Final Do Seculo XIX Na Europa

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Arte no final do séc XIX na Europa

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Final do século XIX na Europa

Entre os artistas que mudaram a arte no final do século XIX figuram pintores de tendências bem diversas. Alguns, como Gauguin, Cézanne e Van Gogh, chegaram a envolver-se com o Impressionismo, mas depois desenvolveram diferentes tipos de pintura.Temos, ainda, Toulouse-Lautrec, que retratou a vida parisiense de modo muito pessoal e não se ligou a nenhum movimento artístico.

Paul Gauguin (1848-1903) participou da quinta exposição coletiva do movimento impressionista, em 1880. Por volta de 1884, porém, sua obra já superava essa tendência em alguns aspectos,como o uso da tinta - pura e em áreas de cor bem definidas - e a cor dos objetos, que deixa de imitar a realidade.

Gauguin: a liberdade na escolha da cor

A personagem bíblica Jacó tem uma longa história de conflito com seu irmão, Esaú. Depois de muitos anos afastado,Jacó volta para casa. Segundo o texto bíblico, na viagem de volta ocorre o episódio em que ele luta em silêncio com um estranho durante uma noite inteira. Em algumas versões, esse estranho é um anjo; em outras, é o próprio Deus. Na cena pintada por Gauguin, que você vê embaixo, vemos um anjo. Observe como as cores são bem definidas e ocupam áreas determinadas - nos chapéus, nas roupas e no fundo, por exemplo. Note ainda como o pintor evidencia bem o contorno das figuras por meio de uma linha escura.

A definição na cor e nos contornos

Jacó e o anjo (1888), de Gauguin. Dimensões: 73 cm x 92 cm. Galeria Nacional da Escócia, Edimburgo.

No século XIX,a França, país de Gauguin, era um centro de grande desenvolvimento científico e industrial. Note o conjunto de pequenas ilhas, no oceano Pacífico, ao sul do Equador, que forma o Taiti. Essas ilhas, com a natureza preservada, sem os meios de comunicação comuns na Europa à época e com a simplicidade de Seus habitantes, despertaram o artista para uma nova concepção de vida e uma nova percepção da realidade. Isso, sem dúvida, se refletiu em sua pintura.

O paraíso de Gauguin

Observe as cores usadas nessa pintura: nem todas correspondem à realidade. O cachorro, por exemplo, foi pintado em tom avermelhado. Note também que as cores ocupam áreas delimitadas: existe a área verde, a branca, a vermelha e a azul. Repare na cena como um todo: parece um lugar tranqüilo em que as pessoas se divertem, tocam música e vivem integradas à natureza.

As cores do irreal

Arearea (O cão vermelho) (1892), de Gauguin. Dimensões: 75 em x 94 em. Museu D'Orsay, Paris.

Na década de 1890 Gauguin deixou a França para viver no Taiti,onde produziu uma série de telas que constitui a parte mais conhecida de sua obra. Os quadros dessa época registram a natureza e a vida simples de pessoas livres dos compromissos e das dificuldades do dia-a-dia, próprias dos centros urbanos do século XIX.

Van Gogh pintando os girassóis (1888), de Gauguin. Dimensões: 73 em x 91 em. Museu Van Gogh.

Vairumati, de Gauguin. Dimensões: 73 em x 94 em. Museu D'Orsay, Paris.

Duas Taitianas, de Gauguin. Dimensões: 94 em x 72,4 cm. Metropolitan Museum of Art

Paul Cézanne (1839-1906) também iniciou sua carreira ligado ao Impressionismo,mas não demorou a tomar outro rumo. Ele não se interessou em registrar as variações causadas pela luz solar. Buscou, isto sim, representar o que não muda nos seres,o que permanece:procurou as linhas com que objetos e elementos da natureza podem sem ser representados.

Cézanne: a geometria da natureza

A busca do que permanece

Observe nesse quadro como as árvores são desenhadas com uma forma cilíndrica bem definida. Veja também como é nítida a diferença entre linhas horizontais e verticais.

O castelo de Médan (1879-1881), de Cézanne. Dimensões: 51 em x 76 em. Coleção Burrell, Glasgow.

Com o tempo, a tendência de Cézanne em converter os elementos naturais em formas geométricas - cilindros, cones, esferas - acentuou-se.

Sua arte amadureceu no período de 1885 a 1895, quando morou em Aix-en-Provence, sul da França, longe da agitação de Paris. Nessa época, pintou alguns retratos do filho e da mulher.

Madame Cézanne (1890), de Cézanne. Dimensões: 89 em x 70 em. Museu de Arte, São Paulo.

Nas pinturas que Cézanne fez da família podemos observar o mesmo tratamento dado a objetos e elementos da natureza. Nesse retrato fica clara sua intenção de utilizar figuras geométricas: observe como o rosto da mulher do pintor parece uma figura oval e os braços lembram as formas de um cilindro.

Natureza morta com maçãs e laranjas,(1895-1890), de Cézanne. Dimensões: 73 cm x 92 cm. Museu dÓrsay

Jogadores de cartas (1892-1895), de Cézanne.

Olhando a pintura de Cézanne é fácil compreender a enorme influência por ele exercida sobre os artistas do início do século XX, que criaram a chamada arte moderna.

Banhistas (1906), de Cézanne. Dimensões 208 X 248 cm - Museu de Arte da Filadélfia

O holandês Vincent Willem Van Gogh (1853-1890) empenhou-se em representara beleza do ser humano e da natureza por meio da cor, elemento fundamental de sua pintura. Foi contemporâneo de muitos pintores e aproximou-se de alguns deles, como Toulouse Lautrec e Gauguin. Mas, na verdade, foi uma pessoa solitária, com uma trajetória difícil.

Van Gogh: a emoção e a cor

A produção artística de Van Gogh passou por vários períodos, desde os primeiros quadros, em torno de 1880, até próximo de sua morte, em 1890.O primeiro período está ligado à época em que conviveu com os mineiros belgas. Nas obras da época, percebe-se a tradição holandesa do claro-escuro e o interesse por temas sociais. As cores são sombrias; as personagens, melancólicas.

05 comedores de batata (1885), de Van Gogh. Dimensões: 82 em x 1,14 m. Museu Vineent van Gogh, Amsterdã.

Mulheres mineiras carregadoras.

Em 1881, depois de vários conflitos pessoais, Van Gogh voltou para a casa da família, na Holanda. Em 1886 foi para Paris e conheceu o Impressionismo,que logo abandonou, pois procurava um novo caminho para sua arte. Interessou-se, então, pelo trabalho de Gauguin, principalmente porque esse pintor buscava simplificar as formas, reduzir os efeitos da luz e usar zonas de cores bem definidas. Em 1888 deixou Paris e foi para Arles, no sul da França, onde passou a pintar ao ar livre.O sol forte da região mediterrânea influenciou sua pintura e ele apaixonou-se pelas cores intensas.

Jarra com catorze girassóis (1888), de Van Gogh. Dimensões: 93 cm x 73 em. Galeria Nacional, Londres.

Carta ao irmão Theo

Van Gogh escreveu muitas cartas ao irmão, a familiares e a amigos. Numa delas, comenta a beleza da cor amarela revelada pela luz do Sol da região de Arles. Observe,no trecho a seguir, como ele procurou palavras que transmitissem ao irmão uma idéia desse amarelo.

"Arles, agosto de 1888. Agora nós temos aqui um glorioso e forte calor sem vento, o que é bom para o meu trabalho. Um sol, uma luz, que por falta de nome melhor, eu chamo de amarelo, amarelo-limão claro, limão claro-ouro. Como é bonito o amarelo“.

Extraído de: Tout L’oeuvre peint de Van Gogh.Paris: Flammarion,1971. v. 2, p.126.Les Classiquesde I'art Flammarion

Quarto em Arles Vincent van Gogh, outubro de 1888 óleo em tela 72 × 90 cm Museu Van Gogh, Amsterdã

Quarto em Arles (2ª versão) Vincent van Gogh, setembro de 1889 óleo em tela 73 × 92 cm Instituto de Artes de Chicago

Quarto em Arles (3ª versão) Vincent van Gogh, setembro de 1889 óleo em tela 56.5 × 74 cm Museu de Orsay

Observe nessa obra o emprego da cor amarela, quebrada por pouquíssimas outras cores.

Jardin des Maraichers (jardim de hortas) 1888, de Van Gogh. Riiksmuseum, Amsterdã.

Van Gogh sofreu várias crises nervosas. Depois de internações e tratamentos médicos, em 1890 foi para Anvers, cidade tranqüila ao norte da França. Em três meses, pintou cerca de oitenta telas com cenas inquietantes, nas quais predominam cores fortes e linhas retorcidas. Nesse mesmo ano,Van Gogh suicidou-se, deixando uma obra composta por pinturas, desenhos e gravuras.

Enquanto viveu,Van Gogh não teve reconhecimento: o público e os críticos não souberam ver em sua obra os primeiros passos em direção à arte moderna, nem compreender seu esforço para expressar a beleza dos seres por meio de uma explosão de cores.

Van Gogh pintou essa tela alguns dias antes de sua morte. Observe como as pinceladas são bem visíveis e as cores pouco se misturam. Note, ainda, que os elementos que compõem a paisagem, como os pés de trigo, os caminhos de terra no meio da plantação, o céu e os corvos são apenas sugeridos ao observador.

Irises, de Van Gogh (1889), óleo sobre tela .Dimensões: 71 cm × 93 cm - J. Paul Getty Museum, Los Angeles, California

Amendoeira em flor, de Van Gogh (1890), óleo sobre tela .Dimensões: 73 cm × 92 cm. Amsterdã , Vincent Van Gogh Museum

É impossível associar a obra de Toulouse-Lautrec (1864-1901) a qualquer tendência da arte do final do século XIX;desde cedo seu talento mostrou-se original. Ele viveu apenas 37 anos, mas o fez intensamente, sempre em busca dos breves momentos verdadeiros da vida das pessoas. Nasceu em uma rica propriedade rural no sul da França, mas foi a vida urbana e agitada de Paris que ele registrou de forma inconfundível.

Toulouse-Lautrec: a vida brevee o traço rápido

The cancan, portrayed in La Troupe de Mademoiselle Eglantine, lithograph by Henri de Toulouse-Lautrec, 1896.

Os parisienses que lhe interessaram eram artistas de circo, dançarinas, freqüentadores de bares e cabarés, prostitutas e pessoas anônimas. Ele soube registrar, com poucos, mas importantes detalhes, os traços mais significativos dessas personagens e de seu ambiente.

No circo Fernando: a amazona (1887-1888), de Toulouse-Lautrec. The Art Institute, Chicago

Nessa tela, além de personagens próprias de Toulouse-Lautrec – os artistas de circo-, observe o modo como ele trabalhou o desenho e a pintura. Veja como o corpo do cavalo sugere força e movimento. Repare nos traços do rosto e na posição do braço do adestrador de cavalos segurando o chicote: com esses detalhes, o pintor transmite a autoridade necessária para que a personagem controle o cavalo, que gira pelo picadeiro com uma dançarina montada. Note também a agitação da cena, da qual também fazem parte palhaços, dos quais temos uma visão parcial, assim como de algumas pessoas da platéia.

Retrato de Vincent Van Gogh (1887), de Toulouse-Lautrec. Pastel sobre papel. Dimensões: 54 × 45 cm

De modo geral, o que caracteriza a pintura de Toulouse-Lautrec é sua capacidade de representar, com poucas linhas, o contorno expressivo das figuras e o movimento da realidade. Quanto aos temas, seus quadros apresentam o interior dos ambientes: o circo,o bar, o bordeI. A natureza, quando aparece,é mero cenário. O que interessa ao pintor é recriar o drama pessoal de seus contemporâneos.

Alone – 1896 – Toulouse-Lautrec. Óleo sobre placa - Dimensões: 31 x 40 cm. Musee D'Orsay, Paris

Henri Toulouse-Lautrec: the photographer sescau (poster) 1894

O estilo de Toulouse-Lautrec, em que se destacam os traços rápidos e vigorosos, revelou-se perfeito para desenvolver-se um tipo de arte que você, certamente, conhece bem: o dos cartazes e pôsteres publicitários. Antes de Toulouse-Lautrec, os cartazes para esse fim eram meramente informativos, com muito texto, sem qualidade artística. Com seus cartazes anunciando, por exemplo, os espetáculos de dança do famoso Moulin Rouge, de Paris, o pintor inaugurou uma nova forma de publicidade: a que procura conquistar o público por meio de imagens coloridas e atraentes e de textos bastante sucintos. Afinal, como diz o provérbio chinês, "uma imagem vale mais do que mil palavras".

Henri Toulouse-Lautrec: Jane Avril at the Jardin de Paris (poster)- 1893 ----- Henry Toulouse-Lautrec: May Belfort_(poster) - 1895

Cartaz do Moulin Rouge criado por Toulouse-Lautrec.

Como nenhum outro artista, Toulouse- Lautrec captou a sociedade e o ser humano do final do século XIX, período conhecido como "belle époque". Ele conseguiu expressar algo que vai além da aparente alegria e superficialidade que se costuma atribuir à sociedade européia da época, sobretudo à francesa.

A Goulue chegando no Moulin Rouge acompanhada de duas mulheres, por Toulouse-Lautrec – 1892.

Rue des moulins, the medical inspection 1894, por Toulouse-Lautrec.

Observe nesta obra a criatividade de Toulouse-Lautrec. Com poucos traços e cores ele conseguiu retratar uma situação extremamente humana. Ivette Guilbert era uma declamadora famosa na época. Na cena retratada pelo artista, porém, ela já está envelhecida e agradece ao público com um sorriso triste e o rosto coberto por uma maquiagem que mais parece uma caricatura.

Yvette Guilbert saúda o público (1894), de Toulouse-Lautrec. Dimensões: 48 cm x 28 cm. Museu Toulouse-Lautrec, Albi.

Salão na Rue des Moulins - 1894 - óleo sobre tela, de Toulouse-Lautrec. Dimensões: 111,5 × 132,5 cm. Museu Toulouse-Lautrec.

F I M