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ADRIANE ZANLORENZI DA SILVA
INDISCIPLINA EM SALA DE AULA
Monografia apresentada para obten9iioo titulo de Especialista no Curso deP6s-Gradua,iio em Psicopedagogia daUniversidade Tuiuti do Parana.Orientadora: Rosilda dos SantosDaliagassa
CURITIBA2001
AGRADECIMENTOS
Agradel'o especialmente il minha orientadora, a Professora Rosilda dos
Santos Oallagassa, a qual me ajudou a realizar este trabalho, incentivando-me
a elaborar esta pesquisa, a qual foi de grande valia para 0 meu enriquecimentoprofissional.
iii
SUMARIO
RESUMO ..
1 INTRODUi;AO
2 FUNDAMENTAi;Ao TEORICA. ..
3 DESENVOLVIMENTO ..
. ..... v
..... 01
...02
. 06
3.1 A INDISCIPLlNA. ..
3.1.1 NivEIS DE INDISCIPLlNA. ...
....06
....09
3.1.2 A DISCIPLINA NORMATIZADA E A INDISCIPLINA EMERGENTE.. ..10
3.1.30 PORQUE DA INDISCIPLlNA .... . 12
3.1.4 COMPORTAMENTOS INDISCIPLINADOS .... . 18
3.2 INDISCIPLINA NA SALA DE AULA E RELAi;OES DE PODER.. . 21
3.3 CURRicULOS ESCOLARES E OBJETIVOS INDIVIDUAlS.. . 27
3.3.1 A INDISCIPLINA NAS AULAS DE EDUCA<;:AO FislCA 27
3.4 OS PAIS E A INDISCIPLINA ESCOLAR ... . 29
3.4.1 A INDISCIPLINA DOS PAIS .. .... 32
3.5 PREVEN<;:AO DA INDISCIPLINA 33
3.5.1 ESTRATEGIAS UTILIZADAS PELOS PROFESSORES NO COMBATE AINDISCIPLlNA... . 34
3.6 QUANDO A INDISCIPLINA VIRA VIOLENCIA... . 38
3.7 COMO MINIMIZAR A INDISCIPLlNA.... . .43
4 CONCLUsAo... .46
5 BIBLIOGRAFIA... . ...48
iv
RESUMO
Pelo fata de na atualidade vivenciar-se, na maioria dos estabelecimentos
educativos, urna grande indiscipiina por parte dos educandos, dentro e fora das
salas de aula, optou-se par este tema para que, atraves de urn estudo
cientifico, possa-s8 tentar compreender as motivos pelos quais as crian~s e
adolescentes comportam-se de maneira tao agressiva.
Se faz necessaria a busca de metodos e medidas, as quais possam vir a
solucionar este fata, 0 quai S8 torna pernicioso tanto para os portadores do
determinado comportamento, como tambem prejudica aquetes que sao
obrigados a conviver com tais elementos, sendo assim abalados no seu
desenvolvimento educacional.
Muitas vezes a indisciplina aeaba gerando vioh§ncia, para que
isso nao ocorra, pais e professores devem encontrar 0 que esta levando 0
aluno a ter urn comportamento lndisciplinado, e atraves do dialogo tentar
solucionar 0 problema, para que este nao se agrave, gerando consequencias
mais serias.
v
1 INTRODUC;Ao
Podemos dizer que de todos os problemas da escola de hoje, quer na
relac;ao professor-aluno, quer no meio s6cia-cultural, no qual esta inserida a
escola, 0 maior e, sem nenhuma duvida, a indisciplina que aconteee com as
criang8s independente da idade e do nivel s6cio-econ6mico.
Sabemos que a passagem pela escola tem a fun9iio de preparar 0
individuo para que este viva em harmonia com Qutro tipo de moral, que nao a
afetiva somente.
Debateremos, entaD, fatores que levarn a indisciplina, as nlveis de desta
numa sala de aula, urn plano de preveng80 para combate-Ia, bern como a
maneira de lidar com a mesma e possiveis soluc;oes para que 0 docente possa
gerir a indisciplina patente.
Tentaremos dar urn conceito de indisciplina e de educac;:ao, vista que
as dais conceitos S8 interligam e estao eternamente associados.
o interesse pessoal em desenvolver ° estudo sobre disciplina, surgiu a
partir de varias discuss6es no ambiente escolar, sempre procurando meios
para sana-Io e analisando atraves de varias 6ticas, pois a sociedade na qual S8
estabelece 0 seu exercicio, alem de ser constituida por uma diversidade de
culturas, vive em constante transformac;ao.
2
2 FUNDAMENTACAO TEORICA
Estamos vivendo urn momento social no qual fica clara a necessidade
de restabelecer os limites na educaC;Elodas crianc;as e dos jovens. Frutos de
urna gerac;ao de pais que percteram os ~mapas de serem paisn, e de urna
sociedade altamente complexa e em profunda transforma9iio, marcada por
urna crise de valores. Cabe ao educador, enquanto formador das novas
gerac;6es, resgatar os valores do passacto, mas estar aberto aos noves valores,
em fun9iio das necessidades colocadas pelas contradi90es sociais, politicas,
economicas, culturais, num processo de continuidade ruptura.
A grande dificuldade da disciplina e este tensionamento dialetico que 0
educador tem que viver na rela9iio pedagogica, ha necessidade da dire9iio do
professor, mas, ao mesma tempo, ha a necessidade da iniciativa do aluno, que
sao duas tendencias contradit6rias. Mas 0 processo pedagogico nao vive sem
isto. Na eseela, e preciso adaptar 0 aluno as normas existentes, 56 que S8
fizermos apenas issa, 0 aluno vai se tornar mais um reprodutor do sistema que
ai esta. E fundamental que a aluno aprenda a perguntar: Por que? Para que?
Qual 0 sentido disto que se esta pedindo, ou seja, aprender a questionar a
legitimidade dos limites que sao colocados.
o conceito de disciplina geralmente esta relacionado a obediencia, isto
porque ha uma verdadeira Mlutade classes onde 0 professor esta procurando
sobreviver num contexto desgastante: mal formado, mal remunerado, sem
tempo para preparar as aulas, para se recic1ar, sem apoio dos colegas, da
coordenayao, etc. 0 trabalho do professor e muito estressante"
(VASCONCELLOS, 1996, p.40).
Entao a minima que um professor espera de seus alunos, e um
comportamento passivo.
"A disciplina pode ser entendida diferentemente, segundo a tarefa do
mestre e considerada como de puro ensino au de educagao e segundo a aluno
e considerado como uma simples inteligencia a guarnecer de conhecimentos
ou como um ser a formar para a vida" (WALLON IN: VASCONCELLOS, 1996,
p.37).
"Geralmente, a disciplina e entendida como adequa9ao do
comportamento do aluno aquila que a professor deseja. S6 e considerado 0
aluno que se comporta como 0 professor espera, sendo que a aluno
indisciplinado e caracterizado como desobediente". (BARRETO. IN:
VASCONCELLOS, 1996, p.38).
VASCONCELOS (1996, p. 26) aponta algumas perspectivas de trabalho
que tern se revelado importantes media90es para a constru9ao de uma
disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola.
• Construgao coletiva do projeto educativo da escota, destacando:
a finalidade da escola, 0 sentido do estudo.
o conceito de disciplina que 0 grupo assume.
• Explicita980 dos criterios, do que se quer, do que se entende como urn
bom professor.
• Conquistar e ocupar bern a espa90 de trabalho coletivo constante
(reuniiio pedagogical.
• Trabalhar abertamente as contradi,,6es:
Entre discurso e discurso (dos sujeitos e/ou institui90es).
Entre discurso e pnltica (dos sujeitos da mesma institui~ao).
4
Entre pratica e pratica (dos sujeitos efou institui~6es).
• Buscar sempre visao de totalidade: dificilmente compreenderemos
adequadamente 0 problema da disciplina S8 ficarmos com uma visao
parcializada, buscando os "culpados" ou a solu~iio em algum segmento
isolado dos demais.
• T er visao de processo: as eoisas nao muda de uma vez.
Para TIBA (1996, p. 33) a disciplina escolar e um conjunto de regras que
deem ser obedecidas para 0 exito do aprendizado escolar. Como em qualquer
relacionamento humano, a disciplina e precise levar em conta as
caracteristicas de cada urn dos envolvidos: professor, aluno e ambiente.
o professor e essencial para a socializ8c;ao comunitaria, tern
basicamente quatro func;6es:
a) Professor propriamente dito: Para poder ensinar, e necessaria saber 0
que S8 ensina. IS50 S8 aprende no curricula profissional. 0 professor
precisa, tambem, conseguir transmitir 0 que sabe.
b) Coordenador do grupo de alunos. 0 professor tem de identificar as
dificuldades existentes na classe para poder dar urn born andamento aaula.
c) Membro do corpo docente. Os professores devem se ajudar
mutua mente, como fazem os estudantes entre si. 0 fato de ser professor
nao e garantia de estar sempre certo.
d) Empregado de uma institui~iio. Como todo empregado 0 professor tem
direitos e obriga90es.
5
o aluno tambem e a perya chave para a disciplina esco[ar e 0 sucesso do
aprendizado. Atualmente, a maior dificuldade que S8 encontra para estudar e a
falta de motivag8o.
o ambiente interfere na disciplina, classes barulhentas, onde ninguem
ouve ninguem, salas sem manutenry80 adequada au sem condic;:oes de
acomodagoes suficientes serao pouco provc3veis as condic;oes para S8
conseguir uma boa disciplina.
De acordo com TEIXEIRA (1993, p. 65) "a indisciplina e 0 resultado de
aprendizagens interligadas em todas as areas afetiva, cognitiv8, matara,
iniciando-se nos primeiros dias de vida e continuando a vida inteir8, objetivando
o desenvolver, 0 autocontrole e 0 auto-respeito do aluno".
6
3DESENVOLVIMENTO
3.1 A INDISCIPLINA
A indisciplina e atualmente definida como a negac;iio da disciplina. isto e.a viola98o de normas estabelecidas. Temas que perceber a pluralidade deste
conceito vista que temos de enquadrar estas normas a urna dada coletividade,
a um determinado tempo e a um contexto socia1. Ha portanto diversos tipos de
(in)discipHna: temos disciplina militar, religiosa, desportiva, partidaria, sindical,
de um clube de matematica. escolar. etc. Sendo a ultima a (in)disciplina escolar
a que pretendemos dar foco.
Par isso, no contexto escolar, "a indisciplina e 0 que impede ou
dificulta 0 decorrer do processo de ensino-aprendizagem". (FARIAS. 1979, p.
15)
a conceito de indisciplina naD surgiu espontaneamente. Na
Gracia Antiga S8 associava disciplina a harmonia individual tanto exterior
como interior, isto e, como urna "paz" com ele pr6prio e com a sociedade
em que esta inserido. Com 0 Cristianismo, a ide;a de harmonia interior
veio a ser refon;ada, mas com uma ligayao da procura do Homem do
reino de Deus, ficando assim com uma carga etico-religiosa. S6 recentemente
esta carga comegou-se a desanovear: nos palses ocidentais com as
novas concepgoes educativas que poem em causa a educag80 tradicional;
na sociedade socialista MO homem indisciplinado e aquele que se volta
contra a coletividade cujo interesse esta sempre acima do individuo" (FARIAS,
1979, p. 24).
7
Agora, 0 canceito de indisciplina e mais tormentoso. Extrai-se do
Dicionario Aurelio, os seguintes conceitos de disciplina e indisciplina:
Disciplina - Regime de ordem imposta au livremente consentida; Ordem
que convem ao funcionamento regular duma organiz898o (militar, escolar etc.);
Rela90es de subordina98o do aluno aD mestre au aD instrutor; Observancia de
preceitos au normas; Submissao a um regulamento.
Indisciplina - Pracedimenta, ata au dita cantraria a disciplina;
desobediencia; desordem; rebeliae.
TIBA (1996, p. 12) define disciplina como "0 canjunta de regras eticas
para S8 atingir um objetivo" A etica e entendida, aqui, como 0 criteria
qualitativo do comportamento humane envolvendo e preservando 0 respeito ao
bem-estar biopsicossocial.
Outra definigiia de indisciplina e farnecida par TAILLE (1994, p. 23)
se entendermos par discipiina comportamentos regidos par umconjunto de normas, a indiscipiina podera se traduzir de duas formas: 1) arevolta contra estas normas; 2) a desconhecimento delas. No primeiro caso, aindisciplina traduz-se par uma forma de desobediencia insolente; no segundo,pelo caos dos comportamentos, pela desorganizagao das relayCies.
Outrora a disciplina era urn conjunto de rneios, mais ou menDs
violentos, para se conseguir a ordem na Escola. lirnitava-se a dominar a
turbulencia natural do aluno, privando-o das suas iniciativas, da
manifestayao natural das suas tendencias e contrariando a sua necessidade de
movimento.
"A disciplina e a moral da classe" (DURKEIM, IN: ESTRELA, 1996, p.
75).
8
"SO ha desordem quando ha falha na organiza<;:ijo do trabalho, quando a
crianc;a naD esta ocupada numa atividade que responde aos seus desejos e as
suas possibilidades" (FREITAS, 1995, p. 18).
A disciplina au a indisciplina sao formas de reac;ao a continuidade au aD
desfasamento que as alunos encontram na Escola, acentuadas pelas
estrategias dos professores. A disciplina naD e, pais, urn fim, mas urn caminho
que permitira a crian~a saborear as alegrias da ordem interior, atingidas graryas
a conquistas sucessivas.
Segundo LOUREIRO (1996, p. 14):
a escola nao deve ser uma multidao, ou seja, um simples aglomeradode individuQs acidenlalmenle reunidos. Dado que, sem discipiina, existiria aconfusao, 0 lumul!o, a anarquia, aquela imp6e-se como uma imperiosanecessidade social, vista que assegurara a autoridade do professor, 0comportamento dos alunos e a eficacia do ensino.
Para RADICE (IN: LOUREIRO, 1996, p. 82) "a disciplina e um produto
de dais fatores: do aluno, juiz de si mesmo e do mestre; do mestre, juiz de si
mesmo e do discipulo".
DOMINGUES (1995, p. 27) considera que "a disciplina nao e um fim em
si mesmo; e antes um instrumento de educa9So moral, devendo-se entender as
puni~6es, que se utilizam para a manter, como instrurnentos de correc;ao e nao
como meios de poder"
A questao da disciplinalindisciplina na aula e um assunto muito
controverso. 0 que para alguns professores e indisciplina, para outros e
apenas uma manifestayao da vitalidade propria da adolescencia. Alem disso,
nao e fckil ter a certeza de urn ato perturbador ser au nao intencional.
9
Numa sintese conceitual, a indisciplina escolar S8 apresenta como 0
descumprimento das normas fixadas pela escola e demais legisla96es
aplicadas (ex. Estatuto da Crianl'a e do Adolescente - ato infracional). Ela se
traduz num desrespeito, seja do colega, seja do professor, seja ainda da
propria institui<;:iioescolar (depreda<;:iiodas instalal'oes, por exemplo). Ela se
mostra perniciosa, posta que sem disciplina ha poucas chances de S8 levar a
bom termo um processo de aprendizagem. E a disciplina em sala de aula pode
equivaler il simples boa educa<;:iio:possuir alguns modos de comportamento
que permitam convfvio pacifico.
3.1.1 NivEIS DE INDISCIPLINA
Agora vamos ver quais os niv8is de indisciplina segundo 0 Ministerio da
Educa<;:iio.Para isso temos que ir ao Diario da Republica de 1 de Setembro de
1998 aDdecreto-Iei n0270/98.
Os nlveis de indisciplina do aiuno estao diretamente associ ados as
medidas educativas disciplinares. Quanta mais grave 0 comportamento
indisciplinado mais grave e a medida educativa a tamar. Per iSSQ,
vamos enunciar as medidas educativas disciplinares constantes no
artigo 14.
1°_ Advertemciaao aluno;
2°_ Adveriencia comunicada ao encarregado de educa~o;
30_ Repreensao registrada;
4'_ Atividades de integral'ao na comunidade de educativa;
10
5°_ Suspensao da IreqOenciada escola ate 10 dias uteis;
60• Transferemcia de escola;
7°_ Explusao da escola.
Como S8 pode reparar elas estao escalonadas segundo a gravidade da
medida educativa disciplinar.
Nos artigos 15-20 0 Ministerio elucida 0 que sao as medidas
disciplinares e as restri90es que urn professor au mesma urn Canselha Diretivo
tem. Por exemplo, um aluno abrangido pela escolaridade obrigatoria nao pode
ser expulso da escola independentemente da gravidade do comportamento
(artigo 20, alinea 3).
Podemos salientar que as "penas" de 1977 loram agravadas e que
aparece a realizacyao de atividades uteis a comunidade escolar. Mas, realizar
atividades uteis a comunidade deveria ser urn motivQde honra e orgulho, e naD
urn castigo.
3.1.2 A DISCIPLINA NORMATIZADA E A INDISCIPLINA
EMERGENTE
Considerando que urn Regimento pode ser entendido como 0
conjunto de normas regentes do funcionamento de uma organizac;ao,
verernos as possiveis rela90es entre a dimensao normativo-Iegislativa da
escola contidas em seu regimenta, as interac;;:6es cotidianas e 0 fenomeno
indisciplina.
11
Constata-se que 0 Regimento est'; articulado a idearios especificos,
relativos a diferentes concepgoes de carater ideoI6gico-politico-social e
diferentes represental'oes da infancia, adolescencia, e do papel e funl'ao social
da Escola. Avaliando varios e diferentes epis6dios interativos identifica-se, nos
mesmas, 0 engendramento de atos de indisciplina que eram penalizados com
uma simples chamada de ateng80 ate a exclusao do indisciplinado, sendo que
a exclusao/expulsao sempre tinha 0 significado de uma pequena morte social
do aluno.
A medida que adentra-se no cotidiano escolar, compreende-se que a
Indisciplina, enquanto fen6meno do campo educativ~, presente todos os dias,
do inicio ao final da cena escolar, e urn fen6meno que naD pode ser entendido
como algo pre-determinado porque todo ate de indisciplina, sendo da esfera
do emergente, "surge como resultante da composi~o de for~s e elementos
presentes e atuantes, que integram uma situa~o e um campo vital"
(BAREMBLlTT,1992, p.168).
Considerando, entao, 0 Regimento como uma das fort;::as ou elementos
atuantes que, ao integrarem uma situat;::ao ou um campo vital, ajudam no
engendramento do ato de indisciplina, identifica-se que 0 mesma, atraves do
seu canjunto de intenyaes e normas, indicava, delimitava, prescrevia, regulava,
sancionava e proscrevia.
Muitos dos epis6dios interativos geradores de Indisciplina feriam a
Regimenta suas intent;::oes pedag6gicas de formar 0 aluna enquanto cidadaa
consciente, dentro de urn relacionamento respeitosa e democratico, sendo que
o grande desafio da escola era dar conta da articula9ao entre 0 que ela
12
propunha como ideal, inten~o formadora ou socializadora e 0 usa de
penalidades.
3.1.30 PORQUE DA INDISCIPLINA
"So conhecendo 0 para que da indisciplina S8 torna inteligivel 0 como e
o porqu{"·. (ESTRELA.1996. p.14).
A origem dos comportamentos indisciplinados pode estar centrada nos
professores, nos alunos au na organiz8C;8o escolar, consoante a visao que S8
tern a proposito da problematica.
o professor e quem faz a gestao da aula. Este deve saber, desde 0
primeiro dia, cativar as seus alunos de modo a que eles se interessem pela
aprendizagem. 0 professor exerce urn papel fundamental tendo em vista 0
interesse/desinteresse do aluno em aprender. E fundamental haver
uniformidade de criterios que legitimem a intervenyao pedagogica. Se urn
comportamento menes habitual e aceite numa determinada aula, e dificil ao
aluno perceber que ele deve ser reprimido noutra.
o problema da indisciplina naD e uma questao apenas de regras, mas
tambem esta diretamente relacionado com 0 processo de comunica~o
professor/aluno. Constatarn-se algumas situac;6es de indisciplina numas aulas
que nao surgem noutras.
A atitude dos professores na aula esta algumas vezes na origem das
dificuldades de comunica9iio: falta de iniciativa. passividade. inexistEmcia de
trabalho em grupo. entre outros.
13
Para al8m da fun980 de prevenir e controlar as comportamentos de
indisciplina, 0 professor pode ser urn dos grandes responsaveis pelo
aparecimento de comportamentos inapropriados. A principal causa esta no fato
dos professores concordarem que os alunos deveriam aprender a disciplinar-se
e controlar-se. Ao inves disso tendem ma;s a impor a indisciplina do que a
ajuda-Ios a desenvolve-Ia par si mesmas.
Nao existem professores que desenvolvam qualquer a980 para
voluntariamente desestabilizarem a aula, mas atraves de certas atividades
inadequadas a situac;ao dos alunos; atividades mal organizadas; ma gestao do
tempo de aula; certas situayoes para controlar situayoes de indisciplina; etc., 0
professor va; provocar involuntariamente a ocorrencia de comportamentos
inapropriados.
Quanto ao ultimo aspecto, e elucidativa a afirmayao D'ANTOLA (1989, p.
22), ao dizer que:
um dos erros rnais comuns dos professores que iniciam a sua carreirae de procurarem eliminar comptelamenle qualquer comportamentoIndlsclplinado. 0 que pode acontecer nesla slluar;:ao e reforgareminvoluntariamente (em vez de fazer desaparecer), as maus comportamenlos.Uma atitude de permanente censura a um jovem que esta sempre a falar au abrincar com as colegas pode levar a jovern em questao a insistir no seucomportamento, porque isla faz dele 0 centro das ateng6es, 0 que para ele egratificanle.
Podewse dizer que tadas as pessoas ja tiveram em experiencia ao longo
da suas vidas academicas, nas quais se depararam com professores que
demonstravam grande dificuldade em controlar a turma e com professores que
em situa90es de aulas iguais au semelhantes apresentavam uma certa
facilidade para controlar os alunos.
14
Islo aconteee porque par vezes os professores par uma questao de
atitude e formayao au experiencia, apresentam tipos de comportamentos que
S8 apresentam do extrema, que e urn ponto indesejavel.
Mas como afirma LINDGREN (1977, p. 33), "0 comportamento das
crian<;8s na~ pode ser manipulado na base de tudo au nada".
Num extrema encontrarn-se aqueles professores que par falta de
confiany8, ansiedade au timidez denunciam perante as alunos uma
personalidade fragil, insegura au demasiado benevolente.
Essa personalidade manifesta-se atraves de:
falta de consist€!nciaquando se dirige aos alunos
lentidao com que atua
imprecisao do seu vocabulario
incapacidade de resposta a situa<;oes imprevisfveis
Os alunos aD aperceberern-se da fragilidade OU exagerada
permissibilidade do professor, perdem 0 respeito por este e tentam apoderar-se
do contrale da aula atingindo por vezes prapor90es que dificultam forte mente a
recuperac;aodesse contralo par parte dos professores.
Existe urn outro extremo na personalidade dos professores que se
refere aos professores que tentam impor a todo 0 custo uma
personalidade forte e imperturbavel. S6 que em muitos casos para se
conseguir atingir esses objetivos adota-se uma postura caracterizada pela
dureza, insensibilidade, distanciamento dos alunos ou mesmo de
ditadura.
15
Isto aconteee porque a preocupac;ao com regulamentos e controle eaparentemente urna caracteristica dos professores que sao conhecidos como
frios e hostis e que nao estao muito interessados em encorajar a realiz8c;8.0
escolar dos estudantes. Urna compreensao dos fatores causais e basica para a
maneira adequada de lidar com 0 mau comportamento mas muitas pessoas
que trabalham na eseela esta.o inclinadas a pensar apenas numa forma de
tratamento a punic;ao.
Este tipo de personalidade pode originar as seguintes consequencias:
• os alunos podem criar medo do professor, 0 que Ihes vai
impedir de manter urna atitude de participaC;8o, interesse, criatividade,
perdendo completamente a goslo pela disciplina. Este fato vai
provocar urna diminuiyao no rendimento da aprendizagem, uma
degradayao do clima da aula e uma desmotivayao completa par parte
dos alunos .
• Contrariamente ao anterior, os alunos podem perder 0 respeito pelo
professor, devido ao fato deste emitir repetitivamente feedbacks
negativos, que a partir de dado momento deixam de ter impacto e os
alunos ganham "imunidade" a esses feedbacks, deixando de Ihes dar
aten9aO. Nessa situa<;ao os alunos come<;am a verificar que a dureza do
professor nao tras qualquer conseqOencia e comec;am a testa-Io para ver
ate onde ele pode chegar.
Estas situa<;oes sao muito diflceis de controlar porque 0 professor
perante comportamentos de indisciplina nao pode ser mais duro, mais
16
intransigente devido a ele ter atingido esse ponto antes desses
comportamentos terem surgido.
lnserem-se dentro das situa96es anteriores as castigos e as
recompensas, as quais sao muito importantes e necessarios, mas nao pod em
ser dados per qualquer razao caso contra rio atingem urn carater rotineiro e nac
causam qualquer efeito.
Em relac;ao aos alunos ha urn grande numero de raz6es que podem
estar na base da indisciplina. Sao de salientar as seguintes:
• nfvel s6cio-economica,
• absentismo,
• recusa de regras,
• pouco trabalho,
• toxicodependencia,
• alcoolismo,
• familias desagregadas,
• demissaa dos encarregados de educ8g80.
o nfve! s6cio-econ6mico condiciona muitos dos Qutros fatores
referidos: as desigualdades existentes entre os alunos gera a maior
parte das vezes conflitos que se repercutem dentro e fora da sala de aula
atingindo muitas vezes as limites.da violemcia.Essa viol€mciae fruto da recusa
de regras, da indiferenya perante tudo a que os rodeia, a que leva a nao
participac;ao nas aulas, ao absentismo e finalmente ao insucesso escolar. A
desagregagao das famllias e a demissao das mesmas perante a escola,
entre outros fatores, conduzem, a maior parte das vezes, a situagoes extremas
17
de alcoolismo e toxicodependemcia que sao as grandes geradoras de
indisciplina.
Em rela<;ao a eseola, e necessaria haver urna interligar;:ao entre
professores, pais e alunos, que permita urn conhecimento geral do modo de
funcionamento para que S8 consigam melhores resultados escolares e urn
clima de razoavel bem-estar para os diversos intervenientes no processD
educativo.
Cada escota tern assim a obriga98o de se preocupar com 0 controledisciplinar, entendido como a conjunto de todas as atividades que visamexercer alguma especie de influencia sabre 0 comportamenlo dos alunos,procurando ajusta-Io aquila que e, para cada professor e pelos professores emcada escola, considerado como padrao de comportamenlo aceitavel(SAMPAIO, 1996, p.121).
Em primeiro lugar, temas as normas emanadas do Ministerio da
Educayao, que variam conforme as alteragoes polfticas e que nem sempre
estao ajustadas as realidades de cada escola. Em segundo lugar, ha 0
regulamento da escola, que pode interpretar a lei de forma diversa, 0 que leva
algumas V8zes a atitudes incongruentes.
Qutros fatores relacionados com a gestao da escola e que
podem condicionar algum grau de indisciplina, tern a ver com 0 elevado
numero de alunos par sala e respectivos horarios, falta de recursos
materia is e humanos, falta de reorganiz8g8.0 da escola em fungao das
necessidades, inexperiencia, insuficiencia dos 6r9805 intermedios, entre
outros.
18
3.4.1 COMPORTAMENTOS INDISCIPLINADOS
Urn comportamento indisciplinado e qualquer ato ou amissae que
contrari8 alguns principies do regulamento interno au regras basicas
estabelecidas pela escola ou pelo professor ou pela comunidade. A indisciplina
e uma resposta it autoridade do professor.
o aluno contesta porque nao esta de acordo com as exigencias do
professor, com as valores que ele pretende impar, com os seus criterios de
avalia~o, a sua parcialidade. Existe entre 0 professor e 0 aluno uma relayao
desequilibrada. 0 aluno naD aceita 0 professor ou a sua disciplina. 0 professor
naD consegue motivar 0 aluno ou desperta-Io au cativa-Io.
Os motivQs da indisciplina podem ser extrfnsecos a aula, tais como
problemas familiares, inseryao social ou escolar, excessiva proteyao dos pais,
carencias sociais, forte influencia de idolos violentos, etc. Nestes casos 0
professor pouco pode fazer. No entanto existem outras causas que resultam de
disfungoes entre os alunos e a escola.
A desmotivagao dos alunos e 0 desinteresse explicito por aquilo que se
pretende ensinar ou qualquer outro comportamento inadequado, por vezes nao
sao mais do que chamadas de atenty8.oao professor sobre os seus metodos de
ensino ou sabre as estrategias de relagao na aula. a professor deve ser
explicito e justo na negocia(:iio do contrato que e feito com os alunos. A
alterayao das regras pode provocar indisciplina.
Urnaluno indisciplinado pade nao ter insucesso.
19
o aluno traz para a aula as valores e atitudes que foi apreendendo ate
aquele momento. A indisciplina pode ser urn reflexo da ausencia de condic;6es
para uma adequada educ8yao familiar.
A indisciplina pode surgir como a outra alternativa ao seu insucesso
escolar, procurando deste modo "valorizar" a sua relaC;8o com as Qutros. Este
insucesso naD S8 refere exclusivamente as classificac;:6es nas disciplinas, mas
tambem em certes valores, que ele pensa serem assumidos pela comunidade,
e que 0 aluno nao va refJetido nele.
A propria constituic;80 ffsica ou intelectual do aluno pode provocar
comportamentos indisciplinados. A imaturidade, a vadiagem, a desatenyao, a
incapacidade de fix8c;:ao, 0 baixo rendimento escolar, a agressividade devem
ser pesquisadas como sintomas de distUrbios mais profundos (quer fisiologicos,
quer emocionais), que e preciso tratar, sem 0 qual as repressoes ou san90es
serao totalmente ineficazes e ate contraproducentes.
Nao se pode separar a indisciplina do seu contexto historico-social,
portanto 0 comportamento do aluno nao advem somente dele proprio mas
tambem e 0 refiexo do que a sociedade pretende do aluno.
"Por outro lado, 0 homem, em particular, tenta adotar certos
comportamentos que definam a sua personalidade. Com esses
comportamentos ele visa atingir e desempenhar urn papel de aceita~o da
sociedade, fazer parte de urn grupo e, ao mesmo tempo, ser reconhecido por
ele" (RUTHERFORD & LOPES, 1993, p. 32).
Mas por vezes surgern obstaculos as suas necessidades, como por
exemplo: 0 professor, as suas regras, outro aluno que quer ter urn estatuto de
Ifder1 etc.
20
Se este aluno sentir que nao va; abter 0 lugar no seu grupo que
pretende, entaD a frequemcia de comportamentos indisciplinados tende a
aumentar.
"Podemos ver assim que as comportamentos indisciplinados resultam da
frustras;ao provocada p~r obstaculos que dificultam ou impedem a satisfas;ao
das necessidades de pertenya ao grupo e de conseguir estatuto nesse mesmo
grupo". (FARIAS, 1979, p. 48).
o aluno ao nao alcanc;ar as seus objetivos comec;a-se a sentir inferior
aos do grupo que quer estar insendo e tenta par Qutras maneiras compensar tal
recusa, manifestado em comportamentos indisciplinados. Par vezes nao e 56 0
sentimento de inferioridade que leva 0 aluno a ter comportamentos
indisciplinados, mas tambem a tentativa de manter urn estatuta dentro do
grupo. Exemplo: Um aluno que pretende continuar a ser lider do grupo tende a
"desafiar" 0 professor.
Urn Dutro aspecto que envolve as comportamentos indisciplinados, e a
viseD que cada professor tern em rela9ao ao mesmo comportamento, Por isso
e dificil de definir precisamente se certo comportamento e indisciplinado,
porque alguns professor podem achar que 0 e enquanto outros pensam que eapenas excesso de vitalidade e que wisso passa, e 56 uma fase", 0 que leva os
alunos, essencialmente os p6s-primario, a nao perceber se 0 comportamento eindisciplinado ou nao. Isto deve-se essencialmente ao elevado numero de
professores que cada aluno tern e as diferentes atitudes e personalidades
desses professores.
"0 comportamento nao e indisciplinado em si. E considerado
indisciplinado, ou nao, conforme 0 contexte em que acorre, bern como as
21
perspectivas de quem as observa e de quem a adota". (D'ANTOLA, 1989, p.
34)
Assim e pertinente naD rotular 0 comportamento indisciplinado porque
pode levar as "alunos indisciplinados" a ter comportamentos extrem~s, como
atos de marginalidade, delinqOencia au mesma 0 aparecimento de subculturas
baseadas no oposto as regras impostas pela escola e pela sociedade em que
estao inseridos. Mas assim a escola fomenta comportamentos marginais em
vez de evita-Ios.
Como conclusao, podemos dizer que as comportamentos indisciplinados
tern dais objetivos:
- satisfazer as necessidades de perten,a a um grupo;
- reconhecimento por parte deste.
Por Dutro lado, revestem-se de carater impreciso e vaga, dependendo do
contexto em que ocorrem.
"Devemos assim para evitar a rotulagem dos alunos de identificar 0
contexto onde esta inserido". (SACRISTMN & GOMES, 1998, p. 24).
3.2 INDISCIPLINA NA SALA DE AULA E RELA<;:OES DE PODER
Embora seja objeto das mais variadas defini90es, podemos dizer que a
educa~o e 0 conjunto das ac;6es e das influencias exercidas voluntariamente
par urn ser humano ncutro, em principia par urn adulto nurn jovem, e orientadas
para um fim que consiste na forma,ao, no jovem, de toda a
22
disposic;:6es que correspondem aos fins a que e destinado quando atinge a
maturidade. Porque esses fins estao em rela~o com as papeis que 0 adulto e
chamado a desempenhar dentro de uma sociedade, a educac;ao, quer como
concepc;ao, quer como pratica, liga-se a mundividencia propria de uma
sociedade vivendo num dado tempo hist6rico e aos fatores de ordem politica,
social, econ6mica e cultural que a determinam, anillogo ao enquadramento
dado ao conceito da indisciplina. 0 professor e 0 aluno, para S8 ada pta rem assituac;:6es do meio, adquirem comportamentos determinados pela mudanya de
situac;:ao e esta aquisic;:ao de comportamentos e a condi98o necessaria para urn
born relacionamento.
A aquisi9ao destes novos tipos de comportamento, que se
interligam aos comportamentas inatas, designam·se par aprendizagem.
Esta e, portanto, entendida como uma mudanc;a relativamente duradoura
no comportamento, que surge par consequEmcia da experiencia
desenvolvida.
o ensino, tradicionalmente concebido como um processo organizado
de transmissao de conhecimentos, e atualmente vista como um processo
de organizatyao da aprendizagem. Isto significa que a ensino deixou
de se centrar sabre a professor, enquanto transmissor do saber, para
se centrar sabre 0 aluno enquanto sujeito ativo e nao meramente
passivo da sua aprendizagem. Ao professor cabe essencialmente
a funyao de organizayao do meio educativo, de modo a criar as estimulos
e a fornecer as recursos pedagogicos necessarios a aprendizagem do
aluno.
23
Falemos em primeiro lugar do poder dos professores, que sao,
antes de mais nada, as atores sociais que veern a seu poder legitimado, quer
pela instituigao quer pela familia, quer ainda pela sociedade em gera!. Como
refere TEIXEIRA (1993, p. 26), dizendo que os professores "recebem um
mandata da sociedade para educar e para instruir as novas gerac;6es"
Assim 0 professor torna-S8, deste modo, a principal patencia na relac;ao
professor - aluno, nao 56 pelo poder que Ihe e legitimada mas tambem
pela extrema importimcia da acyao do professor sabre as alunos. No que S8
refere ao poder dos professores, FORMOSINHO (1980, p. 301-328)
propoe-nos urna classificagao baseada nos seguintes tipos ou bases de poder;
poder fisico, poder pessoal, poder normativD, poder cognoscitivo e poder
autoritativo.
o poder fisico remete-nos para a utilizac;:ao de castigos corpora is, par
parte dos professores, para manter a disciplina na aula. No periodo do Estado
Novo era usado frequentemente, nomeadamente nas escolas primarias de
entao, e claro que, nos dias de hoje, nada disto e permitido.
a poder pessoal tem por base as caracterfsticas afetivas,
temperamentais e de personalidade do professor, 0 que Ihe permite
influenciar a rela<;§.o com os alunos. Do ponto de vista pedag6gico, esta base
de poder assume extrema importancia no decorrer do processo ensino-
aprendizagem, ja que a este podem nao ser alheias as qualidades humanas do
professor.
a poder normativo pressup6e que 0 professor consiga exercer
influencia sabre os alunos, apelando para valores morais, ideologias e normas
sociais, religiosas, juridicas, profissionais, de convivencia social e de cortesia.
24
Atualmente, este tipo de poder torna-se dificil de utilizar com sucesso junto aos
jovens, que nem sempre partilham do mesma c6digo de valores dos
professores.
Face a esta frustra9iio, grande parte dos professores refor9a 0 seu papel
na transmissao de conhecimentos, valorizando 0 poder cognoscitivo. Este
prende-se, assim, com a capacidade de influencia do professor par possuir
conhecimentos cientificos e tecnicos para conseguir transmiti-Ios a diferentes
publicos escolares.
o poder autoritativo ou autoridade decorre da legitimidade que a
escola concede ao docente para exercer a sua infiuencia. Este poder
confere-Ihe uma "superioridade formal" que pode, no entanto, naD ser suficiente
para manter com os alunos uma relayao pedag6gica eficaz, ja que estes
podem nac reconhecer 0 professor como autoridade. Este tipo de poder sera
tanto maior quanta mais a escola considerar importante a obediencia aautoridade.
Oeste modo, para manter a disci pi ina na sala de aula, 0 professor pode
utilizar-se de varios tipos de poder, decorrentes das suas caracteristicas
pessoais, dos conhecimentos academicos e pedag6gicos ou da legitimidade
conferida pela escola. 0 poder do professor sera tanto maior quanta mais
diversificadas forem as suas bases de sustenta98o.
Contudo, numa relayiio de poder, nenhuma das partes envolvidas e
completamente destituida de poder. Assim, fazendo uma analogia com a sala
de aula, os alunos tambem detem uma pequena fra9iio de poder que pode
constituir uma afronta ao professor.
Embora, que, 0 poder do aluno seja diminuto, este podeni tentar usa-Io,
25
recusando 0 papel que a escola Ihe reserva e adotando comportamentos
irreverentes e indisciplinados. Par Dutro lado, 0 poder que a aluno detem pode
ser aumentado ou reforr;ado em funr;ao do numero de alunos envolvidos numa
dada situ8yao, au seja, embora urn determinado aluno tenha urn poder minima,
S8 ele unlr esfon;os com Dutro au varios alunos e obvio que 0 poder que esse
aluno detem sera maior, ai entra a capacidade que esse determinado aluno
tern para liderar a Situ898.0 e as seus seguidores. Oeste modo, quanta maior for
esse numera, mais reduzidas parecem ser as assimetrias criadas pelas
relal'oes de poder.
A capacidade de urn aluno para exercer infiuencia sobre os outros pode
ter haver com 0 prestfgio que ele goza junto dos colegas.
Par outro lado, 0 grupo de alunos au turma S8 quiser, dispoe ainda de
uma outra fonte de poder. Trata-se do poder de resistir a a9aO do professor.
Este comportamento acaba por afetar a imagem profissional do docente, nao
apenas face aos colegas como tambem face a escola e a comunidade
educativa. Com efeito, existe a tendencia para atribuir os elevados indices de
insucesso academico a incapacidade do profissional do professor e nao aos
comportamentos de resistencia dos alunos. Mas tambem e not6rio que os
comportamentos dos alunos nas aulas pode influenciar a estilo de ensino do
professor bem como 0 seu comportamento perante os alunos com quem esta
em intera980, e ainda, a sua capacidade de discernimento, 0 que leva mais
rapidamente ao cansa90 ffsico e mental.
Em resumo, os alunos possuem um poder informal, socialmente
deslegitimado, sao capazes de afrontar 0 professor e, afronta essa, que
aumenta com 0 numero de alunos envolvidos.
26
A indisciplina escolar, quer se defina de urn modo formalista, como
violar;ao das regras estabelecidas, au de urn modo positivista, como
perturbac;ao do funcionamento da eseela ou da aula, implica sempre um
quadro de refer€mcias de ordem axiol6gica e pedagogica atraves do
qual urn ato pode ser classificado de indisciplina e 0 seu agente de
indisciplinado. Por isso, como um mesma ato pode S8r avaliado de forma
diferenle por agentes educativos que tenham concep<;6es pedag6gicas
diferentes ou valorizem de forma diferente os sistemas normativo e produtivo
da aula. Algo an810go sucede com os alunos quando esliio submetidos a
praticas pedag6gicas diferentes, havendo ainda, neste casa, a considerar 0
fator idade.
A indisciplina liga-s8 com frequencia ao insucesso eseolar, embora
nem sempre as dais fenomenos possam S8 associar. A indisciplina tern
sido estudada principalmente numa perspectiva causal e as causas
apontadas sao do mesmo tipo daquelas que explicam 0 maior insucesso.
S6 atualmente comeya a ser estudada numa perspectiva funcional, isto
e, em relaryaoaos fins e funr;oes que os atos de indisciplina desempenham
no processo pedag6gico cujo 0 decurso alteram, com consequencias
mais ou menos perduraveis. Isto significa que a indisciplina nao traz s6
desorganizayao, mas contem urn potencial criativo que pode levar 0 professor
a estabelecer uma nova ordem ou a submeter-se a contra - ordem imposta
pelos alunos.
27
3.3 CURRicULOS ESCOLARES E OBJETIVOS INDIVIDUAlS
E facil perceber os desajustamentos existentes entre 0 que as alunos
pretendem e 0 que a Escola Ihes pode oferecer. "Muitas vezes, 0 que S8
pretende que os alunos aprendam esta longe dos seus interesses e mesma da
sua capacidade de aprendizagem" (FREITAS, 1995, p. 27). Aqui entram as
pianos curriculares, tao repletos de OP90es que e impasslvel satisfazer todas
as pretensoes e motiv8goes dos alunos.
Atras da desmotivaC;80 vern 0 desinteresse e 0 aborrecimento. Embora
nao S8 possa considerar que estes, par si s6s, conduzam a comportamentos
anomalos, dado que a indisciplina e, par definic;ao, multi-fatorial, juntam-se-
Ihes, par vezes, fatores ambientais e socia is, acabando par S8 preparar urn
terrene tertii para a indisciplina.
Entao, conscientes de que 0 assunto naD e, para eles, fundamental, au
de que nao conseguem captar os conhecimentos, dedicam-se a desestabilizar
a turma.
3.3.1 A INDISCIPLINA NAS AULAS DE EDUCACAO FislCA
o problema da indisciplina e referenciado par PATTO (1990, p. 47)
quando nos diz: "Obter nlveis 6timos de disciplina naa resulta de capacidades
pedag6gicas excepcionais ou de alunos particularmente d6ceis; nao se trata
sequer de utilizar truques ou receitas infaliveis".
28
No entanto as estudos sabre a indisciplina sao particularmente
complexos, porque todo au qualquer casa f8sulta de urn episodio particular,
provavelmente com urn longo percurso.
A indisciplina nas aulas de educa<;iio fisica e um problema
constante, ja que a aula requer descontratyao, alegria e entrosamento,
mas issa naD quer dizer desordem au bagunya. Par ;ssa torna-S8 dificil
para 0 professor de educ8yao fisica conseguir controlar a indisciplina dos
alunos, ja que esses muitas vezes confundem descontrac;ao com
desordem.
Os professores de educayao fisica reagem a indisciplina seguindo
model os de comportamentos mais au menDSestereotipados:
1. Ausencia de rea<;iio;
2. Simples relembrar;
3. Ordem;
4. Repreensiio;
5. Amea~a;
6. Olhar severo;
7. Encorajamento;
8. Afastamento.
Os tipas de incidentes verificados podem tomar diversas formas:
manifestagoes verbais, manifestayoes fisicas, e sao dirigidas, por ordem de
ocorrencia.
as comportamentos indisciplinados mais constantes nas aulas de
educayao ffsica sao:
29
• conversas intempestivas;
• parar a exercfcio ordenado pelo professor;
• estragar 0 material utilizado na aula;
• fazer barulho com bolas, atrapalhando Qutras aulas nas dependencias
do colegio;
• modificar a atividade ordenada pelo professor;
• parar de fazer 0 exercfcio para conversar com as colegas;
• utilizar-s8 de aparelhos eletr6nicos durante as aulas;
• brigar au discutir com as colegas e/au professor.
• recusa de obediencia ao professor;
• grosseria para com 0 docente;
• Golpe ou pancada num colega;
• Conduta perigosa.
3.4 OS PAIS E A INDISCIPLINA ESCOLAR
A grande maiaria dos pais afirma ser contra a indisciplina na escola,
prezando a obedi'mcia. 0 silencio e a imobilidade dos alunos. Compartilham,
com 0 professor, da ideia de que, para a aprendizagem S8 realizar a contento,
as alunos devem permanecer quietos e sentados. Os comportamentos que as
pais denominam indisciplina sao, praticamente, as mesmos descritos pelos
professores: a9ita9aO, movimenta~ao, emitir opiniao, nao obedecer, recusar a
fazer determinadas tarefas.
30
"Alguns pais tentarn refletir sabre 0 que os comportamentos de
indisciplina podem estar comunicando. Percebem que e uma forma de as
crianc;as comunicarem alga que nao podem expressar de Dutra forma. A
crianya quando fica nervosa age de forma indisciplinada".
(www.klickeducacao.com.br. disponivel em 20/10101)
Mas influencias, de Qutras crianc;as e da televisao, sao as
causas mais referidas pelos pais para explicar a indisciplina de seus
filhos. Procuram afasta-Ios das "mas influencias~ e aconselha-Ios a
"respeitar os professores mesmo quando estiverem errados", A obediencia as
normas escolares e privilegiada, mesma que acarrete submissao au
contradi~o em rela.yao aos valores familia res. Emergem fraturas nesse
discurso que culpabiliza os filhos e isenta a escola da produc;ao da indisciplina
escolar.
"as pais assinalam, tambam, determinantes familia res. Pais alco6latras,
desempregados, pobres, aparecem como produtores de revolta e, por
conseguinte, de agressividade e indisciplina das crianr;:asque se manifesta na
escola". (www.klickeducacao.com.br. disponivel em 20/10101)
Muitos pais sugerem punic;6espesadas para inibir a indisciplina escolar.
Pedem que os professores se encarreguem da tarefa de manter a disci pi ina e
reclamam do fato de serem muito solicitados a comparecer na escola para
ouvir reclamac;6es dos filhos. ~Os pais indicam a conversa como um
mecanismo eficiente para ser utilizado pelo professor, e tambem, atividades e
aulas interessantes para diminuir 0 desinteresse e conseqOentemente as
conversas paralelas". (DOMINGUES, 1995, p. 35)
31
Os professores, no entanto, desconhecem as ideias dos pais sabre
indisciplina, assim como tern poucas informar;6es sabre a organiza~ao
destas familias, sabre suas cren~s e valores. Os pais sao constantemente
convocados a comparecer na escola, no entanto, nestas ocasioes, naD sao
ouvidos. Recebem brancas, conselhos, escutam as notas dos filhos,
assinam documentos e/au sao convidados it colaborar com dinheiro au
Dutro tipo de ajuda. Os pais sao chamados para colaborarem em areas
delimitadas e de forma predeterminada. Os prafessores esperam que eles
colaborem nos mutir6es de limpeza, contribuam para a APM, ajudem nas
li90es dos filhos e garantam seu bam comportamento. Para mais do que
isse, a presen98 dos pais pode ser perigosa. Eles nao sao vista como
pessoas, sendo sempre chamados apenas de ~m§.e"au ~pai~.Se nao
correspond em a expectativa da escola, sao considerados carentes, loucos au
marginais.
Muitas vezes, as professores se compadecem e procuram ter as
melhores das inten90es em rela~o aos pais de seus alunos. Em Qutros
momentos, os desqualificam, argumentando que sao marginais ou loucos. Em
ambos os casos, a postura e manter uma grande distancia em rela~o a eles
e, sobretudo, desconsiderar suas queixas, necessidades, seus motivos e
argumentos. Acreditam que, por serem carentes, coitados, loucos ou
marginais, nao tern nada de irnportante para dizer e, portanto, seria perda de
tempo escuta-Ios e leva-los a serio.
A contra partida e a vivemcia, desses pais, de urn profundo
estranharnento em relar;ao a escola. Eles incorporarn a distancia
32
implementada pela institui~o e passam a se relacionar com a escola com um
total alheamento.
Os professores interpretam essa sua atitude de afastamento como
~pouco-caso e desinteresse~. "Entregam seus filhos e lavarn as maos",
Os professores cobram a presenC;8 dos pais mas, aD mesma tempo, as
expulsam.
Os pais nao S8 sentem no direito de reclamar ou cobrar da escala. A
ideja que Ihes e transmitida e que a escola Ihes presta um favor, ja faz muito
rnais do que deve pelos seus filhos e, portanto, cabe a eles apenas agradecer
o esfor90 dos professores. 0 sentimento que os invade e 0 de incapacidade e
indignidade.
3.4.1 A INDISCIPLINA DOS PAIS
Ahem da indisciplina dos alunes, muitos pais tambem manifestam sua
propria indisciplina, par exemplo, em reuniees de pais e mestres. Nestas
reuniees, os pais sao convocados para escutar alguns informes e saber a nota
e 0 comportamento dos seus filhos. Mas muitas vezes eles nao comparecem a
tais reuni6es ou quando vao nem sempre respondem e fazem 0 Ihe e
solicitado.
Os pais tambem possuem a sua indisciplina, ja que, muitas vezes, nao
querem tomar conhecimento dos erras de seus filhos. Outros preferem usar a
agressividade para fazer com que a crianya cumpra 0 que a escola Ihe imp6e.
33
Essas atitudes dos pais estimulam ainda rna is a indisciplina de seus filhos na
escola.
Outra questao que incita 0 mau comportamento na crian9<3, ever que
seus pais sao indisciplinados na sua vida profissional, issa faz com que a
mesma ache "legal" imitar os seus pais.
3.5 PREVENC;Ao DA INDISCIPLINA
Como ja foi referido anteriormente, as professores podem
adotar algumas atitudes que evitem a indisciplina. Sao de salientar as
seguintes:
• estimular a participa<;iio e 0 trabalho em grupo;
• discutir as situac;6es de mau comportamento com as alunos;
• comunicar-se com a familia dos alunos para conhecer melhor 0
ambiente em que estes vivem;
• estar disponivel para conversar com os alunos sabre temas alheios aescola;
• partilhar conhecimentos e experiencias com Qutros professores;
• nao fazer comentarios depreciativos ao trabalho da aluno;
• planificar cuidadosamente as aulas.
Seguem·se algumas medidas que pod em melhorar 0 funcionamento do
escola:
34
• diminuir 0 numera de alunos em cada sala;
• colocar aD dispor dos alunos material informatica, desportivD e h.'Jdico;
• hon3rios definidos para beneficiar 0 aluno e naD 0 professor;
• uniformidade de criterios na marc89ao das faltas.
3.5.1 ESTRATEGIAS UTILIZADAS PELOS PROFESSORES NO
COMBATE A INDISCIPLINA
Vejamos algumas estrategias que as professores usam no combate aindisciplina. Embora. muitas dacentes passam dizer que tem estrategias
alternativas adequadas para enfrentar a indisciplina, devemos estar dentes que
essas estrategias naD sao totalmente eficazes, variando de eseela para eseela,
de turma para turma, dependenda da capacidade da prafessar em aplicar
devidamente essa estrategia e da maior au menor facilidade que a turma tern
em S8 deixar influenciar.
Segunda J. NIZET & J. HIERNAUX (1990, p. 32-43), "as
professores adotam essencialmente dais tipos de estrategias: as severas e as
suaves~.
Relativamente as estrategias severas, usam meios de coac;ao para fazer
prevalecer as suas exigemcias contra os desejos dos alunos. As relac;6es entre
professares e alunas, resultantes deste tipa de estrategia, saa fartemente
assimetricas e de distancia, e os primeiros assumem-se como superiores aos
ultimos. Associados as estrategias severas andam os castigos fisicos, as
35
represalias, as descomposturas e as punicyoes em gera!. No que diz respeito as
estrategias suaves que alguns professores usam, a relayao que estabelecem
com as alunos e uma relac;ao simetrica e de proximidade na qual as alunos saoencarados na sua individualidade e as seus interesses sao tidos em conta. Nao
sao usados meies de c08c;:ao.
Contudo, os autares referem ainda que, para poderem ser usadas
estrategias suaves, serao necessaries programas mais f1exiveis e turmas com
menes alunos, sendo que quase sempre 0 funcionamento da instituic;:ao poe
entraves a pratica destas estrategias. Contudo, e apesar das instituic;oes
escolares oferecerem resistencia as estrategias suaves, elas parecem ser rna is
adequadas para evitar comportarnentos indisciplinados.
Censiderames que a rela9ae pedag6gica nae se pede subtrair aviolencia resultante de uma imposi<;80 unilateral que, por rna is suave e sutil que
seja, se assemelha mais a urn ultimato do que a urn contrato. Ao professor s6
resta abster-se de toda a violencia desnecessaria, e legitimar aos olhos dos
alunos a sua funyao, refor98ndo a sua autoridade atraves da competencia
profissional de ordem cientifica e relacional.
Poderemos admitir que os professores podem servir-se de estrategias
suaves, severas e talvez mistas na sala de aula, mas parecem ser as primeiras
as mais adequadas para evitar situa<;oes de indisciplina. Por seu lado, os
alunos tambem se utilizam de estrategias para tentarem exercer a margem de
peder de que dispoem.
Em algumas situ8<;oes, 0 aluno ja esta mentalizado que 0 unico
prop6sito da sua ida a escola e 0 de procurar a destabilizayao da ordem normal
para e decurse de uma aula. Esta situayao deixa 0 professor a reftetir sobre 0
36
que faz de errado, e claro que raramente chega a qualquer conclusao, levando
a docente colocar-se a margem de qualquer tentativa de relacionamento de
amizade com as alunos, au com algum aluno em especial, remetendo 0 seu
comportamento exclusivamente para a via profissional. Esta atitude, quando se
trata de urn aluno au uma pequena minoria, pode ter como consequencia 0
aumento da indisciplina a Qutros elementos da turma, conforme aprovem, au
nao, as atitudes do colega, e con forme 0 prestigio que esse colega
tern na escola. Urn aluno que tern par "fama" ser indisciplinado, que cria
situ890es de atrito dentro da escola, quer com professores quer com
pessoal auxiliar, tern uma necessidade enorme de criar conflito, pais e esse
conftito que Ihe do 0 estatuto que ele aprecia, e que Ihe faz sair vangloriado
perante as companheiros, que consideram este comportamento urn ato de
heroismo, tarnanda-s8 assim cum pi ices, involuntariamente, da indisciplina que
S8 criou na escola, e contribuindo, a longo prazo, para a degradac;::ao social do
colega.
E frequente Quvirmos as professores dizerem que os alunos, nos
primeiros dias de aulas, procuram "medir" 0 professor. Com efeito, a turma
tenta conhecer as reag6es do novo professor, saber 0 que ele tolera au aceita,
no fundo conhecer 0 padrao que ele defende, quer a nivel disciplinar, quer a
nivel de avaliac;ao.
Segundo DELAMONT (1987, p. 135-137) "os alunos procuram descobrir
o que 0 professor pretende e, com 0 objetivo de serem recompensados, tentam
dar-Ihe as respostas que ele solicita; mas, quando naD surge nenhuma
recompensa, podem adotar comportamentos disruptivos". 0 mesmo pode
37
acontecer S8 os alunos nao conseguirem descobrir 0 que 0 professor quer ou
ainda S8 este nao aceita as respostas que eles Ihe dao.
Algumas das estrategias que 0 aluno pode adotar sao:
• estrab~gia de contesta~ao da autoridade, que pode ser a autoridade
do professor ou da instituir;ao;
• estrategia de promo~ao interpares, resultante da necessidade de
afirma980 perante as colegas que 0 aluno possa sentir;
• estrategia de criac;ao de convivio quando 0 aluno pode criar
situa90es de indisciplina com vista a ser expulso da aula, de modo a
aumentar 0 tempo de convivio com Qutros colegas;
• estrategia de contestac;ao da oferta escolar, quando esta nao
corresponde as expectativas do aluno e quando ele considera que essa
olerta esta delasada das exigencias do mereado de trabalho
Cabe-s8, entao, dizer que as alunos podem usar diferenles estrategias
consoante as objetivos que tern no momento. Contudo, essas estratE§gias, de
algum modo, podem ser condieionadas pelas do prolessor, atendendo a que a
sala de aula 90, par natureza, espac;o de interac;oes.
Em sintese, as comportamentos indisciplinados podem ser encarados
como estrategias usadas pelos alunos no sentido de exercerem a margem de
poder de que disp6em na sala de aula. Como resposta, 0 professor utiliza-s8
tambem de diferentes estrategias, tendo par base a cultura das interac;oes na
sala de aula que foi adquirindo com a sua experiencia.
38
3.6 QUANDO A INDISCIPLINA VIRA VIOlENCIA
A violencia naD e um fen6meno novo, nem recente. Contudo, ela tern S8
agravado com 0 passar do tempo, chegando mesma a surgir nas escolas,
lugar que, antigamente, era somente destinado ao ensino-aprendizagem, e
naD a agressividade.
Cidadaos comuns, alunos, professores, pais ou investigadores,
transformaram-na numa das atuais preocupa90es do sistema educativo
que muito tern contribuido para urna crescente imagem negativa da
escola.
Recentemente, as meiDs de comunic8980 de massas tornaram
publicos alguns epis6dios 8, consequentemente, registra-se 0 aumento da
preocupa<;iio da opiniao publica. dos pais, dos professores e dos responsaveis
aD mais alto nivel, que S8 questionam sabre as passiveis causas deste
fen6meno. A escola surge como um dos palcos privilegiadas desta mesma
violencia e a questao assume redobrada preocupa9ao, pois esta deveria
ser urn lugar de aprendizagem de norm as, valores e respeito pelo outro,
mas, pelo contrario, verifica-se, na escala, junto de professores, auxiliares
de educa9i3o, pais e alunos 0 aumento da preocupa9ao e ° sentimento
de inseguran9a, antagonicas a imagem de uma escola tranquila e
segura.
~Preocupac;:ao e inseguran98 sao uma das faces visiveis desta
problematica. No entanto, come9a-se a questionar todo 0 sistema, au seja, a
escola, a familia, os meios de comunica9i3o de massas, nomeadamente a
televisao, e, ate mesmo, os propriosjovens". (AFONSO, 1991, p. 44)
39
As alterac;oes ocorridas durante as ultimas decadas na sociedade,
em geral, e no sistema educativQ, em particular, implicaram algumas
mudan98s na educac;ao escolar e na profissao docente. A passagem de
uma educagao de elite para uma educagao publica de massas, na tentativa de
universalizar e democratizar a educac;ao, originou 0 alargamento da
escolaridade obrigatoria e 0 aumento, brusco, do numero de alunos que
permanecem na eseela. Neste contexto, a eseela deixa de ser reclamada
como urn direito, uma garantia de ascensao social e economica, e passa a ser
encarada, par muitos alunos, como urn dever, uma imposic;ao. 0 alargamento
da escolaridade obrigat6ria, tal como a propria expressao sugere, para nove
anos de escolaridade concluidos - normalmente entre as seis e as catarze
anos -, obriga os alunos a permanecerem oficial e socialmente
nesta, sendo-Ihe simultaneamente solicitado que aprendam conteudos
programaticos, que podem nao Ihes interessar. Esta situa<;ao pode, em muitos
casas, refletir-se na forma como os jovens encaram a escola, questionando a
sua utilidade pratica e revelando desinteresse pelos conteudos e tarefas a
desenvolver.
Paralelamente as alteray6es no sistema educativo, a familia, grupo
primario par excelencia, caracterizado pelo sentimento de unidade entre os
seus membros, por uma solidariedade muito forte, par uma harmonia nas
relagoes, esta, por vezes, desestruturada. As criangas sao abandonadas, dias
inteiros em auto-gestao, alvos de maus tratos, vitimas na familia, estao
diminuidos nos seus afetos, nao tern exemplos de autoridade paterna, ou
entao vem para a escola repetir os modelos caseiros que sao os da agressao e
do insulto. Assim, "a agressividade e hostilidade por parte dos alunos pode ser
40
encarada como resultado da exposig80 a certas atitudes e comportamentos
em casa, nomeadamente 0 usa habitual da puniyao fi5ica, par parte dos
progenitores ou mais vel has, que ensinam que a agressividade e urn modo
aceitavet de resotu<;:8o de conflitos". (COSTA & VALE, 1998, p. 66)
Se, par urn lado, 0 c6digo linguistico que, normal mente, estes alunos
possuem e restrito, 0 que condiciona, ainda mais, a sua integrayao escolar, a
aprendizagem dos centeudos curriculares e limita os resultados da avalia~o,
par Qutro, a escola ao transmitir ao aluno, de uma forma coletiva e
indistinta, conhecimentos cientificos, orientac;6es de comportamento e valores
comuns, tenta "impor-Ihe~ a cultura dominante que choca com a realidade
social em que estes estao inseridos e, par vezes, com as seus objetivos. Este
defasamento entre 0 que a escola exige e 0 que a familia e a sociedade Ihes
da, pode resultar em comportamentos reativos e violentos como forma de
contestac;ao a uma escola incapaz de cumprir com as suas promessas de
integra980 social, que nao as protege da exclusao social, au seja, uma
violencia ~anti-escola"
Ha, tambem, na problemidica da violencia nas escolas uma
dimensao simb6lica feita de representayoes, crenyas, expectativas e
inten90es de alunos e professores e de uns sobre os outros, que condicianam
as relayoes e as interayoes mutuas e, ainda, a dimensao do "conflito de
poderes".
Na gestao da indisciplina na sala de aula e para legitimar a sua
lideranya, e possive! que 0 professor recerra, explicita ou implicitamente, a
todos OS poderes, ora acentuando urn ou outro, de acordo com 0 contexto de
interayao sociat em que se encontra,
41
He urna necessidade de as alunos reconhecerem 0 professor comoautoridade, ou seja, como alguem que, independentemente de Qulras bases depoder em que eventualmente se apaie, deve ser obedecido, SitU8yaO que cadavez e menos observavel na sala de aula, concluindo que 0 poder do professorsera tanto maior quanta mais diversificadas foram as bases em que ele S8sustentar e quanta maior for a congruencia entre as bases do poder doprofessor e as finalidades do nivel do sistema educativ~ em que exen;a a suaatividade. (FORMOSINHO, 1980, p. 54)
Mas, S8 na organiz8c;ao escolar as professores nao estao, de forma
alguma, destituidos de poder, tambem nao sao detentores de um poder
absoluto. Os subordinados possuem as seus proprios poderes, que residem
nas estruturas sociais informais, e se 0 poder caracteristico dos superiores e
para tomar iniciativas, 0 poder dos subordinados pode ser usado para
modificar, atrasar ou substituir essas iniciativas. Transferindo esta ideia para 0
contexto da sala de aula, podemos concluir que os alunos - subordinados -
tambem detem poder, ainda que minimo, e poderao tentar usa-Io,
recusando 0 papel que a escola Ihe reserva, adotando comportamentos
indisciplinados e violentos. Este poder que 0 aluno detem pode, ainda, ser
aumentado ou refon;ado em funC;8odo numero de alunos envolvidos numa
dada situa<;iio.
A forc;a de um aluno esta em relaC;8o direta com 0 numero de
colegas de turma que podem ser mobilizados para 0 apoiar contra 0
professor.
Por outro lado, 0 grupo de alunos, ou turma, dispoe ainda de uma outra
fonte de poder. Trata-se do poder de resistir a a9aO do professor. Este
comportamento de resistencia acaba por afetar a imagem profissional do
professor, nao apenas face aos colegas, como tambem face a escola e acomunidade educativa. Sao considerados, pela generalidade dos professores,
42
demasiado negativQs, vista existir a tendencia para atribuir aS elevados indices
de comportamentos indisciplinados e insucesso academico a incapacidade
profissional do professor e naD aos comportamentos dos alunos. Urn
exemplo deste ~mau estar" dos professores e a dificuldade demonstrada no
relato dos momentos em que foram vitimas da violencia dos alunos, como
explica os professores, quando sao agredidos, psicol6gica au fisicamente, tern
vergonha.
as comportamentos violentos que as alunos adotam, par diversos
fatores, economicos, Gulturais, sociais, familia res, pessoais e escolares
combinam-se, na sala de aula, de uma forma rnais complexa e intensa e
dificultam a interac;:ao entre professor e alunos. Pareee-nos que estes aspectos
nao desresponsabilizam nem a escola nem 0 professor. Pelo contrario, sendo
estes as alunos que mais precisam da escola e de quem os ajude, sao eles,
tambem, os que mais facilmente sao vitimas da exclusao no interior desta,
sobre quem mais espontaneamente se criam expectativas negativas, estigmas
e rotulos depreciativos, com quem se interage da forma mais "preconceituosa",
e a quem se abandona a sorte, continuando a aprofundar a sua condenavao
ao fracasso.
Poderiamos falar, aqui, do fen6meno da "profecia que se auto-realiza",
estudada por ROSENTHAL & JACOBSON (IN: LOUREIRO, 1996) Os autores
explicam esta ideia salientando 0 fato de que "( ... ) a crenc;a de um grupo de
individuos na 'verdade' de um acontecimento, pode levar a sua realizac;ao
efetiva", ou seja, S8 0 professor tiver baixas 8xpectativas em rela9aO aos
alunos, devido, por exemplo, a sua origem social, estes corresponderao,
certamente, a essas expectativas. Da-se, portanto, a auto-realizac;;ao de
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profecias interpessoais. Este processo surge, muito freqOentemente, na sala
de aula.
3.7 COMO MINIMIZAR A INDISCIPLINA
Para conseguir-se combater a indisciplina na sala de aula S8 faz
necessaria dar pequenos passos concretos a procura de urna mudan~
qualitativa e duradoura. E necessaria aeabar com a pedagogia do "empurra
com a barriga~,ou "deixa para depois", na qual S8 busca apenas culpar
individual mente, os pais, os alunos, a escola, e ate mesmo, a sociedade. 0
importante e que cada urn assuma 0 compromisso com as suas respectivas
responsabilidades, numa visao de totalidade.
A busca pelo resgate do processo ensino·aprendizagem, depende em
grande parte da competencia profissional do educador, do seu compromisso
com a formac;ao integral do educando, da integra~o entre a comunidade
escolar e da capacidade docente em enfatizar no processo de constru9ao do
saber os conteudos realmente relevantes e significativQs, que embasarao a
verdadeira cidadania. Afinal, D professor naD e 0 unico responsavel pela
indisciplina.
"0 professor e um dos principais agentes de mudan9a da disciplina por
estar em contato direto com os alunos, por ser educador, par ser 0 mais
interessado em resolver 0 problema que tanto Ihe faz sofree".
(VASCONCELLOS, 1996. P.69)
44
A disciplina deixa de ser urn problema e passa a ser uma questao,
quando 0 professor cumpre seu papel. Entao, a disciplina passa a ser
conseguida atraves da competemcia e do convencimento, e naD mais atraves
da coerc;iio,como tem side a regra.
a autoritarismo reprime a manifestac;ao do ser, uma vez que 0 indivfduo
acostuma sempre a reeeber ordens, leva a urn nao desenvolvimento para
discernimento de saber 0 que e certa au errado, naD cultivando assim os seus
proprios valores.
A sanc;iio pode ser por reciprocidade, neste tipo de sanc;iio 0 objetivo efazer compreender 80 sujeito que cometeu a falta.
"0 modo pelo qual 0 professor aplica sanc;6es a faltas cometidas em
sala de aula e urn dos indicadores atraves dos quais S8 pode conhecer 0 que
ele pensa a respeito das possibilidades de desenvolvimento social e intelectual
dos seus alunos". (VASCONCELLOS, 1996, p.55).
A melhor maneira de ridar com a indisciplina e buscar, em cada
realidade, a melhor forma necessaria e passivel de ayao, com metodologias
mais adequadas compatfveis com a aprendizagem significativa do aluno.
"0 professor precisa conquistar a confianc;a e 0 respeito da turma para
se tornar 0 seu legitimo organizador'. (VASCONCELLOS, 1996, p.70)
Para 0 educador tornar a aprendizagem significativa e necessario que
ele resgate a auto-estima e a atenryao.
"A auto-estima e 0 sentimento fundamental para se estabelecer a
disciplina". (TIBA, 1996, p.157).
"Eo por isso que os alunos vao cada vez melhor naquilo que fazem bem.
Em contrapartida, tudo 0 que diminui a auto-estima fundamental Eo abandonado,
45
partanta, ele tende a ir cada vez piar naquila em que vai mal" (liSA, 1996.
P.1S2).
Urn professor com baixa auto-8stima interpreta qualquer atitude dos
alunos como uma provoc8980 aos seus complexos.
"Quando urn professor se dirige a uma sala especifica. sentindo-se
angustiado como quem e levado ao sacrificia, e porque seu estado de
consciencia ja esta alterado. Tude passa a ser motivD de sofrimento e 0 seu
rendimenta cai". (liSA,1996. P.160).
Para nao se ter problemas com a indisciplina e fundamental trabalhar a
afetividade, pois os sujeitos querem ser reconhecidos, amados, desejam ter
valor uns para as Qutros. Pode-se atuar sobre 0 afetivo via cognitiv~, pois
quando 0 individuo sabe as eoisas, fortalece sua autovali8, e condi90es
afetivas favoraveis facilitam a aprendizagem. As intenc;:oes dos educadores
voltadas para ac;ao, reflexao, 0 encontro, a disponibilidade, a espontaneidade,
a criatividade, levam 0 educando a uma maior realiza\'iio pessoal, grupal e
requerem a integrayaa do corpa, sentimento e intelecto.
46
4CONCLUSAO
De tudo aquilo a que S8 fez referencia, pade-s8 dizer que 0 professor
torna-S8 essencialmente urn elemento decis6rio que tern de partir da analise
da situ8c;aO, ponderar as alternativas que S8 [he apresentam, antecipar as suas
eventuais consequencias. Assim a rela~o pedagogica aparece como uma
relac;ao assimetrica e potencialmente conflitual, portanto prisioneira das suas
origens, nae S8 podendo, par issa, furtar ao can~ter de violemcia decorrente de
uma imposi<;fio unilateral. Os fen6menos de indisciplina aparecem como a face
exterior e visfvel de uma realidade conflitual em que 0 poder normativQ do
professor S8 manifesta sobretudo no lugar predominante par ele ocupado no
sistema de comunicac;6es da aula e na sua regula9ao e poem em jogo urn
sistema de representac;oes e expectativas reciprocas que, muitas vezes,
geram urn grande equivoco de ordem pedag6gica com 0 qual alguns alunos
nao pactuam.
Portanto, para lidar com a indisciplina na sala de aula, 0 professor pode
recorrer a varios tipos de poder, con forme as suas caracteristicas pessoais, os
seus conhecimentos academicos e pedagogicos ou da legitimidade conferida
pela escola.
o professor deve transmitir atraves da comunicaryao que estabelece
com as alunos, consciente ou inconscientemente, as imagens e expectativas
que formula a seu respeito, imagens e expectativas essas, que levarn ° aluno
a agir em sua conformidade, devendo portanto, evitar comportamentos que
levam iI indisciplina e a'insubordina9ilo dentro de uma sala de aula, 0
professor deve, tambem, dar mais suporte e "calor humano" aos alunos de
47
estatuta mais baixo, de modo que estes nae S8 isolem, evitando a
marginaliza.,ao.
Vimos tambem, que quanta maior for 0 numero de alunos por sala de
aula mais dificil S8 torna a manutenyao da disciplina, e par conseq0encia, ha,
inevitavelmente. aumento da indisciplina.
Na vida de urna turma ha urn fervilhar de fen6menos relacionais que
poderao explicar a disciplina au a indisciplina na aula.
Podemos rematar 0 trabalho dizendo que: 0 saber conquista-se passo a
passo, vencendo prova atras de prova, nunca virando a cara ao desafio e
enfrentando, consistentemente e racionalmente, todos os problemas do dia-a-
dia, sem nunca nos desligar dos valores e principios de que somas feitcs e
formados, e aeima de tudo, sem nunca deixar de confiar naquila em que
acredilamos e no que estamos a fazer, pois S8 nos nao acreditamos em nos
proprios, quem vai acreditar? Esta deve ser a base de um professor para ter
uma turma harmoniosa interessada e sem qualquer suspeita de conflito.
48
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