Fichamento e Resemo Do Etica a Nicomaco

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ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco.  Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim In: Os Pensadores. Seleção de textos por José Américo Motta Pessanha.  São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 49-236. (Coleção os Pensadores).

Pag. 49: “Admite-se geralmente que toda arte e toda investigação, assim como toda

ação e toda escolha, têm em mira um bem qualquer; e por isso foi dito, com muito acerto, que

o bem é aquilo a que todas as coisas tendem. [...]. Se, pois, para as coisas que fazemos existe

um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; [...]

evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem”.

Pag. 52: “[...] A julgar pela vida que os homens levam em geral, a maioria deles, e os

homens de tipo mais vulgar, parecem [...] identificar o bem ou a felicidade com o prazer, e

por isso amam a vida dos gozos, [...] a vida política e a contemplativa”.

Pag. 55: “[...] A felicidade, todavia, ninguém a escolhe tendo em vista algum destes,

nem, em geral, qualquer coisa que não seja ela própria. [...] E como tal entendemos a

felicidade, considerando-a, além disso, a mais desejável de todas as coisas, sem contá-la como

um bem entre outros. [...] A felicidade é, portanto, algo absoluto e auto-suficiente, sendo

também a finalidade da ação. Mas dizer que a felicidade é o sumo bem talvez pareça uma

banalidade, e falta ainda explicar mais claramente o que ela seja. Tal explicação não ofere-

ceria grande dificuldade se pudéssemos determinar primeiro a função do homem”.

PAG. 56: “[...] A função do homem é uma atividade da alma que segue ou que implica

um princípio racional, e se dizemos que ‘um tal-e-tal’ e ‘um bom tal-e-tal’ têm uma função

que é a mesma em espécie, [...] e [...] se realmente assim é e afirmamos ser a função do

homem uma certa espécie de vida, e esta vida uma atividade ou ações da alma que implicam

um princípio racional; e acrescentamos que a função de um bom homem é uma boa e nobre

realização das mesmas; e se qualquer ação é bem realizada quando está de acordo com a

excelência que lhe é própria [...] assim é, o bem do homem nos aparece como uma atividade

da alma em consonância com a virtude, e, se há mais de uma virtude, com a melhor e mais

completa”.

Pag. 63: “[...] Mas a virtude que devemos estudar é fora de qualquer dúvida, a virtude

humana; porque humano era o bem e humana a felicidade que buscávamos. Por virtude

humana entendemos não a do corpo, mas a da alma; e também à felicidade chamamos uma

atividade de alma”.

Pag. 64: “[...] A virtude também se divide em espécies de acordo com esta diferença,

porquanto dizemos que algumas virtudes são intelectuais e outras morais; entre as primeiras

temos a sabedoria filosófica, a compreensão, a sabedoria prática; e entre as segundas, por

exemplo, a liberalidade e a temperança. Com efeito, ao falar do caráter de um homem não

dizemos que ele é sábio ou que possui entendimento, mas que é calmo ou temperante. No

entanto, louvamos também o sábio, referindo-nos ao hábito; e aos hábitos dignos de louvor

chamamos virtudes”.

Pag. 67: “Sendo, pois, de duas espécies a virtude, intelectual e moral, a primeira, por

via de regra, gera-se. e cresce graças ao ensino — por isso requer experiência e tempo;

enquanto a virtude moral é adquirida em resultado do hábito, donde ter-se formado o seu

nome por uma pequena modificação da palavra (hábito). Por tudo isso, evidencia-se também

que nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza; com efeito, nada do que existe

naturalmente pode formar um hábito contrário à sua natureza. [...] Não é, pois, por natureza,

nem contrariando a natureza que as virtudes se geram em nós. Diga-se, antes, que somos

adaptados por natureza a recebê-las e nos tornamos perfeitos pelo hábito. [...] Com as virtudes

[...] adquirimo-las pelo exercício.”

Pag. 73: “[...]. Por meio-termo no objeto entendo aquilo que é eqüidistante de ambos

os extremos, e que é um só e o mesmo para todos os homens; e por meio-termo relativamente

a nós, o que não é nem demasiado nem demasiadamente pouco — e este não é um só e o

mesmo para todos.[...] A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha

e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um

princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre

dois vícios, um por excesso e outro por falta; pois que, enquanto os vícios ou vão muito longe

ou ficam aquém do que é conveniente no tocante às ações e paixões, a virtude encontra e

escolhe o meio-termo. E assim, [...] a virtude é uma mediania; com referência ao sumo bem e

ao mais justo, é, porém, um extremo”.

Pag. 121: “[...] Por justiça aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas

a fazer o que é justo, que as faz agir justamente e desejar o que é justo; e do mesmo modo, por

injustiça se entende a disposição que as leva a agir injustamente e a desejar o que é injusto. [..]

O justo é, portanto, o respeitador da lei e o probo, e o injusto é o homem sem lei e ímprobo”.

Pag. 122: “[...] Somente a justiça, entre todas as virtudes, é o ‘bem de um outro’, visto

que se relaciona com o nosso próximo. fazendo o que é vantajoso a um outro, seja um

governante, seja um associado. [...] Portanto, a justiça neste sentido não é uma parte da

virtude, mas a virtude inteira; nem é seu contrário, a injustiça, uma parte do vício, mas o vício

inteiro. O que dissemos põe a descoberto a diferença entre a virtude e a justiça neste sentido:

são elas a mesma coisa, mas não o é a sua essência. Aquilo que, em relação ao nosso próximo,

é justiça, como uma determinada disposição de caráter e em si mesmo, é virtude”.

Pag. 141: “[...] O meio-termo e não o excesso ou a falta, e que o meio-termo e

determinado pelos ditames da reta razão. [...] Há uma meta a que visa o homem orientado pela

razão, ora intensificando, ora relaxando a sua atividade; e há um padrão que determina os

estados medianos que dizemos serem os meios-termos entre o excesso e a falta, e que estão

em consonância com a reta razão”.

Pag. 142: “[...] As disposições em virtude das quais a alma possui a verdade, quer

afirmando, quer negando, são em número de cinco: a arte, o conhecimento científico, a

sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a razão intuitiva (não incluímos o juízo e a opinião

porque estes podem enganar-se”.

Pag. 153: “[...] A sabedoria prática, lhe serão dadas todas as virtudes. E,

evidentemente, ainda que ela não tivesse valor prático, nos seria necessária por ser a virtude

daquela parte da alma de que falamos; e não é menos evidente que a escolha não será certa

sem sabedoria prática, como não o seria sem virtude. Com efeito, uma determina o fim e a

outra nos leva a fazer as coisas que conduzem ao fim. Mas nem por isso domina ela a

sabedoria filosófica, isto é, a parte superior de nossa alma, assim como a arte médica não

domina a saúde, pois não se serve dela, mas fornece os meios de produzi-la; e faz prescrições

no seu interesse, porém não a ela”.

Pag. 219 – 220: “[...] Se pensa que comprazer-se com as coisas apropriadas e detestar

as que se deve tem a maior influência possível sobre o caráter virtuoso. Porque essas coisas

nos acompanham durante a vida inteira, com um peso e um poder próprios tanto no que toca à

virtude como à vida feliz, já que os homens escolhem o que é agradável e evitam o que é

doloroso”. [...] Eudoxo pensava que o prazer é o bem porque via todos os seres, tanto

racionais como irracionais, tender para ele, e porque em todas as coisas aquilo para que se

dirige a escolha é excelente, e o mais visado pela escolha é o maior dos bens. E assim, [...]

aquilo que é bom para todas as coisas e a que todas elas visam é o bem por excelência. [...]

argumentava que o prazer, quando acrescentado a um bem qualquer, como, por exemplo, à

ação justa ou temperante, o torna mais digno de escolha, e que o bem só pode ser acrescido

por si mesmo. [...] Platão demonstra não ser o bem o prazer. Diz ele que a vida aprazível é

mais desejável quando acompanhada de sabedoria do que sem ela, e que, se a mistura é

melhor, o prazer não é o bem; porque o bem não pode tornar-se mais desejável pela adição do

que quer que seja. Ora, é claro que não só o prazer, mas nenhuma outra coisa pode ser o bem

se a adição de uma das coisas que são boas em si mesmas a torna mais desejável”.

Pag. 222: “[...] Portanto, que nem o prazer é o bem, nem todo prazer é desejável, e

que alguns prazeres são realmente desejáveis por si mesmos, diferindo eles dos outros em

espécie ou quanto às suas fontes. Quanto às opiniões correntes a respeito do prazer e da dor, é

suficiente o que dissemos”.

Pag. 227: “[...] Que [...] o homem perfeito e supramente feliz tenha uma, quer mais

atividades, diremos que os prazeres que completam essas atividades são, stricto sensu, os

prazeres próprios do homem; e o resto só o será de maneira secundária e parcial, como o são

as atividades. [...] A felicidade não reside, [...] na recreação; e seria mesmo estranho que a

recreação fosse o fim, e um homem devesse passar trabalhos e suportar agruras durante a vida

inteira simplesmente para divertir-se. Porque, numa palavra, tudo que escolhemos,

escolhemo-lo com a mira em outra coisa — salvo a felicidade, que é um fim em si”.

Pag. 228: “[...] Se a felicidade é atividade conforme à virtude, será razoável que ela

esteja também em concordância com a mais alta virtude; e essa será a do que existe de melhor

em nós. [...] E pensamos que a felicidade tem uma mistura de prazer, mas a atividade da

sabedoria filosófica é reconhecidamente a mais aprazível das atividades virtuosas; pelo

menos, julga-se que o seu cultivo oferece prazeres maravilhosos pela pureza e pela

durabilidade, e é de supor que os que sabem passem o seu tempo de maneira mais aprazível

do que os que indagam”.

Pag. 235 – 236: “[... ] Após estudar essas coisas teremos uma perspectiva mais ampla,

dentro da qual talvez possamos distinguir qual é a melhor constituição, como deve ser

ordenada cada uma e que leis e costumes lhe convém utilizar a fim de ser a melhor possível”.

O presente estudo tem por objeto a obra Ética a Nicômaco, de autoria do filósofo

Aristóteles. A mesma é dividida em 10 livros, dos quais trataremos do livro I ao VI e parte

do X. Na obra o autor expõe suas concepções teleológicas e eudaimonistas, sendo este o

seu mais importante escrito sobre a ética, constitui-se como o 1º tratado sobre o agir

humano que temos notícia, dando atenção aos problemas das relações entre os

indivíduos.Aristóteles foi um filósofo que nasceu em Estagira, Macedônia em 384 a.C., foi

um dos maiores pensadores de todos os tempos. Aos 17 anos foi para Atenas a fim de

estudar com Platão e mais tardefundou o Liceu e ensinou filosofia.È reconhecido por seus

escritos lógicos, poéticos, metafísicos, físicos e morais. Seu legado sobre a ética tornou-se

muito importante constituindo grande fonte de estudos para a modernidade, consta-se

também que foi preceptor de Alexandre Magno.

Aristóteles inicia a obra em questão afirmando-nos que toda atividade (enérgeia) e

ação (práxis) humanas têm como finalidade (télos) o bem (ágaton), o qual é desejado por

si mesmo e é chamado de sumo bem. Tudo segue em direção a ele, relata o filósofo, que

coloca a política como forma de seu conhecimento,poisela abrange as outras ciências em

função do bem humano e tem a investigação ética como fonte de ajuda a quem quer agir

por um princípio racional e não guiado pelas paixões.

Seguindo este pensar, a investigação ética não visa ao conhecimento da virtude,

mas a natureza dos atos na prática. O ser ético se cumpre se desenvolve uma ação que é

perfeita. Esta ação tem o próprio fim como atividade, de modo que a função (ergon) seja o

próprio homem. A questão ética é se o homem está se comportando como próprio do ser

humano, sendo justo com o seu modo próprio de ser.

O autor assinala a felicidade (éudaimonia) como o bem supremo, que é a

atividade do bem agir e viver, a qual faz o homem feliz. A mesma é buscada por ela

própria, sendo perfeita e autossuficiente, torna a vida desejável e sem carência. Ela

depende da função (érgon) do homem que é a vida ativa da alma (psyches enérgeia), que

implica num princípio racional (lógon).

Para Aristóteles há três tipos de vida: a vida dos gozos (heidonem), da

política (politikus) e a contemplativa (teoretikus). A maioria dos homens identifica o bem

ou a felicidade com o prazer e por isso ama a vida dos gozos. A vida política é um dos

principais tipos de vida e identifica a felicidade com a honra (timen), que em suma é a

finalidade desta, a qual procura a honra pela virtude (areté). A vida contemplativa e a que é

guiada pelo pensamento e é a melhor vida que se pode levar.

Informa-nos também que as virtudes são de duas espécies: intelectual (dianoetikas)

e moral (ethika). A intelectual cresce graças ao estudo (didaskalias) e requer experiência e

tempo. A moral é adquirida pelo hábito (ethous) e não surge em nós por natureza.

Aristóteles chama os hábitos dignos de louvor de virtudes, as quais são adquiridas

pelo exercício, procedendo assim, do caráter firme e imutável, tornando os homens justos

ou não pela sua prática. A virtude é a disposição de caráter que torna o homem bom e o faz

desempenhar bem a sua função, sendo um meio-termo (meson) entre os vícios. O meio-

termo é aquilo que é equidistante aos extremos em relação às virtudes e aos vícios.

A virtude está relacionada com a escolha de ações e paixões, e a escolha parece

estar ligada à virtude, defende o filósofo. As paixões e ações são voluntárias e

involuntárias. As ações voluntárias dependem da escolha do indivíduo em querer ou não

certas ações, já as involuntárias são ações que ocorrem por compulsão e ignorância, não

são escolhas. Aristóteles afirma que a virtude pode estar em nosso poder de escolha, o ser

virtuoso é uma questão de ação voluntária, uma vez que podemos escolher entre as

virtudes e os vícios.

Discorrendo sobre as virtudes intelectuais, o já citado filósofo enfatiza que a alma

humana possui duas partes: A que tem o princípio racional e a privada de razão. A parte

racional se divide em científica e calculativa. A alma possui três elementos que controlam

a ação e a verdade: a sensação (aisthesis), a inteligência (nous) e a tendência (orexis).

As disposições pelas quais a alma possui a verdade são cinco: a arte (tékne), o

conhecimento científico (ephisteme), a prudência (phrónesis), a inteligência (nous) e a

filosofia ou sabedoria teorética (sophia). A filosofia é o conhecimento das coisas mais

elevadas por natureza. Deve ser a forma de conhecimento mais perfeita combinando a

inteligência com o conhecimento epistêmico.

Um homem é bom quando pratica seus atos por meio de escolhas e no interesse de

seus atos. É uma faculdade que temos de poder fazer as coisas segundo um fim proposto. A

prudência proporciona todas as virtudes. Ela fornece os meios de produzi-la. A filosofia e a

prudência são as virtudes das duas partes da alma.

Aristóteles ao discutir sobre o prazer o relacionacom a vida humana. Para ter uma

vida feliz os homens escolhem o que é agradável e evitam a dor. O prazer é preferido a

todas as coisas. O prazer não é um bem e difere em espécie. Nem todo prazer é desejável.

O prazer completa a atividade como um fim alcançado. A vida é uma atividade em relação

com as coisas e as faculdades preferidas. Sem atividade não há prazer e cada atividade é

completada pelo respectivo prazer. A virtude e o homem bom são a medida de todas as

coisas, os verdadeiros prazeres são aferidos por esta medida.

Voltando à questão da felicidade, que é o bem supremo e o objetivo humano, o

pensador nos diz que a mesma está relacionada com o bem-estar, com a interação da razão,

com a moral e a vida ideal. O prazer de ser virtuoso, de ser bom, de não possuir vícios, faz

do indivíduo um homem feliz, sábio e assim, completo.Deste modo, a atividade séria é a

melhor e superior,correspondendo a mais alta virtude por ser a sua atividade a vida

contemplativa, pois razão é a melhor coisa nos homens e a mais contínua, a contemplação

da verdade é a mais contínua de todas as atividades, o autor coloca a atividade da filosofia

como a mais aprazível das atividades virtuosas onde atividade contemplativa é

autossuficiente.

A atividade das virtudes práticas não encerra lazeres, ao contrário da felicidade,

elas visam um fim diferente e não são desejáveis por si mesmas e como a atividade

contemplativa só é acessível ao homem na medida em que ele tem algo de divino vê-se a

razão que é divina em comparação ao homem e a vida racional que é divina diante à

humana.

Assim sendo, o filósofo (sophos) é o de todos os homens o mais caro aos deuses, é

o mais feliz dos homens. O conhecimento da virtude não é suficiente, deve-se buscar

alcançá-la e usufruí-la. O homem comum só obedece por força do medo, nisto é preciso

cultivar a alma do estudioso por meio de hábitos, tornando-a capaz de atos nobres.

Também é condição prévia indispensável à existência de um caráter que tenha tenha

afinidade com a virtude.

Por fim, podemos concluir que a ética aristotélica muito contribui para o

pensamento e o agir humanos, pois com ela temos conhecimento de como fazer o bem. O

autor explana os conceitos de forma objetiva e clara, mostrando-nos as relações dos

indivíduos com a sociedade. Podemos avaliar a ética dizendo que sempre se a pensava na

pólis, não havia ainda a concepção de indivíduo separado de sua cidade. E que a vida ideal

e feliz é a racional, supondo a estima de si mesmo.