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A CONTRIBUIÇÃO DO MODELO GRI
PARA EVOLUÇÃO DO RELATO DE
SUSTENTABILIDADE DAS
ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS:
ESTUDO DE CASO DA NATURA
Patricia Moreira dos Santos (UFF)
patricia.moreira@oi.com.br
Este trabalho apresenta a metodologia de elaboração de relatórios de
sustentabilidade da Global Reporting Initiative (GRI). Este modelo de
relato vem se destacando internacionalmente por possibilitar a
padronização das informações, facilitaando a análise e a
comparabilidade do desempenho das organizações. A partir do estudo
de caso da Natura, foi avaliada a qualidade do conteúdo de quatro
relatórios de sustentabilidade da empresa, publicados no período de
sete anos. Como critérios de análise foram utilizados os princípios
para definição de conteúdo e de qualidade das diretrizes GRI e seis
temas-chave relacionados à sustentabilidade, como governança,
formas de gestão e dimensões econômica, ambiental e social. O estudo
comparativo apontou os aspectos que evoluíram nos relatos da Natura
e aqueles que ainda precisam ser aperfeiçoados.
Palavras-chaves: Relatório de sustentabilidade. GRI. Evolução do
relato
5, 6 e 7 de Agosto de 2010 ISSN 1984-9354
VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável
Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010
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1 Introdução
Os relatórios de sustentabilidade têm se tornado, cada vez mais, uma importante
ferramenta de gestão e de comunicação das práticas sociais, ambientais e econômicas das
empresas. Atualmente, mais de 2.500 relatórios são publicados anualmente por empresas de
todo o mundo, incluídas mais de 80% da relação da revista Fortune 250. Enquanto esses
números se mantêm estáveis na Europa, Oceania e América do Norte, observa-se um
crescimento significativo nos países em desenvolvimento (SUSTAINABILITY/FBDS E
UNEP, 2008).
No Brasil, a publicação de relatórios de sustentabilidade também vem aumentando.
Em 2006, foram publicados 18 relatórios no modelo da organização não-governamental
Global Reporting Initiative (GRI). Já em 2009, esse número chegou a 701. Entre os fatores
apontados para a valorização desse tipo de prestação de contas das organizações brasileiras,
destacam-se: o crescimento expressivo na quantidade de empresas que abriram seu capital, a
criação do índice de sustentabilidade da Bovespa (ISE), a participação de investidores
estrangeiros em empresas brasileiras e a disseminação das diretrizes da GRI
(SUSTAINABILITY/FBDS E UNEP, 2008).
Cabe destacar que tão importante quanto o aumento do número de relatórios, verifica-
se a melhoria da sua qualidade. Os relatórios brasileiros estão sendo reconhecidos
internacionalmente, recebendo inclusive prêmios como o GRI Reader’s Choice. Em 2008,
receberam essa premiação e menções especiais, o Banco do Brasil, Banco Real, Natura,
Petrobras e Usiminas, sendo que a Petrobras foi a vencedora na categoria melhor relatório.
Nesse cenário, pode-se afirmar que os relatórios de sustentabilidade conquistaram um
espaço significativo no meio social e corporativo. Conforme apontado pela KPMG e
SustainAbility no Relatório da Pesquisa GRI – Reader’s Choice (2008, p.10):
O relatório fortalece a reputação organizacional ou a compromete? A esse
respeito, os resultados da pesquisa são muito consistentes. No total, 90% dos
leitores disseram que sua percepção sobre a empresa foi influenciada pelo
1 Dados disponíveis no site da GRI (www.globalreporting.org), em Reports List. Acesso em 20 de
março de 2010.
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relatório de sustentabilidade. Desses, 85% desenvolveram uma opinião mais favorável sobre a organização.
O principal objetivo da Pesquisa GRI – Reader’s Choice foi justamente apresentar as
conclusões e análises do primeiro estudo realizado com leitores de relatórios de
sustentabilidade. Até então, as investigações procuravam apontar e chegar a um consenso
sobre o que constitui um relatório de qualidade, sem levar em consideração a opinião dos
leitores. Conduzida entre outubro de 2007 e janeiro de 2008, a Pesquisa Readers’ Choice
entrevistou 2.300 leitores e não leitores de todo o mundo.
A transparência, a qualidade do conteúdo e a relevância das questões abordadas nos
relatórios de sustentabilidade são fundamentais para a sua credibilidade. As informações
disponibilizadas por meio desse relato geram um compromisso da organização com os seus
stakeholders.
Desse modo, independente das razões que levam à leitura dos relatórios de
sustentabilidade – seja desde a curiosidade de conhecer a história da empresa, até acompanhar
a evolução dos investimentos sociais – estes estão sendo cada vez mais utilizados pelos
stakeholders para tomadas de decisão.
Fatores como a maior consciência da sociedade a respeito dos temas relacionados à
sustentabilidade, em especial as questões como mudanças climáticas e direitos humanos,
também colaboram para que os relatórios de sustentabilidade se tornem um meio de
comunicação fundamental (KPMG e SustainAbility, 2008).
2 Objetivo Geral
O objetivo geral dessa pesquisa é verificar, por meio do estudo de caso de uma
empresa líder em sustentabilidade, a evolução da qualidade do conteúdo dos seus relatórios
com base nos Princípios para Definição do Conteúdo e de Qualidade estabelecidos nas
diretrizes da GRI e também sob a luz de alguns temas-chave da sustentabilidade, como
governança, formas de gestão e dimensões econômica, ambiental e social.
3 Questões-problema
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A metodologia de relato da GRI é uma forma eficaz de demonstrar as ações de
sustentabilidade das organizações?
O texto dos relatórios da Natura atende aos Princípios para Definição de Conteúdo e
de Qualidade das diretrizes estabelecidas pela GRI?
O conteúdo dos relatórios da Natura, sob o ponto de vista da qualidade, apresentou
evolução?
É possível perceber por meio dos relatórios um avanço da organização no tratamento
de temas como governança, formas de gestão e dimensões econômica, ambiental e
social?
4 O Modelo GRI como ferramenta de gestão
A Global Reporting Initiative (GRI) é uma ampla rede multistakeholder composta por
milhares de especialistas de dezenas de países em todo o mundo. A organização surgiu em
1997, de uma parceria entre a Ceres (Coalition for Environmentally Responsible Economies) e
o Programa Ambiental das Nações Unidas. Em 2002, a GRI foi constituída como organização
independente sem fins lucrativos em Amsterdã, Holanda.
Desde a sua criação, a GRI tem trabalhado para orientar as organizações que estejam
elaborando relatórios, a descrever e a articular melhor suas contribuições em direção ao
desenvolvimento sustentável. A tendência atual é que um número cada vez maior de
empresas, no mundo todo, adote o padrão internacional de relatório da GRI, permitindo uma
padronização que facilite a análise e a comparabilidade do desempenho das empresas. Em
2009, mais de 1300 organizações em mais de 60 países declararam usar o modelo de relatório
da GRI (GRI, 2010b; CLAUDIA PESTANA et al, 2008).
Para a GRI (2010a), o termo Relatório de Sustentabilidade é sinônimo de relatório
cidadão, relatório social, baseado no princípio do triple bottom line, que engloba as dimensões
social, ambiental e econômica.
Para as organizações relatoras, a estrutura de relatórios da GRI fornece ferramentas
para: gestão, maior comparabilidade e redução de custos em sustentabilidade, fortalecimento
da marca e da reputação, diferenciação no mercado, proteção contra desgaste da marca
resultante das ações de fornecedores ou da concorrência, networking e comunicações (GRI,
2010a).
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5 A aplicação do GRI nos relatórios brasileiros
A adesão das empresas brasileiras ao modelo de relatório de sustentabilidade da GRI
vem crescendo anualmente. Para avaliar a qualidade destes relatórios, o programa Global
Reporters ao realizar sua oitava pesquisa global, decidiu incluir também a primeira nacional.
O estudo Rumo à Credibilidade: uma pesquisa de relatórios de sustentabilidade no Brasil,
publicado em 2008, foi conduzido pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento
Sustentável (FBDS) em parceria com a SustainAbility e o Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (PNUMA).
Inicialmente foram selecionadas 76 empresas brasileiras que publicam relatórios de
sustentabilidade. A qualidade destes relatórios foi avaliada a partir de um conjunto de critérios
extraídos da metodologia do programa Global Reporters, resultando na seleção de 28
relatórios. Coube ao Conselho Consultivo do projeto a escolha dos dez relatórios que seriam
objeto do estudo, denominados os Top 10, mostrado no Quadro 2, a seguir.
Segundo a SustainAbility/FBDS e UNEP (2008), a decisão de definir a amostra em
dez relatórios, partiu das premissas de que este universo representa mais de 10% dos
relatórios publicados no país e uma amostra muito ampla poderia acabar englobando
relatórios de qualidade inferior.
Dentre as empresas que estão no ranking, metade tem origem de capital nacional, uma
parte é subsidiária multinacional e há ainda três que são concessionárias de energia elétrica.
Nossa meta é contribuir com análises rigorosas que estimulem o debate e incentivem as melhores práticas de sustentabilidade no Brasil. Em última
instância, nosso objetivo é promover uma visão participativa da agenda de
Responsabilidade Corporativa e transparência no Brasil, bem como reconhecer as lideranças neste campo (SUSTAINABILITY/FBDS E UNEP,
2008, p.1).
Os Top 10
Empresa Setor de Atividade Ano do
relatório
Pontuação
%
1 Natura Higiene e beleza 2007 54
2 Suzano Petroquímica Petroquímica 2006 53
3 Ampla Concessionária de energia elétrica 2007 52
Coelce Concessionária de energia elétrica 2007 52
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5 Banco Real Serviços financeiros 2007 51
6 Energias do Brasil Concessionária de energia elétrica 2007 47
7 Sabesp Concessionária de água e saneamento 2007 46
8 Bunge Agronegócios 2007 41
Celulose Irani Papel e celulose 2007 41
10 Banco Itaú Serviços financeiros 2007 35
Quadro 1
Fonte: Adaptado de SustainAbility/FBDS e UNEP (2008)
Todos os relatórios do Top 10 adotam as Diretrizes G3 da GRI e a maioria utiliza
alguma ferramenta de verificação externa, como forma de fortalecer a credibilidade do
processo. O estudo identificou pontos positivos e negativos nos relatos. Entre os aspectos
considerados relevantes destacam-se a maneira como as empresas articulam o compromisso
com a sustentabilidade e como esta contribui para catalisar crescimento e sucesso. Já entre os
pontos fracos estão a necessidade de aprofundar o valor estratégico dos relatórios,
demonstrando como a sustentabilidade permeia os negócios. Dentre as falhas encontradas,
cabe destacar a ausência de: governança, materialidade, metas, conteúdo equilibrado,
engajamento das partes interessadas e utilização de websites (SUSTAINABILITY/FBDS E
UNEP, 2008).
No que diz respeito ao envolvimento dos stakeholders, a pesquisa Conte Comigo – A
opinião dos leitores sobre os relatórios de sustentabilidade, realizada pelo Programa GRI –
Reader’s Choice, em parceria com a KPMG e SustainAbility, em 2008, traz dados
semelhantes ao estudo da SustainAbility/FBDS e UNEP. Da amostra de leitores entrevistados,
90% apontaram que gostariam que as empresas descrevessem como e quem se envolveu na
elaboração dos relatórios.
Para o público leitor o processo de seleção de temas precisa ser cada vez mais
profissional. De acordo com a KPMG e SustainAbility (2008, p.15):
As empresas que ainda não iniciaram o processo sistêmico de seleção de
temas materiais, de maneira a incluir, dentre outros elementos, o
engajamento transparente de seus stakeholders, podem considerar este como um ponto a ser aprimorado a curto prazo.
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O desafio das empresas de incorporar práticas sustentáveis aos seus negócios apareceu
como um aspecto primordial na pesquisa da SustainAbility/FBDS e UNEP (2008). Metade
dos Top 10 recebeu nota zero no critério Desafios de implementação do desenvolvimento
sustentável, que avalia como a empresa relatora descreve os desafios, trade-offs e barreiras
para atingir o desenvolvimento sustentável.
A ausência quase total de transparência nos desafios de implementação
provavelmente faz com que os leitores concluam que os relatórios apresentam um quadro desequilibrado da evolução para a sustentabilidade.
Para o aperfeiçoamento dos relatórios de sustentabilidade no Brasil — e para
que sejam considerados confiáveis pelos leitores — o tratamento dos trade-offs e das dificuldades deverá ser aprimorado no futuro
(SUSTAINABILITY/FBDS E UNEP, 2008, p.14).
A pesquisa Rumo à Credibilidade traz o questionamento: ―a prática de publicar
relatórios de sustentabilidade resultou em maior transparência por parte das empresas e trouxe
mudanças expressivas?‖ Segundo o estudo, a resposta é ―sim‖, com a ressalva de que os
relatórios de sustentabilidade ainda precisam se aprimorar.
As três grandes críticas aos relatórios que ouvimos são: (1) os relatórios não
são lidos; (2) seu principal objetivo é a gestão da reputação (logo, os mesmos carecem de credibilidade); e (3) talvez eles auxiliem a direcionar
estratégia e desempenho, porém deveria ser ao contrário
(SUSTAINABILITY/FBDS E UNEP, 2008, p.28).
Para a SustaintAbility/FBDS e UNEP a gestão do desempenho da sustentabilidade no
futuro será mais estratégica e valiosa, diferente do processo de apenas comunicar
externamente a sua evolução.
6 Metodologia
A metodologia desta pesquisa utilizou a investigação avaliativa exploratória, devido
ao pouco conhecimento acumulado e sistematizado do tema e na pesquisa bibliográfica, que
segundo Vergara (2009), baseia-se em material acessível ao público em geral. Foram fontes
primárias os relatórios de sustentabilidade da Natura, disponibilizados no site da empresa,
além das informações divulgadas pelas organizações que são referências na temática da
responsabilidade social corporativa, como a Global Reporting Initiative (GRI), Instituto
Ethos, SustainAbility, Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) e
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS).
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Para complementar o estudo buscou-se bibliografia relacionada ao desenvolvimento da
responsabilidade social no Brasil e no mundo e pesquisas e estudos elaborados pelas
organizações citadas acima.
A escolha da empresa Natura para o estudo de caso teve como referência a publicação
Rumo à Credibilidade: uma pesquisa de relatórios de sustentabilidade no Brasil, realizada
pelo programa Global Reporters, com apoio da SustainAbility, Fundação Brasileira para o
Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA).
A referida pesquisa apresentou um levantamento objetivo das melhores práticas de
reporte e transparência, por meio de uma rigorosa análise de dez relatórios brasileiros
considerados líderes. Desse modo, baseando-se em um conjunto de indicadores, foi apontado
um ranking dos melhores relatórios de sustentabilidade, no qual a Natura ficou em primeiro
lugar.
Foram objeto de análise deste estudo os relatórios de sustentabilidade da Natura
publicados nos anos de 2001, 2003, 2005 e 2007. Para verificar se o conteúdo dos relatórios
segue os Princípios para Definição de Conteúdo e de Qualidade das diretrizes GRI, foram
estabelecidos como critérios de análise os próprios itens de avaliação que compõe os
princípios.
Com base nos Princípios para Definição do Conteúdo e da Qualidade das diretrizes
GRI, foi elaborada uma matriz com alguns dos testes sugeridos para cada princípio. Essa
matriz foi aplicada nos relatórios escolhidos para este estudo, com a sinalização do nível de
atendimento (total, parcial ou nulo) para cada item.
Princípio Teste
Equilíbrio
O relatório divulga resultados e temas tanto favoráveis quanto desfavoráveis
As informações são apresentadas num formato que permite aos usuários ver
tendências positivas e negativas no desempenho de ano para ano
A ênfase em diferentes temas do relatório é proporcional à sua materialidade
Comparabilidade
O relatório e as informações nele contidas podem ser comparados de um ano para
outro
O desempenho da organização pode ser comparado com padrões de referência (benchmarks) apropriados
Qualquer variação significativa entre relatórios com respeito a limite, escopo,
duração do período analisado ou informações cobertas pode ser identificada e
explicada
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Exatidão
O relatório indica quais dados foram medidos
As técnicas de medição de dados e as bases de cálculo são descritas adequadamente e podem ser reproduzidas com resultados semelhantes
O relatório indica quais dados foram estimados e que hipóteses e técnicas foram
usadas na elaboração dessas estimativas ou onde as informações podem ser encontradas
Periodicidade
A coleta e a divulgação das informações fundamentais sobre o desempenho são
compatíveis com o cronograma dos relatórios de sustentabilidade
As informações constantes no relatório (incluindo os informes publicados via internet) mostram claramente o período de tempo a que se referem, quando serão
atualizadas e quando foram feitas as últimas atualizações
Clareza
O relatório contém o nível necessário de informações para atender às expectativas
dos stakeholders, mas evita detalhes excessivos e desnecessários
Os stakeholders podem encontrar as informações específicas que desejam sem
demasiado esforço, por meio de índices, mapas, links ou outras ferramentas
O relatório evita vocabulário técnico, siglas, jargões e outros termos que tendem a
ser pouco conhecidos pelos stakeholders e inclui explicações (quando necessário) na seção em questão ou num glossário
Confiabilidade A abrangência da verificação externa está identificada
Materialidade
Na definição de temas relevantes, são considerados os principais interesses/temas e
indicadores de sustentabilidade levantados pelos stakeholders
Na definição de temas relevantes, são considerados os principais temas e futuros
desafios do setor relatados por pares e pela concorrência
Na definição de temas relevantes, são considerados os principais valores, políticas
e estratégias organizacionais, sistemas de gestão operacional, objetivos e metas
Stakeholders
O conteúdo do relatório utiliza os resultados dos processos de engajamento dos
stakeholders usados pela organização em suas atividades contínuas, conforme
exigido pela estrutura legal e institucional dentro da qual ela opera
O conteúdo do relatório utiliza os resultados de quaisquer processos de engajamento de stakeholders empreendidos especificamente para sua confecção
Contexto da
Sustentabilidade
A organização apresenta seu entendimento de desenvolvimento sustentável e
utiliza as melhores informações e medidas de desenvolvimento sustentável disponíveis para os temas abordados no relatório
A organização apresenta seu desempenho de modo a comunicar a magnitude de
seu impacto e sua contribuição em contextos geográficos apropriados
O relatório descreve como os temas de sustentabilidade se relacionam com a estratégia, riscos e oportunidades de longo prazo da organização, incluindo temas
da cadeia de suprimentos
Abrangência
As informações no relatório incluem todas as ações ou eventos significativos no
período coberto e estimativas de impactos futuros expressivos de eventos passados, quando estes são razoavelmente previsíveis e podem se tornar inevitáveis ou
irreversíveis
Quadro 02
Fonte: Dados extraídos da Diretrizes para Relatório de Sustentabilidade (2006, p.8-17)).
Os relatórios da Natura, objetos de análise deste estudo, também foram avaliados de
acordo com alguns tópicos relevantes da sustentabilidade, como governança, formas de gestão
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e dimensões econômica, ambiental e social. Para isso foi montado um quadro denominado
Temas-chave – contendo seis perguntas extraídas das diretrizes da GRI – que foram
classificados de acordo o nível de atendimento (alto, médio, baixo ou nulo). As questões
avaliadas foram:
Em relação à governança corporativa, o relatório a apresenta declarações de missão e valores, códigos de conduta e princípios internos relevantes
para o desempenho econômico, ambiental e social da organização, assim
como o estágio de sua implementação?
A forma de gestão da organização demonstra no relatório seu
comprometimento com as questões econômicas, ambientais e sociais?
No relato dos indicadores de desempenho, a organização apresenta
informações relativas ao período coberto pelo relatório e a pelo menos dois períodos anteriores, bem como às metas futuras, estabelecidas para
curto e médio prazo?
Em relação à dimensão econômica, o relatório fornece um relato conciso do desempenho financeiro da organização, assim como sua presença no
mercado e impactos econômicos indiretos?
Em relação à dimensão ambiental, o relatório apresenta a abordagem de gestão da organização, considerando seus impactos no meio ambiente
(materiais, água, energia, biodiversidade, emissões, efluentes e resíduos,
transporte etc)?
Em relação ao desempenho social, o relatório fornece informações relativas aos impactos da organização nos sistemas sociais nos quais
opera, considerando suas práticas trabalhistas, direitos humanos,
sociedade e responsabilidade pelo produto? (GRI, 2006, pags.19 a 30).
Cabe destacar que este estudo analisou os quatro relatórios da Natura conforme as
diretrizes G3 da GRI que só foram lançadas em 2006. Portanto, os relatórios da Natura de
2001, 2003 e 2005 seguiram as recomendações da versão GRI 2002. Conforme já descrito
nesta pesquisa, na GRI G3 novos aspectos foram introduzidos.
7 Estudo de caso
Em setembro de 2009, a Natura completou 40 anos de existência. Líder no Brasil no
mercado de cosméticos, fragrâncias e higiene pessoal, mantém um modelo de negócios pela
venda direta, que busca a criação de valor sustentável por meio da construção de relações de
qualidade com a sociedade. Além do Brasil, também está presente na França e em outros sete
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países da América Latina: Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Venezuela e México, além da
Bolívia, onde atua via distribuidor local.
Desde 2004, tornou-se uma companhia de capital aberto, com ações listadas no Novo
Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Pelo terceiro ano consecutivo
faz parte da lista de empresas que integram o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da
Bovespa. Somadas todas as operações, conta com 5.698 colaboradores diretos. Além disso,
possui cerca de 850 mil consultoras e consultores, que integram o sistema de venda direta.
A empresa destaca que sua razão de ser é:
criar e comercializar produtos e serviços que promovam o Bem-Estar/Estar Bem‖. Bem-Estar é a relação harmoniosa, agradável, do indivíduo consigo
mesmo, com seu corpo. Estar Bem é a relação empática, bem-sucedida,
prazerosa, do indivíduo com o outro, com a natureza da qual faz parte e com o todo (NATURA, 2010a).
Em 2000, a Natura publicou o relatório anual de Responsabilidade Corporativa,
adotando as diretrizes da Global Reporting Initiative. Foi a primeira empresa brasileira a
utilizar a metodologia da GRI. Com periodicidade de relato anual, todos os demais relatórios
publicados pela empresa até 2008, seguiram o modelo GRI. Com essa expertise adquirida,
como já descrito neste estudo, a Natura conquistou o primeiro lugar no ranking dos melhores
relatórios de sustentabilidade, do estudo Rumo à Credibilidade: uma pesquisa de relatórios de
sustentabilidade no Brasil, realizada pelo programa Global Reporters, com apoio da
SustainAbility, FBDS e UNEP. Além disso, a Natura é uma organização stakeholder da GRI e
apoia a missão da organização de desenvolver diretrizes globalmente aceitas para relatórios de
sustentabilidade por meio do engajamento das partes interessadas.
7.1 Uma visão geral dos relatos
A análise dos temas-chave evidenciou o bom nível de comprometimento da Natura
com a questão da sustentabilidade. A maioria dos itens apresentou nível de atendimento alto e
médio, não tendo sido constatado nível nulo. Percebe-se uma evolução do relato.
No que diz respeito à governança corporativa todos os relatórios analisados
apresentaram declarações de missão e valores, códigos de conduta e princípios internos
relevantes para o desempenho econômico, ambiental e social. A empresa subscreve o Pacto
Global e também é signatária dos seguintes documentos:
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Códigos para relacionamentos com consumidores, com vendedores e entre empresas,
da Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD);
Código de Conduta de Venda direta Diante dos Consumidores, que segue o modelo
proposto pela World Federation of Direct Selling Associations (WFDSA);
Código de Boas Práticas Comerciais da Associação Brasileira da Indústria de Higiene
Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), e do Sindicato da Indústria de
Perfumarias e Artigos de Toucador no Estado de São Paulo, (Sipatesp);
Estatuto da Criança e do Adolescente, tendo, inclusive, transformado seus preceitos
em cláusulas nos contratos com os fornecedores.
Além disso, a Natura é filiada à Fundação Abrinq, organização não-governamental de
defesa dos direitos das crianças, da qual recebeu o selo Empresa Amiga da Criança, e
Associada ao Instituto Ethos, adotando integralmente a sua Carta de Princípios.
Todos os relatórios abordaram no capítulo de governança a formação do Conselho de
Administração e apresentaram a diretoria executiva da empresa.
Segundo a GRI (2006) ―as informações sobre a forma de gestão correspondem aos
dados cujo objetivo é explicitar o contexto no qual deve ser interpretado o desempenho da
organização em uma área específica‖. Nesse item, também classificado como um tema-chave
por este estudo, a Natura apresentou em todos os relatórios analisados seu comprometimento
com as questões econômicas, sociais e ambientais, sendo que este relato foi aprimorado a
partir do relatório de 2005. As evidências desse compromisso da empresa foram verificadas
por meio do relato dos seus indicadores econômicos, sociais e ambientais e das políticas e
projetos adotados pela Natura.
O Projeto Biodiversidade é um exemplo de como a Natura lida com a gestão do meio
ambiente. A iniciativa, apresentada no relatório de 2001, foi desenvolvida para estruturar e
gerenciar os planos e metas sobre o uso sustentável de ativos da flora brasileira. Outra ação
destacada neste relatório foi a criação do Comitê Científico da Biodiversidade, com o objetivo
de conduzir o estudo e a organização do conhecimento sobre o tema e fornecer subsídios
técnicos para a tomada de decisões.
Quanto ao relato dos indicadores de desempenho, esse estudo avaliou se a organização
apresentava informações relativas ao período coberto pelo relatório e a pelo menos dois
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períodos anteriores, bem como às metas futuras, estabelecidas para curto e médio prazo.
Observou-se que os relatórios avaliados apresentaram de forma clara o período do relato,
além de quadros e gráficos com dados dos anos anteriores. Todos os relatórios mostraram as
metas da empresa, fazendo, inclusive, referências aos compromissos do relatório do ano
anterior, apontando seu cumprimento ou não. Entretanto, os relatórios de 2005 e 2007
apresentaram um nível de detalhamento superior aos relatórios de 2001 e 2003.
Em relação à dimensão econômica, verificou-se se os relatórios forneciam um relato
conciso do desempenho financeiro da organização, assim como sua presença no mercado e
impactos econômicos indiretos. O relatório de 2001 foi o único que não atendeu a este tópico,
pois não foi localizado no referido relato as informações relacionadas aos impactos indiretos.
No relatório de 2003, a Natura destacou que um dos impactos econômicos indiretos mais
relevantes produzidos pela empresa, foi a riqueza gerada para as Consultoras Natura, que
naquele ano correspondiam a cerca de 355 mil. Outro impacto econômico indireto
demonstrado foi a geração de riquezas para outros públicos, como colaboradores, acionistas e
governo. Assim como observado nos itens anteriores, essa informação foi melhor detalhada
nos relatórios de 2005 e 2007.
No que se refere à dimensão ambiental, este estudo avaliou se os relatórios
apresentavam a abordagem de gestão da organização, considerando seus impactos no meio
ambiente (materiais, água, energia, biodiversidade, emissões, efluentes e resíduos, transporte
etc). Todos os relatórios analisados destacavam essas informações na forma de tabelas
comparativas com os anos anteriores, e o desenvolvimento de ações e políticas em prol do
meio ambiente.
A partir de 2005, nota-se um maior empenho da empresa com as questões ambientais,
como por exemplo a criação do Sistema Integrado Normativo Natura (SINN), que ajudaria os
colaboradores a desenvolver suas atividades diárias com atenção ao compromisso da empresa
com a qualidade de produtos e serviços e também com o meio ambiente. De acordo com o
relato, SINN agregava conceitos desenvolvidos com base nas normas NBR ISO 9001:2000 e
NBR ISO 14001:2004 e dos critérios de excelência da Fundação Nacional da Qualidade, além
das melhores práticas do mercado.
Outra ação, destacada no relatório de 2005 foi o trabalho realizado pela Gerência do
Modelo de Impacto Ambiental, criada em 2004, com o objetivo de conduzir projetos para
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determinar e avaliar os maiores impactos ambientais dos produtos. Cabia a esta gerência
também o acompanhamento de todos os indicadores relacionados aos impactos.
No relatório de 2007, a Natura apresentou um programa, denominado pela empresa
como ambicioso e inovador, que foi o Programa Carbono Neutro, destinado a reduzir e a
compensar as emissões de gases do efeito estufa (GEE) da empresa. Além de controlar as
emissões das fábricas e dos processos, a meta era reduzir as emissões ao longo de toda a
cadeia produtiva, até o descarte final dos produtos, envolvendo também os fornecedores. O
relatório destacou que a meta de concluir o inventário foi atingida e que os produtos seriam
carbono neutro a partir da compensação das emissões, que teria início em 2008.
Sobre o desempenho social, último item dos temas-chave avaliados por este estudo,
constatou-se que os quatro relatórios forneciam informações relativas aos impactos da
organização nos sistemas sociais nos quais opera, considerando suas práticas trabalhistas,
direitos humanos, sociedade e responsabilidade pelo produto.
A Natura ressaltou em todos os relatórios analisados que suas políticas e práticas de
gestão seguem os princípios estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
como o da liberdade e igualdade dos seres humanos, sem distinção de raça, cor, sexo, língua,
religião, origem étnica ou social. Além disso, as políticas e práticas – como a Política de
Gestão de Pessoas, Política de Recrutamento e Seleção, Política de Educação e
Aprendizagem, Política de Remuneração e a Política de Ambiente de Trabalho – contemplam
ainda o direito à vida, à liberdade, à segurança pessoal, coibindo o trabalho infantil e
garantindo a liberdade de reunião e associação.
Outro procedimento, destacado nos relatórios é o respeito à Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT). Conforme informado no relatório de 2003, a Natura incluiu nas suas normas
e procedimentos considerações sobre a contratação de prestadores de serviços e terceiros,
exigindo que o vínculo empregatício dos colaboradores da contratada esteja perfeita e
legalmente registrado, de acordo com a CLT. Em relação aos contratos com fornecedores, a
empresa também possui cláusulas específicas quanto à proibição do trabalho infantil. Já sobre
a temática dos direitos humanos foi incorporada na estratégia e nos Sistemas de Gestão da
empresa.
No relatório de 2001, a Natura destacou seu avanço na incorporação formal dos
Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial como parte da avaliação interna,
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que é uma das etapas da atualização do Planejamento Estratégico. Segundo o relato, foi aberto
no planejamento um capítulo específico para as metas e objetivos relacionados com a
responsabilidade social, a serem cumpridos pela área de Assuntos Corporativos. Entre as
metas estavam: diversificação de canais de participação social internos e externos; divulgação
da política de investimentos institucionais da Natura; incorporação dos princípios de
responsabilidade social corporativa nos planos de negócios; a formação de lideranças; entre
outras.
Entre os compromissos assumidos no relatório de 2007 estavam o de publicar, em
2008, a política sobre lobby e os princípios de relacionamento com o governo. Além disso,
apresentava o programa BioQlicar para as comunidades fornecedoras dos ativos da
biodiversidade. Seu objetivo é realizar um diagnóstico das comunidades fornecedoras,
estabelecendo indicadores para monitoramento e identificando oportunidade de melhoria da
cadeia de fornecimento, considerando aspectos de sustentabilidade.
8 Resultados e discussão
A matriz dos Princípios para Definição de Conteúdo e de Qualidade do Relatório
baseada nos testes sugeridos pela GRI demonstrou que de um modo geral os quatro relatórios
de sustentabilidade da Natura contemplaram a maioria dos princípios de forma total ou
parcial. Poucos itens apresentaram nível de atendimento nulo. Além disso, foi possível
observar a evolução de alguns tópicos no período de tempo coberto por este estudo.
Na análise do princípio Equilíbrio verificou-se nos quatro relatórios a maior ênfase
para as notícias positivas. O único relatório que apresentou de forma explícita informações
sobre situações negativas a serem enfrentadas pela empresa foi o de 2005, no capítulo
denominado ―Desafios‖.
Todos os relatórios apresentaram atendimento total ao princípio Comparabilidade. As
informações podem ser comparadas de um ano para outro, assim como o desempenho da
organização pode ser comparado com padrões de referência (benchmarks) apropriados,
embora os relatórios não tragam essa informação. Além disso, os relatórios deixavam de
forma clara qual eram o escopo do relato e o período analisado, procurando sempre explicar
qualquer alteração dessa natureza.
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Em relação ao princípio Exatidão, o relatório de 2001 não atendeu a dois itens. Não
foram descritas adequadamente as técnicas de medição de dados e as bases de cálculo, nem se
poderiam ser reproduzidas com resultados semelhantes e não foram indicados quais dados
foram estimados e que hipóteses e técnicas foram usadas na elaboração dessas estimativas ou
onde as informações poderiam ser encontradas. Já nos relatórios de 2003, 2005 e 2007 essas
questões foram totalmente atendidas.
Os princípios Periodicidade e Clareza foram atendidos totalmente nos quatros
relatórios avaliados. Os relatórios são publicados anualmente e a linguagem e apresentação
das informações são objetivas, de fácil entendimento, com o uso de muitos elementos gráficos
para facilitar a compreensão dos dados.
Quanto à identificação da abrangência da verificação externa – princípio da
Confiabilidade – os relatórios de 2001 e 2003 não obtiveram avaliação externa. O relatório de
2005 apresentou parecer da auditoria externa feita pela Deloitte Touche Tohmatsu, mas
apenas para as demonstrações contábeis (balanços patrimoniais). Já o relatório de 2007 contou
com a verificação externa da Deloitte Touche Tohmatsu para as demonstrações contábeis e da
DNV para o relatório de Sustentabilidade.
Os itens do princípio Materialidade, conforme observado nos quatro relatórios,
apresentaram um número maior de níveis de atendimento parcial e nulo. Na questão da
definição de temas relevantes – se são considerados os principais interesses/temas e
indicadores de sustentabilidade levantados pelos stakeholders – só o relatório de 2007 trouxe
essa informação. Já no item ―se são considerados os principais temas e futuros desafios do
setor relatados por pares e pela concorrência‖ nenhum dos quatro relatórios abordou essa
temática.
Ainda em relação à definição de temas relevantes, se são considerados os principais
valores, políticas e estratégias organizacionais, sistemas de gestão operacional, objetivos e
metas, nos relatórios 2001, 2003 e 2005 esse item é atendido parcialmente, pois não são
demonstradas todas essas informações. O relatório de 2007 é o único que apresentou um item
específico sobre materialidade, transmitindo de forma clara o que é relevante para a empresa.
Cabe destacar que faltou neste relatório uma abordagem mais clara do que os stakeholders
apontaram como o que era mais material na visão deles.
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No princípio Stakeholders, o item que aborda se o conteúdo do relatório utiliza os
resultados dos processos de engajamento dos stakeholders usados pela organização em suas
atividades contínuas, conforme exigido pela estrutura legal e institucional dentro da qual ela
opera, só foi atendido totalmente no relatório de 2007. Neste relato, há uma parte denominada
―Inclusão dos Stakeholders‖ que trata dessa temática. Os relatórios de 2001, 2003 e 2005
atendem parcialmente, porque apesar de não relatarem os processos de envolvimento com os
stakeholders sempre traziam informações sobre colaboradores, consultoras, comunidades do
entorno, fornecedores e consumidores.
Quanto ao item: o conteúdo do relatório utiliza os resultados de quaisquer processos de
engajamento de stakeholders empreendidos especificamente para sua confecção, somente o
relatório de 2007 apresentou essa informação. Segundo este relato, em 2006, a empresa
realizou um Painel de Engajamento de Stakeholders, especialmente para colher opiniões sobre
o Relatório Anual 2006 e as oportunidades de melhoria para o relatório de 2007. O painel
contou com a participação de 60 representantes dos públicos de relacionamento da empresa.
O princípio Contexto da Sustentabilidade no item que questiona: se a organização
apresenta seu entendimento de desenvolvimento sustentável e utiliza as melhores informações
e medidas de desenvolvimento sustentável disponíveis para os temas abordados no relatório, o
relatório de 2001 atendeu parcialmente este tópico. Apesar das informações sobre os
indicadores econômicos, sociais e ambientais, pouco se explorou o contexto da
sustentabilidade. Já nos relatórios de 2003, 2005 e 2007 essa temática é bastante demonstrada.
No relatório de 2007, por exemplo, há uma parte denominada ―Temas prioritários de
sustentabilidade‖, na qual a empresa relatou suas ações em relação à emissão de gases
causadores do efeito estufa e à biodiversidade.
Quanto ao tópico, se a organização apresenta seu desempenho de modo a comunicar a
magnitude de seu impacto e sua contribuição em contextos geográficos apropriados, os
relatórios de 2001 e 2003 atenderem parcialmente a este item. Em 2005 e 2007, constatou-se
uma evolução dessa abordagem.
No relatório de 2005, por exemplo, a Natura reconheceu que, ao atingir suas metas
econômico-financeiras, são produzidos impactos sociais e ambientais que precisam ser
entendidos como parte do negócio. Por isso, a empresa descreveu no relato que passou a
considerar detalhes desses impactos nos processos de decisão. Entre os principais resultados
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de 2005 destacou-se o aprimoramento do cálculo do impacto ambiental das embalagens e a
inclusão de metas de redução desse impacto na remuneração variável de toda a empresa, além
do aumento da venda de refis.
A mesma tendência do item citado anteriormente foi verificada em relação ao tópico: o
relatório descreve como os temas de sustentabilidade se relacionam com a estratégia, riscos e
oportunidades de longo prazo da organização, incluindo temas da cadeia de suprimentos? Os
relatórios de 2001 e 2003 obtiveram nível de atendimento parcial a este questionamento,
ocorrendo uma evolução nos relatórios de 2005 e 2007.
Uma evidência desse avanço foi a experiência descrita no relatório de 2007, em
relação ao processo de qualificação dos fornecedores. Segundo o relatório, a Natura passou a
adotar como ferramenta de avaliação dos fornecedores o Programa Qlicar (Qualidade,
Logística, Inovação, Custo, Condições Contratuais, Atendimento e Rastreabilidade). De
acordo com o relato, trata-se de um sistema de avaliação e monitoramento bastante
estruturado, com aspectos econômicos e socioambientais, que os fornecedores precisam
cumprir para serem certificados. Naquele ano haviam sido eleitos sessenta parceiros
estratégicos para este processo de avaliação e certificação. Além da auto-avaliação em
qualidade, meio ambiente e responsabilidade social, os fornecedores devem ser submetidos a
auditorias de qualidade.
No princípio da Abrangência a pergunta desse tema-chave foi: as informações no
relatório incluem todas as ações ou eventos significativos no período coberto e estimativas de
impactos futuros expressivos de eventos passados, quando estes são razoavelmente previsíveis
e podem se tornar inevitáveis ou irreversíveis?
Na análise dos quatro relatórios observou-se que este é um tema que ainda poderá ser
melhor explorado em relatórios de sustentabilidade futuros. No relatório de 2001 não houve
nenhuma referência a este tópico. Os relatórios de 2003, 2005 e 2007 trouxeram algumas
informações sobre o assunto, atendendo de forma parcial este item.
A questão do aquecimento global e sua correlação com as emissões de gases geradores
do efeito estufa (GEEs) foram abordados no relatório de 2007, tendo inclusive motivado à
Natura a instituir o Programa Carbono Neutro, já citado neste estudo.
9 Reflexões e perspectivas
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A matriz dos Princípios para Definição de Conteúdo e de Qualidade da GRI aplicada
nesta pesquisa confirmou a tendência observada pelos estudos citados anteriormente: Rumo à
Credibilidade: uma pesquisa de relatórios de sustentabilidade no Brasil, da
SustainAbility/FBDS e UNEP (2008) e Conte Comigo – A opinião dos leitores sobre os
relatórios de sustentabilidade, realizada pelo Programa GRI – Reader’s Choice, em parceria
com a KPMG e SustainAbility (em 2008).
Assim como apontado em ambos os estudos, esta pesquisa confirma a partir do estudo
de caso da Natura, que os relatórios de sustentabilidade apresentam aspectos positivos, como
a oportunidade dos stakeholders terem acesso a informações que dificilmente teriam se não
fosse esse modelo da GRI que contempla as dimensões econômicas, sociais e ambientais.
Pode-se afirmar que mesmo nos itens da matriz dos Princípios para Definição de
Conteúdo e de Qualidade da GRI aplicada nesta pesquisa que obtiveram nível de atendimento
total, em todos eles há oportunidades para a empresa aprimorar e aprofundar o seu relato.
Como pontos para reflexão, essa pesquisa destaca que os princípios Equilíbrio,
Confiabilidade, Materialidade, Stakeholders e Abrangência, sobretudo, precisam ser mais e
melhor abordados a fim de se alcançar o nível de transparência e aderência preconizado pela
GRI.
10 Conclusões
Conforme descrito pela GRI (2010a), a publicação do relatório de sustentabilidade por
uma organização é na verdade apenas uma parte de um processo bem mais amplo e rico.
Como já abordado neste estudo, para as organizações relatoras, o modelo de relato da GRI
fornece ferramentas para: gestão, maior comparabilidade e redução de custos em
sustentabilidade, fortalecimento da marca e da reputação, diferenciação no mercado, proteção
contra desgaste da marca resultante das ações de fornecedores ou da concorrência, networking
e comunicações (GRI, 2010a).
Desse modo, esta pesquisa confirma por meio da análise dos relatórios de
sustentabilidade da Natura, dos anos de 2001, 2003, 2005 e 2007, que a metodologia de relato
da GRI é uma forma eficaz de demonstrar as ações de sustentabilidade das organizações. O
que também é refletido no número cada vez maior de empresas em todo o mundo que estão
aderindo a este formato.
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As evidências apontadas por meio da matriz dos Princípios para Definição de
Conteúdo e de Qualidade da GRI aplicada nesta pesquisa (detalhadas no Capítulo Resultados
e Discussão) também revelaram que os textos dos relatórios da Natura atendem em sua
maioria às diretrizes estabelecidas pela GRI. De acordo com a análise já realizada nesta
pesquisa, há aspectos que precisam evoluir para que as organizações apresentem relatos mais
transparentes, coerentes e que reflitam os interesses dos seus stakeholders.
Em relação à qualidade do conteúdo dos relatórios da Natura, esta pesquisa constatou
que houve uma evolução no relato de todos os princípios, com maior destaque para os temas
Exatidão, Materialidade, Confiabilidade, Stakeholders e Contexto da Sustentabilidade.
Do relatório da Natura de 2001 ao de 2007, nota-se um progresso da empresa no
tratamento de temas como governança, formas de gestão e suas dimensões econômica,
ambiental e social. De 300 mil consultoras atuando no Brasil em 2001, a empresa chegou ao
final de 2007 com mais de 718 mil em todas as suas operações. Em 2001, novas instalações
foram construídas em Cajamar (SP) e em 2004, a empresa tornou-se uma companhia de
capital aberto, com ações listadas no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo
(BM&FBovespa), passando a integrar também o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE)
da Bovespa. Estas são apenas algumas de muitas conquistas retratadas nos relatórios, além de
vários prêmios e reconhecimentos obtidos pela Natura, que se refletem em suas dimensões
econômicas, sociais e ambientais.
Sem dúvida, o modelo GRI sendo aplicado de acordo com as diretrizes da Global
Reporting Initiative poderá contribuir para evolução do relato de sustentabilidade das
organizações brasileiras. Ganham as empresas. Ganha a sociedade. Ganha o Planeta.
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