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MARCO ANTÓNIO SANTOS E SILVA
Porto 2009
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A dinâmica do LOSANGO, enquanto geometria de organização funcional do jogo de Futebol. Estudo sobre o desempenho ofensivo do sector intermédio, através da análise sequencial.
Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Alto Rendimento – Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta da Silva Marco António Santos e Silva Porto, 2009
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Silva, M. (2009). A dinâmica do LOSANGO, enquanto geometria de organização funcional do jogo de Futebol. Estudo sobre o desempenho ofensivo do sector intermédio, através da análise sequencial. Dissertação de Licenciatura. Porto: FADEUP.
Palavras-Chave: PROCESSO OFENSIVO; SECTOR INTERMÉDIO; PADRÕES DE JOGO; METODOLOGIA OBSERVACIONAL; FUTEBOL; ORGANIZAÇÃO TÁCTICA.
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AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Júlio Garganta, orientador deste trabalho
monográfico6 O conhecimento alargado sobre a temática e a humildade com
que se relaciona com as pessoas é de facto extraordinária6 Os seus
conselhos são uma fonte de entusiasmo para tentarmos ser MAIS E
MELHOR6 É um orgulho ter recebido as suas orientações neste estudo6
Tudo parece tornar-se mais simples aos seus olhos6
Aos meus pais e irmã6 que me proporcionaram tudo o que fosse
necessário para concluir este trabalho6 Dou-lhes RAZÃO6 A eles devo
TUDO!
À Liliana6 pois reconheço que foi sempre bastante compreensiva e
soube ULTRAPASSAR comigo as noites de maior trabalho6
Ao Toni6 que desde o primeiro ao último momento se disponibilizou
SEMPRE para ajudar! O seu entusiasmo quando se refere à análise sequencial
é cativante e deixa perceber que a sua paixão é mesmo o Futebol6
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ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... 5 ÍNDICE GERAL ............................................................................................................................................ 7 ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................................................. 8
ÍNDICE DE QUADROS ........................................................................................................................... 9 RESUMO ................................................................................................................................................... 13 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 17
1.1 Hipóteses ................................................................................................................................ 22 2. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................................................. 25
2.1 O ‘Jogo’ enquanto sistema multi-variável ........................................................................................ 25 2.2 Sobre a necessidade de partir para a ‘construção’ do Jogo que se quer e definição de princípios de actuação… ............................................................................................................................................ 28 2.3 Entender o Futebol numa perspectiva holística: relação de profunda intimidade entre os quatro momentos de jogo (‘Casamento perfeito’) ............................................................................................. 33 2.4 A posse de bola (princípio colectivo) como imperativo para se chegar a um Processo Ofensivo mais eficaz ............................................................................................................................................ 36 2.5 Princípios/indicadores tácticos específicos de qualidade no Processo Ofensivo ............................ 42
2.5.1 Qualidade na recepção e no passe ......................................................................................... 42 2.5.2 Posicionamento diagonal para passes com segurança ........................................................... 43 2.5.3 Construir triângulos e losangos posicionais para criar linhas de passe ................................... 44 2.5.4 Criação e aproveitamento de espaços livres ........................................................................... 44 2.5.5 Circulação da bola (em velocidade…) e jogo em ‘campo grande’ ........................................... 45 2.5.6 Variabilidade nas respostas dos jogadores e na utilização dos espaços de jogo.................... 45 2.5.7 Variação do ritmo de jogo ........................................................................................................ 46
2.6 A Organização Ofensiva do sector intermédio: Losango geometria na parte (sector) que está no todo (estrutura) ...................................................................................................................................... 48
3. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................................... 57 3.1 O Recurso à Metodologia observacional e proposta conceptual .................................................... 57 3.2 Desenho Observacional e Instrumento de Observação .................................................................. 63 3.3 Observação e registo dos dados ..................................................................................................... 78
3.3.1 Critérios taxonómicos da Metodologia Observacional ............................................................. 78 3.3.2 Procedimentos de observação ................................................................................................ 79 3.3.3 Procedimentos de registo ........................................................................................................ 79 3.3.3.1 Directrizes para o registo das sequências PO ...................................................................... 80 3.3.4 Fase exploratória ..................................................................................................................... 86 3.3.5 Análise da qualidade dos dados .............................................................................................. 86
3.4 Amostra de Observação .................................................................................................................. 89 3.4.1 Justificação da selecção da amostra ....................................................................................... 89 3.4.2 Selecção da Amostra Observacional ....................................................................................... 91
3.5 Análise dos dados ........................................................................................................................... 93 3.5.1 Análise sequencial ................................................................................................................... 93 3.5.2 Procedimento dos dados ......................................................................................................... 94
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................................. 99 4.1 Análise sequencial ........................................................................................................................... 99
4.2.1 Padrões de jogo encontrados para as condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO) ............................................................................................................................................. 100
5. CONCLUSÕES .................................................................................................................................... 129 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 133 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 143
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ÍNDICE DE FIGURAS
Fig. 1 Losango.
Fig. 2 Formação dum losango no meio-campo da equipa do FC Barcelona.
Fig. 3 Interacção do processo de análise do jogo com o treino e a performance (Garganta, 1997).
Fig. 4 Proposta de Modelo de organização da dinâmica do jogo de futebol.
Fig. 5 Desenhos Observacionais em quadrantes definidos (Adaptado Anguera in Barreira, 2006:72.
Fig. 6 Momento de início do Processo Ofensivo.
Fig. 7 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 1.
Fig. 8 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 2.
Fig. 9 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 3.
Fig. 10 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 4.
Fig. 11 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 5.
Fig. 12 Final do Processo Ofensivo.
Fig. 13 Losango no meio-campo do FC Barcelona.
Fig. 14 Losango no meio-campo do FC Barcelona.
Fig. 15 Losango no meio-campo do FC Barcelona.
Fig. 16 Padrões prováveis para a conduta DPpmlgcv
Fig. 17 Padrões prováveis para a conduta DPplat
Fig. 18 Padrões prováveis para a conduta DPplprcv
Fig. 19 Padrões prováveis para a conduta DPpllgcv
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ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 4.1 Critério 1 do Formato de campo: Início do Processo Ofensivo (IPO)
Quadro 4.2 Critério 2 do Formato de campo: Desenvolvimento do Processo Ofensivo
Quadro 4.3 Critério 3 do Formato de campo: Final do Processo Ofensivo
Quadro 4.4 Critério 4 do Formato de campo: Ritmo de Jogo
Quadro 4.5 Critério 5 do Formato de campo: Espacialização do Terreno de Jogo
Quadro 4.6 Critério 6 do Formato de campo: Centro do Jogo
Quadro 4.7 O instrumento de observação: combinação formato de campo e sistema de
categorias
Quadro 4.8 Sessão de Observação para a análise da qualidade dos dados pela concordância
intra-observador
Quadro 4.9 Análise da qualidade de dados: resultados da fiabilidade para cada um dos
critérios de Formato de Campo (FC)
Quadro 4.10 Sentido prospectivo e retrospectivo utilizado para a análise sequencial de
retardos, tendo como condutas critério o catálogo de condutas de desenvolvimento e final do
Processo Ofensivo.
Quadro 5.1 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual, tendo como condutas objecto as
condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais
(CJ e RJ).
Quadro 5.2 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em profundidade, tendo como
condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais
(ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Quadro 5.3 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em largura, tendo como condutas
objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as
contextuais (CJ, RJ).
Quadro 5.4 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado, tendo como condutas
objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as
contextuais (CJ, RJ).
Quadro 5.5 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade sem variação de
corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as
condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Quadro 5.6 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade com variação de
10
corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as
condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Quadro 5.7 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em largura com variação de corredor,
tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas
estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Quadro 5.8 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo atrasado, tendo como condutas
objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais
(CJ, RJ).
Quadro 5.9 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade sem variação de
corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas
estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Quadro 5.10 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade com variação de
corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas
estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Quadro 5.11 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em largura com variação de corredor,
tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais
(ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Quadro 5.12 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento, tendo como condutas objecto as
condutas regulares (IPO, DPO, FPO, RJ); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ).
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RESUMO O Futebol é um jogo de preponderância táctica que necessita de uma
continuada e eficaz resolução das situações de jogo, constrangendo os
jogadores a adaptar-se e readaptar-se a novas situações de jogo. Por se tratar
duma actividade não-linear, não é possível estabelecer-se um ciclo de
comportamento antecipadamente, pois cada situação de jogo tem diversas
formas de poder ser resolvida. No entanto, o estudo do fluxo de
comportamentos dos jogadores/equipas de Futebol permite um mais ajustado
conhecimento do jogo e, sobretudo, dos padrões táctico-técnicos que o
configuram que se descobrem e isso permite-nos melhor intervir sobre ele.
No presente estudo desenvolveu-se um instrumento de observação ad
hoc, no sentido de detectar os padrões de conduta do Processo Ofensivo de
equipas que colocavam quatro jogadores organizados em losango no sector
intermédio e procurou-se associá-los à eficácia do ataque. Foram codificados
10 jogos que se enquadram numa Filosofia de jogo orientada por um Futebol
positivo e de iniciativa, das quais saliento o FC Barcelona de Josep Guardiola.
Para o tratamento e análise dos dados recorreu-se ao Software SDIS-GSEQ de
Bakeman y Quera, devido à sua especificidade para analisar eventos múltiplos.
• Os resultados permitiram concluir que: durante o Desenvolvimento do
Processo Ofensivo, um contexto de interacção de superioridade numérica,
relacionado com um losango no Centro do Jogo, permite um Final do Processo
Ofensivo com eficácia; a utilização do passe médio em largura com variação de
corredor seguido dum passe médio em profundidade com ou sem variação de
corredor, associados a acções individuais activam a eficácia no Final do
Processo Ofensivo; a utilização da variação de corredores no decorrer do
Desenvolvimento do Processo Ofensivo é indispensável na criação de
situações de pré-finalização e de finalização; o Desenvolvimento do Processo
Ofensivo por passe curto em largura ou profundidade permite a continuidade
do ataque; Finais do Processo Ofensivo com eficácia são activados por zonas
do sector ofensivo e acções individuais em ritmo rápido; o Processo Ofensivo
termina frequentemente com a recuperação da posse de bola pelo adversário.
Palavras-chave: Futebol, Táctica, Ataque, Análise do Jogo, Análise
Sequencial, Observação.
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1. INTRODUÇÃO
É facilmente reconhecido por todos que, em equipas de Futebol de alto
rendimento, o único objectivo é vencer. Valoriza-se em grande medida o
resultado (produto), menosprezando muitas vezes a forma de o conseguir
(processo). Neste contexto, tratando-se dum objectivo, é ao mesmo tempo uma
necessidade de sobrevivência.
Existem várias formas de jogar e atingir resultados. Por vezes, observa-
se que Treinadores estão tão preocupados com o ganhar e o perder que se
esquecem do que é realmente importante: jogar. Ora, para se jogar duma
determinada forma é preciso treinar porque o Futebol é algo que se vai
construindo.
Os Treinadores deverão ter como preocupação comum recolher
informação do jogo e perceber como é possível intervir sobre os processos de
ensino-aprendizagem e de treino para os tornar mais eficazes/eficientes. Neste
sentido, será importante treinar para jogar e jogar para treinar. Van Gaal (citado
por Pacheco, 2005) refere mesmo que “Treinar é mais importante que jogar e é
nos treinos que se forma a base de todo o jogo”.
A análise do fenómeno do Futebol pode ser ambígua porque este tem
vários sentidos, múltiplas Filosofias e Concepções, permitindo interpretações
diversas e, por isso, está dependente do conhecimento que temos dele. Refira-
“O objectivo do ser humano: actualizar-se, alcançar o seu máximo potencial” Bruce Lee “Uma mente inteligente é uma mente INQUIETA. Não se sente satisfeita com explicações, com conclusões; nem se trata de una mente que crê, porque crer é outra forma de conclusão” Bruce Lee "Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade" Miguel Torga “O Futebol parece-se com o ‘ópio do povo’. É um bom entretenimento comparado com o pão e circo que os políticos oferecem ao povo” J. M. Lillo
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se portanto a imprescindibilidade de investigar o Futebol, tornando-o objecto de
estudo.
O Futebol apresenta uma especificidade, uma essencialidade táctica
(Gréhaigne, 1989; Garganta, 1995) porque é nela e através dela que se
consubstanciam os comportamentos que ocorrem durante um jogo (Garganta,
1997). Sabe-se que a dimensão táctica ainda é pouco pesquisada face à
importância que lhe é atribuída no jogo, como resultado da dificuldade que
envolve o seu estudo. Estudar e definir categorias de observação na dimensão
táctica, através de análises quantitativas e qualitativas, é realmente uma tarefa
de enorme complexidade.
Garganta (2008) refere que a consciência de que os constrangimentos
tácticos assumem uma importância vital nos Jogos Desportivos (JD), fez com
que a partir da segunda metade da década de oitenta, a identificação de
padrões tácticos, conseguida com base nos comportamentos patenteados
pelos jogadores e pelas equipas, passasse a ocupar a agenda dos
investigadores. O estudo do fluxo conductural no Futebol é fundamental, no
sentido de ficarmos a conhecer melhor o jogo e tornar possível uma
intervenção mais direccionada no processo de treino.
O Futebol de Alto Rendimento exige cada vez mais dos jogadores e
mais propriamente das equipas, acções táctico-técnicas e procedimentos
colectivos que induzam o desequilíbrio defensivo na organização do
adversário, na perspectiva de contrariar o crescente equilíbrio entre as equipas.
Os Treinadores têm a missão de criar imagens e conhecimentos específicos
para que os jogadores saibam o que fazer, quando fazer, como fazer e porquê
fazer, apresentando uma determinada ordem e, dentro dela, possam expressar
a sua criatividade em prol do colectivo.
O objectivo primário do Futebol é marcar mais golos que o adversário e
isso só será possível tendo a posse de bola. Deve referir-se contudo que as
regras não atribuem golos apenas pelo tempo de posse de bola ou pelo
número de passes realizados. A equipa que tem a posse de bola tem a
iniciativa do jogo, podendo variar entre jogo interior/exterior ou
curto/médio/longo, circular a bola a diferentes velocidades, jogar em
amplitude/profundidade, com o objectivo de criar instabilidade e surpresa no
adversário e no final marcar golo(s).
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No Futebol actual, a ideia de que é preciso ‘encaixar’ no adversário cria
dificuldades acrescidas, sobrevalorizando os adversários em detrimento da
própria equipa e concedendo primazia à transpiração em detrimento da
inspiração (Galeano, 2006).
Os Treinadores que se preocupam em desenvolver uma boa dinâmica
com base nos princípios de jogo e coloquem novos desafios aos
jogadores/equipa no que diz respeito à utilização de variantes estruturais no
decorrer do jogo poderão, de alguma forma, criar mais problemas aos seus
adversários. Citando o exemplo dum Treinador de referência, podemos referir
que José Mourinho tem variado entre a utilização de duas estruturas: o 1-4-3-3
e o 1-4-4-2, sobressaindo a forma como se organizam no sector intermédio,
isto é, triângulo ou losango, respectivamente.
A partir dos anos 70 começou a falar-se de ‘Futebol do centro-
campismo’ (Lobo, 2007:148), começando a ouvir-se os treinadores assumir que
os jogos se ganham no meio-campo. No Futebol actual, percebe-se que os
treinadores têm necessidade de ocupar e dominar o meio-campo para
neutralizar o adversário no espaço onde se começam a congeminar, de forma
mais precisa, as jogadas de ataque (Lobo, 2007:148). Pensa-se que a
densidade de jogadores na zona intermédia está relacionada com o controlo e
domínio do jogo.
Prieto Castro (2009), a respeito dum jogo entre Real Madrid CF e FC
Barcelona mencionava que a equipa que conseguisse dominar a zona central
do terreno de jogo seria capaz de impor o seu estilo de jogo, um baseado na
recuperação e no contra-ataque e outro fundamentado em inúmeras
combinações e na velocidade de circulação da bola. Referia-se ainda ao facto
das características táctico-técnicas de cada um dos médios influenciarem
directamente na ideia e na Filosofia de jogo que propõem os respectivos
Treinadores.
A organização posicional em losango resulta do recuo dum dos
avançados do 1-4-3-3. No plano geométrico, o losango é um bom habitat para
um meio-campo pois toca em largura os seus vários pontos e dá vida a cada
espaço de relva (Lobo, 2007), permitindo uma ocupação mais racional no meio-
campo e mais segurança no momento ofensivo. A organização do sector
intermédio decorre de critérios pré-estabelecidos e dum processo de ensino-
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aprendizagem, relacionado com regularidades que se pretendem adquirir em
sintonia com o Modelo de Jogo do Treinador.
Num desporto de equipa como é o caso do Futebol, o estudo das suas
interacções (dinâmica) é uma tarefa árdua e extremamente complexa devido à
abundância de figuras interactivas que se apresentam nas diferentes posições
relativas de ambas equipas e à fugacidade que caracteriza esta modalidade
desportiva. Esta dificuldade é resultado da subjectividade normalmente
associada ao ‘jogo de opiniões’ em relação aos indicadores desencadeadores
do sucesso que se produz no Futebol.
Urge assim falar na metodologia observacional e nas técnicas de análise
sequencial enquanto modelo de análise adequado ao estudo dos
comportamentos, condutas e relações que se estabelecem num jogo de
Futebol. Esta análise deverá basear-se na utilização de um instrumento de
observação que permita canalizar toda esta ampla casuística de potenciais
relações interactivas (Villaseñor, López, Anguera, 2005). Procederemos à
definição duma ferramenta observacional que permita uma análise dos
Processos Ofensivos1 dentro da organização de jogo destas equipas e em
confronto com os adversários.
As competições são a fonte privilegiada de informação útil para o treino
(Cramer, 1987, citado por Garganta, 1997). É importante recorrer-se à
observação/análise das equipas mais representativas de um nível superior de
rendimento (Castelo, 1992), para que os dados recolhidos sejam relevantes.
Seleccionaram-se algumas equipas para a realização das
observações/análises. A escolha está relacionada com uma Filosofia de Jogo
com iniciativa e na qual ter a posse de bola é ponto fulcral no desenvolvimento
do jogo. Sendo assim seleccionamos o AFC Ajax de Louis Van Gaal � 1-3-4-3;
a Selecção Espanhola de Louis Aragonês � 1-4-4-2; o FC Barcelona de Josep
Guardiola � 1-4-3-3�1-4-4-2 e a Selecção Argentina orientado por Marcelo
Bielsa � 1-3-4-3 porque, como diria Galeano (2006), eu também sou um
“mendigo do bom futebol”.
Este trabalho está indubitavelmente muito associado ao modelo de
pensamento e paradigma de Josep Guardiola, actual Treinador do F.C.
1 O conceito de Processo Ofensivo é abordado no ponto 3.1 do capítulo 3, referente ao Material e Métodos.
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Barcelona, ‘cérebro’ do mítico Dream Team do FC Barcelona e considerado por
muitos como o médio-centro com melhor interpretação de jogo do mundo,
herdeiro da Filosofia de Johan Cruyff e do Método académico e sistemático de
Louis Van Gaal. Atentemos no seu paradigma, o seu pensamento sobre o jogo
quando abraçou a carreira de treinador: “Jogo de posição, abrir o campo pelos
corredores laterais, assumir riscos, jogar ao ataque (6).
O objectivo deste trabalho monográfico passa por estudar o
desempenho ofensivo do sector intermédio através da análise sequencial, no
sentido de identificar padrões de comportamento (regularidades) que os
jogadores/equipas adoptam em função dum determinado contexto (interacção
no Centro de Jogo) e dum espaço, para provocar ruptura ou desorganização no
equilíbrio defensivo do adversário e conduzam a um Processo Ofensivo eficaz.
Uma Monografia é um trabalho académico original sobre um
tema/problema que se pretende bem determinado e delimitado. A pertinência
deste estudo está relacionada com o conhecimento do jogo e com a realidade
prática do Futebol. Por outro lado, o conhecimento adquirido acerca da
Metodologia Observacional com base na análise sequencial será de extrema
utilidade no futuro. Considero um grande desafio e obviamente uma
responsabilidade, mas acredito piamente que os resultados proporcionar-me-
ão satisfação aquando da sua apresentação à comunidade científica.
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1.1 Hipóteses
Depois de se definir os objectivos do estudo procedeu-se à formulação
das seguintes hipóteses:
Hipótese 1
- Existem comportamentos no Processo Ofensivo que, devido à sua elevada
regularidade e probabilidade, permitem afirmar que ocorrem para além do
acaso.
Hipótese 2
- A criação de superioridade numérica no centro de jogo (zona intermédia),
durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo, relaciona-se com um Final
com eficácia.
Hipótese 3
- A combinação do passe em largura com variação de corredor e do passe
médio em profundidade (com ou sem variação de corredor) durante o
Desenvolvimento do Processo Ofensivo no sector intermédio, tem como
consequência um ataque com eficácia.
Hipótese 4
- A utilização do passe curto (em largura e profundidade) e a variação de
corredores de jogo durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo no sector
intermédio e ofensivo potenciam a eficácia no Processo Ofensivo.
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2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 O ‘Jogo’ de Futebol enquanto sistema2 multi-variável
O Futebol tem a capacidade de nos colocar em contacto, como na
dança, com algo do nosso corpo que podemos chamar a pré-história dos
nossos movimentos (Dimitrijevic, 2007). É proibido – se és jogador de campo –
todo o uso da mão e do braço, ou seja, os órgãos com que habitualmente se
realizam todos os actos e nos quais se alcança o maior grau de precisão, de
rendimento e de destreza. Há de alguma forma uma necessidade absoluta
dum retorno às funções arcaicas, contrariando aquilo que é natural.
O Futebol está sujeito à mesma lógica do que vai acontecendo na
sociedade. Valdano (2007) refere que uma equipa é uma sociedade em
miniatura que ensina muito sobre a condição humana, constituindo-se como
um laboratório para analisar os comportamentos do ser humano. Uma equipa
de Futebol pode ser definida como um sistema social, caracterizado pela inter-
relação dos seus sujeitos integrantes e destes com o meio ambiente.
Valdano (2007) lembra a presença no Futebol de três maravilhas
humanas: “a memória (dos nossos ídolos, das pessoas que nos levaram ao
estádio pela primeira vez, da nossa infância vinculada ao jogo), a emoção (que
depende da incerteza dos resultados, do sentimento de pertença que provoca
a nossa equipa e da beleza) e os sonhos (pela capacidade que este desporto
tem de renovar as ilusões a cada semana).”
O Futebol constitui-se como um desporto de cooperação-oposição,
entre dois sistemas complexos, que tentam permanecer em equilíbrio e
desequilibrar o adversário. Seirul-lo (2009) afirma que o Futebol está numa
2 A Teoria dos Sistemas tem como principal objectivo: o esforço humano para prever o futuro. Segundo Bertalanffy (1975), sistema é um conjunto de unidades reciprocamente relacionadas, de onde decorrem dois conceitos: o de objectivo e o de totalidade. Estes dois conceitos retratam duas características básicas de um sistema.
“O Futebol é sempre o mesmo, aos olhos da sociedade é que mudou” Jorge Valdano “Para aprender necessitamos em primeiro lugar de compreender o que queremos aprender” J. A. Marina
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sub-zona limite entre a ordem e o caos3 dissipativo, portanto pertencente ao
âmbito da complexidade, de tal modo que a informação e interacções são as
suas emergências mais notáveis. Segundo o mesmo autor, a informação refere
um nível próximo da zona da ordem e outro produtor de inesperados e às
vezes desconhecidos, padrões informacionais próximos do caos.
É óbvio que a ambição de qualquer Treinador é tentar ser o ‘Deus de
Laplace’ e conseguir prever com uma certeza infinitesimal a evolução do jogo,
controlar esse sistema multivariável. Neste contexto, é relevante fazer a
seguinte pergunta retórica: será que alguém consegue indicar previamente,
com exactidão, o produto de uma quantidade inumerável de interacções, se
estas estão em contínuo dinamismo?
Poder-se-á pensar que o Treinador talvez prefira substituir a
variabilidade pela estereotipia na expectativa de que as atitudes dos seus
jogadores sejam previstas e articuladas com a máxima certeza, de que as
propriedades topológicas do movimento que eles manifestam sejam as menos
variáveis. Ele deve, no entanto, aperceber-se que a máxima estereotipia,
correspondendo à mínima variabilidade, corresponde, também, à mínima
adaptabilidade (Cunha e Silva, 1995).
Galeano (2006) menciona que, por muito que o Futebol se mecanize,
por muito que se torne previsível e enfadonho, o jogo terá sempre lugar para
jogadores como o Cristiano Ronaldo, o Deco, o Eto. Leitão (2004) acrescenta
que o jogo de Futebol deixaria de ser jogo se não houvesse a variável
imprevisibilidade e todas as outras variáveis fossem controladas. Neste caso, a
criatividade terá sempre o seu lugar reservado num campo de Futebol, pois o
detalhe é, realmente, o que confere espectacularidade ao jogo.
Na impossibilidade de abordar o Futebol na sua total expressão, é
importante perceber de que forma a entrada por uma ‘porta principal’ de
acesso ao conhecimento do fenómeno do jogo, pode contribuir para clarificar o
seu entendimento e viabilizar uma intervenção mais eficaz (Garganta, 1997).
Neste sentido, a Análise do Jogo pode ajudar a perceber um pouco do que
3 O Caos é a teoria que explica o funcionamento de sistemas dinâmicos não lineares (complexos). Trata-se do chamado caos determinístico, pois existe uma equação (atractor) que define o seu comportamento. O caos pode ser definido como um processo complexo qualitativo e não-linear – caracterizado pela imprevisibilidade de comportamento e pela grande sensibilidade a pequenas variações nas condições iniciais de um sistema dinâmico (Gleick, 1989).
27
‘esconde’ o Futebol, entendendo o que acontece, onde, como, quando e
porquê e identificando padrões e sistemas complexos no jogo.
Ao retirar informação pertinente dos jogos pode tornar-se os processos
de ensino-aprendizagem mais específicos. A sistematização destas
informações permite configurar modelos da actividade de jogo (Godik & Popov,
1993, citado por Garganta, 1997), que possibilitam, não só construir métodos
de treino mais eficazes (Franks e tal., 1983, Talaga, 1985, citados por
Garganta, 1997) e estratégias de trabalho mais profícuas (Olsen, 1988, citado
por Garganta, 1997), mas também indiciar tendências evolutivas (Franks &
Goodman, 1986, citados por Garganta, 1997).
A imprevisibilidade e aleatoriedade presentes no Futebol colocam aos
jogadores uma exigência de avaliação, antecipação e adaptação constantes e
isto treina-se. Aliás, o Futebol é uma escola de superação pessoal que ensina
a procurar a recompensa: o jogador treina para dar uma melhor versão de si
mesmo no dia do jogo porque a prática ajuda a assimilar extremos tão simples
como ganhar e perder (Valdano, 2007). Neste campo deve referir-se que as
acções específicas do Futebol só fazem sentido quando executadas em
ambientes contextualizados de jogo.
Em termos globais, a defesa tem ganho uma evidente preponderância
em relação ao ataque e como consequência disso é cada vez mais relevante
estudar o Processo Ofensivo para perceber como é que este pode tornar-se
mais objectivo, através da criação de oportunidades de finalização e
concretização das mesmas.
28
2.2 Sobre a necessidade de partir para a ‘construção’ do Jogo
que se quer e definição de princípios de actuação'
A prática do Futebol ao mais alto nível de rendimento, impõe aos
jogadores e às equipas uma forte disciplina táctica, aliada a uma sólida
automatização das habilidades. Por outro lado reclama comportamentos
criativos, que, através da surpresa, do inesperado, provoquem rupturas na
lógica organizativa do adversário (Garganta, 1997). A identificação e o registo
de variáveis de qualidade através da análise dos comportamentos dos
jogadores em contexto de jogo são imprescindíveis para a evolução do
Futebol.
Neste sentido, refira-se que a pertinência do estudo dos problemas
inerentes ao jogo e ao jogador deverá situar-se mais ao nível da interacção
dos factores do que em cada um deles per se (Garganta & Gréhaigne, 1999).
A abordagem sistémica do jogo de Futebol constitui uma importante referência
a considerar nos processos de ensino e treino no Futebol, na medida em que
oferece a possibilidade de identificar e avaliar acções/sequências de jogo que,
pela sua frequente ocorrência, ou por induzirem desequilíbrios (ofensivos e
defensivos) importantes, se afiguram representativos da dinâmica das partidas
(Garganta & Gréhaigne, 1999).
Garganta (1998) refere que as análises de jogo focando os
comportamentos da equipa e jogadores, através da identificação das
“A bola é redonda em todos os sítios, mas em alguns países é tratada
melhor. O Futebol holandês é uma escola ambulante à qual se deve
roubar exemplos” Jorge Valdano
“Este Barça é de Guardiola porque foi quem marcou o caminho, mas é
de todos porque foi o primeiro a insistir que nada é mais importante que
nada. Guardiola foi fundamental na mudança de mentalidade”
“Partimos de uma ideia comum. Crescemos dum conceito comum. Esta
equipa, acima de tudo, é uma ideia. Defendemos uma maneira de jogar
e acreditamos nela desde o início” Andrés Iniesta
"O Treinador tem de ser um guia, um condutor que põe a andar uma ideia” Jorge Valdano
29
regularidades e variações das acções de jogo, bem como a eficácia e
eficiência ofensiva/defensiva são mais profícuas em relação à recolha de
dados quantitativos relativos a acções terminais não contextualizadas. Estas
análises devem tentar assinalar os padrões de comportamento mais eficazes e
representativos dos diferentes momentos/fases de jogo, com base na
identidade da equipa e de acordo com o seu Modelo de Organização
preconizado (regularidades).
No Futebol, a ideia central, o ponto de partida é a Concepção. Tal como
defende Cruyff (2002) é preciso ter uma cultura própria, um ideal, que tem a
ver com saber o que queres jogar e com quem queres fazê-lo. O Treinador
deve ter um corpo de ideias concretas acerca de como quer que o jogo seja
praticado. De seguida torna-se importante elaborar e conceber Modelos,
construções simbólicas com a ajuda das quais se pode definir projectos de
acção, avaliar os seus processos e a sua eficácia (Le Moigne, 1990). Por isso,
o Modelo de Jogo orientador é imperial no sentido de criar um contexto comum
de significados, conhecimentos partilhados, normas de conduta e proporcionar
aos seus membros uma identidade colectiva e um âmbito claramente
delimitado que estes sentem como seu (Fritjof Capra, 2009).
A identificação com o Projecto de Jogo é decisiva para que esse jogo
possa chegar a ser profundamente significativo para a totalidade do conjunto e
assentar num corpo particular de conhecimento (Cano, 2009). Morcillo (2009),
citando Cano (2004), revela que o conhecimento não é uma meta, não é um
espaço onde chegar, não é um porto onde atracar, mas sim uma espiral onde
se ingressa, impulsionado por uma ignorância assumida, que se manifesta
uma e outra vez, propulsionado pelo motor da preocupação.
Neste contexto, qualquer grupo orientado por um objectivo comum inicia
o seu processo de transformação para a equipa ao nível das suas metas,
tarefas, responsabilidades, deveres e direitos (Noguera, 2005). Messi (2009)
em entrevista ao ‘El Mundo Desportivo’ a propósito da Liga dos Campeões
mencionava que “6o que mais importa é que façamos o nosso Futebol, que
cheguemos à final com a nossa Filosofia de Futebol6”
Deve ocorrer uma clara identificação entre as ideias do Treinador e as
características dos jogadores que dispõe. Por exemplo, um Treinador pode
entender que a ocupação da zona intermediária se torna mais racional através
30
dum meio-campo organizado em losango, mas depois não ter jogadores que
possuam características para esta forma de organização.
Portanto, a partir do momento em que o Modelo está bem definido, o
Treinador tenta operacionalizar o Projecto de Jogo num contexto de
crescimento (treino/competição), modelando as relações e interacções dos
jogadores duma forma sempre contextualizada pelo jogar que se pretende.
Carvalhal (2001) refere que o guião de todo o processo de treino deverá ser o
Modelo de Jogo Adoptado, estando este dependente de um sistema de
relações que vai articular uma determinada forma de jogar, subjacente a uma
estrutura específica.
As tomadas de decisão dos jogadores não podem acontecer de forma
casual, mas baseadas nos Princípios orientadores do Modelo que, em conjunto
com determinadas regras de acção, farão com que a equipa actue com uma
lógica interna de funcionamento. Representam a fonte de acção e definem as
propriedades invariáveis sobre as quais se realizará a estrutura fundamental de
desenvolvimento dos acontecimentos (Bayer, 1986). Um Princípio de Jogo é o
início de um comportamento que o Treinador pretende que a equipa assuma
em termos colectivos bem como os jogadores em termos individuais
(Guilherme Oliveira, 2006). É fundamental definir os Princípios de Jogo que
balizem os comportamentos colectivos, visto que o jogo pelo seu carácter
imprevisível não permite acções planeadas na sua plenitude, pois vai sendo
construído conforme as respostas que os jogadores vão oferecendo
pontualmente naquelas situações. Estas respostas surgem da interacção dos
jogadores com a equipa, com o adversário, com a posição da bola e de muitas
outras variáveis.
Os comportamentos exteriorizados pelos futebolistas durante o jogo
traduzem, em grande parte, o resultado das adaptações provocadas pelo
processo de treino (Garganta, 1997). Neste campo, o Treinador tem a
responsabilidade de operacionalizar os Princípios tácticos de interacção,
desenvolvendo regularidades na desordem do jogo e solidez à dinâmica da
equipa e avaliar constantemente se o jogo corresponde ao que foi idealizado.
O processo de treino tem como objectivo o desenvolvimento de
respostas às exigências desportivas e sua aplicação na competição (Marques,
1983 e Lehnert, 1986, citado por Leitão, 2004). Amieiro (2005) refere que
31
“treinar é fabricar o jogar que se pretende”. É por esta razão que o Futebol é
considerado um fenómeno construído (Frade, 2002 citado por Amieiro, 2004).
No treino desenvolve-se a familiaridade (intimidade) nas relações que se
estabelecem entre os jogadores e a continuidade destas interacções ajuda-os a
reconhecer as respostas mais adequadas ao contexto, através da cumplicidade
comportamental que se vai adquirindo.
O líder de todo o processo deve ser dominador táctico do jogo (ao nível
do conhecimento e cultura táctica) e ter inteligência emocional para gerir os
problemas que a equipa vai apresentando, exercitando e valorizando mais uns
Princípios de Jogo num determinado momento em detrimento doutros. É
importante que se seleccionem exercícios que, pela sua estrutura e
funcionalidade, promovam de forma não consciente comportamentos e
conhecimentos adequados ao pretendido, em consonância com os Princípios
do Modelo de Jogo do Treinador.
Durante a sua realização, o Treinador deve funcionar como catalisador
positivo dos comportamentos desejados, associando-lhes emoções positivas
e/ou marcadores somáticos positivos e inibindo os comportamentos
inadequados (Oliveira, 2004), promovendo uma descoberta guiada aos
jogadores. A automatização das condutas apenas acontece através duma
repetição intencional dos gestos correctos (Armental, 2004). Vamos supor um
exemplo apresentado por Oliveira (2004): uma equipa cuja disposição dos
jogadores do seu sector do meio-campo é em losango. O Treinador propõe um
exercício de posse/circulação da bola entre duas equipas de quatro jogadores,
com o objectivo de fazer chegar a um quinto jogador. Se a disposição dos
jogadores é em losango, as adaptações, os comportamentos e as imagens
mentais/conhecimentos criados estão relacionados com o pretendido. Pelo
contrário se a disposição dos jogadores fosse em quadrado isso já não se
verificava.
Através dos dados recolhidos no jogo, o Treinador faz uma avaliação
constante dos comportamentos e interacções que necessitam de ser
melhoradas e direcciona a atenção dos jogadores para o que se pretende
potenciar no treino/competição.
A impossibilidade de identificar a totalidade dos condicionalismos e de
constrangimentos fundamentais que induzem alterações importantes no
32
decurso dos acontecimentos (Garganta, 1997), está relacionada com uma
‘irregularidade regular’, uma ‘imprevisibilidade previsível’ e uma ‘desordem
ordenada’ que se manifesta no fenómeno do Futebol.
A evolução positiva nos meios de análise tem permitido melhorar: i) o
conhecimento da organização do jogo e dos factores que concorrem para o
sucesso desportivo; ii) o planeamento e a organização do treino, tornando os
seus conteúdos mais objectivos e específicos; e iii) a regulação da
aprendizagem, do treino e da competição (Garganta, 1998).
33
2.3 Entender o Futebol numa perspectiva holística: relação de
profunda intimidade entre os quatro momentos de jogo
(‘Casamento perfeito’)
O Futebol tem, na sua essência, quatro momentos que estão presentes
em qualquer partida que seja disputada:
• Momento de Organização Defensiva;
• Momento de Transição defesa-ataque;
• Momento de Organização ofensiva;
• Momento de Transição ataque-defesa.
A natureza complexa e não-linear do jogo não permite que seja prevista
a ordem em que esses quatro momentos irão ocorrer, não se conseguindo
antever uma linha de progressão única, pois esta vai sendo desenhada de
acordo com as respostas colectivas dos jogadores e das equipas aos estímulos
do jogo. Chamam-se momentos (e não fases) pelo facto da ordem de
apresentação ser arbitrária e não sequencial (Oliveira, 2004).
Os diversos momentos do jogo (ataque, defesa, transição para ataque e
transição para defesa) não podem ser vistos como estanques em si mesmos,
isto é, eles dependem-se mutuamente e na construção dos Princípios de cada
um deles temos de ter em conta a ligação com os restantes sob pena de haver
uma desarticulação comprometedora da qualidade do jogo” (Frade, 2004a, in
Campos, 2008).
No Futebol é preciso entender o Processo Ofensivo como o momento
em que a equipa tem a posse da bola e o Processo Defensivo como o
momento em que a posse de bola é do adversário. A Transição ataque-defesa
“É sabido que a água (H2O) é um meio essencial para apagar o fogo, no entanto, se separarmos as suas componentes, hidrogénio e oxigénio, qualquer uma destas ao invés de apagar o fogo, incandesce-o ainda mais” Karl Popper “Não podes tapar um olho e jogar só uma coisa: Defender ou Atacar!” J. M. Lillo “Temos ainda que caminhar bastante no entendimento, nasistematização destas coisas, no sentido de perceber as suas conexões e de entender o Jogo como um fluxo contínuo” Júlio Garganta
34
corresponde ao momento de perda da bola e a Transição defesa-ataque
corresponde ao momento de ganho da posse de bola. Estes processos estão
intrinsecamente tão interligados que seria impensável tanto analisá-los como
treiná-los de forma isolada.
O momento de Organização Defensiva caracteriza-se pelos
comportamentos assumidos pela equipa quando não tem a posse da bola com
o objectivo de se organizar de forma a impedir a equipa adversária de preparar,
criar situações de golo e de marcar golo (Oliveira, 2004). A recuperação da
posse de bola é uma tarefa que pode tornar-se mais ou menos complicada
dependendo do nível de operacionalização nos Princípios Defensivos de jogo,
ao nível organizacional, operacional e estrutural. E está também ligada ao jogo
posicional do adversário, à sua capacidade de circular a bola e de progredir em
direcção ao campo e baliza do adversário.
Segundo Amieiro (2005), a Organização Defensiva só conseguirá ser
verdadeiramente colectiva se as acções táctico-técnicas realizadas por cada
um dos onze jogadores forem perspectivadas em função de uma ideia comum,
respeitando um referencial colectivo, em que as tarefas individuais dos
jogadores se relacionam e regulam entre si. O autor ainda afirma que apenas
assim o ‘todo’ (equipa que defende) conseguirá ser maior que a soma das
partes que o constituem (comportamentos táctico-técnicos de cada jogador).
Frade (2002) afirma que para uma equipa atacar com muitos jogadores
sem tornar-se desequilibrada deve “dar particular atenção aos timings de
transição”. Para se treinar as Transições Defensivas e Ofensivas são
necessários Princípios de Jogo bem estabelecidos. O momento de Transição
ataque-defesa é caracterizado pelos comportamentos que se devem assumir
durante os segundos após se perder a posse de bola (Oliveira, 2004). Ao
perder a bola, deve-se definir referências para pressionar o portador da bola
rapidamente, reorganizar-se em linhas mais recuadas ou coordenar as duas
respostas numa análise rápida da situação. Portanto, no momento da perda da
bola, a equipa passa por um período de desequilíbrio, na procura incessante de
novo equilíbrio.
O momento de Transição defesa-ataque é caracterizado pelos
comportamentos que se devem ter durante os segundos imediatos ao ganhar-
se a posse de bola. Quando recupera a bola, a equipa deve saber se é o
35
momento de contra-atacar, tirar a bola da zona de pressão ou alternar entre
ambos de acordo com o comportamento do adversário. Numa situação de
contra-ataque, a equipa que recupera a posse de bola tenta aproveitar o facto
do adversário ainda não ter conseguido o equilíbrio defensivo.
O momento de Organização Ofensiva é caracterizado pelos
comportamentos que a equipa assume aquando da posse de bola com o
objectivo de preparar e criar situações ofensivas de forma a marcar golo. Uma
equipa que tem a posse de bola procura organizar-se para ter equilíbrio
ofensivo, na tentativa de destabilizar o equilíbrio defensivo do adversário.
Sabe-se que o Futebol é, dentro dos Jogos Desportivos Colectivos,
aquele que tem menor índice de concretização/finalização dos ataques. Bate
(1988, in Laranjeira, 2009) considera que as equipas que tiverem maior posse
de bola, terão maiores hipóteses de aumentar o número de entradas no último
terço de terreno e assim obter situações de marcação de golo e a diminuição
do número de entradas na zona defensiva por parte da equipa adversária.
Cruyff (2009) conta que a equipa do FC Barcelona, pela sua maneira de
jogar, corre menos do que parece porque os jogadores se divertem com a bola,
fazendo com que os adversários sejam obrigados a correr atrás dela. O mesmo
autor refere-se ao estilo ofensivo desta equipa, caracterizando-o pelo “toque, a
posição, o meinho6”. O autor sempre defendeu que é possível ganhar jogando
bonito, dando espectáculo e por isso quando se joga bem e se ganha, tudo
custa menos. Acrescenta dizendo que o ponto de partida é que a equipa
mande em campo, que tenha a iniciativa, que tente atacar sempre – “atacar
bem para defender melhor” (Cruyff, 2009), garantindo que se a equipa em
posse de bola fizer bem os movimentos ofensivos defenderá melhor.
Quando a equipa joga bem está mais perto de marcar golos e ter
resultados positivos. Fernandez (2003, citado por Laranjeira, 2009) expõe que
a Organização Ofensiva de uma equipa deve englobar um conjunto de acções
relacionadas com o equilíbrio defensivo, com o qual se procura que a equipa
esteja preparada e organizada perante uma perda de bola, ou seja, que a
equipa antecipe estes momentos.
36
2.4 A posse de bola (princípio colectivo) como imperativo para
se chegar a um Processo Ofensivo mais eficaz
A elevação do jogo a objecto de estudo constitui um imperativo,
porquanto o conhecimento da sua lógica e dos seus Princípios tem implicações
importantes nos planos de ensino, treino e controlo da prestação dos
jogadores e das equipas (Garganta & Gréhaigne, 1999).
A planificação conceptual da Organização da equipa estabelecida a
partir de um determinado Modelo de Jogo, deverá fundamentar-se na base de
um sentido unitário que é expresso pela seguinte noção objectiva: a posse ou
não da bola Correia (2003, citado por Laranjeira, 2009).
No Futebol, tal como nos outros Jogos Desportivos Colectivos (JDC),
face a situações de oposição dos adversários, os jogadores devem coordenar
as acções com a finalidade de recuperar, conservar e fazer progredir o móbil
de jogo (bola), tendo como objectivo criar situações de finalização e marcar
golo (Gréhaigne & Guillon, 1992, citado por Garganta & Gréhaigne, 1999).
Um dos grandes problemas do jogo de Futebol consiste em conseguir
oportunidades de finalização (Castelo, 1992) e, quando concede ênfase ao
Processo Ofensivo, estamos a retirar do jogo partes do mesmo (momentos e
princípios), decompondo-o e articulando-o em acções também elas complexas,
não no sentido de o partir, mas sim de privilegiar as relações e os hábitos
(Carvalhal, 2001).
“A posse de bola é um objectivo parcial do jogo” “Desde que colocaram as balizas no campo de futebol, vence o que consegue meter a bola lá dentro e não o que mais a tem” J. M. Lillo “Também o futebol foi atacado pela necessidade de eficácia e há quem se atreve a perguntar para que serve jogar bem. É tentador contar que um dia ousaram perguntar a Borges para que serve a poesia e este contestou com mais perguntas: Para que serve um amanhecer? Para que servem as carícias? Para que serve o odor do café? Cada pergunta soava como uma sentença: serve para o prazer, para a emoção, para viver” “Toda a equipa que trata bem a bola, trata bem o espectador” Jorge Valdano
37
Gréhaigne (1989) sustenta que é possível caracterizar os
traços/comportamentos determinantes e as situações desencadeantes dos
momentos de ruptura produzida no sistema ataque-defesa aquando da
marcação de um golo.
Para se estudar esses momentos chave, é necessário analisar o
Processo Ofensivo que se inicia quando a equipa entra em posse de bola e,
sem infringir as leis de jogo, através de acções individuais e colectivas, criar
situações de finalização para obter golo (Queiroz, 1983). Garganta (1997)
defende que uma equipa se encontra em posse de bola, quando qualquer um
dos seus jogadores respeita, pelo menos, uma das seguintes situações: a)
realiza pelo menos três contactos consecutivos com a bola; b) executa um
passe positivo (permite manter a posse de bola); c) realiza um remate
(finalização).
Num jogo de Futebol, o objectivo principal é marcar mais golos que o
adversário e só será possível se essa equipa encontrar soluções para a
resolução prática dos problemas que se lhe apresentam durante a competição.
Sabe-se que apenas 1% dos ataques terminam com a obtenção de golo
(Dufour, 1993).
A necessidade imperial de tornar o Processo Ofensivo mais objectivo e
concretizador, conduzindo à criação de um maior número de oportunidades de
golo, tem sido uma preocupação de todos aqueles que pretendem ver
aumentada a qualidade e espectacularidade deste JDC (Luhtanen, 1993).
Estes factos justificam que a procura de traços e de variações
comportamentais, individuais e colectivas, tenha sido maioritariamente dirigida
para as acções ofensivas (Luhtanen, 1993).
Nesta procura incessante da eficácia, é indispensável que os jogadores
conheçam os Princípios gerais que regem as suas condutas no ataque:
assegurar e conservar a posse de bola, progredir e atacar de forma
permanente a baliza adversária e concretizar em golo os ataques (Antón,
2003).
Observamos com muita frequência a inexistência duma relação directa
entre as equipas com mais posse de bola e os melhores resultados
desportivos. No entanto, a equipa que tem a posse da bola tem também a
iniciativa, sendo condição ‘sine qua non’ para poder ganhar um jogo.
38
No Processo Ofensivo é preciso conservar e proteger a posse da bola,
tanto desde uma perspectiva individual – que se traduz na qualidade técnico-
táctica de controlo da bola, na sua protecção, na sua condução, no seu drible,
no passe, como na qualidade da coordenação colectiva – expressa na prática
pela distribuição e organização dos apoios em cada momento, o dinamismo
colectivo (Antón, 2003).
A posse de bola pode fazer-se em várias zonas do campo, o que, por
vezes, impede a tentativa de conseguir golo de forma imediata, obrigando a
equipa a levar a bola para zonas mais próximas da baliza adversária.
Cruyff (2009) lembra que cada passe, cada movimento, tem de ter um
sentido, ou seja, se fazes ‘posse por posse’ e se estás em zona de perigo, mais
cedo ou mais tarde um jogador comete um erro e a equipa torna-se vulnerável
aos contra-ataques dos adversários. É importante que os jogadores/equipas
saibam o que fazer quando têm a bola, pois quanto menos uma equipa perder
a bola menos vezes precisa de se organizar para a recuperar.
A posse de bola, para além da concretização do objectivo de jogo,
permite que as equipas (Castelo, 1994): controlem o ritmo de jogo;
surpreendam a equipa adversária através da mudança contínua do centro de
jogo; obriguem os adversários a passar por longos períodos sem a posse de
bola, levando-os a entrar em crise de raciocínio.
Ao longo da história do Futebol, as defesas foram-se reforçando
progressivamente (inclusão de maior número de jogadores inseridos na fase
defensiva), com o intuito de resistirem a ataques cada vez mais fortes e
organizados, tendo como consequência a supremacia da defesa em relação ao
ataque. Neste sentido, é sublinhada a necessidade de descobrir automatismos
no Processo Ofensivo para surpreender, criar desordem/desequilíbrio e
ultrapassar as defesas adversárias.
Determinados Modelos de Jogo privilegiam os passes curtos com
predominância para as ‘lateralizações’, outros passes longos e em
profundidade, e ainda outros combinam estas duas características, passes
curtos integrados com acções de ‘desencaixe’, que se tornam selectivamente
efectivas consoante a situação ou conjectura do momento do jogo (Dias, 2000,
citado por Laranjeira, 2009).
39
Na actualidade, o FC Barcelona é um exemplo do Futebol positivo, pela
beleza geométrica coloca nos lances ofensivos, que normalmente se traduz
em muitos golos. Guardiola, actual Treinador do FC Barcelona, herdeiro da
Escola de Cruyff e da Metodologia geométrica de Van Gaal, enquanto jogador
era considerado o ‘arquitecto no centro do terreno’, pela forma simples e
elegante com que delineava todas as jogadas e tornava o jogo colectivo. Só se
pode transmitir aquilo que se sente e Guardiola transmite aos seus jogadores a
sua ideia de jogo, falando-lhes de posição, desequilíbrio, circulação, desejo de
ganhar, trabalhar para ser melhor.
Portanto, para que se possa avaliar correctamente a eficácia do
Processo Ofensivo, é importante considerar todas as situações que permitem
perceber o nível de produção de jogo ofensivo das equipas e não apenas
aqueles que conduzem à obtenção de golo (Garganta, 1997).
Um estudo sobre o Mundial de Futebol de 2006 na Alemanha (Bueno,
2006) chegou a conclusão que as zonas de maior pressão e densidade de
jogadores correspondem a zona de meio-campo. Cruyff (2002) refere que, no
seu tempo, colocava 4 médios que sabiam dominar a bola nesta zona,
posicionados em losango. Guardiola aquando da sua passagem pela equipa B
do FC Barcelona também utilizou uma estrutura com 4 médios em losango,
subindo um dos defesas para integrar a posição de médio-centro.
O estudo refere igualmente algumas formas de combater este aspecto
no treino, aconselhando a utilizar situações que propiciem uma rápida
circulação da bola no centro do terreno e mudanças de orientação do jogo, de
forma a combater a pressão dos adversários nestas zonas do campo. Outra
das conclusões desse estudo menciona a imprescindibilidade de dominar um
amplo repertório de ‘estilos’ de jogo de ataque.
Daqui se percebe a imprescindibilidade de estudar e analisar os
Métodos de Jogo Ofensivo. Estes evidenciam a forma de organização das
acções dos jogadores na fase ofensiva, com o intuito de concretizar um
conjunto de Princípios implícitos no Modelo de Jogo da equipa, garantindo a
racionalização do processo, desde a recuperação da bola até à
progressão/finalização e/ou manutenção da posse de bola (Garganta, 1997). O
referenciado autor apresenta três Métodos de Jogo Ofensivo no seu estudo:
40
• CONTRA-ATAQUE – A bola é recuperada no meio campo
defensivo e a equipa adversária apresenta-se avançada no
terreno de jogo e desequilibrada defensivamente; utilizam-se
preferencialmente passes longos e para a frente; a circulação da
bola é realizada mais em profundidade do que em largura, com
desmarcações de ruptura; realizam-se passes em número
reduzido (igual ou inferior a 5); há uma rápida transição da zona
de conquista da bola para a zona de finalização, baixo tempo de
realização do ataque, em regra, igual ou inferior a 12’’; o ritmo de
jogo é elevado (elevada velocidade de circulação da bola e de
jogadores).
• ATAQUE RÁPIDO – A bola é recuperada no meio campo
defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se
equilibrada defensivamente; a circulação da bola é realizada em
profundidade e em largura, com passes rápidos, curtos e longos
alternados e desmarcações de ruptura; o número máximo de
passes realizados não ultrapassa os 7; o tempo de realização do
ataque não ultrapassa, em regra, os 18’’; o ritmo de jogo é
elevado (elevada velocidade de circulação da bola e dos
jogadores).
• ATAQUE POSICIONAL – A bola é recuperada no meio campo
defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se
equilibrada defensivamente; a circulação da bola é realizada mais
em largura do que em profundidade, com passes curtos e
desmarcações de apoio; número de passes acima dos 7; o tempo
de realização do ataque é elevado (superior a 18’’); o ritmo de
jogo é lento relativamente aos dois métodos anteriores (menor
velocidade de circulação da bola e dos jogadores).
Um Ataque Posicional só pode ser realizado havendo variabilidade de
acções e ritmos de intervenção, domínio da bola e a colaboração com os
colegas de equipa (Antón, 2003). Através da análise da táctica grupal das
equipas participantes no Mundial de futebol de 2006 na Alemanha (Bueno,
2006) veio a constatar-se que estilos de ataque posicionais mais elaborados
41
também são eficazes para combater os ‘sistemas defensivos’ das melhores
selecções do campeonato.
O FC Barcelona de Guardiola veio dar força a esta constatação, pois a
partir do seu jogo percebeu-se que a posse/circulação da bola com critério
também pode ser um meio importante para conseguir entrar nos espaços
criados.
No contexto actual, parece que muitas equipas se sentem mais
confortáveis sem a bola, procurando esperar pelos erros dos adversários. O
mesmo estudo (Bueno, 2006) chegou à conclusão que estilos de jogo
baseados no contra-ataque e ataques rápidos, que tanto êxito tiveram em
edições anteriores dos Mundiais, não tiveram tanta importância como seria
esperado.
42
2.5 Princípios/indicadores tácticos específicos de qualidade no
Processo Ofensivo
Os princípios específicos do jogo colectivo ajudam a precisar mais
detalhadamente os comportamentos do jogador e a melhorar a organização
racional da equipa.
Durante o Processo Ofensivo é necessário o desenvolvimento de
determinadas acções que permitam a concretização dos princípios gerais do
ataque.
A finalidade de qualquer acção ofensiva é provocar efeito surpresa, no
sentido de criar e explorar o desequilíbrio induzido no dispositivo adversário.
2.5.1 Qualidade na recepção e no passe
Garganta (1997) observou que o tipo de passe e de ritmo de jogo estão
associados à eficácia ofensiva das equipas de futebol.
O Futebol é, na sua essência, um ‘jogo de passes’ e nesse sentido, um
ponto imperial para que o jogo seja fluído e tenha alguma continuidade é a
qualidade na recepção-passe. Neste sentido, a segurança no passe implica
que o jogador que passa eleja adequadamente e o jogador que recebe se
desmarque oportunamente (Antón, 2003).
Cruyff (2009) relata que quando se realiza um passe é importante não
colocar em problemas o colega a quem este pretende endereçar a bola. Há, na
realidade, jogadores que se destacam pela qualidade técnico-táctica no
controlo e passe. Guardiola destaca a velocidade de execução do primeiro
controlo (recepção) de Iniesta pelo facto de permitir dar continuidade ao jogo.
A missão do Treinador é reforçar a consecução de hábitos, de
conteúdos, de condutas, através da tomada de decisões no Processo Ofensivo
“Há muitas maneiras de jogar futebol, mas quando escolhes um estilo, uma ideia, em que se tenta unir a beleza do jogo com a vitória, sempre que ela acontece, sentes mais prazer, desfrutas e sentes mais felicidade que os demais” Johan Cruyff
43
e Defensivo e ainda nos momentos de Transição, em função das
circunstâncias que se apresentam.
Segundo Garganta (1997), o desenvolvimento do comportamento dos
jogadores num jogo decorre da relação entre a permanência de invariantes, da
manifestação de regularidades e da produção de novidade.
No decorrer dum jogo, o observador não consegue aferir sobre o
processo interno de tomada de decisão, mas pode tentar perceber o nível de
adequação à situação e contexto. Expõe que o processo de interpretação e
reflexão sobre o jogo decorre em primeira análise da natureza dos modelos
(representações) do observador.
Cruyff (2002) subiu várias vezes de escalão etário porque os seus
Treinadores acharam conveniente que houvesse um incremento de
dificuldade/complexidade na sua formação, o que o obrigou a desenvolver o
raciocínio táctico, no sentido que conseguisse ver o campo mais rápido e
passasse a bola mais cedo, tomando decisões mais eficazes.
2.5.2 Posicionamento diagonal para passes com segurança
Um outro indicador que permite assegurar a qualidade é a realização
dos passes em trajectórias diagonais. Os jogadores sem bola devem
posicionar-se como receptores em diagonal e entrelinhas em relação ao
jogador que tem a bola, já que assim possibilitam que os passes se façam de
forma a ir eliminando zonas de configuração espacial adversária ou pelo menos
de alguns jogadores (Silva, 2004). Na opinião de Guardiola (2009), quando
uma equipa está em fase defensiva é muito mais difícil controlar uma bola em
diagonal.
Para que haja uma visão mais ampla do terreno de jogo, o jogador deve
ainda tentar receber a bola com a posição do corpo de “perfil” em relação ao
portador da bola.
44
2.5.3 Construir triângulos e losangos posicionais para criar linhas
de passe
A exacerbação do posicional e a ocupação racional do espaço da parte
dos jogadores são também factores muito importantes. Na perspectiva de
Antón (2003), cada jogador deve ocupar espaços que permitam assegurar
apoios em largura e profundidade, independentemente do dispositivo táctico
elegido.
Em cada momento de jogo, o jogador com bola deve dispor de
jogadores que o apoiem na sua acção, sempre que seja possível, pela frente,
por trás e em ambos os lados. A ajuda da parte dos jogadores que não
possuem a bola manifesta-se através de apoios, de desmarcações, de criação
de espaços, do ‘fixar’ e arrastamento de defesas para ampliar o espaço.
A tentativa de construir triângulos e losangos, a um nível sectorial ou
inter-sectorial, proporciona uma ocupação racional do espaço e um equilíbrio
na ocupação de todos os sectores do campo.
Segundo a opinião de Antonio Cortés Inês (2009), esta disposição
permite ter o controlo do jogo a partir da posse de bola.
A existência de jogadores de linhas atrasadas (jogador-janela), em
posição de passe de segurança funciona no sentido de ‘descongestionar’ o
jogo.
2.5.4 Criação e aproveitamento de espaços livres
A criação e exploração dos espaços livres são procedimentos tácticos
essenciais para a persecução dos objectivos do ataque.
Os movimentos sem bola, acompanhados pela criação de zonas de
incerteza, provocam intencionalmente a libertação dum espaço de jogo e
consequente desorganização na estrutura defensiva do adversário, para depois
a bola entrar num jogador que ocupa esse espaço, permitindo progredir na
direcção da baliza adversária (Pereira, 2006).
45
2.5.5 Circulação da bola (em velocidade;) e jogo em ‘campo
grande’
Uma equipa, quando ataca, deve procurar ‘clarear’ o jogo, deve procurar
fazer ‘campo grande’, ocupando corredores, dando profundidade e largura ao
jogo (Frade, 2002 citado por Amieiro, 2004).
A circulação da bola só será possível através da mobilidade dos
jogadores, com bom jogo posicional e jogando em ‘campo grande’ (com os
jogadores afastados em largura e profundidade6).
Cruyff (2009) lembra a importância de circular a bola rápido para que o
adversário chegue atrasado na pressão.
No F.C. Barcelona encontra-se o melhor exemplo disto mesmo. Esta
equipa realça a necessidade de impor um ritmo alto na circulação da bola para
se conseguir esse meio metro de vantagem que nunca se conseguirá ganhar
se não se fizer circular a bola velozmente. Se o passe é feito com uma bola
tensa e com velocidade, quem recebe sente essa energia e tenta igualmente
colocar ritmo ao jogo.
2.5.6 Variabilidade nas respostas dos jogadores e na utilização dos
espaços de jogo
Garganta (1997) considera a estruturação do espaço de jogo uma
componente fundamental no processo de construção de uma equipa desde o
nível individual, manifestada na compreensão e ocupação de espaços mais
interessantes por parte do atleta a cada situação-problema que o jogo
apresenta e na gestão colectiva do espaço de jogo, onde a equipa se estrutura
em campo com o intuito de obter vantagem espacial e numérica pelo maior
tempo possível nas mais variadas zonas do campo.
Este autor estudou a Organização Ofensiva de equipas profissionais de
Futebol e observou que a variabilidade das acções ofensivas está directamente
relacionada com a eficácia das mesmas nos jogos.
46
Cruyff (2002) menciona que o imprevisível se produz quando se muda
de ângulo, com diagonais ou passes em profundidade, procurando a
verticalidade, com mudanças de um lado ao outro.
A variabilidade e alternância de respostas permite evitar a
adaptação/antecipação dos adversários e a mecanização do jogo de ataque
porque normalmente as forças defensivas concentram-se na zona onde está a
bola (Antón, 2003). O mesmo autor diz ainda que a equipa que ataca deve
mudar frequentemente de espaços, movendo com rapidez o jogo desde um
extremo ao outro, pois com isso facilitará a penetração de jogadores,
aproveitando o facto da defesa ter menor densidade e obrigar os defesas a
realizar um maior desgaste físico e psíquico ao aumentar os seus
deslocamentos.
2.5.7 Variação do ritmo de jogo
A variação do ritmo de jogo parece tratar-se um dos aspectos ao qual os
Treinadores atribuem mais relevância na actualidade.
Para que o adversário seja verdadeiramente colocado à prova, a equipa
deve aprender a controlar o ritmo do seu jogo, evitando risco exagerado que
leve à perda de bola.
Em alguns períodos do jogo, o essencial é acelerar e dar ritmo ao jogo,
mas noutros o mais importante é baixar. Por vezes, a melhor forma de construir
um estilo de jogo é jogar com o tempo e até travar. Por exemplo, é óbvio que
seria muito difícil a uma equipa manter um ritmo de jogo com muitos contra-
ataques ou ataques rápidos. Algumas equipas que se encontram em vantagem
no marcador optam por baixar o ritmo de jogo e fazer ‘posse pela posse’.
Segundo Cruyff (2009), o ritmo de circulação da bola só aumenta com
jogo a um ou dois toques. Defende que se deve começar a construir desde
trás, dizendo que se o jogo for rápido, o adversário não tem tempo para se
organizar. O próprio refere que se pode tentar aproveitar esta desorganização
pela via directa, isto é, através do passe longo, mas se o jogo for contra
47
equipas com os dez jogadores atrás da bola, a via para conseguir os espaços é
outra.
É importante identificar estes indicadores apresentados, a partir de
análises qualitativas e quantitativas dos comportamentos dos jogadores em
situação de jogo. Esta análise da Táctica4 pressupõe o estudo das interacções
e das intenções.
A informação recolhida, uma vez sistematizada, permite racionalizar os
designados padrões de jogo e por extensão os modelos de jogo, que no
contexto do Futebol constituem importantes utensílios, na medida em que
funcionam como referenciais para concretização dos objectivos e para
avaliação e elaboração das situações de ensino e treino do jogo. Assim
permitem não só articular e organizar o conhecimento, mas também verificar e
corrigir a acção (Garganta, 1997).
4 Táctica é entendida como um conjunto de Princípios ou padrões de comportamento representativos dos diferentes momentos / fases do jogo, que se articulam entre si, conferindo à equipa uma identidade própria.
48
2.6 A Organização Ofensiva do sector intermédio: Losango
geometria na parte (sector) que está no todo (estrutura)
A evolução do jogo, ao longo dos tempos, pode ser resumida em torno
de três grandes fases:
I. O ataque como elemento dominante;
II. A defesa é o elemento dominante;
III. O reforço do meio-campo é o elemento dominante dos sistemas
de jogo modernos. A disposição geométrica dos jogadores pode
ser caracterizada por um losango (Garganta & Gréhaigne,
1999).
É uma evidência do futebol actual a proeminência que é atribuída ao
meio-campo. Todos os Treinadores pretendem reforçar esta zona do campo
porque entendem que é aí que se decidem os jogos.
No entanto, uma equipa de Futebol deve ser encarada como um ‘todo’
unificado deve entender-se à luz da complexa trama de relações das diversas
partes que o compõem, partes que não podem ser entendidas isoladas e que
devem ser definidas através das suas inter-relações, as quais se expressam
em termos probabilísticos e são determinadas pela dinâmica de todo o sistema”
(Kapra, 1998 cit. por Kolar, 2005). É imprescindível que se estude estas
relações, na tentativa de identificar sub-sistemas que, relacionados entre si,
operem a optimização de todo o sistema (Garganta, 1997).
"O meio do campo parece-se com as pequenas cidades: todomundo sabe e ninguém se atreve a contestar a coisa certa" “Estando a casa em ordem todos se sentem livres para mover-se” “A velocidade técnica vai do individual ao colectivo. Se controlo a bola apenas com um toque sou rápido, se passo com um toque, faço com que a minha equipa seja rápida” Jorge Valdano “O pivô deve ser muito mais um farol do que um pirilampo” Vítor Frade
49
As propriedades características reais de todo o sistema (estrutura) são
produzidas pela especificidade das interacções entre as partes do mesmo
(sectores), ou seja, são propriedades do conjunto, que nenhuma das partes
tem por si só (Capra, 1998).
É nesta perspectiva de abordagem sistémica que deve ser realizada a
análise das dinâmicas em losango no sector intermédio, ou seja, percebendo
sempre a sua interligação e comunicação com os outros sectores da equipa.
Óscar Cano (2009) explorando o estilo do FC Barcelona refere que
prolongar a posse, demorar na progressão, até haver condições favoráveis
para a efectuar, dar tempo para que a equipa se aproxime, está presente na
conduta dos jogadores do Barcelona e cada passe, a forma como os jogadores
se relacionam, leva consigo o processo completo. Cada intervenção dum
jogador leva implícita a acção posterior para quem recebe a bola. Seidou Keita
expunha que Iniesta levava o jogo do FC Barcelona nas veias (Luís Martin,
2009).
Portanto, podemos concluir que “a articulação de diferentes partes
organiza o todo, que ‘retroactua’ sobre as diversas partes para lhe conferir
qualidades que antes não possuía” e que se trata dum “processo
autoregulador, onde efeito e causa têm uma relação circular e em nenhum
caso linear” (Óscar Cano, 2009).
Será importante aprofundar a
figura geométrica – losango. Ao fazer
uma pesquisa na Diciopédia foi
encontrada a seguinte definição:
“Losango é um quadrilátero cujos lados
são de igual comprimento. Traçando-se
suas diagonais é possível dividi-lo em
quatro triângulos rectângulos simétricos.
Através destes triângulos é possível perceber que a área do losango é metade
da área de um rectângulo cujos lados possuem o mesmo tamanho das
diagonais do losango”. No entanto, devemos pensar que um losango
organizado deve ser mais do que a soma dos triângulos.
Guardiola (2008) defende um Futebol sempre muito geométrico e como
consequência apoiado e portanto para que os atacantes criem ocasiões de
Fig. 1 Losango
50
golo, os médios têm que lhes passar a bola e estes têm que a receber dos
defesas.
Esta interacção está relacionada com a definição de ‘sistema’, segundo
a qual a acção de um jogador influencia a dinâmica do sistema e portanto, nas
intenções e decisões dos demais. Tratando-se de um fenómeno colectivo, a
acção é colectiva pelo que provoca nos outros e nas suas relações (Kaufmann
& Quéré, 2001). Vítor Frade (1990) corrobora desta ideia, afirmando que o
Futebol é um jogo de dinâmicas cuja invariante estrutural é a interacção.
Portanto, quando analisamos um duelo ao nível estrutural, entre um
losango e um triângulo, não podemos atribuir vantagem a nenhum deles
simplesmente pelo facto de, à primeira vista, haver superioridade numérica do
primeiro. Realmente, o losango tem mais um lado em comparação ao triângulo,
mas nenhum dos dois vive sozinho em campo e ambos têm a ajuda, para
ganhar largura no terreno dos jogadores dos outros sectores, (Lobo, 2007).
O domínio da zona de criação de uma equipa deve medir-se a partir da
análise de golos obtidos, das ocasiões criadas, da profundidade, do jogo
penetrante e das intervenções frequentes do guarda-redes adversário (Cortés
Ines, 2009).
No FC Barcelona de Guardiola (2009), o papel que os médios
desempenham é decisivo, tal como menciona o próprio Treinador: “Xavi e
Iniesta são vitais porque no nosso sistema (modelo), a bola tem sempre de
passar pelos médios para que tudo tenha sentido e se organize6”.
Na perspectiva de Garganta & Gréhaigne (1999), no Futebol moderno
mantém-se a denominação dos jogadores segundo o seu posicionamento no
terreno de jogo (defesa, médios, atacante), mas dadas as exigências actuais, a
actividade dos jogadores, ao longo do jogo, transcende largamente o limite
imposto por esta denominação. Garganta (1997) refere que o Futebol actual
exige, cada vez mais, que o jogador seja capaz de cumprir todas as funções,
para além do espaço que predominantemente ocupa no terreno de jogo. É
notório que cada vez mais se esbatem as fronteiras entre os papéis de
defensor, médio e avançado (Garganta & Gréhaigne, 1999).
Guardiola é adepto da utilização duma estrutura de 1-3-4-3 nas partes
finais dos jogos, aparecendo quatro jogadores no meio-campo dispostos em
losango. O médio-centro era um jogador da linha defensiva que subia até ao
51
sector intermédio para construir um losango. É evidente que, conhecer o
dispositivo táctico não implica conhecer o modo como ele funciona (Gréhaigne,
1989). Até porque há sempre o objectivo da organização de uma equipa
reflectir o desejo de desorganizar da outra.
Aguado Gil (2006) considera que esta organização estrutural permite
uma boa ocupação do terreno de jogo, proporcionando um Futebol com
iniciativa, de ataque constante. Esta estrutura possibilita a ocorrência de mais
triangulações, conseguindo com facilidade superioridades numéricas, tanto
defensivas como ofensivas.
Como o próprio autor refere, nem todos os Treinadores utilizam a forma
losango no centro do campo, optando por organizar os quatro médios em linha.
No entanto, com os jogadores organizados desta forma eliminam-se
possibilidades de passe e há quase uma obrigação de jogar na horizontal.
Como já foi enunciado anteriormente, o centro do campo é uma zona
vital, que requer jogadores com recursos técnicos e tácticos, que joguem com
poucos toques e que ofereçam muita velocidade ao jogo durante as acções de
passe. É uma zona onde a bola deve sair muito rápido dos pés dos
futebolistas, procurando a simplicidade e facilitando a construção de jogo
ofensivo da equipa” (Cortés Ines, 2009).
No centro do campo forma-se portanto um losango: um médio-centro no
vértice mais recuado do losango, dois médios interiores e um médio-centro no
vértice mais adiantado do losango. Num modelo de jogo com ênfase no
Processo Ofensivo, atribuem-se normalmente algumas características
ofensivas a cada uma destas posições do sector intermédio.
A posição de médio-centro marca normalmente a identidade duma
equipa. É o centro neurológico da coluna vertebral da equipa, tratando-se dum
jogador chave na fase de início e construção de jogo. Deverá distribuir o jogo e
estar situado por trás da linha da bola, revelando-se como a referência para os
jogadores de outras linhas, concedendo apoios de ‘perfil’, fundamentais para a
criação de espaços aos seus companheiros. Terá de ser possuidor duma
grande capacidade de passe em todas as suas formas (Aguado Gil, 2006).
Quando baixa em apoio e pressionado pelas costas, enquanto comprova
a intenção do seu companheiro de não efectuar passe, pode realizar
52
movimentos de arraste para uma zona que permita a intervenção de outro
companheiro ou o apoio próprio por trás da bola (Etxarri e Zamora, 2003).
Cortés (2009) revela ainda que um médio-centro do FC Barcelona é
dominador do espaço aéreo, sendo importante na organização dos lances de
estratégia. Sublinha a necessidade deste jogar fácil, com poucos toques e sem
riscos, evitando sobretudo perdas de bola em zonas de construção.
Cruyff (2008) revela que Sérgio Busquets (médio-centro do FC
Barcelona) torna fácil o difícil: ajuda na saída a um e dois toques.
Os médios interiores devem possuir um grande sentido táctico,
mantendo-se na sua linha posicional (Aguado Gil, 2006).
Constituem-se normalmente como jogadores dinâmicos e de excelente
qualidade técnica, com grande capacidade para jogar por dentro e entrelinhas,
realizando rotações e trocas de posição. Pela sua qualidade táctico-técnica
tentam atacar os espaços entre o lateral e central da linha defensiva
adversária, mediante penetrações de ruptura ou em condução pelos
corredores, mostrando habilidade na resolução de situações de ‘um contra um’
e capacidade de oferecer cruzamentos precisos. O alto coeficiente de golos
dos avançados resulta, em grande parte, da excelente visão de jogo destes
jogadores na realização do último passe (Cortés Ines, 2009).
A participação dos médios interiores em jogo possibilita apoios ao
avançado que vai ao corredor lateral ou ao médio mais adiantado (Etxarri e
Zamora, 2003).
Na posição mais avançada do losango está outro médio-centro que
pode ser um jogador mais ou menos posicional. Deve manter o equilíbrio entre
a linha anterior (pivô e médios interiores) e a posterior (avançados). Será
importante que tenha bom toque de bola porque a zona de jogo exige grande
nível técnico e terá que ter, não só a capacidade de realização do último passe
(Etxarri e Zamora, 2003), como também aparecer a finalizar as jogadas.
Deve ser capaz de aparecer em zonas de remate desde posições
atrasadas devido à sua situação espacial (Aguado Gil, 2006).
53
A equipa do F.C. Barcelona joga à partida com um meio-campo
organizado em triângulo, mas pode transfigurar-se e formar rapidamente um
losango com o aparecimento
do Messi ou outro jogador no
corredor central, como é
possível observar na figura
2. Tenta-se formar um
losango no centro do
terreno, com um dos três
avançados a descer ao
meio-campo para completar
o vértice mais adiantado. Os
outros dois avançados
permanecem bem abertos
nos corredores laterais. O princípio é utilizar esse baixar de posição dum
avançado para tentar abrir espaços na linha defensiva, desposicionando-a e
permitir que os jogadores que se encontram nos corredores laterais recebam a
bola em situação privilegiada. Neste sentido, cria-se superioridade no meio-
campo, ganhando vantagem numérica, espacial e temporal, desde que se
circule a bola com velocidade.
Prieto Castro (2009) resume bem os princípios relacionados com o
meio-campo do FC Barcelona referindo que na zona de elaboração, a
qualidade técnica e a capacidade táctica dos médios alcançam um grau de
efectividade e preciosismo. As rotações que acontecem entre os jogadores do
meio-campo são contínuas para oferecer linhas de passe, tanto aos anteriores
como aos posteriores. A equipa joga com critério, velocidade e sem riscos
desnecessários, sendo capaz de progredir tanto por fora (amplitude), como por
dentro (profundidade) para chegar ao último terço do campo.
Neste sentido, os jogadores que jogam no centro do campo devem
garantir à equipa os seguintes aspectos:
1. Recursos técnicos e tácticos para jogar e organizar o jogo da equipa.
2. Chegar a zonas de finalização.
3. Golos.
4. Jogo entrelinhas.
Fig. 2 Formação dum LOSANGO no meio-campo da equipa do FC Barcelona.
54
5. Mudar a orientação do jogo (variação de corredores de jogo).
6. Profundidade e último passe.
7. Consistência e recuperação da bola.
8. Pressão colectiva na fase defensiva do jogo.” (Cortés Ines, 2009).
55
56
57
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 O Recurso à Metodologia observacional e proposta
conceptual
O Estudo do jogo a partir da observação do comportamento dos
jogadores e das equipas tem vindo a constituir um forte argumento para a
organização e avaliação dos processos de ensino e treino nos jogos
desportivos colectivos (Franks & Goodman, 1986; Gréhaigne, 1989;
Grosgeorge, 1990; Dufour, 1989, 1993; Latishkevitch & Dudin, 1992; Oliveira,
1993; Garganta, 1996; Hughes, 1996, citados por Garganta, 1997).
Face ao crescente interesse pelo estudo e análise dos JDC, a valência
análise do jogo (AJ) tem vindo a constituir um argumento de crescente
importância (Garganta, 1997).
No desporto actual, especialmente no alto rendimento, cada vez mais os
treinadores recorrem à estatística com o intuito de tentarem potenciar e/ou
rentabilizar a performance das suas equipas. O objectivo dos técnicos passa
por fazerem uma análise estatística para poderem recolher o máximo de dados
dos jogos que permitam dar informações pertinentes de forma objectiva e
quantificável. Nesta análise estatística, fruto da observação recolhida verifica-
se, por exemplo, o número de faltas, posições, remates, durações das jogadas,
acções técnicas, etc. Conclui-se portanto que a regulação da prestação
competitiva é fundamental como se pode comprovar na figura seguinte.
ANÁLISE DO JOGO: • Observação • Notação • Interpretação
PERFORMANCE
PLANIFICAÇÃO
TREINO
Fig. 3 Interacção do processo de análise do jogo com o treino e a performance (Redesenhado de Garganta, 1997)
58
No entanto, a busca de meios de análise que melhorem o conhecimento
dos JDC é uma das questões mais complexas que se observa na literatura
específica (Silva; Bañuelos; Garganta; Anguera; 2004).
A multiplicidade de factores que influenciam este tipo de desportos torna
complexa a observação dos jogadores, na medida em que estes estão em
constante movimento.
Os estudos iniciais nos JDC foram relacionados com aspectos
fisiológicos, técnicos e técnico-tácticos, mas o reconhecimento da importância
da dimensão Táctica na prestação dos jogadores e das equipas foi decisivo
para uma abordagem mais adequada (Prudente, 2006, citado por Prudente,
2009).
Um jogo de Futebol é um fenómeno extremamente complexo e
necessita obrigatoriamente de ferramentas fiáveis e rigorosas de
observação/avaliação das diversas componentes. Segundo Anguera (2001), a
utilização da observação na avaliação implica a manutenção de um equilíbrio
entre a percepção (habitualmente substituída por um meio técnico com o
objectivo de obter uma maior precisão), a interpretação (que implica completar
de conteúdo as imagens ou sons percebidos), e o conhecimento prévio ou
contextualização (que possibilita interpretar adequadamente o percebido em
função do marco teórico que se sustenta, e de critérios contextuais, como
físico, de conduta, social e organizativo ou institucional)”.
Garganta (1997) afirmou que a observação do jogo e análise do jogo
referem-se a diferentes fases de um mesmo processo, isto significa, que
quando se pretende analisar o conteúdo de um jogo é preciso observá-lo, para
notar ou registar as informações consideradas mais importantes.
Procura-se analisar o jogo (competição) através da observação, notação
e interpretação dos factos, promovendo uma avaliação dos comportamentos
dos jogadores e das equipas para depois ajustar/adaptar os processos de
treino, numa perspectiva de optimização (incremento de qualidade). Esta
análise decorre do interesse dos investigadores e treinadores em perceber o
tipo de acções que se associam à eficácia das equipas: uns, com o intuito de
aumentar os conhecimentos acerca do conteúdo do jogo e da sua lógica;
outros, com o objectivo de modelar as situações de treino na procura da
59
eficácia competitiva (Garganta, 1997). Este autor diz igualmente que a
construção do treino deverá, em larga medida, decorrer da informação retirada
do jogo (estrutura do movimento, estrutura da carga, natureza das tarefas,
zonas de intervenção predominantes, funções prevalentes, modelo e
concepção de jogo, 6etc).
Nos últimos anos, os estudos mediante a utilização da Metodologia
Observacional sofreram um incremento significativo. A utilização desta
Metodologia como método, com recurso às técnicas de Análise Sequencial
com transições e de Coordenadas Polares, oferecem novas possibilidades na
observação e análise dos comportamentos dos jogadores e das equipas
(Prudente, 2009). Deste modo, é possível a captação de informação relativa às
condutas ocorridas que permitem uma análise das regularidades, bem como,
perceber como induzem ou inibem outras condutas, com base numa leitura
probabilística da ocorrência dos eventos.
A Metodologia Observacional, pelas suas características, constitui um
exemplo vivo da complementaridade entre o qualitativo e quantitativo (Anguera,
2004) e portanto a sua utilização garante a qualidade do registo, da análise dos
dados e a investigação de padrões de conduta.
Constitui-se como uma das opções de estudo científico do
comportamento humano que reúne características especiais no seu perfil
básico (Anguera; Villaseñor; Losada; Mendo, 2000): a espontaneidade do
comportamento, que implica a ausência da preparação da situação em análise;
que este tenha lugar em contextos naturais, estando garantida a ausência de
alterações de forma intromissiva e sem interferência da metodologia
seleccionada e sabendo que: a) a conduta é extremamente sensível às
condições iniciais, b) a conduta e o contexto implicam diversas interacções de
variáveis, c) a conduta, analisada em blocos amplos, tende a presentear ciclos
ou tendências repetitivas; que se trate de um estudo prioritariamente
ideográfico; a elaboração de instrumentos ad hoc que passa por construir
sistemas de categorias adaptados e, por último, que se garanta uma
continuidade temporal que ofereça a base na qual actuará o nível inter-
sesssional da amostra observacional.
Caracteriza-se como as duas faces da mesma moeda, ou seja, por um
enorme rigor e uma grande flexibilidade (6) e quer-se que não se ajustem
60
unicamente aos mínimos requeridos mas que abram portas a novos estudos
(Anguera; Villaseñor; Losada; Mendo, 2000).
Sendo assim, podemos dizer que o objecto de estudo do nosso trabalho
será uma unidade de observação (equipa), inserido em qualquer dos seus
âmbitos de actuação habitual (campo de Futebol), do qual iremos tentar captar
a riqueza dos seus comportamentos no desempenho das suas
responsabilidades ao nível do Processo Ofensivo, mediante um instrumento ad
hoc.
É importante que este instrumento de observação permita a canalização
das relações interactivas desejadas e consideradas relevantes para o estudo
em causa. Será apresentada uma proposta conceptual para um mapeamento
dinâmico do jogo de futebol (fig. 4).
Como foi supracitado, pretende-se analisar o Processo Ofensivo e sabe-
se que para que o ataque seja mais eficaz, havendo um maior número de
situações de finalização é importante, quer para a investigação quer para o
treinador, conhecer não apenas o ponto culminante (o golo), como também
todo o processo que lhe deu origem (Luhtanen, 1993; Basto & Garganta, 1996).
Este processo tem como objectivos, a progressão e finalização, e a
manutenção da posse da bola; englobando três fases que são a da construção
Final da posse de bola Início da posse de bola
Desenvolvimento da posse de bola
Transição def-ataq
Transição ataq-def
Desenvolvimento da não posse de bola
Final da posse de bola Início da posse de bola
Fig. 4 Proposta de Modelo de organização da dinâmica do jogo de futebol.
61
das acções ofensivas, criação de situações de finalização e a finalização;
respeitando os princípios gerais de não permitir a inferioridade numérica, evitar
a igualdade numérica e provocar a superioridade numérica; tendo como
princípios específicos a penetração, a cobertura ofensiva, a mobilidade e o
espaço; utilizando os seguinte factores: técnicas individuais (técnicas de
remate, passe, condução, recepção, controlo e domínio, drible, finta e
simulação, desmarcação, lançamento de linha lateral e princípios ofensivos),
acções colectivas elementares (desmarcações, combinações, Princípios
Ofensivos, permutas, compensações e desdobramentos e esquemas tácticos)
e acções colectivas complexas (tarefas e funções, esquemas tácticos,
circulações tácticas, sistemas tácticos, Métodos de Jogo Ofensivo) (Queiroz,
1983).
Formas de organização de base como o contra-ataque e o ataque rápido
são caracterizadas pela rápida transição da zona de recuperação da posse da
bola para as zonas de finalização, criando assim, continuamente condições de
instabilidade do processo defensivo adversário (Castelo, 1996; Garganta,
1997).
Enquanto que o Ataque Posicional “é uma forma de ataque em que a
fase de construção se revela mais demorada e elaborada e na qual a transição
defesa-ataque se processa com predominância dos passes curtos,
desmarcações de apoio e coberturas ofensivas” (Garganta, 1997:214).
Neste contexto, uma equipa inicia o Processo Ofensivo quando há uma
recuperação da posse de bola, de forma directa (pressupõe a manutenção da
fase dinâmica do jogo) ou indirecta (pressupõe a recuperação da posse de bola
através da fase estática do jogo).
A posse de bola começa quando um jogador dessa mesma equipa
mantém, de forma controlada, em termos táctico-técnicos, a posse da mesma e
está em disposição de dar continuidade ou finalizar o processo ofensivo
(Suárez, 1998). Logo, qualquer uma das intervenções dum jogador neste
contexto será considerado uma acção ofensiva e como consequência fará
parte do processo ofensivo.
O Desenvolvimento do Processo Ofensivo desenrola-se quando um
jogador e companheiros da mesma equipa (colectivo) realizam um conjunto de
62
intervenções motoras que permitam manter a posse de bola, estando em
disposição de dar continuidade ao Processo Ofensivo.
O Final do Processo Ofensivo ocorre quando se concretiza umas
situações definidas no Critério de Formato de Campo 3 (ver mais à frente),
quer tenha uma finalização eficaz ou não.
63
3.2 Desenho Observacional e Instrumento de Observação
Ao utilizarmos a análise sequencial procura-se identificar a probabilidade
de transição entre condutas que ocorrem para além do determinado pela sorte
ou acaso (Sacket, 1979, citado por Silva, 2003), sem implicar uma relação
linear entre os dois eventos que se sucedem no tempo.
Um jogo de futebol confere uma extraordinária diversidade de situações
susceptíveis de serem sistematicamente observadas, obrigando por isso à
elaboração de instrumentos de observação “ad hoc” adaptados à realidade que
pretendemos estudar, em detrimento dos instrumentos standard (Anguera et al,
2000).
A sua elaboração é a primeira de quatro grandes fases a seguir na
metodologia observacional. Tratando-se duma Metodologia Observacional
implica uma estruturação em quatro fases (Anguera; Villaseñor; Losada;
Mendo, 2000):
I. Correcta delimitação da(s) conduta(s) e situação de observação
– delimitar cuidadosamente a actividade (futebol), os
comportamentos a estudar (condutas comportamentais
ofensivas6), os indivíduos/unidades a serem estudados (6
quatro médios em losango) e o contexto situacional (em posse
de bola) determinam em grande medida o êxito do estudo e
facilitam a tomada de decisões.
II. Recolha e optimização de dados – o fluxo de conduta em
qualquer situação de observação é muito mais rico do que
parece inicialmente, porque, uma vez delimitado o objectivo,
será preciso proceder à codificação das condutas que
interessam, fixar quais são as unidades de conduta e construir
um instrumento ad hoc.
III. Análise e tratamento dos dados – elaborar um desenho em
função do estudo que interessa e analisar os dados.
IV. Interpretação dos resultados – os resultados devem ser
interpretados à luz do problema e serão o ponto de partida para
iniciar uma intervenção ou adoptar uma série de decisões.
64
Ao construirmos um instrumento próprio poderemos analisar o problema,
face aos aspectos metodológicos e objectivos definidos. Proceder-se-á à
combinação do ‘formato de campo’ e ‘sistema de categorias’ e esta ferramenta
mista de observação reúne todos os requisitos metodológicos exigíveis.
A elaboração de um instrumento deste tipo é importante por envolver a
construção de um sistema de categorias que permite um duplo ajuste:
responde em simultâneo a um marco teórico e à especificidade do estudo
(Anguera, 1991; cit. Mendo e al, 2000).
O sistema de categorias (SC) necessita dum suporte teórico prévio e
devidamente sustentado, caracterizando-se por ser um sistema fechado, de
codificação única e não auto-regulável. As categorias têm que definir-se de
forma que se contemplem todas as suas nuances, assim como acompanhar-se
de exemplos e contra-exemplos para que a sua especificação seja maior
(Anguera; Villaseñor; Losada Lopez; Mendo, 2000).
Por outro lado, o formato de campo (FC) constitui um instrumento mais
flexível especialmente adequado a situações empíricas de elevada
complexidade como as que ocorrem num jogo de futebol, tratando-se portanto
dum sistema aberto e auto-regulável.
Será importante seguir os seguintes passos:
1. Estabelecimento de critérios em função dos objectivos do estudo.
2. Elaboração duma lista de condutas correspondentes a cada um dos
critérios.
3. Selecção de códigos para cada uma das condutas e situações que
surgem de cada critério.
4. Elaboração da lista de configurações, indispensável para um registo
exaustivo do fluxo das condutas e análise dos dados.
A correcta delimitação da(s) conduta(s) e da situação de observação
determinam em grande medida o êxito do estudo e facilitam a tomada de
decisões (Anguera et al, 2000).
Neste sentido, o propósito deste estudo será particularizar (‘reduzir sem
empobrecer’) e analisar a organização ofensiva no sector de meio-campo,
numa dimensão geométrica de losango, aplicando um instrumento “ad hoc” que
permita estimar padrões sequenciais de conduta dos jogadores que aí actuam,
com a intenção de modelar a eficácia da equipa.
65
O desenho de um estudo deve ser entendida como uma estratégia que o
permite desenvolver, estruturando-o de acordo com os objectivos a que se
propõe (Anguera, 1992, citado por Laranjeiro, 2009).
Na última década, a Metodologia Observacional tem desenvolvido uma
proposta que se fundamenta no cruzamento de três dimensões propostas por
Losada (1997). Esta proposta parece cruzar a dicotomia ideográfica (unidade) /
nomotético (pluralidade de unidades); registo pontual / seguimento e
unidimensional / multidimensional, dando origem a um conjunto de desenhos
observacionais resultantes das combinações entre critérios.
A partir da observação da figura 5 pode verificar-se que o eixo vertical se
refere às unidades de observação, o eixo horizontal corresponde à
temporalidade da análise e que os círculos correspondem à dimensionalidade
do estudo.
O desenho observacional adequado ao nosso estudo é:
• Na dimensão temporal – de seguimento/sequencial porque os
dados são registados de forma contínua no tempo;
Quadrante II Sem Desenho
Quadrante I Desenhos
Diacrónicos
Quadrante IV
Desenhos Lag - Log
Quadrante III Desenhos Sincrónicos
Ideográfico
Nomotético
Unidimensional
Multidimensional
Pontual
Seguimento
Fig. 5 Desenhos Observacionais em quadrantes definidos (Adaptado Anguera in Barreira, 2006:72)
66
• Na dimensão sujeito – nomotético porque se registam os
comportamentos dos jogadores/equipa em interacção contínua
com o adversário;
• Na dimensão conductural – multidimensional (observação
sequencial heterocontingente porque é constituída por diferentes
condutas representadas em sistemas de categoria).
Para a realização do nosso estudo optamos por construir um
instrumento de observação “ad hoc”, que resulta da combinação de
características do sistema de categorias (SC) e do formato de campo (FC).
O presente estudo baseia-se nos trabalhos de Anguera (1999),
Hernandez Mendo e tal (2000), Castellano Paulis (2000), António Silva (2004),
Daniel Barreira (2006) e José Laranjeira (2009).
Procedemos inicialmente à fixação das dimensões ou critérios
vertebradores (segundo os formatos de campo) e, para cada um destes,
construímos um sistema de categorias, para posterior registo dos dados a partir
de configurações dispostas diacronicamente.
O instrumento de observação foi organizado em categorias exaustivas e
mutuamente exclusivas (E/ME) – critérios 5 e 6 – e de carácter aberto –
critérios de 1 a 4. Tal implicou que qualquer comportamento que se
encontrasse dentro do âmbito considerado como objecto de estudo pudesse
ser sempre registado em uma das categorias (exaustividade), e cada
comportamento dos anteriormente referidos apenas pudesse ser assinalado
em uma, e só uma, das categorias (mútua exclusividade).
Foram então definidos seis (6) critérios que delimitam a observação das
condutas em cada sequência ofensiva:
• Critério 1 – Início do Processo Ofensivo
• Critério 2 – Desenvolvimento do Processo Ofensivo
• Critério 3 – Final do Processo Ofensivo
• Critério 4 – Ritmo de jogo
• Critério 5 – Espacialização do terreno de jogo
• Critério 6 – Centro de jogo
67
A fase seguinte consistiu na atribuição de um conjunto de condutas que
correspondesse a cada um dos critérios, formando uma listagem denominada
de catálogo.
Quadro 3.1 Critério 1 do Formato de campo: Início do Processo Ofensivo (IPO)
Critério de formato de campo 1
Recuperação da posse de bola: Início do Processo Ofensivo (IPO) Definição conceptual:
Consideramos que se inicia uma posse de bola sempre que um dos jogadores da equipa observada a
consegue recuperar passando a estar na posse da mesma. O início do processo ofensivo acontece
através da recuperação da posse de bola, de forma directa (a bola permanece dentro do espaço de jogo
regulamentar; não são cometidas infracções às leis do jogo) ou indirecta (por infracção às leis de jogo da
parte do adversário), quando se respeita pelo menos uma das seguintes acções:
1) Realiza pelo menos três contactos consecutivos com a bola;
2) Executa um passe positivo (permite a manutenção da posse de bola);
3) Realiza um remate (finalização) (Garganta, 1997).
A recuperação da posse de bola de forma directa pressupõe:
1) Intercepção do remate ou do passe do adversário;
2) Desarme, intervindo sobre a bola, a uma situação de luta directa com um atacante adversário, que a
procura conservar (Garganta, 1997); terão ainda de ser cumpridas as seguintes directivas: a bola
permanece dentro do espaço de jogo regulamentar; não são cometidas infracções às leis do jogo (contra
ou a favor). Propomos 14 categorias possíveis para o início do processo ofensivo.
Catálogo Código Descrição
Pontapé de saída IPs - O PO tem (re) início através dum pontapé de saída, correspondendo ao princípio do jogo, após o intervalo ou depois de ter sofrido um golo.
Recuperação indirecta IPind
- O PO tem início depois duma infracção às leis do jogo (por falta atacante ou fora-de-jogo) ou erro (bola para fora do terreno de jogo ou remate mal orientado). O início do PO é realizado com pontapé de baliza, lançamento de linha lateral, pontapé livre ou canto a favor da EObs (equipa observada). É indicada a zona ou subespaço onde ocorre.
Recuperação da posse de bola pelo
guarda-redes IPgr
- O PO inicia-se através da conquista da posse de bola por acção do guarda-redes (como por exemplo agarrar a bola após cruzamento ou remate, etc.). É particularizada a zona onde sucede.
Recuperação directa por acção
individual IPi
- O PO tem início através da conquista da posse de bola, sem qualquer infracção às leis, com saída por acção individual (o jogador que recupera a bola inicia o desenvolvimento do processo ofensivo). A acção defensiva pode ser uma intercepção, uma disputa de bola ou um desarme. É indicada a zona onde ocorre.
68
Re
cu
pe
raç
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po
r
Passe curto
Pro
fun
did
ad
e
IPpcpr
- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe curto (dentro da mesma zona - jogo apoiado) e em profundidade (para a frente da linha da bola). É indicada a zona onde ocorre.
La
rgu
ra
IPpclg
- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe curto (dentro da mesma zona - jogo apoiado) e em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola. É indicada a zona onde ocorre.
Passe médio
Atr
as
ad
o
IPpmat
- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe médio (para uma zona contígua), atrasado relativamente à linha da bola e sem variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.
Pro
fun
did
ad
e
s/
va
riaç
ão
de
c
orr
ed
or
IPpmprsv
- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe médio (para uma zona contígua), em profundidade (para a frente da linha da bola) e sem variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.
Pro
fun
did
ad
e c
/ va
ria
ção
d
e c
orr
ed
or
IPpmprcv
- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe médio (para uma zona contígua), em profundidade (para a frente da linha da bola) e com variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.
La
rgu
ra c
/ v
ari
aç
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e
co
rre
do
r
IPpmlgcv
- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe médio (para uma zona contígua), em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola) e com variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.
Passe longo
Atr
as
ad
o
IPplat
- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe longo (para lá de duas zonas contíguas), atrasado relativamente à linha da bola e sem variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.
Pro
fun
did
ad
e s
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ria
ção
d
e c
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ed
or
IPplprsv
- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em profundidade (para a frente da linha da bola) e sem variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.
Pro
fun
did
ad
e c
/ va
ria
ção
d
e c
orr
ed
or
IPplprcv
- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em profundidade (para a frente da linha da bola) e com variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.
69
La
rgu
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aç
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co
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r
IPpllgcv
- O PO inicia-se através de uma acção defensiva de um jogador da EObs, sem que exista interrupção do jogo, que é de imediato seguida por passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola) e com variação de corredor. É indicada a zona onde ocorre.
70
Quadro 3.2 Critério 2 do Formato de campo: Desenvolvimento do Processo Ofensivo
Critério de formato de campo 2
Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO) Definição conceptual:
São todas intervenções motoras que um jogador e companheiros da mesma equipa (colectivo), realizam
para manter de forma controlada, em termos táctico-técnicos, a posse de bola e estar em disposição de
dar continuidade ao processo ofensivo, para: a) conservar a bola; b) progredir com a bola para a baliza
adversária; c) desequilibrar a defesa adversária e tentar marcar golo (Bayer, 1994). Propomos 12
categorias possíveis para o desenvolvimento do processo ofensivo.
Catálogo Código Descrição
Desenvolvimento por acção individual
DPi
- Sempre que o portador da bola, controle a bola e por condução ou drible (1x1) mantém a posse de bola ou ganha posição no terreno de jogo face aos adversários.
De
se
nv
olv
ime
nto
da
po
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ola
atr
avé
s d
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Passe curto
Pro
fun
did
ad
e
DPpcpr
- Sempre que o médio portador da bola realiza um passe curto (passe dentro da mesma zona topográfica) para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.
La
rgu
ra
DPpclg
- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe curto (dentro da mesma zona - jogo apoiado) e em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola), para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.
Passe médio
Atr
asa
do
DPpmat
- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe médio (para uma zona contígua), atrasado relativamente à linha da bola e sem variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.
Pro
fun
did
ad
e
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ão
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c
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ed
or
DPpmprsv
- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe médio (para uma zona contígua), em profundidade (para a frente da linha da bola) e sem variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.
Pro
fun
did
ad
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ria
ção
d
e c
orr
ed
or
DPpmprcv
- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe médio (para uma zona contígua), em profundidade (para a frente da linha da bola) e com variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.
La
rgu
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aç
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co
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do
r
DPpmlgcv
- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe médio (para uma zona contígua), em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola) e com variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.
Passe longo
Atr
as
ad
o
DPplat
- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe longo (para lá de duas zonas contíguas), atrasado relativamente à linha da bola e sem variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.
71
Pro
fun
did
ad
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d
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orr
ed
or
DPplprsv
- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em profundidade (para a frente da linha da bola) e sem variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.
Pro
fun
did
ad
e c
/ va
ria
ção
d
e c
orr
ed
or
DPplprcv
- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em profundidade (para a frente da linha da bola) e com variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.
La
rgu
ra c
/ v
ari
aç
ão d
e
co
rre
do
r
DPpllgcv
- Sempre que o processo ofensivo se desenvolve através de passe longo (para lá de duas zonas contíguas), em largura (paralelo ou atrasado em relação à linha da bola) e com variação de corredor, para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade ao PO.
Cruzamento aéreo para a
área DPcrz
- O jogador em penetração, situado num dos corredores laterais e no último terço ofensivo, envia a bola para o corredor central em trajectória aérea, criando uma situação de finalização no PO. Se a bola for rasteira será uma conduta de passe.
72
Quadro 3.3 Critério 3 do Formato de campo: Final do Processo Ofensivo
Critério de formato de campo 3
Final do Processo Ofensivo (FPO) Definição conceptual:
Entende-se por sequência ofensiva finalizada (SOF) uma acção de ataque, constituída por uma ou várias
acções individuais unidas e encadeadas de acordo com uma lógica organizacional própria, desenvolvida
pela equipa em posse de bola. Consideramos que uma equipa finaliza uma SOF quando concretiza uma
das situações do presente catálogo, apresente um final com eficácia ou não. Propomos 8 categorias
possíveis para o final do processo ofensivo.
Catálogo Código Descrição
Fin
al d
o P
O c
om
efi
cáci
a
Remate fora Frf - O PO finaliza com remate que sai pela linha de baliza e/ou para fora do terreno de jogo sem atingir o alvo (baliza adversária).
Remate dentro Frd - O PO finaliza com remate efectuado por um jogador da equipa em PO que atinge o alvo (baliza adversária, incluindo os postes e a barra), sem que resulte golo.
Remate contra adversário Frad
- O PO finaliza com remate contra adversário que é interceptado por um adversário no sector ofensivo dando origem ao final da posse de bola.
Remate com obtenção de
golo Fgl
- O PO finaliza com a obtenção de um golo a favor, devidamente validado pelo árbitro do jogo.
Atingir o quarto
ofensivo de forma
controlada
Fof
- O PO finaliza quando a bola atinge (por passe ou condução) o SO (SD da equipa adversária) devido a falta ou corte para fora do adversário, tendo o condutor/receptor da bola sido impedido de dar continuidade ao jogo ofensivo nesse sector de jogo, por falta ou corte para fora do terreno de jogo, mas mantendo a posse de bola.
Fin
al d
o P
O s
em e
ficá
cia
Recuperação da posse de
bola pelo adversário
Fbad
- O PO finaliza pela recuperação da posse de bola pela equipa adversária através de um desarme, intercepção, duelo, etc., no sector ofensivo (zona 10, 11 e 12).
Recuperação de bola pelo
GR adv Fgra
- O PO finaliza por recuperação da posse de bola pelo GR da equipa adversária. Deve ser excluída a acção de defesa após remate à baliza (esta situação deverá ser uma conduta atribuída a Frd).
Final por Infracção às
leis de jogo ou perda de bola
no SO
Finf
- O PO finaliza devido a uma infracção às leis do jogo cometida pela equipa atacante no sector ofensivo, por um passe errado ou má recepção da equipa em PO, com saída da bola do terreno de jogo.
73
Quadro 3.4 Critério 4 do Formato de campo: Ritmo de Jogo
Critério de formato de campo 4
Ritmo de jogo (RJ) Definição conceptual:
Tarefas realizadas com bola, registando-se o ritmo de execução relativamente às acções desencadeadas
por cada jogador que contactou com a bola no PO. Propomos 2 categorias possíveis para o ritmo de jogo.
Catálogo Código Descrição
Ritmo rápido RJr
- Sempre que o portador da bola, através da sua intervenção, originou ou manteve um ritmo de jogo rápido, desencadeando acções rápidas/intensas, cíclicas ou acíclicas: remate, passe longo, condução de bola com corrida rápida ou sprint, passe rápido, controlo da bola em velocidade, drible em velocidade, tackle ofensivo, procurar recolocar rápido a bola em jogo num lançamento de linha lateral ou num livre.
Ritmo lento/médio RJl
- Sempre que o portador da bola através da sua intervenção originou ou manteve um ritmo de jogo lento/médio, desencadeando acções lentas e pouco intensas, cíclicas ou acíclicas; condução de bola a trote, controlo da bola parado, em marcha ou em corrida lenta, passe lento.
74
Quadro 3.5 Critério 5 do Formato de campo: Espacialização do Terreno de Jogo
Critério de formato de campo 5
Espacialização do terreno de jogo (ETJ) Definição conceptual:
Com vista ao registo espacial das condutas comportamentais do(s) jogador(es) em cada critério definido,
foi seguida a divisão de Garganta (1997),em doze zonas de igual dimensão, a que se atribui a designação
de Campograma. A cada zona corresponde uma categoria diferente, ou seja, um campo de jogo é
constituído por doze unidades categoriais que formam um sistema de categorias exaustivo e mutuamente
excluente (E/ME).
Categoria Código Descrição
Zona 1 1 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 1, de acordo com o campograma acima.
Zona 2 2 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 2, de acordo com o campograma acima.
Zona 3 3 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 3, de acordo com o campograma acima.
Zona 4 4 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 4, de acordo com o campograma acima.
Zona 5 5 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 5, de acordo com o campograma acima.
Zona 6 6 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 6, de acordo com o campograma acima.
Zona 7 7 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 7, de acordo com o campograma acima.
Zona 8 8 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 8, de acordo com o campograma acima.
Zona 9 9 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 9, de acordo com o campograma acima.
Zona 10 10 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 10, de acordo com o campograma acima.
Zona 11 11 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 11, de acordo com o campograma acima.
Zona 12 12 - As condutas do(s) jogador(es) da equipa em PO ocorrem na zona 12, de acordo com o campograma acima.
Campograma da Espacialização do terreno de jogo em doze zonas/categorias – formado a partir de uma divisão longitudinal em três corredores (lateral direito, lateral esquerdo e central) e quatro sectores (defensivo; médio-defensivo; médio-ofensivo, ofensivo).
(Garganta, 1997; Silva, 2004)
SD 3
SMD 6
SMO 9
SO 12
SD 2
SMD 5
SMO 8
SO 11
SD 1
SMD 4
SMO 7
SO 10
CORREDOR LATERAL ESQUERDO
CORREDOR CENTRAL
CORREDOR LATERAL DIREITO
Sentido do ataque
75
Quadro 3.6 Critério 6 do Formato de campo: Centro do Jogo
Critério de formato de campo 6
Centro do Jogo (CJ) Definição conceptual:
Define-se Centro do Jogo como a zona onde a bola se movimenta num determinado instante (Castelo,
1996), isto é, através do contexto de cooperação e de oposição dos jogadores influentes no jogo na zona
do campograma onde se encontra o portador da bola. Tendo por base o número, a zona e a possível
participação dos jogadores da equipa em processo ofensivo e da equipa adversária na zona do
campograma onde se encontra o portador da bola, distinguem-se 2 categorias da EObs no processo
ofensivo:
- Sem pressão;
- Pressão.
O conceito de Pressão encontra-se directamente relacionado com factores táctico-estratégicos inerentes
ao contexto de cooperação e a oposição dos subsistemas ou níveis de organização «equipa»; «confronto
parcial e «confronto individual», que transformam a cada momento o fluxo acontecimental do jogo
(Gréhaigne, 2001), sendo fundamental compreender qual a influência do contexto de interacção no CJ o
fluxo conductural do jogo. Este sistema de categorias é exaustivo e mutuamente excluente (E/ME). São
propostas 6 categorias.
Categoria Código Descrição
Pre
ssã
o (
P)
Inferioridade numérica Pinf
- No Centro do Jogo, o portador da bola está pressionado pelo menos por um jogador e a EObs encontra-se numa relação numérica de inferioridade com a equipa adversária. Ex.: situação 1x2, 2x3, 3x4.
Igualdade numérica Pig
- No Centro do Jogo, o jogador portador da bola está pressionado por um adversário em contenção e a EObs se encontra numa relação numérica de igualdade com a equipa adversária. Ex.: situação 1x1, 2x2, 3x3 nas zonas 1/2/3/4/5/6/7/8/9
Superioridade numérica Psup
- No Centro do Jogo, o portador da bola está pressionado e a EObs encontra-se numa relação numérica de superioridade com a equipa adversária. Esta superioridade corresponde à EObs ter no Centro do Jogo mais jogadores que a equipa adversária. Ex.: situação 2x1, 3x1, 4x2.
Se
m P
res
são
(S
P)
Inferioridade numérica SPinf
- No Centro do Jogo, a EObs encontra-se numa relação numérica de inferioridade com a equipa adversária. Esta inferioridade corresponde à EObs ter no CJ menos jogadores que a equipa adversária. O portador da bola não está pressionado. Ex.: Situação 1x2, 1x3, 2x3.
Igualdade numérica SPig
- No Centro do Jogo a EObs encontra-se numa relação numérica de igualdade com a equipa adversária, sem que o portador da bola esteja pressionado. Ex.: Situação 1x1, 2x2, 3x3 nas zonas 7/8/9/10/11 ou 12.
76
Superioridade numérica
SPsup
- No Centro do Jogo, o portador da bola não está pressionado e a EObs encontra-se numa relação numérica de superioridade com a equipa adversária. Esta superioridade corresponde à EObs ter no CJ mais jogadores que a equipa adversária. Ex.: Situação 2x0, 2x1, 3x1.
77
No quadro seguinte é possível observar o catálogo em resumo: Quadro 3.7. O instrumento de observação: combinação formato de campo e sistema de
categorias
COMBINAÇÃO FORMATO DE CAMPO SISTEMA DE CATEGORIAS
Inicio do Processo
Ofensivo (IPO)
Desenvolv. do Processo
Ofensivo (DPO)
Final do Processo
Ofensivo (FPO) Ritmo de Jogo
(RJ) Espacialização
(ETJ) Centro do Jogo
(CJ)
Catálogo
Início pontapé de
saída (IPs) Início por
recuperação ind (IPind)
Início por recuperação pelo
GR (IPgr) Início por
recuperação em acção indiv (IPi) Início por passe
curto prof (IPpcpr)
Início por passe curto larg (IPpclg)
Início por passe médio atras
(IPpmat) Início por passe
médio prof s/ variaç corred (IPpmprsv)
Início por passe médio prof c/ variaç corred (IPpmprcv)
Início por passe médio larg c/ variaç corred (IPpmlgcv)
Início por passe longo atrás
(IPplat) Início por passe
longo prof s/ variaç corred
(IPplprsv) Início por passe
longo prof c/ variaç corred
(IPplprsv) Início por passe
longo larg c/ variaç corred
(IPpllgcv)
Catálogo
Desv. por acção
ind (DPi) Desv. por passe
curto prof (DPpcpr)
Desv. por passe curto larg (DPpclg)
Desv. por passe médio atras (DPpmat)
Desv. por passe médio prof s/ variaç corred (DPpmprsv)
Desv. por passe médio prof c/ variaç corred (DPpmprcv)
Desv. por passe médio larg c/ variaç corred (DPpmlgcv)
Desv. por passe longo atrás
(DPplat) Desv. por passe
longo prof s/ variaç corred (DPplprsv)
Desv. por passe longo prof c/ variaç corred (DPplprsv)
Desv. por passe longo larg c/ variaç corred
(DPpllgcv) Desv por
cruzamento (DPcrz)
Catálogo
Finalização com remate para fora
(Frf) Finalização com remate dentro
(Frd) Finalização com remate contra advrs. (Frad)
Finalização com obtenção de golo
(Fgl) Final ao atingir o quarto ofensivo
(Fof) Final por recup.
da bola pelo advrs. (Fbad)
Final por recup. da bola pelo GR
advrs. (Fgra) Final por
infracção (Finf)
Repertório
Ritmo de Jogo Rápido (RJr)
Ritmo de Jogo lento/médio (RJl)
Repertório
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Repertório
Pressão/Inf
numérica (Pinf) Pressão/Igual numérica (Pig) Pressão/Sup
numérica (Psup) Sem Pressão/Inf numérica (Spinf)
Sem Pressão/Igual
numérica (Spig) Sem
Pressão/Sup numérica (Spsup)
78
3.3 Observação e registo dos dados
3.3.1 Critérios taxonómicos da Metodologia Observacional
São quatro os critérios taxonómicos básicos inerentes à Metodologia
Observacional (Hernández Mendo e tal, 2000):
1. O primeiro critério é o grau de cientificidade, ao qual cabe
distinguir a observação passiva da observação activa.
2. O segundo critério é o grau de participação do observador
existente na díade observador-observado.
3. O terceiro critério é o grau de perceptividade ao nível da
observabilidade em causa, diferenciando entre observação directa
e indirecta, embora de ambas resultam dados pertinentes.
4. O quarto e último critério diz respeito aos níveis de resposta,
correspondendo aos diversos sectores do comportamento
perceptível.
Relativamente aos critérios taxonómicos da metodologia observacional
podemos considerar a nossa observação inicialmente passiva, por ser levada a
cabo uma fase exploratória ou pré-científica, para depois se tornar activa ou
científica, com um elevado controlo externo e com hipóteses exploratórias.
Tratou-se também de uma observação não participante, pois o nosso
papel será neutro e em contexto natural, por se tratar duma metodologia não
interventiva e por conseguinte não reactiva. Neste estudo foi utilizada uma
observação directa, na medida em que houve uma transcrição da realidade em
tempo real, havendo a descrição da situação e do contexto e, ao mesmo
tempo, indirecta porque foram utilizados meios audiovisuais (DVD).
Esta forma de observação permite reduzir o índice de erros na análise e
no registo. No que diz respeito aos níveis de resposta foram utilizadas
condutas não-verbais, que se referem às expressões motoras que fazem parte
da dinâmica dum jogo de Futebol.
79
3.3.2 Procedimentos de observação
Sendo o Futebol um jogo de ambiente instável, variável, aleatório e
volátil, com um número grande de jogadores envolvidos num terreno de
grandes dimensões e ainda levando em conta o número de acções, fica
dificultado o seu registo em tempo real, propiciando a ocorrência de erros, quer
de observação, quer de notação (Garganta, 1997).
Como já foi referido anteriormente, recorreu-se a uma observação
indirecta, através de meios audiovisuais, para que o observador pudesse
sentir-se mais seguro e confiante na codificação do fluxo conductural do
Processo Ofensivo da equipa observada e tivesse oportunidade de ver e rever
várias vezes a mesma sequência de jogo e à velocidade que entendesse.
Neste contexto, as funções “slow motion” e “pause” foram frequentemente
utilizadas no sentido de retirar todas as dúvidas.
Os jogos seleccionados foram retirados da internet, em formato DVD. A
visualização dos jogos e respectivas tarefas de observação foram efectuadas
num computador portátil TSUNAMI, com processador Intel (R) Core (TM) 2
CPU 2.00GHz, através do programa Cyberlink PowerDVD 6. A respectiva
codificação esteve sempre a cabo do mesmo observador.
3.3.3 Procedimentos de registo
O registo dos dados observados é realizado de forma sequencial.
Baseia-se no registo dos códigos de cada conduta ou comportamentos
concorrentes observados e ordenados na medida em que ocorrem, ou seja, na
ordem em que sucedem ao longo de cada Processo Ofensivo. Assim, tendo
por base o instrumento FC, procedeu-se à codificação das condutas
conductuais que foram emergindo do processo de observação, registando-se
num pequeno bloco A5.
Durante a codificação foram seguidos os seguintes passos:
• Em primeiro lugar, a jogada foi visionada sem que houvesse
qualquer tipo de registo.
• De seguida, a jogada foi novamente visionada, havendo registo
dos parâmetros.
80
• Por último, viu-se novamente a jogada e foram confirmados os
dados previamente registados. Uma vez codificada a jogada
passou-se para os mesmos procedimentos na seguinte.
3.3.3.1 Directrizes para o registo das sequências PO
Para o tratamento e análise dos dados neste estudo recorreu-se ao
software SDIS (Sequential Data Interchange Standard) - GSEQ (Generalized
Sequential Querier) 4.2 (versão actualizada para window – Fevereiro de 2008)
de Bakeman e Quera (1996), pela sua especificidade para analisar eventos
múltiplos. Logo, todo o processo de registo dos dados teve por base a
linguagem do referido programa.
O GSEQ é um programa de propósito geral que analisa as sequências
de comportamento interactivo. Representa, analisa, codifica e recodifica
sequências comportamentais parcelares e complexas.
Para a notação dos dados da observação utilizou-se um arquivo com
extensão SDS, no qual foram registados os códigos dos comportamentos
observados. É importante explicitar a forma de sinalizar o registo da
observação, segundo a linguagem própria do programa SDIS -GSEQ:
a) No final do registo duma conduta foi utilizado um ponto final (.),
para sinalizar a passagem para a conduta seguinte da mesma
sequência.
b) No final duma sequência foi colocado um ponto e vírgula (;).
c) No final duma sequência PO e também do registo duma sessão
de observação foi utilizado o sinal (/).
d) Cada sequência recolhida diz respeito a um PO, pois um novo PO
implicou a passagem para a linha seguinte.
A título de exemplo do registo, é apresentado a seguir uma das
sequências ofensivas do jogo entre o FC Barcelona e o Manchester United,
durante a final da Liga dos Campeões, na época 2008/09, a qual termina em
golo (Processo Ofensivo é finalizado com eficácia).
81
� Início do Processo Ofensivo (IPO):
Como já foi mencionado anteriormente, o Início do Processo Ofensivo
acontece através da recuperação da posse de bola, de forma directa (a bola
permanece dentro do espaço de jogo regulamentar; não são cometidas
infracções às leis do jogo) ou indirecta (por infracção às leis de jogo da parte do
adversário), quando se respeita pelo menos uma das seguintes acções: a)
Realiza pelo menos três contactos consecutivos com a bola; b) Executa um
passe positivo (permite a manutenção da posse de bola); c) Realiza um remate
(finalização).
Na sequência exemplificativa, o Início do Processo Ofensivo dá-se
através dum passe médio (entre duas zonas contíguas) em largura (atrasado
em relação à linha da bola), com variação de corredor de jogo, com ritmo de
jogo rápido (passe rápido), na zona 7 do campograma, num contexto de
interacção de pressão sobre o portador da bola e em igualdade numérica.
IPpmlgcv RJr 7 Pig
Fig. 6 Momento de início do Processo Ofensivo
Conduta para o Início do
Processo Ofensivo (IPO)
Ritmo de Jogo Zona do campograma
onde se dá o IPO
Contexto de interacção
no Centro do Jogo onde
tem lugar o IPO
82
� Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO):
Depois passamos para o critério 2 do Formato de Campo – o
Desenvolvimento do Processo Ofensivo – registando os respectivos códigos. O
Processo Ofensivo desenvolve-se quando um jogador e colegas de equipa
(colectivo) realizam intervenções motoras para manter de forma controlada, em
termos táctico-técnicos, a posse de bola e estar em disposição de dar
continuidade ao processo ofensivo, para: a) conservar a bola; b) progredir com
a bola para a baliza adversária; c) desequilibrar a defesa adversária e tentar
marcar golo.
No caso abordado, o Processo Ofensivo desenrola-se, inicialmente,
através dum passe curto em profundidade, com ritmo de jogo rápido, na zona 8
do campograma, com o jogador portador da bola sem pressão e num contexto
de interacção em igualdade numérica no centro do jogo.
DPpcpr RJr 8 SPig
De seguida, o jogador da
equipa observada (EObs)
realiza um passe curto em
largura (atrasado em relação à
linha em que se encontra a
bola), com um ritmo de jogo
rápido, na zona 8 do
Fig. 7 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 1
Fig. 8 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 2
83
campograma, num contexto de pressão sobre o portador da bola e em
igualdade numérica.
DPpclg RJr 8 Pig
No exemplo seleccionado, o Processo Ofensivo continua através duma
acção individual (o jogador portador da bola conserva a posse de bola e
progride no terreno de jogo, com um ritmo de jogo rápido, a partir da zona 8 do
campograma, num contexto de pressão e em inferioridade numérica no centro
do jogo.
DPi RJr 8 Pinf
Posteriormente, o jogador que entrou em condução realiza agora um
passe médio em profundidade sem variação de corredor, com um ritmo de jogo
igualmente rápido, na zona 7 do campograma e num contexto de interacção de
pressão e em inferioridade numérica.
DPpmprsv RJr 7 Pinf
Fig. 9 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 3
Fig. 10 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 4
84
O jogador que recebe a bola entra em drible 1x1 (acção individual) para
tentar ultrapassar o adversário directo, com um ritmo de jogo rápido (condução
rápida), a partir da zona 10 do campograma, com um contexto de interacção de
pressão sobre o portador da bola em inferioridade numérica no centro do jogo.
DPi RJr 10 Pinf
� Final do Processo Ofensivo (FPO):
A forma como o Processo Ofensivo é finalizado é a etapa seguinte.
Nesta última codificação não serão registados os critérios Centro do Jogo, o
Ritmo de Jogo e o Contexto de Interacção no Centro do Jogo. Uma equipa
finaliza uma SOF quando concretiza uma das situações presentes no catálogo,
apresente um final com eficácia ou não:
� Remate fora;
� Remate dentro;
� Remate contra um adversário;
� Remate com obtenção de golo;
� Atingir o quarto ofensivo do terreno de jogo;
� Recuperação de bola pelo adversário no quarto ofensivo da equipa
observada;
� Recuperação de bola pelo GR adversário;
� Final por infracção ou perda de bola no quarto ofensivo do terreno de
jogo.
Fig. 11 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 5
85
No exemplo apresentado, o Final do Processo Ofensivo acontece
através dum remate que termina em golo (Fgl), a partir da zona 10 do
campograma.
Fgl 10
A sequência do Processo Ofensivo foi finalizada com eficácia e
registada da seguinte forma:
Todas as opções e critérios adoptados no decurso dos processos de
construção do instrumento, de observação e de registo das sequências PO
realizaram-se no sentido de que o resultado da recolha dos dados amostrais
surgisse sob a forma da linguagem SDIS-GSEQ de Bakerman e Quera (1996).
Assim, depois de uma análise da qualidade dos dados pudemos submetê-los a
uma análise sequencial, utilizando a técnica de retardos ou de Transições (Lag
Method).
Fig. 12 Final do Processo Ofensivo
Conduta pela qual
acontece o final do PO
Zona do campograma
onde se dá o final do PO
IPpmlgcv RJr 7 Pig. DPpcpr RJr 8 SPig. DPpclg RJr 8 Pig. DPi RJr 8 Pinf. DPpmprsv RJr 7 Pinf. DPi RJr 10 Pinf Fgl 10/
86
3.3.4 Fase exploratória
Antes do início da recolha dos dados, como deve acontecer em qualquer
estudo, é imprescindível desenvolver um planeamento adequado a partir da
definição do problema e delimitação dos objectivos. Depois, e para reduzir em
grande medida a probabilidade de ocorrerem erros convém desenvolver uma
fase exploratória, que é de carácter assistemático ou casual. Esta deve
prolongar-se o suficiente para a concretização dos objectivos desta fase, ou
seja, para que o observador possa adquirir conhecimentos que lhe permitam
tomar decisões mais acertadas na fase do registo propriamente dito. Sendo
assim são consideráveis as vantagens que se obtêm ao levar a cabo esta
observação passiva:
• Adequada delimitação do problema.
• Aumentar a identificação e melhorar o nível de treino do
observador em relação ao instrumento.
• Fornecer bagagem de informações várias que ajudarão o
observador nas tomadas de decisões em etapas posteriores
(registo propriamente dito).
Nesta etapa, optou-se por realizar a observação e o registo de
sequências da primeira parte do jogo relativo à final da Liga dos Campeões
entre o FC Barcelona e o Manchester United, da época 2008/09. Procedeu-se
à observação e registo de 49 sequências do Processo Ofensivo (PO) da equipa
do FC Barcelona.
3.3.5 Análise da qualidade dos dados
É indispensável que se verifique se os dados observados são
interpretáveis ou se são o resultado de flutuações aleatórias introduzidas pelo
instrumento de observação utilizado (Blanco e Anguera, 2000).
A fiabilidade é decisiva e para isso as sequências só poderão ser
registadas com a realização primeiro de uma fase exploratória. O registo dos
dados não será possível no caso de não haver igualdade numérica de onze
jogadores entre as equipas (ex: lesão ou expulsão dum jogador) ou em
87
situações de impossibilidade de observação (ex.: ruptura temporária da
imagem).
Associado à fiabilidade está o conceito de validade. Este consiste em
perceber se estamos a medir aquilo que pretendemos medir. A concordância
entre observadores independentes (concordância inter-observador) pode
reflectir a consistência necessária para que um sistema de observação directa
seja válido. Se o mesmo observador realiza a observação e o registo em dois
momentos diversos então estamos a falar de concordância intra-observador.
Optamos por analisar a qualidade dos dados através desta última, verificando a
partir do índice de fiabilidade de Kappa.
Portanto, procedeu-se ao registo das sequências conducturais numa
sessão de observação de uma equipa da amostra (FC Barcelona), recorrendo
ao programa SDIS-GSEQ de Bakeman e Quera (1996) e à sua função
“Calcular Kappa”. A sessão de registo teve um intervalo de duas semanas.
Quadro 3.8 Sessão de Observação para a análise da qualidade dos dados pela
concordância intra-observador
CRITÉRIOS JOGO UTILIZADO SESSÃO DE
OBSERVAÇÃO
Vitória 1.ª Parte FC Barcelona Manchester U 9’30’’ – 45’
O índice de fiabilidade de Kappa indica que para existir estabilidade
entre observações, o valor de Kappa deve ser superior a 0,75 para todos os
critérios (Bakeman e Gottman, 1989). Neste caso, quanto mais o Kappa for
próximo de 1 maior é também o grau de concordância intra-observador.
88
Quadro 3.9 Análise da qualidade de dados: resultados da fiabilidade para cada um dos
critérios de Formato de Campo (FC)
Critérios de Formato de Campo
Kappa de Cohen Índice concordância
Intra-observador
Início do Processo Ofensivo (IPO)
0,9580 98,51%
Desenvolvimento do Processo Ofensivo
(DPO) 0,9755 98,44%
Final do Processo Ofensivo (FPO)
0,9644 99,22%
Ritmo de Jogo (RJ) 0,9691 99,28%
Espacialização do Terreno de Jogo (ETJ)
0,9454 95,90%
Centro do Jogo (CJ) 0,9172 93,33%
Pela análise do Quadro 2.2 podemos concluir que os dados traduzem
grande estabilidade entre observações e portanto garantem a sua qualidade,
prevalecendo a ausência de ‘desejo’ do observador e de idiossincrasia do
mesmo.
Repare-se que, conforme era esperado, o critério com o Kappa mais
baixo é o Centro do Jogo (CJ), devido à subjectividade e dificuldade que
encerra o nível de interpretação da situação contextual de jogo.
De seguida, aparece o critério Espacialização do Terreno de Jogo (ETJ)
com um índice de concordância intra-observador de 95,90%.
89
3.4 Amostra de Observação
3.4.1 Justificação da selecção da amostra
Em primeiro lugar, a selecção das equipas a serem observadas tem a
ver com o facto de qualquer uma destas equipas estruturar o seu sector
intermédio em losango, ora ao nível sectorial (apenas com os médios6), ora
ao nível inter-sectorial (com a inclusão
dum jogador vindo de outra linha para
construir um losango).
Depois porque qualquer uma
destas equipas obedece a uma
Filosofia de Futebol de ataque, tendo
o seu jogo uma vertente muito
atractiva relacionada com a
posse/circulação da bola, de forma
colectiva, para criar e aproveitar os
espaços.
Optei por observar
equipas/selecções que se
evidenciaram nas competições que
participaram com esta organização no
meio-campo e enquanto referências
decisivas no desenvolvimento do
paradigma de Guardiola, actual
Treinador do FC Barcelona.
Seleccionei esta equipa porque
apesar de utilizar um ‘sistema’
(unidades estáticas dispostas no
campo) de 1-4-3-3 à partida, a sua
dinâmica funciona muito à base da
construção dum losango no sector
intermédio, no sentido de criar
Fig. 13 Losango no meio-campo do FC Barcelona
Fig. 14 Losango no meio-campo do FC Barcelona
Fig. 15 Losango no meio-campo do FC Barcelona
90
superioridade numérica nessa zona do terreno, como é possível observar nas
figuras 13, 14 e 15.
O número de jogos seleccionados parece-nos suficiente para realizar o
estudo a que nos propusemos, uma vez que um jogo de qualquer uma destas
equipas nos permite recolher muitos Processos Ofensivos.
Neste contexto, a amostra observacional utilizada na recolha dos dados
correspondeu à análise dos 90 minutos de cada uma das partidas
seleccionadas:
I. Final da Liga dos Campeões entre AFC Ajax-1 e AC MIlan-0, na
época 1995/96;
II. Final da Liga dos Campeões entre AFC Ajax-1 e Juventus FC-1
(2-4 após penaltis), na época 1996/97;
III. Fase de Grupos do Mundial 2002 entre a Selecção da Suécia-1
e a Selecção da Argentina-1;
IV. Fase de Grupos da Liga dos Campeões entre o FC Barcelona-5
e o Olympique de Lyon-2, na época 2008/09;
V. Final da Liga dos Campeões entre FC Barcelona-2 e
Manchester United FC-0, na época 2008/09;
VI. Liga Espanhola (8.ª Jornada) entre FC Barcelona-5 e UD
Almeria-0, na época 2008/09;
VII. Liga Espanhola (32.ª Jornada) entre FC Barcelona-4 e Sevilha
FC-0, na época 2008/09;
VIII. Meia-Final do Europeu 2008 entre a Selecção da Espanha-3 e a
Selecção da Rússia-0;
IX. Fase de Grupos da Liga dos Campeões entre o FC Inter Milan-0
e o FC Barcelona-0, na época 2009/10;
X. Fase de Grupos da Liga dos Campeões entre o FC Barcelona-2
e o FC Dínamo de Kiev-0, na época 2009/10.
A amostra foi constituída por todos os processos ofensivos que
permitiam observar a totalidade das condutas que deles fizeram parte. No total,
a amostra do presente estudo engloba 4829 multieventos.
91
3.4.2 Selecção da Amostra Observacional
As decisões relativas à amostra observacional devem ser entendidas
com base em dois níveis amostrais: inter-sessional e intra-sessional, a partir do
qual se tomaram uma série de medidas.
O nível amostral inter-sessional corresponde a decisões relativas ao
período de observação, à periodicidade das sessões de observação e aos
critérios de início e final de cada sessão.
O nível amostral intra-sessional refere-se aos procedimentos de registo
da informação dentro de cada sessão de observação.
• Nível Amostral Inter-Sessional
As decisões relativas ao nível amostral inter-sessional foram
estabelecidas com base nos seguintes objectivos:
- Selecção de equipas de rendimento superior, sobre as quais serão realizadas
as sessões de observação, em jogos Internacionais (no caso de se tratar duma
Selecção), da Liga dos Campeões e da Liga Espanhola.
- Recolha dos dados amostrais (sequências de conduta em Processo Ofensivo)
das equipas, que possibilitam a concretização dos objectivos propostos.
O nível amostral inter-sessional estabeleceu-se a partir das seguintes
decisões:
Período de observação – jogos de várias épocas desportivas (1995/96,
1996/97, 2001/02, 2008/09 e 2009/10.
Número de sessões – dez (10).
Critério de início e fim de sessão – tempo que vai desde o sinal dado pelo
árbitro para início e final das duas partes que compõem o jogo. Quando uma
das equipas fica em inferioridade numérica permanente, por motivo disciplinar
(expulsão) ou lesão de um jogador sem que mais substituições possam ser
realizadas, acaba imediatamente a sessão de observação.
92
• Nível Amostral Intra-Sessional
As decisões a nível amostral intra-sessional referem-se aos
procedimentos de registo da informação relativa ao que é relevante recolher no
nosso estudo.
É realizado um registo contínuo da sessão, mas onde apenas é
registada a informação relevante que se adeqúe aos objectivos do estudo.
Sendo assim, são registadas as sequências de conduta em Processo Ofensivo,
seguindo o que entendemos por Processo Ofensivo e em que foi possível
observar a totalidade das condutas que a compõem.
93
3.5 Análise dos dados
A análise dos dados observados e registados realizar-se-á através de
uma das modalidades da análise quantitativa que se pode aplicar aos dados
observacionais: a análise sequencial, em particular através da técnica de
retardos ou de transições (lag method).
3.5.1 Análise sequencial
Os estudos que têm presente a sequencialidade aproximam-nos de uma
forma mais pertinente à compreensão diacrónica geral ou mais particular do
jogo, contribuindo para melhorar a sua descrição. Esta técnica permite estimar
acontecimentos do jogo que se produzem, com maior probabilidade, para além
da sorte ou acaso ou se repetem com uma certa frequência ou ainda como
certas condutas são excitatórias ou inibitórias com respeito a outras que as
antecedem ou sucedem.
Portanto, a análise sequencial tem como objectivo a procura de relações
de associação significativa entre condutas registadas, a detecção de padrões
de conduta e o extracto de lista serial. O termo análise sequencial refere-se a
um conjunto de técnicas que têm como objectivo evidenciar as relações,
associações e dependências sequenciais entre unidades de conduta.
Este tipo de análise consiste em averiguar as probabilidades de
ocorrência de determinadas condutas, em função da prévia ocorrência de
outras. Como meta procura-se a comprovação de uma ordem sequencial, isto
é, uma certa estabilidade na sucessão de sequências, que se encontre acima
das probabilidades que são explicáveis pelo mero acaso (Anguera 1992:192).
Seguimos o mesmo procedimento dos estudos de Silva (2004) e
Barreira (2006), utilizando nesta investigação a técnica de retardos5 ou de
transições (lag method) enquanto forma de abordagem da análise sequencial.
Na análise sequencial deve considerar-se dois tipos de conduta: a
critério (CC), que é a categoria a partir da qual, na sequência de dados, se
contabilizam as transições, ou retardos, de forma prospectiva (para a frente),
5 Retardo é o número de ordem que ocupa cada conduta registada a partir de cada ocorrência da conduta critério.
94
ou retrospectiva (para trás); e a objecto (CO), que é a categoria até onde, na
sequência de dados, se contabilizam as transições/retardos.
A análise pode ter um carácter prospectivo (análise da sequência de
condutas que se seguiram à conduta critério: 1, 2,...), ou retrospectivo (análise
da sequência de condutas que antecederam a conduta critério: -1, -2,...).
No presente trabalho pretendemos fazer uma análise desde o retardo -5
até ao retardo 5, de forma retrospectiva e prospectiva.
Na análise dos dados e definição do retardo máximo do padrão de
conduta é preciso ter em conta certas regras:
1. Um padrão de conduta termina de forma natural quando não há
mais retardos excitatórios. No presente estudo, o padrão de
conduta só irá até ao retardo 5, de forma prospectiva e
retrospectiva.
2. Um padrão de conduta em que há dois retardos consecutivos
vazios (sem condutas excitatórias) termina em consequência
destes.
3. Quando num padrão de conduta há dois retardos consecutivos com
várias condutas excitatórias, o primeiro deles denomina-se “max-
lag”, e considera-se o ultimo retardo interpretativo do padrão de
conduta. Define-se o Padrão de Conduta primário através do valor
(força de coesão). A partir deste carácter de primariedade pode-se
ordenar os diferentes padrões de conduta obtidos, em ordem da
maior para a menor força de coesão entre os diferentes retardos
3.5.2 Procedimento dos dados
Os dados recolhidos foram introduzidos no programa SDIS-GSEQ para
Window (versão 4.1.2), criando um ficheiro SDS. Através das funções do
programa «verificar sintaxis solamente» e «compilar arquivo SDS», foram
corrigidos todos os erros no processo de digitalização dos dados. Em seguida
foi criado um ficheiro MDS, a parir do qual se realiza a análise sequencial, pela
técnica de retardos ou de transições (lag method), utilizando para tal as
condutas critério que se afiguravam necessárias para o estudo. Neste sentido,
95
foi elaborado o Quadro 2.3, onde são definidas as condutas critério e as
objecto. Foram seguidos alguns preceitos para o processo de determinação da
excitatoriedade e da relação entre as CC e as CO:
• As cadeias de retardo serão tão longas quanto maior for a existência
de continuidade excitatória entre as CC e as CO, nunca excedendo os 5
retardos, quer retrospectiva como prospectivamente.
• Só foram consideradas as transições cujo valor de z fosse igual ou
superior a 1,96, pois este é o que representa uma maior probabilidade
de transição que o esperado pelo mero conceito de sorte ou acaso,
existindo assim uma dependência excitatória ou positiva. Se o valor é
menor que 1,96, a dependência torna-se inibitória ou negativa (Barreira,
2006:121).
• Quando num retardo existem duas ou mais condutas excitadas,
considera-se como primária aquela cuja diferença entre a probabilidade
condicional e incondicional for superior.
96
Quadro 3.10 Sentido prospectivo e retrospectivo utilizado para a análise sequencial de
retardos, tendo como condutas critério o catálogo de condutas de desenvolvimento e
final do Processo Ofensivo.
CONDUTAS CRITÉRIO
CONDUTAS OBJECTO
Análise prospectiva-retrospectiva
Condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO):
DPi,
DPpcpr,
DPpclg,
DPpmat,
DPpmprsv, DPpmprcv, DPpmlgcv,
DPplat,
DPplprsv,
DPplprcv,
DPpllgcv,
DPcrz
Condutas de Início do Processo Ofensivo (IPO):
IPs, IPind, IPgr, IPi, IPpcpr, IPpclg, IPpmat, IPpmprsv, IPpmprcv, IPpmlgcv, IPplat, IPplprsv, IPplprcv, IPpllgcv
Condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO):
DPi, DPpcpr, DPpclg, DPpmat, DPpmprsv, DPpmprcv, DPpmlgcv, DPplat, DPplprsv, DPplprcv, DPpllgcv, DPcrz
Condutas de Final do Processo Ofensivo (FPO):
Frf, Frd, Frad, Fgl, Fof, Fbad, Fgra, Finf
Ritmo de Jogo (RJ):
RJl, RJl
Espacialização (ETJ):
1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11 e 12
Centro do Jogo (CJ):
Pinf, Pig, Psup, SPinf, SPig, SPsup
97
98
99
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Optamos por efectuar apenas uma análise sequencial por darmos
preferência aos dados qualitativos. A análise descritiva dos dados quantitativos,
correspondentes às frequências relativas e absolutas, tem o valor que tem,
mas no meu modo de ver/sentir as coisas, não será tão relevante para a
compreensão do jogo. No início dum jogo de futebol, pressupõe-se uma
igualdade de forças entre os adversários, e, com o seu decorrer acontecem
acções individuais/colectivas que fazem ou não pender a ‘balança’ para um dos
lados. Portanto, mais do que a quantidade de passes ou conduções, sente-se a
necessidade de perceber como é que essas acções táctico-técnicas são
efectuadas, o seu contexto, a interacção do jogador com bola com os colegas
de equipa e com os adversários. Isto leva-nos para o campo conductural da
análise sequencial.
Recolhemos medidas de sequencialidade para a análise de transições
do fluxo conductural ao longo do processo ofensivo mediante a técnica
analítica de retardos, o que permitiu conhecer se havia regularidade e
probabilidade de ocorrência de certas condutas em função da ocorrência de
outras para além do mero acaso.
4.1 Análise sequencial
Este ponto do trabalho consta da apresentação dos padrões de conduta do
Processo Ofensivo, identificados mediante a utilização da técnica de retardos.
Através da técnica sequencial utilizada, as relações estabelecidas não devem ser
entendidas sob um ponto de vista determinista, mas sim através de uma
perspectiva probabilística (Pereira, 2005), pois como referem Castellano Paulis &
Mendo (2002 cit. por Silva, 2004), este tipo de análise procura identificar a
probabilidade de transição entre condutas para além do determinado pela sorte ou
acaso. Isto significa que o primeiro evento não é mais do que o antecedente e o
segundo o consequente, com um determinado grau de probabilidade de transição
de carácter associativo, o que não implica qualquer relação linear directa entre
dois eventos seguidos no tempo.
100
A forma de apresentar os resultados consiste em isolar cada conduta
critério e agrupar em cada retardo as condutas objecto associadas. Para cada
conduta critério e em cada retardo em que se observe um padrão de conduta (e
até se atingir o retardo máximo), será possível observar as condutas
regulares/comportamentais, bem como a situação relativa aos critérios estruturais
e contextuais.
4.2.1 Padrões de jogo encontrados para as condutas de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO)
Antes de discutirmos os dados obtidos convém referir, tal e qual é
referido no estudo de Silva (2004), dos cerca de noventa (90) processos
ofensivos que uma equipa tem, em média, num jogo, só uma percentagem
muito reduzida termina com remate à baliza, e destes, apenas um número
irrisório termina em GOLO!
Algumas condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo
possibilitam a continuidade do PO e são activadas, excitando essencialmente
as zonas do sector defensivo e do sector intermédio defensivo; e outras estão
ligadas ao processo de criação de situações de finalização e/ou finalização,
sendo activadas e excitando principalmente zonas do sector médio ofensivo e
ofensivo.
101
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção
individual (DPi)
Quadro 4.1 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ e RJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual (DPi)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual (DPi)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPpcpr (2.32)
IPplprsv (2.23)
Condutas comportamentais
Início (IPO)
DPpclg (2.29)
DPpmprcv (2.05)
DPi (11.48)
DPpmprcv (11.1)
DPpcpr (7.24)
DPpmprsv (10.72)
Desenvolvimento (DPO)
DPpmprcv (7.13)
DPpmlgcv (5.71)
DPpmprsv (5.43)
DPi (12.44) DPcrz (2.11)
DPi (3.05)
Finalização (FPO) Fof (4.52) Fgl (2.82)
Fgra (2.21)
1 (2.38) 7 (3.23)
Condutas estruturais 10 (5.33)
12 (4.37) 11 (5.08)
11 (2.41) 12 (2.19) 10 (2.13)
11 (2.01) Espacialização
(ETJ)
Pinf (2.67) - Psup (2.58)
Condutas contextuais
Pinf (6.2) Pinf (6.1) - Pinf (2.46) Centro do Jogo
(CJ)
RJr (2.56)
- RJr (8.43) Ritmo de Jogo (RJ)
A partir da análise do Quadro 4.1 podemos verificar que a conduta de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual apresenta uma
grande expressão tanto retrospectiva como prospectivamente, no que diz
respeito às condutas regulares/comportamentais, estruturais e contextuais.
Através da análise dos dados observa-se também que após a
recuperação da posse de bola com passes em profundidade (sem variação de
corredor), a condução e o drible são condutas que permitem a progressão da
bola para zonas de maior ofensividade até se chegar ao sector ofensivo.
A utilização de acções individuais em zonas de início/construção (1)
poderá estar relacionada com o facto de haver respeito das equipas
adversárias em relação às equipas analisadas, concedendo-lhes a iniciativa de
jogo e baixando o seu bloco defensivo, permitindo que estas tenham algum
espaço/tempo para progredir.
102
Por vezes o passe longo em profundidade associado a acções
individuais no sector médio-ofensivo (7) e sobretudo no sector ofensivo (10, 11
e 12) é aproveitado no sentido de beneficiar da desorganização defensiva do
adversário aquando da perda da posse de bola. Poderá ter a ver com
recuperações efectuadas pelo Guarda-redes e sabemos que apesar de se
atribuir maior importância/relevância ao jogo com os pés nesta posição
específica, ainda há uma tendência grande de se recorrer ao pontapé longo na
longitudinal, efectuado muitas vezes sem qualquer critério. Contudo, se for
utilizado num contexto ajustado pode ser uma “arma” importante, provocando
ruptura da dinâmica organizativa defensiva dos adversários.
Segundo Silva (2004), a condução de bola (e por inerência o drible) é
uma conduta que pelas suas características facilita a progressão longitudinal
no espaço de jogo e a superação de contextos menos favoráveis do ponto de
vista ofensivo, transformando-os em situações de pré-finalização e/ou
finalização.
Durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo, há uma forte relação
excitatória entre as condutas por acção individual e as condutas de passe curto
e médio em profundidade com ou sem variação de corredor de jogo (nos
retardos -1 e +1). No fundo, isto poderá ser consequência do Princípio que
refere que um jogador deverá passar se tiver um colega melhor colocado, mas
se não tem deverá conduzir até que se crie uma nova possibilidade de passe.
As acções individuais podem acontecer também seguidas por um passe
médio em largura com variação de corredor, como consequência da utilização
das linhas de passe de segurança, sobretudo do médio-centro (pivô), quando o
espaço de progressão está fechado num corredor lateral na zona média-
ofensiva ou ofensiva. As equipas observadas têm um processo muito
inteligente na posse/circulação da bola, pois antes que os adversários
consigam fechar as linhas de passe mais próximas, mudam a orientação do
jogo, transportando a bola para outras zonas e corredores.
Este processo poderá ser facilitado pela estruturação do losango no
corredor central, o que permite que o jogo seja mais fluído, havendo sempre
várias linhas de passe. Por vezes conseguem dar uma referência de marcação
aos defesas centrais adversários e noutros momentos retiram-lhes essa
103
referência, gerando confusão e levando à desorganização da estrutura
defensiva.
As condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção
individual são ainda activadas por mais acções individuais, tanto em termos
retrospectivos como prospectivos. Daqui se percebe a importância de se
perceber que o Desenvolvimento do Processo Ofensivo deve evoluir em termos
longitudinais, de mais ordem para menos ordem, de menos criativo para mais
criativo, de maior rigor e disciplina táctica para menos rigor e liberdade táctica,
de maior solidez técnica para maior repertório técnico (Silva, 2004).
As acções individuais como a condução e drible possuem ligações
excitatórias com condutas de Final do Processo Ofensivo (retardo+1), tais
como atingir o sector ofensivo com a bola controlada (Final do Processo
Ofensivo com eficácia), o final por recuperação da posse de bola pelo Guarda-
redes adversário (Final do Processo Ofensivo sem eficácia) e com a obtenção
de golo (Final do Processo Ofensivo com eficácia).
Se o Processo Ofensivo não for interrompido (há alguma probabilidade
da sua interrupção!), desenvolve-se por acção individual fundamentalmente no
quarto de campo ofensivo, ou seja, nas zonas 10, 11 e 12, zonas associadas à
criação de situações de finalização. No entanto, a relações excitatórias mais
fortes acontecem nas zonas laterais mais ofensivas (10 e 12), associadas à
presença de avançados fortes em situações de “um contra um” e na condução
da bola, e também como resultado do repetido aparecimento de jogadores
vindos de outras linhas/sectores para apoiar o Processo Ofensivo, tais como os
laterais ou médios interiores.
Se pegarmos no exemplo da equipa do FC Barcelona constatamos que,
tanto o Xavi como o Iniesta, concedem bastante profundidade ao seu jogo
através de penetrações em condução pelos corredores laterais, demonstrando
grande habilidade para resolver situações de ‘um contra um’ e criando várias
situações de cruzamentos precisos para os seus companheiros. Esta condução
de bola acontece muitas vezes em progressão para o corredor central (11) ou
então seguida de cruzamento. Normalmente expressa-se a necessidade de
reduzir a condução e o drible no jogo, mas, na nossa opinião, é importante que
se incentive a sua utilização essencialmente no quarto de campo ofensivo e em
104
situações de igualdade numérica de menor complexidade (ex: 1x1, 2x2, até ao
4x46).
Estas acções individuais são contudo efectuadas com o jogador portador
da bola pressionado e em contexto de interacção de inferioridade numérica. É
fácil constatar e perceber que as equipas cada vez se desorganizam menos e
atacam com menos jogadores, o que reflecte as grandes preocupações
defensivas. Por outro lado, as equipas conseguem fazer as “basculações”
defensivas de forma cada vez mais rápida e preparam o momento de
organização defensiva mesmo antes de o enfrentarem.
Estes aspectos podem estar relacionados com as dificuldades de
progressão no espaço longitudinal, originando ataques do tipo posicional e com
inferioridade numérica em relação às equipas adversárias.
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em
profundidade (DPpcpr)
Quadro 4.2 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em profundidade, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em profundidade (DPpcpr)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em profundidade (DPpcpr)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPi (5.12)
IPind (3.65)
Condutas comportamentais
Início (IPO)
DPpcpr (2.27)
- DPi (2.94) DPpllgcv
(3.6) DPi (4.14)
Desenvolvimento (DPO)
DPpclg (7.92)
DPi (7.18)
Finalização (FPO)
5 (3.12) -
Condutas estruturais 7 (2.31)
9 (2.09)
Espacialização (ETJ)
Psup (2.15) Psup (2.27)
SPig (2.02)
Condutas contextuais
Pig (2.18) SPinf (3.21) - SPig (2.55) Centro do Jogo
(CJ)
Ritmo de Jogo (RJ)
Pela análise do retardo-1 no Quadro 4.2, podemos inferir que o passe
curto em profundidade é activado através de recuperações da posse de bola
105
por acções individuais e no seguimento da fase estática do jogo, isto é, utiliza-
se após uma infracção ou perda de bola dum adversário (a bola sai do terreno
de jogo). A utilização deste tipo de passe após a recuperação da posse de bola
terá a ver com o princípio de ‘olhar primeiro para a frente’ e fazer progredir a
bola no terreno de jogo em segurança. É óbvio que o passe é tanto mais
seguro e preciso quanto mais curta for a distância para o seu receptor.
Poderão ocorrer incursões em condução do Defesa central pelo seu
corredor no ataque, de forma a criar situações pontuais de superioridade
numérica. Por outro, o médio-centro (pivô), sempre que encontra a equipa
adversária desequilibrada defensivamente, ou seja, com espaços entre os seus
jogadores e sectores, joga ao primeiro toque preferencialmente em
profundidade.
Durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo, a combinação entre
os passes curtos em profundidade, com os passes curtos em largura e acções
individuais reflecte uma tendência do jogo das equipas analisadas.
Ao contrário do que apresenta Laranjeiro (2009), neste estudo parece
que o Processo Ofensivo não é condicionado pelo facto da bola permanecer na
mesma zona. Isto terá a ver com um excelente jogo posicional e qualidade na
recepção-passe. Note-se que apesar da bola permanecer na mesma zona, isto
não acontece durante grandes períodos temporais, havendo frequentes
mudanças nos corredores de jogo.
Quando se fala numa Filosofia de posse/circulação, é preciso que os
jogadores estejam perto para que haja sempre muitas linhas de passe e o jogo
se torne apoiado. As rotações e trocas de posição entre os jogadores do sector
intermédio, formando um losango, facilitam o ‘carrocel’ que é criado e o qual é
muito difícil contrariar pelos adversários porque a bola ‘viaja’ ao primeiro toque
até que se crie espaços para conduzir a bola ou então os jogadores utilizam o
drible para ultrapassar adversários e depois voltam a passar.
A criação dum losango no sector intermédio permite que haja sempre
pelo menos três linhas de passe para o jogador portador da bola. As
desmarcações entre-linhas e intra-linhas do adversário permitem que a bola
possa progredir tanto por dentro como por fora no terreno de jogo até zonas de
maior ofensividade. A circulação da bola deve ser encarada como um meio
para poder chegar à outra baliza, provocando na equipa adversária situações
106
de ‘crise táctica’ e espaços criados na ‘basculação’ defensiva que pode atrasar-
se no fecho dos espaços vitais.
O passe curto em profundidade tem relações de excitação
fundamentalmente com as zonas laterais 7 e 9 (zona média ofensiva). Quando
se fala em jogo curto normalmente associamos a jogar ‘fácil’, sem riscos
desnecessários e o passe é a forma mais rápida de progressão da bola para
zonas mais avançadas.
A zona média é vital no jogo e requer jogadores com recursos técnicos e
tácticos, que joguem com poucos toques e que ofereçam muita velocidade ao
jogo durante as acções de passe. Normalmente, as equipas colocam muitos
jogadores no centro do terreno, o que pode complicar a progressão pelo meio e
isso direcciona o jogo para os corredores laterais, nomeadamente após
circulação da bola com mudanças de corredor.
Em relação aos contextos de interacção no centro do jogo os dados não
são explícitos.
107
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em
largura (DPpclg)
Quadro 4.3 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em largura, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em largura (DPpclg)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em largura (DPpclg)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPind (2.63)
Condutas comportamentais
Início (IPO)
DPplprcv
(2.42)
DPpcpr (6.87)
DPi (3.84)
Desenvolvimento (DPO)
DPpmat (3.12)
DPpcpr (2.96)
DPi (2.8)
Finalização (FPO)
11 (2.99) - 8 (2.11) - 7 (4.32)
9 (2.97)
Condutas estruturais 7 (4.53)
9 (4.1)
Espacialização (ETJ)
Pinf (3.3) Pinf (2.83)
Condutas contextuais SPig (4.14)
SPinf (3.92)
Pig (2.6)
Pig (2.21) Centro do Jogo
(CJ)
RJl (2.64) Ritmo de Jogo (RJ)
Conforme se pode observar a partir do Quadro 4.3, a conduta de passe
curto em largura é utilizada pelas equipas para iniciar o Processo Ofensivo de
forma indirecta.
Por aquilo que foi possível analisar, os jogadores deram preferência a
este tipo de conduta, na medida em que as equipas adversárias recuavam,
esperando que a bola fosse colocada através dum passe médio/longo em
zonas do último quarto de campo ofensivo. É um sinal de que há uma opção no
sentido da segurança do passe e da continuidade do Processo Ofensivo.
Principalmente no retardo -1 (análise retrospectiva), mas também no
retardo +1 (análise prospectiva) é, mais uma vez possível conferir a relação
excitatória entre o passe curto em largura e o passe curto em profundidade no
Desenvolvimento do Processo Ofensivo. Esta ligação poderá estar relacionada
com as triangulações entre os médios, uma vez que a bola tem de passar por
108
estes jogadores para que tudo tenha sentido e estas equipas organizam-se
através das suas missões tácticas em campo.
Depois da conduta de passe curto em largura há
probabilidade/regularidade na continuidade do atraso no Centro de Jogo,
activando a conduta de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe
médio atrasado.
Constata-se que o passe curto em largura surge na sequência dum ritmo
de jogo mais lento nos corredores laterais (zonas médio-ofensivas 7 e 9), num
contexto que é desfavorável ao portador da bola (inferioridade numérica),
sendo utilizado como meio para colocar a bola num jogador sem pressão
(SPig/SPinf), mudando-se depois o Centro de Jogo para outro espaço através
do passe médio atrasado. Nas equipas observadas e principalmente na equipa
do FC Barcelona é visível o prolongar da posse, demorando na progressão até
haver boas condições para a bola entrar nos espaços criados e para isso por
vezes a bola tem de ir atrás para fazer ‘rodar’ o jogo para outro corredor. A
utilização dos jogadores-janela, situados atrás do jogador com bola,
funcionando como cobertura ofensiva e como libertadores de jogo adequam-se
a este contexto.
Como já referimos anteriormente a variabilidade na utilização dos
espaços evita a mecanização do jogo de ataque, contrariando as forças
defensivas do adversário que normalmente se concentram na zona onde está a
bola. A conduta de passe curto em largura é o início dessa tentativa de
mudança de ângulo pelas linhas de passe atrasadas (de segurança).
109
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio
atrasado (DPpmat)
Quadro 4.4 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado (DPpmat)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado (DPpmat)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPpmprsv
(2.24)
IPind (2.66)
IPpmprsv (2.57)
Condutas comportamentais
Início (IPO)
DPpmprsv
(2.45) DPpmprsv
(3.06) Desenvolvimento
(DPO)
DPplprsv (3.22)
DPplprcv (2.38)
DPi (2.33)
DPpmat (2.34)
DPplprcv (2.7)
DPpmprsv (2.24)
DPplprcv (2.34)
Finalização (FPO) Finf (3.42)
Fbad (3.02)
8 (2.68)
9 (2.23)
12 (2.16)
Condutas estruturais
1 (7.4)
4 (6.16)
6 (5.64)
Espacialização
(ETJ)
SPig (2.77) - Pig (4.25) Pig (4.25)
Condutas contextuais
SPsup (5.72)
SPig (3.57)
Psup (2.99)
SPsup (4.56)
Centro do Jogo
(CJ)
Ritmo de Jogo (RJ)
O Quadro 4.4 permite confirmar que as saídas para o ataque através de
passes médios em profundidade sem variação de corredor induzem a conduta
de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado (sem
variação de corredor). Provavelmente, depois do passe em profundidade (para
a frente da linha da bola), o seu receptor foi imediatamente colocado sob
pressão intensa, obrigando-o a jogar para trás novamente para que o Processo
Ofensivo pudesse ter continuidade em zonas mais recuadas.
A recuperação da posse de bola de forma indirecta (depois duma
infracção às leis de jogo ou bola para fora do terreno de jogo) também pode
excitar a conduta de passe médio atrasado, sendo a justificação semelhante à
que demos anteriormente em relação ao passe curto em largura.
Ao nível do Desenvolvimento do Processo Ofensivo, é igualmente o
passe médio em profundidade sem variação de corredor de jogo que excita o
passe médio atrasado, que por sua vez numa análise prospectiva activa
110
sobretudo o passe longo em profundidade com ou sem variação do corredor de
jogo e as acções individuais.
Ora, no mesmo retardo +1 observa-se que há uma interrupção do
Processo Ofensivo através da recuperação da posse de bola pela equipa
adversária ou através duma perda da posse de bola por infracção às leis de
jogo cometida pela equipa atacante no sector ofensivo, ou passe errado no
qual a bola sai do terreno de jogo.
O Final do Processo Ofensivo poderá ter a ver com o menor grau de
precisão que acontece quando se executa um passe de longo alcance.
Sabemos que em equipas de rendimento superior como as
seleccionadas, os jogadores possuem uma qualidade táctico-técnica muito
acima da média, mas ainda que seja pouco utilizado, um passe longo é quase
sempre uma conduta que acarreta consigo muito risco de êxito. Ainda assim, a
mudança frequente de espaços e a variabilidade de respostas obriga os
adversários a um maior desgaste físico e psíquico porque aumenta os seus
deslocamentos.
Há uma primazia pela adopção de soluções tácticas pelo lado da
segurança, isto é, executando acções que não induzam a perda extemporânea
da posse de bola.
Em relação à conduta objecto de espaço refira-se que
retrospectivamente é activada pelas zonas de sector intermédio-ofensivo (8 e
9) e ofensivo (12) e prospectivamente, esta conduta excita com elevada força
de coesão as zonas do sector defensivo (1) e do sector intermédio-defensivo (4
e 6).
Isto quer dizer que sobretudo na zona intermédia, onde há usualmente
uma grande densidade de jogadores de ambas as equipas, é sentida uma
necessidade imperial de fazer atrasar a bola para encontrar os espaços de
entrada na organização defensiva do adversário.
No que diz respeito ao Centro do Jogo, a conduta do passe médio
atrasado, é excitada, retrospectivamente, em contexto de interacção de
pressão sobre o portador da bola e em igualdade numérica, sendo utilizada no
sentido de evitar que as forças defensivas se concentrem na zona da bola e
para que o Processo Ofensivo possa continuar noutras zonas do terreno de
jogo.
111
Na realidade, esta conduta critério de Desenvolvimento do Processo
Ofensivo provoca de seguida contextos favoráveis de superioridade numérica,
maioritariamente sem pressão sobre o jogador portador da bola.
Se dedicarmos alguns minutos de atenção sobre os adversários das
equipas observadas percebemos que estes defendem com o seu bloco
defensivo muito baixo, ainda que haja um indicador para subir ligeiramente
após um passe para trás e fundamentalmente aquando a bola entrar num
corredor lateral. Esta acção de pressing que se desenvolve nos corredores
laterais está relacionada com a utilização do passe médio atrasado.
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio
em profundidade sem variação de corredor (DPpmprsv)
Quadro 4.5 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade sem variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade sem variação de
corredor (DPpmprsv)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade sem variação de
corredor (DPpmprsv)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPgr (2.22)
IPpmlgcv (2.55)
IPgr (2.62) -
Condutas comportamentais
Início (IPO)
DPpmprcv
(2.77) DPi (5.99)
Desenvolvimento (DPO)
DPi (8.55)
DPpmat (3.15)
Finalização (FPO) Finf (3.42)
Fbad (3.02)
4 (3.65) 5 (2.88) 2 (3)
1 (2.15) 2 (4.8)
1 (3.58)
3 (2.59)
4 (2.42)
Condutas estruturais
10 (5.99)
12 (4.65)
8 (3.44)
Espacialização
(ETJ)
SPsup (4.68)
SPsup (2.93)
Condutas contextuais
Pinf (7.42) Pinf (3.44) Pinf (2.61) - SPsup (2.27) Centro do Jogo
(CJ)
Ritmo de Jogo (RJ)
Como é visível a partir do Quadro 4.5, a recuperação da posse de bola
pelo Guarda-redes da equipa observada (na zona 2), associada a uma saída
curta pelo defesa mais próximo (lateral ou central) é facilitada pelo facto das
112
equipas adversárias fazerem recuar as linhas mais adiantadas para trás da
linha da bola quando a perdem.
Quando o Guarda-redes recupera a bola deve analisar se a equipa
adversária se encontra recuada no terreno de jogo e organizada/equilibrada
sob o ponto de vista defensivo e, como tal acontecia sistematicamente, este
optava pelo método de jogo ofensivo de ataque posicional.
Habitualmente no início do Processo Ofensivo, os defesas laterais
‘abrem’ para a linha lateral no sentido de aumentar o espaço de jogo em
largura e profundidade e nesse caso, a bola entrava mais frequentemente no
defesa central, mas chegava ao defesa lateral do lado contrário à recuperação
da posse de bola. O defesa central/lateral que recebia a bola do Guarda-redes
iniciava condução de bola sem pressão nenhuma para avançar no terreno de
jogo em contextos de superioridade numérica.
O Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em
profundidade sem variação de corredor de jogo é uma procura incessante da
verticalidade que permite a progressão da bola para zonas do quarto de campo
ofensivo, designadamente as zonas 10 e 12, onde ocorrem muitas acções
individuais de seguida ou então a bola é atrasada através dum passe médio se
o espaço estiver fechado.
Quando há uma recuperação da posse de bola é notório que o jogador
tenta alargar de imediato o campo de visão, orientando-se para a baliza
adversária e tentando encontrar uma linha de passe em profundidade
(transição ofensiva vertical da bola).
No retardo +1 é visível que, depois da bola entrar no sector ofensivo, é
difícil manter lá a bola, excitando o Final do Processo Ofensivo devido não só à
perda de bola no sector ofensivo (e saída do terreno de jogo) ou infracção às
leis de jogo (Finf), mas também através da recuperação da posse de bola pela
equipa adversária (Fbad). Neste sector de jogo, o contexto é de pressão sobre
o jogador portador da bola e em inferioridade numérica em relação ao
adversário.
113
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio
em profundidade com variação de corredor (DPpmprcv)
Quadro 4.6 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade com variação de
corredor (DPpmprcv)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade com variação de
corredor (DPpmprcv)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPgr (9.27)
Condutas comportamentais
Início (IPO)
DPi (7.32)
DPpmlgcv (5.09)
Desenvolvimento (DPO)
DPi (10.15) DPpmprsv
(2.31)
Finalização (FPO) - Fof (2.89) Frad (1.97) Fbad (3.21)
RJr (2.773) RJl (3.14) Ritmo de Jogo (RJ)
2 (2.65) -
4 (2.72)
8 (2.11)
3 (1.97)
11 (2.14)
2 (7.82)
5 (2.94)
8 (2.71)
Condutas estruturais 6 (3.59)
3 (2.47) 12 (2.51) - 12 (2.64)
Espacialização (ETJ)
Pig (2.18) SPsup (8)
Condutas contextuais
SPsup (3.9) - SPig (2.89) Centro de Jogo (CJ)
Há alguma semelhança nas relações de excitatoriedade com o “Max lag”
anterior. Assim sendo, a recuperação da posse de bola dá-se maioritariamente
pelo Guarda-redes em zona defensiva (2), seguido de condução pelo corredor
central, em ritmo lento, para levar a bola para o sector Intermédio (5 e 8), em
contextos de interacção nos quais o jogador com bola não se encontra
pressionado e está em superioridade numérica.
As equipas observadas jogam frequentemente com o seu bloco ofensivo
instalado no meio-campo do adversário e face à forte pressão sobre o
adversário com bola que desenvolvem após a sua perda e à utilização do ‘fora-
de-jogo’, é normal que se verifiquem muitos passes errados e o Guarda-redes
recupere muitas vezes a bola.
Ainda durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo, a utilização do
passe médio em largura com variação de corredor de jogo, de forma
retrospectiva em relação ao passe médio em profundidade com variação de
114
corredor, poderá ser consequência da tentativa de “ligar” o jogo com os
jogadores que se encontram nos corredores laterais. Houve uma tentativa de
tirar a bola da zona de pressão do adversário, fazendo profundidade defensiva
e rodar a bola para o lado contrário através dum passe horizontal e
posteriormente vertical para chegar à baliza adversária.
Quando a equipa adversária se encontra recuada no terreno de jogo e
equilibrada defensivamente (com grande densidade de jogadores próximos da
sua baliza), as equipas analisadas privilegiaram a execução de passes entre
diferentes corredores de jogo, na procura de situações de ruptura na
organização defensiva do adversário.
Foi visível a preocupação destas equipas em retirar a bola de zona de
maior pressão (centro do terreno), onde existe um maior fluxo de jogadores e
fazê-la rodar para o corredor contrário, através de passes diagonais (para a
frente ou para trás).
As condutas por acção individual são activadas em termos prospectivos
em zona intermédia, ainda sem pressão sobre o portador da bola e estas
excitam o Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em
profundidade sem variação de corredor no último quarto de campo (zona 12).
O passe médio em profundidade com variação de corredor tem como
propósito “profundizar” o jogo mas com segurança, procurar os ângulos na
diagonal, mudando o corredor de jogo para que de seguida se jogue nesse
corredor, tentando criar situações de finalização. Nesta circulação da bola é
muito importante que se criem linhas de passe perto para o jogo apoiado e
também linhas de passe para a mudança na orientação do jogo. A mobilidade
dos jogadores é imprescindível para que se mude de espaços, facilitando
posteriormente a penetração dos jogadores no outro corredor.
Depois há uma relação de excitação do passe em profundidade com
variação de corredor com as condutas de Final do Processo Ofensivo em zona
ofensiva (12), podendo ocorrer a interrupção deste por recuperação da bola
pelo adversário (Fbad), após um remate contra um adversário (Frad) ou pelo
facto do Processo Ofensivo ter sido interrompido por falta ou corte para fora
depois de se ter atingido o sector ofensivo com a bola controlada (Fof).
115
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio
em largura com variação de corredor (DPpmlgcv)
Quadro 4.7 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em largura com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Deseolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em largura com variação de corredor
(DPpmlgcv)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em largura com variação de
corredor (DPpmlgcv)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPpcpr (2.11)
-
Condutas comportamentais
Início (IPO)
DPi (6.41)
DPpclg (2.02)
Desenvolvimento (DPO)
DPpmprcv (5.79)
DPplprsv (2.86)
DPpmprcv (4.12)
-
DPplprsv (2.35)
DPpmlgcv (2.24)
Finalização (FPO)
11 (2.34) - 8 (2) -
Condutas estruturais
5 (9.53)
2 (7.14)
8 (6.25)
Espacialização
(ETJ)
Pinf (2.69)
Condutas contextuais
SPsup (9.05)
Psup (2.68)
Centro do Jogo
(CJ)
Ritmo de Jogo (RJ)
No Quadro 4.7 e na Figura 16
podemos observar que as saídas
com passe curto em profundidade a
partir da zona 8 excitam o
Desenvolvimento do Processo
Ofensivo por acção individual.
O receptor deste passe
poderá ser o pivô mais avançado do
losango criado ao nível
sectorial/inter-sectorial (ou um dos
avançados) e deverá recepcionar a
bola de costas sob forte pressão, sendo possivelmente obrigado a conduzir ou
a utilizar o drible para dar continuidade ao Processo Ofensivo, deslocando-se
lateralmente e, na impossibilidade de se voltar para a baliza adversária e dar
profundidade, serve-se do passe médio em largura com variação de corredor
Figura 16 Padrões prováveis para a conduta DPpmlgcv
116
para circular e manter a posse de bola em zonas intermédias do terreno de
jogo.
Os jogadores mais avançados da equipa, que preparam a transição
defesa-ataque, e percebendo o desequilíbrio ofensivo momentâneo, procuram
manter a posse de bola, aguardando pela chegada de mais unidades, para que
depois possam dar continuidade ao ataque. A bola será portanto endereçada a
um jogador duma linha mais atrasada que acompanha o Processo Ofensivo em
linha de passe de segurança (cobertura ofensiva), que poderá ser um médio
centro por exemplo.
Os jogadores de linhas atrasadas (jogador-janela), em posição de passe
de segurança funcionam no sentido de ‘descongestionar’ o jogo. Note-se que
nestas equipas há uma grande preocupação da parte do jogador sem bola criar
um posicionamento em diagonal em relação ao jogador que tem a bola.
Como já referimos anteriormente, para que haja uma visão mais ampla
do terreno de jogo, é necessário que a recepção da bola aconteça com o corpo
“perfilado” em relação ao jogador que tem a posse de bola.
Pode referir-se que as equipas analisadas procuram controlar o jogo
através da posse de bola, tentando manter/circular a bola num corredor e
depois o jogo é direccionado para outro corredor. Para a concretização deste
pressuposto, os jogadores têm uma mobilidade constante com o objectivo de
abrir linhas de passe à frente, dos lados e atrás.
Ora, podemos afirmar que a formação de triângulos e losangos permite
uma ocupação racional do espaço e fundamentalmente conservar a posse de
bola na zona intermédia do terreno, local onde normalmente se torna difícil
fazê-lo pelo congestionamento de jogadores das duas equipas.
Logo, a opção pela utilização do passe médio em largura com variação
de corredor de jogo reflecte uma situação de lateralização, excitando zonas de
baixa ofensividade e portanto sem qualquer tipo de ligação com as situações
de finalização, na perspectiva de conduzir a um contexto de interacção
favorável às equipas analisadas, ou seja, o portador da bola não terá pressão e
estará em superioridade numérica no Centro do Jogo. Conclui-se que esta
conduta não está ligada à eficácia no Processo Ofensivo, mas também não
provoca a interrupção deste.
117
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo
atrasado (DPplat)
Quadro 4.8 0 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo atrasado, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo atrasado (DPplat)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo atrasado (DPplat)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPind (5.3)
Condutas comportamentais
Início (IPO)
Desenvolvimento
(DPO) -
DPplprcv (9.56)
Finalização (FPO)
10 (2.87) 9 (2.31)
Condutas estruturais
Espacialização
(ETJ)
Condutas contextuais
Psup (2.46) Psup (2.62) Centro do Jogo
(CJ)
Ritmo de Jogo (RJ)
A primeira ilação que
podemos retirar do Quadro 5.8 é que
a conduta de Desenvolvimento do
Processo Ofensivo por passe longo
atrasado (sem variação de corredor
de jogo) tem uma expressão
diminuta, tanto retrospectiva como
prospectivamente, no que diz
respeito às condutas
comportamentais, estruturais e
contextuais.
Do Quadro 4.8 pode ainda retirar-se dados que nos permitem referir que
a conduta de passe longo atrasado é excitada, no comportamento precedente,
por uma recuperação da posse de bola depois duma infracção às leis de jogo
Figura 17 Padrões prováveis para a conduta DPplat
118
ou bola para fora do adversário no sector intermédio ofensivo (zona 9) ou no
sector ofensivo (zona 10).
É preciso compreender que todas as equipas observadas utilizam
Métodos de Jogo que promovem principalmente ataques posicionais baseados
na circulação da bola em velocidade. Por sua vez, as equipas adversárias
sentem bastantes dificuldades para realizar a pressão, pois quando chegam
perto já a bola não está lá e por isso cometem muitas faltas na zona
intermédia.
Como refere Cruyff (2009), a circulação rápida da bola faz com que o
adversário chegue atrasado na pressão. As fortes mudanças de atitude nos
momentos de transição ataque-defesa (após perda da posse de bola) das
equipas seleccionadas também implicam que os adversários sejam obrigados a
colocar a bola fora do terreno de jogo.
O passe longo atrasado é portanto empregado como uma espécie de
‘chamariz’ porque as equipas adversárias jogam muito recuadas, tentando
reduzir ao máximo os espaços no seu meio-campo defensivo, relacionado com
o reforço sistemático das zonas atrasadas ou linhas de defesa. Consistem
normalmente a atrasos aos Guarda-redes ou aos defesas das respectivas
equipas para tentar que os adversários subam um pouco no terreno de jogo e
se abram mais espaços nos seus meios-campos defensivos.
O Guarda-redes executa normalmente os passes longos e aéreos para
os corredores laterais, no sentido de efectuar ataques directos à baliza
adversária. Após a conduta critério, o retardo +1 está vazio, no entanto, o
retardo +2 activa uma conduta de passe longo em profundidade com variação
de corredor. Percebe-se que o atraso ao Guarda-redes ou defesa terá sido
acompanhado pela pressão dum adversário (Psup), obrigando-o a servir-se do
passe longo. Depois da subida das linhas defensivas das equipas adversárias,
esta conduta poderá fazer a bola progredir rapidamente para zonas de maior
ofensividade.
Apesar disso, a conduta de passe longo atrasado não é excitatória em
relação a condutas de Final do Processo Ofensivo.
119
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo
em profundidade sem variação de corredor (DPplprsv)
Quadro 4.9 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade sem variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade sem variação de
corredor (DPplprsv)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade sem variação de
corredor (DPplprsv)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPi (2.39)
IPpmlgcv (3.72)
IPgr (2.26) IPgr (2.01)
Condutas comportamentais
Início (IPO)
DPpmat (2.7)
DPpmlgcv (2.46)
Desenvolvimento (DPO)
- DPcrz (5.75)
Finalização (FPO) Fbad (8.6) Frf (3.52) Fbad (2.44) Frd (6.26)
5 (2.99) 2 (2.39) 5 (2.13) 6 (2.9) 1 (3.11)
6 (2.33)
Condutas estruturais 10 (4.59)
8 (2.73) - 11 (2.24)
Espacialização (ETJ)
Condutas contextuais
Centro do Jogo
(CJ)
Ritmo de Jogo (RJ)
A partir da análise do Quadro 4.9 é possível perceber que há uma forte
relação de força entre a conduta de Desenvolvimento do Processo Ofensivo
por passe longo em profundidade sem variação de corredor de jogo e as
condutas de Final do Processo ofensivo: sem eficácia, provocando a
recuperação da posse de bola pela equipa adversária (Fbad) e com eficácia,
através de remates a atingir o alvo ou para fora do terreno de jogo (Frd e Frf).
Realce-se por isso uma elevada força de coesão sobretudo com a
recuperação da posse de bola pelo adversário (Z=8.6) e pelos remates na
direcção da baliza (Z=6.26).
As perdas da posse de bola e consequente término do Processo
Ofensivo ocorrem nas zonas 8 e 10. Portanto, o passe longo em profundidade
sem variação de corredor de jogo (DPplprsv) é uma conduta que exige grande
mestria e precisão do jogador que a realiza, sob pena da bola se perder para o
adversário.
120
Precedendo a conduta de passe longo em profundidade sem variação
de corredor, ocorre uma mudança de corredor através dum passe médio em
largura ou então acções de condução para preparar esta conduta.
A conquista da posse de bola pode também ser efectuada pelo Guarda-
redes em zona defensiva.
No retardo -1, o passe longo em profundidade sem variação de corredor
aparece após um passe médio atrasado ou um passe médio em largura com
variação do corredor de jogo.
Se analisarmos bem percebemos que estes passes atrasados são na
realidade ‘manobras’ para fazer subir a última linha defensiva das equipas
adversárias, que tendem a recuar para blocos ultra-defensivos. A tentativa de
utilizar o jogo directo é também uma boa estratégia de deixar para trás algumas
linhas de pressão do adversário, sendo importante ter jogadores fortes na
análise de trajectórias nas bolas aéreas.
No plano prospectivo, no retardo+2 e após um retardo vazio, o passe
longo em profundidade sem variação de corredor excita a conduta de
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento aéreo para a zona 11.
Da análise dos resultados obtidos podemos inferir que os cruzamentos
aéreos das zonas laterais do campo excitam os remates para fora e ainda a
recuperação da posse de bola pelo adversário na zona ofensiva (11).
Castellano Paulis (2000) também chegou a esta conclusão, referindo
que os ataques eficazes, entendendo por ataque eficaz aqueles que contém
um remate ou atingir o quarto de campo ofensivo com a bola controlada, são
criados e finalizados pelo centro do terreno de jogo, o que permite desmistificar
um pouco algumas noções erradas no universo do Futebol.
Em relação às condutas contextuais do Centro do Jogo (CJ), não
existem dados, ficando na dúvida se não existem excitações com nenhum
comportamento ou se acontecem tantas relações que não é possível dizer
quais.
121
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo
em profundidade com variação de corredor (DPplprcv)
Quadro 4.10 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade com variação de
corredor (DPplprcv)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade com variação de
corredor (DPplprcv)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPind (2.28) IPgr (2.5) IPi (2.23) -
IPgr (3.45)
IPpmat (2.06)
Condutas comportamentais
Início (IPO)
Desenvolvimento
(DPO) DPi (2.93)
Finalização (FPO) Finf (2.62) Fbad (3.13)
2 (2.65) - 4 (2.78)
3 (4.7)
1 (3.29)
4 (2.64)
Condutas estruturais
10 (4)
8 (2.8)
7 (2.61)
Espacialização
(ETJ)
SPsup (2.04)
Condutas contextuais
Centro do Jogo
(CJ)
Ritmo de Jogo (RJ)
Dos dados disponíveis no
Quadro 4.10 pode inferir-se que o
emprego do passe longo (para lá de
duas zonas contíguas) em
profundidade (para a frente da linha
da bola) com variação do corredor
de jogo, associado a acções
individuais como a condução ou
dribe (prospectivamente – retardo
+1), contribui para que aconteça o Final do Processo Ofensivo, por infracção às
leis de jogo ou perda de bola com saída do terreno de jogo no sector
intermédio (zonas 7 e 8) ou no sector ofensivo (zona 10).
A interrupção do Processo Ofensivo pode igualmente acontecer devido à
recuperação da posse de bola pelo adversário no sector ofensivo (Fbad),
especialmente no corredor lateral. A presença de avançados/extremos bem
Figura 18 Padrões prováveis para a conduta DPplprcv
122
abertos e encostados às linhas laterais, nos corredores laterais, permite que a
bola seja lá colocada mas o adversário vai lá chegar quebrando a continuidade
no Processo Ofensivo.
Em zonas intermédias ofensivas é importante o jogo combinativo, a
condução, as tabelas, a criatividade dos jogadores. Ora, sabendo que a
progressão demorada é um grande princípio das equipas analisadas, quando
há um passe longo a tendência é para haver poucos jogadores junto à zona de
recepção desse passe, por não terem tempo suficiente para chegar em apoio
ao portador da bola, perdendo-se a bola como consequência deste aspecto.
Refira-se até que muitas equipas têm como indicador de pressão a bola entrar
num corredor lateral e portanto a perda da bola pode também ser devido a este
ponto. Ainda assim percebe-se que a transição da bola de zonas defensivas
para zonas mais avançadas no terreno de jogo acontece de forma muito mais
rápida.
Ao contrário de outros estudos, nomeadamente o de Laranjeiro (2009),
neste, não há portanto qualquer relação excitatória entre a aplicação do jogo
directo e as condutas de Final do Processo Ofensivo com eficácia (Frf, Frd,
Frad, Fgl ou Fof). Conclui-se que esta conduta não excita situações de remate.
A variabilidade de respostas é crucial num jogo de Futebol porque não permite
que o adversário faça a antecipação do que vai acontecer a seguir e, à
imprevisibilidade que o próprio jogo tem, acresce este aspecto, isto é, a
alternância entre o jogo de passes curtos e médios/longos.
Reconhecendo que o passe longo é a forma mais rápida de aproximar a
bola de zonas mais ofensivas (próximas da baliza do adversário), pode também
referir-se que não é um gesto muito frequente na rotina das equipas
analisadas.
As saídas acontecem após a recuperação da posse de bola pelo
Guarda-redes ou então após um passe médio atrasado para este mesmo
jogador. Refira-se que o contexto de interacção é obviamente favorável, uma
vez que a equipa adversária tem as suas linhas recuadas e como tal coloca o
jogador portador da bola sem pressão e em superioridade numérica.
123
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo
em largura com variação de corredor (DPpllgcv)
Quadro 4.11 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em largura com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em largura com variação de
corredor (DPpllgcv)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em largura com variação de corredor
(DPpllgcv)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
IPpmat (3.13)
Condutas comportamentais
Início (IPO)
DPpclg (2.72)
Desenvolvimento (DPO)
DPi (3) DPpcpr
(4.1) DPpclg (1.98)
-
DPpmat (2.64)
DPpllgcv (2.1)
Finalização (FPO)
6 (1.96) - 7 (3.61) 7 (3.45) -
Condutas estruturais 6 (3.19)
4 (2.49) 9 (2.52)
7 (2.37)
9 (2.01) - 3 (3.38)
Espacialização (ETJ)
Condutas contextuais SPsup
(5.06)
Centro do Jogo (CJ)
RJl (3.23) RJl (3.88) Ritmo de Jogo (RJ)
Como é natural, a conduta de
Desenvolvimento do Processo
Ofensivo por passe longo em largura
com variação de corredor de jogo é
normalmente associada a ritmos de
jogo mais baixos.
Note-se que as equipas
observadas são bastante
consistentes no controlo do ritmo do
seu jogo, evitando risco exagerado que leve à perda de bola. A gestão do ritmo
de jogo, acelerando num momento e travando noutro, é um ponto essencial
para os Treinadores no contexto do Futebol actual.
O Início do Processo Ofensivo por passe médio atrasado excita o
Desenvolvimento por passe longo em largura com variação de corredor.
Figura 19 Padrões prováveis para a conduta DPpllgcv
124
Ao nível do Desenvolvimento do Processo Ofensivo, a conduta de passe
longo em largura com variação de corredor é activada imediatamente antes
pelo passe curto em largura. Esta tendência pensamos que esteja relacionada
com a incapacidade de criar desequilíbrios na defensiva adversária, optando
por fazer recuar o Centro de Jogo para as zonas do sector intermédio-
defensivo (4 e 6).
Outro aspecto que poderá estar relacionado com a utilização do passe
longo em largura com variação de corredor tem a ver com o facto da equipa
observada se encontrar em vantagem no marcador sentir necessidade de
‘acalmar’ o ritmo de jogo e escolher de forma criteriosa os momentos para
atacar no meio-campo ofensivo.
Enquanto o marcador está igualado, compete-se para manter um certo
equilíbrio entre as funções ofensivas e defensivas, mas quando uma das
equipas ganha vantagem há, por natureza, uma tendência para acontecerem
desequilíbrios nesta ordem/organização. Esta conduta pode ser associada a
temporizações ofensivas. Na realidade, quando as equipas observadas se
encontram em vantagem não renunciam ao ataque, mas mudam um pouco o
estilo de jogo de ataque, optando por algo menos arriscado e que não
desequilibre tanto a equipa.
Prospectivamente, quando a bola se encontra nestas zonas laterais são
excitadas condutas de condução em contexto favorável sem pressão no
portador da bola e em superioridade numérica. Contextualizando,
provavelmente a equipa observada encontra-se em bloco avançado no meio-
campo ofensivo e não conseguindo entrar na organização defensiva do
adversário recua o Centro do Jogo, muda de corredor e coloca a bola num
jogador que não se encontra pressionado e por tal facto avança até às zonas 7
e 9.
Não existe qualquer tipo de envolvimento desta conduta com situações
de Final do Processo Ofensivo para além do acaso.
125
CONDUTA CRITÉRIO: Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento
(DPcrz)
Quadro 4.12 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO, RJ); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ).
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento (DPcrz)
CONDUTA CRITÉRIO
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento (DPcrz)
R -5 R -4 R -3 R -2 R -1 Análise
Retrospectiva-Prospectiva
R +1 R +2 R +3 R +4 R +5
Condutas comportamentais
Início (IPO)
DPi (3.27)
DPplprsv (2.47)
Desenvolvimento (DPO)
- DPpmlgcv
(2.11)
Finalização (FPO)
Fbad (9.78)
Frf (7.42)
Fof (6.6)
RJr (3.22) Ritmo de Jogo (RJ)
10 (2.29) 10 (2.53)
12 (2.21) 12 (4.45)
12 (13.32)
10 (5.98)
Condutas estruturais 11 (17.58)
12 (3.87) 11 (7.02)
11 (3.17)
10 (2.11) 10 (2.24) 10 (3.03)
Espacialização (ETJ)
Pinf (3.8) Pinf (3.19)
SPinf (2.98) Pinf (7.18)
Condutas contextuais
Pinf (4.43) Pinf (2.36) Pinf (2.73) SPinf (3.47) Centro do Jogo
(CJ)
Como é referido no instrumento de observação ad-hoc, o
Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento aéreo para a área
acontece quando o jogador em penetração, situado num dos corredores
laterais e no último quarto de campo, envia a bola para o corredor central em
trajectória aérea, criando uma situação de finalização no Processo Ofensivo.
Atente-se que quando a trajectória da bola foi rasteira considerou-se
como conduta de passe. Os jogadores são obrigados a responder aos
problemas de ordem táctico-estratégica que se colocam no jogo e portanto, o
papel do Treinador é fundamental na elucidação da utilização criteriosa do
cruzamento.
Esta conduta deverá ser considerada apenas mais um meio utilizado
com o propósito de desorganizar a cooperação que acontece entre os
diferentes elementos da equipa adversária. Segundo Silva (2004), o Processo
Ofensivo culmina habitualmente com uma recuperação da bola pelo adversário
126
e apenas 13% das posses da bola terminam com um remate à baliza, e destes,
apenas 4,5% atingem a baliza e 0,6% resultam em golo. Se atentarmos que
esta conduta acontece na zona ofensiva podemos referir que esta tem forte
relação excitatória com os corredores laterais (zonas 10 e 12),
retrospectivamente e uma elevadíssima força de coesão (Z=17.58 no retardo
+1) com o corredor central (zona 11).
Esta conduta tem uma forte componente excitatória com contextos de
interacção desfavoráveis de pressão sobre o jogador com bola e colocados em
situação de inferioridade numérica, tanto de forma retrospectiva como
prospectiva. No nosso estudo, a conduta de cruzamento aéreo para a área tem
três fortíssimas relações de coesão com o Final do Processo Ofensivo com
eficácia como é o caso do remate para fora (Frf) e atingir o sector ofensivo
(Fof) e também sem eficácia resultando na recuperação da posse de bola pela
equipa adversária (Fbad).
Precedendo a conduta de cruzamento aéreo acontecem acções
individuais de condução e até de drible em ritmo rápido, no sentido de
ultrapassar os adversários directos e preparar esta acção táctico-técnica.
Passando para o contexto do jogo, é fácil perceber que os jogadores dos
corredores laterais devem dispor de várias ‘armas’ para desequilibrar os
adversários que se lhe deparam pela frente.
A criatividade e a variação de respostas do ‘driblador’ vai fazer toda a
diferença na altura de enfrentar o adversário directo e ganhar o tão almejado
espaço, deixando-os para trás. Se tivermos em linha de conta que a maior
parte das equipas reforça as suas linhas defensivas mais atrasadas, fazendo
deslocar o seu bloco defensivo para a zona da bola e colocando coberturas
defensivas próximas do jogador que faz a contenção, então também podemos
entender que esta pode ser mais uma solução para o problema que é contornar
essas ‘muralhas’ defensivas.
Relativamente ao critério comportamental e conforme é possível
observar no Quadro 2.14 as condutas de Desenvolvimento do Processo
Ofensivo são prospectivamente activadas no retardo +2 depois de haver uma
excitação das condutas de Final do Processo Ofensivo no retardo +1. De
qualquer forma temos de pensar que há processos ofensivos mais demorados
e que propiciam várias condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo.
127
128
129
5. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos no nosso estudo através da análise sequencial
permitem retirar algumas conclusões pertinentes para responder ao problema
que se colocou no início do trabalho e possibilitando a confirmação ou negação
das hipóteses colocadas. Assim sendo, os resultados permitiram concluir que:
• Existem padrões de jogo ofensivo nas equipas estudadas que
acontecem para além do mero acaso, devido fundamentalmente ao seu
elevado grau de regularidade e probabilidade. Assumindo que o
comportamento dos jogadores varia ao longo do Processo Ofensivo,
encontramos uma relação excitatória que certas condutas mantém entre si,
condutas que podem aumentar a probabilidade de interromper o Processo
Ofensivo e condutas que permitem a sua continuidade e activam situações de
pré-finalização ou mesmo de finalização (ex: remates e golos). Confirma-se
portanto a hipótese 1 do nosso estudo.
• No que diz respeito à hipótese 2, os resultados permitem confirmar que,
durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo no sector intermédio
(especificamente nas zonas 5,6, 7 e 8), um contexto de interacção que coloque
a equipa observada em condições de superioridade numérica no Centro do
Jogo, está relacionado com a eficácia no Final do Processo Ofensivo.
Associadas a este contexto favorável para a equipa observada estão algumas
condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo: a) as acções individuais
como a condução e o drible (DPi), b) o passe curto em profundidade (DPpcpr),
c) o passe médio em profundidade sem e com variação de corredor (DPpmprsv
e DPpmprcv), d) o passe médio em largura com variação de corredor
(DPpmlgcv). O jogador portador da bola pode ou não estar com a pressão dum
adversário directo. A criação de superioridade numérica no sector intermédio
excita condutas de Final do Processo Ofensivo com eficácia quando a bola
atinge o sector ofensivo com a bola controlada (Fof), por remates contra um
adversário (Frad) e com a obtenção de golo (Fgl). Estas configurações
espaciais de interacção relacionam-se com a dinâmica das equipas analisadas,
que tentam jogar com toque de bola, organizando um losango sectorial/inter-
130
sectorial no sector intermédio do campo, o que lhes permite usufruir da
vantagem numérica no Centro do Jogo.
• A hipótese 3 é parcialmente confirmada, na medida em que, a utilização
do passe médio em largura com variação de corredor de jogo seguido dum
passe médio em profundidade com ou sem variação de corredor de jogo,
apenas induz Finais de Processo Ofensivo com eficácia em determinados
contextos. Estas duas condutas terão que se relacionar com acções individuais
para que se active a eficácia no Processo Ofensivo. Caso este contexto não se
proporcione, o Processo Ofensivo continua a desenvolver-se, prolongando-se
no tempo.
• A utilização da variação de corredores no decorrer do Desenvolvimento
do Processo Ofensivo é indispensável na criação de situações de pré-
finalização e de finalização. O Desenvolvimento do Processo Ofensivo por
passe curto em largura ou profundidade não está directamente relacionado
com condutas de interrupção do ataque, mas permite a sua continuidade.
Portanto, a hipótese 4 confirma-se de forma parcial.
• O Final do Processo Ofensivo com eficácia é activado pelas zonas do
sector ofensivo (10, 11 e 12) e por condutas comportamentais individuais e
colectivas efectuadas em ritmo de jogo rápido. Chegou-se à conclusão que o
Processo Ofensivo termina frequentemente com a recuperação da posse de
bola pela equipa adversária.
• As condutas critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo que
mais se associam à eficácia ofensiva são as acções individuais, o passe médio
em profundidade com variação de corredor de jogo, o passe longo em
profundidade sem variação de corredor de jogo e o cruzamento aéreo para a
área.
131
132
133
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Futebol é um jogo de preponderância táctica que necessita de uma
continuada e eficaz resolução das situações de jogo, constrangendo os
jogadores a adaptar-se e readaptar-se a novas situações de jogo. Por se tratar
duma actividade não-linear, não é possível estabelecer-se um ciclo de
comportamento antecipadamente, pois cada situação de jogo tem diversas
formas de poder ser resolvida. No entanto, o estudo fluxo de comportamentos
dos jogadores/equipas de Futebol, permite um mais ajustado conhecimento do
jogo e, sobretudo, dos padrões táctico-técnicos que o configuram que se
descobrem e isso permite-nos melhor intervir sobre ele.
O Futebol revela-se como um desporto de situação que exige que os
jogadores interajam e tenham a capacidade de responder de forma adequada e
eficaz face à grande variabilidade de situações que ocorrem no contexto do
jogo. A cultura táctica que o jogador possui depende das experiências
anteriores e dos seus conhecimentos sobre o jogo e é isso que vai influenciar a
adopção de uma determinada atitude táctico-estratégica.
Se repararmos, em todas as equipas escolhidas para se desenvolver
este estudo, está presente uma Filosofia, um estilo de jogo próprio que as
define e no qual todos os jogadores se sentem confortáveis. Ora, sendo o
Futebol um jogo de equipa que requer máxima capacidade de comunicação e
cooperação entre os seus elementos, o indivíduo só se expressa da melhor
forma no contexto da equipa.
No treino e no jogo, o jogador deve ser encorajado a ter um sentido
colectivo, a ser solidário, cooperante, a ter consciência que é importante
subordinar os interesses pessoais à colectividade para poder vencer-se a
oposição dos rivais.
Note-se que tanto FC Barcelona como AFC Ajax são clubes que sempre
foram associados a uma grande aposta em jogadores provindos do seu
departamento de formação, onde se mantêm os princípios e o estilo que
caracteriza as primeiras equipas, reduzindo assim o tempo de adaptação
quando chegam ao plantel profissional. O facto de serem acompanhados por
Treinadores que estiveram com alguns jogadores nas etapas de formação,
134
permite que se saltam várias etapas de adaptação. Convenhamos que quando
chegam novos jogadores a um clube é preciso tempo para que estes se
adaptem, independentemente de serem grandes jogadores. Precisam de
tempo para que se criem hábitos de relacionamento em torno de algo de
significado comum, para saber como é que o jogador mais próximo prefere
receber a bola.
Desenvolver cultura táctica nos jogadores é portanto um indicador
imprescindível para o sucesso. A Táctica constitui-se como um conjunto de
referências que o jogador tem para decidir e responder face a um determinado
contexto, determinado pela posição da bola, dos companheiros, dos
adversários, do espaço de jogo, da proximidade da baliza, pelas experiências
vividas anteriormente e pelo talento que cada jogador tem.
O Futebol está numa sub-zona limite entre a ordem e o caos, portanto
pertencente ao âmbito da complexidade. Tacticamente, é importante que se
compreenda que não há ataque e defesa em separado. Há sim um equilíbrio
que tem que se produzir na equipa e a forma como se defende influencia e
condiciona os movimentos no ataque e vice-versa. Os momentos de transição
entre os dois momentos têm cada vez mais preponderância no Futebol.
Hoje em dia emerge uma grande obsessão por colocar muitos jogadores
a defender atrás da linha da bola e uma maior capacidade de Organização
Defensiva das equipas. Cada vez se nota mais as dificuldades em provocar
surpresa nos adversários para criar situações de finalização e em finalizar. Em
termos globais, a defesa tem ganho uma evidente preponderância em relação
ao ataque e como consequência disso é cada vez mais relevante estudar o
Processo Ofensivo para perceber como é que este pode tornar-se mais
objectivo, através da criação de oportunidades de finalização e concretização
das mesmas.
No fluxo comportamental das equipas analisadas podem encontrar-se
traços ou características que se identificam com uma determinada Filosofia e
estilo de jogo. A partir da análise atenta e dos resultados obtidos relativamente
aos padrões comportamentais podemos identificar os princípios e sub-
princípios de jogo mais marcantes dos quatro momentos de jogo nestas
equipas.
135
Apresentamos de seguida essas regularidades e juntamos algumas
recomendações em relação ao processo de ensino-aprendizagem e a aspectos
ligados à metodologia de treino.
Na Organização Ofensiva:
� As equipas organizam-se através da bola; a posse/circulação da bola é
a primeira consigna. Este aspecto permite-lhes assumir o jogo (riscos),
isto é, ter a iniciativa.
� Todos os jogadores estão conscientes das suas missões em campo,
procurando apoiar-se num bom jogo posicional (disciplina de posição!),
no jogo de apoios constantes, no movimento da bola a 2 toques.
� Começam normalmente a construir pela sua linha defensiva (saídas
curtas), acontecendo uma progressão lógica da bola que faz com que
passe pelos médios antes de chegar aos avançados. Sobem
rapidamente para bloco alto a atacar. Utilizam diferentes
comportamentos e formas de actuar em função da zona do campo em
que se encontram.
� A ocupação da zona intermediária através dum meio-campo organizado
em triângulo/losango permite que haja um ritmo veloz da bola durante a
circulação, possibilitando aos médios a criação de espaços.
� Utilizam toda a largura do campo para atacar, colocando nos corredores
laterais jogadores muito fortes em recursos para a resolução de
situações de “um contra um”.
Na Transição ataque-defesa:
� Embora se reconheçam algumas nuances tácticas no desenvolvimento
das transições após perda da posse de bola, no global, os princípios e
sub-princípios que orientam o comportamento individual/colectivo nestes
momentos são coincidentes, essencialmente no que diz respeito a
mudanças de atitude.
� Há uma pressão (ataque-aceleração) imediata ao portador da bola por
parte dum jogador.
136
� Acontece uma aceleração por parte dos jogadores mais próximos,
dando coberturas defensivas, para fechar os espaços que rodeiam a
zona da bola.
� Verifica-se uma aproximação/fecho de linhas por parte de toda a equipa,
tanto em termos de largura como profundidade, para não haver
possibilidade da bola ser jogada entre espaços. A linha defensiva realiza
um movimento de aproximação na direcção da zona da bola, utilizando o
‘fora-de-jogo’ para contrariar o espaço em profundidade nas suas
costas.
Na Organização Defensiva:
� Defendem com as linhas juntas, normalmente em bloco alto, ou seja, a
linha defensiva adianta-se constantemente para fazer ‘campo pequeno’
e poder ter superioridade numérica no centro do campo e situar-se no
meio-campo adversário. Podem também defender em bloco médio ou
baixo, de forma mais esporádica.
� A última linha defensiva joga portanto quase sempre adiantada, com
muita profundidade nas suas costas, ajudando este aspecto no ganho
de segundas bolas pelos médios.
� Defendem avançando as suas linhas para o meio-campo adversário,
tentando provocar o erro, reduzindo os espaços de forma que este não
tenha situações de vantagem.
� É notória a boa definição dos princípios e sub-princípios no sentido dos
jogadores identificarem as alturas de avançar no terreno, de temporizar
ou mesmo de recuar.
Na Transição defesa-ataque:
� Quando ganham a posse de bola preferem jogar em segurança,
preferindo evitar os jogos de transição que, como se sabe, são difíceis
de controlar, podendo pender para qualquer um dos lados. Preferem
utilizar linhas de passe mais próximas para que a equipa tivesse
possibilidade de continuar a jogar apoiado.
137
� Tentam retirar a bola da zona de pressão (pela frente, pelo lado ou por
detrás) para um jogador em 2º estação livre que esteja sempre de frente
para o jogo. Normalmente este jogador recebe em contextos de
interacção favorável dispondo de mais tempo para fazer a ‘leitura de
jogo’ e decidir em função disso.
� Podem utilizar passes de ‘1.ª estação’ e, mesmo assim, conseguem
continuar o Processo Ofensivo na maior parte das vezes. A capacidade
de utilizar o primeiro toque para passar e depois desmarcar, atrasava a
pressão do adversário e permitia que houvesse continuidade no
Processo Ofensivo por Ataque Posicional.
� Por vezes correm risco, utilizando passes de médio/longo alcance em
profundidade para colocar a bola em posições mais vantajosas para o
atacante.
Para que estes comportamentos sejam regulares é preciso recorrer ao
treino. A missão dum Treinador é desenvolver um modelo de treino que
acompanhe as necessidades do jogo e que permita que os jogadores/equipa
se apresentem com níveis óptimos de prestação durante a competição.
Segundo Seirul-lo (2001), o melhor treino é aquele que consegue
reproduzir fielmente uma situação para que o jogador que participe nela
optimize certos sistemas que são reconhecidos inequivocamente como de
participação necessária para resolver essa situação proposta.
A concretização deste processo está dependente do uso duma
Metodologia apropriada, específica, que sustente os Princípios do Modelo de
Jogo do Treinador e deve começar a ser apresentada desde a base da
pirâmide (nas primeiras etapas de formação dos jogadores).
Neste tópico é preciso chamar à atenção para os plágios que acontecem
dos Modelos de Jogo de equipas de excelência. Esses Treinadores esquecem-
se que o processo de ‘descoberta guiada’ depende do contexto cultural, do
trauma de relações que existem no grupo de jogadores em questão e das suas
características.
O processo ensino-aprendizagem começa por ensinar os jogadores a
interpretar (percepção), a decidir e a executar as situações de jogo adequadas
138
porque o jogador quer conhecer melhor o jogo (conhecimento declarativo +
cultura táctica), quer perceber o porquê das coisas para poder ‘integrar’ os
conteúdos.
O exercício é o meio táctico por excelência para criar hábitos em função
do jogo que se quer implementar, mas é precisa alguma sensibilidade e
cuidado para que se desenvolva numa perspectiva sistémica e holística, ou
seja, sem perder em nenhum momento a noção do ‘todo’ e preservando as
relações que existem entre as partes.
Os exercícios deverão seguir uma linha metodológica, relacionando o
presente com a exercitação anterior e com o que será realizado a posteriori,
iniciando-se em tarefas menos complexas e de menor dificuldade e passando
para tarefas mais difíceis e complexas.
Por exemplo, nestas equipas, há uma dinâmica muito grande na
posse/circulação da bola. Para que isso aconteça no jogo é preciso que: a) os
jogadores estejam bastante comprometidos e acreditem/sintam o que estão a
fazer; b) se desenvolvam actividades no treino que cultivem a tomada de
decisões de forma rápida (contexto de superioridade numérica significativa); c)
a equipa tenha a iniciativa de jogo porque isso está relacionado com a posse
de bola.
O facto da equipa jogar em terreno próprio e se encontrar bem
posicionada na tabela classificativa ou ter bons desempenhos na competição
pode igualmente ajudar.
No treino estas situações de posse/circulação (Organização Ofensiva)
deverão ser exercitadas, tendo sempre em linha de conta a lógica do jogo, isto
é, as tarefas deverão colocar os jogadores em situação de Transição Defensiva
quando perdem a bola e de Organização Defensiva se não a conseguirem
recuperar nos instantes imediatos. A utilização de balizas nestas actividades
ajudará os jogadores a criar o hábito de defender e atacar algo.
O Processo Ofensivo é diverso no que diz respeito ao aspecto
comportamental, dependendo da zona onde a bola se encontre e portanto é
importante também que a intervenção do Treinador seja no sentido da
orientação dos jogadores, partindo de situações mais programadas perto da
baliza que defendem, passando para situações ainda de alguma ordem no
sector intermédio e terminando em situações que provoquem comportamentos
139
mais criativos e inesperados em zonas de sector ofensivo (perto da baliza do
adversário).
As acções individuais nos corredores laterais (zonas 10 e 12) foram a
conduta critério que excitou a obtenção do golo e no treino deverá ser atribuída
séria atenção a estas condutas. Para os jogadores que actuam nestas zonas
do campo é decisivo o domínio de situações básicas como o 1x1, 1x2, 2x1, 2x2
e 2x3.
Durante as tarefas, o Treinador deve observar, ter critério e capacidade
de diagnóstico para saber o que o jogador e a equipa necessitam. Portanto,
todos os exercícios propostos devem promover a criação de sinergias entre os
jogadores, concentrando-se no essencial que é a componente táctica
(cognitivo-decisional), que arrasta consigo as outras.
Ainda há quem pense que treinar muito é treinar bem, com receio que a
opinião pública classifique a equipa como estando mal ‘fisicamente’, apostando
em sessões duplas e triplas, quando o mais importante é que se aproveite os
períodos de maior predisposição dos jogadores para o trabalho.
Todas as actividades apresentadas deverão fomentar mais as
capacidades de antecipação em relação às reactivas. Os exercícios em
espaços reduzidos são de imperial importância pois obrigam os jogadores a
estar juntos para defender e proporciona o jogo apoiado quando se ataca.
Permite colocar os jogadores ante perdas e recuperações de bola constantes,
incidindo nas mudanças de atitude e obrigando a uma maior
concentração/motivação no exercício.
O Treinador é um observador de condutas, que analisa os
desempenhos dos jogadores e avalia o rendimento da equipa, percebendo se
pode avançar para a introdução de novos conceitos tácticos.
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