View
11
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
FILOSOFIA DA HISTÓRIA E
NIILISMO EM NIETZSCHE Curso de Filosofia da História
Ano lectivo de 2019-2020
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Viriato Soromenho-Marques
(Universidade de Lisboa)
www.viriatosoromenho-marques.com 1
Índice 1. Obras de Nietzsche.
2. Crítica da Filosofia da História. A história como época e problema.
3. Visões e leituras da Morte de Deus.
4.Deus e o Niilismo.
5. O Niilismo e a refundação da filosofia.
6.Conclusões.
www.viriatosoromenho-marques.com 2
1
Obras de Nietzsche
www.viriatosoromenho-marques.com 3
Nietzsche (1844-1889-1900)
• F. Nietzsche
www.viriatosoromenho-marques.com 4
Obras de Nietzsche (1)
• 1872: Die Geburt der Tragödie aus dem Geistes der Musik (O nascimento da tragédia a partir do espírito da música).
• 1873: Unzeitgemässe Betrachtungen (I-David Strauss, der Bekenner und der Schriftsteller) [ Considerações intempestivas-I David Strauss, o crente e o escritor].
• 1874: Unzeitgemässe Betrachtungen (II-Vom Nutzen und Nachteil der Historie für das Leben) [ C.I.-II: Da utilidade e dos inconvenientes da história para a vida].
• 1874: Unzeitgemässe Betrachtungen (III-Schopenhauer als Erzieher) [ C.I.-III: Schopenhauer como educador].
• 1876: Unzeitgemässe Betrachtungen (IV-Richard Wagner in Bayreuth) [C.I.-III: Richard Wagner em Bayeruth].
www.viriatosoromenho-marques.com 5
Obras de Nietzsche (2)
• 1878: Menschliches, Allzumenschliches. Ein Buch für freie Geister (Humano, Demasiado Humano. Um livro para espíritos livres).
• 1880: Der Wanderer und sein Schatten (O viajante e a sua sombra). Complemento à obra anterior. Uma edição completa dos dois textos seria publicada em 1886).
• 1881: Morgenröte. Gedanken über moralische Vorurteile (Aurora. Pensamentos sobre preconceitos morais).
• 1882: Die fröhliche Wissenchaft (A Gaia Ciência) [2ª edição ampliada em 1887].
www.viriatosoromenho-marques.com 6
Obras de Nietzsche (3)
• 1883: Also sprach Zarathustra I - II (Assim falava Zaratustra).
• 1884: Also sprach Zarathustra III
• 1891: Also sprach Zarathustra IV.
• 1886: Jenseits von Gut und Böse. Vorspiel zu einer Philosophie der Zukunft (Para além do Bem e do Mal. Prelúdio a uma filosofia do futuro).
• 1887: Zur Genealogie der Moral (Para a genealogia da moral).
www.viriatosoromenho-marques.com 7
Obras de Nietzsche (4)
• 1888: Der Fall Wagner (O caso Wagner). Esta obra seria reeditada em 1900, incluindo o texto Nietzsche contra Wagner).
• 1888: Der Antichrist (O Anticristo). Redigido em 1888, mas não publicado em vida do autor.
• 1889: Die Götzendämmerung (O crepúsculo dos ídolos).
• 1898: Gedichte und Sprüche [poemas e sentenças] (ed. E.F.Nietzsche).
• 1908: Ecce Homo (ed. R. Richter).
www.viriatosoromenho-marques.com 8
2
Crítica da Filosofia da
História. A história como época e problema
www.viriatosoromenho-marques.com 9
Grandes teses e objectivos de…
Afirmar a 'Vida' como categoria
ontológica central.
Recusa do positivismo histórico.
Desmontagem da natureza
metafísica do historicismo.
www.viriatosoromenho-marques.com 10
…Nietzsche em torno da Filosofia da História
Sucedâneo laico na crença num
Deus moral.
Valorização do historischer Sinn por
oposição ao Historismus. Posição
perante Hegel.
A 'história' e o horizonte unificador da
cultura europeia.
www.viriatosoromenho-marques.com 11
Três tipos de história
1.História monumental (monumentalische H.)
Tipo de vida exigente e ambiciosa; o risco de
uma metonímia megalómana.
2.História antiquária (antiquarische H.)
Veneração e respeito pelo passado; risco do
'odor a bafio').
3.História crítica (kritische H.)
Desejo de justiça e libertação; risco de
esterilizar o solo do presente.
www.viriatosoromenho-marques.com 12
A história ao serviço da vida
"A história na medida em que está ao serviço
da vida, encontra-se ao serviço de uma força
não histórica, e por isso não poderá nem
deverá, devido a essa subordinação, tornar-se
ciência pura, como o é a matemática [...] Pois,
por um certo excesso da própria [história] é a
vida que se desagrega e degenera e também,
por último, através dessa degenerescência é a
própria história [que se desagrega]".
www.viriatosoromenho-marques.com 13
Texto original de Nietzsche
(Die Historie, sofern sie im Dienste des Lebens steht, steht im Dienste einer unhistorischen Macht und wird deshalb nie, in dieser Unterordnung, reine Wissenschaft, etwa wie die Mathematik es ist, werden können und sollen (...) Denn bei einen gewissen Übermass derselben zerbröckelt und entartet das Leben und zuletzt auch wieder, durch diese Entartung, selbst die Historie, UB-II, vol.1, 257.)
www.viriatosoromenho-marques.com 14
A contradição interna da F.H.
A contradição epistemológica entre
coordenação e subordinação, segundo
Jacob Burckhardt:
"A filosofia da história é um centauro,
uma contradição nos próprios termos;
pois a história, i.e. a coordenação é uma
não-filosofia, e a filosofia, i.e., a
subordinação é uma não-história."
www.viriatosoromenho-marques.com 15
Texto original de Burckhardt
" Diese [filosofia da história] ist ein Kentaur,
eine contradictio in adjecto; denn
Geschichte, d.h. das Koordinieren, ist
Nichtphilosophie, und Philosophie, d.h., das
Subordinieren, ist Nichtgeschichte. "
J.Burckhardt, Weltgeschichtliche
Betrachtungen, anos de 1870, ed. Leipzig,
1935, p. 4.
www.viriatosoromenho-marques.com 16
Vontade e representação
"Pode aprender-se muito com estes tempos. O solo que parecia firme e inabalável, vacila; as máscaras caem dos rostos. As inclinações egoístas mostram sem dissimulação o seu horrendo semblante. Mas, acima de tudo, pode observar-se como é escasso o poder do pensamento." (Man kann sehr viel in solchen Zeiten lernen. Der Boden, der fest und unerschütterlich schien, wankt; die Masken fallen von den Gesichtern ab. Die selbstsüchtigen Neigungen zeigen unverhüllt ihr hässliches Antlitz. Vor allem aber bemerkt man, wie gering die Macht des Gedankens ist) SB, vol.2, p.138.
www.viriatosoromenho-marques.com 17
Perspectivismo
O perspectivismo como PLURALISMO
projecta-se tanto sobre o 'objecto', como sobre
o 'sujeito'.
corpo mais surpreendente do que a alma:
46-27.
A consciência como pluralismo tensional:46-
27.
A forma mais profunda da unidade do sujeito
não reside no 'eu consciente': 46-33.
www.viriatosoromenho-marques.com 18
Contra a idolatria da “Ciência”
Um ideal que dispensa de ter ideias: 29-
23.
positivismo acrítico do século XIX: 30-3.
Contra o positivismo: não existem factos,
só interpretações: 31-12.
Verdade, erro e coragem/cobardia: 40-2.
O 'especialista' pertence à classe dos
instrumentos úteis: 48-63.
www.viriatosoromenho-marques.com 19
Uma Epistemologia da Criação
"(...) o ser humano é uma pluralidade de
forças, as quais se encontram numa
hierarquia" ([...] der Mensch eine Vielheit von Kräften ist,
welche in einer Rangordnung stehen), NF, vol.13, 11[83], 39-40.
A Ciência é o REENCONTRAR (Wiederfinden)
do que os Valores INTRODUZIRAM (das
Hineinstecken) no mundo: 48-68.
A verdade não é encontrar, nem descobrir, mas
acto de criar (Schaffen): 48-68.
www.viriatosoromenho-marques.com 20
3
Visões e leituras da Morte de Deus
www.viriatosoromenho-marques.com 21
A 'MORTE DE DEUS' COMO DESAFIO:
• "Se nós não fizermos da morte de
Deus uma grandiosa renúncia e uma
perpétua vitória sobre nós próprios,
então teremos de suportar a sua
perda." (Wenn wir nicht aus dem Tode Gottes eine
grossartige Entsagung und eine fortwährenden Sieg über uns
machen, so haben wir den Verlust zu tragen) NF, KS, vol. 9, 12[9},
577 [Outono 1881].
www.viriatosoromenho-marques.com 22
O ANÚNCIO DA MORTE DE DEUS
«Der tolle Mensch», Die fröhliche
Wissenschaft, [1882] §, 125, KS,
vol. 3, 480-482.
www.viriatosoromenho-marques.com 23
H. Heine e a morte de Deus (2)
"Esta perturbante notícia de morte necessita talvez de alguns séculos, até que se tenha espalhado de forma generalizada -- mas nós já envergámos o luto."(Diese betrübende
Todesnachricht bedarf vielleicht einige Jahrhunderte, ehe sie sich allgemein verbreitet hat--wir aber haben längst angelegt), Zur Geschichte der Religion und Philosophie in Deutschland [1834], Werke, vol. 2, 303-
305.
www.viriatosoromenho-marques.com 24
H. Heine e a morte de Deus (2)
Heine afirma (op. cit, 304) que com a
separação entre razão teórica e razão
prática viver-se-ia uma situação que ele
comenta como: "Nach der Tragödie
kommt die Farce", a razão prática
equivaleria a dar nova vida ao "Leichnam
des Deismus, den die theoretische
Vernunft getötet."
www.viriatosoromenho-marques.com 25
Nietzsche, na senda de Heine
Kant como a raposa que
regressa à jaula: FW[1882],
KS, vol.3, §335, 562.
www.viriatosoromenho-marques.com 26
Teixeira Gomes segue Heine…
"...Alemanha sublime! Sublime e...criminosa...Ressuscitaste os mitos primitivos, gastos e vãos já antes de trucidados, mas tu é que mataste aquele que ainda vivia, o augusto, o majestoso, de todos o mais formidável, o grandíssimo Padre Eterno; e para maior ignomínia fizeste-lo pelas mãos débeis de um professor de província maníaco...Kant, Koenigsberg...", "Colónia", in Obras Completas de Teixeira Gomes. Agosto Azul, Urbano Tavares Rodrigues (ed.), Lisboa, Bertrand, 1984, p. 54.
www.viriatosoromenho-marques.com 27
A estética no vazio teológico
"É inverosímil que isso [a criação de uma nova religião] possa acontecer outra vez, após a Crítica da Razão Pura.
Pelo contrário, eu posso imaginar um novo tipo de filósofos-artistas, capaz de colocar na brecha uma obra de arte, com valores artísticos."
(Es ist unwahrscheindlich, dass das je wieder geschiet, seit der Kritik der reinen Vernunft.
Dagegen kann ich mir eine ganz neue Art Philosophen-Künstlers imaginiren, der ein Kunstwek hinein in der Lücke stellt, mit ästhetischen Werthe), NF, KS, vol. 7, 19 [39], 431[Verão 1872-Início 1873].
www.viriatosoromenho-marques.com 28
Nietzsche, evoca Feuerbach…
• "A minha tarefa: toda a beleza e o sublime que nós emprestamos às coisas e às criações da imaginação, reivindicá-las como propriedade e produto do homem, e como o seu mais belo ornamento, a sua mais bela apologia" (Meine Aufgabe: alle die Schönheit und Erhabenheit, die wir den Dingen und den Einbildungen geliehen, zurückfordern als Eigenthum und Erzeugniss des Menschen und als schönsten Schmuck, schönste Apologie desselben.", NF, KS, vol. 9, 12[34], 582 [Outono 1881].
www.viriatosoromenho-marques.com 29
4
Deus e o Niilismo
www.viriatosoromenho-marques.com 30
Génese da temática do niilismo (1)
• O tema do niilismo aparece no pensamento alemão na senda do balanço do kantismo:
• 1787, numa obra de J.E.Obereit, dedicada ao criticismo kantiano.
• 1796: numa obra de D. Jenisch, dedicada tb. ao balanço da filosofia transcendental: Über Grund und Wert der Entdeckungen des Prof. Kant, da autoria de Daniel Jenisch (1762-1804), Pregador na Nicolai-Kirche, em Berlim, desde 1798, teólogo, escritor filosófico e satírico.
www.viriatosoromenho-marques.com 31
Génese da temática do niilismo (2)
• No seio dos debates entre Jacobi,
Fichte e Hegel, em torno da própria
essência do filosofar (ver: M.J. do
Carmo Ferreira, Hegel em Jena. A
razão da liberdade ou a justificação
da filosofia, Dissertação de
doutoramento, Lisboa, 1981: 424-
425).
www.viriatosoromenho-marques.com 32
O “Niilismo”, pela 1.ª vez
“Inwiefern jeder hellere Gesichtkreis
als Nihilism erscheint” (Em que
medida aparece todo o horizonte
mais lúcido [ou esclarecido] como
niilismo), NF, KS, vol.9, 12[57]: 586.
[Outono de 1881]
www.viriatosoromenho-marques.com 33
OS TRÊS SACRIFÍCIOS DA CRUELDADE RELIGIOSA:
• O sacrifício dos primogénitos, e dos
melhores homens a Deus;
• O sacrifício dos «instintos»; a virtude
contra a Natureza;
• O sacrifício do Deus ao Nada, da geração
que está a vir.
• Jenseits von Gut und Boese [1886],§ 55,
KS, vol.5, 74.
www.viriatosoromenho-marques.com 34
Deus, na genealogia do Niilismo (1)
A Wille zur Wahrheit continua o ideal ascético do Cristianismo, mesmo sob a capa do ideal científico.
• Os ‚espíritos livres‘, pela forma como Nietzsche os descreve, correspondem essencialmente aos seus contemporâneos, nomeadamente, positivistas.
• Afirmação clara da prioridade da filosofia sobre a ciência.
• Deus deixa de ser a verdade para ser interrogado a partir dela.
www.viriatosoromenho-marques.com 35
Deus, na genealogia do Niilismo (2)
• A vontade de verdade quando se auto-interrogar permitirá a morte (por suicídio) da própria moral.
• Anúncio da futura elaboração de uma obra com o título Wille zur Macht.
• O homem é o ser que prefere quere o Nada a nada querer: „lieber will noch der Mensch das Nicht wollen, als nicht wollen...“
• Fonte: Zur Genealogie der Moral[1887], KS, vol.5, III, §§ 24,27 e 28:398-401 e 408-412.
www.viriatosoromenho-marques.com 36
DEZ MODALIDADES DE NIILISMO (1):
• administrativer Nihilismus (Genealogie der Moral, KS, vol.5, 316)
• historischer Nihilismus (idem.: 406)
• beschaulischer Nihilismus (idem)
• ekstatischer Nihilismus (NF, KS, vol.11, 35[82]: 547). Maio-Julho 1885.
• praktischer und theoretischer Nihilismus (NF, KS, vol.12, 5[71]: 211). Verão 1886-Outono 1887.
www.viriatosoromenho-marques.com 37
DEZ MODALIDADES DE NIILISMO (2):
• die extremste Form des Nihilismus (NF,
KS, vol.12. 5[71]: 213). Idem.
• aktiver Nihilismus (NF, KS, vol.12, 5[71]:
216). Idem.
• vollkommener Nihilismus (NF, KS, vol.12,
10[42]: 476). Outono 1887.
• unvollständiger Nihilismus (idem).
www.viriatosoromenho-marques.com 38
Definição do niilista
• “Ein Nihilist ist der Mensch, welcher
von der Welt, wie sie ist, urtheilt, sie
sollte nicht sein und von der Welt, wie
sie sein sollte, urtheilt sie existirt
nicht.”(Nachgelassene Fragmente
[NF], 12, 9[60], 366). Outono de
1887.
www.viriatosoromenho-marques.com 39
Parentesco entre Deus e o Nada (1)
"Sacrificar Deus ao Nada -- este mistério paradoxal da última crueldade estava reservado à geração que agora está a surgir: nós todos já sabemos alguma coisa acerca disso." (Für das Nichts Gott opfern --
dieses paradoxe Mysterium der letzten Grausamkeit blieb dem Geschlechte, welches jetzt eben herauf kommt, aufgespart: wir Allen kennen schon etwas
davon) JGB [1887], KS, vol. 5, § 55, 74.
www.viriatosoromenho-marques.com 40
Parentesco entre Deus e o Nada (2)
"...eles criaram o seu Deus a partir do
nada: não admira que ele, agora, se
tenha tornado para eles em nada"
(...sie haben ihren Gott aus Nichts
geschaffen: was wunder: nun ward er
ihnen zu nichts), NF, KS, vol. 13,
20[89], 565 [Verão 1888].
www.viriatosoromenho-marques.com 41
5
O Niilismo e a refundação da
filosofia
www.viriatosoromenho-marques.com 42
Uma nova teodiceia (1)
„A minha nova versão do pessimismo como livre
investigação dos lados terríveis e suspeitos da
existência: com ela os fenómenos familiares do
passado tornaram-se-me claros.“Quanta
verdade suporta e ousa um espírito?“ Questão
da sua força. Tal pessimismo poderia desaguar
nessa forma de afirmação dionisíaca do mundo,
tal qual ele é: até ao desejo do seu regresso e
eternidade absolutas: com ele seria dado um
novo ideal da filosofia e da sensibilidade.“
www.viriatosoromenho-marques.com 43
Uma nova teodiceia (2)
• Meine neue Fassung des Pessimismus als ein freiwilliges Aufsuchen der furchtbaren und fragwuerdigen Seiten des Daseins; womit mir verwandte Erscheinungen der Vergangenheit deutlich wurden. „Wie viel Wahrheit ertraegt und wagt ein Geist? Frage seiner Staerke. Ein solcher Pessimism koennte muenden in jene Form eines dionysischen Jasagens zur Welt, als sie ist: bis zum Wunsche ihrer absoluten Wiederkunft und Ewigkeit: womit ein neues Ideal von Philosophie und Sensibiltaet gegeben waere., NF, KS, vol. 12, 10[3]: 455. Outono 1887.
www.viriatosoromenho-marques.com 44
Uma nova teodiceia (3)
• „Também este pessimismo da força termina com uma teodiceia, i.e., com uma absoluta aceitação [afirmação] do mundo, mas pelas [mesmas] razões pelas quais até aqui se lhe tinha dito não: e de tal maneira [afirmação] da concepção deste mundo como o mais elevado ideal realmente atingido...“
• (Auch dieser Pessimismus der Staerke endet mit einer Theodicee d.h. mit einem absoluten Jasagen zu der Welt, aber um der Gruende willen, auf die hin man zu ihr ehemals Nein gesagt hat: und dergestalt zur Conception dieser Welt als des thatsaechlich erreichten hoechstmoeglichen Ideals...). NF, KS, vol. 12, 10[21]: 466-468 (Outono 1887):
www.viriatosoromenho-marques.com 45
Era Nietzsche niilista?...
• „Quando se vai ao encontro de um fim
parece impossível que a ‚ausência de fim-
em-si‘ seja a nossa crença fundamental“
(Wenn man einem Ziel entgegengeht, so
scheint es unmöglich, dass ‚die
Ziellosigkeit an sich‘ unser
Glaubensgrundsatz ist),NF, KS, vol. 12,
9[123]: 408 (Outono 1887).
www.viriatosoromenho-marques.com 46
…Ou a internalização dos fins
• „A questão do niilismo ‚para quê?‘ parte do antigo hábito, pelo qual o objectivo parecia como posto, dado, exigido a partir do exterior – nomeadamente, através de uma qualquer autoridade sobre-humana (...) Gostar-se-ia de contornar a vontade, o querer de um objectivo, o risco de se dar a si próprio um objectivo, de fugir à responsabilidade....“ (Die Frage des Nihilism „wozu?“ geht von der bisherigen Gewöhnung aus, vermöge deren das Ziel von aussen her gestellt, gegeben, gefordet schien – nämlich durch irgend eine übermenschliche Autorität [...] Man möchte herumkommen um den Willen, um das Wollen eines Zieles, um das Risico, sich selbst ein Ziel zu geben; man möchte die Verantwortung abwälzen...), NF, KS, vol. 12, 9 [43]: 355-356. Outono 1887.
www.viriatosoromenho-marques.com 47
O niilismo como “teste” para a Europa
• "[...] a idade trágica para a Europa:
condicionada pelo combate contra o
niilismo" (...das tragische Zeitalter für
Europa: bedingt durch den Kampf gegen
den Nihilismus) NF, KSA, vol.12, 5 [50],
p.202.
www.viriatosoromenho-marques.com 48
A responsabilidade da filosofia (1)
„O filósofo como legislador, como
experimentador de novas possibilidades,
os seus meios. Ele utiliza a religião.“
(Der Philosoph als Gesetzgeber, als
Versucher neuer Möglichkeiten, seine
Mittel. Er benutzt die Religion.), NF, KS,
vol. 11, 35[45]: 531 (Maio-Julho de
1885).
www.viriatosoromenho-marques.com 49
A responsabilidade da filosofia (2)
„Pensamento fundamental: os novos valores
devem primeiro ser criados – a isto não
seremos poupados! O filósofo deve ser
como um legislador.“ (Grundgedanke:
die neuen Werthe müssen erst
geschaffen werde – dies bleibt uns nicht
erspart! Der Philosoph muss wie ein
Gesetzgeber sein.), NF, KS, vol. 11, 35[47]: 533. Maio-Julho 1885.
www.viriatosoromenho-marques.com 50
A responsabilidade da filosofia (3)
„Mas os autênticos filósofos são
detentores do comando e
legisladores, eles dizem: deve ser
assim!“ (Die eigentlichen
Philosophen aber sind Befehlende
und Gesetzgeber, sie sagen: so soll
es sein.), NF, KS, vol. 11, 38[13]:
612. Junho-Julho 1885.
www.viriatosoromenho-marques.com 51
A responsabilidade da filosofia (4)
„Esse homem do futuro(...) esse anticristo e
antiniilista, esse vencedor de Deus e do
Nada – ele deve chegar um dia“ (Dieser
Mensch der Zukunft [....] dieser Antichrist
und Antinihilist, dieser Besieger Gottes
und des Nichts – er muss einst
kommen...), Zur Genealogie der Moral
[1887], 2. Teil, KS, vol. 5: 336.
www.viriatosoromenho-marques.com 52
Os Semeadores do Futuro
'Doravante [Säemänner der Zukunft] , poreis a vossa honra não de onde viestes mas para onde ides! Que a vossa vontade, o vosso pé, que vos quer levar para além de vós próprios, constituam a vossa nova honra!" (Nicht, woher ihr kommt, mache euch fürderhin eure Ehre, sondern wohin ihr geht!, Euer Wille und euer Fuss, der über euch selber hinaus will, -- das mache eure neue Ehre!, AsZ, W4, 255).
www.viriatosoromenho-marques.com 53
6
Conclusões
www.viriatosoromenho-marques.com 54
Conclusões (1)
• A temática da Filosofia da história é suprimida por uma nova metafísica da vontade. Mas a história como “tarefa” permanece.
• A temática de Deus é subsumida na temática do Niilismo.
• A superação do Niilismo implica uma recolocação a partir de dentro do foco de sentido e de finalidade (uma nova revolução copernicana).
www.viriatosoromenho-marques.com 55
Conclusões (2)
• A superação de Deus e do Niilismo é
entendida como o teste supremo ao valor
da humanidade. Não tombar nos “ídolos”.
• A essência trágica da vida mantém-se e é
acentuada (Schopenhauer invertido como
sugere Giorgio Colli?).
• A verdade não se descobre, ou cria, mas
“suporta-se”.
www.viriatosoromenho-marques.com 56
Conclusões (3)
• A vocação da filosofia realiza-se no plano
prático: legislar e governar (numa curiosa
síntese entre Platão e o idealismo
alemão).
• Nietzsche acentua a sua identificação com
uma celebração dionisíaca e trágica (pré-
socrática) da existência (próximo também
de Espinosa).
www.viriatosoromenho-marques.com 57
Conclusões (4)
• O primado da lucidez contra o conforto da
ilusão e a ilusão do conforto. Os casos de
Pascal e Emerson.
• Nietzsche está nos antípodas do
suprahumanismo de matriz tecnológica.
• A história como encruzilhada
problemática. Possibilismo e incerteza.
Jamais determinismo.
www.viriatosoromenho-marques.com 58
Recommended