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Universidade Federal da Paraba
Centro de Tecnologia
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA URBANA E AMBIENTAL
MESTRADO
SUSTENTABILIDADE HIDROAMBIENTAL DE REAS DE
CAPTAES DE NASCENTES NA BACIA HIDROGRFICA DO RIO
GRAMAME/PB
Por
Eudes de Oliveira Bomfim
Dissertao de Mestrado apresentada Universidade Federal da Paraba para
obteno do grau de Mestre
Joo Pessoa Paraba Maro de 2013
Universidade Federal da Paraba
Centro de Tecnologia
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA URBANA E AMBIENTAL
MESTRADO
SUSTENTABILIDADE HIDROAMBIENTAL DE REAS DE
CAPTAES DE NASCENTES NA BACIA HIDROGRFICA DO RIO
GRAMAME/PB
Dissertao submetida ao Programa de Ps-
Graduao em Engenharia Urbana e
Ambiental da Universidade Federal da
Paraba, como parte dos requisitos para a
obteno do ttulo de Mestre.
Eudes de Oliveira Bomfim
Orientadora: Dra. Carmem Lcia Moreira Gadelha
Coorientador: Dr. Hamilcar Jos Almeida Filgueira
Joo Pessoa Paraba Maro de 2013
B695s Bomfim, Eudes de Oliveira.
Sustentabilidade hidroambiental de reas de
captaes de nascentes na bacia hidrogrfica do Rio
Gramame-PB / Eudes de Oliveira Bomfim.- Joo
Pessoa, 2013.
127f. : il.
Orientadora: Carmem Lcia Moreira Gadelha
Coorientador: Hamilcar Jos Almeida Filgueira
Dissertao (Mestrado) UFPB/CT
1. Engenharia urbana e ambiental. 2.
Sustentabilidade hidroambiental. 3. Nascentes. 4.
Bacia hidrogrfica.
UFPB/BC CDU:
62:711(043)
EUDES DE OLIVEIRA BOMFIM
SUSTENTABILIDADE HIDROAMBIENTAL DE REAS DE
CAPTAES DE NASCENTES NA BACIA HIDROGRFICA DO RIO
GRAMAME/PB
Dissertao aprovada em 25 de maro de 2013, como requisito para a obteno do ttulo de
Mestre em Engenharia Urbana e Ambiental, do Centro de Tecnologia da Universidade
Federal da Paraba.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Dra. Carmem Lcia Moreira Gadelha UFPB Orientadora
___________________________________________________
Dr. Hamilcar Jos Almeida Filgueira UFPB Coorientador
___________________________________________________
Dr. Cristiano das Neves Almeida UFPB Examinador Interno
___________________________________________________
Dr. Jos Wellington Carvalho Vilar IFSergipe Examinador Externo
Esmeralda Salom dos Santos Oliveira (in
memoriam) pela fora de viver e dedicao aos
filhos e netos. Por ter me ensinado os
primeiros passos e por ter profetizado que eu
seria o doutor da famlia. Estou caminhando para fazer valer a profecia.
Quem me leva os meus fantasmas
(Pedro Abrunhosa)
Aquele era o tempo
em que as mos se fechavam
e nas noites brilhantes as palavras voavam,
e eu via que o cu me nascia dos dedos
e a Ursa Maior eram ferros acesos.
Marinheiros perdidos em portos distantes,
em bares escondidos,
em sonhos gigantes.
E a cidade vazia,
da cor do asfalto,
e algum me pedia que cantasse mais alto.
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde a estrada?
Aquele era o tempo
em que as sombras se abriam,
em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
tropeava no riso, abraava venenos.
de costas voltadas no se v o futuro
nem o rumo da bala
nem a falha no muro.
E algum me gritava
com voz de profeta
que o caminho se faz
entre o alvo e a seta.
De que serve ter o mapa
se o fim est traado?
de que serve a terra vista
se o barco est parado?
de que serve ter a chave
se a porta est aberta?
de que servem as palavras
se a casa est deserta?
AGRADECIMENTOS
Ao Criador do Universo, razo da minha existncia. Obrigado pelo direito vida e por
ter me direcionado sempre pelo caminho do bem. Por ter colocado as pessoas certas ao meu
redor. Pela materializao deste sonho e por ele ter se concretizado exatamente do jeito que
foi. Agradeo a toda fora da natureza que acredito, por tudo que eu trago e que do bem, por
tudo que vem de Ti e por minha vida ter sido abenoada com tantas vitrias e alegrias.
A minha me, Anasilde Santos de Oliveira, mulher de poucas letras e, que nem por
isto, deixou de me apoiar para que eu alcanasse mais esta conquista. Acompanhou e esteve
presente comigo todos os dias desde que sa de Aracaju para Joo Pessoa. Saiba que eu tive
dias difceis, mas valeu e valer a pena. Obrigado por ser minha me!
A minha Orientadora, Dra. Carmem Lcia Moreira Gadelha, por toda pacincia,
gentileza, sabedoria e amizade. Obrigado por conduzir a orientao desta pesquisa e por ter
contribudo para que eu conseguisse viajar nos ensinamentos da Engenharia Ambiental.
Ao meu Coorientador, Dr. Hamilcar Jos Almeida Filgueira, por ter proposto este
estudo e por disponibilizar os dados do projeto Recuperao das Nascentes do rio
Gramame, imprescindveis para a realizao deste trabalho. Obrigado pelos ensinamentos e
por todos os conselhos.
Aos Professores do PPGEUA, Dr. Cristiano das Neves Almeida, Dr. Tarciso Cabral da
Silva, Dra. Cludia Nobrega Coutinho, Dr. Adriano Rolim da Paz, Dr. Celso Augusto
Guimares Santos, Dr. Gilson Barbosa Athayde Jnior, Dr. Rennio Felix Sena, Dr. Jocio de
Arajo Moraes Jnior e Dr. Nelson Caicedo por todas as discurses e esclarecimentos em sala
de aula e fora dela tambm. Muito obrigado!
Ao Governo do Estado de Sergipe, representado pelo Secretrio de Estado de
Recursos Hdricos e Meio Ambiente de Sergipe, Genival Nunes Silva, pela amizade e por ter
me dito um dia: Eudes, no frustre seus sonhos! Aqui estou caminhando para concretizar
um sonho que carrego em mim faz tempo. Obrigado Companheiro. Sem a sua ajuda, muita
coisa no aconteceria na minha vida profissional e acadmica. Que Deus te guarde sempre!!!
Dra. Jenny Dantas Barbosa, pelos ensinamentos e cares (e foram muitos!!!) quando
teimava em seguir outra trilha na vida. Pelos incentivos em todas as ordens, por ser mais que
uma professora para mim: uma tia-me-amiga que levarei pela eternidade da minha
existncia. Obrigado Tia Jenny, a senhora estava certa!
professora Ivanete Carvalho Rocha, pela contribuio especial, pois foste a primeira
a me encaminhar na seara da construo do conhecimento. Acreditou e guiou genuinamente
meu barco com essenciais conselhos de vida. Obrigado!
irm de muitas confisses e conselhos, Maria Jos dos Santos, foi contigo que
aprendi qual o verdadeiro sentido de se fazer uma ps-graduao. Pesquisas de campo, muitas
viagens pelo interior sergipano, culturas diferentes eu conheci ao seu lado, alm das muitas
noites em claro diagramando seus trabalhos ao som do que h de melhor da nossa MPB.
Obrigado por acreditar em mim!
A minha irm, Roberta de Oliveira Bomfim, por todo apoio quando precisei ingressar
no caminho da academia. Aos meus sobrinhos Ana Carolina e Jorge Vincius, e meu filho
Haziel Fontes, por me apresentarem uma vida mais alegre.
Famlia Roberts, da qual fao parte e com a qual tive o prazer de conhecer, conviver
e compreender muito bem o sentido do bem viver. Cada um de vocs me ensinou muito. So
quarenta e sete irmos do corao que Deus me deu e aos meus pais do corao, Etani Souza
Fontes e Jos Roberto de Souza, com os quais aprendi que a vida para se viver e ser feliz!
Obrigado por todos os puxes de orelha!
Ao Professor Dr. Jos Wellington Carvalho Vilar pelos conselhos, amizade, pacincia
quando eu fui seu orientando na graduao pelo Instituto Federal de Sergipe (IFS) e, quando
mais precisei enquanto escrevia esta pesquisa: um verdadeiro guru! Obrigado por todas as
nossas conversas!
Aos Professores do Instituto Federal de Sergipe Ana Patrcia Barretto Casado, Cludio
Roberto Braghini, Jorge Lus Sotero, Marcos Luciano Barroso, Ivonaldo, Aline Lima Alves
por todo conhecimento transmitido.
Administrao Estadual de Meio Ambiente de Sergipe, local onde fiz meu estgio.
Obrigado Dra. Marly Menezes Santos, Usiel Rios, Dirceu Benjamim, Regina Torres, Ana
Consuelo, Carlos Augusto Leo Ferreira, Daniela Figueiredo, Katiene Bacelar, Haiane,
Ubirajara Xavier, a todo pessoal que direta e indiretamente apoiou meus estudos.
A Wallace Batista dos Santos por todo apoio e ensinamentos de vida.
Aos Agentes de Segurana de Medidas Socioeducativas do Estado de Sergipe,
Sivaldo, Jotab, Marcos Vencius, Gilvan Ferreira, Tarciso Eder, Joozinho Popular e
Bruno Fabrcio, bravos homens, sobreviventes de um sistema complexo do qual tambm fao
parte. Obrigado por toda compreenso.
A Andrey Barbosa Dantas Souza pela pacincia e sugestes quando da elaborao da
planilha final para determinao do ndice de sustentabilidade de cada nascente estudada.
Aos Amigos Lus Henrique de Sousa da Silva e Jonisson Josenildo Alves Galvo
Jnior que dividiram apartamento comigo durante minha estada em Joo Pessoa. Vocs foram
especiais e necessrios nesta minha trajetria!
Aos Tcnicos do Laboratrio de Saneamento da UFPB que auxiliaram nas anlises de
qualidade da gua das nascentes estudadas: Jos Dorivaldo Florncio de Oliveira, Romildo
Henriques dos Anjos e Elson Santos da Silva. Obrigado por todo conhecimento transmitido.
imprescindvel ajuda dos bolsistas de PIBIC e Jovens Talentos, Jamille Amorim e
Diego Amorim. Vocs foram minhas mos direita e esquerda!
Aos amigos/irmos que me apoiaram para que eu conclusse este mestrado, Vislaine
Ferraz dos Santos Beato e Giovanni Beato, que mesmo longe do Brasil, estavam plugados a
mim.
Aos meus parentes do Recncavo Baiano, povo lindo, alegre e de uma malemolncia
incontestvel, aqui representados por tios e primos: Iaci, Henrique, Carla, Mileide, Aline, Z,
Davi, Patrcio, Renata, Ana, Mnica, Leonardo Tierry, talo, Anderson, Manuela enfim, a
famlia enorme... Estes sempre conectados via Internet ou celular, dando aquele apoio.
Saibam que vocs fizeram muita falta no meu dia-a-dia.
Foram tantas boas amizades que fiz na UFPB que destacarei algumas que vivenciaram
minha luta diria at a concretizao desta pesquisa: Franklin, Everton, Alexandre, rica,
Adriana, Elisngela, Cleyton, Marlia, Henrique, Evelyne, Diego Targino, Edilson, Marcela,
Amanda, Jaqueline, caro, Marcelo, Lucila, Rose, Samara, Mariana Moreira, Lus Romero,
Nicholas, Emanuela Falco, Erivone, Andra Karla... e por a vai... o LARHENA, obrigado!
A Amanda Castro pelas preciosas contribuies na reviso gramatical deste trabalho.
Coordenao do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Urbana e Ambiental
por todos os esclarecimentos quando precisei. Agradeo tambm as Secretrias do Programa,
Dona Marluce e Mirian. Obrigado!
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) pela bolsa
de estudos, muito til e importante para o desfecho deste estudo.
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Ciclo hidrolgico............................................................................... 22
Figura 3.1 Localizao da bacia hidrogrfica do rio Gramame.......................... 40
Figura 3.2 Bacia hidrogrfica do rio Gramame: localizao da rea do estudo. 41
Figura 3.3 Localizao das nascentes no alto curso da bacia hidrogrfica do
rio Gramame/PB................................................................................
42
Figura 3.4 Bacia sedimentar costeira Pernambuco-Paraba................................ 43
Figura 3.5 Estratigrafia da bacia sedimentar Paraba......................................... 44
Figura 3.6 Mapa geolgico da bacia hidrogrfica do rio Gramame................... 45
Figura 3.7 Curva hipsomtrica da bacia hidrogrfica do rio Gramame.............. 46
Figura 3.8 Municpio de Pedras de Fogo/PB: diviso por setores censitrios.... 48
Figura 4.1 Nascente Cabelo.............................................................................. 57
Figura 4.2 Construo de anel virio e a degradao ambiental da nascente
Cabelo..............................................................................................
58
Figura 4.3 Nascente Cacimba da Rosa............................................................... 59
Figura 4.4 Casa de farinha ( esquerda) e via de descarte da manipueira em
direo nascente Cacimba da Rosa ( direita)................................
60
Figura 4.5 Construo do anel virio a jusante de nascente Cacimba da Rosa.. 60
Figura 4.6 Nascente Nova Aurora...................................................................... 61
Figura 4.7 Assentamento Comunidade Nova Aurora e a rea de abrangncia
da nascente........................................................................................
62
Figura 4.8 Nascente Fazendinha......................................................................... 63
Figura 4.9 Assentamento Comunidade Fazendinha e a rea de abrangncia da
nascente.............................................................................................
64
Figura 4.10 Pedras de Fogo/PB: mapa de uso do solo.......................................... 87
Figura 4.11 Mapa de Risco de Contaminao da Bacia Hidrogrfica do rio
Gramame, por meio do DRASTIC e DRASTIC Modificado...........
88
LISTA DE GRFICOS
Grfico 4.1 Densidade domiciliar por setor censitrio........................................... 67
Grfico 4.2 Distribuio de habitantes alfabetizados por populao residente
nos setores censitrios.........................................................................
68
Grfico 4.3 Incidncia de diarreias agudas por rea de influncia da nascente..... 69
Grfico 4.4 Desempenho dos indicadores de sustentabilidade da dimenso
social (IDS).........................................................................................
71
Grfico 4.5 ndice final de sustentabilidade social das reas de estudo................. 73
Grfico 4.6 Desempenho dos indicadores de sustentabilidade da dimenso
econmica (IDE).................................................................................
77
Grfico 4.7 ndice final de sustentabilidade econmica das reas de estudo......... 78
Grfico 4.8 Precipitaes na BHRG Perodo de 2010-2012............................... 81 Grfico 4.9 Comportamento dos parmetros fsico-qumicos da gua das
nascentes (2010-2012).........................................................................
83
Grfico 4.10 Distribuio do tipo de abastecimento de gua................................... 90
Grfico 4.11 Destino dos efluentes sanitrios.......................................................... 91
Grfico 4.12 Destino dos resduos slidos............................................................... 91
Grfico 4.13 Desempenho dos indicadores de sustentabilidade da dimenso
ambiental (IDA)..................................................................................
97
Grfico 4.14 ndice final de sustentabilidade econmica das reas de estudo......... 98
Grfico 4.15 Desempenho dos indicadores de sustentabilidade da dimenso
institucional (IDI)................................................................................
102
Grfico 4.16 Dimenses da sustentabilidade das reas de captaes de nascentes
do rio Gramame...................................................................................
104
Grfico 4.17 Nvel de sustentabilidade hidroambiental das reas de captaes de
nascentes do rio Gramame..................................................................
105
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 Classificao ou magnitude de nascentes conforme a vazo.................. 23
Tabela 3.1 rea e identificao dos setores censitrios da pesquisa........................ 49
Tabela 3.2 Corolrio da sustentabilidade.................................................................. 55
Tabela 4.1 ndices da dimenso social das reas circunvizinhas s nascentes......... 65
Tabela 4.2 Nascentes por setor censitrio e a densidade demogrfica..................... 66
Tabela 4.3 Distribuio de alfabetizados por gnero e setor censitrio.................... 68
Tabela 4.4 reas dos tringulos e ndices finais da sustentabilidade social............. 72
Tabela 4.5 ndices da dimenso econmica das reas circunvizinhas s nascentes. 73
Tabela 4.6 Renda per capta por setor censitrio e por famlia.................................. 74
Tabela 4.7 rea dos tringulos e ndices finais da sustentabilidade econmica...... 78
Tabela 4.8 ndices da dimenso ambiental das reas circunvizinhas s nascentes. 79
Tabela 4.9 Valores mdios das medies de vazo das nascentes (2010-2012)....... 80
Tabela 4.10 Comportamento das precipitaes na bacia hidrogrfica do rio
Gramame (2010-2012)............................................................................
81
Tabela 4.11 Resultados das anlises microbiolgicas, determinao de coliformes
termotolerantes na gua das nascentes (2010-2011)...............................
89
Tabela 4.12 rea dos tringulos e ndices finais da sustentabilidade ambiental........ 98
Tabela 4.13 ndices da dimenso institucional das reas circunvizinhas s
nascentes..................................................................................................
99
Tabela 4.14 ndices finais da sustentabilidade institucional das reas
circunvizinhas s nascentes.....................................................................
103
LISTAS DE QUADROS
Quadro 2.1 Nascentes: principais definies............................................................. 21
Quadro 2.2 Ferramentas metodolgicas de determinao da sustentabilidade seus
escopos e esferas de atuao...................................................................
32
Quadro 2.3 As cinco dimenses do desenvolvimento sustentvel............................ 33
Quadro 3.1 Metodologia analtica adotada nas determinaes dos parmetros
fsico-qumicos das guas das nascentes................................................
50
Quadro 3.2 Composio do sistema de indicadores para avaliao da
sustentabilidade hidroambiental de reas circunvizinhas s captaes
de nascentes do rio Gramame/PB...........................................................
51
Quadro 4.1 Espcies florestais presentes em torno da nascente Cabelo.................. 93
Quadro 4.2 Espcies florestais presentes em torno da nascente Cacimba da Rosa... 93
Quadro 4.3 Espcies florestais presentes em torno da nascente Nova Aurora.......... 94
Quadro 4.4 Espcies florestais presentes em torno da nascente Fazendinha............ 95
Quadro 4.5 Indicadores e subindicadores que impulsionaram a sustentabilidade da
rea da nascente Nova Aurora................................................................
103
SUMRIO
1 INTRODUO........................................................................................................ 16
2 FUNDAMENTAO TERICA........................................................................... 20
2.1 Bacias Hidrogrficas como Unidade de Planejamento e Gesto...................... 20
2.2 As Nascentes de Rios........................................................................................ 21
2.2.1 Degradao e recuperao de nascentes.................................................. 23
2.2.2 Estudos de caso sobre degradao de reas de nascentes........................ 25
2.3 Sustentabilidade Ambiental: dos Indicadores aos ndices................................ 30
3 MATERIAIS E MTODOS.................................................................................... 40
3.1 rea de Estudo: Alto Curso do Rio Gramame.................................................. 40
3.1.1 Condicionantes fsicos............................................................................. 42
3.2 Diagnstico Ambiental..................................................................................... 46
3.3 Clculo do ndice de Sustentabilidade Ambiental............................................ 51
4 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS.................................................. 57
4.1 O Estudo Ambiental.......................................................................................... 57
4.2 Determinao e Anlise dos ndices e Indicadores por Dimenso................... 64
4.2.1 ndice de sustentabilidade social (ISS).................................................... 65
4.2.2 ndice de sustentabilidade econmica (ISE)........................................... 73
4.2.3 ndice de sustentabilidade ambiental (ISA)............................................. 79
4.2.4 ndice de sustentabilidade institucional (ISI).......................................... 99
4.3 ndice de Sustentabilidade Hidroambiental (ISH)............................................ 105
5 CONSIDERAES FINAIS.................................................................................. 107
REFERNCIAS....................................................................................................... 110
APNDICES............................................................................................................. 118
RESUMO
Este estudo objetivou determinar o nvel da sustentabilidade hidroambiental de reas
circunvizinhas s captaes de nascentes situadas na bacia hidrogrfica do rio Gramame,
municpio de Pedras de Fogo/PB. Para tanto, foi necessrio elaborar o diagnstico ambiental
da rea de estudo (entorno das nascentes); apresentar um sistema de avaliao da
sustentabilidade para essas reas de captaes; determinar o ndice e analisar a
sustentabilidade hidroambiental das reas pesquisadas. Foram escolhidas quatro nascentes
para o desenvolvimento desta pesquisa: Cacimba da Rosa e Cabelo, na zona periurbana;
Nova Aurora e Fazendinha, na zona rural. A metodologia utilizada para obteno do ndice de
sustentabilidade foi baseada nos trabalhos de Calrio (1997) e Daniel (2000). Utilizou-se o
grfico tipo radar, pelo qual foi possvel comparar de forma dinmica todas as variveis
pesquisadas. Assim, considerou-se quanto maior a rea do tringulo formado no grfico,
maior a sustentabilidade do indicador. A base de dados foi composta por pesquisas de campo,
anlises experimentais, informaes do projeto Restaurao de nascentes do rio Gramame/PB,
executado pela Universidade Federal da Paraba (UFPB), alm dos dados disponibilizados por
setores censitrios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Diante disso,
elaborou-se um quadro de indicadores para avaliao da sustentabilidade hidroambiental das
reas estudadas. Compem esse quadro vinte indicadores, distribudos em quatro dimenses:
social, econmica, ambiental e institucional. Foram atribudos pesos de 0 a 1 aos resultados
obtidos para cada indicador. Esse sistema de tratamento de dados foi desenvolvido atravs de
uma planilha eletrnica capaz de receber os dados e process-los automaticamente,
convertendo-os em ndices. Os ndices finais revelaram que a rea em torno da nascente Nova
Aurora obteve os melhores desempenhos de seus indicadores. A metodologia aplicada neste
estudo se destacou tanto pela facilidade de uso, quanto pela clareza na representao dos
resultados e pela mensurao da condio de sustentabilidade das reas. O sistema de
indicadores utilizado neste estudo deve embasar as tomadas de decises para melhorar a
sustentabilidade hidroambiental das nascentes e ser reaplicado para acompanhamento do
desempenho dos indicadores e seus ndices.
Palavras-chave: Sustentabilidade hidroambiental. Nascentes. Bacia hidrogrfica.
ABSTRACT
This study has aimed to determine the hydro-environmental sustainability areass level surrounding the springs located in the Gramame basin river, Pedras de Fogo/PB. Therefore, it
was necessary to develop an environmental diagnosis of the study area (around the springs);
present a system of sustainability assessment for those catchment areas; determine the
springs sustainability index and analyze the hydro-environmental sustainability of the areas surveyed. Four springs were chosen for the development of this research: Cacimba da Rosa e
Cabelo, in the intermediate zone between urban and rural; Nova Aurora e Fazendinha, in the
contryside. The methodology used to obtain the sustainability index was based on the work of
the Calorie (1997) and Daniel (2000). It was used the radar chart type, by which it was
possible to dynamically compare all variables. Thus, it was considered that the larger of the
area in the triangle formed on the chart, greater is the indicator sustainability. The database
was composed of field research, experimental analyzes, information from the springs Restoration project of the river Gramame/PB, run by the Federal University of Paraba
(UFPB), in addition to census data released by the Brazilian Institute of Geography and
Statistics (IBGE). Therefore, it was elaborated a framework of indicators to assess the hydro-
environmental sustainability of the areas studied. Comprise this framework twenty indicators,
divided into four dimensions: social, economic, environmental and institutional. Weights
were assigned 0-1 for the results obtained for each indicator. This treatment system was
developed using data from a spreadsheet able to receive the data and process them
automatically, converting them into indices. The final indices revealed that the area around
the Nova Aurora spring got the best performances of their indicators. The methodology
applied in this study stood out both for the ease of use, as the clarity in the representation of
the results by measuring the condition and sustainability areas. The system of indicators used
in this study should contribute to support the decision-making to improve the hydro-
environmental sustainability of the springs and be reapplied to monitor the indicators
performance and their indices.
Keywords: Hydro-environmental sustainability. Springs. River basin.
INTRODUO
S sentirs falta da tua gua quando o poo secar.
(Bob Marley)
16
1 INTRODUO
O Relatrio de Desenvolvimento Humano elaborado pelo Programa das Naes
Unidas para o Desenvolvimento destacou que, nas ltimas dcadas, em diversas partes do
mundo, considerveis reservas de gua doce esto sendo degradadas (PNUD, 2006). O
desmatamento, a retirada de matas ciliares, a prtica da agricultura irrigada com uso de
agrotxico e a pecuria sem apoio tcnico, aliados expanso da zona urbana, aos resduos
domsticos e industriais lanados de forma inadequada no meio ambiente so as principais
causas de alteraes na quantidade e na qualidade dos recursos hdricos disponveis nas bacias
hidrogrficas.
Assim, enfrentando um imenso espectro de crescente escassez de suprimento de gua
de qualidade satisfatria e em quantidade adequada, os planejadores sociais e tomadores de
deciso buscam estratgias para a gesto sustentvel dos recursos hdricos centralizadas,
especialmente no uso da gua para o consumo humano, de modo a no provocar problemas de
disponibilidade para as futuras geraes. Por esse motivo, a questo de sustentabilidade
comea com trabalhos de campo que visam recuperao e preservao das reas de
afloramentos do lenol fretico, tambm chamadas de nascentes, que do origem aos
mananciais que abastecem as zonas urbanas e rurais.
De acordo com Lima (1996), a preservao de nascentes est relacionada com o
manejo da bacia hidrogrfica, visto que existe uma inter-relao entre o uso da terra, o solo e
a gua. Para Calheiros et al. (2004), o manejo de bacias hidrogrficas deve contemplar a
preservao e melhoria da gua quanto quantidade e qualidade, alm de seus interferentes
em uma unidade geomorfolgica da paisagem como forma mais adequada de manipulao
sistmica dos recursos de uma regio.
Segundo Vieira (1996), alguns princpios bsicos dos sistemas integrados de gesto
hdrica foram identificados, entre eles podem ser destacados: a utilizao da bacia
hidrogrfica como unidade de planejamento e gesto; a gua como bem natural limitado,
essencial vida e, portanto, de valor econmico; a indissociabilidade dos aspectos
qualitativos e quantitativos dos recursos hdricos.
No estado da Paraba a bacia hidrogrfica do rio Gramame tem importncia
fundamental por ser responsvel por cerca de 70% do abastecimento de gua da Grande Joo
Pessoa, compreendendo as cidades de Joo Pessoa (capital do Estado), Cabedelo, Bayeux e
parte de Santa Rita, alm de abastecer os municpios de Pedras de Fogo e Conde, cujas sedes
17
esto inseridas no espao da bacia hidrogrfica, e vrias comunidades ribeirinhas. Nessa
bacia, a alterao do regime de fluxo da gua devido ao uso crescente e sem controle do solo
para a agricultura identificada como uma das principais causas da degradao ambiental
(COELHO, 2011; LINHARES, 2012).
A bacia hidrogrfica do rio Gramame apresenta uma srie de conflitos sendo os que
envolvem a disponibilidade de gua para a irrigao e o abastecimento humano os mais
notveis. Registram-se, tambm, conflitos entre a atividade de pesca e a industrial por causa
da qualidade da gua. Tudo isso ocorre porque essa bacia hidrogrfica atende a demanda de
mltiplos usos de gua, como agricultura irrigada, indstria, lazer, piscicultura, dessedentao
de animais e abastecimento pblico (PARABA, 2000). Alm do mais, de acordo com Coelho
(2011), cerca de 50% da rea da bacia ocupada por culturas da cana-de-acar e abacaxi
onde so aplicados, inadequados ou indiscriminadamente, fertilizantes sintticos e agrotxicos
(inseticidas, fungicidas e herbicidas) nas proximidades de nascentes. Dessa forma, nascentes
de importantes rios, como o Gramame, esto em estado de degradao crescente pela ao
antrpica.
Diante desse cenrio, e considerando a importncia das nascentes na formao de rios,
este estudo tem como objetivo principal determinar o nvel de sustentabilidade hidroambiental
nas reas circunvizinhas s captaes das nascentes Cacimba da Rosa, Cabelo, Nova Aurora
e Fazendinha na bacia hidrogrfica do rio Gramame, no municpio de Pedras de Fogo/PB.
Para tanto, foram definidos os seguintes objetivos especficos:
Elaborar o diagnstico ambiental da rea de estudo (entorno das nascentes);
Apresentar um sistema de avaliao da sustentabilidade hidroambiental para as reas
de captaes das nascentes;
Determinar o ndice de sustentabilidade hidroambiental das nascentes estudadas;
Analisar a sustentabilidade hidroambiental das reas pesquisadas.
Esta dissertao encontra-se estruturada em cinco partes. Na primeira contextualiza-se
a temtica abordada, como tambm se estabelecem os objetivos que nortearam este estudo.
Na segunda parte discorre-se sobre os fundamentos tericos onde apresentada uma
reviso da literatura sobre as bacias hidrogrficas como unidades de planejamento e gesto, as
nascentes e suas caractersticas principais, alm de revisitar os cenrios nacional e
internacional sobre a degradao e recuperao de nascentes.
18
Nos materiais e mtodos so apresentadas as caractersticas fisiogrficas da rea de
estudo. Trata-se ainda nesta parte acerca da tipologia da pesquisa, coleta de dados, tratamento
e forma de anlise dos resultados. Tambm se descreve o passo-a-passo que visou tornar mais
bem compreensveis os meandros da formulao e escolha de indicadores, para compor o
sistema de avaliao de sustentabilidade hidroambiental, com a representao numrica de
ndices, principal abordagem desta dissertao.
Na quarta parte apresentada a anlise do diagnstico ambiental e os resultados
obtidos na determinao dos padres fsico-qumicos e bacteriolgicos da gua das nascentes
e a quantificao da produo de gua, seguido da discusso sobre o ndice final de
sustentabilidade hidroambiental das reas circunvizinhas s nascentes Cacimba da Rosa,
Cabelo, Nova Aurora e Fazendinha.
Na quinta e ltima parte encontram-se as consideraes e sugestes do estudo, com
base nos resultados e discusses obtidos.
FUNDAMENTAO TERICA
Eu e gua
(Caetano Veloso)
A gua arrepiada pelo vento,
A gua e seu cochicho,
A gua e seu rugido,
A gua e seu silncio.
A gua me contou muitos segredos,
Guardou os meus segredos,
Refez os meus desenhos,
Trouxe e levou meus medos.
A grande me me viu num quarto cheio
dgua, Num enorme quarto lindo e cheio dgua, E eu nunca me afogava.
O mar total e eu dentro do eterno ventre,
E a voz do meu pai, voz de muitas guas,
Depois o rio passa.
Eu e gua, eu e gua,
Eu.
Cachoeira, lago, onda, gota,
Chuva mida, fonte, neve, mar.
A vida que me dada,
Eu e gua.
gua,
Lava as mazelas do mundo
E lava a minha alma.
20
2 FUNDAMENTAO TERICA
2.1 Bacias Hidrogrficas como Unidade de Planejamento e Gesto
No Brasil, o uso da bacia hidrogrfica como unidade de planejamento e gesto foi
institucionalizado a partir da promulgao da Lei Federal no 9.433/1997, que estabeleceu a
Poltica Nacional de Recursos Hdricos. Contudo, j a partir dos anos 80, pesquisadores como
Christofoletti (1980), adotavam nos seus estudos a bacia hidrogrfica como tal, pois
observavam que os acontecimentos que ocorriam na rea de drenagem repercutiam, direta ou
indiretamente, nos rios.
De acordo com Santos (2004), o conceito de bacia hidrogrfica est associado noo
de sistema, nascentes, divisor de guas, cursos de guas hierarquizados e foz. Assim, os
fenmenos ocorridos dentro de uma bacia, sejam eles de origem natural ou antrpica,
interferem na dinmica do sistema, na quantidade e qualidade dos cursos de gua. As medidas
de algumas de suas variveis (solo, clima, vegetao, relevo, entre outros) permitem
compreender a soma desses fenmenos. Esse um dos aspectos que levam os planejadores a
escolher a bacia hidrogrfica como uma unidade de gesto, bem como, por ser um sistema
natural bem delimitado no espao, onde as interaes fsicas so integradas e, portanto, mais
fceis de serem compreendidas, espacializadas e caracterizadas, acrescenta a autora
referenciada.
Para Vilaa et al. (2009), a adoo da bacia hidrogrfica como unidade de
planejamento o princpio bsico que avana na gesto dos recursos hdricos, pois diante dos
limites da rea a ser planejada fica mais fcil fazer o confronto entre as disponibilidades e as
demandas, essencial para o estabelecimento do seu planejamento e gesto.
Na viso de Souza et al. (2009), o planejamento e a gesto dos recursos hdricos tm a
finalidade de servir como guia para a implementao de polticas de controle e definio de
prioridades na resoluo de problemas. Tambm visa garantir a quantidade e a qualidade da
gua. J Vilaa et al. (2009) vo mais alm ao afirmar que o planejamento e o gerenciamento
integrado de bacias hidrogrficas deve proporcionar uma viso abrangente do territrio
incluindo polticas pblicas, tecnolgicas e de educao, com o intuito de promover um
processo de longo prazo com participao de usurios, de autoridades, do pblico em geral e
tambm das organizaes e instituies pblicas e privadas.
21
Segundo Carmo e Diego (2010), usando a bacia hidrogrfica como unidade de
planejamento, devem-se considerar duas fases: a primeira de implementao que segue o
plano de objetivos, as opes e o zoneamento em larga escala das prioridades no uso
integrado do solo, agricultura, pesca, conservao, recreao e usos domsticos e industriais
da gua; na segunda fase deve-se seguir a interpretao, que se destaca pela capacidade de
gerenciar conflitos resultantes dos usos mltiplos e a interpretao de informaes existentes
de forma a possibilitar a montagem de cenrios de longo prazo, incorporando uma perspectiva
de desenvolvimento sustentvel.
Nesse contexto, o planejamento ambiental em bacias hidrogrficas atua no sentido de
minimizar os impactos negativos das aes antrpicas, estabelecendo relaes entre as
atividades da sociedade e o meio ambiente, mantendo a integridade desses elementos
(OLIVEIRA, 2009). Assim, fazem parte tambm do arcabouo de conhecimentos associados
gesto ambiental tcnicas para a recuperao de reas degradadas e nascentes de rios,
tcnicas de reflorestamento, mtodos para a explorao sustentvel de recursos naturais, e o
estudo de riscos e impactos ambientais para a avaliao de novos empreendimentos ou
ampliao de atividades produtivas (REIS JNIOR, 2009 apud OLIVEIRA, 2009).
2.2 As Nascentes de Rios
O entendimento do fenmeno da ocorrncia de nascentes de rios envolve
conhecimentos das reas de geologia, geomorfologia, hidrologia, solos e vegetao. Por isso,
existem diversas definies para elas. Algumas consideram como do tipo pontual, distribudas
ou difusas, outras apresentam um enfoque puramente hidrolgico. O Quadro 2.1 apresenta as
principais definies encontradas na literatura.
Quadro 2.1 Nascentes: principais definies
AUTOR DEFINIO
Davis (1966) Qualquer descarga superficial natural de gua grande o suficiente para formar
pequenos crregos.
Daker (1983) Afloramentos ou manifestaes do lenol na superfcie do solo, especialmente em
uma encosta ou depresso do terreno.
Resoluo CONAMA no
303/2002
Local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a gua
subterrnea.
Valente e Gomes (2005) Manifestaes superficiais de lenis subterrneos dando origem a cursos dgua.
Roma (2008) Conhecidas como minas dgua, olhos dgua, cabeceiras e fontes, so os pontos na superfcie do terreno de onde escoa a gua de lenis subterrneos.
Felippe et al. (2009) um sistema ambiental natural marcado por uma feio geomorfolgica ou
estrutura geolgica em que ocorre a exfiltrao da gua subterrnea de forma
perene ou intermitente, formando canais de drenagem a jusante que a inserem na
rede de drenagem da bacia.
Fonte: Cabral da Silva et al. (2011).
22
luz desses conceitos pode-se afirmar que os fluxos de base que sustentam as
nascentes, provenientes do ciclo hidrolgico (Figura 2.1) e, consequentemente, dos lenis
subterrneos tm grande importncia no s temporal, mas tambm espacial, pois, so
capazes de possibilitar que todos os usurios de gua da bacia hidrogrfica, inclusive os das
cabeceiras, tenham gua nos meses mais secos do ano (VALENTE; GOMES, 2005).
Figura 2.1 Ciclo hidrolgico
Fonte: Calheiros et al., 2004.
Castro (2007) classifica as nascentes tanto pelo regime de gua, quanto pelo tipo de
reservatrio a que esto associadas. Quanto ao regime de guas so: perenes, quando
apresentam fluxo de gua contnuo, inclusive na estao seca; temporrias quando apresentam
fluxo durante a estao chuvosa; e efmeras quando surgem durante um perodo chuvoso,
permanecendo durante alguns dias e desaparecendo logo em seguida. Quanto ao tipo de
reservatrio os lenis freticos do origem s nascentes de encosta e s difusas. A nascente
de encosta ou pontual ocorre devido inclinao da camada impermevel ser menor que a da
encosta, ocasionando o encontro delas em um determinado ponto do terreno, que constitui a
nascente ou olho dgua. A nascente difusa formada quando a camada impermevel do solo
situa-se paralela parte mais baixa e plana do terreno e, devido proximidade com a
superfcie, o fluxo dgua resulta do aumento no nvel do lenol fretico, fazendo com que
este nvel atinja superfcie do solo. Isto provoca o encharcamento do solo, originando o
surgimento de um grande nmero de pequenas nascentes por toda a rea.
23
Dessa forma, entende-se que no manejo de bacias hidrogrficas a preservao e
recuperao da vegetao ciliar nas reas de nascentes, nas margens de cursos dgua e nas
regies de recarga dos aquferos so aes primordiais para a produo de gua. Observa-se,
por meio da Tabela 2.1 a seguir, a classificao ou magnitude de nascentes conforme a vazo.
Tabela 2.1 Classificao ou magnitude de
nascentes conforme a vazo
Classe ou Magnitude Vazo (L/min)
1 > 170.000
2 17.000 170.000 3 1.700 17.000 4 380 1.700 5 38 380 6 4 38 7 0,6 4 8 < 0,6
Fonte: Meizer (1975, apud GOMES; VALENTE,
2005).
A vazo de um curso dgua definida por Christofoletti (1981) como a quantidade de
gua que flui por uma seo transversal do canal por unidade de tempo. O autor explica ainda
que ocorrem alteraes na vazo em funo de eventuais perdas e ganhos de gua pelo
sistema fluvial ao longo do perfil longitudinal dos rios. Dessa maneira, a gua que segue no
exutrio de uma bacia hidrogrfica uma resultante complexa da vazo das nascentes
associadas s perdas por infiltrao e evaporao, alm dos ganhos por exfiltrao e
pluviosidade. Assim, a degradao e o uso inadequado de bacias hidrogrficas podem
acarretar srios problemas ambientais. Conforme Castro (2007) a vazo de uma nascente
pode, pelo mau uso, ser reduzida ao longo do tempo.
2.2.1 Degradao e recuperao de nascentes
A supresso da vegetao, as atividades agropecurias e o uso inadequado do solo so
causas do processo de degradao de nascentes e corpos hdricos, fatores que interferem na
qualidade e quantidade da gua produzida numa bacia hidrogrfica. Nesse contexto, so
exemplos de fatores causadores da degradao ambiental, relacionados agricultura: a
inaptido do ambiente, a compactao e o preparo imprprio do solo, a monocultura, a
irrigao inadequada, o superpastejo e a cobertura de solo insuficiente (KOBIYAMA et al.,
2008).
As queimadas tambm causam srios danos s florestas e outros tipos de vegetao.
Segundo Castro (2007), as principais consequncias so refletidas nos solos, como a
destruio de matria orgnica das camadas superficiais e a eliminao dos microrganismos
24
decompositores. Alm disso, o superpastejo de bovinos tambm deve ser levado em
considerao, j que pode resultar na compactao da camada do solo, comprometendo o
processo de infiltrao de gua da chuva no terreno (DAVIDE et al., 2000). Destacam-se
ainda que todas as atividades desenvolvidas no entorno de nascentes infringem a legislao
ambiental prevista no Cdigo Florestal Brasileiro (BRASIL, 2012), pois essas reas so
consideradas como de preservao permanentes (APPs).
De maneira geral, ao analisar o panorama atual de nascentes, Castro e Gomes (2001)
verificaram:
a reduo do nmero de nascentes em uma mesma bacia hidrogrfica;
a vazo que brota de cada nascente est diminuindo ao longo do tempo;
o aterramento de nascentes como tambm a contaminao por defensivos
agrcolas;
deslocamento de nascentes para partes mais baixas.
Quanto ao estado das nascentes, Pinto et al. (2004) classificam-nas em trs categorias:
preservadas, perturbadas e degradadas.
Preservadas: quando apresentaram pelo menos 50 metros de vegetao natural no
seu entorno, medidas a partir do olho dgua em nascentes pontuais ou a partir do
olho dgua principal em nascentes difusas;
Perturbadas: quando no apresentaram 50 metros de vegetao natural no seu
entorno, mas com bom estado de conservao;
Degradadas: quando apresentaram um alto grau de perturbao, muito pouco
vegetada, solo compactado, presena de gado, com eroses, assoreamento e
voorocas.
Esse cenrio agravado devido s formas de degradao visveis no meio ambiente,
tais como: corte intensivo das florestas nativas, queimadas, pastoreio intensivo, planejamento
inadequado na construo de estradas, loteamentos em locais imprprios, reflorestamento sem
planejamento, bem como pelas diversas fontes de contaminao que comprometem
qualidade das fontes de gua lmpidas.
Segundo Silva (2002) esses fatores comprometem qualidade da gua alm de
causarem uma srie de alteraes ao longo do rio. Para Tundisi (2003), as aes do homem
25
que interferem nos ciclos naturais e na disponibilidade de gua de boa qualidade tm
comprometido sustentabilidade dos recursos hdricos.
Assim, toda ocorrncia de eventos em uma bacia hidrogrfica, de origem antrpica ou
natural, interfere na dinmica desse sistema. Dessa forma, us-la adequadamente trar
benefcios para toda a unidade, principalmente s nascentes. Proteg-las significa contribuir
para o aumento da quantidade e da qualidade de gua nos reservatrios naturais.
2.2.2 Estudos de caso sobre degradao de reas de nascentes
As nascentes apresentam notvel importncia ambiental, visto que so essenciais para
a formao de toda a malha hidrogrfica da Terra. Assim, qualquer curso dgua depende das
nascentes. Alm disso, existe tambm a importncia econmica e social, j que so utilizadas
para irrigao agrcola e abastecimento pblico. A sua degradao altera a vazo dos cursos
dgua, afeta a qualidade da gua alm de prejudicar toda a biota que depende dessas fontes
para sua sobrevivncia. Medidas de proteo para as reas de nascentes possibilita o
ressurgimento das espcies nativas; aumento natural de vazo dos cursos dgua; novo habitat
para a fauna e valorizao das reas restauradas.
Segundo os autores Soares et al. (2010), Ferreira et al. (2009), Menezes et al. (2009),
Ferreira et al. (2011), Cabral da Silva et al. (2011), Koperski et al. (2011), Bruins et al.
(2012), Fry et al. (2012), Mora et al. (2013) entre outros, as nascentes tm sido objeto de
estudo de vrios pesquisadores no Brasil e no mbito internacional desde o incio do sculo
XXI. Apresentam-se, a seguir, alguns estudos que tratam da degradao de reas de nascentes,
comprometimento de vazo, alm de casos que envolvem biodiversidade e sua preservao.
Soares et al. (2010) estudaram impactos decorrentes das presses antrpicas sobre trs
nascentes da sub-bacia hidrogrfica do crrego do Caet/MT. Duas delas esto situadas na
zona rural do distrito de Sonho Azul, em Mirassol DOeste/MT (nascentes Z Cassete e
Carnaba). A terceira, a nascente do crrego Terer, localiza-se no permetro urbano de So
Jos dos Quatro Marcos-MT. Concluram que a nascente do crrego Carnaba apresentou-se
mais preservada, fato corroborado pelas condies de uso e atributos naturais do entorno. Por
outro lado, na nascente do crrego Z Cassete, observaram o maior estado de degradao
ocasionado pelo uso da rea do entorno para prticas de cultivo de cana-de-acar, o que
provocou uma reduo considervel na qualidade do solo. J a nascente do crrego Terer,
que de fundamental importncia para as comunidades, perdeu praticamente todas suas
26
caractersticas naturais. Para os pesquisadores supracitados, nas nascentes rurais do distrito de
Sonho Azul, as atividades econmicas ligadas criao de gado participam decisivamente na
variao da vazo, indicando que os setores que desenvolvem o pastoreio, o volume de gua
diminui com maior evidncia.
Em outra pesquisa realizada por Soares (2009), as mesmas nascentes citadas foram
estudadas com o objetivo de verificar a dinmica da vazo, as caractersticas da calha
(batimetria) e a qualidade da gua, relacionando essas informaes s condies atuais dessas
fontes. Foi realizado o monitoramento sazonal dos aspectos da hidrodinmica e a coleta de
amostras de gua para anlise em laboratrio. Constatou-se que as melhores condies de
suporte e de qualidade da gua ocorreram na nascente do crrego Carnaba, o que demonstrou
o papel decisivo que a cobertura vegetal da rea pode desempenhar na sua manuteno e
capacidade de resilincia s presses de atividades econmicas desenvolvidas na
circunvizinhana. Esse resultado refora as concluses de Soares et al. (2010) de que a
preservao contribui para manter a qualidade das nascentes e que a forma de uso da terra no
seu entorno constitui fator decisivo na hidrodinmica e na qualidade da gua nos regimes de
seca e cheia na regio.
O trabalho de Ferreira et al. (2009) teve como objetivo avaliar a dinmica da
regenerao natural em duas nascentes em processo de recuperao no municpio de Lavras
na regio sul do estado das Minas Gerais, assim caracterizadas: nascente 1, engloba uma rea
formada por trs nascentes difusas com 4,7 ha, situada no Campus da Universidade Federal de
Lavras (UFLA) e nascente 2, difusa com vrios pontos de escoamento formando um brejo,
localizada em propriedade particular vizinha UFLA.
Essas nascentes foram classificadas quanto ao estado de conservao como
perturbadas em diferentes estgios, pois estavam ocupadas com pastagem (capim, Brachiaria
sp.), sendo constante a presena de gado. Na caracterizao do solo foram realizadas anlises
qumicas e textural, compactao e umidade. Para o levantamento florstico fitossociolgico
foram realizados dois inventrios posteriores ao isolamento das reas no ano de 2003.
Concluram que as nascentes se apresentam em estgio de recuperao, sendo que na de
nmero 2, o processo estava mais avanado quando comparada nascente 1. Os autores
ressaltaram que, nas reas prximas nascente 1 existiam algumas espcies de eucaliptos
(Eucalyptus sp.) e pinheiro (pinus sp.), enquanto que prximo nascente 2, havia um pequeno
fragmento remanescente de floresta. Por ltimo, verificaram que o cercamento das nascentes
27
contribuiu sobremaneira para o processo de recuperao das reas, mesmo em se tratando de
um curto perodo de tempo para avaliao.
Resende et al. (2009) estudaram as nascentes da bacia hidrogrfica do Crrego-Feio,
municpio de Patrocnio, Minas Gerais, para diagnosticar as condies de degradao e os
principais fatores de impacto ambiental sobre as reas de Preservao Permanente (APPs) e
tambm sugerir aes prioritrias de recuperao e preservao das reas. Para avaliar o grau
de conservao, as APPs foram divididas em quatro quadrantes e, com o auxlio de uma
trena, medidos at 50 metros a partir do ponto principal do afloramento da gua. Cada
quadrante foi avaliado quanto rea de cobertura vegetal de floresta e a presena de fatores
de perturbao.
As nascentes foram classificadas em trs categorias: (1) Nascentes em bom estado de
preservao (NPre) aquelas que apresentaram todos os quadrantes com total cobertura
vegetal e ausncia de fatores de perturbao; (2) Nascentes perturbadas (NPer) aquelas que
apresentaram pelo menos um dos quadrantes com cobertura vegetal parcial, e ou com
presena de fatores de perturbao; e (3) Nascente degradada (NDeg) aquelas nas quais em
pelo menos um dos quadrantes a cobertura vegetal estava totalmente ausente. O resultado da
pesquisa mostrou que 14 nascentes (20% do total estudado) foram classificadas como NPre,
44 (63%) como NPer e 12 (17%) como NDeg.
Conforme esse estudo, as nascentes consideradas em bom estado de preservao
tiveram prioridade em estudos florsticos e fitossociolgicos para o conhecimento da
vegetao local e orientao para programas de recuperao de reas degradadas. Para essas
nascentes a ao recomendada foi a manuteno do atual estado de preservao. J as
nascentes consideradas perturbadas tiveram como principal fator de perturbao a atividade
agropecuria no seu entorno. Os autores assinalaram que nos planos de recuperao dessas
reas perturbadas considerassem modelos de reflorestamento que acelerassem o ganho de
biomassa, mas, principalmente, auxiliassem no processo de drenagem das guas pluviais de
forma a minimizar o impacto do assoreamento das nascentes e maximizar a reposio hdrica
dos lenis freticos.
Os casos mais crticos de degradao foram observados nas nascentes onde a cobertura
vegetal estava totalmente ausente em pelo menos um dos quadrantes avaliados e, na maioria
dos casos, foram quase ou totalmente substitudas por pastagens ou reas de cultivo. Nesses
casos, fez-se necessrio um processo de adequao legal das APPs pelo proprietrio, o que
28
podia ser efetivado por meio de aes de educao ambiental com destaque para a
importncia da manuteno e manejo adequado das reas (RESENDE et al., 2009).
Menezes et al. (2009) realizaram um trabalho com o intuito de analisar a dinmica
hidrolgica de duas nascentes na sub-bacia hidrogrfica do Ribeiro Lavrinha/MG com
distintas coberturas vegetais, isto , uma sob mata nativa (Mata Atlntica) e a outra, sob
pastagem. Para analisar o funcionamento dessas reas de recarga, as vazes especficas foram
mensuradas ao longo do perodo seco, as caractersticas pedolgicas e de declive foram
levantadas, alm da variabilidade espacial da densidade do solo, condutividade hidrulica,
porosidade drenvel e matria orgnica. Segundo estes autores, alm dos aspectos associados
s classes de solos, consideraram a influncia do balano hdrico na sub-bacia hidrogrfica e o
tipo de cobertura vegetal predominante, com excedentes hdricos consideravelmente elevados,
o que contribui de forma significativa para o escoamento de base na regio.
As concluses que chegaram Menezes et al. (2009) foram observadas por Pinto et al.
(2004) quando encontraram maiores vazes nas nascentes em reas de mata nativa em relao
s pastagem. Segundo esses autores, a mata nativa propiciou uma maior infiltrao das guas
das chuvas no solo, com consequente recarga de aquferos e alimentao das nascentes,
impedindo que essas guas fossem drenadas para o leito dos rios. Castro et al. (2006) tambm
tinham destacado a importncia das florestas para a estabilidade das vertentes formadoras de
nascentes por aumentar a infiltrao da gua no solo e diminuir a eroso hdrica.
No estado de Sergipe, Ferreira et al. (2011) realizaram um diagnstico das principais
nascentes da sub-bacia hidrogrfica do rio Poxim, formada pelos rios Poxim-Mirim, Poxim-
Au, Pitanga e seus pequenos tributrios, com o objetivo de classificar as nascentes quanto ao
fluxo de gua e estado de conservao, apresentar informaes sobre a composio florstica e
uso dos solos, visando subsidiar futuros programas de restaurao. Concluram que das 20
nascentes pesquisadas, 90% apresentaram significativa antropizao. A maioria delas (65%)
com elevada degradao (sem vegetao num raio mnimo de 50m no entorno); prticas de
atividades agrcolas em 50% e pastagem em 35% delas. Somente duas nascentes foram
classificadas como preservadas, pois apresentavam vegetao num raio mnimo de 50 m em
seu entorno.
No vale do Arava, na regio de Israel, Bruins et al. (2012) investigaram a situao de
algumas nascentes, em termos de fluxo de gua e de cobertura vegetal, levando em
considerao os fatores climticos e antropognicos. Eles usaram uma metodologia para
determinar o grau de aridez da regio. Tambm mensuraram a vazo das nascentes, a
29
salinidade e a cobertura vegetal. Uma das nascentes estudadas foi a de Ein Tamar, que tinha
vazo de 60-70 m/h em 1942, passou em 2010 para, aproximadamente, 1m/h, o que
representou uma diminuio de mais de 6.000%. Constataram ento, que essa reduo
drstica deveu-se a duas comunidades agrcolas prximas, como tambm presena de poos
da companhia de abastecimento local. Assim, perceberam que os impactos antropognicos
foram fatores determinantes para a degradao dessa nascente. Verificaram ainda que
aumento da aridez ocorrido na regio foi um fator determinante na reduo de vazo. Todos
esses fatores foram significantes no processo de degradao das reas de nascentes.
Fry et al. (2012) realizaram uma pesquisa sobre a sustentabilidade das fontes de gua
da regio do Alto Beni, na Bolvia, avaliando os efeitos dos impactos do desenvolvimento
local e das mudanas climticas. Para isso, levantaram dados como densidade populacional,
reas ocupadas pela agricultura na bacia hidrogrfica e nmero de famlias atendidas com
abastecimento de gua e saneamento. De acordo com o modelo de equilbrio da gua
utilizado, estimaram a disponibilidade hdrica em determinados cenrios, considerando que a
regio sustentvel se o grau de stress aqutico calculado fosse menor que 20%. Os
resultados obtidos para a maioria dos cenrios, considerando as mudanas climticas e a
expanso dos servios de saneamento, apontaram o uso das guas subterrneas como
sustentvel na regio. Contudo, concluram que as poucas reas de recargas das nascentes
podiam ser insuficientes para suportar a expanso do sistema de saneamento.
Conforme Mora et al. (2013), o aqufero Edwards, localizado na parte Centro-Sul do
estado do Texas, Estados Unidos, reconhecido mundialmente por suas espcies de flora e
fauna aquticas, muitas das quais esto ameaadas. tambm a principal fonte de gua que
atende as necessidades da agricultura, das indstrias e de aproximadamente 2 milhes de
pessoas. O peixe Etheostoma fonticola tem sido o piv de controvrsias envolvendo o estado
de espcies ameaadas de extino. Os autores desenvolveram um modelo numrico a partir
dos ndices histricos de vazo das nascentes, no perodo de 1973 a 2011, e usaram-no para
prever a dinmica da populao desses alevinos em cenrios de baixa vazo nas nascentes. A
simulao sugeriu que mesmo utilizando uma vazo muito baixa, associada maior seca
registrada em 2011, no houve efeitos significativos na dinmica da populao. Entretanto,
quando a vazo foi reduzida para menos de 2,8 m3/s, o nvel populacional comeou a reduzir
bruscamente. Conforme o estudo esse modelo pode servir como base para representar os
impactos das mudanas nas vazes das nascentes s espcies de peixe, que poder ser
30
desenvolvido para representar no apenas esses impactos, mas tambm mudanas na
qualidade da gua pelo lanamento in natura de efluentes e contaminantes.
Neste mesmo contexto, Koperski et al. (2011) afirmam que a diversidade biolgica
das nascentes faz delas lugares importantes para a preservao da natureza. Os autores
estudaram 25 nascentes localizadas no Sul da Polnia. Na pesquisa foram considerados o
nmero de invertebrados encontrados e a qumica da gua. Apuraram a relao entre a
composio da fauna e os fatores abiticos usando anlises estatsticas variadas. Revelaram,
ento, que caractersticas como o nmero de organismos encontrados so muito dependentes
da vazo e da composio dos sedimentos orgnicos, como tambm de outros fatores
abiticos a exemplo da alcalinidade, teor de nitrato e temperatura.
2.3 Sustentabilidade Ambiental: dos Indicadores aos ndices
Medir sustentabilidade ambiental fazer um juzo de valor sobre o estado dos
atributos do meio (como gua, solo e ar) com relao sua influncia ou sua capacidade de
atender s condies necessrias para a vida num determinado espao e tempo. Assim, vrios
parmetros e variveis tm sido apontados na literatura como influentes no desempenho de
sistemas hdricos e ambientais os chamados indicadores. Na verdade, segundo Vieira e
Studart (2009), a dificuldade no parece estar em apontar indicadores, mas em agreg-los em
um nico parmetro ndice capaz de traduzir numericamente uma situao e apontar, ao
tomador de deciso, o sentido da sustentabilidade da regio. A diversidade em relao ao
conceito de desenvolvimento sustentvel to grande que no existe um consenso sobre o que
deve ser sustentado e tampouco sobre o que o termo significa; consequentemente, no existe
consenso sobre como medir a sustentabilidade (BELLEN, 2006).
Apesar das diferentes vises sobre o desenvolvimento sustentvel, h ferramentas que
procuram mensurar a sustentabilidade de uma bacia hidrogrfica por entender sua importncia
e ajudar na orientao de prticas de preservao e conservao ambiental, e como observa
Tundisi (2003, p.109): a bacia hidrogrfica tambm um processo descentralizado de
conservao e proteo ambiental, sendo um estmulo para a integrao da comunidade e a
integrao institucional.
Para Gallopin (1996), os indicadores de sustentabilidade podem ser considerados o
principal componente da avaliao do progresso em relao a um desenvolvimento
denominado como sustentvel. Hardi e Barg (1997) afirmam que os indicadores de
sustentabilidade so sinais referentes a eventos e sistemas complexos. Os autores definem os
31
indicadores como partes de informaes que assinalam para caractersticas dos sistemas, com
nfase para o que est acontecendo. Nesse mesmo contexto, Silva et al. (2010) consideram
que a funo dos indicadores dar melhor compreenso s informaes sobre dados
complexos e so essenciais para uma melhor anlise do desenvolvimento em vrias
dimenses (socioeconmicas, ambientais, geogrficas, institucionais e culturais), uma vez que
permitem verificar os impactos das aes humanas no ecossistema.
Os indicadores, quando colocados de forma numrica, so valores medidos ou
derivados de mensuraes quantitativas e/ou qualitativas passveis de serem padronizados e
assim comparados com informaes de outras reas, regies ou pases. Dessa forma,
possibilitam a seleo das informaes significativas, a simplificao de fenmenos
complexos, a quantificao de informao e a comunicao da informao entre coletores e
usurios. Segundo Santos (2010b) os indicadores e ndices so elaborados para exercerem as
funes de simplificao, quantificao, anlise e comunicao, o que permite entender
fenmenos e torn-los quantificveis e compreensveis.
O desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade hidroambientais tem recebido
ateno crescente, conforme verificado nos trabalhos de Vieira (1996), Guimares (2008),
Martins e Cndido (2008), Vieira e Studart (2009), Magalhes Jnior (2010), Carvalho et al.
(2011). Alm destes, outros estudos sobre indicadores e ndices de sustentabilidade foram
realizados por cientistas e grupos acadmicos como Hammond et al. (1995), Moldan e
Billharz (1997), Corlio (1997), NRC (1999), Daniel (2000), IISD (2000), Swart et al. (2002),
Xu et al. (2005), Santos (2010a) e Santos (2010b). Esses grupos deram significantes
contribuies para o desafio de mensurar ndices de sustentabilidade. Contudo, h ainda muito
trabalho a ser feito.
Segundo Cndido (2004) e Bellen (2006), dentre as metodologias mundialmente
aceitas em estudos de sustentabilidade ambiental esto trs sistemas de indicadores:
Barmetro da Sustentabilidade (Barometer of Sustainability), Painel da Sustentabilidade
(Dashboard of Sustainability) e a Pegada Ecolgica (Ecological Footprint Method). O
Quadro 2.2 a seguir apresenta as clssicas ferramentas metodolgicas de determinao de
sustentabilidade, seus escopos e esferas de atuao.
Para a Organization for Economic Cooperation and Development OECD (1994), um
indicador deve ser compreendido como um parmetro ou valor derivado de parmetros que
sinalizam e fornecem informaes sobre o estado de um fenmeno com um alcance
significativo. Segundo Gallopin (1996), os indicadores mais adequados so aqueles que
32
sintetizam e simplificam as informaes relevantes e fazem com que certos fenmenos que
ocorrem na realidade se tornem mais evidentes, condio sumamente importante na gesto
ambiental.
Quadro 2.2 Ferramentas metodolgicas de determinao da sustentabilidade seus escopos e esferas de
atuao
FERRAMENTAS CONCEITO ESCOPO ESFERA
Painel de
Sustentabilidade
(Dashboard of
Sustainnability)
Sistema conceitual que fornece informaes sobre a
direo do desenvolvimento e seu grau de
sustentabilidade. uma ferramenta que faz uma
metfora a um painel de automvel para informar aos
tomadores de deciso e ao pblico em geral da situao
do progresso em direo ao desenvolvimento
sustentvel.
Social
Ambiental
Econmico
Institucional
Continental
Nacional
Regional
Local
Organizacional
Pegada Ecolgica
(Ecological
Footprint Method)
Representa o espao ecolgico correspondente para
sustentar um determinado sistema ou unidade,
contabilizando o fluxo de matria e energia que entram
e saem de um sistema. Consiste em estabelecer a rea
necessria para manter uma determinada populao ou
sistema econmico indefinidamente, fornecendo
energia, recursos naturais e capacidade de absorver os
resduos ou rejeitos do sistema.
Ambiental
Global
Continental
Nacional
Regional
Local
Organizacional
Barmetro da
Sustentabilidade
(Barometer of
Sustainability)
Modelo sistmico que objetiva mensurar a
sustentabilidade por meio da avaliao do estado de
pessoas e do meio ambiente em busca do
desenvolvimento sustentvel em nvel global ou local.
Avalia o progresso em direo sustentabilidade pela
integrao de indicadores e mostra o seu resultado por
meio de ndices.
Social
Ambiental
Continental
Nacional
Regional
Local
Fonte: Bellen (2006) adaptado por Santos (2010b).
Na utilizao de indicadores para avaliar a dinmica de um sistema complexo -
ambiente, organizao, territrio, populao - devem ser considerado os objetivos essenciais
para os quais foram concebidos (OECD, 1994; HAMMOND et al., 1995; EPA, 1995;
CALRIO, 1997; IISD, 1999; DANIEL, 2000; EEA, 2004; SANTOS 2010a; SANTOS,
2010b).
As proposies para o eco desenvolvimento com os princpios do desenvolvimento
sustentvel foram elencadas por Sachs (1993) e adaptados por Montibeller-Filho (2004) esto
apresentadas no Quadro 2.3, a seguir.
Outras dimenses para o desenvolvimento sustentvel foram sugeridas por Buarque
(2002) que agrega a dimenso tecnolgica a esta lista. Barbieri (2000) j havia proposto
acrescentar a dimenso poltica, por acreditar que s assim as instituies democrticas se
fortaleceriam, havendo promoo da cidadania.
33
Quadro 2.3 As cinco dimenses do desenvolvimento sustentvel
DIMENSO COMPONENTES OBJETIVOS
Sustentabilidade Social
Criao de postos de trabalho que permitam a obteno de renda individual adequada;
Produo de bens dirigida; Prioritariamente s necessidades bsicas sociais.
Reduo das
desigualdades
Sustentabilidade
Econmica
Fluxo permanente de investimentos pblicos e privados;
Manejo eficiente dos recursos; Absoro, pela empresa, dos custos ambientais; Endogenizao: contar com suas foras.
Aumento da produo e
da riqueza social, sem
dependncia externa
Sustentabilidade
Ecolgica
Produzir respeitando os ciclos ecolgicos dos ecossistemas;
Pendncia no uso dos recursos naturais; Prioridade produo de biomassa e
industrializao de insumos naturais renovveis;
Reduo da intensidade energtica e aumento da conservao de energia;
Tecnologias e processos produtivos de baixo ndice de resduos;
Cuidados ambientais.
Melhoria da qualidade do
meio ambiente e
preservao das fontes de
recursos energticos e
naturais para as prximas
geraes
Sustentabilidade
Espacial
Desconcentrao especial (de atividades e de populao);
Desconcentrao/democratizao do poder local e regional;
Relao cidade/campo equilibrada (benefcios centrpetos).
Evitar excesso de
aglomeraes
Sustentabilidade
Cultural
Solues adaptadas a cada ecossistema; Respeito formao cultural comunitria.
Evitar conflitos culturais
com potencial regressivo
Fonte: Sachs (1993) adaptado por Montibeller-Filho (2004).
O modelo sugerido pelo World Resources Institute (WRI) sistematiza as informaes
ambientais na forma de estruturas, organizando logicamente as informaes, para torn-las de
fcil compreenso ao pblico (OECD, 1994). O sistema adota a forma de Presso-Estado-
Resposta que tem como objetivos apresentar as questes ambientais de forma que respondam
as seguintes indagaes:
Indicadores de Estado: O que est acontecendo com o meio ambiente e com a
base de recursos naturais?
Indicadores de Presso: Por que est acontecendo?
Indicadores de Resposta: O que est sendo feito para reverter as presses?
Devido simplicidade de sua concepo, esse modelo tem sido muito empregado por
pesquisadores, porm no detalha a infinidade de interaes que ocorrem entre as atividades
humanas e o sistema ambiental (FRANCA, 2001). Em 1991, o Conselho da OECD aprovou
uma Recomendao sobre Indicadores e Informao Ambiental que orientava seu Comit
de Poltica Ambiental a elaborar ncleos de indicadores ambientais com caractersticas de
34
confiabilidade, facilidade de entendimento, mensurao e relevncia para a avaliao de
polticas (OECD, 1994, p. 44).
A alternativa desenvolvida por Calrio (1997) e aperfeioada por Daniel (2000) teve
como objetivo representar toda a coleo de indicadores medidos em um sistema por meio da
confeco de grficos tipo radar. Com esta alternativa possvel reduzir custos operacionais e
gerar procedimentos metodolgicos que possam ser utilizados por usurios pouco
especializados. Daniel (2000) concluiu que este sistema de avaliao gera ndices que podem
ser aplicados no gerenciamento da sustentabilidade dos sistemas agroflorestais e que os
grficos tipo radar se apresentam como uma boa opo para ilustrao dos indicadores e
ndices de forma didtica.
Conforme Bellen (2006), os indicadores podem ser expressos na forma escalar ou
vetorial e tm magnitude e direo. So dados bidirecionais e podem ser apresentados
graficamente. No grfico, o tamanho do vetor indica grandeza e sua direo pode ser
visualizada diretamente. O benefcio de utilizar indicadores expressos como vetores poder
exprimir a realidade de uma maneira grfica, bem como as tendncias no futuro. Enquanto os
defensores das medidas vetoriais argumentam que a complexidade do sistema pode ser mais
bem entendida a partir das medidas vetoriais, os pesquisadores que utilizam ndices escalares
sustentam que a simplificao uma das maiores vantagens das medidas escalares. Por outro
lado, Luz (2002) sugere que os indicadores devem cumprir duas funes imprescindveis: dar
apoio s decises (administrativas ou de gestores pblicos) e servir de instrumento de
demonstrao.
Segundo Frana (2001) os indicadores ambientais comearam a ser utilizados por
meio do incentivo de governos e organizaes internacionais na formulao e divulgao dos
primeiros relatrios sobre o estado do meio ambiente, nas dcadas de 70 e 80. Assim, o World
Resources Institute, dos Estados Unidos, entre 1980 e 1990, desenvolveu uma pesquisa sobre
indicadores ambientais que resultou na publicao do relatrio chamado Indicadores
Ambientais: uma Abordagem Sistemtica para Medir e Informar o Desempenho Poltico-
Ambiental no Contexto do Desenvolvimento Sustentvel (Environmental Indicators: a
Systematic Approach to Measuring and Reporting on Environmental Policy Performance in
the Context of Sustainable Development). Nesse documento estavam sugeridos quatro
indicadores sintticos que retratavam as formas de interao entre sociedade e ambiente com
base nos conceitos clssicos da funo que a economia exerce sobre o meio ambiente, a saber:
35
depleo de recursos naturais, poluio, risco para os ecossistemas e impacto ambiental sobre
o bem-estar humano (HAMMOND et al., 1995).
Apesar das controvrsias sobre sustentabilidade, a aplicabilidade dos seus
fundamentos tericos passa pela formulao de ferramentas de mensurao diante da
necessidade de sair do plano terico e se tornar operacional. Para que isso seja possvel torna-
se necessrio pensar uma maneira de quantific-la. Segundo Hammond et al. (1995) os
indicadores podem informar sobre o progresso em busca de uma determinada meta como, por
exemplo, o desenvolvimento sustentvel, mas tambm podem ser visualizados como um
recurso que deixa mais perceptvel uma tendncia ou fenmeno que no seja imediatamente
detectvel.
O reconhecimento da informao relevante, capaz de potencialmente explicar a
existncia de quaisquer processos no-sustentveis de desenvolvimento na interao entre
sociedade e meio ambiente, torna-se possvel para uma sociedade se ela possuir instrumentos
tcnico-cientficos e polticos construdos com essa finalidade. Assim, a necessidade de
mensurar sustentabilidade surge como condio indispensvel para a elaborao de solues
sustentveis em desenvolvimento (RIBEIRO, 2000).
Por outro lado, ao se pensar no desenvolvimento de forma sustentvel, preciso
considerar a necessidade de um acompanhamento simultneo. Nesse contexto, percebe-se,
ento, conforme Marzall e Almeida (1999), um considervel aumento do interesse pela busca
de indicadores de sustentabilidade por parte de organismos governamentais, no-
governamentais, institutos de pesquisa e universidades em todo o mundo. Ento, muitas
conferncias j foram realizadas por entidades internacionais e por iniciativas de
pesquisadores da rea em nvel governamental e acadmico.
Para Tusntall (1992; 1994), os indicadores tm as seguintes funes:
Avaliar condies e tendncias;
Comparar lugares e situaes;
Fornecer informaes de advertncia;
Antecipar futuras condies e tendncias.
Um indicador pode ter como objetivos (OECD, 1994; HAMMOND et al., 1995;
EPA, 1995; CALRIO, 1997; IISD, 1999; DANIEL, 2000; EEA, 2004; SANTOS 2010a;
SANTOS, 2010b):
a) definir ou monitorar a sustentabilidade de uma realidade;
36
b) facilitar o processo de tomada de deciso;
c) evidenciar em tempo hbil modificao significativa em um dado sistema;
d) caracterizar uma realidade, permitindo a regulao de sistemas integrados;
e) estabelecer restries em funo da determinao de padres;
f) detectar os limites entre o colapso e a capacidade de manuteno de um
sistema;
g) tornar perceptveis as tendncias e as vulnerabilidades;
h) sistematizar as informaes, simplificando a interpretao de fenmenos
complexos;
i) ajudar a identificar tendncias e aes relevantes, bem como avaliar o
progresso em direo a um objetivo;
j) prever o status do sistema, alertando para possveis condies de risco;
k) detectar distrbios que exijam o replanejamento; e,
l) medir o progresso em direo sustentabilidade.
Os indicadores podem ser conceituados como variveis individuais ou derivadas de
outras variveis. A funo pode ser simples como: uma relao de medida da varivel em
relao a uma base especfica; um ndice, um nmero que seja uma funo simples de duas ou
mais variveis; ou complexa, como resultado de um grande modelo de simulao. Para Bossel
(1998, p. 76) os indicadores so nossa ligao com o mundo, pois condensam a
complexidade de uma quantidade manejvel de informaes importantes, influenciando nas
nossas decises e conduzindo nossas atitudes. Tambm ajudam a construir um cenrio do
estado do ambiente sobre o qual se podem tomar decises inteligentes para proteo e
promoo do cuidado ambiental. Ainda de acordo com Bossel (1998), existem dois tipos
principais de indicadores: aqueles que medem o estado do sistema (estoque ou nveis) e
aqueles que mensuram a taxa de mudanas provocadas no estado do sistema.
Nesse sentido, Gallopin (1996) prope que sistemas de indicadores de
desenvolvimento sustentvel sigam alguns requisitos universais:
os valores dos indicadores devem ser mensurveis (ou observveis);
deve existir disponibilidade de dados;
a metodologia para a coleta e o processamento dos dados, bem como para a
construo dos indicadores, deve ser limpa, transparente e padronizada;
37
os meios para construir e monitorar os indicadores devem estar disponveis,
incluindo capacidade financeira, humana e tcnica;
os indicadores ou grupo de indicadores devem ser financeiramente viveis; e
deve existir aceitao poltica dos indicadores no nvel adequado. Indicadores
no-legitimados pelos tomadores de deciso so incapazes de influenciar
decises.
A complexidade dos problemas do desenvolvimento sustentvel requer sistemas
interligados, indicadores inter-relacionados ou a agregao de diferentes indicadores. Porm,
na prtica, existem poucos sistemas de indicadores que lidam, particularmente, com o
desenvolvimento sustentvel, sendo a maioria em carter experimental, desenvolvidos com o
propsito de melhor compreender os processos relacionados sustentabilidade.
Gallopin (1996) assevera que na avaliao de programas de desenvolvimento
sustentvel os indicadores devem ser escolhidos em diferentes nveis hierrquicos de
percepo. Algumas vezes se assume que indicadores devem ser criados necessariamente a
partir da associao de dados ou variveis de nvel mais baixo, como a abordagem da
pirmide de informaes da OECD (1994).
Quanto ideia de sustentabilidade hidroambiental, Vieira (1996) a definiu como a
gesto integrada de recursos hdricos na abrangncia de vrios aspectos como o ciclo
hidrolgico, em suas fases superficial, subterrnea e area; os usos mltiplos da gua; o inter-
relacionamento dos sistemas naturais e sociais; e a interdependncia dos componentes
econmicos, sociais, ambientais e polticas do desenvolvimento, que na contemporaneidade
encontram-se qualificados no desenvolvimento sustentvel.
Baseado na comparao entre a potencialidade, a disponibilidade e a demanda de cada
bacia hidrogrfica, Vieira (1996) estabeleceu os seguintes indicadores de sustentabilidade
hdrica: ndice de Ativao da Potencialidade IAP, definido como a razo entre a
disponibilidade e a potencialidade; ndice de Utilizao da Disponibilidade IUD, razo entre
a demanda e a disponibilidade; e ndice de Utilizao da Potencialidade, razo entre a
demanda e a potencialidade. A partir dessas definies foram avaliados trs indicadores da
vulnerabilidade dos sistemas hdricos, relacionados insuficiente capacidade de acumulao,
demanda crescente de gua e intermitncia dos cursos dgua (CAMPOS, 1997). Contudo,
de acordo com o autor, outros indicadores de vulnerabilidade so relevantes, tais como: o
nvel de atendimento em servios de gua e esgoto s demandas da sociedade; a variabilidade
38
dos deflvios anuais; a sobre-explorao das guas subterrneas; os nveis de garantia
adotados na operao dos reservatrios.
Carvalho et al. (2011) desenvolveram um trabalho baseado nos estudos de Guimares
(2008), Martins e Cndido (2008), Vieira e Studart (2009) e Magalhes Jnior (2010), com o
objetivo de verificar o nvel de sustentabilidade hidroambiental dos municpios localizados na
sub-bacia hidrogrfica do alto curso do rio Piranhas, no estado da Paraba. Foi utilizada uma
pesquisa documental e exploratria, com abordagem quantitativa e descritiva. Foram
escolhidos alguns indicadores hidroambientais, de acordo com a disponibilidade de dados, no
intuito de identificar um ndice de Sustentabilidade Hidroambiental para Bacia Hidrogrfica
(ISHBH). Para a definio e representao grfica do ndice final os autores adotaram as
recomendaes propostas por Martins e Cndido (2008).
Os resultados apontaram um cenrio de insustentabilidade hdrica enfrentado por
alguns municpios, evidenciando a necessidade de definir programas de gesto hdrica
capazes de reverter o quadro de instabilidade. Os autores sugeriram aes mais responsveis
das entidades reguladoras da gesto de guas nos municpios paraibanos e em especial, na
sub-bacia estudada.
MATERIAIS E MTODOS
Os indicadores assinalam o caminho Maria Jos (Anhanza)
40
3 MATERIAIS E MTODOS
3.1 rea de Estudo
A bacia hidrogrfica do rio Gramame (BHRG) possui uma rea de drenagem de
aproximadamente 589,1 km e est localizada entre os paralelos 711 e 724 de latitude Sul e
3448 e 3510 de longitude Oeste (Figura 3.1). Abrange parte dos municpios de Pedras de
Fogo, Santa Rita, Alhandra, Conde, So Miguel de Taipu, Cruz do Esprito Santo e a capital
do estado da Paraba, Joo Pessoa. Os seus principais cursos dgua so os rios: Gramame,
Mamuaba, Mumbaba e gua Boa.
Figura 3.1 Localizao da bacia hidrogrfica do rio Gramame
Fonte: Paraba (2000).
A rea de estudo localiza-se entre as latitudes 9.204.728m e 9.210.728m N e as
longitudes 280.619m e 290.619m E (em coordenadas UTM, SAD 69, Zona 25, Hemisfrio
Sul), no municpio de Pedras de Fogo, regio do litoral Sul do estado da Paraba (Figura 3.2).
Envolve quatro (04) nascentes (Figura 3.3), dentre as setenta e uma (71) catalogadas na bacia
hidrogrfica do rio Gramame por Di Lorenzo (2007). Trs delas esto situadas na sub-bacia
hidrogrfica do rio Gramame: Cabelo (9.181.918m N e 266.560m E), Cacimba da Rosa
(9.181.542m N e 265.632m E) e, Comunidade Nova Aurora (9.182.495m N e 263.233m E); e
uma na sub-bacia do rio Mumbaba: Comunidade Fazendinha (9.192.080m N e 262.473m E).
41
Figura 3.2 Bacia hidrogrfica do rio Gramame: localizao da rea do estudo
Fonte: Paraba (2000). Elaborao: Franklin Linhares (2013)
42
Figura 3.3 Localizao das nascentes no alto curso da bacia hidrogrfica do rio Gramame/PB
Fonte: Projeto Recuperando as Nascentes do Gramame (2010-2012).
Fotos: Adriana Moura e Jos Dorivaldo Oliveira (2012)
Essas nascentes foram selecionadas para o estudo pela facilidade de acesso por
estarem localizadas em assentamentos agrcolas do Instituto Nacional de Colonizao e
Reforma Agrria/INCRA (Comunidade Nova Aurora e Comunidade Fazendinha), e em
comunidades rurais de explorao agrcola familiar.
3.1.1 Condicionantes fsicos
A bacia hidrogrfica do rio Gramame (BHRG) est inserida na regio litornea, que
possui mdia anual de precipitao, variando entre 1400-1800 mm. Os ventos predominantes
so os alsios de Sudeste, com velocidade moderada. A classificao climtica de acordo com
Keppen indica um clima tropical chuvoso do tipo As, do tipo quente e mido, sem perodos
frios e com chuva predominante de outono a inverno. A proximidade da regio com a linha do
Equador determina as altas temperaturas durante o ano inteiro, com mdia superior aos 26C,
sendo que a mdia das mximas atinge 30C (janeiro-abril) e a mdia das mnimas de 23C
(junho-agosto) (HECKENDORFF; LIMA, 1985).
Essa bacia hidrogrfica possui uma grande diversidade no quadro vegetal, o qual as
unidades fitogeogrficas so determinadas, alm das condies climticas, pelas condies
variadas dos compartimentos morfolgicos e pedolgicos presentes na regio, com destaque
43
para a Mata Atlntica, os Cerrados, os Manguezais e os Campos de Vrzea. Contudo, possui
um elevado ndice de devastao da vegetao nativa, como consequncia das diversas
atividades exploratrias desordenadas na regio, principalmente para o cultivo da
monocultura da cana-de-acar e abacaxi, indstrias de minerao, instalao de loteamentos,
estruturas virias e construo do aude Gramame-Mumbaba (SANTOS, 2009).
A BHRG encontra-se inserida na bacia sedimentar Paraba, a qual limita-se ao sul pela
Zona de Cisalhamento de Pernambuco (ZCPE) e ao norte pela falha de Mamanguape, que
representa uma ramificao da Zona de Cisalhamento de Patos (ZCPA) (BARBOSA et al.,
2007). Essa bacia subdividida em trs sub-bacias, compartimentadas, respectivamente, no
sentido Norte-Sul em: Miriri, Alhandra e Olinda. A bacia hidrogrfica do rio Gramame
encontra-se na sub-bacia Alhandra, limitada ao sul pela falha de Goiana e ao norte pela falha
de Itabaiana (Figura 3.4).
Figura 3.4 Bacia sedimentar costeira Pernambuco-Paraba
Fonte: Barbosa et al. (2003).
Na bacia sedimentar Paraba apresentam-se quatro unidades litoestratigrficas,
depositadas em perodos geolgicos distintos. A unidade litoestratigrfica basal denominada
de Formao Beberibe, representada por um espesso pacote de arenitos com granulao
varivel e espessuras mdias de 230 a 280 m. Acima da Formao Beberibe, repousa de forma
44
concordante, a Formao Gramame, de ambiente marinho raso, espessura mdia inferior a 55
m e predominncia de calcrios argilosos cinzentos (BARBOSA et al., 2003).
A continuao da sequncia calcria da Formao Gramame, diferenciada apenas pelo
contedo fssil, cuja espessura mxima de 30m, denominada de Formao Maria Farinha.
Essa Formao recobre de forma discordante o embasamento cristalino pr-cambriano e as
rochas sedimentares da bacia sedimentar Paraba, onde se encontram os sedimentos areno-
argilosos da Formao Barreiras, conforme apresentado na Figura 3.5 (FURRIER et al.,
2006). Na Paraba, os sedimentos da Formao Barreiras so provenientes basicamente da
ao do intemperismo sobre o embasamento cristalino do Planalto da Borborema.
Figura 3.5 Estratigrafia da bacia sedimentar Paraba
Fonte: Furrier et al. (2006).
Conforme Alheiros et al. (1988), a Formao Barreiras ca
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