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O PAPEL DA FORMAÇÃO CONTINUADA E SUA
RELEVÂNCIA
PARA O APERFEIÇOAMENTO DO PEDAGOGO
Roseli Chagas Pereira Leonel
Professora da Rede Estadual do Paraná
RESUMO
Este artigo analisa o papel da Formação Continuada, do estudo e da pesquisa para a formação e atualização do Pedagogo do Estado do Paraná, através do relato da experiência observada no Programa de Desenvolvimento Educacional, implantado a partir do ano de dois mil e sete. Considerando tal experiência e tendo como objetivo resgatar a importância da formação continuada como uma das formas de superação de possíveis defasagens de formação específica do professor, além de constante aperfeiçoamento e atualização, apresenta de forma sintética os anseios, as atividades e reflexões resultantes dos dois anos de trabalho nesse programa que integra a política de valorização dos professores que atuam na Rede Pública Estadual de Ensino do Estado do Paraná. Concomitantemente, aponta também características importantes que esta concepção de Formação Continuada reflexiva gerou na busca da elucidação de desafios que a educação atual enfrenta na realização de sua verdadeira função.
PALAVRAS-CHAVES – Formação continuada. Reflexão. Atualização.
ABSTRACT
This article analyzes the paper of the Continued Formation, the study and the research for the formation and update of the Pedagogo of the State of the Paraná, through the story of the experience observed in the Program of Educational Development, implanted from the seven and a thousand year two. Considering such experience and having as objective to rescue the importance of the continued formation as one of the forms of overcoming of possible imbalances of specific formation of the professor, beyond constant perfectioning and update, it presents of synthetic form the yearnings, the activities and resultant reflections of the two years of work in this program that integrates the politics of valuation of the professors who act in the State Public Net of Education of the State of the Paraná. Concomitantly, it points also characteristic important that this conception of reflexiva Continued Formation generated in the search of the briefing of challenges that the current education faces in the accomplishment of its true function
Word-Key – Continued formation. Reflection. Update.
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INTRODUÇÃO
O Programa Educacional de Desenvolvimento Educacional – PDE,
instituído no ano de 2007 pela Secretaria de Estado da Educação do
Paraná, em cooperação com a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia
e Ensino Superior, foi elaborado como um conjunto de atividades definidas
a partir das necessidades da educação básica, buscando no Ensino
Superior a contribuição necessária para elevar o nível de qualidade
desejado para a educação pública do Estado.
No início das atividades do PDE, desenvolvidas na Universidade
Estadual de Londrina – PR, sob a supervisão e orientação de professores
desta instituição de ensino, foi proposto aos participantes, denominados
Professores PDE, que elaborassem um Plano de Trabalho, o qual deveria
contemplar as atividades de estudo indicadas pelo professor orientador da
Instituição Estadual de Ensino – IES, e outras atividades já definidas pelo
programa, como o Grupo de Trabalho em Rede – GTR, Material Didático e
Proposta de Intervenção nas Escolas, todos eles norteados por um objeto
de estudo, ou seja, um tema relevante a ser pesquisado e desenvolvido
durante os dois anos de estudo, tempo de duração do Programa.
Na tentativa de melhor delinear um objeto de estudo que fosse
relevante para a educação básica, optou-se por realizar uma pesquisa
entre profissionais atuantes da rede estadual de Educação Básica no
Município de Santo Antônio da Platina, no caso Pedagogos. Através do
resultado da pesquisa, que versava sobre vários assuntos, entre eles as
dificuldades encontradas pelos profissionais no âmbito escolar, constatou-
se uma preocupação muito grande por parte dos pedagogos pesquisados
com relação à falta de cursos de capacitação específica para a área, com
temas que realmente fossem relevantes para a sua prática diária, além de
um descontentamento geral devido às mudanças ocorridas nos últimos
anos no que se refere à função do Pedagogo nas escolas, gerando uma
perca de sua identidade profissional.
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Desse modo, partindo dessa pesquisa inicial e considerando a
expectativa que o próprio PDE gerava nos seus participantes, decidiu-se
que o objeto de estudo versaria sobre a importância da formação
continuada para o aperfeiçoamento e atualização do Pedagogo, partindo
do pressuposto de que, além de proporcionar subsídios teórico-
metodológicos para melhor direcionar a sua prática pedagógica, poderia
também superar possíveis defasagens de formação inicial, situando-o
social e historicamente em seu tempo.
Assim norteia-se este trabalho. Analisar o papel da Formação
Continuada e sua relevância para atualização e aperfeiçoamento do
Pedagogo, que a princípio é o foco do trabalho, ressaltando-se que isto se
aplica também a professores de outras áreas, já que este é um tema de
comum interesse a todos. E como o próprio PDE se caracteriza como um
programa de formação continuada, pretende-se aqui dar uma visão geral
das atividades desenvolvidas ao longo do Programa, tendo como
culminância a Implementação da Proposta de Intervenção na escola e com
base nos resultados desta implementação, respaldar o objeto de estudo.
Da inércia à busca: a formação continuada frente
à precarização da formação inicial do Pedagogo
É sabido que as mudanças ocorridas no mundo do trabalho nas
últimas décadas provocaram também transformações na organização da
sociedade capitalista, apontando assim, a necessidade de universalização
da educação básica e uma maior qualificação de profissionais da
educação. A educação, que na sua essência, poderia ser a base para a
mudança de paradigmas, acabou tornando-se, ao longo dos últimos anos,
instrumento de processo de acumulação do capital e reprodutora do
sistema de classes.
A escola, por sua vez, que deveria ter a função social de
transmissão, assimilação e produção do conhecimento, acaba cumprindo,
na sociedade capitalista, a função de manter a hegemonia das camadas
dominantes, já que o conhecimento aí transmitido e produzido geralmente
3
acontece no sentido de validar e manter os benefícios de uma minoria
dominante.
Neste contexto, o processo de globalização econômica provocou
transformações e repercussões nas políticas públicas, levando os países a
se ajustarem aos novos modelos econômicos, implementando várias
medidas de contenção de despesas e reduzindo também os investimentos
na área social, o que acarretou prejuízos na área educacional.
Consequentemente, essa diminuição dos fundos públicos destinados à
educação, aliadas às políticas de agentes financeiros internacionais, onde
podemos citar o Banco Internacional para o Desenvolvimento e a
Reconstrução – BIRD, a Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura - UNESCO, a Comissão Econômica para a América
Latina e Caribe - CEPAL, entre outros, motivaram políticas públicas de
educação e de formação de professores aligeiradas e muitas vezes, de
baixo custo, resultado da racionalização e atualização dos serviços do
Estado. Assim, muitos profissionais que hoje atuam nos Estabelecimentos
de Ensino da Rede Estadual do Paraná, tiveram sua formação
comprometida em Cursos de Graduação, preocupados apenas em fornecer
conhecimentos estanques e pessoal necessário à máquina produtiva de
expansão do sistema capitalista.
Portanto, as transformações que ocorrem na sociedade e no sistema
capitalista mundial e nacional repercutem, diretamente, nas demandas
sociais e nas políticas públicas educacionais, exigindo, assim, que
constantemente sejam reexaminadas a questão da formação profissional
e humana nesse contexto de contínuas transformações.
Neste cenário, encontramos o profissional da Educação denominado
atualmente de Professor Pedagogo, pela Lei Complementar nº 103/2004,
de 15 de março de 2004. Esta Lei, que dispõe sobre o Plano de Carreira do
Professor da Rede Estadual de Educação Básica do Estado do Paraná,
extinguiu os especialistas em educação, no caso, o Orientador Educacional
e o Supervisor Escolar e implementou o cargo de Professor Pedagogo –
generalista em educação. Portanto, segundo a referida Lei, no Capítulo X,
constatamos que:
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Art. 33. Os cargos de Professor e Especialista de Educação, que compõem o Quadro Próprio do Magistério da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná, ficam transformados em cargos de Professor, sendo que os ocupantes dos referidos cargos ficam enquadrados no presente Plano de Carreira do Professor, obedecidos os critérios estabelecidos nesta Lei. No Art. 39. Ficam considerados em extinção, permanecendo com as mesmas nomenclaturas, os cargos de Orientador Educacional, Supervisor Educacional, Administrador Escolar na medida em que vagarem, assegurando-se tratamento igual ao que é oferecido ao Professor, inclusive o direito ao desenvolvimento na carreira, para aqueles que se encontram em exercício (Lei Complementar nº 103/2004).
Desse modo, tanto os profissionais que atuavam na rede estadual
como especialistas, no caso, orientadores educacionais e supervisores
escolares, assim como os professores formados em Pedagogia que
atuavam nas séries iniciais do Ensino Fundamental e que foram
convocados a realizarem a transposição e atuarem como Pedagogos nos
anos finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação Profissional,
quanto os que assumiram os últimos concursos públicos no Estado do
Paraná devem, independentemente de sua formação acadêmica, exercer
a função de Professor Pedagogo. Para tanto, julgamos necessário elencar
aqui as atividades atribuídas ao Professor Pedagogo nos Estabelecimentos
de Ensino de Educação Infantil, Educação Profissional, Ensino Fundamental
e Ensino Médio da Rede Estadual do Paraná, a saber:
Coordenar a elaboração coletiva e acompanhar a efetivação do projeto político pedagógico e do plano de ação da escola; Orientar a comunidade escolar e interferir na construção de um processo pedagógico numa perspectiva transformadora; Participar e intervir, junto à direção, da organização do trabalho pedagógico escolar no sentido de realizar a função social e a especificidade da educação escolar; Coordenar a construção coletiva e a efetivação da proposta curricular da escola, a partir das políticas educacionais da SEED/PR e das Diretrizes Curriculares Nacionais do CNE; Orientar o processo de elaboração dos planejamentos de ensino junto ao coletivo de professores da escola; Promover e coordenar reuniões pedagógicas e grupos de estudo para reflexão e aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico e para a elaboração de proposta de intervenção na realidade escolar; Analisar os projetos de natureza pedagógica a serem implantados na escola; Elaborar o projeto de formação continuada do coletivo de professores e promover ações para a sua efetivação; Participar da elaboração do projeto de formação
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continuada de todos os profissionais da escola, tendo como finalidade a realização e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar; Atuar, junto ao coletivo de professores, na elaboração de projetos de recuperação de estudos a partir das necessidades de aprendizagem identificadas em sala de aula, de modo a garantir as condições básicas para que o processo de socialização do conhecimento científico e de construção do saber realmente se efetive; Organizar a realização dos conselhos de classe, de forma a garantir um processo coletivo de reflexão-ação sobre o trabalho pedagógico desenvolvido pela escola e em sala de aula, além de coordenar a elaboração de propostas de intervenção decorrentes desse processo; Subsidiar o aprimoramento teórico-metodológico do coletivo de professores da escola, promovendo estudos sistemáticos, trocas de experiência, debates, oficinas pedagógicas; Organizar a hora atividade do coletivo de professores da escola, de maneira a garantir que esse espaço-tempo seja de reflexão-ação sobre o processo pedagógico desenvolvido em sala de aula; Informar ao coletivo da comunidade escolar os dados de aproveitamento escolar, de forma a promover o processo de reflexão-ação sobre os mesmos para garantir a aprendizagem de todos os alunos; Coordenar o processo coletivo de elaboração e aprimoramento do Regimento Escolar da escola, garantindo a participação democrática de toda a comunidade escolar; comunidade escolar; Participar do Conselho Escolar subsidiando teórica e metodologicamente as discussões e reflexões acerca da organização e efetivação do trabalho pedagógico escolar; Coordenar a elaboração de critérios para aquisição, empréstimo e seleção de materiais, equipamentos e/ou livros de uso didático-pedagógico, a partir da proposta curricular e do projeto político-pedagógico da escola; Participar da organização pedagógica da biblioteca da escola, assim como do processo de aquisição de livros, revistas; Desenvolver projetos que promovam a interação escola-comunidade, de forma a ampliar os espaços de participação, de democratização das relações, de acesso ao saber e de melhoria das condições de vida da população; Propiciar o desenvolvimento da representatividade dos alunos e sua participação nos diversos momentos e órgãos colegiados da escola; Coordenar a organização do espaço-tempo escolar a partir do projeto político-pedagógico e da proposta curricular da escola, intervindo na elaboração do calendário letivo, na formação das turmas, na definição e distribuição do horário semanal das aulas e disciplinas, do “recreio”, da hora-atividade e de outras atividades que interfiram diretamente na realização do trabalho pedagógico; Coordenar, junto à direção, o processo de distribuição de aulas e disciplinas a partir de critérios legais, pedagógico-didáticos e da proposta pedagógica da escola; Promover a construção de estratégias pedagógicas de superação de todas as formas de discriminação, preconceito e exclusão social e de ampliação do compromisso ético-político com todos as categorias e classes sociais; Responsabilizar-se pelo trabalho pedagógico-didático desenvolvido na escola pelo coletivo dos profissionais que nela atuam; Implantar mecanismos de acompanhamento e avaliação do trabalho pedagógico escolar pela comunidade interna e externa; Apresentar propostas,
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alternativas, sugestões e/ou críticas que promovam o desenvolvimento e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar conforme o projeto político-pedagógico, a proposta curricular e o plano de ação da escola e as políticas educacionais da SEED (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – COORDENAÇÃO DE APOIO À DIREÇÃO E EQUIPE PEDAGÓGICA).
Pelo que se pode constatar, não são poucas as atribuições
destinadas aos Professores Pedagogos e, devido a essa diversidade de
funções, vemos hoje, na grande maioria das vezes, um profissional sem
identidade própria, angustiado, muitas vezes taxado de mero tarefeiro e
faz tudo, tendo que exercer múltiplas tarefas e funções, para muitas das
quais não está preparado.
Necessário se faz, então, uma reflexão crítica e consciente sobre a
formação e a trajetória desses Pedagogos dentro da instituição escolar,
visto que, ao assumirem um cargo generalista, muitos não possuem
embasamento teórico suficiente para desempenhar suas inúmeras
funções com o objetivo de mudança social, o que pode acarretar em
prejuízos para o campo educacional.
É consenso geral que o Pedagogo não é somente um articulador dos
conhecimentos socialmente e historicamente produzidos; na
especificidade de sua função existe uma grande exigência de produção da
ciência pedagógica escolar, determinada pelas relações sociais e
produtivas. Cada estágio das forças produtivas gera um Projeto Político
Pedagógico peculiar que corresponde às demandas de formação de
profissionais e intelectuais, tanto dirigentes quanto trabalhadores. É neste
contexto que cabe indagar: esse profissional, hoje denominado de
Professor Pedagogo, tem consciência de que os processos educacionais e
os processos sociais mais abrangentes de reprodução estão intimamente
ligados? Tem conhecimento do saber historicamente construído acerca da
educação, bem como das atuais políticas públicas educacionais no que se
refere à formação de professores e profissionais das diversas áreas? Será
que conhece bem as especificidades de sua função? Possui autonomia
intelectual e pensamento crítico?
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Em se tratando de educação, inúmeros são os desafios a se
enfrentar e de modo geral, antes de informações e discursos enfáticos,
são as ações que importa considerar.
Para que o Pedagogo possa enfrentar a exclusão e a alienação, em
todas as suas formas, onde a educação, mesmo sendo um dos fatores
determinantes, é também uma das formas de enfrentamento e de
possíveis superações frente aos problemas educacionais, é necessária
uma postura investigativa, com bases teórico-metodológicas. Se sua
formação inicial não lhe proporcionou esta visão, cabe, não só à Rede
Estadual de Ensino do Estado do Paraná lhe proporcionar condições de
formação continuada, mas também a ele próprio buscar novas formas de
aprimoramento, de estudos, de reflexões sobre a sua prática, através de
uma visão crítica embasada teoricamente.
A formação em serviço ou Formação Continuada
O processo de formação em serviço de professores e demais
profissionais da educação recebeu, ao longo do tempo, algumas
denominações, como Educação Continuada ou Formação Continuada,
tanto em textos oficiais de secretarias municipais e estaduais de
educação, como também em literaturas recentes sobre formação em
serviço. Essa formação continuada se faz necessária porque a realidade
muda sempre e o saber que construímos sobre ela precisa ser ampliado e
revisto, justamente para que possamos atualizar os conhecimentos
adquiridos, mas principalmente para nos apropriarmos de possíveis
conhecimentos não adquiridos, defasados ou maquiados por políticas
públicas de alienação dos profissionais da educação.
Não estamos aqui, quando nos referimos à Formação Continuada,
nos referindo a termos utilizados anteriormente, como treinamento,
reciclagem ou capacitação, que muitas vezes deixaram de favorecer a
autonomia intelectual dos educadores. Como ressalta CHRISTOV (2003,
p.9),
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A Educação Continuada se faz necessária pela própria natureza do saber e de fazer humanos como práticas que se transformam constantemente. A realidade muda e o saber que construímos sobre ela precisa ser revisto e ampliado sempre. Dessa forma, um programa de educação continuada se faz necessário para atualizarmos nossos conhecimentos, principalmente para analisarmos as mudanças que ocorrem em nossa prática, bem como para atribuirmos direções esperadas a essas mudanças.
Isto nos leva a ponderar que precisamos deixar de estudar nossa
realidade somente a partir de formas antigas, dificultando assim as
possibilidades de compreensão. Estas, portanto, devem ser substituídas
por estudos e análises que abordem a complexidade do cotidiano
historicamente constituído, oferecendo, assim, oportunidade de reflexão e
de possível mudança da prática.
A “formação continuada” é uma realidade no panorama educacional brasileiro e mundial, não só como uma exigência que se faz devido aos avanços da ciência e da tecnologia que se processaram nas últimas décadas, mas como uma nova categoria que passou a existir no “mercado” da formação contínua e que, por isso, necessita ser repensada cotidianamente no sentido de melhor atender à legítima e digna formação humana. (...) A “formação continuada” hoje precisa ser entendida como um mecanismo de permanente capacitação reflexiva de todos os seres humanos às múltiplas exigências/desafios que a ciência, a tecnologia e o mundo do (não) trabalho colocam (FERREIRA, 2003, p.19).
A Formação Continuada dos profissionais da educação está
assegurada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº
9394/96, em seu artigo 67, onde consta que: “Os sistemas de ensino
promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-
lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do
magistério público”. Prevê também no Título II: “aperfeiçoamento
profissional continuado, inclusive com licença periódica remunerada para
esse fim”. Isto reforça o fato de que a formação dos profissionais da
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educação deve ser contínua, em permanente construção e nunca
estagnada. Assim como a sociedade, o ser humano é uma unidade
histórica que se desenvolve continuamente, daí a necessidade de uma
maior coesão na formação continuada, tendo como eixo centralizador a
escola, objetivando superar políticas e programas de formação inicial e
continuada ineficientes.
O movimento permanente de aperfeiçoamento dos profissionais da
educação reflete-se numa constante reflexão, discussão e,
consequentemente, construção do conhecimento. Porém, apenas o
conhecimento das informações ou de dados isolados é insuficiente. É
preciso situar as informações e os dados em seu contexto histórico e
social para que tenham sentido. Garcia (1995), afirma:
É impensável que alguém ainda não saiba hoje que tudo que acontece na escola é uma questão política; não político partidário. Digo, com muita ênfase, que do meu ponto de vista o papel primordial de todos os profissionais da educação é analisar a conjuntura nacional e internacional, discutir na escola e a partir daí discutir educação, escola, Projeto Político Pedagógico – como podemos construir, quais os participantes e seus papéis – porque a escola deveria ser “pólo de produção e irradiação da cultura”, portanto, ela tem que estar, permanentemente, em diálogo com a comunidade (GARCIA, 1995, p. 3).
Portanto, os diversos conteúdos sobre as determinantes sociais,
políticas e econômicas que levaram à globalização da economia, às
relações entre Estado e Sociedade e à reestruturação produtiva que tanto
influenciam as políticas públicas educacionais, precisam e devem ser
apropriadas pelos profissionais da educação, como cidadãos trabalhadores
que são, portadores de direitos e deveres, para que possam assim
desenvolver uma maior capacidade de análise dessas relações produtivas
e sociais, e das diversas transformações que ocorrem no mundo do
trabalho e suas implicações para o mundo da educação.
Necessário se faz, então, lutar contra o conformismo e a apatia de
alguns profissionais da educação, e ao mesmo tempo, combater o controle
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do saber por um número pequeno de pessoas. A Formação Continuada
oferece a possibilidade de novas aproximações, novos enfoques,
informações e conhecimentos, no sentido de decifrar essa tão complicada,
fascinante e necessária atividade que os profissionais da educação
exercem, bem como viabiliza buscar outras alternativas que possam
colaborar para a melhoria da prática no interior da sala de aula e da
escola, traduzindo-se assim numa educação de qualidade para todos os
alunos.
Como salienta István Mézarós, a educação deve ser sempre
continuada, permanente, ou não é educação. Para ele, educar não é a
mera transferência de conhecimento, mas sim conscientização e
testemunho de vida.
Todos os profissionais da educação, principalmente os Pedagogos, a
quem focamos este estudo, têm de ter cientificidade no seu trabalho,
planejamento de ações e articulação dentro das escolas. Uma postura
investigativa ajuda a pensar e repensar a sua própria postura e a das
pessoas com as quais trabalha.
E a partir do enfoque na Formação Continuada, iniciaremos aqui
uma análise do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,
desenvolvido no Estado do Paraná a partir do ano de 2007.
Novas perspectivas em Formação Continuada: uma incursão
no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE
1. Visão geral
O PDE se caracteriza como um programa de Formação Continuada,
instituído pela Secretaria de Estado da Educação, em cooperação com a
Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e
Universidades Públicas Estaduais e Federais do Estado do Paraná. Esta
integração ocorre por meio da inserção do Professor de Educação Básica
da rede pública estadual nas atividades de formação desenvolvidas pelas
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Instituições de Ensino – IES, definidas a partir das necessidades da
Educação Básica, tendo assim a contribuição do Ensino Superior para a
melhoria da qualidade desejada para a educação do Estado do Paraná.
Idealizado durante a elaboração do Plano de Carreira do Magistério
(Lei Complementar n. 103, de 15 de março de 2004), assumiu
características diferenciadas dos cursos de pós-graduação tradicionais,
pois além de proporcionar progressão na carreira, também possibilita aos
professores tempo livre para estudos. Desse modo, é assegurado ao
Professor PDE o afastamento remunerado do exercício de suas funções, de
acordo com sua jornada de trabalho, sendo de cem por cento de sua carga
horária no primeiro ano do Programa e de vinte e cinco por cento no
segundo ano, para que possa dedicar-se integralmente aos estudos. Isto
faz com que o PDE assuma um modelo de formação continuada sem
precedentes, mostrando-se inovador e coerente na busca de uma
educação de qualidade.
O PDE está estruturado em dois anos de duração, divididos em
quatro períodos e participam do Programa os Professores Orientadores
das IES, os Professores PDE, e de forma mais indireta, demais professores
da Rede Estadual, além dos organizadores, coordenadores e
representantes da SEED, NRE e IES.
Um dos fatores que mais chama a atenção do Programa são seus
pressupostos teórico-metodológicos. Além de proporcionar ao professor
retorno às atividades acadêmicas de sua área de formação e à
Universidade, é nítida a preocupação de uma formação continuada de
caráter crítico e reflexivo, onde se considera a educação como um fator
determinante para que se compreenda e se transforme o quadro das
desigualdades sociais. Nesse contexto, o PDE visa o reconhecimento do
professor como produtor de conhecimento sobre o processo ensino-
aprendizagem, tentando assim superar modelos de formação continuada
sustentados em atividades descontínuas e fragmentadas. Objetiva-se,
portanto, instituir com o Programa, uma dinâmica permanente de
reflexão, discussão e construção do conhecimento, fundamentado em
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saberes produzidos histórica e socialmente, o que se pode verificar
através das temáticas e conteúdos abordados durante o programa.
2. Metodologia do Programa
A partir deste tópico, pretende-se descrever as experiências mais
relevantes proporcionadas pelo PDE a um grupo de Pedagogos e Gestores
Escolares do qual fazemos parte, desenvolvidas de forma presencial na
Universidade Estadual de Londrina - UEL e de forma semi-presencial, com
o contato dos professores PDE com os demais professores da rede pública
estadual de ensino, apoiados com os suportes tecnológicos necessários ao
desenvolvimento de atividades cooperativas.
Após a aula inaugural do PDE, realizada em Curitiba no dia 12 de
março de 2007, com a presença do Excelentíssimo Senhor Governador do
Estado do Paraná, Roberto Requião e do Secretário de Estado da Educação
Maurício Requião, demais representantes da SEED, NREs e Professores
PDE, deu-se início às atividades iniciais na UEL com os Estudos
Orientados.
Os Estudos Orientados são caracterizados como momentos de
formação e fundamentação, englobando os Encontros de Orientação, os
Encontros das Áreas Específicas do PDE, os Seminários e Cursos
Descentralizados da SEED nas IES e as Orientações do Grupo de Trabalho
em Rede - GTR.
Neste primeiro período do Programa, os Professores PDE, sob a
orientação de Professores da UEL, elaboraram um Plano de Trabalho, que
se concretizou num instrumento de orientação e planejamento das
atividades básicas do Programa, definidas pelo objeto de estudo, no caso,
a Formação Continuada.
A temática dos estudos abordados nesta primeira fase, em sua
maioria, permitiram aos participantes a oportunidade de refletir e
socializar assuntos com grande profundidade teórica numa perspectiva
crítica em relação à educação e às políticas públicas, num contexto
histórico e social.
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Dessa forma, notou-se que, à medida que as atividades e os estudos
iam sendo desenvolvidos, através dos encontros, cursos e seminários,
novos conhecimentos e perspectivas iam sendo incorporados e
vislumbrados pelos participantes, além de ocasionar um posicionamento
mais crítico com relação às suas funções nas escolas, ao seu papel como
profissional da educação e também com relação ao próprio programa do
qual participavam.
Desse modo, julga-se conveniente registrar aqui algumas anotações
breves e pessoais, realizadas durante as atividades em curso, já que elas
podem se traduzir numa forma de melhor visualização das impressões,
anseios e expectativas durante o decorrer do programa, que seguirão
destacadas e datadas.
Durante os Cursos ministrados pelos professores IES, surgiram
várias discussões sobre as reais intenções do Governo do Estado do
Paraná quanto ao PDE. Mas, após as discussões e independentemente
destas reais “intenções”, chegamos à conclusão de que devemos
aproveitar este espaço único, tanto de tempo quanto de oportunidade de
construção de novos conhecimentos, para um momento de
transformação, de otimismo, e não somente de descrédito e pessimismo.
Há que se romper as barreiras que encontramos pelo caminho, é
necessário acreditar mais, estudar mais, sair da cadeira da acomodação,
levantar-se e ir à busca. Na inércia não podemos continuar (Professora
PDE, 28/06/2007).
Outro momento relevante foi o Encontro de Áreas Específicas, onde
orientados e orientadores apresentaram seu projeto de pesquisa para
discussão coletiva e implementação de novos estudos.
Foram momentos de socialização dos Planos de Trabalho e das
intervenções que cada professor PDE iria realizar na sua volta à escola.
Com certeza, um momento ímpar na história do PDE. Socializar
experiências anteriores, os planos de estudos e as preocupações quanto
às suas práticas, mostraram o real comprometimento destes profissionais
com a educação atual. Comprometimento este que favorece um possível
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enfrentamento das dificuldades encontradas no dia a dia da escola, com
vistas à transformação educacional e social (Professora PDE, 13/08/2007).
Dando continuidade aos trabalhos e atividades do Programa, além
do Plano de Trabalho, iniciou-se outra atribuição do Professor PDE: orientar
os Grupos de Trabalho em Rede – GTR, a qual é detalhada a seguir.
3. GTR – uma proposta de Formação Continuada virtual
Dentre as atividades previstas para o segundo período do PDE,
destacou-se o Grupo de Trabalho em Rede – GTR, que se caracterizou
como uma interação virtual entre o Professor PDE e outros professores da
rede pública estadual, buscando efetivar o processo de Formação
Continuada já em curso. Para os outros professores da rede, além de
proporcionar novas alternativas de formação continuada, o GTR
configurou-se como uma opção a mais para pontuações de progressão no
Plano de Carreira.
Através destes encontros virtuais, os participantes puderam
estabelecer relações teórico-práticas em sua área de conhecimento, com
discussões de temáticas envolvendo sua área de formação e/ou atuação,
visando assim seu enriquecimento didático-pedagógico, através de
leituras, reflexões, troca de idéias e experiências.
Para que o GTR se efetivasse, foi utilizado o Ambiente Virtual de
Aprendizagem e-escola, plataforma MOODLE, que oferece vários recursos
de interação entre o Professor PDE, denominado Tutor do GTR e os
professores da rede interessados na capacitação. Dentre estes recursos
destacamos a Biblioteca do Professor, utilizada para a postagem de
material de leitura como textos e artigos; os Diários, para
aprofundamentos teóricos e os Fóruns de Debate e Discussão, utilizados
para a comunicação e intercâmbio de idéias entre os participantes.
Portanto, no decorrer do desenvolvimento dos trabalhos do GTR,
iniciado em outubro de 2007 e encerrado em junho de 2008, várias
atividades foram realizadas, divididas em módulos. A cada módulo uma
atividade diferenciada, onde os participantes, após os primeiros contatos
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de identificação e socialização do grupo, realizaram também estudos
orientados com leituras e análises de textos de palestrantes dos
Seminários do PDE, além de textos de outros autores, assim como análise
e discussão do Plano de Trabalho do Professor PDE/tutor e também a
apreciação do processo de elaboração do Material Didático, outra
atividade proposta ao Professor PDE.
Na finalização do GTR, foi apresentado aos participantes a Proposta
de Intervenção na Escola do Professor PDE, para que, através de
apreciações e discussões, os participantes sugerissem outras possíveis
formas de implementação da proposta.
Como uma modalidade de formação continuada, o GTR se mostrou
inovador e surpreendente a todos os participantes. Ao finalizar os
trabalhos, nosso grupo contava com 15 professores pedagogos
participantes, residentes em diferentes municípios do Estado do Paraná.
De início, algumas dificuldades foram verificadas em relação ao
ambiente virtual, como problemas de acesso à internet e postagem das
atividades nos recursos disponíveis, que logo foram sanadas, não se
configurando como empecilho na participação do grupo. O
assessoramento do ambiente virtual ficou por conta dos Assessores da
Coordenação Regional de Tecnologia em Educação dos Núcleos Regionais
de Educação.
Com relação ao aproveitamento, vários aspectos corroboraram para
uma avaliação positiva. Apesar da formação em comum, trabalhávamos
em níveis e modalidades de ensino diferenciadas, o que enriqueceu a
troca de experiências, tanto pessoais quanto profissionais.
Uma das grandes preocupações por parte do Professor PDE tutor
sempre foi proporcionar aos participantes, estudos, debates e discussões
acerca de assuntos pertinentes à sua área de conhecimento e
relacionados ao tema de estudo, porém com textos de alto grau de
informações e criticidade, objetivando assim uma postura mais reflexiva,
no intuito de provocar uma re-avaliação das práticas pedagógicas com
vistas à melhoria da educação oferecida nas escolas. Sobre esta postura
reflexiva, registramos aqui o depoimento de umas das pedagogas
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participantes do GTR, durante as atividades realizadas no decorrer da
formação:
É preciso reconhecer a fundamental importância do professor no processo de aquisição do conhecimento pelos estudantes; é preciso ainda que este professor tenha uma boa formação acadêmica, bem como uma formação continuada que lhe dê condições de compreender os mecanismos sociais, para que possa formular uma concepção de escola, educação, aprendizagem, aluno, avaliação, etc., com seu coletivo, para que, de posse desses elementos, tenha clareza do que ensinar e como ensinar, reconhecendo que o aluno é um sujeito capaz de aprender. Não consigo pensar em Escola Pública sem pensar em políticas públicas, pois não está somente em nossas mãos a possibilidade de melhoria da educação, ela passa também pelo investimento adequado do dinheiro público, como garantia dos direitos dos cidadãos (C.C.B., 28/10/2008).
Portanto, teve-se como objetivo primordial proporcionar uma
formação continuada de qualidade, ressaltando a importância da própria
formação em serviço dos profissionais da educação para o resgate de sua
identidade profissional, através de uma visão crítica embasada
teoricamente.
Na avaliação final proposta aos participantes do GTR com relação ao
grupo de estudos à distância, todos, sem exceções, reafirmaram ser este
um processo válido para a formação em serviço do professor,
configurando-se como uma importante estratégia de democratização do
conhecimento. Tecnologia aliada à informação, permeada pela interação
reflexiva entre seus participantes, ainda que de forma virtual.
Como já foi citado anteriormente, paralelo às atividades do GTR, o
Material Didático estava sendo elaborado pelo Professor PDE, sob a
orientação do Professor Orientador da UEL e com sugestões dos
participantes do GTR. A partir de orientações da SEED, este poderia se
configurar como um Artigo, Folhas, Caderno Pedagógico, Objeto de
Aprendizagem Colaborativa – OAC ou outra forma de material didático-
pedagógico, desde que fosse pertinente ao seu objeto de estudo e que
guardasse relação com as ações já em curso no âmbito da SEED. Dessa
17
forma, optamos por elaborar um Caderno Pedagógico contendo uma
proposta de Formação Continuada, que a seguir será explicitado.
Material Didático
O Material Didático elaborado, em forma de Caderno Pedagógico,
teve como Título “PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA A
FORMAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DO PEDAGOGO – GRUPO DE ESTUDOS” e
refere-se a uma das atribuições dos Professores PDE para o segundo
período do programa, tendo como referência as Diretrizes Curriculares de
Educação Básica do Paraná e as orientações gerais dos Departamentos e
Coordenações vinculados à Educação Especial, Diversidades, Disciplinas
Técnicas, Pedagogos e Gestores. Contou com o acompanhamento do
orientador do Professor PDE na IES e com sugestões dos professores do
GTR, o que o torna relevante ao processo democrático educativo.
Foi concebido, desde o princípio, como uma proposta de Formação
Continuada de caráter reflexivo, que considera o profissional da educação
sujeito da sua ação pedagógica, valorizando sua experiência profissional e
suas incursões em estudos mais aprofundados.
Sabemos que a formação continuada é uma das exigências das
atividades profissionais do mundo atual, porém não pode ser reduzida
somente a uma ação compensatória de fragilidades da formação inicial.
Todo conhecimento adquirido na formação inicial se reelabora na
atividade profissional, para atender a uma diversidade de situações que
exigem intervenções e ações adequadas. Assim, a formação continuada
deve desenvolver uma atitude investigativa e reflexiva, levando em conta
que a atividade profissional é um campo de produção de conhecimento,
envolvendo aprendizagens que vão muito além da simples aplicação
daquilo que foi estudado.
Apesar de inúmeras e valiosas contribuições de estudos teóricos e
pesquisas na área da Educação, temos presenciado nas escolas um
quadro educacional desfavorável, marcado pela repetência, evasão e
18
distorção idade-série nas diferentes fases do ensino básico. Somam-se a
isso, baixos salários e precárias condições de trabalho ou de formação,
além da imposição de ideologias educacionais nem sempre condizentes
com a realidade educacional dos educandos. Cabe-nos, então, questionar
os processos por meio dos quais esse panorama se configura e os
possíveis meios para combatê-lo. Nesse sentido, a tentativa de
desenvolver nas escolas um processo de ensino-aprendizagem de
qualidade, concebido como dimensão da cidadania, coloca também em
destaque a necessidade de formação continuada de todos os profissionais
da educação.
Pretendeu-se, portanto, com o material, subsidiar o Pedagogo na
elaboração do projeto de formação continuada da escola, já que esta se
constitui numa das atividades atribuídas a ele nos estabelecimentos de
Ensino da Rede Estadual do Paraná, e concomitantemente, que
oportunizasse o aprofundamento em temas relevantes para o
redirecionamento de sua prática pedagógica, através de leituras, estudos
e reflexões de textos e artigos que despertassem a postura de sujeitos
críticos, reflexivos e transformadores, que sejam capazes de refletir sobre
suas ações e redirecioná-las, se necessário.
Desse modo, uma preocupação sempre evidente, foi que o material
representasse uma oportunidade de diálogos e reflexões que
contribuíssem para o crescimento pessoal e profissional de educadores e
que trouxesse, não apenas informação para a construção de
conhecimentos, mas, sobretudo, bases teórico-metodológicas que
proporcionassem analisar a relação trabalho-educação, considerando a
materialidade histórica em que está inserida e suas implicações na
sociedade capitalista e na escola.
Esta proposta de formação continuada, contida no Material Didático,
prevê a utilização do princípio da problematização dos conteúdos e das
práticas cotidianas dos Pedagogos e professores e se utiliza da
metodologia semi-presencial, ou seja, com momentos presenciais com
atividades em grupo e à distância por meio de leituras e atividades
individuais. O grupo de estudos é uma modalidade de formação
19
continuada que oportuniza a participação do profissional da educação em
encontros na sua área de formação e sua natureza está vinculada à
leitura, reflexão, discussão e produção sobre determinado assunto.
A maioria dos textos, selecionados para estudo nesta proposta,
fizeram parte do material de leitura oferecido pelos Professores da UEL
durante as atividades do PDE, de modo que ao optarmos por utilizá-los
também no Material Didático, tinha-se em mente divulgá-los e
disponibilizá-los a um maior número de pedagogos e professores, pela sua
qualidade e teor crítico, além de fazerem parte das obras de autores
conceituados como Dermeval Saviani, Acácia Zeneida Kuenzer, Maria
Abádia da Silva, Marlene Lucia Siebert Sapelli e Cipriano Carlos Luckesi.
Portanto, a elaboração do Material Didático oportunizou ao Professor
PDE um aprofundamento teórico ainda maior do objeto de estudo e dos
seus objetivos.
Cumpre salientar que as produções didático-pedagógicas dos
Professores PDE estarão disponíveis na página do PDE, no Portal
Educacional do Estado do Paraná Dia-a-dia Educação para serem
utilizadas, conforme a necessidade e interesse, por todos os professores
da rede.
Um retrospecto do Primeiro ano do Programa
As atividades desenvolvidas no primeiro ano do PDE foram intensas.
Conforme iam se desenvolvendo através dos Seminários, Semanas
Pedagógicas, Cursos, Encontros de Áreas e de Orientações, iam gerando
muitas expectativas, angústias, descobertas, alegrias...
No final do ano, a mudança de postura profissional, capacidade de
reflexão e produção de conhecimentos por parte de todos do grupo eram
visíveis. Numa das aulas, estávamos fazendo comentários acerca de um
filme assistido, a pedido do professor. Era notório a todos que os
comentários e intervenções dos Professores PDE eram muito mais claros,
pertinentes e esclarecedores. Os pontos de vista colocados pela quase
20
maioria dos professores eram desafiadores, emocionantes e isto se
refletia claramente nas reações do professor, que a certo ponto colocou
que se considerava uma pessoa privilegiada por estar fazendo parte deste
grupo e deste processo (Professora PDE, 09/11/2007).
Voltar à Universidade e poder compartilhar interesses comuns e
experiências com outros professores foi muito proveitoso. Receber
orientações, informações e novos conhecimentos de Mestres e Doutores
em educação foi enriquecedor. E conviver com a diversidade de alunos do
Campus Universitário da Universidade Estadual de Londrina foi fascinante.
Implementação da Proposta de Intervenção na escola: da teoria à
prática
É no quadro da atuação coletiva no interior da escola que importa se aprofunde a teoria, se repensem as práticas e se transformem as diretrizes e as condições operacionais do trabalho pedagógico. Trata-se da construção de um espaço da vivência democrática, orgânico ao mesmo tempo e criativo, consistente e fluido como é a vida, espaço de reconstrução, onde se dissolvam as evidências e obviedades, as rotinas e as normas reificadas, onde se aprenda a desconstruir, a desaprender, para as novas construções e aprendizagens (MARQUES, 2003, p. 207).
De volta à escola e às suas funções, o Professor PDE deveria realizar
um trabalho de implementação de acordo com o objeto de estudo
desenvolvido durante o primeiro ano do programa. Esta ação visou
enfrentar e contribuir para a superação do problema observado pelo
Professor PDE na sua área, investigado no seu tema de estudo, tendo
como finalidade melhorar a qualidade do ensino na sua escola.
Dessa forma, no primeiro semestre do ano de 2008, terceiro período
do PDE, iniciou-se a Implementação da Proposta de Intervenção,
constituindo-se assim numa forma propositiva e qualitativa de se colocar
em prática os estudos teóricos realizados desde o início do Programa. Para
que a implementação se efetivasse na prática, foi necessário uma
articulação com a Direção, Equipe Pedagógica e Técnico-Administrativa,
21
Professores e demais funcionários para que os objetivos propostos fossem
atingidos, permeados pelo trabalho coletivo.
A proposta básica teve como temática “A importância da
Formação Continuada frente à precarização da formação inicial do
Profissional da Educação”, já que desta forma abrangeria não só
pedagogos, mas também professores de outras disciplinas, e evidenciou-
se através de um Grupo de Estudos semi-presencial, com carga horária de
40 horas, previstas em encontros presenciais e atividades extra-classe.
Desse modo, a implementação ocorreu no Colégio Estadual Dona
Moralina Eleutério, escola de atuação do Professor PDE, localizada no
Município de Santo Antônio da Platina e contou com 15 participantes,
entre professores de diversas áreas, estaduais e municipais, pedagogos e
diretores escolares, inclusive de outras escolas.
Esta implementação justificou-se, assim como todas as atividades
propostas e desenvolvidas no PDE, como um meio para que se invista
prioritariamente na formação permanente e em serviço do professor,
visando uma melhor compreensão do processo educativo, dando-lhe
subsídios para uma reavaliação de sua prática pedagógica.
Cumpre salientar que para que se possa intervir na realidade
educacional com vistas à melhoria, é imprescindível que se conheça essa
realidade e os processos que nela interferem. Assim, pretendeu-se
promover na escola um espaço para a construção coletiva do saber, onde
o Grupo de Estudos representasse uma oportunidade de diálogos e
reflexões com bases teórico-metodológicas norteadas pela análise da
relação Homem-Trabalho-Educação, considerando a materialidade
histórica em que está inserida.
Desse modo, na seleção dos conteúdos a serem trabalhados no
Grupo de Estudos, buscou-se contemplar aspectos relevantes e polêmicos
do processo educacional, considerando centrais para a formação e
atualização do pedagogo e demais professores, de modo a superar
possíveis defasagens de formação específica, além de uma constante
atualização.
22
Alguns textos e artigos utilizados para os estudos foram os mesmos
selecionados para a elaboração do Material Didático do Professor PDE, já
exposto neste trabalho. Assim, procurou-se dar uma visão geral das
teorias educacionais em suas dimensões política, didática e pedagógica,
culminando com o aprofundamento teórico da Pedagogia Histórico-Crítica
e a sua tradução para a prática docente, sempre focando um estudo
reflexivo e crítico.
A seguir, apresentaremos um registro geral das ações realizadas na
Implementação, dando assim uma visão maior dos assuntos estudados e
dos resultados obtidos.
AÇÃO 1: Palestra com o Professor Edimilson Lenardão, da Universidade
Estadual de Londrina, abordando as seguintes temáticas: Perspectiva
Teórica Educacional no Marxismo e Teorias Pedagógicas. A temática
abordada veio de encontro aos fundamentos teóricos da proposta de
implementação, norteadas pelo princípio ontológico do trabalho e
promoveu uma reflexão sobre a relação educação-trabalho.
AÇÃO 2: Socialização das atividades não-presenciais e discussão dos
pontos principais abordados no texto “Sobre a Natureza e Especificidade
da Educação”, de Dermeval Saviani, relacionando-os com a prática
pedagógica. Partindo-se do princípio de que a educação é um fenômeno
próprio dos seres humanos, faz-se necessário a compreensão da natureza
da educação e consequentemente de sua especificidade. As reflexões
promoveram uma discussão sobre a especificidade dos estudos
pedagógicos, tão necessário nos dias atuais.
AÇÃO 3: Apresentação do objeto de estudo da Professora PDE
desenvolvido ao longo do Programa e também do Material Didático
elaborado no segundo período: PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA
PARA A FORMAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DO PEDAGOGO – GRUPO DE ESTUDOS
(Caderno Pedagógico). Fez-se necessário estas apresentações para que os
participantes tomassem ciência da temática de estudo da Professora PDE
e que também entrassem em contato com o Material Didático produzido.
Alguns participantes mostraram interesse em utilizá-lo para estudos
posteriores e para propostas de formação continuada em suas escolas.
23
AÇÃO 4: Reflexões sobre o texto “O trabalho como princípio educativo
frente às novas tecnologias”, de Dermeval Saviani e desenvolvimento das
atividades referentes ao texto, que constam no Material Didático
elaborado pela Professora PDE. Leitura e análise do Artigo: O Banco
Mundial e as Políticas educacionais brasileiras, de Maria Abadia da Silva.
As discussões promoveram oportunidade de refletir sobre as origens das
relações entre educação e trabalho e o desenvolvimento histórico do
problema suscitado por tais relações, como um caminho para que se
compreenda melhor a realidade educacional que ora se apresenta.
AÇÃO 5: Apresentação e análise do vídeo da palestra da Professora Lizia
Helena Nagel, “Conhecimento e teorias pedagógicas”, realizada no
Primeiro Seminário Temático do PDE. O vídeo trouxe discussões acerca de
dados estatísticos sobre o desempenho dos alunos nas avaliações do
sistema educacional brasileiro, sobre as políticas educacionais brasileiras
e as teorias educacionais modernas e pós-modernas. Leitura e análise do
Artigo: Da compreensão filosófica à compreensão didática da Pedagogia
Histórico-Crítica, de autoria da Professora PDE Viviane Ziemmer
Magalhães, que oportunizou um maior aprofundamento teórico.
AÇÃO 6: Debate com a participação da Professora Mestra Márcia Bastos de
Almeida, da UEL, orientadora da Professora PDE, e do Professor Mestre
Edimilson Lenardão, Coordenador e Professor do PDE na UEL e demais
professores e pedagogos participantes do grupo de estudos, com o tema
Políticas Públicas e bases filosóficas da Pedagogia Histórico-Crítica. O
debate oportunizou maiores informações sobre a Pedagogia Histórico-
Crítica, fundamentada no paradigma do materialismo histórico e dialético,
cujos princípios embasam a educação paranaense.
Ao final dos trabalhos, foi solicitado aos participantes que realizassem
uma avaliação do Grupo de Estudos, levando-se em conta alguns aspectos
aquisição de informações e conhecimentos, interação entre os
participantes, relevância dos estudos para a prática pedagógica, entre
outros. Todos os participantes, sem exceções, se mostraram muito
satisfeitos com o resultado, e motivados, propuseram à Professora PDE
24
que os encontros para estudos continuassem no semestre seguinte,
independentemente das atividades do PDE.
Assim como os estudos e atividades desenvolvidas durante o
decorrer do PDE proporcionou aos professores participantes, em específico
aos Pedagogos e Gestores Escolares, um exercício reflexivo que contribuiu
para a uma maior autonomia intelectual e um posicionamento mais crítico
frente às políticas públicas educacionais, a Implementação da Proposta de
Intervenção na escola respaldou, na prática, o objeto de estudo.
As práticas de formação em serviço, quando comprometidas com a
melhoria da qualidade da educação oferecida nas escolas, induzem os
profissionais da educação a uma constante revisitação de suas práticas
pedagógicas, pressupondo assim uma permanente revisão das suas ações
e reforçando-lhes a condição de eternos aprendizes.
CONCLUSÃO
A formação de professores é um processo que requer base
científico-pedagógica. Deve ser sempre uma ação contínua e progressiva,
englobando as dimensões técnico-científica, ética e política, crítico-
reflexiva, estética, cultural e avaliativa. Em se tratando do profissional
denominado hoje de Professor Pedagogo, sua formação não deve ser
diferente. A construção de sua identidade profissional requer uma
formação crítica, politizada e não apenas uma formação aligeirada,
fazendo com que se torne apenas um mero executor de ações pré-
determinadas, com limitado desenvolvimento de espírito crítico e que
atende somente a uma ideologia dominante.
Muito antes de ser concebido como um mero executor é necessário
que o pedagogo se considere e seja considerado um articulador dentro da
escola para que a função social desta se efetive na prática. Se
concebemos que a verdadeira formação humana é a crítica, não se pode
aceitar a formação alienada. O conhecimento é imprescindível e a
25
capacitação em serviço é necessária, justamente para que o profissional
da educação se aproprie do conhecimento cientificamente elaborado e o
utilize na relação pedagógica realizada nas escolas. Cabe, portanto, ao
Pedagogo, a tarefa de democratizar a escola, promovendo a participação
de todos e a transmissão de informações que levem à construção do
conhecimento.
Reportando-nos ao PDE e propondo aqui uma concepção de
avaliação em seu âmbito, importa ressaltar que ela deve ser um processo
crítico, sistemático e progressivo das atividades desenvolvidas pelos
participantes, tanto nos momentos presenciais ou semi-presenciais, em
sua forma coletiva ou individual, o que se pode traduzir numa concepção
diagnóstica de avaliação.
Dessa forma, constatou-se durante o desenvolvimento das
atividades do PDE, alguns problemas de ordem estrutural e cronológico, o
que provavelmente poderá ser sanado no decorrer dos próximos
programas. Porém, todo e qualquer percalço que possa ter havido nestes
dois anos de programa, levando-se em conta o caráter inédito da proposta
de formação, onde pudemos fazer parte da primeira turma, não tira o
mérito do programa.
É inegável e visível a essência proposta e atingida pelo programa,
na busca de uma educação transformadora e de qualidade.
Portanto, podemos afirmar com certeza que não saímos do mesmo
jeito que entramos. Provocações foram feitas, trilhas foram refeitas, novos
conhecimentos foram incorporados, novas percepções adquiridas e
práticas pedagógicas foram reavaliadas e reestruturadas.
Ao reafirmarmos a importância de uma Formação Continuada de
caráter reflexivo e crítico, afirmamos que o PDE foi e continuará sendo um
dos instrumentos para a produção de conhecimento e mudanças
qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense.
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28
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