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Trabalho de Conclusão de Curso
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O DESAFIO DE UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS: A IMPORTÂNCIA DO
ASSISTENTE SOCIAL NO MEIO EDUCACIONAL
Rosana Faria de Oliveira1
RESUMO: Este trabalho visa contribuir para as reflexões referentes à importância do profissional de
Serviço Social trabalhar em conjunto com os profissionais da Educação. Este sujeito poderá contribuirá
para a vida escolar das crianças e participação das famílias, através de visitas domiciliares, despertando
elas para a vida escolar do seu filho, realizando a mediação entre escola e família já que encontramos
nesse cenário, crianças fragilizadas, muitas em situação de vulnerabilidade, além de inúmeras
negligências familiares. A escolha metodológica pautou-se em uma revisão bibliográfica, cujo
desenvolvimento foi dado através de estudos de pesquisas de cunho qualitativo, com entrevistas aos
sujeitos in loco, esse artigo visa contribuir no sentido de auxiliar a escola e todo o corpo envolvido, para
que juntos possam somar na formação das crianças inseridas nesse contexto, estendendo assim também
para os familiares representados pelas mesmas.
Palavras – chave: Família, Escola, Serviço Social.
1 INTRODUÇÃO
A motivação para a realização desta pesquisa partiu da vivência do nosso trabalho no
Centro de Educação Infantil e a minha formação que é em Serviço Social, na instituição
trabalhava como secretária e percebia a dificuldade da escola em estabelecer vínculos e buscar
a parceria com a família das crianças, assim comecei a compreender que outro profissional
poderia tornar essa comunicação escola/famílias mais efetiva, dessa forma, comecei a pesquisar
sobre os ganhos que um projeto político que desenvolvesse o trabalho do Assistente Social na
instituição poderia contribuir para a efetivação do oferecimento de uma educação para todos.
Através do trabalho do Assistente Social em colaboração com a instituição educativa
será possível desenvolver um trabalho com as crianças que ali estão inseridas provenientes de
famílias vulneráveis, ou seja, famílias que possuem seus vínculos fragilizados, de um meio
precarizado, o que acaba culminando em muitas incapacidades perante a vida social.
1 Graduada em Serviço Social – Atuo como Auxiliar de Cartório Eleitoral.
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Ao longo do tempo que estava na secretaria da escola, presenciamos vários tipos de
negligência no âmbito familiar que interferia diretamente no comportamento das crianças na
instituição.
Presenciávamos constantemente o abandono, que se materializava no descaso com as
obrigações dos pais com os seus filhos, como cuidados com a higiene pessoal e alimentação
das crianças, até os casos de negligências emocionais, negligência médica, negligência física e
entre outras.
O Estatuto da criança e do adolescente – ECA (Lei Nº 8.069, de 13 de Julho de 1990),
preconiza que a criança e o adolescente devem ser vistos como sujeito de direitos e deveres,
esses mesmos tem direito a conviver com a família e sociedade, não deve sofrer qualquer tipo
de negligência e discriminação que possam por em situações de risco e humilhação.
Os artigos 3º e 5º do ECA, evidenciam, alguns direitos das crianças para que seu
desenvolvimento seja garantido, além de prever punições caso sejam negligenciadas, ressaltam
obrigações gerais assumidas pelo país:
ARTIGO 3º - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos
fundamentais á pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
essa Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
ARTIGO 5º - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido da forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais. (BRASIL, 1990, p. 25).
A Constituição Federal (1988) e a LDB (1996) estabelecem a educação como direito
subjetivo de todos os brasileiros, tiveram suas redações alteradas a partir da Lei nº 12.796 de
04 de abril de 2013 que definiu a educação obrigatória dos 4 aos 17 anos de idade tornando
assim garantida a oferta gratuita de vagas para toda a população nessa faixa etária. A legislação
brasileira estabelece, ainda, como finalidade da educação básica a formação básica do cidadão.
No entanto, ainda existe o desafio de oferecer uma educação de qualidade para todas as
pessoas, uma vez que a realidade vivenciada não é a mesma apresentada na legislação brasileira,
nos deparamos diariamente com crianças que não possuem seus direitos básicos garantidos.
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Além da negligência já citada, muitas crianças ainda sofrem inúmeros tipos de violência
por parte dos seus responsáveis, como: maus tratos, abandono, violência física e moral, e que
julgamos o mais importante, a ausência do afeto/do amor, cada vez mais notável nas famílias e
consequentemente nos filhos.
O governo também é falho, ao não oferecer as crianças uma educação digna, de
qualidade. Ao contrário, temos presenciado, escolas “lotadas” com número de alunos excedidos
pela capacidade que a sala comporta, falta de recursos pedagógicos e condições precárias para
professores e recriadores trabalharem.
Por mais que há um grande distanciamento no que a legislação apresente para a realidade
concreta, precisamos acreditar que o direito tem poder transformador, que ele é maior do que
qualquer cena que presenciamos de negligência.
A metodologia adotada para o desenvolvimento da pesquisa teve cunho qualitativo, pois
segundo Minayo (2009, p.21).
[...] a pesquisa qualitativa responde as questões muito particulares. Ela se
ocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ou não
deveria ser quantificado ou seja, ela trabalha com o universo dos significados,
dos motivos, das apurações, das crenças, dos valores e das atitudes.
Para a recolha dos dados aplicamos um questionário inicialmente à gestora escolar e
depois realizei uma entrevista semiestruturada com as famílias das crianças que apresentam
uma evasão escolar maior. A pesquisa contemplou a fase exploratória, trabalho em campo e por
fim a análise e tratamento do material empírico e documental.
2 O ASSISTENTE SOCIAL E A EDUCAÇÃO: NOVAS POSSIBILIDADES
O profissional do Serviço Social inserido na Educação tem contato direto não só
com o corpo docente da escola, mas com toda a comunidade em si que atuará no enfrentamento
das expressões da questão social, fazendo com que as famílias das crianças representadas nessa
pesquisa possam fazer de fato parte do processo de ensino-aprendizagem, colaborando assim
no processo da democratização da educação.
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Trabalho esse que poderá contribuir e facilitar no enfrentamento de inúmeras questões
sociais seja elas representada por dificuldade do ensino-aprendizagem, violência, evasão
escolar entre outros. Pensando nisso a articulação do profissional do serviço social (O
Assistente Social) com as famílias e o corpo escolar é primordial.
A própria legislação brasileira faz referência à necessidade de mudanças no campo
educacional, com a inserção de outros profissionais e políticas públicas integradas. A lei 13.257,
de 8 de março de 2016 que define o Marco legal para a primeira infância evidencia a
importância de política públicas intersetoriais para a consolidação do direito e da proteção da
criança.
Foi criada para estabelecer a implementação de políticas públicas voltada para a
primeira infância das crianças até os 6 anos de vida, no qual será criada uma série de programas,
serviços e demais iniciativas voltadas ao desenvolvimento integral das crianças.
Essa lei recente evidencia que para garantir o direito das crianças pequenas é necessário
um atendimento em várias instancias, a educação sozinha não é suficiente assim como a saúde
também não, dessa forma a integração entre os diversos serviços ajudaria a garantir a proteção
e o direito dessas crianças. Nessa perspectiva ressaltamos o trabalho do Assistente Social
cooperando com a educação, de acordo com Santos (2009, p.16) o trabalho do Assistente social
poderá contribuir para a efetivação dos direitos básicos uma vez que ele:
[...] dispõe de possibilidade para o desvelamento de sua profissão, por meio
da efetivação dos direitos sociais mediante o atendimento disponibilizado ao
público de aluno bolsistas e demais, como também as suas famílias, as quais
na sua maioria são oriunda de situações de risco pessoal ou social.
A participação do Assistente Social poderá ocorrer em reuniões com os pais
principalmente as que acontecem no término de cada bimestre, podendo ser palestrados vários
assuntos.
O trabalho do Assistente Social no meio educacional se dará através da proteção social,
no qual tem como uma das suas competências, segundo a Lei 8.662 de 07 de Junho de 1993:
I – elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos
da administração pública, direta, empresas, entidades e organizações
populares;
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II – elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que
sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade
civil;
III – encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos
e à população;
Uma possibilidade de atuação deste profissional seria a realização de projetos
desenvolvidos ao longo dos anos letivos, com a interação do Assistente Social e a comunidade
escolar colaborando assim na democratização da educação. A seguir pontuamos alguns temas
que poderiam ser discutidos ao longo do projeto:
Prevenção à violência;
Prevenção ao uso de álcool e drogas;
Importância da presença dos pais na vida escolar dos seus filhos;
Empoderar as famílias sobre os direitos humanos;
Orientação social á indivíduos, grupos e famílias;
Fomentar o trabalho com a rede intersetorial.
Sendo assim com a inserção desse profissional no meio, contribuirá para a proteção
social, organizará as demandas existentes nas mais diversas áreas, como: saúde, segurança,
assistência social além de garantir o exercício da cidadania tanto da criança como da sua família,
por meio da disponibilidade de informação e formação e acompanhamento das relações
estabelecidas entre escola e comunidade.
2.1 Família e escola: caminhos e desafios na efetivação do direito a educação
Com o intuito de revelar as condições que as crianças vivem no espaço escolar,
identificar as famílias que hoje necessitam de acompanhamento profissional e verificar se o
ensino ofertado está sendo de qualidade e o suficiente, foi aplicado um questionário ao gestor
do Centro de Educação Infantil – Recanto Feliz.
O Centro de Educação Infantil foi criado pelo Decreto de nº 10, de 26.01.2009. Sendo
essa a única unidade escolar da educação infantil que atende creche e pré-escola no município.
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Atualmente a escola conta com um quadro de 30 funcionários. O prédio não é próprio e
sim alugado, sua estrutura física é bem simples, muitas coisas ainda precisam se adequar. Por
ser a única unidade escolar que atende o público infantil e devido à infraestrutura não
possibilitar o atendimento a muitas crianças, a instituição em seu regimento interno aprovado
em 13/03/2015, estabelece a quantidade de crianças por sala, ao relacionar as quantidades
estabelecidas no documento e as crianças matriculadas, praticamente todas as salas de aula estão
com número excedente de crianças.
Segue o quadro do quantitativo de crianças por sala e a quantidades de crianças
matriculadas:
QUANTIDADE DE CRIANÇAS CONFORME
O GUIA DE OPERACIONALIZAÇÃO
QUANTIDADE DE CRIANÇAS
MATRICULADAS ATUALMENTE
Berçário I (atende faixa etária de 4 meses a 1 ano)
08 crianças
12 crianças
Berçário II (faixa etária de 1 anos a 2 anos)
08 crianças
16 crianças
Maternal I - matutino (faixa etária de 2 anos a 3
anos)
08 crianças
12 crianças
Maternal I - vespertino (faixa etária de 2 anos a 3
anos)
08 crianças
15 crianças
Maternal I - matutino (faixa etária de 2 anos a 3
anos)
08 crianças
12 crianças
Maternal I - integral (faixa etária de 2 anos a 3
anos)
08 crianças
22 crianças
Maternal II - matutino (faixa etária de 3 anos a 4
anos)
15 crianças
18 crianças
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Maternal II - vespertino (faixa etária de 3 anos a 4
anos)
15 crianças
20 crianças
Maternal II - integral (faixa etária de 3 anos a 4
anos)
15 crianças
22 crianças
Pré I - matutino (faixa etária de 4 anos a 5 anos)
20 crianças
22 crianças
Pré I - vespertino (faixa etária de 4 anos a 5 anos)
20 crianças
22 crianças
Pré I - integral (faixa etária de 4 anos a 5 anos)
20 crianças
23 crianças
Pré II - matutino “A” (faixa etária de 5 anos a 6
anos)
20 crianças
20 crianças
Pré II - matutino “B” (faixa etária de 5 anos a 6
anos)
20 crianças
19 crianças
Pré II - matutino “C” (faixa etária de 5 anos a 6
anos)
20 crianças
19 crianças
Pré II - matutino “D” (faixa etária de 5 anos a 6
anos)
20 crianças
21 crianças
Em entrevista com a diretora do Centro de Educação Infantil, fomos informadas que na
unidade escolar hoje tem 283 crianças, dessa boa parte pertencem ao Bairro Silvino de Barros
que hoje é o bairro que está concentrado o maior número de famílias em situação de
vulnerabilidade e beneficiários do programa Bolsa Família (PBF).
A diretora da unidade escolar tem experiência na educação infantil há quinze anos, ao
ser indagado sobre o regimento escolar e a proposta pedagógica, disse que a unidade possui os
documentos.
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Relatou que tem vários problemas relacionados à negligência familiar que vão desde a
falta de cuidados como higiene básica até aquelas em que o filho (a) sofre de fato o abandono
dos pais, ficam doentes e só “tomam providências” quando a escola assim exige.
Com relação às crianças beneficiárias do programa bolsa família, na escola tem 98
crianças contempladas com tal benefício, destas há casos de faltas e abandono, porém as
mesmas não são de idade de pré-escola, são do berçário e maternal (etapas da creche), faltam
muito, na verdade constantemente, se a escola quer saber o motivo tem que estar sempre
entrando em contato.
Acredito que as faltas exageradas e o abandono escolar ocorrem na faixa etária de 0 a 3
anos, uma vez que nesta etapa não é exigido um percentual de presença e/ou um número de
faltas permitidas, além disso, há pais que não vêem a educação infantil como importante para
o desenvolvimento integral de seus filhos.
Na entrevista a diretora mencionou duas famílias em especial que faltam muito. As
crianças têm idade na faixa de 0 a 03 (três) anos. Foi relatado que o procedimento da escola é,
após 15 faltas consecutivas, entram em contato. A mãe de ambas as famílias relatam que “a
criança” não comparece a unidade sempre por estar doente, mas o que se percebe segundo a
diretora, é que os pais não querem ter responsabilidade com as crianças, que acham conveniente
“mandar” a criança para a escola quando lhe convêm, quando precisam, quando está um clima
bom para acordar cedo.
Também revelou que há outros fatores por trás das faltas, até disse que segundo relatos
de algumas pessoas que essas crianças não frequentam a escola como deveria em virtude dos
pais usarem substâncias entorpecentes e outros.
Ressaltamos que as faltas das crianças de zero a três anos acontecem por não pertencer
ao critério para receber os benefícios do programa bolsa família, acho relevante mencionar e
salientar que deveria acrescentar a frequência na educação infantil como critério para aqueles
que são beneficiários. Dessa forma contribuiria muito para o desenvolvimento da criança, uma
vez que a diretora relatou prejudicar o ensino-aprendizagem da mesma.
Com relação à qualidade do ensino, pontuou outros itens que prejudicam o ensino, que
vão desde a falta de material como livros didáticos apropriados a idade, o pouco que possuem
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não é o suficiente para trabalhar com o número de crianças matriculadas da escola (283
crianças), e também há falta de equipamentos como armários, ventiladores, equipamentos
tecnológicos, material didático e até mesmo utensílios de cozinha.
A escola recebe anualmente um valor que vem do Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação, que contribui para sanar algumas dificuldades, mas que é muito limitado diante
de toda a demanda que há no espaço escolar.
2.2 Relatos dos sujeitos
Através da visita realizada no Centro de Educação Infantil, a diretora informou quais
eram as crianças beneficiadas pelo programa Bolsa Família, dentre essas, foi mencionada duas
famílias cujas crianças faltam muito, diante disso elas selecionadas para participar da pesquisa,
uma vez que são famílias pertencentes à Bolsa Família, são de baixa renda e por terem um
número elevado de faltas.
Foi confeccionado um questionário para ambas as famílias, que foram devidamente
respondidos, as famílias entrevistadas foram denominadas como Família I e Família II.
Família I: A responsável pela mesma é a mãe, os pais são separados, na casa moram
três pessoas (responsável e 2 filhos), moram em casa cedida, tem como principal meio de
transporte uma bicicleta.
Quanto à escolaridade, a mãe possui apenas ensino fundamental incompleto, no
momento da entrevista relatou que não pretende concluir seus estudos, quando indagada sobre
a frequência dos seus filhos na educação infantil, disse que quando eles não comparecem a
escola é por estarem doentes.
Essa realidade faz com que somente:
[...] por serem pobres, têm dificuldade de ter voz, isto é, de formular, organizar
e, sobretudo, expressar suas necessidades, transformando-as em demandas por
justiça. A pobreza os joga, sem piedade, no mundo dos “incapacitados”.
(PINZANI e REGO. p. 13, s/n).
A mãe disse que tem conhecimento das condicionalidades do programa, que tem que
pesar, manter as vacinas em dias e os filhos tem que estar na escola.
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Com relação à escola, afirmou que a unidade escolar oferece suporte, pois seus filhos
aprendem lá. Disse que recebe o benefício há dois anos, que é muito bom, realiza várias coisas,
como comprar alimentos, roupas, calçados e etc.
A educação de fato pode mudar uma realidade, pois acredito que uma vez que você a
possui poderá ter autonomia, conforme Rego e Pinzani (p. 57, 2013):
[...] atribuímos autonomia a um sujeito quando ele é capaz de agir conforme
um projeto pessoal de vida boa e de considerar a si e a outros sujeitos como
capazes de estabelecer relações de direitos e deveres... Que é considerado um
grau mínimo já que esta última é uma qualidade que pode ser possuída de
forma maior ou menor: a autonomia de um sujeito se torna maior quanto mais
constrói seu projeto de vida boa de forma independente dos modelos
fornecidos pelo seu ambiente mais próximo.
Com a educação, você pode não somente sonhar, mas concretizar muitas coisas, aqui
me refiro à autonomia, palavra simples, mas de grande expressividade. Através da educação é
que passamos a ter uma consciência crítica, nos transformamos em seres formadores de opinião,
com ela aprendemos a sair do comodismo, podemos ter uma qualidade de vida melhor.
Essa família retratada aqui é exemplo da falta que faz a educação na vida das pessoas,
notamos que a mãe não tem autonomia sobre a sua vida. A educação tem poder transformador
na vida das pessoas e nos dá conhecimento notório de adquirirmos autonomia para a vida.
A mãe disse que mesmo que não seja muito, mas sem ele o que seria? Pois a mãe vive
de “bicos” não tem serviço fixo, atualmente estava como cabo eleitoral, o que a ajudou muito,
afinal estava ganhando R$ 300,00, que serviço como esse não é toda hora que surge, o que
dificulta oferecer uma vida com mais qualidade de vida aos seus filhos.
Também disse que toda a dificuldade que passa, não quer ver se repetindo com seus
filhos no futuro, que quer ver eles formados e com um bom serviço, já que não teve essa
oportunidade.
Família II: A responsável pela família é novamente a figura feminina, sendo a mãe,
reside sozinha na casa com seus três filhos uma adolescente de 13 anos, dois meninos, um de 1
ano e 8 meses e um de cinco anos. Mora em casa alugada, na maioria das vezes para realizar as
tarefas do dia a dia anda a pé, raramente usa uma bicicleta que possui.
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Possui ensino fundamental incompleto. Quando questionada sobre a frequência dos
filhos na escola, a mãe disse que todos frequentam certinho, porém o de idade da educação
infantil falta, pois moram longe e que às vezes “perdem o ônibus”, outras vezes por estar doente.
Com relação ao que o filho aprende, a mãe disse que seu filho brinca muito na escola.
Sendo a mãe a única responsável de manter a casa, suprir as necessidades individuais e
dos filhos, a mesma trabalha limpando casas, que sempre aparece uma ou outra, e assim vai
levando a vida relatou que tem um relacionamento e que essa pessoa a ajuda quando pode. Não
tem renda fixa, mas que quando ganha muito chega a R$ 500,00.
Recebe o benefício do Programa Bolsa Família há quase 3 (três) anos, relata que o
dinheiro que recebe ajuda e muito na criação dos filhos, que com esse recurso consegue comprar
várias coisas como: roupas, calçados, materiais de escola e etc.
Quanto ao futuro, sonha em ter uma vida melhor do que a que tem hoje, quer que seus
filhos vivam bem, que tenham qualidade de vida e que todos seus filhos concluam os estudos.
Mais uma vez o Círculo vicioso é visível para essa família, pois nos indagamos como
tal família poderá sair desse cenário de pobreza? Como a mãe que não possui um bom grau de
estudo dará condições de vida melhor pra si e aos filhos no futuro? É difícil acreditar que tudo
isso melhore, se a pessoa não enxergar na educação a chance para mudar a sua realidade logo
adiante.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse trabalho abordamos o desafio de uma educação para todos, também falamos da
importância da inserção do profissional Assistente Social no meio educacional, uma vez que há
inúmeras possibilidades de articulação entre os sujeitos e a rede intersetorial, para garantir uma
educação de qualidade para todos os sujeitos.
A pesquisa não somente revelou como é a realidade da escola aqui escolhida para
realizar o trabalho, assim como buscou conhecer e demonstrar as situações que estão por detrás
das faltas exageradas. O relato da gestora informa que a mesma era sempre avisada que as
crianças faltavam por doença, mas que na verdade, de fato sim elas também faltam quando
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estão doentes, mas por outras vezes faltam por comodismo dos responsáveis, que acabam
perdendo o transporte que passa praticamente em frente a sua casa.
Percebemos, com as entrevistas, que com todo o cenário de pobreza observado e falado,
o benefício do programa bolsa família faz a “diferença” no dia a dia dessas famílias.
Ademais também tivemos contato com o outro lado, as famílias, que nos acolheram tão
bem, que diante da realidade apresentada veio para confirmar o que está disponibilizado no
material de estudo – módulo I POBREZA E CIDADANIA referente ao círculo vicioso, pois
ambas as famílias entrevistadas possuem pouca escolaridade, os lares são providos pela figura
feminina, no caso aqui representado pela mãe. Apresentam dificuldades, uma vez que não tem
renda fixa, fazendo assim com que fiquem excluídas politicamente, economicamente e
socialmente.
Com o estudo destacamos o papel da educação para a superação da desigualdade e
círculo vicioso, uma vez que quando as famílias aqui elencadas não possuem grau de instrução,
estão totalmente na pobreza, faz com que fiquem excluídas.
Somente através da educação, esse cenário poderá ser mudado, a partir de então terão
autonomia sob as suas vidas e esse círculo vicioso será rompido.
Por fim essa pesquisa foi muito importante, pois através do resultado percebemos que
há uma série de fatores que devem ser levados em consideração, quando realizamos contato
com o “outro”, temos que ter a sensibilidade para desenvolver uma escuta atenta, deixando que
os próprios sujeitos falem sobre a percepção que têm da desigualdade crescente em nossa
sociedade.
4 REFERÊNCIAS
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, Senado Federal, 1990.
Trabalho de Conclusão de Curso
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Educação Infantil/Secretaria de Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, 2010.
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SCHNEIDER, Glaucia; HERNANDORENA, Maria do Carmo. Serviço social na educação –
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