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Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro
O Condomínio Edilício e as Obrigações Propter-Rem
Ioná Cristina Araujo Butler
Rio de Janeiro
2013
IONÁ CRISTINA ARAUJO BUTLER
O Condomínio Edilício e as Obrigações Propter-Rem
Artigo cientifico apresentado como
exigência de conclusão de Curso de Pós-
Graduação Lato Sensu da Escola de
Magistratura do Estado do Rio de Janeiro
em Direito Processual Civil Professores
Orientadores:
Néli Luiza C. Fetzner
Nelson C. Tavares Junior
Rafael Iorio
Rio de Janeiro
2013
2
O CONDOMÍNIO EDILÍCIO E AS OBRIGAÇÕES PROPTER REM
Ioná Cristina Araujo Butler
Graduada pela Universidade Gama Filho.
Advogada.
Pós-graduada em Direito Notarial e Registral pela
Universidade Gama Filho - POSEAD
Especialista em Processo Civil pela EMERJ
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo, elucidar a matéria sobre o
Condomínio Edilício, as obrigações propter-rem na adjudicação compulsória e no instituto
da adjudicação – fase do processo de execução. O Condomínio edilício (arts. 1331 a 1358)
se diferencia do condomínio comum (arts. 1314 a 1330), pois naqueles há partes comuns e
partes exclusivas, ao passo que o condomínio comum existem multiproprietários onde todos
detêm a propriedade em comum, sem individualizações. Para tanto, é necessário que se
tenha uma visão global do fato, bem como de suas implicações e do próprio mundo jurídico,
Assim, o objetivo do presente estudo, é buscar no ordenamento jurídico sua aplicabilidade,
de acordo com a nossa realidade social.
Palavras-chave: Condomínio edilício – obrigações e adjudicação compulsória.
Sumário: 1. Fundamentação teórica do tema proposto. Conceito. 1.2. Forma.
Instituição do Condomínio edilício. 2. Débitos do Alienante. Obrigação Propter-Rem.
2.1. Adjudicação Compulsória no Condomínio Edilício. 2.2 A adjudicação realizada em
processo de execução e a responsabilidade tributária de débitos anteriores 3.
Conclusão. 4. Referencias.
INTRODUÇÃO.
O trabalho consiste em uma análise da relação entre o condomínio, suas obrigações e
a adjudicação compulsória, sendo evidentemente, a mais comum, a que se faz por ato entre
vivos, por meio de um requerimento dos interessados, por escritura pública ou particular.
3
O objetivo maior estará fixado, primordialmente, em demonstrar que consiste e
como se opera. A instituição do condomínio é, portanto o ato que institucionaliza a
propriedade como condomínio especial, dando origem à conceituação das partes da
edificação que se constituem “propriedade exclusiva” e das partes que são “propriedade
comum”.
O instituto do condomínio edilício tem por objeto as edificações, ou mesmo o
conjunto de edificações composto de um ou mais pavimentos, construídos sob a forma de
unidades isoladas entre si, seja para fins residenciais ou não residenciais. Dentre as
edificações destinadas para fins não residenciais, destacam-se escritórios, garagens,
mercados, estações rodoviárias, shopping centers e, por extensão, vilas residenciais,
loteamentos fechados e até cemitérios particulares com jazigos individuais ou coletivos, etc.
Neste sentido, ressalta-se que o condomínio edilício, então, é uma ficção jurídica que
existe na órbita do direito, sendo, para a doutrina, uma quase-pessoa, pois a nova lei civil
não lhe deu personalidade jurídica. Possui personificação anômala, tendo em vista o Código
de Processo Civil (em seu artigo 12, inciso IX) atribuir ao síndico sua representação
processual. Dentro de seu âmbito de atuação, pode-se dizer que o condomínio tem
existência formal. Mais adiante, apresentaremos as considerações e divergências de alguns
doutrinadores acerca do instituto, tendo em vista que nem mesmo a Lei 4.591/64, que
disciplinou a matéria teceu comentários a respeito de uma denominação mais própria do
instituto, no qual prevalece a o entendimento de Caio Mário da Silva Pereira. Com sua
personalidade anômala, o condomínio em edifícios compra, vende, empresta, loca ou dá em
locação, presta serviços, emprega, recolhe tributos. Enfim, dentro de seu âmbito de ação,
atua na vida negocial como qualquer pessoa jurídica.
Em segundo lugar o tema é oportuno para analisar o aspecto obrigacional “propter
rem”. A Obrigação Propter Rem só pode ser extinta de um proprietário com a tradição da
coisa a um novo proprietário, quando este assume a obrigação, a sua responsabilidade, ou
quando adquirido em hasta pública, este último tópico de forma diferenciada, tendo em vista
a forma originária da aquisição. Ou pelo abandono, em que se deixa a obrigação quando ao
mesmo tempo deixa-se o status de posse sobre a coisa. O abandono que extinguir a
obrigação propter rem, é a mesma que extingue a posse, logo não há o que se dizer de
suspensão mas em perda definitiva do direito à coisa.
4
1- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO TEMA PROPOSTO. CONCEITO.
O condomínio edilício caracteriza-se pela coexistência de áreas de propriedade
particular autônomas e áreas comuns titularizadas por mais de um co-proprietário. Isto
posto, é a forma como é tratado pelo Código Civil; o conjunto de edificações
caracterizado pela existência de partes exclusivas e partes comuns, englobando portanto
tanto os condomínios verticais (de prédios), quanto os horizontais (de casas). O
Condomínio edilício (arts. 1331 a 1358) se diferencia do condomínio comum (arts.
1314 a 1330), pois naqueles há partes comuns e partes exclusivas, ao passo que o
condomínio comum existem multiproprietários onde todos detêm a propriedade em
comum, sem individualizações.1
A palavra edilício pode ter a sua origem com base em "edil", que é a nomenclatura
utilizada, conforme preceitua o artigo 1.331 do Código Civil e seus parágrafos.
Art. 1.331. Pode haver, em edificações, partes que são
propriedade exclusiva, e partes que são propriedade
comum dos condôminos.
§ 1o As partes suscetíveis de utilização independente, tais
como apartamentos, escritórios, salas, lojas, sobrelojas ou
abrigos para veículos, com as respectivas frações ideais no
solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se a propriedade
exclusiva, podendo ser alienadas e gravadas livremente por
seus proprietários.
§ 2o O solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral
de distribuição de água, esgoto, gás e eletricidade, a
calefação e refrigeração centrais, e as demais partes
comuns, inclusive o acesso ao logradouro público, são
utilizados em comum pelos condôminos, não podendo ser
alienados separadamente, ou divididos.
§ 3o A cada unidade imobiliária caberá, como parte
inseparável, uma fração ideal no solo e nas outras partes
1 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Direito das Coisas. v. IV. 6ª ed. São
Paulo. Saraiva, 2009. p – 59.
5
comuns, que será identificada em forma decimal ou
ordinária no instrumento de instituição do condomínio.
(Redação dada pela Lei nº 10.931, de 2004)
§ 4o Nenhuma unidade imobiliária pode ser privada do
acesso ao logradouro público. § 5o O terraço de cobertura
é parte comum, salvo disposição contrária da escritura de
constituição do condomínio.
O que predomina entre grande parte dos doutrinadores é a denominação utilizada
por Caio Mário da Silva Pereira: “Propriedade Horizontal” entre muitas outras
denominações justificáveis por seus defensores. Por fim, o novo código civil solucionou
a discussão denominando o instituto “de condomínio edilício”, além dessa denominação
peculiar, o seu regime de propriedade possui características específicas para o seu
nascedouro, ou seja, necessário se faz a existência de um ato próprio denominado
“instituição de condomínio”.2
Outra peculiaridade para a extinção do regime da propriedade edilícia, é
necessária a manifestação de vontade unânime de todos os condôminos neste sentidos.
Uma outra característica desse instituto é a presença de duas formas distintas de
propriedade que coexistem harmonicamente ao mesmo tempo, vale dizer , cada
condômino é proprietário exclusivo de sua unidade autônoma, enquanto ao mesmo
tempo, é co-proprietário na parte de uso comum. Não se trata de ser uma propriedade
principal e a outra acessória desta, como pensam alguns doutrinadores; trata-se de serem
ambas igualmente necessárias, ao ponto de inexistindo a propriedade exclusiva, ou
inexistindo a propriedade comum inexistir o instituto.
1.2 - FORMA: ESCRITURA PÚBLICA OU PARTICULAR – INSTITUIÇÃO DO
CONDOMÍNIO EDILÍCIO
A instituição do edifício edilício pode se dar das seguintes formas: por
testamento, previsto no novo Código Civil e na Lei 4.591/64, sendo que está disposição
de vontade deverá ser inserida no próprio testamento; por ato unilateral, ou seja, pode
ser promovida por um único proprietário, muito embora a concepção de “condomínio”
sempre diga respeito à comunhão e a existência de mais de um titular de direitos sobre o
2 Idem, p- 43 – 44.
6
imóvel e sobre as partes de uso comum, parece uma contrariedade se admitir a
instituição por está modalidade. Todavia, uma única pessoa não institui condomínio, e
sim o regime de propriedade deste; por acordo de vontades vale dizer quando um grupo
de pessoas possuem um terreno em comum e nele edificam um prédio “construção por
administração”; por decisão judicial quando um empreendimento deverá ser instituído o
regime da propriedade especial, devendo para tanto constar da decisão a
individualização das unidades, memoriais descritivos para que se proceda o seu registro.
De toda forma, se faz necessário esclarecer que estas formas devem ser escritas,
independente da modalidade que foram instituídas, de acordo com art. 1332 do novo
Código Civil e a o art. 7° da Lei 4.591/64.
A instituição do condomínio pode se dar tanto pelo instrumento público, como
por instrumento particular. O ideal é que seja elaborado por instrumento público, em
cartório de notas, através de notário que irá elaborar um instrumento que contenha todos
os requisitos legais, afim de que tenha acesso sem entraves ao registro imobiliário.3
A Lei nº 6.015/73, em seu artigo 1º menciona que: "os serviços concernentes aos
Registros Públicos [...] para autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos,
ficam sujeitos ao regime estabelecido nesta Lei", esclarecendo, portanto a Lei nº
8.935/94, artigo 1º, que os "Serviços notariais e de registro são os de organização
técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança
e eficácia dos atos jurídicos.”
Isto posto, destaca-se o papel do notário e registrador, em garantir a segurança e a
eficácia dos negócios jurídicos que lhe são submetidos à qualificação para fins de
constituição de direitos sobre imóveis, obstando, sem receio, o registro de documentos
que não atendem o requisito de forma prescrita em lei, como é o caso dos escritos
particulares de compra e venda de imóvel, e a própria instituição de condomínio pela
via particular, este ultimo sem a observação dos critérios de formalização para sua
validade, de acordo com Mário Pazzuti Mezzario, em sua obra “Condomínio e
Incorporação no Registro de Imóveis”.
O instrumento de instituição do condomínio deverá conter os requisitos necessários,
tal qual conste na matrícula no registro de imóveis onde está registrado o terreno ou
edificação, bem como o número da matricula onde está registrado. Está exigência tem a
3 CARBONARI, Silvia Regina de Assumpção. A unidade Autônoma no Condomínio Edilício. Porto
Alegre: Norton Editor, 2006, p- 68.
7
finalidade de atender o principio da especialidade registral, sendo um dos princípios que
norteiam a atividade do registro imobiliário e pelo qual o imóvel deve está
perfeitamente identificado, consoante o art. 176 § 1°, II, 3 e art. 222 da Lei 6.015/73.
2. DÉBITOS DO ALIENANTE . OBRIGAÇÃO “PROPTER REM”
É possível conceituar as obrigações propter rem como a obrigação que seguem o
objeto real (coisa), como por exemplo as taxas de condomínio a um imóvel como o IPTU. O
Ilustre doutrinador Washintong de Barros4 entende que:
“Outra conceituação é que obrigação "é uma relação jurídica
transitória de cunho pecuniário, unindo duas (ou mais) pessoas,
devendo uma (o devedor) realizar uma prestação à outra (o credor)."
E completando-a recorremos a outros conceitos como "obrigação é a
relação transitória de direito, que nos constrange a dar, fazer ou não
fazer alguma coisa, em regra economicamente apreciável, em
proveito de alguém que, por ato nosso ou de alguém conosco
juridicamente relacionado, ou em virtude da lei, adquiriu o direito de
exigir de nós essa ação ou omissão (3)
."; "obrigação é a relação
jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e
cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou
negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o
adimplemento através de seu patrimônio”
Isto posto, as obrigações "propter rem" são:5
4 BARROS MONTEIRO,Washington de. Curso de Direito Civil. Vol.4.25a Ed. 1991 Editora
Saraiva, São Paulo, p- 97.
5 Disponível em http://silviolobo.com.br/phplobo.1.5/index.php?option=com_content&view=article&id=
183:prop&catid=43:artigos.
8
- A obrigação que tem o condômino de contribuir para a
conservação ou divisão do bem comum; -A obrigação dos
proprietários de imóveis vizinhos de concorrer para as despesas de
construção de tapumes divisórios; -A obrigação do adquirente de
um bem hipotecado de saldar a dívida que a este onera se quiser
libera-lo; -A obrigação que tem o proprietário de coisas incorporadas
ao patrimônio histórico e artístico nacional de não destruir ou
realizar obras que modifique a aparência destes; -A obrigação dos
proprietários de imóveis confinantes de concorrer para as despesas
de demarcação e renovação dos marcos divisórios destruídos; -A
obrigação negativa no caso da servidão, onde o dono do prédio
serviente não pode embaraçar o uso legítimo da servidão; -A
obrigação do proprietário de prestar caução referente a dano
iminente em prédio vizinho; -As obrigações atinentes ao direito de
vizinhança;
A Obrigação Propter Rem só pode ser extinta de um proprietário com a tradição da
coisa a um novo proprietário, quando este assume a obrigação. Ou pelo abandono, em que
se deixa a obrigação quando ao mesmo tempo deixa-se o status de posse sobre a coisa. O
abandono que extinguir a obrigação propter rem, é a mesma que extingue a posse, logo não
há o que se dizer de suspensão mas em perda definitiva do direito à coisa. Vejamos alguns
entendimentos jurisprudências que norteiam a matéria:
PODER JUDICIÁRIO - SÃO PAULO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA - 34a CÂMARA DE DIREITO PRIVADO
AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 1.219.012.0072
SANTOS - 8a VARA CÍVEL
AGRAVANTE: NICOLINO BOZZELLA
AGRAVADO: CONDOMÍNIO EDIFÍCIO VAN GOGH
DESPESAS DE CONDOMÍNIO - COBRANÇA - EXECUÇÃO
DESPESAS CONDOMINIAIS - EXECUÇÃO - OBRIGAÇÃO
PROPTER REM - PENHORA DA UNIDADE CONDOMINIAL -
POSSIBILIDADE. Tratando-se de obrigação propter rem, mostra-se
9
possível a penhora da própria unidade condominial que deu causa ao
débito, estando a mesma abrangida na exceção consagrada no art. 3o,
IV, da Lei 8.009/90. RECURSO IMPROVIDO.
VOTO N° 6789
1. Trata-se de agravo de instrumento interposto por Nicolino
Bozzella, visando a reforma da respeitável decisão, proferida em sede de
ação de cobrança de despesas condominiais, em fase de execução, que
indeferiu a substituição da penhora da unidade devedora, por imóvel
menos oneroso ao devedor.
Inconformado, o agravante sustenta a necessidade de substituição da
penhora por imóvel menos oneroso, bem como a impenhorabilidade do
mesmo, posto que é bem de família.
O recurso tramitou sem efeito suspensivo (fls. 37). O agravado
apresentou resposta (fls. 40/93), requerendo a condenação do agravante
por litigância de má-fé.
É a síntese do essencial.
2. Trata-se de ação de cobrança de despesas condominiais, ajuizada pelo
condomínio em face do condômino, sustentando que o requerido não
honrou o pagamento das despesas condominiais.
A responsabilidade pelas dívidas condominiais é propter rem, pois
garantida direta e integralmente pelo próprio bem que as originou. [...]
Não é apenas os impostos uma obrigação propter rem, este é apenas um exemplo.
Toda a obrigação que segue a coisa, como a servidão do terreno, como qualquer outra que
siga a coisa.
Ao final considera-se a obrigação propter rem como a natural da responsabilidade
pela coletividade, seja pelo terreno grafado pela servidão necessária para passagem, seja
pelo condomínio necessário para manutenção e conservação da coisa. Não há o que se dizer
em separação desta obrigação da coisa, sem se falar em deterioração ou prejuízos ao
coletivo.
10
2.1 ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA PELO CONDOMÍNIO EDILÍCIO
Admite-se, a adjudicação compulsória pelo condomínio edilício mesmo que o
imóvel não esteja devidamente registrado. Discutia-se acerca da legitimidade do
condomínio edilício ser titular de uma unidade autônoma. Argumento este que atualmente
vem sendo sustentado positivamente pelos nossos Tribunais, no sentido, de que o
condomínio pode adjudicar a unidade autônoma, realizando o registro imobiliário em seu
nome, através do sindico em exercício.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA - DÉCIMA CÂMARA CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0094944-45.2007.8.19.0001
Apelante: OSCARINA RODRIGUES PORTELA
Apelados: ARNON AFFONSO DE FARIAS MELLO e OUTROS
Relator: Desembargador CELSO LUIZ DE MATOS PERES
Ação de adjudicação compulsória. Instrumento particular celebrado
em abril de 1958, denominado “Carta Proposta”, tendo por objeto a
fração ideal do terreno, correspondente à futura unidade residencial.
Ausência de regularização do empreendimento perante a Serventia
Registral Imobiliária, constando matriculado apenas o terreno onde se
erigiu o condomínio edilício. Para o acolhimento do pleito de
adjudicação compulsória, deve se verificar, além de outros requisitos
legais, se o contrato objeto da demanda apresenta a correta
discriminação do imóvel, bem como a qualificação completa das
partes, cabendo à parte autora comprovar a quitação integral do
financiamento. A ação de adjudicação compulsória ostenta natureza
obrigacional uma vez que derivada de contrato de promessa de
compra e venda, sendo interessante distinguir o direito que se
pretende tutelar do ato de transmissão da propriedade imobiliária.
Eventual procedência da ação de adjudicação compulsória apenas
reconhece em favor da demandante o direito à conclusão da relação
obrigacional, sendo a respectiva carta de sentença titulo hábil a ser
apresentado perante a Serventia Registral, na forma do artigo 221,
inciso IV da Lei 6.015/73. Pretensão da autora não pode ser obstada
pela ausência de regularização do condomínio edilício, tratando-se de
matéria distinta do direito pleiteado que, repita-se, ostenta natureza
obrigacional e pessoal, enquanto a instituição do condomínio
11
encontra-se vinculada à seara registral imobiliária. Provimento do
apelo.
[...] Resta, portanto, apenas a apreciação da possibilidade de se
reconhecer em favor da autora o direito à adjudicação compulsória de
unidade residencial que não foi objeto de regularização perante a
Serventia Registral, havendo apenas o registro do terreno onde foi
incorporado o mencionado condomínio edilício.
[...] Nesse sentido, eventual procedência da ação de adjudicação
compulsória apenas reconhece em favor do demandante o direito à
conclusão da relação obrigacional existente entre o promitente
comprador e promitente vendedor, sendo a respectiva carta de
sentença, extraída após o trânsito em julgado, titulo hábil a ser
apresentado perante a Serventia Registral, na forma do artigo 221,
inciso IV da Lei 6.015/73.
[...]Assim sendo, DÁ-SE PROVIMENTO ao recurso, para reconhecer
em favor da autora o direito à adjudicação compulsória do imóvel
mencionado na inicial, condenando a parte ré ao pagamento de custas
processuais e honorários advocatícios que fixo em dez por cento
(10%) sobre o valor da causa.
O Ilustre Desembargador Relator Celso Luiz de Matos Peres, conforme o acórdão
supracitado acolheu o pleito de adjudicação compulsória, pois constatou que a pretensão da
autora não poderia ser obstada pela ausência de regularização do condomínio edilício,
tratando-se de matéria distinta do direito pleiteado que, ostenta natureza obrigacional e
pessoal, enquanto a instituição do condomínio encontra-se vinculada à seara registral
imobiliária.
2.2 A ADJUDICAÇÃO REALIZADA EM PROCESSO DE EXECUÇÃO, E A
RESPONSABILIDADE QUANTO AOS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS ANTERIORES.
A adjudicação é uma figura semelhante à dação em pagamento, uma forma indireta
de satisfação do crédito do exeqüente, que se realiza pela transferência do próprio bem
penhorado ao credor, para a extinção de seu direito.
Destarte, constitui requisito fundamental para a adjudicação uma anterior tentativa
de arrematação do bem penhorado. Assim, clarividente fica a necessidade do tratamento
12
análogo aos institutos, visto que o nosso Código de Ritos não se aprofunda no que se refere
à adjudicação.
Outrossim, sendo a natureza da sentença de adjudicação de caráter constitutivo,
pode-se afirmar que o modo de aquisição na arrematação é o originário, visto que forma-se
um novo direito sobre o bem adjudicado.
O modo de aquisição originário está perfeitamente caracterizado no dizer de Caio
Mário da Silva Pereira: " Diz-se originária, quando o indivíduo, num dado momento, torna-
se dono de uma coisa que jamais esteve sob o senhorio de alguém. É uma propriedade que
se adquire sem que ocorra a sua transmissão por outrem, seja voluntária ou involuntária,
direta ou indireta. E resulta numa propriedade sem relação causal com o estado jurídico
anterior da própria coisa".
Portanto, o adjudicatário não restará responsável por qualquer dívida anterior,
receberá o bem desembaraçado de qualquer débito, mesmo aqueles que são oriundos do
exercício da propriedade “propter rem”, visto que não há como se olvidar da evidente
analogia do instituto da adjudicação perante a arrematação.
3 . CONCLUSÃO:
Diante do exposto, conclui-se que o instituto sobre o Condomínio edilício no
Registro de Imóveis, deve seguir uma dinâmica com fundamentos a alguns critérios
estabelecidos pelo Código Civil, A Lei 6.015/73 e a Lei 4591/64 que norteiam o direito,
envolvendo tanto compradores, vendedores, condôminos e o registro de imóveis.
O Condomínio edilício (arts. 1331 a 1358) se diferencia do condomínio comum (arts.
1314 a 1330), pois naqueles há partes comuns e partes exclusivas, ao passo que o
condomínio comum existem multiproprietários onde todos detêm a propriedade em comum,
sem individualizações.
A expressão de condomínio edilício passou a ser adotada pelo novo Código Civil, sem
melhor caracterização, talvez como forma de destacar os condomínios tradicionalmente
conhecidos (prédios constituídos por diversas unidades com áreas privativas e comuns), das
novas situações classificadas pelo mesmo código.
Verificou-se também, que o condomínio se institui por testamento (somente pode ser
praticado através de um Tabelião de Notas), por ato unilateral, por acordo de vontades e por
decisão judicial, ou por incorporação imobiliária, neste último o incorporador poderá
13
negociar sobre unidades autônomas após ter cumprido exigências da lei e arquivado a
documentação necessária no registro de imóveis.
Entretanto, os condôminos possuem obrigações como, por exemplo; pagar a quota
parte das despesas; não invadir área comum; não utilizar a unidade autônoma de modo
contrário a finalidade do prédio e etc.
Analisamos no decorrer da pesquisa, que a natureza jurídica do condomínio, o fato
de que o condomínio dá o direito de usufruto, disposição e reivindicação da quota parte
ideal que cabe a cada condômino, considera-se a natureza jurídica de tal instituto de caráter
individualista, já que as partes pertencentes a cada sujeito do condomínio são ideais, uma
vez que o conceito de condomínio é o da indivisão da coisa, por isso a propriedade comum
sobre a coisa, vale dizer a coexistência entre propriedade individual e comum.
Ainda neste sentido, para elucidar a pesquisa, temos que a obrigação Propter Rem
acompanha a coisa independente de seu titular no registro imobiliário. Assim, se alguém
vende um terreno e estava a dever o imposto territorial, ou alguma taxa correspondente a
prestação de serviços relacionados com o imóvel, ou uma contribuição de melhoria, o
adquirente fica obrigado ao respectivo pagamento.
Foi possível também, concluir que na adjudicação compulsória devem ser
observados alguns requisitos legais estando em consonância, com o princípio da
especificação principio de direito registral, bem como a ação de adjudicação compulsória
que não tem o condão de inaugurar nova cadeia dominial e não sendo modo originário de
aquisição da propriedade; portanto todos os débitos inerentes a propriedade transferem-se ao
novo proprietário, o que difere da adjudicação – instituto processual que permite ao credor
obter a coisa em lugar de soma em dinheiro, que é o objeto específico da execução por
quantia certa. Na adjudicação realizada em sede de execução processual o credor satisfaz
seu crédito adquirindo bens do executado, numa operação que não possui natureza
contratual, pois possui a mesma natureza da arrematação, como ato executivo ou de
transferência forçada de bens, sob forma de expropriação.
E ainda por último, a importância do papel do notário e registrador na instituição do
Condomínio Edilício, afim de regular esta forma de propriedade especial, bem como regular
de certa forma através da vontade dos proprietários as formas de uso desta propriedade e
evitar conflitos, em consonância com a função social da mesma, princípio este
constitucional.
14
REFERÊNCIAS:
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Saraiva, São Paulo.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado, 1988.
BRASIL. Código Civil. 3ª.ed. rev. atual. amp. São Paulo: Saraiva, 2007. (Saraiva, Vade
Mecum).
BRASIL. Código de Processo Civil. 3ª.ed. rev. atual. amp. São Paulo: Saraiva, 2012.
(Saraiva, Vade Mecum).
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 jan. 2002. Código Civil Brasileiro. Júris Síntese nº 60.
Agosto/2006.
Brasil, Lei 8.245, de 18 out. 1991. Lei do Inquilinato. Júris Síntese nº 60. Agosto/2006.
CARBONARI, Silvia Regina de Assumpção. A unidade Autônoma no Condomínio Edilício.
Porto Alegre: Norton Editor, 2006.
COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de Direito Civil. Direito das Coisas. v. IV. São Paulo.
Saraiva. 2006
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 12. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2005.
NEGRÃO, Theotonio. Código Civil e Legislação em vigor. São Paulo: Saraiva, 2012.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil, vol. 5: Direitos Reais. 5a ed. São Paulo: Atlas,
2002.
PEREIRA Caio Mário da Silva Pereira. Instituições do Direito Civil, Vol. IV, 12ª edição,
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15
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, São Paulo: Malheiros, 8º edição,
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Acesso Eletrônico
http://silviolobo.com.br/phplobo.1.5/index.php?option=com_content&view=article&id=
183:prop&catid=43:artigos,
http://jus2.uol.com.br/Doutrina/texto.asp?id=8964.
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