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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
CONTABILIDADE MENTAL E FINANÇAS COMPORTAMENTAIS: Es tudo com
colaboradores de uma empresa cerealista
Bruna Faccin CAMARGO1,*
Carolina Taís BRAUN2
Isabel Von Grafen RUBERT3
Jaciara TRETER4
1Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI). 2-5Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ). *Autora correspondente: brunafaccinflor@hotmail.com
Recebido em: 03/05/2015 - Aprovado em: 05/08/2015 - Disponibilizado em: 30/10/2015
RESUMO O presente estudo buscou analisar a influência da contabilidade mental nas decisões financeiras dos colaboradores de uma empresa privada do estado do Rio Grande do Sul. Realizou-se uma pesquisa survey com os colaboradores da empresa. É classificada como qualitativa e quantitativa, quanto aos objetivos, caracteriza-se como descritiva. Os dados foram coletados através de um questionário. Quanto aos riscos financeiros, constatou-se que os entrevistados preocupam-se significativamente com esse fator, onde 50,9% dos entrevistados consideram um risco extremo e outros 40% muito risco gastar dinheiro impulsivamente. Observou-se que 78,18% dos entrevistados possuem algum tipo de dívida. De acordo com a influência dos fatores comportamentais na propensão ao endividamento, observou-se que há interesse de um melhor gerenciamento das finanças, onde 58,18% afirmaram sempre preocuparem-se com essa prática. De forma geral, os colaboradores da empresa têm a consciência da necessidade gerir as finanças de forma correta e na maioria dos casos buscam melhorar essas práticas. Palavras-chave: Contabilidade mental. Riscos. Endividamento. Finanças.
ABSTRACT This study investigates the influence of mental accounting in the financial decisions of the employees of a private company in the state of Rio Grande do Sul. We conducted a survey of company employees. The research is classified as qualitative and quantitative, of the aims, is characterized as descriptive. Data were collected through a questionnaire. Regarding financial risks, it was found that respondents are concerned significantly with this factor, where 50.9% of respondents consider an extreme risk, and another 40% very risk spending money impulsively. It was observed that 78.18% of respondents have some form of debt. Under the influence of behavioral factors in the propensity for debt, it was observed that there is interest of better management of finance, where 58.18% reported always be concerned with this practice. Overall, the company's employees are aware of the need to manage finances properly and in most cases improve search these practices. Keywords: mental accounting. Risks. Debt. Finance.
1 INTRODUÇÃO
Estudos tradicionais na área de
finanças tratam de como investir o
patrimônio, a fim de obterem-se melhores
resultados financeiros. Porém, decisões na
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área financeira dependem de alguns fatores
pessoais dos indivíduos, como por exemplo,
seus gostos e suas preferências, idade,
personalidade, surgindo assim, uma nova
linha de estudos, as finanças
comportamentais.
Segundo Ribeiro et al (2009),
decisões financeiras mal tomadas podem
envolver fatores de risco, como consumo
excessivo, dificuldade de quitação de dívidas,
e consequente endividamento. Por essa razão,
surgem cada vez mais estudos relacionados
com a área de finanças comportamentais.
As finanças comportamentais visam
esclarecer, através de estudos relacionados
com a psicologia, como os fatores
psicológicos dos seres humanos podem afetar
nas tomadas de decisões em relação as suas
finanças. Constituem um campo de estudos
que tem grande destaque no cenário atual e
tem como principal característica a junção de
conceitos de diversas áreas, como a
psicologia, sociologia e a economia, com a
finalidade de explicar as decisões dos
indivíduos no setor financeiro.
Juntamente com as finanças
comportamentais, a contabilidade mental
demonstra que as emoções têm papel
importante num cérebro consumidor que não
apresente comprometimento com critérios
racionais, orientando ao gasto, (MARION,
2008). Além disso, o mesmo autor coloca que
a contabilidade mental propõe que os
indivíduos executam mentalmente operações
de contabilidade, numa tentativa de organizar
e avaliar suas decisões financeiras – por
vezes, frustradas.
Ligada à teoria comportamental, a
contabilidade mental refere-se à maneira
como as pessoas organizam, registram e
analisam suas transações econômicas, sendo
que muitas vezes não sabem controlar suas
receitas e suas despesas na forma de registros
contábeis. Isto acontece devido ao fato dos
indivíduos não conseguirem perceber que
assim como nas organizações formais, suas
finanças também possuem contas de ativo,
passivo e patrimônio líquido, as quais
precisam ser controladas.
A sociedade moderna apresenta uma
forte característica, que corresponde ao
consumo excessivo, onde os indivíduos
relacionam a felicidade e o bem estar ao ato
de adquirir bens. Com a facilidade de acesso
ao crédito, através de empréstimos,
financiamentos, cheques pré-datados e dívidas
de cartão de crédito, o consumismo pode
levar ao endividamento dos indivíduos,
fazendo com que estes não consigam quitar
seus compromissos financeiros nos
respectivos vencimentos.
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Pode-se dizer então, que vivemos em
um cenário onde o público em geral, na
grande maioria, está desacostumado a gerir o
dinheiro de forma adequada, tendo como
consequência a má administração das próprias
finanças. Um estudo realizado pela
Confederação Nacional de Dirigentes e
Lojistas (CNDL) juntamente com o SPC
Brasil, em 2010, afirmam que 21,57% dos
consumidores brasileiros estão inadimplentes
há mais de um ano.
Uma pesquisa realizada pelo Boston
Consulting Group (BCG) em 2012, com
1.440 pessoas no Brasil, mostra que, por
conta do alto endividamento, está havendo
uma diminuição no consumo, e existe a
pretensão de uma maior redução de gastos,
segundo afirmação de 56% dos envolvidos na
pesquisa. Do total dos entrevistados, 20%
informaram que metade de sua renda já está
sendo usada para pagamento de dívidas
referentes a cartão de crédito, cheques pré-
datados e empréstimos.
Muitas pessoas, às vezes por falta de
conhecimento, interesse ou até mesmo falta
de experiência em relação a finanças, acabam
endividando-se, tornando-se assim,
inadimplentes, afetando negativamente suas
relações sociais, estado psicológico e a
convivência familiar. Nesse sentido, o estudo
do comportamento humano em relação as
suas finanças e o nível de endividamento,
possibilita conhecer melhores maneiras de
controlar o orçamento financeiro, evitando um
alto grau de endividamento.
Dados de uma pesquisa realizada em
janeiro de 2014, pelo Serviço de Proteção ao
Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação
Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), com
cerca de 650 entrevistados, mostra que destes,
apenas 18% tem um bom conhecimento sobre
finanças pessoais, e também, 39% dos
indivíduos, de todas as classes sociais,
afirmam que a maior dificuldade para
controlar suas finanças é a de ter a disciplina
para registrar seus gastos e receitas com
regularidade.
Levando em consideração a
necessidade de estudar alocação dos recursos
financeiros dos indivíduos, importância da
prevenção ao endividamento excessivo, e o
correto uso da contabilidade mental, o
presente trabalho buscou descobrir a
influência dos fatores comportamentais na
propensão ao endividamento dos
colaboradores de uma cerealista privada do
Rio Grande do Sul.
A cerealista em estudo tem como
principal ramo de negócios a produção de
sementes e a comercialização de cereais e de
insumos. Atualmente conta com 35 unidades
no total, distribuídas em todo o estado do Rio
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Grande do Sul, porém apenas uma das suas
unidades e a matriz foram escolhidas para a
presente pesquisa. Conta também com um
quadro de cerca de quinhentos e cinco
colaboradores, os quais possuem idade, grau
de instrução, remuneração e área de atuação
diversificados, que são características
relevantes para a presente pesquisa.
Dessa forma surge o seguinte
questionamento: Qual a influência da
contabilidade mental nas decisões financeiras
dos colaboradores de uma empresa privada do
estado do Rio Grande do Sul?
Assim, este artigo tem como objetivo
geral, descobrir a influência da contabilidade
mental nas decisões financeiras dos
colaboradores de uma empresa privada do
estado do Rio Grande do Sul. E, como
objetivos específicos, identificar o perfil das
dívidas dos colaboradores da empresa,
analisar o risco financeiro que os indivíduos
estão dispostos a assumir e verificar a
influência dos fatores comportamentais na
propensão ao endividamento.
Para tanto, está dividido em sessões,
inicialmente tem-se o resumo, fazendo um
breve comentário sobre todo o estudo
realizado, logo após tem-se a introdução,
dissertando sobre os aspectos gerais da
pesquisa, seguido pela abordagem do tema e
problema da pesquisa, objetivos gerais e
específicos e a justificativa da importância da
pesquisa realizada. Logo após, têm-se o
referencial teórico, o qual conceitua
contabilidade e contabilidade mental, finanças
comportamentais e endividamento. Após o
referencial teórico tem a metodologia
abordada, e a apresentação e análise dos
resultados obtidos na pesquisa realizada e por
fim a conclusão.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Contabilidade e Contabilidade Mental
A contabilidade é uma ciência muito
antiga, têm-se indícios desta, desde o início da
história da humanidade. Ribas (2013, p.2) diz
que, “não existe uma data exata que determine
o surgimento da ciência contábil, apenas sabe-
se que ela nasceu quando o homem passou a
possuir bens e descobriu a necessidade de se
organizar financeiramente”.
A ciência contábil é uma ferramenta
imprescindível na gestão de negócios.
Segundo Marion (1995, p.20) “é o
instrumento que fornece o máximo de
informações úteis para a tomada de decisões
dentro e fora da empresa”. O objetivo da
contabilidade é fazer com que os usuários
avaliem a situação econômica e financeira da
empresa, e que possam interferir no seu futuro
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econômico. Contabilidade é uma ciência que
possibilita, por meio de suas técnicas, o
controle permanente do patrimônio das
empresas (RIBEIRO, 2010).
Sabendo-se que a contabilidade
registra e controla fatos que afetam o
patrimônio, ela pode ser aplicada tanto para
pessoa física, como para pessoa jurídica. Para
Ribeiro (2010), o campo de aplicação da
contabilidade abrange todas as entidades
econômico-administrativas, até mesmo as
pessoais e públicas, como a União, os
Estados, os Municípios, as Autarquias.
Lucena, Fernandes e Silva (2011)
comentam que a contabilidade tem seu berço
enraizado nas Ciências Sociais Aplicadas e,
ao lidar com os processos de tomada de
decisões, utiliza-se de princípios
comportamentais oriundos da psicologia,
surgindo assim, uma nova área de estudos: a
Contabilidade mental.
Segundo os autores, esse novo
campo da contabilidade integra a dimensão do
comportamento humano aplicado à
contabilidade, e refere-se a como os
indivíduos fazem para organizar, registrar e
analisar suas atividades financeiras. Para
Marion (2008): a Contabilidade Mental
aborda como as pessoas registram, resumem e
analisam as transações econômico-financeiras
do seu cotidiano.
Nesta linha, Lourenço (2006) expõe
que a teoria da Contabilidade Mental propõe
essencialmente que os indivíduos executem
mentalmente operações de contabilidade, de
forma semelhante ao que fazem as empresas,
o que lhes permitem organizar e avaliar as
suas decisões econômico-financeiras.
Cada indivíduo tem o poder de
decidir como prefere organizar suas finanças
pessoais ou empresariais. Ferreira (2011, p.
75) relata que “cada uma faz suas próprias
contas mentais. E, se são mentais, é claro que
podemos, realmente, esperar variações
individuais, já que cada mente opera
conforme seus próprios padrões”. Sendo
assim, Delben (2008) complementa que
contabilidade mental diz respeito à tendência
das pessoas de separar seu patrimônio de
acordo com suas finalidades individuais.
A má organização do patrimônio e
das finanças causa efeitos insatisfatórios aos
envolvidos no contexto. Ribas, Franco e
Andrade (2013) afirmam que as pessoas não
sabem controlar seus ganhos e despesas na
forma de registros contábeis, e acabam
mantendo um plano de contas dentro de suas
mentes ao invés de colocá-lo no papel. Com
isso, muitas vezes acabam cometendo
equívocos, causando descontroles financeiros.
Estudos apontam que fatores
psicológicos dos seres humanos podem afetar
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as tomadas de decisões relacionadas às
finanças. É o que afirma Lucena, Fernandes e
Silva (2011), quando menciona que é
praticamente comprovado que o ser humano
não age tão somente de forma racional, que
suas decisões ganham quase sempre um
cunho psicológico, o qual avalia os resultados
originados pelas suas decisões, pois questões
do tipo perda, ganhos, risco, retorno, fracasso,
excesso de confiança, podem induzir suas
escolhas.
Ter um controle das receitas e
despesas dos indivíduos é fundamental para
obter sucesso ao final do período. O registro é
a maneira mais fácil de estabelecer uma
organização e um controle correto da vida
financeira das pessoas, sendo que se o hábito
da contabilização em planilhas ou em simples
cadernetas for criado, muitas pessoas deixarão
de se deparar com montanhas de dívidas todo
final de mês (RIBAS, FRANCO E
ANDRADE, 2013). Delben (2008) diz ainda
que, uma maneira de evitar o mau uso da
contabilidade mental é sempre lembrar que
seu patrimônio deve ser analisado de forma
única.
Esse novo ramo, que estuda os
fatores comportamentais dos indivíduos não
está ligado somente á área Contábil. Segundo
Lucena, Fernandes e Silva (2011, p.43), “esse
novo conhecimento não é inerente apenas à
Contabilidade, mas conhecido por outras
áreas, como: Finanças Comportamentais,
Economia Comportamental, Neuro-
economia, Psicologia Econômica, entre
outras”.
2.2 Finanças Comportamentais
O aumento significativo de estudos
sobre o comportamento humano em relação
às finanças pessoais mostra a importância
desse novo campo de estudos. Gitman (2010,
p.3) coloca que “O termo finanças pode ser
definido como ‘a arte e a ciência de
administrar o dinheiro’”. Mas para que esse
processo seja feito da melhor forma, é
necessário conhecimento na área específica,
portanto, deve-se ter cautela na tomada de
decisões.
Segundo Flores, Vieira e Coronel
(2013), a partir da década de 1970 surge uma
nova linha de estudos, as finanças
comportamentais ou behavioral finance,
demonstrando que em algumas situações os
indivíduos podem apresentar vieses em suas
decisões. Para Araujo e Silva (2007, p.45),
“os estudos de Finanças Comportamentais
surgiram numa tentativa de enquadrar os
estudos econômicos e financeiros dentro do
comportamento humano”.
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As finanças comportamentais visam
demonstrar, como cada indivíduo pode ter
diferentes modos de pensar e tomar diferentes
decisões relacionadas ao dinheiro. Para
Halfed e Torres (2001), finanças
comportamentais é um ramo do estudo das
finanças que tem como objetivo a revisão e o
aperfeiçoamento do modelo econômico-
financeiro, incorporando evidências sobre a
irracionalidade do investidor.
Decisões financeiras podem ser
afetadas por característica pessoais, relações
de desejos, idade, estilo de vida. Andrade e
Lucena (2013, p.3) afirmam que “Entendem-
se no mundo das finanças comportamentais
que as condições emocionais, íntimas e
sociais de uma pessoa podem refletir em sua
vida financeira”. Sendo assim, cuidar das
finanças é alcançar o padrão de vida
almejado, em longo prazo, ou mantê-lo em
equilíbrio (AVDEZEJUS, SANTOS E
SANTANA, 2012).
Tomar decisões com base no sistema
emocional, muitas vezes, pode acarretar em
decisões precipitadas e não vantajosas. Para
Ribas, Franco e Andrade (2013), as finanças
comportamentais juntamente com a
contabilidade mental mostram como a arte de
se organizar através da memória pode fazer
com que as pessoas se percam nas questões
financeiras. Nesse sentido, Andrade e Lucena
(2013, p.3) relatam que “as Finanças
comportamentais tentam entender como as
pessoas se esquecem de fundamentos e
tomam decisões de investimento com base em
sentimentos e emoções”.
Quando uma decisão é tomada de
forma inadequada, cabe ao indivíduo tentar
solucionar o problema, ou encarar a situação
da melhor forma possível. Segundo Ferreira
(2011 p,67) “não são muitas as pessoas
capazes de analisar a situação racionalmente,
escolher a melhor alternativa ou, pelo menos,
a mais viável naquele momento, e ainda
aguentar conviver com aquela escolha, numa
boa!”
A falta de controle das finanças
pessoais pode gerar sérios problemas de
endividamento, influenciando não só a
população, mas também todo o mercado.
Para Halfed e Torres (2001), o campo de
estudos das finanças comportamentais é a
identificação de como as emoções e os erros
cognitivos podem influenciar o processo de
decisão de investidores, e como esses padrões
de comportamento podem determinar
mudanças no mercado.
Segundo Ferreira (2013), uma série
de estudos associados às finanças
comportamentais tem por objetivo o estudo
do comportamento responsável pelo
endividamento, considerando a influência de
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fatores comportamentais, sociais,
demográficos, psicológicos ou emocionais.
As Finanças Comportamentais têm como
principal objetivo identificar e compreender
os frames, ilusões cognitivas que fazem com
que pessoas cometam erros sistemáticos de
avaliação de valores, probabilidades e risco
(ARAUJO E SILVA, 2007).
De acordo com Ferreira (2011)
quanto mais madura a pessoa for, melhores
condições terá para discernir o que é possível
fazer ou não, financeiramente. Isto está
relacionado ao fator endividamento, e assim,
com o despreparo financeiro dos indivíduos, o
qual será abordado no próximo subitem.
2.3 Endividamento
O aumento do nível de
endividamento da população nos últimos
tempos vem se tornando um importante
campo de estudo na área financeira. Para
Vieira (2012 p, 38), “o endividamento pode
ser uma consequência do consumo de bens e
serviços tornando-se crônico quando
compromete a renda do devedor”.
Um dos principais motivos, que faz
com que as pessoas se tornem endividadas é a
facilidade de acesso ao crédito. Sendo assim,
Trindade, Righi e Vieira, (2012, p.720)
relatam que “a sociedade moderna apresenta
como principal característica a cultura do
consumo, a partir do qual os indivíduos
associam felicidade e status social ao ato de
comprar bens”.
Pode-se dizer que o endividamento
não está totalmente relacionado com a renda
das pessoas, mas sim, a forma com que estas
administram suas receitas e despesas. Nos
últimos anos, têm-se registrado níveis de
endividamento significativamente elevados e
um aumento do não cumprimento dos
particulares, mostrando-se preocupante do
ponto de vista individual e coletivo
(FERREIRA, 2013).
Vários fatores podem ser
responsáveis pelo alto índice de
endividamento dos brasileiros, alguns deles
podem ser citados como, por exemplo, status
social, consumismo, prazer entre outros. Para
Trindade, Righi e Vieira (2012), o
endividamento surge como consequência do
consumo de bens e serviços, tornando-se
crônico quando compromete a renda do
indivíduo até ao ponto de não ter mais
condições de quitar seus compromissos.
O endividamento pessoal está ligado
a características pessoais, persistência e
dedicação para obter um bom controle. De
acordo com Trindade, Righi e Vieira (2012,
p.718), “consumo exacerbado pode levar
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muitos indivíduos a contraírem dividas
comprometendo uma parcela significativa de
suas rendas e, em muitos casos, acabando por
se tornarem inadimplentes”.
É necessário um planejamento
financeiro adequado para conseguir ter um
controle expressivo do dinheiro. Para
Frankenberg (1999 p, 33) em relação às
finanças, isso significa dar mais valor ao
dinheiro ganho com tanto esforço, jamais
aceitar preços exorbitantes, pechinchar,
reclamar de erros cometidos, contestar etc.
O autor comenta que antes de
adquirir um produto ou serviço, devemos
sempre nos perguntar se de fato precisamos
daquilo ou se estamos nos deixando levar por
um simples capricho, pela pressão do
vendedor ou por desejarmos exibir nossa
riqueza.
A ajuda de profissionais competentes
e escolhidos criteriosamente, como
contadores, advogados, gerentes de contas de
instituições financeiras, planejadores
financeiros, pode melhorar em muito o
desempenho financeiro (FRANKENBERG,
1999). Neste sentido, o autor menciona que é
melhor refletir sobre o assunto enquanto for
jovem, e puder escolher se deseja um futuro
de extrema pobreza ou um que lhe assegure
razoáveis recursos financeiros para garantir
conforto para si e seus familiares.
Fazer orçamentos mensais,
administrar as receitas e despesas da família, é
um processo importante e necessário, porém
isso não quer dizer que este deve ser traçado e
seguido a risca. “O planejamento financeiro
de uma pessoa e de sua família para uma vida
inteira não é, de maneira alguma, um conceito
rígido e inflexível” (FRANKENBERG 1999,
P 31).
Para Dickerson (2008) é necessário
destacar, que o endividamento é um
mecanismo muito importante para a aquisição
de bens de consumo, e este não deve ser visto
como algo indesejável ou condenável, quando
feito de forma racional e não exagerada.
Portanto, deve ser levado em consideração
que muitas vezes para adquirir algo, é
necessário algum tipo de empréstimo ou
financiamento, porém se esses forem feito de
forma correta e consciente não devem ser
tidos como um problema de endividamento.
3 METODOLOGIA
Esta seção tem por objetivo
descrever o tipo de pesquisa realizada e sua
classificação quanto à abordagem do
problema, aos objetivos, aos procedimentos
técnicos, além de apresentar a população alvo
do estudo, o plano de coleta e análise dos
dados.
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Quanto à forma de abordagem do
problema, a pesquisa é classificada como
qualitativa e quantitativa, pois de acordo com
Martins e Theóphilo (2009, p.107) “são
aquelas em que os dados e as evidências
coletados podem ser quantificados,
mensurados”. Portanto, a presente pesquisa se
classifica como quantitativa, pois os dados
coletados através dos questionários foram
tabulados e mensurados. Caracteriza-se como
qualitativa, pois segundo Martins e Theóphilo
(2009) nesse tipo de pesquisa, procura-se
entender, compreender e descrever os
comportamentos humanos através de um
quadro de referências, por isso, a pesquisa
teve por objetivo descobrir a influencia da
contabilidade mental nas decisões financeiras
de uma determinada população.
Quanto aos objetivos, a pesquisa
realizada caracteriza-se como descritiva,
segundo Andrade (2003, p.124) “nesse tipo de
pesquisa, os fatos são observados, registrados,
analisados, classificados e interpretados, sem
que o pesquisador interfira neles”. Dessa
forma, esta pesquisa é descritiva ao passo em
que busca analisar, interpretar e descrever as
características da amostra analisada em
relação à influência da contabilidade mental
nas decisões financeiras.
De acordo com os procedimentos
técnicos, a pesquisa define-se como
bibliográfica, levantamento e estudo de caso.
Para Gil (1999, p.65) “a pesquisa
bibliográfica é desenvolvida a partir de
material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos”.
Caracteriza-se como levantamento, pois
buscou identificar, através de questionários, a
relação da contabilidade mental com as
decisões financeiras dos indivíduos. Pode,
ainda, ser classificada como estudo de caso,
pois trata de uma investigação, onde o
pesquisador não tem controle sobre eventos e
variáveis, buscando aprender a totalidade de
uma situação e, compreender e descrever de
forma criativa a complexidade de um caso
concreto. (MARTINS E THIÓPHILO, 2009).
A população estudada é formada por
colaboradores de uma empresa do noroeste do
estado do Rio Grande do Sul. A empresa em
estudo é uma cerealista, que foi fundada na
cidade de Tapera, onde teve sua primeira
matriz. Atualmente, a matriz situa-se no
município de Cruz Alta. A empresa contém
35 unidades em seu total, sendo essas
distribuídas em 21 municípios do estado do
Rio Grande do Sul. Neste estudo foi utilizada
amostragem não probabilística, que segundo
Gil (1999) não apresenta fundamentação
matemática ou estatística, dependendo
unicamente de critérios do pesquisador.
Dentro da amostragem não probabilística, foi
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utilizada a acessibilidade ou conveniência,
que segundo o mesmo autor, o pesquisador
seleciona a amostra de acordo com a
facilidade de acesso, admitindo que estes
possam representar a população, dessa forma,
a amostra utilizada foi dos colaboradores da
área administrativa de uma unidade da
empresa e também da matriz.
Quanto ao plano de coleta de dados,
esta pesquisa é caracterizada como
documentação direta extensiva, que segundo
Andrade (2003), baseia-se na aplicação de
formulários e questionários. O instrumento
utilizado foi um questionário com perguntas
abertas e fechadas, sendo que o mesmo foi
adaptado do estudo realizado por Flores
(2013).
Após coletados, os questionários
foram tabulados e interpretados. Os resultados
estão apresentados em forma de tabelas e
gráficos, ou seja, submetidos a tratamento
estatístico, o que caracteriza seu caráter
qualitativo e quantitativo.
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS
RESULTADOS
Nesta seção estão apresentados e
discutidos os resultados obtidos com a
aplicação dos questionários aos colaboradores
da empresa em questão, bem como, a análise
das respostas obtidas.
4.1 Perfil dos colaboradores e perfil das
dívidas
Conforme mencionado
anteriormente, a população alvo deste estudo
são os colaboradores de uma empresa
cerealista, tendo como respondentes uma
amostra de 55 pessoas. Os entrevistados têm
idade média de 27 anos, sendo que variam de
15 a 45 anos. Do total dos 55 respondentes,
31 são mulheres e 24 são homens. Em
relação ao estado civil, 36,36% são casados,
solteiros representam 60% e apenas 3,63%
são separados.
Em média 32,72% possuem
dependentes, os quais podem ser filhos,
cônjuge e/ou demais pessoas que dependam
de sua renda, enquanto que 67,27% não
possuem. Observou-se também que, 34,54%
dos respondentes têm entre um e três filhos e
64,45% não tem nenhum filho. Em relação à
moradia, os entrevistados afirmam que,
54,54% possuem moradia própria, 34,54%
moram de aluguel, moradia financiada
aparece com 7,27% e outras opções como
moradia cedida ou morar com os pais apenas
3,63%.
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O grau de escolaridade dos
entrevistados também varia, do total dos 55
respondentes, apenas 3 possuem ensino médio
incompleto, 5 tem ensino médio completo, 20
possuem ensino superior incompleto, 20 são
graduados, ou seja, já tem ensino superior
completo e 7 possuem pós graduação.
Além disso, outro item que varia
bastante em relação às respostas dos
entrevistados, é quanto as funções que cada
um desempenha junto à empresa, porém as
que mais aparecem são, assistente
administrativo, analista administrativo,
financeiro, analista contábil, analista de
crédito, analista fiscal, analista de
controladoria, técnico agrícola e engenheiro
agrônomo, e o tempo de atuação na empresa
dos colaboradores entrevistados varia entre
um mês a treze anos.
As análises descritas acima, podem
ser observadas no quadro 1.
Quadro 1- Perfil dos Entrevistados Variável Alternativa Frequência Porcentagem
Sexo
Masculino 24 43,64% Feminino 31 56,36%
Estado Civil
Casado (a) 20 36,36% Solteiro (a) 33 60% Viúvo (a) 0 0 Separado (a) 2 3,63%
Dependentes Sim 18 32,72% Não 37 67,27%
Filhos
Sim 19 34,54% Não 36 64,45%
Moradia
Própria 30 54,54% Alugada 19 34,54% Financiada 4 7,27% Outra 2 3,63%.
Escolaridade
Ensino Fundamental Incompleto
0 0
Ensino Fundamental Completo
0 0
Ensino Médio Incompleto
3 5,45%
Ensino Médio Completo
5 9,09%
Ensino Superior Incompleto
20 36,36%
Ensino Superior Completo
20 36,36%
Pós Graduação 7 12,73% Mestrado 0 0 Doutorado 0 0
Fonte: Dados da pesquisa
77
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
Após esta análise inicial, buscou-se
analisar o perfil dos gastos, através de
questões como renda familiar, existência e
tipo de dívidas, pontualidade das mesmas e a
principal razão de existirem. Os resultados
estão no quadro 2.
Quadro 2- Perfil das Dívidas Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com o quadro 2 é possível
perceber que a renda familiar dos
entrevistados varia. Somente 2 dos
entrevistados afirmam ter renda de até 1
salário mínimo, 19 dizem ter renda de um a 3
salários mínimos, também 19 afirmam
receber entre 3 e 5 salários mínimos, 12
pessoas recebem de 5 a 8 salários mínimos, 2
colaboradores tem renda familiar de 8 a 10
salários mínimos e apena 1 tem renda familiar
Variável Alternativas Frequência Percentual
Renda Líquida Mensal Familiar
Até 1 salário mínimo 2 3,63% De 1 a 3 salários mínimos 19 34,55% De 3 a 5 salários mínimos 19 34,55% De 5 a 8 salários mínimos 12 21,82% De 8 a 10 salários mínimos 2 3,63% Acima de 10 salários mínimos 1 1,82%
Você possui dívidas? Não 12 21,82% Sim 43 78,18%
Quais os tipos?
Cheque especial 9 16,36% Crediário (loja, mercado) 26 47,27% Financiamento de bem móvel (carro, móveis, etc)
18 32,73%
Cartão de crédito 21 38,18% Financiamento de bem imóvel (casa, terreno, etc)
13 23,63%
Empréstimo rural 2 3,63% Empréstimo pessoal 10 18,18% Outro 1 1,82%
Essas dívidas estão em atraso?
Não 51 92,73% Sim 4 7,27%
A principal razão para suas dívidas foi?
Falta de planejamento 11 25,58% Desemprego ou queda na renda 1 2,32% Alta propensão ao consumo 5 11,63% Alta taxa de juros 1 2,32% Empréstimo do nome 1 2,32% Má gestão orçamentária 3 6,97% Facilidade de acesso ao crédito 18 41,86% Problemas de saúde 0 0 Ausência de desconto à vista 3 6,97% Outro 0 0
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
acima de 10 salários mínimos. Ou seja, o
percentual de 69,10% dos entrevistados tem
renda média de 1 a 5 salários mínimos.
De acordo com a entrevista pode-se
verificar que, 78,18% dos entrevistados
afirmam ter dívidas, sendo as que mais
aparecem são financiamento de bem móvel e
imóvel, cartão de crédito, empréstimo
pessoal, crediário e cheque especial, porém
21,82% dizem não possuir nenhum tipo de
dívida. Dos quarenta e três participantes da
entrevista que afirmam ter dívidas, somente
quatro, representando 9,30% confessam estar
com essas dívidas em atraso, os demais dizem
estar com as contas em dia. É de suma
importância destacar, conforme estudo já
realizado, que o endividamento é uma
maneira fácil para a aquisição de bens de
consumo, e isso não pode ser visto como algo
indesejável quando feito de forma correta e
não exagerada. Sendo assim, deve ser levado
em consideração que na maioria das vezes
para adquirir algo que desejamos, é necessário
algum tipo de empréstimo ou financiamento,
mas se esses forem feitos de forma correta e
consciente não devem ser considerados
problema de endividamento.
Conforme visto anteriormente,
segundo pesquisa realizada em 2010, pela
Confederação Nacional de Dirigentes e
Lojistas (CNDL), juntamente com o SPC
Brasil, os entrevistados afirmam que 21,57%
dos consumidores brasileiros estão
inadimplentes há mais de um ano. Dessa
forma, percebe-se que os colaboradores da
empresa em estudo, possuem dívidas, porém,
na grande maioria, essas dívidas estão em dia,
o que significa que estão endividados, mas
não inadimplentes.
Com base no referencial desse
estudo, pode-se observar que o endividamento
pessoal está interligado a características
pessoais, como, persistência e dedicação e
ainda, que o consumo exagerado pode levar
muitos indivíduos a contraírem dívidas
comprometendo uma parcela significativa de
suas rendas e, muitas vezes acabando por se
tornarem inadimplentes.
A razão para esses 78,18% dos
entrevistados estarem endividados, explica-se
pelo seguinte, 2,32%% afirmam estarem
endividados por empréstimo do nome, outros
2,32% pela alta taxa de juros, outros 2,32%
por estar desempregados, 6,97% por má
gestão orçamentária, 6,97% por ausência de
desconto nas compra a vista. Já 11,63% se
dizem endividados pela alta propensão ao
consumo, 25,58% dos entrevistados afirmam
terem contraído dívidas por falta de
planejamento e 41,86% por facilidade de
acesso ao crédito.
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
De acordo com gastos em relação à
renda, 23 dos entrevistados responderam que
gastam menos do que ganham, 22 dizem
gastar igual ao que ganham e 10 pessoas
afirmam gastar mais do que ganham.
Conforme o que foi relatado no
referencial teórico desse estudo, o aumento
significativo dos níveis de endividamento da
população, nos últimos tempos vem se
tornando um importante campo de estudo na
área financeira, e ainda, um dos principais
motivos que faz com que as pessoas se
tornem endividadas é a facilidade de acesso
ao crédito, fato esse que pode ser
concretizados com as informações relatadas
pelos respondentes da pesquisa.
4.2 Risco financeiro
Em relação aos riscos que os
entrevistados estão dispostos a assumir, estão
apresentadas abaixo as opiniões dos mesmos.
Esta parte do questionário tem por objetivo
demonstrar aos leitores, a opinião dos
entrevistados em relação aos riscos
financeiros que estão dispostos a assumir em
determinadas situações as quais são deparados
em seu cotidiano, como, gastar grande
quantidade de dinheiro em loterias, ser
avalista de alguém, gastar dinheiro
impulsivamente, sem pensar nas
consequências, investir em algum negócio
com grandes chances de não dar certo e
emprestar maior parte da renda mensal a
amigos e familiares.
Ao serem questionados sobre gastar
grande quantidade de dinheiro em loterias, a
grande maioria dos entrevistados aponta
algum tipo de risco, 21,82% dizem ser um
risco extremo, 40% muito risco, 23,64% risco
moderado, 5,45% acreditam ser uma prática
com pouco risco, e ainda 9,09% dizem não
encontrar nenhum risco ao gastar grande parte
de seu dinheiro em loterias. Ainda
questionados sobre a mesma questão, 72,73%
dos respondentes afirmam muito improvável
ter gastos elevados com apostas em loterias,
25,45% improvável e somente 1,82% diz ser
provável fazer isto.
Para a maioria da população, ser
avalista de amigos ou parentes gera
desconforto, e isso tem sua razão pois ser a
garantia da dívida de alguém é algo que
envolve riscos. Para os questionados sobre
esse assunto, 49,09% apontam essa prática
como risco extremo, outros 43,64% muito
risco, 3,64% dizem ser de risco moderado, e
ainda 3,64% apontam isso como uma situação
de pouco risco.
Antes de conceder aval a uma
pessoa, é necessário estar atento às
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
responsabilidades assumidas e, sobretudo, à
relação de confiança que se tem com o
devedor. De acordo com os entrevistados,
41,82% dizem ser muito improvável, 30,9%
improvável, 25,45% incerto e somente 1,82%
dizem ser provável ser avalista de alguém.
Pessoas que gastam dinheiro
impulsivamente são praticamente dependentes
do comportamento de gastar, precisando fazê-
lo sem limites para se sentir bem, ao menos
naquele momento, onde muitas vezes
arrependem-se posteriormente. Segundo os
participantes da pesquisa, 50,9% classificam
essa prática como risco extremo, 40% como
muito risco, outros 5,45% como risco
moderado e apenas 3,64% como pouco risco.
Ainda sobre gastar impulsivamente,
sem pensar nas consequências, 36,36% dos
respondentes, dizem que é muito improvável
realizar esse tipo de ação, outros 38,18%
afirmam ser improvável, e ainda 20% incerto.
Tomar a decisão de investir em um
negócio é um ato que deve ser muito pensado
e calculado, para evitar que esse venha a
tornar-se um fracasso. Segundo os
entrevistados, 58,18% avaliam como risco
extremo investir em um negócio que possua
grandes chances de não dar certo, 30,9%
dizem ser um ato de muito risco, outros
7,27% risco moderado e apenas 3,64%
avaliam essa prática como de pouco risco. De
acordo com os entrevistados, para 50,9% é
muito improvável ser realizado isso por eles,
para 40% é improvável, para outros 7,27%
incerto e para apenas 1,82% essa prática é
provável.
Fazer empréstimos da maior parte do
salário ou da renda mensal para amigos ou
familiares, pode ser considerada uma prática
muito arriscada, isso pode ser comprovado
com as respostas dos entrevistados, onde 40%
afirmam considerar de risco extremo fazer
esse tipo de empréstimos, 41,82% dizem ser
de muito risco, outros 12,73% risco moderado
e apenas 5,45% considera de pouco risco.
Segundo os questionados, 34,54% dizem ser
muito improvável emprestar maior parte do
salário ou da renda mensal para amigos ou
familiares, 49,09% consideram improvável,
outros 14,54% avaliam como incerto e apenas
1,82% muito provável realizar ações desse
tipo.
O termo finanças diz respeito a como
administrar o dinheiro da melhor forma,
conforme já estudado, um ramo de estudo das
finanças são as finanças comportamentais,
que visam demonstrar como cada indivíduo
pode ter diferentes modos de pensar e tomar
diferentes decisões relacionadas ao dinheiro.
Segundo o resultado da pesquisa isso fica bem
claro, cada indivíduo tem sua opinião sobre
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
como administrar melhor seu dinheiro, onde
muitas vezes as respostas divergem.
4.3 Fatores comportamentais na propensão
ao endividamento
As respostas do questionamento
referente ao terceiro objetivo do estudo,
verificar a influência dos fatores
comportamentais na propensão ao
endividamento, estão demonstradas e
analisadas a seguir.
Pode-se notar que a maioria dos
entrevistados preocupa-se em gerenciar
melhor as suas finanças, onde 58,18%
afirmam sempre se preocuparem com isso,
38,18% dizem quase sempre e apenas 3,64%
confessam quase nunca terem esse
pensamento.
De acordo com estudo realizado,
sabe-se que a contabilidade registra e controla
fatos que afetam o patrimônio, e esta pode e
deve ser aplicada tanto para pessoa física,
como para pessoa jurídica. Nesse sentido, foi
possível identificar que do total dos
entrevistados, 18,18% nunca controla seus
gastos na forma de registros contábeis,
29,09% quase nunca, 25,45% quase sempre
faz esses registros e a mesma porcentagem
sempre fazem esse controle, apenas 1,82% diz
que essa prática não é aplicada.
O estabelecimento de metas
financeiras para administração das finanças é
uma prática muito importante, porém, 3 dos
entrevistados afirmam nunca estabelecer essas
metas, 22 quase nunca, 18 pessoas quase
sempre, apenas 9 sempre estabelecem uma
meta financeira a ser seguida e ainda 3 dos
entrevistados diz que não se aplica esse
método.
A contabilidade mental refere-se a
como os indivíduos fazem para organizar,
registrar e analisar suas atividades financeiras,
por tanto, ela aborda como as pessoas
registram, resumem e analisam as transações
econômico-financeiras do seu cotidiano. A
grande maioria dos entrevistados, com
43,65% diz que quase nunca segue um
orçamento ou algum tipo de plano de gastos
semanal ou mensal, porém, 27,27% dizem
nunca ficar mais de um mês sem fazer o
balanço de seus gastos, 34,55% quase nunca,
outros 23,64% quase sempre e 12,73%
sempre passam esse período sem fazer
qualquer tipo de balanço para controle dos
gastos.
Ter um controle das receitas e
despesas dos indivíduos é fundamental para
obter satisfação ao final do período. O
registro é uma maneira fácil de estabelecer
organização e um controle correto das
finanças pessoais. Nota-se que a maioria dos
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
entrevistados está satisfeito com o seu sistema
de controle financeiro, 8 pessoas responderam
que nunca estão satisfeitos, quase nunca
foram 7, quase sempre satisfeitos somam 25,
14 afirmam sempre estarem satisfeitos, sendo
assim, o hábito da contabilização das receitas
e despesas em planilhas ou em simples
cadernetas for adotado, muitas pessoas não
irão se deparar com excessos de dívidas todo
final de mês.
O endividamento, na maioria das
vezes é consequência do consumo exagerado
de bens e serviços e torna-se crônico quando
compromete uma parcela significativa da
renda do devedor. Apenas 2 dos entrevistados
nunca pagam suas contas sem atraso, os que
quase nunca pagam sem atraso são 3, quase
sempre pagam as contas em dia são 21 e
sempre estão com as contas de acordo com os
vencimentos totalizam 29 entrevistados.
Identificar os juros pagos com as
compras a crédito é uma tarefa muito
importante, pois assim consegue-se
diferenciar o valor do produto com o real
pago. De acordo com os entrevistados,
34,55% afirmam quase sempre identificar os
juros e a mesma porcentagem sempre
identifica esses valores, apenas 5,45% nunca e
16,36% quase nunca. A utilização do cartão
de crédito e cheque especial para quitar
despesas, por não possuir dinheiro disponível
varia bastante entre os entrevistados, 34,55%
nunca fazem isso, 29,09% quase nunca,
18,18% quase sempre utilizam esses recursos,
12,73% sempre a 5,45% dizem que essa
prática não se aplica.
Pesquisas para encontrar melhores
condições de pagamento e taxas de juros
podem auxiliar bastante na hora de tomar
decisões. De acordo com os respondentes da
pesquisa, 29,09% sempre realizam
comparações, 21,82% quase sempre, 29,09%
quase nunca e ainda 9,09% nunca fazem
comparações entre opções dos créditos
disponíveis.
Comprar a prazo, obterem
empréstimos ou financiamentos é sinônimo de
ter uma parte de sua renda mensal
comprometida. Do total dos 55 respondentes,
6 afirmam nunca terem mais de 10% da renda
comprometida, outros 14 quase nunca, 24
pessoas dizem quase sempre estarem com
essa parcela já destinada a alguma dívida e
ainda 9 sempre têm mais de 10% de sua renda
mensal comprometida. No que diz respeito a
pagamento da fatura do cartão de crédito,
63,64% sempre pagam inteiramente as
faturas, 20% quase sempre, 1,82% nunca
consegue quitar inteiramente esses valore e
ainda, para 14,55% dos entrevistados isso não
aplica.
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
Conferir as faturas dos cartões de
crédito é prática essencial para averiguar
possíveis erros ou cobranças indevidas. Dos
55 respondentes, apenas 1 nunca confere, 5
quase nunca, 11 quase sempre fazem essas
conferências, 29 afirmam sempre conferir e
para 9, essa prática não se aplica.
Poupar mensalmente é a melhor
forma de planejar um futuro confortável e
seguro, porém 20 dos entrevistados quase
nunca e outros 6 nunca conseguem guardar
nenhuma quantia de dinheiro, já 16 dos
respondentes quase sempre e outros 13
sempre se preocupam e guardam alguma
quantia. Sabe-se que quando é estabelecido
alguma meta as ser alcançada, as pessoas se
engajam mais para a sua realização, poupar
visando à compra de um produto mais caro,
como por exemplo, um carro ou uma casa. No
entanto, para os entrevistados, 45,5% quase
nunca fazem isso, 7,3% assumem nunca
poupar para a aquisição de um bem de maior
valor, 25,5% quase sempre e outros 21,8%
sempre se empenham para economizar
alguma quantia para a aquisição de algo mais
caro.
Como pode-se perceber, poupar
dinheiro não é tarefa fácil, porém é necessário
esforço e dedicação para conseguir juntar
alguma quantia em dinheiro. Para 36,36% dos
entrevistados concordam muito, a grande
maioria, com 60% concorda e apenas 3,63%
não concordam que se propuser, sempre pode
poupar algum dinheiro. Também é de suma
importância, ser cuidadoso com no gasto do
dinheiro, 38,18% dos respondentes
concordam muito e 61,82% concordam.
Como já visto, possuir uma reserva
financeira para ser usada em casos
inesperados não é uma tarefa muito fácil para
nossos entrevistados, ainda mais se ela for
maior ou igual a três vezes a sua renda
mensal, mesmo assim, 21,8% quase sempre e
outros 18,2% sempre possuem essa reserva, já
29,15 nunca e outros 30,9% quase nunca
possuem reserva maior ou igual a três vezes a
renda mensal.
Realizar pesquisas de preços muitas
vezes ajuda economizar alguma quantia de
dinheiro ou ainda investir em produtos de
maior qualidade com preços mais acessíveis.
A maioria dos entrevistados, sendo esses,
trinta e dois respondentes, afirmam sempre
comparar preços antes de fazer alguma
compra outros dezessete quase sempre fazem
comparações, porém cinco dizem quase nunca
e apenas um nunca compara preços.
A análise das finanças antes de fazer
alguma grande compra é fundamental para
evitar possíveis endividamentos, segundo os
entrevistados, 45,5% dos mesmos sempre
analisam com profundidade suas finanças
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
antes de grandes compras, 38,2% quase
sempre, 10,9% quase nunca, apenas 1,82%
admitem nunca fazer qualquer tipo de análise
e para 3,6% isso não se aplica. Ao não fazer
análises das finanças, as pessoas passam a
adquirirem dívidas, comprando por impulso.
De acordo com a pesquisa, 8 dos
respondentes dizem nunca comprar por
impulso, outros 34 quase nunca, 7 dos
respondentes afirmam quase sempre e 6
admitem sempre fazer esse tipo de compra.
Saber qual a melhor forma de
realizar uma compra, muitas vezes causa
inúmeras dúvidas aos consumidores, financiar
um produto ao invés de juntar dinheiro para
comprá-lo a vista às vezes parece mais fácil e
mais viável para o momento, mas deve-se ter
cautela e analisar as propostas oferecidas.
Para os questionados, 14,54% nunca
financiam produtos, preferem juntar dinheiro
para adquiri-lo, 40% quase nunca, outros
32,73% quase sempre e 12,73% sempre
financiam produtos para não precisar juntar
dinheiro para pagá-los no ato da compra.
Estas questões referem-se ao
comportamento e modo de pensar dos
entrevistados, onde os mesmos tinham como
opção de resposta: nunca, quase nunca, quase
sempre, sempre e não se aplica. De acordo
com esta escala, em 15 questões a resposta
que mais deveria aparecer seria “sempre”,
visto que estas se referem a um
gerenciamento correto das finanças,
estabelecimento de metas financeiras,
poupança mensal, pagamento de contas na
data correta, fazer análises dos gastos,
compararem preços, conferência à fatura dos
cartões de crédito, dentre outras. A figura a
seguir, demonstra as respostas dos
entrevistados.
Figura 1: Gerenciamento das Finanças 1
Fonte: Dados da Pesquisa
De acordo com a figura é possível
perceber que, referente ás 15 questões onde as
respostas deveriam ser “sempre”, 34%
respondeu sempre, 32% quase sempre, 21%
quase nunca, 9% nunca e para apenas 4% isso
não se aplica, De acordo com os percentuais
apresentados, pode-se notar que as respostas
estão condizentes com o esperado, onde 66%
tiveram respostas entre sempre e quase
sempre.
Em outras 5 questões, a resposta
deveria ser “nunca”, referem-se a utilização
do cartão de crédito bancário e cheque
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
especial por não possuir dinheiro disponível
para as despesas, ter mais de 10% da renda
comprometida com compras a crédito,
comprar por impulso, preferir comprar um
produto financiado a juntar dinheiro para
comprá-lo a vista, etc. A figura a seguir,
demonstra as respostas dos entrevistados.
Figura 2: Gerenciamento das Finanças 2
Fonte: Dados da Pesquisa
Considerando as 5 questões,
apenas 20% responderam nunca, outros 37%
quase nunca, 25% quase sempre, 16%
responderam sempre, e ainda para 2% não se
aplica. Apesar de a porcentagem que
responderam “nunca” ser considerada
pequena, com apenas 20%, o somatório das
respostas entre “nunca” e “quase nunca”
atingem 57%, o que diz que a maioria dos
respondentes está de acordo com a estimativa
das respostas.
Na sequência, as próximas 11
perguntas, também relacionadas ao
comportamento e modo de pensar, têm como
resposta: concordo muito, concordo, discordo
e discordo muito.
O cartão de crédito é uma ferramenta
muito usada nos dias de hoje, é um método
seguro e prático de pagar contas
eletronicamente e ainda organizar as finanças,
porém, deve-se estar atento para não
extrapolar. Ao serem questionados se o uso
do cartão de crédito permite ter uma melhor
qualidade de vida, 16,36% dos entrevistados
concordam muito, 47,28% concordam e
outros 36,36% discordam. Sobre o perigo do
uso dos cartões de créditos, 21,82%
concordam muito que é uma prática perigosa,
a grande maioria, com 65,45% apenas
concordam, 10,9% discordam e apenas 1,82%
discordam muito sobre o perigo do uso dos
cartões de credito.
Segundo os entrevistados, 3
concordam muito que é uma boa ideia
comprar algo agora e pagá-lo depois, 20
apenas concordam, a maioria, com 29
discordam ser uma boa ideia essa prática e
apenas 3 discordam muito. Sobre a
preferência de pagar sempre a vista, 32,73%
concordam muito, 45,45% concordam que é
preferível ter a preocupação em pagar sempre
no ato da compra, outros 20% discordam e
ainda 1,82% discordam muito com isso.
O uso do cartão de crédito cresce a
cada dia, muitas vezes passando a fazer parte
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
essencial do estilo de vida atual. De acordo
com essa afirmação, 6 entrevistados
concordam muito, 28 apenas concordam, 20
dizem discordar com a afirmativa e apenas 1
discorda muito. Com a facilidade de obter-se
cartões de crédito, o índice de endividamento
pessoal pode crescer, sendo que 43,63%
concordam muito, 45,45% concordam e
apenas 10,9% dos entrevistados admitem que
a facilidade de se obter cartões de crédito é
uma das causas do endividamento das
pessoas.
Viver de acordo com o dinheiro que
se tem, evitando contrair dívidas é muito
importante, para os questionados, 20
concordam muito com a afirmativa, 30 apenas
concordam e os demais 5 não concordam com
a importância de preocupar-se com o dinheiro
que se tem.
No que se refere, a importância de
pagar as dívidas o quanto antes possível,
9,09% discordam com a afirmativa, outros
52,73% concordam e os demais 38,18%
concordam muito. Empréstimos muitas vezes
ajudam a adquirir algo desejado, o qual não se
tem condições de pagar à vista, sendo muitas
vezes responsáveis pelo endividamento
pessoal. Dessa forma, pedir empréstimos às
vezes, é uma ótima ideia para apenas 1,82%
que concordam muito, 41,81% dizem
concordar, 47,27% discordam e 9,09%
discordam muito.
As questões apresentadas acima
referem-se também ao comportamento e
modo de pensar dos entrevistados. Segundo
esta escala, onde foi analisado o pensamento
dos entrevistados em relação às finanças e ao
crédito, em 7 questões a resposta que mais
deveria aparecer seria “Concordo”, tendo em
vista essas questões, as mesmas referem-se à
preferência de em pagar sempre à vista, o uso
do crédito pode ser perigoso, a importância de
preocupar-se em viver de acordo com o
dinheiro que se tem, se propuser sempre é
possível poupar algum dinheiro. O gráfico
referente a estas questões estão na figura 3.
Figura 3- Gerenciamento das Formas de
pagamento 1.
Fonte: Dados da Pesquisa
Pode-se notar que as respostas
condizem com o esperado, pois 55%
responderam concordo, outros 35% concordo
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
muito, 9% discordo, apenas 1% discordo
muito. Então, referente às questões onde a
melhor resposta seria “concordo”, 90% das
respostas estão entre “concordo” e “concordo
muito”, significando que as respostas
condizem bastante com o esperado.
Referente ás demais 4 questões, onde
as alternativa correta seria “Discordo”
referem-se que, é uma boa ideia comprar algo
agora e pagá-lo depois, pedir um empréstimo
é às vezes uma ótima ideia, usar o crédito
permite ter uma melhor qualidade de vida,
dentre outros. O gráfico referente a estas
questões estão na figura 4.
Figura 4- Gerenciamento das Formas de
pagamento 2.
Fonte: Dados da Pesquisa
Analisando o gráfico apresentado na
figura 4, nota-se que referente às questões
onde a melhor resposta seria “discordo”, o
resultado não foi conforme o esperado, pois
44% dos respondentes concordam, 9%
responderam concordo muito, 43% discordo,
e ainda 4% discordo muito.
Tendo como base o referencial
teórico desse estudo, a sociedade moderna
apresenta uma forte característica que é a
cultura do consumo, a partir do qual os
indivíduos associam felicidade e status social
ao ato de adquirir bens, e com a facilidade de
acesso ao crédito, o consumismo está a cada
dia mais frequente no cotidiano das pessoas.
Essa informação pode ser concretizada
conforme os 45,46% dos respondentes
afirmam sempre ou quase sempre preferirem
financiar produtos ao invés de juntar dinheiro
para comprá-lo a vista.
Ainda sobre o acesso ao crédito,
87,27% dos entrevistados responderam que
concordam ou concordam muito que o uso do
crédito pode ser perigoso, pois de acordo com
o estudo sobre as finanças comportamentais,
muitas vezes decisões são tomadas com base
no sistema emocional, acarretando assim em
decisões precipitadas e na maioria das vezes
prejudiciais.
5 CONCLUSÃO
O presente estudo teve com objetivo
analisar influência da contabilidade mental
nas decisões financeiras dos colaboradores de
uma empresa privada do estado do Rio
88
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 2, p. 65-91, 2015
Grande do Sul. Conforme observado através
da pesquisa, um estudo foi realizado com
colaboradores da área administrativa de uma
unidade e da matriz de uma empresa
cerealista.
De acordo com a pesquisa, pode ser
observado que grande parte dos participantes,
78,12% possui algum tipo de dívida, sendo as
principais, crediário e cartão de crédito.
Porém a maioria não está inadimplente, pois
somente 9,3% estão com as dívidas em atraso,
e também que a facilidade ao acesso ao
crédito e a falta de planejamento são as
principais razões para que isso ocorra.
Antes de tomar qualquer decisão em
relação a finanças é necessário ter muita
cautela para averiguar as situações
vivenciadas e calcular os riscos que se está
disposto a enfrentar. Segundo análise das
entrevistas, foi possível observar que os
respondentes analisam os riscos financeiros
ocorridos no dia a dia. Para 92,73%, por
exemplo, ser avalista de alguém apresenta
algum tipo de risco, seja ele muito risco ou
risco extremo.
O gerenciamento das finanças, por
serem pessoais, varia de acordo com cada
indivíduo, porém esse gerenciamento deve ser
feito sempre com o intuito de melhorar o
modo com que cada um controla suas
finanças. Segundo a pesquisa, os
entrevistados estão satisfeitos com o modo em
que estão gerenciando suas finanças, porém a
maioria ainda preocupa-se em melhorar esse
gerenciamento. Os entrevistados afirmam
ainda, que, 43,65% nunca seguem um
orçamento ou algum plano de contas e que na
maioria dos casos não consegue poupar
alguma quantia mensalmente, sendo o
orçamento, prática essa que seria muito
importante para um controle financeiro mais
eficaz, baseado em práticas contábeis.
Conforme visto anteriormente, a
ciência contábil é uma ferramenta
imprescindível na gestão de negócios. Manter
as finanças pessoais de forma organizada e
seguir orçamentos não são tarefas difíceis, e
que deveriam ser seguidas por todos para
evitar desconfortos financeiros. Com a
pesquisa, observou-se que a gestão financeira
dos respondentes está condizente com o que
se espera de um bom gerenciamento pessoal,
porém ainda existem pontos a serem
melhorados. Para que isso ocorra, basta que
os colaboradores se organizem melhor e
contabilizem corretamente todas as transações
financeiras realizadas, gerenciando melhor
suas finanças pessoais.
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