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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA TROPICAL E RECURSOS NATURAIS
in
Densidade de Iscas e variáveis ambientais
fluenciando a dominância nas comunidades
de formigas em Florestas de Terra Firme,
Amazônia Central, Manaus (AM)
Fabrício Beggiato Baccaro
Manaus AM
2006
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA TROPICAL E RECURSOS NATURAIS
Fonte fina
And Monto
in
Densidade de Iscas e variáveis ambientais
fluenciando a dominância nas comunidades
de formigas em Florestas de Terra Firme,
Amazônia Central, Manaus (AM)
Fabrício Beggiato Baccaro
Orientador: Dr. José Wellington de Morais
Co-orientadora: Dra. Suzana Maria Ketelhut
nciadora do projeto: CAPES-PROAP e projeto TEAM – “Tropical Ecology Assessment
ring”– Monitoramento De Formigas.
Manaus AM
2006
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais, pelo convênio INPA/UFAM, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas, área de concentração Entomologia.
ii
FICHA BIBLIOGRÁFICA
SINOPSE
Baccaro, F. B. 2006
Densidade de Iscas e variáveis ambientais influenciando a dominância nas
comunidades de formigas em Florestas de Terra Firme, Amazônia Central, Manaus
(AM): INPA/UFAM, 2006
p. 70
Dissertação de Mestrado
1. Densidade de recursos 2. Dominância 3. Formigas 4. Amazônia Central
Para investigar a influencia da densidade iscas na dominância numérica e
comportamental de comunidades de formigas de solo. Foram coletadas formigas que
visitaram iscas compostas de sardinha e goiabada em 4 diferentes densidades e em
dois tamanhos de transectos (100 m e 200 m) situados em florestas primárias de terra
firme, na Amazônia Central. Também foram avaliadas a influência do volume e
particulação do folhiço, temperatura e umidade do solo sobre os padrões de
dominância comportamental e numérica nessas comunidades.
Palavras-chaves: densidade de recursos, dominância, formigas, Amazônia Central
Keywords: resource gradient, dominance, ants, Central Amazon
iii
“Todas as coisas são difíceis,
até se tornarem fáceis”
Meu avô
iv
AGRADECIMENTOS
À minha família, pelo imenso apoio durante todo o mestrado e toda minha vida. Em especial a minha mãe que sempre me mostrou o quão importante é a perseverança e a paciência. Ao CNPq pela bolsa de mestrado, ao projeto TEAM, da Conservation Internation, pelo financiamento deste trabalho e ao projeto Max Planck, por ter-me acolhido durante esses dois anos na Casa 20. Ao Dr. José Wellington de Morais pela confiança, amizade, apoio incondicional, pela maravilhosa batida de maracujá e por conversas enriquecedoras sobre assuntos nem sempre relacionadas à biologia. A Dra. e mãe adotiva, Suzana Ketelhut, pela confiança, apoio, paciência, amizade, carinho, participação em todas as partes deste trabalho e por ser a avó da Sophia e do Zappa. Aos membros da aula de qualificação, Dr. Gonçalo Ferraz, Dr. Márcio de Oliveira e Dra. Elizabeth Franklin, e aos referees do plano de mestrado, Dr. William Magnusson e Dra. Flávia Costa, pelas sugestões e acréscimos à qualidade do projeto e ao Dadão, pela amizade e pelas sugestões importantes. Aos Drs. José Henrique Schoreder, Carlos Roberto F. Brandão, Jaques Delabie, Rogério Silvestre, Thiago Izzo, Eduardo Venticinque que prontamente aceitaram participar da banca avaliadora. À Juju pelo amor, apoio, alegria e inúmeras sugestões a este trabalho. Ao pessoal da equipe de formigas do TEAM: Márcio, Michael, Adriana e em especial ao Willian pela grande ajuda. Trabalhar com vocês foi um prazer. Ao Thiago Izzo, pela amizade, conversas sobre formigas, sobre o sentido da vida, filosofia, búzios e tarô. A Bhotrops atrox e ao Plasmudium falciparum pelos momentos de introspecção e meditação. Ao Jorjão, Carlos Moura, Ricardo, Guilherme e ao Fabão pelas inúmeras conversas e amizade. Ao Tiago André, Jorge Silva, Madruga, Saci e Gabi, Débora, Amanda, Loira, Dani, Ju Leoni, Juliana Stropp, Renata, Maria Clara pelas bebedeiras, alegria, conversa fiada e pelos momentos mais divertidos nesses anos.
RESUMO
Dominância é um conceito intrinsecamente ligado a riqueza, diversidade e
abundância relativa de espécies. A quantidade de recursos disponíveis, ou
produtividade, afeta diretamente a diversidade e conseqüentemente a dominância de
uma comunidade. Neste trabalho examinei o efeito de gradientes de recursos, sobre os
padrões de dominância (comportamental e numérica) e riqueza em comunidades de
formigas de florestas de terra firme ao redor de Manaus, Amazônia Central. Também
foram investigados como o volume e particulação do folhiço, umidade e temperatura do
solo influenciam esses padrões. Foram criados dois gradientes de recursos: 28 transectos
de 100 m com densidade de iscas variando entre 1 a 4 iscas a cada 10 m, e 27 transectos
de 200 m com densidade de iscas entre 0,5 a 2 iscas a cada 10 m. Os tamanhos foram
escolhidos por serem utilizados na maioria dos estudos de formigas. As variáveis
ambientais foram amostradas em 10 pontos por transecto. Nos transectos menores, os
pontos de coleta ficaram 10 m entre si, e nos transectos maiores, 20 m entre si. A
dominância numérica e a riqueza total coletada por transecto não foram influenciadas
pela variação na densidade de recursos. Porém em transectos com maior densidade de
iscas, tanto de 100 m quanto de 200 m, proporcionalmente mais espécies de
comportamento subdominante foram coletadas. A densidade de recursos teve uma
influência negativa sobre a dominância comportamental, medida aqui pela proporção de
iscas dominadas por transecto, somente nos transectos de 200 m. Já nos transectos de
100 m não houve efeito. A maior densidade de recursos, facilitou a dominação de mais
iscas pela mesma colônia, e mais espécies dominantes e relativamente raras foram
coletadas. Os modelos gerados por análises de regressão múltipla com as variáveis
ambientais só foram significativos nos transectos menores, pelo levantamento mais
detalhado do ambiente (pontos de amostragem a cada 10 m). Em locais com maior
volume e particulação de folhiço, menos iscas foram dominadas (numericamente e
comportamentalmente). A umidade e temperatura do solo não tiveram influência
significativa sobre os padrões de dominância. Este trabalho mostra que a densidade dos
recursos, e algumas variáveis ambientais atuam nas relações entre espécies em
comunidades de formigas de solo.
vi
ABSTRACT
Ants are present in most ecosystems and have been widely used to answer
ecological questions in many different environments. This is because ant communities
and populations are species rich and widely distributed. Dominance is a concept
strongly related with richness, diversity, and relative abundance of species. The quality
of the available resources directly affects the diversity patterns and consequently the
dominance in ecological communities. In this work I evaluate the effects of resource
gradients on dominance patterns (numerical and behavioral) and community richness in
ant faunas from upland tropical rainforests (“terra firme”) nearby Manaus, Central
Amazon. The influence of the volume, litter patchiness, soil moisture, and temperature
upon these patterns was also investigated. The sampling consisted of 28 transects (100
m each) with bait density varying from 1 to 4 baits at each 10 m, and 27 transects (200
m each) with bait density varying from 0,5 to 2 baits each 20 m. Resource density have
negative influence over behavioral dominance on longer transects (200 m), while in 100
m transects this effect was not found, probably due to environmental saturation with
offered resources. The sampled numerical dominance and total richness were not
affected by resource density. However, in transects with more bait density, a larger
proportion of subdominant species were sampled. Environmental variables were
sampled along 10 m intervals in smaller transects, and along 20 m intervals in longer
transects. Because of the higher sampling detail, models of environmental variables
generated by multiple regression analyses were only significant in the smaller transects.
Behavioral and numerical dominance relationships were better explained by variables
like litter volume and patchiness. In places with higher litter volume and patchiness, less
baits were dominated (numerical and behaviorally). Soil moisture and temperature did
not have significant influence on ant dominance patterns.
vii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... ix
LISTA DE TABELAS .................................................................................................... xi
LISTA DE ANEXOS ..................................................................................................... xii
INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 13
Dominância e Gradientes de recursos ........................................................................ 13
Hierarquia nas comunidades de formigas de solo ...................................................... 15
Fatores ambientais importantes na dinâmica das comunidades de formigas de solo. 17
OBJETIVOS................................................................................................................... 20
MÉTODOS..................................................................................................................... 21
Área de estudo ............................................................................................................ 21
Delineamento amostral ............................................................................................... 22
Coleta de variáveis ambientais ................................................................................... 25
Análise dos dados ....................................................................................................... 27
Dominância Comportamental ................................................................................ 28
Dominância Numérica............................................................................................ 29
Classificação das espécies de comportamento subdominante ............................... 29
Riqueza ................................................................................................................... 30
Análises estatísticas utilizadas ............................................................................... 30
RESULTADOS .............................................................................................................. 31
DISCUSSÃO.................................................................................................................. 43
Dominância e densidade de iscas ............................................................................... 43
Dominância e variáveis ambientais ............................................................................ 48
Riqueza e dominância................................................................................................. 51
CONCLUSÕES.............................................................................................................. 53
CONSIDERAÇÕES FINAIS E APLICAÇÕES ............................................................ 55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 56
ANEXOS........................................................................................................................ 64
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Sítios de coleta, situados nos arredores do município de Manaus, Amazônia
Central............................................................................................................ 21
Figura 2 – Representação do desenho amostral empregado. Número de iscas e pontos de
coletas das variáveis ambientais por transectos de 100 ou 200 m. As
distâncias entre as iscas para cada tamanho e tratamento estão descritas na
tabela1. ........................................................................................................... 25
Figura 3 – Ilustração do método empregado para determinar o grau de fragmentação do
folhiço (adaptado de Mortati 2004). As setas mostram algumas intersecções
entre as bordas das folhas e gravetos com as hastes de metal. ...................... 26
Figura 4 – Fotografia do dossel tirada a 15 cm do solo antes do tratamento (esquerda) e
após tratamento (direita) pelo programa Adobe Photoshop 6.0®. ................ 27
Figura 5 - Representação esquemática dos 3 transectos que apresentaram a dominância
numérica (DN) igual ou maior que 0,5. Nos três transectos Crematogaster
tenuicula foi a espécie que mais dominou iscas e a que mais ocorreu. (DC)
dominância comportamental e (d) densidade de iscas a cada 10 m............... 32
Figura 6 – Ordenação da ocorrência das espécies de formigas atraídas por iscas, em
floresta primária de terra firme na Amazônia Central por transecto de 200 m.
A ocorrência está expressa em escala logarítmica. ........................................ 34
Figura 7 – Relação entre densidade de iscas por transectos e dominância numérica (a) e
dominância comportamental (b) de formigas atraídas por isca em florestas de
terra firme....................................................................................................... 35
Figura 8 – Relação entre densidade de iscas e riqueza sorteada em 11 iscas (a) e
proporção de espécies subdominantes (b) de formigas de solo em terra firme.
As linhas indicam tendências nos transectos de 100 m (linha continua) e 200
m (linha pontilhada)....................................................................................... 36
Figura 9 – Relação entre dominância numérica (a) e dominância comportamental (b) e o
total de espécies de formigas atraídas por isca em florestas de terra firme. As
linhas indicam tendências nos transectos de 100 m (linhas continuas) e 200 m
(linhas pontilhadas)........................................................................................ 36
ix
Figura 10 – Parciais entre dominância numérica e (a) volume do folhiço (b’ = -0,419;
r2 = 0,183; p = 0,047), (b) particulação do folhiço (b’ = -0,406; r2 = 0,186; p =
0,045), (c) densidade de iscas por transecto (b’ = -0,014; r2 = 0,000; p =
0,937), (d) umidade do solo (b’ = -0,117 r2 = 0,018; p = 0,550) e (e)
temperatura do solo (b’ = 0,134; r2 = 0,024; p = 0,489) em transectos de 100
m. Resultado de uma análise de regressão múltipla marginalmente
significativa (R2 = 0,402; p = 0,051; n = 26). ................................................ 38
Figura 11 – Parciais entre dominância comportamental e (a) volume do folhiço
(b’ = -0,499; r2 = 0,301; p = 0,008), (b) particulação do folhiço (b’ = -0,397;
r2 = 0,228; p = 0,025), (c) densidade de iscas por transecto (b’ = 0,150; r2 =
0,045; p = 0,345), (d) umidade do solo (b’ = -0,220; r2 = 0,081; p = 0,198) e
(e) temperatura do solo (b’ = 0,255; r2 = 0,109; p = 0,134), em
transectos de 100 m. Resultado de uma análise de regressão múltipla
significativa. As informações sobre a regressão múltipla estão descritas no
texto. .............................................................................................................. 39
Figura 12 – Parciais entre dominância numérica e (a) volume do folhiço (b’ = -0,427;
r2 = 0,181; p = 0,048), (b) densidade de iscas (b’ = 0,018; r2 = 0,000; p =
0,931) (c) umidade do solo (b’ = 0,203; r2 = 0,048; p = 0,329) e (d)
temperatura do solo (b’ = 0,236; r2 = 0,062; p = 0,264), em transectos de 200
m. Resultado de uma análise de regressão múltipla não significativa. As
informações sobre a regressão múltipla estão descritas no texto................... 41
Figura 13 – Parciais entre dominância comportamental e (a) volume do folhiço
(b’ = -0,214; r2 = 0,053; p = 0,301), (b) densidade de iscas (b’ = -0,427; r2 =
0,181; p = 0,048), (c) umidade do solo (b’ = 0,206; r2 = 0,050; p = 0,317)
e (d) temperatura do solo (b’ = -0,242; r2 = 0,061; p = 0,267) em transectos
de 200 m. Resultado de uma análise de regressão múltipla não significativa
(R2 = 0,258; p = 0,181; n = 25). .................................................................... 42
Figura 14 – Desenho esquemático de dois transectos de tamanhos diferentes com a
mesma proporção de iscas dominadas, demonstrando o efeito da presença de
uma colônia com grande área de forrageio no cálculo da DC. ...................... 46
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Tamanho e número de repetições dos transectos; número e densidade de iscas
por transecto e distância entre as iscas........................................................... 23
Tabela 2 – Tamanho de transecto, densidade de iscas a cada 10 m, índice de Berger-
Parker (DN) e Dominância Comportamental (DC) de formigas atraídas por
iscas composta de sardinha e goiabada, em florestas de terra firme, Manaus,
AM. Em negrito os transectos que apresentaram a mesma espécie como a
mais dominante numericamente e comportamentalmente............................. 33
Tabela 3 – Resultados de análises de covariância (ANCOVA) para os efeitos de
tamanho de transecto (100 ou 200 m) e densidade de iscas sobre a
dominância numérica e comportamental e efeitos do tamanho de transecto e
dominância (numérica e comportamental) sobre a riqueza de formigas coletas
por transecto. Resultados significativos estão em negrito. ............................ 37
xi
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 – Espécies, número de ocorrências e porcentagem de iscas dominadas das
formigas atraídas por iscas composta de sardinha e goiabada, em florestas
de terra firme, Manaus, AM. Em negrito espécies classificadas como
dominantes.................................................................................................. 64
Anexo 2 – Ordenação das espécies de formigas subdominantes mais abundantes atraídas
por iscas, pela densidade de iscas nos transectos de 100 m. As barras
refletem a abundância relativa da espécie dentro do gradiente de iscas
oferecido. As espécies mais abundantes estão no topo da lista. ................. 70
Anexo 3 - Matriz de correlação de Pearson e probabilidade de Bonferroni com as
variáveis ambientais e densidade de iscas nos transectos de 100 m, n = 26.
.................................................................................................................... 71
Anexo 4 - Matriz de correlação de Pearson e probabilidade de Bonferroni com as
variáveis ambientais e densidade de iscas nos transectos de 200 m, n = 25.
.................................................................................................................... 72
Anexo 5 – Representação esquemática da ocupação e dominação das iscas por formigas,
de alguns transectos em floresta primária de terra firme na Amazônia
Central. Os retângulos representam as iscas ao longo dos transectos. Os
símbolos acima dos retângulos representam a ocorrência de algumas
espécies dominantes. Se o símbolo está sobre um retângulo preto significa
que aquela espécie dominou o recurso. (DC) dominância comportamental,
(DN) dominância numérica e (d) densidade de iscas a cada 10 m. ............ 73
Anexo 6 - Relação entre densidade de iscas por transectos e dominância
comportamental de formigas atraídas por isca em florestas de terra firme,
sem os 26 transectos que apresentaram colônias com possíveis áreas de
forrageio igual ou maior que 20 m (em negrito na tabela 2). As linhas
indicam tendências nos transectos de 100 m (linha contínua) e 200 m (linha
pontilhada). ................................................................................................. 74
xii
INTRODUÇÃO
As formigas representam uma grande porção da diversidade de espécies animais
nas florestas tropicais (Erwin 1989). Elas constituem uma das maiores proporções da
biomassa animal total (Fittkau & Klinge 1973) e apresentam como característica
ecológica relevante sua dominância em termos de abundância local em relação a outros
artrópodes (Stork 1991).
As formigas desempenham uma série de atividades importantes para o
desenvolvimento e o funcionamento dos ecossistemas, tais como o enriquecimento e a
aeração do solo (Farji-Brener & Illes 2000), a dispersão de sementes (Hughes &
Westoby 1990), o controle de insetos herbívoros (Dyer & Letourneau 1999) e
participam de várias interações simbióticas (Hölldobler & Wilson 1990). Em função
dessa diversidade de papéis, da grande plasticidade comportamental e da alta densidade
populacional, as comunidades de formigas são uma parte indispensável dos
ecossistemas tropicais.
Dominância e Gradientes de recursos
A competição é um tema freqüentemente abordado em estudos sobre a dinâmica
de comunidades de formigas (Hölldobler & Wilson 1990). Vários trabalhos levantam
hipóteses de que a estrutura e o funcionamento dessas comunidades podem ser
resultados de interações intra-específicas (Savolainen & Vepsäläinen 1988), de
territorialidade interespecífica (Majer 1976), de competição por locais de nidificação
(Kaspari 1996) e de diferentes capacidades de recrutamento da colônia (Ryti & Case
1988). Essas relações normalmente resultam em padrões de dominância e numa
hierarquia bem definida na utilização dos recursos (Savolainen & Vepsäläinen 1988).
O conceito de dominância está intrinsecamente ligado à riqueza, diversidade,
abundância absoluta e relativa das espécies (McNaughton & Wolf 1970). Em uma
comunidade, poucas espécies, as dominantes, apresentam uma alta abundância enquanto
13
que a maioria das outras espécies é representada por relativamente poucos indivíduos
(Whittaker 1965).
Em comunidades de formigas, os tipos de dominância mais freqüentemente
estudados são: a dominância comportamental (Schoener 1983), que se refere à
capacidade de luta e habilidade de recrutamento das espécies e a dominância numérica
(Davidson 1997), que trata da predominância de uma espécie em termos de biomassa,
freqüência relativa ou ocorrência perante as outras. Padrões de dominância vêm sendo
investigados principalmente em estudos de distúrbios no ambiente (Hoffmann &
Andersen 2003), de espécies invasoras (Porter & Salvignano 1990) e de distribuição de
espécies (Pitman et al. 2001).
Espécies de formigas de comportamento dominante, do topo da hierarquia,
podem controlar o uso do hábitat pelas demais espécies dos níveis hierárquicos
inferiores (Vepsäläinen & Savolainen 1990). Isso sugere a ocorrência de pares de
espécies localmente prováveis e outros improváveis dentro das comunidades (Room
1975). Conforme a abundância de espécies dominantes aumenta, menor riqueza,
abundância de outras formigas e diversidade é encontrada (Andersen 1992). Da mesma
forma, eventos estocásticos também podem atuar sobre as relações de dominância nas
comunidades de formigas. Cole (1983) demonstrou que em ilhas de manguezais, a
invasão prévia de uma ilha por uma espécie dominante de formiga impede a
colonização por outra espécie dominante.
Muitos ecólogos acreditam que a produtividade é um dos fatores mais
importantes que afetam a diversidade de espécies (Rosenzweig 1995), sendo esta uma
hipótese bem aceita para explicar porque existe maior diversidade nos trópicos (Pianka
1966; Kaspari et al. 2000). Em escalas locais a produtividade está positivamente
correlacionada com a quantidade de recursos disponíveis em um ambiente (Tilman
1984). A abundância dos recursos tem efeito sobre a dominância em uma comunidade,
podendo influenciar a distribuição e abundância de plantas e animais em escala local ou
regional (Rosenzweig 1995). O modo como a abundância de recursos afeta ou promove
a dominância vem sendo mais estudado em experimentos ao longo do tempo (Grime
1973). A diversidade e a riqueza de plantas inicialmente aumentam com a maior
quantidade de recursos disponíveis, mas depois diminui devido a maior abundância de
14
espécies mais competitivas que podem excluir outras espécies (Rosenzweig &
Abramsky 1993). Posteriormente Abramsky & Rosenzweig (1984) demonstraram que o
mesmo processo ocorre em comunidades de roedores em um deserto de Israel.
Em comunidades de formigas o tipo de recurso tem um efeito importante sobre
os padrões de dominância e sobre as relações hierárquicas (Davidson 1997; Yanoviak &
Kaspari 2000). Sanders & Gordon (2003) demonstraram que a hierarquia da
comunidade de formigas no deserto do Arizona pode ser alterada dependendo do tipo de
recurso oferecido (proteína ou sementes). A espécie dominante em iscas de proteína não
é a mesma em iscas de sementes. Já o efeito da disponibilidade de recursos sobre as
relações entre espécies em comunidades de formigas ainda é pouco conhecido. Da
mesma forma que a quantidade de recursos afeta a diversidade, essa variável pode
influenciar as relações hierárquicas em comunidades de formigas. O objetivo principal
deste estudo foi de examinar como a densidade de recursos afeta os padrões de
dominância em comunidades de formigas de solo e liteira, em florestas primárias na
Amazônia Central.
Hierarquia nas comunidades de formigas de solo
O forrageio de uma espécie é influenciado principalmente pela quantidade de
alimento disponível, sua distribuição espacial e temporal, sua resistência a ser capturado
e pela capacidade de carregamento de cada operária forrageira (Levings & Traniello
1981; Schoener 1971). A propensão à onivoria pode ser a causa do alto potencial para
interações competitivas, aumentando a pressão na estruturação das comunidades de
formigas (Benson & Harada 1988) e resultando em diversas estratégias na obtenção de
recursos (Carroll & Janzen 1973).
Oster & Wilson (1978) classificaram os tipos de forrageamento mais
empregados por formigas com colônias sedentárias em quatro categorias: individual,
em que uma operária forrageia independentemente das outras; com recrutamento, na
qual operárias procuram alimento isoladamente, mas a coleta é feita por um sistema
coordenado entre os indivíduos; em grupo, onde operárias coletam independentemente,
15
mas movendo-se por trilhas definidas e especializada, em que as espécies caçam em
grupo ou parasitam outras colônias de formigas.
Entre as formigas que fazem recrutamento, existe uma hierarquia na forma de
utilização dos recursos. Vepsäläinen & Pisarski (1982) classificaram-nas em três níveis
hierárquicos competitivos: as dominantes, que apresentam recrutamento em massa,
monopolizando o recurso através de dominância numérica e pelo comportamento
agressivo; as dominantes ocasionais ou subdominantes, que quando realizam
recrutamento o fazem em menor número, e normalmente são excluídas pelas
dominantes; e as submissas, formigas não-agressivas que defendem apenas o ninho.
As formigas dominantes geralmente formam colônias proporcionalmente
maiores e necessitam de maior área de forrageio. Apresentam comportamento agressivo
e podem deslocar ou impedir outras formigas de usarem determinado recurso
(Savolainen & Vepsäläinen 1988). Pfeiffer & Linsenmair (2001), estudando relações
intra e interespecíficas de territorialidade com Camponotus gigas, demonstraram que as
relações entre algumas espécies dominantes podem ser tão intensas que acabam por
resultar numa área limpa, sem formigas entre as bordas dos territórios adjacentes.
Certas espécies dominantes podem formar “super colônias” ou colônias com
ninhos polidômicos. Uma colônia é considerada polidômica quando utiliza vários locais
de nidificação independentes (Höldobler & Wilson 1990). Operárias da mesma colônia
apesar de viverem em ninhos diferentes não reagem de forma agressiva quando se
encontram forrageando, resultando no aumento da área de forrageio sem
necessariamente aumentar a competição intra-específica (Cerdá et al. 2002).
Formigas subdominantes geralmente vivem em colônias menores, podendo
apresentar comportamento agressivo ou não. No entanto, devido ao menor número de
indivíduos recrutados, raramente dominam um recurso ou impedem que formigas de
comportamento dominante o façam (Byrne 1994). Em alguns casos, certas espécies de
formigas de comportamento tipicamente subordinado podem apresentar estratégias
parecidas com as espécies dominantes. Cerdá & Retana (1998), por exemplo,
observaram interferências muito agressivas entre espécies subdominantes
aparentemente pouco agressivas. Assim, cada espécie demonstra uma resposta diferente
16
aos recursos, resultando em padrões distintos de atividade que podem facilitar a
coexistência entre espécies (Chase 1996).
Fatores ambientais importantes na dinâmica das comunidades de formigas de solo
As formigas, como a maioria dos insetos, se enquadram no primeiro tipo de
população descrito por Cornell & Lawton (1992), apresentando fortes interações entre
espécies do mesmo nível trófico e com o ambiente. Estudos dentre e entre sítios têm
mostrado relações entre espécies de formigas e propriedades do solo (Bandeira &
Harada 1998), sazonalidade e fatores climáticos (Kaspari & Weiser 2000), densidade da
vegetação e comunidades vegetais (Bestelmeyer & Wiens 2001), quantidade de
serapilheria (Kaspari 1996) e abertura de dossel (Feener & Schupp 1998).
Vários estudos de campo confirmaram que a quantidade de hábitats é um
componente fundamental da estrutura de uma área e que afeta diretamente a composição
da comunidade de formigas de solo. Alguns estudos demonstram que em locais com
maior quantidade de hábitats mais espécies de formigas são encontradas (Dunning et al.
1992; Kaspari 1996; Vasconcelos et al. 2003). Porém a relação entre a quantidade de
hábitats disponíveis e a dominância nas comunidades de formigas de solo ainda foi
pouco explorada. Essa relação seria resultado da hierarquia bem definida das
comunidades de formigas, quanto ao uso dos recursos. Em locais com maior quantidade
de hábitats a dominância de recursos seria dificultada pela maior quantidade de espécies
vivendo na mesma área.
Farji-Brener et al. (2004), sugerem uma relação entre a fragmentação do folhiço
e o tamanho das formigas em “La Selva”, Costa Rica. As formigas que primeiramente
chegaram às iscas em áreas com maior rugosidade (1 kg de folhiço cobrindo o recurso),
foram aproximadamente 40% menores do que aquelas encontradas em locais limpos.
Comprovando a “Hipótese granulométrica” (size-grain hypothesis), que propõe que
conforme os animais terrestres diminuem em tamanho, seu ambiente se torna mais
irregular (Kaspari & Weiser 1999). Dessa forma, além de aumentar o número de
17
possíveis hábitats, o aumento da particularização do folhiço também pode atuar nos
padrões de dominância podendo dificultar o acesso aos recursos de certas espécies.
A formação de clareiras, fenômeno importante em florestas tropicais, também
pode influenciar as relações de dominância em comunidades de formigas, apesar de não
afetar diretamente a riqueza e abundância de espécies (Feener & Schupp 1998).
Clareiras naturais modificam o microclima alterando a incidência de luz solar, umidade
do solo e temperatura, que por sua vez podem alterar o forrageio das formigas (Levings
1983, Torres 1984). A formação de clareiras também modifica a estrutura da vegetação
promovendo variações na composição de espécies de plantas (Brokaw & Scheiner
1989). Esses locais apresentam maior abundância de plantas de crescimento rápido, que
normalmente podem produzir recursos atrativos para formigas, como nectários
extraflorais, corpos ricos em lipídeos ou estruturas que servem de abrigo (Feener &
Schupp 1998). As formigas normalmente presentes nesses locais tendem a apresentar
comportamento mais agressivo, e eventualmente forrageiam no solo (Davidson 1997),
podendo modificar as relações de dominância.
A temperatura desempenha um papel importante na regulação dos padrões de
dominância em comunidades de formigas, podendo juntamente com a umidade criar
gradientes com riscos de dessecação diferentes (Andersen 1995, Cerdá et al. 1997,
1998). Em áreas semi-áridas, Bestelmeyer (2000) demonstrou que formigas de
comportamento dominante são mais ativas em temperaturas menores do que espécies de
comportamento subdominante. Cerdá et al. (1997) demonstrou que a temperatura pode
modificar os padrões de dominância, pois existem espécies subdominantes
especializadas em altas temperaturas, nas quais as dominantes não estão ativas. Em
florestas tropicais, não se sabe como a temperatura pode influenciar as relações de
dominância, visto que esta variável permanece relativamente constante, apresentando
maior variação ao longo do dia (Kaspari 2000).
Variações na composição e na dinâmica das comunidades de formigas ao longo
do ano também estão positivamente relacionadas com a quantidade de água disponível
(Levings 1983; DeLabie & Fowler 1993). No Panamá, Kaspari & Weiser (2000)
encontraram um aumento de 25% nas visitas de formigas em iscas na estação chuvosa
em relação à estação seca, e mais de 200% de aumento de atividade num gradiente
18
topográfico, entre o platô e o baixio. Padrões similares foram encontrados por
Vasconcelos et al. (2003) para comunidades de formigas da região da Amazônia
Central. Mais espécies foram coletadas nos baixios do que nos platôs, porém a
abundância e a quantidade de colônias foram maiores nos platôs.
Embora muitos estudos demonstram que as relações de dominância hierárquicas
são comuns em comunidades de formigas (Vepsäläinen & Pisarski 1982; Fellers 1987;
Savolainen & Vepsäläinen 1988; Andersen 1992, 1997) ainda não está claro como esses
padrões de dominância respondem a algumas variáveis ambientais. Cerdá et al. (1997)
estudando a influência da temperatura do ar e Sanders & Gordon (2003) estudando o
efeito dos tipos de recursos demonstraram que esses fatores podem modificar as
relações de dominância. Buscando complementar esses trabalhos, investiguei como
algumas variáveis ambientais e a densidade de recursos influenciam nos padrões de
dominância em comunidades de formigas de solo, em áreas de floresta primária ao redor
de Manaus, na Amazônia Central. Para isso foram criados dois gradientes de densidade
de iscas utilizando dois tamanhos de transectos, 100 e 200 m, por serem estes os mais
empregados em trabalhos de levantamento de comunidades de formigas.
19
OBJETIVOS
Os objetivos principais deste trabalho foram de investigar a influência da
densidade de iscas e certas variáveis ambientais sobre padrões de dominância de
formigas de solo atraídas por iscas em florestas de terra firme.
Objetivos específicos:
• Avaliar se existe relação entre a densidade de recursos oferecidos (iscas) e a
dominância comportamental e numérica em comunidades de formigas de solo,
em transectos de 100 e 200 m situados em florestas de terra firme;
• Investigar como as dominâncias comportamental e numérica são influenciadas
por características do hábitat (volume e particulação do folhiço) e variáveis
micro climáticas (temperatura e umidade do solo) em transectos de 100 e 200 m,
em comunidades de formigas de terra firme.
Para melhorar o entendimento dos padrões de dominância também foram
avaliados:
• o efeito da quantidade de recursos oferecidos sobre a riqueza total e a riqueza de
espécies subdominantes atraídas por iscas;
• a relação entre a dominância comportamental e numérica e a riqueza de formigas
coletadas por iscas em transectos dispostos em florestas tropicais de terra firme;
20
MÉTODOS
Área de estudo
As coletas foram realizadas nos meses de março e entre agosto e outubro de
2005, ao longo das áreas ZF-2 e ZF-3, cerca de 80 km ao norte de Manaus, e na Reserva
Florestal Adolpho Ducke (figura 1). Mais precisamente foram usadas áreas próximas ao
acampamento do Km 34 (estrada ZF-2: Projeto TEAM - Tropical Ecology, Assessment
& Monitoring Initiative), ao redor dos acampamentos Cabo Frio e do Km 37 (estrada
ZF-3: Biological Dynamics of Forest Fragmentation Project – PDBFF), e próximas à
sede administrativa da Reserva Florestal Adolpho Ducke, Amazônia Central.
Figura 1 – Sítios de coleta, situados nos arredores do município de Manaus, Amazônia Central.
21
A região de Manaus é caracterizada por um clima tropical úmido (Holdridge
1967) com precipitação média anual em torno de 2.105 mm. A estação chuvosa ocorre
de Novembro a Maio e a estação seca de Junho a Outubro, sendo o mês de Setembro
normalmente o mês de menor precipitação (Ribeiro & Adis 1984).
A temperatura média anual é de 26 ºC existindo pouca variação térmica durante
o ano, com as temperaturas médias mensais diferindo entre si em menos que 3 ºC (Salati
1985). A maior variação de temperatura ocorre ao longo do dia, podendo chegar a 8 ºC.
A temperatura máxima normalmente ocorre entre 14:00 e 15:00 horas e a mínima as
6:00 horas (dados obtidos na estação climática LBA – Large Scale Biosphere
Atmosphere Experiment, situada no acampamento do Km 34 na estrada ZF-2).
Os sítios são de florestas pouco perturbadas inseridos em áreas de floresta
contínua. O terreno é formado basicamente por platôs com altitudes variando de 80 a
140 m, com predominância de solos argilosos e arenosos que normalmente são
profundos e relativamente bem drenados. Entre os platôs existem baixios, que na época
das chuvas são frequentemente inundados pela água. Geralmente nesses locais o solo é
mais arenoso e menos drenado que dos platôs. Grande parte destes baixios apresenta
igarapés durante toda a estação seca (Ribeiro et al 1999).
A flora é extremamente diversificada, com aproximadamente 1.000 espécies de
árvores com altura entre 30 e 35 metros, com árvores emergentes alcançando 45 a 50
metros. Uma descrição completa das áreas são apresentadas por Lovejoy & Bierregaard
(1991) e por Ribeiro et al (1999).
Delineamento amostral
Para avaliar a influência da densidade de recursos oferecidos nos níveis de
dominância entre formigas atraídas por iscas, foram amostrados 55 transectos, sendo 28
transectos de 100 m e 27 transectos de 200 m (tabela 1). As iscas foram utilizadas para
simular o alimento e a distância entre elas buscou simular a variação na densidade de
recursos.
22
Tabela 1 - Tamanho e número de repetições dos transectos; número e densidade de iscas por transecto e distância entre as iscas. Comprimento
(m) Nº. de
transectos Nº. de Iscas por
transecto Densidade de iscas
(10m) Distância entre
as iscas (m) 100 7 11 1 10 100 7 21 2 5
100 7 31 3 3,34
100 7 41 4 2,5
200 7 11 0,5 20 200 7 21 1 10
200 7 31 1,5 6,67
200 6 41 2 5
A utilização de iscas na amostragem de formigas pode ser considerada como um
método de coleta (Keddy 1992), sendo amplamente utilizado para investigar a atividade
de formigas de solo e arbórea (Savolainen & Vepsäläinen 1988; Davidson 1988, Porter
& Savignano 1990, Andersen 1992, Bestelmeyer et al. 1999, Belstelmeyer 2000,
Silvestre 2000, Albrecht & Gotelli 2001). Essa técnica também pode ser empregada
para se estimar a riqueza de espécies de formigas (Benson & Harada 1988, Silva et al.
2004) ou como método complementar em inventários (Silvestre 2000, Vasconcelos et
al. 2003).
Os dois tamanhos de transectos foram escolhidos por serem os mais empregados
em levantamentos e para padronizar a metodologia empregada. Transectos com mais de
40 iscas necessitariam de mais de uma pessoa para coletar e descrever os processos,
podendo resultar em interpretações diferentes. Normalmente, as iscas são distribuídas
em transectos ou grades de coleta de 100 ou 200 m, distantes 2, 5, 10 ou 20 metros entre
si (Belstelmeyer 2000, Albrecht & Gotelli 2001, Silva et al. 2004, Vasconcelos et al.
2004). Optei por utilizar a variável densidade (a cada 10 m) em vez de distância entre as
iscas por facilitar a visualização nos gráficos.
Apesar da variação da densidade de iscas em números absolutos ser diferente
entre os transectos de 100 e 200 m, em ambos a densidade de recursos variou na mesma
escala de grandeza (4 vezes). Resultando num gradiente de recursos padronizado entre
os dois tamanhos de transecto. Certas densidades de recursos (1 e 2 iscas a cada 10 m)
23
foram repetidas nos dois tamanhos. A sobreposição de parte da densidade de iscas entre
os transectos pode evidenciar mais facilmente possíveis padrões ou diferenças entre as
variáveis dependentes testadas.
A seqüência de coleta dos transectos por rodada (um transecto de cada densidade
e de cada tamanho), foi previamente sorteada para evitar que transectos de mesmo
tamanho e densidade de iscas fossem amostrados sempre no mesmo horário, evitando
possíveis efeitos decorrentes da variação diária da atividade das formigas (Bestelmeyer
et al. 1999).
Para minimizar o efeito da topografia sobre a comunidade de formigas
(Vasconcelos et al. 2003), os transectos foram dispostos em áreas planas nos platôs,
preservando uma distância mínima de 200 metros entre si.
Um dia antes das coletas, 500 g de goiabada foram aquecidos com 300 ml de
água até formar uma pasta de consistência firme, e posteriormente foram adicionadas
duas latas de 200 g de sardinha enlatada (cozida em óleo comestível). Cada receita era
suficiente para aproximadamente 200 iscas. Em cada ponto de coleta foi oferecido meia
colher de isca (aproximadamente 5 g) sobre pedaços de cartão plástico com dimensões
de 10 por 7 cm. Após 60 minutos, amostras de cada espécie das formigas atraídas pelas
iscas foram coletadas e conservadas em álcool 70% para posterior identificação em
laboratório. Em aproximadamente 90% dos casos a interação entre espécies que resulta
em dominação ou não de uma isca, acontece antes dos 60 minutos de exposição
(Silvestre 2000).
Para cada isca um indivíduo ou mais por espécie foi selecionado, e montado
sobre triângulo de papel, fixo em alfinete entomológico. Esses espécimes foram
identificados em nível genérico usando chaves de identificação (Hölldobler & Wilson
1990; Bolton 1994) e em nível específico usando chaves taxonômicas e através de
comparação com espécimes depositados na Coleção Entomológica do INPA. Espécies
que não apresentavam indivíduos depositados na coleção receberam numeração nova.
24
Coleta de variáveis ambientais
Durante a coleta das formigas, foram tomadas medidas de volume e
particularização do folhiço, abertura de dossel, temperatura e umidade do solo em 10
pontos por transecto. Nos transectos de 100 m cada ponto de amostragem das variáveis
ambientais ficou distante 10 m entre si e nos transectos de 200 m: 20 m entre si. A
figura 2 mostra o desenho amostral dos transectos mais os pontos de coleta das variáveis
ambientais.
Figura 2 – Representação do desenho amostral empregado. Número de iscas e pontos de coletas das variáveis ambientais por transectos de 100 ou 200 m. As distâncias entre as iscas para cada tamanho e tratamento estão descritas na tabela1.
O volume do folhiço foi medido transferindo 1 m2 de liteira de cada ponto de
coleta para um balde graduado de 12 litros, usando um pilão do mesmo diâmetro do
balde para compactar de maneira uniforme o folhiço.
Para determinar o grau de fragmentação do folhiço, foi usada uma adaptação da
metodologia proposta por Mortati (2004). Em cada ponto de coleta foram recolhidos 20
cm2 de folhiço e distribuídos de forma uniforme em uma bandeja retangular de 35 x 50
cm. Posteriormente três hastes de metal foram colocadas em cima do folhiço (sendo 2
25
paralelas ao maior lado da bandeja e uma paralela ao menor lado). Para determinar o
grau de fragmentação, foi contada cada intersecção entre as bordas das folhas e gravetos
com as hastes de metal, resultando em um número adimensional diretamente
proporcional ao grau de particulação do folhiço (figura 3). Quanto maior o número mais
particulado está o folhiço.
Haste de metal
Figura 3 – Ilustração do método empregado para determinar o grau de fragmentação do folhiço (adaptado de Mortati 2004). As setas mostram algumas intersecções entre as bordas das folhas e gravetos com as hastes de metal.
A umidade do solo foi estimada pela diferença entre peso úmido e peso seco de
amostras de solo. Aproximadamente 200 g de solo foram recolhidos e acondicionados
em sacos plásticos grossos e bem fechados, no laboratório foram pesados
aproximadamente 10 g em balança semi-analítica (Ominilab KB-250), e repesadas após
permanência de 72 horas em estufa a 120 ºC.
Para estimar a abertura do dossel, foi usada a metodologia proposta por Pontin
(1962). Em cada ponto de amostragem ambiental o dossel foi fotografado usando uma
máquina fotográfica digital Nikon 650S acoplada a um tripé distante a 15 cm do solo.
Posteriormente cada foto foi processada usando o programa Adobe Photoshop 6.0®.
Após tratamento da imagem (figura 4) foi possível quantificar a quantidade de pixels
26
brancos (que depois do tratamento são os pontos relativos ao céu aberto) e pixels pretos
(referentes à vegetação). Apesar desse tipo de amostragem sofrer menor influência de
fatores locais, como luminosidade e hora do dia, as fotos foram tiradas no começo da
manhã (entre 7 e 10 horas) e no final da tarde (entre 16 e 18 horas), para minimizar o
efeito da luz solar incidente sobre a lente da máquina.
Figura 4 – Fotografia do dossel tirada a 15 cm do solo antes do tratamento (esquerda) e após tratamento (direita) pelo programa Adobe Photoshop 6.0®.
A temperatura do solo foi medida no começo e término das exposições das iscas
por transecto, utilizando um termômetro Greisinger GTH 175/MO. Todas as variáveis
ambientais foram estimadas logo após as coletas das formigas. Durante a exposição das
iscas não houve movimentação de pessoas pelos transectos.
Análise dos dados
A unidade amostral em todas as análises foi o transecto. A riqueza foi
determinada através da presença de espécies por isca, e a dominância através da
abundância e presença das espécies utilizando as iscas. Foi calculada uma média para
cada variável ambiental por transecto.
27
Dominância Comportamental
A atividade das formigas nas iscas foi classificada em dois tipos: ocorrência e
dominância. A presença de um táxon em uma isca foi considerada como ocorrência.
Para considerar uma isca como dominada segui a metodologia proposta por
Bestelmeyer (2000) com pequenas modificações:
Uma isca foi considerada dominada quando apresentou 20 indivíduos ou mais da
mesma espécie utilizando o recurso sem a presença de outras formigas. Nos casos em
que mais de uma espécie estiveram presentes, as iscas foram consideradas dominadas
quando um táxon apresentou mais que o dobro do segundo mais numeroso, respeitando
o número mínimo de 20 indivíduos (Bestelmeyer 2000).
Nos casos em que ocorreram espécies de tamanho corporal relativamente
grande, que não recrutam em massa ou recrutam poucos indivíduos (a maioria dos
ponerinomorfos), o critério foi diferente. Foram consideradas como dominantes em uma
isca quando as mesmas estavam removendo pedaços de alimento na ausência de outras
espécies, ou apresentavam estratégias agressivas contra outras formigas que tentavam
acessar o recurso.
Essas adaptações visaram diminuir a perda de informação quando classifiquei
cada isca em duas categorias (dominada ou não dominada). Por exemplo, se para
considerar uma isca dominada fosse considerado somente a monopolização das iscas
(Andersen 1992; Cerda et al. 1997), formigas de tamanho relativamente grande ou com
movimentos lentos (Odontomachus e Ochetomyrmex, por exemplo) que podem permitir
a presença de algumas operárias de outras formigas, raramente seriam consideradas
como dominantes em iscas.
Para poder comparar transectos com diferentes quantidades de iscas, ou seja,
esforço amostral diferente, a dominância comportamental de cada transecto (DC) foi
calculada através do total de iscas dominadas dividido pelo número total de iscas por
transecto:
DC =
Total de iscas dominadas por 1 sp.
Nº. total de iscas do transecto
28
Desta forma, ao dividir o número de iscas dominadas pelo número de iscas dos
transectos o efeito do esforço amostral diferente é padronizado. Podendo variar de 0
(nenhuma isca dominada) a 1 (todas as iscas dominadas), ou seja, máximo de
dominância.
Dominância Numérica
Padrões de abundância são difíceis de avaliar na ausência de amostragens longas
e extensivas (Stork 1991). Porém, o índice de dominância numérica proposto por
Berger-Parker, que expressa a proporção de uma amostra representada pelas duas
espécies mais comuns, proporciona boa informação sobre a abundância relativa por se
tratar de uma razão, sendo mais adequado para amostragens menores (Southwood
1978). Foi calculado um índice de dominância numérica (DN) para cada transecto
através da fórmula:
y
y1 + y2 DN =
Onde; y1 = número de ocorrências da espécie mais abundante no transecto;
y2 = número de ocorrências da segunda espécie mais abundante no transecto;
y = total de ocorrências de todas as espécies no transecto.
Classificação das espécies de comportamento subdominante
Existem métodos para agrupar as formigas de uma comunidade em guildas
(Silvestre 2000) ou grupos funcionais (Andersen 1995; 1997). A própria definição do
tema é um assunto que gera controvérsia (Boldel 2003). Porém é mais simples
determinar se uma espécie é dominante ou subdominante (Vepsäläinen & Pisarski
1982). Apesar de perder informação quando criamos categorias (Krebs 1999) essa
classificação funciona bem para analisar a influência do comportamento na utilização de
recursos (Cerdá & Retana 1998).
29
Espécies foram classificadas como dominantes quando foram coletadas no
mínimo em 10 iscas, sendo consideradas dominantes no mínimo em 5 destas iscas.
Desta forma tanto o componente comportamental (agressividade e recrutamento em
massa) como numérico (medido aqui por freqüência as iscas) foi abordado. Espécies
com comportamento agressivo e com baixa freqüência nas iscas não foram consideradas
como dominantes, bem como espécies muito abundantes, com baixa taxa de
dominância.
Riqueza
Um problema em comparações de número de espécies surge do fato de que a
riqueza aumenta na proporção direta do número de indivíduos amostrados (Rosenzweig
1995). Para retirar o efeito de diferentes esforços amostrais (número de iscas diferentes)
que resultam em números de indivíduos diferentes por transecto, utilizei o método de
rarefação de amostras. Para cada transecto com mais de 11 iscas, foi calculada uma
média de 100 sorteios de 11 iscas, através do programa Resampling Stats 3.2. Dessa
forma todos os transectos ficaram com o mesmo número de pontos (11 iscas), sendo
possível comparar a riqueza coletada e avaliar o efeito da densidade de iscas sobre a
comunidade amostrada.
Análises estatísticas utilizadas
Para avaliar a influência da densidade de iscas e tamanho de transectos sobre a
dominância comportamental e numérica foi utilizada análise de covariância
(ANCOVA). O mesmo teste foi usado para avaliar a influência da densidade de iscas e
tamanho de transectos sobre a riqueza coletada e sobre a riqueza de formigas de
comportamento subdominante.
As relações entre as variáveis ambientais e a dominância comportamental e
numérica foram estimadas através de regressões múltiplas para cada tamanho de
transecto. Em todas as análises foi usado o pacote estatístico Systat 9.0 (Wilkinson
1998).
30
RESULTADOS
Foram registradas 2.802 ocorrências de formigas pertencentes a 187 espécies (ou
morfoespécies), listadas no anexo 1. Foram coletadas em média 24,64 espécies de
formigas por transecto, variando de 10 a 40 espécies. O número máximo de espécies
coletada em uma mesma isca foi 7 com média de 1,98 espécie por isca.
Aproximadamente 43% das espécies coletadas dominaram pelo menos uma isca, dentre
estas 27 (em negrito no anexo 1) foram consideradas como dominantes.
O número elevado de espécies coletadas, reflete o esforço amostral realizado (ao
total 1.415 iscas). Silva & Izzo (com. pess.), coletaram 119 espécies de formigas em
900 iscas distribuídas em áreas de florestas e pastagens próximas de Manaus, mostrando
um resultado proporcionalmente similar. Como em outras regiões da Amazônia o
gênero Pheidole foi o mais abundante (1.082 ocorrências) e mais especioso
representando quase 40% do número de espécies coletadas. A espécie mais abundante
foi Crematogaster tenuícula com 215 ocorrências.
A maioria das espécies coletadas são características do solo ou do folhiço,
embora tenham ocorrido algumas espécies arborícolas. As espécies pertencentes aos
gêneros Pseudomyrmex, Azteca e Cephalotes são primariamente arborícolas, porém
podem ser encontradas ocasionalmente forrageando no solo (Delabie et al. 2000). Todas
as espécies coletadas estavam dentro do cartão plástico se alimentando da isca, exceto
por Gigantiops destructor que na maioria dos casos estava atacando outras formigas
presentes nas iscas. A única ocorrência de Eciton burchellii foi na última isca do
transecto, e a correição encontrou a isca aproximadamente 50 minutos após o começo
das coletas, não afetando a ocorrência de outras espécies na isca adjacente.
Das 1.415 iscas oferecidas 625 (44,17%) foram consideradas dominadas, e 43
iscas não foram visitadas por formigas em uma hora de exposição. O índice de Berger-
Parker (DN), que estima a dominância numérica apresentou maior variação (0,129 a
0,576) nos transectos de 100m que nos transectos de 200m (0,156 a 0,383, tabela 2). Em
três transectos, todos de 100 m, o DN foi igual ou maior que 0,5 e C. tenuicula foi a
espécie que dominou mais iscas e a que mais ocorreu (figura 5). Na maioria dos
transectos, independente da densidade de iscas, houve uma modificação das espécies
31
dominantes que ocorreram nas iscas, exceto pelos transectos representados na figura 5
que apresentaram a mesma espécie ocorrendo praticamente por todo o transecto.
Figura 5 - Representação esquemática dos 3 transectos que apresentaram a dominância numérica (DN) igual ou maior que 0,5. Nos três transectos Crematogaster tenuicula foi a espécie que mais dominou iscas e a que mais ocorreu. (DC) dominância comportamental e (d) densidade de iscas a cada 10 m.
Durante as coletas foi observado que Crematogaster tenuícula, C. brasiliensis, C
limata, Wasmannia auropunctata, Pheidole sp. 13 e Camponotus sp. 9 apresentaram
uma possível área de forrageio muito maior que a maioria das outras formigas. Em 26
transectos (47,2% do total, em negrito na tabela 2) as iscas dominadas estavam lado a
lado, formando uma grande área onde somente a espécie dominante foi registrada, na
maioria dos casos essas áreas ultrapassavam 20 m. Em certas iscas o número de
formigas era tão grande que várias operárias ficaram fora do cartão plástico onde estava
a isca. Como não fez parte dos objetivos inicias deste trabalho, não foi investigado se
operárias coletadas em iscas adjacentes pertenciam ou não a mesma colônia. Porém,
algumas dessas espécies têm registros de formação de ninhos polidômicos na literatura:
W. auropunctata e algumas espécies de Pheidole (Hölldobler & Wilson 1990), C.
tenuícula, C. limata e C. brasiliensis (Longino 2003), Camponotus cingulatus (Delabie
et al. 1991), o que aumenta muito as chances dessas operárias pertencerem a mesma
colônia. Em alguns transectos com maior densidade de recursos (4 iscas a cada 10 m),
Crematogaster brasiliensis dominou iscas adjacentes. Nesses casos, foi observada uma
32
trilha de forrageio que ligava as duas iscas que estavam lado a lado ou trilhas
independentes que saiam da mesma abertura da colônia.
Tabela 2 – Tamanho de transecto, densidade de iscas a cada 10 m, índice de Berger-Parker (DN) e Dominância Comportamental (DC) de formigas atraídas por iscas composta de sardinha e goiabada, em florestas de terra firme, Manaus, AM. Em negrito os transectos que apresentaram a mesma espécie como a mais dominante numericamente e comportamentalmente.
tamanho (m) densidade de iscas DN DC tamanho (m) densidade
de iscas DN DC
100 * 1 0.211 0.273 200 ○ 0,5 0.200 0.636 100 □ 1 0.273 0.455 200 ○ 0,5 0.320 0.455 100 ○ 1 0.200 0.455 200 □ 0,5 0.353 0.455 100 ♣ 1 0.500 0.545 200 ♣ 0,5 0.261 0.364 100 * 1 0.300 0.364 200 * 0,5 0.364 0.455 100 * 1 0.190 0.364 200 * 0,5 0.200 0.455 100 * 1 0.500 0.636 200 * 0,5 0.200 0.636 100 * 2 0.300 0.286 200 ○ 1 0.222 0.571 100 ○ 2 0.281 0.429 200 ○ 1 0.156 0.524 100 □ 2 0.200 0.381 200 ♣ 1 0.367 0.476 100 ♣ 2 0.381 0.476 200♣ 1 0.267 0.476 100 * 2 0.231 0.381 200 * 1 0.324 0.476 100 * 2 0.233 0.333 200 * 1 0.206 0.476 100 * 2 0.405 0.429 200 ○ 1 0.383 0.571 100 * 3 0.167 0.452 200 ○ 1,5 0.167 0.290 100 ○ 3 0.267 0.323 200 ○ 1,5 0.303 0.387 100 □ 3 0.129 0.387 200 □ 1,5 0.250 0.516 100 ♣ 3 0.356 0.516 200 ♣ 1,5 0.241 0.484 100 * 3 0.230 0.419 200 * 1,5 0.213 0.387 100 * 3 0.255 0.548 200 * 1,5 0.224 0.290 100 * 3 0.170 0.452 200 ○ 1,5 0.329 0.452 100 * 4 0.183 0.341 200 ○ 2 0.176 0.390 100 ○ 4 0.329 0.561 200 □ 2 0.255 0.366 100 ♣ 4 0.420 0.415 200 ♣ 2 0.374 0.415 100 ♣ 4 0.576 0.634 200 ♣ 2 0.304 0.585 100 * 4 0.365 0.317 200 * 2 0.261 0.463 100 * 4 0.257 0.561 200 * 2 0.200 0.341 100 * 4 0.211 0.439
○ Km 34 (LBA) * Cabo frio □ Km 37 ♣ Reserva Florestal Adolpho Ducke
33
A ordenação das espécies mais abundantes (“rank”) mostra que a ocorrência das
espécies é muito similar nos 2 tamanhos de transectos (figura 6 e 7). Em ambos os
casos, as 20 espécies mais freqüentes representaram mais da metade das ocorrências e
as inclinações das curvas são muito similares. Quanto menos inclinada melhor
distribuída está a ocorrência das espécies (Longino 2000). Entre os transectos de 100 m,
C. tenuícula foi a espécie que mais ocorreu em densidades de 1, 2 e 4 iscas a cada 10 m
e Pheidole fracticeps foi a mais abundante nos transectos com 3 iscas a cada 10 m. Nos
transectos de 200 m C. parabiótica, C tenuicula, Pheidole sp.25 e C. brasiliensis foram
as mais abundantes nos transectos com 0,5, 1, 1,5 e 2 iscas a cada 10 m,
respectivamente.
Rank de espécies – transectos de 100 m
Rank de espécies – transectos de 200 m
Figura 6 – Ordenação da ocorrência das espécies de formigas atraídas por iscas, em floresta primária de terra firme na Amazônia Central por transecto de 200 m. A ocorrência está expressa em escala logarítmica.
34
Os resultados da análise de covariância (ANCOVA) mostraram que a densidade
de iscas e o tamanho dos transectos não tiveram efeito sobre a dominância numérica
(tabela 3, figura 7a). Ao contrário, foi observada uma interação entre o efeito da
densidade de iscas e o efeito do tamanho dos transectos sobre a dominância
comportamental (tabela 3, figura 7b). Uma interação mostra que o efeito de um fator
depende dos níveis de outros fatores (Magnusson & Mourão 2003), indicando que essas
duas variáveis não podem ser analisadas simultaneamente. Análises posteriores
(regressão simples) mostraram que somente nos transectos de 200 m a densidade de
iscas apresentou efeito sobre a dominância comportamental (r2 = 0,186, F1,25 = 5,711, p
= 0,025), nos transectos de 100 m essa variável independente não teve efeito (r2 = 0,087,
F1,26 = 2,486, p = 0,127).
(b) (a)
Figura 7 – Relação entre densidade de iscas por transectos e dominância numérica (a) e dominância comportamental (b) de formigas atraídas por isca em florestas de terra firme. Nenhum efeito entre as médias do número de espécies sorteadas, densidade de
iscas e tamanho dos transectos (tabela 3, figura 8a) foi encontrado, demonstrando que a
densidade das iscas não influenciou na riqueza total amostrada por transecto. Os
tamanhos de transectos também não influenciaram significativamente a riqueza
acumulada. Porém a densidade de iscas teve efeito significativo sobre a proporção de
espécies subdominantes amostradas (tabela 3, figura 8b). Conforme aumenta a
quantidade de recursos, a proporção de espécies subdominantes é maior nos dois
tamanhos de transectos. Para fornecer mais informações sobre a história natural das
35
espécies coletadas o anexo 2 mostra a ocorrência das espécies subdominantes mais
abundantes ao longo do gradiente de iscas nos transectos de 100 m.
(b) (a)
Figura 8 – Relação entre densidade de iscas e riqueza sorteada em 11 iscas (a) e proporção de espécies subdominantes (b) de formigas de solo em terra firme. As linhas indicam tendências nos transectos de 100 m (linha continua) e 200 m (linha pontilhada).
Foi observado um efeito negativo tanto da dominância numérica (tabela 3, figura
9a) como comportamental (tabela 3, figura 9b) sobre o número de espécies de formigas
coletadas por transecto, porém não houve efeito do tamanho de transecto sobre a
riqueza. Apesar do tamanho da área amostrada não influenciar, em locais com maior
dominância o número de espécies coletado foi menor.
(a) (b)
Figura 9 – Relação entre dominância numérica (a) e dominância comportamental (b) e o total de espécies de formigas atraídas por isca em florestas de terra firme. As linhas indicam tendências nos transectos de 100 m (linhas continuas) e 200 m (linhas pontilhadas).
36
Tabela 3 – Resultados de análises de covariância (ANCOVA) para os efeitos de tamanho de transecto (100 ou 200 m) e densidade de iscas sobre a dominância numérica e comportamental e efeitos do tamanho de transecto e dominância (numérica e comportamental) sobre a riqueza de formigas coletas por transecto. Resultados significativos estão em negrito. Variável Efeito MS F1,51 p Dominância numérica tamanho 0,004 0,449 0,506 (figura 7a) densidade de iscas 0,000 0,000 0,987 tamanho x densidade de iscas 0,001 0,078 0,781 erro 0,009
Dominância comportamental tamanho 0,062 9,942 0,003 (figura 7b) densidade de iscas 0,009 1,463 0,232 tamanho x densidade de iscas 0,046 7,256 0,010 erro 0,006
Riqueza sorteada (11 iscas) tamanho 5,224 0,640 0,427 (figura 8a) densidade de iscas 5,831 0,714 0,402 tamanho x densidade de iscas 7,224 0,855 0,351 erro 8,163
Proporção de sp. subdom. tamanho 0,014 1,584 0,214 (figura 8b) densidade de iscas 0,041 4,651 0,036 tamanho x densidade de iscas 0,000 0,021 0,884 erro 0,009
Riqueza tamanho 0,658 0,013 0,910 (figura 9a) dominância numérica 544,657 10,614 0,002 tamanho x dom. numérica 0,083 0,002 0,968 erro 51,314
Riqueza tamanho 148,990 2,689 0,107 (figura 9b) dom. comportamental 421,296 7,604 0,008 tamanho x dom. comportamental 117,784 2,126 0,151 erro 55,406
As análises de covariância foram usadas para investigar se a dominância
(comportamental e numérica) é influenciada pela quantidade de iscas e tamanho de
transectos e se existe interação entre o efeito da quantidade de iscas e o efeito do
tamanho dos transectos. Como a densidade de iscas reflete o método de coleta utilizado
e atua sobre a dominância comportamental principalmente nos transectos maiores, optei
37
por incluí-la nos modelos contendo as variáveis ambientais. Assim, é possível analisar a
influência da densidade de iscas em conjunto com as variáveis ambientais para cada
tamanho de transecto.
A análise de regressão múltipla que investigou o efeito das características do
hábitat, das variáveis micro climáticas e da densidade de iscas sobre a dominância
numérica nos transectos de 100 m foi marginalmente significativa (p = 0,051; R2 =
0,402; n = 26, figura 10). O volume e particulação do folhiço tiveram um efeito
negativo e significativo sobre a dominância numérica (b’ = -0,419; p = 0,047 e
b’ = -0,406; p = 0,045, respectivamente), enquanto que a densidade de iscas, umidade e
temperatura do solo não influenciaram significativamente a dominância numérica nos
transectos de 100 m.
(b) (a)
(c) (d) (e)
Figura 10 – Parciais entre dominância numérica e (a) volume do folhiço (b’ = -0,419; r2 = 0,183; p = 0,047), (b) particulação do folhiço (b’ = -0,406; r2 = 0,186; p = 0,045), (c) densidade de iscas por transecto (b’ = -0,014; r2 = 0,000; p = 0,937), (d) umidade do solo (b’ = -0,117 r2 = 0,018; p = 0,550) e (e) temperatura do solo (b’ = 0,134; r2 = 0,024; p = 0,489) em transectos de 100 m. Resultado de uma análise de regressão múltipla marginalmente significativa (R2 = 0,402; p = 0,051; n = 26).
38
A abertura de dossel não foi incluída no modelo por estar correlacionada com a
umidade do solo (r = 0.571, p = 0.035, anexo 3). Por problemas com o termômetro, a
temperatura do solo em dois transectos de 100 m não foram medidas, justificando o
número menor de repetições nas análises de regressão múltipla.
A análise de regressão múltipla que investigou o efeito das variáveis ambientais
e da densidade de iscas sobre a dominância comportamental nos transectos de 100 m foi
significativa (p = 0,004; R2 = 0,557; n = 26, figura 11). O volume e particulação da
liteira tiveram um efeito negativo sobre a dominância comportamental (b’ = -0,499; r2 =
0,301; e b’ = -0,397; p = 0,025 respectivamente), enquanto que a densidade de iscas por
transecto, umidade e temperatura do solo não influenciaram significativamente a
dominância comportamental nos transectos de 100 m.
(b) (a)
(c) (d) (e)
Figura 11 – Parciais entre dominância comportamental e (a) volume do folhiço (b’ = -0,499; r2 = 0,301; p = 0,008), (b) particulação do folhiço (b’ = -0,397; r2 = 0,228; p = 0,025), (c) densidade de iscas por transecto (b’ = 0,150; r2 = 0,045; p = 0,345), (d) umidade do solo (b’ = -0,220; r2 = 0,081; p = 0,198) e (e) temperatura do solo (b’ = 0,255; r2 = 0,109; p = 0,134), em transectos de 100 m. Resultado de uma análise de regressão múltipla significativa. As informações sobre a regressão múltipla estão descritas no texto.
39
Nos transectos de 100 m a amplitude de variação do volume e particulação do
folhiço não foram suficientes para revelar um padrão que se mostrou evidente nos
transectos maiores. Como houve correlação significativa entre o volume e particulação
do folhiço nos transectos de 200 m (r = 0.735, p < 0.000, anexo 4), e a análise de
regressão múltipla prevê independência entre os fatores, optei por retirar a particulação
do folhiço por explicar menos a variação da dominância numérica e comportamental
nos transectos de 200 m.
A variável abertura de dossel por apresentar muitos pontos considerados como
“outliers” e contribuir muito pouco com os modelos, não foi incluída nas análises de
regressão múltipla. Como os transectos foram dispostos ao acaso dentro da floresta,
alguns amostraram pontos dentro de clareiras o que resultou em valores de abertura de
dossel muito discrepantes e mal distribuídos ao longo do gradiente. Por problemas com
o termômetro, a temperatura do solo em dois transectos de 200 m não foram medidas,
justificando o número menor de repetições nas análises de regressão múltipla.
As variáveis ambientais explicaram menos a variação da dominância numérica
nos transectos de 200 m. O modelo não foi significativo e os fatores testados explicaram
menos de 25 % da dominância numérica (p = 0,250; R2 = 0,227; n = 25, figura 12).
Somente o volume do folhiço teve influência significativa (r2 = 0,181; p = 0,048), tendo
um efeito negativo sobre a dominância numérica. A densidade de iscas umidade e a
temperatura do solo não tiveram efeito sobre a dominância numérica.
40
(a)
(b)
(c) (d)
Figura 12 – Parciais entre dominância numérica e (a) volume do folhiço (b’ = -0,427; r2 = 0,181; p = 0,048), (b) densidade de iscas (b’ = 0,018; r2 = 0,000; p = 0,931) (c) umidade do solo (b’ = 0,203; r2 = 0,048; p = 0,329) e (d) temperatura do solo (b’ = 0,236; r2 = 0,062; p = 0,264), em transectos de 200 m. Resultado de uma análise de regressão múltipla não significativa. As informações sobre a regressão múltipla estão descritas no texto.
Da mesma forma que a dominância numérica, as variáveis ambientais
explicaram pouco mais que 25 % da variação da dominância comportamental nos
transectos de 200 m. O modelo não foi significativo (R2 = 0,258; p = 0,181; n = 25,
figura 13) e somente a densidade de iscas teve influência (p = 0,048; b’ = -0,427; r2 =
0,181), tendo um efeito negativo sobre a dominância comportamental. As variáveis
volume do folhiço, umidade e temperatura do solo não apresentaram efeito sobre a
dominância comportamental.
41
(a) (b)
(d) (c)
Figura 13 – Parciais entre dominância comportamental e (a) volume do folhiço (b’ = -0,214; r2 = 0,053; p = 0,301), (b) densidade de iscas (b’ = -0,427; r2 = 0,181; p = 0,048), (c) umidade do solo (b’ = 0,206; r2 = 0,050; p = 0,317) e (d) temperatura do solo (b’ = -0,242; r2 = 0,061; p = 0,267) em transectos de 200 m. Resultado de uma análise de regressão múltipla não significativa (R2 = 0,258; p = 0,181; n = 25).
42
DISCUSSÃO
Dominância e densidade de iscas
Os sítios amostrados apesar de conterem algumas espécies relativamente mais
abundantes, não apresentaram sinais de dominância numérica (DN). Normalmente a
dominância numérica de um local está relacionada com distúrbios no ambiente
(Hoffmann & Andersen 2003) ou com a presença de espécies invasoras (Porter &
Salvignano 1990) que podem favorecer algumas espécies mais competitivas. Somente
em um caso a DN foi maior que 0,5, significando que neste transecto, as duas espécies
mais abundantes representaram mais da metade do total de ocorrências. A grande
diversidade de formigas nessas áreas (Benson & Harada 1988) pode ser um fator
importante que dificultou a dominância numérica, resultando numa substituição de
espécies ao longo dos transectos independentemente do seu tamanho ou densidade de
iscas.
Contudo quando analisei as espécies mais dominantes numericamente,
Crematogaster tenuicula apresentou a maior freqüência nas iscas, sendo a mais
abundante em metade dos tratamentos (figura 6). A grande ocorrência desta espécie (ao
total 215 registros) e a dominação de 68% das iscas em que ocorreu (anexo 1),
demonstram que C tenuicula é uma espécie muito competitiva e bem distribuída nesses
locais. Dentre as espécies subdominantes, Ectatomma lugens, também esteve presente
em todas as áreas e ficou entre as 5 mais abundantes em todos os tratamentos de
densidade de iscas. Estes resultados foram bastante similares aos encontrados por
Vasconcelos et al. (2003) realizados em áreas próximas, empregando outros métodos de
coleta.
A dominância pode ser definida como a apropriação de um espaço ou nicho de
uma espécie subordinada por uma espécie dominante (McNaughton & Wolf 1970). E a
capacidade de ocupação de uma isca está relacionada com a habilidade de luta e
43
capacidade de recrutamento de cada espécie (Levings & Traniello 1981). Levando isso
em conta, observei que a dominância comportamental (DC), medida aqui pela
proporção de iscas dominadas em relação ao total de iscas por transecto, se mostrou
mais sensível a pequenas variações em micro escala, do que a dominância numérica.
Por exemplo, o posicionamento de uma isca ao lado de uma colônia, aumenta muito a
chance desta isca ser dominada, porém o registro desta espécie contribui somente como
uma ocorrência para o cálculo da dominância numérica do transecto.
Em escalas locais, a competição intra e interespecífica são frequentemente
citadas como fatores importantes na regulação das comunidades de formigas
(Hölldobler & Wilson 1990), resultando numa hierarquia bem definida na utilização dos
recursos (Vepsäläinen & Pisarski 1982). Apesar do gradiente de iscas utilizado neste
trabalho não refletir a quantidade e distribuição real dos recursos na floresta, ele pode
ser usado como um modelo experimental para tentar entender as relações momentâneas
de dominância frente a variação na quantidade dos mesmos. Nos transectos de 200 m,
menos iscas foram dominadas quando existiu mais recurso disponível. Quando houve
menor disponibilidade de iscas, espécies de comportamento dominante, que recrutam
em massa e podem excluir outras espécies, foram favorecidas. Essa relação inversa
entre dominância e disponibilidade de recursos pode ser uma evidência indireta da
ocorrência de competição ou da amostragem mais detalhada do ambiente.
A maior proporção de espécies subdominantes em transectos com maior
densidade de iscas (figura 8b) é um indício em favor da segunda hipótese. Formigas de
comportamento subdominante podem tolerar a presença de outras espécies no mesmo
recurso (Hölldobler & Wilson 1990) e têm áreas de forrageio menores que espécies
dominantes (Levings & Traniello 1981). Numa floresta tropical na Costa Rica, Byrne
(1994) demonstrou que as colônias de formigas de liteira, que normalmente são
subdominantes, estavam no máximo a 2 m de distância das iscas oferecidas. Em
transectos com maior densidade de recursos a menor distância entre as iscas facilitou o
encontro e permanência de espécies subdominantes nos recursos oferecidos. Certas
espécies relativamente raras neste método de coleta e que não dominaram iscas, como
Dolichoderus rugosus, Pachycondyla unidentata e Hylomyrma balzani, foram coletadas
44
uma única vez nos tratamentos com densidade de 2, 3 e 4 iscas a cada 10 m
respectivamente.
Em locais com maior quantidade de recursos disponíveis, era esperada que
momentaneamente maior riqueza fosse coletada (Schoener 1983, Tilman 1984,
Rosenzweig 1995). Porém a riqueza total de espécies não foi afetada pela variação na
densidade de iscas (figura 8a). A ausência de relação entre riqueza de espécies e
quantidade de recursos (medida indiretamente pela quantidade de folhiço disponível)
também foi encontrada por Soares & Schoereder (2001) e Delabie & Fowler (1995),
trabalhando com formigas de liteira.
A diferença na densidade de iscas entre os dois tamanhos de transecto, foi
suficiente para modificar as relações entre esta variável e a dominância comportamental.
Nos transectos de 100 m, a dominância comportamental não apresentou relação com a
densidade de iscas, como foi observado nos transectos maiores (figura 7b). Para explicar
esse resultado três hipóteses foram levantadas e investigadas a posteriori: (i) a presença
de colônias com área de forrageio muito grande poderia ter distorcido o cálculo da DC;
(ii) a densidade de iscas nos transectos menores teria modificado as relações
hierárquicas e (iii) a alta densidade de iscas atingiu um limiar, no qual não influenciou a
dominância comportamental.
Grandes áreas de forrageio têm efeitos proporcionalmente diferentes em
tamanhos de transectos diferentes. Por exemplo, num modelo hipotético de dois
transectos de tamanhos diferentes (100 e 200 m), com a mesma densidade de iscas e
com o mesmo padrão de 1 isca dominada a cada 2 não dominadas. A presença de uma
colônia grande, com área de forrageio de 20 m por transecto, resultaria numa proporção
de iscas dominadas aproximadamente 30 % maior que no transecto menor (figura 14).
45
Figura 14 – Desenho esquemático de dois transectos de tamanhos diferentes com a mesma proporção de iscas dominadas, demonstrando o efeito da presença de uma colônia com grande área de forrageio no cálculo da DC. Espécies com colônias menores, não causariam desvios, porque a área de
forrageio nesses casos é de poucos metros e o número de operárias por colônia é
pequeno, não sendo suficiente para dominar mais de uma isca (Levings & Traniello
1981, Byrne 1994). Apesar de simplista, este modelo representa razoavelmente bem os
padrões de dominância encontrados (anexo 5). Para investigar se essas colônias com
grandes áreas de forrageio, causaram distorções no método de calcular a dominância
comportamental, foi feita uma ANCOVA sem os transectos que apresentaram uma área
ínima
Gordon 2003) ou por influência de variáveis ambientais (Cerdá et al. 1997). Uma
m de 20 m dominada pela mesma espécie (26 transectos em negrito na tabela 2). A
relação negativa observada nos transectos de 200 m (figura 5b) se manteve (r2 = 0,297;
p = 0,036; n = 12, anexo 6) e os transectos de 100 m continuaram sem nenhuma relação
entre a dominância comportamental e a densidade de iscas (r2 = 0,000; p = 0,968; n =
14, anexo 6). O método utilizado para estimar a dominância comportamental não foi
influenciado pela presença de colônias com grandes áreas de forrageio, e a relação entre
iscas dominadas e a densidade de recursos é pouco alterada pela presença dessas
colônias.
Modificações na hierarquia comportamental já foram observadas com relação
aos tipos de recursos oferecidos (Davidson 1997; Yanoviak & Kaspari 2000; Sanders &
46
hipótese possível seria que a alta densidade de iscas nos transectos de 100 m somado a
maior ocorrência de espécies subdominantes teria modificado as relações hierárquicas.
Espécies subdominantes que normalmente não dominam iscas passariam a controlar
proporcionalmente mais iscas ao longo do gradiente de recursos. Desse modo a
tendência negativa observada nos transectos de 200 m, entre a DC e a densidade de
recursos, deixaria de existir. No entanto, através de uma análise de regressão simples,
entre a proporção de iscas dominadas somente por espécies subdominantes e a
densida
transectos de 100
m. Esp
de de iscas nos transectos de 100 m (p = 0.252; F1,26 = 1.371; r2 = 0.050), ficou
evidente que essas espécies não dominaram proporcionalmente mais iscas nos
transectos com maior densidade de recursos. A alta densidade de iscas não modificou as
relações hierárquicas nessas comunidades. Espécies menos competitivas como:
Trachymyrmex cornetzi, Odontomachus caelatus, Pheidole bufo, Pachycondyla harpax
ou Camponotus femoratus dentre outras (anexo 2), proporcionalmente ocorreram mais
nos transectos com maior densidade de iscas, porém sem dominá-las.
A distribuição das colônias de espécies dominantes pode explicar porque a
densidade de iscas não influenciou a dominância comportamental em
écies que utilizam nichos muito similares tendem a apresentar colônias com
distribuição regular mais que o esperado pelo acaso, resultado de fortes interações
interespecíficas (Levings & Franks 1982). Essas interações são mais fortes entre
espécies dominantes (Hölldobler & Lumsden 1980), que formam colônias relativamente
maiores (Levings & Traniello 1981). Dentre as espécies mais competitivas
Crematogaster tenuicula, C. brasiliensis, Pheidole fracticeps e Wasmannia
auropunctata nunca foram observadas compartilhando a mesma isca.
Desse modo, nos transectos de 200 m, o gradiente de recursos teve melhor
relação com a dominância comportamental provavelmente por estar mais ajustado ao
tamanho das áreas de forrageio das formigas dominantes. Nesses transectos a maior
distância entre as iscas garantiu melhor independência entre as áreas de forrageio dessas
espécies. Já nos transectos de 100 m a densidade de iscas atingiu um nível de saturação
que deixou de influenciar a proporção de iscas dominadas. As espécies dominantes
controlaram mais recursos, por estes estarem dentro de sua área de forrageio. Mesmo
quando o efeito de colônias com grande área de forrageio são retirados da análise, a
47
ausência de relação continua. Além disso, da mesma forma que a menor distância entre
as iscas aumentou as chances de coletar espécies subdominantes, a alta densidade de
iscas facilitou o encontro das iscas por espécies relativamente raras de comportamento
agressivo. Por exemplo, Oligomyrmex sp.2, Pheidole sp.95f, Pheidole sp.81 e
olenopsis sp.12 foram coletadas somente em transectos com densidade de 3 ou 4 iscas
a cada 10 m. Essas espécies apresentaram grande capacidade de recrutamento em
igas. No caso de Oligomyrmex sp.2, a
ntrada da colônia estava a 31 cm da isca. Esses fatores contribuíram para aumentar a
amplitu
ual seu papel num modelo contendo
variáve
que só foram amostradas nos transectos menores. Nos transectos de 100 m os pontos de
S
massa, mantendo as iscas livres de outras form
e
de de variação da DC ao longo do gradiente de iscas. Nesses transectos, as
variáveis ambientais foram os fatores controladores da variação na dominância
comportamental.
Dominância e variáveis ambientais
O efeito de uma variável pode interferir sobre o efeito de outras variáveis
indepentendes (Magnusson & Mourão 2003). A densidade de iscas foi incluída nas
análises de regressão múltipla para investigar q
is ambientais e por refletir a metodologia empregada. Confirmando os resultados
da análise de covariância, a densidade de recursos não influenciou a DC e a DN nos
transectos de 100 m sendo um fator que contribuiu muito pouco para explicar as
variações encontradas na DC e DN (figura 10c e 11c). Já nos transectos de 200 m foi a
única variável que apresentou efeito significativo sobre a dominância comportamental
(figura 12b e 13b). Esses resultados demonstram que o efeito da densidade de recursos
não é resultado de interações de outras variáveis.
A importância da escala sobre processos ecológicos é um tema muito debatido
(Levin 1992). Normalmente padrões dependem da escala espacial estudada (Carlile et
al. 1989) e a mesma pergunta pode ter respostas diferentes em escalas diferentes (Krebs
1999). A relação entre a presença de uma espécie, que pode dominar uma isca, e as
variáveis ambientais se mostrou mais sensível a pequenas variações do microhabitat,
48
coletas das variáveis ambientais ficaram distantes 10 m entre si, resultando numa
caracterização mais detalhada do ambiente que nos transectos de 200 m (distantes a 20
m entr
& Schoereder 2001), a relação negativa
encont
er na mesma área (Kaspari 1996), dificultando a dominação
e si). Além disso, nesses transectos, as médias das variáveis ambientais
apresentaram menor variância, provavelmente porque em menores áreas há menor
heterogeneidade ambiental que áreas relativamente maiores (Rosenzweig 1995).
Kaspari et al. (2000) também encontraram melhor relação entre riqueza, abundância e
número de colônias com a produtividade do ambiente na menor escala estudada, 1 m2
de folhiço.
A DC e DN apresentaram resultados muito semelhantes nos transectos de 100 m.
Ambos os modelos foram significativos e as variáveis ambientais mais relacionadas
com características do microhábitat (volume e particulação do folhiço) tiveram maior
influência sobre a dominância comportamental e numérica (figuras 10 e 11). O folhiço
não está distribuído de forma homogênea sobre o solo da floresta (Luizão 1989), e sua
acumulação em certos locais podem resultar na formação de diferentes microhabitats
(Roy & Singh 1994). Considerando que o folhiço pode ser usado como uma medida
indireta da abundância de recursos (Soares
rada nas parciais de volume do folhiço entre as dominâncias numérica e
comportamental, já era esperada (figura 10a e 11a). Em locais com maior volume de
folhiço, mais recursos e possíveis hábitats estariam disponíveis, facilitando a nidificação
de mais espécies por unidade de área. Nesses locais mais indivíduos de espécies
diferentes estariam forrageando, o que diminuiria a probabilidade de dominação
comportamental e numérica por uma espécie.
Também foi encontrada uma relação negativa e significativa para a particulação
do folhiço (figura 10b e 11b). Locais com maior particulação apresentaram menores
índices de dominância comportamental e numérica. A particulação do folhiço pode ser
usada como uma medida indireta da complexidade do hábitat (Farji-Brener et al. 2004).
Em locais com o folhiço mais fragmentado o número de possíveis hábitats é maior e
mais espécies podem conviv
das iscas. Além disso, a particulação do folhiço pode dificultar o encontro das iscas, por
aumentar a superfície a ser percorrida (Kaspari & Weiser 1999). Assim uma formiga
gastaria mais tempo para percorrer a mesma unidade de área em locais com maior
49
particulação do folhiço. A forte relação entre o volume e particulação do folhiço,
demonstra a importância de características do micro ambiente sobre a atividade das
espécies atraídas por iscas.
Ao colocar os transectos em áreas planas a variação de umidade do solo foi
minimizada dentro dos transectos, porém não entre eles. O período de coleta que
abrangeu parte da época chuvosa e seca, resultou num bom gradiente de umidade do
solo (12 a 39 %). A umidade tem um forte efeito na dispersão de colônias (Levings
1983), na atividade (Kaspari & Weiser 2000) e na riqueza de formigas (Vasconcelos et
al. 2003), porém não teve efeito significativo sobre a dominância comportamental e
numérica nos transectos de 100 m (figura 8d e 9d). Como locais mais úmidos oferecem
menor risco de dessecação, era esperado que, a dominação das iscas seria
proporcionalmente maior. Esses locais seriam usados preferencialmente por formigas
dominantes que podem controlar o acesso aos recursos oferecidos de formigas
subdominantes. Em florestas tropicais a umidade do solo perece influenciar a atividade
as dominantes são
ais ativas em temperaturas menores que espécies de comportamento subdominante
estelmeyer 2000). A amplitude de variação de 19,3 a 26,9 ºC, da temperatura do solo
não teve grande influência sobre a dominância comportamental e numérica nas áreas
9e), não afetando de forma diferenciada espécies dominantes e
bdominantes. Byrne (1994) também não encontrou relação entre temperatura e
ivida
das formigas como um todo, não de forma diferenciada entre as hierarquias
comportamentais. Estes resultados corroboram com os encontrados por Kaspari &
Weiser (2000) que demonstraram que iscas colocadas sobre o folhiço ao longo de um
gradiente de umidade têm as mesmas chances de serem encontradas por formigas de
tamanhos muito diferentes, sugerindo que o risco de dessecação tem pouca influência na
seleção de locais de forrageio dentro deste ambiente.
Em áreas semi-áridas a temperatura do ar desempenha um papel muito
importante na dinâmica das comunidades de formigas (Cerdá et al. 1998, Retana &
Cerdá 2000), podendo funcionar como barreira seletiva entre espécies de tamanho e
comportamento diferentes (Cerdá et al. 1997). Nestes locais formig
m
(B
amostradas (figura 8e e
su
at de das formigas de folhiço na floresta tropical da Costa Rica.
50
Riqueza e dominância
Este trabalho reflete somente padrões de dominância das espécies de formigas
que utilizam o mesmo recurso, deixando de lado espécies crípticas, cultivadoras de
fungos e predadoras especialistas, dentre outras. Apesar disto de modo em geral, os
resultados foram bastante similares aos encontrados por Andersen (1992) que utilizou
pitfalls e iscas de atum para avaliar a dominância das comunidades de formigas da
do
eis na literatura. Demonstrando que a forma que os recursos
stão distribuídos, também pode atuar nas relações entre espécies em comunidades de
rmigas de solo. Em transectos menores e com maior densidade de recursos, somente
s variáveis ambientais explicaram as variações nas dominâncias comportamental e
Austrália. No presente estudo, conforme a dominância numérica (figura 9a) e
comportamental (figura 9b) aumentou, menor riqueza foi coletada. A competição
exercida por espécies dominantes, que podem controlar momentaneamente a riqueza de
espécies subdominantes, é apontada como a principal força nesta relação (Andersen
1992). Esse controle é resultado da capacidade que essas formigas têm de excluir outras
das fontes alimentares (Vepsäläinen & Pisarski 1982).
Em áreas não perturbadas a relação de dominância local e momentânea operan
por um longo período pode resultar em padrões de diversidade em larga escala
(Andersen 1992). O tamanho de transecto não teve efeito sobre a relação entre riqueza e
dominância numérica e comportamental. Esse resultado era esperado devido a pequena
variação de tamanho das unidades amostrais. O tamanho da área provavelmente
influencia a relação entre dominância e riqueza numa amplitude maior, em que a mesma
espécie pode ser dominante localmente, mas rara regionalmente (Pitman et al. 2001).
Estimar a quantidade de recursos para um grupo tão diversificados quanto das
formigas é um trabalho difícil. Este estudo demonstrou que uma pequena variação
experimental na densidade de iscas ofertadas, pode modificar os padrões de dominância
e a riqueza momentânea que é coletada. As relações entre dominância, riqueza de
espécies subdominantes e densidade de iscas, de um modo em geral, se enquadraram
bem nas hipóteses disponív
e
fo
a
51
numérica. Variáveis ambientais que refletem as características de micro hábitat,
ostraram-se fatores importantes na regulação da dominância de formigas nas
omunidades amostradas.
m
c
52
CONCLUSÕES
A variação na densidade de iscas oferecidas pode modificar a proporção de iscas
dominadas (DC), contudo tem pouco efeito sobre padrões de dominância numérica por
transecto. Nos transectos de 200 m, proporcionalmente menos iscas foram dominadas
em locais com maior densidade de recursos. Apesar da competição pelos recursos ser
uma hipótese possível, ela não é a única capaz de explicar esse resultado. A riqueza
total não foi afetada pela quantidade de iscas oferecidas. Porém a maior densidade de
recursos, facilitou a amostragem de formigas subdominantes que normalmente
apresentam área de forrageio menores que das espécies dominantes. Se a competição
pelos recursos fosse um fator atuante, em locais com densidade máxima de recursos,
seria encontrado DC mínima, o que não ocorreu. Em transectos de 100 m, a relação
egativ
ode dificultar a dominação de iscas. A
mper
n a entre a DC e a densidade de recursos, encontrada nos transectos maiores, não
existiu. Nesses transectos, a densidade de iscas atingiu um nível de saturação que
deixou de influenciar a proporção de iscas dominadas. Mais espécies subdominantes e
dominantes com menor área de forrageio foram amostradas, e mais iscas ficaram dentro
da área de forrageio da mesma colônia, explicando a falta de relação entre a DC e a
densidade de recursos.
Os padrões de dominância comportamental e numérica foram melhor explicados
por variações mais sutis do ambiente, que só foram amostradas nos transectos de 100 m.
As variáveis ambientais mais relacionadas com a caracterização do micro-hábitat,
volume e particulação do folhiço, contribuíram mais para os modelos. Em transectos
com maior volume e particulação do folhiço, menor DC e DN foi encontrada,
demonstrando que a quantidade de hábitats p
te atura e umidade do solo não apresentaram efeito significativo sobre a DC e DN.
Essas variáveis atuam da mesma forma sobre a atividade das espécies de formigas
dominantes e subdominantes. Nos transectos de 200 m, onde maior heterogeneidade
ambiental foi amostrada, nenhum modelo entre dominância (comportamental e
53
numérica) e variáveis ambientais foi significativo. Nesses transectos, a DC foi melhor
explicada por variações na densidade de iscas.
A riqueza total coletada foi maior em transectos que apresentaram menores
alores de dominância comportamental e numérica. O tamanho de transecto não
fluenciou, e em ambos os casos as relações entre os dois tipos de dominância e a
queza foram as mesmas. Esses resultados corroboram com outros estudos,
emonstrado que espécies dominantes podem controlar momentaneamente o acesso aos
cursos disponíveis de espécies subdominantes.
v
in
ri
d
re
54
CONSIDERAÇÕES FINAIS E APLICAÇÕES
Através da abundância, da atividade ou do número de espécies é possível
detectar quais são as tendências de variação dentro de uma comunidade e entre
comunidades de diferentes locais (Lande 1996). Os resultados demonstrados aqui
eyer 1999). Se o
bjetivo de um trabalho for inventariar uma área de forma rápida usando iscas como
étodo de coleta, o espaçamento de 5 m entre as iscas seria a melhor opção. Nesta
istância, densidade de 2 iscas a cada 10 m, os valores de dominação (numérica e
omportamental) foram menores e proporcionalmente mais espécies subdominantes
ram coletadas, amostrando melhor a fauna que utiliza esse recurso.
refletem o efeito da densidade de iscas e algumas variáveis ambientais sobre a riqueza
momentânea e dominância de formigas que são atraídas pelo tipo de isca oferecida. Mas
podem somadas em estudos mais completos da comunidade, como por exemplo, o
projeto TEAM (Tropical Ecology Assessment & Monitoring), que está sendo realizado
nas mesmas áreas.
Entretanto os resultados mostrados aqui, já apresentam algumas aplicações
diretas sobre coletas com iscas. Normalmente os métodos de levantamento que utilizam
iscas são escolhidos por apresentarem algumas vantagens, como baixo custo, facilidade
de implementação e processamento do material coletado (Bestelm
o
m
d
c
fo
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63
ANEXOS
Anexo 1 – Espécies, número de ocorrências e porcentagem de iscas dominadas das formigas atraídas por iscas composta de sardinha e goiabada, em florestas de terra firme, Manaus, AM. Em negrito espécies classificadas como dominantes. Espécies Ocorrência Iscas dominadas (%) DOLICHODERINAE Dolichoderini Azteca sp.1 13 - Azteca sp.2 10 55,5 Azteca sp.3 1 - Azteca sp.5 2 50 Dolichoderus attelaboides (Fabricius) 4 - Dolichoderus bispinosus (Oliver) 5 - Dolichoderus laminatus (Mayr) 1 - Dolichoderus rugosus (Smith) 1 - Dorymyrmex sp.1 1 - FORMICINAE Gigantiopini Gigantiops destructor (Fabricius) 29 - Plagiolepidini Brachymyrmex heeri Forel 5 - Brachymyrmex sp.2 1 - Paratrechina sp.1 61 4,9 Paratrechina sp.2 9 - Paratrechina sp.3 42 4,8 Paratrechina sp.4 18 16,6 Paratrechina sp.5 7 - Paratrechina sp.6 2 - Paratrechina sp.7 5 - Camponotini Camponotus bidens Mayr 1 - Camponotus blandus (Smith) 4 - Camponotus crassus Mayr 3 - Camponotus femoratus (Fabricius) 43 11,6 Camponotus latangulus Roger 4 - Camponotus novogranadensis Mayr 7 - Camponotus rapax (Fabricius) 9 -
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Espécies Ocorrência Iscas dominadas (%) Camponotus tenuiscapus Roger 2 - Camponotus sp.14 2 - Camponotus sp.5 2 - PSEUDOMYRMECINAE Pseudomyrmecini Pseudomyrmex oculatus (Smith) 1 - Pseudomyrmex tenuis (Fabricius) 5 - Pseudomyrmex termitarius (Smith) 2 - ECITONINAE Ecitonini Eciton burchellii (Westwood) 1 100 Neivamyrmex angustinodis (Emery) 1 - PONERINAE Ponerini Anochetus horridus Kempf 1 - Hypoponera sp.1 2 - Hypoponera sp.2 1 - Hypoponera sp.3 1 - Odontomachus bauri Emery 3 - Odontomachus caelatus Brown 30 3,3 Odontomachus haematodus (Linnaeus) 12 - Odontomachus meinerti Forel 2 - Odontomachus scalptus Brown 19 5,26 Pachycondyla apicalis (Latreille) 21 - Pachycondyla constricta (Mayr) 18 - Pachycondyla crassinoda (Latreille) 11 - Pachycondyla harpax (Fabricius) 31 - Pachycondyla marginata (Roger) 2 - Pachycondyla obscuricornis Emery 7 - Pachycondyla striata Smith 3 - Pachycondyla unidentata Mayr 1 - ECTATOMMINAE Ectatommini Ectatomma edentatum Roger 29 6,9 Ectatomma lugens Emery 157 2,5 Ectatomma quadridens (Fabricius) 22 9,1
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Espécies Ocorrência Iscas dominadas (%) Ectatomma tuberculatum (Oliver) 7 - Gnamptogenys fernandezi Lattke 1 - Gnamptogenys horni (Santschi) 1 - Gnamptogenys moelleri (Forel) 1 100 Gnamptogenys striatula Mayr 3 - Gnamptogenys tortuolosa (Smith) 2 - MYRMICINAE Dacetini Pyramica sp.4 1 - Cephalotini Cephalotes atratus (Linnaeus) 3 - Attini Apterostigma próx. compl. pilosum 1 - Apterostigma próx. epinotale 1 - Apterostigma sp.3 1 - Atta sexdens (Linnaeus) 5 - Cyphomyrmex sp.1 1 - Cyphomyrmex sp.2 1 - Trachymyrmex bugnioni (Forel) 12 - Trachymyrmex cornetzi (Forel) 54 5,5 Trachymyrmex opulentus (Mann) 3 - Trachymyrmex relictus Borgmeier 2 - Trachymyrmex sp.3 1 - Trachymyrmex sp.4 6 - Trachymyrmex sp.5 3 - Trachymyrmex sp.6 1 - Trachymyrmex sp.7 1 - Trachymyrmex sp.8 5 - Blepharidattini Blepharidatta brasiliensis Wheeler 27 11,1 Wasmannia auropunctata (Roger) 87 28,7 Wasmannia scrobifera Kempf 2 - Solenopsidini Ochetomyrmex semipolitus Mayr 76 43,4 Megalomyrmex balzani Emery 7 42,8 Megalomyrmex drifti Kempf 1 -
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Espécies Ocorrência Iscas dominadas (%) Megalomyrmex goeldii Forel 19 26,3 Megalomyrmex leoninus Forel 2 - Oligomyrmex sp.2 1 100 Solenopsis geminata (Fabricius) 8 25 Solenopsis saevissima (Smith) 7 14,3 Solenopsis sp.10 6 16,6 Solenopsis sp.11 2 - Solenopsis sp.12 1 100 Solenopsis sp.3 6 50 Solenopsis sp.4 3 33,3 Solenopsis sp.5 10 30 Solenopsis sp.6 29 17,2 Solenopsis sp.7 9 - Solenopsis sp.8 36 16,6 Solenopsis sp.9 12 41,6 Myrmicini Hylomyrma balzani (Emery) 1 - Pheidolini Pheidole bufo Wilson 36 - Pheidole deima Wilson 12 - Pheidole embolopyx Brown 49 24,5 Pheidole exígua Mayr 43 4,6 Pheidole fracticeps Wilson 107 14,9 Pheidole meinerti Forel 53 11,3 Pheidole próx. exigua 5 - Pheidole próx. sp.25 6 16,7 Pheidole scolioceps Wilson 30 30 Pheidole sp.101 1 - Pheidole sp.106f 4 50 Pheidole sp.109 7 28,6 Pheidole sp.109f 3 33,3 Pheidole sp.12 10 10 Pheidole sp.120 4 - Pheidole sp.120f 3 - Pheidole sp.120fm 1 - Pheidole sp.121 2 -
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Espécies Ocorrência Iscas dominadas (%) Pheidole sp.13 94 77,7 Pheidole sp.14 9 22,2 Pheidole sp.16 21 4,8 Pheidole sp.16f 2 - Pheidole sp.17 10 55,5 Pheidole sp.21 2 - Pheidole sp.23 4 50 Pheidole sp.24 68 8,8 Pheidole sp.24f 2 - Pheidole sp.25 157 17,8 Pheidole sp.25arm 1 - Pheidole sp.25fpeq 1 - Pheidole sp.25qua 2 - Pheidole sp.25sc 5 - Pheidole sp.28 18 27,8 Pheidole sp.30 7 28,6 Pheidole sp.30f 3 66,6 Pheidole sp.37 1 - Pheidole sp.45 30 13,3 Pheidole sp.45f 2 - Pheidole sp.46 1 - Pheidole sp.49 25 32 Pheidole sp.49arc 3 33,3 Pheidole sp.49f 1 100 Pheidole sp.49fb 1 - Pheidole sp.49sg 1 - Pheidole sp.5 4 75 Pheidole sp.51 23 43,5 Pheidole sp.57 33 27,2 Pheidole sp.5f 1 - Pheidole sp.5fmp 2 - Pheidole sp.65 9 11,1 Pheidole sp.74 14 21,4 Pheidole sp.74f 5 - Pheidole sp.75 16 56,2 Pheidole sp.76 10 50
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Espécies Ocorrência Iscas dominadas (%) Pheidole sp.76f 10 20 Pheidole sp.76fm 4 - Pheidole sp.76fp 2 50 Pheidole sp.77 18 27,8 Pheidole sp.77arc 1 - Pheidole sp.77f 1 - Pheidole sp.81 1 100 Pheidole sp.81f 1 - Pheidole sp.85 28 10,7 Pheidole sp.91 10 10 Pheidole sp.91f 3 - Pheidole sp.94 8 12,5 Pheidole sp.94fm 3 33,3 Pheidole sp.95 5 - Pheidole sp.95ama 1 - Pheidole sp.95f 1 100 Pheidole sp.97 17 23,5 Pheidole sp.97f 5 - Crematogastrini Crematogaster acuta (Fabricius) 3 33,3 Crematogaster brasiliensis Mayr 151 28,5 Crematogaster erecta Mayr 2 - Crematogaster evallans Forel 3 - Crematogaster limata Smith 86 37,2 Crematogaster longispina Emery 2 - Crematogaster minutíssima Mayr 3 - Crematogaster nigropilosa Mayr 42 16,6 Crematogaster próx. nigropilosa 33 18,2 Crematogaster parabiotica 33 9,1 Crematogaster tenuicula Forel 215 68,8 Crematogaster sp.1f 1 - Crematogaster sp.2f 1 100 Crematogaster sp.4f 1 - Formicoxenini Leptothorax sp.3 1 -
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Anexo 2 – Ordenação das espécies de formigas subdominantes mais abundantes atraídas por iscas, pela densidade de iscas nos transectos de 100 m. As barras refletem a abundância relativa da espécie dentro do gradiente de iscas oferecido. As espécies mais abundantes estão no topo da lista.
Anexo 3 - Matriz de correlação de Pearson e probabilidade de Bonferroni com as variáveis ambientais e densidade de iscas nos transectos de 100 m, n = 26. Densidade de Volume do
iscas folhiço
Particulação do
folhiço
Abertura do
dossel
Umidade do
solo
Temperatura do
solo
Densidade de iscas 1.000 Volume do folhiço -0.061 1.000
Particulação do folhiço -0.106 0.247 1.000
Abertura do dossel 0.083 0.203 0.029 1.000
Umidade do solo -0.234 -0.324 -0.171 0.571 1.000
Temperatura do solo 0.010 0.281 -0.215 0.406 -0.134 1.000
Densidade de
iscas
Volume do
folhiço
Particulação do
folhiço
Abertura do
dossel
Umidade do
solo
Temperatura do
solo
Densidade de iscas 0.000 Volume do folhiço 1.000 0.000
Particulação do folhiço 1.000 1.000 0.000
Abertura do dossel 1.000 1.000 1.000 0.000
Umidade do solo 1.000 1.000 1.000 0.035 0.000
Temperatura do solo 1.000 1.000 1.000 0.597 1.000 0.000
71
Densidade de
iscas
Volume do
folhiço
Particulação do
folhiço
Abertura do
dossel
Umidade do
solo
Temperatura do
solo
Densidade de iscas 0.000 Volume do folhiço 1.000 0.000
Particulação do folhiço 1.000 0.000 0.000
Abertura do dossel 1.000 1.000 1.000 0.000
Umidade do solo 1.000 1.000 1.000 1.000 0.000
Temperatura do solo 1.000 1.000 1.000 1.000 1.000 0.000
Anexo 4 - Matriz de correlação de Pearson e probabilidade de Bonferroni com as variáveis ambientais e densidade de iscas nos transectos de 200 m, n = 25.
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Densidade de
iscas
Volume do
folhiço
Particulação do
folhiço
Abertura do
dossel
Umidade do
solo
Temperatura do
solo
Densidade de iscas 1.000 Volume do folhiço -0.133 1.000
Particulação do folhiço -0.163 0.735 1.000
Abertura do dossel -0.287 -0.246 -0.048 1.000
Umidade do solo -0.154 0.171 0.292 0.088 1.000
Temperatura do solo -0.202 0.192 0.234 0.295 0.168 1.000
Anexo 5 – Representação esquemática da ocupação e dominação das iscas por formigas, de alguns transectos em floresta primária de terra firme na Amazônia Central. Os retângulos representam as iscas ao longo dos transectos. Os símbolos acima dos retângulos representam a ocorrência de algumas espécies dominantes. Se o símbolo está sobre um retângulo preto significa que aquela espécie dominou o recurso. (DC) dominância comportamental, (DN) dominância numérica e (d) densidade de iscas a cada 10 m.
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Anexo 6 - Relação entre densidade de iscas por transectos e dominância comportamental de formigas atraídas por isca em florestas de terra firme, sem os 26 transectos que apresentaram colônias com possíveis áreas de forrageio igual ou maior que 20 m (em negrito na tabela 2). As linhas indicamm (linha contínua) e 200 m (linha pontilhada).
tendências nos transectos de 100
Resultados da análise de co OVA) para os efeitos de tamanho de
ansecto (100 ou 200 m) e q sobre a dom ia c tam
em os 26 transectos que apre íve de eio
u maior que 20 m. Resultados ificativos estão em negrito
ariável Efeito MS F1,25 P
variância (ANC
tr uantidade de iscas inânc ompor ental,
s sentaram colônias com poss is áreas forrag igual
o sign .
VDominância comportamental tamanho 0,043 6,320 0,019 densidade de iscas 0,038 5,630 0,026 tamanho x densidade de iscas 0,037 5,479 0,028 erro 0,007
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