das aulas da disciplina de Ciências, respeitando a disponibilidade da escola,
tanto dos professores quanto dos alunos.
Os professores foram instruídos pela pesquisadora como deveria ser a
aplicação dos questionários, deixando claro que não influenciassem nas
respostas, ou conduzissem os alunos nos raciocínios, também foi ressaltado o
procedimento no caso de desistência, anonimato em relação a qualquer
informação que permita a identificação da escola ou do indivíduo. A orientadora
também obteve tais instruções e acompanhou a aplicação em sala.
As perguntas tanto do questionário (Apêndice 1) quanto das entrevistas
(Apêndice 2) foram elaboradas pela pesquisadora, pensando especificamente
no grupo de participantes escolhidos do Ensino Fundamental II, levando em
conta a baixa faixa etária do Ensino Fundamental I, e considerando que no
Ensino Médio já não há ensino de ciências. Foi escolhida uma turma de 6º ano
e outra de 9º para justamente captarmos o possível contraste entre as
extremas séries que chegam do primário para o ginásio (sexto ano) e as que
partirão para o colegial (nono ano).
O questionário aplicado teve as seguintes perguntas:
22
1) O que você entende por valores? Cite exemplos.
2) Dentre esses valores, quais você acha que aprendeu/aprende na escola?
3) Quais valores você acha que aprendeu/aprende nas aulas de ciências?
4) Que valores você gostaria que seu professor de ciências abordasse? Por
quê?
5) Você acha que o ensino de valores é importante? Por quê?
O objetivo das duas primeiras perguntas é levantar os conhecimentos
prévios do aluno em relação ao tema, preparando-o para as próximas
perguntas, ou seja, verificar a concepção do aluno em relação ao tema de
ensino de valores, particularmente. A terceira e quarta perguntas, fazem a
relação com a disciplina de ciências, a intenção é provocar no aluno a
associação dos dois ensinos, valores e ciências. Considerando que ao longo
da execução do instrumento, o aluno tenha realizado uma breve reflexão sobre
o tema, a última pergunta tem como propósito, identificar possíveis deficiências
no aprendizado, e consequentemente nos conceitos abordados no ensino de
valores/ciências.
É importante ressaltar que não há respostas certas ou erradas, a
intenção é confrontar tais informações, com a literatura selecionada, e também
com a entrevista dos docentes, que traz outra perspectiva sobre este tema,
assim torna-se possível verificar seus julgamentos e analisá-las com as demais
informações coletadas e pesquisadas.
Os dados obtidos foram organizados na forma de quadros, que contém
as respostas específicas referentes a cada ano em que o questionário foi
aplicado, assim como a frequência de respostas ou citações, quando houver
repetição de repostas.
Tal organização teve como objetivo facilitar exposição dos resultados
coletados de indivíduos do mesmo grupo, partindo do pressuposto de que
vivenciam o mesmo cotidiano escolar, mas também considerando que não
aprendem as mesmas coisas, pois é um ensino que também tem muita
participação da família e de outras relações sociais, e tais influências são
pessoais, e não pode ser medida através da aplicação do instrumento.
23
A análise será desenvolvida a partir da variação das respostas de uma
mesma pergunta, assim como a partir da frequência dessa resposta ou citação,
sendo feita a relação de tais informações comparadas aos conceitos
explorados no referencial teórico. Os anos escolhidos serão descritos
individualmente, também os relacionando com a postura e conceitos que seu
respectivo docente expôs na entrevista transcrita. Entretanto, a comparação do
grupo como todo foi feita por associações entre as respostas do ano inicial do
Ensino Fundamental, sexto ano, e o ano final, nono ano, com o objetivo de
verificar se existiram padrões diferentes de conceitos e valores ao longo do
avanço de séries e idade dos alunos.
5. Resultados e Discussão
Os resultados da coleta de dados das entrevistas estão em forma de
diálogo, transcritos abaixo. Lembrando que se trata de uma entrevista
semiestruturada, significa, portanto, que ela pode sofrer mudanças ao longo do
processo de aplicação, de diversas formas, seja acrescentando ou modificando
as perguntas que foram elaboradas, de modo que a entrevista se torne mais
produtiva e alcance os objetivos propostos.
No caso da entrevista com P2, não houve a necessidade de realizar as
perguntas quatro e cinco, pois foram respondidas dentro de outras questões, já
no caso de P1 todas as questões propostas foram realizadas. É relevante
apontar que as perguntas da entrevista que foram pré-definidas (Apêndice 2),
estão sinalizadas com seus respectivos numerais, entretanto, quando surge no
diálogo uma pergunta elaborada pela ‘Pesquisadora’, aponta uma pergunta
realizada espontaneamente por conta do decorrer da entrevista e dos assuntos
nela abordados. Os resultados obtidos a partir da aplicação dos questionários
são apresentados a seguir por meio de quadros (I e II), separados para cada
ano, respectivamente.
Foi escolhida a representação através de quadro para que os dados
fossem organizados para mostrar as diferentes respostas encontradas na
mesma pergunta., desta forma é possível visualizar as diferentes associações
e pontos de vista dos alunos referente ao tema abordado.
24
Para as respostas “não sei” ou para espaços deixados em branco,
nestes casos não há representação na quadro, porém são aqui descritas. No 6º
ano a resposta “não sei” ou espaço em branco ocorreu para as perguntas: 1, 2,
3 e 4, e para o 9º ano a mesma situação ocorreu para as perguntas: 3 e 4. É
importante ressaltar também que as respostas foram reproduzidas mantendo
os erros conceituais e gramaticais dos alunos.
A seguir são apresentados os resultados, divididos por série, assim
como as respectivas perguntas e respostas. É importante ressaltar, que para o
6º ano, as duas primeiras questões não foram possíveis realizar a porcentagem
das respostas, visto que um mesmo aluno citou uma série de valores, por isso,
são representadas as quantidades de citações nestas determinadas questões.
O mesmo ocorre para o 9ª ano na terceira pergunta, referente à citação de
exemplo de valores, neste caso, também foi destacado as citações e não a
porcentagem de respostas.
5.1. Quadro I - Respostas dos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II às
perguntas do questionário e suas respectivas frequências. Total de alunos: 16.
Questões Respostas obtidas
O que você entende por valores? Cite exemplos
Honestidade e
Solidariedade
Respeito
Paz
Bondade
Harmonia
Valores são
relativos: são
tipos de moral
implementada
por cada
família.
Bom caráter
União
Atitudes
Amizade
Felicidade
Frequência 12 citações 2 citações (cada)
1 citação 1 citação (cada)
Dente esses valores, quais você acha que aprendeu/ aprende na escola ?
Honestidade Todos Dar valor, ou
valorizar algo
(planeta,
objetos e
pessoas)
Ética
Respeito
Paz
Comportamento
Responsabilidade
A maioria dos
meus valores
foram criados
fora da escola,
tanto é que
conflita com os
da escola
(ateísmo, pró-
25
gays, pró-
abortos)
Frequência de citações
8 citações 2 citações 3 citações 1 citação (cada) 1 citação
Quais valores você acha que aprende/ aprendeu nas aulas de ciências?
Cuidar da
natureza ou do
planeta
Respeito Ouvir os outros,
ser um
aluno/pessoa
melhor
Bondade Outros
(Harmonia,
Educação,
Solidariedade,
União, Paz, ser
legal,
Consciência)
Frequência 2 indivíduos 12.5%
3 indivíduos 18.8%
2 indivíduos 12.5%
2 indivíduos 12.5%
7 indivíduos 43.8%
Que valores você gostaria que seu professor de ciências abordasse? Por quê?
Nenhum, pois
a professora é
legal, ou é boa,
ou já ensina
todos
Bondade Gostaria eu
mesmo abordar
valores meus,
já que entendo
mais deles
Outros
(Honestidade,
Cuidar da Natureza,
Amor, Atitudes
corretas)
Explicar mais a
matéria, porque
eu acho que
nem sempre do
jeito que eles
explicam dá pra
entender
Frequência 5 indivíduos 31.3%
2 indivíduos 12.5%
1 indivíduo 6.3%
4 indivíduos
25%
1 indivíduo 6.3%
Você acha que o ensino de valores é importante? Por quê quê?
Sim Sim com
justificativa
citando
algum valor
Sim, para o
futuro ser
melhor ou para
ir para um bom
caminho
Sim, para ser
melhor (cidadão,
pessoa, etc)
Apenas o
necessário.
Empurrar
valores de uma
religião a força
daí eu já não
apoio.
Frequência 1 indivíduo
6.3%
5 indivíduos
31.3%
4 indivíduos
25%
5 indivíduos
31.3%
1 indivíduo
6.3%
O que você entende por valores? Cite exemplos
Honestidade e
Solidariedade
Respeito
Paz
Bondade
Harmonia
Valores são
relativos: são
tipos de moral
implementada
Bom caráter
União
Atitudes
Amizade
26
por cada
família.
Felicidade
5.2. Quadro II - Respostas dos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II às
perguntas do questionário e suas respectivas frequências. Total de alunos: 15.
Questões Respostas obtidas
O que você entende por
valores?
Princípios ou
conceitos de
cada indivíduo
ou que são
ensinados.
É o significado
das coisas.
São regras da
sociedade que
devemos seguir
Crença ou
Característica
pessoal que você
pratica
São o que os
professores se
dedicam para
dar aula par a
gente.
Frequência 3 indivíduos 20%
2 indivíduos 13.3%
1 indivíduo 6.66%
8 indivíduos 53.3%
1 indivíduo 6.66%
Cite exemplos. (referente á pergunta 1,
acima)
Ética e Moral Ajudam os outros
Fazem os outros felizes
Honestidade Respeito - Amor ao próximo
- Ensinamentos de Deus - Família
Frequência 4 indivíduos 26.6%
1 indivíduo 6.66%
1 indivíduo 6.66%
2 indivíduos 13.3%
1 indivíduo 6.66%
Dente esses valores,
quais você acha que aprendeu/ aprende na
escola ?
Respeito (ou
respeitar ao
próximo,
espaço
público, etc..)
Dar valor à
pessoas e/ou
objetos
Educação Paciência - Experiência
de vida
- Ajudar
- Confiança
- Honestidade
Frequência de citações
6 citações 3 citações 5 citações 2 citações 1 citação (cada)
Quais valores você
acha que aprende/ aprendeu
nas aulas de ciências?
Curiosidade
ou observar e
analisar
coisas
Solidariedade
ou ajudar os
outros
- Como tudo
funciona
- Tudo sobre o
ser humano por
dentro e por
fora
Respeito ou
Caráter
Paciência
Frequência 2 indivíduos 13.3%
2 indivíduos 13.3%
4 indivíduos 26.6%
4 indivíduos 26.6%
1 indivíduo 6.66%
Que valores você gostaria
que seu
Valores que
ajudem na
Valores
principais,
DNA Queria que
abordasse como a
Fatos ou
informações
27
professor de ciências
abordasse? Por quê?
vida em
sociedade ou
para rotina
como a nota
que não
demonstra
inteligência.
ciência e religião
não se rivalizam,
se complementam.
mais fáceis de
entender
Frequência 3 indivíduos
20%
1 indivíduo
6.66%
1 indivíduo
6.66%
1 indivíduo
6.66%
2 indivíduos
13.3%
Você acha que o ensino de valores é importante?
Por quê quê?
Sim, para
termos base
para o futuro
ou para
quando
formos
maiores.
Sim, valores
são muito
importantes.
Sim, pois
definem uma
pessoa ou seu
caráter ou
personalidade.
Sim, nos ensina a
ser uma sociedade
melhor.
O presente trabalho buscou verificar a concepção que os alunos e
professores apresentam sobre o ensino de valores atrelado ao ensino de
ciências. Além disso, outro foco do trabalho foi identificar como este ensino era
aplicado e interpretado pelos respectivos alunos e docentes, assim como as
associações feitas junto ao conteúdo da disciplina.
Ainda, pretendeu-se promover a reflexão sobre o tema, coletando as
informações através de questionários e entrevistas, para que os diferentes
pontos de vista fossem comparados e debatidos, visando estabelecer relações
entre a percepção dos alunos e conduta dos professores, verificando se o
ensino de valores estava sendo incorporado à disciplina de ciências, como o
esperado. A análise foi dividida entre as duas entrevistas, as respostas do
questionário e uma análise geral.
Em relação ao questionário, foram confrontadas as respostas dos dois
anos e comparadas em cada questão. Apesar de muitos erros conceituais
sobre o que são valores, no geral os alunos conseguiram captar a ideia e a
importância deste ensino. Entretanto, no que se refere à relação com a
disciplina de ciências os alunos não conseguiram estabelecer uma relação
direta, e não aprofundaram suas respostas como pedido na questão. Também
foram encontradas respostas inesperadas que ressaltavam uma percepção e
28
maturidade que ia além do ensino de valores, ou foram citados muitos
conceitos inesperados que os alunos enxergam como um valor a ser
ensinado/aprendido.
Na primeira questão “O que você entende por valores? Cite exemplos”,
os alunos do sexto ano não se aprofundaram em conceitos de valores, já
citaram exemplos diretos do que consideram como valores, com exceção de
um dos alunos que citou que “valores são relativos, são tipos de moral
implementada por cada família.” Já os do nono ano citaram definições mais
específicas de valores como sendo “princípios ou conceitos de cada indivíduo,
ou que são ensinados” e que “são o que os professores se dedicam para dar
aula para gente”.
Foi interessante tanto a visão da família e dos professores ter aparecido,
entretanto não houve uma reposta que contemplava esta junção entre escola e
família, nas respostas aparece somente um deles, ao contrário do que defende
o autor Cordeiro (2009) explicita que de modo geral, a instituição familiar e a
escolar lidam com requisitos distintos e realizam atividades diferentes, mas
devem trabalhar juntas para a aprendizagem dos conteúdos e comportamentos
necessários para integrar o indivíduo na sociedade.
No que se refere aos exemplos citados de valores, no caso do sexto ano
os que mais apareceram foram ‘honestidade e solidariedade’, com 12 citações,
já no caso do nono ano a maioria foram citados ‘ética e moral’ com 26,6% (4
alunos). É interessante este contraste, pois foi o professor do nono ano que
citou o valor honestidade como sendo o principal valor para si. Mostra também
que os alunos não conseguem distinguir conceitos de valores, ética e moral.
Também foi citado pelos alunos do sexto ano: Respeito, Paz, Bondade,
Harmonia, União, Amizade, Atitudes, Alegria e Felicidade. Já o nono ano citou:
‘Ajudar os outros’, ‘Fazer os outros felizes’, Respeito, Amar ao próximo,
Ensinamentos de Deus, Família. Este resultado não era esperado, uma vez
que os alunos do sexto ano no geral se aproximaram mais dos conceitos
retratados pelos autores do referencial teórico do que os do nono ano.
É possível, de acordo com o referencial teórico associar alguns dos
valores citados pelos alunos, e relacioná-los com a ideia dos autores. De
29
acordo com Gouveia (2003) se encaixam em valores experimentais
(estimulação, emoções e prazer). Isso enfatiza o descobrimento e a apreciação
de novos estímulos ou sensações, foram citados pelos alunos: Alegria,
Felicidade, Amar ao próximo.
Já Fonseca (2006), aborda os valores Sociais, que se divide em valores
normativos (religiosidade, ordem social, tradição e obediência), com foco para
a vida social, estabilidade grupal, além de respeitar os símbolos e padrões
culturais que prevaleceram durante anos, tais como: Ensinamentos de Deus,
União, Respeito.
A segunda categoria é a dos valores interacionais (afetividade, apoio
social, convivência e honestidade), adotados por indivíduos que baseiam seus
interesses em se sentirem queridos, terem amizades verdadeiras, intimidade e
uma vida social ativa, neles se encaixam, por exemplo: Amizade, Bondade,
Fazer os outros felizes.
Quando questionados sobre a segunda questão, que perguntava quais
valores citados, eles haviam aprendido na escola, a maioria do sexto ano citou
novamente Honestidade, com 8 citações, já o nono ano citou 6 vezes o
respeito.
A “Honestidade”, é um valor que enfatiza um compromisso em relação
aos demais, permitindo manter um ambiente apropriado para as relações
interpessoais, as relações em si são consideradas metas (GOUVEIA, 2003). É
possível realizar uma associação com as falas de P1 e com suas abordagens
com os alunos que foram retratadas na entrevista, em que o docente promove
a constante reflexão dos atos dos alunos uns com os outros, talvez sendo um
indicador deste valor ser o mais citado e ser de relevância de convívio social
como é o cotidiano escolar.
O que chamou a atenção nesta questão foi que muitos conceitos,
considerados como valores foram ressaltados pelos alunos, mesmo sem terem
sido indicados na primeira questão. Principalmente no caso do nono ano que
foram indicados como valores que aprendem na escola: Educação, Paciência,
Ajudar, Experiência de vida, Confiança e dar valor às pessoas e objetos.
30
Tais exemplos não podem ser considerados valores, comprovando o
que Gouveia (2003), explica que valores são constantemente considerados
como atitudes, crenças, metas e preferências, tornando possível a
generalização do que são os valores.
Uma resposta no sexto ano chamou a atenção, o aluno respondeu que:
“A maioria dos meus valores foram criados fora da escola, tanto é que conflita
com os da escola (ateísmo, pró-gays, pró-abortos)”. É uma manifestação
interessante do ponto de vista do aluno, que se mostra não compactuar com os
valores abordados na escola, e ainda cita de exemplos do que ele presencia e
não concorda.
É possível também realizar uma associação com a entrevista de P2, foi
abordado diversas vezes pelo docente a insatisfação com questões sociais,
citando como exemplos a discriminação, situações do cotidiano escolar como o
bullyng, relação homoafetiva e influência da mídia e programas
sensacionalistas. Esta colocação do aluno pode indicar a postura da escola,
pois também apareceu na entrevista de P2, mesmo não lecionando para a
série do aluno em questão.
Na questão que trata especificamente do ensino de ciências, os alunos
foram questionados sobre os valores que aprendem diretamente vinculados à
esta disciplina. A maioria de ambos os anos não citou nenhum valor específico,
que foi citado anteriormente em suas respostas das questões anteriores ou
pelo referencial teórico.
Dentre os alunos do sexto ano, 12,5% citaram algo relacionado
diretamente à disciplina, como ‘cuidar da natureza ou do planeta’, já 18.8%
citaram respeito e 43,8% citaram ‘outros’ (Harmonia, Educação, Solidariedade,
União, Paz, ser legal, Consciência). Os do nono ano tiveram a sua maioria com
6 citações a ‘curiosidade ou observar e analisar coisas’, e com 5 citações
‘tudo sobre o ser humano por dentro e por fora’.
O ensino de ciências, deve auxiliar na aprendizagem de conceitos
científicos e de aspectos relativos à natureza da ciência, e a terceira consiste
em encorajar os alunos a relacionar suas experiências escolares em ciências
com problemas do cotidiano (SANTOS, 2007). No caso essa prática não é
31
aparente na resposta dos alunos, indicando que os estudantes (tanto do sexto
quanto do nono) não relacionaram diretamente os valores com a disciplina,
simplesmente citaram pontos do conteúdo que têm em sala de aula como
‘valor’.
Na questão “Que valores você gostaria que seu professor de ciências
abordasse? Por quê?”, para o sexto ano, a maioria de 31,1% dos alunos disse
que não era necessário “nenhum, pois a professora é legal, ou é boa, ou já
ensina todos”. Já 25% citaram ‘Outros valores’ (Honestidade, Cuidar da
Natureza, Amor, Atitudes corretas), e um indivíduo respondeu que o professor
deveria “ Explicar mais a matéria, porque eu acho que nem sempre do jeito que
eles explicam dá pra entender” .
Nesta questão fica evidente parte da satisfação dos alunos com o
desempenho da professora, contrastando com um dos alunos que manifestou
sua dificuldade em entender o conteúdo da disciplina. Entretanto, o objetivo da
questão não foi cumprido, pois nenhum aluno realizou uma justificativa sobre
os valores (ou conceito de valores) citados, como exigia a questão.
Já o nono ano teve a maioria, expressa em 20% alegando que gostaria
que o docente abordasse “Valores que ajudem na vida em sociedade ou para
rotina”, esta resposta retrata o que Santos (2007) enfatiza sobre o educador,
ele deve buscar o desenvolvimento de atitudes e valores aliados à capacidade
de tomada de decisões responsáveis diante de situações reais, com isso,
procura-se, por meio da contextualização temática, desenvolver valores e
atitudes comprometidos com a cidadania.
Ainda, 13,3% citaram, que era necessário abordar “fatos ou informações
mais fáceis de entender”, também expressando a dificuldade com a matéria de
Ciências. Outras respostas, cada uma com 6,66% foram interessantes e muito
particulares, apontando conceitos que ultrapassam o ensino de valores. Um
dos alunos respondeu que o professor deveria abordar “Valores principais,
como a nota que não demonstra inteligência” e por outro estudante outro caso
foi apontado: “Queria que abordasse como a ciência e religião não se rivalizam,
se complementam.”
32
Isso mostra que de alguma forma os alunos do nono ano conseguiram
promover a reflexão do tema, de modo que expressam sua opinião através de
suas respostas, mostrando sua capacidade de analisar e julgar os fatos
abordados nas aulas de ciências e na escola.
Estas respostas expressam e vão de acordo com o que é proposto
através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), sendo para o ensino
fundamental, a disciplina de Ciências Naturais deve enfatizar conteúdos
socialmente relevantes e processos de discussão coletiva de temas e
problemas de significado e importância reais. Dessa forma, o aprendizado deve
contribuir não só para o conhecimento técnico, mas também para uma cultura
mais ampla, desenvolvendo meios para a interpretação de fatos naturais, a
compreensão de procedimentos do cotidiano social e profissional (BRASIL,
1996).
Na última questão do questionário, quando foi perguntado se achavam
que o ensino de valores era importante, os alunos do sexto ano disseram na
sua maioria (33,3%), que: “Sim, pois definem uma pessoa ou seu caráter ou
personalidade”, já 26,6% apontaram que “Sim, para termos base para o futuro
ou para quando formos maiores”. No nono ano, a maioria empatou em 31,3%
que ressaltou que “Sim com justificativa citando algum valor específico” e “Sim,
para ser melhor (cidadão, pessoa, etc.)”. Em segundo lugar foi dito por 25%
que “Sim, para o futuro ser melhor ou para ir para um bom caminho”. Não
houve em nenhuma das duas séries uma resposta negativa.
É possível ressaltar este ponto em comum entre as duas séries que
todas as respostas apontaram para questões de formação de personalidade e
caráter, visando o futuro adulto, demonstrando entenderem a importância do
ensino de valores como um ‘guia’ para sua formação pessoal, concordando
com a ideia de Voss (2013) que os valores devem ser referências para
escolhas e devem ser compartilhados coletivamente, e que o educando pode
aprofundar e abordar tais valores em sala de aula.
Entretanto, não é possível julgar diretamente o papel do educador de
ciências ou da escola através deste questionário, mas é possível supor, apesar
33
do conflito de respostas e do conceito de valores, que a ideia geral os alunos
conseguiram identificar.
5.3. Entrevista P1
Este docente leciona para a turma de sexto ano e mostrou maior clareza
sobre a ideia geral do ensino de valores, mas não soube pontuar valores
específicos, ressaltando mais situações e exemplos referentes à indisciplina
dos alunos em sala de aula. Esta ideia é abordada por Aquino (1996) que
ressalta que, atualmente, o ensino tem como obstáculo a conduta desordenada
dos alunos, traduzida em termos como: bagunça, desordem, maus
comportamentos e desrespeito às figuras de autoridade.
Isto fica aparente na fala de P1 quando é questionado sobre situações
em suas aulas de ciências em que aplicava o ensino de valores, ressaltando a
postura dos alunos e faz relação com a ausência familiar:
“[...]Eu costumava falar uma vez só, mesmo com os alunos, “para, a
brincadeira acabou, tal”, sempre assim num tom não de agressão nem de
imposição, mas fazer o aluno ser levado a pensar que aquele momento é para
ele estar aprendendo, não brincando, eu vejo isso muito pela ausência dos
pais, realmente, como eles ficam muito ausentes eles tentam compensar essa
ausência com a permissividade [...]”
O professor apontou bastante o papel da família no processo de ensino
de valores ao longo da entrevista, ressaltando que a escola é apenas um
complemento, dando a entender que a responsabilidade é mais atrelada ao
convívio familiar para formar valores e princípios, como foi dito na entrevista
quando foi perguntado se escola e/ou família deveriam abordar o ensino de
valores:
“[...] Eu acho que é mais importante a família, a escola só vai
complementar, e é o que eu sempre falo, para mim é o exemplo né, você não
precisa fala muito, mas a sua atitude, é a sua forma de agir na sala”
“[...] eu vejo a família hoje, dentro da minha visão de muito tempo de
aula, eu vejo a família um pouco omissa hoje, um pouco ausente, e não e só
34
culpa da família, é que atribuição dos pais hoje é muito grande, na luta pela
sobrevivência, por querer dar o melhor pros filhos, eu creio, então eles ficam
atolados em trabalho e ausência física e isso eu acho que reflete no
comportamento dos alunos né.[...]”
Esta afirmação de P1 sugere que atualmente os pais não estão
conseguindo acompanhar o crescimento e formação dos filhos,
comprometendo diretamente no seu desenvolvimento e educação. Ao longo da
entrevista, a pesquisadora perguntou à P1 se achava que a família transferia
para a escola a responsabilidade de educar, e o docente respondeu de modo
afirmativo, ressaltando novamente que a escola tem que ensinar sim valores,
mas é um complemento do núcleo familiar, que não pode ser substituído
somente com a escola.
Sua fala concorda com a ideia trazida por Cordeiro (2009), afirmando
que atualmente, os educadores têm a tendência de supor que a família é
responsável pela tarefa de ensinar hábitos, comportamentos e valores para as
crianças. Por conta disso, a escola se vê no papel de ensinar tudo, e a principal
reclamação é que as famílias estão transferindo a responsabilidade de educar
para a escola.
O autor também explicita que, de modo geral, a instituição familiar e a
escolar lidam com requisitos distintos e realizam atividades diferentes, mas
devem trabalhar juntas para a aprendizagem dos conteúdos e comportamentos
necessários para integrar o indivíduo na sociedade (CORDEIRO, 2009). O
educador também foi questionado sobre este assunto, se havia diferenças
entre valores que a família poderia ensinar e a escola não, sobre isso, P1 disse
que:
“Sim eu acho que existe, principalmente em algumas escolhas, não só
creio que é diferente, porque, por exemplo, a escolha de uma religião,
depende muito da família, da etnia da família, se são judeus se não são,
alguns são católicos outros não, mas a gente aborda e respeita essa
diferença né, porque é uma opção da família, acho que nesse item a escola
só tem que dar o exemplo para que ele possa ter um parâmetro de
comparação e depois quando adulto, talvez, faça uma escolha”.
35
Considerando esta afirmação é possível visualizar que P1 faz menção
ao valor de Religiosidade, sendo reconhecida a existência de uma entidade
superior, através da qual as pessoas podem lograr a certeza e a harmonia
social requeridas para uma vida pacífica (GOUVEIA, 2003). Entretanto, não é
possível afirmar que este seja um valor exclusivamente vindo da família, como
é insinuado pelo professor.
Outro ponto, é a relação entre crianças e educador, quando não são
cobradas em seu cotidiano, perdem a noção do que é responsabilidade,
encontrando este limite no convívio escolar, e na figura do professor, quando
são cobradas em relação ao material, uma tarefa, ou postura. (CORTELLA,
2015). O entrevistado ressalta quando questionado sobre a diferença entre
valores e disciplina:
“ Olha, eu acho que problemas de indisciplina é falta de limites, os
alunos normalmente acatam muito a palavra do professor, podem até não
manifestar se é positivo ou não, se é aceito ou não, mas ouvem entendeu? [...]
a criança testa o adulto, criança gosta de limite, eles testam, isso eu passei na
minha geração com meus filhos, é um trabalho conjunto, trabalho da escola e
da família, se a família não é coerente com o que você coloca na escola ele (o
aluno) fica dividido e não consegue chegar em lugar nenhum, principalmente
nessa fase do Fundamental II, que eles tão formando opinião [...]”
É possível apontar uma incoerência nas falas de P1, anteriormente foi
ressaltado pelo docente constantemente uma responsabilidade maior por parte
da família, concordando que a educação, e especificamente do ensino de
valores, fica a cargo da escola. Porém na frase acima, P1 diz que o trabalho de
instruir o aluno e discipliná-lo é um trabalho conjunto entre família e escola,
apontando a coerência ou divergência de objetivos, que influenciam e podem
ocasionar confusão no aluno que está formando opiniões nesta fase escolar.
Quando perguntado para P1 como aplicava valores em suas aulas de
ciências, é possível visualizar dois pontos importantes em sua fala, um em
relação ao papel do educador e outro sobre a contextualização do tema de
valores atrelado à disciplina:
36
“[...] eu aplico assim, existem coisa principalmente na área da biologia e
ciências que são coisas que são vertentes diferentes por pensamentos
diferentes de muitos teóricos o mais importante é que eles vejam todos os
pontos e que dentro da visão deles, eles consigam fazer a escolha mais
assertiva entendeu? [...]”
De acordo com Puig (2004), o papel do educador, é o de ensinar a
julgar, a escolher entre um sistema de valores, construído na dialógica “sujeito
e comunidade”, por meio da qual a vida acontece concretamente.
Considerando a resposta de P1, é possível afirmar que aparentemente este
conceito faz parte da sua metodologia em sala de aula.
Na sua fala acima, P1 também retrata uma medida da contextualização
do conteúdo disciplinar atrelado ao ensino de valores, que é ressaltada pelo
autor Santos (2007), que consiste em abordar o desenvolvimento de atitudes e
valores em uma perspectiva humanística diante das questões sociais relativas
à ciência e à tecnologia.
Ao longo da entrevista P1 citou lealdade e responsabilidade, como
sendo valores em que acredita e aplica com seus alunos, sendo essenciais
para o cotidiano escolar. Também faz menção ao valor da “Obediência” e
“Respeito” evidenciando a ideia de Gouveia (2003) que aborda a importância
de cumprir deveres e obrigações diárias, além de respeitar aos pais e aos mais
velhos, sendo uma questão de conduta individual.
Entretanto, em alguns momentos, P1 ressaltou a questão da imaturidade
de alguns alunos, evidenciando que nestes casos a intervenção do professor
não é eficaz quando tenta abordar o ensino de valores. A maturidade (ou falta
dela) é um dos valores retratado por Fonseca (2006), dentro da classificação
de valores suprapessoais. Nestes casos, o objetivo é alcançar ideais
independentes do grupo ou condição social, com o objetivo de estabelecer
relações. Segue a fala de P1:
“[...] alguns amadurecem conseguem perceber, outros mais raros
infelizmente passam pelo professor um ano, dois anos, e você não vê muita
mudança [...]”
37
Ainda em outro momento, o docente cita a questão do grupo, como é
observado no trecho abaixo, trazendo a ideia geral dos valores sociais, que são
direcionados aos demais, como alguém que busca ser incluso em algo, com
foco para a vida social e estabilidade grupal.
“[...] tem que ganha a atenção do grupo tem que ser aceito pelo grupo, e
nem sempre as coisas certas.. As vezes são ‘’caretas’’ para eles, é velho,
antigo, eles ficam amedrontados, não que eles não queiram fazer, mas pelo
grupo, eles se pressionam para tenta ganhar confiança, aparecer um
pouquinho para formar um pouco mais a personalidade [...]”
5.4. Entrevista P2
A entrevista com o segundo docente que leciona para o 9º ano, mostrou-
se mais distante do esperado com base no referencial teórico e estudos sobre
o tema. Ao longo da entrevista, P2 ressaltou exemplos e conceitos que não
tinham relação com as perguntas que foram realizadas, muita vezes fugindo do
tema. Na primeira questão quando questionado qual seria a sua definição de
valores, o professor respondeu de modo vago, afirmando que era algo
relacionado à ética e princípios morais, que a pessoa tem que crescer e
praticar.
Entretanto, P2 ressalta o valor da Honestidade como um dos mais
importantes para ele, como aponta na fala a seguir:
“Ah, eu acho que a honestidade né, muitas vezes o cara..tem que ver a
postura dele. Em sala faz muito tempo que eu não observo, mas tem muito
cara que quer levar vantagem né, com relação à cola, por exemplo, e é um ato
desonesto. É um principio básico”
É possível encontrar a honestidade dentro dos valores interacionais,
juntamente com afetividade e apoio social. Enfatiza um compromisso em
relação aos demais, permitindo manter um ambiente apropriado para as
relações interpessoais, as relações em si são consideradas metas (GOUVEIA,
2003). Porém, na fala de P2 é possível notar que Honestidade é algo
“essencial”, não considera que é um valor que pode ou não ser adotado pelo
38
indivíduo, também fica clara a crítica à postura dos alunos que não possuem
atitudes ‘honestas’ no cotidiano escolar, citando o ato de colar em provas como
exemplo desta conduta sem o valor que ressaltou.
Quando questionado sobre o ensino de valores em relação à família, P2
mostrou uma postura coerente com o que é defendido por Cordeiro (2009), que
retrata a visão do educador atribuindo a responsabilidade de ensinar
comportamentos e valores à família, promovendo claramente uma separação
radical entre educar e instruir, na qual entende-se que a escola e os
professores só deveriam encarregar-se da instrução, ou seja, fornecer
informação, saberes, conteúdos intelectuais e modos de fazer. Isto fica
aparente no trecho abaixo:
“Os familiares cobram da escola uma coisa que é função da família. Uma
coisa que é função da família né o moleque vai ser filho a vida toda, mas vai
ser meu aluno quanto tempo? Comigo, ele vai passar dois anos não é nem
todo dia..não dá para transferir isso, é uma coisa de valor, que tem se
deteriorado, e muita coisa acaba sendo permissivo, a família tem permitido
coisa que antigamente não era permitido, então sempre em busca de
vantagem, né, muitas vezes o pai e a mãe fala que pode puxar a orelha dele,
mas na hora do “vamo vê” quando tem que envolver disciplina, ao invés de ter
o respaldo da família, você tem a família contra a escola ou professor, então
não é assim. Na teoria, você até tem o apoio, mas na prática você não tem o
respaldo. Então a gente vê que a família tem se deteriorado.”
“Antes tinha, você tinha cobrança, e retorno melhor, tinha mais respaldo
da família, ela era mais presente, acho que se justificavam menos as coisas, o
aluno indisciplinado, ele era disciplinado em casa, hoje em dia o cara né..”
O professor se mostra aparentemente bem radical nesta separação
entre família e escola, ressaltando que ‘muitas vezes’ a família está contra a
escola e professor, deixando claro que considera dois núcleos de educação
divergentes. Novamente seguindo o raciocínio de Cordeiro (2009), esta
separação é impossível, uma vez que quem instrui também educa; além disso,
é indesejável que se faça esta distinção, visto que pode trazer perdas para o
39
campo da educação, e diminuir o papel das escolas, que poderiam chegar a se
tornar dispensáveis no futuro.
Outro ponto importante é que P2 ressalta que a família ‘transfere’ a
tarefa de ensinar valores para a escola, e utiliza o argumento do breve período
em que passará convivendo com cada aluno para justificar a causa da pouca
eficácia de atribuir ensino de valores ao cotidiano escolar. Esta colocação vai
contra o que consta no artigo 2º da LDB (BRASIL, 1996), que defende que o
ensino de valores é o objetivo da educação escolar, juntamente com a
aquisição de novos conhecimentos, competências e habilidades, e tal ensino
deve estar presente desde a educação básica até o ensino médio, com
diferentes focos e objetivos.
Em diversos momentos da entrevista, P2 citou diversos exemplos de sua
conduta dentro de aula cobrando os alunos, sobre a realização de tarefas,
provas e comprometimento dos alunos ao longo do ano letivo, ressaltando as
posturas que ele considera, segundo suas respostas, inadequadas para o
desenvolvimento do aprendizado do aluno, o entrevistado ressalta:
“[...] Tem tarefas pra fazer e não faz, e tem as mais diversas desculpas
né. Outro dia, passei uma atividade, e aluna né..perguntei para ela: “Vamos
falar honestamente, você fez de conta, e achou que me enganou né?, e ela
balançou a cabeça (positivamente)” então, eu espero que em uma próxima vez
ela tenho outra postura, porque ela foi alertada para esse tipo de coisa, e eu
percebi, então quando acontecer uma situação similar, que ela tenha uma
postura diferente, isso foi aqui, não foi em casa, mas acho que a família é
fundamental no processo [...]”
Neste caso, é possível notar uma incoerência no método de P2, pois é
apontado por ele ao longo da entrevista a sua insatisfação com a falta de
compromisso que os alunos manifestam em suas aulas, mas quando percebe
uma situação em que o aluno ‘colou’, copiou o exercício de alguém ou
simplesmente não fez o que foi solicitado pelo docente, a postura que deve ser
adotada é aparentemente torcer par que no futuro o aluno não repita a atitude.
Isto fica claro quando P2 é questionado sobre sua conduta quando ele verifica
40
casos em que detecta que o aluno não está produzindo, ou está copiando um
trabalho dado de outro colega:
“ [...] um aluno que não faz a tarefa perdeu duas vezes, ele perdeu
porque não aprendeu, não estudou, então ele já foi punido; e aí né, isso pode ir
somando, não fez uma, não fez duas, três, e no final da etapa ele deixou de
ganhar quanto? Então ele já foi punido né. ”
Sendo assim, é possível afirmar que P2 não está de acordo com o que
aponta Kuiava e Sangalli (2008), o docente deve orientar o aluno para que
saiba estabelecer relações, justificar, analisar, criar, compreender e transformar
o mundo em que vive, considerando valores éticos e responsabilidade social.
Na suas falas parece adotar uma postura individualista e não integrar junto ao
aluno o processo de ensino-aprendizgem de valores.
O professor mostrou bastante insatisfação e citou mais de uma vez a
questão da influência da sociedade e como a postura das famílias mudou em
relação à educação de seus filhos, P2 demonstrou que esses fatores
influenciam diretamente na formação do indivíduo. É possível visualizar nos
trechos abaixo quando P2 foi questionado se achava que os valores haviam se
deteriorado, e se achava que no passado o ensino de valores era melhor:
“Tudo questão do valor da sociedade, por influenciados meios de
comunicação, a televisão tem uma série de programas que a molecada tem
acesso, que pelo contrário, não favorece, prejudica a educação, tipo “Big
Brother Brasil”, por exemplo, que tipo de benefício que tem? Apesar de ser um
jogo, é um jogo que vale tudo, vale o cara trocar de parceiro toda hora,
vulgarização; vale o cara armar uma estratégia para passar a perna no outro,
para conquistar alguma coisa, então mostra situações que não tem nada de
benefício, você vê na novela, tipo programa Pânico, então vai juntando uma
série de coisas, e isso vai entrando na cabeça como se fosse a coisa mais
natural do mundo, então, posturas que antes eram consideradas ruins vão
entrando no meio da sociedade como natural e o valor vai se perdendo aí.”
“[...] o problema é que a sociedade ta entendendo como uma
coisa...acho que mudaram a postura em relação aos valores, o que era uma
coisa errada hoje é normal [...]”
41
Este ponto de vista de P2 pode ser relacionado com a ideia ressaltada
por Cortella (2015), que ocorre uma inversão de valores preocupantes na
realidade escolar atual, há muitas crianças com atitudes independente das
circunstâncias e das outras pessoas, perdem a noção do que é
responsabilidade, encontrando este limite no convívio escolar, e na figura do
professor, quando são cobradas em relação ao material, uma tarefa, ou
postura. Na sua fala P2 evidencia sua insatisfação com a postura do alunos e
da sociedade atualmente, e deixa claro que é um fator que compromete a
postura dos alunos e as situações do cotidiano escolar.
Quando foi perguntado para P2 como aplicava valores em suas aulas, e
como lidava com a postura dos alunos relacionada a este ensino, foram citados
diversos episódios referentes à cobrança de tarefas, notas, aprovação e
reprovação na disciplina, mas fez uma sutil relação com alguns valores vistos
no referencial como igualdade e novamente com honestidade.
“[...] o aluno perguntou: “a professor, se eu ficar por 5,9, você me
passa?”, aí eu pergunto: você fez tudo que tinha que fazer ao longo do ano?
Então, aí eu mudo né? Não sou eu que tenho obrigação de dar, quer dizer, ele
tem q perceber que não é 0,1 e que também não seria só para ele. Porque ai
eles dizem: “aah é só pra mim”, mas não, não é só para você, se for para você
tem que ser para todo mundo, porque o critério tem que ser igual, né? Porque
você tem que ser o privilegiado e os outros não? O critério tem que ser geral,
não pode ter proteção. Eu mesmo tenho hábito de corrigir prova, e eu não
costumo ver quem é o aluno, depois, quando tem um comentário absurdo, ou
hilário, estranho, aí sim eu me preocupo de ver que é, mas se acontecer, mas
normalmente não.”
“[...] E tem aluno que faz que é comprometido, que fala: “professor tentei
fazer..”, ele pesquisa, tira duvida, mas tem outros que só apresentam o
negócio, e copiou de alguém, e você, professor, não tem como aferir isso né?
Você pode perguntar: Fala pra mim, foi você que fez? E ele diz: “copiei
professor”, tem uns que são até honestos, mas nesse aspecto é até positivo,
ele assume que copiou né, por um lado positivo por outro lado, tem a postura
ruim, você vê que ele não aproveitou, e agora tem aquele que não faz, copia e
não assume, e não foi benéfico para ele, foi só em função do ponto [...]”
42
Para Ronca e Gonçalves (1999), é necessário que o ensino de valores
se torne objeto de reflexão de diferentes ciências escolares, como a História,
Geografia e Ciências Naturais, especialmente no que diz respeito a valores
como liberdade, respeito, justiça e igualdade. Apesar de P2 demonstrar o
conceito de igualdade, na questão do critério de nota “para todos ou para
nenhum”, ele não demonstra em momento nenhum que estimula o aluno a
refletir ou repensar nas suas ações, novamente vemos uma atitude de
cobrança, em que o docente acaba demonstrando uma visão de julgamento na
postura dos alunos quanto à questão do seu comportamento em sala de aula.
Muitas vezes o professor não respondeu às questões com os
argumentos esperados, quando questionado sobre quais valores a escola
deveria abordar, P2 citou casos de TDAH e bullyng, e quando foi perguntada a
diferença entra valores e disciplina o docente citou a questão da discriminação
e bens materiais, como é exposto nos trechos abaixo:
“ [...] hoje tem muito esse negócio do bullyng, e infelizmente eles
exploram isso, qualquer coisa pra ele é bullyng, “ah isso é bullyng professor”,
então às vezes o aluno usa de artifício para justificar algo que não deveria, nós
temos alunos com TDAH, né, e tive um caso em que o aluno não fazia o que
tinha que fazer, aí você cobra dele e ele diz “não me cobra que eu tenho
TDAH”, e para mim isso é muleta, então quer dizer, já que você tem, você não
vai fazer nada? [..]”
“ [...] diferença social já tivemos mais, hoje ta bem nivelado claro que
tem gente que tem muita dificuldade de manutenção, e percebe que a
diferença relativamente grande...existe discriminação? pode ser que exista,
mas não é acintosa, ai a escola vai tomar uma providencia ou a coordenadora
ou orientadora, seja uma atitude inconveniente né de um aluno em relação a
pessoa que tenha a diferença social, tem aluno que o celular hoje todo mundo
tem, mas tem outros que não tem, tem aluno que tem o top e outros não tem.
Mas acho que a escola quando percebe essas coisas ela intervém, vai tomar
uma providencia [...]”
Estas colocações demonstram uma falta de clareza e conhecimento do
tema, e pode ser associado ao que Gouveia (2003), defende dizendo que os
43
valores têm sido considerados como tipos específicos de atitudes, crenças,
metas e preferências. Desta forma, os valores devem ser pensados fora destes
tipos de categorização, caso contrário família e trabalho, seriam considerados
como valores.
6. Conclusão
Neste trabalho pretendeu-se compreender, por meio de verificação,
coleta de dados e análise, os conceitos e interpretações do ensino de valores
atrelados ao ensino de ciências, em uma escola específica da cidade de São
Paulo. A finalidade foi identificar e contrastar os diferentes pontos de vista e
percepções deste tema entre alunos e professores, a fim de identificar como é
este ensino na prática do cotidiano escolar da escola e salas estudadas.
Visto que o trabalho foi desenvolvido em uma escola em particular, e
considerando o número de integrantes participantes da coleta de dados, é
importante destacar que as conclusões obtidas não podem ser consideradas
válidas ou absolutas para quaisquer alunos do Ensino Fundamental de outras
escolas.
Para atingir o objetivo proposto foi utilizado um questionário, com 31
alunos participando da pesquisa. Esse questionário era constituído por
perguntas abertas e diretas com foco nos conceitos de valores, sua importância
e associação com a disciplina de ciências. Também foi realizada uma
entrevista semi-estruturada, com perguntas direcionadas ao ensino de valores
diretamente associados à conduta que cada docente adota em sala de aula.
Os resultados tiveram sua organização de dados coletados em quadro, a
fim de possibilitar a visualização das possíveis respostas a uma mesma
pergunta, assim como comparar a quantidade de alunos que citaram a mesma
resposta e/ou porcentagem de alunos que responderam igualmente uma
mesma questão.
Tendo em vista os resultados obtidos e a discussão dos mesmos é
possível concluir que há um problema de conceitos e de identificação do que é
um valor e quais são eles, tanto por parte de alunos quanto de professores, as
respostas se mostraram geralmente vagas e sem argumentação. Também é
relevante ressaltar que os próprios autores e diretrizes (como LDB e PCNs)
44
trazem conceitos amplos e superficiais, muitas vezes não especificam quais
valores seriam relevantes para o ensino, ou quais os docentes, escola e família
deveriam abordar, tal fato também limitou a análise dos dados coletados.
Ainda, notou-se que grande parte dos alunos não conseguiu explicar de
modo concreto e prático, quais valores aprendem na escola e, especificamente
na disciplina de ciências, a associação do ensino de valor com o conteúdo
disciplinar científico não ocorre, como proposto e ressaltado pelos diversos
autores selecionados no referencial teórico.
No caso dos professores, ficou evidente a grande atribuição que o
ensino de valores deve ter dentro da convivência familiar, mostrando através
de suas respostas na entrevista posturas incoerentes frente a este tema,
enxergam a escola como complemento ou extensão do ensino que, é de
responsabilidade familiar, e não como um ensino conjunto entre escola e
família, que novamente é uma ideia defendida entra os autores do referencial
do presente trabalho. Aparentemente, isentam a função da escola, que é
essencial neste ensino, contribuindo diretamente para a formação de um
indivíduo que irá integrar a sociedade.
No que se refere a exemplos de valores e situações em que identificam
valores, tanto alunos quanto professores citaram conceitos como ética e moral,
religião e características pessoais como sendo valores. Isto demonstra não só
a confusão conceitual, como a sua prática não-eficaz, pois não foi coletado
nenhuma situação concreta em que o ensino de valores foi aplicado de
maneira esperada.
O aspecto mais relevante que pode ser tirado dessa análise é a
necessidade não apenas de uma reflexão sobre o tema, mas uma grande
atenção a sua prática, principalmente por parte do docente e da escola, para
que seja possível promover mudanças e maior clareza na abordagem deste
ensino.
A principal modificação deve ser a visão do docente agregada ao ensino
da família, para que juntos consigam promover a formação e desenvolvimento
pessoal de cada aluno, fornecendo valores que o ensinem a julgar, formar
conceitos e realizar escolhas para seu futuro. Enquanto o professor assumir
que não é de sua responsabilidade, ou da escola, se envolver neste ensino, os
alunos serão prejudicados e privados de promoverem reflexões e experiências
45
sociais particulares que a escola proporciona, comprometendo sua formação
como indivíduo, da sua personalidade e caráter.
46
7. Referências Bibliográficas
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47
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48
8. Apêndices
8.1. Apêndice 1 – Questionário
1) O que você entende por valores? Cite exemplos.
2) Dentre esses valores, quais você acha que aprendeu/aprende na escola?
3) Quais valores você acha que aprendeu/aprende nas aulas de ciências?
4) Que valores você gostaria que seu professor de ciências abordasse? Por
quê?
5) Você acha que o ensino de valores é importante? Por quê?
8.2. Apêndice 2 – Entrevistas
8.2.1. Entrevista P1 – Professor (a) 6º Ano
1. O que você entende por valores?
Eu entendo por valor aquilo que eu consigo aplicar dentro dos
ensinamentos que eu tive, vivenciar esses valores, não é só ter valor, mas
sim...para mim a melhor maneira de ensinar é o exemplo, meus pais
fizeram isso, me passaram muitos valores que eu aplico e que passei
adiante não só para meus filhos, mas como também no trabalho e na minha
vida profissional.
2. Quais são os valores mais importantes para você?
Eu considero muito importante a lealdade, sabe? E a verdade em si, né ser
leal em tudo que você faz para mim é um Norte, para mim é muito importante
isso.
49
3. O ensino de valores deve ser abordado pela escola? E pela família?
Explique.
Eu acho que é mais importante a família a escola só vai complementar, e é o
que eu sempre falo, para mim é o exemplo né, você não precisa fala muito,
mas a sua atitude, a sua forma de agir na sala com eles, quando um aluno irrita
o outro, quando ele provoca o outro, quando ele tira uma brincadeira que não é
interessante, não é boa para o colega, nesse momento eu aproveito sempre
para poder tá misturando alguma coisinha comparando, “olha, você gostaria
que fosse com você ou não?”, então a gente trabalha um pouquinho essa parte
na ação deles mesmo, dentro da aula e do cotidiano. Eu vejo a família hoje,
dentro da minha visão de muito tempo de aula, eu vejo a família um pouco
omissa hoje, um pouco ausente, e não e só culpa da família, é que atribuição
dos pais hoje é muito grande, na luta pela sobrevivência, por querer dar o
melhor pros filhos, eu creio, então eles ficam atolados em trabalho e ausência
física e isso eu acho que reflete no comportamento dos alunos né.
Pesquisadora: Você acha que a família transmite para a escola a
responsabilidade de educar?
Eu creio que sim, eu creio primeiro no princípio familiar, né a escola é
uma extensão, ela não pode substituir a família, mas ela tem que aplicar
valores também.
Pesquisadora: Você acha que é diferente, os valores que a família pode
aplicar dos valores que a escola aborda? Existe essa diferença?
Sim eu acho que existe, principalmente em algumas escolhas, não só creio
que é diferente, porque, por exemplo, a escolha de uma religião, depende
muito da família, da etnia da família, se são judeus se não são, alguns são
católicos outros não, mas a gente aborda e respeita essa diferença né, porque
é uma opção da família, acho que nesse item a escola só tem que dar o
exemplo para que ele possa ter um parâmetro de comparação e depois quando
adulto, talvez, faça uma escolha.
50
4. Você trabalha com ensino de valores em suas aulas?
Também sempre a transparência, a verdade, a possibilidade deles
terem...eu aplico assim, existem coisa principalmente na área da biologia e
ciências que são coisas que são vertentes diferentes por pensamentos
diferentes de muitos teóricos o mais importante é que eles vejam todos e que
dentro da visão deles, eles consigam fazer a escolha mais assertiva entendeu,
eu transfiro, não impostamente o “meu valor e esse!”, mais eu conheço
esses...aí eles me perguntam: qual que é o seu professora? Qual sua opção?
Aí eu penso assim, eu acredito no Criacionismo, principalmente nisso, nessa
abordagem eles perguntam mesmo, eles querem uma referencia né, então eu,
depois que eu explico todas as vertentes eu me posiciono quando eles me
perguntam, se eles não me perguntam também eu me mantenho imparcial.
5. Conte um episódio (atividade) em que fique clara a proposta de
ensino de valores.
Olha,, eu acho que são mais problemas de indisciplina..é falta de limites,
eles normalmente acatam muito a palavra do professor, podem até não
manifestar se é positivo ou não, se é aceito ou não, mas ouvem entendeu? Eu
nunca tive nenhum questionamento quando me posicionei assim em respeito
de falta de respeito com colega, com bullyng, alguma coisa, quando eu faço a
orientação eu percebo que ele reflete naquilo e nunca manifestou uma situação
contrária, pelo menos eu nunca tive esse tipo de problema, entendeu eu
sempre senti que houve aceitação se total, ou não pelo menos ele ouviu e aí
refletiu e normalmente todas essas intervenções que eu fiz mais sérias, eu não
vi reincidência, acho que de alguma forma serviu; sem melindrar o aluno
também porque você tem que ter um cuidado enorme para falar e abordar, e
para ele pensar: “pensa se você gostaria que fosse com você”, né a melhor
maneira para a gente entender o que fez de errado é se pondo no lugar do
outro, como você reagiria, se ele ia gostar se ia se sentir confortável, sempre
transferindo para eles a situação e ver como ele se posicionaria, então nunca
tive nenhum questionamento assim de me testar até o final, né, graças a Deus
51
não, sempre foi bem aberto o diálogo, e deixei no ar e o aluno ficou pensando,
e acho que de alguma forma semeia alguma verdade.
6. Que valores você acha que deveriam ser abordados nas escolas?
Por exemplo, assumir um erro, fazer uma coisa errada, a responsabilidade
né, eu tenho que falar eu errei, não tive essa intenção, ou xinguei um colega foi
uma ação impensada, acho que o assumir tanto para a criança e mesmo o
adulto ta meio difícil a gente vê pessoas querendo transferir responsabilidade
pro outro, não assume verdadeiramente seu papel, porque se acerta “legal”,
mas quando erra também tem que ser “legal” você tem que assumir, se eu
errei, vou recomeçar, recuperar o que eu fiz de errado, e hoje a gente não vê
muito isso, as pessoas passam por cima um dos outros. A competição também
nem sempre é leal, a competição é sadia quando é leal, então é difícil você
tem que estar atento a isso pra ta percebendo e tentar moldar.
7. Você acha que existe uma idade mais apropriada para se ensinarem
valores? Por quê?
Acho que desde quando a criança nasce, mesmo que eles não falem, mas
eles já vão observando, então existem crianças que você percebe que são
pequenininhas, que os pais tem domínio com amor não é um domínio ríspido,
mas a criança percebe o que é certo e errado, e começam a fazer o diferencial,
e outros não, que o pai fala e simplesmente ignora, acho que essa criança que
os pais não tem essa autoridade sadia sob os filhos, também vai ser um aluno
indisciplina um profissional indisciplinado, e hoje em dia, ninguém mais trabalha
sozinho, todo mundo trabalha em equipe, a gente tem que aprender a ouvir e
aceitar opiniões diferentes, ser critico também, colocar seu pensamento de
uma forma coerente que aí, você é aceito. Você tem q ter argumentos,
desenvolver esses argumentos e essas artimanhas né, da parte profissional e
da família também, valores que a família te passa para você precisar impor, se
não você é convencido a fazer o contrário.
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Pesquisadora: Mas existe um limite de idade?
Olha uma vez eu li um livro de um trabalho que dizia que a criança e
moldada ate os 5 anos, em valores inclusive, depois não é que acabe, vc vai
fortalecendo a medida que ele vai amadurecendo vc vai fortalecendo esses
valores, mas eu acredito muito é naquilo, é o exemplo não adianta você ter um
discurso e ter uma pratica diferente. Já adultos eles já tem opinião formada e
fica muito difícil, enquanto eles se permitem ouvir, é interessante você trabalhar
porque aquilo fica guardado, o que eles ouvem de pequenos, aquilo pode ate
ter esquecido mas a informação está dada, e em algum momento eles vão
precisar dessa informação e vão lembrar, e enquanto eles se permitem a gente
tem que falar muito mesmo e atuar, não é só fala mas é dar o exemplo
também.
8. Qual a diferença entre ensino de valores e disciplina?
Eu acho que a indisciplina é fundamentalmente criada pela falta de limite
dos pais, que gera o que, porque que isso tá acontecendo eu imagino hoje né,
eu tenho filhos já adultos, meu parâmetro deles foi muito diferente do que eu
tenho vivido hoje com alunos com a idade deles na época. Eu costumava falar
uma vez só, mesmo com os alunos, “para, a brincadeira acabou, tal”, sempre
assim num tom não de agressão nem de imposição, mas fazer o aluno ser
levado a pensar que aquele momento é para ele estar aprendendo, não
brincando, eu vejo isso muito pela ausência dos pais, realmente, como eles
ficam muito ausentes eles tentam compensar essa ausência com a
permissividade, entendeu e a criança testa o adulto, criança gosta de limite,
eles testam, isso eu passei na minha geração com meus filhos, e acho que
assim, mesmo os alunos mais indisciplinados, eles te testam para ver ate onde
você vai, alguns amadurecem conseguem perceber, outros mais raros
infelizmente passa pelo professor um ano, dois anos, e você não vê muita
mudança porque é um trabalho conjunto, trabalho da escola e da família, se a
família não é coerente com o que você coloca na escola ele fica dividido e não
consegue chegar em lugar nenhum, principalmente nessa fase do Fundamental
II, que eles tão formando opinião, tem que ganha a atenção do grupo tem que
ser aceito pelo grupo, e nem sempre as coisas certas.. As vezes são caretas
53
para eles, a não isso é careta, é velho, antigo, eles ficam amedrontados, não
que eles não queiram fazer, mas pelo grupo, eles se pressionam para tenta
ganhar confiança, aparecer um pouquinho para formar um pouco mais a
personalidade.
Pesquisadora: Você acha que antes era melhor, nesse sentido?
Eu acho que antes sim, porque, principalmente as mães, mesmo as mães
que trabalhavam, tinham mais disponibilidades com os filhos, não que não
tenha que trabalhar, entendeu, tem que trabalhar, mas acho que quando
chega, o tempo que tem é para dedicar aos filhos, e nem sempre é possível,
porque chegam cansadas, a cidade é muito pesada, tem que enfrenta transito,
o pai e a mãe já chegam estressados em casa, já não quer nem fala boa noite
pros filhos, já quer comer e acabar logo, porque é tudo muito imediato, a cidade
é um ‘lufa lufa’ sem fim, e isso afasta um pouco esses momentos de
proximidade, de reflexão, de conversa, “como foi seu dia, o que vc fez de
bom?”, pelo próprio cansaço dos pais, acredito que a vida como está hoje,
afasta as pessoas, a sociedade esta cada vez mais individualista.
8.2.2. Entrevista P2 – Professor (a) 9º ano
1. O que você entende por valores?
Eu acho que ta muito relacionado com a ética, com os princípios morais,
que a pessoa tem que desenvolver, tem que crescer, tem que conhecer, que
praticar, e isso...
2. Quais são os valores mais importantes para você?
Ah, eu acho que a honestidade né, muitas vezes o cara..tem que ver a
postura dele. Em sala de aula não tem, faz muito tempo que eu não observo.
Mas tem muito cara que quer levar vantagem né, com relação à cola, por
exemplo, e é um ato desonesto. É um principio básico.
Pesquisadora: Você acha que existe algum desvio de valor, quando, por
exemplo, você professor estabelece um acordo entre os alunos, de que não vai
54
passar ninguém com média 5,5 para baixo, e mesmo assim eles insistem e
forçam a barra, e o professor vira o vilão porque não quer ajudar o aluno?
Mas isso não acontece, porque você leva ao individuo a ver que não é
só isso, ele pode ate pedir, “aaa professor por tão pouco”. Outro dia mesmo o
aluno perguntou: “a professor, se eu ficar por 5,9, você me passa?”, aí eu
pergunto: você fez tudo que tinha que fazer ao longo do ano? Então, aí eu
mudo né? Não sou eu que tenho obrigação de dar, quer dizer, ele tem q
perceber que não é 0,1 e que também não seria só para ele. Porque ai eles
dizem: “aah é só pra mim”, mas não, não é só para você, se for para você tem
que ser para todo mundo, porque o critério tem que ser igual, né? Porque você
tem que ser o privilegiado e os outros não? O critério tem que ser geral, não
pode ter proteção. Eu mesmo tenho hábito de corrigir prova, e eu não costumo
ver quem é o aluno, depois, quando tem um comentário absurdo, ou hilário,
estranho, aí sim eu me preocupo de ver que é, mas se acontecer, mas
normalmente não. O que a gente faz, é..você vai alertando, mas aí o aluno vai
deixando de fazer coisas ao longo do ano, que vai fazendo falta, então não
vem pedir um valor ou ponto que você precisa, quando você deixou de fazer o
que precisava, isso até acontece mesmo. Mas ai você vê com ele o que ele fez
ao longo do ano, “vamos ver o que você fez aqui, ó você perdeu ponto aqui,
perdeu ali, se tivesse feito não precisaria estar pedindo nota”. Então, é questão
do cara dar valor ao que tem que fazer, aí você cobra ele, e ele fala “esqueci”,
e ele avalia em função do ponto, que é uma conseqüência do que ele vai fazer
e tem objetivo, você passa as atividades, tarefa, e o objetivo é revisar,
aprender, reforçar, se ele faz ele aprende e tem o ponto, aí se vale 0,5 ele faz,
se vale 0,25 não faz. É questão do quanto vale, ele, vamos dizer, faz a tarefa
se ele acha que aquilo vale para ele, ele vê o valor e não a atividade, e aí nem
sempre faz com o objetivo de aprender, e sim de conseguir o ponto, ai ele
copia, faz mal feito, não presta atenção no que está fazendo.
Pesquisadora: Você acha que essa atitude que os alunos têm, é um desvio
de conduta que ocorreu pela escola ou da família?
Acho que é mais da família, mas na escola, você pode mudar e mostrar pro
cara, ta vendo você vai enganar quem? Você sabe fazer? Aprendeu? Você tem
que mostrar para ele. O ponto você pode ter, mas e ai? Com essa atividade foi
55
você que batalhou que aprendeu? Na hora que precisar você vai saber? E ele
tem que entender que não é só o ponto, que tem sempre um objetivo atrás do
ponto. E tem aluno que faz que é comprometido, que fala: “professor tentei
fazer..”, ele pesquisa, tira duvida, mas tem outros que só apresentam o
negócio, e copiou de alguém, e você, professor, não tem como aferir isso né?
Você pode perguntar: Fala pra mim, foi você que fez? E ele diz: “copiei
professor”, tem uns que são até honestos, mas nesse aspecto é até positivo,
ele assume que copiou né, por um lado positivo por outro lado, tem a postura
ruim, você vê que ele não aproveitou, e agora tem aquele que não faz, copia e
não assume, e não foi benéfico para ele, foi só em função do ponto.
3. O ensino de valores deve ser abordado pela escola? E pela família?
Explique.
Os familiares cobram da escola uma coisa que é função da família. Uma
coisa que é função da família né o moleque vai ser filho a vida toda, mas vai
ser meu aluno quanto tempo? Comigo, ele vai passar dois anos não é nem
todo dia..não dá para transferir isso, é uma coisa de valor, que tem se
deteriorado, e muita coisa acaba sendo permissivo, a família tem permitido
coisa que antigamente não era permitido, então sempre em busca de
vantagem, né, muitas vezes o pai e a mãe fala que pode puxar a orelha dele,
mas na hora do “vamo vê” quando tem que envolver disciplina, ao invés de ter
o respaldo da família, você tem a família contra a escola ou professor, então
não é assim. Na teoria, você até tem o apoio, mas na prática você não tem o
respaldo. Então a gente vê que a família tem se deteriorado, isso a gente vê no
Ensino Fundamental, no Ensino Médio, na Faculdade, tudo vem crescendo né,
mas a família tem que resgatar, você vê o que acontece principalmente porque
tem muita gente que acha que não tem que estruturar a família, mas uma
família desestruturada ajuda a acontecer isso.
6. Que valores você acha que deveriam ser abordados nas escolas?
Ou em alguma disciplina específica? Por quê?
Eu acho que em toda disciplina tem condição de trabalhar isso, a ética com
professor e com os colegas, hoje tem muito esse negócio do bullyng, e
infelizmente eles exploram isso, qualquer coisa pra ele é bullyng, “ah isso é
56
bullyng professor”, então às vezes o aluno usa de artifício para justificar algo
que não deveria, nós temos alunos com TDAH, né, e tive um caso em que o
aluno não fazia o que tinha que fazer, aí você cobra dele e ele diz “não me
cobra que eu tenho TDAH”, e para mim isso é muleta, então quer dizer, já que
você tem, você não vai fazer nada? Que negócio é esse, às vezes ele toma
remédio, sabe que tem, mas muitas vezes usa como desculpa, para justifica
uma atitude que eu entendo que é errada. Você tem TDAH, mas você tem que
fazer, eu entendo que ele tenha uma dificuldade, mas ele tente né, ele tem que
tentar, a gente está lá sempre para cobra esse tipo de coisa, mas para usar
como desculpa, não dá.
7. Você acha que existe uma idade mais apropriada para se ensinarem
valores? Por quê?
Ah eu acho que né começa desde pequeno, eu acho que você caminha ate
certo ponto, mas é difícil definir uma idade, porque é sempre aprendizado, é a
gente msmo vc faz uma coisa, não da certo, vc muda de postura, vc aprende
com seu erro. A formação do caráter vai acontece dede pequenininho, mas
depois que tá torto. No médio acho que está definido, ele já tem a postura, tem
definição de valores sabe o que é certo e errado. Tem tarefas pra fazer e não
faz, e tem as mais diversas desculpas né. Outro dia, passei uma atividade, e
aluna né..perguntei para ela: “Vamos falar honestamente, você fez de conta, e
achou que me enganou né?, e ela balançou a cabeça (positivamente)” então,
eu espero que em uma próxima vez ela tenho outra postura, porque ela foi
alertada para esse tipo de coisa, e eu percebi, então quando acontecer uma
situação similar, que ela tenha uma postura diferente, isso foi aqui, não foi em
casa, mas acho que a família é fundamental no processo, sempre foi.
Pesquisadora: E nesses casos o que você faz? Dá uma punição, um zero,
ou negativo, sair da sala?
Eu acho que não, sair da sala é uma coisa só quando há um ato de
indisciplina grave, mas dentro da sala a gente resolve, um aluno que não faz a
tarefa perdeu duas vezes, ele perdeu porque não aprendeu, não estudou,
então ele já foi punido; e aí né, isso pode ir somando, não fez uma, não fez
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duas, três, e no final da etapa ele deixou de ganhar quanto? Então ele já foi
punido né.
8. Qual a diferença entre ensino de valores e disciplina. Quais?
A tem, tem o trato a postura, o jeito como eles falam, a gente já teve
mais isso né, difrença social já tinvemos mais, hoje ta bem nivelado claro que
tem gente que tem muita dificuldade de manutenção, sustendo, e percebe que
a diferença relativamente grande...existe discriminação pode ser que exista,
mas não é acintosa, ai a escola vai tomar uma providencia ou a cordenadora
ou orientadora, seja uma atitude inconveniente NE de um aluno em relação a
pessoa que tenha a diferença social, tem aluno que o celular hoje todo mundo
tem, mas tem outros que não tem, tem aluno que tem o top e outros não tem.
Mas acho que a escola quando percebe essas coisas ela intervém, vai tomar
uma providencia.
Pesquisadora: E em casos de aluno que tem uma postura, por
exemplo, disciplinada com vocês em sala de aula, e da porta para fora vocês
vêem que não é bem assim?
Em sala de aula, indisciplina eu não vejo, mas sim aluno que não tem
compromisso com as coisas, responsabilidade mesmo, e quando acontece, a
gente percebe e passa pra orientação e ela vai faze o trabalho dela, e vai
procura sabe o que está acontecendo né, que às vezes o aluno tem um quadro
de indisciplina e vai refleti algo que seja familiar que a gente não sabe, então
faz pra chama atenção faz para extravasar então vai entra a orientação
educacional vai trabalhar essa parte, pra ver o enquadramento e o
aproveitamento melhor pro aluno
Pesquisadora: No ensino de valores, você acha que é 50% escola e 50%
família?
A mais família! Com certeza, não sei dar em termos de percentual, mas
a família é fundamental, e por conta da família não estar exercendo o seu papel
que acaba aparecendo essas coisas, e se transfere para escola, mas a escola
da uma parte aqui, hoje o aluno ta comigo 3x semana né, e em casa todo dia.
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Pesquisadora: Nesse sentido, o ensino no passado era melhor?
A sim! Tinha, você tinha cobrança, e retorno melhor, tinha mais respaldo
da família, era mais presente, acho que se justificavam menos as coisas, o
aluno indisciplinado, ele era disciplinado em casa, hoje em dia o cara né..
Pesquisadora: Por que você acha que isso veio se deteriorando?
Tudo questão do valor da sociedade, por influenciados meios de
comunicação, a televisão tem uma série de programas que a molecada tem
acesso, que pelo contrário, não favorece, prejudica a educação, tipo “Big
Brother Brasil”, por exemplo, que tipo de benefício que tem? Apesar de ser um
jogo, é um jogo que vale tudo, vale o cara trocar de parceiro toda hora,
vulgarização; vale o cara armar uma estratégia para passar a perna no outro,
para conquistar alguma coisa, então mostra situações que não tem nada de
benefício, você vê na novela, tipo programa Pânico, então vai juntando uma
série de coisas, e isso vai entrando na cabeça como se fosse a coisa mais
natural do mundo, então, posturas que antes eram consideradas ruins vão
entrando no meio da sociedade como natural e o valor vai se perdendo aí.
Pesquisadora: Ainda tem jeito?
Ah... Acho difícil, acho difícil..
Pesquisadora: É uma causa perdida, então?
Olha, perdida não é porque ainda existe família né, mas..acho que tem
muita gente que realmente..uma outra situação que a escola hoje convive e
não existia antigamente é a questão da relação homoafetiva, que antes não se
via tanto, e que vem surgindo cada vez mais, hoje existe isso dentro da escola,
da universidade, e você percebe, então é mais uma mudança; positiva ou
negativa, aí vai de cada um avaliar né, mas é uma modificação, não existia..era
muito pouco os que vinham à tona, era uma coisa que ofendia, e hoje a coisa
vai disseminando, disseminado..e tudo é normal, tudo é normal e os valores
vão se perdendo, se deteriorando.
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Pesquisadora: Os valores se perderam ou mudaram?
Os valores sempre existiram, o problema é que a sociedade ta
entendendo como uma coisa...acho que mudaram a postura em relação aos
valores, o que era uma coisa errada hoje é normal. A sociedade está mudando,
mas não sei, é difícil..agora, se tem jeito, é complicado. Hoje em dia, o que
você fala em sala de aula, as brincadeiras, você tem que medir as palavras
para não ofender, porque tudo hoje é ofensa né, antes a molecada resolvia na
boa na sala de aula, um xingava o outro, e eles se resolviam. Hoje, é: “você
expôs meu filho”, se você dá bronca, tem que tomar cuidado, não pode ser em
público, tem que chamar do lado, ficou tudo mais melindroso. Então, isso vai
assim dificultando o trabalho da gente e tem que ficar medindo o que você vai
falar e perde a espontaneidade, e eu me sinto assim, você vai medindo
sempre.
8.3. Apêndice 3 -
Consentimento Livre e Esclarecido
CARTA DE INFORMAÇÃO À INSTITUIÇÃO
Esta pesquisa tem como intuito analisar os conceitos e práticas que os alunos e alunas do Ensino Fundamental II possuem sobre valores. Para atingir tal objetivo, serão utilizados questionários com aproximadamente 70 alunos, pertcom cerca de 35 alunos por sala. Para tanto, solicitaaplicação dos instrumentos de coleta de dados. O material e o contato interpessoal oferecerão riscos mínimos aos participantes e à instituição. Os alunos e professores não serão obrigados (as) a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento na aplicação do processo de coleta de dados. Todos os dados e informações coletadas serão utilizados e aplicados sem identificação dos participantes e da instituição. Quaisquer dúvidas poderão ser sanadas em qualquer ocasião que surgirem, entrando em contato com o número (11) 999970702. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará cinstituição e outra com os pesquisadores.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a) ____________________________________, diretora/coordenadora do Colégio Presbiteriano Mackenzie, após a leitura da Carta de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firmaCONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a instituição, através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado tornaconfidencial, guardada por força do sigilo profissional.
_________________________________________ Assinatura do representante da instituição
Carta de Informação à Instituição e
Consentimento Livre e Esclarecido
DE INFORMAÇÃO À INSTITUIÇÃO
Esta pesquisa tem como intuito analisar os conceitos e práticas que os alunos e alunas do Ensino Fundamental II possuem sobre valores. Para atingir tal objetivo, serão utilizados questionários com aproximadamente 70 alunos, pertencentes a duas salas, entre 6º e 9º anos, com cerca de 35 alunos por sala. Para tanto, solicita-se a autorização desta instituição para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados. O material e o contato interpessoal oferecerão
icipantes e à instituição. Os alunos e professores não serão obrigados (as) a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento na aplicação do processo de coleta de dados. Todos os dados e informações coletadas serão utilizados e aplicados sem dentificação dos participantes e da instituição. Quaisquer dúvidas poderão ser sanadas em qualquer ocasião que surgirem, entrando em contato com o número (11) 999970702. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará cinstituição e outra com os pesquisadores.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a) ____________________________________, diretora/coordenadora do Colégio Presbiteriano Mackenzie, após a leitura da Carta de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firmaCONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a instituição, através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do
do alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado tornaconfidencial, guardada por força do sigilo profissional.
São Paulo, ........ de ..............................de................
_________________________________________ Assinatura do representante da instituição
60
Carta de Informação à Instituição e Termo de
Esta pesquisa tem como intuito analisar os conceitos e práticas que os alunos e alunas do Ensino Fundamental II possuem sobre valores. Para atingir tal objetivo, serão utilizados
encentes a duas salas, entre 6º e 9º anos, se a autorização desta instituição para a
aplicação dos instrumentos de coleta de dados. O material e o contato interpessoal oferecerão icipantes e à instituição. Os alunos e professores não serão obrigados
(as) a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento na aplicação do processo de coleta de dados. Todos os dados e informações coletadas serão utilizados e aplicados sem dentificação dos participantes e da instituição. Quaisquer dúvidas poderão ser sanadas em qualquer ocasião que surgirem, entrando em contato com o número (11) 999970702. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a) ____________________________________, diretora/coordenadora do Colégio Presbiteriano Mackenzie, após a leitura da Carta de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a instituição, através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do
do alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação
São Paulo, ........ de ..............................de................
8.4. Apêndice 4 -
Consentimento Livre e Esclarecido (Aluno)
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO
Esta pesquisa é referente ao trabalho de conclusão de curso (TCC) da aluna de graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maíra Fernandes, portadora do CPF: 380621938como intuito analisar os conceitos e práticas que os alunos e alunas do possuem sobre o ensino de valores. Para atingir tal objetivo serão utilizados questionários com aproximadamente 70 alunos, pertencentes duas salas entre o 6º e 9º anos, com cerca de 35 alunos por sala. Para tanto, solicita-se a autoride dados. O material e o contato interpessoal oferecerão riscos mínimos aos participantes e à instituição. Os alunos e professores não serão obrigados(as) a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento na aplicação do processo de coleta de dados. Todos os dados e informações coletadas serão utilizados e aplicados sem identificação dos participantes e da instituição. Quaisquer dúvidas poderão ser sanadas em qualquer ocasião que surgiem contato com o número (11) 99997Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com os pesquisadores. Senhores pais, caso seu(sua) filho(a) seja menor de 18 anos é solicitcampos abaixo, indicando se permitem ou não que o mesmo participe da pesquisa. Se a opção for por permitir a participação de seu(sua) filho(a), é também pedido que assine o termo de consentimento livre e esclarecido como representaassinada: 17/04 – 6ª feira)
o Sim, permito que meu filho(a) participe da pesquisa. o Não permito que meu filho(a) participe da pesquisa.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) __________________________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa proposta. Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momeseu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado tornasigilo profissional.
_______________________________________ Assinatura do sujeito ou seu representante legal
- Carta de Informação ao Sujeito e
Consentimento Livre e Esclarecido (Aluno)
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO - Aluno
Esta pesquisa é referente ao trabalho de conclusão de curso (TCC) da aluna de graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maíra Fernandes, portadora do CPF: 380621938como intuito analisar os conceitos e práticas que os alunos e alunas do Ensino Fundamental II possuem sobre o ensino de valores. Para atingir tal objetivo serão utilizados questionários com aproximadamente 70 alunos, pertencentes duas salas entre o 6º e 9º anos, com cerca de 35 alunos
se a autorização do sujeito para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados. O material e o contato interpessoal oferecerão riscos mínimos aos participantes e à instituição. Os alunos e professores não serão obrigados(as) a participar da pesquisa, podendo
ir a qualquer momento na aplicação do processo de coleta de dados. Todos os dados e informações coletadas serão utilizados e aplicados sem identificação dos participantes e da instituição. Quaisquer dúvidas poderão ser sanadas em qualquer ocasião que surgiem contato com o número (11) 99997-0702. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com os pesquisadores. Senhores pais, caso seu(sua) filho(a) seja menor de 18 anos é solicitado que assinalem um dos campos abaixo, indicando se permitem ou não que o mesmo participe da pesquisa. Se a opção for por permitir a participação de seu(sua) filho(a), é também pedido que assine o termo de consentimento livre e esclarecido como representante legal. (Data máxima para devolução
Sim, permito que meu filho(a) participe da pesquisa.
Não permito que meu filho(a) participe da pesquisa.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) __________________________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais
etido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa proposta. Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momeseu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do
São Paulo,....... de ..............................de................
_______________________________________ Assinatura do sujeito ou seu representante legal
61
Carta de Informação ao Sujeito e Termo de
Esta pesquisa é referente ao trabalho de conclusão de curso (TCC) da aluna de graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maíra Fernandes, portadora do CPF: 380621938-96, e tem
Ensino Fundamental II possuem sobre o ensino de valores. Para atingir tal objetivo serão utilizados questionários com aproximadamente 70 alunos, pertencentes duas salas entre o 6º e 9º anos, com cerca de 35 alunos
zação do sujeito para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados. O material e o contato interpessoal oferecerão riscos mínimos aos participantes e à instituição. Os alunos e professores não serão obrigados(as) a participar da pesquisa, podendo
ir a qualquer momento na aplicação do processo de coleta de dados. Todos os dados e informações coletadas serão utilizados e aplicados sem identificação dos participantes e da instituição. Quaisquer dúvidas poderão ser sanadas em qualquer ocasião que surgirem, entrando
0702. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com os pesquisadores.
ado que assinalem um dos campos abaixo, indicando se permitem ou não que o mesmo participe da pesquisa. Se a opção for por permitir a participação de seu(sua) filho(a), é também pedido que assine o termo de
(Data máxima para devolução
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) __________________________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais
etido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa proposta. Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa
se informação confidencial, guardada por força do
..................de................
8.5. Apêndice 5 -
Consentimento Livre e Esclarecido (Professor)
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO
Esta pesquisa é referente ao trabalho de conclusão de curso (TCC) da aluna de graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maíra Fernandes, portadora do CPF: 380621938como intuito analisar as concepções evalores. Para atingir tal objetivo serão realizadas entrevistas com perguntas referentes ao tema, feitas individualmente com os docentes envolvidos na pesquisa. A entrevista terá seu áudio gravadoe posteriormente transcrito pela orientanda da pesquisa. Para tanto, solicitasujeito para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados. O material e o contato interpessoal oferecerão riscos mínimos aos participantes e à instituiçãobrigados (as) a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento na aplicação do processo de coleta de dados. Todos os dados e informações coletadas serão utilizados e aplicados sem identificação dos participantes e da instituição. Quaisquer dúvidas poderão ser sanadas em qualquer ocasião que surgirem, entrando em contato com o número (11) 99997com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com os pesquisadores.
Obrigada.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) ____________________________DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIFica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado tornasigilo profissional.
________________________________________ Assinatura do sujeito ou seu representante legal
- Carta de Informação ao Sujeito e
Consentimento Livre e Esclarecido (Professor)
INFORMAÇÃO AO SUJEITO - Professor
é referente ao trabalho de conclusão de curso (TCC) da aluna de graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maíra Fernandes, portadora do CPF: 380621938como intuito analisar as concepções e práticas que os docentes de ciências têm sobre o ensino de valores. Para atingir tal objetivo serão realizadas entrevistas com perguntas referentes ao tema, feitas individualmente com os docentes envolvidos na pesquisa. A entrevista terá seu áudio gravadoe posteriormente transcrito pela orientanda da pesquisa. Para tanto, solicita-se a autorização do sujeito para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados. O material e o contato interpessoal oferecerão riscos mínimos aos participantes e à instituição. Os alunos e professores não serão obrigados (as) a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento na aplicação do processo de coleta de dados. Todos os dados e informações coletadas serão utilizados e aplicados
pantes e da instituição. Quaisquer dúvidas poderão ser sanadas em qualquer ocasião que surgirem, entrando em contato com o número (11) 99997com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra
ENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) ___________________________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa proposta. Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa
que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do
São Paulo,....... de ..............................de................
________________________________________ Assinatura do sujeito ou seu representante legal
62
Carta de Informação ao Sujeito e Termo de
é referente ao trabalho de conclusão de curso (TCC) da aluna de graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maíra Fernandes, portadora do CPF: 380621938-96, e tem
práticas que os docentes de ciências têm sobre o ensino de valores. Para atingir tal objetivo serão realizadas entrevistas com perguntas referentes ao tema, feitas individualmente com os docentes envolvidos na pesquisa. A entrevista terá seu áudio gravado,
se a autorização do sujeito para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados. O material e o contato interpessoal
o. Os alunos e professores não serão obrigados (as) a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento na aplicação do processo de coleta de dados. Todos os dados e informações coletadas serão utilizados e aplicados
pantes e da instituição. Quaisquer dúvidas poderão ser sanadas em qualquer ocasião que surgirem, entrando em contato com o número (11) 99997-0702. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) ____, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA
DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu
DO de concordância em participar da pesquisa proposta. Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa
se informação confidencial, guardada por força do
São Paulo,....... de ..............................de................
8.6. Apêndice 6 – Questionários respondidos
Respostas 6º ano:
Questionários respondidos
63
64
65
66
67
68
Respostas 9º ano:
69
70
71
72
73
74
75
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