“Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas já eu teria...

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“Há esperanças que é loucura ter.

Pois eu digo-te que se não fossem essas

já eu teria desistido da vida.”

José Saramago, em ‘Ensaio Sobre a

Cegueira’

Há vinte anos, a Eco-92 reuniu chefes de estado, lideranças

mundiaise ativistas de ONGs, que discutiram sobre como conciliar

preservação ambiental e desenvolvimento socioeconômico.

Passados vinte anos,

o Brasil sediará o encontro

“Rio+20”, que tem por tema

central a transição para a economia verde.

O evento gira em torno da proposta de adoção de um novo sistema

produtivo, com base na baixa emissão de

poluentes, na eficiência no uso dos recursos

naturais e na erradicação da pobreza.

A conferência ocorre em um momento geopolítico crítico. Com 7 bilhões de pessoas, nunca se falou tanto nos

limites físicos do planeta.

No entanto, é evidente a falta de vontade política para se discutir o

futuro.

Nos encontramos

num momento de crise

econômica,exacerbada pela pressão maior

sobre os recursos naturais, ampliação da

pobreza,redução da segurança,

continuidade de conflitos violentos,

e degradação ambiental

sem precedentes.

Passados vinte anos

desde a Eco-92,a oportunidade de construir um

mundo mais seguro, mais

justo e mais unido

foi,em grande

parte, desperdiçada.

Especialistas apontam que

alcançamos um ponto crítico,

poderemos não chegar

a ter uma “Rio+40”,

pois não haverá tempo.

e que, caso não modifiquemos

nossos padrões de produção

e de consumo,

COLAPSO (sm.): do latim collapsus – 1. Fracasso, esgotamento,

acidente, pane, enguiço; 2. Estado de crise, paralisação, ruína, desmoronamento

ou extinção de algo.

Parte 1 – Colapso

“Estamos gravemente além do

limite suportado pela

natureza, consumindo os

recursos disponíveis muito

mais rápido do que a Terra é capaz de repô-los...”

“As consequências

disso são previsíveis e terríveis.”

James Leape,diretor-geral do

WWF Internacional

A demanda por recursos

naturais dobrou desde a década

de 1960.

– vítima do avanço das atividades humanas, como mineração,

agricultura e pesca, sobre florestas e oceanos.

A biodiversidade encolheu 30%

em todo o mundo entre 1970 e 2008,

O desenvolvimento tecnocientífico, dissociado da consciência ecológica,

fez com que saqueássemos os recursos naturais numa escala sem

precedentes.

E a ruptura entre o trabalho e o cuidado

fez com que o afã desmedido de produção

se revertesse na ânsia incontida de dominação das forças da natureza.

Vangloriamo-nos com a ilusão de progresso,

sem atentar para o fato de que somente avançamos no campo

tecnocientífico,– e não na ética, na política, nas

artes, na educação, na cultura, na

humanidade...

Os limites do capitalismo são os limites da Terra.

E já encostamos perigosamente nestes limites; tanto da Terra,

quanto do capitalismo.

Os limites do capitalismo são os limites da Terra.

E já encostamos perigosamente nestes limites; tanto da Terra,

quanto do capitalismo.

O cego apego a bens e confortos materiais tem nos conduzido até a beira do abismo.

Já não podemos prosseguir com a perversa lógica

do capital, baseada

no acúmulo, na ostentação

e no desperdício:...

“Quem não tem quer;

quem tem quer mais;

quem tem mais diz que nunca é

suficiente.”(onde haveremos de chegar assim?)

“Eco-suicídio” é o termo que especialistas

usam para designar

a incapacidade de se entender a fragilidade do

meio ambiente, combinada com a ganância que leva à exploração dos recursos naturais

muito além do limite sustentável.

A nossa voracidade

consumistas desmedida tem

dilacerado o patrimônio

ambiental com tal ímpeto que será

sentido por muitas gerações adiante.

Os atuais padrões de extração, produção, consumo e descarte,

mostraram-se insustentáveis,...

...além da capacidade de reposição e regeneração

do planeta.

A pegada ecológica que deixamos: montanhas de

lixo e resíduos.

Tempo médio que leva para se decompor na

natureza:Plástico: de 200 a 400 anos / Fralda descartável: 450 anos

Pilha: até 500 anos / Vidro: indeterminado

Quantidade de pneus produzidos no mundo anualmente: 900 milhões.

Tempo que os pneus levam para se decompor

na natureza: indeterminado.

Devemos começar a cultivar

a solidariedade intergeracional,

para com os que virão

depois de nós. Eles também precisam

satisfazer suas necessidades, e

habitar um planeta

minimamente saudável.

Há sempre uma escolha para cada grande

desafio.Seremos capazes

de modificar nossos hábitos, e responder à

altura aos desafios que

enfrentamos?

Imagem de celulares descartados.Somente nos EUA, cerca de 426.000 aparelhos

são jogados fora diariamente, trocados por modelos mais novos.

A vida útil hoje de um celular, da aquisição ao descarte, é de 7,5

meses.

Quase todos os aparelhos descartados encontram-se em perfeitas condições de uso.

E juntamente com os aparelhos vão-se embora também carregadores,

baterias, acessórios...

Pássaro manchado de óleo, os olhos avermelhados pela irritação.

Homem se aventura a nadar

nas águas poluídas de um lago na Caxemira.

A Terra está manifestando

sinais inequívocos de que já não aguenta

mais.

A Terra está manifestando

sinais inequívocos de que já não aguenta

mais.

Na Ilha de Java, na Indonésia, moradores enfrentam estações

secas cada vez mais longas e severas.

Em Sydney, Austrália, mulher tenta se

equilibrar frente à forte chuva.

Família paquistanesa luta pela sobrevivência

diante da forte tempestade.

O temor, tremor e assombro diante de forças que não podemos

enfrentar,– que não se sujeitam a negociação ou

controle.

“O homem é parte da natureza e sua guerra contra a natureza é

inevitavelmente uma guerra contra si mesmo...”

“Temos pela frete um desafio como nunca a humanidade teve, de provar nossa maturidade e nosso domínio, não da

natureza, mas de nós mesmos”.

Num vilarejo indiano, mulheres percorrem

longas distâncias em busca de água.

Atualmente, quase 900 milhões de pessoas em todo o mundo encontram-se sem acesso

a fontes de água limpa.

900 milhões de sedes que não haverão de ser saciadas com a simplicidade de um copo de

água potável.

A água é tratada por muitos especialistas como

“ouro azul”, cuja crescente escassez começa a ocasionar amplos deslocamentos de

refugiados climáticos.

A escassez de água potável já causa 1.6 milhões de mortes por ano, além de

crescentes disputas e conflitos bélicos.

Na província indiana de Natwarghad, pessoas se aglomeram em torno de um poço em busca

de água.

No estado do Pará, uma mulher carrega água, tendo ao fundo um afluente, outrora formoso e

hoje quase seco, do rio Amazonas.

O que está em jogo neste crucial momento que

atravessamos é o destino do processo

civilizatório, o futuro da vida

no planeta.

REGENERAR (v.): Fazer-se novo.

Parte 2 – Regeneração

“O belo é uma manifestação das leis

secretas da natureza...”

“...que, se não se revelassem a nós

por meio do belo, permaneceriam eternamente

ocultas.”Goethe

Educar as futuras gerações de modo que possam lançar um olhar generoso sobre a

vida.

Que saibam vivenciar um novo paradigma de

relacionamento com o mundo e com todos os

seres.

Que possam enxergar a beleza e a poesia que repousam na natureza,

e respeitar os seus limites e a sua fragilidade.

Tradições remotas

ensinam que o mundo é um

jardim,e o ser humano, um cuidador, um jardineiro.

Devemos cultivar e cuidar

da Terra com sabedoria e

senso de justiça, estética

e bondade.

O universo caminhou 15

bilhões de anos para produzir o planeta que habitamos,...

...essa admirável obra que nós, seres

humanos, recebemos

como herança, para preservar e

cuidar como guardiões e fiéis

jardineiros.

Lembrar que o caminho da triste

decadência, na qual o mundo enveredou, não

leva consigo todos.

Aqui e ali brota a consciência, bela e esplendorosa como

sempre, eternamente livre.

Apesar do mundo que diante de

nossos olhos se apresenta, prosseguir

trabalhando por outros mundos

possíveis.

Num mundo onde impera quase

exclusivamente o culto ao intelecto, à aparência e à

posse,...

...procurar cultivar a vida moral,

a interioridade;resgatar a

compaixão, a espiritualidade.

Gravar na alma o antigo ditado indígena que nos ensina:...

“Anda com mansidão

sobre a terra – ela é

sagrada.”

“Ame, e siga sua

bem-aventurança.”

A superação da atual crise

haverá de nos conduzir para a fundação de um

novo ensaio civilizatório.

Caminhos que levam a

outros mundos possíveis.

Onde ecologia exterior e interior

se harmonizarão, e devolverão

equilíbrio e paz à Terra.

E se realizará nosso anseio ancestral pela verdade, pelo

bem, pelo belo, pelo afeto, pelo

sagrado.

“Damos voltas e voltas, mas,

na realidade, só há duas coisas:...”

“...ou você escolhe a vida,ou se afasta

dela.”José Saramago

Fomatação: um_peregrino@hotmail.com

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