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IV – RESULTADOS: MEIO FÍSICO
1. Clima
O Planalto Paulistano representa uma região de transição climática,
apresentando climas do tipo Cfa, Cfb, Cwa ou Cwb de Köppen (1948) (ver
Aragaki e Mantovani 1998). As diferentes classificações ocorrem conforme o
período selecionado para a avaliação climática e a delimitação do período de
seca (Aragaki e Mantovani 1998). A partir dos dados meteorológicos fornecidos
pelo CIIAGRO/IAC para Ibiúna (Figura 4), pode-se caracterizar o clima da área
de estudo como temperado quente e úmido, do tipo Cfa (Köppen 1948), com
temperatura média mensal do mês mais quente acima de 22oC e precipitação
média do mês mais seco entre 30-60 mm. A precipitação média anual fica em
torno de 1340 mm. Os dados climáticos padronizados indicam a existência de
uma sazonalidade na região, com uma diminuição na pluviosidade e
temperaturas médias entre os meses de abril e agosto, mas sem apresentar
déficit hídrico (Figura 4). Segundo dados da SABESP (1997), a área da bacia
do rio Cotia é fortemente afetada por diversos sistemas sinóticos, ou seja,
frentes frias e linhas de instabilidade.
A direção predominante do vento durante todo o ano é SE/SSE, e
secundariamente predomina a direção WNW/NW durante o período de maior
aquecimento do dia (15 horas local), sendo que as maiores velocidades médias
anuais atingem 2,6 m/s (SABESP 1997).
Figura 4. Precipitação média mensal (mm) e temperatura média mensal (oC) no período de
1962-1992 para a região de estudo. Dados meteorológicos coletados no Posto Meteorológico
de Ibiúna, SP (47°13’W e 23°40’S, 850 m de altitude) distante cerca de 26 km da Reserva
Florestal do Morro Grande (Fonte de dados: CIIAGRO - Instituto Agronômico de Campinas,
SP, www.iac.sp.gov.br).
2. Geologia
2.1. Regional
Hasui (1975) considera o elemento tectônico mais importante na região
a existência de um conjunto de falhamentos sub-verticais (60 a 90o),
denominados, à luz dos conhecimentos teóricos atuais, zonas de cisalhamento
dúcteis (Ramsay e Huber 1983) ocorrendo em grande quantidade no sudeste
brasileiro. São grandes estruturas com centenas de quilômetros de extensão e
espessuras que podem atingir centenas de metros. As principais zonas de
cisalhamento da região são Taxaquara e Caucaia (Figura 5).
A zona de cisalhamento Taxaquara determina a separação de dois
compartimentos: o Conjunto São Roque (ao norte) e o Conjunto Paranapiacaba
(ao sul), permeados por rochas sedimentares cenozóicas (Figura 5).
Na porção norte, no Conjunto São Roque, predomina o Grupo São
Roque, o qual é constituído de uma grande diversidade de rochas com baixo
grau de metamorfismo, como xistos, micaxistos, filitos, metarenitos, mármores
e anfibolitos (Carneiro 1983, Juliani 1992). Nesta unidade, xistos e filitos são as
rochas predominantes em termos de área, mas o que se destaca em termos de
modelado de relevo são as rochas quartzíticas devido a sua resistência ao
intemperismo, configurando os relevos mais proeminentes. Na Região
Metropolitana de São Paulo, o Pico do Jaraguá é o exemplo mais expressivo
(Simões e Goulart 2001).
Na parte sul, no Conjunto Paranapiacaba, predominam as rochas tidas
como constituintes do embasamento do grupo São Roque. O Conjunto
Paranapiacaba é, portanto, constituído principalmente pelo Complexo Embu
(Almeida et al. 1981, Juliani 1992) e corpos graníticos intrusivos. No Complexo
Embu, predominam gnaisses e migmatitos, rochas de médio a alto grau de
metamorfismo. Em menor quantidade ocorrem anfibolitos, mármores e
quartzitos. Na Folha São Roque, os maciços graníticos mais expressivos em
dimensão são os de Jurupará e Caucaia, os quais são truncados pela Zona de
Cisalhamento de Caucaia (Hasui 1975).
As coberturas cenozóicas são compostas de material inconsolidado, em
particular os depósitos aluvionares ao longo das principais drenagens e os
depósitos coluvionares em vertentes.
Na região próxima a Reserva Florestal do Morro Grande, a Zona de
Cisalhamento de Caucaia é o elemento que mais se destaca em termos de
aspectos estruturais. Ela recorta diagonalmente a área em dois conjuntos
distintos. Possui orientação NE-SW, acompanhando a principal foliação
regional com uma largura aproximada de trezentos metros. A influência deste
cisalhamento pode ser vista em afloramento, afetando, por exemplo, os corpos
graníticos expostos (Simões e Goulart 2001).
Simões e Goulart 2001 (2001) destacam uma intensa rede de
fraturamentos na região como outro elemento estrutural muito importante,
formadas a partir de atividades tectônicas tardias. Hasui (1975) considera que
fraturamento e foliação têm um importante papel no condicionamento da
drenagem, principalmente nos níveis hierárquicos mais baixos (cursos d’água
de 1a e 2a ordem). Por outro lado, alguns cursos d’água são, em parte,
controlados pelas intrusões graníticas.
2.2. Local
Foram encontrados sete conjuntos distintos de rochas nas proximidades
da Reserva Florestal do Morro Grande (IPT 1981). Devido à ausência de
mapeamentos detalhados na região, esta foi a base utilizada para a compilação
do mapa geológico ilustrativo (Figura 5):
Eon Criptozóico/Era Proterozóica/Período Proterozóico Superior/(1.000 m. a. – 570 m. a.)
Grupo Açungui - Complexo Pilar (PSp)
PSpX _ quartzo-mica xistos, biotita-quartzo xistos, muscovita-quartzo xistos,
granada-biotita xistos, xistos grafitosos, clorita xistos, sericita-biotita, talco
xistos, magnetita xistos e calcoxistos com intercalações subordinadas de filitos,
quartzitos, mármores, calcossilicáticas e metassiltitos.
Grupo Açungui - Complexo Embu (Pse)
PseM _ Migmatitos heterogêneos de estruturas variadas, predominando
estromatitos de paleossoma xistoso, gnáissico ou anfibolítico; migmatitos
homogênios variados predominando os de natureza homofânica, oftalmítica e
facoidal;
PseB _ com ocorrência subordinada de corpos metabásicos
Grupo São Roque (PSs)
PSsC _ calcários dolomíticos, calcíticos e hornfels calcossilicáticos em aurélas
termo-metamórficas;
PSsF _ filitos, quartzo filitos e filitos grafitosos em sucessões rítmicas, incluindo
subordinadamente metassiltitos e quartzo xistos, micaxistos e quartzitos.
Suítes Graníticas Sintectônicas
Fácies Cantareira (PSc) _ Corpos para-autóctones e alóctones, foliados,
granulação fina a média, textura porfirítica frequente; contatos parcialmente
concordantes e composição granodiorítica a granítica.
Eon Fanerozóico/Era Cenozóica/Período Quaternário/Época Holoceno (1,8
m. a. )
Sedimentos aluvionares Qa _ Aluviões em geral, incluindo areias
inconsolidadas de granulação variável, argilas e cascalheiras fluviais
subordinadamente, em depósitos de calha e/ou terraços.
3. Geomorfologia
3.1. Regional
Segundo a divisão geomorfológica para o Estado de São Paulo realizada
por Almeida (1964), a região da Reserva Florestal do Morro Grande está
totalmente inserida no Planalto Atlântico. Esta se caracteriza como uma região
de terras altas, constituída predominantemente por rochas cristalinas pré-
cambrianas, cortadas por intrusivas básicas e alcalinas mesozóico-terciárias e
pelas coberturas das bacias sedimentares de São Paulo e Taubaté.
Para o detalhamento destas unidades, Almeida (1964) propôs uma sub-
divisão em zonas. Três zonas geomorfológicas contidas no Planalto Atlântico
recobrem a região da Reserva Florestal do Morro Grande: a Serrania de São
Roque, o Planalto de Ibiúna e o Planalto Paulistano, mais especificamente a
região da Morraria do Embu.
A Serrania de São Roque é uma extensa área montanhosa, onde as
maiores altitudes são encontradas na Serra do Japi, com cerca de 1200-1250
metros. Possui composição litológica diversificada, que vai dos metamorfitos de
baixo grau do Grupo São Roque até rochas gnáissicas e migmatíticas com
intrusões graníticas.
O Planalto de Ibiúna é uma pequena unidade do relevo paulista onde o
seu relevo é sustentado por rochas graníticas, gnáissicas e metassedimentos.
É formado predominantemente por granitos relacionados com as mais altas
elevações. Faz limite com a zona serrana de São Roque, ao norte, através da
serra de Taxaquara.
O Planalto Paulistano apresenta relevo suave na parte central com
colinas e áreas de morros cristalinos, com altitude entre 715 e 900 metros,
onde predominam micaxistos. O compartimento referente a Morraria do Embu
compreende terrenos cristalinos que circundam a Bacia Sedimentar de São
Paulo a oeste, sul e leste, com nível topográfico mais elevado e processos de
evolução de vertentes mais dinâmicos. Apresenta relevo de morros e uma rede
de drenagem muito densa.
3.2. Local
Seguindo a divisão de Almeida (1964), a Reserva Florestal do Morro
Grande e o seu entorno, estão incluídas predominantemente no Planalto de
Ibiúna. Ponçano et al. (1981), delimitaram de forma mais detalhada os limites
propostos por Almeida (1964). Na região da Reserva Florestal do Morro
Grande e o seu entorno são apresentados os seguintes sistemas de relevo,
segundo a classificação de Ponçano et al. (1981). Devido à ausência de
mapeamentos detalhados na região, esta foi a base utilizada para a compilação
do mapa geomorfológico ilustrativo (Figura 6):
Formas do Relevo
1. Relevos de Agradação
1.1. Continentais
111. Planícies Aluviais – terrenos baixos mais ou menos planos
junto às margens dos rios sujeitos a inundações periódicas.
2. Relevos de Degradação em planaltos dissecados
2 3. Relevos de Morrotes (predominam declividades médias a altas –
acima de 15% e amplitudes locais inferiores a 100 metros)
231. Morrotes baixos_ relevo ondulado, onde predominam
amplitudes locais < que 50 metros. Topos arredondados,
vertentes com perfis convexos a retilíneos. Drenagem de
alta densidade, padrão em treliça, vales fechados a abertos,
planícies aluviais interiores restritas. Presença eventual de
colinas nas cabeceiras dos cursos d`água principais.
232. Morrotes alongados paralelos_ topos arredondados,
vertentes com perfis retilíneos à convexos. Drenagem de
alta densidade, padrão paralelo ou treliça, vales fechados.
233. Morrotes alongados e espigões_ predominam interflúvios
sem orientação preferencial, topos angulosos a achatados,
vertentes ravinadas com perfis retilíneos. Drenagem de
médio a alta densidade, padrão dendrítico, vales fehados.
2. 4. Relevo de Morros: - predominam declividades médias a altas,
acima de 15%, e amplitudes locais de 100 a 300 metros.
243. Mar de Morros_ topos arredondados, vertentes com perfis
convexos a retilíneos. Drenagem de alta densidade, padrão
dendrítico a retangular, vales abertos a fechados, planícies
aluvionares interiores desenvolvidas. Constitui, geralmente,
um conjunto de formas em “meia laranja”;
244. Morros paralelos_ topos arredondados, vertentes com perfis
retilíneos a convexos. Drenagem de alta densidade, padrão
em treliça a localmente sub-dendrítica, vales fechados a
abertos, planícies aluvionares interiores restritas.
245. Morros com Serras Restritas_ morros de topos
arredondados, vertentes com perfis retilíneos, presença de
serras restritas. Drenagem de alta densidade, padrão
dendrítico, vales fechados, planícies aluvionares interiores
restritas;
2. 5. Relevo Montanhoso (predominam declividades médias a altas –
acima de 15% e amplitudes locais acima de 300 metros).
251. Serras Alongadas_ topos angulosos, vertentes ravinadas
com perfis retilíneos. Drenagem de alta densidade, padrão
paralelo, vales fechados.
5. Relevos de transição
5. 2. Escarpas (predominam declividades altas – acima de 30% -
amplitudes > que 100 metros)
521. Escarpas festonadas_ desfeitas em anfiteatros separados
por espigões, topos angulosos, vertentes com perfis
retilíneos. Drenagem de alta densidade, padrão subparalelo
a dendrítico, vales fechados.
Hipsometria
As altitudes na RFMG estão compreendidas entre 860 e 1075 metros,
resultando numa amplitude máxima de apenas 215 metros. A porção sul -
região de cabeceira dos rios Cotia e Capivari - apresentam as maiores
elevações. Já as menores elevações concentram-se na porção norte da
RFMG. As altitudes inseridas entre 900 e 1000 metros englobam 86,13 % da
área total, sendo que apenas 4,42 % estão em altitudes superiores a 1000
metros. O gráfico abaixo (Figura 7) e o mapa hipsométrico (Figura 8) mostram
a distribuição das classes de altitude dentro dos limites da RFMG (Goulart
2004).
Figura 7. Distribuição das classes de altitude na RFMG.
Declividade
A maior parte da RFMG (98,28 %) apresenta declividade abaixo de 25
graus e apenas 1,72 % estão inseridos em declividades entre 25 e 45 graus
(Figura 9). O gráfico abaixo (Figura 9) e o mapa de declividade (Figura 10)
mostram a distribuição das classes de declividade dentro dos limites da RFMG.
22,24
16,48
40,28
19,26
1,72
05
10
15
20
25
3035
40
45
< 3 3 a 6 6 a 12 12 a 25 25 a 45
Classes de declividade em graus
Porc
enta
gem
%
Figura 9. Distribuição das classes de declividade em graus na RFMG.
Orientação de vertente
A orientação de vertente na RFMG está bem dividida entre as classes
Norte, Leste, Sul, Oeste e Plano (Figura 11). O gráfico abaixo (Figura 11) e o
mapa de orientação de vertente (Figura 12) mostram a distribuição das classes
de orientação de vertente dentro dos limites da RFMG.
Figura 11. Distribuição (em porcentagem) das classes de orientação de vertente na RFMG.
4. Pedologia
Segundo o Mapa Pedológico do Estado de São Paulo, organizado por
Oliveira et al. (1999), são encontrados na Região da Reserva Florestal do
Morro Grande e seu entorno os seguintes solos de acordo com o novo sistema
de classificação da EMBRAPA (1999): latossolos vermelho-amarelos,
argissolos vermelho-amarelos e cambissolos háplicos. Devido à ausência de
mapeamentos detalhados na região, esta foi a base utilizada para a compilação
do mapa pedológico ilustrativo (Figura 13).
Cambissolos - Relativo ao grupamento de solos pouco desenvolvidos com
horizonte B incipiente e referente aos Cambissolos existentes nas
classificações anteriores. São solos de pedogênese pouco avançada
evidenciada pelo desenvolvimento da estrutura do solo, ausência ou quase
ausência da estrutura da rocha, croma mais forte, matizes mais vermelhas ou
conteúdo de argila mais elevado que os horizontes subjacentes;
Argissolos - Agrupamento de solos com horizonte B textural, com argila de
atividade baixa e evolução avançada, com atuação incompleta de processo de
ferralitização, em conexão com paragênese caulinítica-oxídica ou virtualmente
caulinítica, na vigência de mobilização de argila da parte mais superficial, com
concentração ou acumulação em horizonte subsuperficial. Conhecidos
anteriormente como Podzólico Vermelho-Amarelo, parte das Terras Roxas
Estruturadas e similares, Terras Brunas, Podzólico Amarelo, Podzólico
Vermelho-Escuro.
Latossolos - Agrupamento de solos com horizonte B latossólico e evolução
muito avançada, com atuação expressiva do processo de latolização, com
intemperização intensa de minerais primários, concentração relativa de óxidos
e hidróxidos de ferro e alumínio.
Caracterização dos horizontes no entorno da Reserva Florestal do Morro
Grande
Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e adjacências, a maioria
dos estudos que tratam da caracterização e evolução dos solos nos terrenos
de idade pré-cambriana está mais direcionada para as questões geotécnicas
(Vargas 1981, Bandini 1992, Godoy 1992). Estes trabalhos consideram a
diferenciação usualmente utilizada em Geotecnia entre solos superficiais
(horizontes A e B pedológicos) e os solos de alteração (horizonte C
pedológico). Abaixo, segue uma caracterização desses horizontes feita por
Simões e Goulart (2001) no entorno da RFMG para os latossolos.
Horizonte A
Possui pequena espessura variando de 15 a 30 cm. Apresenta uma
variação de cinza a castanho na coloração e seus constituintes minerais
tendem a se agrupar formando torrões, devido ao papel cimentante dos
minerais argilosos e da matéria orgânica. A maior parte das raízes das plantas
tende a se concentrar neste horizonte, embora elas possam se estender para o
horizonte inferior.
Horizonte B
A espessura deste horizonte varia de 0,60 a 2,0 m, sendo possível
normalmente estabelecer uma diferenciação marcante entre os horizontes B1 e
B2, tratando-se, portanto, de solos B-texturados. Raramente, caracteriza-se um
horizonte B3, que estabelece uma transição com o horizonte C.
A cor predominante do horizonte B nos perfis da região é amarelo-
avermelhado, com uma gradação para tonalidades mais avermelhadas com o
aumento da profundidade.
Horizonte C
No caso das áreas onde ocorrem migmatitos, os solos são
predominantemente silto e argilo-arenosos devido à alteração, completa ou
parcial, do feldspato e ferromagnesianos (biotita), e à preservação dos minerais
de quartzo. Apresentam alternância de níveis esbranquiçados a amarelo-
avermelhado. Os corpos graníticos tendem a produzir solos mais arenosos com
permeabilidade mais elevada do que as porções xistosas dos migmatitos.
5. Hidrografia
A RFMG compreende as cabeceiras da bacia do Rio Cotia, que integra a bacia
do Alto Tietê (Figura 14). A região do entorno da RFMG engloba mais duas grandes
bacias hidrográficas: a bacia do Ribeira do Iguape, em direção ao Litoral Sul do estado
de São Paulo, e a bacia do Sorocaba e Médio Tietê (Figura 14).
Figura 14. Bacias hidrográficas da RFMG e o seu entorno, sem escala. Fonte: Atlas Sinbiota (http://sinbiota.cria.org.br/atlas/), © 2001, Biota/Fapesp & Centro de Referência em Informação Ambiental, modificado.
±±
6. Uso e cobertura do território
6.1. O entorno da RFMG
Mapeamento da vegetação a partir de imagens de satélite
A ocupação e o uso das terras no entorno da RFMG apresenta um
padrão altamente fragmentado e dinâmico (Figura 15). A expansão das
atividades agrícolas e da urbanização provocou alterações profundas em sua
cobertura vegetal original. Restaram poucos remanescentes, a maioria de
pequenas dimensões e há muito tempo modificados pela ação do homem. A
matriz original de floresta foi substituída por uma nova matriz antrópica e,
atualmente, encontram-se nela fragmentos florestais de diferentes dimensões,
formas e graus de conservação e isolamento. A Reserva Florestal do Morro
Grande é uma das poucas áreas a apresentar florestas em bom estado de
conservação, embora o entorno se encontre profundamente antropizado. A
Tabela 2 apresenta as classes de cobertura do solo e as porcentagens em que
estas são encontradas na área considerada por este relatório.
Tabela 2. Porcentagem de ocupação de cada classe de cobertura em relação à área total da
RFMG e do entorno considerado. Calculado a partir da imagem Landsat 7 ETM+ classificada.
Classe de cobertura Porcentagem de cobertura
Agricultura 16,3%
Área urbana 12,5%
Campo ou área degradada 9,1%
Vegetação em estádios sucessionais iniciais 3,3%
Vegetação em estádios sucessionais avançados 57,5%
Água 1,3%
A classe agricultura apresentou alguma confusão com pastagem. A
ocupação do solo na região é dinâmica, sendo que pequenas áreas, em alguns
anos, têm ocupação agrícola e em outros são destinadas a pastagem.
A classe área urbana apresentou, em dois dos dez pontos, confusão
com usos especiais. Uma área classificada como urbana corresponde a um
lixão e uma outra a um grande depósito de sucata a céu aberto.
A classe vegetação em estádios de sucessão iniciais inclui tanto
vegetação natural quanto implantada. Assim, esta classe abrange as áreas de
regeneração da floresta nativa, os reflorestamentos com pinos e eucaliptos em
estádios iniciais ou rebrotando depois do corte e as áreas em que a vegetação
é mantida em estádios iniciais mediante queima ou cortes periódicos. Esta
última situação foi encontrada no SW da reserva onde passa uma linha de
energia elétrica de alta tensão. A vegetação que se encontra sob os fios
transmissores é cortada regularmente e se encontra permanentemente em
estádio de regeneração inicial.
A classe vegetação em estádios de sucessão avançados inclui a
mata e capoeira em estádios avançados de regeneração, bem como os
reflorestamentos com pinos e eucaliptos mais antigos.
A superfície da classe água apresentou mudanças grandes já que, no
momento da realização do trabalho de campo, o lago do reservatório
encontrava-se atravessando um período de vazante excepcional, com menos
do 10% de sua capacidade preenchida. A imagem foi adquirida em um
momento em que o reservatório se encontrava com sua capacidade quase
totalmente preenchida.
Figura 15 (próxima página). Classificação do uso do solo da Reserva Florestal do Morro
Grande e entorno a partir de duas imagens Landsat ETM+ (abril/2000).
Figura 15. Classificação do uso do solo da Reserva Florestal do Morro Grande e entorno a
partir de duas imagens Landsat ETM+ (abril/2000).
6.2. Fitofisionomias da RFMG
Mapeamento de fitofisionomias a partir de fotointerpretação
Através de análises da classificação obtida, concluiu-se que a ocupação
da terra predominante na área de estudo corresponde à Floresta Ombrófila
Densa Montana (9.400,62 ha ou 86,48%), em sua maioria em estádios
sucessionais médio (6949,8 ha ou 63,93%) e avançado (2450,91 ha ou
22,55%) de regeneração (Tabela 3). Áreas correspondentes a estádios iniciais
de regeneração (pioneiro e inicial) ocupam apenas uma pequena parcela da
área de estudo, correspondendo a 373,52 ha (3,44%). Em relação ao grau de
fragmentação, detectado em um primeiro momento pelo número de polígonos
gerados na fotointerpretação, tem-se que as matas em estádio médio de
regeneração (49 polígonos) apresentam-se menos fragmentadas – com
tamanho médio dos fragmentos igual a 141,83 ha – em relação às matas em
estádio avançado de regeneração (242 polígonos) – com tamanho médio dos
fragmentos igual a 10,13 ha. A presença das represas de Cachoeira da Graça
e Pedro Beicht, somadas a outros pequenos corpos d’água, totalizaram 354,4
ha (3,26%). Áreas de vegetação natural ripárias somaram 564,92 ha (5,2%). É
importante ressaltar que a maior parte dessa vegetação (470,74 ha ou 4,33%)
encontra-se em estádios mais avançados de regeneração. As áreas sujeitas a
ações de manejo, como reflorestamento e outros usos, totalizaram 168,55 ha
(1,48%), o que indica a existência de influência antrópica na regeneração das
áreas naturais do Morro Grande (Figura 16).
Tabela 3. Número de polígonos, área total e porcentagem de ocupação (em
relação à área total da RFMG) de cada uma das 10 classes obtidas pela
fotointerpretação (1994/1995).
Classe Número de polígonos
Área (ha) Porcentagem
(1) Corpos d’água 4 354,40 3,26
(2) Vegetação natural – estádio pioneiro
44 228,32 2,10
(3) Vegetação natural – estádio inicial
62 145,20 1,34
(4) Vegetação natural – estádio médio
49 6949,70 63,93
(5) Vegetação natural – estádio avançado
242 2450,91 22,55
(6) Áreas de vegetação natural sujeitas à influência fluvial em estádio pioneiro-inicial
33 94,18 0,87
(7) Áreas de vegetação natural sujeitas à influência fluvial em estádio médio-avançado
53 470,74 4,33
(8) Reflorestamento 4 83,86 0,77
(9) Uso/Influência antrópica 6 84,70 0,78
(10) Sem informação 1 8,79 0,08
TOTAL 498 10870,08 100
Figura 16 (próxima página). Mapa de uso e cobertura das terras referente à área da RFMG nos
anos de 1994 e 1995. Foram adicionado ao mapa o limite da RFMG, os principais pontos de
coleta da fauna & flora e a localização das principais estradas da região.
A
B
C
QUILOMBO
GRILOS
TORRES
FERROVIA
Figura 16. Mapa de uso e cobertura das terras referente à área da RFMG nos anos de
1994 e 1995.
Legenda# pontos
vias
limite
poli_morro_finalcorpos d'água
vegetação natural - pioneiro
vegetação natural - inicial
vegetação natural - médio
vegetação natural - avançado
vegetação natural com influência fluvial - pioneiro/inicial
vegetação natural com influência fluvial - médio/avançado
reflorestamento
influência/uso antrópico
sem informação
Corpos d’águaVegetação natural – pioneiroVegetação natural – inicialVegetação natural – médioVegetação natural – avançadoVegetação natural com influência fluvial – pioneiro/inicialVegetação natural com influência fluvial – médio/avançadoReflorestamentoInfluência/uso antrópicoSem informação
Escala aproximada1:60.000
Legenda# pontos
vias
limite
poli_morro_finalcorpos d'água
vegetação natural - pioneiro
vegetação natural - inicial
vegetação natural - médio
vegetação natural - avançado
vegetação natural com influência fluvial - pioneiro/inicial
vegetação natural com influência fluvial - médio/avançado
reflorestamento
influência/uso antrópico
sem informação
Pontos de coleta de Fauna e Flora
Vias
Limite da Reserva
LEGENDA
Projeção: UTM; Datum: SAD69
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