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MÍDIA E IDEOLOGIA: REFLEXÕES A PARTIR DO CURSO EM EAD
“PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA DIVERSIDADE”
Mara Sueli Simão MORAES, UNESP – Câmpus de BauruFlávio Henrique FIRMINO, UNESP – Câmpus de Araraquara
Emília de Mendonça Rosa MARQUES, UNESP – Câmpus de Bauru
Eixo 08: Educação à distância na formação de professoresmsmoraes@fc.unesp.br
1. Introdução
O curso Produção de Material Didático para Diversidade consistiu numa proposta
de formação continuada para professores da Educação Básica, com os objetivos de
formar professores e profissionais da educação para avaliar materiais didáticos
existentes, realizar projetos de produção de recursos didáticos e elaborar estratégias
metodológicas para o uso de diferentes materiais didáticos para os temas da diversidade.
Foi realizado pela Faculdade de Ciências (FC), em parceria com a SECADI-
Secretaria da Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC, Universidade Aberta do
Brasil (UAB) e CAPES, no segundo semestre de 2014, na modalidade semipresencial
com carga horária total de 180 horas, sendo 140 à distância – utilizando a plataforma
Moodle – e 40 horas presenciais em Encontros de Formação realizados na FC/UNESP –
Câmpus de Bauru para os tutores e nos Polos UAB para os professores cursistas.
Os tutores e professores cursistas foram selecionados nos Polos UAB
participantes – Polo de Bálsamo, Polo de Itapevi e Polo de Franca.
O curso foi organizado de forma modular, sendo que os conteúdos abordados não
estão previstos na formação inicial de professores, visto que estão relacionados à
diversidade e diferentes linguagens midiáticas. Os módulos e seus conteúdos são
descritos a seguir:
Módulo DescriçãoMódulo 0: MaterialDidático para aDiversidade e Educação aDistância
Módulo apresentado para os cursistas conhecerem a organização,metodologia e formas de avaliação do curso, bem como o Ambientede Aprendizagem Virtual - Plataforma Moodle.
Módulo 1: Concepções eanálise do materialdidático na perspectiva dadiversidade
É o módulo de apresentação e discussão dos fundamentosteóricos do curso.
A abordagem dá especial destaque para: O conceito de diversidade e de diferença; A reflexão em torno da diferença nas escolas; Os conceitos de identidade e diferença; O debate do gênero na escola; O material didático na perspectiva da diversidade e da
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diferença.Módulo 2: O uso delinguagens no ensino detemas da diversidade
Esse módulo prepara os professores para a reflexão emtemas específicos e transversais ao tema da diversidade. Estãoprevistos os seguintes binômios reflexivos:
Diversidade e mídia-educação; Diversidade e cinema; Diversidade e literatura; Diversidade e linguagem jornalística; Diversidade e fotografia; Diversidade e problemas ampliados.
Módulo 3: Produçãodidática sobre o temadiversidade
Nesse módulo foram debatidos, especificamente, os meiose os instrumentos disponíveis ao professor para a produção didáticasobre o tema diversidade, especialmente em relação aos seguintesaspectos:
A linguagem e os suportes dos materiais didáticos; o planode um curso; as atividades interdisciplinares; a pesquisa emdiferentes linguagens; formas de apresentação e difusão domaterial didático;
O uso crítico do filme, da fotografia, do jornal e dapublicidade na sala de aula.
Módulo 4: Utilização eavaliação da recepçãodos materiais didáticossobre temas dadiversidade
Para o módulo final do curso, haverá a proposição deatividades ligadas à consecução de material didático baseado naslinguagens trabalhadas a serem realizadas pelos professorescursistas participantes, respectivamente, em cada Polo UAB. Aindahaverá a apresentação dos materiais didáticos elaborados por cadaprofessor cursista participante e a avaliação do uso e recepção emsala de aula desses materiais.
Um dos principais objetivos do curso “Produção de Material Didático para
Diversidade” foi de contribuir, a partir de conteúdos presentes no material do curso e das
discussões nos Fóruns on-line e Encontros de Formação, para a compreensão dos
professores sobre o potencial ideológico dos materiais midiáticos e seu caráter de
parcialidade e falsa neutralidade, para que eles sejam capazes de utilizá-los de forma
crítica.
As diferentes formas de abordagem do conteúdo - leituras, discussões on-line e
vídeo-aulas – preparadas pela coordenação do curso, prepararam os/as professores/as
cursistas para o momento da avaliação, possibilitando que o questionário eletrônico não
oferece obstáculos ao conhecimento. Todos responderam num ambiente de tranquilidade
manejando bem o recurso eletrônico, conforme relato dos tutores e de professores/as
avaliadores que estiveram em alguns dos Polos da UAB no dia da referida avaliação.
O trabalho à distância proposto pela coordenação e realizado pelos cursistas e
tutores mostrou-se eficiente, conforme relato dos tutores/as. A figura 1 mostra a página
inicial do Módulo Preliminar (Módulo 0) do curso. Esse módulo objetivou ambientar os/as
cursistas na Plataforma Moodle e também destacar a importância da gestão do tempo,
dando “dicas” para a melhoria dessa habilidade.
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Figura 1. Página inicial do Módulo Preliminar
2. O potencial ideológico da mídia
A mídia tem uma importante função em nossa sociedade: ao nos informar sobre
acontecimentos, situa-nos no contexto global e contribui para a formação de nossas
opiniões e visão de mundo. No entanto, a arraigada visão de que a mídia transmite fatos
e nos informa sobre “a realidade” precisa ser questionada. O que a mídia de fato
transmite é uma versão da realidade, uma parcela dos acontecimentos a partir de
determinados ângulos, de uma abordagem específica na qual são feitas escolhas e que
não pode ser chamada de neutra ou imparcial.
Assim, podemos afirmar que os materiais midiáticos veiculam um conteúdo
ideológico, como discutem alguns autores (ALTHUSSER, 1985; CHAUÍ, 1982; CURY,
1988). Entendemos aqui por ideologia o “sistema de ideias, de representações que
domina o espírito de um homem ou de um grupo social” (ALTHUSSER, 1985, p. 81). Para
Cury (1988):
A noção de ideologia existente na sociedade de classes implica naelaboração de um discurso pretensamente universal que ao identificar arealidade com aquilo que as classes dominantes dizem que é, ocultamas contradições, subjugam e tomam o lugar das representações opostasàs suas. As representações da classe dominante necessariamente setornam particulares porque os interesses de classe a levam a dissimulara essência contraditória da relação (CURY, 1988, p. 3-4)
Trata-se, portanto, de um conjunto de representações sobre a realidade que
mascaram o modo real como as relações sociais entre os homens foram produzidas. De
acordo com Chauí (1982, p. 21), “esse ocultamento da realidade social chama-se
ideologia”. A ideologia é a versão sobre a realidade informada pela classe dominante –
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ainda que haja contradições entre os diferentes setores dessa classe – e que precisa ser
inculcada nos homens para que as relações de produção sejam reproduzidas e, dessa
forma, o sistema capitalista permaneça.
Essas relações de produção, que são no capitalismo relações de exploração,
necessitam do inculcamento ideológico para que sejam reproduzidas as relações de
submissão, que garantem que cada homem aprenderá sobre o lugar que deverá ocupar
no sistema. Essa é, pois, a função dos Aparelhos Ideológicos do Estado: o inculcalmento
da ideologia da classe dominante para a reprodução das relações de produção
(ALTHUSSER, 1985).
De acordo com Althusser (1985), é a escola que desempenha o papel ideológico
dominante. Portanto, é possível enxergar a escola como o principal campo de disputa
para a ocupação da versão da realidade que se pretende implantar. Garantir que
determinadas concepções sobre o homem e a sociedade sejam veiculadas pela escola é
a forma mais eficaz de reproduzir a realidade social calcada nas relações sociais de
exploração.
A reprodução de determinadas concepções de homem e de sociedade é feita não
apenas a partir de processos afirmativos, mas também a partir da negação de
concepções divergentes, seja a partir de sua invisibilização ou inferiorização. Ou seja: ao
se definir um determinado conjunto de representações da realidade como único, uma
estratégia eficaz para a manutenção dessas representações é a exclusão de
pensamentos, comportamentos e modos de existência que divergem do que é
estabelecido como “normal” e “real”, artificialmente concebidos como naturais.
A chamada “diversidade” é muitas vezes tratada como algo marginal, nocivo,
perigoso. Cria-se, assim, um limite entre aquilo que é considerado adequado, constituído
por um grupo de pessoas com determinada classe social, formação, cor de pele,
identidade sexual e de gênero, que constitui uma espécie de “centro”, enquanto em volta
dele, constituindo seus limites, são colocadas as pessoas que não atendem a esses
padrões.
A diversidade está no espaço escolar e é necessário que professores e
professoras atentem-se para a sua existência e sua importância, a fim de não
reproduzirem, mesmo que inintencionalmente, práticas e discursos que sejam
discriminatórios e que contribuam para a reprodução de exclusões. Autores e autoras
discutem os preconceitos e discriminações reproduzidas na sala de aula quando a
diversidade não é um assunto em pauta (FERRARI, 2010; LOURO, 1997, 2009;
MISKOLCI, 2010).
A diversidade levanta uma série de questões, as quais muitos professores
sentem-se despreparados para lidar. Além de escassez de materiais didáticos críticos e
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de qualidade sobre o tema, muitos/as professores/as desconhecem esses materiais e
tampouco já refletiram sobre a importância de buscá-los e utilizá-los. Ou seja, para além
da escassez de materiais e do desconhecimento sobre eles, muitos/as professores/as
sequer foram levados a refletir sobre a importância da discussão desses temas com os
alunos e alunas. Focadas/os em transmitir os conteúdos programáticos com os recursos
didáticos disponíveis em cada escola e enfrentando uma série de dificuldades cotidianas
das mais variadas ordens, o que torna o ensino um desafio diário, temas de profunda
relevância social como o racismo, machismo, relacionamentos e diversidade sexual
muitas vezes não são reconhecidos como temas importantes ou mesmo como questões
que devem ser discutidas nas escolas. Ou, ainda, quando há a preocupação em falar
sobre tais temas, em muitos casos os/as professores/as fundamentam-se em seus
próprios valores pessoais para conduzir as discussões, o que acaba por transmitir
paradigmas muito arraigados no senso comum e assim veicular preconceitos e
estereótipos que contribuem para a reprodução de problemas sociais (LOURO, 1997,
2009).
Muitos desses preconceitos e estereótipos são diariamente veiculados pelos
materiais midiáticos, que informam toda a população, inclusive professores e professoras.
Na falta de discussões teóricas sobre temas relacionados à diversidade, estes
profissionais podem usar como base para suas ações na sala de aula as informações
recebidas por esses veículos.
Além disso, considerando a presença de materiais midiáticos dentro dos espaços
escolares, tais como revistas e jornais que são utilizados em atividades, um mau uso
desses materiais pode ocorrer caso os professores utilizem suas informações de modo
acrítico, tratando suas matérias como descrições fiéis e imparciais da realidade, o que
além de não contribuir para o desenvolvimento da visão crítica dos alunos e alunas, irá
pautar discussões a partir de uma visão de mundo ideológica e carregada de
preconceitos, estereótipos e mecanismos de exclusão. Daí tem-se a necessidade de
estimular a visão crítica de professores/as sobre os materiais midiáticos, a fim de que
estes sejam utilizados de forma a combater exclusões, em vez de reproduzi-as.
3. Objetivo
Verificar e discutir o desenvolvimento da visão crítica dos professores sobre o que
é veiculado nos meios de comunicação após a participação no curso “Produção de
Material Didático para Diversidade”.
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4. Metodologia
A fim de verificar a apropriação dos professores e professoras cursistas em
relação aos conteúdos do curso, foi elaborada uma Avaliação de Conteúdo, na forma de
um questionário fechado com 17 questões. Cada enunciado continha 5 afirmações
subsequentes, que deveriam ser classificadas como falsa (F) ou verdadeira (V), sendo
apenas uma das cinco afirmações verdadeira OU falsa, despendendo do enunciado.
Buscou-se, na construção do questionário, a elaboração de questões e alternativas que
sintetizassem o conteúdo do curso e suas ideias principais. A Avaliação foi aplicada ao
final do curso nos Polos de Formação de cada professor cursista, na presença de
Tutores/as Presenciais. O questionário foi apresentado eletronicamente em um site de
pesquisa, SurveyMonkey, em equipamentos disponibilizados pelos Polos. Os setenta e
sete professores cursistas que concluíram o curso responderam tal Avaliação.
Os dados da Avaliação de Conteúdo foram tabulados e analisados pelo Conselho
do Curso. Parte desses dados e sua consequente discussão são apresentados a seguir.
5. Resultados e Discussão
Os dados obtidos a partir do questionário apontam que a discussão sobre o
potencial ideológico da mídia e sua parcialidade é um tema que merece ser tratado num
curso de formação de professores, pois gera muitas dúvidas e falsos entendimentos.
Neste trabalho, optamos por expor na tabela abaixo as afirmações que incidiram
em maior quantidade de erros, bem como o enunciado da qual fazem parte, a resposta
correta (verdadeira ou falsa) e a porcentagem de acertos e erros dos professores
cursistas.
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Na primeira afirmação: “a fotografia mostra a realidade dos diferentes grupos
sociais, auxiliando as pessoas a compreender objetivamente aqueles que são diferentes
de nós”, 74,67% dos professores responderam que ela é verdadeira, enquanto que a
resposta correta é falsa, pois a fotografia não mostra a realidade, mas sempre uma
versão dela.
Apesar das tentativas empreendidas por muitos de alçar a fotografia para o status
de representação exata da realidade, a imagem captada pela câmera é sempre o
resultado de uma escolha intencionada do fotógrafo, que optou por determinado ângulo,
lente, iluminação e momento para o registro do “real”. Assim, a fotografia não é objetiva,
não é uma representação do real; é, em vez disso, uma construção do real. Ela é sempre
o resultado de certa visão sobre aquele fato registrado, uma visão que atende aos
interesses de determinado grupo social e que tem o poder de contar uma história,
principalmente quando essa imagem é colocada ao lado de um texto jornalístico
igualmente tendencioso (CASADEI, 2015).
A história que é contada por esses elementos em composição funciona como um
instrumento que mantém relações de poder ao construir representações sobre a
realidade. O que é contado se torna sinônimo de verdade, como se não fossem possíveis
outras interpretações (CASADEI, 2015).
Enunciado AfirmaçãoResposta
corretaPorcentagemde acertos (%)
Porcentagemde erros (%)
Assinale asalternativas queexpressam aspossíveisarticulações entrea fotografia e adiversidade:
A fotografia mostra arealidade dos diferentesgrupos sociais, auxiliandoas pessoas acompreenderobjetivamente aquelesque são diferentes denós.
F 25,33 74,67
A análise dostextosjornalísticos deveser pautada em:
Analisar as notícias comoreflexos da realidade.
F 20 80
Algumas dastécnicaspedagógicas parao uso crítico damídia em sala deaula são:
Selecionar matérias derevistas que abordem ummesmo tema a partir deperspectivas diferentes eidentificar qual reflete arealidade.
F 1,33 98,67
Algumas daspossibilidades douso crítico dojornal e daliteratura na aulade matemáticasão:
A partir da construção degráficos e tabelas,apontar para adesigualdade natural queexiste entre as diversasculturas.
F 10,67 89,33
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Essa mesma discussão pode se estender às afirmações seguintes: “analisar as
notícias como reflexos da realidade” (80% dos professores responderam que ela é
verdadeira, enquanto que a resposta correta é falsa) e “selecionar matérias de revistas
que abordem um mesmo tema a partir de perspectivas diferentes e identificar qual reflete
a realidade” (98,67% dos professores responderam que ela é verdadeira, enquanto que a
resposta correta é falsa). Sobre essas afirmações, é preciso apontar a impossibilidade de
refletir a realidade, devido à incapacidade de apreendê-la objetivamente.
A produção de uma matéria jornalística envolve a interpretação de acontecimentos
e está condicionada às limitações e interesses do corpo editorial. Assim, a análise dos
textos jornalísticos deve estar pautada em: 1. questionar sobre os critérios de produção
da notícia; 2. questionar sobre as visões políticas envolvidas na direção editorial do
veículo de jornalismo; 3. questionar sobre as visões culturais presentes na produção da
notícia; 4. buscar compreender a produção do texto jornalístico como resultado de fatores
estruturais bastante complexos (ROTHBERG, 2015).
Na análise da última afirmação: “a partir da construção de gráficos e tabelas,
apontar para a desigualdade natural que existe entre as diversas culturas”, 89,33% dos
professores responderam que ela é verdadeira, enquanto que a resposta correta é falsa.
Nota-se uma importante característica da ideologia: a naturalização da desigualdade
social. De acordo com Chauí (1982):
Além de procurar fixar seu modo de sociabilidade através de instituiçõesdeterminadas, os homens produzem idéias ou representações pelasquais procuram explicar e compreender sua própria vida individual,social, suas relações com a natureza e o sobrenatural. Essas idéias ourepresentações, no entanto, tenderão a esconder dos homens o modoreal como suas relações sociais foram produzidas e a origem das formassociais de exploração econômica e de dominação política. Esseocultamento da realidade social chama-se ideologia (CHAUÍ, 1982, p. 21,grifos nossos).
A naturalização da desigualdade se constitui como um importante mecanismo
ideológico. Ao passar a impressão de que as condições sociais não são resultado de uma
constante produção histórica e humana, mas, em vez disso, fazem parte do domínio da
natureza, neutraliza-se as tentativas de transformação dessa realidade. Afinal, é apenas
ao compreender a realidade enquanto produzida pela ação humana que é possível
enxergá-la como passível de mudança (ALTHUSSER, 1985; CHAUÍ, 1982).
Assim, consideramos fundamental que as diferentes linguagens utilizadas pelos
materiais midiáticos sejam compreendidas pelos professores e professoras enquanto
veículos que transmitem ideologia. No curso, apesar das diversas discussões com esse
tema, é possível inferir que uma parcela de professores ainda não compreendeu o
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caráter parcial do que é veiculado nos materiais midiáticos. Em parte, podemos discutir
esse fato como um resultado bem sucedido da transmissão da ideologia, já que seu
mecanismo de funcionamento depende justamente de seu ocultamento: as
representações da ideologia devem ser tomadas como uma versão única da realidade
ou, ainda, como “a” realidade em si.
Apesar dos pequenos acertos nas afirmações sobre o tema discutido, pode-se
considerar que o curso teve um desempenho satisfatório. Tendo em vista que tais
representações estão arraigadas no cotidiano de professores, que muitas vezes não
tiveram uma formação inicial que abordasse esses conteúdos. Os acertos representam
transformações realizadas no decorrer do curso, que possui suas limitações em relação
ao tempo destinado aos trabalhos.
6. Conclusões
Esse curso mostrou a grande capacidade da modalidade semipresencial com
ênfase na EaD pois, para além da grande difusão dessa modalidade devido aos avanços
tecnológicos, esta oportuniza conteúdos e discussões importantes aos professores e
professoras em suas carreiras, sem que eles precisem estar se deslocando ou mesmo
que necessitem trabalhar de modo síncrono com a turma. A interação nas turmas do
curso foi bastante profícua, especialmente nos Fóruns de Discussão, podendo ser
anotados uma média de 200 participações em cada um dos três fóruns realizados,
apontando que cada cursistas participou mais de uma vez em cada fórum. A evasão
apontada nesse curso foi de aproximadamente 35%, o que é uma taxa pouco abaixo da
média de cursos dessa natureza ofertados na modalidade EaD. Tal fato corrobora com
pesquisas apontadas pela literatura e pode estar associado ao cuidado dos tutores
presenciais com os/as cursistas, através da disponibilização de horas semanais de
trabalho para solucionar dúvidas iniciais, em cada um dos polos participantes.
Os resultados apontam para a necessidade de novos cursos que discutam sobre
os mecanismos ideológicos da mídia com professores e professoras, dado que sua
posição no sistema educacional os coloca como centrais no desenvolvimento da visão
crítica dos alunos e em seu desvelamento de ideologias. Apontam também que se deva
insistir na modalidade semipresencial com ênfase na EaD em cursos de formação
continuada para professores, os quais veem reagindo de modo satisfatório à essa
tendência.
Considerando que a diversidade cultural é um fator natural e importante para a
riqueza de aprendizados, enquanto a desigualdade social é construída e mantida pelos
grupos hegemônicos para manter seu domínio, é preciso refletir sobre as possibilidades
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de transformação que os professores e professoras podem realizar desde que sejam
instrumentalizados para isto.
Como a desigualdade não é natural, é passível de mudanças, e a sala de aula é
um importante ponto de partida para a modificação do cenário atual, a partir de uma nova
postura diante da diversidade e do olhar crítico sobre os materiais midiáticos e seus
mecanismos ideológicos. A partir de atividades que levem à reflexão em sala de aula, é
possível combater a discriminação, o preconceito e os padrões morais presentes no
cotidiano das escolas.
Referências Bibliográficas
ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos de Estado: nota sobre os aparelhosideológicos de Estado (AIE). 2 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.
CASADEI, Elisa Bachega. Diversidade e fotografia. In: MORAES, Mara Sueli Simão;REBECHI JUNIOR, Arlindo (Orgs). O uso de linguagens no ensino de temas dadiversidade. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015. p. 132-155 (Coleção Produção deMaterial Didático para Diversidade)
CHAUÍ, M. O que é ideologia. 8 ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. (ColeçãoPrimeiros Passos)
CURY, C. R. J. Ideologia e educação brasileira. Católicos e liberais. 4 ed. São Paulo:Cortez - Autores Associados, 1988 (Coleção Educação Contemporânea).
FERRARI, A. “Eles me chamam de feia, macaca, chata e gorda. Eu fico muito triste” –Classe, raça e gênero em narrativas de violência na escola. Instrumento: R. Est. Pesq.Educ., v. 12, n. 1, jan./jun. 2010.
LOURO, G. L. Gênero, Sexualidade e Educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. 6.ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
______. Heteronormatividade e homofobia. In: Diversidade Sexual na Educação:Problematizações sobre a homofobia nas escolas. JUNQUEIRA, R. D. (Org.). Brasília:Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização eDiversidade, UNESCO, 2009. p. 85-93. (Coleção Educação para Todos).
MISKOLCI, R. Marcas da Diferença no Ensino Escolar. São Carlos: EdUFSCar, 2010.
ROTHBERG, Danilo. Diversidade e Jornalismo. In: MORAES, Mara Sueli Simão;REBECHI JUNIOR, Arlindo (Orgs). O uso de linguagens no ensino de temas dadiversidade. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015. p. 102-131 (Coleção Produção deMaterial Didático para Diversidade).
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