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Trabalho de Conclusão de Curso
AS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO ÂMBITO
EDUCACIONAL
Iêda Fernandes Calonga Benitez
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo, analisar se as condicionalidades do Programa Bolsa Família
são cumpridas (PBF) e quais as causas e consequências do não cumprimento pelas famílias
beneficiárias. A pesquisa foi realizada em uma escola municipal do município de Ponta
Porã/MS. Utilizou-se a pesquisa bibliográfica e empírica por meio de entrevistas para coletar
os dados necessários para responder à nossa pergunta inicial: as condicionalidades do PBF
referentes à educação são cumpridas pelas famílias beneficiárias? Quais as causas e
consequências do não cumprimento de tais condicionalidades? Para responder às nossas
questões, recorremos à realização de entrevistas com profissionais e pais de alunos
beneficiários do PFB. Observou-se que as condicionalidades são constantemente
descumpridas, verificando, portanto a necessidade de um trabalho em rede entre a educação e
assistência social, através de ações sócioeducativas, como forma de prevenção.
Palavras-chave: Bolsa Família. Condicionalidades. Educação. Pobreza
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa foi motivada pela seguinte dúvida: as condicionalidades do PBF
referentes à educação são cumpridas pelas famílias beneficiárias? Quais as causas e
consequências do não cumprimento de tais condicionalidades? A partir disso traçamos por
objetivo, a análise do cumprimento/descumprimento das condicionalidades do PBF pelas
famílias, causas e consequências. Para obter as respostas, além da pesquisa bibliográfica,
entrevistamos pais, professores, diretor da escola e assistente social.
O texto está organizados em três itens: no primeiro, apresentamos os marcos legais
do PBF; no segundo, apresentamos as condicionalidades do PBF, com foco na área da
educação; no terceiro item, apresentamos o PBF no município de Ponta Porã/MS e a análise
das entrevistas.
A pesquisa foi realizada em uma escola municipal do município de Ponta Porã. Esta
escola atende à crianças e adolescentes de uma área considerada vulnerável, por ser da
Graduada em Serviço Social pela Universidade Norte do Paraná/UNOPAR. E-mail:
Trabalho de Conclusão de Curso
periferia da cidade, com precário acesso, problemas de infraestrutura, falta de área de lazer,
entre outras necessidades básicas.
Participaram da entrevista a diretora da escola, duas professoras, quatro mãe de
alunos, e uma assistente social, esta última atuante na Secretaria de Assistência Social do
município.
A metodologia de pesquisa empreendida neste trabalho é de cunho qualitativo que
para as autoras Lüdke e André (1986, p. 11) supõe o contato direto e prolongado do
pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra através do
trabalho intensivo de campo.
A pesquisa foi realizada mediante a observação, aplicação de questionário/entrevista
e análise de documentos. Segundo Lüdke e André (1986, p. 34), a vantagem da entrevista em
relação às demais técnicas “é que ela permite a captação imediata e corrente da informação
desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos”.
Para os autores, a entrevista é usada cada vez de maneira exclusiva “seja com indivíduos ou
com grupos, a entrevista permite correções, esclarecimentos e adaptações que tornam
sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas” (p. 34). Já a análise de
documentos para Lüdke e André (1986, p. 38), pode se constituir numa técnica valiosa de
abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outras
técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema.
2 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
Com a promulgação da Constituição de 1988, na qual o cidadão passou a ser visto
como sujeito de direitos como mencionado no Artigo 6º a seguinte definição sobre o que são
os direitos sociais:
São direitos sociais, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
na forma desta Constituição (BRASIL, 1988).
Assim a assistência social foi instituída como política pública, direito do cidadão e
dever do Estado, compondo o tripé da seguridade social juntamente com a previdência social
Trabalho de Conclusão de Curso
e saúde. Alguns Artigos constitucionais dependem de regulamentação, como é o caso da
política de assistência social.
Conforme observações de Simões (2007, p.171) foi através da Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS) nº 8.724/1993, que a Assistência Social adquiriu organicidade:
[ ...] foi regulamentada pela LOAS, que por sua vez, promoveu três
condições resolutivas de sua eficácia, nos três níveis federativos: a
elaboração da Política de Assistência Social, por meio de conselhos,
com a participação de representantes da população interessada; sua
corporificação em Plano de Assistência Social: sua viabilização
material, por meio de um Fundo de Assistência Social (BRASIL,
1993).
A LOAS define, em seu artigo 1º, a assistência social como:
[...] direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade não
contributiva, que prevê os mínimos sociais, realizada através de um
conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para
garantir o atendimento às necessidades básicas (BRASIL, 1993).
Alguns programas de transferência de renda, antecederam o PBF, como o Bolsa
Escola, criado em 2001; Bolsa Alimentação, criado 2001; Auxílio Gás, em 2002 e; Cartão
Alimentação criado no ano de 2003. Todos esses Programas possuíam condicionalidades para
as famílias beneficiárias permanecerem ativas no programa tanto na área da saúde, mantendo
a vacinação em dia, pesagem, gestantes com a realização correta do pré-natal e na área da
educação manter o mínimo de 85% de frequência escolar.
O PBF criado em 2004 por meio da Lei 10.836/2004 e regulamentado pelo Decreto
5.209/2004. Tem como finalidade unificar os procedimentos de gestão e execução das ações
de transferência de renda (BRASIL, 2004a).
O Governo Federal implantou um sistema de acompanhamento familiar denominado
Sistema de Condicionalidades do Programa Bolsa Família (SICON), no qual, os municípios
alimentam as informações particularizadas para cada família. No que se refere à educação, as
informações são em relação à frequência escolar que não pode estar abaixo do permitido pelo
Trabalho de Conclusão de Curso
Programa. Os dados são transmitidos para o Governo Federal. Essas informações são
alimentadas pelos técnicos de referência, do Centro de Referência de Assistência Social
(CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).
O PBF tem como objetivo, aliviar a pobreza em curto prazo, por meio da
transferência direta de renda bem como:
I – promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial, de
saúde, educação e assistência social; II – combater a fome e promover
a segurança alimentar e nutricional; III – estimular a emancipação
sustentada das famílias que vivem em situação de pobreza e extrema
pobreza; IV- combater a pobreza; e V – promover a intersetorialidade,
a complementaridade a e sinergia das ações sociais do Poder Público
(BRASIL, 2004b).
ARROYO (2014) faz considerações sobre o PBF, para o autor, o Programa, "[...]
assume como inspiração política que o reconhecimento do direito à vida é um dever público,
logo, a ser traduzido em políticas de Estado, como uma responsabilidade pública, para além
do tradicional assistencialismo".
3 CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO ÂMBITO DA
EDUCAÇÃO
O PBF apresenta algumas condicionalidades que foram elencadas para que as
famílias pudessem dar uma contrapartida em relação ao seu recebimento. Trata-se de um
compromisso que a família beneficiada deve cumprir para ser beneficiária e continuar no
Programa. As condicionalidades são definidas em três dimensões, assim definidas:
I - na área de educação: a) para as crianças ou adolescentes de 6 (seis)
a 15 (quinze) anos de idade, a matrícula e a frequência mínima de
85% (oitenta e cinco por cento) da carga horária escolar mensal; e b)
para os adolescentes de 16 (dezesseis) e 17 (dezessete) anos de idade,
cujas famílias recebam o Benefício Variável Vinculado ao
Adolescente - BVJ, a matrícula e a frequência mínima de 75%
(setenta e cinco por cento) da carga horária escolar mensal;
Trabalho de Conclusão de Curso
II - na área de saúde: a) para as gestantes e nutrizes, o
comparecimento às consultas de pré-natal e a assistência ao puerpério,
visando à promoção do aleitamento materno e dos cuidados gerais
com a alimentação e saúde da criança; e b) para as crianças menores
de 7 (sete) anos, o cumprimento do calendário de vacinação e o
acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil;
III - na área de assistência social, para as crianças e adolescentes de
até 15 (quinze) anos, em risco ou retiradas do trabalho infantil, a
frequência mínima de 85% (oitenta e cinco por cento) da carga
horária relativa aos Serviços de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos - SCFV (BRASIL, 2008).
Com base no Parágrafo 1º, do Artigo 19 do Protocolo de Gestão Integrada (PGI), os
técnicos ao realizar o acompanhamento das famílias, deverão priorizar as “famílias do PBF
em situação de descumprimento de condicionalidades, em especial, aquelas que estão em
“suspensão do beneficio por dois meses" a fim de garantir a segurança de renda das famílias
[...]” (BRASIL, 2009).
Outro fator importante elencado no PGI (BRASIL, 2009), diz respeito à continuidade
da renda e aos serviços socioassistenciais ofertados pela política de assistência social,
impedindo o agravamento das situações de vulnerabilidades e risco vivenciados pelas
famílias.
O acompanhamento familiar pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS) tem a
finalidade de contribuir com a superação das situações de vulnerabilidade vivenciadas por
estas famílias, bem como de fortalecer a função protetiva e a autonomia destas famílias,
[...] a garantia de renda mensal articulada com a inclusão de famílias
em atividade de acompanhamento familiar no âmbito do SUAS, bem
como em serviços de outras políticas setoriais, é compreendida como
a estratégia mais adequada para se trabalhar a superação das
vulnerabilidades sociais que dificultam que a família cumpra as
condicionalidades previstas no programa (BRASIL, 2009).
Vale destacar também, que a família que está em descumprimento de
condicionalidades, devidamente acompanhada pela equipe de Referência do CRAS, poderá
ter os efeitos sobre o benefício interrompido, mediante avaliação técnica. Ao registrar os
descumprimentos no SICON, o benefício é mantido.
Trabalho de Conclusão de Curso
O devido acompanhamento e orientação tem fundamental, importância para que a
família não seja prejudicada com a descontinuidade do benefício que na maioria das vezes
são famílias bastante vulneráveis e por isso mesmo, necessita muito do aporte da rede.
Neste contexto, entra o acompanhamento familiar por meio do trabalho social com as
famílias, entendido conforme o documento de Orientações Técnicas sobre o Serviço de
Proteção e Atendimento Integral á Família (PAIF):
Conjunto de procedimentos efetuados a partir de pressupostos éticos,
conhecimento teórico-metodológico e técnico-operativo, com
a finalidade de contribuir para a convivência, reconhecimento de
direitos e possibilidades de intervenção na vida social de um conjunto
de pessoas, unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ou de
solidariedade que se constitui em um espaço privilegiado e
insubstituível de proteção e socialização primárias, com o objetivo de
proteger seus direitos, apoiá-las no desempenho da sua função de
proteção e socialização de seus membros, bem como assegurar o
convívio familiar e comunitário, a partir do seu reconhecimento como
sujeito de direitos (BRASIL, 2012).
O trabalho social com as famílias que descumprem as condicionalidades do Programa,
uma vez que as situações são identificadas, impede que o acesso à escola ou atendimento
básico da saúde sejam superadas.
Vale destacar que são inúmeros os casos que acabam afetando o responsável familiar
e seus dependentes fazendo com que aconteça o descumprimento tanto na área da saúde
quanto na área da educação, como destaca o quadro a seguir:
Trabalho de Conclusão de Curso
Figura 1 - Vulnerabilidades às quais as famílias podem estar submetidas
Fonte: Manual do usuário SICON, 2013.
Nas situações em que a família é muito vulnerável, quando ela não consegue cumprir
com as condicionalidades, exige um acompanhamento familiar que promova a função
Trabalho de Conclusão de Curso
protetiva destas famílias minimizando ou eliminado as situações de vulnerabilidades e riscos
no qual se encontram.
Figura 2 - Fluxo de acompanhamento familiar
Fonte:
World
Withou
t
Provert
Fonte: (WWP) Mundo Sem Pobreza - Iniciativa Brasileira de Aprendizagem
Desta forma, os técnicos envolvidos no acompanhamento das famílias, após o
diagnóstico, no qual são identificadas as reais condições da família, as suas potencialidades e
fragilidades, elabora-se um planejamento que envolve o sistema de garantia de direitos, a fim
de buscar estratégias para minimizar e ou superar os impactos causados pela pobreza.
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4 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE PONTA PORÃ E O
/DESCUMPRIMENTO DAS CONDICIONALIDADES
A pesquisa foi realizada em uma escola da Rede Municipal de Ensino, sendo os
sujeitos envolvidos na pesquisa: a diretora da escola, dois (2) professores, quatro (4) mães de
alunos e uma (1) assistente social, que atua na Secretaria de Assistência Social do município.
Esses sujeitos responderam a um questionário construído a partir da necessidade da pesquisa
contendo questões que buscaram o entendimento referente aos objetivos traçados.
Buscou-se responder à seguinte pergunta: as condicionalidades do PBF são
cumpridas, caso não sejam, quais as causas e consequências do não cumprimento? Para isto,
buscou-se identificar as crianças beneficiadas com o Programa; verificar se conhecem as
condicionalidades referentes à área da educação e se as cumprem/descumprem e; examinar
junto às famílias, as causas do descumprimento das condicionalidades e suas consequências.
O município de Ponta Porã possui 77.866 habitantes conforme apontam dados do
censo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2010. Conforme dados
informados pela Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI) o município, até o
mês de março do corrente ano estava com 18.987 famílias cadastradas na base Cadastro
Único para os Programas Sociais, que reúne informações socioeconômicas das famílias de
baixa renda e aquelas com renda mensal de meio salário mínimo, por pessoa da família.
Permite que o governo conheça as situações da vida da população através de um indicador.
Até o mês de maio/2016 o PBF beneficiou a 7.206 famílias em Ponta Porã, de acordo com
dados do SAGI (BRASIL, 2016).
A escola onde a pesquisa foi realizada é da Rede Municipal de Ensino e se localiza em
uma área periférica do município de Ponta Porã/MS, atende ao total de quinhentos e setenta
e um (571) alunos devidamente matriculados, dos quais duzentos e sessenta e um (261) são
beneficiários do PBF, ou seja, 45,71% dos alunos desta escola são atendidos pelo Programa.
Foram aplicados três questionários, um para os pais, outro para os professores e
diretora e outro para a assistente social. A entrevista feita com os profissionais (professores e
diretora) contou com dois itens: um sobre o perfil dos alunos beneficiários do PBF e outros
sobre as condicionalidades para a educação. A entrevista direcionada aos pais, contou com
três itens: conhecimento sobre as condicionalidades; descumprimento; consequências e;
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opinião sobre as condicionalidade impostas pelo Programa. A entrevista com a assistente
social teve dois focos: os principais motivos que levam ao descumprimento das
condicionalidades e o acompanhamento com as famílias que as descumprem.
A diretora e os professores (A e B) e a Diretora da escola, traçaram o perfil dos alunos
beneficiários do PBF, da seguinte forma:
Geralmente é aqueles mais carentes que vem sem material, os que mais
faltam. Com muita dificuldade, na escrita na leitura. São crianças muito
carentes esse é o tipo de perfil das crianças que vem com todos os
problemas que você possa imaginar (Professora A).
São crianças em extrema pobreza mesmo, carentes grande parte deles
(Diretora).
Eu encontro assim, na minha opinião pedagógica que falta mais interesse
dos alunos. Falta um pouquinho aquela consciência em que ele tem que vim
na escola pra estudar e não no caso da presença, não porque o pai e a mãe
pede pra que seu filho venha pra escola, ele tem que ter aquela consciência
com relação ao estudo, geralmente isso ai acontece, eles não faltam mais
eles apresentam dificuldade em conhecimento, em querer aprender, as vezes
é pela baixa alto estima, pelas condições financeiras (Professora B).
O perfil que os profissionais traçam desses alunos é o que o senso comum também
nos revela, o de alunos que não tem consciência da importância da escola e da falta de
disponibilidade para aprender. Fica bastante evidente um certo teor de culpabilização desses
alunos pelas suas condições socioeconômicas e consequentemente pela condição escolar.
Com relação às condicionalidades do Programa, os profissionais fizeram o seguinte
relato:
Nós sabemos aqui que o atendimento às crianças que são da Bolsa Família,
nós informamos a cada 2 meses, é passado um relatório da frequência dessas
crianças, toda baixa frequência tem que ser informado (Diretora); o que eu
sei é que é para pessoas carentes só isso que eu sei (Professora A);
o aluno tem que estar em sala de aula, não pode ter faltas né, e os pais que
são responsáveis é que devem estar trabalhando, são pais que não tem
condições, que as vezes ganham um salário mínimo e a condição do
governo e que as crianças estejam em sala de aula sem precisar trabalhar
(Professora B).
Interessante observar que uma das professoras, não sabe sobre as condicionalidades
do Programa.
Trabalho de Conclusão de Curso
As mães beneficiárias demonstraram conhecer as condicionalidades, conforme os
relatos a seguir:
Assistência na escola e que não tenha muita falta né ...a frequência escolar
(Mãe A); frequência escolar o acompanhamento da saúde né e a vacina tem
que tá tudo em dia da criança (Mãe B);os filhos não faltar na escola, não
pode ter muita falta (Mãe C); manter os filhos na escola, saúde e vacina em
dia, educação principalmente não faltar na escola (Mãe D).
As entrevistas mostraram que há uma clareza por parte das mães beneficiárias com
relação às condicionalidades do Programa Bolsa Família, de que seus filhos devem frequentar
a escola.
Quanto ao descumprimento dessa condicionalidade em que todas as famílias já
tiveram em algum momento, elas explicam os motivos: “falta escolar” (Mãe A); frequência
escolar (Mãe B); por falta” (Mãe C); por falta escolar, falta na escola (Mãe D).
Quanto aos motivos do descumprimento da condicionalidade, frequência escolar,
todas as mães relataram como fator principal, os problemas de saúde, vejamos os relatos:
Meu menino tinha sofrido acidente e outra minha filha tinha tratamento dos
rins com nefropediatra e ficou muito tempo em tratamento (Mãe A); por
causa da minha filha ser doente, ela tem um problema de saúde que é
bronquite, as vezes eu morava longe da escola também né, não tinha como
mandar ela na escola muitas vezes por causa do tempo feio e ela também
com esse problema de saúde muitas vezes atrapalhava frequentar as aulas
(Mãe B);
meu filho faz tratamento, sempre tem que estar faltando, sempre leva
atestado e sempre eles não coloca na ficha (Mãe C);
por motivo de doença e a distancia né no caso do meu filho, faltou alguns
dias (Mãe D).
Sobre a as consequências do descumprimento sobre a suspensão do benefício colocam
que:
Agora mesmo meu beneficio tá bloqueado, vai fazer seis meses, não consigo
atualizar porque o sistema deles é lento, não tem sistema e esses são os
motivos que eu não consigo atualizar nem meu endereço, que eu fui
contemplada com a casa to tentando regularizar no sistema que ha mudança
de endereço (Mãe A);
foi bloqueado. Eu procurei o CRAS da minha cidade e o setor do bolsa da
família (Mãe B); foi cortado, cancelado e até bloqueado, procurei a
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assistência social e a central da bolsa família e voltei a receber de novo
(Mãe C);
deixei de receber, foi bloqueado né, fiquei 1 ano e 1 mês sem receber por
motivos das faltas, consequência foi deixei de receber e esse dinheiro fez
falta, fez uma falta enorme na nossa casa. Procurei o CRAS, a assistente
social, o gestor responsável pelo Bolsa Família e ai tudo foi resolvido (Mãe
D).
Todas as famílias entrevistas já descumpriram a condicionalidade, frequência escolar
e todas já tiveram ou estão com o benefício suspenso. Nestas situações é que o município,
através da assistência social, por meio do acompanhamento familiar, deve, segundo a Cartilha
do PBF, procurar "[...] identificar os motivos do descumprimento e oferecer apoio e
acompanhamento à família, de modo a solucionar os problemas que causaram esta situação”
(BRASIL, 2015, p. 11).
Nas considerações da assistente social entrevistada, a mesma pontuou três principais
situações identificadas no acompanhamento familiar que faz com que a famílias descumpram
com as condicionalidades:
Pra nossas famílias, principalmente os adolescentes, manter esses
adolescentes na escola é uma tarefa muito difícil porque eles entram, mesmo
sendo caracterizados trabalho infantil, eles entram no mercado muito cedo e
outra questão também, pra esses adolescentes, a educação, a escola não é
atraente e eles acabam deixando a escola. Também pras famílias por
exemplo, o descumprimento de condicionalidades da saúde, não existe
balança pra pesar, essas famílias tem que ir no posto muitas vezes ela não
tem um entendimento no próprio serviço que é ofertado do cadastramento
dessas necessidades da condicionalidades, então as vezes não é
descumprimento é falta de conhecimento (Assistente Social).
Fica claro na fala da Assistente Social que ás vezes a família descumpre a
condicionalidade, mas sem intenção, sendo na verdade, falta de conhecimento. Nesse sentido,
o trabalho em rede faz-se necessário como forma de fortalecer, prevenir e promover as
famílias fragilizadas diante da situação de pobreza e extrema pobreza em que se encontram
essas famílias.
Com relação ás condicionalidades impostas pelo PBF, as famílias expressaram sua
opinião:
Eu acho que é certo porque do mesmo jeito que ele dá uma assistência, a
pessoa tem que cumprir também, mas mesmo a gente cumprindo, correndo
Trabalho de Conclusão de Curso
atrás pra justificar porque a gente precisa, por isso que a gente corre atrás e
justifica. Muitas vezes mesmo com justificativa a pessoa leva falta, mas eu
acho certo (Mãe A);
eu acho assim, que os pais, o responsável independente de ter o benefício ou
não, a criança deve frequentar a escola sim, porque isso daí não tem nada a
ver com o benefício, esse daí, a pessoa tem que ter um acompanhamento da
saúde, isso daí é obrigatório, a gente tem que cuidar da saúde também é isso
aí que eu acho né (Mãe B);
pra gente mãe, ter mais responsabilidade de ter nossos filhos dentro da sala
de aula e sempre ter acompanhamento levar eles no médico, saúde (Mãe C);
eu acho importante sim, por que dá mais responsabilidade as famílias de
manter os filhos na escola, as vacinas em dia, saúde, ai eles tornam mais
responsável né, é uma responsabilidade a mais para eles cumprirem (Mãe
D).
É possível observar um grau bastante importante de consciência dos pais em relação à
educação escolarizada, bem como uma importante relação entre isso e as condicionalidades
do Programa.
Analisando as situações do descumprimento das condicionalidades fazem-se
necessário ações que visam a promoção dessas famílias, como forma de tirá-las das situações
de risco e vulnerabilidade social, das quais estão sujeitas, que na maioria das vezes
ultrapassam a dimensão da renda.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão central desta pesquisa, são as condicionalidades do PBF, especificamente
na área da educação, seu cumprimento/descumprimento e as causas e consequências sofridas
pelas famílias que descumprem tais condicionalidades. A partir disso traçamos por objetivo, a
análise do cumprimento/descumprimento das condicionalidades do PBF pelas famílias,
causas e consequências. Para obter as respostas, além da pesquisa bibliográfica,
entrevistamos pais, professores, diretor da escola e assistente social.
Este trabalho possibilitou-nos observar a importância do PBF na vida de seus
beneficiários, Programa que tem suas raízes na Constituição Federal de 1988, em face dos
direitos sociais como garantia de acesso para a população e dever do Estado. Com a criação
Trabalho de Conclusão de Curso
do Programa Bolsa Família que veio para garantir a renda mínima para as famílias em
situação de pobreza e extrema pobreza.
Identificou-se que as famílias conhecem as condicionalidades do Programa, sabem,
concordam com elas e têm consciência da importância da escolarização de seus filhos,
independente do Programa. Isso desbanca o pensamento do senso comum, que diz que os
beneficiários do PBF só vão para a escola devido ao dinheiro que recebem. Ainda assim, ou
seja, mesmo tendo tal grau de consciência, todas as famílias entrevistadas já descumpriram
com a condicionalidade de ter frequência mínima na escola. A justificativa para tal
descumprimento é em geral a questão de problemas de saúde e dificuldades de chegar até a
escola devido à distância.
Em contraponto ao grau de consciência sobre a importância da escolaridade dos
filhos, observado na fala dos pais, está o que os profissionais relatam, que são alunos que
faltam muito e que não dão importância ao estudo.
A principal causa alegada pelas famílias que descumpriram com as condicionalidades
do Programa foi a questão envolvendo a saúde, tendo como consequência a suspensão,
bloqueio e até cancelamento do benefício, sendo revertida a situação, com acompanhamentos
focalizado para este público como forma de permitir o acesso e a continuidade do benefício.
6 REFERÊNCIAS
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UFSC: EVT, 2014.
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Lei nº 10.836, de 2004DF: Senado, 1988.
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LOAS. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil] Brasília 1993.
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[da República Federativa do Brasil] Brasília,DF,09.jan. 2004 (2004a).
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BRASIL. Portaria GM/MDS nº 321, de 29 de setembro de 2008. Regulamenta a gestão das
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BRASIL. Presidência da República. Decreto n. 5.209 de 17 de setembro de 2004.
Regulamenta a Lei no 10.836, de 9 de janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa Família, e
dá outras providências. Disponível: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/_Ato2004-
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10 set. 2009. Protocolo de gestão integrada de serviços, benefícios e transferência de renda no
âmbito do Sistema único de Assistência Social (SUAS). Brasília, 2009.
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LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.
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