cultura religiosa

Preview:

Citation preview

01. CULTURAS EM DIÁLOGO

Baseado nas reflexões: SUESS, Paulo, Cultura em diálogo, Revista Eclesiástica Brasileira,

Petrópolis, Vozes, fasc. 243, setembro/2001.

VISÕES ETNOCÊNTRICASDAS ELITES DOMINANTES

RICOS E POBRES QUE SONHAM COM AS PROMESSAS DO AMERICAN WAY OF LIFE.

INTOLERÂNCIA FUNDAMENTALISTA.

CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE CULTURA.

A partir da vida do povo pobre e dos excluídos na diversidade das culturas, em harmonia com a mãe terra e com toda a criação.

Destaque de dois conceitos de cultura:

A cultura como um setor ou uma esfera da realidade social, ao lado da esfera sócio-política e econômica, identificando a cultura com ideologia no sentido amplo (educação, arte, atividades espirituais e intelectuais)A cultura como totalidade das atividades humanas: a atividade sócio-política, economia e ideologia, como também a atividade material, intelectual, espiritual e simbólica.

Cultura

Conjunto de práticas que configuram o “projeto de vida” de um povo ou grupo social.Através de sua cultura, os grupos sociais se adaptam ao seu meio ambiente, se associam uns aos outros e criam instituições sociais, expressam seu pensamento e sentimento e interpretam seu estar no mundo.

A cultura como projeto de vida

Reúne sempre dois aspectos:

1. Tradição coletiva

2. Inovação individual

O plural das culturas.

A cultura existe praticamente só no plural das “culturas”, significando sempre muitos projetos de vida diferentes e muitas possibilidades de organizar e interpretar a vida.O conceito “cultura” aponta para a liberdade, a diversidade e a criatividade da vida.

A civilização humana – compreendida aqui como um conjunto de culturas diferentes

1. Não pode ser reduzida à civilização material (cultura adaptativa).

2. Não pode ser reduzida à cultura social (cultura associativa).

Isso a aproximaria à cultura animal.

A CULTURA MATERIAL E SOCIAL É SEMPRE ACOMPANHADA E

ENTRELAÇADA PELA CULTURA

INTERPRETATIVA, PRATICAMENTE AUSENTE

POR COMPLETO DO REINO ANIMAL.

Na cultura interpretativa trabalhamos com símbolos e conceitos que codificam

significados e sentidos.

NAS CODIFICAÇÕES DAS LINGUAGENS, DOS MITOS, DAS RELIGIÕES, DA ARTE E DA CIÊNCIA ENTRAMOS NO UNIVERSO ESPECÍFICO DA HUMANIDADE.

COM CULTURA COMPREENDEMOS A

ASSUNÇÃO DA EXPERIÊNCIA DA VIDA PASSADA E A

CONSTRUÇÃO DO FUTURO.

Por isso não faz sentido falar em “cultura de morte”, como se existisse uma “cultura

pura”, sem morte.

No mesmo campo e na mesma cultura crescem trigo e joio. No mesmo mundo convivem “justos” e “pecadores”, não só lado ao lado, mas cada um, como indivíduo, e cada grupo social, com sua cultura, faz parte do mundo dos “justos” e “pecadores”. As culturas são atravessadas por “estruturas de pecado”. Por isso nenhuma cultura é normativa para a outra.

A CULTURA NÃO É OPÇÃONascemos arbitrariamente numa aldeia ou cidade, numa classe social e numa cultura. Tudo poderia ter sido diferentes.A nossa socialização cultural – a nossa enculturação – nos fez, com as riquezas encontradas e as habilidades adquiridas nesta cultura, construir uma suposta superioridade de cultura.

O que é “etnocentrismo feliz”?Somos mais ou menos convictos de que a “loteria” cultural nos proporcionou o melhor.Exemplos: “sou brasileiro, graças a Deus”Na versão religiosa pode ser expressado: “sou feliz por ser católico”.Felicidade dos usuários de certos produtos.

QUEM TEM CONVICÇÕES PRÓPRIAS E AMOR A SI MESMO, TEM FORÇAS E RAZÕES PARA DEFENDER SEU PROJETO DE VIDA E AMAR AO PRÓXIMO E O PROJETO DELE.

CONFLITOS CULTURAIS NASCEM DE QUESTÕES DE PODER, DE ECONOMIA E DE VERDADE QUE AS CULTURAS DIFERENTEMENTE ADMINISTRAM.

AS CULTURAS HEGEMÔNICAS E AS OUTRAS, COM PRETENSÕES DE HEGEMONIA, NÃO SÃO CULTURAS SUPERIORES. ATRÁS DAS AFIRMAÇÕES DA SUPERIORIDADE CULTURAL, GERALMENTE, ESTÁ UMA CEGUEIRA, UM “ETNOCENTRISMO INFELIZ”, QUE COMPARA A PRÓPRIA PROPOSTA “IDEAL” COM A PRÁTICA “REAL” DE OUTRA CULTURA.

HORIZONTES DO DIÁLOGOO diálogo entre as culturas se realiza entre dois extremos:1) entre interesses que buscam a hegemonia cultural através do poder das armas e das restrições econômicas, 2) entre a indiferença pós-moderna, que abdica da solidariedade e deixa indivíduos e povos à mercê de si mesmo ou dos mais fortes.

O diálogo procura superar as estratégias do poder, que divide o mundo entre vencedores e vencidos, entre culturas dominantes e culturas vencidas e, ao mesmo tempo, procura superar a dessolidarizaçãoirresponsável.

O DIÁLOGO PROCURA TRANSFORMAR A BRUTALIDADE DAS ARMAS EM “TOLERÂNCIA MILITANTE”, QUE É UMA FORMA DE AUTOLIMITAÇÃO COM CONVICÇÕES PRÓPRIAS.

O CAPITAL E O MERCADO ASSUMIRAM FEIÇÕES RELIGIOSAS:

A ESCATOLOGIA COMO FIM DA HISTÓRIA;A IDOLATRIA DE VERDADES ABSOLUTAS (flexibilização, privatização, terceirização, globalização, concorrência)A VOZ ÚNICA DO DEUS-MERCADO QUE EXIGE VÍTIMAS E SACRIFÍCIOS;

A ideologia religiosa – considerando a religião como subsistema cultural – dá ao neoliberalismo uma nova totalidade que foge aos argumentos da responsabilidade social.

Guerras religiosas não são menos sangrentas que guerras sociais.

O DIÁLOGO É UMA PRÁTICA DE COMUNICAÇÃO QUE PROCURA SUBSTITUIR AS RELAÇÕES ASSIMÉTRICAS QUE IMPEDEM A COMUNICAÇÃO POR RELAÇÕES SIMÉTRICAS.

O DIÁLOGO ACONTECE NUM ÂMBITO DE TOLERÂNCIA E APRENDIZADO; NÃO DE CONVERSÃO.

PELO DIÁLOGO INTERCULTURAL, NINGUÉM PRECISA “SACRIFICAR” AS SUAS RAZÕES DE VIVER EM BENEFÍCIO DE UMA OUTRA CULTURA.

NINGUÉM É OBRIGADO A RENUNCIAR À PRÓPRIA EXPERIÊNCIA E TRADIÇÃO, DECLARANDO A SUA “VISÃO” AGORA “CEGUEIRA”.

O diálogo pressupõe convicções próprias que adquirimos no decorrer da vida. Se não estivéssemos convictos da “superioridade” do nosso projeto e dos nossos “deuses”, se não considerássemos as nossas verdades mais prováveis e as nossas crenças mais razoáveis do que as dos outros, teríamos que aderir, com um mínimo de honestidade, a um outro projeto.

O modelo dialogal parte do contexto.Não pressupõe uma compreensão objetiva.Exige apenas relações simétricas dos interlocutores, o reconhecimento da dignidade das diferenças e a vontade de aprender algo.Compreensão e reconhecimento pressupõem interlocutores que esperam apreender uns dos outros.

O DIÁLOGO ENTRE AS CULTURAS

É UMA CONSTRUÇÃO CULTURAL NA CONTRA MÃO DO PASSADO COLONIAL.

NÃO É UMA HERANÇA HISTÓRICA.

CULTURA NÃO É SOMENTE UM SETOR DA REALIDADE HUMANA,

MAS A SUA TOTALIDADE

Realidade total = com seus desdobramentos no campo político, econômico, ideológico e religioso.CULTURA NÃO É APENAS RELIGIÃO OU UM FENÔMENO FOLCLÓRICO,ARTÍSTICO = TEM A VER COM O MODO DE SER DE CADA POVO, CADA GRUPO HUMANO ORGANIZADO.

O QUE É DIÁLOGO?

O DIÁLOGO EXIGE CONVICÇÕES PRÓPRIAS.EXIGE O RECONHECIMENTO DE LÓGICAS E VERDADES LOCAIS.O RECONHECIMENTO DA SUA CONTEXTUALIDADE.

A MÍSTICA DO SHALOM

O HORIZONTE INTERCULTURAL NÃO É CONSTRUÍDO A PARTIR DA LÓGICA ELIMINATÓRIA E MUITO MENOS A PARTIR DA LÓGICA INTEGRACIONISTA MAS A PARTIR DA CONCOMITÂNCIA ARTICULADA.O que vem a ser isso?

Concomitância articulada:Que pode e deve haver culturas que se desenvolvem ao mesmo tempo no nosso planeta.Que há lugar para as diferentes culturas, diferentes histórias, diferentes modelos políticos existirem, acontecerem sem que um se sobreponha ao outro.

O DIÁLOGO NÃO FAZ PARTE DE UMA SOCIEDADE PATRIARCAL

OU COLONIAL

Por que? Porque neste modelo de sociedade a proposta não é de diálogo, mas sim de

imposições e autoritarismos.

Para que haja diálogo entre as culturas é preciso:

Consenso sobre meios pacíficos de comunicação;O reconhecimento de lógicas contextuais e verdades histórica e geograficamente situadas, no interior de diferentes níveis de realidade;Um conhecimento aproximativo da história e lógica cultural do Outro, com seus desdobramentos no campo político, econômico e ideológico.

... diálogo entre as culturas:O reconhecimento recíproco da igualdade entre os parceiros do diálogo, independente do valor, da validade e da estima que os participantes do diálogo conferem as suas tradições recíprocas.Convicções próprias de cada participante do diálogo

... diálogo entre as culturas:A disposição par um aprendizado recíproco a ser, a fazer, a viver juntos, a conhecer, que, mediante o saber compartilhado, pode gerar uma abertura produtiva ao desconhecido, ao inesperado e ao imprevisível, portanto, à tolerância que reconhece o direito às idéias contrárias às nossas...

... diálogo entre as culturas:Um horizonte universal, convidativo e responsável frente aos não – participantes do respectivo diálogo. O “horizonte universal” do diálogo (...) configura a instância vigilante para que o reconhecimento da diferenças não se torne prática de indiferença. No horizonte universal é possível articular diferentes causas particulares (...) numa causa maior (justiça, igualdade, solidariedade, paz).

Recommended