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UNIVERSIDADE PAULISTA
PROGRAMA DE DOUTORADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO
NO CLUSTER DE SAÚDE NA
CIDADE DE TERESINA
Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção.
REINALDO DE ARAUJO LOPES
SÃO PAULO
2016
UNIVERSIDADE PAULISTA
PROGRAMA DE DOUTORADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO
NO CLUSTER DE SAÚDE NA
CIDADE DE TERESINA
Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção.
Orientador: Prof. Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto.
Área de Concentração: Gestão de Sistemas de Operação.
Linha de Pesquisa: Redes de empresas e planejamento da produção.
Projeto de Pesquisa: Melhoria contínua da qualidade e produtividade.
REINALDO DE ARAUJO LOPES
SÃO PAULO
2016
Lopes, Reinaldo de Araújo. Um estudo sobre empreendedorismo no cluster de saúde na cidade de Teresina / Reinaldo de Araújo Lopes. - 2016. 112 f. : il. + CD-ROM.
Tese de Doutorado Apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Paulista, São Paulo, 2016.
Área de Concentração: Gestão de Sistemas de Operação.
Orientador: Prof. Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto.
1. Turismo. 2. Polo de saúde. 3. Desenvolvimento sustentável. I. Costa Neto, Pedro Luiz de Oliveira (orientador). II. Título.
REINALDO DE ARAUJO LOPES
UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO
NO CLUSTER DE SAÚDE NA
CIDADE DE TERESINA
Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção.
Aprovado em: ____/____/_______.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto (Orientador)
Universidade Paulista – UNIP
_____________________________________________
Prof. Dr. José Benedito Sacomano
Universidade Paulista – UNIP
_____________________________________________
Prof. Dr. Oduvaldo Vendrametto
Universidade Paulista – UNIP
_____________________________________________
Prof. Dr. Paulo Borges da Cunha
Instituto Federal do Piauí – IFPI
_____________________________________________
Prof. Dr. Osvaldo Elias Farah
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Clea de Araujo Lopes, minha querida mãe que, tenho certeza, está vibrando por mais esta conquista. A meu pai, Reinaldo Lopes, sempre presente e grande parceiro. A eles minha gratidão pelo carinho, amor e dedicação.
Dedico também à minha filha, Leticia Lopes, fonte de inspiração e alegria.
AGRADECIMENTOS
Meu especial agradecimento ao Prof. Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto,
não apenas pela orientação, apoio e motivação, mas principalmente pelo incentivo
para que eu conseguisse chegar ao término deste trabalho. Mais do que orientador,
um grande amigo.
A todos os entrevistados, cujos nomes não posso citar, que me receberam e
transmitiram conhecimentos e experiências muito importantes para a realização
deste trabalho.
À Profa. Yara Lira e Atila Melo Lira, da Faculdade Santo Agostinho, pela
confiança e pelo apoio depositados em minha pessoa e em meu trabalho.
Ao Instituto Federal do Piauí e à CAPES pela confiança e apoio em todas as
horas para a conclusão deste doutorado.
À minha filha, Leticia Lopes, grande parceira. Obrigada por sempre me
incentivar a seguir em frente e pelo orgulho que demonstra sentir pelo meu trabalho.
Ao meu pai, Reinaldo Lopes, meu melhor amigo. Sempre presente,
principalmente nos momentos mais difíceis da caminhada. Obrigada pela dedicação,
pelo amor e pelo exemplo de vida.
À minha mãe, Clea de Araújo Lopes, que me transmitiu importantes valores.
Minha eterna fonte de inspiração.
Aos amigos que sempre estiveram presentes torcendo e dando força para a
realização deste trabalho, mesmo quando a jornada parecia árdua demais. Em
especial à Atila de Melo Lira e Jair Junior, que me ajudaram na editoração,
formatação e revisão do texto, e a Srta. Marcia Nunes, sempre pronta a auxiliar.
Enfim, obrigado a todos que de alguma forma me auxiliaram não apenas na
conclusão deste trabalho, mas na caminhada da vida.
RESUMO
Nos últimos anos o aquecimento da economia mundial contribuiu para o crescimento expressivo do turismo no mundo, onde o movimento da receita cambial mais que dobrou nos últimos dez anos, difundindo melhor seu conceito no Brasil. Crescem também as pesquisas relacionadas ao setor no meio acadêmico, bem como a preocupação com empresas duradouras, o crescimento da Região Nordeste, a globalização e outras transformações ocorridas em curto prazo. O turismo, entretanto, engloba diversas possíveis motivações para sua realização, entre as quais o turismo de saúde, pano de fundo para o surgimento do Polo de Saúde de Teresina, objeto da presente pesquisa. Nesse sentido, este trabalho objetiva demonstrar como um dos estados de menor renda per capita da federação, como o Piauí, tem um sistema de saúde em sua capital que é referência no nordeste do Brasil, tendo como suas variáveis de influência positiva o turismo de saúde. O trabalho tem como foco as questões que envolvem o turismo como um produto e um serviço, que, por consequência, tem a construção da existência de um cluster de saúde na cidade de Teresina, representando uma expressão econômica que justifica sua importância como gerador de renda, emprego, ciência e tecnologia, e como indutor de um desenvolvimento sustentável naquela cidade. O desenvolvimento do trabalho envolveu a realização de um amplo levantamento referencial e a realização de uma pesquisa qualitativa por amostragem estratificada no universo de instituições públicas e privadas, que constituem o Polo de Saúde de Teresina. Resultou numa caracterização do polo em seus diversos aspectos, sendo o fator empreendedorismo dos principais líderes empresariais locais um elemento fundamental para o seu surgimento, crescimento e perenização, como um melhor atendimento à população local e regional devido a criação de infraestrutura necessária. Acredita-se que a discussão apresentada nesta tese possa contribuir para o desenvolvimento de outros polos assemelhados em locais estratégicos de regiões carentes de serviços médicos de qualidade em outros pontos do território brasileiro. Palavras-chave: Turismo. Polo de saúde. Desenvolvimento sustentável.
ABSTRACT
In recent years, the warming of the global economy contributed to the significant growth of tourism in the world, where the movement of foreign exchange earnings more than doubled in the last ten years, better spreading its concept in Brazil. also growing research related to the sector in academia, and the concern with durable companies, the growth of the Northeast region, globalization and other short-term changes that have occurred. Tourism has now encompasses several possible motives for the meeting, including health tourism, backdrop for the emergence for the Teresina Health Pole, the subject of this research. In this sense, this work aims to show how one of the states of the lowest per capita income of the federation, as Piaui, has a health care system in its capital which is a reference in northeastern Brazil, having as its positive influence variables the health tourism. The work focuses on the issues surrounding tourism as a product and a service, which therefore has the construction of the existence of a health cluster in the city of Teresina, representing an economic expression that justifies its importance as a generator of income, employment , science and technology and as an inducer of sustainable development in the city. The development work involved the completion of a broad benchmark survey and conducting a qualitative survey by stratified sampling in the universe of public and private institutions, which are the Teresina Health Pole. Resulting in a characterization of the pole in its various aspects, and entrepreneurship factor leading local business leaders a key to its emergence, growth and perpetuation as a better service to local and regional population due to creation of necessary infrastructure. It is believed that the discussion presented in this thesis can contribute to the development of other the like poles in strategic locations in underserved areas of quality medical services in other parts of Brazil. Keywords: Tourism. Public health. Sustainable development.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Teresina: Crescimento da População 1970-2010 .................................. 13
Quadro 2 – População em 2010 de Teresina, São Luís e Fortaleza ......................... 14
Quadro 3 – Teresina em seu Contexto ..................................................................... 16
Quadro 4 – Estabelecimentos no Polo de Saúde por Subárea ................................. 17
Quadro 5 – Características dos Empreendedores na Ótica de Diversos Autores ..... 36
Quadro 6 – Estilos para Resolver Problemas............................................................ 43
Quadro 7 – Tipos de Estratégias ............................................................................... 48
Quadro 8 – Classificação do Turismo Quanto à Modalidade .................................... 57
Quadro 9 – Classificação do Turismo Quanto ao Tipo .............................................. 57
Quadro 10 – Classificação do Turismo Quanto à Forma .......................................... 58
Quadro 11 – População da Amostra ......................................................................... 78
Quadro 12 – Características Empreendedoras ......................................................... 89
Quadro 13 – Características dos Gestores ............................................................... 90
Quadro 14 – Procedimentos de Alta Complexidade .................................................. 92
Quadro 15 – Características das Empresas Pesquisadas ........................................ 97
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Índice Desenvolvimento Humano Piauí .................................................... 15
Figura 2 – Localização das áreas de concentração de estabelecimentos de saúde . 18
Figura 3 – Condição de Submetrópole Regional, Situada em Importante
Entroncamento Rodoviário Regional e Nacional ....................................................... 20
Figura 4 – Pirâmide da Necessidades de Maslow ..................................................... 35
Figura 5 – Formulação e Implementação de Estratégias .......................................... 45
Figura 6 – Qualidade, Produtividade e Competitividade ........................................... 50
Figura 7 – Melhorias Continuas e Radicais ............................................................... 51
Figura 8 – Mapa Rodoviário do Estado do Piauí ....................................................... 85
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Relação Médico Paciente ........................................................................ 81
Tabela 2 – Relação Médico Paciente por Estado ...................................................... 82
LISTA DE ABREVIATURAS
APL Arranjo Produtivo Local
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CELN Comissão Econômica da Liga das Nações
CRM-PI Conselho Regional de Medicina
Embratur Empresa Brasileira de Turismo
Facid Centro Universitário de Saúde, Ciências Humanas e Tecnologia do Piauí
Famepi Faculdade de Medicina do Estado do Piauí
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
Inamps Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social
Ipea Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada
ISSO International Organization for Standardization
OMS Organização Mundial de Saúde
ONG Organizações não governamentais
ONU Organização das Nações Unidas
PIB Produto Interno Bruto
Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Organização
Sebrae Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas
SUS Sistema Único de Saúde
SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats
UDO Centro de Diagnóstico Odontológico
Uespi Universidade Estadual do Piauí
UFPI Universidade Federal do Estado do Piauí
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÂO ...................................................................................................... 13
1.1 Considerações Iniciais .................................................................................. 13
1.2 Justificativa ................................................................................................... 19
1.3 Hipótese ....................................................................................................... 22
1.4 Questão norteadora ...................................................................................... 22
1.5 Objetivos do trabalho .................................................................................... 22
1.5.1 Objetivo geral ..................................................................................... 22
1.5.2 Objetivos específicos ......................................................................... 22
1.6 Metodologia .................................................................................................. 22
1.7 Delimitação do estudo .................................................................................. 23
1.8 Estrutura do trabalho .................................................................................... 23
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 26
2.1 Empreendedorismo ...................................................................................... 26
2.1.1 Perfil e característica dos empreendedores ....................................... 29
2.1.2 Habilidades ........................................................................................ 31
2.1.3 Conhecimento .................................................................................... 33
2.1.4 Necessidade ...................................................................................... 34
2.1.5 Valores ............................................................................................... 35
2.2 Estratégia como padrão de decisão ............................................................. 44
2.2.1 Tipos de estratégias ........................................................................... 46
2.2.2 A qualidade como estratégia para a competitividade ......................... 49
3 DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO TURISMO E DE UM CLUSTER ........... 52
3.1 Definição de turismo ..................................................................................... 53
3.2 Fatores que influenciam as decisões turísticas ............................................ 54
3.3 Classificação do turismo ............................................................................... 55
3.4 Indústria do turismo ...................................................................................... 57
3.5 Conceitos econômicos .................................................................................. 58
3.6 Implicações econômicas e sociais do turismo .............................................. 59
3.7 Desenvolvimento sustentável e intervenção pública .................................... 61
3.8 Definição de cluster ...................................................................................... 63
3.9 Diferenciação entre clusters e APLS ............................................................ 69
4 METODOLOGIA ................................................................................................... 75
4.1 Construção dos instrumentos de coleta de dados ........................................ 76
5 RESULTADOS ..................................................................................................... 78
5.1 Pesquisa prévia existente ............................................................................. 78
5.2 Descrição e análise das entrevistas ............................................................. 83
5.3 Síntese e conclusão da pesquisa ................................................................. 92
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 96
6.1 Sugestões para trabalhos futuros ................................................................. 99
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 101
APÊNDICE A – Roteiro das perguntas semi Estruturado .................................. 107
ANEXOS ................................................................................................................. 108
Anexo 1 – Imagens Ilustrativas do clusters de saúde em Teresina (PI) .............. 108
Anexo 2 – Parecer consusbistanciado do Comitê de Ética.................................. 111
13
1 INTRODUÇÂO
1.1 Considerações Iniciais
Teresina constitui um centro político e de serviços situado na confluência dos
eixos de circulação que ligam as metrópoles do Nordeste (Salvador, Recife e
Fortaleza) com a capital do estado do Pará, Belém.
Em estudo conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) na Região Nordeste do país hierarquizado sobre a renda das cidades, além
de educação, população e condições de vida, a cidade de Teresina foi classificada
como um dos 24 centros submetropolitanos do país.
No que diz respeito à área de abrangência de prestação de serviços, Teresina
alcança as regiões dos estados do Maranhão, Ceará e Tocantins e ainda parte do
Pará. Sua influência mais direta, além do Piauí, estende-se às regiões de Balsas,
Caxias e Bacabal, no Maranhão.
Os fatores que impulsionam sua economia estão determinados basicamente
por três características da cidade, a saber:
Capital do estado, e, portanto, centro político – administrativo, sediando
instituições de todos os níveis de governo;
Entroncamento rodoviário regional e nacional, que torna a cidade um
importante elo na cadeia de distribuição e comercialização de
mercadorias; e
Submetrópole regional, fornecendo produtos e serviços para sua área de
influência.
O quadro abaixo mostra que a população da cidade vem crescendo em uma
porcentagem maior que a média do estado conforme o comentário discriminado.
Quadro 1 – Teresina: Crescimento da população 1970-2010
Ano Taxa média a. a
1970-1980 5,4
1980-1991 4,4
1991-2000 2,0
2000-2010 2,4
Fonte: IBGE (2013).
14
Conforme verificado no quadro anterior, ao contrário do Piauí, que se
caracteriza como fonte de movimento emigratórios, Teresina ainda se mantém como
receptiva de fluxos populacionais mesmo apresentando um crescimento menos
acentuado do número de habitantes. Entre 1991 e 2000, a população do estado
cresceu a uma taxa média de 1,08% a.a., enquanto a do Brasil cresceu 1,63 % a.a.
Apenas 244,2 mil habitantes são provenientes de outros estados e 786,4 mil naturais
residem fora de seu território.
Quadro 2 – População em 2010 de Teresina, São Luís e Fortaleza
Municípios População 2000-2010% a.a.
Teresina 813.583 2,0
São Luís 1.064.047 2,5
Fortaleza 2.538.234 2,2
Fonte: IBGE, Censo Demográfico (2010).
Como se pode observar acima, no município de Teresina a população
residente cresceu a média de 2% a.a, e na última década, alcançando 813.583
habitantes no ano de 2010, 95% com domicílio urbano. A redução da taxa de
crescimento da população é extremamente benéfica, uma vez que ameniza a
pressão sobre os equipamentos urbanos e sociais, bem como sobre o meio
ambiente e os recursos naturais.
A qualidade de vida do piauiense conferiu ao Estado, em 1996, o mais baixo
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, conforme calculado pelo Instituto
de Pesquisa de Economia Aplicada (Ipea) com metodologia do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que considera três componentes
básicos: longevidade (expectativa de vida ao nascer), educação (taxa de
alfabetização de adultos e taxa de matrículas) e renda (produto interno per capita).
Entre 1991 e 2010, o Brasil cresceu seu IDHM de 0,493 para 0,727, uma
elevação de 47,8%. No mesmo período, o Piauí elevou seu índice de 0,362 para
0,646, sendo o 24º entre as unidades federativas. O melhor desempenho do Estado
é no índice de longevidade (0,777), seguido de renda (0,635) e educação (0,547).
Municípios
Apenas 40 municípios brasileiros estão com IDHM considerado muito alto
(0,800 a 1). Dos municípios com índice apenas alto (0,700 a 0,799) estão Teresina
(0,751) e Floriano (0,700).
15
No comparativo com as capitais, Teresina aparece na 21ª posição, estando a
frente de Maceió (AL), que obteve IDHM igual a 0,721. Mas o município piauiense
ainda aparece melhor que Belém (PA), que teve IDHM 0,746, e Manaus (AM), com
índice 0,737.
Figura 1 – Índice Desenvolvimento Humano Piauí
Fonte: PNUD / Atlas Brasil
Em sua área de influência, Teresina tem relações de complementariedade
com cidades vizinhas, e compete na atração de investimentos e na oferta de bens e
serviços principalmente com as capitais São Luís e Fortaleza; esta última a maior
das três cidades, com mais de 2,5 milhões de habitantes em 2010, enquanto São
Luís tem 1.069 mil e Teresina 813 mil.
Polarizadora em relação ao estado, Teresina concentra fortemente a atividade
econômica piauiense, abrigando 43% das empresas e 71% das pessoas
empregadas formalmente (IBGE, 1999). Entretanto, algumas outras atividades
começam a surgir em outras áreas do estado, como a agricultura da soja, a criação
de camarões, apicultura, fruticultura e ovinopricultura.
Para articular as ações do poder público na área de influência da capital, em
2001, foi criada a região Integrada de desenvolvimento da grande Teresina,
abrangendo 13 municípios de sua microrregião, acrescido do município de Timon, no
Maranhão, cuja sede forma uma conurbação com a capital do Piauí. Em 2000, a
população residente na Grande Teresina superava um milhão de habitantes, 87,3 %
residindo em áreas urbanas.
Existem diversas questões que necessitam ser enfrentadas
consideravelmente, dentre as quais, o transporte, os problemas ambientais como o
desmatamento, extração mineral predatória, uso descontrolado de agrotóxicos,
16
ocupação de áreas inadequadas; e questões institucionais complexas, entre elas a
do setor de saneamento, referente à concessão e controle de serviços e à cobrança
pelo uso da água e outras.
O Quadro 3 a seguir apresenta Teresina em seu contexto, na visão de seus
administradores públicos, de acordo com uma análise de forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças (SWOT – strengths and weaknesses, opportunities and
threats) realizada:
Quadro 3 – Teresina em seu Contexto
Pontos Fortes – A condição de submetrópole regional, situada em importante
entroncamento rodoviário regional e nacional, caracterizada como centro
político, de comércio e serviços para uma grande área de influência nas
regiões Nordeste e Norte do país.
Pontos Fracos – Pobreza da região onde Teresina se insere, com alto grau de
desemprego e informalidade no mercado de trabalho.
Ameaças – Perda de competitividade em relação às cidades concorrentes de
atividades em que Teresina é polo regional.
Oportunidades – Formação de cluster de saúde, com investimentos no setor
e, em especial, nos elos faltantes e incipientes; Turismo de eventos, ligado
principalmente às atividades de saúde e educação; e condição de porta de
entrada para o turismo de negócios e lazer no estado.
Fonte: Prefeitura de Teresina, Agenda 2015.
Pode-se observar a preocupação dos administradores públicos locais, quando
mencionada por eles as oportunidades e ameaças, que o item que mais os preocupa
é a consolidação do polo de saúde da cidade, tanto no que se refere às suas
ameaças como a preocupação da perda de competitividade. Eles vêem também
como grande oportunidade de geração de emprego e renda a consolidação dos
polos em que Teresina é centro de referência, como saúde e educação.
A economia do município de Teresina está fortemente concentrada no setor
terciário, que compreende as atividades de governo, comércio e de prestação de
serviços. Segundo o IBGE (2001), 85% do emprego formal e 92% dos rendimentos
do município foram registrados no setor terciário. O governo tem um peso
excepcionalmente importante, empregando 41% do total e gerando 54% do
17
rendimento da população empregada. Os setores de saúde e educação
correspondem a 7,5% dos empregos formais, totalizando 20,6% dos rendimentos, só
perdendo em número de empregos para o comércio com 18 % dos trabalhadores
formais, com 7% dos rendimentos da população local.
Em Teresina, os pequenos negócios constituem a base empresarial por
excelência, e tem papel econômico muito relevante. Alguns pequenos negócios
competitivos constituem arranjos econômicos, como é o caso do Polo de Saúde. Há
também atividades de expressão regional e geradora de renda para o município no
setor educacional, da moda, na indústria de cerâmica e no turismo de eventos.
O Quadro 4 mostra a importância do Polo de Saúde na cidade, como gerador
de emprego e renda, pois em uma capital de 813 mil habitantes, tem-se ligado a um
só setor de serviços 633 empreendimentos, em sua maioria pequenas e médias
empresas, assunto discutido e detalhado no Capítulo 3.
Quadro 4 – Estabelecimentos no Polo de Saúde por Subárea
Discriminação
I II III Total
Mafuá e Marquês Centro Piçarra e Ilhotas
Hospitais 1 5 2 8
Clínicas 14 163 4 181
Consultórios 36 133 1 170
Laboratórios 3 24 - 27
Bancos de sangue - 1 - 1
Ambulatórios - 1 - 1
Maternidades 1 - 1 2
Atividades Diretas Subtotal 55 327 8 390
Com. Material Méd./Hosp. 2 3 - 5
Escolas de Medicina - 2 - 2
Com. de medicamentos 15 39 7 61
Adm. Planos de Saúde 2 4 - 6
Pensões e Hotéis - 28 9 37
Comércio de Alimentos 23 108 - 131
Unid. De Ass. Social - 1 - 1
Atividades Indiretas 43 185 17 245
Sub Total
TOTAL 97 512 24 633
Fonte: Prefeitura de Teresina, Teresina, Agenda 2015.
O Quadro 4 mostra como o Polo de Saúde em Teresina tem um expressivo
número de atividades diretas e indiretas ligadas ao setor de saúde na cidade.
Observa-se o início do desenvolvimento de um clusters de saúde com a formação de
uma cadeia produtiva e de serviços interligados, proporcionando vários benefícios
em termos de redução de custos, melhoria da qualidade, formação de mão de obra
qualificada, atração de capitais e geração de emprego e renda, que segundo a
18
delegacia regional do trabalho no Piauí são gerados 15 mil empregos diretos na
saúde em Teresina.
Figura 2 – Localização das áreas de concentração de estabelecimentos de saúde
Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina (PMT).
A Área 1 (um) localiza-se na zona norte, onde se destacam o Hospital de
Terapia Intensiva, a Clínica e Maternidade Santa Fé, o Hospital das Clínicas de
Teresina, o Sanatório Meduna, o Hospital Areolino de Abreu e o Hospital Sepam
Ltda.
A Área 2 (dois) localiza-se na zona central da cidade, de maior concentração
de estabelecimentos e convergência de pessoas. Nela encontram-se instalados os
Hospitais Getúlio Vargas, Natan Portela, Infantil Lucídio Portela, São Marcos, Santa
Maria e Clínicas São Lucas, Procardíaco, Itacor, Med Imagem, Lucídio Portela, Max
Imagem, Instituto Lívio Parente, Radimagem, Clinefro, Santa Clara, Centro
Ortopédico de Teresina (COT), Dr. Vilar, Centro de Catarata, Santa Luzia, Centro
Piauiense de Oftalmologia (CPO), Santo Antônio e Unidade de Diagnóstico por
Imagem (UDI) e os Centros Comerciais de Saúde Medical Center e Dirceu
Arcoverde.
A Área 3 (três), localizada na zona Sul, abrange os bairros Ilhotas, Piçarra e
entorno, onde estão implantados os Hospitais da Polícia Militar, Maternidade
Evangelina Rosa, Aliança Casamater, Samiu Ltda e a Clínica Prontocor.
A Área 4 (quatro) abrange os bairros São Cristóvão, Fátima e entorno. A
aglutinação de empresas nessa área é recente, portanto ainda está em fase de
19
expansão como aglomeração de estabelecimentos de saúde. Todavia, é onde estão
instalados os hospitais Universitário e São Paulo e o Espaço Saúde do Teresina
Shopping.
O complexo de saúde instalado no conjunto das áreas, desde o início de
2003, era constituído de 633 instituições, representando 64,1% dos
estabelecimentos do Estado, e 3,6% da Região Nordeste.
Em Teresina estão instaladas duas fábricas de medicamentos e materiais
médico-hospitalares, uma de soros; e outra de máscaras, gorros e aventais.
Outro fator que transformou a capital piauiense em um Centro de Referência
em Saúde foi o desenvolvimento dos recursos humanos em todos os níveis:
superior, técnico, auxiliar e administrativo. Em nível superior são oferecidos os
cursos de Medicina, Odontologia, Enfermagem, Nutrição, Serviço Social,
Fisioterapia, Farmácia, Psicologia, Fonoaudiologia, Tecnologia de Radiologia e
Tecnologia de Alimentos. Em nível médio técnico, as opções são de Auxiliar e
Técnico de Enfermagem, Técnico em Radiologia, Técnico de Higiene Dental e
Atendente de Consultório Odontológico.
Pode-se apontar, porém, pontos fracos específicos levantados pela Prefeitura
de Teresina em um estudo para a melhora dos serviços na área que abrange o Polo
de Saúde: a gestão deficiente da disposição do lixo hospitalar e outros aspectos
relacionados às áreas próximas aos hospitais e clínicas do centro da cidade, quais
sejam, limpeza, vigilância sanitária, pavimentação, saneamento, paisagismo, tráfego,
transporte coletivo, estacionamento, locomoção de deficientes físicos, policiamento e
iluminação pública.
Citados tais aspectos, verifica-se que o setor de saúde representa uma
oportunidade para Teresina, podendo transformá-la em um Centro de Excelência, e,
pela implantação de elos faltantes ou incipientes na cadeia produtiva como exposto
no último parágrafo, para um melhor desenvolvimento do cluster de saúde no
município. Por outro lado, a concorrência externa exercida pelas cidades de
Imperatriz, Fortaleza e Recife representam uma ameaça a ser enfrentada.
1.2 Justificativa
Este trabalho também se justifica para demonstrar como o desenvolvimento
da rede hospitalar e dos demais estabelecimentos de serviços de saúde nos últimos
20
sessenta anos, acompanhado pelo crescimento tecnológico de engenharia médico-
hospitalar, dos recursos humanos em todos os níveis e profissões, quer superior,
técnico, auxiliar e administrativo, possibilitou que Teresina se tornasse um Centro de
Referência em Saúde.
Percebe-se que a capital, com uma população de 813 mil habitantes em
2010, tem uma influência médica e de saúde que alcança, aproximadamente, 5
milhões de habitantes em sete estados, oferecendo opções concretas de
investimento e de desenvolvimento (PREFEITURA DE TERESINA, 2012).
Figura 3 – Condição de Submetrópole Regional, Situada em Importante Entroncamento Rodoviário Regional e Nacional
Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina (PMT).
Como Centro de Referência em Saúde, apresenta-se com as seguintes
características: 15 mil empregos diretos; movimentação em torno de R$ 120
milhões/mês; atendimento à aproximadamente 48.924 pacientes de outros estados
(jan./out. 2010); representa 5,5% do PIB de Teresina; 633 empresas distribuídas nos
setores de saúde e turismo, entre elas: clínicas, hospitais, laboratórios, ambulatórios,
pensões, hotéis. Além disso, a rede hospitalar tanto pública como privada conta com
as mais diversas especialidades.
Por essas características, para Teresina se deslocam pessoas vindas de
diversos Estados do Norte e Nordeste em busca de serviços de saúde, chegando a
representar 40% do atendimento médico dos hospitais públicos da capital.
21
Este trabalho se justifica pelo fato de estudos sobre projeto e
desenvolvimento de serviços (intangíveis) serem bem mais recentes do que os
estudos semelhantes relativos a bens (tangíveis), mesmo considerando que o
projeto e a produção de um bem envolvem a prestação de um serviço (por exemplo,
quando se projeta, produz-se e vende-se um carro; a assistência técnica oferecida
pelas concessionárias é um serviço que completa o pacote deste produto) e que o
projeto e consumo de um serviço podem envolver a entrega de um produto (por
exemplo, durante a prestação de um serviço de viagem aérea, a comissão de bordo
serve refeições e bebidas aos clientes). Durante muitos anos a preocupação em se
tratando de projeto e desenvolvimento era com bens tangíveis, sendo que em
relação aos serviços este tema demorou a ser estudado. Bitran Pedrosa (1998, p.
94) complementa esta ideia ao afirmar que apesar de produtos e serviços possuírem
elementos tangíveis e intangíveis, a maioria da literatura sobre o desenvolvimento de
produtos lida, principalmente, com as características tangíveis de ambos. De acordo
com Kelly e Storey (2000, p. 97), a literatura sobre inovação e administração indica
que o desenvolvimento de um novo serviço (intangível) é diferente do
desenvolvimento de um produto (tangível) devido às características de
intangibilidade, heterogeneidade e simultaneidade dos serviços. Essas
características podem indicar que as estratégias de iniciação empregadas pelas
organizações prestadoras de serviços poderiam diferir de alguma forma daquelas
adotadas pelos projetistas de produtos (tangíveis).
Desta forma, as estratégias de iniciação, para fins desta pesquisa, podem ser
definidas como os métodos e abordagens adotadas pelas organizações prestadoras
de serviço para gerar e selecionar ideias para o projeto e desenvolvimento de novos
trabalhos. A pesquisa está particularmente interessada no grau em que essas
estratégias apoiam o processo geral de desenvolvimento dessas novas demandas.
Essa é uma tendência crescente da cidade de Teresina, sobretudo pela
excelente qualidade dos serviços prestados pelos profissionais de saúde. Hoje são
feitas cirurgias cardíacas, transplantes de órgãos a cirurgias neurológicas, entre
outras.
Pelos motivos elencados evidencia-se como este trabalho como melhorar
pontos estratégicos em um cluster de saúde na grande Teresina, almejando se
tornar uma referência local.
22
1.3 Hipótese
É possível viabilizar com sucesso a construção de um polo de saúde regional,
tendo como uma base o empreendedorismo dos agentes envolvidos.
1.4 Questão norteadora
Diante de condições adversas caracterizadas por baixos resultados de
indicadores sociais, como renda per capita e alfabetização, em uma cidade como
Teresina, de que forma as variáveis que norteiam o perfil empreendedor contribuem
para a qualidade da oferta de serviços de saúde?
1.5 Objetivos do trabalho
1.5.1 Objetivo geral
Analisar o papel do empreendedorismo e sua influência na qualidade da
oferta de serviços de saúde no município de Teresina, visando fornecer
subsídios para o aprimoramento do processo de atendimento das
necessidades da sociedade.
1.5.2 Objetivos específicos
Analisar o impacto do perfil do profissional de saúde para a composição
do cluster.
Avaliar os aspectos inerentes à evolução da oferta de serviços de saúde.
Discutir a existência de infraestrutura para o fortalecimento do turismo de
saúde.
Oferecer subsídios para a formação de outros pólos de saúde em
desenvolvimento em lugares estratégicos no Brasil.
1.6 Metodologia
A metodologia aplicada neste trabalho tem caráter exploratório, como
explicitado no Capítulo 4. Configurou-se primeiramente uma pesquisa bibliográfica
23
onde foram abordados temas e assuntos que influenciam direta ou indiretamente
quando o objetivo é identificar e analisar os principais itens influenciadores na
formação do perfil empreendedor e na formação de um cluster de serviços a serem
ofertados a uma determinada população.
Em seguida, foi proposta uma metodologia ideal para a identificação das
características empreendedoras de um cluster.
Posteriormente, aplicou-se esta metodologia na prática em uma pesquisa de
campo nas atividades diretas, em hospitais, consultórios, clínicas e laboratórios; bem
como nas atividades indiretas, como uma escola de medicina, hotéis e pensões da
cidade que hospedam os pacientes em trânsito de outras cidades. Deve-se ressaltar
que foram analisadas diversas situações macro e microeconômicas, bem como suas
variações, identificando-se a situação mais apropriada para o bom funcionamento do
polo de saúde.
1.7 Delimitação do estudo
No decorrer do desenvolvimento da pesquisa buscou-se fontes em obras
nacionais e internacionais e artigos publicados para resultar em objetivos mais
claros. Acredita-se que esta tese contribui para a consolidação do
empreendedorismo identificação de um cluster no Brasil.
Porém, o limite adotado ocorreu em vista de o foco a ser estudado, ou seja, o
empreendedorismo no cluster de saúde; por uma dimensão espacial definida a partir
dos limites do polo de saúde de Teresina, e por uma limitação temporal
compreendendo o período de 1998 até a atualidade, tendo em vista que, a partir
deste ano, se observa o crescimento acentuado do cluster em questão.
1.8 Estrutura do trabalho
Este trabalho foi estruturado com o Capítulo 1 com suas considerações
iniciais, justificativa, hipótese, questão norteadora, objetivos, um resumo da
metodologia e delimitação do estudo.
No Capítulo 2 abordou-se a revisão da literatura, onde foi enfatizado
primeiramente o empreendedorismo e cluster de forma genérica, enfocando
principalmente os conceitos de diversos autores, bem como suas características,
24
vantagens e desvantagens para a atuação em cada mercado existente.
Posteriormente abordou-se a estratégia de negócios, destacando-se os principais
aspectos relevantes e que influenciam direta ou indiretamente para a decisão de um
empreendedor e que devem ser considerados quando da abertura ou
desenvolvimento de um empresa. Enfocou-se em seguida os métodos existentes e
mais utilizados para a formação da decisão estratégica, contando com o aporte dos
principais conceitos de diversos autores, características e benefícios pertinentes a
cada método. Em seguida relatou-se as principais características e o perfil do
empreendedor, o qual foi ponto de partida para atingir o objetivo do trabalho.
No Capítulo 3 foi descrita a definição e as características de turismo por
diversos autores e suas classificações, e por final, a definição de cluster, enfocando
suas características e benefícios para uma determinada região.
Esses dois capítulos elencados por último foram de fundamental importância
para fornecer ao pesquisador o embasamento teórico para melhor poder organizar
sua pesquisa, e posteriormente, a discussão dos resultados obtidos.
O Capítulo 4 refere-se à proposta do trabalho onde destaca-se a metodologia
utilizada para a identificação do perfil empreendedor partindo-se da metodologia de
Lezana (1996). Neste capítulo foi feito primeiramente uma análise de como se
processa a formação do perfil e as características empreendedoras dentro das
organizações. Também analisamos quais as suas principais deficiências e
carências, sendo posteriormente feita a proposta destacando os principais passos
que devem ser observados para que se visualize amplamente esse perfil e suas
características.
Em seguida analisou-se os dados levantados na pesquisa de campo,
realizada em 15 atividades diretas, e quatro atividades indiretas de saúde,
identificando-se e analisando-se seus empreendedores, suas características e seus
posicionamentos sobre a composição de um cluster de saúde na cidade e seus
conceitos sobre a importância do turismo de saúde. Buscou-se, enfim, perceber tudo
o que relaciona-se diretamente com o empreendedorismo, bem como a análise
mercadológica e as estratégias adotadas pelos empreendedores e o governo local
em relação ao assunto em pauta.
As considerações finais estudo permitiram que os objetivos fossem atingidos,
terminando com algumas sugestões que são consideradas importantes para futuros
trabalhos que poderão ser desenvolvidos nesta área que ainda tem muito para ser
25
explorada com o intuito de tornar a cidade de Teresina e seus empreendedores mais
fortes e competitivos no mercado em que atuam.
26
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Empreendedorismo
A palavra empreendedor é de origem francesa e significa aquele que assume
riscos e começa algo novo. Marco Polo pode ser citado como um primeiro exemplo
de empreendedor por buscar estabelecer uma rota comercial para o Oriente, em
uma época onde empreender era assumir o papel ativo de correr riscos físicos e
emocionais. Já na Idade Média, pessoas com essas características não assumiam
grandes riscos, apenas gerenciavam projetos utilizando os recursos disponíveis.
Richard Cantillon, no século XVII, foi considerado um dos criadores do termo
empreendedorismo, diferenciando o empreendedor, daquele que assumia riscos, do
capitalista, aquele que fornecia o capital. No século XVIII, capitalista e
empreendedor finalmente foram diferenciados, e no séculos XIX e XX, as pessoas
que empreendem, que assumem riscos, foram confundidas com gerentes e
administradores, fato este que ainda ocorre nos dias atuais.
Uma das definições mais completas e clássicas sobre empreendedorismo é
de Schumpeter que afirma:
O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais, ou seja, o empreendedor é visionário, tem habilidade para implementar os seus sonhos, tomar a decisão certa na hora certa e implementar suas ações rapidamente. (1949, p. 23).
O empreendedor, pelo exposto acima, é uma pessoa dinâmica e visionária,
que nunca está satisfeita com o que já existe, e tem que buscar sempre melhores
alternativas para futuras ações para si ou para a empresa.
Vivemos numa época em que ser empreendedor é quase uma obrigação, pois
a sociedade moderna exige de cada um, novas ideias planejadas estrategicamente,
sendo a capacidade das pessoas em seus respectivos lugares de implementar
essas ideias de extrema importância para o sucesso de novos empreendimentos.
Como afirma Dornelas, “o empreendedor é aquele que faz as coisas
acontecerem, se antecipa aos fatos e tem uma visão futura da organização” (2007,
p. 27).
27
Podemos afirmar com a citação acima descrita, que os profissionais de
saúde, que têm visão empreendedora, têm mais chances de crescer no mercado de
trabalho, e a sociedade tem dado sinais de que é preciso saber empreender. De
fato, há algum tempo, para os profissionais das ciências de saúde, o que se
vislumbrava era estudar e fazer carreira em uma empresa, uma faculdade ou mesmo
em um hospital. Hoje o quadro é diferente e é necessário refletir sobre as tendências
atuais e o que pode acontecer no futuro tendo uma visão estratégica do negócio,
sabendo interpretar o ambiente para detectar oportunidades.
A formação dos profissionais de saúde é ainda muito voltada aos
conhecimentos acadêmicos e não há, na maioria das faculdades, uma formação
para que esses alunos aprendam a ser empreendedores. Tanto a Fonoaudiologia
quanto a Medicina, assim como outras áreas da saúde, ainda são vistas como
dons/sacerdócios que exigem habilidades como paciência, afetividade e gosto por
crianças, mas nada é dito sobre as habilidades de se compreender o mercado de
trabalho, traçar estratégias de marketing ou se ter um perfil empreendedor.
Fernando Dolabela, em seu livro O segredo de Luísa, fornece uma definição
bem abrangente do que é o empreendedorismo, afirmando que:
Os empreendedores são pessoas diferenciadas, que possuem motivação singular, apaixonadas pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidas e admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado. Uma vez que os empreendedores estão revolucionando o mundo, seu comportamento e o próprio processo empreendedor devem ser estudados e entendidos. (2008).
Como se pode observar pelo exposto acima, o empreendedorismo deve ser
estudado não só como um simples fenômeno de características transitórias, mas
também de características efetivas, pois a economia mundial está cada vez mais em
busca de pessoas dinâmicas, ágeis e com iniciativa, não só para abertura de uma
empresa, mas também para suas tarefas diárias.
Pode-se dizer que o momento atual é definido pela era do
empreendedorismo, pois é ele que está eliminado as barreiras comerciais e
culturais, encurtando distâncias, globalizando e renovando conceitos, criando novas
relações de trabalho e criando formas de como ele é realizado, quebrando
paradigmas e gerando renda para uma sociedade como a teresinense, e
28
contribuindo para uma melhor qualidade de vida. Schumpeter (1934, p. 69), associa
o empreendedor ao desenvolvimento econômico, à inovação e ao aproveitamento
de oportunidades em negócios. Rodrigues afirma que:
Na perspectiva schumpteriana, o empreendedor traz a ideia de liberdade e criatividade, tendo como função primordial reforçar e revolucionar o sistema de produção e distribuição de bens e serviços, explorando um invento ou uma possibilidade técnica não experimentada, revelando uma capacidade para inovar. (1996, p. 81).
Verificou-se que o empreendedor se caracteriza por estar no mercado não
para ser mais um, e sim para ser diferenciado e tentar revolucionar com novos
métodos de trabalho, o que já existe, com isso ganhando tempo e dinheiro com suas
atitudes empreendedoras.
No empreendedorismo, as ideias surgem diariamente, tornando-se necessário
saber desenvolvê-las e implementá-las para criar um negócio de sucesso. Aplicado
à área médica e, de acordo com cada especialidade, surge uma variedade de
oportunidades que poderão ser exploradas desde que esses profissionais procurem
se especializar no assunto ou no ramo de atividade em que a oportunidade está
inserida. Identificar e aproveitar tal oportunidade é a grande virtude do
empreendedor bem sucedido. De acordo com Shuartz:
O conhecimento do ramo que o empresário ou empreendedor pretende atuar é fator primordial para o sucesso do negócio. Se você tem grande experiência no setor, ótimo. Se não tiver é preciso apreender, o que pode ser feito pela leitura de livros e revistas especializadas, em centros de tecnologia, em cursos e mesmo em conversas com outros empresários ou empreendedores. (1949, p. 19).
Como se pode verificar, o sucesso do empreendimento, seja ele qual for,
dependerá primordialmente da experiência anterior de seus gestores, mas isso não
é uma visão futura do fracasso do empreendimento, pois hoje, tem-se vários centros
de aperfeiçoamento como universidades, centros tecnológicos e instituições como o
Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae) que estão
capacitados a fornecer uma formação teórica a um empreendedor que deseja
trabalhar em uma área em que nunca atuou mas, visualizou um nicho de mercado e
como consequência uma oportunidade de sucesso.
29
A seguir tem-se um conceito mais abrangente de empreendedorismo que
envolve todas as variáveis de um negócio que servirá de aporte teórico ao trabalho
sobre a palavra empreendedorismo.
Porto de Ameida; Morioka; Breternitz (2010, p. 4) apresentam um painel sobre
o empreendedorismo ressaltando que um dos primeiros autores a se preocupar
especificamente com esse assunto foi Robert Cole, que definiu o comportamento
empreendedor como atividade voltada a propósitos, composta por um indivíduo ou
um grupo associado de indivíduos comprometidos em iniciar, manter ou expandir
uma unidade de negócio, orientada para o lucro, produção ou para distribuição de
bens e serviços com o atingimento e medida do sucesso, em interação com a
situação interna da unidade e com circunstâncias econômicas, políticas e sociais,
em um ambiente que permita uma apreciável medida de liberdade de decisão
estratégica. O ambiente refere-se a um mercado competitivo, pois segundo Cole, um
ambiente de monopólio não é empreendedorial.
Em uma outra definição, Carlton indica que empreendedorismo “é a busca por
oportunidades descontínuas envolvendo a criação de uma organização (ou sub-
organização) com expectativa de criação de valor a seus participantes através de um
planejamento estratégico inicial” (1998, p. 25).
De fato, é difícil encontrarmos uma única e precisa forma de explicar o que é
empreendedorismo. Ainda citado pelos autores, Anderson define que “embora possa
não haver consenso na sua exata definição, o que não pode ser negado é o poder
econômico do empreendedorismo e sua contribuição ao inspirar indivíduos criativos
na busca de oportunidades e na disposição de assumir riscos” (1994, p. 32).
Como se vê exposto acima, os próprios autores ainda divergem entre si sobre
uma definição exata da palavra empreendedorismo, aonde verificamos que todos
têm um consenso que uma pessoa ou um grupo de pessoas é um empreendedor
quando arrisca-se em um novo negócio em busca de outros horizontes e
oportunidades novas para si e suas organizações, trazendo com isso renda, novas
tecnologias e emprego para uma determinada sociedade.
2.1.1 Perfil e característica dos empreendedores
Devido à imensa variedade de aspectos que envolvem a pessoa do
empreendedor e sua relação com a empresa, pode-se afirmar que não existe um
protótipo de empreendedor ou de personalidade empreendedora.
30
Entretanto, a partir de pesquisas realizadas por diversos autores, como será
citado posteriormente, torna-se evidente que os empreendedores de sucesso
possuem algumas características comuns. Nesta seção, são apresentadas algumas
delas levantadas por estudos desenvolvidos na área.
Os estudos sobre empreendedores têm sido direcionado por três caminhos.
Primeiramente, pela contribuição econômica gerada através da criação de novas
empresas por estes indivíduos; pela identificação de características de
personalidade comuns aos empreendedores; e, por último, pela diferenciação entre
os atributos natos e os desenvolvidos através de treinamentos ou pela experiência
com negócios.
É possível encontrar uma definição de empreendedor a partir da concepção
de diferentes autores. Alguns mais contemporâneos abordam prioritariamente
aspectos comportamentais, e outros, que desenvolveram seus estudos ainda no
início do século passado, enfatizam a questão do lucro.
Segundo Deakins (2006, p. 88), o termo empreendedor teve sua origem na
França e, em uma tradução literal, significa alguém que se sobressai na sociedade,
conforme destacado anteriormente.
Adam Smith (1937, p. 14) definiu o empreendedor como um proprietário
capitalista, um fornecedor de capital e, ao mesmo tempo, um administrador que
interpõe-se entre o trabalhador e o consumidor.
Para Peter Drucker, os empreendedores são indivíduos inovadores. “A
inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles
exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio ou serviço diferente”
(1987, p. 25). Segundo Demac:
o empreendedor tende a ser um indivíduo independente e autônomo. Sente a necessidade de ser seu próprio patrão, porque é difícil submeter-se a modelos e procedimentos rígidos, tem certa aversão a estrutura hierárquica. Experimenta uma grande necessidade de realizar-se, isto é, de afirmar-se, de vencer os obstáculos, de romper o círculo da rotina, de alcançar objetivos com seu próprio esforço. Por este motivo, pode se dedicar por conta própria a resolver um problema. Sem dúvida reconhece a necessidade de buscar ajuda exterior. (1990, p. 10).
Na visão de Amit, os empreendedores podem ser definidos como: “indivíduos
que inovam, identificam e criam oportunidades de negócios, montam e coordenam
novas combinações de recursos (funções de produção), para extrair os melhores
benefícios de suas inovações” (2009, p. 86).
31
Baty (2008) apresenta uma evolução da concepção de empreendedor perante
a sociedade: nos anos 1980, ele ainda era considerado como uma pessoa
desajustada, um lunático atrás de benefícios. Hoje, ele é visto como alguém que fez
uma escolha de carreira, tanto nas universidades, como na sociedade como um
todo.
Como já destacado, podemos verificar com essas novas citações descritas,
que ainda não temos uma definição única da palavra empreendedor. Podemos,
então, perceber a importância de novos trabalhos nesta área afim de enriquecer a
literatura em voga.
Para fins deste estudo, utiliza-se uma concepção de empreendedor ligada à
criação e desenvolvimento de uma empresa. Embora possa haver pessoas
empreendedoras que ocupem cargos em organizações, as características descritas
a seguir dizem respeito àqueles que possuem suas próprias empresas ou trabalham
nelas.
Como já exposto, dificilmente consegue-se afirmar com precisão quais são as
características comuns a todo empreendedor. Neste estudo, parte-se da premissa
de que as características de personalidade que determinam o comportamento dos
indivíduos são habilidades, conhecimentos, necessidades e os valores.
Para um melhor entendimento dessas características, apresenta-se a seguir
uma descrição do que elas representam.
2.1.2 Habilidades
As habilidades correspondem à facilidade para utilizar as capacidades físicas
e intelectuais. São trechos e partes do comportamento adaptativo, que se tornam
integrados em sequências e padrões de realização, executados corretamente e que,
geralmente, apresentam uma padronização temporal sistemática e flexível
(RODRIGUES, 1992).
Segundo o autor, quando se desenvolve uma habilidade, acrescenta-se
alguma coisa nova a novos trechos da estratégia e de partes do comportamento.
Embora uma habilidade seja composta de reações condicionadas, memorizações e
respostas selecionadas, cada uma delas, quando integrada, adquire características
próprias e inconfundíveis.
Katz emrpega o termo habilitação como sinônimo de habilidade e o conceitua
como: “o termo habilitação implica na capacidade que pode ser desenvolvida, e não
32
necessariamente inata, que se manifesta no desempenho e não apenas em
potencial” (1986, p. 122).
O autor nos quer mostrar com essa afirmação que as habilidades podem ser
desenvolvidas em uma pessoa empreendedora através de uma capacitação técnica
direcionada a seus objetivos.
A partir desta conceituação, o autor apresenta três habilitações básicas
direcionadas a um bom desempenho gerencial:
Habilitação técnica: consiste na compreensão e proficiência num
determinado tipo de atividade, especialmente naquela que envolva
métodos, processos e procedimentos ou técnicas;
Habilitação humana: é a facilidade para trabalhar como integrante de um
grupo e de realizar um esforço conjunto com os demais componentes na
equipe; e
Habilitação conceitual: é a forma como se compreende e reage ao sentido
em que os negócios devem desenvolver-se, os objetivos e políticas da
empresa etc.
Embora as três sejam importantes em qualquer nível administrativo, as
aptidões técnica, humana e conceitual do administrador variam em importância
relativa em diferentes níveis de responsabilidade.
Como se pode perceber, as habilidades humanas são necessárias nos três
níveis e as conceituais aumentam conforme se eleva o nível administrativo, ao passo
que as técnicas vão se tornando menos necessárias.
McClelland apresenta uma boa descrição da aplicação da habilidade humana
por parte de gerentes e que pode ser direcionada para o estudo dos
empreendedores, ao afirmar que:
Quase que por definição, um bom gerente é aquele que, entre outras coisas, ajuda seus subordinados a se sentirem fortes e responsáveis, que os gratifica oportunamente por bom desempenho e que zela para que as coisas sejam organizadas de tal forma que os subordinados sintam que sabem o que devem estar fazendo. Acima de tudo, os gerentes devem criar entre os subordinados um sólido espírito de equipe, de orgulho em trabalhar como parte de uma determinada equipe. Se um gerente cria e estimula este espírito, seus subordinados certamente apresentarão um melhor desempenho. (2009, p. 11).
33
Podemos, com a afirmação acima descrita, entender que uma das habilidades
mais importantes é a humana, pois uma das coisas mais difíceis hoje em dia é lidar
com pessoas em um ambiente de trabalho agradável e ordenado, coordenado por
um administrador com habilidade centrada nos objetivos da empresa. Como
consequência teremos uma melhor produtividade na organização.
O desenvolvimento de habilidades depende da capacidade individual de
alguns autores de acreditar que ela é determinada geneticamente. Desta forma, um
indivíduo só desenvolve as habilidades até o limite que sua capacidade possibilita.
Piaget (1996, p. 306), um dos grandes estudiosos da temática, compartilha a
ideia de que cada indivíduo nasce com uma determinada capacidade e só vai
desenvolver as habilidades que seu poder de assimilação permitir. O autor considera
a inteligência como um produto da maturidade biológica do ser humano combinada
com sua interação ao ambiente, e se a criança não atingiu a estrutura de
desenvolvimento mental, não adianta estudar porque não vai aprender.
Outros autores como Reuven, defendem a ideia de que se pode desenvolver
não só as habilidades, mas também a capacidade.
Reuven (apud VITÓRIA, 2012) discípulo de Piaget, discorda da sua teoria, e
desenvolveu um método chamado Programa de Enriquecimento Instrumental, que
parte do princípio de que a inteligência se aprende. Na sua visão, qualquer indivíduo
pode aumentar sua capacidade intelectual (potencial de inteligência) e até crianças
deficientes são capazes de se tornarem normais.
Independentemente da discussão sobre a possibilidade de se desenvolver a
capacidade intelectual, acredita-se que as habilidades podem facilmente se
desenvolver através de diversas formas, como em um programa de capacitação.
2.1.3 Conhecimento
O conhecimento representa aquilo que as pessoas sabem a respeito de si
mesmas e do que as rodeia, sendo profundamente influenciado por seu ambiente
físico e social, por sua estrutura e processos fisiológicos, por suas necessidades e
experiências anteriores (CHIAVENATO, 1994).
Inclui-se neste grupo a experiência, que é o conhecimento estruturado através
da observação e da prática, que constituem um conjunto resultante de processos
organizados de aprendizagem, que ocorrem através do tempo sob determinadas
condições, proporcionando o surgimento de novas estruturas cognitivas e
34
emocionais, que não existiam anteriormente, provocando deste modo, modificações
no comportamento do indivíduo (LEZANA, 2010).
Piaget faz uma distinção entre três formas de conhecimento:
Em primeiro lugar, há uma imensa categoria dos conhecimentos adquiridos graças à experiência física em todas as suas formas, isto é, a experiência dos objetos e de suas relações, mas com abstração a partir dos objetos como tais. Vê-se imediatamente que se trata neste caso, da extensão indefinida das condutas de aprendizagem ou de inteligência prática, porém com todos os tipos de novidades que devem ser explicadas. Em segundo lugar, há a categoria, notavelmente estreita, e mesmo de extensão real muito discutível, dos conhecimentos estruturados por uma programação hereditária, como é talvez o caso de certas estruturas perceptivas (visão das cores, duas ou três dimensões de espaço etc). O caráter restrito dessa segunda categoria levanta imediatamente um grande problema biológico pelo contraste com a riqueza dos instintos dos animais. Em terceiro lugar, há a categoria, pelo menos tão extensa quanto a primeira, dos conhecimentos lógico-matemáticos, que se tornam rapidamente independentes da experiência e que, se no início procedem dela, não parecem tirados dos objetos como tais, mas das coordenações gerais das ações exercidas pelo sujeito sobre os objetos. (1996, p. 306)
Podemos concluir após a citação acima, quanto à aquisição de conhecimento,
que é necessário esclarecer que os seres humanos não aprendem da mesma
maneira. Tanto fatores fisiológicos como sociais direcionam o estilo de
aprendizagem individual.
A partir da conceituação desta característica e das formas existentes de
conhecimento pode-se perceber sua importância no comportamento das pessoas.
Todos os atos são determinados entre outros fatores, pelo conhecimento, e este,
pela sua própria definição é adquirido.
2.1.4 Necessidade
A necessidade representa um déficit ou a manifestação de um desequilíbrio
interno do indivíduo, podendo ser satisfeita, frustrada (permanece no organismo) ou
compensada (transferida para outro objeto). Surge quando se rompe o estado de
equilíbrio do organismo, causando um estado de tensão, insatisfação, desconforto e
desequilíbrio.
Abrahan Maslow (1987) classifica as necessidades humanas em primárias
(fisiológicas e de segurança) e secundárias (sociais, de estima e autorrealização).
35
Essas necessidades costumam ser representadas em uma pirâmide, conforme a
Figura 4.
As necessidades fisiológicas são as necessidades humanas básicas para a
própria subsistência, isto é, alimento, sono, higiene.
As de segurança são essencialmente a necessidade de estar livre de perigos,
em outras palavras, constitui-se na auto-preservação.
A social consiste na necessidade de se pertencer a vários grupos e de ser
aceito por estes.
A de autoestima envolve tanto a auto-estima como a necessidade de
reconhecimento por parte dos outros. A obtenção desses dois itens ao mesmo
tempo produz sentimentos de confiança em si mesmo, de prestígio, de poder e de
controle.
A escala de autorrealização culmina com a necessidade que as pessoas
sentem de maximizar seu próprio potencial, seja ele qual for. É o desejo de tornar-se
aquilo de que se é capaz.
Figura 4 – Pirâmide da Necessidades de Maslow
Fonte: Administração Geral, Chiavenato (2010).
2.1.5 Valores
Os valores são entendidos como um conjunto de crenças, preferências,
aversões, predisposições internas e julgamentos que caracterizam a visão de mundo
de um indivíduo. Constituem-se em um dos aspectos que mais contribuem para o
desenvolvimento das características individuais (EMPINOTTI, 2010).
36
Katz, ao estudar a questão da capacitação de administradores, faz uma
referência em relação aos valores, destacando, que:
Uma parte importante do processo é o autoexame quanto aos seus próprios conceitos e valores, que pode capacitá-lo a desenvolver conceitos mais úteis a seu respeito e acerca dos outros. Com a mudança de atitude, espera-se que também ocorra um aprimoramento no trato com problemas humanos. (2004, p. 82).
Como podemos verificar na citação acima, as pessoas que administram uma
organização, em certos momentos têm que parar e fazer uma autoavaliação de seus
conceitos sobre determinadas situações e avaliar se esses conceitos ainda são
válidos para o momento atual, se não aprimorar esses conceitos para a atualidade
em que vivemos para a própria existência da organização.
Direcionando as quatro características acima descritas para o estudo dos
empreendedores apresenta-se a seguir, no Quadro 5, o resultado de algumas
pesquisas realizadas por diferentes autores. Estes estudos demonstram eles
possuem necessidades, habilidades, valores e conhecimentos comuns
independentemente da situação geográfica, política, social e econômica.
Quadro 5 – Características Dos Empreendedores na Ótica de Diversos Autores
CARACTERÍSTICA ESPECIFICAÇÃO REFERÊNCIA
Necessidades
Aprovação Birley & Westhead
Independência (1992)
Desenvolvimento pessoal
Segurança
Autorrealização
Conhecimento
Aspectos técnicos relacionados com o negócio
Lezana (1995)
Experiência na área comercial
Escolaridade
Experiência em empresas
Formação complementar
Vivência com situações novas
Habilidades
Identificação de novas oportunidades
Ray (1993)
Valoração de oportunidades e pensamento criativo
Comunicação persuasiva
Negociação
Aquisição de informações
Resolução de problemas
Valores
Existenciais
Empinotti (2010)
Estéticos
Intelectuais
Morais
Religiosos
Fonte: Lezana (2010).
37
Em um estudo desenvolvido por Longen (1997), as características dos
empreendedores foram utilizadas como referencial para a realização de uma
pesquisa no Estado de Santa Catarina, com objetivo de verificar a influência das
características dos empreendedores no êxito das empresas.
Foram entrevistados 600 empreendedores dos ramos moveleiro e têxtil, dos
quais 300 não têm mais a empresa e 300 ainda a mantêm em funcionamento.
Longen constatou que algumas das características “são importantes na hora
de abrir uma empresa, porém não são suficientes para obter o êxito do
empreendimento” (1997, p. 103).
Como citado, ter uma única característica forte como valores pessoais não
habilita esse empreendedor a dizer que vai ter o sucesso garantido de seu negócio
por muito tempo. A constante melhoria dos seus pontos fracos e até de seus pontos
fortes vai ajudar a diminuir o grau de insucesso de seu negócio.
As características dos empreendedores da pesquisa acima descrita que se
apresentaram mais significativas foram: independência/autonomia, poder/status,
segurança, inovação, organização, identificação de novas oportunidades,
flexibilidade, criatividade, controle racional dos impulsos, ambição, disposição ao
risco e perseverança.
As necessidades dos empreendedores são descritas a partir dos estudos
desenvolvidos por Birley e Westhead (1992). Segundo estes autores, as
necessidades mais comuns entre os empreendedores são as descritas no Quadro 5,
e serão conceituadas a seguir:
Necessidade de aprovação: envolve aspectos como a possibilidade de se
alcançar uma alta posição na sociedade, ser respeitado por amigos e ser
reconhecido por suas conquistas. Praticamente todas as pessoas
possuem necessidade de aprovação, sendo que em algumas, esta
característica é mais evidente. No caso do empreendedor, o sucesso da
empresa constitui-se em uma forma de satisfação desta necessidade, a
partir da aprovação pela sociedade;
Necessidade de independência: o empreendedor necessita de liberdade
para trabalhar, para controlar o seu tempo e construir sua vida do modo
que lhe convém. Esta necessidade pode evidenciar uma certa dificuldade
na obediência de regras e normas impostas por outras pessoas.
Caracteriza também a questão financeira, sendo que a independência
38
depende do retorno do investimento feito pelo empreendedor. Apesar de
importante em um certo nível, esta necessidade geralmente não é
satisfeita nos primeiros anos de existência da empresa. Ao invés do
empreendedor dedicar algum tempo para obter um retorno financeiro
ideal, ele necessitará de abdicar de algumas despesas pessoais, pois no
início, toda empresa precisa de investimento pessoal e financeiro;
Necessidade de desenvolvimento pessoal: significa uma busca constante
por novos conhecimentos, habilidades e também por modificações
comportamentais. Esta necessidade é facilmente identificável em
indivíduos que estão sempre buscando experiências novas em suas
vidas, seja mudando de emprego ou através de hobbies, viagens, leitura
etc. Em geral, tal necessidade se apresenta em maior grau em pessoas
bem informadas e com amplos conhecimentos gerais;
A evolução da empresa exige modificações do comportamento
desafiando o empreendedor a se aperfeiçoar conforme a etapa de
desenvolvimento que ela se encontra. Cada fase exige diferentes
habilidades e conhecimentos e o empreendedor deve buscá-las com o
intuito de alcançar o sucesso pessoal e organizacional;
Necessidade de segurança: consiste na necessidade de proteger-se de
perigos físicos ou psicológicos, reais ou imaginários (Lezana, 1996).
Relaciona-se com a autopreservação, envolvendo a questão financeira.
Um bom emprego ou, no caso dos empreendedores, o sucesso da própria
empresa, são os principais responsáveis pela satisfação desta
necessidade; e
O poder que a empresa proporciona ao empreendedor pode ser outra
forma de manifestação da necessidade de segurança.
Sobre a necessidade de autorrealização, Corrêa afirma que:
os indivíduos, quando movidos pela necessidade de realização, buscam objetivos que envolvem atividades desafiantes. Preocupam-se em realizar suas atividades da melhor maneira possível, o que nem sempre é determinado pelas prováveis recompensas em prestígio e dinheiro. Assim, pessoas movidas pela necessidade de realização procuram constantemente, aperfeiçoar seus desempenhos e realizações, gostam de resolver situações que signifiquem desafios à sua capacidade, sentindo-se recompensadas intimamente quando obtêm sucesso. (1995, p. 151).
39
Esta característica foi descrita também por David McClelland (1987), que a
identificou em empreendedores bem-sucedidos, na década de 1960.
É importante ressaltar que o empreendedor tem na empresa um instrumento
para satisfazer suas necessidades, e caso não atinja o seu objetivo, obterá seu
próprio fracasso. Como efeito, caso a satisfação das suas necessidades através do
exercício empresarial sejam frustradas, não haverá motivo para que ele busque o
sucesso.
Os conhecimentos e a competência dos empreendedores destacada pelas
variáveis do Quadro 5 foram descritos por Lezana (2010) em estudos desenvolvidos
na área. A seguir, apresenta-se as conceituações dos tipos de conhecimento,
elaboradas a partir da concepção deste autor.
Conhecimentos técnicos relacionados com o negócio – estão
inseridos neste grupo, os conhecimentos sobre produto, qualidade,
controle do processo de fabricação, entre outros;
Experiência na área comercial – envolve informações sobre definição
de novos produtos, publicidade, pesquisa de mercado, distribuição do
produto etc. Com a atual tendência de atendimento direcionado às
necessidades do cliente, os conhecimentos nesta área passam a ser cada
vez mais valorizados; e
Escolaridade – refere-se aos conhecimentos adquiridos no sistema
formal de ensino. Lezana afirma que:
O empreendedor deve possuir um nível mínimo de escolaridade, que lhe possibilite lidar de modo satisfatório com as pessoas. Por outro lado, uma elevada auto-suficiência pode surgir a partir de sua instrução e prejudicar seu trabalho. Isto não significa que conhecimentos demais prejudiquem. É necessário dosá-los e utilizá-los de forma equilibrada. (2010, p. 42).
Além do equilíbrio na quantidade de conhecimentos, é importante observar a
qualificação dos empreendedores que devem possuir uma certa escolaridade para
cada tipo de negócio, ou seja, seu conhecimento deve ser direcionado à área em
que atuam.
40
Experiência em empresas – este item é bastante valorizado,
principalmente no mundo empresarial. Diferentemente dos
conhecimentos, que podem ser transmitidos, eles têm que ser
vivenciados. Cada indivíduo é responsável por sua aquisição nos diversos
aspectos de sua vida. A experiência em empresas que podem influenciar
no sucesso de um empreendedor é a que se pode chamar de uma visão
global, ou seja, o conhecimento do funcionamento de uma organização
como um todo;
Formação complementar – se relaciona com a aquisição de novos
aprendizados ou com a atualização dos que já possui. Não diz respeito
apenas a fatores relacionados com a empresa, mas também com
conhecimentos gerais. Envolve o conhecimento de outras culturas,
esportes, história etc. Dependendo do tipo de negócio, o empreendedor
pode direcionar a escolha da complementação de sua formação; e
Vivência com situações novas – ele a adquire por meio de viagens,
mudanças de cidade, início de um novo emprego etc. Estas experiências
geralmente permitem que o empreendedor enfrente os fatos inesperados
com mais segurança, de modo a facilitar a superação de novos problemas
pela ampla vivência já experenciada.
Como surgem novidades a cada dia na empresa, o empreendedor não pode
se curvar diante das dificuldades.
As habilidades dos empreendedores são as características mais citadas por
estudiosos da área. Entre eles, o estudo de Ray (1993) abarca praticamente todas
as descritas por outros autores, destacado a seguir. Elas envolvem:
Identificação de novas oportunidades – característica facilmente
encontrada entre os empreendedores. Esses têm facilidade para
identificar novas oportunidades de produtos e serviços. Essa habilidade
está relacionada com a capacidade de pensar de forma inovadora e com
a criatividade. A própria definição de empreendedor de Peter Drucker
(1987) já citada enfatiza a inovação como um instrumento específico
deles. Oportunidades como o surgimento de novas tecnologias e novos
negócios devem ser facilmente identificadas pelo empreendedor, pois,
caso contrário, ele corre o risco de ficar desatualizado perante sua
concorrência;
41
Valoração de oportunidades e pensamento criativo – o sucesso de um
empreendedor depende desses dois fatores-chave. Uma avaliação crítica
é essencial na distinção entre uma real oportunidade e uma simples ideia.
O sistema educativo formal geralmente atua de forma contrária ao
desenvolvimento dessas características, o que gera escassez de
iniciativas inovadoras na sociedade. Os indivíduos que fogem à regra,
conseguem se sobressair com seus empreendimentos;
Comunicação persuasiva – a habilidade de persuasão envolve a
comunicação oral, escrita e outras formas. Os empreendedores
desenvolvem essa habilidade porque, em geral, precisam persuadir
muitas pessoas até colocarem em prática seus empreendimentos, o que
implica transformar sua ideia em uma oportunidade de negócio;
Negociação – a facilidade para conduzir uma negociação é adquirida
com a experiência e envolve outras características da personalidade. Ao
conhecer a pessoa com quem se negocia, é possível tirar proveito de
suas características, para obter um bom resultado no processo de
negociação;
Aquisição de informações – a informação é um instrumento
diferenciador no desempenho das empresas. Cabe ao empreendedor a
habilidade de adquirir as informações necessárias à adoção das
modificações exigidas pelo mercado. Entre as informações mais
relevantes, pode-se citar as referentes aos avanços tecnológicos e ao
mercado competitivo; e
Resolução de problemas: para utilizar esta habilidade, o empreendedor
necessita saber fazer a identificação apropriada do problema.
Há várias formas de explicar a resolução de problemas. Uma é apresentada
por Buttner e Gryskiewicz (1993), que definem dois estilos básicos, conhecidos
como adaptadores e inovadores, abordados segundo aspectos facilmente
percebidos. Portanto, toma-se como referência os itens citados no Quadro 6,
conceituados a seguir.
A estratégia é a forma usada para perceber e enfrentar o problema. Trata-se
do modo como as pessoas estabelecem mecanismos para resolver o problema,
42
empregando seu conhecimento e habilidades. Os resultados são os tipos de solução
gerados de acordo com as estratégias adotadas.
As preferências referem-se ao tipo de situações com as quais os indivíduos
estão mais motivados a se envolver. A adaptação se relaciona com a maneira com
que as pessoas se comportam em determinada situação, em relação às normas e
aos procedimentos estabelecidos.
Quadro 6 – Estilos para Resolver Problemas
Fonte: Buttner e Gryskiewicz (1993).
Pode-se verificar pelo exposto que os empreendedores demandam por saber
mesclar a utilização destes dois estilos do quadro. O empreendedor tem que ser
inovador quando se trata de definir novos produtos, novas tecnologias ou novas
formas de organização. Entretanto, muitas vezes, tem que atuar como adaptador,
sobretudo quando se trata de questões que não dependem unicamente dele, como
por exemplo, o trato com fornecedores e clientes, o pagamento de impostos etc.
Características Adaptadores Inovadores
Estratégia
Tornam os problemas como dados e
geram formas para desenvolver soluções
melhores, buscando alta eficiência
imediata.
Redefinem o problema relatando as
restrições previamente definidas,
inventando soluções que lhes
pareçam melhores.
Resultados
Geram boas ideias que são suficientes
para resolver o problema estabelecido,
porém, às vezes erram por usar
inadequadamente os modelos
existentes.
Produzem múltiplas ideias triviais e
que parecem inadequadas para
outros, porém frequentemente
contém enfoques para resolver
problemas anteriormente não
tratados.
Preferências
Preferem situações bem estruturadas e
são melhores para incorporar novos
elementos para a política existente.
Preferem situações não
estruturadas para usar novos dados
na restruturação das políticas e
estão dispostos a enfrentar grandes
riscos.
Adaptação
Melhoram o que está funcionando,
porém, em tempos de mudança, tem
dificuldade para fugir dos papéis
estabelecidos.
Aumentam a flexibilidade em
tempos de mudança, porém têm
dificuldade para trabalhar com
formas organizacionais rotineiras.
Imagem
Visto pelos inovadores como confiáveis,
rotineiros, previsíveis, e restritos pelo
sistema.
Considerados pelos adaptadores
pouco confiáveis, pouco práticos,
arriscados, criadores de discórdias
e agressivos.
43
Apesar de ser necessário que o empreendedor atue tanto de forma inovadora
quanto adaptadora, é mais indicado que seu perfil seja inovador, pois é favorável
uma transformação de inovador para adaptador, que o contrário.
Entre os diversos autores que abordam a questão do empreendedorismo, não
se encontra referência aos valores dos empreendedores citados no Quadro 6. Neste
estudo, se utiliza uma classificação feita por Empinotti (1994), que descreve esta
característica de personalidade direcionada aos padrões sociais vigentes.
Valores existenciais – são todos os aspectos que se referem à vida,
como a saúde, a alimentação, o lazer e o trabalho. Por serem mais
abrangentes, constituem-se em um dos principais referenciais na
construção da visão de mundo das pessoas;
Valores estéticos – são formas de expressão dos sentimentos presentes
na sociedade, como a música, a pintura e a arquitetura. A organização, o
modo de vestir e a limpeza são consequência destes valores;
Valores intelectuais – Lezana afirma que são aqueles ligados à
intelectualidade humana ao apontar que:
Os valores intelectuais do empreendedor ajudarão, entre outras coisas, a imprimir o ritmo da inovação tecnológica da empresa, a definir o papel da criatividade na empresa e a postura em relação a algumas normas da sociedade, como a proteção do meio ambiente. (1996, p. 53);
Valores morais – relacionam-se às normas, princípios e padrões
orientadores do procedimento humano. As relações sociais e a vida em
sociedade são baseadas principalmente neste tipo de valor. O
empreendedor, como qualquer cidadão que se enquadre nos padrões
sociais estabelecidos por estes valores, reconhece que tem uma função
social a cumprir;
Valores religiosos – dizem respeito à religiosidade presente na
sociedade. Exemplos são as manifestações culturais como as procissões,
as romarias e os sacrifícios. Entre os valores descritos por Empinotti, cabe
ressaltar que os religiosos são os que apresentam maior diversidade entre
a população.
44
Em suma, pode-se afirmar que as quatro características determinantes do
comportamento humano e, portanto, dos empreendedores, são: necessidades,
conhecimentos, habilidades e valores. Isso significa que, toda vez que se altera uma
delas (aquisição de conhecimento, surgimento de uma nova necessidade,
desenvolvimento de habilidades ou modificação de valores) se estará modificando o
comportamento.
O próximo tópcio mostrará os primeiros passos para o sucesso de um
negócio, seja de que tipo for, em que a estratégia determina o que um
empreendedor ou uma organização deverá fazer para alcançar os objetivos
propostos.
2.2 Estratégia como padrão de decisão
Segundo Kenneth citado por Mintizberg e Quinn (2008, p. 58-59), a estratégia
empresarial é o padrão de decisões em uma empresa que determina e revela seus
objetivos, propósitos ou metas, e produz as principais políticas e planos para a
obtenção dessas metas além de definir a escala de negócios que a empresa deve
se envolver, o tipo de organização econômica e humana que pretende ser, e a
natureza de contribuição, econômica ou não, que pretende proporcionar a seus
acionistas, funcionários e comunidades.
A estratégia empresarial é um processo organizacional, de várias maneiras
inseparável da estrutura, do comportamento e da cultura da instituição na qual é
realizada. Não obstante, pode-se extrair desse processo dois aspectos importantes
interrelacionados na vida real, mas separáveis para efeito de análise O primeiro
chama-se de formulação e o segundo, de implementação.
As principais subatividades da formulação de uma estratégia, como atividade
lógica de qualquer empreendedor, incluem a identificação de oportunidades e
ameaças no ambiente da empresa, adicionando alguma estimativa ou risco às
alternativas discerníveis. Antes de ser feito um delineamento, os pontos fortes e
fracos devem ser analisados juntamente com os recursos disponíveis da empresa.
A Figura 5 mostra os passos detalhados para sua implantação:
45
Figura 5 – Formulação e Implementação de Estratégias
1. Identificação de 1. Estrutura organizacional,
Oportunidade e risco divisão de mão-de-obra,
Coordenação de
Determinando os recursos Responsabilidade
Materiais, técnicos, financeiros
e Gerenciais da empresa 2. Processos organizacionais
e comportamentos de
Valores pessoais aspirações padrões e medidas
e aspirações da cúpula
3. Liderança superior
Reconhecimento de pessoal estratégico
Responsabilidades organizacional
não-econômicas a sociedade
Fonte: Kenneth apud Mintzberg e Quinn (2008).
A Figura 5 mostra que, primeiro, temos que nos preocupar com a formulação
da estratégia, ou seja, primeiro devemos saber o que realmente queremos,
avaliando todos os riscos, as oportunidades e as ameaças que o mercado poderá
oferecer, bem como pontos fortes e fracos que a organização ou o empreendedor
tem em relação a seus concorrentes e, principalmente, qual a aspiração principal
dos seus dirigentes, para em seguida formular a estratégia que atenda as suas
ambições e partir para sua implantação de forma ordenada e contínua em todos os
níveis da organização.
Ansoff, citando autor desconhecido, afirma que: “estratégia é quando a
munição acaba, mas continua-se atirando para que o inimigo não descubra que a
munição acabou” (1977, p. 87). O autor ainda propõe que a finalidade das
estratégias é estabelecer quais serão os caminhos, os cursos e os programas de
ação que devem ser seguidos para serem alcançados os objetivos e desafios
estabelecidos. Depois dessas definições acima descritas, podemos dizer que o
conceito básico de estratégia está relacionado à ligação da empresa e seu ambiente
e as características e o perfil de seus empreendedores, pois está associada a arte
de empregar adequadamente os recursos físicos, financeiros e, principalmente, os
Formulação
(decidindo o que fazer)
Implementação
(alcançando resultados)
Estratégia
Empresarial
Padrão de
Propósitos e
política
definindo
a organização
e seus
negócios
46
humanos, tendo em vista a minimização dos problemas e a maximização das
oportunidades.
Ansoff (1977, p. 95) ainda afirma que a avaliação do caminho a ser seguido
por uma empresa deve ser feita através do confronto entre pontos fortes, fracos e
neutros, de um lado, e das suas oportunidades e ameaças perante o seu ambiente,
de outro. Dessa avaliação devem resultar a missão, os propósitos e a atitude
estratégica de seu empreendedor, que é o ponto de partida para traçar o caminho
voltado aos futuros objetivos e desafios escolhidos entre as opções estratégicas que
a empresa deve identificar como preferenciais ou mais adequadas em determinado
momento.
Sejam quais forem os objetivos e desafios obedecidos, as empresas
formulam dispositivos para seu alcance. Ansoff (1977, p. 99), citando Katz e Kant,
afirma que os dispositivos podem ser:
Políticos – Procedimentos que orientam a empresa nos seus
relacionamentos internos e com o seu ambiente;
Técnicos-econômicos – Onde são empregados na transformação dos
insumos em produtos ou serviços;
Organizacionais - Baseado na estruturação das atividades internas,
através da estrutura organizacional, bem como na elaboração de normas,
rotinas e procedimentos; e
Tecnológicos – Baseado na evolução tecnológica ambiental, bem como
nas tecnologias mais adequadas para as operações da empresa.
Analisando os tópicos citados acima pelo autor, podemos concluir que o
interrelacionamento desses dispositivos de uma maneira ordenada é uma das
chaves para ajudar o empreendedor ou uma organização nos dias atuais a realizar a
formulação e implementação da estratégia de um negócio, pois, o ambiente atual é
de alta competitividade e tecnologia de ponta, seja no comércio, indústria ou serviço.
A seguir serão abordardos os tipos de estratégias usadas nas empresas atuais.
2.2.1 Tipos de estratégias
Oliveira (1996, p. 98) apresenta o Quadro 7 com os tipos de estratégia e suas
adequaçõeà em relação a situação interna e externa da empresa que, para ele, são
47
as medidas que as empresas devem tomar de acordo com o posicionamento que
queiram assumir diante do mercado.
Quadro 7 – Tipos de Estratégias
Tipo Subtipo Aplicação
Sobrevivência (predominância de ameaças e pontos
fracos)
Redução de custos Usada em períodos de recessão
Desinvestimento Linhas de produtos que se tornam desinteressantes para a empresa
Liquidação do negócio
Aplica-se só em ultima instância
Manutenção (predominância de
pontos fortes e ameaças)
Estabilidade Quando espera encontrar dificuldades e prefere
então tomar atitudes defensivas
Nicho Manutenção de estágio de equilíbrio
Especialização Conquistar ou manter liderança do mercado
através da concentração de esforços numa única ou poucas atividades
Crescimento (predominância de
pontos fracos e oportunidades)
Inovação Procura por produtos inéditos ou milagrosos
antecipando-se a concorrência
Internacionalização Adequado para empresas de maior porte, processo
interessante, porém lento e arriscado
Joint ventures Normalmente associação de duas empresas, uma
com tecnologia e outra com capital
Expansão Processo deve ser bem planejado, evitar expansões que coincidam com de outras
empresas.
Desenvolvimento (predominância de
oportunidades e pontos fortes)
De mercado Quando procura maiores vendas, pode ser
geográfica ou atuação em outros segmentos.
Produtos ou serviços
Variações da qualidade ou de novas características dos produtos
Financeiro Associação de duas empresas: uma forte
financeiramente a outra forte ambientalmente, criando nova empresa
Desenvolvimento (predominância de
oportunidades e pontos fortes)
Capacidades Associação de uma forte em tecnologia com outra
forte em oportunidades ambientais
Estabilidade Associação em que duas empresas procuram tornar sua evolução uniforme, sobretudo no
aspecto mercadológico
Diversificação horizontal
Compra ou associação com empresas similares
Diversificação vertical
Passa a produzir novo produto que está entre seu mercado de matérias-primas e o consumidor final
Diversificação concêntrica
Diversificação de linhas de produtos, com aproveitamento da mesma tecnologia ou força de
vendas
Diversificação conglomerativa
Diversificação de negócios sem aproveitamento da mesma tecnologia ou força de vendas
Diversificação interna
Diversificação gerada basicamente por fatores internos
Diversificação mista Combinação de tipos anteriores
Fonte: Oliveira (1996).
48
O Quadro 7 nos mostra os mais diversos tipos de estratégias que estão à
disposição dos administradores atuais. Podemos observar que os itens citados
acima são apenas um norte que o empreendedor deve tomar para cada situação
que ele se encontrar, pois as mudanças de estratégias de uma organização
dependem exclusivamente de questões inovadoras e vontade de arriscar de seus
gerentes e administradores.
Corroborando com a afirmação do Quadro 7, Bosco comenta:
De início, há alguns mal entendidos por esclarecer. Em primeiro lugar, quando se constrói uma estratégia não se pretende tomar hoje decisões sôbre o futuro, mas tomar hoje decisões tendo em mente o futuro. Veja-se o que o planejamento não representa o domínio mental do futuro. Qualquer tentativa nesse sentido é insensatez. As criaturas humanas não podem prever nem controlar o futuro. A pretensão de assenhorear-se do futuro é infantilidade e nossos esforços nesse sentido só podem desacreditar o nosso trabalho. Pode-se partir logo da conclusão de que a previsão, além dos prazos mais curtos, não merece respeito nem vale a pena. O planejamento a longo prazo é necessário justamente em virtude da nossa incapacidade de prever. Existe, porém, outra razão mais poderosa que faz constatar qual será o mais provável curso dos acontecimentos ou, no máximo, apurar uma série de probabilidades. Todavia, o problema empresarial é o único capaz de modificar as possibilidades, uma vez que o universo da empresa não é composto de matéria, mas de valor. Com efeito, a principal contribuição da empresa, aliás a única que tem como recompensa o lucro, é fazer com que haja uma ocorrência exclusiva, a inovação que altera as probabilidades.(2015,p23)
Em segundo lugar, a estratégia não deve ser confundida com um de seus
planos táticos; estratégia não é só inovação, ou só diversificação ou planejamento
financeiro, mas um conjunto de todos esses itens dirigidos a objetivos em longo
prazo que se pretende atingir. Em terceiro lugar, a estratégia não é um fim em si
mesmo, porém, apenas um meio. Um plano a longo prazo pode ficar obsoleto na
semana seguinte; o processo mental que criou esse plano e o reavalia em cada
ocasião significativa é que não se obsoleta. Em quarto lugar, a estratégia não dá
certeza, mas apenas probabilidade. Quem busca certeza não pode pensar no
amanhã. Só ontem e hoje são certos. Queixava-se um gerente: "eles não entendem
a natureza da estimativa, eles querem respostas". Kenneth E. Bouding, professor de
Economia da Universidade de Michigan, em resposta a uma pesquisa de Stewart T.
para a AMA, diz:
49
Um dos aspectos do planejamento de uma firma que eu considero interessante é a sua relação com todo o futuro da sociedade a longo prazo, a que chamo de a dinâmica da sociedade a longo prazo. Em primeiro lugar, temos as projeções simples, ou seja, se a pessoa está indo para os andares superiores, vai continuar subindo. As projeções lineares são convenientes para indicar o que poderá acontecer se o que é feito agora continuar a ser processado da mesma forma, como por exemplo, se o ritmo das alterações se mantiver. Penso que a dificuldade das predições em Ciências Sociais está no fato de encontrarmos sistemas que estão sujeitos a acentuadas inconstâncias, ao contrário dos sistemas astronômicos que nos permitem predizer com segurança diferenciais muito simples que
esperamos se mantenham inalteradas. (2013,p 34)
2.2.2 A qualidade como estratégia para a competitividade
Segundo Costa Neto e Canuto (2010), hoje se tem plena consciência de que
qualidade e produtividade são dois pilares básicos para a competitividade das
empresas, que pode ser vista como sua capacidade de conservar ou ampliar a fatia
de mercado para seus produtos ou serviços, estando apta a enfrentar com sucesso
a atuação dos seus concorrentes.
O conceito de qualidade pode ser entendido de várias maneiras, tais como
excelência, adequação ao uso, conformidade com as especificações, mas pode
também ser associado ao ato de “fazer as coisas certas” diretamente ligado à ideia
de eficácia. O conceito de produtividade, por usa vez, admite diversas variantes do
quociente resultados/insumos e pode ser associado ao ato de “fazer certo as
coisas”, diretamente ligado à ideia de eficiência, ou bom uso dos recursos
disponíveis. A Figura 6 oferece uma visão de como a qualidade e a produtividade
podem interagir proporcionando a competitividade.
Evidentemente, outros fatores podem ser invocados como elementos para a
competitividade, como disponibilidade, ações de marketing e diversas outras
condições abrigadas sob o conceito de vantagem competitiva, amplamente discutido
por Porter (2005). Nesse contexto, a existência das inovações pode ser de decisiva
importância.
Uma das formas de se aprimorar a qualidade de produto e serviços
amplamente difundida pelas empresas japonesas, que para tanto se valem de um
extenso arsenal de ferramentas e princípios, é a busca por melhorias contínuas,
muitas vezes obtidas com o uso de técnicas simples, ao alcance dos operadores de
processos, e análises online. Segundo Vasconcellos (2015, p. 38), estas melhorias
50
são ditas incrementos. A Figura 3 ilustra a oferta dos melhores conceitos e redução
na flexibilidade de condutor de processos. Em contrapartida, há as melhorias
radicais, em geral obtidas por métodos mais sofisticados, uso intensivo de técnicas
estatísticas poderosas, participação de especialistas e análises offline. Outra forma
de se conseguirem melhorias radicais é mediante o aporte de inovações
tecnológicas.
Figura 6 – Qualidade, Produtividade e Competitividade
Fonte: Costa Neto e Canuto (2010).
51
O efeito dos dois tipos de melhorias citadas pode ser observada na Figura 7.
Figura 7 – Melhorias Continuas e Radicais
Fonte: Costa Neto e Canuto (2010).
Inovar não é simplesmente introduzir algo novo. É preciso também que esse
algo novo gere valor adicional. Assim, uma invenção não implica necessariamente
inovação, somente será se servir para alguma finalidade que crie ou acrescente
valor.
É claro que a questão da geração de valor é relativa, depende de quem a
interprete. Uma novidade pode gerar valor adicional para certas aplicações (para as
quais representará uma inovação) e não para outras. Voltando à Figura 3, esta
conceituação leva à consideração de que deve haver algum tipo de inovação tanto
nas providências que resultaram em melhoria contínua quanto naquelas que
produziram melhoria radical. A diferença é que os efeitos das melhorias incrementais
são mais fortes, mais visíveis, muito provavelmente devido à introdução de
procedimentos diferenciados ou ao aporte de nova tecnologia. (COSTA NETO e
CANUTO, 2010).
52
3 DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO TURISMO E DE UM CLUSTER
O turismo pode ser focalizado como um fenômeno que se refere ao
movimento de pessoas dentro de seu próprio país (turismo doméstico) ou cruzando
as fronteiras nacionais (turismo internacional). Este movimento revela elementos tais
como interações e relacionamentos individuais e grupais, compreensão humana,
sentimentos, percepções, motivações, pressões, satisfação, a noção de prazer etc.
(SALAH e ABDEL, 1991).
De acordo com Castelli (1990), a compreensão do fenômeno turístico atual
deve necessariamente passar por uma análise sobre o significado das viagens no
decorrer da história. Estas, quase sempre, foram movidas por interesses
econômicos, políticos e militares. Viagens com estes mesmos objetivos continuam
hoje a movimentar pessoas de uma região para outra.
No entanto, ao longo da história, paralelamente às viagens realizadas com os
objetivos anteriormente mencionados, registram-se também aquelas movidas por
outros interesses como: curiosidade, saúde, cultura, religião, descanso e finalmente,
viagens verdadeiramente turísticas.
A viagem turística tornou-se, na era moderna, uma realidade econômica,
social, cultural e política incontestável. O aparecimento, no século XX, de inúmeras
organizações de turismo, decorre do surgimento e prática das viagens em grande
escala que são consequência das necessidades geradas pela sociedade industrial.
A viagem é uma ação decorrente de um contexto dentro do qual está inserida
a sociedade em um determinado momento da história. A ela sempre foi um dos
elementos componentes da vida econômica e social e, sobretudo, do mundo dentro
do qual está inserida. Cada tipo de civilização ou sociedade corresponde a uma
maneira de se viajar ou acolher o viajante.
Conforme Salah e Abdel (1991), a anatomia do fenômeno turístico seria
basicamente composta de três elementos, a saber: o homem (elemento humano
como autor do ato de turismo), o espaço (elemento físico, coberto pelo próprio ato) e
o tempo (elemento temporal que é consumido pela própria viagem e pela estada no
local de destino) sendo eles representativos das condições de existência do
fenômeno.
Todavia, outros fatores caracterizantes distinguem turismo do simples ato de
viajar. Tais fatores relacionam-se principalmente aos objetivos: a natureza
temporária do deslocamento, o uso dos serviços e equipamentos turísticos e, o que
53
seria o mais importante dentre eles, a noção de prazer e recreação como
fundamental.
Para Bonald (2004), uma revolução nos conceitos tradicionais de viagens foi
realizada pelo fenômeno do turismo a partir de meados do século XIX quando o
pastor protestante Thomas Cook inaugurou a primeira agência de turismo na
Inglaterra.
Países como Itália, França e Espanha, antigas potências militares e
colonialistas, conseguiram estabilizar suas balanças de pagamento no pós-guerra
graças ao turismo, chegando ao ponto dessa atividade se constituir em verdadeira
indústria, com órgão público próprio, legislação específica, que visa regulamentar os
diversos aspectos sociais, econômicos, comerciais e culturais do turismo, sempre
objetivando melhor rendimento e maior expansão da indústria turística.
3.1 Definição de turismo
A primeira definição da palavra turismo foi dada, possivelmente, pelo
economista austríaco Herman, sendo ela: “a soma das operações, principalmente de
natureza econômica, que estão diretamente relacionadas com a entrada,
permanência e deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um país,
cidade ou região” (1910, p 18). Esta definição focaliza dois princípios:
O turismo se caracteriza por várias operações, principalmente de natureza
econômica; estando relacionado ao movimento de pessoas dentro e fora de um
determinado país.
A Comissão Econômica da Liga das Nações (1937) definiu o turista para fins
de estatísticas internacionais de viagens como: "qualquer pessoa que viaje por um
período de 24 horas ou mais em um país que não seja o de sua residência."
Como descrito acima, podemos fazer uma comparação com o trabalho atual,
pois as pessoas que vêm de outras localidades a tratamento de saúde em Teresina
passam em média mais de 48 horas na cidade, conforme dados da prefeitura local.
Por volta de 1942, p. 32, Hunziker & Kraper completaram definições
anteriores conceituando o turismo como “o complexo de relações e fenômenos
relacionados com a permanência de estrangeiros em uma localidade, pressupondo-
se que estes não exerçam uma atividade principal, permanente, ou temporária
remunerada”.
54
Relacionando novamente com o fluxo de pessoas em Teresina para
tratamento de saúde, esses movimentos migratórios do caso em questão são de
uma determinada abrangência geográfica no mesmo país, gerando com isso divisas
e empregos para a cidade receptora desse fluxo populacional em trânsito.
3.2 Fatores que influenciam as decisões turísticas
Toda pessoa é um turista em potencial, sendo preciso, porém, a ação da
viagem turística para haver o turismo e, para isso, há alguns condicionantes, como:
a vontade (animus) e a possibilidade (BONALD, 1984). A vontade pode ter diferentes
causas, como: a propaganda, o status, o hábito, a conveniência física, moral ou
intelectual, a sedução ou o interesse comercial ou de lucro e a saúde. A segunda
envolve fatores que fogem ao controle do homem, como: tempo vago, dinheiro e
meio de transporte, entre outros.
Como a possibilidade sempre esteve mais ao alcance das classes mais
privilegiadas, costuma-se vincular o conceito de turismo ao luxo. Todavia,
atualmente, com as férias remuneradas, tornou-se mais fácil o turismo social e
popular.
De tal modo, diversas são as razões que levam uma pessoa a ser turista,
como: negócios, religião, saúde, cultura, educação e prazer.
Segundo Arrillaga (1976), as necessidades que o turismo procura satisfazer
podem ser muito variadas, pois as causas subjetivas que determinam as viagens
turísticas são tão diversas como as necessidades que o corpo ou a alma humana
podem ter. As motivações turísticas ou causas subjetivas do turismo podem ser
classificadas em: causas principais e secundárias; diretas e indiretas; próximas e
remotas; individuais e sociais.
Causas Principais e Secundárias – O turista, ao decidir viajar,
geralmente possui mais de uma causa. Porém, existe uma que é principal
ou determinante, sendo que as demais, apesar de importantes, são
secundárias. Por exemplo, uma pessoa que realiza uma peregrinação tem
como causa principal a obtenção de uma graça de ordem espiritual,
porém, também pesa em sua decisão a possibilidade de conhecer lugares
novos, visitar monumentos famosos, descansar, entre outros;
55
Causas Diretas e Causas Indiretas – A realização de determinada
viagem pode ocorrer devido a um convite ou a vontade de conhecer
determinada localidade. Contudo, pode envolver causas indiretas como o
hábito de viajar ou o nível sócioeconômico do viajante;
Causas Próximas e Causas Remotas – Como exemplo de causa
próxima de uma viagem pode-se ter a propaganda de um agente de
viagens e, como causa remota, a recordação de uma viagem anterior; e
Causas Individuais e Causas Sociais – As individuais atuam na decisão
de uma pessoa para viajar e as sociais influem por igual em setores da
população. Como exemplo da primeira pode-se citar a prática de um
esporte e, da segunda, a moda ou afinidades ideológicas.
No caso do fluxo migratório para tratamento de saúde em uma determinada
localidade, depois do exposto, podemos considerar a falta de saúde de uma
determinada pessoa e a procura de pronto restabelecimento como uma causa
individual, verificando que o turismo de saúde é algo que existe e é viável para uma
determinada localidade.
3.3 Classificação do turismo
A seguir será apresentada uma classificação detalhada do Turismo em
relação a fatores interno, externo, receptivo, intermediário e quantitativo.
Quadro 8 – Classificação do Turismo Quanto à Modalidade
Classificação Descrição
Interno Conjunto de atividades especializadas de natureza turística de que
os habitantes de um país usufruem sem deixar o território nacional
Conjunto de atividades turísticas além do território do país de
residência do turista, onde temporariamente são consumidos bens
e serviços
Externo
Receptivo
Turismo interno e externo: dizem respeito ao núcleo emissor de
turistas, porém, quando esteo núcleo emissor é um país
estrangeiro, o país que acolhe o visitante é chamado de receptivo
Intermediário Manifesta-se de forma sistemática e permanente nos logradouros
existentes entre polos emissores e receptores
Quantitativo Trata o turismo em suas dimensões numérica, quantitativa ou
volumétrica
Fonte: Andrade (2005).
56
Em relação à cidade de Teresina e ao seu polo de saúde em questão, pode-
se classificar quanto à sua modalidade de acordo com o quadro acima como um
núcleo regional receptivo de pessoas para tratamento de saúde e, interno, pois o
fluxo populacional temporário é tipicamente regional dentro do próprio país.
Quanto ao tipo, o Quadro 9 expõe de uma forma bem objetiva todos os
tópicos e, para fins deste trabalho utilizaremos a tipologia do turismo de saúde, pois
é o que acontece em alguns polos de saúde como por exemplo, o de Teresina.
Quadro 9 – Classificação do Turismo Quanto ao Tipo
Classificação Descrição
De férias
As férias configuram garantia de um turismo intensivo, devido à
sequência de dias disponíveis ao lazer e ao repouso. Constituem-se
um dos pontos mais altos da lucratividade turística.
Cultural
Abrange as atividades resultantes de deslocamentos para a
satisfação de objetivos com relação a emoções artísticas,
científicas, de formação e de informação nos vários ramos
existentes.
De negócios
É o conjunto de atividades de viagem, hospedagem, alimentação e
lazer praticado por aquele que viaja a negócios, referentes tanto a
atividades comerciais quanto industriais.
Desportivo Referem-se a todas as atividades de viagens com vistas à
participação em eventos desportivos, no país ou no exterior.
De saúde
Também conhecido como turismo terapêutico ou de tratamento,
refere-se ao conjunto de atividades turísticas que as pessoas
exercem para adquirir boa saúde física e psíquica.
Religioso
Conjunto de atividades que envolvem visitas a receptivos que
expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a
caridade aos crentes.
Fonte: Andrade (2005).
57
Quadro 10 – Classificação do Turismo Quanto à Forma
Classificação Descrição
Individual
Também conhecido como turismo particular ou autofinanciado,
refere-se ao conjunto de atividades necessárias ao planejamento e
à execução de viagens, sem o intermédio de agências de viagem
ou entidades turísticas.
Organizado
É o conjunto de atividades turísticas programado, administrado e
executado por agências de turismo, associações, entidades de
classe, clubes ou outra organização envolvendo um grupo de
pessoas.
Social
Tipo de turismo organizado para pessoas de camadas sociais cuja
renda, sem a ajuda de terceiros, não lhes permitiria a programação
de viagens. Em geral, diz respeito a colônias de férias de
associações, entidades de classe, empresas ou albergues que
funcionam com recursos governamentais ou fundos especiais.
Intensivo
Refere-se ao conjunto de programas turísticos em que as pessoas
ficam hospedadas em um único local, mesmo que façam excursões
e passeios a outros locais.
Extensivo
Refere-se à hospedagem e ao conjunto de atividades em um
mesmo núcleo, com a duração de pelo menos três semanas. Essa
modalidade exclui excursões e passeios a outros receptivos.
Itinerante
Envolve uma série de permanências em lugares diversos, ou seja,
compõe-se de visitas ao maior número possível de núcleos
receptivos, em uma única viagem, com estada curta nos locais
visitados.
Fonte: Andrade (1996).
E quanto à forma, podemos classificar as pessoas que migram a Teresina
para tratamento de saúde em individual, pois na maioria das vezes se deslocam à
cidade por conta de seus próprios recursos, pelos ônibus regionais e interestaduais
que cortam a cidade através das várias rodovias que cortam o estado.
No próximo tópico será observada a importância do turismo para a economia
de uma determinada região como geradora de emprego e renda.
3.4 Indústria do turismo
O relacionamento interno existente entre turismo e ciência econômica é
sempre expresso em termos da contribuição turística ao desenvolvimento
econômico. Salah e Abdel afirmam que:
58
O turismo é um fenômeno que acarreta a transferência de capital de um país para outro através do movimento de turistas que vão a um certo "produto" turístico e o consomem. São consumidores em potencial do complexo de bens e serviços que é oferecido com um objetivo específico. O turismo, através dos seus aspectos de consumo e investimento, afeta diversos setores do sistema econômico de um determinado país, e acredita-se que seu efeito multiplicador seja mais alto do que o observado em outros setores da economia tais como a indústria (...).(1991, p.152).
O turismo é produtivo, preciso e determinado com características próprias.
Incorporou-se ao campo do desenvolvimento e do comércio e, dependendo do
estágio de desenvolvimento de um país ou de uma região, pode ser considerado a
primeira força, à frente da indústria e da agricultura.
De acordo com dados da Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR,1991),
o setor turístico nas últimas décadas tem apresentado valor econômico
representativo em termos mundiais, o que ppode ser constatado pelo volume de
transações feitas como consequência do aumento da demanda por viagens e
turismo.
3.5 Conceitos econômicos
Alguns conceitos econômicos que influenciam o estudo do turismo como
indústria são: bem econômico, utilidade, agentes econômicos, produto turístico,
demanda e oferta turística.
Conforme Lage (1991), tudo o que é raro e existe em menor quantidade do
que as necessidades é um bem econômico. Assim, em virtude dessa carência,
necessitam ser produzidos, tomando a forma de bens (materiais) ou de serviços
(materiais).
Produzir, no sentido econômico, significa criar ou aumentar a utilidade dos
bens econômicos. Utilidade é definida por Samuelson apud Lage (1991) como a
qualidade que os bens econômicos têm de satisfazer as necessidades humanas.
Ttambém é considerada como o grau de satisfação que os consumidores atribuem a
bens e serviços.
Como o consumidor não pode obter tudo o que deseja, é obrigado a fazer
escolhas. Portanto, se preferir mais de um determinado bem e serviço, deve aceitar
menor quantidade de outro. No entanto, em qualquer situação, o consumidor age
racionalmente para obter a máxima satisfação de seus gastos.
59
No que tange ao turismo, Lage (1991) aponta alguns grupos que participam e
afetam diretamente a produção e o consumo turístico de qualquer país. São eles:
Os turistas – grupo que procura experiências psíquicas e físicas na
expectativa de maximizar a utilidade (satisfação) de suas viagens;
As empresas turísticas – grupo que tem no turismo a oportunidade de
aumentar seus lucros, mediante a oferta de vários tipos de bens e
serviços demandados pelo mercado turístico;
O governo – grupo que assume o turismo como fator econômico.
Relaciona-se com as entradas de receita que os cidadãos obtêm dessa
indústria, com as divisas geradas pelo turismo internacional e com o
aumento de arrecadação de impostos devido aos gastos turísticos na
localidade; e
A comunidade anfitriã – grupo representado pelos nativos da região
turística que veem o turismo como um fator cultural.
Cabe ressaltar que os objetivos e os esforços combinados desses quatro
grupos de agentes influenciam a determinação das atividades turísticas.
Em função das várias necessidades dos consumidores e das alternativas de
produção das empresas, Lage (1991) destaca um tipo específico de bem e serviço
econômico que tem como qualidade a satisfação de algumas das necessidades de
lazer do consumidor. Esses são os bens e serviços turísticos, também chamados
produtos turísticos, que podem ser definidos como um composto, sendo formado
pelos seguintes componentes: transporte, alimentação, acomodação,
entretenimento. Como qualquer outro bem ou serviço, encontram-se de forma
limitada na natureza, sendo considerados uma riqueza social.
3.6 Implicações econômicas e sociais do turismo
Conforme Baptista (1990), as vantagens do turismo para um país ou um
estado receptor, são:
Aumento de receitas, em divisas, advindas da venda de serviços e bens;
Criação de novas fontes de receitas em vários setores econômicos;
Investimentos baixos, se comparados ao fluxo de rendimentos que geram;
e
Integração entre povos de regiões, línguas, hábitos e gostos diferentes.
60
Pode-se verificar com a citação acima que o turismo não propicia apenas
divisas financeiras para uma região ou país, mas a integração entre os povos e a
troca de informações tanto na área econômica quanto em uma das mais importantes
áreas de uma sociedade moderna, o intercâmbio cultural no mundo civilizado atual.
Os impactos econômicos gerados por uma atividade turística podem ser
classificados, segundo Gunn (apud LAGE, 1991, p. 153), em:
Impactos diretos – o total de renda criada nos setores turísticos como
resultante direta da variação dos gastos com esses produtos;
Impactos indiretos – o total de renda criada pelos gastos dos setores do
turismo em bens e serviços ofertados na economia; e
Impactos induzidos – como resultado dos impactos diretos e indiretos do
turismo, os níveis de renda aumentam em toda a economia, sendo que,
parte dessa renda adicional será gasta em bens e serviços produzidos
internamente; representam o chamado impacto induzido.
Como consequência desses impactos referentes ao turismo de saúde na
capital piauiense, pode-se explicitar, de uma forma objetiva, como um conjunto
integrado desses impactos na economia local, a criação de 15 mil empregos diretos
e um investimento médio anual da ordem de R$ 80 milhões dos setores ligados
diretos e indiretos à área em questão.
A indústria turística tem como impacto positivo sobre a economia de uma
localidade, segundo Andrade (1996):
Aumento da renda do lugar visitado pela entrada de divisas;
Estímulo dos investimentos e geração de novos empregos; e
Redistribuição de riqueza entre as localidades de origem e destino.
Como impactos negativos do exposto acima, tem-se:
Pressão inflacionária, sendo prejudicial às populações das regiões
turísticas, porque a alta dos preços no geral atinge também bens e
serviços de primeira necessidade;
Grande dependência com relação ao turismo, tornando a economia da
região vulnerável às flutuações sazonais da demanda de produtos
turísticos; e
Os custos sociais e ambientais às regiões turísticas e aos residentes.
61
Com essas definições e características do turismo, a importância e a
complexidade do setor de turismo em um determinado país ou região não propicia
só divisas de capital, mas também prosperidade a uma determinada comunidade no
que tange à qualificação profissional, melhor qualidade de vida e melhor
desempenho dos serviços oferecidos a sua população.
3.7 Desenvolvimento sustentável e intervenção pública
Segundo Beni (2012), o conceito de desenvolvimento tem mudado através do
tempo. Primeiro, falou-se apenas de desenvolvimento econômico, privilegiando-se
os indicadores de crescimento como medida desse desenvolvimento, entre os quais
a acumulação de capital e a poupança, quantidade e tipo de investimento industrial
ou em cadeias produtivas e variações do Produto Interno Bruto (PIB).
Posteriormente, falou-se de desenvolvimento econômico e social, assinalando-se
que o desenvolvimento requer mudanças quantitativas e qualitativas, ou seja,
crescimento com justa distribuição dos frutos desse crescimento, seja de uma
comunidade, área geográfica ou país. Neste caso, além dos indicadores anteriores,
são privilegiados a distribuição de renda, o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH), a taxa de analfabetismo, a taxa de mortalidade infantil e, ultimamente, o grau
de organização e de participação da sociedade civil e o denominado capital social,
entre outros.
Contudo, observou-se que o desenvolvimento das economias de mercado
acarretou uma série de externalidades negativas, como a deterioração do meio
ambiente, expressa em poluição de terras, mar, águas fluentes e subterrâneas, além
de desmatamento, erosão, perda da biodiversidade e aumento do número de
pessoas com problemas de saúde, devido à contaminação do meio ambiente, entre
outros fatores.
Na Conferência das Nações Unidas em Estocolmo, 1972, incorporou-se aos
temas de trabalho a relação entre desenvolvimento econômico e degradação
ambiental, e salientou-se o conceito de desenvolvimento sustentável, que implica
desenvolvimento que não só satisfaça as necessidades do presente, mas que não
coloque em perigo a capacidade das gerações futuras de atender as suas próprias
necessidades. Hoje, muitas são as pessoas e instituições que acham que o
desenvolvimento não é possível sem o respeito aos recursos naturais do meio, ou
seja, os aspectos econômicos, sociais e ambientais devem ser tratados de forma
62
conjunta na formulação seja de políticas, de planos, de programas ou de projetos.
Qualquer desequilíbrio ou ênfase em alguma dessas variáveis, sem levar em conta
as outras, afetará a eficiência e a eficácia das intervenções e, seguramente, a
qualidade de vida da população. Isso implica que as instituições governamentais
devem redefinir suas políticas e liderar as mudanças ou transformações da
comunidade para uma sociedade sustentável.
As instituições públicas intervêm na realidade social em razão, em grande
parte, do caráter desigual do desenvolvimento resultante de um sistema de mercado.
Assim, o setor público deve intervir para corrigir as desigualdades existentes,
sobretudo dos grupos mais vulneráveis e/ou mais carentes da sociedade, além de
solucionar problemas básicos no campo da infraestrutura, do meio ambiente, da
educação, da saúde e da segurança, entre outros.
Mário Carlos Beni cita ainda em seu livro em 2012 que o objetivo de uma
intervenção pública é mudar a qualidade de vida da população beneficiária, desde
uma situação ou estado inicial (situação-problema) a uma situação desejada
(situação melhorada). O processo de planejamento permite orientar, racionalizar e
acelerar esse processo de mudança social, que é complexo, porque, além de
realizar ações voltadas à solução de problemas, também precisa mudar estruturas e
modos de atuar.
Assim, uma intervenção pressupõe uma ação ou prática transformadora, e
não mantenedora da situação da realidade social. Uma intervenção pública será
ineficaz se não mudar a situação-problema que a gerou, o modo tradicional de agir
da população-alvo. Inclusive, deve permitir a sustentabilidade ou continuidade dos
resultados do processo realizado, quando o setor público se retirar.
A participação organizada da população-alvo em todas as etapas do processo
de planejamento é a forma ideal para que a intervenção tenha maior probabilidade
de sustentabilidade e sucesso. Nesse sentido, a intervenção pública deve ser uma
intervenção social participativa, ou seja, com a participação organizada das
comunidades beneficiárias e outros atores sociais pertinentes. Logo, entre outros, a
organização da comunidade é um requisito para a participação e a sustentabilidade
do processo.
A intervenção pública, por definição, é uma ação planejada, que envolve
desde a identificação do problema até a avaliação dessa intervenção, seja por meio
de um plano, programa ou projeto e, conforme assinalado, cujo propósito final é a
transformação ou mudança da qualidade de vida dos beneficiários, objeto da
63
intervenção. Na situação inicial, ou situação de partida, é onde se pesquisa e se
identifica a situação-problema da comunidade. Tal pesquisa é conhecida como
diagnóstico da situação inicial ou linha de base (denominada também marco zero), o
que implica analisar a situação anterior e a presente da comunidade, a fim de
identificar o perfil do problema e suas causas, quantificar variáveis relevantes de tipo
econômico, produtivo, tecnológico, social, ambiental ou organizacional relativas aos
beneficiários e seu entorno. A quantificação dessas variáveis permite,
posteriormente, comparar a situação de partida dos beneficiários com os avanços da
intervenção. Esta seria uma das formas mais simples e básicas de avaliar o plano,
programa ou projeto. Conhecida a situação-problema, define-se a situação desejada
ou ponto de chegada, estabelecendo-se objetivos e metas, ou seja, o estado ou
situação que se espera alcançar ao término do plano, programa ou projeto. Essa
"situação de chegada" se denomina, também, imagem-objetivo da intervenção.
3.8 Definição de cluster
Cluster é uma palavra de origem inglesa, sem tradução precisa em português.
Os sistemas produtivos locais têm um importante papel no crescimento econômico e
no desenvolvimento de um país. Entre vários tipos de sistemas locais de produção,
os cluster são uma forma de concentração geográfica e setorial geralmente de
pequenas e médias empresas que mantêm um relacionamento sistêmico entre si
que possibilitam que sejam mais competitivas. Os cluster podem ser tanto de
empresas que fabricam ou comercializam produtos tradicionais de baixo nível
tecnológico como daquelas de base tecnológica, como as empresas de
eletroeletrônicos e até mesmo as ligadas ao setor de saúde, pois, atualmente,
demandam equipamentos de tecnologia avançada para uma base sustentável de
permanência no mercado.
Alguns autores consideram a definição de cluster segundo uma concepção
mais ampla, contando apenas a aglomeração geográfica e setorial das empresas
sem que ocorram especialização e cooperação por definição (ALTENBURG e
MEYER-STAMER, 1999).
Do ponto de vista conceitual, em uma definição genérica, um cluster é um
grupo de coisas ou de atividades semelhantes que se desenvolvem conjuntamente.
Assim sendo, o conceito sugere a ideia de junção, união, agregação, integração.
64
Para Santos:
A literatura econômica vem destacando a importância de uma nova forma de organização da produção, os chamados clusters, reconhece-se com este conceito a relevância da proximidade física entre empresas na geração de externalidades ou economia de aglomeração, na resolução de problemas comuns através de interação cooperativas e em última instância, na criação da eficiência coletiva. (2001, p. 30).
Segundo o autor, cluster é um conceito puramente espacial, uma
concentração de empresas no espaço, ao passo que rede descreve relações de
cooperação formais ou informais entre empresas.
Os aglomerados ou arranjos produtivos locais são definidos, segundo Brito
(2000, p. 85), como concentrações geográficas de atividades econômicas similares
e/ou fortemente interrelacionadas ou interdependentes.
Um cluster pode ser comparado a uma colmeia por ser sugestivo de
cooperação, colaboração, especialização, divisão do trabalho ou o conjunto de
equipamentos de lazer de um condomínio de edifício, como a piscina, a
churrasqueira, a quadra poliesportiva, o playground, o que sugere integração,
entrelaçamento, afinidades etc. Na atividade econômica, pode ser considerado a
reunião de pequenas ou médias empresas, por vezes até mesmo as de maior porte,
situadas em um mesmo local e que apresentam grandes níveis de entrosamento
entre si e constituem a oferta atualizada de um modelo de desenvolvimento local.
O mais importante para a caracterização do que se denomina cluster é a
relação entre as empresas, entre elas e o governo, a universidade e outras
instituições relacionadas. São essas possibilidades de estratégias conjuntas que
podem aumentar consideravelmente a produtividade das empresas em um cluster,
por gerar o que se chama de eficiência coletiva.
O conceito de eficiência coletiva, desenvolvido inicialmente por Schmitz
(1997) é muito esclarecedor para distinguir os diversos tipos de arranjos: a eficiência
coletiva é a vantagem competitiva que vem da soma das externalidades e da ação
conjunta. Se as externalidades ou economias externas surgem como um subproduto
não intencional da concentração, a ação conjunta é a organização intencional entre
as empresas, seja entre as individuais, como a de grupos organizados em
associações, consórcios produtivos etc. A ação conjunta pode promover um grande
diferencial de competitividade entre os clusters e as empresas que estão fora dele.
65
Porter no artigo Location, Competition, and Economic Development: Local
Clusters in a Global Economy Development Quarterly, relata que:
A geografia econômica durante uma era de concorrência global envolve um paradoxo. É amplamente reconhecido que as mudanças na tecnologia e da concorrência têm diminuído muitos dos papéis tradicionais de localização. No entanto, clusters ou concentrações geográficas de empresas interligadas, são uma característica marcante de praticamente todas nacional, regional, estadual e até mesmo economia metropolitana, especialmente nas nações mais avançadas. A prevalência de clusters revela insights importantes sobre a microeconomia da concorrência e o papel da localização em vantagem competitiva. Mesmo como razões de idade para o agrupamento ter diminuído em importância com a globalização, novas influências de aglomerados de concorrência têm assumido importância crescente em uma baseada no conhecimento e economia cada vez mais complexo e dinâmico. Clusters representam uma nova maneira de pensar sobre as economias nacionais, estaduais e locais, e eles necessitam de novos papéis para empresas, governo e outras instituições no aumento da competitividade. (2000, p. 15-34).ok
Os principais elementos inerentes ao conceito de cluster segundo Meyer e
Stamer (1999) são:
Aglomeração – ideia de conjunto inter-relacionado e espacialmente
concentrado, ensejando a troca de sinergia e a prática de cooperação e
de alianças estratégicas, inclusive para neutralizar limitações relacionadas
a economias de escala, como processos tecnológicos, aquisições de
insumos, assistência técnica, tratamento pós-colheita, comercialização
etc.;
Afinidade – empresas voltadas para o mesmo ramo de negócio (atividade
principal do cluster), embora cada uma ou um conjunto delas se
especialize em tarefas específicas (fornecimento de insumos e serviços,
produção, comercialização, pesquisa, desenvolvimento de novos
mercados etc.), como exemplifica o próprio Polo de Saúde de Teresina,
onde tem-se organizações que tratam da fabricação de medicamentos e
hospitais que fazem internações para operações da alta complexidade,
como transplante de fígado e rins, todos voltados para o mesmo ramo de
atividade que é a prestação do serviço de saúde a uma determinada
sociedade;
66
Articulação – relacionamento próximo, intensivo e permanente entre as
empresas, propiciando, por um lado, a troca de sinergia e a prática da
colaboração e, por outro, estimulando a rivalidade e a competição;
Ambiente de negócios positivo – relações comerciais apoiadas na
confiança recíproca, condição favorável à formação de parcerias e de
alianças estratégicas, por meio das quais as partes envolvidas, mesmo os
concorrentes, unem-se para enfrentar problemas comuns de logística,
assistência técnica, comercialização, suprimento de matérias-primas e
insumos etc., e organizam-se para negociar, com o governo e com
instituições públicas e privadas, ações consideradas importantes para o
fortalecimento e a consolidação do cluster; e
Apoio Institucional – rede de instituições públicas, privadas e até ONG,
que atuam em torno do cluster como estimuladoras e catalisadoras da
integração e da colaboração dos atores (governo em todos os níveis e
iniciativa privada), inclusive mediando eventuais conflitos de interesses
entre as instituições, tendo em vista a sustentabilidade do processo.
Apesar da vulnerabilidade que pode representar para uma economia regional,
por concentrar a produção em alguns produtos e serviços, são muitas as vantagens
potenciais dos clusters, motivo que os torna tão atrativos como objeto de efetivação
uma política pública, tornando-os alvos de atenção de governos de vários países e
organizações mundiais, principalmente a partir das últimas três décadas.
Entretanto, reforçando o que foi dito anteriormente, deve-se sempre levar em
consideração que o sucesso dos clusters depende, em grande parte, da cultura
empresarial local e da capacidade dos empresários de trabalharem em conjunto.
Quanto a esse aspecto, Altenburg (1998) destaca que os fatores qualitativos podem
aumentar consideravelmente o desempenho dos clusters e que a falta de espírito
empreendedor de parcerias e de confiança são geralmente os maiores obstáculos
para o seu desenvolvimento.
Marshall (1925), no seu livro Princípios de economia, identificou três fontes de
economias externas que seriam a consequência do crescimento industrial como um
todo, não sendo obrigatoriamente relacionadas ao tamanho de empresa advindas da
concentração geográfica das organizações, que são:
67
a) A localização de empresas em um mesmo local possibilita uma maior
concentração de mão de obra especializada, o que beneficia tanto os
empresários como os trabalhadores que migram para esta região,
atraídos pela quantidade de firmas;
b) O desenvolvimento de um mercado fornecedor, devido a uma maior
demanda para estas empresas de insumos e serviços especializados,
possibilita a oferta de maiores quantidades e variedades a menores
custos; e
c) A criação de condições para o desenvolvimento tecnológico também pode
ser um dos resultados benéficos da concentração geográfica e setorial
das empresas devido ao fato das informações e das invenções fluírem
mais facilmente em uma velocidade maior que em grandes distâncias,
proporcionando saltos tecnológicos.
Desse modo, as vantagens da concentração geográfica podem ser explicadas
a partir das medias de diferentes fatores de acordo com o tipo característico da
indústria ou do serviço que está ofertado. Entre eles estão a proximidade do
mercado consumidor, a facilidade de acesso a matéria-prima, o desenvolvimento do
sistema de transporte e, em alguns tipos de indústria ou serviço e a existência do
aparato científico das universidades entre outros.
Do ponto de vista operacional, o cluster é a nova forma que o esforço pelo
desenvolvimento econômico e social vem assumindo no mundo inteiro, tanto nos
países industrializados, como naqueles países em fase de industrialização. Muitos
países e regiões estão promovendo o desenvolvimento de clusters em resposta à
economia globalizada em mutação. Bons resultados têm sido obtidos em um grande
número de países, incluindo Escócia, México, Marrocos, Irlanda, Peru, El Salvador,
Malásia, Nova Zelândia e vários estados dos Estados Unidos, que iniciram projetos
de desenvolvimento local liderados pela iniciativa privada, sendo a experiência
Italiana a mais antiga e bem-sucedida de todas.
Uma iniciativa de cluster deve incluir todos os jogadores e parceiros que
contribuem para a plataforma competitiva de determinada atividade econômica. Em
geral, os participantes são oriundos de pequenas, médias e grandes empresas,
associações de classe (indústria, trabalhadores, serviços), governo e instituições de
68
apoio envolvidos em todas as etapas da cadeia produtiva da indústria, desde a da
matéria-prima até a do consumidor final.
Os papéis apropriados do governo, segundo Altenburg (1998) são:
Apoiar as iniciativas de identificação das manifestações espontâneas
embrionárias de clusters;
Estabelecer um ambiente econômico e político estável e previsível;
Aumentar a disponibilidade, a qualidade e a eficiência de inputs de caráter
geral e das instituições;
Criar um contexto que incentive inovações e avanços;
Reforçar a formação de cluster e sua constante melhoria e avanços na
economia; e
Criar e comunicar uma visão econômica nacional, positiva, distinta e
atuante que possibilite mobilizar os cidadãos para a ação.
De acordo com o exposto, pode-se inferir que nenhuma empresa é
competitiva isoladamente. O que acontece em unidade produtiva é importante, mas
está comprovado que o ambiente empresarial no qual a empresa está inserida
também desempenha papel vital para a competitividade. Um excelente hotel, bem
estruturado e com bons serviços, terá grande dificuldade de viabilizar-se, se a cidade
onde se situa padecer de problemas de segurança, se os serviços locais de
aeroporto, táxi e restaurantes funcionarem precariamente, se os serviços de apoio à
promoção de eventos forem deficientes, as atrações turísticas da cidade forem
poucas ou o artesanato regional for deficitário. Em contrapartida, o bom
desempenho de um membro ou de um segmento de um cluster pode aumentar o
sucesso dos demais.
Após esse último item que foi a conceituação de cluster e suas implicações
em uma determinada região e sociedade, abordamos todos os temas relevantes ao
trabalho em curso como consequência do espírito empreendedor de seus dirigentes.
A seguir serão apresentados dois artigos internacionais que corroboram a
tese sobre a importância de um determinado cluster para a economia e o
desenvolvimento regional de uma localidade.
Cooke (2001) apresetna em seu artigo um relato sistemático da ideia e do
conteúdo de sistemas regionais de inovação com as seguintes descobertas feitas
por cientistas regionais, geógrafos, economistas e analistas de inovação. Ele
69
considera as condições e os critérios para o reconhecimento empírico e julgar se
cientificamente determinados casos concretos da atividade de inovação garantem a
designação de sistema de inovação regional.
O artigo conclui que a fonte de déficit de inovação da Europa e dos Estados
Unidos repousa sobre o excesso de dependência da intervenção pública, o que
significa maior falha de mercado. O futuro exigirá evolução generalizada de inovação
pública, sistemas de apoio, com o apoio institucional e organizacional mais forte do
setor privado, concluindo com isso a organização das empresas em forma de
clusters ou APLS para maior potencialidade de inovação tecnológica.
Segundo Gordon, McCann:
O conceito de clusters industriais tem atraído muita atenção durante a última década, tanto como descritivo de um fenômeno cada vez mais importante e como base para a intervenção pública eficaz nas economias de atraso de cidades-regiões. No entanto, há muita ambiguidade na maneira em que este conceito é utilizado, apresentando um obstáculo tanto para testes empíricos e avaliações realistas de relevância política. Neste trabalho, é possível distinguir três modelos ideal-típicos de processos que podem fundamentar concentrações espaciais de atividades relacionadas, com implicações muito diferentes tanto em termos de elementos de prova relevantes e as possibilidades de políticas promocionais. Os dados da pesquisa para a conurbação de Londres são usados para explorar a relação entre concentração e diferentes formas de ligação, com resultados que apontam para o domínio dos efeitos de aglomeração puros neste contexto, pelo menos. (2015, p 76).
Pelo exposto, este artigo relaciona muito bem o APL de Londres com o APL da
cidade de Teresina em função da importância da gestão pública na construção de
um cluster e sua relevância econômica e política que os referidos APS têm para sua
região.
3.9 Diferenciação entre clusters e APLS
As primeiras noções sobre concentração territorial de empresas surgiram
embrionariamente nos estudos do economista clássico Alfred Marshall, que, em
1925, publicou o livro Principles of Economics relatando a existência de pequenas
empresas que formaram um conglomerado territorial em âmbito local na Inglaterra.
Através de um sistema de complementaridade de operações, esse sistema de
produção criou também um ambiente propício para o desenvolvimento de novos
70
negócios e ampliação da atuação do conglomerado (HOFFMANN e MORALES,
2006).
A noção de cluster apresentada no tópico anterior surge como uma forma
proveitosa de se analisar a questão do desenvolvimento turístico, visto que cria
potencial para identificação de áreas em que a ação governamental pode melhorar,
gerar e aumentar a competitividade e o valor econômico das atividades em
determinada região onde ambiente regional para é propício aos negócios. Tal como
aplicado às atividades industriais, o cluster turístico existe como uma maneira de
agrupamento de agentes econômicos, políticos e sociais relacionados ao turismo,
baseados num mesmo território com foco num conjunto específico de atividades
turísticas, que se reúnem para interagir, cooperar, aprender, trocar e obter input,
garantir e conquistar mercados e promover capacidade inovadora, competitividade e
desenvolvimento local.
Segundo Toledo (2012), o alcance da competitividade dos agentes é
proporcional ao vetor resultante das estratégias competitivas, estratégias
cooperativas e de relacionamento com os turistas. De acordo com o autor, a ideia de
polo turístico leva ao conceito errôneo de relacionar a competitividade turística
somente com as características geográficas, com os recursos naturais e turísticos de
uma determinada região. O êxito dos clusters em outros setores da economia vem
suplantando o conceito de polo no setor turístico como uma forma de melhor
aproveitar o potencial dessa atividade econômica.
Ainda de acordo com Toledo a estratégia de relacionamento com o turista não
existe, individual para alguns agentes.Ela é integrada para o cluster. Planejada para
cada agente e sociedade local. Relação dos setores público, privado e não
governamental, poucos agentes o realizam. É obrigatório para o cluster e para
alguns agentes. Imagem De cada agente. Do cluster em conjunto. Regional e
mundial. Ciclo da atividade turística Fragmentada Produtos integrados e
diversificados Definição das políticas de ação e marco legal Não há Indispensável.
Empresas e governos aliados nos objetivos. Educação, Capacitação e Cultura
Alguns individualmente. Em conjunto e individual. Execução e Promoção Individual
Em conjunto e individual Etiquetas Ecológicas Indiferente Incentivo no âmbito dos
clusters e de empresas. TOLEDO, 2012
De acordo com Beni, o turista tema um comportamento como consumidor
diferente do passado: “o consumidor de hoje não será o cliente de ontem. Ele
71
buscará a qualidade mais que a forma” ((2011, p. 215). Ainda, tendo como referência
esse autor, tem-se que a demanda em turismo é um conjunto de bens e serviços e
não demanda de simples elementos ou de serviços específicos isoladamente
considerados. Em resumo, são demandados bens e serviços que se complementam
entre si. A partir dessas mudanças, comprova-se que o consumidor turístico percebe
como melhor destino aquele que lhe proporciona uma oferta integrada de produtos e
serviços. Essa noção vai de encontro ao conceito de cluster anteriormente
analisado. Cabe ressaltar que deve existir uma boa administração das relações do
cluster com a sociedade e com o ambiente, lembrando que isso é uma questão de
extrema relevância se considerarmos os aspectos da exploração do setor turístico.
Magalhães (2002) destaca que se deve estruturar uma base de convergência dos
interesses públicos e privados com o critério de sustentabilidade no plano
estratégico do destino turístico no intuito de conservar o meio físico, as formas de
organização das comunidades receptoras, seus usos, costumes e tradições que
agregam valor ao espaço regional, bem como a sua participação nas fases de
planejamento. E ainda, o sistema de turismo deve ser configurado a partir do
relacionamento com o cliente (turista) que é o centro de funcionamento do cluster. E,
para poder atingir a fidelização do cliente, sua gestão deve ser competitiva,
cooperativa e proativa, exercida por todos seus integrantes (BENI, 2011).
A partir da década de 1970, a concentração de empresas de pequeno porte
em uma determinada região começou a ser identificada e estudada na Europa,
especialmente na Itália, com o surgimento de aglomerações de empresas de um
único produto, denominadas de distritos industriais, que chamaram a atenção de
pesquisadores pela alta eficiência demonstrada (GOLDSTEIN e TOLEDO, 2006). O
modelo implantado na Itália, por exemplo, e que foi denominado Terceira Itália,
tornou-se conhecido como uma das experiências bem sucedidas por ter consolidado
o exemplo mais paradigmático e frequentemente recorrido como modelo de sucesso
deste novo padrão de organização espacial de atividades produtivas. Este tipo de
análise ressalta os possíveis ganhos de eficiência proporcionados pela
especialização produtiva de empresas localizadas em uma mesma região
geográfica, atribuindo particular importância à institucionalidades subjacentes às
relações entre agentes econômicos e indutores de colaboração implícita e explícita
entre elas (GURISATTI, 1999). Posteriormente, na década de 1980, ocorreu a
concentração de empresas de alta tecnologia no Vale do Silício, Califórnia, EUA,
72
que consolidou a utilização do modelo como uma estratégia adequada para
pequenos empreendimentos, mas de elevada capacidade tecnológica.
Nesse mesmo período, o interesse para a formação de redes
interorganizacionais de cooperação técnica e gerencial no Brasil. Foi estimulado pelo
Governo Federal, principalmente através dos programas de apoio à Pequena e
Média Empresa (PME), administrados pelo Sebrae e conveniados com órgãos
financiadores e de pesquisa.
O Sebrae considera que Arranjo Produtivo Local (APL) é um aglomerado de
empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização
produtiva e que mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação e
aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como governo, associações
empresariais, instituições de crédito e instituições de ensino e pesquisa,
principalmente universidades. Segundo Suffi (2002), a experiência de diversos
clusters bem sucedidos, como o Silicon Valley, na Califórnia, e a Terceira Itália,
demonstram que, geralmente, estes clusters têm surgido espontaneamente e que, à
medida que os mesmos evoluem e se fortalecem, é comum o surgimento de
instituições responsáveis pela estruturação de mecanismos de suporte e pela
definição de diretrizes para o desenvolvimento comum das atividades.
Para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
um dos agentes envolvidos no processo, APL é uma concentração geográfica de
empresas e instituições que se relacionam em um setor particular e que inclui, em
geral, fornecedores especializados, universidades, associações de classe,
instituições governamentais e outras organizações que provêm educação,
informação, conhecimento e ou apoio técnico e entretenimento (BNDES, 2003).
APL também é entendido e classificad como um cluster por diversos autores,
uma vez que a conceituação de cluster encontrada na literatura (SANTOS;
CROCCO; LEMOS, 2002; LASTRES; CASSIOLATO; MACIEL, 2003; KREUZ;
SOUZA; CUNHA, 2003) se refere a uma aglomeração de empresas de pequeno
porte numa determinada região geográfica, organizadas para obter vantagem
competitiva frente às corporações de maior porte ou a dos concorrentes diretos que
atuam individualmente. Apesar da semelhança na conceituação de APL e cluster,
existe uma diferenciação entre esses dois modelos de rede, a qual pode ser
encontrada na própria finalidade de um APL, que é a de produção, ao passo que um
73
cluster pode estar voltado para outro tipo de negócio, como o comércio ou prestação
de serviços, como é o caso do Cluster de Saúde de Teresina.
No âmbito do conceito de Rede de Negócios, a existência de um APL também
é considerado, para alguns autores, um cluster industrial. Goldstein e Toledo (2006),
ao discutir a formação de cluster, consideram que:
Trata-se de um aglomerado de empresas, de um modo geral de pequeno e médio porte, situadas em uma mesma região geográfica e com a mesma especialização setorial, organizadas de modo a obter vantagens competitivas em comparação aos seus concorrentes que atuam individualmente. Há outras denominações que costumam ser usadas para definir clusters, como arranjos produtivos locais e distritos industriais. Alguns autores não diferenciam clusters de APLs. (2006,p. 68).
O conceito de cluster de negócios, defendido por Zaccarelli, trata de
entidades supra-empresariais que têm como primeira característica a proximidade
geográfica e compatibilidade de produtos. Conforme os autores:
entidade supra-empresarial se constitui em um sistema instituído pela inter-relação de um conjunto de negócios relacionados a determinado produto, linha, categoria ou mercado, em que o processo de integração e a dinâmica das relações entre as organizações implicam efeitos sistêmicos de amplificação da capacidade competitiva do sistema e de seus componentes em relação a empresas situadas externa a ele (ZACCARELLI et al., 2012, p. 44).
A performance competitiva de clusters de negócios, segundo Zaccarelli et al.
(2012, p. 73) é dada pelos seguintes fundamentos: 1) Concentração geográfica em
área reduzida; 2) Abrangência de negócios viáveis e relevantes; 3) Especialização
das empresas; 4) Equilíbrio com ausência de posições privilegiadas; 5)
Complementaridade por utilização de subprodutos; 6) Cooperação entre empresas;
7) Substituição seletiva de negócios; 8) Uniformidade de nível tecnológico; 9) Cultura
da comunidade adaptada ao cluster; 10) Caráter evolucionário por introdução de
(novas) tecnologias; e 11) Estratégia de resultado orientada para o cluster.
Segundo o autor, esses aglomerados podem auferir ganhos de eficiência que
as empresas raramente poderiam atingir isoladamente, ganhos esses que podem
ser compreendidos como a vantagem competitiva obtida pelas externalidades e ação
conjunta das mesmas.
74
Portanto, um APL somente poderá ser caracterizado pela identificação ou
existência de um expressivo número de empresas que exercem uma atividade
produtiva principal numa região delimitada geograficamente e que apresentem
alguma característica relacionada ao propósito da existência do arranjo. Além disso,
se faz necessário observar o potencial sócioeconômico dessa região, procurando-se
avaliar pontos importantes como postos de trabalho, geração de renda, perspectivas
e potencial de crescimento, diversificação ou concentração de atividades fabris e
comerciais e prestação de serviços acessórios e de apoio às atividades-fins do
arranjo.
O APL é uma das formas encontradas por pequenas organizações para
enfrentar a concorrência, organizando-se em comunidades empresariais e,
consequentemente, expandindo suas fronteiras, tanto do ponto de vista territorial
quanto econômico de negócios. Visam maior competitividade mediante a agregação
de valor aos produtos e a criação de uma base sólida de inovação e
desenvolvimento produtivo que permita a todos os envolvidos participarem do
crescimento e da expansão dos negócios, inclusive com a exportação consorciada
da produção de cada participante.
75
4 METODOLOGIA
Usando a proposição de Vergara (1998), é possível classificar esta pesquisa
em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quantos aos meios de investigação.
Quanto aos fins, a pesquisa é exploratória, descritiva e aplicada. Exploratória
em razão do pouco conhecimento acumulado e sistematizado sobre o
empreendedorismo influenciando um determinado setor, como em Teresina, ligado à
saúde. Há poucos trabalhos divulgados sobre a identificação das variáveis do perfil
empreendedor e da composição de cluster na cidade.
Esta pesquisa é também descritiva, à medida que compreende a obtenção e
exposição de dados representativos de determinada situação ou fenômeno.
Segundo Rudio (apud OLIVEIRA, 1998, p. 69), o propósito desse tipo de pesquisa é
“descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e
interpretá-los”. Neste caso, descrevem-se as características empreendedoras dos
gestores ligados à área de saúde de Teresina e suas perspectivas para o
fortalecimento e a firmação do cluster de saúde na capital piauiense.
Ainda quanto aos fins, a pesquisa pode ser classificada como aplicada, uma
vez que tem finalidade prática e é motivada pela necessidade de demonstrar como o
perfil empreendedor de um gestor e a composição de clusters em uma determinada
área geográfica do país pode gerar emprego e renda.
Quanto aos meios de investigação, esta pesquisa é bibliográfica e de campo.
A primeira construção compreende uma revisão da literatura disponível sobre o
tema, ou seja, um levantamento sistematizado de livros, artigos em revistas, teses e
dissertações e outras publicações sobre o assunto, visando fundamentar
teoricamente o trabalho e subsidiar a análise dos dados coletados. A segunda,
assume tal característica por ter sido feita uma investigação empírica juntos aos
gestores dos empreendimentos ligados à saúde na cidade, visando obter dados
sobre a sua percepção acerca do perfil empreendedor, suas características e a
composição e consolidação de um cluster em Teresina.
Finalmente, quanto à natureza das variáveis estudadas, esta pesquisa pode
ser classificada como qualitativa, pois foram conduzidas entrevistas com
questionários semiestruturados com os gestores e proprietários das empresas
ligadas ao serviço de saúde na cidade, oportunidade em que eles tiveram liberdade
76
para expor, de maneira singular, descrições detalhadas, atitudes, crenças e seus
pensamentos sobre o assunto.
4.1 Construção dos instrumentos de coleta de dados
Para a elaboração das questões para entrevista, foram consideradas cinco
características relevantes apontadas pela literatura para a composição de um perfil
empreendedor, e os aspectos técnicos essenciais para a constituição de um cluster
e do turismo de saúde: visão de negócio, habilidades, valores, persistência e
visão para barrar novos entrantes, verificando sempre evitar perguntas
consideradas ambíguas, duplicadas e irrelevantes para a composição do mesmo,
conforme sugerido por Mattar (1996).
Todas as questões da entrevista aberta foram semiestruturadas e flexíveis, de
acordo com os respondentes que estavam no momento sendo entrevistados.
Foram os seguintes tópicos abordados em entrevistas realizadas na pesquisa:
surgimento do polo; desenvolvimento do polo; melhoria da infraestrutura do polo;
visão de negócio em relação a um cluster; estrutura, tecnologia e perspectivas
futuras.
A entrevista foi aplicada a uma amostra de 3,5% dos setores envolvidos com
o Polo de Saúde em Teresina, onde foram escolhidos para a pesquisa em pauta
organizações de confiança e reputação consolidada junto a sociedade teresinense,
distribuídas conforme o Quadro 11.
Quadro 11 – População da Amostra
DESCRIÇÃO DA AMOSTRA QUANTIDADE PESQUISADA
Hospitais particulares 3
Clínicas particulares 5
Consultórios 5
Laboratórios 1
Escola de medicina 1
Planos de saúde 2
Meios de hospedagens 2
Total 19
Fonte: Elaborado pelo autor.
77
Essa amostra foi retirada de um efetivo total 633 atividades diretas e indiretas
ligadas ao setor de saúde conforme o Quadro 4.
A relação de entidades pesquisadas e sua estratificação podem ser
observadas no Quadro 15, página 98.
Da população da amostra, 83% são do sexo masculino e 17% do sexo
feminino, 82% são casados. Quanto à idade, o maior quantitativo (78%) situa-se na
faixa etária de 32 a 49 anos. Mais da metade tem entre 5 e 20 anos de profissão. No
que diz respeito ao grau de instrução, 78% têm curso superior. Entre os gestores
desta pesquisa, os cursos superiores mais comuns são Medicina (80%) e
Farmácia/Bioquímica, com 5%. Todos os respondentes eram proprietários ou
diretores-administrativos das organizações da amostra.
Pode-se verificar a predominância do sexo masculino nas administrações
ligadas ao setor de saúde, e atuando em profissões altamente técnicas e muito
direcionadas para o objetivo a que se destinam desde suas vidas acadêmicas nas
universidades, e estão atualmente como proprietários e administradores de
empresas públicas e privadas, alguns se destacando pelo seu espírito
empreendedor.
A amostra usada na presente pesquisa foi escolhida pelo critério de
acessibilidade, ou seja, foram entrevistadas pessoas as quais o pesquisador tinha
possibilidade de alcance, sem que isto significasse intencionalidade de influenciar os
resultados da pesquisa.
A amostra tem também a característica de ser estratificada, sendo
aproximadamente proporcional aos segmentos existentes na população, pois foram
previamente estabelecidas quantas entrevistas seriam realizadas em cada estrato.
Não se trata de uma amostra probabilística, conforme definida por Costa Neto
(2002) como aquela em que todos elementos da população têm probabilidade
conhecida e diferente de zero de pertencer à amostra.
Entretanto, não se possa garantir teoricamente a perfeita representatividade
da amostra, devido a não ser rigorosamente probabilística, acredita-se que essa
representatividade possa ser assumida, ao menos com boa aproximação, conforme
o julgamento do autor, por não haver razões aparentes para isso não acontecer.
Ao fazer essa consideração apoia-se essa afirmação em Costa Neto segundo
qual: “em muitos casos os efeitos de uma amostragem não probabilística pode ser
considerado equivalente ao de uma amostragem probabilística” (2002, p. 41).
78
5 RESULTADOS
Neste capítulo apresenta-se uma pesquisa prévia de interesse do trabalho
conduzida pelo pesquisador antes da realização da pesquisa de campo principal
desta tese, em seguida apresenta-se item a item os resultados da pesquisa de
campo, concluindo com uma síntese dos resultados alcançados.
5.1 Pesquisa prévia existente
Para iniciar a descrição e análise das entrevistas foi realizado um estudo
bibliográfico sobre uma pesquisa contínua do Sebrae. O órgão vem trabalhando um
Plano Estratégico do Polo Empresarial de Saúde de Teresina, que estabelece
estratégias para serem executadas até o final de 2015. De acordo com o plano, “a
consolidação do setor como referência regional teve como vetor de sucesso a
formação do polo de saúde e o início do desenvolvimento de um cluster de saúde
em Teresina, em cujo projeto, profissionais e empresas públicas e privadas, em uma
área geográfica determinada, formam uma cadeia produtiva responsável pela
geração cada vez maior de emprego e renda para o município” (SEBRAE, 2010).
O plano foi elaborado de forma participativa com as empresas e, desde 2010,
80 deles já passaram pelo projeto. Hoje, 28 estão sendo trabalhados para que
aumentem seus padrões de qualidade e atendimento e consigam certificações como
a ISO 9001. O objetivo é que as micro e pequenas empresas da área de saúde
tenham um referencial de patamar diferenciado e competitivo junto ao mercado,
além de fortalecer o polo de saúde. Entre os objetivos, está o aumento do número
de clientes, retenção dos talentos humanos, além da redução dos custos
operacionais e melhores níveis de satisfação dos clientes.
O empresário e cirurgião-dentista Antônio Francisco Costa, do Centro de
Diagnóstico Odontológico (UDO) foi um dos que participou do projeto e,
entrevistado, afirma que a mudança no gerenciamento de sua empresa foi muito
grande e envolveu gestão de pessoas, controles financeiros e melhorias nos
serviços prestados. A UDO, uma clínica odontológica especializada em radiologia e
cirurgias, tem 15 anos de mercado e tem três espaços: no Polo de Saúde, na Zona
Leste da capital, e na cidade de Floriano (PI). “Antes, a minha gestão era muito
amadora, e o Sebrae me deu ferramentas para que eu gerisse melhor a minha
79
empresa e pensasse em indicativos, em resultados, em uma gestão para o futuro”,
afirma. Em 2011, a UDO atendia cerca de mil pessoas/mês. Em 2012, o número de
atendimentos saltou para mais de dois mil. Com a melhoria dos processos, a
empresa passou a economizar cerca de R$ 20 mil mensalmente.
Outro ponto que o empresário afirma ter melhorado foi a relação com outras
empresas concorrentes. “Percebi que preciso encarar os colegas empresários como
uma oportunidade de associação para o crescimento, e não com rivalidade. Com a
parceria, crescemos e ganhamos muito mais”, esclarece o proprietário da clínica
UDO.
Para a elaboração do plano, o Sebrae fez em 2010 um diagnóstico do Polo de
Saúde, que mostrou, entre outras coisas, os motivos da procura pelo atendimento
em Teresina.
Do total de entrevistados, 41,26% apontaram como motivo principal não ter
serviço de saúde em sua cidade, 37,16% disseram que em sua cidade não
resolveria o problema e 16,12% declararam ter familiares em Teresina e que
costumam ir à cidade fazer exames preventivos anual ou semestralmente. A
pesquisa também revelou que mais de 69,95% dos pacientes que buscam o Polo de
Saúde fazem isso mais de uma vez por ano.
Mais de 70% dos pacientes entrevistados declararam que consideram boas
as instalações das clínicas e hospitais, e 67,6% avaliaram como boa ou muito boa a
qualidade dos serviços oferecidos. O percentual de aceitação é ainda maior quando
perguntados sobre o nível de satisfação em relação às consultas e exames, 94,4%
afirmaram terem ficado satisfeitos ou muito satisfeitos.
A pesquisa ouviu 366 pacientes de estabelecimentos como centros de saúde,
clínicas, hospitais, clínicas radiológicas e de reabilitação e laboratórios de análises
clínicas.
População x Médicos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza como parâmetro ideal de
atenção à saúde da população a relação de um médico para cada mil habitantes.
Para centros com uma rede de serviços bem estruturada, os técnicos defendem a
ampliação deste parâmetro. De qualquer forma, a definição desta relação torna-se
um importante recurso de mapeamento da distribuição de médicos no país.
80
No Brasil, a relação média observada de a um médico para cada 622
habitantes está muito abaixo deste parâmetro. Além disso, há grande concentração
de médicos ativos nas regiões Sudeste (1/455 hab.), Sul (1/615 hab.) e Centro-
Oeste (1/640 hab.). Só as regiões Nordeste e Norte estão acima deste parâmetro,
apresentando relação média de 1/1.063 e de 1/1.345 habitantes, respectivamente.
No Norte, apenas Roraima (1/762 hab.) apresenta uma relação média abaixo
de 1/1.000 habitantes; o que também ocorre em cinco dos estados do Nordeste.
Uma análise comparativa dos estados indica que 16 deles (59,3%) apresentam uma
relação abaixo de 1/1.000 hab., sendo que o Rio de Janeiro (1/302 hab.) e o Distrito
Federal (1/309 hab.) são os que apresentam a maior concentração de médico por
habitante, ultrapassando, inclusive, São Paulo (1/471 hab.).
Em sentido inverso, destacam-se o Maranhão (1/1.917 hab.), seguido de Pará
(1/1.500 hab.), Amapá (1/1.484 hab.), Rondônia (1/1.450 hab.), Piauí (1/1.420 hab.),
Acre (1/1.374 hab.), Tocantins (1/1.329 hab.), Ceará (1/1.161 hab.), Amazonas
(1/1.132 hab.), Bahia (1/1.116 hab.) e Mato Grosso (1/1.041hab.). Destes, somente
Acre e Amapá mantém esta relação média acima de 1/1.000 habitantes, também,
em suas capitais e regiões interioranas.
Não obstante Tocantins (1/959 hab.) e Rondônia (1/968 hab.) estarem no
limite em suas capitais, merecem destaque pelo fato de apresentarem elevada
relação média em suas regiões interioranas (1/1.413 hab. e 1/1.725 hab.,
respectivamente), justamente onde está concentrada a maioria da população e dos
médicos ativos. Este desempenho foge à regra, evidenciando falta de médicos no
interior desses estados, sem que se configure concentração de médicos nas suas
capitais.
Das seis capitais da região Norte, Rio Branco (AC), Macapá (AP) e Boa Vista
(RR) apresentam relação superior a 1/1.000 hab., fato que não se observa nas
demais capitais do país. Roraima apresenta um desempenho excepcional, em razão
de sua capital Boa Vista destacar-se como a única exceção à tendência brasileira de
maior concentração de médicos nas capitais, apresentando a mais alta relação
média observada no país (1/1.737 hab.), enquanto no interior do estado esta relação
cai para (1/419 hab.), igualmente a mais baixa do país. Esse desempenho, no
entanto, necessita ser confrontado com o fato de que no interior estão concentrados
só 30,4% da população do estado e 69,5% dos médicos de Roraima. Em outras
palavras, cerca de 70% da população estadual, que está concentrada na capital Boa
81
Vista, tem carência de médicos, sem que haja carência desses profissionais no
estado (1/762 hab.)
Em sentido contrário, no interior do Pará, observa-se a maior relação média
do país (1/4.466 hab.), desempenho que resulta do fato de 73,3% dos médicos
ativos do estado estarem concentrados na capital Belém, que reúne apenas 20,4%
da população do estado.
No Nordeste, destaca-se a relação média observada no Maranhão (1/1.917
hab.), a mais alta do país. A capital São Luís, com apenas 15,6% da população do
estado e concentrando 52,5% dos médicos ativos, apresenta uma relação média de
1/570 hab., contra 1/3.403 hab. no interior.
Da mesma forma, merecem destaque nacional as altas relações
médico/habitantes observadas no interior dos estados nordestinos, chegando a
oscilar entre 1/1.691 hab. na Paraíba e de 1/4.108 hab. no Sergipe; o que resulta do
fato de todas as capitais nordestinas apresentarem relação média bem inferior a
1/1.000 hab. Esse desempenho, comparado às demais regiões, evidencia que o
Nordeste apresenta a maior concentração de médicos em capitais brasileiras.
Tabela 1 – Relação Médico Paciente
Fonte: Ministério da Saúde (2003).
82
Tabela 2 – Relação Médico Paciente por Estado
Fonte: Ministério da Saúde (2003).
A capital de Sergipe, por exemplo, com 25,7% da população estadual, tem à
sua disposição 82,9% do médicos ativos no estado. Não obstante todas as relações
médias apresentadas pelos estados do Centro-Oeste serem bastante baixas, com
exceção do Mato Grosso (1/1.041), chama a atenção a do Distrito Federal (1/309
hab.), por ser a segunda menor do país, abaixo apenas da observada no Rio de
83
Janeiro (1/302 hab.). As capitais da Região Centro-Oeste também apresentam
relação média bem abaixo do parâmetro da OMS, o que não ocorre no interior onde
esta relação está um pouco acima.
Os estados do Sudeste e Sul destacam-se por apresentarem todos, sem
exceção, relações médias bem abaixo de 1/1.000 habitantes, tanto nas capitais
como no interior. Pode-se observar com essas análises feitas, que todos os estados
dos quais são oriundos os pacientes de Teresina, como o Maranhão e o Tocantins,
tem-se uma relação Médico/Paciente acima de 1/1300 habitantes; relação essa que
mostra a total falta de médicos e infraestrutura hospitalar no interior desses estados,
o que acarreta a vinda desses pacientes para Teresina em decorrência de sua
localização geográfica privilegiada, como já relatado, e a qualidade já comprovada
de sua rede médico hospitalar da cidade de Teresina e tendo Teresina uma das
relações mais baixa do Brasil.
5.2 Descrição e análise das entrevistas
Segue uma abordagem das entrevistas realizada pelo autor, com autorização
prévia do Comitê de Ética da Universidade Paulista, apresentada no Anexo 2.
Surgimento do Polo
Os gestores da atividade direta ligada ao polo de saúde apontaram que os
primeiros fluxos migratórios de pessoas para Teresina tiveram início nos anos 1950,
com a implantação do Hospital Estadual Getúlio Vargas, pelo interventor da época
no estado do Piauí, o Barão Leão de Caxumé.
Construído nos moldes do Hospital das Clínicas de São Paulo, com a maioria
das especialidades existentes na época, obteve-se como consequência uma oferta
maior de serviços que a demanda local, ocasionando com isso um fluxo migratório
de pessoas advindas principalmente do interior do Piauí e Maranhão, em busca de
um serviço médico de melhor qualidade através da ferrovia Transnordestina que
transpõe os dois estados e que, na época, era muito utilizada em decorrência das
incipientes rodovias existentes nos anos 1950.
Já de início, pode-se observar que o polo de saúde começou com uma ação
direta governamental através da construção de um hospital de referência regional
84
para o meio norte brasileiro, gerando emprego e renda naquela época com a
utilização dos táxis da cidade e a construção de pensões para atender os pacientes
e familiares em trânsito na cidade ao redor da estação ferroviária, que pode-se
afirmar ser também uma outra ação governamental indireta para a consolidação do
Polo com a construção da ferrovia transnordestina.
Segundo o médico Zenon Rocha, um dos participantes há mais de 40 anos na
construção e evolução do Polo de Saúde, outro fator preponderante foi a criação
pelo Governo do Estado do Piauí, em 1967, da Faculdade de Medicina do Estado do
Piauí (Famepi) quando na época ainda nem existia a Universidade Federal do
Estado do Piauí (UFPI). Segundo ainda Zenon Rocha, outra ação realizada pelo
Governo do Estado foi a construção do Hospital Estadual Getúlio Vargas que, pela
sua imponência da época, servia como hotel quando grandes autoridades vinham a
Teresina. Concluindo, o entrevistado disse que sem a participação efetiva do Estado
com essas ações, o Polo não seria o que é hoje, uma referência regional e nacional.
Desenvolvimento do Polo
Indicado por 88% dos entrevistados, o fator mais preponderante para o
desenvolvimento do Polo de Saúde em Teresina foi a criação dos institutos de
previdência nos diversos órgãos públicos no início dos anos 1970, como os institutos
previdenciários, Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado
Ipasee) etc. ocasionando uma demanda maior por serviços de melhor qualidade e a
consequência natural da saturação do Hospital Getúlio Vargas. Alguns médicos, à
época, tiveram a percepção e visão de negócio, e implantaram hospitais e
laboratórios privados que se associaram a esses institutos através de
credenciamento para atender seus usuários.
Ademais, 12% dos entrevistados afirmam que além do exposto acima, outro
fator importante para o crescimento mais acentuado do Polo foi a construção das
rodovias federais nas décadas de 1960 e 1970 pelos governos militares, e Teresina,
por se localizar em um ponto estratégico no contexto geográfico, foi beneficiada
tendo em vista ser ela um elo terrestre necessário entre a Região Norte e Nordeste
oferecendo, como consequência, acesso da cidade para qualquer região do país.
Conforme pode ser visto na Figura 8.
85
Figura 8 – Mapa Rodoviário do Estado do Piauí
Fonte: Ministério dos Transportes (2012).
Com as questões pontuadas pelos entrevistados, é possível inferir que o
governo, direta ou indiretamente, contribuiu para a composição do desenvolvimento
regional de forma ampla. Contudo, a composição do cluster de saúde ocorreu
diretamente pelo espírito empreendedor dos médicos da região.
Características empreendedoras
O Quadro 12 mostra as características empreendedoras mencionadas pelos
entrevistados.
Quadro 12 – Características Empreendedoras
CARACTERÍSTICA % de Atuação
Visão de negócio 82%
Habilidades 75%
Valores 73%
Persistência 64%
Visão para barrar novos entrantes 40%
Fonte: Pesquisa de Campo do Pesquisador (2015).
86
Cabe destacar que como as entrevistas foram diretas e a questões
semiestruturadas, o quadro acima é resultante da manifestação dos entrevistados,
sendo a mais enfatizada aquela referente à visão de negócio pelos médicos e donos
da época, conforme exposto acima, que identificaram um nicho de mercado aberto
com a implementação dos institutos previdenciários.
Outras duas consequências subsequentes tiveram um percentual elevado de
citação, pois os respondentes acreditam até hoje e, o poder persuasão é uma das
facilidades de negociação que um empreendedor de sucesso tem que ter, fruto para
muitos uma característica do próprio nordestino e, em uma capital de estado onde
até hoje os valores morais, familiares e intelectuais são muito valorizados.ok pode
deixar assim
A composição do Polo de Saúde de Teresina
Para a maioria dos gestores, por ser Teresina a capital com o mais baixo
índice de renda per capita do país, a população médica aprendeu a trabalhar com os
recursos advindos da época dos institutos previdenciários, pois a consulta e a
internação particular eram incipientes, e até hoje são insignificantes em termos de
faturamento para o segmento.
Com a unificação desses institutos em 1975 e a criação do Instituto Nacional
de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps), os empreendedores passaram
a vislumbrar os ganhos a partir das oportunidades liberadas pela legislação em
vigor. Por exemplo, nos casos de internação, o Inamps oferecia para o paciente a
enfermaria, e se desejasse ir para o apartamento, o paciente assumiria a diferença
diretamente no hospital. Como consequência, os honorários médicos passavam a
ser diferenciados.
Com isso, houve um incentivo para a profissionalização da gestão hospitalar,
ou seja, de como os administradores hospitalar tratavam e tratam atualmente seus
empreendimentos, gerenciando os hospitais privados com uma administração
financeira de cunho também privado e com atendimento com uma conotação
administrativa de hospital público.
De acordo com o médico Aloisio Luz, diretor médico do maior plano de saúde
do Piauí, e o médico Paulo Cortelaze, diretor médico do Hospital São Paulo, são
elementos do quadro algumas atividades preponderantes para a composição do que
é hoje o Polo de Saúde em Teresina.
87
Quadro 13 – Características dos Gestores
Fonte: Pesquisa de Campo Do Pesquisador (2015).
O papel dos Planos de Saúde na composição do Polo de Teresina
As respostas apontadas a este item da análise por todos os pesquisados
destacam que os planos de saúde começaram a surgir mais fortemente no início dos
anos 1990. Com a conotação dos antigos institutos previdenciários e a criação do
SUS, em 1998, suprimiram-se as oportunidades da lei anterior que regia o Inamps.
Isso deu surgimento a uma nova demanda de pessoas com um poder aquisitivo
melhor e que poderiam pagar uma mensalidade a uma determinada empresa para
ter mais comodidade em suas consultas médicas e internações.
Os planos de saúde pagam aos hospitais credenciados os seguintes itens:
Diárias;
Taxa de uso do espaço físico;
Materiais de consumo e medicamentos; e
Procedimento clínico e cirúrgico.
Os entrevistados foram explícitos em informar que dos itens acima
relacionados, atualmente o único item em que os hospitais e clínicas ainda auferem
lucro é o de materiais de consumo e medicamentos. Os hospitais conseguem
comprar esses itens a um custo inferior da tabela de pagamentos dos planos de
saúde.
DADOS TEMPORAIS
GESTOR RESPONSÁVEL
ATIVIDADE REALIZADA
1978 Dr. Dib Tajra
Primeiro serviço de hemodinâmica do Nordeste.
Procedimentos de Transplantes Cardíacos com médicos que vinham do Incor em São Paulo.
1985 Prefeito de
Teresina Wal Ferraz
Criação de um modelo de estrutura de construções hospitais de bairro de baixa e média complexidade nos
bairros periféricos da cidade.
2003 Dr. Paulo
Cortelaze Hospital São Paulo
Descentralização da unidade em uma nova zona da cidade, mais perto de seus clientes e melhor locomoção.
2005 Grupo Med
Imagem
Laboratórios dentro dos próprios hospitais – Chamado Serviços Shopping e fornecimento completo de sua linha
de produção desde a indústria própria de material descartável.
2005 Hospitais e
Clinicas em Geral
Criação dos Planos dos próprios hospitais e clínicas chamados planos econômicos, para a população que
não tem nenhum plano de saúde.
88
No parágrafo acima, visualiza-se uma característica do empreendedor que é o
poder de negociação em relação a compra desses materiais. Esse poder vislumbra,
em um único item, um lucro que possa manter os hospitais em funcionamento, pois
alegam que as tabelas dos planos de saúde estão sem reajuste há mais de 10 anos.
Atualmente, os serviços efetivados pelos planos de saúde correspondem a
70% do faturamento, e os 30% restantes são oriundos do SUS, dos hospitais,
clínicas e laboratórios da cidade.
Diante do exposto, é possível afirmar que os planos de saúde contribuem
fortemente na composição e manutenção do cluster na cidade, pois são eles
atualmente que sustentam praticamente toda a rede privada de Teresina.
Melhoria da infraestrutura do Polo de Saúde
Para 40% dos entrevistados, a Prefeitura, com o Governo do Estado, deveria
investir na construção de uma identidade visual para o Polo de Saúde, colocando
portais nas entradas e saídas, melhorando o paisagismo, a sinalização dos
logradouros, a iluminação pública e padronização dos hotéis e pensões da cidade.
Outros 30% indicaram como melhoramento o alargamento das calçadas em
torno do Polo de Saúde, reformulação do trânsito e criação de alternativas de
estacionamentos para facilitar o deslocamento de usuários, inclusive dos deficientes
físicos, priorizando as ruas que são as principais do polo.
No que tange a infraestrutura, o mais importante é a higienização e limpeza,
cabendo à Prefeitura ações de conservação permanente e o planejamento e
execução de um sistema de saneamento, segundo 30% dos entrevistados.
Pode-se observar uma preocupação muito acentuada com as obrigações
mínimas da gestão pública no que tange um melhor atendimento nas partes
estruturais da cidade que não acompanharam o crescimento vertiginoso do cluster,
gerando um ponto fraco considerável do polo em relação a outras cidades que vêm
se destacando na área de Saúdes como Recife (PE) e Imperatriz (MA).
Outra preocupação dos respondentes, principalmente diretores e proprietários
de clínicas e hospitais, é o caso de agenciamento realizado por pensões e hotéis do
entorno do Polo de Saúde, que direcionam os clientes para hospitais e clínicas que
pagam comissões a esses gestores dos hotéis e das pensões. Na visão dos
entrevistados, o governo deveria agir no sentido de coibir essas práticas, pois podem
ser lesivas a qualidade dos serviços de saúde oferecidos atualmente.
89
Visão de negócio em relação a um cluster
Os respondentes caracterizam Teresina como um cluster pelos
procedimentos de alta complexidade que são realizados na cidade, relacionados no
quadro 14.
Quadro 14 – Procedimentos de Alta Complexidade
Nº VARIÁVEIS
1 Transplante renal, córnea, coração e pâncreas
2 Cirurgia cardíaca, marca passo e hemodinâmica
3 Neurocirurgia Avançada
4 Cirurgia de fissuras lábio-palatinais
5 Oncologia: Cirurgia, quimioterapia e radioterapia
6 Nefrologia: Terapia renal substitutiva
7 Cirurgia endoscópica e vídeo cirurgia
8 Cirurgia torácica
9 Cirurgia Oftálmica
10 Urologia, uroginecologia, cirurgia endoscópica e por vídeo
11 Cirurgia da obesidade
12 Cirurgia ortopédica e traumatologia
13 Ginecologia e obstetrícia
14 Pediatria e cirurgia pediátrica
15 UTI
Fonte: Elaborada pelo Autor (2015).
Para uma cidade ou região ser considerada um centro de referência em um
determinado nicho de mercado, conforme já citado e comentado na revisão da
literatura, ela tem que oferecer todos os produtos e serviços que variam entre o
básico até o de alta tecnologia em um determinado mercado, e ser acessível a toda
aquela sociedade que está em torno do cluster.
Como observado no caso do Polo de Saúde de Teresina, as variáveis
consideradas para a determinação do cluster foram as condições de transporte,
acomodação e até mesmo a localização geográfica da cidade.
Pode-se concluir que a capital piauiense tem um conjunto de organizações
diretas e indiretas interligadas ao setor de saúde da cidade, promovendo com isso
geração de emprego, renda e bem-estar à sociedade que reside em torno de
Teresina.
Não é novidade para os teresinenses que a capital do Piauí está se
consolidando como polo regional de saúde. A localização privilegiada da cidade, a
maior do Nordeste fora do litoral, contribui para um fluxo natural de moradores de
estados como Tocantins, Pará, Maranhão e Ceará, dentre outros, que vêm à capital
90
piauiense em busca de tratamento. E os médicos estão entre os principais
personagens desta nova realidade da cidade.
Para adquirir a atual relevância no cenário regional, o setor de saúde de
Teresina teve de passar por grande evolução ao longo dos últimos 40 anos. Afinal,
apenas em 1966 foi criada na cidade a Faculdade de Medicina do Piauí, iniciando a
formação local de médicos, profissionais indispensáveis para impulsionar o setor no
estado. Para se ter uma ideia, Recife já formava médicos desde 1920. Fortaleza, no
Ceará, também inaugurou seu curso com quase duas décadas de antecedência, em
1948. Mas o atraso inicial não impediu o crescimento e a especialização da medicina
no Piauí.
Atualmente, Teresina já dispõe de quatro faculdades de medicina. Além da
primeira, que foi incorporada à Universidade Federal do Piauí (UFPI), surgiram a
Faculdade de Ciências Médicas, que integra a Universidade Estadual do Piauí
(UESPI), e os cursos de medicina privados da Faculdade Integral diferencial – Piauí
(Facid), e Centro Universitário de Saúde, Ciências Humanas e Tecnologia do Piauí
(Novafai). Anualmente, estas quatro instituições abrem um total de 300 vagas para
estudantes interessados em iniciar os estudos na área médica.
Além disso, também têm surgido na cidade cursos para formação de
fonoaudiólogos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos em radiologia,
dentre outros profissionais.
Em relação à visão de clusters no setor de saúde teresinense, segundo dados
do Conselho Regional de Medicina (CRM-PI), existem 2.605 médicos com registro
ativo no estado do Piauí. Desse total, 1.974 estão concentrados na capital. O mais
comum atualmente é o médico ter sua formação nas faculdades de Teresina, buscar
especialização fora, e voltar ainda mais capacitado para atuar na cidade, destaca
Aloísio Luz, diretor médico do Prontomed, o maior hospital privado do Piauí.
Ainda segundo dados colhidosno CRM-PI, os médicos que atuam em
Teresina têm preferência por especialidades como pediatria, cirurgia geral,
oftalmologia e ginecologia e obstetrícia. De acordo com Aloísio Luz, a dificuldade
aumenta quando a procura é por médicos especializados em áreas como
Neurocirurgia Intervencionista e Oncologia Pediátrica. Mas são áreas pontuais. No
geral, Teresina tem uma reserva boa de profissionais, ressalta o entrevistado.
Estrutura e Tecnologia
Além de uma equipe capacitada para formar um polo de saúde em Teresina,
também são necessários investimentos em estrutura física e tecnologia. De acordo
91
com dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, em 2008, a capital
piauiense já contava com 25 hospitais.
As clínicas existentes também investiram na compra de equipamentos que
auxiliam o diagnóstico médico. Neste cenário, ganha destaque os equipamentos de
imagem, como ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magnética.
Com todo este panorama propício, a expectativa é de que a medicina
teresinense se desenvolva ainda mais. Uma das preocupações no momento está em
melhorar a distribuição desse potencial para outros pontos do estado.
Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, a capital piauiense tem uma
média de 482 habitantes por médico, um número considerado positivo pelos
especialistas. Porém, quando a média é feita em todo o estado do Piauí, tem-se uma
distribuição de 1.282 habitantes por médico. Os números mostram que, com todos
os seus pontos positivos, o Polo de Saúde também gera pelo menos um efeito
preocupante, a concentração da força de trabalho apenas na capital.
Perspectivas futuras
A educação dos futuros profissionais que atuam no Polo de Saúde é a maior
preocupação entre os gestores diretos das organizações de saúde, além da
constante queda do poder aquisitivo da classe média, pois a inadimplência das
mensalidades dos planos vem crescendo a cada dia, preocupando muito em relação
à capacidade financeira dos mesmos, uma vez que a maioria dos clientes advindos
da classe média estão a cada dia com os seus orçamentos familiares mais restritos.
Para os empreendedores dos meios de hospedagens, o futuro para eles está
na criação de microcrédito para melhorias nas pensões, hotéis e atividades afins,
bem como na implementação de programas de educação em higiene, administração
e primeiros socorros para as pessoas que neles trabalham.
No contexto turístico, a hospitalidade tem sido uma das principais forças que
atraem e fideliza clientes, oferecendo bem-estar e conforto, resgatando as origens e
a essência da assistência hoteleira e até na assistência hospitalar. O hospital se
insere na atividade turística de duas diferentes maneiras: como destino de pessoas
que se deslocam à procura de manutenção ou resgate da saúde ou como
infraestrutura de apoio turístico, atendendo a turistas que necessitem de seus
serviços durante a realização da atividade turística.
Apesar do hospital e do hotel possuírem estruturas semelhantes, o primeiro é
considerado por muitos como um local frio e impessoal. Essa realidade prevalecia
92
até algum tempo atrás, mas, atualmente, os clientes de saúde estão mais exigentes
quanto, inclusive, aos aspectos da qualidade na prestação dos serviços. A
instituição hospitalar tem como objetivo produzir bens e serviços visando auxiliar as
pessoas em suas necessidades, e, antes de tudo, têm uma missão nobre a cumprir,
e não simplesmente transações comerciais a realizar.
O cliente de saúde não procura mais somente pelos benefícios dos serviços
de saúde, ele prima também pelo respeito e solidariedade a seu aspecto físico e
emocional, ou seja, os clientes de saúde precisam ser tratados, prioritariamente,
como seres humanos. Em virtude desse e de outros aspectos, o desempenho da
instituição hospitalar que preze pela qualidade e humanização em seus serviços
constitui um fator determinante para o sucesso da organização. Assim, a Hotelaria
Hospitalar surge como uma tendência que veio para livrar os hospitais da “cara de
hospital” trazer em sua essência uma proposta de adaptação a essa nova realidade
do mercado, modificando e introduzindo novos processos, serviços e condutas
(TARABOULSI, 2003).
5.3 Síntese e conclusão da pesquisa
Após os resultados apontados pela pesquisa, é possível afirmar que o
empreendedorismo dos profissionais ligados, direta e indiretamente ao setor de
saúde em Teresina, é um dos fatores determinantes para a criação,
desenvolvimento e consolidação do cluster através das variáveis empreendedoras
identificadas durante a pesquisa.
Vale também considerar o que foi apontado nos resultados da pesquisa de
campo e bibliográfica, ou seja, que um dos fatores que mais influenciaram os
empreendedores no início da composição do cluster, e agora pode-se afirmar, foi a
criação dos institutos previdenciários, com o financiamento do setor pelos governos,
seja federal, estadual ou municipal, e até hoje com as verbas do SUS, que ainda tem
grande participação no faturamento das organizações de saúde em Teresina, em
torno de 30%.
O Quadro 15 foi elaborado segundo as entrevistas feitas com os empresários,
mostrando fatores importantes de cada consultório, clínica, hospital, plano de saúde,
instituição de ensino, laboratório e meios de hospedagem.
93
Quadro 15 – Características das Empresas Pesquisadas
Fonte: Pesquisa de campo do pesquisador (2015).
TIPO DE ESTABELECIMENTO
NOME DA ORGANIZAÇÃO
SURGIMENTO NO
MERCADO
DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL
FATOR PRIMORDIAL PARA SUA ABERTURA
PRINCIPAIS CLIENTES
PONTOS POSITIVOS
PONTOS NEGATIVOS
HOSPITAIS
Hospital Med Imagem
1986 De forma rápida Visão de
oportunidade local
Todas as classes
Credibilidade forte
Dificuldade em realizar
muitas parcerias
Hospital Otorrinos
2002 De forma rápida
Ser umas das primeiras
especialistas na área
Classes A, B e C.
Bem estruturada e
bem localizada
Necessidade de mais filiais
Hospital São Paulo
1977 Com pioneirismo de
muitos setores Pioneirismo na
capital Todas as classes
Pioneirismo e carreira de credibilidade
adquirida
Demora no atendimento
CLÍNICAS
Clinica Respirar 2005 De forma lenta
Conhecimento do ramo e
necessidade do mercado
Classes B e C
Localização privilegiada na cidade
Pouca divulgação
Clinica Otorrinos
2002 De forma rápida
Ser umas das primeiras
especialistas na área
Classes A, B e C.
Bem estruturada e
bem localizada
Necessidade de mais filiais
Clinica Uros 2014 Ainda em fase de
conquistar o mercado
Oportunidade de negocio
Todas as classes
Inovação na área
Ainda não estar
conhecido no mercado
Clinica São Paulo
1977 Com pioneirismo de
muitos setores Pioneirismo na
capital Todas as classes
Pioneirismo e carreira de credibilidade
adquirida
Demora no atendimento
Clínica Lucídio Portela
1996 Conquistando aos poucos os clientes
Oportunidade de negocio
novo na época
Todas as classes
Qualidade
Falta de divulgação de
algumas filiais
CONSULTÓRIOS
Consultório Otorrinos
2002 De forma rápida
Ser umas das primeiras
especialistas na área
Classes A, B e C.
Bem estruturada e
bem localizada
Necessidade de mais filiais
Consultório Uros
2014 Ainda em fase de
conquistar o mercado
Oportunidade de negocio
Todas as classes
Inovação na área
Ainda não
estar conhecido no
mercado
Consultório Med Imagem
2000 De forma gradativa Ampliar mais os
setores oferecidos
Todas as classes
Credibilidade forte que já existia com
hospital
Concorrência muito
agressiva
Consultório São Paulo
1977 Com pioneirismo de
muitos setores Pioneirismo na
capital Todas as classes
Pioneirismo e carreira de credibilidade
adquirida
Demora no atendimento
Consultório Respirar
2005 De forma lenta
Conhecimento do ramo e
necessidade do mercado
Classes B e C
Localização privilegiada na cidade
Pouca divulgação
PLANOS DE SAÚDE
Unimed Federação
Piauí 1990 De forma gradativa
Necessidade de mercado
Classes A, B e C.
Credibilidade Localização
Plano de Saúde Medplan
1990 De forma rápida Visão de mercado
Todas as classes
Um dos primeiros da
capital
Concorrência desleal
INSTITUIÇÃO DE ENSINO
Universidade Federal do
Piauí 1980 De forma rápida
Necessidade de mercado
Todas as classes
Qualidade de ensino
Localização
LABORATÓRIO Laboratório
Lúcidio Portela 1996 De forma bem lenta
Oportunidade de negocio
novo na época
Classes B e C
Agilidade Ampliação do
negocio
MEIOS DE HOSPEDAGENS
Gran Hotel Arrey
2012 De forma gradativa Expansão do
grupo Classes A e
B Estrutura
privilegiada Falta mais divulgação
Metropolitan Hotel
2000 Expansão de um
grupo forte da capital
Visão de oportunidade
local
Classes A e B
Localização privilegiada na cidade
Na sede atual não tem mais espaço para crescimento
94
Pode-se observar nas respostas do Quadro 15 a necessidade de ampliação
dos negócios dos empreendedores, pois eles avaliam a demora no atendimento
como um fator negativo em seus negócios.
Com isso, está ocorrendo em Teresina uma descentralização do Polo de
Saúde de Teresina para a zona leste da cidade. De acordo com Henrique e Jesuita
publicada são 2 pessoas na revista científica da Universidade Estadual da
Paraíba,em 2015, detalhes estatísticos demonstram a forma como essa
descentralização na cidade ocorre.
O artigo cita a centralidade como condição e expressão que uma dada área
pode exercer e representar (SPÓSITO, 2013). Sustenta-se na constituição de uma
área central, no caso o centro de serviços de saúde, o qual se territorializou e
(re)produziu (re)territorializações, cotidianamente, no centro da cidade, a partir da
década de 1940. No bojo da instalação desses serviços que se concentram
principalmente no centro da cidade, tem-se que eles vêm passando por
transformações, principalmente ao longo dos anos 2000, com a territorialização para
outros bairros, notadamente na zona leste. Esse novo movimento provoca uma
descentralização desses serviços, particularmente para os bairros em que se
localizam os estratos de mais alta renda da cidade, como Fátima, Jóquei e São
Cristóvão.
Ainda cita que, na verdade, oito dos dez bairros com habitantes com maiores
rendas se localizam na zona leste, território da nova configuração da produção
espacial dos serviços de saúde, sendo dois, zona centro. É pertinente, pois, atentar
para o fato de que esses bairros têm contiguidade geográfica, o que revela a
constituição de um espaço concentrador de riqueza, diferenciando-se da própria
zona leste como um todo.
Além disso, as áreas que detêm os grupos sociais de alta renda tiveram
incrementos importantes na produção espacial, principalmente no que se refere ao
número de domicílios, o que influi em sua dinâmica demográfica. Nessa direção, o
bairro Jóquei, principal bairro da Zona Leste de Teresina, saiu de uma população de
3.108 habitantes em 2000, para 5.967 em 2010 (aumento de 91,9%), com o número
de domicílios subindo de 773 em 2000, para 2.085 em 2010 (aumento de 169,7%),
embora a média de morador por domicílio tenha caído. O Horto Florestal detinha
4.091 habitantes em 2000 e passou a ter 5.889 em 2010 (aumento de 43,9%), com o
número de domicílios indo de 918 em 2000 para 2.025 em 2010 (aumento de
95
120,5%), embora decresça a quantidade de morador por domicilío. O Santa Isabel
foi de 3.679 habitantes em 2000 para 6.675 em 2010 (aumento de 81,4%), saindo de
811 em 2000 para 2.363 em 2010 (aumento de 191,3%). Esses números refletem o
crescimento do processo de verticalização nesses espaços, fato analisado por
Castelo Branco (2013) e Reis Filho (2012).
96
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois de concluída esta pesquisa, pode-se fazer uma análise mais criteriosa
e detalhada, enfatizando que os objetivos estipulados anteriormente foram
plenamente alcançados.
Considerando-se que o objetivo principal do trabalho foi analisar o papel do
empreendedorismo e sua influência na qualidade da oferta de serviços de saúde no
município de Teresina, pode-se dizer que o empreendedorismo de seus dirigentes
foi fator determinante para a composição do cluster. Com visão de negócio e
vislumbrando a oportunidade de auferir receitas com a criação dos primeiros
institutos previdenciários e, consequentemente, a inauguração dos primeiros
hospitais e clínicas privados do Piauí, gerou atualmente um serviço de qualidade à
população local, constituindo uma rede complexa de organizações em todas as
áreas da saúde, tendo ainda a comunidade de menor poder aquisitivo acesso a
serviços de qualidade através do SUS, que corresponde a 30% do faturamento das
instituições privadas da cidade.
Foi também observado o desenvolvimento de um cluster de saúde na cidade
onde há uma relação direta entre empresas de diversos segmentos, como hospitais,
laboratórios, indústria farmacêutica etc em uma mesma área da ciência e
concentração geográfica bem determinada, que se pode chamar de eficiência
coletiva, uma característica tipicamente empreendedora, segundo visto na revisão
da literatura. Este fato responde a questão norteadora por indicar a principal variável
que foi a formação do cluster que contribuiu para o aumento da qualidade de seus
serviços oferecidos.
Foi de extrema importância também a identificação e a análise de outras
variáveis que tornam Teresina um centro de referência em saúde, segundo os
gestores de saúde entrevistados partindo-se dos dados obtidos e apresentados no
Quadro 14, que apresentam os procedimentos de alta complexidade que são
realizados na cidade. Observou-se que realmente a capital piauiense é um cluster
em saúde e referência para todo meio norte do Brasil, pois a cidade oferece, desde
a medicina básica até a de alta tecnologia, em seus hospitais, clínicas e laboratórios.
Após a análise, é importante observar o papel do governo na composição,
manutenção e desenvolvimento do Polo de Saúde, que contribui para a manutenção
não só da rede privada de saúde de Teresina, beneficiando com isso a população
97
mais carente da cidade, cujos pacientes são atendidos e internados em hospitais
particulares com uma completa gama de recursos, como também oferecendo a
infraestrutura de acesso do Polo, essencial para sua consolidação.
De fato, é necessário refletir sobre a relação governo e iniciativa privada que
quando bem administrada, é de grande importância para o desenvolvimento da
localidade e, em especial, como é o caso, do Polo de Saúde de Teresina.
Ainda pode se concluir de acordo com os respondentes da pesquisa que o
Polo de Saúde tem seus aspectos competitivos que precisam ser devidamente
administrados pelas partes para se tornar ainda mais atraente para a oferta de novos
investimentos e competitividade em nível regional e nacional; aqueles aspectos nos
quais a saúde privada de Teresina está pior que suas concorrentes ou apresenta
deficiências importantes, entre os quais:
Os·estabelecimentos de hospedagem aos que vêm a Teresina para
tratamento de saúde, onde há insuficiência quantitativa e qualitativa,
além da falta de formalização do setor;
Aperfeiçoamento dos profissionais de saúde no que se refere fomento
à contínua promoção de cursos, graduação, pós-graduação, pesquisa
e educação continuada;
Estabelecimentos privados de ensino superior em aumento do
número de cursos e integração à rede de estabelecimentos de saúde
privada; Integração dos estabelecimentos de ensino, em especial as
Universidades Federal e Estadual, com a rede de saúde privada;
Coleta, transporte e tratamento do lixo hospitalar;
Concessão de incentivos à instalação de empresas relacionadas à
fabricação e esterilização de material descartável, roupas
profissionais, gases medicinais e medicamentos;
Organização de calendário de eventos científico-culturais, que reúnam
e promovam, simultaneamente, a produção científica em Saúde e a
cultura de Teresina;
Aspectos administrativo-financeiros dos estabelecimentos de saúde
que carece de modernização, especialmente na determinação de
custos;
98
Aspectos de estrutura física e tecnológica dos estabelecimentos de
saúde, onde é necessário dar continuidade à modernização, com
construções, reformas, informatização e aquisição de novos
equipamentos;
Relacionamento com Instituições financeiras e acesso a recursos
financeiros para a racionalização e direcionamento ao setor de saúde;
Áreas estruturadas do Polo de Saúde, onde há necessidade de
modernização, urbanização e segurança (limpeza, vigilância sanitária,
pavimentação, saneamento, paisagismo, telefones e banheiros
públicos, tráfego, transporte coletivo, táxis, sinalização,
estacionamento, atenção à locomoção de deficientes físicos,
policiamento e iluminação);
Cooperação entre as empresas e profissionais de saúde privada; é
necessário assimilar que o nosso concorrente encontra-se fora de
Teresina;
Divulgação externa de Teresina como Centro de Referência em
Saúde; e
Baixa remuneração praticada pelas Operadoras Privadas de Plano de
Saúde e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), relativo ao pagamento
dos diversos procedimentos médicos e cirúrgicos realizados pelos
hospitais particulares.
Enfim, pode-se concluir que a metodologia utilizada mostrou-se bastante
simples e eficaz em relação à identificação das variáveis empreendedoras em um
determinado segmento de mercado e à própria identificação e características da
formação de um cluster em uma determinada cidade ou região como foi proposta
nos seus objetivos específicos.
Considerando a continuidade das políticas de saúde privada atuais e a
estimativa da população de Teresina em 900 mil habitantes para 2016 (prevê-se
para a Grande Teresina um contingente de 1,3 milhão de pessoas e para sua área
de influência, um total de 5,5 milhões de habitantes), infere-se que será possível a
manutenção do atendimento da população com a qualidade, resolutividade e na
extensão dos moldes atuais.
99
A falta de recursos financeiros e a ausência de apoio governamental, a serem
mantidos tal como hoje ocorre em função da grave crise econômica no ano de 2016
enfrentada pelos entes públicos, acarretará, no futuro, desgastes não
adequadamente repostos na estrutura física e obsolescência dos equipamentos e
tecnologia da rede hospitalar e demais serviços de saúde de Teresina. Com isso, os
demais concorrentes externos aumentarão seu poder de atração e redirecionarão a
demanda atendida por nossa cidade, segundo opinião de alguns pesquisados.
Com o necessário apoio, o setor constitui-se âncora do desenvolvimento
socioeconômico de Teresina, a ameaça representada pela concorrência externa fica
minimizada e o atendimento à grande demanda das demais cidades do Piauí e de
outros estados fica garantida, também exemplo para cidades do porte de Teresina
se espelhar em seus empreendedores de sucesso como modelo a ser seguido de
acordo com as variáveis identificadas na pesquisa realizada.
Cidades como Imperatriz no Maranhão, distante cerca de 600 km de Teresina
e Juazeiro do Norte no vale do Canindé no estado do Ceará também distante cerca
de 630 km, tem buscado informações de como Teresina se consolidou como um
importante centro de saúde.
Não obstante com a ajuda do Governo do estado do Maranhão para fortalecer
o Cluster de Saúde de Imperatriz o governo vem investindo mais de 30 milhões de
reais em infra estrutura urbana e hospitalar para a cidade de Imperatriz atender mais
de 400 mil pessoas do entorno de 50 cidades ao seu redor, vindo técnicos do
governo do estado do Maranhão para Teresina estudar como está estruturado o
referido polo.
6.1 Sugestões para trabalhos futuros
Algumas sugestões e recomendações para trabalhos e pesquisas a serem
desenvolvidos futuramente, em nível de mestrado ou doutorado, poderão contribuir
em grande escala para incrementar e agregar maior valor quando se trata do
aspecto de formação do perfil empreendedor e variáveis que compõe um cluster.
Isso envolve um estudo detalhado voltado a questão financeira das instituições que
compõe o Polo de Saúde, visando verificar como está se comportando a gestão
financeira das instituições que compõe o Polo de Saúde, pois, na pesquisa de
campo, percebeu-se uma grande preocupação por parte dos gestores, tanto dos
100
hospitais e clínicas, quanto dos planos de saúde em relação à não atualização da
tabela de procedimentos médico-hospitalares, à renda da classe média do país
respectivamente.
Essa preocupação, no caso de Teresina, é realmente muito preocupante,
porque como já foi descrito nessa tese o faturamento do Polo de Saúde se restringe
a 70% dos planos de saúde e 30% dos recursos advindos do SUS.
101
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A – Roteiro das perguntas semi Estruturado
(Clínicas, Hospitais, Consultórios, Cursos e Hotéis envolvidos na pesquisa) UNIP Doutorado Engenharia de produção Acadêmico: Reinaldo de Araujo Lopes A entrevista busca orientar o doutorando em vários setores do trabalho.
1) Qual ano de nascimento do negócio?
2) Qual o principal fator que gerou interesse ao ramo?
3) Como foi a fase de desenvolvimento do negocio?
4) Qual o público-alvo atingido pela empresa
5) Há pontos fortes que já tornam o negocio consolidado?
6) Quais os pontos a serem trabalhados?
7) Como você analise o ramo da saúde na capital estudada?
8) De que forma foi estruturado o polo de saúde em Teresina?
9) È importante para seu negocio a consolidação do cluster de saúde?
10) Qual sua visão sobre o desenvolvimento do polo?
11) No seu entendimento quais são sua principais características
empreendedoras que ajudaram no desenvolvimento do polo?
12) O papel dos planos de saúde na composição dos polos em Teresina
13) Melhoria da infraestrutura dos polos
14) Visão de negocio em relação ao cluster
15) Estrutura e tecnologia
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ANEXOS
Anexo 1 – Imagens Ilustrativas do clusters de saúde em Teresina (PI)
Imagem 1 – Totem de identificação visual e geográfica do polo de saúde de Teresina
Imagem 2 – Hospital Estadual Getúlio Vargas – Precursor do polo de saúde de Teresina
Imagem 3 – Hospital São Marcos – Referencia em Oncologia em toda a Região Norte e Nordeste
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Imagem 4 – Hospital Ottorinos – Exemplo de descentralização do polo de saúde de Teresina para zona leste da cidade
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Imagem 5 – Projeto de mobilidade urbana desenvolvido pela Prefeitura para atender os usuários do polo de saúde em Teresina – agenda 2030 Prefeitura de Teresina
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