Essa Perspectiva Epistemológica Encontra

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7/23/2019 Essa Perspectiva Epistemológica Encontra

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I

Essa perspectiva epistemológica encontra-se condensada em um ensaio escrito

em 1948, intitulado “Absolutismo e Relativismo na Filosoia e na !ol"tica#$ %esse te&to,

'elsen, talve( inspirado por )eorg *elline+ 1,   sustenta e&istir uma relao entre aoposio, no campo da teoria do con.ecimento e da teoria dos valores, entre

dogmatismo e ceticismo, de um lado, e a oposio, no campo da teoria pol"tica e do

direito p/blico, entre autocracia e democracia$

0egundo 'elsen, o dogmatismo se caracteri(a, em primeiro lugar, pela suposio

de uma realidade absoluta “o absolutismo ilosóico 2 a concepo meta"sica da

e&ist3ncia de uma realidade absoluta$ 5omo, 2 oroso 6ue a realidade absoluta

coincida com o valor absoluto7, a segunda caracter"stica do dogmatismo 2 a admisso da

“possibilidade de uma verdade absoluta e de valores absolutos#4$ 0endo absolutos, a

realidade, a verdade e os valores e&istiriam in se  e de per si assim, a uno do

con.ecimento e do ulgamento do .omem, da perspectiva do dogmatismo, seria, apenas,

a de “reletir, como um espel.o, os obetos e&istentes em si mesmos#:$ ; ceticismo, por 

outro lado, se caracteri(a por negar < realidade e aos valores uma e&ist3ncia aut=noma,

independente do con.ecimento e do ulgamento do .omem realidade e valores so

sempre relativos ao sueito 6ue con.ece e 6ue ulga>$ 5on.ecimento e ulgamento, a6ui, ? no so mais simples rele&os dos obetos antes, eles criam os obetos$

Assim deinidos, dogmatismo e ceticismo, manteriam, com a autocracia e a

democracia, dois tipos de relao$ !rimeiro, uma relao de tipo estrutural os primeiros

reprodu(iriam a estrutura de poder dos segundos$ %o dogmatismo, “a relao entre o

obeto de con.ecimento, o absoluto, e o sueito de con.ecimento, o indiv"duo .umano, 2

1 Em @Btat Coderne et son Droit, p$ 11>, *elline+ airma “%o .? sistema ilosóico de6ual6uer amplitude 6ue no desen.e uma doutrina do Estado#$

2 'E@0E%, Democracia, p$ 74$

3 'E@0E%, idem, p$ 748$

4 'E@0E%, idem, ibidem$

5 'E@0E%, idem, ibidem$

6 'E@0E%, idem, ibidem$

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 bastante similar < relao entre um governo absoluto e os seus s/ditos# no ceticismo, o

sueito do con.ecimento e do u"(o cria a realidade e os valores, da mesma orma como

o indiv"duo de uma sociedade democr?tica participa da criao da ordem social a 6ue

est? sueito atrav2s do voto e da ao processualG$ 0egundo, uma relao de tipo

uncional a autocracia e a democracia empregam o dogmatismo e o ceticismo como

 princ"pio de legitimao$ 5omo princ"pio de legitimao da autocracia, o dogmatismo

 pode assumir a orma de uma ustiicao moral ou de uma teoria pol"tica$ E&emplo da

 primeira orma 2 a religio da segunda, a teoria organicista do Estado e sua doutrina da

soberania8, de acordo com as 6uais o Estado, sendo um corpo coletivo, supra individual,

“2 mais do 6ue a soma total de seus cidados#, tem “mais realidade 6ue seus próprios

membros#9, e o soberano, sendo a representao vis"vel desse corpo, 2 mais do 6ue

todos os indiv"duos “pois no vale o só nome de rei vinte mil nomesH# 1$ 5omo

 princ"pio de legitimao da democracia, o ceticismo assume a orma de uma

relativi(ao do Estado11$

II

2. O objeto da Teoria Pura do Direito

B preciso i&ar com rigor o lugar de onde 'elsen ala$ Esse lugar no 2 o direito

 positivo 'elsen no 2 legislador, no cria normas ur"dicas v?lidas$ Cas esse lugar 

tampouco 2, propriamente alando, o da ci3ncia do direito, isto 2, a ci3ncia 6ue tem por 

obeto o direito positivo 'elsen no 2, em um certo sentido, urista, seu obeto no 2, ou

no 2 somente, o direito positivo, mas a ci3ncia do direito positivo$ Assim, se 6uisermos

ser rigorosos, precisamos aceitar 6ue a Jeoria !ura do Direito 2 uma teoria cuo obeto 2

a teoria cuo obeto 2 o direito positivo, isto 2, uma teoria da ci3ncia do direito, ou,

usando a terminologia consagrada por Kobbio, uma metaurisprud3ncia1 por 

conse6u3ncia, 'elsen no ala como um urista, mas ala sobre o 6ue alam os uristas$

7 'E@0E%, idem, p$ 7:$

8 @embre-se do ensaio Deus e o Estado, de 19, em 6ue o tema do parentesco entre essas duasiguras 2 mel.or desenvolvido$

9 'E@0E%, idem, p$ 7:1$

10 0LA'E0!EARE, Ricardo II$

11 'E@0E%, idem, p$ 7:$

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;u sobre o 6ue eles devem alar na leitura de Kobbio, a Jeoria !ura do Direito 2 uma

meta-ci3ncia do direito prescritiva, na medida em 6ue determina as condiMes para 6ue

 possa e&istir algo como uma teoria 6ue ten.a por obeto o direito positivo e, por 

conse6u3ncia, a orma de pensar dos uristas da" di(er 6ue a Jeoria !ura do Direito

“prescreve descrever#, pois uma teoria do direito positivo só pode e&istir caso se aceite

descrever normas somente, sem di(er de sua uste(a ou de sua interpretao, pois ento,

na viso de 'elsen, ter-se-ia “2tica ur"dica#, “pol"tica ur"dica#$ %a leitura de Kobbio,

ento, a Jeoria !ura do Direito teria uma uno reguladora, pree&istindo, pois, ao seu

obeto a ci3ncia do direito positivo, a lógica dos uristasG$ Cas, por outro lado, parece

 poss"vel sustentar .aver algo de rememorao na proposta de 'elsen$ Nea-se, por 

e&emplo, o seguinte trec.o, dedicado < norma undamental

Com a sua teoria da norma fundamental a Teoria Pura do Direito de forma alguma inaugura

um novo método do conhecimento jurídico. Ela apenas consciencialia a!uilo !ue todos os

 juristas faem " !uase sempre inconscientemente " !uando n#o concebem os eventos acima

referidos como fatos causalmente determinados$ mas pensam %interpretam& o seu sentido

 subjetivo como normas objetivamente v'lidas$ como ordem jurídica normativa$ sem

reconduirem a validade desta ordem normativa a uma norma superior de ordem metajurídica().

E arremata “A teoria da norma undamental 2 somente o resultado de uma

an?lise do processo 6ue o con.ecimento ur"dico positivista desde sempre temutili(ado#$ %esse trec.o, no parece 6ue a Jeoria !ura do Direito estea prescrevendo

como o urista deve pensar ou como deve ser uma ci3ncia para 6ue ten.a como obeto o

direito positivo$ Ao contr?rio, ela parece e&plicitar um processo pree&istente

inconsciente no prescrever como os uristas devem pensar, mas e&plicitar como eles

inevitavelmente pensam, dadas certas condiMes$

12 K;KKI;, “0er e dever ser na ci3ncia ur"dica#, In Direito e !oder, p$ >1->8$

13 'E@0E%, J!D, 8$

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