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Estudos para uma framework de performance musical para natildeo-
ouvintes o caso da Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo de
Matosinhos (ASASM)
Raquel Alexandra Lemos Morais
2
Raquel Alexandra Lemos Morais
Estudos para uma framework de performance musical para natildeo-
ouvintes o caso da Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo de
Matosinhos (ASASM)
Dissertaccedilatildeo de Candidatura ao grau de Mestre
em Design de Imagem submetida agrave Faculdade
de Belas Artes da Universidade do Porto
Orientada por Miguel Carvalhais
Co-orientador por Pedro Cardoso
Faculdade de Belas Artes da Universidade
do Porto
3
Agradecimentos
Aos meus orientadores professores Miguel Carvalhais e Pedro Cardoso pela motivaccedilatildeo
e acompanhamento do projeto mesmo nas alturas mais complicadas Aos meus colegas
de turma pelo reconhecimento partilha de experiecircncias e criacuteticas pertinentes que me
fizeram refletir e ponderar tornando todo este processo muito mais estimulante
Ao Viacutetor Palma vice-presidente da Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio a Surdos de
Matosinhos o meu mais profundo agradecimento por toda a dedicaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo
durante estes meses de aacuterduo trabalho A todos os associados que mostraram interesse
em participar no projeto e que sempre estiveram disponiacuteveis para as atividades
demonstrando uma grande dedicaccedilatildeo e empenho
Um agradecimento sincero e especial a todos aqueles que foram entrevistados e que
contribuiacuteram para o arranque desta investigaccedilatildeo com inputs incriacuteveis e experiecircncias
inspiradoras em especial ao Alberto Mendonccedila e ao Jorge Prendas que continuam a
quebrar barreiras trabalhando com a comunidade surda na aacuterea da muacutesica
Aos meus familiares e amigos por me apoiarem ao longo deste processo dando-me
sempre uma palavra de apoio e incentivo nos momentos de maiores incertezas
4
Resumo
A presente dissertaccedilatildeo explora a forma como um sistema multimodal pode ajudar surdos
sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isso pretendemos clarificar como
as pessoas surdas experienciam a muacutesica e que necessidades tecircm nessa atividade para
assim melhorar a sua experiecircncia musical
Numa fase inicial utilizamos entrevistas para perceber que tipo de intervenccedilotildees tinham sido
feitas a esta populaccedilatildeo na aacuterea musical numa tentativa de encontrar um grupo de trabalho
recetivo a participar na investigaccedilatildeo Foi utilizado o meacutetodo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo com este
grupo alvo da ASASM onde a investigadora interagiu com o grupo de trabalho em vaacuterias
atividades Neste tipo de investigaccedilatildeo houve um procedimento in loco que visou lidar com
a questatildeo numa situaccedilatildeo concreta em que o processo foi controlado de forma constante
e cujos resultados foram traduzidos em alteraccedilotildees consoante as necessidades de modo
a colmatar as falhas existentes previamente
A investigaccedilatildeo tem por base um trabalho de campo em que a investigadora assume o duplo
papel de observadora e participante para perceber de que forma a comunidade surda
experiencia a muacutesica para iniciar um confronto desses mesmos participantes com a sua
condiccedilatildeo implementando exerciacutecios que os exponham agrave muacutesica e para avanccedilar na
construccedilatildeo de um sistema de composiccedilatildeo riacutetmica para surdos O trabalho de anaacutelise
centra-se na identificaccedilatildeo das dificuldades maiores do grupo de trabalho e na
experimentaccedilatildeo de alternativas para encontrar um modelo simples e viaacutevel para colmatar
as falhas detetadas Na conclusatildeo demonstramos o protoacutetipo de um sistema de
composiccedilatildeo riacutetmica para surdos elaborado apoacutes um esclarecimento sobre a experiecircncia
musical tida por esta comunidade Isto permitiu perceber qual a melhor abordagem nesta
temaacutetica ao longo do trabalho de prototipagem assim como as melhores formas de
colmatar as dificuldades sentidas por esta comunidade
Palavras-chave muacutesica surdez composiccedilatildeo relaccedilatildeo som-imagem
5
Abstract
This dissertation explores how a multimodal system can help the deaf without musical
training to compose rhythmic music aiming to create a visual mechanism for musical
composition To do this we want to clarify how deaf people experience music and what
needs they have to improve their musical experience
At an early stage we did interviews to understand what kind of interventions had been made
with this population in the music field and in an attempt to find a work group to participate
in the research The action-research method was used with the deaf group of the ASASM
where the researcher interacted with the work group in several activities In this type of
research there is an on-site procedure which aims to deal with the issue in a concrete
situation where the process is constantly controlled and results are translated into changes
according to needs to bridge previously existing failures
The research is based on a field work in which the researcher assumes both the role of
observer and of participant in order to realize how the deaf community experiences music
to initiate a confrontation of these same participants with their condition implementing
exercises that expose them to music and to advance in the construction of a system of
rhythmic composition for the deaf The analysis focuses on identifying the major difficulties
of the working group and experimenting with alternatives to find a simple and feasible model
to bridge the detected failures In conclusion we demonstrate the prototype of a system of
rhythmic composition for the deaf elaborated after a clarification about the musical
experience of this community This allowed us to understand the best approach to the theme
and also during the prototyping work find the best ways to overcome the difficulties
experienced by this community
Keywords music deafness composition sound-image relation
6
Sumaacuterio
1 Introduccedilatildeo 9
2 Estado da Arte 11
21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18
23 Sistemas Audiovisuais 22
231 Muacutesica Visual 24
3 Metodologia 34
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34
32 Entrevistas 35
33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36
34 Questionaacuterios 37
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44
46 Consideraccedilotildees finais 46
5 Conclusatildeo 49
6 Glossaacuterio 53
7 Bibliografia 55
7
Iacutendice de Imagens
Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18
Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles
Germain de Saint Aubin 25
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30
Fig 9 Tonoscope 30
Fig 10 Protoacutetipo inicial 42
Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos
Elementos do grupo 44
Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45
Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47
8
Iacutendice de Tabelas
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46
9
1 Introduccedilatildeo
O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode
ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta
investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave
imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios
anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o
audiovisual
Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples
mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo
musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este
sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de
forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela
comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea
Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar
forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode
ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade
de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de
vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de
mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo
padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em
que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a
que todas as artes aspiram (Ribas 2012)
Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a
interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea
educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento
10
de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em
Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1
Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos
prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia
musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas
escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a
usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica
Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente
questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De
seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse
capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os
resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias
Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados
obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a
investigaccedilatildeo nesta temaacutetica
1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham
City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]
11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
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com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
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percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
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constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
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durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
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23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
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Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
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novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
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Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
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audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
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possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
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Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Raquel Alexandra Lemos Morais
Estudos para uma framework de performance musical para natildeo-
ouvintes o caso da Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo de
Matosinhos (ASASM)
Dissertaccedilatildeo de Candidatura ao grau de Mestre
em Design de Imagem submetida agrave Faculdade
de Belas Artes da Universidade do Porto
Orientada por Miguel Carvalhais
Co-orientador por Pedro Cardoso
Faculdade de Belas Artes da Universidade
do Porto
3
Agradecimentos
Aos meus orientadores professores Miguel Carvalhais e Pedro Cardoso pela motivaccedilatildeo
e acompanhamento do projeto mesmo nas alturas mais complicadas Aos meus colegas
de turma pelo reconhecimento partilha de experiecircncias e criacuteticas pertinentes que me
fizeram refletir e ponderar tornando todo este processo muito mais estimulante
Ao Viacutetor Palma vice-presidente da Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio a Surdos de
Matosinhos o meu mais profundo agradecimento por toda a dedicaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo
durante estes meses de aacuterduo trabalho A todos os associados que mostraram interesse
em participar no projeto e que sempre estiveram disponiacuteveis para as atividades
demonstrando uma grande dedicaccedilatildeo e empenho
Um agradecimento sincero e especial a todos aqueles que foram entrevistados e que
contribuiacuteram para o arranque desta investigaccedilatildeo com inputs incriacuteveis e experiecircncias
inspiradoras em especial ao Alberto Mendonccedila e ao Jorge Prendas que continuam a
quebrar barreiras trabalhando com a comunidade surda na aacuterea da muacutesica
Aos meus familiares e amigos por me apoiarem ao longo deste processo dando-me
sempre uma palavra de apoio e incentivo nos momentos de maiores incertezas
4
Resumo
A presente dissertaccedilatildeo explora a forma como um sistema multimodal pode ajudar surdos
sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isso pretendemos clarificar como
as pessoas surdas experienciam a muacutesica e que necessidades tecircm nessa atividade para
assim melhorar a sua experiecircncia musical
Numa fase inicial utilizamos entrevistas para perceber que tipo de intervenccedilotildees tinham sido
feitas a esta populaccedilatildeo na aacuterea musical numa tentativa de encontrar um grupo de trabalho
recetivo a participar na investigaccedilatildeo Foi utilizado o meacutetodo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo com este
grupo alvo da ASASM onde a investigadora interagiu com o grupo de trabalho em vaacuterias
atividades Neste tipo de investigaccedilatildeo houve um procedimento in loco que visou lidar com
a questatildeo numa situaccedilatildeo concreta em que o processo foi controlado de forma constante
e cujos resultados foram traduzidos em alteraccedilotildees consoante as necessidades de modo
a colmatar as falhas existentes previamente
A investigaccedilatildeo tem por base um trabalho de campo em que a investigadora assume o duplo
papel de observadora e participante para perceber de que forma a comunidade surda
experiencia a muacutesica para iniciar um confronto desses mesmos participantes com a sua
condiccedilatildeo implementando exerciacutecios que os exponham agrave muacutesica e para avanccedilar na
construccedilatildeo de um sistema de composiccedilatildeo riacutetmica para surdos O trabalho de anaacutelise
centra-se na identificaccedilatildeo das dificuldades maiores do grupo de trabalho e na
experimentaccedilatildeo de alternativas para encontrar um modelo simples e viaacutevel para colmatar
as falhas detetadas Na conclusatildeo demonstramos o protoacutetipo de um sistema de
composiccedilatildeo riacutetmica para surdos elaborado apoacutes um esclarecimento sobre a experiecircncia
musical tida por esta comunidade Isto permitiu perceber qual a melhor abordagem nesta
temaacutetica ao longo do trabalho de prototipagem assim como as melhores formas de
colmatar as dificuldades sentidas por esta comunidade
Palavras-chave muacutesica surdez composiccedilatildeo relaccedilatildeo som-imagem
5
Abstract
This dissertation explores how a multimodal system can help the deaf without musical
training to compose rhythmic music aiming to create a visual mechanism for musical
composition To do this we want to clarify how deaf people experience music and what
needs they have to improve their musical experience
At an early stage we did interviews to understand what kind of interventions had been made
with this population in the music field and in an attempt to find a work group to participate
in the research The action-research method was used with the deaf group of the ASASM
where the researcher interacted with the work group in several activities In this type of
research there is an on-site procedure which aims to deal with the issue in a concrete
situation where the process is constantly controlled and results are translated into changes
according to needs to bridge previously existing failures
The research is based on a field work in which the researcher assumes both the role of
observer and of participant in order to realize how the deaf community experiences music
to initiate a confrontation of these same participants with their condition implementing
exercises that expose them to music and to advance in the construction of a system of
rhythmic composition for the deaf The analysis focuses on identifying the major difficulties
of the working group and experimenting with alternatives to find a simple and feasible model
to bridge the detected failures In conclusion we demonstrate the prototype of a system of
rhythmic composition for the deaf elaborated after a clarification about the musical
experience of this community This allowed us to understand the best approach to the theme
and also during the prototyping work find the best ways to overcome the difficulties
experienced by this community
Keywords music deafness composition sound-image relation
6
Sumaacuterio
1 Introduccedilatildeo 9
2 Estado da Arte 11
21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18
23 Sistemas Audiovisuais 22
231 Muacutesica Visual 24
3 Metodologia 34
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34
32 Entrevistas 35
33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36
34 Questionaacuterios 37
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44
46 Consideraccedilotildees finais 46
5 Conclusatildeo 49
6 Glossaacuterio 53
7 Bibliografia 55
7
Iacutendice de Imagens
Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18
Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles
Germain de Saint Aubin 25
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30
Fig 9 Tonoscope 30
Fig 10 Protoacutetipo inicial 42
Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos
Elementos do grupo 44
Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45
Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47
8
Iacutendice de Tabelas
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46
9
1 Introduccedilatildeo
O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode
ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta
investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave
imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios
anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o
audiovisual
Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples
mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo
musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este
sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de
forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela
comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea
Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar
forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode
ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade
de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de
vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de
mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo
padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em
que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a
que todas as artes aspiram (Ribas 2012)
Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a
interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea
educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento
10
de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em
Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1
Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos
prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia
musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas
escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a
usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica
Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente
questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De
seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse
capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os
resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias
Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados
obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a
investigaccedilatildeo nesta temaacutetica
1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham
City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]
11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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3
Agradecimentos
Aos meus orientadores professores Miguel Carvalhais e Pedro Cardoso pela motivaccedilatildeo
e acompanhamento do projeto mesmo nas alturas mais complicadas Aos meus colegas
de turma pelo reconhecimento partilha de experiecircncias e criacuteticas pertinentes que me
fizeram refletir e ponderar tornando todo este processo muito mais estimulante
Ao Viacutetor Palma vice-presidente da Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio a Surdos de
Matosinhos o meu mais profundo agradecimento por toda a dedicaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo
durante estes meses de aacuterduo trabalho A todos os associados que mostraram interesse
em participar no projeto e que sempre estiveram disponiacuteveis para as atividades
demonstrando uma grande dedicaccedilatildeo e empenho
Um agradecimento sincero e especial a todos aqueles que foram entrevistados e que
contribuiacuteram para o arranque desta investigaccedilatildeo com inputs incriacuteveis e experiecircncias
inspiradoras em especial ao Alberto Mendonccedila e ao Jorge Prendas que continuam a
quebrar barreiras trabalhando com a comunidade surda na aacuterea da muacutesica
Aos meus familiares e amigos por me apoiarem ao longo deste processo dando-me
sempre uma palavra de apoio e incentivo nos momentos de maiores incertezas
4
Resumo
A presente dissertaccedilatildeo explora a forma como um sistema multimodal pode ajudar surdos
sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isso pretendemos clarificar como
as pessoas surdas experienciam a muacutesica e que necessidades tecircm nessa atividade para
assim melhorar a sua experiecircncia musical
Numa fase inicial utilizamos entrevistas para perceber que tipo de intervenccedilotildees tinham sido
feitas a esta populaccedilatildeo na aacuterea musical numa tentativa de encontrar um grupo de trabalho
recetivo a participar na investigaccedilatildeo Foi utilizado o meacutetodo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo com este
grupo alvo da ASASM onde a investigadora interagiu com o grupo de trabalho em vaacuterias
atividades Neste tipo de investigaccedilatildeo houve um procedimento in loco que visou lidar com
a questatildeo numa situaccedilatildeo concreta em que o processo foi controlado de forma constante
e cujos resultados foram traduzidos em alteraccedilotildees consoante as necessidades de modo
a colmatar as falhas existentes previamente
A investigaccedilatildeo tem por base um trabalho de campo em que a investigadora assume o duplo
papel de observadora e participante para perceber de que forma a comunidade surda
experiencia a muacutesica para iniciar um confronto desses mesmos participantes com a sua
condiccedilatildeo implementando exerciacutecios que os exponham agrave muacutesica e para avanccedilar na
construccedilatildeo de um sistema de composiccedilatildeo riacutetmica para surdos O trabalho de anaacutelise
centra-se na identificaccedilatildeo das dificuldades maiores do grupo de trabalho e na
experimentaccedilatildeo de alternativas para encontrar um modelo simples e viaacutevel para colmatar
as falhas detetadas Na conclusatildeo demonstramos o protoacutetipo de um sistema de
composiccedilatildeo riacutetmica para surdos elaborado apoacutes um esclarecimento sobre a experiecircncia
musical tida por esta comunidade Isto permitiu perceber qual a melhor abordagem nesta
temaacutetica ao longo do trabalho de prototipagem assim como as melhores formas de
colmatar as dificuldades sentidas por esta comunidade
Palavras-chave muacutesica surdez composiccedilatildeo relaccedilatildeo som-imagem
5
Abstract
This dissertation explores how a multimodal system can help the deaf without musical
training to compose rhythmic music aiming to create a visual mechanism for musical
composition To do this we want to clarify how deaf people experience music and what
needs they have to improve their musical experience
At an early stage we did interviews to understand what kind of interventions had been made
with this population in the music field and in an attempt to find a work group to participate
in the research The action-research method was used with the deaf group of the ASASM
where the researcher interacted with the work group in several activities In this type of
research there is an on-site procedure which aims to deal with the issue in a concrete
situation where the process is constantly controlled and results are translated into changes
according to needs to bridge previously existing failures
The research is based on a field work in which the researcher assumes both the role of
observer and of participant in order to realize how the deaf community experiences music
to initiate a confrontation of these same participants with their condition implementing
exercises that expose them to music and to advance in the construction of a system of
rhythmic composition for the deaf The analysis focuses on identifying the major difficulties
of the working group and experimenting with alternatives to find a simple and feasible model
to bridge the detected failures In conclusion we demonstrate the prototype of a system of
rhythmic composition for the deaf elaborated after a clarification about the musical
experience of this community This allowed us to understand the best approach to the theme
and also during the prototyping work find the best ways to overcome the difficulties
experienced by this community
Keywords music deafness composition sound-image relation
6
Sumaacuterio
1 Introduccedilatildeo 9
2 Estado da Arte 11
21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18
23 Sistemas Audiovisuais 22
231 Muacutesica Visual 24
3 Metodologia 34
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34
32 Entrevistas 35
33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36
34 Questionaacuterios 37
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44
46 Consideraccedilotildees finais 46
5 Conclusatildeo 49
6 Glossaacuterio 53
7 Bibliografia 55
7
Iacutendice de Imagens
Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18
Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles
Germain de Saint Aubin 25
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30
Fig 9 Tonoscope 30
Fig 10 Protoacutetipo inicial 42
Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos
Elementos do grupo 44
Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45
Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47
8
Iacutendice de Tabelas
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46
9
1 Introduccedilatildeo
O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode
ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta
investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave
imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios
anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o
audiovisual
Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples
mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo
musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este
sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de
forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela
comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea
Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar
forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode
ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade
de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de
vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de
mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo
padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em
que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a
que todas as artes aspiram (Ribas 2012)
Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a
interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea
educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento
10
de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em
Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1
Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos
prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia
musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas
escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a
usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica
Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente
questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De
seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse
capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os
resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias
Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados
obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a
investigaccedilatildeo nesta temaacutetica
1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham
City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]
11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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4
Resumo
A presente dissertaccedilatildeo explora a forma como um sistema multimodal pode ajudar surdos
sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isso pretendemos clarificar como
as pessoas surdas experienciam a muacutesica e que necessidades tecircm nessa atividade para
assim melhorar a sua experiecircncia musical
Numa fase inicial utilizamos entrevistas para perceber que tipo de intervenccedilotildees tinham sido
feitas a esta populaccedilatildeo na aacuterea musical numa tentativa de encontrar um grupo de trabalho
recetivo a participar na investigaccedilatildeo Foi utilizado o meacutetodo de investigaccedilatildeo-accedilatildeo com este
grupo alvo da ASASM onde a investigadora interagiu com o grupo de trabalho em vaacuterias
atividades Neste tipo de investigaccedilatildeo houve um procedimento in loco que visou lidar com
a questatildeo numa situaccedilatildeo concreta em que o processo foi controlado de forma constante
e cujos resultados foram traduzidos em alteraccedilotildees consoante as necessidades de modo
a colmatar as falhas existentes previamente
A investigaccedilatildeo tem por base um trabalho de campo em que a investigadora assume o duplo
papel de observadora e participante para perceber de que forma a comunidade surda
experiencia a muacutesica para iniciar um confronto desses mesmos participantes com a sua
condiccedilatildeo implementando exerciacutecios que os exponham agrave muacutesica e para avanccedilar na
construccedilatildeo de um sistema de composiccedilatildeo riacutetmica para surdos O trabalho de anaacutelise
centra-se na identificaccedilatildeo das dificuldades maiores do grupo de trabalho e na
experimentaccedilatildeo de alternativas para encontrar um modelo simples e viaacutevel para colmatar
as falhas detetadas Na conclusatildeo demonstramos o protoacutetipo de um sistema de
composiccedilatildeo riacutetmica para surdos elaborado apoacutes um esclarecimento sobre a experiecircncia
musical tida por esta comunidade Isto permitiu perceber qual a melhor abordagem nesta
temaacutetica ao longo do trabalho de prototipagem assim como as melhores formas de
colmatar as dificuldades sentidas por esta comunidade
Palavras-chave muacutesica surdez composiccedilatildeo relaccedilatildeo som-imagem
5
Abstract
This dissertation explores how a multimodal system can help the deaf without musical
training to compose rhythmic music aiming to create a visual mechanism for musical
composition To do this we want to clarify how deaf people experience music and what
needs they have to improve their musical experience
At an early stage we did interviews to understand what kind of interventions had been made
with this population in the music field and in an attempt to find a work group to participate
in the research The action-research method was used with the deaf group of the ASASM
where the researcher interacted with the work group in several activities In this type of
research there is an on-site procedure which aims to deal with the issue in a concrete
situation where the process is constantly controlled and results are translated into changes
according to needs to bridge previously existing failures
The research is based on a field work in which the researcher assumes both the role of
observer and of participant in order to realize how the deaf community experiences music
to initiate a confrontation of these same participants with their condition implementing
exercises that expose them to music and to advance in the construction of a system of
rhythmic composition for the deaf The analysis focuses on identifying the major difficulties
of the working group and experimenting with alternatives to find a simple and feasible model
to bridge the detected failures In conclusion we demonstrate the prototype of a system of
rhythmic composition for the deaf elaborated after a clarification about the musical
experience of this community This allowed us to understand the best approach to the theme
and also during the prototyping work find the best ways to overcome the difficulties
experienced by this community
Keywords music deafness composition sound-image relation
6
Sumaacuterio
1 Introduccedilatildeo 9
2 Estado da Arte 11
21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18
23 Sistemas Audiovisuais 22
231 Muacutesica Visual 24
3 Metodologia 34
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34
32 Entrevistas 35
33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36
34 Questionaacuterios 37
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44
46 Consideraccedilotildees finais 46
5 Conclusatildeo 49
6 Glossaacuterio 53
7 Bibliografia 55
7
Iacutendice de Imagens
Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18
Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles
Germain de Saint Aubin 25
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30
Fig 9 Tonoscope 30
Fig 10 Protoacutetipo inicial 42
Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos
Elementos do grupo 44
Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45
Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47
8
Iacutendice de Tabelas
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46
9
1 Introduccedilatildeo
O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode
ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta
investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave
imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios
anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o
audiovisual
Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples
mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo
musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este
sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de
forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela
comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea
Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar
forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode
ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade
de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de
vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de
mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo
padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em
que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a
que todas as artes aspiram (Ribas 2012)
Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a
interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea
educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento
10
de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em
Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1
Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos
prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia
musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas
escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a
usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica
Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente
questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De
seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse
capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os
resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias
Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados
obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a
investigaccedilatildeo nesta temaacutetica
1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham
City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]
11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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5
Abstract
This dissertation explores how a multimodal system can help the deaf without musical
training to compose rhythmic music aiming to create a visual mechanism for musical
composition To do this we want to clarify how deaf people experience music and what
needs they have to improve their musical experience
At an early stage we did interviews to understand what kind of interventions had been made
with this population in the music field and in an attempt to find a work group to participate
in the research The action-research method was used with the deaf group of the ASASM
where the researcher interacted with the work group in several activities In this type of
research there is an on-site procedure which aims to deal with the issue in a concrete
situation where the process is constantly controlled and results are translated into changes
according to needs to bridge previously existing failures
The research is based on a field work in which the researcher assumes both the role of
observer and of participant in order to realize how the deaf community experiences music
to initiate a confrontation of these same participants with their condition implementing
exercises that expose them to music and to advance in the construction of a system of
rhythmic composition for the deaf The analysis focuses on identifying the major difficulties
of the working group and experimenting with alternatives to find a simple and feasible model
to bridge the detected failures In conclusion we demonstrate the prototype of a system of
rhythmic composition for the deaf elaborated after a clarification about the musical
experience of this community This allowed us to understand the best approach to the theme
and also during the prototyping work find the best ways to overcome the difficulties
experienced by this community
Keywords music deafness composition sound-image relation
6
Sumaacuterio
1 Introduccedilatildeo 9
2 Estado da Arte 11
21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18
23 Sistemas Audiovisuais 22
231 Muacutesica Visual 24
3 Metodologia 34
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34
32 Entrevistas 35
33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36
34 Questionaacuterios 37
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44
46 Consideraccedilotildees finais 46
5 Conclusatildeo 49
6 Glossaacuterio 53
7 Bibliografia 55
7
Iacutendice de Imagens
Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18
Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles
Germain de Saint Aubin 25
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30
Fig 9 Tonoscope 30
Fig 10 Protoacutetipo inicial 42
Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos
Elementos do grupo 44
Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45
Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47
8
Iacutendice de Tabelas
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46
9
1 Introduccedilatildeo
O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode
ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta
investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave
imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios
anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o
audiovisual
Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples
mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo
musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este
sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de
forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela
comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea
Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar
forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode
ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade
de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de
vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de
mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo
padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em
que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a
que todas as artes aspiram (Ribas 2012)
Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a
interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea
educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento
10
de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em
Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1
Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos
prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia
musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas
escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a
usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica
Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente
questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De
seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse
capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os
resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias
Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados
obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a
investigaccedilatildeo nesta temaacutetica
1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham
City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]
11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
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tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
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participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
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primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
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ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
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Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
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percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
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constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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6
Sumaacuterio
1 Introduccedilatildeo 9
2 Estado da Arte 11
21 Experiecircncia Musical dos Surdos 11
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos 12
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos 18
23 Sistemas Audiovisuais 22
231 Muacutesica Visual 24
3 Metodologia 34
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa 34
32 Entrevistas 35
33 Anaacutelise de Casos de Estudo 36
34 Questionaacuterios 37
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM 38
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo 38
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 40
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo 41
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 42
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo 44
46 Consideraccedilotildees finais 46
5 Conclusatildeo 49
6 Glossaacuterio 53
7 Bibliografia 55
7
Iacutendice de Imagens
Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18
Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles
Germain de Saint Aubin 25
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30
Fig 9 Tonoscope 30
Fig 10 Protoacutetipo inicial 42
Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos
Elementos do grupo 44
Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45
Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47
8
Iacutendice de Tabelas
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46
9
1 Introduccedilatildeo
O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode
ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta
investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave
imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios
anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o
audiovisual
Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples
mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo
musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este
sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de
forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela
comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea
Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar
forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode
ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade
de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de
vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de
mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo
padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em
que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a
que todas as artes aspiram (Ribas 2012)
Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a
interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea
educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento
10
de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em
Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1
Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos
prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia
musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas
escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a
usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica
Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente
questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De
seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse
capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os
resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias
Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados
obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a
investigaccedilatildeo nesta temaacutetica
1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham
City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]
11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Iacutendice de Imagens
Fig 1 Heptagrama de Color Music (Candida Tobin) 16
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio 18
Fig 3 Sound-to-light Flower LEDs 19
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand-Castel por Charles
Germain de Saint Aubin 25
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni 26
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann 27
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred 28
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas 30
Fig 9 Tonoscope 30
Fig 10 Protoacutetipo inicial 42
Fig 11 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo realizada pela investigadora 43
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo elaborada por um dos
Elementos do grupo 44
Fig 13 Protoacutetipo digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo 45
Fig 14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo 47
8
Iacutendice de Tabelas
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46
9
1 Introduccedilatildeo
O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode
ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta
investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave
imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios
anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o
audiovisual
Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples
mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo
musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este
sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de
forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela
comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea
Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar
forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode
ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade
de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de
vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de
mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo
padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em
que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a
que todas as artes aspiram (Ribas 2012)
Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a
interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea
educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento
10
de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em
Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1
Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos
prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia
musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas
escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a
usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica
Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente
questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De
seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse
capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os
resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias
Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados
obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a
investigaccedilatildeo nesta temaacutetica
1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham
City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]
11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Iacutendice de Tabelas
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1 39
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1 45
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2 46
9
1 Introduccedilatildeo
O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode
ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta
investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave
imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios
anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o
audiovisual
Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples
mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo
musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este
sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de
forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela
comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea
Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar
forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode
ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade
de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de
vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de
mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo
padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em
que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a
que todas as artes aspiram (Ribas 2012)
Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a
interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea
educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento
10
de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em
Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1
Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos
prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia
musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas
escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a
usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica
Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente
questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De
seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse
capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os
resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias
Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados
obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a
investigaccedilatildeo nesta temaacutetica
1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham
City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]
11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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9
1 Introduccedilatildeo
O presente trabalho propotildee-se a investigar de que forma um sistema multimodal pode
ajudar surdos sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica O interesse nesta
investigaccedilatildeo partiu da experiecircncia pessoal da investigadora por muacutesica associada agrave
imagem Desde cedo que tivemos contacto com a muacutesica estudando-a durante vaacuterios
anos o que fez com que quiseacutessemos aliar esse gosto com a nossa aacuterea de formaccedilatildeo o
audiovisual
Primeiramente pensou-se em elaborar um sistema de composiccedilatildeo musical visual simples
mas ao mesmo tempo completo para desmistificar a complexidade da composiccedilatildeo
musical Com o tempo e o amadurecimento da ideia introduziu-se a possibilidade de este
sistema ser especiacutefico para um grupo da populaccedilatildeo com necessidades especiais e que de
forma recorrente tivesse dificuldade em aceder ao mundo musical Entatildeo optou-se pela
comunidade surda visto natildeo haver muita investigaccedilatildeo feita nesta aacuterea
Remontemos ao seacuteculo dezanove onde comeccedilaram a surgir os fundamentos que iriam dar
forma a uma arte audiovisual A histoacuteria que antecede os meacutedia e artes audiovisuais pode
ser atribuiacuteda ao periacuteodo entre 1870 e 1910 marcando natildeo apenas o iniacutecio da sociedade
de mass media mas tambeacutem um maior cruzamento das artes ou seja uma mistura de
vaacuterias valecircncias para produzir objetos artiacutesticos Enquanto as primeiras tecnologias de
mass media pragmaacuteticas se desenvolveram em maacutequinas de distribuiccedilatildeo e reproduccedilatildeo
padronizadas ideias esteacuteticas promoveram diferentes formas de hibridizaccedilatildeo artiacutestica em
que a muacutesica como ldquolinguagem universalrdquo se torna o ldquomotor para a siacutenteserdquo e o modelo a
que todas as artes aspiram (Ribas 2012)
Apoacutes alguma investigaccedilatildeo percebemos que as investigaccedilotildees que existiam sobre a
interaccedilatildeo da comunidade surda com o meio musical se baseavam mais na aacuterea
educacional e natildeo tanto na performance ou na composiccedilatildeo Apenas tivemos conhecimento
10
de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em
Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1
Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos
prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia
musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas
escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a
usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica
Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente
questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De
seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse
capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os
resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias
Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados
obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a
investigaccedilatildeo nesta temaacutetica
1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham
City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]
11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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10
de um projeto que explorava esta dinacircmica no iniacutecio de uma tese de doutoramento em
Inglaterra que tinha propoacutesitos de investigaccedilatildeo semelhantes a esta dissertaccedilatildeo1
Nesta dissertaccedilatildeo iremos comeccedilar por explicar quais os objetivos a que nos propusemos
prosseguindo com a anaacutelise do estado de arte Neste ponto abordaremos a experiecircncia
musical dos surdos assim como a forma de ensino musical destas comunidades nas
escolas Terminaremos com uma anaacutelise aos sistemas audiovisuais que se tem vindo a
usar para auxiliar a comunidade surda a usufruir da muacutesica
Passaremos entatildeo para uma anaacutelise da metodologia utilizada nomeadamente
questionaacuterios entrevistas investigaccedilatildeo-accedilatildeo e por uacuteltimo anaacutelise de casos de estudo De
seguida iremos analisar as sessotildees feitas com esta comunidade da ASASM Nesse
capiacutetulo seratildeo descritas as sessotildees realizadas o tipo de atividades executadas e os
resultados finais alcanccedilados atraveacutes destas experiecircncias
Finalmente no capiacutetulo das conclusotildees mostraremos e analisaremos os resultados
obtidos nesta investigaccedilatildeo e avaliaremos possibilidades futuras para continuar a
investigaccedilatildeo nesta temaacutetica
1 Richard Burn eacute um investigador britacircnico que se encontra no momento a realizar uma tese de doutoramento intitulada Music Making for the Deaf na Birmingham
City University [httpswwwsciencedailycomreleases201511151118101815htm]
11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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11
2 Estado da Arte
21 Experiecircncia Musical dos Surdos
Surdez segundo a ASASM2 eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo
e a habilidade normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pelo
American National Standards Institute (ANSI-1989) A surdez eacute assim a perda parcial ou
total da capacidade de ouvir uma privaccedilatildeo que pode ser considerada congeacutenita (se o
indiviacuteduo nascer surdo) ou adquirida (se o indiviacuteduo perder a audiccedilatildeo ao longo da vida)
Esta perda sensorial causa problemas de interaccedilatildeo com o meio em que o indiviacuteduo se
insere tornando-se essencial o apoio desde uma fase inicial
A relaccedilatildeo entre os surdos e a muacutesica eacute um assunto pouco explorado pois ainda persiste a
ideia de que os surdos natildeo apreciam as mesmas expressotildees culturais que os ouvintes o
que se tem vindo a provar que natildeo eacute verdade (Silva 2011 3) O facto de um surdo natildeo ter
a mesma capacidade auditiva natildeo significa que lhe seja impossiacutevel sentir o som jaacute que o
consegue sentir atraveacutes das suas vibraccedilotildees3 Muitos surdos ainda possuem uma pequena
percentagem de audiccedilatildeo residual e usam isso juntamente com os seus outros sentidos
como a visatildeo e o tato para experienciarem a muacutesica (Johnson 2009)
Dean Shibata elaborou uma investigaccedilatildeo na University of Rochester School of Medicine
em Nova Iorque que mostra precisamente este facto Shibata usou a ressonacircncia
magneacutetica para comparar o ceacuterebro de surdos e ouvintes ao estiacutemulo da vibraccedilatildeo Utilizou
dois grupos um de ouvintes e outro de surdos e ambos apresentaram atividade cerebral
2 A Associaccedilatildeo de Surdos de Apoio ao Surdo de Matosinhos tem como fins a defesa e promoccedilatildeo dos interesses sociais e culturais econoacutemicos morais e profissionais
dos associados surdos bem como dos surdos em geral podendo tais fins dirigirem-se tambeacutem agraves respetivas famiacutelias sempre que tal venha a beneficiar o Surdo
(httpwwwasurdosportoorgpt)
3 Assim como compreender atraveacutes da visualizaccedilatildeo dos movimentos corporais dos muacutesicos e maestros que datildeo intenccedilatildeo musical ao que estaacute a ser reproduzido
Estas vibraccedilotildees satildeo processadas pelo ceacuterebro do surdo na mesma regiatildeo que os ouvintes proporcionando assim uma perceccedilatildeo diferente mas eficaz
12
na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
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primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
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ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
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Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
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com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
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percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
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constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
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durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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na zona onde o ceacuterebro processa vibraccedilotildees Para aleacutem disso os surdos mostraram
atividade cerebral na zona do coacutertex auditivo que normalmente soacute eacute ativada durante a
estimulaccedilatildeo auditiva Os seus estudos concluiacuteram que os indiviacuteduos com deficiecircncia
auditiva conseguiam sentir a muacutesica atraveacutes das vibraccedilotildees e que essas mesmas vibraccedilotildees
conseguem ser tatildeo reais para eles quando os estiacutemulos sonoros em ouvintes pois ambos
satildeo processados na mesma regiatildeo do ceacuterebro (Neary 2001)4
Eacute erroacuteneo pensar que ao abordar a temaacutetica da muacutesica num contexto de pessoas surdas
estas devam ser educadas para apreciar a muacutesica da mesma forma que os ouvintes Ora
isto soacute faraacute com que as suas as suas diferenccedilas sensoriais sejam mais evidentes natildeo se
demonstrando nada produtivo para a pessoa surda (Saacute 2007) Torna-se imperativo criar
um sistema mais inclusivo para estas pessoas e um sistema que seja implementado desde
cedo Eacute necessaacuterio pensar e viabilizar um programa educacional de muacutesica para alunos
surdos que tenha em vista uma aprendizagem significativa eficaz e tambeacutem prazerosa A
colocaccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas turmas com alunos surdos eacute tambeacutem de
suma importacircncia para facilitar a comunicaccedilatildeo entre aluno e professor e aluno e restantes
colegas promovendo assim a sua integraccedilatildeo na comunidade e natildeo o seu afastamento
22 Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Segundo Cristina Soares da Silva ldquomusicalidade eacute a possibilidade que o homem tem de
expressar a muacutesica interna ou entrar em sintonia com a muacutesica externa por meio do seu
corpo e seus movimentos por meio da sua voz cantando do tocar do perceber um
instrumento sonoro musical ou natildeo ou de uma escuta musical atentivardquo (Silva 2007) Deste
modo eacute importante fazer a destrinccedila entre musicalidade e muacutesica A musicalidade eacute algo
estritamente emocional isto eacute os sentimentos e as emoccedilotildees que um trecho de muacutesica
podem proporcionar a um indiviacuteduo A muacutesica por outro lado eacute algo racional que requer
estudo e pensamento loacutegico apesar de natildeo pocircr de lado a questatildeo emocional
Tecircm sido feitos alguns avanccedilos no campo da educaccedilatildeo musical para surdos numa tentativa
de a tornar mais inclusiva e apraziacutevel para o aluno natildeo a limitando apenas a exerciacutecios de
memoacuteria ou de teoria musical A teoria eacute importante para a compreensatildeo da muacutesica mas
4 University of Washington httpwwwwashingtonedunews20011127brains-of-deaf-people-rewire-to-hear-music
13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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13
tambeacutem eacute necessaacuterio explorar outros campos para que o indiviacuteduo surdo possa usufruir da
muacutesica de vaacuterias formas e ter acesso a ferramentas que lhe permitam tocar e ateacute compor
ao seu gosto
A populaccedilatildeo surda eacute um grupo minoritaacuterio na sociedade e crianccedilas surdas e jovens estatildeo
portanto dispersos e agraves vezes isolados de outros DHHCYP5 Mais de 75 das crianccedilas
surdas e jovens estatildeo agora integradas nas escolas convencionais e provavelmente natildeo
fazem parte de uma comunidade ou cultura surda (Deaf 2016a) 6
Primeiramente eacute necessaacuterio ter em atenccedilatildeo as expectativas que professores pais e a
proacutepria sociedade tecircm dos surdos bem como o efeito que estas possam ter nos indiviacuteduos
em questatildeo Posteriormente eacute necessaacuterio encontrar atividades que aprimorem o seu
potencial cognitivo sendo possiacutevel recorrer a outros sentidos mais desenvolvidos como
por exemplo a visatildeo para melhorar o seu entendimento O indiviacuteduo surdo eacute capaz de
percecionar elementos musicais como ritmo dinacircmica timbre e vibraccedilotildees mas esses
elementos precisam ser representados num contexto significativo tentando que natildeo seja
algo mecacircnico e obrigatoacuterio
A National Deaf Childrenrsquos Society do Reino Unido elaborou um documento onde satildeo
indicadas algumas dicas para o ensino de muacutesica a alunos surdos e sugeridas tambeacutem
algumas atividades Inicialmente eacute referido que muitas crianccedilas jaacute possuem aparelhos
auditivos ou implantes que ajudam na audiccedilatildeo mas alertam tambeacutem que estes aparelhos
satildeo construiacutedos para ajudar na escuta de discurso aumentando assim o niacutevel de ruiacutedo
produzido quando os indiviacuteduos satildeo expostos agrave muacutesica Recomenda que estas atividades
sejam feitas em pequenos grupos para facilitar a comunicaccedilatildeo e para que estas sejam
mais produtivas Numa abordagem inicial eacute essencial o entendimento de elementos
baacutesicos como o ritmo fazendo exerciacutecios com palmas e batimento de peacutes Estes exerciacutecios
devem ser feitos com acompanhamento visual pois isso facilita a aprendizagem e tambeacutem
deve ser encorajado para que os participantes sintam o que os restantes elementos estatildeo
a fazer Para quem estaacute a liderar as atividades eacute importante que seja estabelecido um
conjunto de regras e sinais que facilitem a comunicaccedilatildeo como por exemplo sentar os
5 Deaf and hard of Hearing Children and Young People
6 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoThe deaf population is a minority group within society and deaf children and young people are therefore dispersed and sometimes isolated
from other DHHCYP More than 75 of deaf children and young people are now integrated in mainstream schools and are most likely not to be part of a deaf community
or culturerdquo (Deaf 2016a)
14
participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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participantes em ciacuterculo para que todos tenham contacto visual uns com os outros (NDCS
2013)
Foi a partir destas premissas que Danny Lane fundou em 1988 o Music and the Deaf
uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada a promover o acesso a educaccedilatildeo e as
oportunidades musicais a crianccedilas com deficiecircncia auditiva Nesta associaccedilatildeo a
deficiecircncia auditiva natildeo eacute encarada como uma barreira agrave muacutesica O proacuteprio Lane surdo
profundo agrave nascenccedila conseguiu ultrapassar essas mesmas barreiras ingressando na
universidade concluindo a licenciatura em piano Nestes moldes a associaccedilatildeo desenvolve
workshops e outras atividades que visam a inclusatildeo de crianccedilas surdas na muacutesica aleacutem
de desenvolverem estruturas pedagoacutegicas para que as escolas adquiram ferramentas para
lidar com estes alunos (NDCS 2013)
Um dos programas produzidos por Lane foi o Frequelise (2016) que consiste num conjunto
de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees estimulando a produccedilatildeo musical de pessoas
surdas Lane utilizou alguns softwares no seu trabalho que considerou pertinentes como
por exemplo EtherPad7 Blip Synthesizer8 e Real Drum9 Softwares estes bastante comuns
e largamente utilizados Os softwares que foram utilizados estatildeo disponiacuteveis gratuitamente
e foram considerados por Lane uma boa ferramenta para aplicar ao seu meacutetodo Cinco
muacutesicos surdos e cinco muacutesicos ouvintes especialistas em tecnologia musical experientes
em lecionar muacutesica e utilizar Liacutengua Gestual foram recrutados para auxiliar Lane neste
processo
Os objetivos deste programa satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos
participantes na composiccedilatildeo musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de
competecircncias de performance e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e
treinados no contacto com indiviacuteduos surdos
O Frequelise eacute composto por trecircs fases distintas 1) exploraccedilatildeo 2) desenvolvimento de
composiccedilatildeo partilha e performance e finalmente 3) avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo Na
7 EtherPad ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num sintetizador com uma superfiacutecie multi-toque
8 Blip Synthesizer eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos Botatildeo
Play Stop faz o que diz Pode-se adicionar e remover notas fazer mudanccedilas de escalas e de tom tudo isso enquanto a muacutesica estaacute a tocar
9 Real Drum eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido
simultaneamente
15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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15
primeira fase a da exploraccedilatildeo satildeo realizadas sessotildees semanais em grupos jovens e
tambeacutem satildeo dados workshops nas escolas que levam agrave construccedilatildeo de composiccedilotildees
posteriormente colocadas online assim como um pequeno projeto para avaliaccedilatildeo das
sessotildees que refletem as experiecircncias tidas pelos jovens De seguida vem a fase do
desenvolvimento de composiccedilatildeo partilha e performance Aqui haacute uma continuidade das
sessotildees semanais assim como dos workshops que possibilitam as composiccedilotildees musicais
que satildeo colocadas online Finalmente temos a terceira e uacuteltima fase que eacute a avaliaccedilatildeo e
disseminaccedilatildeo onde eacute feita uma avaliaccedilatildeo do grupo-alvo feita por jovens muacutesicos lideres
musicais e ainda estagiaacuterios da Universidade de Huddersfiel Muito embora as aplicaccedilotildees
utilizadas tenham sido uma mais-valia para os participantes os formadores consideram
que ainda natildeo existe nenhuma aplicaccedilatildeo que consiga representar o som de forma clara
pelo que natildeo se pode assumir que a vibraccedilatildeo por si soacute seja a soluccedilatildeo para aceder agrave
muacutesica (Deaf 2016b)
Ruth Montgomery eacute outro exemplo a ter em conta Nascida no seio de uma famiacutelia ligada
agrave muacutesica Montgomery desde cedo foi exposta a estiacutemulos sonoros mesmo sendo surda
profunda Apesar da sua deficiecircncia auditiva desde muito nova comeccedilou a ter aulas de
piano e a participar no coro juntamente com os seus irmatildeos ouvintes o que fez com que
Ruth adquirisse um gosto especial pela muacutesica Quando ia assistir a concertos ficava
fascinada com as expressotildees dos cantores e os movimentos corporais da orquestra e do
maestro procurando no rosto do resto da plateia a aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo pelo que
estavam a ouvir Aos dez anos apoacutes mudar de residecircncia com a famiacutelia Montgomery
tornou-se baterista principal na sua escola mas foi a flauta que lhe despertou maior
curiosidade (Montgomery 2013b) Segundo Montgomery durante as aulas de flauta
utilizava sempre o seu aparelho auditivo para a auxiliar e os primeiros exerciacutecios que teve
de fazer na flauta foi apenas reproduzir corretamente um som e depois tocar temas baacutesicos
(Montgomery 2013a)
Hoje em dia tem uma carreira soacutelida na muacutesica tendo-se licenciado e estando agora a dar
aulas de muacutesica em vaacuterias escolas Montgomery revela o quanto gosta de dar aulas de
muacutesica o orgulho que tem em levar os seus alunos a exames assim como o sucesso dos
mesmos Ela revela que nas suas aulas todos os sentidos satildeo chamados e que a muacutesica
eacute mais do que som Ruth tem alunos natildeo soacute surdos como tambeacutem ouvintes e para ambos
16
ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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ela utiliza o meacutetodo Colour Music de Candida Tobin10 para os ajudar em questotildees de
afinaccedilatildeo (Montgomery) Este meacutetodo consiste num heptagrama em que cada veacutertice
corresponde a uma nota musical O veacutertice superior representa um Doacute (C) seguido da nota
Reacute (E) e assim sucessivamente consoante a escala maior Ao analisarmos a figura
percebemos que as notas estatildeo interligadas e que a ligaccedilatildeo eacute a construccedilatildeo do acorde o
que facilita a memorizaccedilatildeo ou seja se olharmos para o C que corresponde agrave nota doacute
vemos que ele estaacute ligado ao E (Mi) a G (Sol) e a B (Si) Estas trecircs notas juntas Doacute M
Sol e Si formam o acorde de doacute Este meacutetodo baseia-se entatildeo na utilizaccedilatildeo de estiacutemulos
visuais aos alunos para que este possam criar associaccedilotildees com determinados estiacutemulos
sonoros Haacute entatildeo a utilizaccedilatildeo de formas e cores que representam altura e duraccedilatildeo de
notas e a notaccedilatildeo musical eacute transcodificada em siacutembolos simplificados para que os alunos
mais facilmente aprendam a identificar
Fig 1 Heptagrama de Color Music [Candida Tobin]11
Tambeacutem em territoacuterio portuguecircs se tecircm feito alguns trabalhos no sentido de estimular o
envolvimento dos surdos no mundo da muacutesica Embora o sistema educacional portuguecircs
tenha falhas graves neste sentido excluindo grande maioria destes alunos das aulas de
educaccedilatildeo musical algumas entidades tecircm levado a cabo atividades que promovem este
contacto Como referiu Alberto Mendonccedila ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real ldquoagora
os alunos surdos estatildeo a ser tirados das aulas de muacutesica e frequentam aulas extra de
matemaacutetica ou outra disciplinahellipnatildeo lhes eacute dada a possibilidade de escolherrdquo (entrevista
realizada a 2 de dezembro de 2016)
10 Candida Tobin eacute autora britacircnica do Meacutetodo Tobin um sistema de educaccedilatildeo musical para ensinar teoria e praacutetica a alunos de todas as idades e capacidades
11 httpwwwtobinmusiccoukcontentaboutsystemhtm
17
Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Na Casa da Muacutesica no Porto foram feitos alguns workshops que resultaram em
performances com pessoas com deficiecircncia auditiva Os projetos Ludwig (2015)12 e Quase
Nada (2012)13 contaram com membros da ASASM que em conjunto com a Casa da
Muacutesica trabalharam para promover a interaccedilatildeo destas pessoas com instrumentos
musicais Aqui foram feitas experiecircncias ao niacutevel da percussatildeo com os indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva atraveacutes do meacutetodo da imitaccedilatildeo Natildeo soacute o sentido riacutetmico era explorado
mas tambeacutem os movimentos corporais aliados a esses ritmos
O Coro da Universidade Catoacutelica Portuguesa tambeacutem trabalha com os seus alunos surdos
incentivando-os a participar nestas atividades Este grupo desenvolveu uma forma de
integrar alunos com deficiecircncia auditiva em coros utilizando a Liacutengua Gestual Cada
muacutesica eacute trabalhada em conjunto para ser interpretada em Liacutengua Gestual Portuguesa
Desta forma os alunos surdos conseguem dar sentido agrave letra de determinada muacutesica e
apresentaacute-la integrados no coro onde ouvintes tambeacutem cantam
Este meacutetodo foi aproveitado por Alberto Mendonccedila professor de Educaccedilatildeo Musical no
Peso da Reacutegua quando se deparou com uma turma com seis alunos surdos Como jaacute tinha
experiecircncia de trabalhar com alunos com deficiecircncia no Conservatoacuterio de Vila Real
Mendonccedila tentou que a muacutesica tambeacutem natildeo passasse ao lado destes seis alunos Tentou
a abordagem pela parte riacutetmica que resultou bastante bem tatildeo bem que durante o periacuteodo
letivo desse ano conseguiu levar a cabo dois espetaacuteculos musicais com a sua turma de
Educaccedilatildeo Musical Os alunos surdos participaram entusiasticamente ficando responsaacuteveis
natildeo soacute pela percussatildeo como tambeacutem pela traduccedilatildeo das letras para Liacutengua Gestual
Eacute fundamental que se continuem a estimular estas iniciativas de interaccedilatildeo entre surdos e
a muacutesica para demonstrar que tal eacute possiacutevel A falta de apoio a estas pessoas eacute grande e
elas vivem um periacuteodo em que quase satildeo privadas de Educaccedilatildeo Musical na escola puacuteblica
Haacute que realccedilar ainda a falta de instruccedilatildeo aos professores de Educaccedilatildeo Musical para lidar
12 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica onde surge um trabalho exploratoacuterio da Equipa do Curso de Formaccedilatildeo de Animadores Musicais e um grupo da Associaccedilatildeo de
Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos
13 Espetaacuteculo da Casa da Muacutesica que englobava teatro muacutesica danccedila e poesia Promovia uma intensa troca corporal onde a viacutergula e os tempos verbais sentimentos
e intenccedilotildees eram tocados num teclado orgacircnico de notas que vibram para aleacutem do rosto e do corpo Quase Nada esteve em cena em 2012 e contou com a participaccedilatildeo
do Grupo de Teatro de Surdos do Porto e foi uma coproduccedilatildeo da PELE - Espaccedilo de Contacto Social e Cultural Associaccedilatildeo da Casa do Surdo e do Serviccedilo Educativo
da Casa da Muacutesica
18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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18
com estes alunos sendo premente investir natildeo soacute na sua formaccedilatildeo mas tambeacutem na
integraccedilatildeo de inteacuterpretes de Liacutengua Gestual nas salas de aula
221 Sistemas de Educaccedilatildeo Musical para Surdos
Ainda natildeo existem muitos dispositivos desenvolvidos especificamente para o ensino da
muacutesica a pessoas surdas no entanto alguma investigaccedilatildeo tem sido feita nesse sentido
Em Nova Iorque a Cooper Union estaacute a construir um estuacutedio com um ambiente de
aprendizagem para alunos surdos onde existe a combinaccedilatildeo da engenharia e acuacutestica O
estuacutedio eacute composto por um sistema interativo de luzes que inclui 270 projetores que
funcionam em conjunto com um programa especialmente desenhado para projetar
imagens e graacuteficos num ecratilde Neste programa as crianccedilas surdas interagem com imagens
em movimento e vatildeo ativando luzes que pulsam consoante a dinacircmica desse mesmo
movimento
Fig 2 Cooper Union Interactive Light Studio
Desta forma as crianccedilas surdas conseguem perceber com mais facilidade as questotildees do
som atraveacutes da imagem No segundo programa eacute utilizado o som de um microfone
instrumento musical ou muacutesica preacute-gravada como entradas Quando a crianccedila surda estaacute
em frente de um alvo que pode ser um componente de uma muacutesica digitalizada (teclados
19
percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
20
constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
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participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
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Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
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46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
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Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
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5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
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(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
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professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
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As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
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6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
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Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
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percussatildeo ou vocais) esta toca Quando todos os alvos satildeo disparados a muacutesica completa
eacute reproduzida Desta forma as crianccedilas podem usar o movimento corporal para criar as
suas proacuteprias composiccedilotildees de muacutesica
Continuando na Cooper Union existe outro programa em que os alunos adaptaram uma
parede com imagens de flores falantes que transformam o som em luz Neste programa
as flores tecircm microfone embutidos que desencadeiam diferentes frequecircncias e niacuteveis de
som permitindo deste modo que as crianccedilas surdas comecem a entender o som e a
muacutesica de forma quantificaacutevel Depois de vaacuterias tentativas para converter a entrada de
aacuteudio para a entrada visual foi escolhido o espectralizador colorido um tipo de analisador
de espectro equipado com um microfone que eacute capaz de operar utilizando pilhas Os
estudantes da Cooper Union instalaram sete espectralizadores coloridos Os aparelhos
foram modificados com uma solda de montagem para aguentar a capacidade de cinco
voltes que ilumina as luzes LED
Fig 3 Sound-to-Light Flower LEDs
O principal benefiacutecio destes dispositivos resume-se a toda a interatividade que eacute fornecida
agraves crianccedilas atraveacutes desta experiecircncia recorrendo agrave luz e ao movimento corporal Uma das
paredes do estuacutedio incorpora uma simulaccedilatildeo eletroacutenica interativa com pirilampos que os
alunos podem movimentar enquanto observam pulsos de luz Cada um dos pirilampos eacute
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constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
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durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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constituiacutedo por um circuito autocontido que sincroniza o pulsar das luzes semelhantes a
pirilampos com outros na vizinhanccedila imediata constituindo um modo de comunicaccedilatildeo natildeo-
verbal via sensores infravermelhos e outros sistemas eletroacutenicos Para aleacutem de ser um
programa interativo este eacute luacutedico e permite que as crianccedilas aprendam sobre o
aparecimento de padrotildees riacutetmicos atraveacutes da imagem
O estuacutedio de luzes interativo da Cooper Union permite a crianccedilas surdas
experimentar o som em formas uacutenicas e superar os limites da sua condiccedilatildeo
fiacutesica (Varrasi 2014)
As experiecircncias de estuacutedio trazem benefiacutecios para as crianccedilas surdas para aleacutem do
contacto com o som Permitem-lhes experimentar e apreciar tambeacutem as evoluccedilotildees
cientiacuteficas e de engenharia inspirando-as para o futuro motivando-as de forma inclusiva
Como jaacute foi mencionado Frequelise foi um projeto elaborado em Inglaterra com o intuito
de permitir a crianccedilas e jovens com vaacuterios graus de deficiecircncia auditiva experienciar e
explorar o potencial da tecnologia para que pudessem explorar a criaccedilatildeo a performance e
a partilha de muacutesica Danny Lane que foi o mentor deste projeto inovador afirma
Eu uso muito o Youtube em vez de fazer download das muacutesicas Ao vivo e
filmada a muacutesica eacute mais acessiacutevel para mim ndash Eu vejo cada vez mais os
jovens a fazer upload dos seus trabalhos mas quando pesquiso muacutesica para
surdos soacute a encontro traduzida em liacutengua gestual ndash eacute sempre o mesmo
Entatildeo pensei onde eacute que as pessoas surdas compotildeem e tocam porquecirc que
nunca as vi14 (Deaf 2016a)
Lane chamou mais cinco muacutesicos surdos e ouvintes para o ajudarem a liderar este projeto
Cada um deles com especialidades complementares partilhando sempre o interesse por
criar muacutesica e explorar as tecnologias com o grupo-alvo Frequelise tem como principais
objetivos aumentar as capacidades e confianccedila dos participantes no que diz respeito a
compor muacutesica usando ferramentas digitais contribuir para o aumento das capacidades
de composiccedilatildeo e performance aleacutem de dar confianccedila aos participantes para partilhar a sua
muacutesica com os seus pares e finalmente promover uma experiecircncia direta com uma equipa
profissional de muacutesicos com quem podem partilhar experiecircncias As atividades propostas
14 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquo(hellip) I do use YouTube quite a lot instead of downloading music Live or filmed music for me is more accessible ndash I see more and more
young people uploading their stuff but when I type (search) ldquodeaf musicrdquo itrsquos just signed song - the same the samehellip so I thought where are the deaf people composing
and performing music why am I not seeing themrdquo Danny Lane Frequelise
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
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UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
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surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
21
durante este programa passavam por trecircs fases distintas sendo esta a exploraccedilatildeo o
desenvolvimento e a avaliaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo
Inicialmente foi feita uma pesquisa por equipamento e software para ser usado nas
sessotildees Deram preferecircncia a software gratuito para permitir o faacutecil acesso a todos os
participantes e tambeacutem para que estes conseguissem posteriormente compor muacutesica em
casa A equipa teve de adaptar as escolhas da tecnologia de muacutesica e atividades das
sessotildees para clarificar o conteuacutedo com sucesso e assim encorajar os grupos de trabalho
Foi pedido um feedback ao grupo de trabalho que foi posteriormente analisado para que
as muacutesicas e os sons utilizados fossem ao encontro das necessidades de cada um e de
faacutecil acesso A estimulaccedilatildeo de uma atividade deve tambeacutem ser considerada a fim de que
o grupo possa aceder completamente agrave atividade permitindo desenvolver ideias criativas
com ela Nestas atividades quem liderava os grupos tinha uma funccedilatildeo crucial pois tinham
de ter a capacidade de perceber as diferentes necessidades de cada grupo
nomeadamente os diferentes graus de surdez a confianccedila na criaccedilatildeo musical e a
utilizaccedilatildeo das tecnologias necessaacuterias nas sessotildees
Com o Frequelise conseguiram perceber que o uso da tecnologia musical permite mostrar
uma variedade de novas oportunidades aos surdos Assim conseguem ter acesso agrave
muacutesica para aprender explorar desenvolver e tambeacutem ganhar confianccedila como jovens
muacutesicos O Frequelise destaca assim o desenvolvimento de habilidades como o uso e
exploraccedilatildeo vocal o desenvolvimento de capacidade de sequenciamento o conhecimento
de um maior nuacutemero de tecnologias interativas uma maior sensibilizaccedilatildeo para a teoria
musical atraveacutes do uso de software de muacutesica educacional o desenvolvimento da
criatividade independente e da habilidade para a composiccedilatildeo assim como promover a
confianccedila como criadores de muacutesica e performers Ao avaliar o Frequelise destacaram uma
variedade de achados importantes que contribuiacuteram para melhorar modelos de praacuteticas
musicais para a populaccedilatildeo surda Acreditam que a tecnologia musical pode oferecer
alternativas e potenciar mais crianccedilas e jovens surdos a adquirir o gosto pela criaccedilatildeo
musical e o desenvolvimento pessoal em comparaccedilatildeo com outras formas de fazer muacutesica
22
23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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23 Sistemas Audiovisuais
A muacutesica eacute entatildeo superior agrave linguagem porque natildeo eacute fixa no particular
dirigindo-se ao geral ao universal15 (Shaw-Miller 2002)
Segundo Siacutelvia C Nassif e Jorge L Schroeder a muacutesica eacute uma forma de linguagem
altamente abstrata que possibilita diversos modos de audiccedilatildeo que vatildeo desde uma relaccedilatildeo
mais sensorial passando por apreensotildees de caraacuteter mais referencial podendo chegar
ainda a uma escuta mais esteacutetica (Nassif 2014) A linguagem imageacutetica possui inuacutemeras
relaccedilotildees com a muacutesica seja no sentido de associaccedilotildees de caraacuteter como em termos
estruturais seja por exemplo em questotildees como o ritmo dinacircmica etc O fenoacutemeno
musical tem portanto dois aspetos correlacionados tendecircncia agrave abstraccedilatildeo e aderecircncia ao
concreto ou seja os fenoacutemenos musicais tecircm uma tendecircncia agrave abstraccedilatildeo na medida em
que a execuccedilatildeo possibilita estruturas novas surgimento de ideais ao mesmo tempo que
leva tambeacutem a uma aderecircncia ao concreto no sentido em que estaacute vinculado agraves
possibilidades instrumentais ou seja eacute limitado por condiccedilotildees fiacutesicas Pode observar-se
a esse respeito que de acordo com o contexto instrumental e cultural a muacutesica produzida
eacute sobretudo concreta abstrata ou quase equilibrada (Schaeffer 1993)
Eacute de notar que muitas vezes a imagem vem acompanhada de uma dimensatildeo sonora que
a suporta criando uma certa dependecircncia nesta relaccedilatildeo entre som e imagem A muacutesica
estaacute quase sempre acompanhada de outras linguagens sejam elas visuais ou de
movimento Socialmente a muacutesica eacute colocada em espaccedilos em que esta acontece em
cumplicidade com outras linguagens e raramente de modo autoacutenomo Compor muacutesica eacute
para muitos compositores uma forma de pesquisa uma exploraccedilatildeo pessoal de ideias e de
maneiras de tornar essas ideias audiacuteveis Interligar muacutesica com imagem altera essa noccedilatildeo
de composiccedilatildeo ou seja o compositor pode usar a imagem para aumentar a ideia musical
ou para desenvolver uma histoacuteria que natildeo eacute facilmente transmitida exclusivamente atraveacutes
do som (Rudi 2005)
15 Music is then superior to language because it is not fixed in the particular addressing itself to the general the universal (Shaw-Miller 2002 56)
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
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Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
23
Ao contraacuterio da imagem que possui uma materialidade plaacutestica pictorial a muacutesica eacute mais
fugidia ou seja depende muito da memoacuteria do ouvinte para se tornar algo mais concreto
Apesar de hoje em dia termos agrave nossa disposiccedilatildeo sistemas de reproduccedilatildeo sonora estes
natildeo resolvem a questatildeo da efemeridade dos sons Eacute por isso importante que os ouvintes
adquiram um viacutenculo significativo com a muacutesica para que esta perdure na memoacuteria
Podemos entatildeo considerar que isto satildeo modos de apropriaccedilatildeo muito embora se deva
realccedilar a existecircncia de uma outra maneira de aprofundar essa ligaccedilatildeo agrave musica que eacute sem
duacutevida a aprendizagem de um instrumento musical
Foi na deacutecada de 1870 que se deu um novo impulso artiacutestico-tecnoloacutegico onde eram
explorados aparelhos como o color-organ e semelhantes Louis-Bertrand Castel inspirado
por Aristoteles e Athanasius Kircher tinha como objetivo obter melhor qualidade cromaacutetica
na resposta agraves notas musicais Seguiram-se outros artistas que exploraram esta temaacutetica
elaborando sistemas que incorporavam luz e som de forma simultacircnea (Ribas 2012)
Analogias restritas entre cores e tons rapidamente deram lugar a associaccedilotildees mais livres
entre luz e sons tornando-se entatildeo evidente que natildeo havia um padratildeo de correspondecircncia
incontestaacutevel entre cores e sons
Alexander Wallace Rimington marcou um ponto de viragem em 1915 ao construir um
instrumento de color music que formava as bases do movimento de luzes enquanto tocava
o acompanhamento da sinfonia Promeacutetheacutee le Poegraveme du feu Com estes
desenvolvimentos percebemos que as relaccedilotildees entre o visual e o auditivo se tornam mais
latentes sejam elas a separaccedilatildeo das perceccedilotildees sensoriais fabricadas ou a siacutentese
conceitual das artes ou as analogias de corsom que motivam maacutequinas experimentais
concebidas para o desempenho da cor no acompanhamento musical
Segundo Jewanski e Naumann (Jewanski 2010) tanto no mundo da pintura como na
muacutesica as analogias estruturais evoluem atraveacutes de uma transferecircncia de modos
estruturais de produccedilatildeo criativa Haacute um desenvolvimento de analogias visuais agrave muacutesica
onde ocorre uma troca de dimensotildees espaacutecio-temporais e relaccedilotildees entre elementos de
cada linguagem como por exemplo harmonia ritmo polifonia dissonacircncia ou mesmo a
transferecircncia de teacutecnicas de composiccedilatildeo e de improvisaccedilatildeo Na muacutesica as relaccedilotildees entre
as formas servem como um meacutetodo enquanto que com as cores as nuances e contrastes
inspiram composiccedilotildees musicais em que os procedimentos satildeo adaptados originando
24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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24
novos materiais de media (Ribas 2012) A possibilidade de sincronizaccedilatildeo permite o
desenvolvimento de teacutecnicas envolvidas na ldquomontagem ou coordenaccedilatildeo de diferentes
prazosrdquo a distribuiccedilatildeo do tempo ou a criaccedilatildeo da simultaneidade onde estatildeo impliacutecitas
conceccedilotildees e construccedilotildees do tempo cinematograacutefico (Muumlller 2010) A sincronizaccedilatildeo
promove um fenoacutemeno especiacutefico de aacuteudio-visatildeo onde a concomitacircncia sincroacutenica de
eventos auditivos e visuais levam ao padratildeo da siacutencrise uma siacutentese percetiva entre o que
se vecirc e se ouve (Chion 1994) A possibilidade da reassociaccedilatildeo de imagem ao som eacute
fundamental para a construccedilatildeo do conceito de som do filme sem a qual esta colapsaria
(Chion 1994) A irresistiacutevel e espontacircnea fusatildeo mental completamente livre de qualquer
loacutegica que acontece entre o som e o visual quando estes acontecem exatamente ao
mesmo tempo (Chion 1994)16
O advento do som oacutetico registado como inscriccedilatildeo visual tambeacutem permitiu uma traduccedilatildeo
analoacutegica direta entre som e imagem e a ldquosiacutentese teacutecnica e esteacuteticardquo (Thoben 2010) Com
um conversor de imagem para som ideias e experiecircncias foram feitas em torno da
possibilidade de uma traduccedilatildeo direta de som e imagem e vice-versa Essas ideias
enfatizaram as possibilidades de uma transformaccedilatildeo teacutecnica ou reversibilidade intermeacutedia
dos sentidos
231 Muacutesica Visual
A histoacuteria da muacutesica visual remonta ao seacuteculo XVI Atraveacutes do estudo de Giuseppe
Arcimboldi17 sobre as proporccedilotildees harmoacutenicas pitagoacutericas de tons e meios-tons Este artista
mostrou a relaccedilatildeo entre a escala musical e o brilho das cores Comeccedilando com o branco
e gradualmente adicionando mais preto ele conseguiu elaborar uma oitava nos doze meios
tons com as cores que vatildeo do branco ao preto Essa pintura de escala de cinza iria
gradualmente escurecer a cor branca usando preto para indicar um aumento dos meios
tons Arcimboldi dividiu um tom em duas partes iguais e gradualmente o branco vai-se
transformando em preto com o branco representando uma nota grave e preto
representando as mais agudas
16 Traduccedilatildeo da Autora (TA) The spontaneous and irresistible mental fusion completely free of any logic that happens between a sound and a visual when these
occur at exactly the same time
17 Giuseppe Arcimboldi - Milatildeo 1527 mdash 11 de julho de 1593
25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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25
Em 1704 ao analisar o espectro da luz Isaac Newton18 sugeriu uma estreita ligaccedilatildeo entre
as sete cores do arco-iacuteris e as sete notas da escala musical (Silva and Martins 2003)
Newton afirmou que um aumento da frequecircncia de luz no espectro de cores de vermelho
para violeta fez um aumento correspondente na frequecircncia de som na escala diatoacutenica19
principal Desde a ideia de Newton outras pessoas tiveram uma resposta diferente agrave
ligaccedilatildeo do cientista entre cor e som
Louis Bertrand Castel20 matemaacutetico francecircs introduziu em 1743 a relaccedilatildeo entre cor e
notas musicais Isso conduziu-o agrave invenccedilatildeo do cravo ocular instrumento musical que
permite transformar o som em cor Com cada nota na escala representando uma cor
diferente por exemplo sempre que a nota doacute era pressionada um pequeno painel acima
do instrumento indicava a cor violeta
Fig 4 Ilustraccedilatildeo do cravo ocular de Louis Bertrand Castel por Charles Germain de Saint Aubin
Mais tarde o autor aperfeiccediloou o sistema propondo uma escala de doze cores que
correspondia aos meios-tons Uma seacuterie de instrumentos e respostas foram desde entatildeo
baseados no trabalho de Castel todos com as suas proacuteprias ideias sobre a relaccedilatildeo entre
18 Isaac Newton - Woolsthorpe-by-Colsterworth 4 de janeiro de 1643 mdash Kensington 31 de marccedilo de 1727
19 Escala diatoacutenica eacute uma escala constituiacuteda por sete notas musicais onde existem cinco intervalos de tons e dois intervalos de meios-tons entre notas
20 Louis Bertrand Castel - 5 November 1688 ndash 11 January 1757
26
cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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cor e som (Hamon 2006) O seu sonho de uma muacutesica visiacutevel natildeo parecia estranho a
artistas muacutesicos inventores e miacutesticos e serviu para inspirar ao longo dos seacuteculos os que
se seguiram Muitos inovadores adaptaram o desenho baacutesico do sistema de Castel e em
particular o uso de uma interface de teclado como modelo para suas proacuteprias
experiecircncias (Levin 2000 22)
Com muitos estudos sobre a relaccedilatildeo entre cor e som ao longo dos anos o fiacutesico e muacutesico
alematildeo Ernest Chladni21 adotou uma abordagem diferente para o estudo e analisou a
relaccedilatildeo entre som e forma Em 1787 investigou os padrotildees produzidos por certas
frequecircncias atraveacutes de vibraccedilatildeo em placas planas
Fig 5 Ilustraccedilatildeo da experiecircncia de Ernest Chladni22
Para isso foi espalhada areia fina uniformemente sobre uma placa de vidro ou de metal e
fez-se deslizar um arco do violino de encontro agrave placa para realizar testes padrotildees atraveacutes
das vibraccedilotildees O movimento vibratoacuterio fez com que o poacute se movesse para as linhas
nodais23 As linhas pretas representavam as partes da placa que mais vibravam Chladni
foi capaz de produzir som dando-lhe uma imagem dinacircmica e descobrindo que o mesmo
som iria produzir o mesmo padratildeo O estudo do som e da vibraccedilatildeo tornados visiacuteveis
denominados de cimaacutetica
21 Ernest Chladni (Wittenberg 30 de novembro de 1756 mdash Breslaacutevia 3 de abril de 1827)
22 Imagem encontrada em httpwwwhervedavidfrfrancaisphonoDesbeauxhtm
23 Linhas Nodais Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que fica repartida vibram em sentido oposto
27
Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Fig 6 Opus 1 de Walter Ruttmann
Em 1921 o pintor e cineasta Walter Ruttmann 24criou Opus 1 Um quinteto de cordas
fez uma performance ao vivo com cada projeccedilatildeo de Opus 1 que foi apresentado em
vaacuterias cidades alematildes Em Opus 1 as formas abstratas moviam-se no ecratilde consoante
a muacutesica Ruttmann conseguiu essa proeza elaborando desenhos coloridos na pauta
musical para que os muacutesicos conseguissem sincronizar a sua performance com o
filme que estava a ser projetado Apoacutes a participaccedilatildeo num ensaio de Opus 1 em
Frankfurt Oskar Fischinger25 decidiu fazer muacutesica visual Comeccedilou a experimentar
cortando cera e imagens de barro usando silhuetas combinadas com animaccedilotildees
desenhadas Fischinger fez alguns dos seus primeiros filmes usando um oacutergatildeo
colorido que era controlado por vaacuterios projetores de slides e projetores de palco e que
tinham filtros de cores em mudanccedila com controlo de intensidade Em 1925 este pintor
idealizou um novo oacutergatildeo de cor com cinco projetores onde adicionou uma camada
mais complexa de cor Fischinger construiu cubos de madeira e cilindros coloridos
pintados com tecido sendo projetados na tela para criar os seus filmes Durante o
Festival de Arte no Cinema em Satildeo Francisco em 1947 Fischinger conheceu dois
pintores que se inspiraram no seu trabalho Harry Smith pintou diretamente na tira de
filme e o resultado deste foi acompanhado por uma performance de jazz (Hamon
2006)
Thomas Wilfred26 falava da luz como uma forma de arte e em 1922 inventou o
Clavilux que foi considerado o primeiro dispositivo projetado para espetaacuteculos
24 Walter Ruttmann - 28 de dezembro de 1887 ndash 15 de julho de 1941
25 Oskar Fischinger - 22 de junho de 1900 mdash 31 de janeiro de 1967
26 Thomas Wilfred - 18 de junho de 1889 Dinamarca - 10 de junho de 1968 Nyack Nova Iorque EUA
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de
Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
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UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
28
audiovisuais controlado por um teclado composto por sliders que se assemelhava a
uma mesa de iluminaccedilatildeo moderna (Hamon 2006) Clavilux era capaz de criar formas
de luz complexas que se misturavam para criar uma profundidade de luz
Fig 7 Clavilux de Thomas Wilfred
Wilfred designou Lumia agrave forma de arte silenciosa das animaccedilotildees coloridas que eram
projetadas (Levin 2000) Os prismas encontravam-se na frente de cada fonte de luz e
Wilfred misturava a intensidade da cor com uma seleccedilatildeo de padrotildees geomeacutetricos Embora
a maioria das apresentaccedilotildees de Wilfred com o Clavilux fossem realizadas em completo
sigilo em 1926 colaborou com a Orquestra de Filadeacutelfia na apresentaccedilatildeo da Scheherazade
de Rimsky-Korsakov27 (Hamon 2006)
Influenciada pelo oacutergatildeo de cor de Thomas Wilfred e pela muacutesica de Leon Theremin Mary
Ellen Bute comeccedilou a desenvolver uma forma cineacutetica de arte visual Ela produziu vaacuterias
animaccedilotildees abstratas definidas para muacutesica claacutessica por Bach e Shostakovich Isso foi
27 Scheherazade eacute uma suite sinfoacutenica que foi composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888 Eacute uma suiacutete baseada no livro Mil e uma Noites e o trabalho orquestral
combina duas caracteriacutesticas comuns seja agrave muacutesica russa seja agrave de Rimsky-Korsakov ao colorido orquestral ou a um interesse pelo oriente muito presente
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de
Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
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UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
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Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
29
possiacutevel submergindo pequenos espelhos em tinas de oacuteleo e conectando-os a um
oscilador
Norman McLaren28 enquanto estudava arte e design de interiores na Glasgow School of
Art em 1933 comeccedilou a fazer curtos filmes experimentais McLaren escreveu que ao ouvir
muacutesica via imagens abstratas e depois de assistir ao seu primeiro filme abstrato em 1934
descobriu a maneira de poder fazer essas imagens visiacuteveis para os outros atraveacutes dos
filmes Ao pintar na peliacutecula dos filmes adquiria a capacidade de exibir uma representaccedilatildeo
visual da muacutesica Incorporando uma variedade de estilos musicais nos seus filmes
incluindo a muacutesica indiana de Ravi Shankar de uma banda trinidadiana29 e uma trilha
sonora de piano de jazz por Oscar Peterson McLaren tambeacutem usou uma teacutecnica que ele
chamou de Animated Sound onde riscava a faixa sonora do filme Deste modo criou sons
eletroacutenicos incomuns e isso pocircde ser ouvido no seu filme intitulado Blinkity Blank (1955)
Em 1957 Jordan Belson30 comeccedilou a coreografar acompanhamentos visuais para a nova
muacutesica eletroacutenica O compositor Henry Jacobs compocircs a muacutesica enquanto Belson criou o
visual usando vaacuterios dispositivos de projeccedilatildeo Em 1961 comeccedilou a criar visuais ao vivo
pela manipulaccedilatildeo de luz pura Adotando o papel de um VJ moderno usando um banco
oacutetico com mesas giratoacuterias motores de velocidade variaacutevel e luzes de intensidade variada
este geacutenio criou efeitos visuais ao vivo para acompanhar muacutesica eletroacutenica Belson natildeo
queria que nenhum de seus materiais fosse colocado online fazendo com que desta
forma poucas obras suas estejam disponiacuteveis atualmente
O fiacutesico suiacuteccedilo Hans Jenny31 foi influenciado pelo trabalho de Chladni na cimaacutetica O estudo
de fenoacutemenos de onda foi documentado em vaacuterias experiecircncias realizadas por Jenny que
usou frequecircncias de som em vaacuterios materiais incluindo aacutegua areia plaacutestico liacutequido e
depoacutesitos de ferro Quando uma seacuterie de impulsos eleacutetricos era aplicada ao cristal as
distorccedilotildees resultantes tinham o caraacuteter de vibraccedilotildees reais Estes cristais permitiram uma
gama inteira de possibilidades experimentais com a habilidade de indicar a frequecircncia e a
amplitude
28 Norman McLaren - 11 de abril de 1914 Stirling Reino Unido - 27 de janeiro de 1987 Montreal Canadaacute
29 Trinidadiano eacute o habitante da cidade de Trindade na Ameacuterica do Sul
30 Jordan Belson - 6 de junho de 1926 Chicago Illinois EUA - 6 de setembro de 2011 Satildeo Francisco Califoacuternia EUA
31 Hans Jenny - 16 Agosto 1904 Basel ndash 23 Junho 1972 Dornach
30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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30
Fig 8 Hans Jenny e as suas experiecircncias cimaacuteticas
O oscilador estaacute ligado agrave parte inferior da placa e quando eacute emitida uma frequecircncia o
material aiacute colocado gera um padratildeo Jenny procedeu entatildeo agrave iniciativa de inventar o
Tonoscope que foi construiacutedo para tornar a voz humana visiacutevel Ao cantar num tubo o ar
passa causando vibraccedilotildees no diafragma preto que tem areia de quartzo uniformemente
espalhado
Fig 9 Tonoscope
Hans Jenny afirmou que se tivesse a mesma frequecircncia e a mesma tensatildeo obteria a
mesma forma com tons graves gerando padrotildees simples e tons agudos resultando em
desenhos mais complexos O padratildeo eacute caracteriacutestico natildeo soacute do som mas tambeacutem da fala
31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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31
Enquanto estudante de engenharia eletroacutenica e muacutesica eletroacutenica na universidade de
Illinois o artista de viacutedeo americano Stephen Beck comeccedilou a experimentar o uso de viacutedeo
e formas de onda eletroacutenica para criar imagens Em 1969 um sintetizador de viacutedeo foi
projetado por Beck Este dispositivo iria construir uma imagem usando os elementos
visuais baacutesicos de forma cor textura e movimento sem recorrer a uma cacircmara Nos seus
ensaios Processing and Video Synthesis o artista discute que as quatro categorias
distintas de instrumentos de viacutedeo eletroacutenicos satildeo o processamento de imagem da cacircmara
a siacutentese direta de viacutedeo a modulaccedilatildeo de varredura e a impossibilidade de gravar em
VST32 O Camera Image Processing foi usado para modificar o sinal para uma cacircmara de
televisatildeo preto e branco adicionando cor ao sinal Os sintetizadores de viacutedeo diretos foram
projetados para operar sem uma cacircmara contendo circuitos para gerar um sinal de viacutedeo
completo que incluiacutea geradores de cores Um circuito gerador de forma foi idealizado para
criar formas e modulaccedilatildeo de movimento para movimentar as formas atraveacutes de ondas
eletroacutenicas como as curvas sinusoacuteides e outros padrotildees de onda de frequecircncia (Hamon
2006)
Em 1973 ocorreu uma seacuterie de apresentaccedilotildees ao vivo intituladas de Muacutesica Iluminada
Com Stephen Beck a controlar os visuais e o muacutesico eletroacutenico Warner Jepson a usar o
sintetizador modular analoacutegico Buchla 100 os dois executam muacutesicas de forma a que estas
acompanhem os elementos visuais Beck e Jepson que eram membros do Centro
Nacional de Experiecircncias em Televisatildeo trabalharam juntos realizando Muacutesica Iluminada
ao vivo em Dallas Boston e Washington DC Estas performances demonstraram a
integraccedilatildeo entre a muacutesica eletroacutenica e a siacutentese de viacutedeo tornando-se uma forma de arte
que ainda eacute usada nos nossos dias A maioria dos concertos de muacutesica eletroacutenica ou tem
um elemento visual presente ou eacute executado pelo proacuteprio artista ou mais frequentemente
por programadores de viacutedeo que iratildeo trabalhar com o artista nas questotildees de
desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos elementos visuais da performance (Hamon 2006) A
tecnologia de computador tornou possiacutevel para os designers de muacutesica visual transcender
as limitaccedilotildees da fiacutesica mecacircnica e oacutetica e superar o conflito especiacutefico geral inerente em
instrumentos visuais eletromecacircnicos e optomecacircnicos (Levin 2000)A maioria das
interfaces visuais de computador para o controlo e representaccedilatildeo do som resultam de
transposiccedilotildees de soluccedilotildees graacuteficas convencionais para o espaccedilo de tela do computador
Em particular trecircs metaacuteforas principais para a relaccedilatildeo entre imagem-som passarem a
32 Virtual Studio Technology ou em portuguecircs Tecnologia Virtual de Estuacutedio eacute uma interface desenvolvida pela Steinberg lanccedilada em 1996 que
integra sintetizadores e efeitos de aacuteudio com editores e dispositivos de gravaccedilatildeo de som digitais
32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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32
dominar o campo da muacutesica computadorizada partituras paineacuteis de controlo e widgets33
interativos
Alan Kay34 declarou que a notaccedilatildeo musical era uma das dez inovaccedilotildees mais importantes
dos uacuteltimos mil anos Certamente que eacute um dos meios mais antigos e mais comuns de
relacionar o som com uma representaccedilatildeo graacutefica Originalmente desenvolvido por monges
medievais como um meacutetodo para insinuar os passos de melodias cantadas a notaccedilatildeo
musical permitiu eventualmente uma revoluccedilatildeo na estrutura da proacutepria muacutesica ocidental
tornando possiacutevel a criaccedilatildeo emergente de novos papeacuteis musicais hierarquias e
instrumentos de desempenho (Walters 1997) Alguns designers de software tentaram
inovar o esquema de cronograma permitindo que os utilizadores editem dados enquanto
o sequenciador estaacute a reproduzir a informaccedilatildeo na timeline35 (Hamon 2006)
Lukas Girling eacute um jovem designer britacircnico que incorporou e desenvolveu a ideia de
pontuaccedilotildees dinacircmicas numa seacuterie de protoacutetipos de interface de reposiccedilatildeo musicalmente
poderosos O seu instrumento Granulator desenvolvido na Interval Research Corporation
em 1997 usa um conjunto de cronogramas paralelos em loop para controlar inuacutemeros
paracircmetros de um sintetizador granular Cada painel do Granulator mostra e controla a
evoluccedilatildeo de um aspeto diferente do som do sintetizador como a intensidade de um filtro
low-pass 36 ou o pitch 37 dos gratildeos do som os utilizadores podem desenhar novas curvas
para essas timelines Uma inovaccedilatildeo interessante do Granulator eacute um painel que combina
um cronograma tradicional com um diagrama de entrada saiacuteda permitindo que o utilizador
interactivamente especifique a evoluccedilatildeo temporal do local de reproduccedilatildeo de um ficheiro
sonoro Muitas pessoas satildeo capazes de ler notaccedilatildeo musical ou ateacute mesmo
espectrogramas de fala como fluentemente conseguem ler inglecircs ou francecircs No entanto
eacute essencial lembrar que pontuaccedilotildees linhas de tempo e diagramas como formas de
linguagem dependem em uacuteltima instacircncia da interiorizaccedilatildeo do conjunto de siacutembolos
sinais ou gramaacuteticas cujas origens satildeo tatildeo arbitraacuterias como qualquer um daqueles
encontrados na liacutengua falada (Levin 2000)
Pete Rice desenvolveu um software de muacutesica no Hyperinstruments Group do MIT Media
Laboratory no ano de 1998 denominado de Stretchable Music No trabalho de Rice cada
33 Widgets satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo
cotaccedilotildees da bolsa de valores etc
34 Alan Kay - Springfield 17 de maio de 1940
35 Timeline significa linha do tempo e eacute utilizada para organizaccedilatildeo de informaccedilotildees cronologicamente
36 Filtro Low-Pass eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a
frequecircncia de corte
37 Pitch eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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33
um dos grupos heterogeacuteneos de objetos graacuteficos representa uma faixa ou camada em um
loop MIDI38 preacute-composto Ao puxar ou alongar gestualmente estes objetos o utilizador
pode criar uma modificaccedilatildeo contiacutenua para uma faixa MIDI correspondente No sistema
Stretchable Music as melodias harmonias ritmos atribuiccedilotildees de timbres e estruturas
temporais e a muacutesica satildeo preacute-determinada e preacute-composta por Rice Reduzindo a
influecircncia dos usuaacuterios para o ajuste tiacutembrico de material musical imutaacutevel Rice eacute capaz
de garantir que o seu sistema soe sempre bem notas erradas ou mal colocadas por
exemplo simplesmente natildeo podem acontecer (Levin 2000)
A proliferaccedilatildeo de sistemas de expressatildeo audiovisual concebidos ao longo dos uacuteltimos
anos possibilitados pelos desenvolvimentos tecnoloacutegicos precipitados pelas resoluccedilotildees
cientiacuteficas industriais e de informaccedilatildeo expandiu dramaticamente o conjunto de linguagens
expressivas disponiacuteveis Muitos dos artistas que desenvolveram esses sistemas e
linguagens tais como Oskar Fischinger e Norman McLaren criaram tambeacutem expressotildees
emocionantes e apaixonadas em modelos exemplares de ferramentas de
desenvolvimento simultacircneo (Levin 2000)
38 MIDI ndash Musical Instrument Digital Interface ( Interface Digital de Instrumentos Musicais)
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica
UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
34
3 METODOLOGIA
Dada a natureza da investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo necessaacuteria no objeto de estudo para o
desenvolvimento do mesmo procuramos estabelecer uma metodologia de investigaccedilatildeo
que fosse clara e raacutepida para assim responder agraves questotildees que foram sendo formuladas
Os meacutetodos utilizados foram calendarizados consoante a necessidade e pertinecircncia dos
mesmos para o avanccedilo da investigaccedilatildeo
31 Investigaccedilatildeo-Accedilatildeo Participativa
Neste projeto optou-se pela utilizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa Esta eacute uma accedilatildeo
que se distingue da observaccedilatildeo participante ou seja ambas satildeo favoraacuteveis agrave captaccedilatildeo da
subjetividade atraveacutes da presenccedila prolongada no terreno em questatildeo Considera-se que
a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute um processo em espiral interativo e focado num problema
(Fernandes 2006) No caso da observaccedilatildeo participante as transformaccedilotildees no objeto satildeo
assumidas como inevitaacuteveis embora natildeo seja esse o objetivo enquanto na investigaccedilatildeo-
accedilatildeo as transformaccedilotildees ocorridas satildeo a razatildeo da investigaccedilatildeo
Foram agendadas sessotildees com alguma periodicidade com o grupo de trabalho da
Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao Surdo Nestas sessotildees e apoacutes uma primeira abordagem
para perceber as caracteriacutesticas do grupo fomos executando alguns exerciacutecios com ele
procurando assim perceber a avaliar as suas necessidades Iniciamos com uma pequena
abordagem sobre teoria musical pois na sessatildeo inicial percebemos que o grupo tinha
lacunas relativamente a conceitos musicais baacutesicos que dificultavam o entendimento das
questotildees abordadas Apoacutes abordar estas questotildees comeccedilamos por fazer alguns
exerciacutecios de ritmos baacutesicos Nestes exerciacutecios numa fase inicial foi-lhes pedido para
identificar e marcar o ritmo sentido Posteriormente foi-lhes demonstrado um ritmo
individualmente que foi marcado nas costas de cada um que de seguida teria que repetir
e manter sem qualquer referecircncia Apoacutes a elaboraccedilatildeo do primeiro protoacutetipo demos iniacutecio
a exerciacutecios de experimentaccedilatildeo Numa primeira fase foi feita uma pequena explicaccedilatildeo e
logo de seguida deixaacutemos que os utilizadores explorassem o protoacutetipo primeiro em formato
de papel e posteriormente em formato digital
35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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35
32 Entrevistas
As entrevistas que foram realizadas de forma informal natildeo foram gravadas pois
causavam algum distanciamento entre a investigadora e os entrevistados o que natildeo era
pretendido pois desta forma natildeo era possiacutevel estabelecer e consolidar uma relaccedilatildeo de
cumplicidade que iria ser necessaacuteria para o desenvolvimento do restante trabalho
Interessava criar uma base de confianccedila com os entrevistados especialmente os
portadores de deficiecircncia auditiva pois eacute uma temaacutetica sensiacutevel Apesar das entrevistas
natildeo estarem perfeitamente estruturas pois variava de entrevistado em entrevistado
tentamos que fossem o mais padronizadas possiacutevel para que numa fase posterior
permitissem uma comparaccedilatildeo entre si Aqui recorremos agrave memoacuteria da investigadora para
que no fim de cada entrevista se elaborasse um pequeno relatoacuterio com os pontos-chave
As entrevistas tiveram como objetivo conhecer melhor a realidade dos surdos e dar a
conhecer o tipo de atividades que se tem feito para os incluir no campo musical Todos os
entrevistados demonstraram interesse no projeto o que permitiu uma maior troca de
informaccedilatildeo e experiecircncias enriquecedoras para o contexto desta investigaccedilatildeo Durante
este processo fomo-nos apercebendo que a interseccedilatildeo do mundo musical com a
comunidade surda tem vindo a acontecer mas de forma lenta pois existem vaacuterias
barreiras sejam elas burocraacuteticas ou sociais O ponto em comum de todas as entrevistas
foi a satisfaccedilatildeo de poder contribuirparticipar em atividades que tentam contrariar a ideia
de que estes dois mundos natildeo se podem fundir Foram entrevistadas onze pessoas das
quais seis de forma presencial uma por contacto telefoacutenico e os restantes quatro atraveacutes
de correio eletroacutenico (porque residem fora do paiacutes) Para todas as entrevistas foram
elaboradas duas listas de perguntas uma para aqueles que tecircm vindo a trabalhar com a
comunidade surda com o intuito de tentar perceber o que tem sido feito e os planos futuros
neste campo e outra para pessoas com deficiecircncia auditiva com o objetivo de tentar
perceber qual a relaccedilatildeo com a muacutesica e qual o contactoatividades que tecircm participado
Para os entrevistados portadores de deficiecircncia auditiva as perguntas foram direcionadas
para caracterizar primeiramente o grau de surdez de cada um e depois tentar perceber que
experiecircncia jaacute tinham tido com a muacutesica e como tinha sido estabelecido esse contacto Por
exemplo no caso de um indiviacuteduo do sexo masculino de 33 anos com deficiecircncia auditiva
profunda o contacto com a muacutesica era escasso pois nunca tinha sentido grande atraccedilatildeo
por esse mundo ldquoO contacto que tenho eacute basicamente ir a concertos ou discotecas com
os meus amigos natildeo pela muacutesica mas mais pelo conviacutevio e sentir o frenesim das
vibraccedilotildees porque estaacute sempre tudo muito alto imaginordquo (JLR deficiecircncia auditiva
36
profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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profunda) Neste grupo de deficientes auditivos tambeacutem foram contactados alguns muacutesicos
e aiacute a abordagem variou pois era necessaacuterio perceber as estrateacutegias que foram utilizadas
para colmatar as necessidades de aprendizagem musical ldquoA minha educaccedilatildeo musical
comeccedilou em casa (hellip) Todos tiacutenhamos aulas de piano (hellip) Os meus pais descobriram que
eu era surda profunda aos trecircs anos (hellip) O hospital deu-me aparelhos auditivos para
amplificar o som Eu era uma boa menina e usava-os sempre () A muacutesica ensinou-me
muito sobre ouvir e escutarrdquo (RM39 deficiecircncia auditiva profunda)40
No caso das entrevistas a pessoas que tecircm vindo a trabalhar com indiviacuteduos com
deficiecircncia auditiva no campo musical as perguntas foram mais direcionadas para as
estrateacutegias utilizadas tipo de atividades vantagens adquiridas preparaccedilatildeo feita para cada
atividade e qual a recetividade destas accedilotildees por parte do grupo de trabalho entre outras
Uma das entrevistas mais inspiradoras foi a do ex-diretor do Conservatoacuterio de Muacutesica de
Vila Real de 56 anos que dedicou parte da sua vida a lecionar muacutesica a pessoas com
deficiecircncia fosse ela auditiva ou visual ldquoEacute preciso ter muita paciecircncia neste trabalho
porque noacutes natildeo temos deficiecircncia e nem sempre eacute faacutecil perceber mas eacute muito gratificante
vecirc-los evoluir Eacute pena eacute que muita gente ainda tenha preconceitos e ache que estes alunos
natildeo satildeo capazes ou que satildeo uma perda de tempordquo Tambeacutem o Responsaacutevel pelo Serviccedilo
Educativo da Casa da Muacutesica afirmou que ldquoforam eles (Associaccedilatildeo do Surdo de Apoio ao
Surdo) que nos contactaram para participar em atividades muacutesicas integradas na Casa da
Muacutesica mas quando os fomos chamar poucos efetivamente vieram (hellip) Satildeo um grupo
muito fechado neles e nem sempre eacute faacutecil ultrapassar essa barreirardquo (Alberto Mendonccedila
ex-diretor do Conservatoacuterio de Vila Real)
33 Anaacutelise de Casos de Estudo
No caso desta investigaccedilatildeo efetuaram-se algumas anaacutelises de casos relativos agrave temaacutetica
do projeto como eacute o caso de Evelyn Glennie uma percussionista escocesa que tem uma
deficiecircncia auditiva severa desde os doze anos de idade e ainda assim eacute uma
instrumentista virtuosa e mundialmente reconhecida Tambeacutem numa outra dinacircmica temos
o caso de Liron Gino uma designer que desenvolveu uma peccedila que funciona como
auscultadores para pessoas surdas ou seja eacute uma peccedila que eacute colocada ao peito ou no
39 Ruth Montegomery flautista profissional britacircnica com surdez profunda desde nascenccedila
40 Traduccedilatildeo da Autora (TA) ldquoMy music education began at home()We all received piano lessons (hellip) My parents found out I was profoundly deaf at the age of
three(hellip) The hospital gave me hearing aids to amplify sounds I was a good girl and wore them all the time(hellip) Music taught me a lot about hearing and listeningrdquo
37
pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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pulso do indiviacuteduo e transforma o som em vibraccedilotildees para que o corpo da pessoa surda
possa percecionar a muacutesica Frequelise tambeacutem foi um caso de estudo analisado Trata-
se de um projeto inovador desenhado para jovens e crianccedilas com deficiecircncia auditiva
explorando os meios tecnoloacutegicos para a criaccedilatildeo partilha e performance de muacutesica Este
projeto foi criado em Halifax no Reino Unido pela Associaccedilatildeo Music and the Deaf e
liderada por Danny Lane (muacutesico surdo e professor na Music and the Deaf)
Posteriormente conseguimos entrevistar pessoalmente Danny Lane e foi-nos possiacutevel
obter mais informaccedilotildees sobre a forma de funcionamento do Frequelise e quais os
resultados que tecircm sido obtidos com a sua utilizaccedilatildeo (Deaf 2016a)
34 Questionaacuterios
No fim de cada sessatildeo na ASASM foram elaborados questionaacuterios orais aos participantes
sobre as atividades que se realizaram ao longo daquela sessatildeo para conseguir perceber
os pontos positivos e negativos Assim sendo foi possiacutevel ir fazendo correccedilotildees no
protoacutetipo para que se este se pudesse tornar mais funcional e adaptado aos seus
utilizadores Estes momentos eram feitos na parte final da sessatildeo sempre acompanhados
pela inteacuterprete de liacutengua gestual e eram momentos sempre registados em viacutedeo Optou-se
por elaborar os questionaacuterios de forma oral pois muitos dos participantes tecircm algumas
dificuldades na expressatildeo escrita e era-lhes mais faacutecil responder atraveacutes da liacutengua gestual
Em suma este projeto comeccedilou pela procura e anaacutelise de casos de estudo relativos ao
tema Desta forma conseguimos perceber o que jaacute tinha sido feito em que pontos essas
investigaccedilotildees incidiram e que conclusotildees foram tiradas dessas mesmas investigaccedilotildees para
que pudessem ser aplicadas na nossa Apesar do tema ser algo ainda muito pouco
explorado no campo da investigaccedilatildeo conseguimos reunir alguns casos interessantes que
instigaram a nossa proacutepria investigaccedilatildeo
Com estas anaacutelises foi possiacutevel identificar pessoas que poderiam ser relevantes e que
fossem uacuteteis agrave realizaccedilatildeo de uma entrevista Iniciaacutemos entatildeo o processo de angariaccedilatildeo de
contactos para preparar as entrevistas Dessas mesmas entrevistas conseguimos reunir
informaccedilatildeo que foi bastante uacutetil na etapa seguinte que foi a investigaccedilatildeo-accedilatildeo participativa
Aqui trabalhamos com um grupo de deficientes auditivos fixo conseguida atraveacutes da
ASASM o que permitiu avanccedilar com a investigaccedilatildeo
38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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38
4 Relatoacuterio das Sessotildees na ASASM
Esta fase do projeto teve iniacutecio com a escolha do grupo de trabalho Para isso foram feitas
dez entrevistas a pessoas da aacuterea da muacutesica que jaacute tinham trabalhado com esta
comunidade e que nos puderam fornecer informaccedilotildees importantes Nestes dez
entrevistados estavam incluiacutedos muacutesicos surdos professores de muacutesica com experiecircncia
com alunos surdos entidades responsaacuteveis por projetos musicais com pessoas surdas e
pessoas surdas com gosto pela muacutesica Todos os entrevistados foram contactados numa
fase inicial via email Posteriormente foram analisados caso a caso para perceber a
possibilidade de realizar a entrevista pessoalmente Infelizmente natildeo conseguimos
entrevistar pessoalmente alguns dos visados pois viviam fora do paiacutes tendo optado por
uma entrevista via email Ainda assim todos se demonstraram interessados no projeto e
dispostos a ajudar no que pudessem Apoacutes as entrevistas realizadas achamos que a
ASASM era o grupo indicado para servir de grupo-alvo no projeto Chegamos ateacute eles com
a indicaccedilatildeo do responsaacutevel pelo serviccedilo educativo da Casa da Muacutesica com quem jaacute tinham
trabalhado juntos apoacutes o contacto da proacutepria Associaccedilatildeo com a Casa da Muacutesica
Interessava que o grupo fosse interessado e regular na participaccedilatildeo mas que tivesse
preferencialmente algum interesse pelo tema
41 1ordf Sessatildeo - 25 de novembro 2016 - 18h00 ndash 2h duraccedilatildeo
A primeira sessatildeo realizada na ASASM teve como principal objetivo conhecer o grupo de
participantes e dar-lhes a conhecer o projeto Nesta primeira abordagem tentamos
perceber atraveacutes de uma conversa informal entre todos os participantes os niacuteveis de
surdez de cada um e se tinham algum implante ou aparelho auditivo Abordamos ainda o
tema da muacutesica e questionamos os participantes sobre as suas experiecircncias musicais ou
seja se tinham o haacutebito de escutar muacutesica ou se jaacute alguma vez tinham experimentado
tocar algum instrumento Destas abordagens percebemos que tiacutenhamos uma amostra
diversa de casos que apresentamos na tabela seguinte
39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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39
Tabela 1 Resultados da Sessatildeo 1
GRAU DE
SURDEZ
IMPLANTADO
S APARELHO
HAacuteBITO
DE OUVIR
MUacuteSICA
INSTRUMENT
OS QUE
TOCOU
Participante 1 Profunda Implantado Sim Nenhum
Participante 2 Severa Aparelho Sim Violaharmoacutenica
Participante 3 Severa Natildeo Sim Guitarra
Participante 4 Profunda Natildeo Natildeo FlautaPiano
Participante 5 Profunda Natildeo Natildeo Nenhum
Participante 6 Profunda Implantado Sim Bateria
Participante 7 Severa Natildeo Sim Meloacutedica
Participante 8 Profunda Natildeo Sim Nenhum
Participante 9 Profunda Aparelho Sim Nenhum
Participante 10 Moderadamente
Severa
Aparelho Sim Folclore
(percussatildeo)
A partir dos resultados apresentados podemos perceber que praticamente todos os
participantes jaacute tinham tido algum tipo de contacto com muacutesica e que o faziam
regularmente Na sua maioria o contacto tinha sido a niacutevel escolar no entanto havia alguns
participantes que demonstravam interesse em experimentar outro tipo de instrumentos
musicais mesmo aqueles que nunca tinham tocado nenhum
Posto isto fizemos um pequeno exerciacutecio para tentar perceber ateacute que ponto conseguiriam
identificar o ritmo em diversos estilos musicais Foi entatildeo ligado um leitor de MP3 agraves
colunas da sala e foi reproduzida uma seacuterie de cinco muacutesicas para que identificassem e
marcassem o ritmo Estas cinco muacutesicas variavam no estilo e na dinacircmica para que
pudeacutessemos perceber se havia alguma diferenccedila na facilidade de perceccedilatildeo por parte do
grupo Os estilos escolhidos foram rock metal jazz pop e eletroacutenica Percebemos que os
participantes que natildeo possuiacuteam qualquer aparelho ou implante auditivo coclear
identificavam o ritmo mais facilmente e assertivamente do que os que tinham auxiliares
auditivos Tanto os aparelhos auditivos como os implantes cocleares satildeo ampliadores de
sinal sonoro e foram otimizados para a comunicaccedilatildeo verbal Disto resulta uma distorccedilatildeo
da muacutesica fazendo com que haja uma maior quantidade de ruiacutedo no sinal que torna todo
40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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40
o som mais confuso Isto era percecionado pelos participantes com aparelho auditivo e
implante coclear na medida em que descreviam o som como ruidoso confuso e
impercetiacutevel
42 2ordf Sessatildeo - 20 de janeiro 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na segunda sessatildeo tiacutenhamos como objetivo perceber se os participantes eram capazes
de entender o ritmo e se conseguiam reproduzir padrotildees riacutetmicos com e sem ajuda Para
esta atividade dispusemos os participantes em semiciacuterculo e entregamos a cada um deles
um instrumento musical Individualmente foi-lhes demonstrado um padratildeo riacutetmico
marcado com as matildeos nas suas costas e foi-lhes pedido para o reproduzir no instrumento
fornecido que podia ser as claves os shakers a pandeireta ou ateacute mesmo o xilofone
mantendo-o ateacute ao fim do exerciacutecio De uma forma geral os participantes cumpriram os
objetivos do exerciacutecio mantendo o ritmo pedido muito embora alguns tivessem alguma
dificuldade em manter o tempo inicialmente marcado Como natildeo recorremos ao metroacutenomo
este aspeto natildeo era grave ficando cada participante responsaacutevel pela gestatildeo desse
mesmo tempo dos padrotildees riacutetmicos Conseguimos assim promover a interaccedilatildeo musical
entre os participantes pois tinham de estar atentos natildeo soacute aos seus padrotildees mas tambeacutem
aos dos outros para natildeo interromperem a reproduccedilatildeo desses mesmos ritmos
De seguida foi feito outro exerciacutecio para tentar perceber se a utilizaccedilatildeo de superfiacutecies de
contacto ajudava na perceccedilatildeo do ritmo dos participantes que utilizavam aparelho auditivo
ou implante Aqui foram colocados novamente trecircs excertos de muacutesicas num leitor de MP3
ligado agraves colunas da sala de trabalho e foi pedido a cada um dos participantes para tentar
percecionar o ritmo colocando as matildeos em superfiacutecies como por exemplo no chatildeo de
madeira numa palete e numa caixa oca de madeira Os excertos apresentados eram de
uma muacutesica pop outra de rock e uma de drum amp bass Concluiacutemos que recorrendo ao tato
os participantes com aparelhos auditivos e coacuteclea conseguiam percecionar melhor os
ritmos das muacutesicas natildeo ficando tatildeo confusos Concluiacutemos ainda que as superfiacutecies de
madeira ocas eram as que melhor transmitiam as vibraccedilotildees produzidas pelas muacutesicas
41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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41
43 3ordf Sessatildeo - 01 de abril 2017 ndash 18h00 ndash de 2 horas duraccedilatildeo
Com o avanccedilar das sessotildees os objetivos foram ficando mais concretos por isso nesta
terceira sessatildeo pretendiacuteamos transmitir uma noccedilatildeo de conceitos baacutesicos de teoria
musical Apesar de na sua maioria os participantes jaacute terem antes experienciado muacutesica
muito poucos estavam familiarizados com aspetos teoacutericos da muacutesica tais como figuras
riacutetmicas (semibreve miacutenima semiacutenima colcheia semicolcheia etc) dinacircmicas
(pianiacutessimo piano meacutedio piano meacutedio forte forte e fortiacutessimo) e pulsaccedilatildeo Para isso
foram apresentados os conceitos devidamente explicados e como forma de validaccedilatildeo de
conhecimento foram feitos alguns exerciacutecios riacutetmicos utilizando a notaccedilatildeo musical
demonstrada anteriormente
Apesar de a princiacutepio ningueacutem demonstrar grandes duacutevidas nos conceitos apresentados
na parte praacutetica denotou-se que havia algumas lacunas Foi entatildeo que percebemos que
havia uma falha de entendimento nas diferenccedilas entre ritmo e pulsaccedilatildeo Para que isto se
tornasse mais claro para todos os participantes foram utilizando exemplos do quotidiano
sendo modelo disso o batimento cardiacuteaco Pedimos a cada um dos participantes que
fizesse uma demonstraccedilatildeo de ritmo e de pulsaccedilatildeo para validar o conhecimento e assim
perceber que todos tinham entendido os seus significados
Apesar de ter sido uma sessatildeo com pouca afluecircncia apenas seis participantes os
presentes demonstraram bastante interesse nas atividades realizadas sendo notoacuteria a
satisfaccedilatildeo relativamente ao facto de estarem a aprender conceitos novos que nunca antes
ningueacutem lhes havia explicado Percebemos entatildeo que alguns conceitos podiam ser
demasiado abstratos para quem tem deficiecircncia auditiva pois natildeo haacute qualquer exemplo de
referecircncia que possamos usar como fazemos com algueacutem que ouve Isto torna o processo
de ensino e aprendizagem muito mais desafiante para ambas as partes Todos os
participantes conseguiram entender com sucesso os conceitos de ritmos e pulsaccedilatildeo
assim como as suas diferenccedilas o que permite avanccedilar na investigaccedilatildeo pois desta forma
estamos a conseguir fazer novas experiecircncias com o grupo no campo riacutetmico
42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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42
44 4ordf Sessatildeo - 22 de abril 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Construiu-se um primeiro protoacutetipo do sistema audiovisual de composiccedilatildeo Como a muacutesica
eacute um tema muito vasto decidimo-nos focar na questatildeo riacutetmica Elaborou-se um quadro em
formato fiacutesico (papel A3) para proceder agraves primeiras experimentaccedilotildees com o grupo
Comeccedilamos por fazer uma breve apresentaccedilatildeo do sistema explicando a sua
funcionalidade e o que era pretendido O sistema apresentado na secccedilatildeo era constituiacutedo
por uma folha A3 que se encontrava dividida em dezasseis colunas e cinco linhas As
colunas funcionavam como uma linha temporal de dezasseis tempos em que um dos
participantes utilizando o dedo indicador eacute que marcava a passagem desses tempos
Estas colunas estavam coloridas de maneira a ser mais faacutecil a visualizaccedilatildeo e distinccedilatildeo As
colunas horizontais representavam a composiccedilatildeo que cada participante teria de interpretar
Utilizamos tambeacutem post-its com trecircs cores diferentes para marcar as dinacircmicas
pretendidas Posto isto definimos que verde correspondia a piano amarelo a meacutedio e o
laranja a forte Os participantes puderam manipular o protoacutetipo agrave vontade antes de iniciar
o primeiro exerciacutecio para que se pudessem familiarizar com ele
Com o intuito de tornar o exerciacutecio mais simples natildeo recorremos agrave utilizaccedilatildeo de figuras
riacutetmicas Deste modo os participantes conseguiam estar unicamente focados na criaccedilatildeo
de padrotildees riacutetmicos ao inveacutes da identificaccedilatildeo de figuras para poderem criar esses mesmos
padrotildees
Fig 10 Protoacutetipo Inicial
43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
7 Bibliografia
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43
Primeiramente apresentamos padrotildees riacutetmicos jaacute definidos para que os participantes
compreendessem a dinacircmica da atividade Foram distribuiacutedos instrumentos pelos
participantes como pandeiretas claves shakers e xilofones para que estes
reproduzissem o ritmo presente no protoacutetipo Foram escolhidos estes instrumentos pois
eram de faacutecil utilizaccedilatildeo para os participantes e eram instrumentos de percussatildeo o que
permitia que o trabalho riacutetmico fosse mais percetiacutevel O tempo era marcado numa fase
inicial por noacutes com o recurso ao dedo indicador ao longo da tabela que ia percorrendo os
dezasseis tempos de forma sequencial Seguidamente deixamos que os participantes
fizessem o exerciacutecio quatro vezes sem a nossa ajuda
Fig 11 Exerciacutecio realizado com marcaccedilatildeo de tempo feita pela investigadora
Nomearam entatildeo um liacuteder de grupo que tinha a funccedilatildeo de escrever a composiccedilatildeo que
pretendia que os restantes participantes tocassem sendo tambeacutem o responsaacutevel por
indicar o tempo no protoacutetipo Numa fase inicial pedimos que fizessem composiccedilotildees
simples para que todos os participantes entendessem o sistema e o conseguissem
executar ateacute porque havia vaacuterias dinacircmicas piano meacutedio e forte o que poderia gerar
alguma confusatildeo desnecessaacuteria numa fase inicial A notaccedilatildeo das dinacircmicas era feita com
recurso a post-its coloridos sendo o verde correspondente ao piano o amarelo ao meacutedio
e o laranja ao forte Nas primeiras tentativas foi usada apenas um tipo de dinacircmica mas
depois ao longo da atividade iam-se acrescentando dinacircmicas e tornando o exerciacutecio mais
complexo
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
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frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
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Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do
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8
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1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville
56
Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology
compendium401-13
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Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras
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relaccedilotildees de sentido 32
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Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive
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Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music
Journal
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entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-
Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo
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Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar
Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage
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Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
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UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
44
Fig 12 Exerciacutecio feito com marcaccedilatildeo de tempo por um dos elementos do grupo
Nesta sessatildeo foram cumpridos os objetivos a que nos tiacutenhamos proposto na medida em
que apresentaacutemos e explicaacutemos o protoacutetipo aos participantes conseguindo desta forma
que os intervenientes fizessem alguns exerciacutecios Relativamente ao exerciacutecio em si todos
conseguiram manipular o protoacutetipo com facilidade poreacutem concluiacuteram que havia alguma
dificuldade na perceccedilatildeo da marcaccedilatildeo do tempo Como este era marcado com o dedo
indicador do liacuteder a atenccedilatildeo dos executantes tinha que se dividir entre a partitura e o
tempo o que dificultava a tarefa O facto de o protoacutetipo ser em papel e haver vaacuterios post-
it de vaacuterias cores tornou-se um pouco confuso para os participantes pois baralhavam a
linha que tinham de seguir o ritmo e natildeo prestavam atenccedilatildeo agraves dinacircmicas de cada tempo
marcado No que diz respeito ao papel de cada participante havia alguns que
demonstravam mais agrave vontade no papel de liacuteder do que executantes Posto isto foram
analisados estes resultados no sentido de melhorar o protoacutetipo para a sessatildeo seguinte
45 5ordf Sessatildeo - 25 de marccedilo 2017 ndash 18h00 ndash 2 horas duraccedilatildeo
Na sessatildeo 5 apresentamos uma versatildeo revista do protoacutetipo Este passou a ser digital para
facilitar a sua utilizaccedilatildeo Apresentamos o protoacutetipo aos participantes mostrando todas as
alteraccedilotildees feitas no sistema Deixamos que eles colocassem questotildees e que
manipulassem um pouco o sistema para perceberem bem as alteraccedilotildees realizadas Nestas
alteraccedilotildees estava incluiacuteda a marcaccedilatildeo de pulsaccedilatildeo da muacutesica que ao contraacuterio de ser feita
com o dedo indicador do liacuteder era feita atraveacutes de uma barra branca que percorria os
tempos um a um diretamente na partitura Estas alteraccedilotildees permitiam assim que os
45
participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
7 Bibliografia
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Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto
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Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo
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Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
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Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
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participantes natildeo tivessem de olhar para dois siacutetios distintos enquanto executavam os
ritmos
Fig 13 Protoacutetipo Digital com barra de marcaccedilatildeo de tempo
Apesar disto continuamos a recorrer aos post-it que eram colados no ecratilde Desta vez
utilizamos apenas a cor verde dispensando assim as restantes amarela e laranja que
correspondiam agraves dinacircmicas meacutedio e forte para que os participantes se focassem somente
no ritmo sem se preocupar com mais nenhum elemento
Comeccedilamos por realizar exerciacutecios riacutetmicos simples com instrumentos musicais que
foram fornecidos aos participantes
Tabela 2 Padratildeo Riacutetmico 1
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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46
Tabela 3 Padratildeo Riacutetmico 2
Estes primeiros exerciacutecios correspondiam a padrotildees riacutetmicos de bateria Nas tabelas acima
podemos ver dois exemplos de exerciacutecios de ritmo feitos na sessatildeo As colunas com os
nuacutemeros representavam a pulsaccedilatildeo enquanto que as linhas descrevem quais os
instrumentos que iriam ser tocados e em que pulsaccedilatildeo ou seja cada ciacuterculo representa
uma batida de um determinado instrumentos num tempo da muacutesica A ideia neste exerciacutecio
era que cada participante assumisse o papel de um elemento distinto da bateria por
exemplo timbalatildeo bombo prato de choque etc e executasse o ritmo escrito Os
participantes mostraram-se bastante entusiasmados ao realizar esta atividade na medida
em que os ritmos jaacute natildeo eram tatildeo aleatoacuterios e jaacute formavam padrotildees mais consistentes
Relativamente ao protoacutetipo jaacute mostraram mais facilidade na leitura dos padrotildees riacutetmicos a
executar para aleacutem de todos concordarem que a marcaccedilatildeo de tempo era para eles
bastante mais faacutecil de entender pois para aleacutem de natildeo desviarem a atenccedilatildeo tambeacutem
conseguiam ser mais assertivos na batida Curiosamente os participantes que
demonstravam mais dificuldade em acertar no tempo faziam-no sempre por defeito e natildeo
por excesso isto eacute enquanto no protoacutetipo anterior havia a tendecircncia desses mesmos
participantes se atrasarem na batida que estava a ser marcada com o indicador no
protoacutetipo digital havia uma antecipaccedilatildeo da batida
BatidasInstrumento 1 2 3 4 5 6 7 8
Instrumento 1
Instrumento 2
Instrumento 3
Instrumento 4
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46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
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5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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47
46 Consideraccedilotildees finais
Para que as pessoas surdas experienciem a muacutesica a prototipagem deste mecanismo leva
tambeacutem a um melhoramento dessa mesma experiecircncia no sentido em que foca
caracteriacutesticas musicais que podiam antes estar nubladas pelo ruiacutedo ou pela falta de
conhecimento como era o caso da pulsaccedilatildeo Assim os participantes poderatildeo comeccedilar por
descodificar alguns dos elementos sonoros que vatildeo sentindo principalmente nas questotildees
riacutetmicas em que nos focamos durante esta investigaccedilatildeo Seria interessante pensar num
mecanismo com mais algumas funcionalidades e caracteriacutesticas pensadas para esse
mesmo melhoramento de experiecircncia A colocaccedilatildeo de um interface poderia ser uma boa
opccedilatildeo na medida em que poderia permitir ao utilizador gravar ouvir novamente a gravaccedilatildeo
e salvar posteriormente para o computador Tambeacutem seria interessante que o software
desse a opccedilatildeo de compor por faixas Assim com o recurso a uma listagem de instrumentos
de percussatildeo o utilizador podia escolher qual o instrumento a gravar em vaacuterias faixas que
poderiam posteriormente tocar em simultacircneo A colocaccedilatildeo de cores em cada uma das
faixas seria uma situaccedilatildeo a ser estudada pois natildeo eacute certo que natildeo se tornaria algo confuso
aquando da performance No entanto seria uma boa opccedilatildeo para distinguir mais
facilmente os vaacuterios tipos de instrumentos presentes da composiccedilatildeo
A este software seria interessante anexar um Trigger Pad41 onde os utilizadores pudessem
fazer os seus proacuteprios ritmos usando as matildeos ou mesmo baquetas conforme a
preferecircncia de cada um Esse mesmo Pad podia ter uma aacuterea central de maiores
dimensotildees e outras pequenas para permitir que vaacuterios sons estejam disponiacuteveis ao mesmo
tempo ou seja se o utilizador pretender obter o som da bateria pode distribuir pelo PAD
os sons dos diferentes segmentos da mesma Desta forma o utilizador teria mais variedade
de instrumentos sem necessitar de estar a trocar no painel sempre que necessaacuterio
41 Trigger Pad - um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os
bateristas toquem numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
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professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
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As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
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Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
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Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
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Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
48
Fig14 Diagrama de melhoramento do protoacutetipo
Falando num campo mais abrangente isto eacute que natildeo se limite apenas ao campo riacutetmico
musical tambeacutem seria interessante adaptar um dispositivo que pudesse entrar em contacto
com a superfiacutecie corporal do indiviacuteduo conseguindo assim precisar a sua afinaccedilatildeo Deste
modo seria possiacutevel um surdo estudar canto mais produtivamente pois teria um feedback
da afinaccedilatildeo necessaacuteria para muacutesica
49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
7 Bibliografia
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49
5 Conclusotildees
Este projeto de investigaccedilatildeo teve iniacutecio na ambiccedilatildeo de poder contribuir para que a
comunidade surda pudesse de alguma forma melhorar a sua experiecircncia cultural
nomeadamente o contacto com o meio musical A questatildeo da investigaccedilatildeo a que nos
propusemos responder consistiu em perceber de que forma um sistema digital poderia
ajudar a comunidade surda sem formaccedilatildeo musical a compor muacutesica riacutetmica Para isto
traccedilaacutemos trecircs objetivos para nos guiar no processo de investigaccedilatildeo Objetivos estes que
satildeo o desenvolvimento de competecircncias e confianccedila dos participantes na composiccedilatildeo
musical utilizando tecnologia digital o desenvolvimento de competecircncias de performance
e proporcionar experiecircncia a muacutesicos profissionais e treinados no contacto com indiviacuteduos
surdos
Para atingir estes objetivos foi necessaacuterio clarificar de que forma as pessoas surdas
experienciam a muacutesica Com este intuito trabalhamos junto desse grupo da Associaccedilatildeo
do Surdo de Apoio ao Surdo de Matosinhos conseguimos explorar esta questatildeo e
percebemos que haacute vaacuterios paracircmetros que fazem variar a experiecircncia dos surdos com a
muacutesica Um dos paracircmetros eacute o grau de surdez que cada um possui Os surdos profundos
tecircm uma experiecircncia baseada no tato e no auxiacutelio das vibraccedilotildees produzidas pelos sons
Neste caso a superfiacutecie na qual eles colocam a matildeo ou os peacutes eacute importante Chegamos agrave
conclusatildeo atraveacutes da experimentaccedilatildeo que superfiacutecies de madeira oca conduzem melhor
o som para estes indiviacuteduos No entanto indiviacuteduos que ainda possuem audiccedilatildeo residual
tecircm outro tipo de experiecircncia quando expostos agrave muacutesica Primeiro eacute importante perceber
se eles recorrem ao uso de aparelhos auditivos ou natildeo Os que natildeo recorrem ao uso de
aparelhos auditivos tambeacutem se apoiam bastante nas vibraccedilotildees que sentem atraveacutes do tato
muito embora consigam na maioria dos casos percecionar as frequecircncias mais baixas
Percebemos entatildeo que sem aparelho os surdos com audiccedilatildeo residual conseguem ter uma
melhor experiecircncia musical do que com recurso a este Ainda assim ressalvamos que a
exposiccedilatildeo agrave muacutesica eacute fundamental e vai diferenciar a experiecircncia de cada um
independentemente do seu grau de surdez Estiacutemulos contiacutenuos permitem que eles
consigam ter uma melhor perceccedilatildeo de aspetos musicais como ritmo e pulsaccedilatildeo da muacutesica
apesar desses conceitos muitas vezes serem bastante abstratos para alguns Seria
interessante pensar numa superfiacutecie que pudesse ser anexada a um dispositivo
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
7 Bibliografia
Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29
Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press
Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York
Columbia University Press
Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music
Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016
Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29
Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade
Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do
Porto
Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo
pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2
Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking
Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception
Media Art Net Overview of Media Art
Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the
visual arts
Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired
master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina
Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son
Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science
in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute
of Technology
Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons
et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76
McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-
8
Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016
Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting
1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville
56
Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology
compendium401-13
Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve
Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras
Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo
relaccedilotildees de sentido 32
NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people
Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music
Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto
httpwwwasurdosportoorgpt
Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive
Systems Doutoramento FBAUP
Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music
Journal
Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo
Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades
entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-
Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo
Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave
educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42
Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar
Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage
Yale University Press
Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de
Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica
UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
50
(computador tablet ou telemoacutevel) que potenciasse a transmissatildeo das vibraccedilotildees para a
palma da matildeo do utilizador de forma precisa e assim melhorar a perceccedilatildeo riacutetmica das
muacutesicas sem que estes tivessem dependentes de outros fatores como por exemplo
volume do som superfiacutecies onde possam tocar para sentir entre outras
A clarificaccedilatildeo das necessidades deste grupo na experimentaccedilatildeo musical tambeacutem foi fulcral
para atingir o objetivo principal Para aleacutem de dispositivos que possam ser construiacutedos
com o intuito de auxiliar o surdo a sentir melhor e mais fidedignamente as vibraccedilotildees
proporcionadas pelo som eacute na educaccedilatildeo que se deve investir primeiro Ao longo das
sessotildees que fomos fazendo com o grupo de surdos fomos percebendo que havia uma
grande falha no que diz respeito agrave educaccedilatildeo musical durante o periacuteodo escolar Muitos
deles apesar de terem tido educaccedilatildeo musical na escola natildeo conseguiram tirar muito
partido disso pois as aulas natildeo eram adaptadas agraves suas necessidades sendo lecionadas
como se todos os alunos fossem ouvintes Ora para haver inclusatildeo ou aprendizagem
musical destes indiviacuteduos de forma significativa eacute necessaacuterio que o professor possua
instrumentos pedagoacutegicos que permitam que a sua aula possa ser lecionada para ouvintes
e natildeo ouvintes sem prejuiacutezo de nenhuma das partes
ldquo(hellip) o professor deveraacute ministrar a sua aula da mesma forma para
alunos surdos e ouvintes com ecircnfase nos mesmos conteuacutedos mas
fundamentalmente deveraacute preparar esta aula com a devida adaptaccedilatildeo dos
materiais didaacuteticos e das estrateacutegias de ensino prevendo situaccedilotildees formais
de aprendizagem que auxiliem a crianccedila surda a assimilar alguns destes
conceitosrdquo (Finck 2009)
Eacute por isso urgente que se adote um plano curricular para os professores de Educaccedilatildeo
Musical que lhes permita ter ferramentas para fazer face a este tipo de situaccedilotildees de modo
a incluir os alunos surdos nas atividades musicais estimulando-os
Confirmada a possibilidade de criaccedilatildeo de novos meacutetodos atraveacutes de praacuteticas musicais
destinadas a pessoas surdas podia ser trabalhado a musicalidade somente com surdos
mas tambeacutem em unidade com ouvintes Foi tudo sempre baseado na busca em entender
a muacutesica atraveacutes do sentir pois conhecer a muacutesica eacute um direito dos surdos e cabe aos
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
7 Bibliografia
Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29
Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press
Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York
Columbia University Press
Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music
Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016
Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29
Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade
Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do
Porto
Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo
pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2
Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking
Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception
Media Art Net Overview of Media Art
Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the
visual arts
Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired
master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina
Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son
Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science
in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute
of Technology
Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons
et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76
McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-
8
Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016
Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting
1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville
56
Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology
compendium401-13
Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve
Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras
Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo
relaccedilotildees de sentido 32
NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people
Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music
Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto
httpwwwasurdosportoorgpt
Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive
Systems Doutoramento FBAUP
Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music
Journal
Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo
Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades
entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-
Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo
Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave
educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42
Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar
Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage
Yale University Press
Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de
Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica
UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
51
professores e inteacuterpretes convencecirc-los da importacircncia desta cultura nas suas vidas
(Trigueiro et al)
Nas sessotildees realizadas com o grupo de trabalho achaacutemos pertinente abordar alguns
conceitos baacutesicos de formaccedilatildeo musical para primeiro perceber qual o niacutevel do grupo e
depois conseguir colmatar as falhas que existiam Concluiacutemos entatildeo que havia muito
poucas noccedilotildees de formaccedilatildeo musical mesmo em questotildees baacutesicas como no
reconhecimento de figuras riacutetmicas Juntamente com a inteacuterprete explicaacutemos o que era
pretendido e conseguimos que a informaccedilatildeo fosse transmitida de forma clara para que
todo o grupo entendesse os conceitos apresentados
Nos exerciacutecios realizados o grupo foi conseguindo fazer os padrotildees riacutetmicos observando
as figuras riacutetmicas que eram expostas embora com alguma dificuldade inicial Natildeo
obstante percebemos que a imagem era um veiacuteculo importante para que o grupo ligasse
mais facilmente a figura ao nuacutemero de vezes que tinham de tocar os respetivos
instrumentos no entanto natildeo era essencial Na elaboraccedilatildeo do protoacutetipo tentaacutemos ainda
assim simplificar o aspeto visual pois como o grupo natildeo tinha praacutetica este podia ser
bastante confuso e diminuir a qualidade da performance Apesar de ainda ter sofrido
algumas alteraccedilotildees o protoacutetipo final ficou visualmente bastante simples sem perder
funcionalidade podendo ser utilizado tanto individualmente como em grupo Achaacutemos
pertinente reduzir a informaccedilatildeo visual ao miacutenimo pois como os elementos do grupo tinham
apenas o seu conhecimento empiacuterico musical quanto mais informaccedilatildeo visual aparecesse
no protoacutetipo mais confuso seria analisar a composiccedilatildeo em tempo real durante a
performance No que diz respeito ao protoacutetipo seria de pensar em alguma funcionalidade
haacuteptica como complemento principalmente quando a performance eacute feita em simultacircneo
com outros indiviacuteduos Assim poderaacute permitir uma melhor perceccedilatildeo do que estaacute a
acontecer ao redor do muacutesico isto eacute qualquer estiacutemulo dado ao utilizadormuacutesico como
por exemplo a representaccedilatildeo do que estaacute a ser tocado por ele eou por outros elementos
ou entatildeo que esse mesmo elemento vibratoacuterio funcionasse como complemento agrave
informaccedilatildeo visual ou seja haacute um estiacutemulo vibratoacuterio que eacute dado ao muacutesico para que este
toque quando eacute suposto cada vez que aparecia a barra branca visual a marcar a batida
tambeacutem era sentida a vibraccedilatildeo pelo muacutesico
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
7 Bibliografia
Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29
Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press
Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York
Columbia University Press
Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music
Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016
Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29
Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade
Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do
Porto
Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo
pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2
Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking
Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception
Media Art Net Overview of Media Art
Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the
visual arts
Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired
master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina
Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son
Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science
in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute
of Technology
Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons
et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76
McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-
8
Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016
Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting
1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville
56
Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology
compendium401-13
Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve
Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras
Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo
relaccedilotildees de sentido 32
NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people
Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music
Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto
httpwwwasurdosportoorgpt
Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive
Systems Doutoramento FBAUP
Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music
Journal
Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo
Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades
entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-
Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo
Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave
educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42
Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar
Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage
Yale University Press
Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de
Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica
UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
52
As lutas pela diferenccedila satildeo como um esforccedilo coletivo atual que urgem ultrapassar os
grupos minoritaacuterios para conseguirem integrar o dia-a-dia de todos os cidadatildeos Os surdos
assim como a restante populaccedilatildeo tecircm o direito a se afirmar nas suas diferentes formas de
ser conviver experienciar a vida e a surdez mas sobretudo de se expressar seja de que
forma for Reconhecer e promover a cultura surda eacute tambeacutem promover escolas mais
inclusivas pela preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas desta comunidade A possibilidade
musical para a comunidade surda tem de ser aceite por todos Como vimos ao longo deste
projeto haacute indiscutivelmente a possibilidade de integrar esta comunidade no meio musical
e de promover a sua expressatildeo artiacutestica com recurso agrave imagem Eacute por isso necessaacuterio
que haja uma maior abertura de mentalidades para permitir que mais recursos possam ser
usados juntos das camadas mais jovens promovendo assim desde cedo o contacto com
a muacutesica combatendo esse estigma
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
7 Bibliografia
Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29
Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press
Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York
Columbia University Press
Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music
Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016
Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29
Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade
Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do
Porto
Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo
pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2
Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking
Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception
Media Art Net Overview of Media Art
Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the
visual arts
Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired
master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina
Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son
Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science
in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute
of Technology
Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons
et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76
McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-
8
Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016
Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting
1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville
56
Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology
compendium401-13
Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve
Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras
Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo
relaccedilotildees de sentido 32
NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people
Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music
Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto
httpwwwasurdosportoorgpt
Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive
Systems Doutoramento FBAUP
Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music
Journal
Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo
Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades
entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-
Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo
Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave
educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42
Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar
Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage
Yale University Press
Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de
Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica
UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
53
6 Glossaacuterio
Blip Synthetiser ndash eacute uma aplicaccedilatildeo para Android em que cada fila de bototildees
corresponde a uma nota de uma oitava e cada coluna eacute de oito tons polifoacutenicos
Breve ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 8 tempos
Cimaacutetica ndash eacute o estudo das ondas Estaacute associado aos padrotildees fiacutesicos produzidos pela
interaccedilatildeo de ondas sonoras num meio
Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de metade de 1 tempo
Color-Organ ndash O termo color-organ ou oacutergatildeo de cores refere-se a uma tradiccedilatildeo de
dispositivos mecacircnicos (seacuteculo XVIII) e depois eletromecacircnicos construiacutedos para
representar sons ou acompanhar a muacutesica em meios visuais
Dinacircmica ndash refere-se agrave indicaccedilatildeo que um compositor faz na partitura da intensidade
sonora com que ele quer que uma nota ou um trecho musical inteiro sejam executados
Escala Diatoacutenica ndash eacute uma escala de sete notas (heptatoacutenica) com cinco intervalos
de tons e dois intervalos de meios tons entre as notas
Ether Pad ndash ou EtherSurface eacute uma aplicaccedilatildeo para Android que consiste num
sintetizador com uma superfiacutecie multi toque
Frequelise ndash conjunto de atividades que combina vaacuterias aplicaccedilotildees que visam estimular a
produccedilatildeo musical de pessoas surdas elaboradas por Danny Lane
Harmonia ndash eacute o campo que estuda as relaccedilotildees de encadeamento dos sons simultacircneos
(acordes)
Linhas nodais- Diz-se da linha divisoacuteria de uma superfiacutecie quando as duas partes em que
fica repartida vibram em sentido oposto
Low-pass ndash eacute o nome dado a um circuito eletroacutenico que permite a passagem de baixas
frequecircncias atenuando a amplitude das frequecircncias maiores que a frequecircncia de corte
Melodia ndash eacute uma sucessatildeo coerente de sons e silecircncios que se desenvolvem numa
sequecircncia linear com identidade proacutepria
Metroacutenomo ndash eacute um reloacutegio que mede o tempo de andamento musical
MIDI - Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais) eacute
uma interface digital criada em 1982 que facilita a comunicaccedilatildeo em tempo real entre
instrumentos musicais eletroacutenicos computadores e dispositivos relacionados
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
7 Bibliografia
Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29
Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press
Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York
Columbia University Press
Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music
Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016
Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29
Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade
Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do
Porto
Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo
pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2
Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking
Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception
Media Art Net Overview of Media Art
Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the
visual arts
Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired
master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina
Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son
Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science
in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute
of Technology
Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons
et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76
McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-
8
Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016
Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting
1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville
56
Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology
compendium401-13
Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve
Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras
Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo
relaccedilotildees de sentido 32
NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people
Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music
Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto
httpwwwasurdosportoorgpt
Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive
Systems Doutoramento FBAUP
Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music
Journal
Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo
Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades
entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-
Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo
Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave
educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42
Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar
Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage
Yale University Press
Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de
Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica
UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
54
Miacutenima ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 2 tempos
MP3 ndash foi um dos primeiros tipos de compressatildeo de aacuteudio com perdas quase impercetiacuteveis
ao ouvido humano
Oscilador ndash eacute um circuito eletroacutenico que produz um sinal eletroacutenico repetitivo
frequentemente uma onda senoidal ou uma onda quadrada sem a necessidade de
aplicaccedilatildeo de um sinal externo
Pitch ndash eacute a caracteriacutestica que permite relacionar sons graves e agudos com a melodia
Pulsaccedilatildeo ndash eacute o nome dado ao tempo baacutesico subjacente de uma composiccedilatildeo musical
Real Drum - eacute uma aplicaccedilatildeo para tocar bastando batucar os dedos nas peccedilas da
bateria representadas no ecratilde e o som do instrumento eacute reproduzido simultaneamente
Ritmo ndash designa aquilo que flui que se move movimento regulado
Semibreve ndash nota musical com duraccedilatildeo de 4 tempos
Seminiacutema ndash Nota musical com duraccedilatildeo de 1 tempo
Semi-Colcheia ndash Nota musical com duraccedilatildeo de frac14 de tempo
Surdez - eacute a diferenccedila que existe entre a performance de um indiviacuteduo e a habilidade
normal para a deteccedilatildeo sonora de acordo com padrotildees estabelecidos pela
Timeline ndash eacute uma linha de eventos organizados de forma cronoloacutegica
Trigger Pad ndash eacute um sensor eletroacutenico que produz um som atribuiacutedo a partir de um moacutedulo
de som quando o sensor eacute pressionado Este dispositivo permite que os bateristas toquem
numa dinacircmica constante independentemente da forccedila fiacutesica utilizada
VJ - eacute a denominaccedilatildeo dada agraves praacuteticas artiacutesticas relacionadas com a performance visual
em tempo real
Vibraccedilatildeo ndash eacute um movimento perioacutedico tal como a oscilaccedilatildeo de uma partiacutecula sistema de
partiacuteculas ou de um corpo riacutegido em torno de uma posiccedilatildeo de equiliacutebrio
Widget - satildeo pequenos aplicativos que flutuam pela aacuterea de trabalho fornecendo
aplicabilidade especiacutefica ao utilizador como por exemplo estado do tempo cotaccedilotildees da
bolsa de valores etc
55
7 Bibliografia
Alves Bill 2005 Digital Harmony of Sound and Light Computer Journal 29
Betancourt Michael 2006 Thomas Wilfreds Clavilux Borgo Press
Chion Michael 1994 Audio-Vision Sound on Screen Claudia Gorbman ed New York
Columbia University Press
Daniels Dieter 1992 The Birth of Eletronic Art out of the Spirit of Music
Deaf Music and the 2016 Frequelise compose perform and share Accessed 16022016
Evans Brian 2005 Foundations of a Visual Music Computer Journal 29
Fernandes Armeacutenio Martins 2006 Projecto SER MAIS Educaccedilatildeo para a Sexualidade
Online Mestrado em Educaccedilatildeo Multimeacutedia Faculdade de Ciecircncias da universidade do
Porto
Finck Regina 2009 Ensinando muacutesica ao aluno surdo perspectivas para accedilatildeo
pedagoacutegica inclusiva Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
Gross Rachel 2013 Music and the Deaf 2
Hamon Paul 2006 Brief History of Visual Music Over Processed Thinking
Helfert Heike 2004 Technological Constructions of Space_time Aspects of Perception
Media Art Net Overview of Media Art
Jewanski Joumlrg Naumann Sandra 2010 Structural analogies between music and the
visual arts
Johnson Matthew S 2009 Cmposing Music More Acessible to the Hearing-Impaired
master of Music Faculty of the Graduate School at The University of North Carolina
Klein Adrien Bernard 1927 Colour-Musica The Art of Light London Lockwood amp Son
Levin Golan 2000 Painterly Interfaces for Audiovisual Performance Master of Science
in media Arts and Sciences Program in Media Arts and Sciences Massachusetts Institute
of Technology
Lista Marcela 2004 Empreintes sonores et meacutetaphores tactiles Sons amp Lumiegraveres Sons
et Lumiegraveres Une histoire du son dans lrsquoArt du XXegraveme Siegravecle 63-76
McLean Barton 1992 Composition with sound and light Leonardo Music Journal 213-
8
Montgomery Ruth Flute teaching Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013a My childhood Music and Deafness Accessed 10112016
Montgomery Ruth 2013b Making the grade Accessed 10112016
Moritz William 1990 The Dream of Color Music in The Spiritual in Art Abstract Painting
1890-1985 Edited by Maurice Tuchman Abberville
56
Muumlller Jan Philip 2010 Synchronization as a sound-image relationship Audiovisuology
compendium401-13
Nakagawa Hugo Eiji Ibranhes 2012 Culturas Surdas O que se vecirc o que se ouve
Mestrado Literaturas artes e cultura Universidade de Lisboa Faculdade de Letras
Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo
relaccedilotildees de sentido 32
NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people
Neary Walter 2001 Brains of deaf people rewire to hear music
Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto
httpwwwasurdosportoorgpt
Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive
Systems Doutoramento FBAUP
Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music
Journal
Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo
Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades
entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-
Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo
Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave
educaccedilatildeo inclusiva Revista Lusoacutefona de Educaccedilatildeo 127-42
Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar
Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage
Yale University Press
Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de
Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica
UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
surdos do CEJA - Crato
Varrasi John 2014 How Visuals Can Help Deaf Children Hear 4 Accessed 02122016
Walters John L 1997 Sound Code Image Eye 26
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56
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Nassif Silvia Cordeiro Schroeder Jorge Luiz 2014 Muacutesica e imagem construindo
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NDCS 2013 How to make music activities accessible for deaf children and young people
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Porto Associaccedilatildeo de Surdos do 2003 Associaccedilatildeo de Surdos do Porto
httpwwwasurdosportoorgpt
Ribas Luiacutesa Maria Lopes 2012 The Nature Sound Image Relations Digital Interactive
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Rudi Joran 2005 Computer Music VIdeo A composers Perspective Computer Music
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Saacute Niacutedia Limeira de 2007 Os surdos a Muacutesica e a Educaccedilatildeo
Salles Filipe 2002 Imagens Musicais ou Muacutesica Visual - Um estudo sobre as afinidades
entre o som e a imagem baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney Poacutes-
Graduaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica Universidade de Satildeo Paulo
Sanches Isabel 2005 Compreender Agir Mudar IncluirDa investigaccedilatildeo-acccedilatildeo agrave
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Schaeffer Pierre 1993 Tratado dos objetos musicais ensaio interdisciplinar
Shaw-Miller Simon 2002 Visible Deeds of Music art and music from Wagner to Cage
Yale University Press
Silva Cibelle Celestino and Roberto de Andrade Martins 2003 A teoria das cores de
Newton um exemplo do uso da histoacuteria da ciecircncia em sala de aula Ciecircncia amp Educaccedilatildeo
953-65
Silva Cristina Soares da 2011 Educaccedilatildeo Musical para Surdos Uma experiecircncia na
escola municipal Rosa do Povo Licenciatura Plena em Educaccedilatildeo Artiacutestica
UniversidadeFederal do Estado do Rio de Janeiro Instituto Villa-Lobos
Thoben Jan 2010 Technical sound-image transformations Audiovisuology
compendium 425-37
Trigueiro Suiacutelia Mariana Cabral Crislaine Santos Maria Isabel Grangeiro Marisa
Galdino and Maacutercio Madeira O Som do SIlecircncio Uma experiecircncia musical com alunos
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