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FACULDADE NOVOS HORIZONTES
Programa de Pós-Graduação em Administração Mestrado
ESTUDO DE EVENTOS SOBRE A REAÇÃO DO MERCADO
ACIONÁRIO: a influência das pesquisas eleitorais
Aline Mara Peixoto de Souza
Belo Horizonte
2015
Aline Mara Peixoto de Souza
ESTUDO DE EVENTOS SOBRE A REAÇÃO DO MERCADO
ACIONÁRIO: a influência das pesquisas eleitorais
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Acadêmico em Administração da Faculdade Novos Horizontes, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Administração. Orientador: Prof. Dr. Alfredo Alves de Oliveira Melo Linha de pesquisa: Tecnologias de Gestão e Competitividade Área de concentração: Organização e estratégia
Belo Horizonte
2015
Ficha elaborada pela Bibliotecária da Faculdade Novos Horizontes – Viviane Pereira CRB6 1663 -
Souza, Aline Mara Peixoto de.
Estudo de eventos sobre a reação do mercado acionário: influencia das pesquisas eleitorais. Aline Mara Peixoto de Souza. Belo Horizonte: FNH, 2015. 74 p.
Orientador: Prof. Dr. Alfredo Alves de Oliveira melo.
Dissertação (mestrado) – Faculdade Novos Horizontes, Programa de Pós-graduação em Administração.
1.Mercado de ações – Ibovespa 2. Pesquisas eleitorais 3 Mercado financeiro I. Alfredo Alves de Oliveira Melo II. Faculdade Novos Horizontes, Programa de Pós-graduação em Administração. III. Título.
CDD: 332.6
S729e
AGRADECIMENTOS
Agradecer poderia ser uma palavra definida como algo em que pudéssemos
expressar nossa alegria por ter alcançado certo objetivo e por ter tido grandiosos
sentimentos adicionados a tudo aquilo que foi vivido em determinado momento. Dos
grandiosos sentimentos adicionados, tenho agora, a compreensão, a dedicação, a
amizade e o amor daqueles que me transbordam de alegria. Sentimentos que me
ajudaram a chegar até aqui e que são justamente passíveis de gratidão. O que faço
agora é tentar exercer a gratidão que sinto.
A Deus, por sempre iluminar e guiar cada passo da minha caminhada; por me ajudar
a seguir sempre em frente e por me abençoar em minhas decisões.
Aos meus pais, por toda simplicidade, humildade, compreensão e principalmente,
pelas expressões de orgulho apenas por saber que chegar até aqui é um sonho
realizado.
Aos meus irmãos Aislan e Magno, à Camila e Arley. Vocês são especiais!
Ao meu esposo, por estar ao meu lado, por me apoiar, por abdicar, sempre que
necessário, dos seus momentos de descanso ou lazer apenas para que eu
soubesse do seu grandioso amor. Agradeço a compreensão e o carinho que
constituem parte do meu alicerce para seguir em frente com alegria. Muito obrigada!
No ambiente dos mestrandos, destaco o carinho imediato de uma amiga que pude
contar sempre por toda a trajetória. Minha querida, Sio! Siomara, obrigada apenas
por sua presença e pelos olhares carinhosos; pessoas como você engrandecem
meu coração.
Aos professores, agradeço a todos, por me mostrarem uma nova forma de perceber
o mundo acadêmico e por todo conhecimento transmitido.
Ao doutor Wendell, agradeço pelas horas de papos estatísticos, por toda
contribuição espontânea e divertida de conhecimento no decorrer deste período.
Ao professor doutor Luciano Zille, agradeço pela paciência, por todo zelo e por todo
seu conhecimento, do qual me sinto orgulhosa de poder ter tido a oportunidade de
receber.
Aos professores doutores Luiz Fernando, Gustavo, Aleixina, Caíssa, Talita e
Fernando Coutinho que contribuíram durante esta trajetória para meu conhecimento.
Ao professor doutor Alfredo Melo, meu ilustre orientador, agradeço em primeiro lugar
por confiar no meu trabalho, por me mostrar quais os caminhos eu poderia seguir e
me deixar livre para escolher o melhor. Obrigada por me fazer sentir segura em
todos os momentos, mesmo naqueles mais turbulentos. Sinto-me privilegiada em tê-
lo tido como meu orientador e levarei para minha vida profissional e pessoal todo o
aprendizado desta jornada.
Aos profissionais da biblioteca, pelo suporte necessário.
À Wânia e à Bia da Secretaria, por sempre me receberem com um sorriso no rosto e
por toda competência.
Aos meus colegas de trabalho, pela compreensão diária e por todo carinho.
À minha grande amiga Grazielle Maia por ter vivido e sentido todos os momentos
comigo, os de angústia, de nervosismo, e principalmente, de felicidades. Obrigada
por todo apoio e por toda amizade.
Ao meu querido Othon Mello que, às vezes imagino, não faz ideia de sua
importância na minha vida, faltam palavras! Eu o tenho como um exemplo de
profissional. Minha gratidão não apenas por esta imensa conquista, mas a Othon
agradeço minha carreira profissional, agradeço a confiança, a cumplicidade, o
carinho, as palavras, o conhecimento! Agradeço, principalmente, pela sua amizade
gratuita e sincera. Muito obrigada por tudo!
Enfim, aos que aqui menciono e àqueles que eu possa ter me esquecido de
mencionar, agradeço por todo apoio. Muito obrigada!
“Tenho a impressão de ter sido uma criança brincando à beira-
mar, divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma
concha mais bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da
verdade continua misterioso diante de meus olhos”.
Isaac Newton
RESUMO
Esta pesquisa teve por objetivo analisar a reação do mercado de ações à divulgação de pesquisas eleitorais no Brasil, quando da escolha do mandatário principal do país. Quanto à abordagem a pesquisa caracteriza-se como quantitativa, sendo a coleta de dados realizada a partir de base de dados secundários coletados por meio da Economática, analisados estatisticamente. Para análise dos dados foi utilizado o instrumento de estudo de eventos, por ser este um método utilizado com o objetivo de aferir o impacto de diferentes divulgações de informações nos preços das ações. Os eventos objeto de estudo, para fins de avaliação do impacto que os mesmos causaram no mercado de ações, foram as pesquisas eleitorais divulgadas pelos institutos de pesquisas Datafolha e IBOPE, referentes aos pleitos para o mandatário principal do país das últimas seis eleições presidenciais, ou seja, os pleitos de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. Ressalta-se que para eleições em que ocorreu segundo turno, consideraram-se as pesquisas divulgadas para tal momento. Para a data zero, foram considerados os preços das ações das datas de divulgação das pesquisas eleitorais, ou em caso de divulgação em dias não úteis, o primeiro dia útil subsequente. As variáveis consideradas como indicadores do comportamento de mercado são os setores de consumo cíclico e construção e transporte da BOVESPA, além do IBOVESPA utilizado como base para apuração do possível retorno anormal das ações. A amostra do estudo foi composta por 293 observações. Foram definidas janelas de estimação e de eventos, sendo a janela de estimação composta por 103 dias anteriores à data de divulgação das pesquisas eleitorais e a janela de eventos composta pelos três dias anteriores e os três dias posteriores à divulgação. Definidas as janelas, foi calculado o retorno anormal de acordo com o modelo de retorno ajustado ao mercado, o qual assume que os retornos esperados correspondem aos retornos dos títulos, antes da data de ocorrência do evento. Sendo assim, o cálculo foi realizado pela diferença do retorno real e o retorno anormal, dado o retorno do mercado. Por fim, a pesquisa concluiu que as ações dos setores estudados reage à divulgação de pesquisas eleitorais quando da escolha do mandatário principal do país, evidenciando sua sensibilidade à expectativa da divulgação das pesquisas eleitorais e à própria divulgação. Essa sensibilidade foi mais evidente no primeiro dia posterior à divulgação, seguida de nova estabilização, em sua maioria, no terceiro dia. Palavras-chaves: Estudo de eventos. Mercado de ações. Pesquisas eleitorais.
ABSTRACT
This research aimed to analyze the reaction of the stock market to the dissemination of polls in Brazil, where the choice of the country's main representative. As for the research approach is characterized as quantitative and data collection performed from basic secondary data collected through Economática, statistically analyzed. For data analysis we used the event study instrument, because it is a method used in order to assess the impact of different disclosures in stock prices. The object of study event, for purposes of evaluating the impact that it caused in the stock market, were the election polls released by Datafolha and IBOPE research institutes, referring to the elections to the country's main representative of the last six presidential elections, or is, the elections of 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 and 2014. It is noteworthy that for elections that took place in the second round, it was considered to published research to that time. For the zero date, stock prices were considered of the polls reporting dates, or in the event of disclosure on non-working day, the first working day. The variables considered as market behavior indicators are the sectors of consumer staples and construction and transportation of BOVESPA, in addition to the Ibovespa used as a basis for determination of possible abnormal stock returns. The study sample consisted of 293 elements. Estimation and events windows were defined, and the estimation window composed of 103 days preceding the date of publication of polls and event window composed of three days before and three days after the disclosure. Set windows, the abnormal return was calculated according to the return model adjusted to the market, which assumes that the expected returns correspond to the returns of the securities prior to the date of occurrence of the event. Thus, the calculation was performed by the actual return offset and the abnormal return, due to market return. Finally, the survey found that the stock market reacts to the release of the polls when choosing the country's main representative, showing its sensitivity to the expectation of disclosure of polls and the very disclosure. It is its most obvious sensitivity on the first day following the disclosure, followed by a new stabilization, mostly on the third day. Keywords: Event Study. Stock market. Polls.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 – Etapas do estudo de eventos .............................................................. 39 FIGURA 2 - Janelas do estudo de eventos .............................................................. 42 GRÁFICO 1 - Retornos anormais do setor de construção e transporte ................... 55 GRÁFICO 2 - Retornos anormais do setor de consumo cíclico ............................... 56 GRÁFICO 3 - Retornos anormais acumulados ........................................................ 57 GRÁFICO 4 – Variações ocorridas no ano de 1994 ................................................. 58 GRÁFICO 5 - Variações ocorridas no ano de 1998 .................................................. 59 GRÁFICO 6 - Variações ocorridas no ano de 2002 .................................................. 60 GRÁFICO 7 - Variações ocorridas no ano de 2006 .................................................. 61 GRÁFICO 8 - Variações ocorridas no ano de 2010 ................................................. 62 GRÁFICO 9 - Variações ocorridas no ano de 2014 ................................................. 62 QUADRO 1 - Publicações que utilizaram estudo de eventos .................................... 27
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Levantamento das Publicações referente ao período de 2004 a 2014 ................................................................................................. 19 TABELA 2 - Data de ocorrência dos anúncios das pesquisas eleitorais .................. 40 TABELA 3 - Valores críticos do teste de Komolgorov-Sminorv ................................ 45 TABELA 4 - Estatística descritiva do setor de construção e transporte ................... 48 TABELA 5 - Estatística descritiva do setor de consumo cíclico ................................ 48 TABELA 6 - Teste de Komolgorov-Sminor do setor de construção e transporte ............................................................................................ 49 TABELA 7 -Teste de Komolgorov-Sminor do setor de consumo cíclico ................... 49 TABELA 8 - F-teste do setor de construção e transporte ......................................... 50 TABELA 9 - F-teste do setor de consumo cíclico ..................................................... 50 TABELA 10 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 1994 ............................................... 51 TABELA 11 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 1994 ........................................................ 51 TABELA 12 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 1998 ............................................... 51 TABELA 13 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 1998 ........................................................ 52 TABELA 14 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 2002 ............................................... 52 TABELA 15 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 2002 ........................................................ 52 TABELA 16 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 2006 ............................................... 53 TABELA 17 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 2006 ........................................................ 53 TABELA 18 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 2010 ............................................... 53 TABELA 19 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 2010 ........................................................ 54 TABELA 20 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 2014 .............................................. 54 TABELA 21 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 2014 ........................................................ 54
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADRs American Depositary Receipt
ANPAD Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração
BDTD Biblioteca Digital de Teses e Dissertações
BDTD Biblioteca Digital de Teses e Dissertações
BOVESPA Bolsa de Valores do Estado de São Paulo
BOVESPA Bolsa de Valores do Estado de São Paulo
BRL/USD Brazilian Real/United States Dollar
BRL/USD Brazilian Real/United States Dollar
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CVM Comissão de Valores Mobiliários
CVM Comissão de Valores Mobiliários
ESOP Employee Stock Options Plans
ESOP Employee Stock Options Plans
HME Hipótese do Mercado Eficiente
HME Hipótese do Mercado Eficiente
IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
IBOVESPA Índice da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo
ICO2 Índice Carbono Eficiente
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
SPELL Scientific Periodicals Electronic Library
US-GAAP United States Generally Accepted Accounting Principles
LISTA DE SÍMBOLOS
- alfa
- beta
- epsílon
- teta
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................. 14 1.1 Objetivo geral ............................... .................................................................... 17 1.2 Objetivos específicos ......................... .............................................................. 17 1.3 Justificativa ................................ ....................................................................... 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................ .................................... 20 2.1 Mercado de ações ............................. ............................................................... 20 2.2 Revisão literária: estudo de eventos ......... ..................................................... 26 3 METODOLOGIA DA PESQUISA ......................... .............................. 38 3.1 Caracterização da pesquisa .................. ......................................................... 38 3.2 Estudo de eventos ............................. ............................................................... 38 4 ANÁLISE DOS DADOS ............................... ...................................... 48 5 CONCLUSÕES .................................................................................. 64 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 68
14
1 INTRODUÇÃO
O mercado de ações é conceituado pela Comissão de Valores Mobiliários (2014, p.
36) como “o segmento do mercado em que são criadas as condições para que as
empresas captem recursos diretamente dos investidores”. Para a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), a captação de recursos dos investidores pode ser
realizada por meio da emissão de instrumentos financeiros que objetivam,
principalmente, o financiamento de suas atividades ou a viabilização de seus
projetos de investimento.
Segundo Assaf Neto (2003), esse mercado interliga os investidores aos que
necessitam de recursos de longo prazo. Sendo assim, o mercado de ações possui
títulos de negociação para que esta intermediação seja realizada de maneira ágil e
satisfatória.
As ações, título de negociação utilizado na pesquisa, têm seu preço determinado de
acordo com a expectativa econômica do país e do desempenho das empresas e
representam a menor parcela do capital social das organizações, destacam-se para
fins da pesquisa as ações classificadas em preferenciais e ordinárias. Cavalcanti e
Musimi (2003) resumem os diferentes tipos de ações da seguinte maneira:
�Ações ordinárias: são aquelas com direito a voto;
�Ações preferenciais: são ações com preferência na distribuição dos
resultados.
A negociação das ações é realizada em mercado organizado, chamado de bolsa de
valores. Segundo pesquisa realizada pelo Banco Mundial, há forte correlação entre o
mercado acionário e a economia de um país. Tal pesquisa compreendeu o período
de 1976 a 1996 e apontou como principais fatores a utilização da poupança de longo
prazo, a estruturação equilibrada de capital, as mudanças de controle e privatização,
a transparências das informações e a facilidade de atrair capital externo. (BOLSA
DE VALORES DE SÃO PAULO - BOVESPA, 2014).
O mercado de ações, por ser um mercado incentivador da poupança e do
15
investimento produtivo, possui grande potencial no crescimento da sociedade
econômica moderna, contribuindo, consequentemente, para o crescimento da
nação.
No mercado de ações nacional, destaca-se a Bolsa de Valores de São Paulo
(BOVESPA) por sua dimensão e representatividade. A BOVESPA, que faz parte do
escopo da presente pesquisa, é segmentada em 10 setores econômicos, sendo
eles: petróleo, gás e biocombustíveis; materiais básicos; bens industriais; construção
e transporte; consumo não cíclico; consumo cíclico; tecnologia da informação;
telecomunicações; utilidade pública; financeiro e outros.
Cada setor econômico da BOVESPA é subdividido em subsetores que, por sua vez,
possuem segmentos onde são alocadas as empresas e fundos negociados. Em
novembro de 2015, haviam 751 empresas e fundos disponíveis para negociação na
referida Bolsa.
Para fins desta pesquisa, consideraram-se os setores econômicos de consumo
cíclico e construção e transporte devido à dimensão e representatividade dos
mesmos na BOVESPA e na economia nacional. Ressalta-se que o setor de
consumo cíclico é composto por 74 empresas alocadas em 24 segmentos e o setor
de construção e transporte é composto por 73 empresas alocadas em 13 segmentos
(BOVESPA, 2015).
Considerando que a informação nos setores econômicos da BOVESPA é eficiente e
que novas informações podem ser refletidas imediatamente no preço das ações, é
possível assumir a hipótese de que o mercado de ações é sensível às mudanças.
Tal sensibilidade tem sido perceptível em situações diversas dos cenários
econômico e político, especialmente por ocasião das eleições para a escolha do
principal dirigente político do país.
As evidências da sensibilidade do mercado de ações ao cenário político nacional
devem-se às expectativas dos investidores à tendência de escolha do eleitor por
determinado candidato, divulgada por institutos de pesquisas eleitorais. Dentre
diversos institutos de pesquisa existentes no Brasil, citam-se, para fins do estudo, os
16
Institutos Datafolha e Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE).
O Instituto Datafolha em pesquisas de intenção de voto seleciona uma amostra que
leva em consideração características como idade, sexo, escolaridade, dentre outros,
em um universo de cerca de 136 milhões de eleitores. Os municípios que farão parte
da pesquisa são escolhidos por meio de sorteio e os entrevistados devem obedecer
a cotas proporcionais de sexo e idade.
Segundo informações contidas no site institucional do Datafolha (2015) suas
pesquisas nacionais possuem margem de erro de dois pontos percentuais para mais
ou para menos. Além disso, vale destacar que o Datafolha não realiza pesquisas
para políticos ou partidos. Todas as suas pesquisas são realizadas para divulgação
e para uso público de grandes veículos de comunicação.
O IBOPE atua no mercado de pesquisas nacional e internacional e também realiza,
dentre outras, pesquisas eleitorais. Em seu site institucional o IBOPE (2015) afirma
que suas pesquisas representam a população em estudo, uma vez que são
considerados para coleta de dados tanto os grupos sociais, quanto as regiões
geográficas da amostra, em quantidade próxima à da população pesquisada,
selecionadas por meio de critérios estatísticos pré-definidos e baseados em dados
de fontes oficiais do país.
As reações do mercado de ações ao cenário político tornam-se evidentes em
períodos de eleições presidenciais considerando a divulgação dos resultados de
pesquisas eleitorais, de vários institutos de pesquisas, que procuram antecipar a
tendência do comportamento do eleitor.
Concomitante à divulgação dos resultados das pesquisas eleitorais, o consumo, a
poupança, o nível geral de emprego, o investimento, a taxa de juros, a política fiscal,
a política de juros e renda são variáveis econômicas sensíveis às possíveis
mudanças no cenário político, especialmente quando se trata do partido ou
coligações partidárias que governarão o país.
Neste contexto, os impactos de eventos no mercado de ações têm sido o objeto de
17
estudo de diversos autores. Para melhor avaliação de tais impactos o estudo de
eventos tem sido utilizado, com frequência, nas pesquisas acadêmicas.
Segundo Batistella et al. (2004, p. 6), “a essência de um estudo de eventos se
resume na tentativa de mensurar impactos nos preços de títulos em função de
eventos ocorridos”.
Lamounier e Nogueira (2005) afirmam que o estudo de eventos busca mensurar o
impacto da divulgação de uma dada informação no comportamento dinâmico dos
preços e dos retornos da empresa nos mercados financeiros.
Assim, na conjugação entre as possíveis mudanças no cenário político sinalizadas
pela divulgação das pesquisas eleitorais sobre a preferência dos eleitores por
determinado candidato e a reação do mercado de ações, formulou-se a indagação
central deste estudo, buscando por melhor entendimento de tal fenômeno e por
respostas para a seguinte questão orientadora:
Como o mercado de ações reage à divulgação de pesquisas eleitorais quando da
escolha do mandatário principal do país?
A fim de responder à questão orientadora, apresentam-se os seguintes objetivos
geral e específicos:
1.1 Objetivo Geral
Analisar a reação do mercado de ações à divulgação de pesquisas eleitorais no
Brasil, quando da escolha do mandatário principal do país, nas eleições alusivas aos
anos 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014.
1.2 Objetivos Específicos
Para que o objetivo geral seja atendido, os seguintes objetivos específicos foram
definidos para o estudo:
18
1. Identificar e analisar o impacto da divulgação das pesquisas eleitorais dos
Institutos Datafolha e IBOPE no preço das ações cotadas na BOVESPA no
setor de consumo cíclico;
2. Identificar e analisar o impacto da divulgação das pesquisas eleitorais dos
Institutos Datafolha e IBOPE no preço das ações cotadas na BOVESPA no
setor de construção e transporte;
3. Identificar e analisar as variações reais ocorridas nos setores de consumo
cíclico, construção e transporte e IBOVESPA.
1.3 Justificativa
Tendo em vista a importância do cenário político no mercado de ações nacional, a
presente pesquisa justifica-se devido ao fato de não ter sido encontrados estudos
que relacionam a divulgação de pesquisas eleitorais ao mercado de ações nacional.
Para embasar tal informação, realizaram-se pesquisas na Biblioteca Digital de Teses
e Dissertações (BDTD), no site da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Administração (ANPAD), no portal de periódico da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e na biblioteca eletrônica
Scientific Periodicals Electronic Library (SPELL) dos termos estudo de eventos e
pesquisa eleitoral.
A pesquisa foi realizada no mês de novembro de 2015, sendo definidos como
período de busca os anos compreendidos entre 2004 a 2014.
Segundo apuração, foram encontradas pesquisas para os termos “estudo de
eventos” e “pesquisa eleitoral”. Conforme TAB. 1, para o primeiro termo, foram
encontradas 154 pesquisas, sendo 38 na BDTD, 47 na CAPES, 19 na ANPAD e 50
na SPELL, indicando assim sua grande utilização na academia. Já para o segundo
termo, foram encontradas 13 pesquisas, sendo quatro na BDTD e nove na CAPES,
indicando assim menor presença de estudos sobre o tema.
19
Tabela 1 – Levantamento das Publicações referente ao período de 2004 a 2014
Termos BDTD ANPAD CAPES SPELL
Estudo de eventos 38 19 47 50
Pesquisa eleitoral 4 0 9 0
Utilização em conjunto 0 0 0 0
Fonte: Elaborado pela autora
Quanto à utilização dos termos “estudo de eventos” e “pesquisa eleitoral” em
conjunto, nenhuma publicação foi encontrada. Tal fato pode indicar que um estudo
utilizando os dois termos em conjunto pode vir a ser inovador, pode contribuir para a
sociedade acadêmica, bem como abrir perspectivas para novas pesquisas.
O presente trabalho está estruturado em cinco seções.
A primeira seção refere-se à introdução, onde o problema é contextualizado e
apresentado, bem como são apontados os objetivos geral e específicos da pesquisa,
além das justificativas.
A segunda seção descreve uma revisão da literatura em relação ao estudo de
eventos, apresentando sua evolução histórica e aplicação em outras pesquisas, bem
como descrição do mercado de ações.
Na terceira seção apresenta-se a metodologia utilizada para realização da pesquisa,
apresentando sua caracterização e aplicação do estudo de eventos.
A quarta seção trata da apresentação dos dados coletados e análises realizadas
com base na metodologia definida.
Por fim, a quinta seção finda o estudo, apontando as conclusões, as limitações do
estudo, bem como sugestões para futuras pesquisas.
20
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta seção, apresentam-se os conceitos e a evolução histórica do mercado de
ações, bem como breve recapitulação dos estudos de eventos e aponta, de maneira
analítica, a aplicação da metodologia em estudos já realizados.
2.1 Mercado de Ações
A fim de introduzir o mercado de ações, cabe apresentar os conceitos relacionados
ao funcionamento da economia, uma vez que esta é parte integrante do mercado e
contribui para o melhor entendimento acerca das funções e funcionamento do
mercado.
Como base do funcionamento da economia, tem-se a moeda que é, conforme
Cavalcanti e Misumi (2002), um facilitador de trocas de bens e serviços, sendo um
meio de pagamento legalmente utilizado para realizar transações e quitar obrigações
contratuais. Para os autores, a moeda possui como funções a intermediação de
trocas, a medida de valor, a reserva de valor, a função liberatória e o padrão de
pagamentos.
O governo, com a finalidade de promover o desenvolvimento econômico e de
garantir o atendimento às necessidades da sociedade, possui como instrumento a
chamada política monetária, que nada mais é do que a gestão da moeda e do
crédito. Para Cavalcanti e Misumi (2002), a política monetária é realizada por meio
de operações de emissão e controle de moeda, decisões sobre o seu curso forçado
e atuação na vida econômica, organizando assim os sistemas monetário e bancário,
para que respondam ao sistema econômico.
Para Andrezo e Lima (2007), é possível dividir este sistema econômico em dois
grupos, no que se refere ao processo de poupança-investimento: o grupo dos
poupadores e o grupo dos deficitários.
O primeiro grupo, chamado de poupadores, refere-se àqueles que constituem as
unidades econômicas superavitárias. São aqueles que desejam investir valores
21
inferiores à sua capacidade de poupança, portanto, dispõem de recursos financeiros
excedentes. Já o segundo grupo, os deficitários, refere-se àqueles que desejam
investir valores superiores à sua capacidade de poupança, tornando-se assim
agentes que demandam recursos financeiros além do que possuem.
Os dois grupos citados apresentam operações complementares, uma vez que o
déficit de um pode ser superado pelo superávit do outro. Tais operações referem-se,
conforme a Comissão de Valores Mobiliários ([CVM], 2014), à utilização de recursos
disponíveis do grupo superavitário para realização das decisões de consumo e
investimento do grupo deficitário.
Neste contexto, surgem e desenvolvem-se as instituições especializadas em
intermediar tais operações. Segundo a CVM (2014, p. 30) "as instituições de
intermediação desenvolveram com o passar do tempo, da mesma forma que os
instrumentos, sistemas e produtos de organização, controle e desenvolvimento
deste mercado, chamado de mercado de ações".
A CVM (2014) afirma que o mercado de ações é o modelo de intermediação
financeira, aprimorado ao longo dos anos com o desenvolvimento de novos ativos
financeiros e características operacionais específicas para cada tipo de demanda.
Serra et al. (2011, p. 3) entende o mercado de ações como “um processo pelo qual
as pessoas interessadas em vender algum produto ou serviço encontram-se com
pessoas interessadas em comprar esse mesmo produto ou serviço”.
No mercado de ações, ao final do exercício social, os lucros apurados pelas
sociedades anônimas são destinados a seus acionistas. A esta parcela a ser
distribuída dá-se o nome de dividendos. A distribuição dos dividendos no mercado
de ações é chamada de política de dividendos, caracterizando-se por seu poder de
decisão quanto à distribuição de lucros aos acionistas.
A política de dividendos no mercado de ações vem sendo discutida desde a década
de 1960. Os debates acerca do tema trazem discussões sobre a relação entre o
valor da empresa e os níveis de distribuição de lucros. Tais debates concentram-se
22
entre as principais correntes de pensamento sobre a política de dividendos,
destacando-se para fins da pesquisa o conteúdo informacional.
O conteúdo informacional debate sobre a existência de conteúdo informacional nos
dividendos e possui como base a observação de que alterações nas taxas de
dividendos são, constantemente, seguidas por alterações nos preços das ações.
Diversos autores publicaram pesquisas sobre o tema, tendo como destaque principal
o conteúdo informacional, como é o caso de Santos et al. (2009), Silva Junior e
Corrar (2007), Nascimento et al. (2007) e Pereira e Lustosa (2011).
Santos et al. (2009) estudaram o comportamento do mercado de capital brasileiro
frente às variações positivas e negativas de receitas e despesas, quando da sua
divulgação. Sendo assim, os autores buscaram avaliar se essas variáveis
expressam conteúdo informacional para o mercado. Para testar a hipótese geral do
estudo de que o mercado reage de modo diferenciado ao conteúdo informacional
das receitas e despesas, os autores utilizaram a metodologia do estudo de eventos
para uma amostra composta por 90 empresas listadas na BOVESPA.
O estudo conclui que “o mercado acionário brasileiro possui um perfil conservador,
conferindo maior importância às ‘más notícias’ quando da formação ou ajuste das
suas expectativas em relação ao valor da empresa” (Santos et al., 2009, p. 14).
Silva Junior e Corrar (2007, p. 3) diante da hipótese de que “as posições de
contratos em aberto por tipo de participante dos mercados futuros não contêm
informação relevante quanto ao comportamento futuro do ativo subjacente”
verificaram, por meio de estudo econométrico, se há conteúdo informacional quanto
ao comportamento futuro do preço de um ativo subjacente a um determinado tipo de
contrato futuro.
Para corroborar com o objetivo da pesquisa, Silva Junior e Corrar (2007)
apresentaram a teoria de eficiência de mercado no referencial teórico, bem como a
relação entre cointegração e eficiência de mercado. Após aplicação dos testes de
raiz unitária e cointegração, os autores concluíram que o conteúdo informacional
23
encontrado não possui alto poder explicativo, situando-se em torno de 20%.
Nascimento et al. (2007) investigaram o impacto da divulgação do resultado contábil
em US-GAAP (United States Generally Accepted Accounting Principles) no preço
das ações das companhias abertas brasileiras participantes do programa de ADRs
(American Depositary Receipt) no período de 1999 a 2004.
Como metodologia para a investigação, buscando pelo conteúdo informacional,
Nascimento et al. (2007) utilizaram o estudo de eventos encontrando resultados que
apontam que o resultado contábil elaborado de acordo com os princípios norte-
americanos não representa informação relevante para o mercado brasileiro.
Pereira e Lustosa (2011) objetivaram analisar o impacto da informação pré-
divulgada na divulgação do lucro das empresas no mercado de ações brasileiro.
Para que o objetivo fosse atingindo, os autores utilizaram e adaptaram a
metodologia do estudo de eventos e selecionaram como amostra o setor de
metalurgia e siderurgia da BOVESPA no período de julho de 2004 a junho de 2005.
Após aplicação da metodologia e realização de testes estatísticos, Pereira e Lustosa
(2011) concluíram que o mercado não reagiu, em média, aos lucros quando
divulgados e que o mercado interpretou as notícias divulgadas como sendo boas, na
média, para as empresas da amostra.
Segundo Guimarães e Tabak (2008, p. 279) “a inclusão de variáveis de
microestrutura de mercado aumenta significativamente os coeficientes de
determinação das regressões”. Sendo assim, é possível afirmar que o conteúdo
informacional das variáveis de microestrutura de mercado possui grande relevância,
o que significa que tal conteúdo pode ser utilizado para fins de precificação de ações
no mercado de ações.
Fama (1969) afirma que a informação disponível é inteiramente refletida nos preços
das ações. Tal afirmação conduz a chamada Hipótese do Mercado Eficiente (HME)
que surgiu diante da necessidade de um suporte teórico para as pesquisas da área
de finanças.
24
A HME é utilizada com o objetivo de auxiliar no esclarecimento das informações que
podem impactar no preço de títulos do mercado de ações. Para Cardoso e Martins
(2012, p. 74) o objetivo da HME é “identificar e medir o impacto da informação na
formação do preço dos ativos financeiro do mercado”.
Brito, Batistella e Fama (2005, p. 355) afirmam que “em um mercado eficiente, ao
surgirem novas informações a respeito de uma empresa, os investidores analisam e
tomam decisões sobre como o evento afeta o fluxo de caixa esperado”. Devido a tal
fato, é realizado um ajuste nos preços das ações, o que reflete novas expectativas
de mercado.
A questão central da HME é de que os preços dos títulos se ajustarão
imediatamente quando da divulgação de qualquer nova informação relevante.
Cardoso e Martins (2012) afirmam que a HME classifica-se em três tipos, sendo
eles: informações referentes a preços passados, todas as informações disponíveis
para o mercado e todas as informações existentes. Assim, a HME apresenta-se em
três formas, chamadas de fraca, semiforte e forte.
A forma fraca de eficiência é aquela, segundo Fama (1969), cujos retornos
esperados são formados pelo conjunto de informações disponíveis e que se
encontram refletidas nos preços. Nesta forma, inexiste a possibilidade de haver
estratégias de negociações que consideram informações passadas que possam
gerar ganhos ou retornos acima do ponto de equilíbrio.
Segundo Ross, Westerfield e Jaffe (1995, p. 266), “a forma fraca é o tipo menos
exigente de um mercado de ações, pois a informação histórica sobre preços é a
espécie mais fácil de informação que se pode adquirir a respeito de uma ação”.
Para Fama (1969), a forma semiforte de eficiência é aquela onde os preços não
consideram apenas informações passadas, esta forma considera todas as
informações publicamente disponíveis. Para o autor, apenas estas informações
necessitam estarem refletidas no preço da ação.
25
Sendo assim, na forma semiforte é possível deduzir que os investidores não podem
obter retornos anormais que consideram informações publicamente disponíveis, uma
vez que o ajuste dos preços é imediato.
Já na forma forte de eficiência, Belo e Brasil (2006) afirmam que “o mercado é
eficiente quando os preços dos títulos refletem as informações privadas e não
privadas, não existindo para o investidor nenhum ganho anormal”. Tal fato se deve
ao ajuste imediato dos preços mediante o surgimento de novas informações.
Cardoso e Martins (2012) afirmam que a forma forte é aquela em que toda a
informação relevante disponível, até mesmo aquelas privilegiadas, é refletida no
preço das ações.
As três formas de eficiência têm sido consideradas em pesquisas da área de
finanças por diversos autores, especificamente aquelas focadas no mercado de
ações. Como exemplo, citamos os estudos Serafini (2010), Lyra e Olinquevitch
(2007) e Roma, Amaral e Ferreira (2014).
Serafini (2010) realizou estudo com o objetivo de examinar se a análise técnica
agrega valor às decisões de investimento. Para atingir o objetivo do estudo, o autor
testou a HME em sua forma fraca e avaliou se a análise técnica agrega valor.
A amostra da pesquisa de Serafini (2010) foi composta pelas séries históricas dos
preços diários de cotação de abertura, cotação de fechamento, cotação máxima,
cotação mínima e volume de 36 ações negociadas na BOVESPA, bem como pela
série histórica do Índice da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (IBOVESPA).
O autor concluiu que a análise técnica, através dos sistemas testados, não é “capaz
de gerar estratégias de investimento lucrativas dentro de um nível de significância de
95%”. (SERAFINI, 2010, p. 1).
Lyra e Olinquevitch (2007) utilizaram a metodologia do estudo de eventos para
analisar o conteúdo informacional dos investimentos imobilizados em empresas
negociadas na BOVESPA. Os autores referenciaram o estudo teoricamente
abordando a decisão de investimento, a HME e o estudo de eventos.
26
Após a aplicação das técnicas do estudo de eventos e considerando que, segundo a
HME, “o mercado reage quando ocorre uma reavaliação de suas expectativas a
respeito dos resultados futuros do fluxo de caixa das empresas” (LYRA;
OLINQUEVITCH, 2007, p. 51), o estudo constatou uma reação de que o mercado
percebeu sinais nas demonstrações contábeis que aumentam as expectativas de
fluxos futuros de caixa.
Roma, Amaral e Ferreira (2014) testaram a forma fraca de eficiência informacional
na taxa de câmbio. Os autores afirmam que, apesar da vasta abordagem da forma
fraca no mercado de ações, o mercado de câmbio tem sido pouco estudado. Sendo
assim, além da análise da eficiência informacional, o estudo objetiva verificar a
persistência dos choques na série da taxa de câmbio.
Como metodologia, Roma, Amaral e Ferreira (2014, p. 17) utilizaram como variável
de pesquisa “a taxa de câmbio comercial em /USD, obtida através da base de dados
do IPEADATA, para o período amostral de janeiro de 2000 a dezembro de 2012”. O
estudo concluiu que a série da taxa de câmbio analisada não é informacionalmente
fraca e que no “mercado de câmbio, ainda persistem deficiências, de maneira que
certas operações podem apresentar alguma forma de viés frente a uma situação de
eficiência de mercado” (ROMA; AMARAL; FERREIRA, 2014, p. 23).
As pesquisas que destacam a HME e o conteúdo informacional são, em grande
parte, realizadas utilizando-se o estudo de eventos. A próxima seção trata da
aplicação do estudo de eventos em estudos relacionados às ciências sociais.
2.2 Revisão Literária: Estudo de Eventos
Estudo de eventos é utilizado como fim de avaliar o comportamento de determinado
evento em relação ao comportamento do mercado de ações.
Para Lamounier e Nogueira (2005), o estudo de eventos busca mensurar o impacto
da divulgação de uma dada informação no comportamento dinâmico dos preços e
dos retornos da empresa nos mercados financeiros.
27
O estudo de eventos foi introduzido como metodologia acadêmica por meios dos
trabalhos de Ball e Brown (1968) e Fama (1969). Ball e Brown (1968), a partir do
pressuposto de que a expectativa de rendimentos de determinada empresa pode ser
realizada a partir de dados passados, bem como futuros, ocorridos em outras
empresas, buscaram mensurar a reação do mercado à divulgação de
demonstrações financeiras. Com base em tais informações, os autores realizaram
um estudo onde comprovaram que parte da variabilidade do nível dos ganhos de
lucro por ação estaria relacionada a efeitos econômicos.
Na literatura acadêmica nacional, diversos autores utilizaram o estudo de eventos
nas áreas de Economia, Ciências Contábeis e Finanças. Devido a sua grande
utilização, referencia-se, dentre as publicações alusivas aos últimos dez anos,
aquelas publicadas por Barbosa et al. (2013); Batistella et al.(2004); Iquiapaza et al.
(2009); Cunha e Costa Júnior (2006); Lucchesi e Fama (2007); Paulo, Sarlo Neto e
Santos (2012); Pessanha (2010); Santos e Perobelli (2009); Sarlo Neto et al. (2005);
Serra et al. (2011) e apresenta, por meio do Quadro 1, os objetivos dos estudos, os
eventos estudados e suas principais conclusões.
Os artigos referenciados, embora possuam vasta diversidade de objetivos, buscam
por respostas às possíveis alterações no mercado de ações, e para tanto, utilizam o
estudo de eventos como instrumento de análise dos dados, uma vez que de acordo
com Pessanha (2010, p. 4) “o estudo de eventos procura mensurar o impacto da
divulgação de uma dada informação no valor da empresa”.
Quadro 1 - Publicações que utilizaram estudo de eventos (Continua...)
Ordem Autor Objetivo geral Evento estudado Conclusões
1 BARBOSA et
al. (2013)
Investigar se há relação entre retorno
das ações e o ingresso das empresas na
composição do ICO2.
Divulgação da primeira carteira teórica de ações
que compuseram o
ICO2 da BM&FBovespa.
O anúncio não afetou o retorno
das ações.
28
Quadro 1 - Publicações que utilizaram estudo de eventos (Continua...)
Ordem Autor Objetivo geral Evento
estudado Conclusões
2 BATISTELLA et al. (2004)
Analisar se as aquisições de bancos ocorridas no mercado brasileiro no período
posterior a 1997 proporcionaram
alteração na riqueza dos acionistas das
empresas adquirentes.
Aquisições de bancos
ocorridas no mercado financeiro
brasileiro entre janeiro de 1997 e dezembro de
2003.
As aquisições não
proporcionaram retornos anormais
positivos para seus acionistas.
3 IQUIAPAZA et al. (2009)
Verificar se o mercado brasileiro proporciona evidências empíricas condizentes com as
evidências internacionais em
relação aos seguintes aspectos relacionados existência de retornos anormais no período de 15 dias antes da
ocorrência do anúncio; de retornos anormais negativos
quando do anúncio da emissão; de
desempenho das ações das empresas brasileiras emitentes
um ano após o anúncio da emissão; e
da existência diferenças de
comportamento em relação aos
lançamentos públicos e a subscrição pelos
atuais acionistas.
Anúncio de emissão de
ações por uma empresa.
A reação do preço das ações,
quando do anúncio de
novas ações, revelou-se bem
diferente, dependendo se tal emissão é
direcionada de forma ampla aos investidores do
mercado ou restrita aos
acionistas da empresa.
Fonte: Elaborado pela autora
29
Quadro 1 - Publicações que utilizaram estudo de eventos (Continua...)
Ordem Autor Objetivo geral Evento estudado Conclusões
4
CUNHA e COSTA JUNIOR (2006)
Apresentar uma revisão de literatura
sobre o efeito do vencimento de
contratos derivativos sobre seus ativos
objetos e apresentar novos resultados em relação à existência ou não de influência do vencimento de
opções de compra, negociadas na
BOVESPA, sobre os preços e retornos de suas ações objeto, negociadas à vista.
Vencimento do mercado de opções, no período de
21/09/1998 a 12/2001.
Pelo menos para a Telemar PN
ocorreu influência do mercado de
opções sobre o mercado a vista
e que se poderia, pelo
menos em teoria, obter
retornos extraordinários na época do
vencimento do contrato de
opções.
5 LUCCHESI e FAMA (2007)
Investigar o impacto das decisões de investimento das
empresas brasileiras, divulgadas por meio
de anúncios, no valor de suas ações negociadas na BOVESPA, no
período de 1996 a 2003.
Publicações de anúncios de planos de
investimento, nos anos de 1996 a 2003.
Anúncio inesperado de aumento no
nível de investimento
está associado a um aumento no
valor de mercado das
ações, sendo o contrário também
verdadeiro.
6
PAULO, SARLO NETO;
SANTOS (2012)
Verificar se os preços das ações reagem à divulgação do lucro contábil trimestral.
Cada dia do período
compreendido entre 07/1999 e
07/2008.
O lucro contábil possui conteúdo
informacional assimétrico.
7 PESSANHA
(2010)
Analisar a rentabilidade das
ações, dos bancos envolvidos em
processos de fusão ou aquisição.
Impactos dos processos de
fusão e aquisição em sete bancos,
entre os anos de 1994 e 2009.
As fusões e aquisições
analisadas não criaram valor
para os acionistas das
instituições adquirentes.
Fonte: Elaborado pela autora.
30
Quadro 1 - Publicações que utilizaram estudo de eventos (Conclusão)
Ordem Autor Objetivo geral Evento estudado Conclusões
8 SANTOS;
PEROBELLI (2009)
Verificar se a deliberação de um
ESOP para as companhias abertas
negociadas na BOVESPA tem impacto sobre o
retorno das ações dessas empresas e, em caso afirmativo,
em qual direção.
Convocação e deliberação
do ESOP pelas
empresas negociadas
na BOVESPA.
A convocação da assembleia para deliberar sobre
ESOP e sua efetiva deliberação não
proporciona retornos anormais positivos
para os seus acionistas.
9 SARLO
NETO et al. (2005)
Analisar qual o impacto da divulgação
dos resultados contábeis em cada
tipo de ação.
Divulgação das
demonstra-ções
contábeis anuais, nos
anos de 1995 a 2001.
Para ações ordinárias, a
informação contábil é importante
somente nos casos de lucros anormais
negativos. Para ações preferenciais,
os resultados contábeis divulgados
representam uma fonte importante de informação para o
investidor.
10 SERRA et al.
(2011)
Verificar se as ações que ingressam no
IBOVESPA tiveram retorno anormal em
torno da data do anúncio da prévia do índice ou da data da
efetivação da inclusão.
Divulgação das carteiras
prévias e efetivação da inclusão da
ação no IBOVESPA,
no período de 09/1994 a 09/2009.
A análise da prévia de 30 dias não indica
retorno anormal significativo; a
análise da prévia de 15 dias indica
retorno anormal negativo em janelas em torno do anúncio e após o anúncio; a análise da efetiva inclusão revela a
existência de retorno anormal positivo
imediatamente antes da efetiva inclusão e
negativo após a efetiva inclusão.
Fonte: Elaborado pela autora
31
A partir de informações coletadas na base de dados da Economática, Barbosa et al.
(2013) investigaram se há relação entre o retorno de ações e o ingresso das
empresas na composição do Índice Carbono Eficiente (ICO2). Acompanhando a
evolução do mercado em relação ao meio ambiente, visando atingir as empresas
que buscam por divulgar informações ambientais, a BMF&Bovespa lançou em
dezembro de 2010 a primeira carteira das empresas que compõem o ICO2.
Barbosa et al. (2013), a partir de uma amostra final de 28 empresas e a definição da
janela de pesquisa que englobou 31 dias antes e 28 dias após o lançamento e
criação do índice ICO2, concluíram que os resultados da pesquisa sugerem que o
anúncio de ingresso das empresas no ICO2 não afetou o retorno das ações.
Serra et al. (2011) analisaram, por meio do estudo de eventos, o ingresso das ações
no IBOVESPA entre setembro de 1994 a setembro de 2009, buscando averiguar se
estas ações apresentaram retornos anormais significativos em torno da data do
anúncio da inclusão e a data da efetiva inclusão. Para tanto, os autores abordaram,
no que chamaram de plataforma teórica, as explicações para o efeito no preço e no
volume, bem como as evidências de retornos anormais associados à mudança de
composição dos índices e de maneira geral descreveram ainda as carteiras teóricas
do IBOVESPA.
Os resultados da pesquisa realizada por Serra et al. (2011) apontaram que a análise
da prévia de 30 dias não indica retorno anormal significativo e a análise prévia de 15
dias indica retorno anormal negativo em janelas do retorno do anúncio da prévia e
após o anúncio da prévia. Por fim, a análise da efetiva inclusão apontou a existência
de retorno anormal positivo imediatamente antes da efetiva inclusão e retorno
anormal negativo após a inclusão.
Barbosa et al. (2013) e Serra et al. (2011) estudaram a reação do mercado em
relação ao ingresso de empresas em diferentes índices da BOVESPA. Enquanto o
primeiro analisou a composição do ICO2, o segundo analisou o ingresso no
IBOVESPA. Porém, apesar de os autores estudarem diferentes amostras e janelas
utilizando-se do estudo de eventos, consideraram como essência deste instrumento
a HME.
32
Para Barbosa et al. (2013), o estudo do possível reflexo da divulgação de
informações contábeis no retorno dos títulos deve ter fundamento teórico na HME.
Sendo assim, os autores formulam a hipótese de pesquisa fundamentado na HME
considerando que “um dos pressupostos dessa teoria é que o retorno das ações
pode ser impactado em decorrência da evidenciação de informações” (BARBOSA et
al., 2013, p. 6).
Já Serra et al. (2011, p. 3) afirmam que “o retorno anormal relativo às mudanças no
índice é inconsistente com a forma semiforte de mercado eficiente” uma vez que, de
acordo com Fama (1969), a HME na sua forma semiforte assegura o reflexo das
informações públicas nos preços dos títulos.
Por fim, Serra et al. (2011) afirmam que “diversos estudos analisam o efeito no preço
de ações após mudanças na composição de índices de mercado”, o que vai de
encontro com a afirmativa de Barbosa et al. (2013) de que “investigações com o
propósito de relacionar retorno e/ou valorizações de ações de empresas negociadas
na bolsa e determinadas práticas de gestão têm sido realizadas no Brasil”.
Outros dois artigos referenciados estudaram o impacto da divulgação da informação
contábil no preço das ações. Paulo, Sarlo Neto e Santos (2012) buscaram verificar
se os preços das ações reagem à divulgação do lucro contábil trimestral e avaliar se
essa reação é diferente das reações mensuradas para os demais dias de
determinado período, enquanto Sarlo Neto et al. (2005) objetivaram analisar qual o
impacto da divulgação dos resultados contábeis em cada tipo de ação.
Paulo, Sarlo Neto e Santos (2012) publicaram artigo no qual abordam a reação do
preço das ações e intempestividade informacional do lucro contábil trimestral no
Brasil. O estudo de eventos foi utilizado para fins de teste de hipótese da pesquisa,
porém o mesmo foi modificado metodologicamente a fim de buscar o alcance do
objetivo do estudo.
Após a aplicação de testes estatísticos, os quais indicaram que o lucro contábil
possui conteúdo informacional assimétrico, Paulo, Sarlo Neto e Santos (2012)
concluíram que o conservadorismo contábil influi no preço das ações, uma vez que
33
as más notícias são refletidas mais rapidamente pelo lucro contábil. Sendo assim,
espera-se que o conteúdo informacional evidencie mais tempestivamente essas
notícias.
Sarlo Neto et al. (2005) também utilizaram o estudo de eventos, uma vez que de
acordo com Campbell, Lo e Mackinlay (1997) e considerando a racionalidade do
mercado, os efeitos de um evento são imediatamente refletidos nos preços das
ações. Os resultados originados pelo estudo levaram a conclusão de que para as
ações ordinárias a informação contábil é importante somente nos casos de lucros
anormais negativos e para as ações preferenciais os resultados contábeis
divulgados representam uma fonte importante de informação para o investidor.
Paulo, Sarlo Neto e Santos (2012, p. 4) ressaltam que a “relevância das informações
contábeis sobre a precificação de ativos tem sido amplamente pesquisada nas
ultimas décadas” e apontam os estudos clássicos de Beaver (1968), Brown e
Kennelly (1972) e Firth (1975) que relacionaram a informação contábil ao mercado
de ações.
Nesta mesma linha, Sarlo et al. (2005, p. 2) afirmam que a importância de tais
estudos “deve-se ao fato de que os mercados de capitais representam um ambiente
no qual possam ser testadas as práticas contábeis, observando as alterações dos
preços dos ativos em relação à divulgação das informações elaboradas pela
Contabilidade”.
Corroborando com os pressupostos da HME trazidos por Barbosa et al. (2013) e
Serra et al. (2011), Paulo, Sarlo Neto e Santos (2012) e Sarlo et al. (2005) também
levam aos seus estudos a HME.
Paulo, Sarlo Neto e Santos (2012), baseados na HME, afirmam que o lucro contábil
divulgado possui capacidade de alteração significativa nas expectativas dos
investidores em relação a retornos futuros, podendo assim afetar o valor de mercado
da empresa. Para Sarlo et al. (2005, p. 3) a teoria da HME “define que as variações
dos preços das ações incorporam todas as informações e expectativas sobre as
empresas”.
34
Os resultados encontrados nas pesquisas de Paulo, Sarlo Neto e Santos (2012) e
Sarlo et al. (2005) confirmam a relevância da informação contábil no mercado de
ações e refletem o conservadorismo no mercado de ações, uma vez que concluem
que os eventos negativos causam reflexo nos preços do mercado acionário
antecipadamente e os eventos positivos só causam tal reflexo em momentos
próximos ou posteriores à divulgação.
Cabe ressaltar a sugestão de Paulo, Sarlo Neto e Santos (2012) quanto à fragilidade
do estudo de eventos, uma vez que, segundo os autores, apresenta limitações
metodológicas que podem ser aprimoradas em novas pesquisas.
Batistella et al. (2004) e Pessanha (2010) em seus estudos analisaram a reação do
mercado acionário aos processos de fusão e aquisições de bancos por meio da
aplicação do estudo de eventos.
Batistella et al. (2004), dada a observação de que os processos de fusão e
aquisição de bancos no Brasil têm se mostrado em evidência e que o objetivo
principal da teoria de finanças é a criação de valor para os acionistas, buscaram
“analisar se as aquisições de bancos ocorridas no mercado brasileiro posterior a
1997 proporcionaram alteração na riqueza dos acionistas adquirentes”.
(BATISTELLA et al. , 2004, p. 2).
Para fins de análise dos dados foi utilizado o estudo de eventos, que segundo
Batistella et al. (2004, p. 3) tem como preocupação central “medir o retorno anormal
verificado no preço das ações em razão da ocorrência de um determinado evento”.
Os eventos analisados no estudo foram as aquisições de bancos ocorridas no
período de janeiro de 1997 a dezembro de 2003 no mercado financeiro brasileiro.
Batistella et al. (2004) concluíram que as aquisições analisadas não criaram valor
para os acionistas adquirentes. Esta conclusão corrobora com os resultados
encontrados no estudo de Pessanha (2010).
Pessanha (2010) analisou os efeitos das fusões e aquisições na rentabilidade e no
risco no setor bancário brasileiro no período de 1994 a 2009. Seu estudo foi dividido
35
em três partes: a primeira parte verificou e descreveu os impactos das operações de
fusão e aquisição na rentabilidade das organizações adquirentes do setor bancário;
a segunda verificou a reação do mercado acionário mediante o anúncio de fusões e
aquisições e, a terceira, utilizando-se o estudo de eventos, analisou a reação do
mercado ao anúncio de fusões e aquisições no setor bancário brasileiro.
O estudo de eventos realizado na pesquisa de Pessanha (2010), assim como o de
Batistella et al. (2004), indicou que as fusões e aquisições analisadas não
proporcionaram aumento da riqueza dos acionistas nas instituições adquirentes.
Comumente às pesquisas já citadas até aqui, Batistella et al. (2004) e Pessanha
(2010) utilizaram o modelo de estudo de eventos propostos por Mackinlay (1997),
que, segundo os autores, busca mensurar o impacto de determinada divulgação no
valor da empresa, respaldado na hipótese de que os mercados são eficientes.
A relação entre a HME e o mercado de ações torna-se evidente em todas as
pesquisas referenciadas, uma vez que conforme Barbosa et al. (2013, p. 3) a
hipótese “auxilia o esclarecimento das informações que impactam a formação do
preço dos títulos, as informações de cunho relevante”.
Confirmando a afirmativa de Batistella et al. (2004, p. 2) de que a “informação
constitui o principal insumo para os investidores tomarem suas decisões”, Lucchesi e
Fama (2007) realizaram estudo do impacto das decisões de investimento das
empresas brasileiras, divulgadas por meio de anúncios, no valor de suas ações
negociadas na BOVESPA no período de 1996 a 2003.
Com o objetivo de verificar, pelo método de estudo de eventos, a existência de
retornos anormais estatisticamente significantes em torno da data do anúncio de
uma decisão de investimento por parte das empresas e na data propriamente dita,
Lucchesi e Fama (2007) concluíram que o mercado de ações reage de maneira
consistente com a suposição conjunta da hipótese de maximização do valor de
mercado e do modelo tradicional de avaliação de empresas.
Cunha e Costa Junior (2006) utilizaram o estudo de eventos para avaliar a influência
36
do vencimento das opções da BOVESPA sobre ações negociadas à vista, com
dados diários e semanais durante o período de 1998 a 2001. Os resultados obtidos
evidenciaram que existe influência significativa do mercado de opções sobre o
mercado à vista, contestando a eficiência do mercado e implicando a possibilidade
de se obterem retornos extraordinários, pelo menos na época do vencimento das
opções.
Santos e Perobelli (2009), assim como Cunha e Costa Junior (2006), utilizaram o
estudo de eventos para verificar o conteúdo informacional dos eventos relativos ao
Employee Stock Options Plans (ESOP), conhecido nacionalmente como Planos de
Opção de Compra de Ações no mercado acionário brasileiro. O objetivo do estudo
foi verificar se a deliberação de um ESOP para as companhias abertas negociadas
na BOVESPA tem impacto sobre o retorno das ações dessas empresas e, em caso
afirmativo, em qual direção. Realizado o estudo de eventos, os resultados do estudo
apontaram para indícios da existência de diferenças no conteúdo informacional
transmitido ao mercado em relação aos beneficiários elegíveis para o plano.
Os estudos de Cunha e Costa Junior (2006) e Santos e Perobelli (2009) contradizem
a HME e apontam a possibilidade de retornos extraordinários. Para Ross,
Westerfield e Jaffe (2002), a HME assume que a informação disponível é refletida
imediatamente nos preços das ações, não havendo, portanto, possibilidade de
ajuste dos preços após a disponibilidade da informação, uma vez que os preços são
estabelecidos antes do surgimento de tal possibilidade. Sendo assim, a HME
assume conclusivamente que o conhecimento da informação não é capaz de ser
traduzido em vantagem alguma para o investidor.
Por fim, aliando a todos os eventos nacionais referenciados, Iquiapaza et al. (2009),
objetivando verificar se o mercado brasileiro proporciona evidências empíricas
condizentes com as evidências internacionais, estudaram a informação dos insiders
e seu efeito sobre os preços em duas formas de emissão de ações na BOVESPA,
sendo elas as ofertas amplas e as ofertas restritas aos acionistas da referida Bolsa.
A fim de cumprir com o objetivo do estudo, Iquiapaza et al. (2009) utilizaram a
metodologia do estudo de eventos e concluíram que a reação do preço das ações,
37
quando do anúncio de novas ações, pode ser considerada como bem diferente a
depender se a emissão se dará de forma ampla ou restrita.
Iquiapaza et al. (2009) em sua pesquisa agrupa as hipóteses de tentativa de
explicação e justificativa para o comportamento do mercado em três grupos. O
primeiro considera o mercado eficiente, como nas pesquisas de Barbosa et al.
(2013), Sarlo Neto et al. (2005) e Pessanha (2010), dentre outras aqui referenciadas,
em que não se considera efeito no preço. O segundo e o terceiro grupos
contradizem a eficiência de mercado, considerando que há efeito preço negativo e
positivo, respectivamente.
Sendo assim, há que se considerar a forte relação existente entre a HME e
aplicação do estudo de eventos, uma vez que todos os estudos referenciados
apontam a realização do estudo de eventos baseando-se na HME.
Apresentado o mercado de ações com suas características e destaque para a
política de dividendos e hipótese do mercado eficiente, além das pesquisas
realizadas utilizando a metodologia do estudo de eventos, apresenta-se, na próxima
seção a metodologia utilizada no presente estudo.
38
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Nesta seção, são apresentados os aspectos metodológicos da pesquisa, descritas a
sua caracterização e detalhada a utilização da metodologia de estudo de eventos
para fins de coleta e análise dos dados.
3.1 Caracterização da Pesquisa
Quanto à abordagem, a pesquisa caracteriza-se como quantitativa, uma vez que tem
por objetivo estudar a reação do mercado de ações à divulgação de pesquisas
eleitorais, a partir de base de dados secundários coletados por meio da base de
dados Economática, analisados estatisticamente.
Colwell (1990) entende como pesquisa quantitativa aquela que procura detectar o
grau em que um atributo está presente em um algum fenômeno.
Conforme Collins e Hussey (2005, p. 26), o “método quantitativo envolve coletar e
analisar dados numéricos e aplicar testes estatísticos”.
Quanto aos fins, a pesquisa caracteriza-se como descritiva, uma vez que, segundo
Vergara (2003), a pesquisa descritiva expõe características de determinada
população ou de determinado fenômeno, não tendo o compromisso de explicar os
fenômenos que descreve.
Quanto aos meios, a pesquisa caracteriza-se como ex post facto.
Para Vergara (2003), a pesquisa ex post facto é aquela em que o pesquisador não
pode controlar ou manipular variáveis, seja porque suas manifestações já ocorreram,
seja porque as variáveis não são controláveis.
3.2 Estudo de Eventos
Para a realização do estudo de eventos proposto por Mackinlay (1997) definiram-se
39
etapas a serem seguidas no propósito de avaliar como o mercado de ações reage
diante da publicação das pesquisas eleitorais, conforme FIG. 1.
Vachadze (2001) afirma que esta metodologia tem sido muito utilizada na área de
finanças, tendo como objetivo estimar o impacto de diferentes divulgações de
informações no preço de ações.
Figura 1 – Etapas do estudo de eventos
Fonte: Adaptado de Barbosa et al (2013)
O evento objeto de estudo, para fins de avaliação do impacto que o mesmo causou
no mercado de ações, foram as pesquisas eleitorais divulgadas por institutos de
pesquisas, referente aos pleitos para o mandatário principal do país das últimas seis
eleições presidenciais, ou seja, os pleitos de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014.
Ressalta-se que, para eleições em que ocorreu segundo turno, foram consideradas
as pesquisas divulgadas para tal momento. Portanto, conforme TAB. 2, definiu-se a
data de ocorrência dos anúncios das pesquisas eleitorais dos Institutos Datafolha e
IBOPE, entendida para fins do estudo como data zero.
Para a data zero, foram considerados os preços das ações das datas de divulgação
das pesquisas eleitorais, ou em caso de divulgação em dias não úteis, o primeiro dia
útil subsequente.
Definição do evento e data de ocorrência
do anúncio
Apresentação da população e seleção da
amostra
Definição da janela do evento
Mensuração e estimação do
retorno normal do mercado
Mensuração do retorno anormal
Mensuração do retorno anormal
acumulado
Análise e discussão dos
dados
40
Tabela 2 - Data de ocorrência dos anúncios das pesquisas eleitorais Data da divulgação Institutos de pesquisa Pleito
04/10/1994
02/10/1998
28/10/2002
30/10/2006
01/11/2010
27/10/2014
Datafolha e IBOPE
Datafolha e IBOPE
Datafolha e IBOPE
Datafolha e IBOPE
Datafolha e IBOPE
Datafolha e IBOPE
1º turno
1º turno
2º turno
2º turno
2º turno
2º turno
Fonte: Dados da pesquisa
Definidas as datas dos eventos, procedeu-se a apresentação da população e
seleção da amostra.
Considerando a população como um conjunto de elementos com determinada
característica comum, a presente pesquisa define como população o mercado de
ações nacional e as pesquisas eleitorais divulgadas no Brasil.
As variáveis consideradas como indicadores do comportamento de mercado são os
setores de consumo cíclico e construção e transporte da BOVESPA, além do
IBOVESPA utilizado como base para apuração do possível retorno anormal das
ações.
A amostra compõe-se de 146 empresas listadas na BOVESPA nos setores objeto de
pesquisa. Para fins do presente estudo, o setor de consumo cíclico foi assumido
como setor independente das variações de ordem política e o setor de construção e
transporte foi assumido como setor dependente de tais variações.
A escolha do setor de consumo cíclico como setor independente das variações de
ordem política se deve ao fato de tal setor possuir característica discricionária, ou
seja, as decisões relacionadas ao consumo são de livre escolha a depender de sua
conveniência e oportunidade.
Já o setor de construção e transporte foi assumido como setor dependente das
variações de ordem política por ser sensível a fatores como o ajuste fiscal, a taxa de
41
juros e, principalmente, às decisões políticas acerca das concessões no setor de
infraestrutura nacional.
Para fins de análise comparativa, a amostra é composta ainda pelo IBOVESPA, uma
vez que tal índice compõe-se das ações com destaque de negociação dos quatro
meses antecedentes, o que proporciona uma melhor compreensão da média de
desempenho das principais ações negociadas na BOVESPA.
Sendo assim, a amostra do estudo foi composta por 293 observações.
A coleta de dados foi realizada considerando as cotações diárias dos dias de pregão
das ações nos períodos eleitorais compreendidos entre os dias 5 de maio e 7 de
outubro para o ano de 1994; 6 de maio e 7 de outubro para o ano de 1998; 3 de
junho e 31 de outubro para o ano de 2002; 1 de junho e 3 de novembro para o ano
de 2006; 2 de junho e 5 de novembro para o ano de 2010, e 29 de maio e 30 de
outubro do ano de 2014.
Barbosa et al. (2013) afirmam que o estudo de eventos exige a definição da data de
ocorrência do anúncio do evento, o período de tempo a ser definido pelo autor
acrescendo à data de ocorrência a quantidade de dias desejada, considerado na
aplicação da metodologia como janela do evento e o período de estimação,
representado por alguns dias antes da ocorrência do evento, chamado de janela de
estimação.
Para se medir o efeito da divulgação das pesquisas eleitorais sobre o mercado de
ações, foi arbitrada janela de eventos com três dias anteriores e três posteriores à
divulgação. Portanto, a janela de eventos do estudo irá compreender sete dias.
De acordo com Mackinlay (1997), para que não ocorra influência na definição da
janela de estimação, não é aconselhável que a janela do evento esteja inserida na
janela de estimação, uma vez que a janela do evento é aquela onde o retorno da
ação foi analisado.
Para que eventuais variações no mercado de ações causadas por fatores diversos
42
ao período eleitoral não causem impactos na janela de estimação, o presente estudo
utilizou janelas que não compreendem um mesmo período, estabelecendo janela de
estimação composta por 100 dias anteriores à janela de evento.
As janelas do estudo de eventos foram apresentadas graficamente conforme FIG. 2.
Figura 2 - Janelas do estudo de eventos
Fonte: Santos et al. (2009, p. 5)
Definidas as janelas, foi calculado o retorno anormal de acordo com o modelo de
retorno ajustado ao mercado, o qual assume que os retornos esperados
correspondem aos retornos dos títulos, antes da data de ocorrência do evento.
Portanto, o cálculo foi realizado pela diferença do retorno real e o retorno anormal,
dado o retorno do mercado, conforme expressão a seguir:
ARit = Rit – (αi + βi Rmt)
Onde:
ARit: retorno anormal do ativo i na data t;
Rit: retorno real do ativo i na data t;
αi: coeficiente de intercepto;
βi: declividade para o ativo i;
Rmt: retorno da carteira de mercado, na data t.
Ressalta-se que retorno anormal é aquele que difere do retorno ocorrido ou
43
esperado pelo mercado de ações, sendo que, para fins do estudo, o IBOVESPA foi
considerado como o retorno do mercado.
Cabe ressaltar ainda que o βi é o coeficiente que mede a sensibilidade de uma ação
em relação ao comportamento do IBOVESPA. Já o αi é o coeficiente de retornos
que busca medir essa sensibilidade acima do comportamento do mercado.
Soares, Rostagno e Soares (2002) sugerem a transformação logarítima para melhor
aderência à distribuição normal dos retornos. O presente estudo utilizará para
cálculo do retorno real a seguinte expressão:
RIT = Ln (Pt / Pt – 1)
Onde:
RIT: retorno real do ativo i na data t;
Pt: preço da ação na data t.
Para conclusão das etapas do estudo de eventos, foram calculados os retornos
anormais acumulados nas janelas estudadas, cuja apuração foi realizada pelo total
de retornos anormais ocorridos no período.
Após mensuração e estimação dos retornos normal e anormal do mercado, fez-se
necessário o desenvolvimento das hipóteses da pesquisa para fins de análise dos
resultados encontrados por meio da aplicação do estudo de eventos e realização de
testes estatísticos. Considerando possível o impacto da divulgação das pesquisas
eleitorais no preço das ações cotadas na BOVESPA, definiu-se a seguinte hipótese:
Hipótese Geral: o mercado de ações reage de modo diferenciado à divulgação das
pesquisas eleitorais para a escolha do mandatário principal do país.
Para fins de teste da hipótese geral foram testadas ainda as seguintes hipóteses
operacionais:
H0:.RA0 = 0
44
H1:.RA0 ≠ 0
H0:.RAC(-3,+3) = 0
H1:.RAC(-3,+3) ≠ 0
Onde:
RA0: retorno anormal do dia zero;
RAC(-3,+3): retorno anormal acumulado na janela de eventos.
Santos et al. (2009), conforme revisão literária realizada, estudaram o conteúdo
informacional relativo de receitas e despesas no mercado acionário brasileiro. Como
metodologia utilizaram, além da aplicação do estudo de eventos, os seguintes testes
estatísticos: teste t, teste estandardizado e o teste de igualdade de variâncias. Os
autores realizaram os testes para cada uma das categorias de cada um dos tipos de
eventos considerados.
O estudo concluiu, após aplicação da metodologia e realização dos testes
estatísticos, que “é possível presumir que o mercado acionário brasileiro possui um
perfil conservador, conferindo maior importância às ‘más notícias’ quando da
formação ou ajuste das suas expectativas em relação ao valor da empresa”
(SANTOS et al., 2009, p. 14).
Os métodos estatísticos utilizados por Santos et al. (2009) foram reaplicados no
presente estudo, uma vez que a realização dos mesmos foi necessária para
verificação das hipóteses definidas e melhor compreensão dos resultados
encontrados por meio da aplicação do estudo de eventos.
Após a definição das hipóteses da pesquisa, foram realizadas as estatísticas
descritivas das séries dos dois setores da BOVESPA objeto de estudo e o teste de
Komolgorov-Sminorv para fins de análise estatística da distribuição das séries dos
retornos anormais, devido a afirmação de Mackinlay (1997) de que a premissa da
hipótese nula do estudo assume uma distribuição normal dos retornos anormais.
45
Para aplicação do teste utilizou o software ©Action e como hipótese nula a premissa
de que os dados seguem uma distribuição normal ao nível de significância de 5%.
Para fins de análise dos resultados encontrados na aplicação do teste considerou-se
a tabela de valores críticos disponíveis no software, conforme TAB. 3.
Tabela 3 - Valores críticos do teste de Komolgorov-Sminorv
Nível de significância α n 0,2 0,1 0,05 0,01 5 0,45 0,51 0,56 0,67
10 0,32 0,37 0,41 0,49 15 0,27 0,3 0,34 0,4 20 0,23 0,26 0,29 0,36 25 0,21 0,24 0,27 0,32 30 0,19 0,22 0,24 0,29 35 0,18 0,2 0,23 0,27 40 0,17 0,19 0,21 0,25 45 0,16 0,18 0,2 0,24 50 0,15 0,17 0,19 0,23
Valores maiores
1,07/√n 1,22/√n 1,36/√n 1,63/√n
Fonte: ©Action.
Realizados o teste Komolgorov-Sminorv e constatada a normalidade da distribuição,
foram aplicados dois testes estatísticos paramétricos e um teste de igualdade de
variâncias utilizados no estudo de Santos et al. (2009).
O teste t foi realizado através de duas equações, sendo a primeira para fins do teste
para o retorno anormal médio na data t e a segunda para fins do teste para a média
do retorno acumulado da janela de eventos. Para as equações, N representa o
número de empresas que possuem, pelo menos, um evento relacionado à data t.
46
Onde:
θ: teste t;
t: retorno anormal médio na data t;
s( t): desvio padrão dos retornos médios;
(t1,t2): média do retorno acumulado da janela de eventos;
N: número de empresas.
O desvio padrão dos retornos médios foi calculado por meio da seguinte equação:
Onde:
s( t): desvio padrão dos retornos médios;
t: retorno anormal médio na data t;
: média dos de cada um dos dias da janela de estimação.
Para cálculo do desvio padrão, a média dos retornos anormais dos dias da janela de
estimação foi calculada da seguinte forma:
Onde:
: média dos RA de cada um dos dias da janela de estimação;
t: retorno anormal médio na data t.
Realizado o teste t, foi iniciada a aplicação do teste estatístico estandardizado. Para
47
tal realização a metodologia de cross-section foi assumida, por ser esta uma
metodologia em que o período de tempo é fixado e os dados são coletados em
diversos setores, empresas, regiões, dentre outros.
O teste estandardizado foi calculado por meio das seguintes fórmulas:
Onde:
θ: teste estandardizado;
RAit: retorno anormal da ação i no tempo t;
RA’t: retorno anormal médio;
L: número de dias da janela de eventos;
si: desvio padrão.
Por fim, foi realizado o teste de igualdade de séries, por meio do F-teste, para teste
da hipótese nula de igualdade entre as variâncias das séries ao nível de significância
de 5%.
Realizadas as etapas do estudo de eventos e aplicados os testes estatísticos, foram
apuradas as variações reais das ações dos setores de construção e transporte e
consumo cíclico, bem como do IBOVESPA, para fins de verificação da
movimentação real dos preços das ações dentro da janela de eventos. Em
sequência, apresenta-se na próxima seção a análise dos dados.
48
4 ANÁLISE DOS DADOS
Para fins de análise dos dados, inicialmente foram realizadas as estatísticas
descritivas referentes aos retornos anormais relativos à janela de estimação do
estudo de eventos, pré-definida em 100 dias de pregão anteriores à janela do
evento. Apresentam-se por meio da TAB. 4 e TAB. 5 as propriedades dos retornos
anormais diários, nas séries dos setores da BOVESPA, objetos de estudo,
construção e transporte, e consumo cíclico, respectivamente.
Tabela 4 - Estatística descritiva do setor de construção e transporte Ano 1994 1998 2002 2006 2010 2014 Média -22,36 -8,21 -81,55 -844,93 -1235,92 -807,05 Mediana -22,05 -8,81 -81,57 -843,75 -1245,73 -809,20 Máximo -20,19 -5,23 -79,83 -795,19 -1213,11 -794,27 Mínimo -24,56 -9,34 -83,18 -907,22 -1257,39 -813,44 Desvio Padrão
1,60 1,42 1,24 36,35 19,07 6,81
Assimetria -0,19 1,92 0,28 -0,57 0,32 1,35 Curtose -1,19 3,94 -1,04 0,49 -2,32 1,11
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 5 - Estatística descritiva do setor de consumo cíclico Ano 1994 1998 2002 2006 2010 2014 Média -6203,88 -912,96 -967,54 -2428,30 -1779,35 -2610,28 Mediana -6178,44 -910,83 -962,59 -2399,06 -1732,45 -2605,65 Máximo -6046,99 -895,80 -951,74 -2244,36 -1679,22 -2598,23 Mínimo -6409,61 -938,66 -982,91 -2604,29 -1890,49 -2635,56 Desvio Padrão
136,41 15,43 14,58 116,21 89,75 13,41
Assimetria -0,48 -0,64 -0,15 0,06 -0,34 -1,4 Curtose -1,14 -0,58 -2,53 0,16 -2,26 1,17
Fonte: Dados da pesquisa
As janelas de estimação do setor de consumo cíclico referente aos anos de 1998 e
2002 foram reduzidas para 85 e 99 dias respectivamente, por não apresentarem
dados completos para todo o período. Porém, ressalta-se que a devida redução
ocorreu, pois, as datas em que não haviam ações negociadas no referido setor não
foram consideradas para fins de análise.
49
Considerando tanto o setor de construção e transporte, quanto o setor de consumo
cíclico, é possível afirmar que os dados apresentados na estatística descritiva para
todos os anos objetos de análise não possuem características semelhantes.
Considera-se que tal fato seja previsível, devido à distância de tempo dos períodos
analisados.
Como ponto de destaque da estatística descritiva tem-se os valores apontados na
assimetria e curtose. Para a série de eventos referente ao setor de construção e
transporte os respectivos valores apresentaram-se em número mais elevado no ano
de 1998, já para a série de eventos referente ao setor de consumo cíclico os
maiores números ocorreram no ano de 2006.
Para fins de análise da distribuição das séries, aplicou-se o teste Kolmogorov-
Smirnov, pelo qual é possível concluir que as séries apresentadas tanto no setor de
construção e transporte, quanto no setor de consumo cíclico possuem evidências de
normalidade, uma vez que houve rejeição da hipótese nula de que os dados seguem
uma distribuição normal, conforme TAB. 6 e TAB. 7.
Tabela 6 - Teste de Komolgorov-Sminor do setor de construção e transporte
Ano 1994 1998 2002 2006 2010 2014 Estatística 0,09927 0,0507 0,0842 0,08098 0,061479 0,06104 Probabilidade 0,01664 0,852 0,08 0,10994 0,464984 0,4768 Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 7 -Teste de Komolgorov-Sminor do setor de consumo cíclico
Ano 1994 1998 2002 2006 2010 2014 Estatística 0,10142 0,1961 0,093 0,08172 0,060114 0,06579 Probabilidade 0,01302 3,5251 0,0329 0,09645 0,50174 0,35671
Fonte: Dados da pesquisa
Considerando a tabela de valores críticos do teste de Kolmogorv-Smirnov
apresentada na metodologia de pesquisa, aplicou-se a equação referente aos
valores maiores que 50 e obteve-se 0,14 como valor crítico da janela de estimação.
Uma vez que todos os anos apresentaram valores menores do que 0,14 e
comprovada a hipótese de normalidade das séries, é possível concluir que a
50
aplicação de testes paramétricos pode resultar em observações consistentes para a
inferência da hipótese nula de que RA0 = 0 e RAC(-3,+3) = 0.
Em seguida, foi realizado o teste de igualdade para variância por meio do F-Teste
considerando para tal fim a janela de estimação de cem dias anteriores à janela do
evento, conforme descrito na metodologia da presente pesquisa.
A TAB. 8 e TAB. 9 apresentam os resultados obtidos por meio do F-teste para os
setores de construção e transporte e consumo cíclico.
Tabela 8 - F-teste do setor de construção e transporte Ano 1994 1998 2002 2006 2010 2014 Graus de liberdade 99 84 98 99 99 99 Valor 0,0339 2,2432 0,0481 0,1279 0,1357 0,1202 Probabilidade 0,0003 0,0935 0,0009 0,0148 0,0173 0,0125 Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 9 - F-teste do setor de consumo cíclico Ano 1994 1998 2002 2006 2010 2014 Graus de liberdade 99 99 99 99 99 99 Valor 0,0348 0,0344 0,0496 0,1279 0,1334 0,1147 Probabilidade 0,0004 0,0004 0,0010 0,0148 0,0166 0,0110 Fonte: Dados da pesquisa
Conforme evidenciado por meio da TAB. 8 e TAB. 9, rejeita-se a hipótese nula de
igualdade das variâncias das séries dos dois setores, testada a hipótese ao nível de
5%. Considerando a série do setor de construção e transporte apenas a série
referente ao ano de 1998 não rejeita a hipótese de nula ao nível de 5%, o que não
ocorre se tal nível for alterado para 10%. Portanto, comprovou-se por meio do F-
teste que as séries são estatisticamente significantes.
Realizada a metodologia para obtenção dos retornos anormais, foram obtidos os
valores abaixo, apresentados conforme a TAB. 10 a TAB. 21, referente aos anos de
1994, 1998, 2002, 2006 e 2014. Para cada dia da janela de eventos referente aos
dois setores objetos de estudo, são evidenciados os retornos anormais médios, os
retornos anormais médios estandardizados, os retornos anormais médios
51
acumulados, além dos testes t e dos testes estandardizados para a data zero e para
o acumulado da janela de eventos.
Tabela 10 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 1994
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -83,87 42,65 -2 -86,11 43,79 -1 -86,04 43,76 0 -84,46 42,95 -3,42 -0,34 1 -81,53 41,46 2 -78,35 39,84 3 -76,77 -577,12 39,04 293,49 -168,29 110,93
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 11 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 1994
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -6170,58 70,99 -2 -6071,31 69,84 -1 -6046,99 69,56 0 -6136,04 70,59 -2,96 -0,19 1 -6236,64 71,75 2 -6348,11 73,03 3 -6409,61 -43419,28 73,74 499,50 -343,11 188,79
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 12 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 1998
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -8,81 33,50 -2 -12,96 49,27 -1 -8,04 30,57 0 -8,23 31,27 -2,62 -0,29 1 -13,69 52,03 2 -6,28 23,87 3 -10,37 -68,68 39,41 259,93 -27,17 98,24
Fonte: Dados da pesquisa
52
Tabela 13 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 1998
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -556,25 80,61 -2 -530,79 76,92 -1 -475,21 68,87 0 -515,52 74,71 -2,03 -0,19 1 -489,85 70,99 2 -508,86 73,74 3 -492,98 -3569,47 71,44 517,29 -140,64 195,52
Fonte: Dados da pesquisa
TABELA 14 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 2002
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -67,44 46,60 -2 -66,85 46,18 -1 -67,72 46,79 0 -65,52 -45,26 -3,14 -0,14 1 -65,43 45,20 2 -68,59 47,39 3 -68,75 -470,29 47,50 324,91 -379,35 122,81
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 15 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 2002
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -802,53 73,90 -2 -799,85 73,65 -1 -814,01 74,96 0 -785,75 72,35 -3,16 -0,18 1 -786,88 72,46 2 -817,39 75,27 3 -823,56 -5629,97 75,83 518,42 -412,02 195,94
Fonte: Dados da pesquisa
53
Tabela 16 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 2006
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -843,75 59,22 -2 -849,79 59,64 -1 -826,56 58,01 0 -795,19 55,81 -3,63 -0,22 1 -821,97 57,65 2 -870,61 61,11 3 -907,22 -5914,52 63,67 415,12 -175,74 156,90
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 17 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 2006
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -2737,71 59,36 -2 -2744,22 59,50 -1 -2718,48 58,94 0 -2683,13 58,17 -3,33 -0,17 1 -2712,65 58,81 2 -2767,90 60,01 3 -2809,36 -19173,45 60,91 554,27 -506,01 209,49
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 18 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 2010
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -1082,42 98,59 -2 -1086,14 98,92 -1 -1081,58 98,51 0 -1063,84 96,89 -2,97 -0,14 1 -1057,56 96,32 2 -1036,40 94,39 3 -1044,56 -7452,49 95,14 678,77 -409,65 256,55
Fonte: Dados da pesquisa
54
Tabela 19 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 2010
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -2498,07 88,76 -2 -2476,49 87,99 -1 -2507,04 89,08 0 -2584,87 91,84 -3,51 -0,15 1 -2615,00 92,91 2 -2709,60 96,27 3 -2675,98 -18067,03 95,08 641,94 -213,77 242,63
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 20 - Resultados da janela de eventos do setor de construção e transporte referente ao ano de 2014
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -805,52 104,99 -2 -816,89 106,47 -1 -808,98 105,44 0 -817,64 106,57 -3,33 -0,13 1 -806,38 105,10 2 -814,43 106,15 3 -806,60 -5676,45 105,13 739,86 -1168,01 279,64
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 21 - Resultados da janela de eventos do setor de consumo cíclico referente ao ano de 2014
Dias RA RAC RA'it RA'(t1.t2) Teste t Teste estandardizado
-3 -2612,68 97,38 -2 -2590,87 96,56 -1 -2606,42 97,14 0 -2588,60 96,48 -3,06 -0,14 1 -2611,21 97,32 2 -2595,49 96,74 3 -2611,56 -18216,87 97,33 678,96 -1883,53 256,62
Fonte: Dados da pesquisa.
Para todos os anos estudados, tanto no setor de construção e transporte, quanto no
setor de consumo cíclico, observou-se que a hipótese nula da pesquisa foi rejeitada
uma vez que para todos os eventos, os retornos anormais diários e acumulados
55
foram diferentes de zero. Tal resultado não difere do observado no teste t, onde a
hipótese nula foi rejeitada ao nível de significância de 5%.
Já em relação ao teste estandardizado, a hipótese nula foi testada ao nível de
significância de 10% na data zero e 1% no acumulado, conforme aplicado nos
estudos de Santos et al. (2009). Porém, não foi possível a rejeição da hipótese nula,
uma vez que a característica de tal teste assume a independência cross-section dos
retornos anormais do mercado.
Para fins de melhor entendimento, explanação e evidenciação são apresentados,
ainda por meio do GRÁF. 1, GRÁF. 2 e GRÁF. 3, os retornos anormais e retornos
anormais acumulados das janelas de evento dos setores de construção e transporte
e consumo cíclico da BOVESPA.
Gráfico 1 - Retornos anormais do setor de construção e transporte
Fonte: Dados da pesquisa
Analisando o GRAF. 1, o qual evidencia os retornos anormais do setor de
construção e transporte, na janela de eventos alusiva aos últimos seis anos
56
eleitorais para o mandatário principal do Brasil, nota-se que em todos os anos foram
apresentados retornos anormais negativos, porém dentro da janela de eventos os
retornos anormais apresentam-se constantes seguindo uma mesma tendência.
Já o GRAF. 2, o qual evidencia os retornos anormais do setor de consumo cíclico,
também na janela de eventos alusiva aos últimos seis anos eleitorais para o
mandatário principal do Brasil, nota-se que em todos os anos foram apresentados
retornos anormais negativos, sendo que da mesma forma em que apresentam-se os
retornos anormais do setor de construção e transporte dentro da janela de eventos,
os retornos anormais do setor de consumo cíclico apresentam-se constantes
seguindo uma mesma tendência.
Gráfico 2 - Retornos anormais do setor de consumo cíclico
Fonte: Dados da pesquisa
O GRÁF. 3, que demonstra os retornos anormais acumulados das séries dos dois
setores objetos de estudo, explana a maior tendência às variações dos retornos
anormais do setor de consumo cíclico.
Os retornos anormais acumulados do setor de construção e transporte apresentam-
57
se de forma linear com queda em 2006 e imediata estabilização. Já os retornos
anormais acumulados do setor de consumo cíclico apresentam-se de forma variada
ao longo dos anos estudados, evidenciando uma grande elevação no ano de 1998,
estabilização no próximo período e novamente uma considerável queda no ano de
2006, seguida de estabilização.
Gráfico 3 - Retornos anormais acumulados
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme descrito na metodologia, após a aplicação do estudo de evento, para fins
de melhor entendimento, calcularam-se as variações dos preços das ações da
janela de eventos dos setores de construção e transporte e consumo cíclico,
comparando-as ao IBOVESPA, sendo este considerado como retorno de mercado,
para fins de cumprimento dos objetivos específicos definidos nesta pesquisa. O
cálculo foi realizado para todos os anos eleitorais estudados e os resultados
encontrados são apresentados por meio do GRÁF. 4 a GRÁF. 9.
Conforme apresentado no GRAF. 4, no ano de 1994 ocorreram fortes variações no
setor de construção e transporte nos dias anteriores à divulgação das pesquisas
58
eleitorais. Após a divulgação, houve leve elevação dos preços das ações das
empresas listas em tal setor, seguida de leve estabilização nos próximos dias.
Gráfico 4 – Variações ocorridas no ano de 1994
Fonte: Dados da pesquisa
O preço das ações do setor de consumo cíclico, apesar de sofrer forte elevação
entre os dias -3 e -2, apresentou queda no próximo período de foram a manter-se
basicamente na mesma faixa de preços. Nos primeiros dias antes e pós eventos, as
ações do referido setor sofreram baixa, voltando a elevar-se a partir do dia 1. Mesmo
apresentado variações na janela de eventos, o preço das ações do setor de
consumo cíclico, considerando os dias -3 e +3, pode ser considerado como estável.
Com relação ao IBOVESPA, o índice apresentou-se estável durante toda a janela de
eventos. Sendo assim, a comparação entre os setores e o IBOVESPA, considerando
este último como o retorno de mercado, evidencia que o mercado se mostrou
sensível à divulgação de pesquisas eleitorais no alusivo ano de 1994, devido às
fortes variações ocorridas nos setores estudados, mesmo que a variação das
mesmas tenha se aproximado do IBOVESPA no dia +3.
59
Gráfico 5 - Variações ocorridas no ano de 1998
Fonte: Dados da pesquisa
O GRAF. 5 apresenta as variações ocorridas no ano de 1998, que pode ser
considerado como um ano estável em relação ao setor de consumo cíclico e o
IBOVESPA, que não apresentaram grandes variações durante todo o período
compreendido na janela de eventos.
O setor de construção e transporte, no ano de 1998, apresentou considerável
variação positiva entre os dias -2 e -1 da janela de eventos, havendo decréscimo
posterior, levando ao retorno do preço inicial no dia +1. Ressalta-se a grande
elevação ocorrida no dia +2, seguida de grande queda no dia +3. Tal variação
evidencia a sensibilidade do setor de construção e transporte à divulgação das
pesquisas eleitorais.
60
Gráfico 6 - Variações ocorridas no ano de 2002
Fonte: Dados da pesquisa.
O GRAF. 6 demonstra as variações ocorridas no ano de 2002, onde nota-se a
costumeira estabilidade do IBOVESPA durante os dias da janela de eventos e,
especificamente em tal ano, notam-se elevadas variações positivas e negativas nos
setores de construção e transporte e consumo cíclico.
O setor de construção e transporte apresentou elevação acentuada no período
compreendido entre os dias -3 e +1 da janela de eventos, seguido de queda no dia
+2 e novamente elevação no dia +3. Durante todo o período da janela de eventos, o
setor de construção e transporte, entre quedas e elevações, apresentou-se em
elevada variação positiva.
O setor de consumo cíclico apresentou queda no período anterior ao evento,
seguido de elevação forte e contínua após a divulgação das pesquisas eleitorais do
no de 2002. Tal variação mostra a sensibilidade positiva do setor em relação ao
evento estudado.
61
Gráfico 7 - Variações ocorridas no ano de 2006
Fonte: Dados da pesquisa.
Referente ao ano de 2006, o GRAF. 7 demonstra a estabilidade do IBOVESPA
durante a janela do evento e as variações dos setores estudados.
Cabe aqui salientar o acompanhamento das variações dos dois setores durante o
período -1 a +2 da janela do evento, sendo que em relação ao dia +3 o preço das
ações do setor de construção e transporte elevou-se e o preço das ações do setor
de consumo cíclico manteve-se estável após a grande queda, evidenciando assim a
maior sensibilidade do setor de consumo cíclico no referido ano.
No ano de 2010, GRAF. 8, as variações no setor de construção e transporte
mostraram-se mais instáveis na janela de eventos. O IBOVESPA novamente
manteve-se estável no período analisado.
O setor de consumo cíclico apresentou variações ao longo da janela de eventos,
porém manteve-se próximo a sua estabilidade e ao IBOVESPA.
62
Gráfico 8 - Variações ocorridas no ano de 2010
Fonte: Dados da pesquisa.
No ano de 2010, as variações ocorridas no setor de construção e transporte
apresentaram forte queda no período dos dias -2 e -1, elevando-se no período
compreendido entre os dias -1 e +2, ocorrendo forte queda no dia +3. As variações
demonstram a sensibilidade do setor de construção e transporte à divulgação das
pesquisas eleitorais no referido ano.
Gráfico 9 - Variações ocorridas no ano de 2014
Fonte: Dados da pesquisa
63
Por fim, o GRAF. 9, apresenta as variações ocorridas no ano de 2014, sendo que o
IBOVESPA ainda se manteve estável, porém com leves variações. As variações dos
setores de construção e transporte e consumo cíclico em tal ano ocorreram, porém
em menor escala do que aquelas apontadas nos anos anteriores.
As variações ocorridas no ano de 2014 evidenciaram a sensibilidade do mercado de
ações à divulgação das pesquisas eleitorais, porém tal sensibilidade mostrou-se
mais estável em tal ano, tanto para o setor de construção e transporte, quanto para
o setor de consumo cíclico.
64
5 CONCLUSÕES
O presente estudo buscou analisar a reação do mercado de ações à divulgação de
pesquisas eleitorais no Brasil, quando da escolha do mandatário principal do país,
nas eleições alusivas aos anos 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014.
Para fins de construção do problema de pesquisa, realizou-se revisão literária
acerca da metodologia do estudo de eventos, aplicada no estudo, e do mercado de
ações.
A partir das informações contidas na revisão literária, foi possível definir as etapas
de aplicação da metodologia de estudo de eventos e buscar por informações do
mercado de ações nos setores da BOVESPA propostos para estudo, sendo eles o
setor de consumo cíclico, assumido como setor independente das variações de
ordem política e o setor de construção e transporte, assumido como setor
dependente de tais variações, para fins da pesquisa.
Para fins da coleta de dados utilizou-se a base de dados Economática. Após a
coleta, procedeu-se a realização das etapas do estudo de eventos e a aplicação dos
testes estatísticos, para os quais foi utilizado o software ©Action.
Sendo assim, considerando-se o objetivo específico de identificar e analisar o
impacto da divulgação das pesquisas eleitorais dos Institutos Datafolha e IBOPE no
preço das ações cotadas na BOVESPA no setor de consumo cíclico, esta pesquisa
conclui que para tal setor a hipótese geral do estudo foi aceita, uma vez que o
mercado de ações reage de modo diferenciado à divulgação de pesquisas eleitorais
para a escolha do mandatário principal do país.
O fato de ter sido o setor de consumo cíclico assumido como setor independente
das variações de ordem política não se comprova mediante a análise dos retornos
anormais acumulados nas janelas de eventos de todos os anos eleitorais
analisados, uma vez que tal setor foi o de maior variação e maiores retornos
anormais negativos.
65
Em relação às variações ocorridas nos anos eleitorais estudados, o setor de
consumo cíclico apresentou estabilidade nos anos de 1998 e 2010. No ano de 1994,
o setor apresentou variações leves na janela de eventos, demonstrando baixa
sensibilidade. No ano de 2002, o setor demonstrou variação positiva após a
divulgação das pesquisas eleitorais, o que não ocorreu no ano de 2006, quando
houve grande queda do valor das ações que o compõem.
No ano de 2014, o setor de consumo cíclico apresentou variações menores do que
aquelas apresentadas nos anos anteriores, porém evidenciando ainda sua
sensibilidade à divulgação das pesquisas eleitorais.
Com relação ao segundo objetivo específico de identificar e analisar o impacto da
divulgação das pesquisas eleitorais dos institutos Datafolha e IBOPE no preço das
ações cotadas na BOVESPA no setor de construção e transporte, tendo sido
assumido como setor dependente das variações de ordem política, o setor de
construção e transporte, corrobora com tal fato, porém de forma mais branda se
comparado ao setor de consumo cíclico, uma vez que os retornos anormais
acumulados nas janelas de eventos de todos os anos eleitorais analisados
apresentaram-se em números de menor valor do que aqueles apresentados no setor
de consumo cíclico.
Porém, tal fato também não rejeita a hipótese geral do estudo no setor de
construção e transporte, uma vez que o mercado de ações reage de modo
diferenciado à divulgação de pesquisas eleitorais para a escolha do mandatário
principal do país.
As variações ocorridas no setor de construção e transporte no decorrer dos anos
estudados iniciaram demonstrando sua sensibilidade maior à expectativa da
divulgação das pesquisas eleitorais, pois no ano de 1994 houve elevação alta e
grande queda no dia anterior à divulgação, sendo que nas datas posteriores os
preços das ações que compõem o referido setor mantiveram-se estáveis.
O ano de 1998 evidenciou uma reação contrária ao ano de 1994, uma vez que o
preço das ações do setor de construção e transporte que se mantinha estável,
66
porém elevou-se consideravelmente após a divulgação das pesquisas eleitorais. A
elevação dos preços ocorreu de forma imediata e retornou ao seu preço original da
mesma forma.
Nos demais anos estudados, o setor de construção e transporte apresentou
variações no decorrer dos dias da janela de eventos, evidenciando assim, sua alta
sensibilidade tanto às expectativas da divulgação das pesquisas eleitorais, quanto
ao conhecimento dos dados divulgados.
Enfim, a pesquisa conclui de forma a responder sua questão orientadora, que o
mercado de ações reage à divulgação de pesquisas eleitorais quando da escolha do
mandatário principal do país, evidenciando sua sensibilidade à expectativa da
divulgação das pesquisas eleitorais e à própria divulgação. Esta sensibilidade fica
mais evidente no primeiro dia posterior à divulgação, seguida de nova estabilização,
em sua maioria, no terceiro dia.
Assim, notam-se as contribuições e importância da presente pesquisa para três
pilares capazes de contribuir para o desenvolvimento nacional: a sociedade
acadêmica, a economia do país e a sociedade civil.
A sociedade acadêmica por ter a oportunidade de identificar uma lacuna de
pesquisas acerca de temas atuais, abrangentes e de grande importância para o
desenvolvimento do país.
A economia do país por poder proporcionar melhor entendimento das reações do
mercado de ações não apenas advindas de eventos econômicos e financeiros, como
também de eventos de ordem política.
E, finalmente, a sociedade civil, por poder conhecer o valor de suas ações e seu
impacto no mercado de ações nacional e assim, ter a oportunidade de aprimorar
seus conhecimentos e capacidade de participação no estado democrático.
Portanto, em resposta à questão orientadora deste estudo, ao indagar como o
mercado de ações reage à divulgação de pesquisas eleitorais quando da escolha do
67
mandatário principal do país, o estudo conclui que o mercado de ações reage de
forma negativa à divulgação de pesquisas eleitorais que buscam antecipar as
informações de tendência de escolha do eleitor em períodos de candidatura ao
cargo do mandatário principal do país.
Dentre as limitações da pesquisa, ressalta-se a falta de instrumentos de análise das
reações do mercado de ações, ficando assim restrito à aplicação do estudo de
eventos. Além de tal limitação, aponta-se a dificuldade de acesso aos dados
históricos das cotações do BOVESPA de ações negociadas à época, mas que por
motivos diversos não são mais negociadas no mercado, porém são de grande
importância para estudos que necessitam de dados históricos.
Por fim, diante das contribuições e limitações da pesquisa, sugere-se a aplicação da
pesquisa nos diversos setores tanto do BOVESPA.
68
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