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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
MESTRADO ACADÊMICO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE
RENATA NUNES PEREIRA MELO
O CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA CULTURAL – CMPC - DO MUNICÍPIO DE
FORTALEZA: TRAJETÓRIAS PARTICIPATIVAS?
FORTALEZA – CEARÁ 2013
RENATA NUNES PEREIRA MELO
O CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA CULTURAL – CMPC - DO MUNICÍPIO DE
FORTALEZA: TRAJETÓRIAS PARTICIPATIVAS?
Dissertação submetida à coordenação do Curso de Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade – MAPPS da Universidade Estadual do Ceará, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Políticas Públicas e Sociedade. Orientação: Prof. Dr. Alexandre Almeida Barbalho
FORTALEZA – CEARÁ 2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Estadual do Ceará
Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho Bibliotecário Responsável – Francisco Welton Silva Rios – CRB-3/919
M528c Melo, Renata Nunes Pereira
Conselho Municipal de Política Cultural – CMPC – do município de Fortaleza: trajetórias participativas? / Renata Nunes Pereira Melo. -- 2013.
CD-ROM. 165 f. : (algumas color.) ; 4 ¾ pol. “CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho
acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm)”.
Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados, Curso de Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade, Fortaleza, 2013.
Área de Concentração: Políticas Públicas. Orientação: Prof. Dr. Alexandre Almeida Barbalho. 1. Políticas públicas. 2. Conselhos de políticas públicas. 3.
Cultura. 4. Participação social. I. Título. CDD: 338.9
AGRADECIMENTOS
À Deus. Amparo essencial à minha espiritualidade.
À minha linda vozinha Dragomira pelas orações, pelo exemplo de vida e fé e
sentimento de que tudo vale a pena.
Aos meus pais, Ronalth e Lucinha, pelo suporte emocional dado nesta jornada e
pelos valores fornecidos a mim durante uma vida inteira. Amo vocês.
À Luciana e Marcelo, os melhores irmãos que alguém pode ter.
À tia Albaniza e “nosso” refúgio na Tapera, espaço ideal para a fruição das ideias.
Ao meu orientador, professor Alexandre Almeida Barbalho, presente e fundamental
em todo o processo. Seguro, objetivo e tranquilo.
Aos professores Humberto Cunha e Horácio Frota, que, desde a qualificação,
contribuíram de forma brilhante para a elaboração deste trabalho.
Às minhas “amigas-irmãs” Cláudia Costa, Danielle Maia, Isabella Arruda, Illa
Campos, Malena Monteiro, que em algum momento [ou em todos] participaram
ativamente dessa jornada. Quem tem amigo tem tudo.
Às queridas Christiane Ramos, Sabrina Luna, Maria Sanches pela disposição e
desprendimento de tão gentilmente se fazerem presentes em momentos importantes
e decisivos do processo de conclusão desse trabalho.
Em especial aos queridos amigos Roberta Laena e Rodrigo Vieira que viabilizaram
meu sonho tornar-se realidade.
Aos entrevistados Márcio Caetano e Fátima Mesquita pela bela contribuição dada ao
trabalho.
À Socorrinha, Rogerlene e à todos do CMPC que, de algum modo contribuíram com
informações relevantes para esta pesquisa.
À Cristina, secretária do MAPPS e todos os colegas que comigo enfrentaram esse
desafio apaixonante.
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão: outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera:
outra parte delira.
Uma parte de mim
almoça e janta Outra parte: se espanta.
Uma parte de mim
é permanente: outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem:
outra parte, linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte - que é uma questão
de vida ou morte - será arte?
Ferreira Gullar
RESUMO
Entre as recentes discussões relativas ao estudo sobre Políticas Públicas estão as questões da democracia participativa e dos espaços de participação social. Na esfera cultural, dentre outros mecanismos inseridos no contexto da redemocratização do país como instrumentos de acesso da sociedade civil aos atos da administração pública, verificamos a criação, através de legislação específica, dos Conselhos de Cultura, que se constituem em um dos pilares do Sistema Nacional de Cultura, em implementação pelo Ministério da Cultura, garantindo a participação da sociedade na definição das políticas públicas de cultura e controle social dos recursos destinados aos programas, projetos e ações culturais, no âmbito dos Municípios, Estados e da União. O presente trabalho tem como objetivo analisar, através de um estudo hermenêutico, a constituição da lei 9501/2009 que instituiu o Conselho Municipal de Política Cultural no Município de Fortaleza, buscando verificar o processo de criação desse conselho no âmbito do município e contextualizando a partir dos significados que podem ser extraídos da Constituição Federal de 1988 bem como das questões levantadas pela democracia contemporânea. Tem ainda a intenção de relatar, de forma analítica, o perfil da participação dos conselheiros que atuaram na primeira gestão do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC) do Município de Fortaleza (2010-2012). Paralelo a esta exposição, o trabalho propõe apresentar um conjunto de reflexões sobre os pressupostos que tem orientado essas investigações quando seus universos de análise são subgrupos da comunidade política nacional. Far-se-á a verificação da possibilidade dos membros do conselho dialogarem com a classe que eles representam a partir das conclusões extraídas pelo trabalho de campo e também por meio de análise das entrevistas e atas de reuniões, e, por fim, a avaliação entre a efetivação e a efetividade do referido conselho, verificando sua efetiva função como mecanismo de participação social na gestão de políticas públicas de cultura do município de Fortaleza. Para tanto, nos valemos dos resultados de uma pesquisa empírica desenvolvida junto ao CMPC, no período de janeiro de 2010 a novembro de 2012. Foram analisadas as observações realizadas no campo, bem como o estudo das atas e a conclusão extraída das entrevistas estruturadas, cruzando os temas discutidos nas atas com as políticas públicas do município. No seu horizonte mais distante, a pesquisa visa fazer o contraste entre o avanço legal, institucional, da democracia participativa a partir da Constituição de 1988 e das condições concretas da sua operacionalização. A pesquisa se identifica com o campo teórico do debate entre democracia representativa e democracia participativa, de forma mais precisa. Os dados quantitativos descritos contribuirão para futuras análises sobre as propostas de descentralização e democratização das políticas públicas num contexto de fortalecimento das proposições neoliberais e de crise do estado de bem-estar social. A sistematização dos dados quantitativos, ricos em informações sobre os recursos políticos, culturais e materiais dos conselheiros e suas entidades, bem como de sua dinâmica decisória, ajudará na caracterização do objeto em foco e no mapeamento dos pontos passíveis de comparação com os demais conselhos em âmbito estadual e federal. Palavras-chave: Políticas Públicas. Conselhos de Políticas Públicas. Democracia Participativa. Participação Social. Cultura.
RÉSUMÉ
Parmi les récentes discussions concernant l'étude des politiques publiques sont des questions de démocratie participative et les possibilités de participation sociale. Dans le domaine culturel, entre autres mécanismes dans le contexte de la démocratisation du pays comme des instruments d'accès de la société civile pour les actes de l'administration publique, nous voyons la création, par voie législative, les Conseils de la culture, qui constituent l'un des piliers du système culture nationale dans la mise en œuvre par le ministère de la Culture, en assurant la participation de la société dans la définition des politiques publiques sur la culture et le contrôle social des ressources allouées aux programmes, projets et activités culturelles au sein des municipalités, des États et de l'Union Le présent travail vise à analyser, à travers une étude herméneutique, la formation de la loi 9501/2009 qui a établi la politique culturelle municipale à Fortaleza, afin de vérifier le processus de création de ce conseil au sein de la municipalité et la contextualisation des significations peut être dérivée de la Constitution de 1988 et les questions soulevées par la démocratie contemporaine. A également l'intention de signaler, analytiquement, le profil de la participation des administrateurs qui ont travaillé sur la première administration de la politique culturelle municipale (WACC) de la municipalité de Fortaleza (2010-2012). Parallèlement à cette exposition, le présent ouvrage propose une série de réflexions sur les hypothèses qui ont guidé ces enquêtes lorsque leur analyse des univers des sous-groupes de la communauté politique nationale. Jusqu'où ira vérifier la possibilité que les membres du conseil d'administration de dialogue avec la classe qu'ils représentent conclusions tirées des travaux sur le terrain et aussi à travers l'analyse d'entretiens et de comptes rendus de réunion, et, enfin, l'évaluation entre l'exécution et l'efficacité du conseil d'administration, la vérification de leur fonction actuelle comme un mécanisme de participation sociale dans la culture de gestion de l'ordre public dans la ville de Fortaleza. Pour cela, nous utilisons les résultats d'une recherche empirique effectuée à la WACC, de Janvier 2010 à Novembre 2012. Nous avons analysé les observations faites sur le terrain ainsi que l'étude des procès-verbaux et la conclusion tirée à partir d'entretiens structurés, traversant les sujets abordés dans le procès-verbal de la politique publique de la municipalité. Lors de sa plus éloigné horizon, la recherche vise à rendre le contraste entre l'avancement juridique institutionnel, la démocratie participative de la Constitution de 1988 et les conditions concrètes de son fonctionnement. La recherche identifie avec le débat théorique entre démocratie représentative et démocratie participative, plus précisément. Les données quantitatives décrites contribuer à de futures analyses de la décentralisation proposée et la démocratisation des politiques publiques dans le cadre du renforcement de propositions néolibérales et la crise de l'état de bien-être social. La systématisation de données quantitatives, riche en informations sur les fonctions politiques, culturelles et matérielles des administrateurs et de leurs agences, ainsi que ses décisions dynamiques, aider à caractériser l'objet la mise au point et la cartographie de points qui pourrait être comparé avec d'autres conseils en provinciales et fédérales. Mots-clés: Politique Publique. Conseils de Politique Publique. La Démocratie Participative. Participation Sociale. Culture.
LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Representantes do CMPC do município de Fortaleza ................... 62
Quadro 2 - Agendas Tema................................................................................ 95
Quadro 3 - Perfil das Pautas/ Demandas.......................................................... 100
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Agenda Tema 2011......................................................................... 96
Gráfico 2 - Agenda Tema 2012......................................................................... 97
Gráfico 3 - Presença dos atores em 2011......................................................... 98
Gráfico 4 - Presença dos atores em 2012......................................................... 98
Gráfico 5 - Atores dominantes em falas seguidas de debates em 2011.......... 99
Gráfico 6 - Atores dominantes em falas seguidas de debates em 2012........... 100
Gráfico 7 - Perfil de Demandas 2011................................................................ 101
Gráfico 8 - Perfil de Demandas 2012................................................................ 102
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CFC Conselho Federal de Cultura CMPC Conselho Municipal de Política Cultural CNDA Conselho Nacional de Direito Autoral
CNPC Conselho Nacional de Políticas Culturais CONCINE Conselho Nacional de Cinema
CNFCP Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro
DAC Departamento de Assuntos Culturais FNRU Fórum Nacional de Reforma Urbana FUNARTE Fundação Nacional de Arte
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
ISEB Instituto Superior de Estudos Brasileiros
LOM Lei Orgânica do Município
MEC Ministério da Educação
MES Ministério da Educação e Saúde
MinC Ministério da Cultura
MS Ministérios da Saúde
MST Movimento Sem-Terra
PAC Plano de Ação Cultural
PNC Plano Nacional de Cultura
SECULT/CE Secretaria de Cultura do Estado do Ceará
SECULTFOR Secretaria de Cultura de Fortaleza
SNC Sistema Nacional de Cultura
SPHAN Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 13
2 O ESPAÇO DAS POLÍTICAS CULTURAIS: CONCEITO, ORIGEM HISTÓRICA E FORMAS DE IMPLEMENTAÇÃO.....................................
24
2.1 DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE POLÍTICA CULTURAL .............. 24
2.2 POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL....................................................... 27
2.2.1 Políticas culturais no Brasil: tristes tradições e enormes desafios 35
2.2.2 Políticas culturais do governo Lula: desafios e enfrentamentos........................................................................................
39
3 CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA CULTURAL DE FORTALEZA: CONSTITUIÇÃO, TRAJETÓRIA, PROBLEMAS E EXPERIÊNCIAS........................................................................................
45
3.1 CIDADANIA E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS CONSELHOS
GESTORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS..................................................
45
3.2 OS CONSELHOS DE CULTURA NO BRASIL.......................................... 51
3.3 O CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA CULTURAL DE
FORTALEZA..............................................................................................
53
3.4 A CONSTITUIÇÃO DO CMPC DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA: UM
ESTUDO HERMENÊUTICO DA LEI 9501/2009......................................
56
3.5 ENTREVISTAS COM OS GESTORES QUE PARTICIPARAM DA
IMPLEMENTAÇÃO DO CMPC DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA...........
66
3.5.1 Trajetória e experiências de outros conselhos de cultura.................. 69
3.5.2 Tensões e conflitos para a implementação do Conselho.................... 72
3.5.3 Processo de Eleição do CMPC do Município de Fortaleza.................. 75
4 AVALIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DO CMPC DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA COMO ESPAÇO DE DEMOCRACIA PARTICIPATIVA.....
80
4.1 AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE PARTICIPAÇÃO DOS CONSELHEIROS DO
CMPC DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA............................................................
81
4.2.1 Autopercepção dos conselheiros de cultura de Fortaleza.................. 81
4.2.2 Sentidos acerca do papel e da inserção dos conselheiros de cultura de Fortaleza.................................................................................
86
4.2.3 Análise das atas de reunião do CMPC do município de Fortaleza..... 92
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 105
REFERÊNCIAS......................................................................................... 108
APÊNDICE................................................................................................ 112
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO APLICADO AOS CONSELHEIROS DE CULTURA DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA.............
113
ANEXOS.................................................................................................... 114
ANEXO A - LEI Nº 9501 DE 01 DE OUTUBRO DE 2009.......................... 115
ANEXO B - REGIMENTO INTERNO DO CONSELHO MUNICIPAL DE
POLÍTICA CULTURAL DE FORTALEZA ..................................................
125
ANEXO C – EDITAL DE ELEIÇÃO DOS CONSELHEIROS..................... 143
ANEXO D - ANÁLISE DAS ATAS DAS REUNIÕES DO CMPC .............. 157
ANEXO E – AGENDA TEMA ................................................................... 159
ANEXO F – PRESENÇA DOS ATORES .................................................. 160
ANEXO G – ATORES DOMINANTES NAS REUNIÕES........................... 162
ANEXO H – PERFIL DE DEMANDAS POR ANO..................................... 164
13
1 INTRODUÇÃO
O interesse por essa linha de pesquisa surgiu a partir da experiência com
elaboração de projetos voltados para a área cultural no preenchimento de Editais de
incentivo à arte e cultura, lançados pelo Governo do Estado, através da Secretaria
de Cultura do Estado do Ceará - SECULT/CE, e também pela Prefeitura de
Fortaleza, sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura de Fortaleza -
SECULTFOR. Os referidos editais dizem respeito aos incentivos concedidos aos
Blocos de Rua que saem no pré-carnaval de Fortaleza nos meses de janeiro e
fevereiro e que concentram milhares de pessoas no entorno do Centro Cultural
Dragão do Mar, da Praia de Iracema, dentre outros bairros da capital, fomentando,
assim, diversos setores da economia local e movimentando a população das
referidas regiões.
No período em que estivemos em contato com o meio cultural,
percebemos a carência da sociedade em compreender a política cultural, ou seja,
como ter acesso às informações contidas nos espaços de viabilização de cultura
existentes.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 ficou reconhecida como
“Constituição Cidadã” porque fundou as bases para que diversos mecanismos de
participação e controle social das políticas públicas e ações do Estado fossem
criados. É o caso dos Conselhos de Políticas Públicas, dos Orçamentos
Participativos, entre outros instrumentos criados nos últimos vinte anos.
Os conselhos gestores de políticas públicas são considerados espaços
públicos de composição plural entre Estado e sociedade civil, de natureza
deliberativa, cuja função é formular e controlar a execução das políticas públicas
setoriais, apontando no sentido da democratização da gestão, possuindo força legal
para influir no processo de produção das políticas públicas, redefinindo prioridades,
recursos orçamentários públicos a serem atendidos e etc., acenando na direção da
partilha de poder.
Com o advento da nova política cultural proposta pela Prefeitura de
Fortaleza através da criação do Sistema Municipal de Fomento à Cultura que
inúmeros questionamentos de cunho sociológico, jurídico e acadêmico emergiram
14
como objetos para uma interessante pesquisa que visa contribuir em várias esferas,
tanto para o meio acadêmico como para a sociedade de forma geral.
De caráter normativo, consultivo, deliberativo e fiscalizatório, o Conselho
Municipal de Política Cultural do Município de Fortaleza - CMPC, instituído através
da Lei 9501/2009, advém de diretrizes do Sistema Nacional de Cultura
implementado pelo Ministério da Cultura que institui como um de seus pilares os
Conselhos de Políticas Culturais como forma de garantir a participação da sociedade
na definição das políticas públicas de cultura e o controle social dos recursos
destinados aos programas, projetos e ações culturais no âmbito dos Municípios, dos
Estados e da União.
Verificamos que a principal missão do Conselho Municipal de Política
Cultural é elaborar e fiscalizar políticas públicas para a cultura de Fortaleza, por
meio da articulação e do debate entre os diferentes níveis de governo e a sociedade
civil organizada, visando o desenvolvimento e o fomento das atividades culturais em
âmbito local.
Empossados no dia 27 de outubro de 2010, no Mercado dos Pinhões, em
uma noite de confraternização, troca de ideias e festa, os 44 conselheiros e
conselheiras e seus respectivos suplentes do primeiro Conselho Municipal de
Política Cultural do Município de Fortaleza.
O CMPC é constituído por representantes da sociedade civil e do Poder
Público, sendo, 23 conselheiros da sociedade civil, escolhidos através de eleição
realizada por Edital Público (ANEXO B) que envolveu toda a cidade através dos
seguintes setores: 01 representante do segmento Artes Visuais, 01 da Fotografia, 01
do Audiovisual, 01 da Literatura, 01 da Música, 01 do Teatro, 01 da Dança, 01 do
Circo, 02 das Culturas Tradicionais Populares, 01 dos Produtores Culturais, 01 das
Instituições Culturais Não-Governamentais, 01 do fórum temático da Cultura do
Orçamento Participativo, 01 representante de cada Secretaria Executiva Regional
(SER - I a VI), 01 do FECOMÉRCIO, 01 representante da OAB, 01 do Conselho
Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza e 01 do Conselho Estadual
de Cultura.
15
O Poder Público participou com 21 representantes, designados pelos
seus respectivos órgãos, a saber: O Secretário de Cultura de Fortaleza, 03
representantes da SECULTFOR, 01 da Secretaria de Turismo, 01 da Secretaria
Municipal de Educação, 01 da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico,
01 da Secretaria Municipal de Planejamento e Orçamento, 01 da Secretaria de
Finanças do Município, 01 da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle
Urbano, 01 da Secretaria Municipal de Assistência Social, 01 da Coordenadoria
Especial de Políticas da Juventude, 02 representantes do Gabinete do Prefeito, 01
da Câmara Municipal de Fortaleza, 01 da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará,
01 da Universidade Estadual do Ceará, 01 do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 01 da Universidade Federal do Ceará, 01 da TV Pública e 01 do
Centro Federal de Educação Tecnológica.
No mesmo período de 2010, participava da seleção para o Programa de
Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade da Universidade Estadual
do Ceará, com um projeto intitulado “O CMPC como instrumento de democracia
participativa nas políticas públicas de Fortaleza”, que seria justamente uma proposta
de análise da lei de criação desse Conselho no Município de Fortaleza tomando
como ponto de partida a questão da participação social e da democracia
participativa.
O projeto de pesquisa fora reconhecido pela banca examinadora do
concurso e obtive minha aprovação no Mestrado ao final do mês de novembro
daquele ano. Desde então pude acompanhar com afinco todos os trâmites iniciais
referentes ao meu objeto de pesquisa, bem como elaborar, junto ao meu orientador,
um cronograma de execução da pesquisa que contemplou todo o meu período
acadêmico, e que pôde se desenvolver, desde o inicio, com objeto e estratégias
metodológicas bem definidas, pesquisa de campo e reuniões sistemáticas de
orientação, nas quais fui bem direcionada com relação à metodologia da pesquisa
bem como da bibliografia a ser utilizada no trabalho.
E, apesar de ouvir comentários de alguns conselheiros de outros
conselhos gestores de políticas públicas, reflexões e desabafos sobre a pouca
efetividade desses espaços, sobre despreparo técnico deles para a participação
política, pouca credibilidade desses espaços de participação na sociedade, o
16
assunto me estimulou e me fez questionar sobre os sentidos que esses
representantes da sociedade civil, bem como os do poder público encarariam a
responsabilidade instituída por lei sobre as políticas públicas voltadas para a área
cultural e a influência que teriam na participação política nessa instância de gestão
compartilhada.
Ao acompanhar as primeiras reuniões do CMPC em 2011, percebemos
que ali seria o espaço ideal para avaliar as questões relativas à participação social
da sociedade civil nas políticas públicas através de sua inserção nos conselhos
gestores, tendo em vista que teria a oportunidade de avaliar o comportamento e os
sentidos que os conselheiros teriam de sua participação nesse espaço de gestão
desde o início do funcionamento do mesmo. Enfim, olhar e ouvir estes conselheiros
que vivenciam o cotidiano de gestão das políticas públicas.
Para perceber então os sentidos dessa participação, buscamos
compreender as relações, tensões e conflitos que ocorrem dentro desse espaço de
tentativa de homogeneização de interesses através de questionamentos sobre esse
grupo social: Como o CMPC contribui para a efetivação da “democracia participativa”
da cidade de Fortaleza?
A presente pesquisa analisou as contribuições trazidas pela instituição,
através da Lei Municipal nº 9501, de 1º de outubro de 2009, do Conselho Municipal
de Política Cultural – CMPC – para o fortalecimento dos mecanismos de efetivação
da democracia e consolidação da participação da sociedade civil no processo de
construção das políticas públicas voltadas para a cultura no município de Fortaleza.
O referido Conselho é uma instância política criada para pertencer à
estrutura básica da Secretaria de Cultura de Fortaleza – SECULTFOR – possuindo
formato de órgão colegiado de caráter normativo, deliberativo, fiscalizatório e
consultivo e integrando o Sistema Municipal de Cultura, cuja missão é promover
uma gestão democrática e autônoma da cultura no município. O CMPC, cujos
representantes foram escolhidos através de uma eleição pública que envolveu toda
a cidade, tem caráter de institucionalizador das relações entre o Poder Público
Municipal e a sociedade civil de Fortaleza.
17
Nesse sentido, o estudo analisou o contexto histórico da questão,
abordando conceitos relevantes, tais como cultura, democracia, democratização da
cultura, cidadania, participação social, políticas públicas voltadas para a área cultural
e os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos.
A pesquisa buscou compreender a relevância da atuação do CMPC como
instrumento de viabilização da democracia participativa e sua aplicação para a
defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos, bem como do fomento das
discussões já existentes em nível acadêmico acerca do referido assunto,
contribuindo para o seu desenvolvimento e aprimoramento.
Buscamos ainda analisar, não apenas através da interpretação da norma,
mas a partir dos dados qualitativos extraídos a partir do campo, a função do CMPC a
fim de trazer maiores esclarecimentos e acesso à população acerca dos seus
direitos fundamentais inseridos no contexto cultural, levando-se em consideração a
perspectiva de iniciamos o estudo a partir do início da vigência da norma, o que
possibilitou a verificação do nascedouro das ações realizadas para legitimar sua
aplicação.
E, considerando o questionamento inicial e tendo em vista os aspectos
até aqui discutidos, outros questionamentos referentes à atuação do Conselho se
tornaram importantes para a percepção deste sentido de participação, a partir dos
seguintes questionamentos: Se esta contribuição é efetivada, de que forma isso
ocorre? E, em caso negativo, quais os entraves para sua não efetivação? De que
forma se constitui a participação e as políticas culturais no CMPC? As reuniões do
CMPC são espaço de participação social ou apenas local para legitimar os atos das
Secretarias de Governo? Quais as contribuições para a sociedade observadas com
a implementação da Lei 9501/09 no tocante ao acesso à democracia cultural? Existe
no mesmo conselho formas distintas de compreender a participação e as políticas
culturais? Quais são os significados de cultura, participação e políticas de cultura na
esfera do Conselho?
E, dessa forma, nasceu o objeto desta pesquisa: O Conselho Municipal
de Política Cultural – CMPC - do município de Fortaleza: trajetórias participativas?
Questionamento que pretendemos descortinar ao longo do trabalho.
18
A pesquisa teve como objetivos a serem atingidos para a compreensão
de seu objeto, um objetivo geral e seis objetivos específicos. Pretendemos como
objetivo geral analisar o CMPC no âmbito das políticas públicas instituídas como
participativas da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
Como objetivos específicos, buscamos compreender o atual contexto das
políticas de cultura no Brasil e no Ceará e analisar o CMPC do município de
Fortaleza nesse contexto; identificar entraves e vias para a representatividade da
sociedade civil na prática do conselho estudado; analisar e confrontar os sentidos
implicados nas práticas dos conselheiros de cultura e a forma como percebem o seu
papel; identificar pontos de conflito inerentes às ações do Conselho e como estes
conflitos e seus encaminhamentos são vistos pelos conselheiros (desde sua
formação até o presente); analisar as etapas das políticas de cultura do município:
identificação das demandas e distribuição de recursos, como o conselho se insere
nestas etapas e como os conselheiros percebem esse processo e, por fim,
esclarecer o papel social do CMPC enquanto conselho criado para facilitar as
relações sociais relacionadas à cultura.
Como forma de perceber os sentidos da participação, foi utilizada a
pesquisa documental que definiu as categorias principais e secundárias e a
pesquisa qualitativa com os depoimentos de conselheiros, cujos dados foram
analisados à luz do referencial teórico. Trata-se de uma análise das relações, da
gestão e da maneira de viver a participação sentida pelos conselheiros por meio do
Conselho.
Neste trabalho pretendeu-se empreender tanto abordagem qualitativa, já
que esta é mais adequada a pesquisas que procuram as origens ou a compreensão
do fenômeno estudado, em uma realidade que não pode ser quantificada (MINAYO,
2000), embora exista uma ênfase na incursão quantitativa. O uso da abordagem
qualitativa se justifica quando o pesquisador está interessado em entender a
natureza de determinado fenômeno social e compreender os significados e as
visões de mundo dos indivíduos (MERRIAM, 1988).
Procurou-se desenvolver um estudo exploratório, pois o mesmo buscou
superar a mera descrição. Nesses contornos, o estudo perseguiu explorar
19
dimensões que não podem ser medidas: percepções, valores, motivações pessoais.
(MOREIRA, 2002).
Com relação às ações realizadas a título de pesquisa de campo,
frequentamos assiduamente as reuniões do CMPC durante o período pesquisado,
realizadas sempre na Vila das Artes na primeira segunda-feira do mês, preenchendo
o diário de campo, tendo observado o comportamento dos conselheiros, bem como
realizamos a coleta de cópias das atas das reuniões (que são enviadas a todos os
frequentadores por email) e todos os outros documentos pertinentes para análise,
observando as discussões e intervenções dos atores sociais envolvidos no
processo, reunindo, assim o material empírico para a realização da pesquisa.
Verificamos que o uso do diário de campo tornou-se indispensável para o
registro das observações, dos pensamentos e dos questionamentos que nasceram
de nosso contato empírico. O diário foi de extrema importância para os resultados
dessa pesquisa, pois, conforme assevera Peretz (2000, p. 126):
É útil que o observador registre as condições da sua chegada, a evolução do relacionamento, as dificuldades e os seus projetos. Essas anotações lhe ajudarão no decurso da sua permanência e lhe permitirão orientar ou reorientar o trabalho e lhes serão necessários para o relatório final.
Outra importante ação relacionada à pesquisa de campo foi a realização
de entrevistas com os gestores que participaram da implantação do CMPC no
município de Fortaleza e a aplicação de questionário estruturado aos conselheiros,
apresentado na reunião do CMPC no mês de junho do corrente ano, e
posteriormente enviado por email para que todos os conselheiros respondessem.
(ANEXO C)
E, à priori, não obtivemos o retorno desejado dos conselheiros acerca dos
questionários aplicados por email. Motivo pelo qual decidimos realizar a incursão
entrando em contato telefônico com alguns deles, dessa vez obtendo êxito com 07
conselheiros, entre membros da sociedade civil relativos às diversas linguagens,
bem como membros do poder público.
Aplicamos o questionário estruturado, que serviu de instrumento de coleta
de dados, utilizando questões-estímulo organizadas em dois blocos: (1)
autopercepção do conselheiro; (2) sentidos acerca do papel e da inserção no
20
conselho. Estes blocos de questões foram elaborados a partir dos objetivos da
pesquisa.
Além das entrevistas e dos questionários, como dados complementares à
pesquisa, utilizamos o regimento interno do conselho (ANEXO A), a lei que o criou,
as impressões extraídas da IV Conferência Municipal de Cultura realizada no
período pesquisado, bem como o livro de atas das reuniões mensais, acrescidas das
anotações registradas em diário de campo realizadas nas referidas reuniões e
conferências. Como fontes secundárias, utilizamos os sítios eletrônicos da Prefeitura
Municipal de Fortaleza (PMF) e do Ministério da Cultura (MinC).
As pesquisas que foram aplicadas tiveram a seguinte natureza:
Pesquisa Documental
A pesquisa se propôs a um estudo das dinâmicas e relações do CMPC
por meio de análise documental do Conselho, com leituras de atas, leis e regimento
interno que definem sua atuação, sua ação, como e com quem se relaciona no
processo de elaboração das políticas públicas para a cultura no município de
Fortaleza, no período de 2010 a 2012. Esta análise permitiu conhecer, previamente,
suas práticas e dinâmicas de gestão, as relações de poder que existem, o ambiente
institucional do conselho e a definir as categorias a serem analisadas.
Desta forma, recebemos via email todas as atas das reuniões do
Conselho, lemos e comparamos com as anotações de campo. Fizemos a análise do
regimento e, através de um relatório, pudemos sintetizar as atas datadas do período
de 15 de dezembro de 2010 a 05 de novembro de 2012.
Os documentos (atas das reuniões do CMPC) foram lidos e organizados
em uma tabela (ANEXO E), por meio das seguintes unidades de registro: datas,
quem inicia as falas das reuniões, agenda temática: assuntos e pautas, falas
seguidas de debates ou não, atores dominantes em cada dessas fases e presença
dos atores. Nesta tabela estão registradas as falas, depoimentos,
encaminhamentos definidores da dinâmica interna e externa do Conselho, suas
formas de tomada de decisão, pautas, debates e atores envolvidos.
21
Uma abordagem quantitativa foi utilizada para calcular estas unidades de
registro que auxiliaram a perceber a dinâmica do cotidiano do Conselho. Diante de
vários estudos sobre participação e conselhos gestores, tive como base para
definição das minhas unidades de registro, o artigo da Tatagiba (2005) chamado
“Conselhos Gestores de Políticas Públicas e Democracia Participativa:
aprofundando o debate”, que tem como base a pesquisa de Fuks, Perissinotto e
Souza (2004) sobre os Conselhos Gestores do Paraná.
Na análise dos conselhos gestores do Paraná, a metodologia adotada, que privilegiou a análise das atas de reunião, permitiu esmiuçar a dinâmica deliberativa em suas diversas etapas: proposição, debate, encaminhamento e decisão. Em uma abordagem quantitativa, foram identificados os atores relevantes em cada uma dessas etapas e os principais temas em discussão. Os objetivos da análise eram saber quem iniciava as falas, quais os assuntos postos para a discussão, se tais falas eram seguidas ou não por debates e contestações, a forma de encaminhamento das decisões e os atores dominantes em cada uma dessas fases. (TATAGIBA, 2005, p.211)
Portanto, da pesquisa realizada por Tatagiba (2005) é que extraímos
elementos para aplicar a metodologia a ser empregada para avaliarmos as atas do
CMPC.
Em seguida, no intuito de realizar a análise do produto final da pesquisa
documental, elaboramos ainda uma análise exploratória desta primeira incursão no
material empírico da pesquisa, denominada Análise das Atas das Reuniões do CMPC – 15/12/10 a 05/11/12. Este material revelou as categorias principais e
secundárias definidas para aprofundamento analítico a posteriori. A análise por
categoria, segundo Richardson (2010), é baseada na decodificação do texto em
diversos elementos, que são classificados e formam agrupamentos analógicos. Por
fim, compilamos os dados em tabelas e gráficos, que foram devidamente analisados
e descritos no trabalho.
Pesquisa Qualitativa
Para realizar a pesquisa qualitativa, além da realização de entrevistas
com os gestores que participaram da implantação do CMPC, foi utilizada a técnica
de aplicação de questionários estruturados. Foram entrevistas estruturadas por que
estas valorizam a presença do investigador e oferecem todas as perspectivas
possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade
22
necessárias, enriquecendo a investigação. (TRIVIÑOS, 1987) É uma entrevista com
certos questionamentos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à
pesquisa oferecendo campo para novas hipóteses e assim o informante começa a
participar na elaboração do conteúdo da pesquisa.
Na fase de colhimento de informações foram questionados 07
conselheiros, divididos em:
1) 05 conselheiros governamentais, representantes da gestão
governamental do município de Fortaleza e indicados pela Prefeita por sugestão dos
Secretários de governo, 01 representante da Câmara de Vereadores do Município
de Fortaleza e 01 representante da Universidade Federal do Ceará;
2) 02 conselheiros da sociedade civil, representantes das diversas
linguagens artísticas;
Os instrumentos utilizados para o registro das entrevistas com os gestores
que participaram da implantação do CMPC no município de Fortaleza foram o
gravador digital e a máquina fotográfica para registro das imagens dos
entrevistados, caso houvesse sua permissão para fotografar. A análise do conteúdo
foi realizada à luz do referencial teórico.
Apresentada a metodologia aplicada na pesquisa, passemos agora à
exposição da estrutura da dissertação. Esse trabalho foi desenvolvido em três
capítulos, que descrevemos a seguir.
No primeiro capítulo, apresentamos o debate que tem ocupado um
espaço cada vez maior na administração pública e que merece ser devidamente
explorado no campo de políticas públicas culturais no Brasil, emergindo, portanto,
numa discussão contemporânea sobre as políticas culturais.
Buscamos contextualizar este fenômeno, e, em seguida, fizemos um
breve histórico das políticas culturais no Brasil, suas tristes tradições e grandes
desafios ressaltando o período que se refere ao Governo Lula e a gestão dos
Ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira. Percorremos esse caminho para chegar ao
surgimento dos conselhos gestores de políticas culturais instituídos em âmbito
23
nacional e municipal na perspectiva de delinear o contexto de sua emergência em
nossa cidade.
No segundo capítulo apresentamos uma discussão sobre o surgimento
dos primeiros conselhos gestores de políticas públicas na área cultural. Em seguida,
fizemos uma análise hermenêutica da lei que instituiu o Conselho Municipal de
Política Cultural - CMPC do município de Fortaleza.
Comentamos as entrevistas com os gestores que implementaram o
referido conselho e estes relataram a trajetória, experiências, tensões e conflitos
para a implementação do conselho, bem como o processo de eleição dos
conselheiros que fizeram parte da primeira gestão do CMPC.
Finalmente, no terceiro capítulo, buscamos relatar de forma analítica a
dinâmica do Conselho Municipal de Política Cultural do município de Fortaleza,
avaliando o perfil da participação dos conselheiros que atuaram na primeira gestão
do referido conselho, bem como elaboramos uma descrição do material empírico
colhido no período de janeiro de 2010 a novembro de 2012 a partir das conclusões
extraídas pelo trabalho de campo e também por meio de análise das entrevistas e
atas de reuniões, e, por fim, avaliamos a questão da efetivação e da efetividade do
referido conselho, verificando a relação entre o momento em que se concretizaram
os trabalhos no referido conselho, sua efetiva função como mecanismo de
participação social na gestão de políticas públicas de cultura no município de
Fortaleza.
24
2 O ESPAÇO DAS POLÍTICAS CULTURAIS: CONCEITO, ORIGEM HISTÓRICA E FORMAS DE IMPLEMENTAÇÃO
O surgimento e o crescimento dos conselhos gestores de políticas
públicas na área da cultura necessitam serem compreendidos dentro de contextos
políticos, sociais e culturais bastante específicos. Portanto, mais do que propor
definições ou conceitos, este é o objetivo deste capítulo: contextualizar este
fenômeno, que tem ocupado um espaço cada vez maior na administração pública e
que merece ser devidamente explorado no campo de políticas públicas culturais no
Brasil, emergindo, portanto, numa discussão contemporânea sobre as políticas
culturais.
Em seguida, faremos um breve histórico das políticas culturais no Brasil,
suas tristes tradições e grandes desafios ressaltando o período que se refere ao
Governo Lula e a gestão dos Ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira.
2.1 DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE POLÍTICA CULTURAL
Por estarmos caminhando por novos rumos e para alguns ainda
desconhecidos, a definição de um termo, que estará bastante presente neste
trabalho, se faz necessária: afinal, o que são as “políticas culturais”? E para iniciar
nossa reflexão sobre “Política Cultural”, é preciso definir o que ela é, sua origem e
como fora implementada historicamente.
Entendemos a política cultural como parte das políticas públicas e que
para o âmbito estudado seria a difusão e o acesso à cultura pelo cidadão. E, apesar
da expressão “políticas públicas” possuir diversas conotações, genericamente, Simis
(2007, p.133) definiu que: “[...] se trata da escolha de diretrizes gerais, que tem uma
ação, e estão direcionadas para o futuro, cuja responsabilidade é
predominantemente de órgãos governamentais, os quais agem almejando o alcance
do interesse público”.
No Estado Democrático, o papel do Estado no âmbito da cultura não é
produzir cultura, dizer o que ela deve ser, mas sim formular políticas públicas de
cultura que a tornem acessível, fomentando-a, divulgando-a. É preciso ter em mente
25
que a cultura é um direito, e que, por este motivo, é muito mais do que uma
atividade econômica, embora a economia da cultura tenha hoje um papel
preponderante na geração de emprego e renda.
O próprio Ministério da Cultura defende um conceito amplo da cultura,
considerando-o não só em sua dimensão antropológica, mas também na dimensão
simbólica da existência social brasileira e todas essas formulações, extraídas do
discurso do Ministro Gilberto Gil, refletem nas diversas ações e programas
implementados pelo Ministério e suas instituições.
Compreender as dimensões econômicas e políticas da cultura,
considerando as transformações trazidas pelas novas tecnologias é essencial para a
compreensão da formação do campo cultural hoje. Botelho (2007) compreende
cultura como o conjunto dinâmico de todos os atos criativos de nosso povo, aquilo
que, em cada objeto que um brasileiro produz, transcende o aspecto meramente
técnico. Cultura como “usina de símbolos”, espaço de realização da cidadania.
Bolán (2006) acredita que as políticas culturais se desenvolveram
paralelamente às campanhas de formação do Estado moderno. Para Miller; Yúdice
(2002), a cultura como relevante assunto de Estado está relacionada com o conceito
de governamentalidade.
Este conceito, dentre outros autores que tratam do assunto, é entendido
por Foucault (1978) como sendo a preocupação dos Estados modernos em bem-
governar o corpo social e, assuntos que antes eram tratados e limitados ao espaço
privado, como por exemplo, a saúde do indivíduo, são confiscados pelo Estado e
passam a ser objeto de sua administração. Foucault (1978) pretende fazer uma
história da governamentalidade. Ele expõe que com esta palavra quer dizer três
coisas:
1 – o conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas que permitem exercer esta forma bastante específica e complexa de poder, que tem por alvo a população, por forma principal de saber a economia política e por instrumentos técnicos essenciais os dispositivos de segurança. 2- a tendência que em todo o Ocidente conduz incessantemente, durante muito tempo, à preeminência deste tipo de poder, que se pode chamar de governo, sobre todos os outros – soberania, disciplina, etc. – e levou ao desenvolvimento de uma série de aparelhos específicos de governo e de um conjunto de saberes. 3 – o resultado do processo através do qual o Estado de justiça da Idade Média,
26
que se tornou nos séculos XV e XVI Estado administrativo, foi pouco a pouco governamentalizado. (FOUCAULT, 1978, p.291)
Da mesma forma, Miller; Yúdice (2002) acreditam que se subtende o que
ocorre com a cultura, a partir do entendimento da cultura como direito, posto que os
valores dos indivíduos, que antes eram privados, passam ao domínio do público,
tornando-se assunto de Estado.
Entretanto, Miller; Yúdice (2002) defendem que a política cultural
“é mais burocrática que criativa ou orgânica”, o que é questionado por Barbalho, que
corroborando com Mcguigan (1996, p. 1), compreende por política cultural não
apenas as ações concretas, mas, a partir de uma concepção mais estratégica,
“o confronto de ideias, lutas institucionais e relações de poder na produção e
circulação de significados simbólicos”. Nesse sentido, Barbalho (2007, p. 39)
compreende que “elas são criativas e propositivas ao produzirem discursos e
detentoras de poder simbólico atuante no campo cultural.”
Faria; Moreira (2005) observam que, na maioria dos governos locais que
prezam pela governança no campo cultural, a equação é “cultura é igual arte”. Logo,
algumas questões como o patrimônio material e imaterial, valores de direitos e paz,
a cultura política, as humanidades, a cultura alimentar e a cultura ecológica colocam-
se fora do âmbito de políticas e da governança do território.
Foi observado ainda por Faria; Moreira (2005) que a cultura vem sendo
tratada secundariamente pelos governos e prova disso são os orçamentos públicos
destinados aos órgãos ligados à ela: o do Ministério da Cultura é de 0,6% da União.
Já o do governo de São Paulo situa-se em torno de 0,4% e o da maioria dos
municípios brasileiros que tem essa rubrica não ultrapassa 2%.
E, corroborando com a ideia da governança, Faria; Moreira (2005)
colocam duas questões relevantes para a busca pela transversalidade no campo
cultural:
1ª - A cultura é central para as práticas e reflexões da governança desde que consideremos que estamos construindo paradigmas para uma nova cultura, inclusive a do governar, que não pode desconhecer que qualquer projeto de uma outra cidade deve constituir-se a partir dos vários rostos e cores e da herança da localidade, suas manifestações, vivências,
27
celebrações, contribuições culturais de todos os matizes. [...] 2ª - A cultura é um cenário em que estão presentes atores, vidas significativas, escolhas e raízes, sonhos e história, memória e patrimônios. Não se trata apenas de um lugar adequado para que a arte se realize. A governança deve entender a centralidade da cultura em todos os processos vitais: da moradia à segurança alimentar, da educação aos processos participativos, do transporte aos valores da convivência pacífica. (FARIA; MOREIRA, 2005, p.22)
O que se observa é que se uma localidade não valorizar a sua cultura,
facilmente cairá na armadilha de priorizar a economia e assim, implementará
projetos de cidade de uma modernidade “tosca, árida, acrítica”, isto é, sinônimo de
um crescimento que não se desenha a partir dos impulsos naturais das realidades
locais.
Portanto, cada esfera de governo deve absorver a relevância da cultura
para a cidadania – a cultura ambiental, a cultura do trânsito, os valores culturais na
saúde, a cultura alimentar, os processos de criação, difusão e consumo das artes e
os valores éticos. Faria; Moreira (2005) entendem que se deve buscar uma
“governança sensível aos processos culturais”.
2.2 POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL
O tópico traz uma contextualização ampla acerca das políticas culturais
no Brasil. O objetivo é construir uma linha do tempo, e, por meio de levantamento
bibliográfico, apresentar como as políticas culturais no Brasil foram se constituindo e
se firmando como exercício efetivo da democracia e, ainda, como os direitos
culturais foram compreendidos como direitos fundamentais dos cidadãos. Isto
oferecerá indicativos sobre as tensões, mudanças e permanências que perpassam
essa temporalidade.
O intuito é situar o leitor quanto à noção de políticas culturais, que, como
destacou Canclini (2005), possui conceito múltiplo, ressaltando que os estudos
recentes tendem a incluir tal conceito ao conjunto de intervenções realizadas pelo
Estado, pelas instituições civis e grupos comunitários organizados com a finalidade
de orientar o desenvolvimento cultural simbólico, satisfazendo as necessidades da
população e obtendo consenso para um tipo de ordem ou transformação social.
28
Organizando um breve histórico da atuação do Estado na cultura,
Barbalho (1998) relata que o primeiro momento de intervenção sistemática do
Estado brasileiro na cultura ocorre após a “Revolução de 30”. Quando assume o
governo, Getúlio Vargas procura unir o país em torno do poder central, realizando o
que ele chama de construção do sentimento de “brasilidade”.
O período Vargas é o da estruturação formal da área da cultura, um
tempo da construção das instituições voltadas para os setores onde o Estado ainda
não atuava. Em 1930, houve um acentuado processo de urbanização consequência
da produção industrial ampliada e da consolidação de direitos trabalhistas antes
inexpressivos, e foi nesse contexto que Getúlio Vargas criou o Ministério da
Educação e Saúde (MES).
Pode-se citar como primeira experiência de gestão pública no campo da
cultura, em 1935, a criação do Departamento de Cultura e Recreação da Cidade de
São Paulo, dirigido por Mário de Andrade. O objetivo era articular entre si as
atividades do departamento através de políticas públicas na área cultural.
A inovação pretendida por Mário de Andrade frente à cultura é o que
eleva seu papel para além do nível municipal. Rubim (2007) destaca as inovações
empreendidas por Mário de Andrade:
Sem pretender esgotar suas contribuições, pode-se afirmar que Mário de Andrade, inova em: 1. Estabelecer uma intervenção estatal sistemática abrangendo diferentes áreas da cultura; 2. Pensar a cultura como algo “tão vital como o pão”; 3. Propor uma definição ampla de cultura que extrapola as belas artes, sem desconsiderá-las, e que abarca, dentre outras, as culturas populares; 4. Assumir o patrimônio não só como material, tangível e possuído pelas elites, mas também como algo imaterial, intangível e pertinente aos diferentes estratos da sociedade; 5. Patrocinar duas missões etnográficas às regiões amazônica e nordestina para pesquisar suas populações, deslocadas do eixo dinâmico do seu país e da sua jurisdição administrativa, mas possuidoras de significativos acervos culturais (modos de vida e de produção, valores sociais, histórias, religiões, mitos, narrativas, literatura, musicas, danças etc.). (RUBIM, 2007, p. 15)
A preservação do patrimônio material recebeu notável atenção com a
fundação do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) em 1937,
cuja finalidade era promover no país inteiro, o tombamento e a conservação do
patrimônio histórico e artístico produzindo enriquecimento cultural. O cinema
29
recebeu certo destaque como educação popular e diversão pública, através do
Decreto que regulamentou a tímida indústria cinematográfica, estipulando uma taxa
voltada para o seu desenvolvimento. Calabre (2009) fala sobre a criação de espaços
culturais:
[...] foi criado o Museu Nacional de Belas Artes, destinado a recolher, conservar e expor as obras de artes pertencentes ao patrimônio federal. Todos os museus federais existentes – ou que viessem a ser criados - deveriam cooperar com as atividades do SPHAN. Ao Museu Historico Nacional foi assegurada a função de guardar, conservar e expor as relíquias referentes ao passado do país [...] (CALABRE, 2009, p.24)
Neste período de desenvolvimento cultural, o teatro teve pequena
expressividade, contando com a constituição da Comissão de Teatro Nacional e do
Serviço Nacional do Teatro, porém a proximidade que a classe teatral possuía com
Vargas impossibilitou diversas medidas estabelecidas nos planos anuais, que
simplesmente não eram implantadas e distribuídas por priorizar as companhias mais
influentes.
No que se refere à área de radiodifusão, pode-se perceber que logo de
início foi objeto de regulamentação pelo governo Vargas, por ser considerada de
interesse nacional e de finalidade educacional. Restou claro que o interesse final do
Estado era organizar e incentivar o sistema de radiodifusão para utiliza-lo em
proveito próprio implantando um programa nacional oficial, que deveria ser ouvido
ao mesmo tempo em todo o território nacional.
Capanema e Vargas iniciaram com as medidas culturais adotadas uma
tradição até hoje existente e de difícil dissolução, a relação entre governos
autoritários e políticas culturais. Relação essa que perduraria por anos, em governos
ditatoriais ou em governos marcados pela ausência quase que total do Estado nas
políticas culturais.
O grande desenvolvimento na área cultural, ocorrido entre 1945 e 1964,
se deu no campo da iniciativa privada. O Estado, portanto, não promoveu ações
diretas de grande vulto no campo da cultura. Já em 1953 houve o desmembramento
do Ministério da Educação e Saúde surgindo os Ministérios da Saúde (MS) e o da
Educação e Cultura (MEC).
30
Com o Golpe Militar de 1964, o país passa por um processo de repressão
e censura que resultou num desmantelamento da grande maioria dos projetos
culturais em curso. Durante o governo de Castelo Branco (1964-1967), surgiu nos
quadros do governo a discussão sobre a necessidade da elaboração de uma política
nacional de cultura, mas não houve registro de avanços.
Na segunda metade de 1966, por recomendação da presidência da Republica, foi formada uma comissão para elaborar estudos visando a reformulação da política cultural do país. Foi sugerida a criação de um Conselho Federal de Cultura, nos moldes do Conselho Federal da Educação. Para os elaboradores da proposta, o Conselho Nacional da Cultura não tinha efetiva atuação nacional, limitava-se a ações pontuais, de pouca abrangência. (CALABRE, 2009, p. 68)
Como marco histórico, podemos situar em 1966, a criação do Conselho
Federal de Cultura - CFC, que tinha como uma de suas atribuições se articular com
os órgãos estaduais e federais da área de cultura e educação com a finalidade de
que os programas culturais fossem efetivamente executados.
Para tal, o referido conselho deveria estimular a formação de Conselhos
Estaduais de Cultura, e assim, em 1971, o Brasil já possuía Conselhos de Cultura
em 22 estados. Era função do Conselho Federal de Cultura reconhecer e registrar
as instituições culturais para que elas pudessem requisitar o auxílio do Ministério.
Embora às voltas do primeiro momento da ditadura, onde já estava gradualmente
presente a censura e a repressão, ainda era possível encontrar, mesmo que
pontualmente, movimentos culturais.
Os governos militares em busca de estimular a cultura midiatizada criam
empresas como a Embratel e a Telebrás com a finalidade de controlar os meios de
comunicação. O Conselho Federal de Cultura não tratava das questões que
envolviam a comunicação em massa e a preocupação geral era em torno do impacto
que a mídia teria sobre as culturas regionais e populares.
Barbalho (2012) comenta que o Conselho do SPHAN respaldou, por
décadas, a política de preservação da memória nacional, privilegiando os
monumentos que representavam a cultura das elites coloniais. Ele ressalta que os
fins do Conselho Federal de Cultura serviam aos interesses dos militares em
31
neutralizar a mobilização político-cultural crítica, que ocorria naquele início de
década, em todo o Brasil, e que propunha um projeto cultural baseado na integração
nacional, a partir do viés conservador.
Em um segundo momento, a ditadura apertava cada vez mais o cerco no
que se refere às manifestações culturais, um momento que foi marcado não só pela
violência e censura sistemática, mas também pelo crescimento econômico e a
modernização das estruturas do Estado, conhecido pela modernização
conservadora. A estrutura do Ministério da Educação e Cultura não contava com
uma Secretaria de Cultura, foi então que em 1970, foi criado o Departamento de
Assuntos Culturais - DAC.
Durante a gestão do Ministro Jarbas Passarinho, no governo do
Presidente Médici, foi elaborado o Plano de Ação Cultural – PAC, um projeto de
financiamento para projetos culturais. O referido plano surgiu como marco de uma
série de ações do Estado na área cultural. Calabre (2007, p.91) ressalta o
movimento criado pelo PAC:
O PAC abrangia o setor de patrimônio, as atividades artísticas e culturais, prevendo ainda a capacitação de pessoal. Ocorria um processo de fortalecimento do papel da Secretaria de Cultura que continuava dentro do Ministério da Educação. Lançado em agosto de 1973, o plano teve como meta a implementação de um ativo calendário de eventos culturais, com espetáculos nas áreas de música, teatro, circo, folclore e cinema. O programa foi iniciado com o deslocamento de diversos artistas através do país, como por exemplo, grupos do sul se apresentavam no Recife; artistas catarinenses em Belém; músicos cariocas em Fortaleza ou amazonenses em Florianópolis, provocando uma intensa circulação e interação cultural nas mais diversas regiões brasileiras.
Um período de efetivo fortalecimento da área cultural foi durante o
governo Geisel (1974-1978), pode-se falar do início de um terceiro momento da
ditadura na qual se observou diminuição significativa da violência e aumento das
iniciativas culturais. A relação entre o autoritarismo e as politicas culturais volta a
existir de forma clara. Durante a gestão do ministro Ney Braga, foi apresentado um
balanço da PAC, seguido de um plano de diretrizes que girava em torno da difusão
das manifestações culturais, do incentivo à criatividade artística brasileira e da
preservação e defesa dos bens culturais.
32
Ney Braga criou órgãos estatais, tais como: o Conselho Nacional de
Direito Autoral - CNDA, o Conselho Nacional de Cinema, a Campanha de Defesa do
Folclore Brasileiro e a Fundação Nacional de Arte - FUNARTE. A criação de tais
órgãos cumpria parte das metas estabelecidas na Política Nacional de Cultura1. O
ministro ressaltava a importância de construir uma política de cultura e havia
também a preocupação do governo em reconquistar a simpatia da classe artística e
intelectual, através de novas formas de auxílios financeiros.
No final da década de 1970 temos mais um momento importante no
processo de reconstituição da política aplicada pelo Ministério. A Secretaria de
Assuntos Culturais substituiu o Departamento de Assuntos Culturais e verificou-se
mais que uma simples alteração de nomenclatura. Calabre (2007, p.92-93) ressalta
que “ocorre uma clara divisão na atuação em duas vertentes distintas dentro de uma
mesma secretaria: uma vertente patrimonial e outra de produção, circulação e
consumo da cultura.” Verificava-se, portanto, um fortalecimento do papel da
Secretaria dentro do MEC.
O campo da preservação e valorização do patrimônio teve especial
atenção, sendo marcado nesse período por inúmeras ações, a exemplo da compra
de documentos originais que integravam os autos da Inconfidência Mineira. Em
1981, Aloísio Magalhães assume a direção da secretaria que passou a se chamar
Secretaria de Cultura, sendo formada por duas subsecretarias: a de Assuntos
Culturais – ligada à FUNARTE e a de Patrimônio – ligada ao IPHAN e a Fundação
Pró-Memória.
Em 1985, durante o governo do Presidente José Sarney, foi finalmente
criado o Ministério da Cultura, que bastante questionado pela ausência de recursos
administrativos e financeiros, movimentou a chefia da pasta. A separação da
estrutura ministerial era justificada pelo fato de que a educação demandava a maior
parte da atenção do ministério, impossibilitando a cultura ter uma política
consistente. José Aparecido de Oliveira foi nomeado Ministro da Cultura, logo
substituído por Aluísio Pimenta e, em seguida, por Celso Furtado.
1 A política havia sido elaborada por um grupo de trabalho, a pedido do Ministro, contendo definições,
fundamentos legais e traçando as diretrizes de atuação do MEC, que, por sua vez, já possuía sua Política Nacional Integrada da Educação e a Política Nacional da Educação Física e Desportos.
33
Em junho de 1986 foi instituída a Lei nº 7505, que ficou conhecida como
Lei Sarney, uma lei de incentivos fiscais que veio na tentativa de criar novas fontes
de recursos para impulsionar o campo da produção artístico-cultural. O objetivo era
superar as dificuldades enfrentadas pela administração pública federal ligada à área
cultural. Havia, porém, ambiguidade aparente no que se refere à criação da referida
lei, afinal, de um lado criava-se diversos órgãos próprios para a cultura, de outro se
passava a financiar a cultura com recursos advindos do mercado, com dinheiro
público através da renuncia fiscal.
Sob o governo do Presidente Fernando Collor, em 1990, o Ministério da
Cultura junto com diversos de seus órgãos foram extintos. Muitos de seus
funcionários foram colocados em disponibilidade. Os projetos e programas foram
suspensos. A Lei Sarney, que na concepção da nova gestão, apresentava
problemas fora revogada. A instabilidade é inevitável em um cenário de frequente
mudança, não somente de responsáveis, como de políticas culturais, ao longo dos
anos é notável que os planos implantados não foram, e de certa forma continuam
não sendo, aplicados nos governos seguintes. A Lei Sarney foi severamente
criticada, não havia a transparência necessária a esse tipo de lei de incentivo, além
da alegação de que foi criado um grupo privilegiado de empresas cadastradas.
O art. 1º previa que o contribuinte poderia abater da renda bruta ou considerar como despesa operacional valores de doações, patrocínios e investimentos, realizados através ou a favor de pessoas jurídicas de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos, cadastradas no Ministério da Cultura. Em outras palavras: ao obter a inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas de Natureza Cultural (CPC), uma determinada empresa se tornava apta a captar recursos e, muitas vezes, passava a cobrar pela execução de projetos de terceiros percentuais abusivos. (CALABRE, 2009, p. 103).
Apesar das críticas, é reconhecido que houve um grande aumento no
volume de produções artísticas e culturais, mas nem perto de alcançar a
democratização cultural pretendida, tanto no que se refere ao acesso quanto na
produção.
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que o Estado é o
responsável por garantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais, mas
34
completados os vinte anos desta garantia, não há regulamentação específica que
vise assegurar tais direitos fundamentais em sua plenitude.
A nova Constituição deu maior autonomia aos Estados e Municípios para
a realização da maior parte das atividades culturais. Essa nova conjuntura política
contribuiu para a ampliação da ação dos governos locais sobre as atividades
culturais.
O governo Collor provocou um grande abalo na cultura, transformou o
Ministério da Cultura em Secretaria, extinguindo automaticamente o CFC e o
CONCINE, dissolveu inúmeros órgãos, como FUNARTE, PRÓ-MEMORIA,
EMBRAFILME, entre outros. Em dezembro de 1991 foi promulgada a Lei 8313,
conhecida por Lei Rouanet, que alterou a legislação do imposto de renda e
suspendeu os benefícios concedidos a pessoas jurídicas. A nova lei instituiu o
Programa Nacional de Apoio à Cultura e paulatinamente começou a injetar recursos
financeiros através de renúncia fiscal no setor.
Já no governo do Presidente Itamar Franco, em 1992, o Ministério da
Cultura foi reestabelecido e junto a este, algumas de suas instituições como a
FUNARTE. Teve início uma nova política que incentivou o audiovisual, sendo criada
uma lei de incentivo com foco especial para o cinema. Calabre (2009, p.95) relata
que “a lei do audiovisual permitia que os investidores abatessem até 100% do
investimento na área audiovisual, o que gerava efeitos imediatos”.
Fernando Henrique Cardoso finalizou a “transição” democrática no Brasil,
em sua gestão, e podemos notar a substituição da posição do Estado, em quase
todas as áreas, pelo mercado. E a cultura também sofreu essa retração, em poucas
palavras, a política cultural seria o incentivo às leis fiscais. Nas mãos do Ministro
Francisco Weffort, ocorreu a consagração do referido modelo, que transferiu, através
de lei de incentivo, o poder de decisão sobre quem deveria receber os recursos
públicos à iniciativa privada.
Cabe analisar a situação de três modalidades previstas de financiamento da cultura. O Fundo de Investimento em Cultura e Arte (FICART), voltado para apoiar a cultura em moldes mais capitalistas, não foi regulamentado pelo governo. O Fundo Nacional de Cultura, também não regulamentado, era utilizado através da lógica do favor e da decisão do ministro. Já o financiamento via leis de incentivo torna-se rapidamente na modalidade predominante de apoio à cultura. (RUBIM, 2007. p. 26)
35
Interessante ressaltar que o estava ocorrendo, na realidade, é que a
maior parcela do dinheiro público estava sendo gerido pela iniciativa privada. As
críticas são inúmeras, desde a perda do poder de deliberação do Estado até a
concentração de recursos em poucos programas que, no geral, se encontravam nas
regiões de São Paulo e do Rio de Janeiro. A Lei Rouanet se tornou um importante
instrumento de marketing cultural para as empresas patrocinadoras.
A instabilidade de outrora foi trocada pela estabilidade que pouco
contribuiu de fato para a consolidação de uma política cultural ativa.
2.2.1 Políticas culturais no Brasil: tristes tradições e enormes desafios
A tradição das ausências no Brasil é histórica, transitando entre a
inexistência e a sua forma neoliberal. Com a substituição do poder do Estado pelo
mercado, podemos percebê-las desde a independência brasileira. Naquela época a
cultura era tratada como privilégio de uma elite pautada por uma grave exclusão
social, que utilizava a cultura como uma espécie de ornamento.
A República apenas continuou a tradição do Império, mesmo com a
criação do Ministério da Educação e Cultura e o Instituto Superior de Estudos
Brasileiros - ISEB, não é possível afirmar que houve uma efetiva intervenção do
Estado na área da cultura. Período marcado por “tristes tradições” e os desafios
outrora enfrentados.
Em lugar desta comparação mais imediata e imediatista, opta pelo modo deliberado por uma alternativa metodológica considerada mais consistente. Ele busca investigar como o atual governo tem enfrentado, no campo da cultura, as três tristes tradições das políticas culturais nacionais no Brasil, detectadas através da pesquisa. (RUBIM, 2010, p. 11)
As ditaduras do Estado Novo (1937 – 1945) e dos militares (1964 – 1985)
realizaram uma severa intervenção no campo cultural, sendo inclusive redundante
afirmar que o principal objetivo seria submeter o povo aos interesses ditatoriais,
buscando legitimar a ditadura, além de fortalecer o imaginário de nacionalidade.
Porém, é inegável que se criou uma dinâmica cultural. O governo de Getúlio Vargas
criou legislações para o cinema, a radiodifusão, as artes e a constituição de diversos
36
órgãos culturais, tais como Conselho Nacional da Cultura e o Instituto Nacional do
Livro. Rubim (2007, p.20) relata:
[...] o “modernista” Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Saúde (1934-1945), apesar de conservador, acolheu muitos intelectuais e artistas progressistas em seu ministério, em plena ditadura do Estado Novo, a começar pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, seu chefe de gabinete, e outros como Oscar Niemeyer, Candido Portinari e etc. Pela primeira vez pode-se falar efetivamente em políticas culturais do Estado brasileiro.
A ditadura dos militares, por sua vez, realizou uma reconfiguração da
cultura no Brasil, investimento pesado no desenvolvimento das indústrias culturais
no país, o interesse era claramente tornar a cultura midiatizada. Era uma forma de
controlar as tensões e qualquer movimento contrários ao regime. E nesse intuito
acabou por desenvolver a cultura, através de novas legislações culturais, e outros
organismos culturais como o Conselho Federal da Cultura, a Fundação Nacional das
Artes – FUNARTE, órgãos com grande atuação em prol da cultura brasileira.
A verdade é que o autoritarismo está presente na cultura desde os
tempos da colônia, trata-se de uma sociedade elitista e desigual, marcada pela
exclusão cultural de grande parte da população. Fica claro quando observamos a
trajetória da cultura relativa à conservação do patrimônio brasileiro, na qual somente
palácios, igrejas e fortes foram tombados e conservados. A exclusão das culturas
populares, indígena e afro-brasileira em detrimento da cultura monumental, ocidental
e católica, mostra o alto nível de autoritarismo intervencionista do Estado, que as
restringe a apenas as mais elitistas. Rubim (2007, p.21) comenta:
Nenhuma política e instituição mais permanente foram implantadas para as culturas populares, apesar de algumas mobilizações, acontecidas no período democrático de 1945 a 1964, a exemplo da Campanha Nacional do Folclore e do Movimento de Cultura Popular, conformados pelos governos de Arraes em Recife e Pernambuco. Pelo Contrário, tais manifestações foram antes reprimidas. A cultura indígena foi completamente desconsiderada, quando não sistematicamente aniquilada.
O resultado da equação de ausência somada ao autoritarismo e a
instabilidade já mencionada anteriormente configuram então a terceira tradição das
políticas culturais nacionais. A falta de políticas permanentes, e consequentemente,
37
as descontinuidades administrativas, são características e causas da instável política
cultural ao longo da historia brasileira.
O governo Vargas cria instituições, mas destrói experiências políticas e culturais relevantes como a vivida por Mario de Andrade no Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo. A ditadura fecha em 1964 o ISEB; os Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes e Movimento de Cultura Popular. (RUBIM, 2007, p.22)
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN/SPHAN foi
uma das poucas instituições que permaneceram estáveis durante longo período de
tempo, o serviço da instituição, depois secretaria era a preservar o patrimônio de
pedra e cal, de cultural branca, de estética barroca e teor monumental, através da
circunscrição da sua área de atuação o instituto possibilitou que houvesse
profissionalização e qualificação técnica do seu pessoal. Gerando assim, a
independência e continuidade do órgão durante os variados períodos de
instabilidade.
O próprio setor de cultura esteve inscrito no Ministério de Educação e
Saúde (1930) até compor o Ministério de Educação e Cultura em 1953, e foi preciso
mais trinta e dois anos até ter seu ministério específico (1985). Apesar das pressões
vindas de praticamente todos os setores interessados, a criação do Ministério da
Cultura se tornou inevitável com o retorno da democracia.
Uma nova modalidade de ausência aparece na Nova República, através
das leis de incentivo à cultura, como por exemplo, a Lei Sarney, através da isenção
fiscal, uma forma que retira o poder decisório do Estado e passa para as mãos da
iniciativa privada, estando assim, o Estado, apenas como fonte de financiamento e a
política cultural dependente das escolhas e prioridades das empresas.
É então que a instabilidade se mostra muito evidente, desde sua
implantação nos governo Sarney, desmantelado por Collor e transformado em
Secretaria em 1990 e novamente recriado em 1993, por Itamar Franco. Entre 1985 e
1994, a cultura teve 10 dirigentes, o que gera uma instabilidade institucional grave.
Especialmente no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) –
Francisco Weffort essa nova forma de política cultural caracterizada pela forte
38
ausência de deliberação governamental chega ao ápice, e as leis de incentivo, agora
chamadas de Lei Rouanet e Lei do Audiovisual, permitem que mercado tome o
papel do Estado. Analisando o panorama cultural da gestão FHC podemos sentir a
posição ativa das empresas, em detrimento da posição passiva ou quase omissa do
Estado.
A ausência de políticas culturais no governo FHC nos leva a perceber o
quanto é difícil a relação entre um governo ativo e a democracia, o que explica a
afinidade que há entre governos ditatoriais e políticas culturais sistemáticas com a
participação efetiva do Estado. Nesse contexto apresentamos aqui mais uma das
tristes tradições, a do autoritarismo. Notamos essa cruel tradição quando
percebemos que foi apenas nos períodos autoritários que o Brasil teve planejamento
de políticas culturais com o governo exercendo ativamente seu papel.
Observamos que a instabilidade anterior substituída pela estabilidade do
governo FHC – Weffort não significa que houve superação da tradição de
instabilidade na cultura, afinal, o processo de institucionalização de um ministério
carece muito mais que apenas estabilidade. Em 2002, último ano de FHC, apenas
0,14% do orçamento da União se destinava à cultura, indicando o desprezo da área
cultura naquele governo. Mais que a estabilidade, é preciso um orçamento digno
para concretizar um ministério. Rubim (2007, p.25) sugere que:
Outras variáveis devem ser consideradas como fundamentais para a maior institucionalidade do ministério e, por conseguinte, para superação da tradição de instabilidade. Dentre eles, podem ser lembrados: a quantidade e a localização dos seus equipamentos culturais; as dimensões quantitativa e qualitativa de seu corpo funcional e a existência ou não de políticas públicas e/ou de Estado (e não apenas de governo) que permitam a continuidade das ações do ministério.
Outros componentes que cooperam para instabilidade são a precariedade
e a deficiência do corpo de funcionários, exceto o IPHAN e FUNARTE. O Ministério
sempre sofreu a falta de profissionalização dos funcionários. Não há política de
atualização e qualificação. Configurando uma ausência grave e gritante que contribui
para instabilidade da atuação do estado nacional na cultura.
39
Para finalizar, nos deparamos com a principal mola da instabilidade, a
incapacidade dos governantes de formularem e implementarem políticas além do
seus governos, que tenham longo prazo, que possam ser continuadas pelos
governos posteriores independente de quais sejam eles. Pode-se observar que os
Ministros Gil e Juca buscaram resolver esse problema, demandando políticas mais
continuadas e consistentes. Os desafios que advém das tradições dos governos
anteriores são imensos, desde a fragilidade institucional até a política de
financiamento da cultura.
2.2.2 Políticas culturais do governo Lula: desafios e enfrentamentos
O tópico contextualiza as políticas culturais no governo Lula, sob a gestão
do Ministro Gilberto Gil. Diante desse contexto histórico a nova gestão Gil-Juca
buscou uma nova atitude do Estado, conexa com a sociedade. O desafio do
Ministério foi de formular e implantar politicas culturais em um Estado democrático,
através de encontros, câmaras setoriais, seminários, consultas públicas e
conferências. Assim, a sociedade pode, pela primeira vez, participar das politicas
publicas culturais no país.
Uma forma de enfrentar o autoritarismo foi a ampliação do conceito de
cultura, adotando um conceito antropológico, deixando de atuar apenas no que se
refere ao patrimônio e às artes, abrindo espaço para as demais culturas, entre elas
as afro-brasileiras e indígenas. Exemplo dessa abertura é o projeto DOC-TV, que
associa o Ministério à rede publica de televisão para produzir e exibir documentários
em todo o país.
A tradição de ausências, discutida no ponto anterior, foi o ponto de partida
do planejamento cultural do governo Lula – Gilberto Gil, buscando colocar o Estado
em um papel ativo. Para tanto, a revisão das leis de incentivo é sempre fundamental,
pois até os dias atuais, a cultura continua sustentada pelos incentivos fiscais. Logo,
o poder de decisão continua com as empresas. Rubim (2010) relata que
em 18 anos de vigência da Lei Rouanet, dos oito bilhões investidos, mais de sete
foram recursos públicos. Ou seja, só mobilizou 5% de recursos das empresas e
muitas delas eram públicas.
40
Visto que cerca de 80% do dinheiro que o Estado repassa para a cultura é
proveniente de renúncia fiscal, o debate democrático acerca da participação do
Estado no campo cultural continua sendo necessário e urgente.
A abertura do conceito de cultura é um passo contra o autoritarismo,
mostra que o público prioritário é a sociedade brasileira e não uma elite específica,
tão pouco os criadores culturais. Mas é fato que essa nova relação política que se
quer instituir apresenta problemas, o principal deles é a falta de delimitação da área
de atuação do Ministério. E mais, urge que se crie uma politica para os criadores,
tendo em vista a mudança de foco ministerial, em especial dos artistas e cientistas,
especialmente no cenário das políticas culturais executadas.
Na gestão dos ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira há movimentos que
levam formação da política cultural do Estado, entre elas está a implantação do
Sistema Nacional de Cultura. A construção do SNC está sendo desenvolvida pelo
Ministério em conjunto com os estados, os municípios e a sociedade civil têm como
objetivo promover programas culturais de médio e longo prazo que consigam
ultrapassar as barreiras das mudanças de governantes.
O SNC reconhece a boa tradição de sistemas existentes no País, como o SUS. Ele pretende articular um trabalho voluntário, colaborativo e complementar, entre os entes federados – União, estados e municípios – no campo da cultura, como já acontece no área da educação. Nela as responsabilidades estão nitidamente delineadas: cabe aos municípios o ensino fundamental ou primeiro grau; aos estados o ensino secundário ou de segundo grau e à União o ensino superior ou de terceiro grau. (RUBIM, 2010, p. 17)
O outro movimento é a aprovação e desenvolvimento do Plano Nacional
de Cultura - PNC, que tem duração prevista de 10 anos, tanto o Ministro Gil quanto o
Ministro Juca pontuam que a viabilização desse plano é um dos principais objetivos
do Ministério. O PNC foi uma proposta apresentada à Câmara dos Deputados em
2000, através da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 306, de autoria do
deputado federal Gilmar Machado (Partido dos Trabalhadores - PT/MG). Reis (2010,
p.50-51) explica a motivação para a elaboração do plano:
41
[...] a elaboração do Plano se faz necessária por dois motivos: o fato da cultura não ser um tema importante no rol das políticas públicas, e de haver uma compreensão equivocada no País, de cultura enquanto mera erudição e, portanto “vista como algo supérfluo e diletante”. Os argumentos apresentados na justificativa para a PEC, relacionados a Constituição Federal de 1988, nos remetem para o fato de que a elaboração da Carta Magna de 1988 faz parte do processo de redemocratização do País, após a ditadura militar, e seria difícil ignorar a cultura em sua redação, visto que esse setor teve papel importante na luta contra o regime.
Embora a Proposta de Emenda Constitucional tenha sido realizada na
gestão FHC, não se tinha registro de mobilizações do ministro Weffort voltadas para
aprovação do Plano, esse pouco envolvimento pode ter diversas razões, entre elas,
e talvez a principal, a de que o governo estava influenciado pelo neoliberalismo e
tinha reduzido ao máximo as responsabilidades dos Estados, afinal, no período FHC
vigorava a lógica do mercado.
Outra possível razão é a de que o Plano Nacional de Cultura tem autoria
de um deputado do Partido dos Trabalhadores, partido de oposição ao FHC. E por
último, “a própria falta de articulação do ministro da cultura com as demais estruturas
do governo e com a sociedade, o que nos leva a questionar, inclusive, a
representatividade social e politica do próprio Ministério” (REIS, 2010, p.53)
O Ministério da Cultura divulgou em 2007 as diretrizes do PNC, a partir de
diversos trabalhos desenvolvidos desde a gestão de Gilberto Gil, que reconhece três
dimensões culturais: a simbólica, com uma abordagem antropológica; a cidadã,
estimulando a criação artística, a expansão dos meios de difusão, entre outros; e a
econômica.
A publicação segue com três divisões principais, na primeira parte, estão
os valores e conceitos do PNC, pautado na ampliação do conceito de cultura, com a
sua dimensão antropológica, tendo como ponto alto o reconhecimento da cultura
como um direito de todo cidadão e a responsabilização do Ministério da Cultura
como gestor e formulador de políticas públicas.
Na segunda parte das diretrizes são colocados os diagnósticos e desafios
para as politicas culturais, divididos em seis temas: as linguagens artísticas; as
manifestações culturais; as identidades e redes socioculturais; as politicas gerais; as
políticas intersetoriais; e a gestão pública e participativa.
42
Em sua última parte, as diretrizes apontam as Estratégias Gerais do PNC,
onde estão colocadas as formas de ação do Estado para o campo da cultura e a
partir delas diversas estratégias de ação para os planos municipais, estaduais e
nacional de cultura.
Entre os seus objetivos, podemos citar a definição de políticas públicas
que realmente assegurem o direito constitucional à cultura, políticas essas que
protejam e promovam a diversidade cultural brasileira, além de estabelecer um
sistema público e participativo de gestão com o acompanhamento e avaliação das
politicas adotadas. Inúmeros são os desafios para implantação do PNC,
principalmente porque o governo brasileiro tem pouca prática em planejar ações
continuas no setor cultural.
Seria um grande passo para superar a tradição de instabilidades que
sempre enfrentamos no país, mas essa possibilidade depende da articulação
precisa entre o referido plano e o SNC. Reis (2010) entende que o tema da cultura
ainda não tem o devido reconhecimento na pauta governamental, e isso dificulta a
aprovação de leis, a liberação de recursos, a articulação entre diferentes setores e
órgãos do governo, entre outros.
Um fator essencial para implementação das novas medidas e
consequente institucionalização do Ministério é o aumento do seu orçamento. Trata-
se da vinculação orçamentária prevista na PEC 150, pois insere na Constituição
Federal um recurso permanente para o campo cultural. O aumento no orçamento
cultural promovido nos anos da gestão Gil e Juca é significativo, porém, quando se
observa o quadro de instabilidades do Brasil, um orçamento escrito na Carta Magna
seria de fundamental importância. Rubim (2010, p.21) define que:
As diferentes análises contidas nesse livro, evocando múltiplos aspectos das politicas culturais empreendidas nas gestões dos ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira, apontam para o novo horizonte das políticas culturais nacionais no país. Elas agora existem de modo efetivo, habitam um ambiente democrático e contam com boas possibilidades de se tornarem mais permanentes.
43
A inversão na forma de financiar a cultura é necessária especialmente
quando falamos em aumentar a diversidade cultural e regional, afinal, o
financiamento das leis de incentivo não são eficazes para garantir essa diversidade.
O desafio atual também deve reconhecer a existência de diversos
públicos, com diferentes interesses. A exclusão da maior parte da população
brasileira no consumo e criação cultural é uma barreira a ser ultrapassada. Portanto,
um dos caminhos para construção de uma política cultural de caráter universal é o
envolvimento dos agentes atingidos por tais políticas, e atualmente, temos
ferramenta para isso, visto que cada vez mais temos conselhos que contam com a
participação da sociedade civil. Calabre (2007, p.101) corrobora, compreendendo
que:
Os produtores, os agentes, os gestores culturais, os artistas, o público em geral, também vêm buscando formas de participar e de interferir nos processos de decisões no campo das politicas publicas culturais locais. Ressurgem movimentos de valorização das manifestações culturais locais que incentivam tanto a redescoberta artistas da comunidade, como de novas formas de produção artístico-culturais.
Em suma, existem duas questões presentes na formação da política
cultural atual: a diversidade cultural e a economia cultural. São questões presentes
que geram desafios futuros. Em primeiro lugar, a defesa da diversidade é um ponto
fundamental para preservação da cultura existente, respeitando a diversidade e
defendendo-a diante da globalização uniformizadora.
É imprescindível que haja a garantia e defesa dos produtos e mercado
cultural, sem, no entanto, abrir mão da abertura do intercambio cultural internacional.
Afinal, a manutenção da diversidade cultural não significa que haverá um isolamento
cultural.
No capítulo seguinte discutiremos a forma como os conselhos gestores de
políticas culturais foram criados e instituídos em âmbito nacional e municipal.
Apresentaremos uma discussão sobre criação dos primeiros conselhos gestores de
políticas públicas na área cultural. Em seguida, faremos uma análise hermenêutica
da lei que instituiu o Conselho Municipal de Política Cultural no município de
Fortaleza.
44
Por fim, exporemos entrevistas com os gestores que implementaram o
referido conselho e estes relatarão a trajetória, experiências, tensões e conflitos para
a implementação do conselho, bem como o processo de eleição dos conselheiros
que fizeram parte da primeira gestão.
45
3 CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA CULTURAL DE FORTALEZA: CONSTITUIÇÃO, TRAJETÓRIA, PROBLEMAS E EXPERIÊNCIAS
Neste capítulo discutiremos a forma como os conselhos gestores de
políticas culturais foram criados e instituídos em âmbito nacional e municipal.
Buscaremos responder aos seguintes questionamentos: Quais as experiências
adquiridas a partir da criação dos primeiros conselhos gestores de políticas públicas
na área cultural? Houve debate público para a criação desses espaços de
participação? Existe participação efetiva da sociedade civil nesses conselhos?
A partir disso, este estudo buscará conhecer a lei que instituiu o Conselho
Municipal de Política Cultural no município de Fortaleza, investigando a sua
competência, composição, natureza, além de outros elementos que lhe sejam
característicos para, em momento inicial, entender a motivação do legislador ao criá-
lo e configurar-lhe o perfil, para depois compreender se há correlação e
interdependência entre os distintos elementos caracterizadores dos conselhos, tudo
com o fito de obter um parâmetro de análise para inserção no objeto da pesquisa
que visa responder aos seguintes questionamentos: Com relação ao Conselho
Municipal de Política Cultural (CMPC) do município de Fortaleza, seria o mesmo um
espaço de participação social efetivo ou apenas um lugar para legitimar os atos do
Poder Público através da SECULTFOR? Qual o papel do CMPC na efetivação de
uma democracia cultural participativa na cidade de Fortaleza?
3.1 CIDADANIA E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS CONSELHOS GESTORES DE
POLÍTICAS PÚBLICAS
Sabe-se que a República Federativa do Brasil deu passos importantes
com a promulgação da Carta Constitucional de 1988. Para Cunha (2007, p.135),
“O processo de redemocratização brasileiro foi fortemente impulsionado por
movimentos sociais que lutaram por novos direitos e pela democratização das
relações entre o Estado e a sociedade”. Nesse processo, a estrutura social brasileira
ganha consistência e impulsiona a constituição de parâmetros políticos que norteiam
novas relações entre o Estado e a sociedade no decorrer da redemocratização.
O mesmo processo propiciou que novos grupos políticos ascendessem ao poder,
46
trazendo consigo a participação popular como princípio articulador de seu projeto
político para a gestão do Estado. Rubim (2010) ressalta que a
redemocratização da sociedade brasileira fez emergir um conjunto de conselhos que
tem desempenhado um relevante papel na história recente do país, inclusive no
processo de construção democrática.
Essa participação popular tem como base, além de outros mecanismos, a
criação de conselhos como instrumento de acesso da sociedade civil aos atos da
administração pública.
Entretanto, antes de adentrarmos propriamente na questão dos
conselhos, se faz necessário discutir o conceito de cidadania. O termo “cidadania”,
originário do latim, “civitas”, e que significa “cidade”, é entendido por Dallari, como
“um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da
vida e do governo de seu povo.” E ressalta: “Quem não tem cidadania está
marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa
posição de inferioridade dentro do grupo social.” (DALLARI, 1998, p. 14)
Compreende-se que ser cidadão é participar das decisões da sociedade,
respeitando as diversidades racial, cultural, etária, estética, religiosa, social, dentre
outras, no intuito de melhorar o convívio entre as pessoas. Matias (2008, p.44)
procura esclarecer o termo quando diz que:
Cidadania não é apenas o exercício de votar e eleger os representantes, é também a consolidação de todos os direitos humanos, constitucional e legalmente garantidos, é ainda a participação da construção do futuro da sociedade onde se vive, com a detenção dos instrumentos de que se precisa para se autodeterminar.
Jucá (2007, p.34) amplia o conceito afirmando que “a cidadania não pode
ser compreendida unicamente como a qualidade de possuir direitos”, entende que
se cuida também de ação, de participação do povo, de mobilização de pessoas
imbuídas do sentimento de solidariedade, ressaltando que a cidadania surge da
consciência do povo da necessidade de se tomar parte na construção da esfera
pública e no processo de decisão dos rumos da sociedade.
Segundo Arendt (1983) a cidadania é um direito básico do homem, uma
vez que é nada menos do que o direito a ter direitos. A autora afirma que os direitos
47
humanos pressupõem a cidadania não apenas como um fato e um meio, mas, sim,
como um princípio, pois a privação da cidadania afeta a condição humana. É através
da garantia dos direitos de cidadania que nos tornamos iguais membros de uma
coletividade. A igualdade, assim, é uma conquista política. A cidadania, portanto, é
constituída e elaborada, convencionalmente, pela ação conjunta dos homens
através da organização da comunidade política. É um meio de atenuação das
diferenças através das instituições.
Outro conceito que não pode deixar de ser discutido antes de
adentrarmos ao conteúdo central deste estudo é a questão da participação popular
que se transforma no referencial não só para ampliar as possibilidades de acesso
dos setores populares segundo uma perspectiva de desenvolvimento mas também
para garantir a execução eficiente de programas de compensação social no contexto
das políticas.
Ao fazer uma análise da lei no âmbito formal, Cunha Filho (1997, p.91-92)
afirma o seu entendimento acerca do conceito de participação popular no contexto
dos direitos fundamentais:
Participação popular é efetivamente um direito fundamental, tanto em forma, quanto em essência. Sua presença física esparrama-se em todo corpo da Constituição [...] antes de ser um direito fundamental, é um direito fundante, ou seja, um direito do que decorre a própria significação dos modos de vida e convivência pelos quais optamos.
Portanto, a participação popular deve ser compreendida, como um direito
fundamental dos brasileiros e estrangeiros residentes no país, garantido pela
Constituição Federal, necessário à concretização do princípio democrático e do
Estado Democrático de Direito.
A partir dessas premissas, no intuito de exercer plenamente os ditames
constitucionais, foi inserida no contexto brasileiro a figura dos conselhos de políticas
públicas como forma de viabilizar o acesso dos cidadãos a novas formas de
participação política no processo de instituição da democracia participativa no Brasil.
Dagnino (2002) compreende existir, a partir dos anos 90, uma aposta na
possibilidade de atuação conjunta do Estado e da sociedade civil, o que chama de
“participação da sociedade civil”. Atenta para as categorias que, através de relações
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mais ou menos formalizadas, se inter-relacionam formando esses espaços
democráticos de participação política da sociedade nas decisões públicas.
Existem inúmeras maneiras de se delimitar o que é participação política,
seus graus e suas espécies. Entretanto, independentemente do enfoque, todos os
autores convergem em um ponto: a participação política do povo é a essência do
regime democrático. Dagnino (2002, p.13) ressalta que “a questão da participação
da sociedade civil é um elemento fundamental de diferenciação entre os vários
projetos políticos em disputa”.
A autora menciona, ainda, os Conselhos Gestores de Políticas Públicas,
bem como os Orçamentos Participativos e alguns padrões das relações Estado-
Organizações Não governamentais - ONGs como sendo relações formalizadas,
inclusive por meio da legislação, com objetivos, funções e procedimentos
razoavelmente definidos, além de um caráter permanente e estável e sugere como
relações menos formalizadas, “pontuais” (cuja iniciativa do Estado ou da sociedade
civil pode variar) os casos do Fórum Nacional de Reforma Urbana - FNRU, do
Movimento Sem-Terra – MST - e de alguns formatos de relação Estado- ONGs.
Gonh (2000, p. 175) relata que estes conselhos foram construídos a partir
dos conselhos populares e das comissões de fábrica criados no fim da década de 70
para atuar junto à gestão municipal, dentre os quais se destacaram os Conselhos
Populares de Campinas, que deram gênese ao movimento “assembleia do povo” e o
Conselho de Saúde da Zona Leste de São Paulo, criado em 1976, a partir do
trabalho de sanitaristas que trabalhavam nos postos de saúde desta localidade.
Tatagiba (2002) ressalta que, tendo em vista sua dinâmica de
funcionamento, podemos distinguir os conselhos gestores de outros três tipos de
experiências de conselhos: os comunitários, os populares e os administrativos. Os
conselhos comunitários, comuns nas décadas de 70 e 80, tiveram como objetivo
servir de espaços de apresentação das demandas da comunidade junto às elites
políticas locais, numa relação que renova a tradicional relação clientelista entre
Estado e sociedade.
Já os conselhos populares, ressalta a autora, são espaços públicos
criados pelos próprios movimentos sociais, que têm como características um nível
menor de formalização e o não-envolvimento institucional, isto é, as relações que
49
estabeleciam com o Estado e os partidos políticos tinham como condição
estruturante a defesa de sua autonomia.
Por fim, ela comenta a existência dos conselhos administrativos que estão
voltados ao gerenciamento direto e participativo das unidades prestadoras de
serviços, tais como escolas, creches, hospitais etc., mas que não possuem poder
para influir no desenho das políticas públicas da área em questão.
E, tais como as demais experiências participativas ocorridas no Brasil, os
conselhos resultaram de uma intensa transformação da sociedade civil, fator que,
dentre outros relevantes, determinou a derrocada do regime militar e conferiu
especificidades ao processo de democratização brasileiro. Com o amadurecimento
destes movimentos populares, cada vez mais reconhecidos como interlocutores
válidos frente ao poder público, foi consagrado pela Constituição Federal de 19882,
por meio das chamadas “emendas populares”, experiência que resultou na absorção
pelo sistema jurídico de reivindicações da sociedade civil.
A participação popular como elemento da organização da Administração
pública também influiu na estruturação da máquina administrativa e na divisão de
competências decisórias, por meio da institucionalização de diversos canais de
participação direta3 da sociedade civil na tomada de decisões e da divisão de
tarefas.
Entretanto, os conselhos têm uma história longa, que não começa com a
redemocratização. Há registros de conselhos atuando ainda no período ditatorial,
nos diversos níveis da federação, principalmente na área da cultura, transporte e
educação ligados às políticas públicas mais estruturadas ou concretizadas em
sistemas nacionais. São, em geral, previstos em legislação nacional, tendo ou não
caráter obrigatório, e são considerados parte integrante do sistema nacional, com
atribuições legalmente estabelecidas no plano de formulação e implementação das
políticas na respectiva esfera governamental, compondo as práticas de
planejamento e fiscalização das ações. Para Cunha (2007, p.136):
2 Artigo 1º, parágrafo único. “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” (BRASIL, 1998. p.1) 3 Sua concretização se encontra em diversas regras do texto constitucional, dentre as quais: i) o art. 14 que legitima a iniciativa popular como provocadora do processo legislativo; ii) a definição da obrigatoriedade da participação popular na elaboração de diversas políticas sociais, tais como as de seguridade social (que engloba as ações da assistência social, previdência social e saúde – artigo 194, VII), educação (206, VI), de comunicação social (224) e de criança e adolescente (227, caput). Regulamentados por leis ordinárias, esses dispositivos constitucionais deram gênese aos conselhos de políticas. (BRASIL, 1988)
50
Os conselhos de políticas são estruturas político-institucionais permanentes criados por meio de legislações específicas, nos três níveis de governo, sendo vinculados à estrutura administrativa do Estado. São compostos por representantes de organizações da sociedade civil e do governo, sendo que alguns deles têm paridade numérica. Chama atenção que, para além da participação prevista no texto constitucional, as leis que regulam essa participação estabeleceram que os conselhos tivessem natureza deliberativa, ou seja, deveriam decidir os parâmetros das políticas públicas com a qual estão relacionados e controlar a ação do Estado decorrente dessas deliberações.
A autora entende que a disseminação dos espaços participativos no país,
tais como os conselhos, os fóruns e os orçamentos participativos evidenciam que
apesar de todas as dificuldades e resistências, o projeto participativo se impôs como
princípio na sociedade brasileira.
Tatagiba (2010) compreende que os conselhos gestores aparecem como
espaços nos quais se gesta um importante aprendizado de convivência democrática,
tanto para os atores da sociedade quanto do Estado, indicando a gestação de uma
tendência contrária à privatização dos espaços.
Dessa forma, a sociedade exerceria um papel preponderante na
fiscalização e no controle se estivesse “mais próxima do Estado”, assim como
poderia definir de forma democrática as prioridades na aplicação dos recursos
públicos para cada área. “Esperava-se que, por meio da participação cidadã nos
espaços institucionais, seria possível reverter o padrão de planejamento e execução
das políticas públicas no Brasil.” (TATAGIBA, 2002, p. 47)
Tatagiba (2002) entende ainda que tais mecanismos de participação
obrigariam o Estado a negociar suas propostas com outros grupos sociais,
dificultando a confusão existente entre o interesse público e os interesses dos
grupos que circulam em torno do poder estatal e costumam exercer influencia direta
sobre ele. Esperava-se, ainda, que esta participação tivesse um efeito educacional
na promoção da cidadania a todos os atores envolvidos no processo.
3.2 OS CONSELHOS DE CULTURA NO BRASIL
51
O surgimento dos conselhos de cultura no Brasil ocorre no contexto da
criação de uma série de conselhos técnicos de diversas áreas, a maioria deles
previstos na Constituição Federal de 1934.
O marco para a disseminação e incorporação dos conselhos pela gestão
pública, foi a Constituição Federal de 1988 que estimulou, além da criação dos
conselhos municipais, inclusive em cultura, e também áreas como educação, saúde
e direitos da criança e do adolescente, a incorporação de novas atribuições para os
mesmos.
Conforme Rubim; Brizuela; Leahy (2010), atualmente, no Brasil, existem
1398 conselhos de cultura. São 1371 conselhos municipais, 26 relativos aos estados
e ao Distrito Federal e um federal – o Conselho Nacional de Política Cultural.
O surgimento de conselhos de cultura pensados enquanto espaços de
diálogo entre Estado e sociedade, surgem, principalmente, a partir da nova política
federal da cultura, que tem início em 2003, com destaque para o Sistema Nacional
de Cultura (SNC), quando é proposto um papel mais relevante para os conselhos no
campo cultural.
A participação social através de conselhos de cultura, da forma como é
compreendida hoje, sequer estava em questão até bem pouco tempo. Dito de outra
forma, nem o Estado tinha o imperativo de partilhar seu poder de decisão, nem a
sociedade civil conseguia demandar a criação desses espaços de formulação de
políticas públicas.
Composta principalmente por notáveis, mas também por especialistas da
área, esses conselhos eram entendidos como instâncias de assessoramento, das
quais as pastas de cultura poderiam dispor sempre que necessário, ainda que se
tenha verificado, em alguns regimentos de conselhos, atribuições deliberativas,
inclusive nos anteriores à Constituição de 1988.
Se por um lado, já havia forte presença de conselhos de cultura no
território nacional pré-constituição, por outro lado, mesmo nos anos pós 1988, os
conselhos não eram pensados numa lógica de abertura para que a sociedade
tivesse uma participação efetiva na formulação de políticas públicas.
52
A Constituição de 1988 estabeleceu no capítulo III, intitulado “Da
Educação, Da Cultura e do Desporto”, seção destinada especificamente à cultura,
artigo 215, disposição sobre a obrigatoriedade de que o Estado garanta a todos o
pleno exercício dos denominados Direitos Culturais. Verifica-se, portanto, que a
própria Lei Maior procurou instituir a cultura como um direito, fazendo com que este
preceito integre o ordenamento jurídico.
Segundo Viana (2009), no caso da cultura, a inclusão cultural vem se
dando através das políticas públicas implementadas pelos governos federal,
estadual e municipal, no sentido de permitir a criação, publicação e circulação de
obras artísticas, que conforme a autora:
O parágrafo terceiro do artigo 215 da Constituição textualmente determina a elaboração de Lei específica para a criação do Plano Nacional de Cultura, e outras ações correlatas que devem dar aplicabilidade aos direitos culturais estabelecidos pela Constituição. O mesmo parágrafo ainda afirma que o Plano Nacional de Cultura deve ter como vetor o desenvolvimento cultural do país, bem como a integração das ações do poder público. (VIANA, 2009, p. 61)
Verificamos, então, que a autora defende o dispositivo da Constituição
que fez surgir a ideia que originou a criação dos conselhos de cultura em todo o
país.
Os Conselhos de Política Cultural se constituem em um dos pilares do
Sistema Nacional de Cultura, em implementação pelo Ministério da Cultura,
garantindo a participação da sociedade na definição das políticas públicas de cultura
e controle social dos recursos destinados aos programas, projetos e ações culturais,
no âmbito dos Municípios, Estados e da União. Rubim (2010) nos diz que, o campo
cultural, por certo, não está à margem desta dinâmica política e que o mesmo sofreu
profundo impacto no processo de redemocratização, mesmo considerando todas as
limitações dessa trajetória.
Através das políticas do Ministério da Cultura (MinC), desencadeadas
desde 2003, o tema dos conselhos foi inserido ativamente no contexto, seja através
da revitalização do Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC), seja através
da gestação do Plano Nacional de Cultura (PNC), em especial o Sistema Nacional
de Cultura (SNC). O PNC e SNC surgem como espaços fundamentais para a
53
conformação de uma política de Estado na área cultural, que transcendia o “humor”
dos governos e trazia mais estabilidade para o setor. Um exemplo disso foi a
criação, através de lei, dos Editais de Cultura que visam agregar projetos culturais
diversos através de seleção pública e não por escolha simples dos governos ou por
“apadrinhamento político”.
Os conselhos de cultura desempenham papel relevante para a execução
do Plano Nacional de Cultura, pois tem como função precípua servir como interface
entre governo e sociedade, sendo canais de expressão das demandas para o poder
público, pactuando consensos e precipuamente realizando a construção
democrática das políticas públicas de cultura, além do papel de fiscalização e debate
das políticas propostas pelo PNC. Já o Sistema Nacional de Cultura exige, para o
seu funcionamento consistente, a constituição de uma complexa estrutura
organizativa de execução e acompanhamento das políticas culturais.
Um dos pressupostos democráticos do SNC é o fortalecimento de
instâncias coletivas de construção e fiscalização, que, inclusive, fazem parte de seu
protocolo de adesão à criação de conselhos municipais e estaduais de cultura.
Rubim (2010, p.147) ressalta que estes conselhos precisam não só
funcionar, “mas operarem de forma articulada, colaborativa e radicalmente
democrática [...] os conselheiros necessitam de formação permanente para cumprir
de modo eficiente sua essencial função de conectar Estado e sociedade” para que o
SNC se concretize.
3.3 O CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA CULTURAL DE FORTALEZA
Após todas estas considerações acerca da estrutura dos conselhos,
partiremos, enfim, para a avaliação da constituição do Conselho Municipal de
Política Cultural do Município de Fortaleza.
Apresentaremos neste tópico, além da constituição política da lei que
instituiu o Conselho Municipal de Política Cultural, entrevistas com os gestores que
fizeram parte da criação deste conselho nas quais são narrados os passos para a
criação da lei que instituiu o conselho, bem como sua origem e em que outros
54
modelos de conselho existentes o CMPC fora baseado, a forma de eleição de seus
membros e as tensões e debates para sua elaboração.
Foi a partir da adesão do Município de Fortaleza ao Sistema Nacional de
Cultura (SNC), por força da celebração do pacto de cooperação representado
através do protocolo de intenções, firmado entre os Governos Federal e Municipal,
que nasceu a proposta administrativa da gestão municipal em conceber um sistema
interno de gestão da cultura que pudesse ser integrado às ações do sistema
nacional. Viana (2009, p.88) destaca que “ao Município de Fortaleza ficou a
incumbência de elaboração da criação do Sistema Municipal de Cultura, o que de
fato já ocorreu, sendo o referido sistema objeto da Lei Orgânica Municipal […]”.
A Lei Orgânica do Município de Fortaleza, por sua vez, ao tratar da
criação do Sistema Municipal de Cultura (SMC), limitou-se apenas a prever sua
existência, deixando ao encargo da Lei Municipal Específica 9501/09 a sua
implementação, organização, gestão e o funcionamento do próprio SMC, do
Conselho Municipal de Cultura (CMC), bem como do Fundo Municipal de Cultura
(FMC).
No texto da Lei Orgânica do Município de Fortaleza, o artigo 285 dispõe:
Art. 285. O Município organizará o Sistema Municipal de Cultura (SMC), que abrangerá e articulará todos os órgãos e instituições culturais no âmbito de sua competência, com a finalidade de implementar e implantar as políticas públicas de cultura.
§ 1º O Conselho Municipal de Cultura, órgão de assessoramento integrante do Sistema Municipal de Cultura, terá funções normativa, deliberativa, fiscalizadora e consultiva, com estrutura organizacional colegiada composta por representantes do Poder Público e da sociedade civil, segundo as atribuições definidas em Lei.
§ 2º Compete ao Poder Público Municipal constituir o Fundo Municipal de Cultura, que integrará o Sistema Municipal de Cultura (SMC) com função gerenciadora de recursos destinados à execução das políticas públicas. (FORTALEZA, 2006, p.12)
A previsão do Conselho Municipal de Políticas Culturais (CMPC) veio com
a instituição, em 1º de outubro de 2009, da Lei Municipal 9501, que no bojo do seu
artigo 1º encontrou-se descrita sua finalidade:
55
Art. 1º - O Conselho Municipal de Política Cultural é órgão colegiado permanente, de caráter normativo, deliberativo, fiscalizatório e consultivo, integrante do Sistema Municipal de Cultura, vinculado administrativamente e financeiramente à Secretaria de Cultura de Fortaleza, que, na seara cultural, institucionaliza as relações entre a administração pública e os múltiplos setores da sociedade civil, com a finalidade de promover a gestão democrática e autônoma da cultura no Município de Fortaleza, bem como fomentar a articulação governamental com os demais níveis federados. (FORTALEZA, 2009, p.1).
O referido Conselho é uma instância política criada para pertencer à
estrutura básica da Secretaria de Cultura de Fortaleza – SECULTFOR – com
formato de órgão colegiado, de caráter normativo, deliberativo, fiscalizatório e
consultivo e integrando o SMC, cuja finalidade é promover uma gestão democrática
e autônoma da cultura no município. O CMPC, cujos representantes foram
escolhidos através de uma eleição pública que envolveu toda a cidade, tem caráter
de institucionalizador das relações entre o Poder Público Municipal e a sociedade
civil de Fortaleza.
A missão primordial do CMPC, divulgada em setembro de 2010, no sitio
eletrônico da Prefeitura Municipal de Fortaleza:
A principal missão do Conselho Municipal de Política Cultural é elaborar e fiscalizar políticas públicas para a Cultura de Fortaleza, por meio da articulação e do debate entre os diferentes níveis de governo e a sociedade civil organizada, visando o desenvolvimento e o fomento das atividades culturais em âmbito local. (FORTALEZA, 2010,online)
A partir das proposições levantadas surgiu a ideia de descentralização
das ações do Sistema Nacional de Cultura, que forneceu a base de sustentação
para a criação do Sistema Municipal de Fomento à Cultura, ligado à SECULTFOR, e
que tem como pilares as políticas culturais, tais como o Conselho Municipal de
Política Cultural - CMPC, o Plano Municipal de Cultura - PMC, as leis de incentivo à
cultura e do Fundo Municipal de Cultura - FMC.
A demanda por institucionalização da cultura por parte do Sistema
Nacional de Cultura - SNC – acompanhada pela realização de conferências
nacionais da área, em 2005 e 2009/2010, que tiveram grande poder de mobilização
– também explica a ampliação significativa dos conselhos de cultura no país nos
anos 2000. Calabre (2010) ressalta que dentre as condições de adesão ao SNC, por
56
parte dos municípios, está o compromisso de criação de Conselhos Municipais de
Política Cultural.
Falaremos a seguir sobre a constituição da Lei 9501/09 que cria o CMPC
no município de Fortaleza.
3.4 A CONSTITUIÇÃO DO CMPC DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA: UM ESTUDO
HERMENÊUTICO DA LEI 9501/2009
O propósito deste tópico é analisar a constituição do Conselho Municipal
de Política Cultural – CMPC - do município de Fortaleza, através do estudo
hermenêutico da Lei Municipal 9501/2009 (lei de criação do CMPC no município de
Fortaleza), buscando verificar o processo de criação desse conselho no âmbito do
município, realizando o estudo da legislação dos conselhos no âmbito federal e
estadual, com o fito de avaliar a legislação municipal a partir das questões
levantadas pela democracia contemporânea.
As normas, de forma geral, possuem inúmeras classificações
determinadas pelos doutrinadores clássicos do direito, entretanto, Cunha Filho
(2010, p.95) propôs realizar análises com relação a “uma pluralidade de critérios
classificatórios” das normas que instituem os conselhos no Brasil, especialmente o
Conselho Nacional de Política Cultural.
Ele baseia-se, além de outras, na classificação das normas desenvolvida
por Canotilho (1993), cujos principais aspectos avaliados são: a inserção normativa,
a vinculação potestativa, o produto final da atuação, a composição de seus
integrantes e a sua natureza preponderante. É a partir desse estudo que se
pretende empreender, em paralelo, uma análise da norma que institui o CMPC do
município de Fortaleza. De acordo com Vasconcelos (2006), expressar-se em
normas significa ser normativo. Nas ciências sociais, culturais ou humanas,
prevalece a dimensão axiológica; a ciência social, axiológica e normativa, diz o que
deve ser, situando-se no mundo da liberdade.
Cunha Filho (2010) menciona seu entendimento sobre uma das
classificações das normas que instituem os conselhos no âmbito da Constituição:
57
Quanto à inserção normativa, podem ser: de hierarquia constitucional, quando constam da própria Constituição, sendo por elas criados e, em maior ou menor escala, disciplinados; de hierarquia legal, quando tais características emanam da própria lei ou norma da mesma hierarquia, como Medidas Provisórias ou Resoluções do Congresso Nacional; de hierarquia infralegal, se criados e/ou disciplinados por normas secundárias, como os Decretos, ou até mesmo de graus ainda mais inferiores. (CUNHA FILHO, 2010, p.95)
Feita a análise, constatou-se que a Lei 9501/2009 que trata sobre o
CMPC, em decorrência de suas características, pode ser considerada norma de
hierarquia constitucional, tendo em vista que fora disciplinada pela Lei Orgânica do
Município de Fortaleza - LOM, que é considerada a Constituição do município,
apesar de ter a “Constituição como referência ou disciplina mínima, a ser ampliada
ou incorporada pela norma criadora” (FORTALEZA, 2006, p.12), através do título
“Direito à Cultura”, e que, em menor escala, sugere que se discipline a criação dos
conselhos visando dar suporte e viabilizar o acesso a este direito instituído em maior
escala.
Cunha Filho (2010) assevera que a importância desta classificação está
essencialmente na possibilidade de observar que quanto mais elevada a norma na
qual se insere, maior é a estabilidade do conselho, bem como acentuada é a sua
importância.
No texto da Lei Orgânica do Município de Fortaleza, o artigo 285 dispõe:
Art. 285. O Município organizará o Sistema Municipal de Cultura (SMC), que abrangerá e articulará todos os órgãos e instituições culturais no âmbito de sua competência, com a finalidade de implementar e implantar as políticas públicas de cultura.
§ 1º O Conselho Municipal de Cultura, órgão de assessoramento integrante do Sistema Municipal de Cultura, terá funções normativa, deliberativa, fiscalizadora e consultiva, com estrutura organizacional colegiada composta por representantes do Poder Público e da sociedade civil, segundo as atribuições definidas em Lei.
§ 2º Compete ao Poder Público Municipal constituir o Fundo Municipal de Cultura, que integrará o Sistema Municipal de Cultura (SMC) com função gerenciadora de recursos destinados à execução das políticas públicas. (FORTALEZA, 2006, p.24)
A LOM tratou da criação do Sistema Municipal de Cultura - SMC, e
limitou-se apenas a prever sua existência, deixando ao encargo da Lei Municipal
58
Específica 9501/09 a sua implementação, organização, gestão e o funcionamento do
próprio SMC, do Conselho Municipal de Cultura - CMC, bem como do Fundo
Municipal de Cultura - FMC.
A previsão do Conselho Municipal de Políticas Culturais (CMPC) veio com
a instituição, em 1º de outubro de 2009, da Lei Municipal 9501, que logo no bojo do
seu artigo 1º encontrou-se descrita sua finalidade:
Art. 1º - O Conselho Municipal de Política Cultural é órgão colegiado permanente, de caráter normativo, deliberativo, fiscalizatório e consultivo, integrante do Sistema Municipal de Cultura, vinculado administrativamente e financeiramente à Secretaria de Cultura de Fortaleza, que, na seara cultural, institucionaliza as relações entre a administração pública e os múltiplos setores da sociedade civil, com a finalidade de promover a gestão democrática e autônoma da cultura no Município de Fortaleza, bem como fomentar a articulação governamental com os demais níveis federados. (FORTALEZA, 2009, p.1)
Portanto, a Constituição Municipal, a chamada LOM, sugere a criação do
CMPC, porém quem disciplina o seu funcionamento e organização é a Lei Municipal.
Referente à vinculação potestativa, Cunha Filho (2010, p.96) define que:
“a observação da vinculação dos conselhos permite constatar se os respectivos
papéis se alteram segundo a mesma”, isto é, baseando-se na teoria formulada por
Montesquieu (1991) que ressalta a ideia dos três poderes fluindo independentes,
porém harmônicos entre si, recai no fato de que se pode atrelar a atuação do CMPC
ao Poder Executivo, bem como a outras estruturas estatais e sociais, tendo em vista
que o mesmo tem a função de executar os atos previstos em lei, realizando a
composição do Conselho e a sua condução mediante lei.
No artigo 1º do Regimento Interno do referido Conselho denota-se a quem
compete à vinculação administrativa e financeira do mecanismo de participação,
senão vejamos:
Art. 1º - O presente Regimento estabelece as normas de organização e funcionamento do Conselho Municipal de Política Cultural de Fortaleza (CMPC), criado nos termos da Lei Municipal nº 9501 de 01 de outubro de 2009, sendo, portanto, órgão colegiado permanente, de caráter normativo, deliberativo, fiscalizatório e consultivo, integrante do Sistema Municipal de Cultura, vinculado administrativamente e financeiramente à Secretaria de Cultura de Fortaleza (SECULTFOR), que, na seara cultural, institucionaliza as relações entre a administração pública e os múltiplos setores da
59
sociedade civil, com a finalidade de promover a gestão democrática e autônoma da cultura no município de Fortaleza, bem como de fomentar a articulação governamental com os demais níveis federados. (FORTALEZA, 2009, p.12, grifo nosso).
Verifica-se, pois, que a vinculação se dá administrativamente e
financeiramente ao órgão do Poder Executivo, no caso, a Secretaria de Cultura de
Fortaleza – SECULTFOR.
Com relação ao produto final da atuação, Rubim (2010) entende que um
conselho pode ser meramente consultivo, mas assumir papel relevante na definição
das políticas culturais ou, pelo contrário, ter um caráter formalmente deliberativo e
não deter nenhum poder efetivo de intervir na configuração das políticas públicas de
cultura.
É fundamental trazer as definições dadas por Cunha Filho (2010) acerca
dessa classificação antes de tratarmos da classificação empreendida na lei que
institui o CMPC do município de Fortaleza.
Quanto ao produto final da atuação, podem ser: consultivos, quando a tarefa principal é emitir sugestão que, no entanto, não vincula a autoridade a quem é dirigida; deliberativos, nos casos em que o resultado de sua ação vincula a autoridade destinatária; fiscalizatórios, quando controlam atos ou resultados de uma autoridade, aprovando-os ou reprovando-os e, neste caso, com o poder de adotar providências saneadoras ou transferi-las a outra autoridade; executivos, quando realizam diretamente as políticas, caso em que mais se aproximam ou efetivamente são órgãos administrativos de natureza plural. (CUNHA FILHO, 2010, p.96)
A Lei 9501/2009 é bem enfática ao determinar em seu artigo 1º que
“O CMPC é órgão colegiado permanente, de caráter normativo, deliberativo,
fiscalizatório e consultivo [...]” (FORTALEZA, 2009, p.1). Isto é, consoante definição
dada por Cunha Filho (2010), ser consultivo sugere ter o conselho como tarefa
principal emitir sugestão que, no entanto, não vincule a autoridade a quem é dirigida;
já com relação à definição do caráter fiscalizatório do conselho, o autor sugere que
seja aquele que controla atos e resultados de uma autoridade, aprovando-os ou
reprovando-os, podendo o conselho adotar providências para sanear ou transferir
para outra autoridade a responsabilidade.
60
Os conselhos deliberativos são aqueles que o resultado de suas ações
vincula a autoridade destinatária. O caráter normativo diz respeito à atribuição do
conselho de participação na elaboração e aprovação de normas referentes ao tema.
No caso do CMPC do município de Fortaleza, ele pode ser considerado um
conselho misto, pois como bem pondera o autor, reúne ao menos mais de uma das
referidas potencialidades.
No que tange à composição de conselhos, é importante ressaltar o
disposto nos Artigos 3º, caput, 4º e 5º da Lei 9501/09. Há disciplinada a composição
inicial do referido conselho, que informa que o CMPC de Fortaleza compor-se-á de
42 membros, o que posteriormente foi modificada pelo Regimento Interno aprovado
pelos próprios conselheiros, já no exercício dos mandatos:
Art. 3º da Lei 9501/09 - O Conselho Municipal de Política Cultural compor-se-á de 42 (quarenta e dois) membros, com seus respectivos suplentes, recrutados dentre representantes do poder público e da sociedade civil.
Art. 4º - Integram a representação do poder público no Conselho Municipal de Política Cultural: I - o Secretário de Cultura de Fortaleza, que o preside; II - 3 (três) representantes da Secretaria de Cultura de Fortaleza; III - 1 (um) representante da Secretaria de Turismo de Fortaleza; IV - 1 (um) representante da Secretaria Municipal de Educação; V - 1 (um) representante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Fortaleza; VI - 1 (um) representante da Secretaria Municipal de Planejamento e Orçamento; VII - 1 (um) representante da Secretaria de Finanças do Município; VIII - 1 (um) representante da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Controle Urbano; IX - 1 (um) representante da Secretaria Municipal de Assistência Social; X - 1 (um) representante da Coordenadoria Especial de Políticas da Juventude; XI - 2 (dois) representantes do Gabinete do Prefeito; XII - 1 (um) representante da Câmara Municipal de Fortaleza; XIII - 1 (um) representante do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Histórico-Cultural de Fortaleza; XIV - 1 (um) representante da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará; XV - 1 (um) representante da Universidade Estadual do Ceará; XVI - 1(um) representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; XVII - 1(um) representante da Universidade Federal do Ceará; XVIII – 1 (um) representante da TV Pública; XIX - 1 (um) representante do Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET); XX – 1 (um) representante do Conselho Estadual de Cultura. Parágrafo Único - Os representantes do poder público no Conselho Municipal de Política Cultural serão designados pelos seus respectivos órgãos.
61
Art. 5º - A sociedade civil será representada através dos seguintes setores e quantitativos: I - 1 (um) representante das Artes Visuais; II - 1 (um) representante da Fotografia; III - 1 (um) representante do Audiovisual; IV - 1 (um) representante da Literatura; V - 1 (um) representante da Música; VI - 1 (um) representante do Teatro; VII - 1 (um) representante da Dança; VIII - 1 (um) representante do Circo; IX - 2 (dois) representantes da Cultura Tradicional e Popular; X - 1 (um) representante dos Produtores Culturais; XI - 1 (um) representante do Fórum Temático de Cultura do Orçamento Participativo; XII - 6 (seis) representantes das regiões administrativas de Fortaleza, sendo um por cada Secretaria Executiva Regional; XIII - 1 (um) representante das Organizações Não Governamentais; XIV - 1 (um) representante da Federação do Comércio do Estado do Ceará; XV - 1 (um) representante da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Ceará. (FORTALEZA, 2009, p.1)
Em seguida, colocamos a alteração realizada pelo Regimento Interno
amplia para 44 (quarenta e quatro) o número de conselheiros:
Art. 2º do Regimento Interno – O CMPC de Fortaleza é composto por 44 (quarenta e quatro) conselheiros, sendo 23 (vinte e três) representantes da sociedade civil e 21 (vinte e um) representantes dos poderes públicos; no âmbito da sociedade civil, 18 representantes foram eleitos diretamente pelos Fóruns Permanentes. Somam-se a eles 5 (cinco) indicações, sendo 1(uma) da OAB, 1 (uma) da Fecomércio, 1 (uma) do Conselho Estadual de Cultura, 1 (uma) do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza e 1 (uma) do Conselho do Orçamento Participativo. (FORTALEZA, 2011, p.12)
Verificou-se, pois, clara autonomia nas decisões do conselho quando os
representantes conseguem aprovar, através de votação com participação da maioria
absoluta dos membros, um Regimento Interno que contenha alterações de grande
relevância no que concerne à ampliação da composição do próprio conselho.
Outro aspecto avaliado por Cunha Filho (2010, p.97) ainda sobre a
composição dos conselhos, sugere que os mesmos possam ser:
Exclusivamente público, quando seus integrantes são emanados dos quadros estatais; público-social, quando mesclam a participação de agentes públicos com representantes da sociedade, e, neste caso, subdivide-se em: majoritariamente públicos, quando preponderam os agentes estatais e paritários quando Sociedade e Estado estão igualmente representados.
62
O CMPC do município de Fortaleza é considerado um conselho de
composição público-social, isto é, sociedade e Estado não estão igualmente
representados, e, contrariamente ao que foi dito pela Secretária de Cultura Fátima
Mesquita em entrevista concedida à Alexandre Barbalho, em janeiro de 2011 e
também ao que se encontra estabelecido no Regimento Interno do referido
conselho, no caso da primeira gestão, preponderam os entes do Poder Público o
invés dos representantes da Sociedade Civil. São ao todo 44 conselheiros, sendo 23
representantes do Poder Público e 21 da Sociedade Civil, divididos da seguinte
maneira:
Quadro 1 – Representantes do CMPC do município de Fortaleza
PODER PÚBLICO SOCIEDADE CIVIL SECRETÁRIO DE CULTURA ARTES VISUAIS SECRETARIA DE CULTURA DE FORTALEZA (1)
FOTOGRAFIA
SECRETARIA DE CULTURA DE FORTALEZA (2)
AUDIOVISUAL
SECRETARIA DE CULTURA DE FORTALEZA (3)
LITERATURA
GABINETE DA PREFEITA (1) MÚSICA GABINETE DA PREFEITA (2) TEATRO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DANÇA SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
CIRCO
SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E CONTROLE URBANO
CULTURA TRADICIONAL POPULAR (1)
SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
CULTURA TRADICIONAL POPULAR (2)
SECRETARIA DE FINANÇAS PRODUTORES CULTURAIS SECRETARIA DE TURISMO FORUM TEMÁTICO DE CULTURA DO
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO SECRETARIA DE PLANEJAMENTO ONG’S COORDENADORIA ESPECIAL DA JUVENTUDE
FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DO ESTADO DO CEARÁ
CÂMARA MUNICIPAL DE FORTALEZA OAB-CE SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DO CEARÁ
REGIÃO ADMINISTRATIVA DE FORTALEZA (I)
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ REGIÃO ADMINISTRATIVA DE FORTALEZA (II)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ REGIÃO ADMINISTRATIVA DE FORTALEZA (III)
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL
REGIÃO ADMINISTRATIVA DE FORTALEZA (IV)
CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA REGIÃO ADMINISTRATIVA DE FORTALEZA (V)
TV PÚBLICA REGIÃO ADMINISTRATIVA DE
63
FORTALEZA (VI) CONSELHO MUNICIPAL DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL DE FORTALEZA
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA- CEFET
Fonte: Dados extraídos da pesquisa 2012 - 2013.
Diante dessa constatação, sugere Cunha Filho (2010) que este conselho
tenha caráter majoritariamente público e que certamente prioriza aspectos
essencialmente técnicos para sua composição.
Embora fundada em bases legítimas, a paridade é uma questão complexa
e que exige uma reflexão mais aprofundada. A maior dificuldade para se trabalhar
com a paridade nos conselhos localiza-se na clareza do que se entende como
“governo” e “sociedade civil”.
Os pesquisadores Rubim, Brizuela e Leahy (2010) produziram um estudo
que observou que, em geral, os regimentos e leis que instalam e determinam o
funcionamento dos conselhos estaduais de cultura não fazem uma distinção clara
entre “governo” e “poder público”, o que gera indefinições sobre a composição das
forças de cada conselho.
Eles constataram que quando um governante é eleito, ele assume um
mandato para comandar o poder executivo, isto é, recebe autoridade, investida pelo
voto popular, para montar um gabinete e gerir uma série de estruturas estatais que
prestam serviços públicos. Isso é o que eles chamam de “governo”.
Em outras linhas, perceberam que o “poder público” tem um sentido mais
amplo, na medida em que também abrangem outros dois poderes da democracia
brasileira: o poder legislativo e o poder judiciário. Esses dois outros poderes não
apenas têm funções distintas do poder executivo como seus representantes podem
não estar alinhados com a base ideológica e o programa de governo das
autoridades eleitas.
Ou seja, não necessariamente todos os representantes que não sejam da
sociedade civil estejam “agindo em bloco”, pois o que essa argumentação sustenta é
que quando existe a previsão de um conselho que contenha entre os seus
64
integrantes “membros do governo” a tendência é que eles ajam de acordo com os
mesmos interesses, pois ali estão representando o mesmo projeto e respondem a
uma mesma autoridade. Diferentemente de quando o conselho prevê cadeiras
destinadas a “membros do poder público”, pois ele não terá necessariamente essa
mesma unidade, pois ali podem estar presentes representantes de oposição, isto é,
não se pode prever o comportamento desses integrantes do “poder público”.
Em suma, a categoria “governo”, pelo menos em tese, estaria alinhada
com o Poder Executivo, enquanto que, na categoria “poder público”, não
necessariamente existiria essa garantia. Assim, a oposição governo x sociedade,
base da demanda pela paridade, não se realiza, pois existem agentes públicos –
como legisladores, membros do poder judiciário e até mesmo do ministério público –
que não podem facilmente ser enquadrados em nenhuma das duas categorias.
E essa discussão permite compreender não apenas as demandas de participação
efetiva da sociedade e dos movimentos culturais, mas também as demandas das
múltiplas entidades estatais e das diversas esferas de governo em participar nos
conselhos.
Por fim, Cunha Filho (2010, p.102) avalia a natureza preponderante dos
conselhos, compreendendo que esta pode ser: “política, se tem prerrogativa de
afetar os rumos da atuação estatal, sendo amplo o campo de atuação; técnica,
quando a atividade que desenvolve exige expertise e a atuação é fortemente
pautada por regras técnico-científicas” e que exigem habilidades específicas. Tal
classificação também admite a forma mista, sendo evidenciados quando
correlacionados com outras classificações, isto é, a natureza do conselho é
determinante para a definição de suas competências, as quais, por seu turno, são
decisivas para a definição de sua composição.
No caso da natureza preponderante do CMPC, esta se demonstra
política, tal como é a do Conselho Nacional de Política Cultural, conforme afirma
Cunha Filho (2010), isto é, configura-se sem prerrogativa de afetar os rumos da
atuação estatal, sendo amplo seu campo de atuação, não apenas pelo que revela
sua designação, mas por cada uma e principalmente o conjunto de suas
competências, todas construídas no sentido de interferir nos rumos públicos
adotados para a cultura.
65
O desenvolvimento da democracia participativa vem impulsionando a
organização e o ingresso da sociedade civil nos espaços públicos, por distintas
formas, e uma delas é a participação em conselhos. E a Constituição vigente
estimula e disciplina os mecanismos de democracia direta, tais como os conselhos,
orçamentos participativos, fóruns e etc. fazendo avançar as políticas públicas.
No tocante à temática cultural, observa-se que, paralelamente, avançam
em importância as políticas culturais, com ousadas propostas como a que trata
sobre o Sistema Nacional de Cultura - SNC e suas ramificações, colaborando para o
desenvolvimento dos demais sistemas no âmbito do Estado e Município, alcançando
o Sistema Municipal de Cultura - SMC e os pilares das políticas culturais, tais como
o Conselho Municipal de Política Cultural - CMPC, o Plano Municipal de Cultura -
PMC, as leis de incentivo à cultura e do Fundo Municipal de Cultura - FMC.
O CMPC no Município de Fortaleza é um exemplo disso, posto que
instituído por lei, é órgão colegiado permanente, de caráter normativo, deliberativo,
fiscalizatório e consultivo, integrante do Sistema Municipal de Cultura, vinculado
administrativamente e financeiramente à Secretaria de Cultura de Fortaleza, e que,
na seara cultural, institucionaliza as relações entre a administração pública e a
sociedade civil, com a finalidade de promover a gestão democrática e autônoma da
cultura no Município de Fortaleza, bem como fomentar a articulação governamental
com os demais níveis federados.
A construção de um conselho de política cultural adequado e eficaz fez
surgir a necessidade de estudos aprofundados e análises das normas de criação
desses conselhos no intuito de buscar mecanismos para solucionar as demandas da
sociedade através dos meios legais disponíveis. E essa disseminação dos espaços
participativos no país, tais como os conselhos, os fóruns e os orçamentos
participativos evidenciam que apesar de todos os contratempos enfrentados, o
projeto participativo se impôs como princípio na sociedade brasileira.
3.5 ENTREVISTAS COM OS GESTORES QUE PARTICIPARAM DA IMPLEMEN-
TAÇÃO DO CMPC DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA
A Secretária de Cultura de Fortaleza da gestão que implementou o
referido conselho, Fátima Mesquita, em entrevista concedida a Alexandre Barbalho
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em 21 de Janeiro de 2011, falou sobre a origem das políticas que despontaram para
a realização das ações de implementação da gestão compartilhada:
Primeiro veio a tradição da própria gestão Fortaleza Bela. Ela veio de uma tradição que construiu desde os anos 80, e eu me insiro nesta tradição como secretária de cultura, que desde os anos 80, nós, o movimento de esquerda do Brasil, construímos no Brasil esses modelos de gestão compartilhada através dos conselhos, entre o poder público e a sociedade civil. É uma tradição da esquerda brasileira, principalmente nos anos 80, que se consolidou na Constituinte Cidadã, que traz esses instrumentos de gestão pública compartilhada, tentando implantar um modelo de democratização do Estado, na construção de espaços democráticos e participação da gestão da sua cidade. (Entrevista com Fátima Mesquita).
A então Secretária explicita, sobre os “movimentos de esquerda” no Brasil
e da consolidação da gestão pública compartilhada que, na sequência, veio a
adesão da gestão Fortaleza Bela também ao Plano Nacional de Cultura desde o
programa de governo, na qual já estava colocada nacionalmente a questão da
Política Nacional de Cultura.
Com a adesão ao Sistema Nacional de Cultura pelos municípios, que
previu a construção dos Sistemas Municipais de Cultura, e que contemplou dentro
dessa estrutura o Conselho Municipal de Política Cultural, observamos que constava
previsão no programa de governo da Gestão Fortaleza Bela, e, que a partir do
momento que efetivamente foram eleitos, passaram a implementar esse programa
que tinha o Sistema Municipal de Cultura como um dos elementos básicos.
Em entrevista concedida a Alexandre Barbalho em 19 de março de 2011,
o Secretário Executivo da Secretaria de Cultura de Fortaleza, Francisco Márcio
Caetano de Castro, fala sobre o momento inicial de criação do CMPC:
Desde o primeiro ano da gestão, foi colocada como pauta nacional pelo Ministério da Cultura a implantação do Sistema Nacional de Cultura, iniciou o movimento pela adesão, política pela adesão, foi feito um termo de adesão, chamado “protocolo de intenções”, que o Ministério estabeleceu, e tanto os governos municipais quantos os estaduais passaram a integrar esse processo de implantação do SNC. Era uma proposta de compromisso entre os entes federados que assinavam para que em um determinado prazo criar algumas
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estruturas no campo cultural que fosse mais institucionalizado. E ai, entre os elementos constitutivos do SNC, o Conselho era uma delas. (Entrevista com Márcio Caetano).
O Secretário diz que o ente federativo que aderisse, absorvia algumas
responsabilidades, porém, não chegava a ser obrigação porque o ente poderia
romper ou não cumprir, tendo em vista que era um protocolo de intenções, mas uma
vez pactuado o ente tinha de fato este acordo de compromisso. E ai o Conselho, o
Fundo, as Conferências e o Plano Municipal de Cultural integravam o referido
protocolo.
Em 2005, ano da implantação do referido Sistema, foi realizada a 1ª
Conferência Municipal de Cultura, atendendo às questões colocadas pelo protocolo
e pelo termo de parceria com a política nacional. No ano seguinte, foi reformulada a
Lei Orgânica do Município (LOM) em parceria com a Comissão de Educação e
Cultura da Câmara, e este é um marco legal importante, pois o Sistema Municipal de
Política Cultural, a sua forma genérica, ou enquanto princípios e já apontando a sua
composição, instituindo as Conferências, o Conselho, o Fundo etc. (FORTALEZA,
2006).
A prefeitura reformulou toda a LOM e no capítulo da cultura que
anteriormente era de meia lauda, foi transformado em um capítulo ampliado, e
instituído o Sistema Municipal de Cultura, diz da Conferência que tem que ocorrer de
dois em dois anos, e diz do Conselho, não na sua composição, mas diz que ele é
paritário, consultivo, deliberativo e já estabelece os princípios, diz do Fundo, do
Sistema Municipal de Fomento.
Inclui ainda a Lei do Patrimônio, ampliando a noção de patrimônio, recria
o Conselho de Patrimônio, recria a questão do tombamento imaterial, e, de fato, no
ano seguinte, 2007, foi criada a Secretaria de Cultura de Fortaleza – SECULTFOR,
pois havia necessidade de existir um órgão gestor específico para a cultura, tendo
sido uma das orientações do ministério. Cidades com mais de 300.000 pessoas
tinham que ter um órgão. Na maioria das vezes era partilhada, no caso da cidade de
Fortaleza era uma fundação (FUNCET), portanto, não era exclusiva, então foi criada
a SECULTFOR.
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Após isso, foi implementado o Conselho Municipal de Política Cultural.
Em seguida, iniciou-se o processo na 2ª Conferência em 2007. O texto do conselho,
que dois anos depois se tornou lei, a redação, as proposições, foi aprovado na 2ª
Conferência Municipal de Cultura. E isso foi colocado na Conferência, a minuta foi o
texto transformado em capítulos, “A Natureza do Conselho”, “A Composição”, “As
Atribuições”, aprovados na plenária final da 2ª Conferência com os delegados.
O Secretário Márcio Caetano especifica na entrevista concedida em
março de 2011 quem seriam os outros interlocutores que estavam à frente do
processo de criação e implantação do Conselho no município de Fortaleza, fala que
seria ele o Secretário Executivo, a Fátima, Secretária, o Fábio Giorgio, que estava
na Coordenação de Política e Ação Cultural, que foi criada na reformulação da
Secretaria, e que seria uma coordenação interna que teria como tarefa ter um papel
muito parecido com o que tem a Secretaria de Políticas Culturais para o Ministério
da Cultura, poderia dizer que ela não é uma coordenação-fim, como é a
coordenação de linguagens, de atender projetos, de aprovar ou financiar coisas.
Depois surgiu o Mapeamento Cultural que foi também um plano
desenvolvido que estava atrelado a isso porque é uma peça principal para a
montagem do Plano Municipal de Cultura. A comissão de linguagens já que quase a
totalidade da sociedade civil, era mais da metade, vem das linguagens, tem uma
interlocução com os fóruns. A equipe da Comunicação da SECULTFOR, e, extra
SECULTFOR, foi convocado o Gabinete da Prefeita, através da Comissão de
Participação, a equipe do Elmano de Freitas (Marcelo Fragoso, seu assessor),
principalmente a equipe do Orçamento Participativo (Teresa Assunção), o Grupo de
Trabalho Municipal que possui a representação de todos os conselhos e a Câmara
Municipal (mandados dos vereadores Guilherme Sampaio e Ronivaldo Maia foram
os que mais participaram do processo). Márcio Caetano relata para Barbalho:
[...] as Secretarias Regionais, que “a gente” criou uma representação no Conselho que são os territórios das cidades, que não são as linguagens artísticas e sim qualquer cidadão da sociedade civil pode participar do conselho, seja artista, produtor, sendo que as linguagens de representação específica ou cidadão comum pode ser pelo fórum territorial, por ai é o território e não o órgão Secretaria Regional, portanto, o cidadão residente que possa participar, então pra fazer essa interlocução “a gente” convidou todas as Regionais,
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então os articuladores de cultura de cada regional são ligados a cultura e OP ou cultura e juventude. (Entrevista com Márcio Caetano).
O secretário Márcio explica como ocorreu a questão da representação
através dos territórios das cidades, que, no caso, se deu não a partir de pessoas
ligadas às linguagens artísticas propriamente, mas sim a qualquer cidadão da
sociedade civil que tivesse interesse de participar do conselho, seja artista, produtor,
dentro da perspectiva das Secretarias Regionais, sendo que as linguagens de
representação específica ou cidadão comum poderia ser escolhido pelo fórum
territorial, portanto, o cidadão residente que tivesse qualquer articulação com a
cultura de cada uma das Regionais que tivesse interesse em participar para realizar
essa interlocução foi convidado através das próprias Secretarias Regionais.
Passemos, portanto, a verificar a trajetória, as tensões ocorridas para a
formação do referido conselho, as dificuldades enfrentadas e as soluções dadas
pelo Poder Público, através de experiências de outros conselhos para viabilizar a
implementação do Conselho na cidade de Fortaleza.
3.5.1 Trajetória e experiências de outros conselhos de cultura
A Secretária de Cultura Fátima Mesquita relata, na entrevista concedida
em janeiro de 2011, sua participação nessa tradição política de criação de
instrumentos de governança, de participação popular junto ao governo.
Eu particularmente, como pessoa tenho uma experiência que vem realmente dos anos oitenta quando os primeiros conselhos que foram construídos, que são anteriores até a essa Constituição de 1988, que na verdade é esse movimento dos primeiros Conselhos de Saúde, das Conferências Nacionais de Saúde, que desemboca nos Conselhos Municipais de Saúde e nos distritos sanitários de saúde, no movimento de construção do SUS foi o grande inspirador, no meu entendimento, de todo esse modelo de organização do Estado, na função do estado Democrático e participativo. A Prefeitura de Fortaleza, eu também sou servidora pública municipal, e participei da outra gestão do PT que iniciou este processo aqui em Fortaleza, que era a Prefeitura de Maria Luiza Fontenele, a conhecida Administração Popular de Fortaleza. Então, naquela época eu participei do primeiro Conselho Municipal de Saúde. No Distrito
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Sanitário 01. Eu presidi esse processo. Daí pra cá, muitos conselhos foram sendo construídos. Depois do Conselho de Saúde eu acho que teve o de Habitação, e após o de Assistência Social e mais recentemente teve, já nessa gestão, o Sistema Municipal de Educação, e que, no meu entendimento acho que nós estávamos atrasados em relação ao outros municípios do país. Vários outros municípios do Ceará já possuíam os seus conselhos, mas Fortaleza não tinha. Então quase todas as políticas públicas hoje em dia pressupõem a existência desse instrumento de gestão que são os conselhos. E a cultura interage com vários desses. (Entrevista com Fátima Mesquita).
A pauta da 2ª Conferência Municipal de Cultura de Fortaleza foi
exclusivamente “aprovar a reformulação do papel da prefeitura na gestão da política
cultural especificamente nessa questão de um órgão co-gestor que é o Conselho pra
partilhar a formulação da política cultural em Fortaleza.” O Secretário Executivo fala
ainda na referida entrevista sobre as tensões e discussões que permearam a 2ª
Conferência:
A pauta que teve mais discussões foi a da composição do Conselho. A grande pauta entre as linguagens e os movimentos lá representados, a sociedade civil que lá estava, era quem iria ter assento. É a história do reconhecimento, da visibilidade das linguagens, de quem vai compor esse conselho. (Entrevista com Márcio Caetano)
E lhe foi perguntado ainda se, já durante a conferência, havia sido
colocado esse campo de força com relação à composição do referido conselho.
Márcio argumenta:
Isso. Foi quando ficou mais tenso foi nesse momento. Porque na proposta da prefeitura que é outra questão que em outros lugares, ou historicamente, rende também uma discussão da natureza do conselho, se ele é deliberativo ou consultivo e também com relação aos tipos, se é fiscalizatório ou normativo ou propositivo, e isso já estava na proposta do poder público dito que ele seria no mínimo paritário, consultivo, deliberativo, fiscalizatório, normativo. A prefeitura já dizia isso, não colocou em discussão. (Entrevista com Márcio Caetano)
71
Ele fala sobre as diversas disputas e discussões com relação à
composição do CMPC que houve na ocasião da 2ª Conferência Municipal de
Cultural e na utilização do Conselho de Recife como referência para a elaboração do
texto da Lei que criaria o Conselho em Fortaleza:
O que foi também proposto era uma composição já e ai dessa composição foi onde houve disputa, discussão, debate por representação. Foi apresentada uma minuta, na primeira proposição já havia proposta de composição, da natureza, tinham lá quantos membros fariam parte. Algo que precisa ser visto, é um conselho muito grande. A proposta inicial da prefeitura é que teriam quarenta membros e ai, na conferencia, acomodando os interesses das disputas, foi pra quarenta e quatro membros, fora os suplentes. E ai “a gente” colocando na proposta inicial quem iria estar representado. Que era uma outra discussão. Linguagens artísticas representadas e dentro delas, a primeira discussão é que nos baseamos muito na proposição de Recife como referência. Este conselho tinha acabado de ser reformulado. O primeiro no Brasil pós essa proposta do SNC e da gestão do Lula que reformula seu conselho colocando paridade, deliberação. Por exemplo, Artes Cênicas era um acento. Entretanto, em Fortaleza já sabíamos por escuta dos fóruns que era uma divergência e a própria organização da Secretaria enquanto poder público possui uma coordenação específica pra cada, então, dentro da Secretaria, também já tinha esse interesse até porque as pessoas que lá estavam vinham desse movimento. Algumas outras linguagens, posto que seguimos o Conselho de Recife, por exemplo, o assento de Design, não foram colocadas na proposição do Conselho de Fortaleza porque diziam de uma realidade do lugar ou, a exemplo de como que o design na cidade se representa, foi analisado se ele tinha uma representatividade pra integrar essa questão. Lá tinha um campo outro que era Arquitetura, que aqui foi colocado o Conselho de Patrimônio do Município, e dentro do Conselho que fosse da sociedade civil. (Entrevista com Márcio Caetano)
O Secretário Márcio Caetano falou ainda que essa ideia de se ter o
“cidadão comum” participando do conselho não é algo inusitado do conselho de
Fortaleza, e que foi feita a proposição a partir do modelo de Conselho de Recife.
“Recife tem essa representação territorial.” (Entrevista com Márcio Caetano)
A Secretaria Fátima, por sua vez, pontua a transversalidade na disposição
de acentos em outros conselhos, justamente para promover a integração na ação
dos referidos conselhos.
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[...] os conselhos são formados normalmente de forma paritária, ou então os conselhos tem sempre um representante do governo e da sociedade. Mas por exemplo, o da Cultura não é paritário. A sociedade civil tem mais membros do que o governo. Então, nós participamos do Conselhos Municipais de Turismo e Educação, nós temos acento lá, e nós participamos do Conselho Municipal do Meio Ambiente, que é protagonizado pela SEMAM e do de Juventude, das políticas de juventude. Então nós participamos simultaneamente de quatro modelos de gestão de outras secretarias, de outras políticas, que a gente entende que é muito importante. Eu valorizo muito e pessoalmente, eu estou no de Educação e do Meio Ambiente, ai tem um representante no de Turismo e no de Juventude. Acho que é fundamental, e penso que ainda falta muito para a gente integrar a ação desses conselhos de forma a trabalhar realmente o que eles, quando eles tem esses acentos nos diversos conselhos é para que a gente tenha uma transversalidade, uma ação integrada nesses territórios, e isso de fato não é ainda um instrumento eficaz. Então esses são alguns desses desafios dessas políticas. É exatamente você trabalhar nesses princípios básicos que potencializam os recursos, que dão sentido as políticas, que dão eficácia, pois a vida não é compartimentalizada. (Entrevista com Fátima Mesquita)
A Secretária ressalta que o Conselho de Cultura de Fortaleza não é
paritário e que possui mais membros da sociedade civil que do poder público, e
entende que ter acento nos demais conselhos possibilita a “transversalidade”, uma
ação integrada nesses territórios, entretanto, percebe que ainda é um desafio a ser
alcançado.
3.5.2 Tensões e conflitos para a implementação do Conselho
Muitas discussões foram travadas e as discussões que se davam em
relação a inúmeras situações: um exemplo era a questão da composição municipal
nas artes cênicas, que mesmo partilhadas, existiam discussões internas. O
Secretário Márcio comenta:
O povo do teatro queria que tivesse um assento para o teatro, outro para os bonecos (teatro de bonecos), outro para o humor, que até no fórum e nessa composição agora entrou em cultura tradicional popular, existe a discussão se fica entre artes cênicas ou cultura tradicional popular, mas o humor queria um assento específico, criaram uma associação, possuem um fórum [...] e ficavam tencionando isso. E cada linguagem tinha um representante. Já na música, existia uma discussão com relação aos segmentos: a galera do rock queria um representante da Associação Cearense do Rock, o
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povo do Rip Rop um representante do Fórum Cearense do Rip Rop, Prodisc, vários microcampos. (Entrevista com Márcio Caetano)
Todos os presentes na Conferência aprovaram a minuta que foi
encaminhada para a Câmara dos Vereadores. Revista juridicamente e encaminhada
para o gabinete da Prefeita Luizianne Lins sem nenhuma alteração de redação na
estrutura do conselho.
A única alteração da proposta inicialmente foi a ampliação da composição
dos acentos da Cultura Tradicional Popular, que passou de um pra dois
representantes, tendo em vista a quantidade de representados e o espaço que tem
os mesmos,
porque ai fica o pessoal do movimento junino, a Federação das Quadrilhas e Festivais, Festejos Natalinos, Pré-Carnaval e Carnaval, Humor, todos estes no assento da Cultura Tradicional Popular. (Entrevista com Márcio Caetano)
De todas as linguagens trabalhadas, só eles têm dois assentos. Outros
assentos foram destinados às universidades públicas e ao sistema FECOMERCIO.
Todos tinham representação específica na 2ª Conferência de Cultura. Mesmo que
não fosse a instituição, mas professores. IPHAN e Conselho de Patrimônio.
Comentou o Secretário Executivo que a tensão se concentrou mais em quem estava
lá presencialmente querendo definir uma proposição. Portanto, não houve
necessidade de votação para o texto produzido posto que foi elaborado
consensualmente. (Entrevista com Márcio Caetano)
O Secretário comentou ainda que as tensões foram resolvidas no debate.
A Plenária Final aprovou quase tudo por consenso e a composição ficou para
inscrições (defesa de proposições) e a SECULTFOR sempre propondo consenso,
mediações, pela não elasticidade do conselho, por entender que era o primeiro
conselho, que existe uma dificuldade de achar que aquela representação era aquilo
que se dizia mesmo do que estava colocado na cidade e ai foi entreabrindo
posições, concedendo, com possibilidades de acertos posteriores. Foi efetivamente
consensuado no debate.
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Houve um acordo, uma pactuação para que se tivesse um texto no qual todos concordassem e que a gente dissesse tanto para o Poder Público (que é também um outro acordo) pra nem ser modificado pela prefeitura na hora de enviar pela Câmara, e uma vez a prefeitura concordando e enviando a proposta como foi, ai está consolidado também na Câmara Municipal ter esse argumento também ou esse discurso de dizer que essa proposta que é consensual adveio da 2ª Conferência Municipal de Cultura [...] Dá uma força política nisso. (Entrevista com Márcio Caetano)
E, após a sua aprovação, em 2008, o texto não foi para votação de
imediato, pois era ano eleitoral, sendo incluído na pauta de votação apenas em
2009. Após isso, houve uma Audiência Pública para discutir a sua aprovação, e a
câmara, por sua vez, tentou emendar várias coisas. O Secretário Executivo comenta
sobre quais eram os interesses e quem estava por trás dessas emendas.
As propostas vieram da Câmara, e a SECULTFOR negociou com a presidência da Câmara e com a liderança do governo, na época era o Vereador Acrísio Sena, os demais vereadores Guilherme Sampaio, Ronivaldo Maia e Salmito, os quatro do PT, os quais a gente tinha uma interlocução mais direta, então “a gente” foi pra Câmara negociar um por um com os vereadores que estavam propondo emendas. E conseguimos derrubar todas aquelas que “a gente” era contrário. Pactuamos apenas as que “a gente” teve acordo. (Entrevista com Márcio Caetano)
O Secretário exemplificou as discussões na Câmara citando o caso do
assento da comunicação que é representado no Conselho pela TV Pública, é um
representante da TV Pública. E, entre as TV’s públicas pode ser a TVC, TV Câmara,
TV Assembléia, aquelas que são ditas públicas. Na Câmara, o vereador que propôs
a Emenda sugeriu que fosse a “Associação dos Proprietários dos meios de
comunicação – ABERT – ASSERT”. A Câmara mediou o conflito e passou. Houve
outras propostas de linguagens que tentavam ser reconhecidas e pleiteavam
acentos desde a Conferência. Comenta o Secretário Executivo:
[...] por exemplo, o Humor, o Teatro apresentaram emendas através de vereadores. Mas não passaram. O que foi emendado? O Instituto Federal de Ensino Tecnológico, o antigo CEFET, teve uma cadeira inclusa. E o Conselho Estadual de Cultura que também não tinha
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assento e foi articulado pelos vereadores. (Entrevista com Márcio Caetano)
Em outubro de 2009 a lei foi sancionada, a prefeita então a assinou em
dezembro do mesmo ano. E em 2010 a tarefa seria construir o processo eleitoral de
montagem do Conselho.
Afora os representantes do Poder Público, as diversas Secretarias
Regionais, as Universidades, Federal e Estadual, a OAB, a FECOMERCIO, que os
representantes são recrutados através de indicação, o restante teve que partir para
o processo eleitoral, através de Edital Público de Convocação. E na Lei 9501/09
existe a previsão da eleição, porém não detalha como a mesma será realizada.
3.5.3 Processo de Eleição do CMPC do Município de Fortaleza
Os critérios para ser representante de determinada linguagem era a
atuação na área de alguma forma. E como funcionou o processo eleitoral?
Resolveu-se criar um colégio eleitoral. Estabelecer quem poderia votar e ser votado.
Então, à priori, qualquer pessoa maior de dezesseis anos poderia votar ou ser
votado, ou o “cidadão comum”, artista ou produtor, podia ser representante de seu
território ou da linguagem, através dos fóruns da sociedade civil já existente, poderia
se inscrever para concorrer. O Secretário descreve:
Começamos a criar critérios pra montar esse processo de composição. Então a gente sabia que a priori iria ser um edital de chamamento público, que não é representação de entidade, não é por sindicato, por associação, é livre e ampliada para o campo da linguagem inteira representada em linguagem ou não, profissional ou não, por exemplo, o teatro, tem critério, tem que ter... mas poderá ser desde o nível superior com a graduação em teatro a um “cara” amador que comprove que atua por um folder, um panfleto, um cartaz de uma peça... as pessoas terão que dizer, mesmo que forma simples, da comprovação (desde um portifólio a uma declaração) que exercem aquela atividade. (Entrevista com Márcio Caetano)
O Secretário Executivo de Cultura explicou o processo a partir da
existência dos fóruns da sociedade civil, uns mais outros menos representativos, e
citou o exemplo do fórum do teatro que tem determinada representação, que se
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reúne uma vez por mês no Theatro José de Alencar - TJA, que muitas pessoas e
entidades participam, falou da existência de outras linguagens que possuem outras
formas de articulação, por exemplo, a música não tem fórum específico, existiam
alguns fóruns e entidades, mas por ser o Conselho uma representação pública, tinha
que dar a possibilidade de qualquer cidadão participar, pois algumas vezes não se
tem a publicização necessária ou algumas pessoas não se sentem representadas.
E como era um processo público, geral, o Poder Público teve que
reconhecer esses espaços, entretanto, havia a necessidade de abrir a possibilidade
de qualquer pessoa saber da existência disso. Então foi criada uma forma de colégio
eleitoral que seria um cadastro cultural. E foi aberta como 1ª etapa do processo a
inscrição nesse cadastro, que era virtual, estava no site, o cidadão se cadastrava e
comprovava, quando necessário, que exercia a atividade.
Esse cadastro passava por uma comissão que tinha um prazo para dizer
daqueles que estavam habilitados. Caso houvesse algum problema de recusa,
existia um prazo para recurso. Ou esse cadastro também poderia ser feito
presencialmente. O cadastro impresso estava disponível em todas as Regionais, na
Vila das Artes e na Sede da Secretaria. Marcio explica:
Foi criado esse mecanismo porque na lei que institui o Conselho diz que integra o Conselho os Fóruns Permanentes, só que como ainda estava sendo instalado o conselho... as câmaras, as comissões... que podem ser permanentes ou temporárias, mas que só existirão depois do Conselho instaurado. A ideia é que os Fóruns Permanentes de cada linguagem elejam seus representantes, entretanto, na primeira eleição ainda não existiam tais instrumentos. Portanto, como não existiam, tivemos que criar um colégio eleitoral legítimo para realizar a eleição. O que acabou sendo algo meio “burocrático”, posto que a participação já é difícil, já não é tão sedutora a institucionalidade no campo cultural, é meio disperso. Ai as pessoas tem que se cadastrar, comprovar que atuam, depois tem o dia da eleição, fizemos o cadastro e havia as chamadas “reuniões públicas de cada linguagem” para apresentar de todos os cadastrados, quem queria ser candidato pra que fosse organizado o processo eleitoral, com nome dos candidatos, cédula eleitoral e etc... para que num determinado dia, ou em vários dias e em vários lugares fosse realizada a eleição. (Entrevista com Márcio Caetano)
A forma encontrada foi através do colégio de votantes. As pessoas foram
cadastradas, registradas as candidaturas e feito o processo eleitoral. Em alguns
77
locais houve candidatura consensual com candidato único, em outras houve
disputas.
Por exemplo, a linguagem literatura foi interessante: na disputa, houve vários candidatos e inclusive debate entre eles. Fotografia, por exemplo, não tem um fórum mas foi feita articulação com a Associação e as candidaturas apresentadas vieram de indicação do I Photo, mas na formalidade poderia ser qualquer pessoa da fotografia. Pra ser sincero, a maior “confusão” que houve foi a dos futuros Fóruns que o Conselho prevê, que são um modo de capilarizar o Conselho, aberto pra população com os já existentes. Existiu questionamento posto já existirem alguns Fóruns, de serem criados novos. Foi tomado posicionamento de reconhecimento dos existentes e tenta potencializar, ou seja, ampliar para pessoas que ainda não participam, terem condições de participação. (Entrevista com Márcio Caetano)
Márcio Caetano comenta que em outros ambientes de Conselho não é
tão calmo quanto no campo cultural, “talvez por ser ainda novidade, em outros
conselhos tem denúncia mesmo de gente que disputa, que diz que não reconhece
determinada representação e que tem uma mediação de conflitos enorme”, por
exemplo, na habitação (movimentos de habitação popular), no meio ambiente, os
novos sujeitos do campo social e político que tiveram uma visibilidade mais recente,
os que já conseguiram um espaço maior, tais como os conselhos de saúde, que já
possui duas décadas de conselho, que inventou o SUS e toda sua estrutura de
representação; educação, habitação.
O cultural não é nem que seja frágil, mas talvez ainda menos institucionalizado e de menor tensão política, com um funcionamento ainda por se configurar, mas enquanto poder público a gente tinha essa premissa de ter uma blindagem. (Entrevista com Márcio Caetano).
O Secretário comenta ainda sobre a participação neste processo de
eleições do CMPC. Mesmo ressaltando a questão da burocracia encontrada, foi
verificado um volume satisfatório de representatividade.
Houve mais pessoas pra cumprir essa etapa de se cadastrar, constituir o colégio eleitoral, participar das reuniões de apresentação de candidaturas e debates e detalhamento sobre a natureza do
78
conselho em todos os fóruns existentes do que mesmo no processo de votação em si. Na minha opinião, algumas linguagens, pela organização que tem, como se constituem politicamente, enquanto representação que deve formular ou até mesmo exigir políticas públicas, algumas foram bem articuladas. Numericamente, foram em torno de 600 pessoas envolvidas no processo. Por exemplo, cultura tradicional popular teve cadastradas mais de 80 pessoas, fotografia, umas 30 pessoas. Foi uma representação possível. (Entrevista com Márcio Caetano)
E surge no contexto um questionamento interessante que diz respeito a
possibilidade de outras formas de participação que não sejam presenciais. Fala-se
numa discussão sobre uma “democracia virtual”, ou uma “democracia colaborativa”,
pra usar um termo das mídias digitais, de como se pode participar do processo sem
necessariamente estar numa instância ou fórum de representação que seja apenas
presencial, que fisicamente se tenha que estar presente. O Secretário conclui: Acho que seria uma tarefa para este conselho constituído verificar, além do pleno, de todos do conselho reunidos, as câmaras técnicas, as comissões que organizam trabalho, os fóruns que tentam capilarizar isso nas linguagens, como que se abre para uma plataforma de outra participação? Acho menos burocratizado, mais sedutor inclusive em termos de linguagens pra que eu tome parte nesse processo. E acho que o processo poderá se integrar. Acho que será um processo interessante o de construção da 4ª Conferência Municipal, pois a pauta principal e única será o Plano Municipal de Cultura, e não há necessidade de seguir nenhuma regra, pelo fato de não haver Conferência Estadual ou Nacional, à priori, aquela obrigatoriedade que vem de cima, por mais democrático que seja, já é outra discussão geral do SNC é que geralmente a política é dita pelo Poder Público e na forma que se convoca através do Regimento, da forma que se dispõe o Edital de convocação desses espaços de participação, já é dito tudo como é que é, seja a forma de tirar um delegado, a proporção dos representantes, os prazos, os temas, os subtemas, os formatos possíveis das conferências, deixa pouca margem pra invenção, de outras formas de participar, de colaborar, de propor política pública na área cultural, num campo que é tão atravessado por esses processos mais contemporâneos de participação, de colaboração, de formulação. (Entrevista com Márcio Caetano).
Márcio encerra sugerindo uma discussão para que o próprio conselho
reflita: como que, através de novos instrumentos de formulação de proposições ou
de interfaces com os conteúdos das políticas culturais, sejam os editais, as leis que
regem essa política os cidadãos podem acompanhar e participar, isto é, serem
79
escutados pelo Poder Público? E isso também diz respeito à novas formas de
participação popular nas demandas do poder público.
A seguir, faremos uma análise da dinâmica do Conselho Municipal de
Política Cultural do município de Fortaleza, avaliando o perfil da participação dos
conselheiros que atuaram na primeira gestão do referido conselho, bem como uma
descrição da análise quantitativa do material empírico colhido no período de janeiro
de 2010 a novembro de 2012 (atas das reuniões, anotações de campo, lei,
regimento interno, etc.) e a questão de sua efetivação x efetividade.
80
4 AVALIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DO CMPC DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA COMO ESPAÇO DE DEMOCRACIA PARTICIPATIVA
O presente capítulo tem como objetivo relatar, de forma analítica, o perfil
da participação dos conselheiros que atuaram na primeira gestão do Conselho
Municipal de Política Cultural (CMPC) do Município de Fortaleza (2010-2012).
Paralelo a esta exposição, o trabalho propõe apresentar um conjunto de reflexões
sobre os pressupostos que tem orientado essas investigações quando seus
universos de análise são subgrupos da comunidade política nacional. Mais
especificamente, vamos analisar a relação entre o conceito de democracia utilizado
em estudos sobre cultura política e as conclusões de tais investigações.
Faremos a verificação da possibilidade dos membros do conselho
dialogarem com a classe que eles representam a partir das conclusões extraídas
pelo trabalho de campo e também por meio de análise das entrevistas e atas de
reuniões, e, por fim, a avaliação entre a efetivação e a efetividade do referido
conselho, verificando a relação entre o momento em que se concretizaram os
trabalhos no referido conselho, sua efetiva função como mecanismo de participação
social na gestão de políticas públicas de cultura no município de Fortaleza.
Para tanto, nos valemos dos resultados de uma pesquisa empírica
desenvolvida junto ao CMPC, no período de janeiro de 2010 a novembro de 2012.
Foram analisadas as observações realizadas no campo, bem como o estudo das
atas e a conclusão extraída das entrevistas estruturadas, cruzando os temas
discutidos nas atas com as políticas públicas do município.
No seu horizonte mais distante, a pesquisa visa “fazer o contraste entre o
avanço legal, institucional, da democracia participativa a partir da Constituição de
1988 e das condições concretas da sua operacionalização.” (Souza, 2004, p.76) A
pesquisa se identifica com o campo teórico do debate entre democracia
representativa e democracia participativa, de forma mais precisa. Os dados
quantitativos descritos neste capítulo têm como objetivos, além de contribuir para
futuras análises sobre as propostas de descentralização e democratização das
políticas públicas num contexto de fortalecimento das proposições neoliberais e de
crise do estado de bem-estar social, trazer um diagnóstico atualizado da efetividade
81
dos mecanismos de gestão compartilhada implementados a partir da
redemocratização.
O pano de fundo dessa oposição está no jogo de forças que contrapõe as
propostas neoliberais de reforma do Estado às pressões pela formação de arenas
participativas de deliberação sobre políticas públicas que impliquem a conquista da
cidadania, a universalização dos direitos e a inclusão social.
A sistematização dos dados quantitativos, ricos em informações sobre os
recursos políticos, culturais e materiais dos conselheiros e suas entidades, bem
como de sua dinâmica decisória, ajudará na caracterização do objeto em foco e no
mapeamento dos pontos passíveis de comparação com os demais conselhos em
âmbito estadual e federal.
4.1 AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE PARTICIPAÇÃO DOS CONSELHEIROS DO CMPC
DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA
Neste tópico avaliaremos o nível de participação e envolvimento dos
conselheiros municipais de Fortaleza através dos questionários aplicados entre
outubro e dezembro de 2012, que contou com a contribuição de 07 representantes
das diversas esferas tanto da sociedade civil quanto do poder público e entidades
não governamentais, e ainda a análise das atas das reuniões, realizada através de
planilha que contempla toda a atividade realizada pelos conselheiros nas reuniões
mensais realizadas desde a composição do conselho em 2010 até a sua dissolução
em dezembro de 2012, bem como análise da percepção da dinâmica deliberativa,
debates, encaminhamentos e decisões realizadas pelo CMPC.
4.2.1 Autopercepção dos conselheiros de cultura de Fortaleza
Realizada análise dos 7 (sete) questionários aplicados entre os
conselheiros de cultura das diversas esferas que exerceram o 1º mandato do CMPC,
verificou-se nas falas que há pontos de convergência entre os conselheiros, mas
também alguns pontos que denotam divergência de opinião entre eles.
Com relação à autopercepção do conselheiro sobre o seu papel dentro do
82
CMPC, foram perguntados como e porque teriam sido escolhidos conselheiros de
cultura de Fortaleza. Em seguida, questionou-se qual o significado de ser
conselheiro e quais as dificuldades encontradas no exercício da atividade.
Obtivemos o seguinte resultado:
Luiza Maria Aragão Ponte, representante da Secretaria Regional I,
entende que foi escolhida conselheira de cultura, à priori, por desenvolver atividade
artística na área do teatro, entretanto, participa do conselho como membro da
sociedade civil representante da regional que reside. (representação territorial). Ela
relata que foi escolhida “através de uma votação oral realizada na própria
SECULTFOR na qual estavam todos os representantes das demais regionais”.
A representante da SER-I fala ainda sobre o que significa para ela, ser
conselheira de cultura de Fortaleza, ressaltando a importância e a honra de “estar
em contato com a fomentação do Plano Municipal de Cultura e também da
oportunidade de fazer contato com outras categorias e regionais da cidade,
participando da atualização das políticas culturais da cidade”. Entretanto, relata uma
dificuldade enfrentada que é a de se articular com os conselheiros de outras
regionais.
Ainda entre os membros da sociedade civil, Henrique Pereira Rocha, um
dos representantes da linguagem Cultura Popular Tradicional, fala sobre como foi
escolhido conselheiro de cultura de Fortaleza:
A partir da divulgação da implementação do CMPC de Fortaleza, o tema foi levado à discussão no Fórum Cearense de Cultura Popular Tradicional, no qual debatemos a necessidade de representatividade de nossa categoria no referido Conselho. Naquele momento, dentre os presentes, só houve interesse concreto em se lançar como candidato um representante do Boi da Juventude (Eduardo) e eu. Porém, Eduardo naquele momento ainda não tinha maioridade, ficando apenas a minha indicação ao Conselho a partir daquela reunião do Fórum Cearense de Cultura Popular Tradicional. [...] o processo de votação que aconteceu durante dois dias, tendo como local a Casa de Juvenal Galeno.
Henrique Rocha comenta ainda sobre o que significa pra ele ser escolhido
conselheiro de cultura de Fortaleza:
83
Destaco que desde a reformulação do Conselho Estadual da Cultura, por parte da Secretaria da Cultura do Estado, nós, da categoria das Culturas Populares Tradicionais, passamos a acompanhar mais de perto as políticas públicas e procuramos garantir representatividades legítimas nestas instâncias de discussão.
Ele considera como uma oportunidade ímpar, neste momento de
implantação do CMPC de Fortaleza, “haver sido conselheiro nesta primeira gestão
para poder opinar e interferir na política pública de cultura de nossa cidade em favor
dos interesses dos grupos artísticos e das categorias culturais que tem como base
de sua organização a sociedade civil”.
Entretanto, ressalta as dificuldades que enfrenta para exercer o seu papel
dentro do CMPC:
[...] que em primeiro lugar, foi de tentar fazer que os demais conselheiros de áreas artísticas diversas, das representações governamentais e de outras instituições ali representadas compreendessem as necessidades intrínsecas dos mestres, grupos, brincantes, produtores culturais e pesquisadores que fazem parte da categoria que eu represento, pelas especificidades e diversidade das manifestações e expressões da cultura tradicional popular. Em segundo lugar, e penso, de maior gravidade, foi perceber que as discussões levantadas no Conselho não possuem repercussão no âmbito da administração da Secretaria da Cultura de Fortaleza, não havendo por parte deste órgão gestor providências concretas em relação às demandas levadas a discussão no Conselho Municipal.
Já entre os representantes do poder público, tivemos resposta de cinco
dos conselheiros. Dois foram respondidos por representantes da SECULTFOR, um
pelo representante da Coordenadoria da Juventude, um representante da Câmara
Municipal de Fortaleza e o conselheiro suplente que representa o Instituto de Cultura
e Arte da Universidade Federal do Ceará.
Marcelo Dídimo Souza Vieira, representante que acredita ter sido
escolhido conselheiro de cultura por ser professor do ICA – UFC foi escolhido
através de uma carta-convite e relata que sua maior dificuldade em participar das
reuniões é o horário. Mas fala sobre o significado de ser conselheiro de cultura de
Fortaleza: “tentar representar a categoria e participar das decisões deliberativas do
conselho”.
84
Entretanto, um dos conselheiros mais atuantes, o representante da
Câmara Municipal de Fortaleza, Guilherme de Figueiredo Sampaio, por sua vez, fala
sobre como se deu a sua escolha para participar no CMPC do município de
Fortaleza:
Minha participação começa a ser construída já no meu 1º mandato como vereador e presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto e Lazer da CMF. Como presidente da Comissão, pelas razões óbvias de representar a CMF nos temas afins à Comissão, como interlocutor da sociedade civil. Como vereador, por trazer em minhas prioridades como parlamentar além da Educação, a Cultura. Por entendê-la como direito básico e essencial, como fator de desenvolvimento humano, principalmente no nível simbólico, mas também na perspectiva econômica. Neste caminho aprendi muito e cada vez mais me embrenhei pelos caminhos da cultura, contribuindo, como parlamentar, e de forma decisiva, na criação e estruturação de toda a institucionalidade da cultura, como a criação da Secretaria, do Conselho e do Sistema de Fomento.
Guilherme Sampaio relata ainda sobre o que significa para ele participar
como conselheiro da 1ª gestão do CMPC do município de Fortaleza, não relatando
nenhuma dificuldade para exercer o seu papel como conselheiro.
Significa participar de um fórum de caráter essencialmente democrático, efetivamente público, motivo de orgulho pela contribuição em sua constituição e consolidação. Significa alegria pela oportunidade do aprendizado que a relação com a sociedade civil em parceria com o poder público me proporciona, assim como me traz um forte sentimento do cumprimento do dever de forma transparente e partilhada.
André Aguiar Nogueira, Coordenador do Plano Municipal de Cultura e
representante da SECULTFOR, relata que sua escolha como conselheiro se deu
devido a sua atuação desenvolvendo atividades relacionadas à institucionalização
da política pública de cultura, principalmente na elaboração do plano de cultura, e o
conselho é parte fundamental nesse processo. Além disso, André é pesquisador
acadêmico na área da História Cultural.
Ele fala sobre a opção pela sua indicação, “a relação estabelecida no
cotidiano de trabalho favoreceu a indicação, pois, no caso dos conselheiros da
SECULTFOR, é uma escolha direta da própria secretária”. Para ele, ser conselheiro
85
tem um relevante significado, mas ainda é pouco explorado na prática.
Acho que a plena contribuição dos conselheiros depende de processo de capacitação de técnicos, gestores e artistas. Muitos dos que são indicados e, por não terem perfil ou interesse, acabam reduzindo a qualidade das reuniões. As dificuldades são muitas. Desde o cumprimento do quorum até as posições assumidas nos debates, que deveriam ser norteadas pelos interesses coletivos. Mas acredito que o principal desafio é execução das deliberações tomadas. Existe um hiato entre aquilo que a sociedade civil deseja e as condições de atendimento dessas demandas. Quando as proposições não são realizadas, as pessoas ficam desestimuladas, as instituições são desvalorizadas e a comunidade de modo geral não é contemplada.
Ethel de Paula Gouveia, suplente da conselheira Silvia Bessa, que
representa a SECULTFOR, foi escolhida através do Núcleo Gestor da própria
SECULTFOR, indicação acatada pela Secretária de Cultura de Fortaleza Fátima
Mesquita. A escolha foi em função de ser Coordenadora de Comunicação da
Secretaria e assim ter desenvolvido uma visão sistêmica da política cultural
desenvolvida ao longo da atual gestão. Para ela, ser conselheira:
Significa poder pensar e avaliar critica e coletivamente a política pública desenvolvida no âmbito da cultura. E poder contribuir com as decisões sobre programas e projetos para a área, participando assim mais diretamente do processo de transformação social que passa pela valorização e afirmação da cultura e das artes forças geradoras de reflexão, resistência e reinvenção da vida.
Quanto às dificuldades enfrentadas pelos conselheiros para exercer o seu
papel dentro do CMPC, ela contesta, relatando que:
Todas as condições são dadas para o exercício desse papel, inclusive no que se refere à liberdade de expressão. E há uma atenção voltada especialmente para a diversidade de vozes, tanto quando se trata de poder público quanto de sociedade civil. Mas sinto falta e já reivindiquei assentos para representantes dos meios de comunicação de massa e comunicação alternativa, popular e livre no Conselho Municipal de Política Cultural. Isso porque entendo que a democratização da cultura passa pelo debate público que vem sendo feito nacionalmente, inclusive, sobre a necessária e difícil democratização da comunicação.
86
Representando a Coordenadoria da Juventude, Lucas Gurgel do Amaral
Carleial, foi escolhido conselheiro de cultura de Fortaleza através de indicação do
próprio órgão sob a justificativa de que o representante possuiria “atuação e
representatividade no campo cultural, seja junto a entidades, produtoras e grupos
musicais”.
Para ele, o maior significado de exercer o papel de conselheiro de cultura
de Fortaleza é:
Levar demandas e proposições de um segmento da população de Fortaleza, bem como atualizar esse referido segmento acerca das deliberações que envolvem as políticas públicas para a cultura. É, acima de tudo, estar disposto a lidar com os diferentes anseios que cada linguagem e território buscam, em prol de uma política cultural de estado.
Entretanto, entende que há dificuldades para exercer o seu papel dentro
do CMPC. “As discussões prolixas e ausência de uma metodologia sistematizada,
por vezes, desestimulam uma participação mais efetiva e propositiva”.
4.2.2 Sentidos acerca do papel e da inserção dos conselheiros de cultura de Fortaleza
Com relação aos sentidos acerca do papel e da inserção do CMPC, os
conselheiros foram perguntados acerca da avaliação que eles fazem do papel do
CMPC, e dos próprios conselheiros como representantes da entidade ou categoria
que participam, e, por fim, se, há um diálogo entre o conselheiro e a categoria que
ele representa.
Luiza Ponte avalia o papel do CMPC, ressaltando que o mesmo “é
estratégico nas políticas culturais e também no entendimento de como ter uma
cultura mais descentralizadora e atuante”. Ela relata que exerce seu papel de
representante tentando fazer as articulações entre as comunidades e tem a
pretensão de organizar uma atividade cultural com as outras regionais. Comenta
que, na medida do possível, faz contato com algumas pessoas que trabalham na
SER- I, principalmente na área de Educação.
87
Já o Conselheiro Henrique Rocha, representante da Cultura Tradicional
popular, falando sobre o papel do CMPC, entende:
[...] ser muito cedo para avaliar o papel do CMPC, já que neste primeiro momento as demandas principais giraram entorno de sua regulamentação através de seu Regimento Interno e na consolidação do Sistema Municipal de Cultura, com a criação do Fundo Municipal de Cultura e das discussões para a elaboração do Plano Municipal de Cultura. Vê-se, assim, que as pautas do CMPC foram quase que exclusivamente demandas pelo Poder Municipal, restando muito pouco espaço para a discussão das temáticas levantadas pelas categorias representativas da sociedade civil e, consequentemente, não havendo encaminhamentos necessários para atendimento ou aprofundamento das discussões levantadas pelas linguagens artísticas.
Entretanto, Henrique faz uma reflexão sobre a necessidade de se ter uma
ação pública que atinja às expectativas das linguagens artísticas, ressaltando que:
Ao final da gestão, parece-me que a ação política para favorecer a categoria que represento deveria ter sido travada dentro da própria Secretaria da Cultura de Fortaleza, junto à coordenação de Cultura Popular Tradicional, considerando-se que a coordenadora responsável pela nossa linguagem artística só esteve uma vez em reunião do Conselho. [...] Apesar de ter tentado pautar e questionar sistematicamente sobre as ações da Secultfor em relação aos programas para a atenção às manifestações da cultura popular tradicional, não percebi que as discussões travadas no Conselho tenham tido repercussão junto aos gestores da Secretaria da Cultura de Fortaleza, como já afirmado anteriormente.
Ele desabafa ressaltando a dificuldade de acesso dos representantes da
sociedade civil com relação ao atendimento das demandas das categorias pelo
poder executivo:
Difícil para um representante da sociedade civil, além de cumprir com suas obrigações junto com a agenda do Conselho, ter que também estar sistematicamente na sede da SECULTFOR para pleitear melhoria na atenção à sua categoria. Nos contados obtidos com os gestores desta secretaria, parece-me que a atenção pelo órgão público é dada para as pessoas que frequentam permanentemente as repartições em busca de benefícios individuais, ficando a ação coletiva proposta pelo Conselho Municipal de Política Cultural enfraquecida e ignorada pelo poder público. Chego a esta conclusão por não ter percebido de forma efetiva que funcionários (efetivos, cargos comissionados ou tercerizados) da SECULTFOR tenham tomando algum tipo de resolução em suas decisões no âmbito da
88
gestão pública baseados em uma demanda ou orientação definida em reunião do Conselho Municipal de Política Cultural.
E finaliza relatando sobre os espaços de interação e diálogo com a
categoria que ele representa:
O diálogo com minha categoria tem como principal espaço de interação o Fórum Cearense de Cultura Popular Tradicional, em funcionamento desde 22 de abril de 2004, sendo um espaço aberto e democrático para a participação de agentes da cultura tradicional popular, mestres, brincantes, artistas, artesãos, religiosos tradicionais, produtores e gestores culturais, pesquisadores e demais interessados na valorização da cultura popular tradicional do Estado do Ceará. As reuniões do Fórum acontecem mensalmente, e nestas oportunidades, como conselheiro da categoria, repassei os resultados das reuniões do CMPC e ouvi as demandas da categoria para serem apresentadas em reuniões do Conselho. Outra forma de interação permanente é através do correio eletrônico, no qual possuo um cadastro de 150 (cento e cinqüenta) endereços para os quais repasso todas as informações recebidas referente a nossa categoria, inclusive as convocatórias para as reuniões do CMPC. O Fórum Cearense de Cultura Popular Tradicional por sua vez, tem seu próprio grupo de discussão em plataforma do Google, no qual as informações que envio são replicadas. Por fim, outra forma de interação com a categoria é minha participação em eventos, visitas a grupos e outras oportunidades de encontros informais nos quais conversamos e tenho oportunidade de ouvir demandas e necessidades de mestres e grupos tradicionais.
O Conselheiro Marcelo Dídimo acredita que o CMPC tem um papel
fundamental na gestão cultural da cidade. Mas se posiciona, pontuando que “com
toda sinceridade, algumas questões – às vezes discutidas exaustivamente – ficam
somente no papel. A deliberação é importante, mas a execução é mais importante
ainda”. O professor comenta que é suplente do Prof. Hector Briones, e, sobre o
diálogo estabelecido ele ressalta: “sempre que podemos, conversamos sobre as
questões do CPMC, comunico as minhas sugestões e comentários para que ele as
leve ao conselho”.
O representante da Câmara Municipal de Fortaleza, Guilherme Sampaio,
avalia o papel do CMPC:
Fundamental! A melhor construção de políticas públicas é o resultado do trabalho não do poder público, mas do colegiado constituído pelo poder público em próximo e intenso diálogo com o público, com a
89
sociedade civil que o pauta em suas necessidades e prioridades. A verdadeira política pública só assim pode ser pensada, inclusive como forma pedagógica de enriquecimento mútuo, o que faz de um Conselho como o CMPC um colegiado importantíssimo. Toda a dificuldade e limitação que porventura resulte deste exercício é tão somente a dificuldade e limitação que as relações sociais nos impõem, sendo assim, então, natural e necessária até, no processo de crescimento e amadurecimento democrático.
Ele comenta sobre sua participação e estabelecimento de diálogo com a
categoria que representa como representante e presidente da Comissão de
Educação e Cultura:
Minha colaboração se dá, sobretudo, na pavimentação das vias de acesso e diálogo entre o Conselho e o Legislativo, na proposição de ordenamentos possíveis, na elaboração de conteúdos de ordem jurídica, mas, sobretudo, sem me desvincular de minha óbvia condição de cidadão que pensa a Cultura como direito básico, essencial e fundamental para o desenvolvimento humano, na proposição de políticas públicas em si, que fortaleçam nosso contexto cultural. [...] constante e sistematicamente comunico a meus pares toda e qualquer matéria de relevância do CMPC, assim como atuo no contínuo esforço de sensibilizar a Casa para a importância da Cultura.
Os representantes do Poder Público que compõem o CMPC realizam a
análise acerca do papel e da inserção do CMPC. André Nogueira faz uma avaliação
crítica no que concerne à visibilidade de suas atividades:
[o CMPC] exerce um papel crucial, mas, no caso de Fortaleza, ainda não foi dada a devida visibilidade para suas atividades. Isso em parte se explica por ser um processo bastante recente. E, enquanto representante do poder público no CMPC, é preciso entender algumas posturas e alinhamentos políticos. Mas tenho toda liberdade de me posicionar diante das questões que se apresentam. Nesse sentido, acho que o conselheiro deve atender prioritariamente os interesses coletivos. Viso garantir as condições para que as políticas públicas, democraticamente estabelecidas, sejam integralmente cumpridas.
Já a conselheira Ethel de Paula tem uma visão mais otimista do papel
desempenhado pelo conselho.
90
O conselho é extremamente importante como instancia crítica e fiscalizadora das ações, projetos e programas propostos pelo poder público municipal para a cultura. Pela sua diversidade intrínseca, no âmbito do poder público e da sociedade civil, dá visibilidade e legitima diferentes pensamentos e vozes, contribuindo assim com a descentralização e democratização de recursos aplicados na área. Também é o espaço por excelência do debate público, da mobilização social e dos agenciamentos em pro da cultura, o que, por si só, já diz sobre sua importância e necessidade premente.
Ela comenta sobre o seu papel no conselho e defende a discussão crítica
e transversal entre o Poder Público e a comunicação. Como conselheira, ela
descreve como se estabelece esse diálogo com a entidade que representa.
Mesmo ocupando uma cadeira de suplente e representante do poder público procuro defender uma discussão crítica e transversal acerca de ações relacionadas à comunicação para a cultura. Faço ainda a ponte entre a Cultura e o Núcleo de Comunicação Popular e Alternativa do Gabinete da Prefeita, que por sua vez dialoga sistematicamente com comunicadores populares e suas entidades representativas. A inclusão do I Edital de Comunicação Popular e Alternativa no orçamento da Secultfor, por exemplo, foi uma reivindicação acatada pela secretária Fátima Mesquita a partir dessa nossa articulação.
Esse diálogo, diz a então assessora de comunicação da SECULTFOR,
“se dá apenas no âmbito institucional, entre Secretaria e Núcleo de Comunicação
Popular e Alternativa do Gabinete da Prefeita”. Mas o Núcleo desenvolve diversas
ações em parceria com comunicadores populares e suas entidades representativas,
fazendo assim essa ligação, ainda que indireta e pontual, com parte do segmento.
Isso se dá dessa forma porque cultura e comunicação ainda não são
pensadas conjuntamente e como instâncias complementares no âmbito do
município. Ou seja, não há uma política pública de comunicação definida e
consolidada, assim como não há uma política pública de comunicação para a cultura
instituída. O que há é comunicação institucional, apenas.
Por fim, verificamos a visão do representante da Coordenadoria de
Juventude, Lucas Gurgel, sobre o papel do CMPC:
O CMPC possui um papel atuante dentro das políticas públicas para cultura. Apesar de estar em seu primeiro mandato, muitas conquistas foram efetivadas, a exemplo do Plano Municipal de Cultura e o diálogo com outras instâncias que não as ligadas diretamente à
91
cultura. No entanto, as proposições do CMPC carecem de um método mais eficaz que favoreça os encaminhamentos enfadonhamente postos em discussão.
Lucas Gurgel, acerca do seu papel como representante da Coordenadoria
da Juventude, ressalta que o seu diálogo é dado, sobretudo, com as entidades que
trabalham com a música, mais até do que com as entidades que trabalham com a
juventude de maneira geral, por meio de encontros e informativos com produtores,
coletivos e associações, seja por malas diretas e/ou reuniões presenciais.
Ele relata ainda que procura estabelecer o diálogo com a categoria
“trazendo as discussões em voga no Conselho para as entidades representativas da
música principalmente por meio de informativos virtuais para as várias instâncias
representativas da música.” Tal formato foi escolhido principalmente por não existir
um Fórum de Música constituído.
Dentre os sete entrevistados, cinco eram associados a outros
mecanismos de participação na esfera coletiva, tais como sindicatos, associações
filantrópicas, culturais ou sociais, ONG’s ou partidos políticos. Luiza Ponte participa
da ONG GEDAM, Sociedade de Belas Letras e Arte, Academia da Incerteza e
Trapos & Cacarecos Cia. Teatral. Henrique Rocha é presidente da Comissão
Cearense de Folclore e participa do Maracatu Nação Iracema, Fórum Cearense de
Cultura Popular Tradicional e Grupo de Coco da Praia do Balbino – Cascavel.
André Nogueira é membro da Associação dos Moradores do Titanzinho.
Já o conselheiro Lucas Carleial participa da Associação Cultural Cearense de Rock -
ACR e da Rede Ceará de Música - REDECEM.
O vereador Guilherme Sampaio, além do CMPC, faz parte dos Conselhos
Municipais de Educação e Juventude.
O tópico seguinte tratará sobre a análise das atas das reuniões, realizada
através de planilha que contempla toda a atividade realizada pelos conselheiros nas
reuniões mensais realizadas desde a composição do conselho em 2010 até a sua
dissolução em dezembro de 2012, bem como análise da percepção da dinâmica
deliberativa, debates, encaminhamentos e decisões realizadas pelo CMPC.
Entretanto, antes de realizarmos a referida análise pretendemos definir
92
parâmetros teóricos que julgamos necessários ao entendimento do instituto da
participação social no contexto dos conselhos.
4.2.3 Análise das atas de reunião do CMPC do município de Fortaleza
Durante e após a redemocratização, na década de 80 e principalmente
nos anos 90, surgiram no país e em todos os níveis de governo um número
significativo de conselhos, conferências, fóruns, orçamento participativo e ouvidorias
voltados a diversos setores da atividade estatal, sendo bastante ampliada sua
participação na discussão de políticas públicas.
Barbalho (2010, p. 250) observa que, de uma forma geral, os conselhos
de cultura, apesar de existirem em vários municípios brasileiros, em decorrência do
Sistema Nacional de Cultura em implementação pelo Governo Federal através do
Ministério da Cultura, se configuram muitas vezes como estruturas corporativas e
com funções meramente consultivas.
Ainda segundo Barbalho (2007), mesmo quando atuam com força de
deliberação e representam setores mais amplos do campo artístico, a presença dos
conselheiros, por não possuir ligações de fato com as categorias representadas,
termina por atender meramente aos seus interesses pessoais e de seus círculos de
relação mais próximos – o intimismo com o poder, tão presente na história das
relações entre Estado e cultura no Brasil.
Nesse sentido, é importante destacar que o caráter da administração
municipal é fundamental para que os conselhos não se tornem meros aparelhos
legitimadores de decisões tomadas pelo poder público, isto é, não sejam apenas
instrumentos para legitimar os atos das secretarias. Lavalle (2004, p.109) reflete que
se faz necessária a superação do antagonismo entre sociedade civil/ Estado,
devendo esta relação se dar “em termos de sinergia, complementariedade e
conflituosidade animadas pela lógica política do governo da ocasião e não pelas
características estruturais do Estado”.
Falar em conselhos pressupõe estabelecer suas atribuições, seu poder de
decisão e, principalmente, sua composição. Mata-Machado (2010, p. 232) indica que
os conselhos tornam-se mais efetivos quando têm a competência para formular
93
diretrizes políticas, fiscalizar a execução dos planos e programas governamentais e
gerir fundos. Ele ressalta que os conselhos ampliam sua efetividade quando são
deliberativos, ao invés de consultivos e paritários4, ou seja, com participação
igualitária da sociedade e do poder público.
Estes conselhos podem interferir de forma direta nos modos de atuação
dos órgãos governamentais e não-governamentais responsáveis pela execução das
políticas a cujas áreas estão ligados, impondo mecanismos de responsabilização do
Estado perante à sociedade. A competência legal de deliberar sobre políticas
públicas é a principal força dos conselhos enquanto espaços potencialmente
capazes de induzir à reforma democrática do Estado.
E, embora verifiquemos o pouco tempo da existência do CMPC do
município de Fortaleza, o que não favorece afirmações mais conclusivas, a análise
da bibliografia sobre o tema, a partir de uma perspectiva comparada, nos faz crer
que muitas são as dificuldades para que estes princípios normativos se efetivem em
experiências concretas.
Ou seja, apesar da própria existência do conselho já indicar uma
importante vitória na luta pela democratização dos processos de decisão, os estudos
tem demonstrado que ainda tem sido muito difícil reverter, na dinâmica atual dos
conselhos, a centralidade e o protagonismo do Estado na definição das políticas e
das prioridades sociais.
Avaliar a capacidade deliberativa do CMPC de Fortaleza e seu impacto no
processo de produção das políticas públicas é uma tarefa que ainda só pode ser
feita de maneira tentativa, seja por se tratar de uma experiência recente, seja pela
dificuldade em estabelecer parâmetros seguros de análise. Tatagiba (2005) comenta
que as avaliações mais comuns presentes na literatura sobre o tema são de que os
conselhos não estão cumprindo sua vocação deliberativa. Comenta a autora que:
4 Em muitos casos a paridade entre membros da sociedade civil e do poder público representa uma mera igualdade numérica e não uma igualdade política, vale dizer, não há equilíbrio na disposição dos interesses em conflito. E tal desigualdade pode estar relacionada à assimetria na obtenção de informações dos órgãos públicos, poucos recursos subjetivos por parte dos conselheiros, pouca capacidade de mobilização e dificuldade de dedicação por parte da sociedade civil no que tange aos projetos e atribuições desse espaço ou do próprio poder público de encarar tal espaço como sendo de partilha de poder e não apenas como mais um de seus encargos como servidor público.
94
Os motivos estão, no geral, relacionados à dinâmica de funcionamento dos conselhos: a centralidade do Estado na elaboração da pauta, a falta de capacitação dos conselheiros, problemas com a representatividade, dificuldade em lidar com a pluralidade de interesses, manutenção de padrões clientelistas na relação entre Estado e sociedade, recusa do Estado em partilhar o poder etc. Além desses motivos, a bibliografia vincula ainda a fragilidade deliberativa dos conselhos à sua ambígua inserção no conjunto da institucionalidade e à questão da existência e efetividade dos fundos. (TATAGIBA, 2005, p. 212)
Entende Tatagiba (2005) que, embora a motivação seja distinta em cada
exemplo de conselho, a grande maioria dos estudos aponta para “a baixa
capacidade de inovação das políticas públicas a partir da sociedade civil nos
conselhos” decorrente dessa participação assumir contornos mais reativos que
propositivos.
Na análise das atas das reuniões do CMPC do município de Fortaleza do
período de 2010 a 2012, que permitiu esmiuçar a dinâmica deliberativa em suas
diversas etapas: proposição, debate, encaminhamentos e decisão e verificamos, à
priori, a quantidade de reuniões ordinárias (RO) e extraordinárias (RE) que
ocorreram no período, sendo um total de 23 (vinte e três) reuniões ordinárias e 06
(seis) extraordinárias.
Durante todo o período, há expressiva presença tanto dos gestores
públicos como da sociedade civil, estando a Secretária de Cultura como presidente
do referido conselho, bem como o Secretário Executivo, presentes em quase todas
as oportunidades.
Em seguida, relacionamos os assuntos mencionados nas atas das
reuniões do CMPC do período pesquisado e compilamos na Quadro 2, a seguir:
95
Quadro 2 - Agendas Tema
Agendas Tema – Pautas 1 Plano Municipal de Cultura 2 Sistema Nacional de Informações Culturais 3 Regimento Interno do Conselho 4 Lei Municipal que criou o conselho 5 Calendário 6 Plano de Trabalho - Os Desafios do CMPC para 2011 7 Plano Municipal de Cultura 8 Lei Orçamentária de 2012 9 Funcionamento do Conselho
10 Fundo Municipal de política Cultural 11 4ª Conferencia Municipal de Cultura 2011 12 Eleições dos membros das Câmaras Temáticas 13 Eleição titular e Suplente para participação orçamento participativo 14 Eleições da Secretaria Geral do CMPC 15 Fluxograma do CMPC 16 Polo criativo de Fortaleza 17 Quadro de Frequência 18 Ajuda de custo 19 Cadastro e Mapeamento cultural 20 Sistema Municipal de Fomento à Cultura 21 Reunião das Câmaras 22 Festejos Natalinos 23 Editais das artes 2012 24 Planejamento Orçamentário 2012 25 Eleição nova gestão do CMPC 26 Prioridades do CMPC para 2012 27 Comissão do Humor 28 Projetos de Equipamentos Culturais 29 Alterações na Lei 9501 30 Fóruns Permanentes 31 Alterações no Regimento Interno
Fonte: Dados elaborados pelo autor.
A referida tabela contribuiu para quantificar os temas discutidos nas
reuniões do CMPC. Foram ao todo, trinta e um temas discutidos ao longo das atas
pesquisadas, sendo que alguns dos temas se repetiam ao longo de inúmeras
pautas. No Gráfico 1 – Agenda Tema 2011. há a demonstração da quantidade, em
percentual, dos assuntos que tiveram maior relevância, isto é, que foram mais
levados às pautas do conselho no primeiro ano pesquisado.
96
Gráfico 1 – Agenda Tema 2011
Fonte: Dados extraídos da pesquisa 2012 - 2013.
Verifica-se uma predominância de assuntos ligados à organização do
conselho, tais como seu Regimento Interno, a eleição de suas câmaras temáticas e
de sua secretaria geral, discussões sobre a Lei Orçamentária Anual de 2012 e
assuntos ligados à organização de uma conferência (IV Conferência de Cultura) que
tinha como meta a elaboração do Plano Municipal de Cultura. Portanto, denota-se
inicialmente que o conselho se volta pra si mesmo, pra sua organização interna,
priorizando a discussão de temas sobre organização do próprio conselho.
Já no Gráfico 2 – Agenda Tema 2012, é demonstrada, em percentual, os
assuntos relevantes levados às pautas do segundo ano de gestão do conselho.
Neste gráfico se observa uma sensível alteração decorrente do amadurecimento da
participação conselhista, entretanto, os assuntos discutidos ainda perpassam pela
organização do conselho, tais como, a ajuda de custo dos conselheiros não-
governamentais e a eleição da nova gestão do CMPC. Entretanto, alguns assuntos
continuam no topo dos mais discutidos, são eles: o Plano Municipal de Cultura e Lei
Orçamentária Anual de 2012, assuntos estes que podem ser considerados de
interesse de ambas as representatividades.
Planos Municipais deCultura
Regimento Interno doConselho
Lei Orçamentaria de 2012
4ª Conferencia Municipalde Cultura 2011
Eleições dos membros dasCâmaras Temáticas
Eleições da SecretariaGeral do CMPC
97
Gráfico 2 – Agenda Tema 2012
Fonte: Dados extraídos da pesquisa 2012 - 2013.
Sobre a avaliação da presença dos atores no ano de 2011, o Gráfico 3
demonstra a assiduidade dos conselheiros, que se manteve constante por quase
todo o período, tendo uma média de 53% de presença da sociedade civil contra 47%
do poder público ao longo do ano. Entretanto, houve um pico de porcentagem maior
de presença do poder público na 4ª reunião ordinária (RO), realizada em fevereiro
de 2011, na qual houve a discussão e aprovação do Regimento Interno do CMPC, e
dois picos de porcentagem maior da presença da sociedade civil, um na 10ª RO e
outra na 17ª RO, nas quais tiveram como pauta questões como o Fundo Municipal
de Cultura e a ajuda de custo, além de outras como o Mapeamento Cultural, IV
Conferência de Cultura e Editais das Artes 2012.
Plano Municipal deCultura para Cidade DeFortaleza
Lei Orçamentaria de 2012
Ajuda de custo
Cadastro e Mapeamentocultural
Eleição nova gestão doCMPC
98
Gráfico 3- Presença dos atores em 2011
Fonte: Dados extraídos da pesquisa 2012 - 2013.
No Gráfico 4, que analisa a presença dos atores no ano de 2012,
verificamos que a média de assiduidade foi alterada para 51% de presença da
sociedade civil contra 49% do poder público, ficando ainda mais equilibrada.
Entretanto, os picos de porcentagem maior de presença da sociedade civil na 4ª
reunião ordinária (RO), realizada em setembro de 2012, na qual houve a
apresentação final e aprovação do Cadastro de Agentes Culturais, e dois picos de
porcentagem maior da presença do poder público, um na 6ª RE e outra na 22ª RO,
nas quais tiveram como pauta principal o Plano Municipal de Cultura.
Gráfico 4- Presença dos atores em 2012
Fonte: Dados extraídos da pesquisa 2012 - 2013.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617
Sociedade Civil
Poder Público
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Sociedade Civil
Poder Público
99
A participação homogênea entre poder público e sociedade civil foi
observada até a 21ª RO, quando houve um declínio progressivo da participação da
sociedade civil e, em contrapartida, um aumento nos “atos de fala” em favor do
poder público. Neste período, as atas tem como pauta principal a discussão sobre o
Plano Municipal de Cultura.
No que tange à participação dos conselheiros nos debates promovidos
nas reuniões, notamos um equilíbrio quantitativo entre conselheiros da sociedade
civil e do poder público, apesar de em várias ocasiões da análise das atas,
verificarmos que no momento da proposição dos temas, se confirma uma tendência
de que os debates e as negociações realizadas tenham sido limitados pela
imposição unilateral dos interesses temáticos do Estado.
Gráfico 5- Atores dominantes em falas seguidas de debates em 2011
Fonte: Dados extraídos da pesquisa 2012 - 2013.
Contabilizando o número de “atos de fala”, vale dizer, de intervenção no
debate em algum dos pontos da pauta, verificamos que, no primeiro ano de
conselho, houve uma média de 35% de “falas seguidas de debates” pelos
conselheiros da sociedade civil presentes à reunião. Há picos de participação nas 4ª
RE e 14ª RO, enquanto que, com relação ao poder público, a média “falas seguidas
de debates” foi de 36%, com picos nas 1ª RE e 5ª RO. Em 29% das intervenções
não houve continuidade no debate.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
%Falas seguidas dedebate PP
%Falas seguidas dedebate SC
100
Gráfico 6- Atores dominantes em falas seguidas de debates em 2012
Fonte: Dados extraídos da pesquisa 2012 - 2013.
No ano de 2012, destacamos uma centralidade do Poder Executivo na
definição dos “assuntos relevantes” para discussão no interior do conselho. A maior
incidência de “início das falas” no interior do Conselho é do poder público e o
segmento que mais apresentou assuntos a serem debatidos e aprovados pelo
CMPC é o governamental, em particular o órgão gestor.
No que se refere à agenda temática de discussões, a Quadro 3 – Perfil
das Pautas/ Demandas, demonstra quais foram os assuntos tratados nas atas do
período analisado.
Quadro 3 – Perfil das Pautas/ Demandas
Perfil de Pautas - Demandas 1- Construção de Agenda
• Propor Políticas; • Incentivar estudos; • Estudar e sugerir medidas para expansão e aperfeiçoamento das atividades do CMPC; • Buscar articulação com outros conselhos gestores e entidades afins
2 – Formulação de Políticas
• Analisar políticas de geração, captação e alocação de recursos; • Colaborar na articulação publico-privada; • Definir diretrizes
3- Tomada de decisões
• Emitir e Analisar pareceres; • Deliberações;
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
%Falas seguidas de debatePP
%Falas seguidas de debateSC
101
• Aprovação de políticas da gestão pública
4- Implementação de políticas
• Definir critérios para o estabelecimento de convênio entre administração e organizações públicas ou para definir a política pública proposta; • Executar a política pública •
5-Avaliações de Políticas
• Avaliar e fiscalizar ações de políticas; • Ouvidoria e Conferências de cultura.
6- Outras • Regimento interno e lei; • Soluções de dúvidas/ esclarecimentos; • Prestação de contas da gestão municipal
Fonte: Dados elaborados pelo autor.
Esta tabela contempla as atividades desempenhadas pelos conselheiros
nas referidas atas. Verificamos, através do Gráfico 7 – Perfil de Demandas 2011, que
no ano de 2011, as atividades se concentraram nos planos de “construção de
agenda”, com 39% das proposições e nas “questões procedimentais”, com 20%.
Verificou-se que o período inicial de implantação do CMPC é propositivo;
durante as reuniões existe a formulação de propostas e ideias e discussão das
mesmas a fim de criar-se a agenda de políticas públicas para a cidade. Esse período
também é marcado pelas questões procedimentais, entendidas como o
estabelecimento de regras internas, tais como datas de reuniões, horários, formação
de comissões para a delegação de tarefas, esclarecimentos sobre regras já
impostas pela lei ou regulamento quanto às questões do cotidiano da secretaria.
Gráfico 7 – Perfil de Demandas 2011
Fonte: Dados extraídos da pesquisa 2012 - 2013.
Construção deagenda
Formulação depolítica
Tomada de Decisões
Implementação depolíticas
Avaliação de Políticas
Outras
39%
27%
13%
20%
13%
102
Os resultados da pesquisa demonstram, principalmente nas primeiras
atas, uma forte tendência de que nas abordagens predominem questões mais
relacionadas à organização interna, como elaboração de regimentos e legislações
específicas em detrimento dos assuntos públicos. Dados estes que foram alterados
durante o andamento das reuniões, o que sugere um determinado amadurecimento
dessa instância como espaço de formulação e fiscalização de políticas.
Com relevante destaque quantitativo, apresenta-se o plano de
“formulação de políticas”, ressaltando que esta é uma fase que demanda maiores
cuidados, pois exige que se torne exequível a política pública proposta
anteriormente. Esta atividade teve destaque já a partir da 4ª RO, em fevereiro de
2011, quando houve deliberações sobre o Regimento Interno do conselho, Fundo
Municipal e Sistema Municipal de Fomento à Cultura e se estendeu durante todo o
período pesquisado.
Com relação à demanda “tomada de decisão”, verificamos que houve um
aumento pouco significativo do primeiro para o segundo ano de participação
conselhista. No Gráfico 8 - Perfil de Demandas 2012, observamos que no período
determinado houve um percentual de 17% contra 13% do ano anterior (Gráfico 7), o
que reflete que as políticas gestadas no primeiro ano foram lentamente sendo
amadurecidas e deliberadas pelos membros do conselho.
Gráfico 8 – Perfil de Demandas 2012
Fonte: Dados extraídos da pesquisa 2012 - 2013.
Construção deagenda
Formulação depolítica
Tomada de Decisões
Implementação depolíticas
Avaliação dePolítcas
Outras
40%
30%
17%
7% 7%
103
Com menor destaque quantitativo, entretanto, não menos importante,
apresenta-se o plano de “avaliação de políticas”, que se incluiu nessa categoria o
processo de fiscalização do CMPC de Fortaleza sobre as atividades da
SECULTFOR, a avaliação de políticas públicas já executadas e a formulação de
seminários e conferências. Nessa etapa destaca-se a IV Conferência Municipal de
Cultura promovida em novembro de 2011, com a finalidade de elaborar as diretrizes
para o Plano Municipal de Cultura.
Sobre a sequência do processo decisório, há uma característica que
chama atenção na maioria das atas e inclusive nos relatos das Conferências
Municipais de Cultura, indicando certo “consenso” ou “harmonia” contrária às
expectativas da deliberação democrática. Há relatos de que as votações realizadas
dentro do CMPC para elaboração das propostas do Sistema Municipal de Fomento à
Cultura, Fundo Municipal de Cultura e Plano Municipal de Cultura foram
praticamente todas aprovadas por consenso. Tatagiba (2005, p.212) reflete que:
[...] os conselhos decidem sobre temas relacionados às políticas públicas, sem debate ou negociação, o que parece sugerir uma despolitização dessas instâncias. Infelizmente, os autores não avançam na tentativa de elucidação dessa característica marcante nos conselhos gestores, tendo em vista o viés mais descritivo que imprimem à análise dos dados.
Entretanto, a autora, apesar de criticar a questão da tendência a uma
posição “mais branda e não-crítica” por parte dos membros do conselho, revela que
este posicionamento não se restringe apenas aos conselhos, mas estende-se a um
grande número de experiências consideradas inovadoras não apenas no Brasil, mas
em toda a América Latina. E isso ocorre justamente porque realizam o novo,
inovando processos e conteúdos das políticas, ao mesmo tempo em que mantém
limites rígidos ao avanço do diálogo entre públicos e instituições no que diz respeito
à democratização da decisão.
Os conselhos de cultura devem enfrentar dois desafios prementes que se
configuram em uma questão central: a ampliação de sua representação. Para Faria
e Moreira (2005), os desafios constituem em incorporar outras linguagens artísticas
que não apenas as tradicionais (dança, teatro, literatura etc.), tais como, arte
sequencial e grafite, e também disciplinas como sociologia, antropologia, história e
104
filosofia e o segundo desafio seria inserir as mais variadas configurações de
movimentos sociais.
Barbalho (2010) entende que essa ampliação da representação nos
conselhos deve ser acompanhada pela garantia do mandato dos conselheiros e que
estes atuem em duas gestões seguintes (não necessariamente ao longo de toda a
gestão), possibilitando uma “certa continuidade nas políticas e reforçando a
independência do Conselho frente ao novo gestor”. Acrescenta ainda aos desafios
dos conselhos de cultura a conquista da sua efetividade, sugerindo o autor que:
[os conselhos] não sejam apenas um espaço de consulta, mas também de deliberação no que diz respeito à elaboração das políticas e de suas ações e de seu orçamento. É fundamental também sua independência financeira, garantida por lei, de modo que, mesmo financiado pelo poder executivo, não fique à mercê da boa vontade do gestor em exercício. (BARBALHO, 2010, p.250)
E esse argumento de Barbalho (2010, p.250) que se coloca a favor da
independência financeira dos conselhos corrobora com a ideia de se distanciar de
uma das “tristes tradições das políticas culturais brasileiras” comentadas no primeiro
capítulo dessa dissertação, posto que a questão orçamentária seja um elemento
decisivo na implantação da democracia cultural. E não apenas pelo fato de que se o
setor cultural não obtiver recursos suficientes suas políticas não serão
implementadas, mas também porque o orçamento acaba por ser negociado a partir
de ações pontuais, recaindo novamente nas conhecidas “políticas de balcão”.
Verifica-se, portanto que, essa institucionalidade ainda possui um
potencial relevante não utilizado pelos atores que a compõem, seja pela
inexperiência da gestão no compartilhamento de decisões políticas, seja pela
ausência de mobilização e capacitação da sociedade civil que ainda não se
apropriou devidamente desse canal de democracia participativa.
105
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve como objetivo fundamental contribuir com o debate
acerca das alterações trazidas pela instituição, através da Lei Municipal nº 9501, de
1º de outubro de 2009, do Conselho Municipal de Política Cultural – CMPC – para o
fortalecimento dos mecanismos de efetivação da democracia e consolidação da
participação da sociedade civil no processo de construção das políticas públicas
voltadas para a cultura no município de Fortaleza.
Utilizando uma metodologia que privilegiou a análise da estrutura do
conselho, não apenas através da interpretação da norma, mas também a partir da
imersão em dados qualitativos extraídos a partir do campo, e ainda através de dados
quantitativos colhidos nas atas das reuniões, verificamos a função do CMPC a fim
de trazer maiores esclarecimentos e acesso à população acerca dos seus direitos
fundamentais inseridos no contexto cultural, levando-se em consideração a
perspectiva de iniciamos o estudo a partir do início da vigência da norma, o que
possibilitou a verificação do nascedouro das ações realizadas para legitimar sua
aplicação.
Antes de retomarmos os aspectos relevantes de nosso estudo, pontuados
ao longo dos capítulos, e apresentarmos a síntese dos resultados da pesquisa,
precisamos ponderar sobre algo importante em nossa proposta de estudo.
Ao considerar que a construção interpretativa acerca da realidade social
nos apresenta as respostas que os outros dão às nossas questões e que deve ser
sempre transitória, e ainda, “intrinsecamente incompleta”, nos termos de Geertz
(1989, p. 41), queremos afirmar, aqui, a impossibilidade de esgotamento da
realidade por meio desse trabalho e reiterar que os achados etnográficos não são
privilegiados, apenas particulares; o importante nesses achados é a sua
especificidade complexa, sua circunstancialidade.
Portanto, os resultados por ele apresentados não poderão ser tomados
como verdade absoluta, pois nele estarão presentes apenas aproximações da
totalidade complexa que constitui a realidade.
106
Nesta perspectiva, nosso trabalho investigativo não permite fechar
conclusões acerca da participação e da experiência do Conselho Municipal de
Políticas Cultural de Fortaleza. Assim, as generalizações aqui apresentadas dão-se
dentro da microexperiência estudada e no marco temporal específico.
Na busca de compreendermos as especificidades da experiência do
CMPC em Fortaleza e a construção dos significados sobre a participação gestados
neste espaço, realizamos, inicialmente, um resgate sócio-histórico e político-cultural
do contexto das políticas culturais e da participação conselhista no Brasil.
A nossa referência é que o conselho é um processo contraditório que
envolve várias dimensões, relações de poder e significados em disputa. E, como
processo, está sempre em aberto, sendo construído e reconstruído pelos sujeitos
sociais ali presentes. Desta forma, o que apresentamos, enquanto resultado de
nossa pesquisa é apenas expressão de tudo aquilo que vem sendo gestado dentro
do conselho.
Ao avaliarmos a primeira gestão do Conselho Municipal de Política
Cultural (2010-2012), percebemos o esforço do poder executivo em criar uma
multiplicidade de canais abertos à participação principalmente a partir da gestão
Fortaleza Bela. Os processos que envolvem a criação dos conselhos, orçamentos
participativos, dentre outros mecanismos de participação, torna incontestável a
disposição dessa gestão em ampliar esses espaços de participação. Contudo,
somente a abertura desses espaços não significa a efetiva democratização da
gestão da cidade, uma vez que outras áreas da gestão não se democratizam.
Uma das conclusões mais gerais a que foi possível chegar é que o
conselho apresenta, no cenário atual, uma regular capacidade propositiva,
exercendo um discreto poder de influência sobre o processo de definição das
políticas públicas no município.
Percebemos através dos dados extraídos da pesquisa que ainda reside
no CMPC do município de Fortaleza um baixo grau de institucionalidade, vale dizer,
uma regular efetividade na construção de políticas culturais locais e na construção
do controle social sobre as decisões administrativas.
107
Entretanto, essa constatação não pode ser interpretada como
desmotivadora ou dar a interpretação de que o CMPC não seria um espaço de
disputa e discussão legitimado entre os dois setores. Pelo contrário, o CMPC, assim
como os demais conselhos gestores de políticas públicas, tem o mérito histórico de
dar maior transparência às decisões tomadas pelo poder público bem como caminha
para a efetiva formulação das políticas públicas de cultura no município de
Fortaleza.
108
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APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO A SER APLICADO AOS CONSELHEIROS DE CULTURA DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA
Nome: Entidade que representa: Mandato: Outras entidades da qual participa: Sim [ ] Não [ ] Se sim, quais? Outros conselhos dos quais participa: Questões-estímulo 1. Autopercepção do conselheiro 1.1 Porque você foi escolhido conselheiro de cultura de Fortaleza?
1.2 Como você foi escolhido conselheiro de cultura de Fortaleza?
1.3 O que significa pra você ser conselheiro de cultura de Fortaleza?
1.4 Quais as dificuldades que você enfrenta para exercer o seu papel dentro do
CMPC?
2. Sentidos acerca do papel e da inserção do CMPC 2.1 Como você avalia o papel do CMPC?
2.2 Como você exerce seu papel de representante da entidade ou categoria que
participa no CMPC?
2.3 Como conselheiro você estabelece diálogo com a categoria e/ou entidade que
representa? Se sim, como? Se não, por quê?
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ANEXO A - LEI Nº 9501 DE 01 DE OUTUBRO DE 2009
Dispõe sobre a instituição, organização, atribuições e funcionamento do
Conselho Municipal de Política Cultural, previsto pelo art. 285, da Lei Orgânica do
Município de Fortaleza, criado pela Lei Complementar nº 54, de 20 de dezembro de
2007, e dá outras providências.
FAÇO SABER QUE A CÂMARA MUNICIPAL DE FORTALEZA APROVOU E
EU SANCIONO A SEGUINTE LEI:
CAPÍTULO I
DO CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA CULTURAL
Art. 1º - O Conselho Municipal de Política Cultural é órgão colegiado
permanente, de caráter normativo, deliberativo, fiscalizatório e consultivo, integrante
do Sistema Municipal de Cultura, vinculado administrativamente e financeiramente à
Secretaria de Cultura de Fortaleza, que, na seara cultural, institucionaliza as
relações entre a administração pública e os múltiplos setores da sociedade civil, com
a finalidade de promover a gestão democrática e autônoma da cultura no Município
de Fortaleza, bem como fomentar a articulação governamental com os demais níveis
federados.
Art. 2º - Compete ao Conselho Municipal de Política Cultural:
I - promover a integração do Município de Fortaleza aos Sistemas Nacional e
Estadual de Cultura, como forma de garantir a continuidade e permanência das
políticas, programas, projetos e ações de interesse municipal;
II - participar da elaboração e aprovar o Plano Municipal de Cultura, de
duração plurianual, a partir das orientações e diretrizes formuladas nas Conferências
Municipais de Cultura de Fortaleza, em constante interação com os Planos Nacional
e Estadual de Cultura, bem como acompanhar e avaliar sua execução;
III - estabelecer orientações, diretrizes, deliberações normativas,
recomendações, moções e outros pronunciamentos relacionados com os objetivos e
atribuições do Sistema Municipal de Cultura;
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IV - apoiar e avaliar os acordos e pactos firmados com a União e o Estado do
Ceará para a implementação do Sistema Municipal de Cultura;
V – estabelecer cooperação com os movimentos sociais, entidades
representativas das linguagens artísticas, sindicatos, organizações não
governamentais, as demais entidades do terceiro setor e empresários;
VI - incentivar a participação democrática na gestão das políticas e dos
investimentos públicos na área cultural, além de fornecer indicativos da seara para o
setor privado;
VII - auxiliar o Poder Executivo Municipal na elaboração e/ou aprimoramento
da legislação cultural de Fortaleza;
VIII - propor, analisar, fiscalizar e acompanhar as iniciativas culturais da
Secretaria de Cultura de Fortaleza, assim como as políticas públicas de
desenvolvimento cultural, em parceria com os demais entes federados e agentes da
sociedade civil;
IX - estimular a democratização, a descentralização, a gestão compartilhada a
transversalidade das políticas de formação, produção, criação, difusão e fruição
culturais do Município;
X - emitir e discutir pareceres sobre projetos que digam respeito à formação,
produção, criação, ao acesso e à difusão cultural, à memória histórica, sociopolítica,
artística e cultural de Fortaleza, neste último caso respeitadas as competências do
Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico-Cultural de Fortaleza,
quando provocado pela Secretaria de Cultura de Fortaleza ou qualquer pessoa física
ou jurídica;
XI - propor critérios de uso e ocupação dos equipamentos culturais do
Município de Fortaleza, além de pensar mecanismos de fomento e manutenção dos
projetos culturais desenvolvidos pela sociedade civil;
XII - propor e analisar políticas de geração, captação e alocação de recursos
para o setor cultural;
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XIII - apreciar e aprovar as diretrizes do Fundo Municipal de Cultura,
orientando e controlando a sua gestão;
XIV - acompanhar a atualização do Cadastro Municipal de Cultura,
incentivando a permanente alimentação do banco de dados da Secretaria de Cultura
de Fortaleza;
XV - fiscalizar o cumprimento das diretrizes e instrumentos de financiamento
da cultura no âmbito do Município de Fortaleza;
XVI - propor políticas de intercâmbio e integração das produções culturais das
regiões metropolitana, brasileira e internacional;
XVII - articular com os demais órgãos e entes da administração pública direta
e indireta do Município de Fortaleza a inserção das linguagens artísticas e culturais,
nos seus respectivos projetos educativos e de comunicação;
XVIII – avaliar e emitir parecer anual sobre a execução das diretrizes e metas
anuais dos órgãos responsáveis por coordenar as políticas públicas de cultura do
Município de Fortaleza;
XIX - emitir e analisar pareceres sobre questões técnico-culturais;
XX - posicionar-se sobre que eventos, a partir de proposta da Secretaria de
Cultura de Fortaleza, devem compor o calendário cultural do poder público de
Fortaleza;
XXI - funcionar como última instância recursal administrativa nas decisões
que envolvam projetos submetidos aos incentivos municipais à cultura;
XXII – elaborar e aprovar seu Regimento Interno a ser homologado por
decreto do chefe do Poder Executivo Municipal.
§ 1º - A fiscalização prevista nos incisos VIII e XV será efetuada através de
informações e relatórios fornecidos por seus executores, devendo o conselho
informar as irregularidades constatadas ao Secretário de Cultura de Fortaleza e ao
chefe do Poder Executivo Municipal.
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§ 2º - As questões específicas relativas ao patrimônio cultural fortalezense
são de exclusiva competência do Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio
Histórico e Cultural, cabendo ao Conselho Municipal de Política Cultural auxiliá-lo na
forma do inciso X. § 3º - As reuniões do Conselho Municipal de Política Cultural
serão abertas à participação de qualquer interessado, sendo garantido o direito à
voz.
CAPÍTULO II
DA ESTRUTURA
Art. 3º - O Conselho Municipal de Política Cultural compor-se-á de 42
(quarenta e dois) membros, com seus respectivos suplentes, recrutados dentre
representantes do poder público e da sociedade civil.
§ 1º - O presidente do conselho é detentor do voto de qualidade.
§ 2º - O Conselho Municipal de Política Cultural deverá eleger, dentre seus
membros, o secretário-geral, com o respectivo suplente, que, na ausência ou
impedimento do presidente, o substituirá.
§ 3º - O Conselho Municipal de Política Cultural deverá eleger, dentre seus
membros, o secretário-geral, com o respectivo suplente, sendo vedada a cumulação
dessa função pela presidência.
§ 4º - Será indicado, para cada membro titular, 1 (um) suplente, que o
substituirá no caso de impedimento e o sucederá no caso de vacância.
§ 5º - A perda do vínculo legal do representante com a entidade representada
implicará a extinção concomitantemente de seu mandato.
§ 6º -O conselheiro que deixar de comparecer, sem justa causa, a 4 (quatro)
reuniões consecutivas ou 6 (seis) intercaladas, em cada período de 1 (um) ano, a
critério do plenário, conforme disposição do Regimento Interno, perde o mandato.
§ 7º - Em caso de vaga do conselheiro titular, será o respectivo suplente
convocado a assumir, completando-lhe o período do mandato.
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§ 8º - Ouvido o plenário, pode ser concedida licença ao conselheiro, por prazo
não superior a 2 (dois) meses, sem direito à renovação.
§ 9º - O conselheiro exerce função de relevante interesse público, e o seu
exercício nos horários de convocação oficial de reuniões e durante o cumprimento
de missões atribuídas pelo conselho tem prioridade sobre os cargos e funções de
que sejam titulares na administração pública municipal.
§ 10 - O mandato dos membros do Conselho Municipal de Política Cultural
terá a duração de 2 (dois) anos, permitida 1 (uma) recondução, salvo a função de
presidente exercida pelo Secretário de Cultura de Fortaleza, conselheiro nato do
órgão colegiado.
§ 11 - A função de representação no Conselho Municipal de Política Cultural
será considerada como relevante serviço público.
§ 12 - Os membros titulares e/ou suplentes, quando em substituição aos
titulares, que não sejam representantes do poder público no conselho, farão jus a
uma ajuda de custo, pelo comparecimento às reuniões ordinárias e extraordinárias,
relativa a, no máximo, 2 (duas) reuniões mensais, a ser paga por meio de rubrica
específica do orçamento anual da Secretaria de Cultura de Fortaleza.
§ 13 - Será garantido ao conselho o direito de acesso às documentações
administrativas e contábeis da Secretaria de Cultura de Fortaleza, bem como o
direito de avocar a análise de questões julgadas relevantes, na forma de seu
Regimento Interno, e o de ver seus atos publicados no Diário Oficial do Município de
Fortaleza.
Art. 4º - Integram a representação do poder público no Conselho Municipal de
Política Cultural:
I - o Secretário de Cultura de Fortaleza, que o preside;
II - 3 (três) representantes da Secretaria de Cultura de Fortaleza;
III - 1 (um) representante da Secretaria de Turismo de Fortaleza;
IV - 1 (um) representante da Secretaria Municipal de Educação;
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V - 1 (um) representante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de
Fortaleza;
VI - 1 (um) representante da Secretaria Municipal de Planejamento e
Orçamento;
VII - 1 (um) representante da Secretaria de Finanças do Município;
VIII - 1 (um) representante da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e
Controle Urbano;
IX - 1 (um) representante da Secretaria Municipal de Assistência Social;
X - 1 (um) representante da Coordenadoria Especial de Políticas da
Juventude;
XI - 2 (dois) representantes do Gabinete do Prefeito;
XII - 1 (um) representante da Câmara Municipal de Fortaleza;
XIII - 1 (um) representante do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio
Histórico-Cultural de Fortaleza;
XIV - 1 (um) representante da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará;
XV - 1 (um) representante da Universidade Estadual do Ceará;
XVI - 1(um) representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional;
XVII - 1(um) representante da Universidade Federal do Ceará;
XVIII – 1 (um) representante da TV Pública;
XIX - 1 (um) representante do Centro Federal de Educação Tecnológica
(CEFET);
XX – 1 (um) representante do Conselho Estadual de Cultura.
Parágrafo Único - Os representantes do poder público no Conselho Municipal
de Política Cultural serão designados pelos seus respectivos órgãos.
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Art. 5º - A sociedade civil será representada através dos seguintes setores e
quantitativos:
I - 1 (um) representante das Artes Visuais;
II - 1 (um) representante da Fotografia;
III - 1 (um) representante do Audiovisual;
IV - 1 (um) representante da Literatura;
V - 1 (um) representante da Música;
VI - 1 (um) representante do Teatro;
VII - 1 (um) representante da Dança;
VIII - 1 (um) representante do Circo;
IX - 2 (dois) representantes da Cultura Tradicional e Popular;
X - 1 (um) representante dos Produtores Culturais;
XI - 1 (um) representante do Fórum Temático de Cultura do Orçamento
Participativo;
XII - 6 (seis) representantes das regiões administrativas de Fortaleza, sendo
um por cada Secretaria Executiva Regional;
XIII - 1 (um) representante das Organizações Não Governamentais;
XIV - 1 (um) representante da Federação do Comércio do Estado do Ceará;
XV - 1 (um) representante da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Ceará.
§ 1º - Para os fins desta lei, considerar-se-á apta a se candidatar às vagas
dos incisos I a XIII a pessoa física que possua comprovadamente atuação na seara
cultural há, pelo menos, 1 (um) ano, no Município de Fortaleza, com atividades
referentes ao respectivo segmento.
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§2º - Nenhum membro da sociedade civil, titular ou suplente, poderá ser
detentor de cargo em comissão ou função de confiança vinculada ao Município de
Fortaleza.
Art. 6º - O preenchimento das vagas da sociedade civil, constantes nos
incisos I a XIII, relativas à composição do Conselho Municipal de Política Cultural,
far-se-á por meio de edital público, que convocará os fóruns de cada segmento, com
o fito de eleger seus conselheiros e respectivos suplentes.
§ 1º - Após essa fase, o Conselho Municipal de Política Cultural, através de
seu Regimento Interno, definirá o funcionamento dos Fóruns Permanentes de
Cultura que passarão a escolher, finda a periodicidade de cada mandato, respeitada
a possibilidade de uma única recondução, os membros da sociedade civil.
§ 2º - O disposto no presente artigo não se aplica à representação da
Federação do Comércio do Estado do Ceará e da Ordem dos Advogados do Brasil,
cujos conselheiros e respectivos suplentes serão designados por essas entidades.
Art. 7º - Os Fóruns Permanentes de Cultura atuarão em conjunto com o
Conselho Municipal de Política Cultural para discussão e avaliação das políticas e
ações culturais de Fortaleza e formulação, para as Secretarias Executivas Regionais
e segmentos culturais, de planos específicos que incluam questões referentes à
gestão, memória, formação, capacitação, divulgação, exibição, incentivo, pesquisa,
intercâmbio, organização, descentralização, geração de renda, acesso aos bens
culturais, parcerias, entre outras.
Art. 8º - São órgãos do Conselho Municipal de Política Cultural:
I - Plenário;
II - Câmaras;
III - Comissões Temáticas.
Parágrafo Único – A organização, composição, atribuições e disciplinamento
dos órgãos do Conselho Municipal de Política Cultural, bem como de sua
presidência e do secretariado-geral, serão previstos no Regimento Interno,
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observadas as prescrições desta lei, submetido à homologação do Poder Executivo
Municipal por meio de decreto específico.
Art. 9º - As deliberações do Plenário do Conselho Municipal de Política
Cultural serão tomadas por maioria simples, presente a maioria absoluta dos
respectivos membros, salvo nos seguintes casos, nos quais se exige maioria
absoluta:
I - elaboração e alteração do Regimento Interno;
II - exclusão de membro, nos casos definidos no regimento.
Parágrafo Único - Fica garantido o direito a recurso ao Plenário do Conselho
Municipal de Política Cultural contra quaisquer decisões de seus órgãos em face da
presente lei ou do Regimento Interno.
Art. 10 - O Conselho Municipal de Política Cultural definirá a periodicidade de
suas reuniões ordinárias, observado o intervalo máximo de 1 (um) bimestre.
Parágrafo Único - As reuniões extraordinárias do Conselho Municipal de
Política Cultural serão convocadas pela presidência ou pelo secretário-geral ou pela
maioria absoluta de seus membros, na forma do Regimento Interno.
CAPÍTULO III
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 11 - A manutenção do Conselho Municipal de Política Cultural correrá à
conta de dotações orçamentárias da Secretaria de Cultura de Fortaleza, mediante
plano de aplicação aprovado pelo titular do órgão.
Parágrafo Único - O conselho realizará, no mínimo, 1 (uma) audiência pública
por ano, para prestação de contas do seu exercício, cabendo ao seu juízo a
convocação de audiências públicas para debater quaisquer outros assuntos
atinentes às suas funções.
Art. 12 - Os atos do Conselho Municipal de Política Cultural serão publicados
no Diário Oficial do Município de Fortaleza.
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Art. 13 – O Conselho Municipal de Política Cultural, procedida a sua
instalação, informará à Secretaria de Cultura de Fortaleza suas necessidades
relativas a recursos humanos e infraestrutura.
§1º - O Secretário de Cultura de Fortaleza, em posse das informações,
designará a estrutura física, material e de pessoal necessária ao seu regular
funcionamento.
§ 2º - O conselho poderá solicitar à Secretaria de Cultura de Fortaleza a
contratação de consultores e especialistas para auxiliá-lo nas suas funções,
conforme as disposições da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, bem como a
ajuda de servidores públicos de outros órgãos da administração pública de
Fortaleza.
Art. 14 - O funcionamento do Conselho Municipal de Política Cultural será
definido conforme o Regimento Interno, elaborado por seus membros, aprovado por
maioria absoluta, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contados a partir da data
da posse dos conselheiros, a se realizar em sessão solene presidida pelo chefe do
Poder Executivo Municipal, homologado através de decreto específico.
Art. 15 - Esta lei entra em vigor da data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
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ANEXO B - CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA CULTURAL DE FORTALEZA
REGIMENTO INTERNO
CAPÍTULO I - DO OBJETIVO
Art. 1º - O presente Regimento estabelece as normas de organização e
funcionamento do Conselho Municipal de Política Cultural de Fortaleza (CMPC),
criado nos termos da Lei Municipal nº 9501 de 01 de outubro de 2009, sendo,
portanto, órgão colegiado permanente, de caráter normativo, deliberativo,
fiscalizatório e consultivo, integrante do Sistema Municipal de Cultura, vinculado
administrativamente e financeiramente à Secretaria de Cultura de Fortaleza
(SECULTFOR), que, na seara cultural, institucionaliza as relações entre a
administração pública e os múltiplos setores da sociedade civil, com a finalidade de
promover a gestão democrática e autônoma da cultura no município de Fortaleza,
bem como de fomentar a articulação governamental com os demais níveis
federados.
CAPÍTULO II – DA COMPOSIÇÃO
Art. 2º – O CMPC de Fortaleza é composto por 44 (quarenta e quatro)
conselheiros, sendo 23 (vinte e três) representantes da sociedade civil e 21 (vinte e
um) representantes dos poderes públicos; no âmbito da sociedade civil, 18
representantes foram eleitos diretamente pelos Fóruns Permanentes. Somam-se a
eles 5 (cinco) indicações, sendo 1(uma) da OAB, 1 (uma) da Fecomércio, 1 (uma) do
Conselho Estadual de Cultura, 1 (uma) do Conselho Municipal de Patrimônio
Histórico e Cultural de Fortaleza e 1 (uma) do Conselho do Orçamento Participativo.
§ 1º – Cada Conselheiro terá um Suplente, igualmente eleito ou indicado, que
o substituirá nos casos previstos em Lei e na forma deste Regimento.
§ 2º – Em caso de vacância no cargo de suplente, será realizada uma nova
eleição no prazo de 60 (sessenta) dias, sendo garantida a permanência do
conselheiro titular, desde que observadas as condições previstas neste Regimento.
§ 3º – O Conselho Municipal de Política Cultural de Fortaleza deverá eleger,
entre os seus membros, o Secretário Geral com o respectivo suplente que terão
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mandato de 1 (um) ano, podendo ser reeleitos durante a vigência dos respectivos
mandatos.
§ 4º – A votação será por chapas, constituídas pelos candidatos à Secretaria
Geral e suplente.
§ 5º – A presença dos Conselheiros nas sessões será comprovada por
assinatura em livro próprio.
CAPÍTULO III – DOS ÓRGÃOS
Art. 3º – São órgãos do Conselho Municipal de Política Cultural de Fortaleza:
o Pleno, as Câmaras, as Comissões e os Fóruns Permanentes.
Art. 4º – As sessões do Pleno, das Câmaras e das Comissões são abertas a
participação de qualquer interessado, sendo garantido o direito à voz, pela ordem de
inscrição e pelo tempo de até 03 (três) minutos, prorrogáveis por até mais 03 (três)
minutos.
§ 1º - Os Conselheiros terão prioridade no uso do direito à voz, pelas mesmas
condições do caput do artigo.
§ 2º – Os Órgãos do Conselho poderão, a critério de conveniência e
oportunidade, convidar pessoas, entidades ou instituições para participarem de suas
sessões ou emitirem pareceres sobre questões de interesse para a política cultural
do município ou que estejam sendo objeto de debate entre os seus membros.
CAPÍTULO IV – DO PLENO E DAS SESSÕES
Art. 5º – O Pleno, órgão máximo e soberano do Conselho, integrado pela
totalidade dos Conselheiros, por convocação do Presidente reunir-se-á em sessão
ordinária uma vez por mês, em datas fixadas em calendário previamente
estabelecido, sendo exigida a presença da maioria absoluta (vinte e três) de seus
membros.
§ 1º As deliberações do Pleno devem ser aprovadas por maioria simples
(metade mais um dos membros presentes);
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§ 2º Deliberações relativas à elaboração e alteração deste Regimento Interno,
assim como, à exclusão de membro, deverão ser aprovadas por maioria absoluta
(metade mais um da totalidade dos membros deste Conselho);
§ 3º - Caso não atinja o quorum mínimo em primeira convocação, será
realizada uma segunda e última verificação 30 (trinta) minutos após a primeira
avaliação, concluída com a realização ou não da reunião.
§ 4º - Poderão ser realizadas, a cada mês, tantas sessões extraordinárias
quantas forem necessárias.
§ 5º - As sessões extraordinárias poderão ser convocadas pelo Presidente,
por solicitação de uma ou mais Câmaras, de uma ou mais Comissões ou por
iniciativa de, no mínimo, 8 (oito) Conselheiros, sendo igualmente exigida a presença
da maioria absoluta (vinte e três) dos membros do CMPC.
§ 6º A pauta das sessões constará de expediente e ordem do dia,
compreendendo:
I - leitura, discussão e aprovação das atas de sessões anteriores;
II - leitura das correspondências recebidas e expedidas;
III - comunicações, consultas e pedidos de esclarecimentos;
IV - ordem do dia.
§ 7º - Os Conselheiros poderão requerer à Presidência, desde que
justificadamente, a inclusão de pautas para submeter à aprovação em Plenário.
§ 8º - A inclusão das matérias será feita no final da pauta das sessões
ordinárias.
Art. 6º – As atas do CMPC deverão ser publicadas no Diário Oficial do
Município.
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Art. 7º – No encaminhamento, discussão e votação das matérias da ordem do
dia nas sessões ordinárias ou extraordinárias, o Conselheiro suscitante, requerente
ou relator exporá o assunto.
Parágrafo Único – Encerrada a exposição, a Presidência dará a palavra, pela
ordem, aos Conselheiros inscritos e posteriormente aos demais interessados.
Art. 8º – Tratando-se de expediente administrativo ou parecer que demande
exame mais aprofundado ou contenha matéria polêmica, qualquer Conselheiro
poderá pedir vista.
§ 1º - O pedido de vista transfere a discussão para a ordem do dia da
segunda sessão ordinária seguinte, podendo, em caso de urgência, convocar-se
sessão extraordinária.
§ 2º - Se o parecer resultante do pedido de vista não for apresentado no prazo
estabelecido no parágrafo anterior, será submetido ao Pleno o parecer original.
Art. 9º – Não ocorrendo pedido de vista e encerrada a discussão, a
Presidência fará um resumo do debate e submeterá a matéria à votação.
§ 1º - Após o resumo feito pela Presidência, e antes da votação, é facultado
aos Conselheiros reconsiderarem as suas posições em relação à matéria debatida.
§ 2º - A reconsideração deverá ser justificada e resumida oralmente.
Art. 10 – A votação será aberta.
Art. 11 – O tempo de exposição e das intervenções nas sessões ordinárias ou
extraordinárias deverá ser definido pela Presidência.
CAPÍTULO V – DAS CÂMARAS
Art. 12 – As Câmaras constituem-se em órgãos técnicos permanentes do
Conselho em suas áreas e serão em número de 6 (seis) com as seguintes
denominações:
a) Câmara de Educação e Formação Cultural;
b) Câmara de Economia da Cultura;
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c) Câmara de Patrimônio Cultural;
d) Câmara de Fomento e Financiamento Cultural;
e) Câmara de Comunicação e Cultura;
f) Câmara de Políticas e Ações Transversais.
Art. 13 – As Câmaras serão integradas por no máximo 07 (sete) Conselheiros.
§ 1º - No caso de mais de 07 (sete) Conselheiros pretenderem participar de
uma mesma Câmara, caberá ao Pleno definir a sua composição tendo prioridade os
Conselheiros que tenham maior identificação com a sua temática.
§ 2º - Cada Câmara escolherá, entre os seus membros, um Coordenador e
um Secretário.
§ 3º - As reuniões das Câmaras serão iniciadas com a presença mínima de
metade mais um dos seus membros, e suas sessões não poderão coincidir com as
sessões do Pleno.
§ 4º - Os Conselheiros poderão integrar, no máximo, 02 (duas) câmaras.
§ 5º - A Câmara poderá, quando conveniente, convidar um ou mais
Conselheiros de outras Câmaras para participar de suas sessões. Os Conselheiros
convidados não terão direito a voto.
§ 6º - As Câmaras poderão, quando conveniente, realizar sessões conjuntas.
§ 7º - Os pareceres solicitados às Câmaras serão lavrados por um Relator e
deverão, salvo justo motivo, serem encaminhados à Secretaria Geral do Conselho
no prazo de 15 (quinze) dias e submetidos ao Pleno na reunião subseqüente.
CAPÍTULO VI – DAS COMISSÕES
Art. 14 – As comissões serão divididas em:
I - Comissões Permanentes, que funcionarão de forma continuada; e
II - Comissões Especiais, que poderão funcionar por tempo determinado.
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§ 1º As respectivas comissões serão criadas por iniciativa da Presidência ou
por solicitação do Pleno, das Câmaras ou de, no mínimo, 8 (oito) Conselheiros com
finalidades específicas definidas no ato de sua constituição, sempre que houver
necessidades extraordinárias que não estejam contempladas nas atribuições dos
demais órgãos do Conselho.
§ 2º - No momento da criação da Comissão Especial, deverá ser definida a
sua finalidade e estabelecido o prazo para o seu funcionamento.
§ 3º - As Comissões serão compostas de, no máximo, 05 (cinco) Conselheiros
e deverão obedecer as normas estabelecidas para o funcionamento das Câmaras,
previstas neste Regimento.
§ 4º - A Presidência, ouvido o Pleno, poderá ainda constituir e nomear
Comissões Especiais para representar o Conselho em eventos culturais na cidade
ou fora dela, para acelerar os trabalhos em caso de acúmulo ou para proceder
sindicâncias internas.
§ 5º - A pedido da Coordenação, devidamente justificado, a Presidência
poderá prorrogar a duração da Comissão Especial, estabelecendo novo prazo para
a conclusão dos trabalhos.
§ 6º - Os trabalhos da Comissão Especial encerram-se com a leitura em
plenário do expediente produzido nos termos do caput deste artigo, sendo que, os
que dependerem de discussão em razão de sua matéria, terão suas conclusões
observadas para os devidos efeitos somente após a aprovação pelo Pleno.
CAPÍTULO VII – DOS FÓRUNS PERMANENTES
Art. 15 – Funcionam no âmbito do CMPC de Fortaleza os seguintes Fóruns
Permanentes:
a) Artes Visuais;
b) Fotografia;
c) Audiovisual;
d) Culturas Tradicionais Populares;
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e) Teatro;
f) Dança;
g) Circo;
h) Literatura;
i) Música;
j) Território Secretaria Executiva Regional I;
k) Território Secretaria Executiva Regional II;
l) Território Secretaria Executiva Regional III;
m) Território Secretaria Executiva Regional IV;
n) Território Secretaria Executiva Regional V;
o) Território Secretaria Executiva Regional VI;
p) Fórum Temático de Cultura do Orçamento Participativo;
q) Produtores Culturais;
r) Instituições Culturais Não-Governamentais.
Art. 16 – Farão parte de cada Fórum Permanente todos os inscritos no
Cadastro Cultural de Fortaleza e no respectivo segmento ou região administrativa.
Parágrafo Único – Os membros do Fórum Temático de Cultura do Orçamento
Participativo eleitos anualmente na Plenária Temática de Cultura observarão os
critérios definidos no Programa do Orçamento Participativo.
Art. 17 – O proponente será considerado inscrito no Cadastro Cultural de
Fortaleza a partir do momento em que sua proposta for aprovada pela Comissão
Técnica da Secretaria de Cultura.
Art. 18 – Terão direito à voz e voto em cada Fórum Permanente, os
componentes que constarem na lista atualizada no Cadastro Cultural de Fortaleza
no respectivo segmento ou região administrativa.
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Art. 19 – Cada Fórum Permanente será coordenado pelo seu respectivo
Conselheiro, a quem caberá a condução das reuniões.
Art. 20 – Em caso de ausência ou impedimento do Conselheiro haverá sua
substituição pelo suplente.
Art. 21 – Além do Coordenador, cada Fórum Permanente terá um Secretário
eleito pelos componentes do mesmo.
Art. 22 – Cada Fórum Permanente deverá estabelecer seu calendário de
reuniões, tendo que realizar no mínimo uma reunião bimensal.
Art. 23 - As decisões devem ser tomadas por maioria simples dos presentes à
reunião.
Parágrafo Único – Em caso de empate na votação caberá ao Coordenador o
voto de Minerva.
Art. 24 – Cada Fórum Permanente se reunirá com, no mínimo, 10 (dez)
integrantes cadastrados.
CAPÍTULO VIII – DAS COMPETÊNCIAS DO PLENO
Art. 25 – O Pleno é a instância máxima do Conselho, competindo-lhe
examinar, discutir e decidir sobre as matérias decorrentes de sua finalidade, suas
funções e atribuições legais e regimentais.
Art. 26 – Compete ao Pleno:
I - Cumprir e fazer cumprir as Leis e este Regimento Interno; zelar pela
presteza, transparência e seriedade dos trabalhos do Conselho;
II - Tomar todas as decisões definitivas e finais do Conselho, em especial as
que versarem matéria tratada pelos meios previstos neste Regimento Interno e
forem apresentadas pelas Câmaras, pelas Comissões, pelos Fóruns Permanentes
ou pelos Conselheiros, fazendo-as encaminhar, junto à Presidência, para os seus
devidos efeitos;
III - Escolher os membros das Câmaras;
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IV - Autorizar a Presidência a tomar medidas para garantir o funcionamento
do órgão em situações não previstas neste Regimento Interno;
V - Manifestar-se sobre quaisquer matérias da área cultural, submetidas ao
Conselho, pela Presidência, pelas Câmaras, pelas Comissões, pelos Fóruns
Permanentes, pelos Conselheiros, pelas Autoridades, pelos diversos segmentos
culturais, pelas entidades representativas destes segmentos ou pelos cidadãos em
geral;
VI - Apreciar e decidir recursos em geral;
VII - Dirimir conflitos de competência entre Câmaras, tendo em vista a
unidade na diversidade;
VIII - Alterar este Regimento Interno nas condições previstas neste
Regimento;
IX - Fixar horários e locais das sessões;
X - Pronunciar-se sobre questões disciplinares encaminhadas pela
Presidência ou pelos Conselheiros;
XI - Declarar impedimentos e suspeições;
XII - Disciplinar e implementar, por meio de Resolução, o cumprimento das
atribuições fiscalizadoras do Conselho;
XIII - Promover a harmonia interna corporis, tendo em vista o exercício da
representatividade proporcional e da liberdade de expressão;
XIV - Afirmar e defender, sempre que entender oportuno, a soberania do
Conselho.
CAPÍTULO IX – DAS COMPETÊNCIAS DO PRESIDENTE
Art. 27 – Compete ao Presidente:
I - Exercer a direção do Conselho, ouvido o Pleno quando necessário e
sempre que implicar responsabilidade geral do Colegiado;
II - Representar o Conselho pessoalmente ou por delegação;
135
III - Convocar e presidir as sessões plenárias, verificar-lhes o quorum,
conceder apartes e decidir sobre questões de ordem;
IV - Intervir livremente nos debates;
V - Proclamar as decisões do Pleno, cumprindo-as e fazendo cumpri-las;
VI - Garantir o andamento dos trabalhos e a livre manifestação dos
Conselheiros em plenário;
VII - Manter a ordem das sessões de conformidade com este Regimento
Interno;
VIII - Suspender ou interromper as sessões em casos de força maior;
IX - Encaminhar as solicitações e proposições das Câmaras, das Comissões
e dos Conselheiros;
X - Desempatar as votações, nos termos deste Regimento;
XI - Distribuir por pertinência e equanimidade os processos e as matérias às
Câmaras, às Comissões e individualmente aos Conselheiros;
XII - Assinar os atos e expedientes administrativos do Conselho;
XIII - Encaminhar, quando necessário ou por solicitação do Pleno, os atos do
Conselho aos quais se devam dar conhecimento às Autoridades ou publicação no
Diário Oficial do Município;
XIV - Propor alterações no Regimento Interno;
XV - Participar, quando entender oportuno, sem direito a voto, das sessões
das Câmaras, das Comissões ou dos Fóruns Permanentes;
XVI - Criar Comissões e nomear seus membros, a pedido dos Conselheiros;
XVII - Autorizar despesas e pagamentos, nos casos previstos em Lei;
XVIII - Receber e mandar processar as comunicações de licença e as
convocações de Suplentes;
136
XIX - Baixar normas, ouvido o Pleno, visando a disciplinar e aperfeiçoar os
trabalhos do Conselho;
XX - Submeter os casos omissos ao Pleno ou à consulta das Câmaras;
XXI - Solicitar ao Pleno outros poderes não previstos neste Regimento
Interno;
XXII - Exercer, por decisão do Pleno, outras funções diretivas não previstas
neste Regimento;
XXIII - Presidir a Comissão Gestora do SMFC – Sistema Municipal de
Fomento à Cultura de Fortaleza.
CAPÍTULO X – DAS COMPETÊNCIAS DA SECRETARIA GERAL
Art. 28 – Compete ao Secretário Geral:
I - Substituir o Presidente em seus impedimentos e ausências;
II - Assessorar o Presidente em seus impedimentos e ausências;
III - Exercer, por delegação da Presidência ou do Pleno, outros encargos
permitidos por este Regimento;
IV - Passar a Presidência ao seu Suplente, em caso de impedimento ou
ausência, quando estiver na função de presidente em exercício;
V - Supervisionar o trabalho dos funcionários do Conselho;
VI - Receber, protocolar, preparar e encaminhar o expediente interno e
externo do Conselho;
VII - Organizar a pauta das sessões, submetendo-as à aprovação da
Presidência;
VIII - Tomar as providências necessárias à instalação e ao funcionamento das
sessões em geral;
IX - Proceder a leitura das atas das sessões do Pleno para discussão,
assinando-as juntamente com a Presidência, depois de aprovadas;
137
X - Auxiliar o Presidente na distribuição de processos.
CAPÍTULO XI – DAS COMPETÊNCIAS DAS CÂMARAS
Art. 29 – Compete às Câmaras:
I - Formular políticas públicas de cultura no âmbito de sua competência;
II - Promover a instrução dos processos que lhes forem distribuídos;
III - Cumprir diligências solicitadas pelas demais instâncias do Conselho;
IV - Dar parecer ou apresentar relatórios sobre matéria de sua área, sempre
que solicitadas;
V - Desenvolver estudos, pesquisas, informes e levantamentos, inclusive com
atividade externa, destinados ao uso do Conselho;
VI - Responder às consultas encaminhadas pela Presidência, pelo Pleno,
pelas Comissões, pelos Conselheiros ou pelos Fóruns Permanentes;
VII - As Câmaras não poderão tornar públicas suas conclusões antes da
aprovação do Pleno.
Art. 30 – Compete aos coordenadores e secretários das Câmaras,
respectivamente, dirigir e secretariar os trabalhos de suas Câmaras e observar, no
que couber, as regras deste Regimento Interno.
CAPÍTULO XII – DAS COMPETÊNCIAS DAS COMISSÕES
Art. 31 – Compete às Comissões:
I - Desenvolver os trabalhos de acordo com a finalidade definida no ato de
sua constituição e dentro do prazo estabelecido para o seu funcionamento;
II - Informar regularmente a Presidência, e quando for o caso, ao Pleno, sobre
o andamento dos trabalhos;
III - Apresentar ao Pleno as conclusões dos trabalhos desenvolvidos através
da entrega do produto resultante ou, quando for o caso, da leitura do documento
final, submetendo-o à discussão e aprovação do plenário.
138
Art. 32 – As Comissões não poderão tornar públicas suas conclusões antes
da aprovação do Pleno.
CAPÍTULO XIII – DAS COMPETÊNCIAS DOS FÓRUNS PERMANENTES
Art. 33 – Compete aos Fóruns Permanentes:
I - Formular e submeter ao Pleno propostas de políticas públicas de cultura
para a cidade de Fortaleza;
II - Formular, para as regiões administrativas e segmentos culturais, políticas
culturais específicas que incluam questões como gestão cultural, memória,
formação, divulgação, exibição, incentivo, pesquisa, intercâmbio, organização,
descentralização, geração de renda, acesso aos bens culturais, parcerias, entre
outras;
III - Estimular a democratização e a descentralização das atividades de
produção e difusão culturais no Município, visando garantir a cidadania cultural como
direito de acesso e fruição aos bens culturais, de produção cultural e de preservação
da memória histórica, social, política e artística;
IV - Acompanhar a execução do Plano Municipal de Cultura, por meio de
estratégias estabelecidas no próprio Fórum.
CAPÍTULO XIV – DA ELEIÇÃO DOS CONSELHEIROS
Art. 34 – O processo eleitoral para a escolha de Conselheiros será aberto 90
(noventa) dias antes do término dos mandatos do Conselho, cabendo ao Presidente
designar uma Comissão Especial Eleitoral para coordenar, padronizar, orientar,
definir e fiscalizar as atividades relativas às eleições dos representantes da
sociedade civil no Conselho Municipal de Política Cultural, bem como definir as
competências e procedimentos das Juntas Eleitorais.
Art. 35 – O Conselho publicará no Diário Oficial do Município edital de
convocação para as eleições, no qual constarão as regras do processo eleitoral
elaboradas pela Comissão Especial Eleitoral.
139
CAPÍTULO XV – DO MANDATO DOS CONSELHEIROS
Art. 36 – Os Conselheiros terão um mandato de 02 (dois) anos, permitida uma
recondução e seu exercício será considerado função prioritária e de relevante
interesse público.
§ 1º Os Conselheiros Titulares que não comparecerem sem justa causa a 04
(quatro) reuniões consecutivas ou a 06 (seis) intercaladas, em cada período de um
ano, perderão o mandato, sendo substituídos pelos respectivos Suplentes.
§ 2º Em caso de exoneração, os Conselheiros representantes do Poder
Público, perderão automaticamente o mandato, cabendo ao órgão representado
fazer nova indicação.
§ 3º Constatada a vaga por uma das causas acima ou pedida a licença, a
Presidência convocará de imediato o respectivo Suplente e tomará as demais
providências previstas em lei para suprir a ausência durante o licenciamento ou, se
for o caso, para completar o mandato do titular.
§ 4º O Suplente, uma vez convocado para o exercício temporário ou efetivo
das funções do Titular, ficará automaticamente sujeito às normas deste Regimento
Interno.
CAPÍTULO XVI – DAS AUSÊNCIAS, LICENÇAS E SUBSTITUIÇÕES
Art. 37 – No caso de ausência às sessões do Pleno ou às reuniões das
Câmaras ou Comissões, o Conselheiro Titular deverá comunicar à Presidência do
Conselho a justificativa por escrito, em até 72 horas antes, para que haja tempo
hábil para convocação do Suplente.
Art. 38 – Na ausência do Conselheiro Titular, assumirá o respectivo Suplente.
Art. 39 – É vedado ao Conselheiro em gozo de licença, participar das sessões
do Pleno, das Câmaras ou das Comissões.
Art. 40 – O Suplente em exercício também substituirá o Conselheiro Titular na
Câmara ou Comissão a qual este pertencer.
140
Parágrafo Único – Aplica-se esta mesma disposição em caso de substituição
definitiva.
CAPÍTULO XVII – DOS DIREITOS E DEVERES DOS CONSELHEIROS
Art. 41 – Além dos decorrentes de Lei, deste Regimento Interno e dos
próprios direitos relativos ao exercício da função, são ainda direitos dos
Conselheiros:
I - Tomar parte nas atividades do Conselho, relatar processos e expedientes,
dar parecer, intervir nos debates de quaisquer de suas instâncias e apresentar
proposições;
II - Participar como Conselheiro convidado e sem direito a voto dos trabalhos
das Câmaras e das Comissões as quais não pertença;
III - Votar e ser votado para os cargos do Conselho, se não houver
impedimento;
IV - Solicitar vista de processos;
V - Requerer diligências;
VI - Oferecer parecer escrito sobre qualquer matéria em tramitação, o qual, a
critério do Pleno, poderá ser anexado ao respectivo processo.
§1º - Os membros titulares e/ou suplentes, quando em substituição aos
titulares, que não sejam representantes do poder público no conselho, farão jus a
uma ajuda de custo, pelo comparecimento às reuniões ordinárias e extraordinárias,
relativa a, no máximo, 2 (duas) reuniões mensais, a ser paga por meio de rubrica
específica do orçamento anual da Secretaria de Cultura de Fortaleza.
§2º - Os membros titulares e/ou suplentes, quando em substituição aos
titulares, que não sejam representantes do poder público no conselho, não estão
impedidos de concorrer em Editais de Concursos da Secretaria de Cultura de
Fortaleza, salvo quando expressamente previsto disposição em contrário no
Instrumento Convocatório.
141
Art. 42 – Além dos decorrentes de Lei, deste Regimento Interno e dos
próprios deveres relativos ao exercício da função, são ainda deveres dos
Conselheiros:
I - Comparecer às sessões do Conselho, das Câmaras e Comissões as quais
pertençam e àquelas para as quais forem convidados;
II - Permanecer em plenário no decurso das sessões, retirando-se só em caso
de justificada necessidade para não prejudicar o quorum;
III - Encaminhar e justificar pedido de licença quando tiverem de ausentar-se
por mais de 30 (trinta) dias consecutivos dos trabalhos do Conselho;
IV - Concluir e devolver, dentro de 15 (quinze) dias, os expedientes que lhes
forem distribuídos;
V - Colaborar para o aperfeiçoamento das atividades do Conselho;
VI - Representar o Conselho quando designado pela Presidência;
VII - Desempenhar as suas funções com zelo, eficiência e dignidade;
VIII - Zelar pela soberania, pelo bom nome e prestígio do Conselho.
CAPÍTULO XVIII – DAS RESOLUÇÕES, PARECERES E PROPOSIÇÕES
Art. 43 – São atos inerentes às finalidades e funções do Conselho como
órgão de deliberação coletiva, as resoluções e os pareceres.
Art. 44 – Resolução é o ato plenário absoluto, de caráter geral e obrigatório,
normativo-deliberativo, decorrente da hierarquia e da soberania do Conselho, por
meio do qual se fixa ou restabelece a sua posição institucional e orgânica em
relação a questões internas ou externas.
§ 1º A Resolução poderá ser de iniciativa da Presidência, das Câmaras, das
Comissões ou de um ou mais Conselheiros e será apresentada mediante
Proposição escrita e circunstanciada, devendo ser discutida e decidida de imediato
pelo Pleno, independentemente da pauta, quando apresentada em sessão ordinária,
ou apreciada em sessão extraordinária.
142
§ 2º Salvo a preferência estabelecida no parágrafo anterior, a Resolução terá
o encaminhamento previsto neste Regimento interno para as demais Proposições.
§ 3º Após aprovada, a Resolução receberá número de referência.
Art. 45 – Parecer é o pronunciamento técnico dado por um Conselheiro na
qualidade de relator designado ou simplesmente como faculta este Regimento,
sobre matéria submetida ao Conselho na forma de projeto, consulta ou Proposição.
§ 1º O Parecer, em razão de sua natureza, poderá ser de caráter conclusivo,
eficácia vinculante ou meramente consultivo e opinativo, conforme determinar este
Regimento ou entender o Pleno.
§ 2º Em qualquer caso, o Parecer limitar-se-á ao assunto trazido no
expediente ao qual se referir e conterá ementa, relatório, análise do mérito e
conclusão.
§ 3º Quando se referir ao mérito exclusivamente cultural, o Parecer deverá
examinar a relevância e a oportunidade da matéria em questão e, subsidiariamente,
se for o caso, enquadrá-la nas prioridades definidas pelo Conselho.
§ 4º Em caso de controvérsia e pedido de vista, aplicar-se-á o disposto no
Artigo 11 deste Regimento.
Art. 46 – Proposição é o instrumento oral ou escrito pelo qual um ou mais
Conselheiros encaminham formalmente uma questão ou um assunto à imediata
deliberação do Conselho.
Art. 47 – Os atos do Conselho serão organizados e numerados na forma
determinada pela Secretaria Geral.
CAPÍTULO XIX – DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 48 – Os atos do CMPC deverão ter publicidade, através da sua
publicação no Diário Oficial do Município, devendo, também, ser afixados em local
apropriado na sede do Conselho e divulgados em páginas da Internet, facilitando o
acesso público às informações.
143
Art. 49 – O presente Regimento somente poderá ser emendado ou revisto por
proposta subscrita pela maioria absoluta dos Conselheiros.
Art. 50 – Registrando-se dúvidas de interpretação ou constando-se lacunas
neste regimento, os Conselheiros deverão decidir a respeito.
Art. 51 – Este Regimento entrará em vigor na data de sua publicação no
Diário Oficial do Município.
144
ANEXO C – EDITAL DE ELEIÇÃO DOS CONSELHEIROS
EDITAL Nº 20/2010
A SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE FORTALEZA, tendo em vista o
disposto no artigo 6º, da Lei Municipal nº 9501/2009, torna público o presente edital para
preenchimento das vagas da sociedade civil, relativas a composição do Conselho Municipal
de Política Cultural.
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
1. O Conselho Municipal de Política Cultural é composto por 44 (quarenta e quatro)
membros, sendo 21 representantes do poder público municipal, estadual e federal, entre
eles as instituições federais de ensino superior e 23 representantes da sociedade civil.
1.1. O presente edital regulamenta o preenchimento de 18 vagas da sociedade civil
previstas na Lei 9501/2009, quais sejam:
1.1.2. 12 (doze) representantes dos segmentos culturais assim distribuídos:
1.1.2.1. 1 (um) representante das Artes Visuais;
1.1.2.2. 1 (um) representante da Fotografia;
1.1.2.3. 1 (um) representante do Audiovisual;
1.1.2.4. 1 (um) representante da Literatura;
1.1.2.5. 1 (um) representante da Música;
1.1.2.6. 1 (um) representante do Teatro;
1.1.2.7. 1 (um) representante da Dança;
1.1.2.8. 1 (um) representante do Circo;
1.1.2.9. 2 (dois) representantes da Cultura Tradicional e Popular;
1.1.2.10. 1 (um) representante dos Produtores Culturais;
1.1.2.11. 1 (um) representante das instituições culturais não-governamentais;
145
1.1.3. 6 (seis) representantes dos territórios das regiões administrativas de
Fortaleza, sendo um por cada secretaria executiva regional.
1.2. As 5 (cinco) vagas remanescentes da sociedade civil serão preenchidas através
da indicação direta das seguintes entidades e conselhos:
1.2.1. 1 (um) representante da Federação do Comércio do Estado do Ceará;
1.2.2. 1 (um) representante da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Ceará;
1.2.3. 1 (um) representante da sociedade civil, componente do Conselho
Estadual de Cultura;
1.2.4. 1 (um) representante da sociedade civil, componente do Conselho
Municipal de Proteção do Patrimônio Histórico-Cultural de Fortaleza;
1.2.5. 1 (um) representante da sociedade civil, componente do Conselho do
Orçamento Participativo.
DA COMISSÃO TÉCNICA E ELEITORAL
2. O processo de escolha dos representantes da sociedade civil, discriminados no item 1.1,
será conduzido por uma Comissão Técnica e Eleitoral constituída por 04 (quatro)
representantes da Secretaria de Cultura de Fortaleza – SECULTFOR, e 1 representante do
Conselho do Orçamento Participativo, designados através de portaria da Secretária
Municipal de Cultura de Fortaleza.
2.1. Não poderão fazer parte da Comissão Técnica e Eleitoral qualquer dos candidatos
inscritos ou seus parentes, até o segundo grau em linha reta ou colateral, inclusive cônjuge.
2.2. A Comissão Técnica e Eleitoral coordenará, padronizará, orientará, definirá e fiscalizará
as atividades relativas ao processo de escolha dos representantes da sociedade civil no
Conselho Municipal de Política Cultural para o mandato do biênio 2010/2012,
regulamentado por este edital.
2.3. A Comissão Técnica e Eleitoral constituirá juntas eleitorais compostas por
representantes da Prefeitura de Fortaleza, responsáveis por dirimir questões apresentadas
pelos candidatos e fiscais credenciados por eles, devendo garantir a estrutura e dar apoio
ao bom andamento do processo eleitoral.
146
DOS PARTICIPANTES
3. Podem participar do processo eleitoral dos representantes da sociedade civil no
Conselho Municipal de Política Cultural, cidadãos , maiores de 16 anos e domiciliados em
Fortaleza.
3.1. Especificamente, para a eleição dos representantes de produtores culturais e de
instituições culturais não-governamentais poderão participar pessoas jurídicas, com sede
em Fortaleza, que comprovem atuação na respectiva área nos termos do anexo único deste
edital.
3.2. Para participar da eleição será obrigatória a inscrição prévia no Cadastro
Cultural de Fortaleza, através do preenchimento de formulário eletrônico, disponível no sítio
eletrônico www.fortaleza.ce.gov.br/cultura, ou formulário físico disponível na sede da
Secretária de Cultura de Fortaleza (Rua Pereira Filgueiras, 04, Centro) e na sede das seis
Secretarias Executivas Regionais (SER 1: Rua Dom Jeronimo, 20, Farias Brito; SER 2: Rua
Professor Juraci de Oliveira, 01, Edson Queiroz; SER 3: Av. Jovita Feitosa, 1264,
Parquelandia; SER 4: Av. Dedé Brasil, 3770, Serrinha; SER 5: Av. Augusto dos Anjos, 2466,
Siqueira; SER 6: Rua Padre Pedro de Alencar, 789, Messejana.).
3.3. As inscrições para participação da eleição do(s) representante(s) de qualquer
um dos 12 (doze) segmentos culturais, inclusive as realizadas pela internet, só serão
concluídas após a entrega e validação, por um dos membros da Comissão Técnica e
Eleitoral, da documentação especificada no anexo único deste edital para cada um dos
segmentos culturais.
3.4. A documentação requisitada no item 3.3, poderá ser entregue até o dia 06 de
agosto, na sede da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Rua Pereira Filgueiras, 04, Centro)
ou na sede das 06 (seis) Secretarias Executivas Regionais (SER I: Rua Dom Jeronimo, 20,
Farias Brito; SER II: Rua Professor Juraci de Oliveira, 01, Edson Queiroz; SER III: Av. Jovita
Feitosa, 1264, Parquelandia; SER IV: Av. Dedé Brasil, 3770, Serrinha; SER V: Av. Augusto
dos Anjos, 2466, Siqueira; SER VI: Rua Padre Pedro de Alencar, 789, Messejana.).
3.5. Os participantes que não tiverem suas inscrições validadas pela Comissão
Técnica e Eleitoral, poderão recorrer da decisão desta à Secretária de Cultura de Fortaleza,
desde que a documentação tenha sido apresentada até o dia 06 de agosto.
3.6. As inscrições para participação da eleição em qualquer um dos 06 (seis)
territórios, poderão ser realizadas até a véspera do dia da eleição pela internet ou na sede
147
da Secretaria de Cultura de Fortaleza e das 06 (seis) Secretarias Executivas Regionais, ou
ainda no dia da eleição, no local de votação do respectivo território.
3.7. Para as inscrições de cidadãos não-artistas, que participarão apenas da eleição
do representante do seu território, não é necessária a validação. Será exigido apenas
documento oficial com foto, no ato de votação.
3.8. Todos os cidadãos inscritos deverão optar, no ato de inscrição, por um dos
territórios no qual estarão habilitados a votar e ser votado na eleição do representante
territorial.
3.9. Os cidadão-artistas deverão optar, complementarmente, pela habilitação da
participação da eleição de um dos 12 (doze) segmento culturais, apresentando no momento
oportuno a documentação necessária especificada no anexo deste edital.
DO REGISTRO DAS CANDIDATURAS
4. As inscrições de candidaturas deverão ser feitas na Secretaria de Cultura de Fortaleza -
SECULTFOR, localizada na Rua Pereira Filgueiras, no. 04, Centro, no período de 23 de
agosto a 03 de setembro 2010, em dias úteis, das 08h00 às 12h00 e das 13h00 às 17h00.
4.1. No ato de registro os candidatos deverão apresentar os seguintes documentos:
4.1.1. Pedido de registro à Comissão Eleitoral, assinado pelo candidato,
acompanhado do seu protocolo de inscrição no Cadastro Cultural de Fortaleza.
4.1.2. Declaração de que não é detentor de Cargo em Comissão ou Função de
Confiança vinculada ao Município de Fortaleza, conforme determina o § 2o do Artigo 5o da
Lei no. 9.501/2009.
4.2. Não serão aceitos os registros das candidaturas que não apresentarem os
documentos mencionados no item 4.1, dentro do prazo estabelecido.
4.3. No caso da Comissão Eleitoral constatar alguma irregularidade na
documentação entregue o candidato terá que corrigi-la até o dia 06 de setembro, um dia útil
após o prazo final estabelecido para o registro de candidaturas.
4.4. Um mesmo participante não pode votar nem se candidatar em mais de um
Fórum Permanente, assim como subscrever o pedido de registro de mais de um candidato.
148
DOS FÓRUNS PERMANENTES DE CULTURA
5. A eleição do(s) representante(s) da sociedade civil de que trata este edital se dará
nos fóruns permanentes de cultura dos 6 (seis) territórios e dos 12 (doze) segmentos
culturais, convocados exclusivamente para este fim.
5.1. Os Fóruns permanentes de cultura serão instalados entre os dias 23 de agosto
03 de setembro, em data e local a serem divulgados pela Comissão Técnica e Eleitoral, pelo
menos, no site da Secretária de Cultura de Fortaleza (www.fortaleza.ce.gov.br/cultura).
5.2. A votação nos Fóruns permanentes de cultura, de território ou segmento cultural,
ocorrerá entre os 15 e 21 de setembro, em locais a serem divulgados pela Comissão
Técnica e Eleitoral, pelo menos, no site da Secretária de Cultura de Fortaleza
(www.fortaleza.ce.gov.br/cultura).
5.3. A Comissão Técnica e Eleitoral designará uma junta eleitoral para coordenação
do processo eleitoral em cada fórum permanente.
5.4. As respectivas Juntas Eleitorais dirigirão o processo eleitoral em cada Fórum
Permanente e ao final dos trabalhos de apuração dos votos proclamará os eleitos.
5.5. O sufrágio é direto e o voto é secreto, utilizando-se uma cédula única, por Junta
Eleitoral, contendo os números e os nomes dos candidatos.
5.6. A apuração dos votos de cada Fórum Permanente será feita pela respectiva
Junta Eleitoral.
5.7. O transcurso das eleições e os nomes dos eleitos constarão da Ata da Eleição
de cada Junta Eleitoral.
5.8. Será eleito como Representante Titular o candidato que ficar em primeiro lugar e
como Representante Suplente o candidato que ficar em segundo lugar na contagem dos
votos do respectivo Fórum Permanente.
5.9. Em caso de empate, terá preferência o candidato de maior idade.
5.10. No caso do Fórum Permanente da Cultura Tradicional e Popular serão eleitos
como Representantes Titulares os candidatos que ficarem em primeiro e em segundo lugar
e como Representantes Suplentes os candidatos que ficarem em terceiro e em quarto lugar
na contagem dos votos deste Fórum.
149
DO PROCEDIMENTO DAS ELEIÇÕES
6. Após o encerramento das eleições, os resultados serão publicados no Diário
Oficial do Município de Fortaleza.
6.1. As cédulas de votação contendo os votos dos componentes de cada Fórum
Permanente deverão ser guardadas em local protegido, pelo período de até 01 (um) mês,
quando poderão ser incineradas.
DA POSSE DOS ELEITOS
7. Os eleitos tomarão posse como representantes da Sociedade Civil no Conselho
Municipal de Política Cultural – CMPC, juntamente com os representantes do Poder Público,
em até 30 dias após a publicação dos resultados das Eleições no Diário Oficial do Município
de Fortaleza, em Ato Público, presidida pela Prefeita de Fortaleza ou representante
designado pela mesma.
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
8. Caso algum dos 18 (dezoito) Fóruns Permanentes não realize o processo eleitoral,
conforme previsto neste Edital, a Secretária de Cultura de Fortaleza, através de Portaria,
determinará novas datas para a realização das eleições, devendo ser observadas as
mesmas normas previstas neste Edital.
8.1. No caso de ocorrer a situação prevista no item 8.1, o Conselho Municipal de
Política Cultural - CMPC será empossado, conforme o item 7.1 e iniciará normalmente suas
atividades, devendo o membro que for eleito posteriormente, tomar posse após concluído o
novo processo eleitoral.
8.2. Caso depois de eleito haja desistência de Conselheiro Titular, a vaga será
preenchida pelo respectivo Suplente, devendo haver nova eleição se a desistência for tanto
do Titular quanto do Suplente.
8.3. A eleição prevista no item 8.3 deverá ocorrer em até 90 (noventa) dias da
desistência mencionada, devendo ser observadas as mesmas normas previstas neste
Edital.
8.4. Os requisitos exigidos para inscrição no Cadastro Cultural de Fortaleza, bem
como para participação no processo eleitoral, com vistas à eleição dos representantes da
Sociedade Civil no Conselho Municipal de Política Cultural – CMPC, constam do Anexo
Único deste Edital.
150
8.5. As situações que não forem reguladas por este Edital, bem como pelas demais
normas aplicáveis às matérias aqui tratadas, deverão ser objeto de deliberação da
Comissão Eleitoral, cabendo recurso em última instância à Secretária de Cultura de
Fortaleza.
8.6. Os locais de votação dos 18 (dezoito) Fóruns Permanentes, conforme previsto
neste Edital, serão definidos e divulgados através de Portaria da Secretária de Cultura que
será publicada no Diário Oficial do Município de Fortaleza.
8.7. Não se efetivando nas épocas devidas as eleições dos sucessores, por motivo
de força maior, os prazos dos mandatos dos representantes da sociedade civil no Conselho
Municipal de Política Cultural - CMPC, em exercício, consideram-se automaticamente
prorrogados pelo tempo necessário até que se efetive a sucessão.
8.8. As despesas necessárias à realização do Cadastro Cultural de Fortaleza, bem
como para a realização do processo eleitoral previstas neste Edital, decorrerão das
dotações orçamentárias próprias do Orçamento Municipal em vigor.
8.9.Este Edital entra em vigor na data de sua publicação.
Fortaleza aos 07 dias do mês de junho de 2010.
Maria de Fátima Mesquita da Silva
Secretária de Cultura de Fortaleza
ANEXO ÚNICO
REQUISITOS PARA INSCRIÇÃO NO CADASTRO CULTURAL DE FORTALEZA
1. ARTES VISUAIS
Atuar na cidade de Fortaleza como profissional da área das Artes Visuais em suas
diversas modalidades e linguagens, tais como: Pintor, Desenhista (inclusive cartunista),
Escultor, Gravador, Grafiteiro (toda e qualquer produção que abranja Arte Urbana), bem
como qualquer ação em Artes Visuais inseridas nas manifestações da Arte Contemporânea,
tais como: performance, videoarte, instalação, objeto, web art. Também estão inseridos os
Colecionadores, Curadores, Críticos de Arte, Galeristas, Pesquisadores e Professores.
Comprovar atuação no segmento através da apresentação de um dos itens abaixo:
151
1. Diploma de Curso Técnico ou Superior na área de Artes Visuais (graduação ou
pós- graduação) devidamente reconhecido pelo MEC.
2. Comprovante de atuação profissional na área por, no mínimo, 02 (dois) anos,
através de pelo menos dois itens abaixo:
a) Portfólio;
b) Currículo, fotos dos trabalho e/ou exposição individual ou coletiva;
c) Matérias de jornais;
d) Catálogos de exposições;
e) Participações em salões;
f) Filiação às Entidades representativas da área das Artes Visuais.
2. FOTOGRAFIA
Atuar na cidade de Fortaleza como profissional da área de Fotografia: Fotógrafo em
suas diversas modalidades e linguagens (jornalismo, publicidade, artística, científica,
social), pesquisador, professor, colecionador, curador e crítico.
Comprovar atuação no segmento através da apresentação de um dos itens abaixo:
I. Diploma de Curso Técnico ou Superior na área de Fotografia (graduação ou pós-
graduação) devidamente reconhecido pelo MEC;
II. Comprovante de atuação profissional na área por, no mínimo, 02 (dois) anos,
através de:
a) Portfólio;
b) Currículo;
c) Fotos;
d) Matérias de jornais;
e) Publicações e Catálogos de exposições;
f) Filiação às entidades representativas da área da fotografia.
152
3. AUDIOVISUAL
Atuar na cidade de Fortaleza como profissional da área de Audiovisual: Roteirista,
Diretor, Ator, Crítico de Cinema, Montador, Editor, Continuísta, Animador, Técnico em
Efeitos Especiais, Diretor de Fotografia, Diretor de Arte, Diretor Musical, Câmera,
Cenógrafo, Assistente de Produção, Assistente de Direção, Assistente de Fotografia,
Assistente de Montagem, Produtor de Cinema, Produtor de Vídeo, Produtor de Set,
Produtor de Finalização, Técnico de som e Cineclubista.
Comprovar atuação no segmento através da apresentação de um dos itens abaixo:
I. Diploma de Curso Técnico ou Superior na área de Audiovisual (graduação ou pós-
graduação) devidamente reconhecido pelo MEC;
II. Certificado(s) de curso de extensão, cursos modulares ou demais cursos na área
de audiovisual que somem um mínimo de 600 horas/aula, reconhecidos por instituição(ões)
de ensino com comprovada experiência de formação;
III. Comprovante de atuação profissional na área por, no mínimo, 02 (dois) anos,
através de:
a) Portfólio;
b) Currículo;
c) Fotos;
d) Matérias de jornais;
e) Participação em Festivais;
f) Participação em Catálogos;
g) Filiação a Entidades Representativas da área de Audiovisual.
4. LITERATURA
Atuar na cidade de Fortaleza como profissional na área de Literatura: Escritor,
Poeta, Romancista, Contista, Cronista, Memoralista, Ensaísta, Dramaturgo, Roteirista,
Novelista, Crítico Literário, Biblioteconomista, Documentarista e Professor de Literatura,
Editor, Distribuidor, Livreiro, Sebista, Curador, Mediador, Produtor de Feiras e Festivais,
Preparador de Texto, Revisor, Tradutor, Capista, Copidesque, Gráfico, Transcritor,
Bibliotecário, Pesquisador, Restaurador e Vendedor de Livros.
153
Comprovar atuação no segmento através da apresentação de um dos itens abaixo:
I. Diploma de Curso Superior na área de Letras (graduação ou pós-graduação)
devidamente reconhecido pelo MEC;
II. Comprovante de atuação profissional na área por, no mínimo, 02 (dois) anos,
através de:
a) Currículo;
b) Fotos;
c) Matérias de jornais;
d) Publicações;
e) Filiação a Entidades Representativas da área de Literatura, Livro e Leitura.
5. MÚSICA
Atuar na cidade de Fortaleza como profissional na área de Música: Compositor,
Músico, Intérprete, Regente, DJ, Letrista, Artista Popular, Professor, Crítico Musical,
Pesquisador, Produtor Musical, Engenheiro de Som, Roadie, Empresários do Segmento
Artístico da Música (Editores e Distribuidores Musicais), Luthiers.
Comprovar atuação no segmento através de um dos itens abaixo:
I. Diploma de curso Técnico ou Superior na área de Música (graduação ou pós-
graduação) devidamente reconhecido pelo MEC;
II. Comprovante de inscrição na Ordem dos Músicos do Brasil – OMB.
III. Comprovante de atuação profissional na área por, no mínimo, 02 (dois) anos,
através de:
a) Currículo;
b) Discos;
c) Cds;
d) DVDs;
e) Fotos;
154
f) Matérias de jornais;
g) Publicações;
h) Filiação a Entidades Representativas da área de Música.
6. TEATRO
Atuar na cidade de Fortaleza como profissional na área de Teatro: Ator, Atriz,
Performer, Diretor, Dramaturgo, Dramaturgista, Produtor, Proprietários e Administradores de
Teatros e Espaços Cênicos, e Técnicos em Espetáculos Teatrais.
Comprovar atuação no segmento através de um dos itens abaixo:
I. Diploma de Curso Técnico ou Superior na área de Teatro (graduação ou pós-
graduação) devidamente reconhecido pelo MEC;
Formados e formandos por cursos Livres, Técnicos ou de Extensão, na área de
Teatro, que somem, no mínimo, 600horas/aula;
Comprovante de atuação profissional na área por, no mínimo, 02 (dois) anos,
através de jornais, panfletos, cartazes ou declaração do Sindicato dos Artistas e Técnicos
em Espetáculos de Diversões - SATED/CE ou Associação dos Produtores Teatrais do
Estado do Ceará - APETECE, Associação Brasileira de Teatro de Bonecos - ABTB-CE ou
Federação Estadual de Teatro – FESTA ou Associação dos Produtores do Estado do Ceará
- PRODUCE.
7. DANÇA
Atuar na cidade de Fortaleza como profissional na área de Dança: Bailarinos,
Coreógrafos, Professores, Pesquisadores, Críticos de Dança, Curadores, Produtores,
Técnicos em Espetáculos de Dança, Assistentes de Coreógrafos, Dramaturgos,
Dramaturgistas, Performers, Proprietários de Academias e Escolas de Dança.
Comprovar atuação no segmento através de um dos itens abaixo:
I. Profissionais da Dança formados e formandos de cursos Livres, Técnicos e de
Extensão com Habilitação em Dança, que somem, no mínimo, 600 horas/aula;
II. Professores de Dança com graduação ou com DRT, ou professores de IES;
III. Representantes de Associações de Dança sem fins lucrativos;
155
IV. Diretores e/ou Coreógrafos de Grupos Independentes em atuação no município a
mais de dois anos;
V. Comprovar atuação profissional na área por, no mínimo, 02 (dois) anos através
de:
a) Portfólio;
b) Currículo;
c) Fotos;
d) Matérias de jornais;
e) Participação em Festivais.
f) DVDs;
g) Publicações.
8. CIRCO
Atuar na cidade de Fortaleza como profissional na área de Circo, nas funções de:
proprietários de circo, instrutores de escolas de circo, mestre de cerimônia, malabaristas,
palhaços, contorcionistas, equilibristas, monociclistas, acrobatas, trapezistas, mágicos,
palhaços, entre outras.
Comprovar atuação no segmento através de um dos itens abaixo:
I. Ser filiado à Associação dos Proprietários, Artistas e Escolas de Circo – APAECE;
II. Comprovante de atuação profissional na área por, no mínimo, 02 (dois) anos
através de:
a) Jornais;
b) Panfletos;
c) Cartazes.
9. CULTURA TRADICIONAL POPULAR
Atuar na cidade de Fortaleza como profissional na área de Cultura Popular
Tradicional: Mestre, Brincante, Cantador, Cordelista, Músico, Artesão, Artista Plástico,
Produtor, Pesquisador ou Estudioso.
156
Comprovar atuação no segmento através de um dos itens abaixo:
I. Declaração de reconhecimento pela Comissão Cearense de Folclore ou pela
Coordenação de Cultura Popular Tradicional de Secretaria de Cultura de Fortaleza –
SECULTFOR;
II. Comprovante de atuação profissional na área por, no mínimo, 03 (três) anos,
através de currículo, portfólio, fotos, matérias de jornal, cartazes, folders e catálogos.
10. PRODUTORES CULTURAIS
Pessoa Jurídica: ser empresa de natureza cultural, constituída juridicamente com
sede na cidade de Fortaleza, no segmento da produção cultural, e comprovar requisitos
exigidos através da apresentação de currículo resumido e de um dos seguintes
documentos:
I. Cópia do Contrato Social;
II. Cópia do CNPJ.
Pessoa Física: comprovar requisitos exigidos através da apresentação de:
III. Porrifólio/Currículo com comprovantes dos dados informados, atestando atuação
na área da produção cultural por, no mínimo, 02 (dois) anos.
11. CONSELHO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
Ser membro do Fórum Temático de Cultura do Orçamento Participativo e maior de
16 (dezesseis) anos.
Comprovar requisitos exigidos através da apresentação dos seguintes documentos:
I. RG;
12. SECRETARIAS EXECUTIVAS REGIONAIS (SERs)
Ser residente na SER e maior de 16 (dezesseis) anos.
Comprovar requisitos exigidos através da apresentação dos seguintes documentos:
I. Comprovante de residência;
II. RG.
157
13. INSTITUIÇÕES CULTURAIS NÃO-GOVERNAMENTAIS
Ser instituição de caráter cultural não-governamental constituída, ou não,
juridicamente com sede na cidade de Fortaleza, tais como: Centros Culturais, Fundações,
Institutos, Associações sem Fins Lucrativos (ONGs), Cooperativas, Coletivos, Grupos
Culturais Informais.
Comprovar requisitos exigidos através da apresentação de um dos seguintes
documentos:
I. Contrato ou Estatuto Social;
II. CNPJ;
III. Histórico com comprovantes dos dados informados, atestando a atuação efetiva
na área cultural por, no mínimo, 02 (dois) anos;
IV. Ata de Eleição;
V. Portfólio das ações;
VI. Jornais, panfletos e cartazes.
158
ANEXO D - ANÁLISE DAS ATAS DAS REUNIÕES DO CMPC
Análise das Atas das reuniões do CPMC
Data
Ata
Quem Inicia as reuniões
Agenda tema
Caráter deliberati
vo ou consultiv
o
Interesse
Falas seguidas de debate
PP
Falas seguidas de debate
SC
Demandas
Presença
O / E
O Sociedade Civil
Poder Públi
co
Convidados
1 15/12/2010 O Fatima
Mesquita 1 , 2 e 3 deliberativo PP 2 0 1 Construção de
agenda 13 11
2 20/12/2010 EO Fatima Mesquita 3,4 consultiv
o PP 0 0 1 Construção de agenda 9 7
3 10/01/2011 O Marcio Caetano consultiv
o PP 0 0 1 Construção de agenda 6 4
4 31/01/2011 O Silvia BessA 3,5 deliberati
vo SC 0 0 1 Construção de agenda 9 9
5 07/02/2011 O Marcio Caetano 3 deliberati
vo SC/PP 1 2 2 e 6 Formulação de políticas e outras
11 18
6 16/03/2011 O Fatima Mesquita
6,7,8,9,10,11
deliberativo SC/PP 2 2 1, 2,6
Construção de agenda , Formulação de Política e outras
11 9
7 04/04/2011 O Marcio Caetano
12,13,8,10,14,15
consultivo SC/PP 4 3 1,2,6
Construção de agenda , Formulação de Política, outras
9 10
8 02/05/2011 O Fatima Mesquita 8,12 deliberati
vo SC/PP 0 0 1 e 3
Construção de agenda e Tomada de decisão
13 13
9 06/06/2011 O Fatima Mesquita 11,14,16 deliberati
vo SC/PP 2 1 1,2,3
Construção de agenda, Formação de Política e Tomada de decisão
12 15 6
10 04/07/2011 O Fatima Mesquita
3,10,11,17,18
deliberativo SC/PP 5 8 3,6
Tomada de decisões e outras
14 7
11 01/08/2011 O Fatima Mesquita
8,11,19,20,21
deliberativo SC/PP 2 3 1, 2 e
6
Construção de Agenda, Formação de Política e Outras
11 9 10
12 22/08/2011 EO Marcio Caetano 11,20, consultiv
o SC/PP 5 3 1 e 2
Construção de Agenda e Formação de Política
10 7 10
13 05/09/2011 O Fatima Mesquita 3,11,18 deliberati
vo PP 1 1 5,6 avaliação de políticas, outras
10 11 3
14 03/10/2011 O Marcio Caetano
11,17,22,23
deliberativo SC /PP 3 3 1,2,3,
5
Construção de agenda, Formação de Política e Tomada de decisão, avaliação de políticas
11 8 7
15 17/10/2011 EO Fatima Mesquita 23 deliberati
vo SC/PP 2 6 1,2,5
Construção de Agenda e Formação de Política, avaliação de políticas
11 9 13
16 31/10/2011 EO Fatima Mesquita 23 consultiv
o SC/PP 0 1 1 Construção de Agenda 6 6
159
17 05/12/2011 O Fatima Mesquita
11,19,21, 23
consultivo SC/PP 1 4 1,5
Construção de Agenda,avaliação de políticas
8 5
18 06/02/2012 O Silva Moura
7,8,10,11, 25,26
consultivo PP 3 3 1,2
Construção de Agenda e Formação de Política
11 9 3
19 05/03/2012 O Marcio Caetano 7,25,27 consultiv
o SC/PP 1 1 1,2
Construção de Agenda e Formação de Política
11 8
20 02/04/2012 O Fatima Mesquita
7,19,25,27
consultivo SC/PP 2 2 1,2
Construção de Agenda e Formação de Política
10 9
21 07/05/2012 O Fatima Mesquita 7,25 deliberati
vo SC/PP 3 5 1,2,3
Construção de agenda, Formação de Política e Tomada de decisão
13 14
22 04/06/2012 O Marcio Caetano 7,18,27 deliberati
vo SC/PP 4 7 1,2,3
Construção de agenda, Formação de Política e Tomada de decisão
12 12 4
23 02/07/2012 O Marcio Caetano 28,29 deliberati
vo SC/PP 3 4 1,2,3
Construção de agenda, Formação de Política e Tomada de decisão
13 10 11
24 06/08/2012 O Fatima Mesquita
7,18, 19, 28, 30
consultivo SC/PP 2 4 1,2
Construção de Agenda e Formação de Política
11 10 7
25 20/08/2012 EO Fatima Mesquita 29, 30 deliberati
vo SC/PP 0 9 1,2,3,5
Construção de Agenda , Formação de Política, tomada de decisão e avaliação de políticas
10 9 4
26 03/09/2012 O Fatima Mesquita 30,7 consultiv
o PP 1 0 1 Construção de Agenda 17 8 4
27 24/09/2012 EO Marcio Caetano 7 consultiv
o PP 2 0 1,2 e 4
Construção de Agenda,
Formação de Política e
Implementação de Política
4 7
28 01/10/2012 O Fatima Mesquita 7,3 deliberati
vo SC/PP 3 1 1, e 5
Construção de agenda e Avaliação Política
5 10
29 05/11/2012 O Fatima Mesquita 7,25 deliberati
vo SC/PP 6 6 1,2,3,4
Construção de Agenda , Formação de Política, tomada de decisão e Implementação de políticas
12 11 5
160
ANEXO E – AGENDA TEMA
2011
Planos Municipais de Cultura 2 6% Regimento Interno do Conselho 6 17%
Lei Orçamentaria de 2012 4 11% 4ª Conferencia Municipal de Cultura 2011 2 6%
Eleições dos membros das Câmaras Temáticas 7 20% Eleições da Secretaria Geral do CMPC 2 6%
Quadro de Frequência 2 6% Cadastro e Mapeamento cultural 2 6%
Sistema Municipal Fomento a Cultura 2 6% Editais das artes 2012 2 6% Foruns Permanente 4 11%
35
2012 Plano Municipal de Cultura para Cidade De
Fortaleza 10 36% Lei Orçamentaria de 2012 2 0%
Ajuda de custo 2 0% Cadastro e Mapeamento cultural 2 0% Eleição nova gestão do CMPC 5 0%
Comissão do Humor 3 0% Projetos de Equipamentos Culturais 2 0%
Alterações na Lei 9501 2 7%
28
161
ANEXO F – PRESENÇA DOS ATORES
Presença 2011 números absolutos
Presença 2011 em Percentuais
Sociedade Civil
Poder Público
Total de participantes
Ordem das atas
Sociedade Civil
Poder Público
13 11 24
1 54% 46% 9 7 16
2 56% 44%
6 4 10
3 60% 40% 9 9 18
4 50% 50%
11 18 29
5 38% 62% 11 9 20
6 55% 45%
9 10 19
7 47% 53% 13 13 26
8 50% 50%
12 15 27
9 44% 56% 14 7 21
10 67% 33%
11 9 20
11 55% 45% 10 7 17
12 59% 41%
10 11 21
13 48% 52% 11 8 19
14 58% 42%
11 9 20
15 55% 45% 6 6 12
16 50% 50%
8 5 13
17 62% 38% 174 158 332
908% 792%
Média dos percentuais 2012
53% 47%
162
Presença 2012 números absolutos
Presença 2012 em Percentuais
Sociedade Civil
Poder Público
Total de participantes
Sociedade Civil
Poder Público
11 9 20 18 55% 45% 11 8 19 19 58% 42% 10 9 19 20 53% 47% 13 14 27 21 48% 52% 12 12 24 22 50% 50% 13 10 23 23 57% 43% 11 10 21 24 52% 48% 10 9 19 25 53% 47% 17 8 25 26 68% 32% 4 7 11 27 36% 64% 5 10 15 28 33% 67%
12 11 23 29 52% 48%
615% 585%
Média dos percentuais 2012
51% 49%
163
ANEXO G – ATORES DOMINANTES NAS REUNIÕES
Falas Seguidas de debates em 2011
Falas seguidas de debate PP
Falas seguidas de debate SC Total
%Falas seguidas
de debate
PP
%Falas seguidas
de debate
SC
2 0 2 100% 0% 0 0 0 0% 0% 0 0 0 0% 0% 0 0 0 0% 0% 1 2 3 33% 67% 2 2 4 50% 50% 4 3 7 57% 43% 0 0 0 0% 0% 2 1 3 67% 33% 5 8 13 38% 62% 2 3 5 40% 60% 5 3 8 63% 38% 1 1 2 50% 50% 3 3 6 50% 50% 2 6 8 25% 75% 0 1 1 0% 0% 1 4 5 20% 80%
593% 607%
Media de % de fala
35% 36%
164
Falas Seguidas de debates em 2012
Falas seguidas
de debate
PP
Falas seguidas
de debate
SC
Total
%Falas seguidas
de debate
PP
%Falas seguidas
de debate
SC
3 3 6 50% 50% 1 1 2 50% 50% 2 2 4 50% 50% 3 5 8 38% 63% 4 7 11 36% 64% 3 4 7 43% 57% 2 4 6 33% 67% 0 9 9 0% 0% 1 0 1 100% 0% 2 0 2 100% 0% 3 1 4 75% 25% 6 6 12 50% 50%
625% 475%
Media de % de fala
48% 37%
165
ANEXO H – PERFIL DE DEMANDAS POR ANO
2011 1 Construção de agenda 14 39% 2 Formulação de política 8 27% 3 Tomada de Decisões 4 13% 4 Implementação de políticas 0 0% 5 Avaliação de Políticas 4 13% 6 Outras 6 20%
2012
1 Construção de agenda 12 40% 2 Formulação de política 9 30% 3 Tomada de Decisões 5 17% 4 Implementação de políticas 2 7% 5 Avaliação de Polítcas 2 7% 6 Outras 0 0%
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