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7/23/2019 Essa Perspectiva Epistemológica Encontra
http://slidepdf.com/reader/full/essa-perspectiva-epistemologica-encontra 1/3
I
Essa perspectiva epistemológica encontra-se condensada em um ensaio escrito
em 1948, intitulado “Absolutismo e Relativismo na Filosoia e na !ol"tica#$ %esse te&to,
'elsen, talve( inspirado por )eorg *elline+ 1, sustenta e&istir uma relao entre aoposio, no campo da teoria do con.ecimento e da teoria dos valores, entre
dogmatismo e ceticismo, de um lado, e a oposio, no campo da teoria pol"tica e do
direito p/blico, entre autocracia e democracia$
0egundo 'elsen, o dogmatismo se caracteri(a, em primeiro lugar, pela suposio
de uma realidade absoluta “o absolutismo ilosóico 2 a concepo meta"sica da
e&ist3ncia de uma realidade absoluta$ 5omo, 2 oroso 6ue a realidade absoluta
coincida com o valor absoluto7, a segunda caracter"stica do dogmatismo 2 a admisso da
“possibilidade de uma verdade absoluta e de valores absolutos#4$ 0endo absolutos, a
realidade, a verdade e os valores e&istiriam in se e de per si assim, a uno do
con.ecimento e do ulgamento do .omem, da perspectiva do dogmatismo, seria, apenas,
a de “reletir, como um espel.o, os obetos e&istentes em si mesmos#:$ ; ceticismo, por
outro lado, se caracteri(a por negar < realidade e aos valores uma e&ist3ncia aut=noma,
independente do con.ecimento e do ulgamento do .omem realidade e valores so
sempre relativos ao sueito 6ue con.ece e 6ue ulga>$ 5on.ecimento e ulgamento, a6ui, ? no so mais simples rele&os dos obetos antes, eles criam os obetos$
Assim deinidos, dogmatismo e ceticismo, manteriam, com a autocracia e a
democracia, dois tipos de relao$ !rimeiro, uma relao de tipo estrutural os primeiros
reprodu(iriam a estrutura de poder dos segundos$ %o dogmatismo, “a relao entre o
obeto de con.ecimento, o absoluto, e o sueito de con.ecimento, o indiv"duo .umano, 2
1 Em @Btat Coderne et son Droit, p$ 11>, *elline+ airma “%o .? sistema ilosóico de6ual6uer amplitude 6ue no desen.e uma doutrina do Estado#$
2 'E@0E%, Democracia, p$ 74$
3 'E@0E%, idem, p$ 748$
4 'E@0E%, idem, ibidem$
5 'E@0E%, idem, ibidem$
6 'E@0E%, idem, ibidem$
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bastante similar < relao entre um governo absoluto e os seus s/ditos# no ceticismo, o
sueito do con.ecimento e do u"(o cria a realidade e os valores, da mesma orma como
o indiv"duo de uma sociedade democr?tica participa da criao da ordem social a 6ue
est? sueito atrav2s do voto e da ao processualG$ 0egundo, uma relao de tipo
uncional a autocracia e a democracia empregam o dogmatismo e o ceticismo como
princ"pio de legitimao$ 5omo princ"pio de legitimao da autocracia, o dogmatismo
pode assumir a orma de uma ustiicao moral ou de uma teoria pol"tica$ E&emplo da
primeira orma 2 a religio da segunda, a teoria organicista do Estado e sua doutrina da
soberania8, de acordo com as 6uais o Estado, sendo um corpo coletivo, supra individual,
“2 mais do 6ue a soma total de seus cidados#, tem “mais realidade 6ue seus próprios
membros#9, e o soberano, sendo a representao vis"vel desse corpo, 2 mais do 6ue
todos os indiv"duos “pois no vale o só nome de rei vinte mil nomesH# 1$ 5omo
princ"pio de legitimao da democracia, o ceticismo assume a orma de uma
relativi(ao do Estado11$
II
2. O objeto da Teoria Pura do Direito
B preciso i&ar com rigor o lugar de onde 'elsen ala$ Esse lugar no 2 o direito
positivo 'elsen no 2 legislador, no cria normas ur"dicas v?lidas$ Cas esse lugar
tampouco 2, propriamente alando, o da ci3ncia do direito, isto 2, a ci3ncia 6ue tem por
obeto o direito positivo 'elsen no 2, em um certo sentido, urista, seu obeto no 2, ou
no 2 somente, o direito positivo, mas a ci3ncia do direito positivo$ Assim, se 6uisermos
ser rigorosos, precisamos aceitar 6ue a Jeoria !ura do Direito 2 uma teoria cuo obeto 2
a teoria cuo obeto 2 o direito positivo, isto 2, uma teoria da ci3ncia do direito, ou,
usando a terminologia consagrada por Kobbio, uma metaurisprud3ncia1 por
conse6u3ncia, 'elsen no ala como um urista, mas ala sobre o 6ue alam os uristas$
7 'E@0E%, idem, p$ 7:$
8 @embre-se do ensaio Deus e o Estado, de 19, em 6ue o tema do parentesco entre essas duasiguras 2 mel.or desenvolvido$
9 'E@0E%, idem, p$ 7:1$
10 0LA'E0!EARE, Ricardo II$
11 'E@0E%, idem, p$ 7:$
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;u sobre o 6ue eles devem alar na leitura de Kobbio, a Jeoria !ura do Direito 2 uma
meta-ci3ncia do direito prescritiva, na medida em 6ue determina as condiMes para 6ue
possa e&istir algo como uma teoria 6ue ten.a por obeto o direito positivo e, por
conse6u3ncia, a orma de pensar dos uristas da" di(er 6ue a Jeoria !ura do Direito
“prescreve descrever#, pois uma teoria do direito positivo só pode e&istir caso se aceite
descrever normas somente, sem di(er de sua uste(a ou de sua interpretao, pois ento,
na viso de 'elsen, ter-se-ia “2tica ur"dica#, “pol"tica ur"dica#$ %a leitura de Kobbio,
ento, a Jeoria !ura do Direito teria uma uno reguladora, pree&istindo, pois, ao seu
obeto a ci3ncia do direito positivo, a lógica dos uristasG$ Cas, por outro lado, parece
poss"vel sustentar .aver algo de rememorao na proposta de 'elsen$ Nea-se, por
e&emplo, o seguinte trec.o, dedicado < norma undamental
Com a sua teoria da norma fundamental a Teoria Pura do Direito de forma alguma inaugura
um novo método do conhecimento jurídico. Ela apenas consciencialia a!uilo !ue todos os
juristas faem " !uase sempre inconscientemente " !uando n#o concebem os eventos acima
referidos como fatos causalmente determinados$ mas pensam %interpretam& o seu sentido
subjetivo como normas objetivamente v'lidas$ como ordem jurídica normativa$ sem
reconduirem a validade desta ordem normativa a uma norma superior de ordem metajurídica().
E arremata “A teoria da norma undamental 2 somente o resultado de uma
an?lise do processo 6ue o con.ecimento ur"dico positivista desde sempre temutili(ado#$ %esse trec.o, no parece 6ue a Jeoria !ura do Direito estea prescrevendo
como o urista deve pensar ou como deve ser uma ci3ncia para 6ue ten.a como obeto o
direito positivo$ Ao contr?rio, ela parece e&plicitar um processo pree&istente
inconsciente no prescrever como os uristas devem pensar, mas e&plicitar como eles
inevitavelmente pensam, dadas certas condiMes$
12 K;KKI;, “0er e dever ser na ci3ncia ur"dica#, In Direito e !oder, p$ >1->8$
13 'E@0E%, J!D, 8$
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