Herbie Hancock 2 - audiopt.com fileNão imagino melhor começo de carreira para um músico do que...

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Não imagino melhor começo de carreira paraum músico do que aos 22anos lançar um álbumdeste calibre, que lhe permitiria integrar depois o quinteto de Miles Davis(o nome do LP é logosugestivo do que se seguiria). Começamos comWatermelon Man, que setornaria rapidamente nummega-hit internacional.Aliás o mais incrível desteálbum é conseguir unir oque à partida parecia serimpossível de unir: bomjazz e mega sucessoscomerciais.

A simplicidade deste tema e a facili-dade com que nos entra no ouvido(não deduzir daqui que é música«fácil» no mau sentido do termo)explicam logo o seu sucesso. Duvidoaté que a maior parte das pessoasnão conheça esta música, presenteem anúncios de televisão, tocada pordezenas de músicos depois do seulançamento e presença constante eminterpretações de jazz ao vivo emLisboa, especialmente nas jam ses-sions dos alunos das escolas de jazz.Aliás as músicas simples e melodiosasde Hancock, assentes em movimen-tos rítmicos suaves e constantes, têmsido uma fonte de inspiração paraaquilo que tem sido o renascer dojazz nos últimos anos, sob a forma damúsica electrónica e dos seus remi-xes, na chamada «música de eleva-dor» que tanto sucesso tem tido. Euma das principais «vítimas» dos DJ’stem sido precisamente o pianistanorte-americano. Este facto nãodeixa de ser curioso. O jazz tentou aolongo dos anos, do meu ponto devista com muito pouco sucesso, intro-meter-se na música electrónica (eHancock foi um dos que mais ten-tou). Com a explosão deste tipo de

ta de bons solos. Já quanto a críticas,a mais comum feita a este disco éque as músicas são boas mas muitopouco originais. Originais ou não, averdade é que quarenta e cinco anosdepois ainda as toca muita gente e odisco continua a ser considerado umareferência incontornável. Um clássicodo jazz a não perder, e que se acon-selha a quem ande a ouvir os últimostrabalhos de Herbie e não perceba oporquê da sua fama. Ele está aqui...

1964 – Empyrean Isles

Se dúvidas havia, elas dissiparam-seem 1964 com este LP, e com o imor-tal Cantaloupe Island, o seu melhor emais famoso tema, presença em inú-

música nos anos 90 e com o surgi-mento dos primeiros produtores pro-fissionais, logo a onda dos remixesveio para durar e, admita-se, não sócom sucesso comercial mas tambémcom trabalhos bem feitos. Sem con-tar com o lado mais importante dojazz (a improvisação), esta músicatransforma um estilo musical tantasvezes de difícil audição em músicassimples e melodiosas, que devemosouvir sem preconceitos.

Mas, voltando ao LP, ele segue com amesma classe da primeira música:temas simples e improvisações exce-lentes. Aliás, temas como EmptyPockets ou The Maze, sem terem osucesso do primeiro, são igualmentebastante famosos. Hancock revela jáaqui um talento e uma técnica forado comum, não só a solar como aacompanhar, e sem dúvida muitoincomuns num jovem de 22 anos.Butch Warren (baixo) e Billy Higgins(bateria) fazem o que se lhes pede,assegurando uma base rítmica sólidae suave. Os sopros, com os conheci-dos Freddie Hubbard (trompete) eDexter Gordon (sax tenor), têm umaprestação ao nível de Hancock, reple-

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JAZZMANIA ●Miguel Gonçalves

Herbie Hancock 2

meros anúncios de TV, campanhas derádio, concertos, etc... Na senda daharmonia modal que começava naaltura a singrar em detrimento daharmonia tonal do bebop, este temaé de certeza dos melhores de jazz

moderno. Outro clássico presentenesta edição é One Finger Snap, queapesar de ofuscado pela música ante-rior, não perde qualidade por isso.Acompanhado novamente porFreddie Hubbard (desta vez na corne-ta), que faz um solo daqueles quedevem ser estudados em CantaloupeIsland, a secção rítmica já impõe maisrespeito desta vez, com os conheci-dos (na altura ainda não tanto) RonCarter (baixo) e Tony Williams (bate-ria) (isto era o Quinteto de Miles Davissem o próprio). Mais um LP a nãoperder, e que nos dá vontade desonhar com o que Hancock podia terfeito com a sua carreira com umcomeço destes...

1965 – Maiden Voyage

O terceiro elemento do Trio de Ourodo pianista. A música que dá o nomeao álbum vem na senda das anterior-mente referidas e é incontornávelpara amantes e estudantes de jazz.Seguindo a tradição de melodias sim-ples e harmonias modais, Hancockintroduz aqui, creio que pela primeiravez, os acordes suspensos, acordesque não têm terceira maior nem

ria e outra vez Ron Carter no baixo,aparecem-nos três elementos poucocomuns nos sopros: Thad Jones,Peter Philips e Jerry Dodgion. Os doistemas mais conhecidos são o próprioSpeak Like a Child e The Sorcererque, não sendo hits, estão dentro dosprincipais da obra de Herbie. Maiscalmo e menos interessante que osseus predecessores, é um razoável LPde jazz, interessante de vez em quan-do. Mas não mais do que isso.

Conclusão: Com os três primeirosálbuns Hancock entrou logo para ahistória do jazz e, se juntarmos a istoa sua presença no quinteto de MilesDavis, então Hancock marcou defini-tivamente a década de 60. Talentosoe criativo, deu ao mundo temas imor-tais e mostrou muitas vezes o cami-nho na sua exploração da harmonia

modal, de temas simples e melodio-sos, e de novas formas harmónicascomo os acordes suspensos. Trêsálbuns imperdíveis para quem goste equeira perceber de jazz e um razoáveldisco que seria uma obra-prima paramuitos músicos, mas que aqui não seconsegue impor face à intemporali-dade dos outros.

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menor na sua estrutura e sim a quar-ta, o que significa que não são acor-des nem maiores nem menores. Naprática isto resulta num som vago esem resolução, a que o nosso ouvidonão parece estar habituado. Mas,

mais uma vez, não nos reduzimos aum só clássico, com The Eye of theHurricane, outro tema presente emqualquer bom reportório de jazz, eque tem as mesmas características equalidades dos anteriores e que é des-necessário repetir. Também DolphinDance, um standard não tão conheci-do como os dois últimos temas,impressiona pela simplicidade e melo-dia. Miles Davis disse uma vez “less ismore”, um ensinamento queHancock interiorizou primeiro e exte-riorizou depois na perfeição. Quantoà banda, é a mesma do LP anterior,com a adição (importante) de GeorgeColeman no sax tenor.

1968 – Speak Like a Child

Não tão conhecido como os anterio-res, não deixa de ser um bom LP, eque fecha a década de ouro deHancock. Com Mickey Roker na bate-

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