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Ensaio elaborado no campus universitário Darcy Ribeiro, UnB/DF; Brasil; com o intuito de descobrir o real lugar do pedestre nessa universidade.
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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DE BRASÍLIA
DEPARTAMENTO DE TEORIA E HISTÓRIA
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DARCY RIBEIRO – ASA NORTE – BRASÍLIA/DF
+55 61 3107.7439 FAU@UNB.BR WWW.FAU.UNB.BR
Estudo de caso: UnB
O Lugar do Pedestre no
Espaço Universitário
Juliana Lopes Vasconcelos
AUTORA
Prof.ª Me. Carolina Pescatori Candido da Silva ORIENTADORA
Prof. Dr. Benny Schvarsberg AVALIADOR
Prof. Dr. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto
AVALIADOR
3
“Caminhar é o início, o ponto de partida. O homem foi criado para caminhar e todos os
eventos da vida – grandes e pequenos – ocorrem quando caminhamos entre outras pessoas.
A vida em toda a sua diversidade se desdobra diante de nós quando estamos a pé.”
Jan Gehl
4
Apresentação
Atualmente, a mobilidade urbana nas cidades é um conceito fundamental dentro da sociedade. Segundo o dicionário, Michaellis, a
mobilidade é o deslocamento de indivíduos, grupos ou elementos culturais no espaço social. A importância desta questão incentivou a
criação da Lei Federal nº 12.587/2012, que trata da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Nela constituem fundamentos e diretrizes para
incentivar o uso de meios não-motorizados de transporte. Dessa forma, é fundamental que as soluções para os espaços urbanos,
destinados à circulação de pedestres, contemplem as necessidades das pessoas, em especial as com dificuldade de locomoção, para que
possa ser garantida a acessibilidade universal. Pode-se dizer que pensar em mobilidade de pedestre é pensar em acessibilidade. (AGUIAR,
2011). O pedestre, então, é a temática central desse estudo, em que se depara com o questionamento de como ele percorre o espaço do
campus. Esse espaço está estruturado para o uso do pedestre? Qual é o lugar do pedestre no campus? Portanto, esse estudo se manifesta
para investigar e descobrir essas indagações dentro do cenário do Campus Universitário Darcy Ribeiro, na Universidade de Brasília.
5
Conteúdo
Apresentação ................................................................................................................... 4
Introdução ........................................................................................................................ 7
Objetivos .......................................................................................................................... 8
Justificativa ...................................................................................................................... 9
Campus _ Por quê? ................................................................................................................................ 9
Pedestre_ Por quê? ................................................................................................................................ 9
Fundamentação Teórica ............................................................................................... 12
2.1 Breve histórico ............................................................................................................................. 12
2.1.1 O modelo de campus universitário ............................................................................... 12
2.1.2 O surgimento do campus universitário no Brasil .................................................... 14
2.2 Brasília, cidade planejada. ..................................................................................................... 16
2.2.1 O projeto de Brasília ........................................................................................................... 16
2.2.2 A cidade universitária de Brasília ................................................................................... 17
2.3 A criação da Universidade de Brasília .............................................................................. 19
2.3.1 Plano Pedagógico ................................................................................................................ 19
2.3.2 O projeto urbanístico e arquitetônico ......................................................................... 20
2.4 A evolução do espaço físico do Campus ........................................................................ 22
2.4.1Período de 1960-1970 ......................................................................................................... 22
6
2.4.2Período de 1970-1980 ......................................................................................................... 22
2.4.3Período de 1980-1990 ......................................................................................................... 24
2.4.4Período de 1990-2000 ......................................................................................................... 25
2.4.4 Período de 2000 até hoje .................................................................................................. 25
2.5 O espaço do pedestre dentro do Campus ..................................................................... 26
Diretrizes para análise do espaço do pedestre ........................................................... 28
3.1 Aspecto da Acessibilidade ..................................................................................................... 31
3.2 Aspectos da Segurança e Proteção ................................................................................... 33
3.3 Aspecto do Conforto Ambiental ....................................................................................... 34
3.4 Aspecto da Atratividade ......................................................................................................... 36
3.5 Síntese das diretrizes a serem analisadas ...................................................................... 38
Estudo de Casos: Campus Darcy Ribeiro - UnB .......................................................... 40
4.1 Percurso Longitudinal .............................................................................................................. 41
4.1.1 Estação “A” ................................................................................................................................... 42
4.1.2 Estação “B” ................................................................................................................................... 44
4.1.3 Estação C ....................................................................................................................................... 45
4.1.4 Estação D ...................................................................................................................................... 48
4.1.5 Estação “E” .................................................................................................................................... 49
4.1.6 Estação “F” .................................................................................................................................... 50
4.1.7 Estação “G” ................................................................................................................................... 51
4.1.8 Estação “H” ................................................................................................................................... 53
4.2 Quadro Resumo .......................................................................................................................... 54
Considerações Finais ..................................................................................................... 56
Referências Bibliográficas ............................................................................................ 58
7
Introdução
A intenção deste trabalho está em descobrir o verdadeiro espaço do pedestre dentro do campus universitário. A configuração dos
edifícios no campus universitário e os caminhos traçados a partir disso são características fundamentais para o entendimento da circulação
do pedestre na universidade. Para isso, inicia-se o estudo fazendo um panorama da evolução dos campi universitários até chegar à
organização obtida nos dias de hoje. E depois parte-se para o entendimento das dimensões e conceitos que valorizam a prática da
mobilidade sustentável na sociedade até chegar ao estudo de caso. Procura-se entender quais são as diretrizes para valorizar e estimular os
percursos e caminhos e, consequentemente, o pedestre.
Além disso, a análise da (1) qualidade dos percursos e da (2) acessibilidade são conceitos-chave que servem para compreender se o
usuário utiliza ou não esse espaço dedicado a ele e em que condições esses percursos se apresentam para o pedestre. Para ilustrar essa
compreensão do espaço, utilizar-se-á o campus universitário Darcy Ribeiro para a aplicação da metodologia elaborada. Sendo assim, o
estudo de caso na Universidade de Brasília serve para colocar em prática os aspectos estudados, para que se obtenha um diagnóstico do
cenário das calçadas, percursos e demais espaços dedicados a esses pedestres.
Palavras-chave: Mobilidade; Pedestre; Campus universitário;
8
Objetivos
O objetivo principal é identificar as condições de mobilidade do pedestre no Campus da Universidade de Brasília para verificar se os
resultados apresentados atendem às necessidades dos usuários.
Para alcançar o objetivo principal, é necessário:
1. Compreender a configuração do espaço físico do campus;
2. Adotar um método para avaliar os espaços destinados ao pedestre;
3. Mapear os percursos utilizados pelo pedestre;
4. Diagnosticar as condições das calçadas;
5. Diagnosticar o conforto do pedestre ao utilizar essas calçadas.
9
Justificativa
Campus _ Por quê?
O campus é o lugar de manifestações culturais e acadêmicas dentro da perspectiva de uma cidade. É uma importante área de
estudo, pois abrange uma quantidade de pessoas significativa que fazem o uso desse espaço, diariamente. Além disso, o campus
universitário é o espaço e ambiente que o estudante vai utilizar por uma média de 5 a 6 anos. Sendo assim, as condições físicas do espaço
universitário são fundamentais para o desenvolvimento apropriado das atividades acadêmicas pelo estudante. Para essa análise, o campus
Darcy Ribeiro é um importante objeto de estudo, pois representa uma instituição de forte nome e estrutura no país. A Universidade de
Brasília além de ser uma entidade de ensino, também prioriza a pesquisa e extensão, o que a leva ao papel de formadora de opinião e,
consequentemente, um agente importante na solução de problemas dentro da sociedade. No Brasil, o Código Brasileiro de Trânsito, por lei,
prioriza o pedestre dentro do sistema, porém, na prática, sabe-se que a prioridade é dada ao transporte individual. Dessa forma, se a
universidade não privilegia os pedestres no seu espaço, de certa forma ela vai mostrar à sociedade que essa condição é aceitável, o que se
sabe não ser verdade. Além disso, ela representa uma área de intenso valor simbólico e arquitetônico para os usuários que de alguma
forma utilizaram ou ainda utilizam esse espaço. Portanto, nada mais coerente do que adotar esse espaço como um estudo de caso para
diagnosticar a mobilidade do pedestre dentro de um importante campus universitário.
Pedestre_ Por quê?
Baseado no PPGT, Programa de Pós-Graduação em Transportes - Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB, sabe-se
que atualmente 70% dos usuários do campus, estudantes e trabalhadores, percorrem o espaço do campus diariamente caminhando a pé,
(TACO, DAFICO e SEABRA, 2011). Com isso, estimando que a quantidade de estudantes, funcionários e professores compõe uma população
total de 30.000 pessoas, aproximadamente 21.000 pessoas transitam pelo campus diariamente e, consequentemente, percorrem o espaço
destinado ao pedestre. Com isso, o pedestre é uma peça fundamental no aspecto de sociabilidade e interação no espaço do campus. Ele vai
ser o objeto de maior importância no cenário da universidade. Pelo menos deveria ser. A integração do espaço físico, a acessibilidade e a
qualidade dos espaços são fundamentais para a mobilidade efetiva do pedestre no campus. O direito de ir e vir, além de ser um direito
constitucional do cidadão, é a forma mais simples e democrática de locomoção no espaço e não depende de nenhum meio para que isso
aconteça. No âmbito atual da mobilidade sustentável, o estímulo da valorização do pedestre, a partir de pesquisas que enfoquem isso, é
primordial para começar a mudança de hábitos e paradigmas urbanos.
10
Análise do espaço do pedestre
Para analisar o objeto em pauta, estudam-se métodos e
procedimentos de análise da qualidade do espaço para a
circulação dos pedestres, para a aplicação prática dentro de um
estudo de caso.
Para isso, a estruturação do trabalho irá se dividir em cinco
partes. A metodologia vai estar voltada para a observação
estruturada do espaço físico, com a coleta de dados a partir da
criação de mapas, de onde se fará a análise espacial do meio
estudado, e a partir da documentação fotográfica do objeto de
estudos, o campus universitário Darcy Ribeiro.
Essa análise espacial seria, basicamente, atentar para as
condições físicas do ambiente em relação aos aspectos que levam
ao conforto e uso adequado da pessoa que percorrer esse
caminho. Para isso, é necessário o estabelecimento de diretrizes
de avaliação do espaço, a partir do uso de fontes de apoio como
(GEHL, 2013) e (ECHAVARRI, DAUDÉN e SCHETTINO, 2013). Esses
autores discorrem sobre o conceito do espaço ideal dentro da
dimensão humana, e com isso compõe uma ferramenta que
possibilite estabelecer os critérios de avaliação do espaço do
pedestre dentro do campus.
Para ilustrar o desenvolvimento do estudo, foi realizado um
diagrama da estrutura de trabalho para o melhor entendimento do
conteúdo (ver página seguinte). Na primeira coluna, localizam-se as
etapas de desenvolvimento do projeto, na segunda coluna os
capítulos referentes a cada etapa e, na última coluna, os assuntos
abordados em cada capítulo.
O primeiro capítulo introduz a temática proposta, o espaço
do pedestre dentro do campus, assim como as justificativas e os
objetivos para o estudo. Já no segundo capítulo, procura-se
contextualizar o problema da mobilidade do pedestre na literatura
disponível. Posteriormente, tem-se o levantamento de material
teórico para a fundamentação do tema e de conceitos e diretrizes que
permeiam a questão discutida. Esse argumento vai se desenvolver ao
longo do terceiro capítulo, enquanto o quarto capítulo retrata a
aplicação da metodologia citada e os aspectos encontrados. Já o
último capítulo, apresenta as conclusões e as opiniões discutidas a
respeito dos resultados gerados.
11
Figura 1- Diagrama da Estrutura de Trabalho
12
Fundamentação Teórica
2.1 Breve histórico
2.1.1 O modelo de campus universitário
A ideia da formação de um campus universitário surgiu no
Brasil no século XX, a partir do modelo criado nas universidades
americanas, no séc. XIX, para estruturar e organizar o espaço
acadêmico dessas universidades. Porém, antes de entender o
modelo americano, é preciso perceber que algumas
características desse modelo foram importadas dos já
consolidados “colleges” britânicos, principalmente Oxford e
Cambridge, para a configuração do espaço universitário.
As construções universitárias inglesas começaram a se
formar a partir do processo de urbanização das cidades
europeias. Sendo estas localizadas dentro do espaço urbano das
cidades, configuraram uma nova e diferente tipologia de edifícios
que, com seu conjunto de edificações, vai acabar delimitando
uma área destinada unicamente para o espaço universitário em
cada cidade.
O território da escola definia-se por seus edifícios, e não por um
sítio, isto é, uma área delimitada, fechada e apartada da cidade.
As escolas se integravam à malha urbana e constituíam
elementos do seu crescimento. O conjunto de escolas e a
cidade não eram divididos por limites físicos que as separassem;
o limite da escola, como dissemos, era próprio o edifício e, ao
redor, a cidade fluía e crescia livremente. (PINTO e BUFFA, 2009,
p. 34).
As edificações da universidade representadas em roxo e o restante da cidade em
vermelho
Figura 2- Plano da Cidade e da Universidade de Oxford, 1890. Feito por George Bacon
Fonte: www.antiquemapsandprints.com
13
Sendo assim, essas universidades, que (PINTO e BUFFA,
2009) designam como sendo escolas, serão livres de limites ou
barreiras, ou seja, o espaço da universidade vai ser configurado
pela formação e disposição dos edifícios resultando em uma
relação aberta com os espaços públicos e a estrutura da cidade,
aspecto que pode ser observado a partir da Figura 2. Essa
característica fundamental, dos edifícios serem abertos aos
espaços públicos, vai ser levada para o modelo americano e, mais
tarde, para os modelos brasileiros também, com suas devidas
adaptações.
A partir desse panorama das universidades inglesas, as
universidades americanas vão transformar esse modelo vigente
atribuindo a esse espaço da universidade um valor de
comunidade independente. Essa comunidade seria como uma
pequena cidade que teria sua autonomia por meio de regras e
costumes, além de possuir equipamentos comunitários, serviços
gerais e atividades voltados para esses usuários como uma real
cidade deve ter. Esse modelo foi assim chamado de “cidade
universitária”, onde esse complexo acadêmico deveria ser
implantado em um campo distante das cidades e exclusivamente
para abrigar as atividades acadêmicas. Na época, acreditava-se
que a implantação da universidade distante do meio urbano e
perto do campo favoreceria a promoção do ensino, pesquisa e
extensão sem a influência da sociedade urbana.
Nos EUA, os câmpus tornaram-se verdadeiras cidades especiais,
cercadas, com o decorrer do tempo, pela malha urbana das
cidades próximas e existentes, mas continuando fechadas, com
seu território definido e limitado e com o privilégio de
estabelecer, dentro de certos limites, suas normas, regras e
padrões. O campus tornava-se o território de privilegiados:
local destinado à formação de dirigentes, à pesquisa e à
produção científica sem a interferência nefasta das cidades.
(PINTO e BUFFA, 2009, p. 41).
As diferenças entre o modelo europeu e o modelo
americano estão na sua localização e nos seus limites territoriais.
Enquanto as universidades europeias estão ajustadas dentro das
cidades e não constituem uma delimitação física entre o campus
e a cidade para dividir esses dois espaços, o campus americano já
tem a sua posição afastada dos grandes centros urbanos, com
certas barreiras físicas e com o caráter de serem autossuficientes
e isoladas.
Porém, a grande característica que se destaca para os dois
modelos está na configuração do espaço interno do campus
universitário. A implantação das edificações vai estar configurada
de forma livre em que a edificação, independentemente de seu
uso, vai estar disponível para a livre passagem dos usuários no
espaço universitário. O direito de ir e vir do estudante pelo
campus é assegurado em ambos os modelos e é característica
fundamental para manter o critério de unidade e interação entre
todas as partes do campus.
14
2.1.2 O surgimento do campus universitário no Brasil
No período que precede a existência de campus
universitário no Brasil, as faculdades brasileiras apresentavam
uma estrutura acadêmica de ensino fraca e espaços físicos
isolados, sem que houvesse uma proximidade ou interação entre
faculdades da mesma cidade. (PINTO e BUFFA, 2009). É assim
que, visando à concentração de um polo único acadêmico, se
propõe uma mudança estratégica para aproximar essas
instituições. O objetivo era unir as faculdades existentes para
organizá-las em um espaço único voltado para a concentração
do ensino acadêmico, ideia essa resgatada do modelo americano
já citado.
Sendo assim, a Universidade do Rio de Janeiro surge em
1920, como o primeiro campus universitário brasileiro em que a
tentativa de criação e implementação vai dar certo. Mais tarde,
viriam as universidades de Minas Gerais (1927) e São Paulo
(1934). Segundo (PINTO e BUFFA, 2009, p. 46).
O ensino superior brasileiro foi tradicionalmente marcado pelo
crescimento do número de escolas isoladas. Entretanto, nos dez
anos que antecederam o golpe militar de 1964, a organização
universitária tornou-se predominante. Assim, em 1945, havia 5
universidades no Brasil e, em 1964, já eram 37.
O desejo inicial, na formação desses primeiros campi
universitários brasileiros, era que configurassem verdadeiras
cidades universitárias, apesar da intenção, nunca existiu uma real
cidade universitária no Brasil porque nenhuma foi
completamente autossuficiente em relação à cidade em que
estava inserida. (Pinto e Buffa, 2009). Ao contrário do
pensamento das universidades federais que compunham um
cenário de configuração de espaços abertos e públicos agindo
como parte integrante das cidades, as universidades privadas,
PUC’s; Pontifícia Universidade Católica; configuravam-se em
campi fechados e delimitados em que existia uma divisão entre a
cidade e a universidade.
É importante neste instante ressaltar a diferença entre a
cidade universitária e o campus universitário. É comum, muitas
vezes, serem utilizados esses dois nomes para exprimir o mesmo
significado, entretanto eles representam ideias semelhantes e
não idênticas. O campus universitário é um conjunto de
edificações que agrupa unidades de ensino e residências,
podendo existir serviços e atividades ligadas à área acadêmica.
Sendo assim, está compreendido nesse espaço, além das
instituições de ensino, um suporte ao estudo e pesquisa aos
estudantes e professores, tais como residências, biblioteca,
centros de convivência, refeitórios, papelaria, bancos e outros
serviços ligados à necessidade diária do campus. Já a cidade
universitária, compreende o campus, mas numa relação de
autossuficiência em relação a cidade que está ao seu redor, ou
seja, a cidade universitária seria capaz de gerir e produzir tudo
para seu campus sem que houvesse a necessidade de subsídios
da cidade próxima. (PINTO e BUFFA, 2009).
A partir de 1968, essas recém-criadas universidades
passaram por reformas universitárias para alcançar a qualidade
das instituições universitárias americanas. Apresentaram algumas
mudanças no sentido organizacional do sistema de ensino, para a
modernização das instituições. Além do modelo americano, nessa
15
Figura 3 - Maquete do ITA
em 1950
Fonte:
http://democraciapolitica.
blogspot.com.br
Figura 4 - Vista aérea do
complexo do ITA
Fonte:
http://www.aereo.jor.br/
época o país também se atentava para as estruturas de ensino
que estavam funcionando bem e que já tinham um caráter
inovador e de qualidade. Um exemplo que foi estudado e
observado na época foi o Instituto Tecnológico da Aeronáutica –
ITA, criado em 1947. Segundo Meneghel, (apud OLIVEIRA,
DOURADO e MENDONÇA, 2006, p. 147), o ITA:
Foi concebido como uma estrutura curricular totalmente
inovadora: tinha departamentos, e não as tradicionais
cátedras; os alunos somavam créditos sendo alguns a sua
escolha, e não apenas cursavam a disciplinas obrigatórias;
havia oportunidade de desenvolver projetos de pesquisa;
propiciava ao estudante um período de formação básica, para
posterior formação profissional, dentre outros. Embora o ITA
fosse uma escola, não uma Universidade (ou seja, essa
ocupava apenas uma área do conhecimento- a Engenharia),
foi um marco fundamental para a assimilação, no Brasil, da
estrutura tecnocrática da educação superior- de
produtividade, eficácia e eficiência – característica de escolas
norte-americanas.
Além do ITA, as universidades que vão ser criadas ou
reformuladas, a partir dessa época, serão planejadas de forma a
atingir os princípios de uma universidade moderna. Para que isso
seja possível, serão propostas reformas acadêmicas que vão
promover a relação entre as faculdades e estimular uma maior
interação entre elas e, para isso acontecer de forma apropriada,
consequentemente a formulação do espaço já vai ser configurada
de modo diferente. Esses espaços começam espontaneamente a
se configurar de forma em que exista uma ligação e interação
entre eles. O estudante provavelmente ao longo dos primeiros
anos acadêmicos vai visitar diversos núcleos de faculdade, dentro
do campus, e consequentemente vai utilizar várias partes físicas
desse espaço universitário.
Dentro desse contexto, é importante perceber que a
criação da Universidade de Brasília, em 1961, vai constituir um
modelo de referência para as demais universidades que passarão
por reformas modernizadoras. Além da criação inteiramente nova
de uma universidade de ensino, a universidade passa a ser um
projeto de representação do ideal da qualidade do espaço físico
e acadêmico que se buscava no Brasil. A partir desse panorama
geral, entra-se, então, no campus universitário a ser estudado: a
Universidade de Brasília.
16
2.2 Brasília, cidade planejada.
2.2.1 O projeto de Brasília
Para entender como foi configurado o campus
universitário de Brasília, é necessário primeiramente compreender
a história da construção e a proposta urbanística para Brasília. A
ideia de se criar a nova capital do Brasil, no centro do país, existe
desde o século XIX, quando em 24 de fevereiro de 1891 foi
promulgada a primeira Constituição da República que estabelecia
no Planalto central do Brasil, uma área de 14 mil quilômetros
quadrados para a construção da futura capital do país. (Arquivo
Público/GDF). Porém, essa ideia permaneceu dormente durante
mais de meio século, até a retomada do plano pelo Presidente da
República, Juscelino Kubitschek, em 1956. Para o Presidente
Juscelino, a mudança da capital para o centro do país, além de
representar o desenvolvimento do interior do território, iria
também caracterizar a situação política e econômica que o país
estava enfrentando na época. Sendo assim, Brasília vai
representar mais do que uma a implantação de uma nova capital
no país,
Ela é a realização da conquista do centro subdesenvolvido do
país; ela é o ícone maior do projeto desenvolvimentista do
Brasil nos anos 50 e uma expressão física daquela nova era
política. Brasília nasceu do sonho de se conquistarem as terras
do interior, de escapar da corrupção do Rio de Janeiro e de
formular uma nova visão de país, tudo incorporado pelo então
presidente Juscelino Kubitschek. Para ele: a nova capital deveria
refletir este novo Brasil: moderno, integrado à economia
mundial e avançado tecnologicamente. (PESCATORI e BOWNS,
2008, p. 299 e 300).
Dentro desse ideal de concepção da capital para o país, o
Presidente da República vai organizar um concurso público para
eleger o projeto urbano para a criação de Brasília. Dentre os
critérios para avaliação dos projetos, o concurso exigia que os
arquitetos apresentassem propostas que fossem diferentes das
cidades brasileiras da época e que apresentasse um caráter
moderno e atual. Foram então apresentadas 26 propostas, dentre
elas estava a de Lúcio Costa, que foi o projeto vencedor. Lucio
Costa apresenta então o Relatório do Plano Piloto de Brasília
(1956), um documento com alguns croquis onde ele demonstrava
a suas intenções ao longo de 23 pontos, que seriam as diretrizes
de projeto.
Antes de descrever o projeto de Lucio Costa, é importante
entender o contexto histórico que se configurava o mundo e o
Brasil, consequentemente. Nessa época, o país se deparava com
os reflexos da 2ª Revolução Industrial, em que se observava a
intensa modernização, e o automóvel era a forma de transporte a
ser incentivada nas cidades. O planejamento de uma nova cidade,
nesse período, irá se configurar a partir dessa popularização dos
carros com a sistematização de outra dinâmica urbana. Questões
como mobilidade urbana sustentável e a valorização do uso de
meios não motorizados ainda eram questões que não
correspondiam ao ideário urbano presente. A intenção era
promover o consumo e uso dos automóveis como reação ao
estilo moderno a ser adotado.
17
Figura 6 - Arquiteto e
urbanista Lucio Costa e o
Presidente Juscelino
Kubitschek
Fonte:
cartasdebrasilia.blogspot.co
m.br (site)
Tendo isso dito, a proposta de Lúcio Costa vem a afirmar
o paradigma da época, com soluções em que o transporte viário
era o mais valorizado e a noção das distâncias foi dimensionada a
partir do uso do carro e ônibus, pelo transporte coletivo. Com
isso, o traçado inicial de Brasília foi obtido a partir de dois eixos
que se cruzavam, onde um seria o eixo monumental e ou outro o
residencial.
2.2.2 A cidade universitária de Brasília
No eixo monumental, dentre várias outras edificações
representativas, estaria localizada a esplanada dos Ministérios
que formaria uma composição para se chegar ao clímax da
perspectiva: a praça dos três poderes. O Ministério da Educação,
localizado ao longo do eixo monumental, caracterizava em uma
importante estratégia de projeto para a cidade universitária, pois
o ministério e cidade universitária seriam projetados de forma
que fosse um ao lado da outro, para que houvesse ligação direta
entre o poder e a instituição.
Ao longo dessa esplanada – o Mall dos ingleses -, extenso
gramado destinado a pedestres, as paradas e a desfiles, foram
dispostos os ministérios e autarquias (...), sendo o último o da
Educação, a fim de ficar vizinho do setor cultural, tratado à
maneira de parque para melhor ambientação dos museus, da
biblioteca, do planetário, das academias dos institutos, etc.,
setor este também contíguo à ampla área destinada à Cidade
Universitária (...). (COSTA, 1956).
A ideia de localização da cidade universitária em relação à
cidade foi proposta por Lucio Costa de forma diferente na época.
Primeiramente ele se localizava no atual Setor de Embaixadas
Norte, que seria ao lado dos Ministérios e a Asa Norte, portanto,
na área central urbana.
Prevendo um campus integrado à cidade e aberto para
toda a comunidade, não contava, entretanto, com a oposição de
algumas autoridades. A oposição surgiu em função da
proximidade da área do campus com os locais da administração
política do país – o Congresso e a própria Esplanada. Entendiam
Figura 5 - Croquis do Plano Piloto de
Brasília, realizado por Lucio Costa.
Fonte: concursosdeprojeto.org
18
que essa proximidade poderia ser uma ameaça, sobretudo num
momento em que os movimentos estudantis passavam por um
período de intensa atividade. (PINTO e BUFFA, 2009).
Ainda assim, apesar de não estar localizada na ideia inicial
do plano piloto de Lucio Costa, a universidade tem sua proposta
de implantação no Plano Piloto de Brasília, porém com certo
distanciamento em relação aos ministérios, em que uma área
destinada às embaixadas separava o setor de cultura e o setor de
educação. Com essa mudança projetual, é possível perceber que
a relação do campus universitário com a cidade já vai se
configurar de forma diferente, onde a universidade vai estar em
um terreno mais isolado e consequentemente a sua interação
com a cidade vai se transformar também.
Uma importante modificação da proposta inicial de
Lúcio Costa foi a introdução do Setor de Embaixadas Norte
entre a Esplanada dos Ministérios e a Cidade Universitária, onde
seria implantada a Universidade de Brasília. Esse Setor de
Embaixadas Norte criou um enorme bolsão subaproveitado, de
urbanização precária, que intriga o analista do desenho urbano
acabado. Outros bolsões de uso criticável também ao norte da
Esplanada dos Ministérios vieram a ser criados, na proposta do
Setor de Mansões situado ao longo da via L4 e a fração do
Setor de Clubes Norte, que acabou por abrigar as estatais
Telebrasília e IBAMA, confrontantes com o citado Setor de
Embaixadas Norte. A crítica a esses usos é inevitável, dado que
a solução final de modo algum contribuiu para formar o
complexo (…“tratado à maneira de parque”…) de Educação e
Cultura concebido por Lúcio Costa e que certamente teria sido
decisivo para evitar o desolamento existente na imensa área
adjunta à Esplanada dos Ministérios. (FLÓSCULO, FARIA, et al.,
1998, p. 12).
Essa modificação a partir da inserção do Setor de
Embaixadas Norte contribuiu para desintegrar o campus,
isolando-o assim da cidade, trazendo como consequência a
dificuldade de locomoção do pedestre e a falta de urbanidade
do espaço.
Figura 7 - Projeto do Plano Piloto por Lucio Costa e a atual posição da UnB
Fonte: concursosdeprojeto.org (site)
19
2.3 A criação da Universidade de Brasília
2.3.1 Plano Pedagógico
Em 1960, no mesmo ano da inauguração de Brasília, foi
criada a comissão para elaborar, começar e estruturar a
Universidade de Brasília. Foram convidados os professores Darcy
Ribeiro e Anísio Teixeira, dentre outros intelectuais participantes
dessa comissão, para a elaboração do Plano Orientador da
Universidade. Para o antropólogo, Darcy Ribeiro, era fundamental
uma reforma universitária no sistema de ensino superior
brasileiro, para que houvesse a renovação e o avanço das
universidades.
Sendo assim, a Universidade de Brasília surgia como uma
perfeita oportunidade para a implantação de um sistema de
ensino que se distanciasse do modelo tradicional, para ser
estruturada desde o início da sua concepção em um modelo
moderno dentro do panorama da capital do país. Segundo Darcy
Ribeiro, este modelo, que na época já funcionava
adequadamente nas universidades europeias, se caracterizava
basicamente pela criação de Institutos para ministrar cursos
introdutórios nos dois primeiros anos de universidade, a fim de
dar preparo intelectual e científico básico para depois seguir para
os cursos profissionais nas Faculdades. Além disso, os Institutos
Centrais deveriam ministrar cursos de bacharelados, cursos de
formação científica e programas de estudos para pós-graduados.
No Instituto, os alunos realizarão cursos introdutórios de dois a
três anos, o primeiro dedicado a estudos gerais que completem
a formação básica, dando-lhes nível universitário; o segundo e o
terceiro já com tendência à especialização. Após esses dois a
três anos, o estudante poderá permanecer no Instituto, se for
aceito como aluno para a formação especializada em um dos
departamentos, com o objetivo de fazer-se antropólogo,
psicólogo, sociólogo, analista-econômico, demógrafo,
historiador, etc. A maioria dirigir-se-á, naturalmente, para as
Faculdades citadas, onde receberá formação profissional através
de dois a três anos mais de estudos. (RIBEIRO, 2012, p. 23).
Com isso, Darcy Ribeiro elimina por completo a
composição do ensino superior por cátedras, onde cada
faculdade delimita o seu conhecimento por âmbitos rígidos e
bem delimitados, e insere em seu lugar a composição por
departamentos. A partir do diagrama que Darcy Ribeiro elabora,
é possível compreender a disposição desses departamentos que
ele distribui de forma racional como se fosse um fluxograma da
organização espacial de cada ensino dentro da universidade.
(Figura 8).
Esse moderno padrão de organização, segundo Darcy,
proporciona aos estudantes um ambiente ideal para a
transmissão de experiências, não apenas por meio de atividades
curriculares, mas também no convívio e na interação pessoal
dentro dos Institutos Centrais.
O desenvolvimento de uma nova proposta pedagógica define
quase que naturalmente novos programas arquitetônicos e
outra hierarquia para a implantação de edifícios e urbanização
diferenciada do território. (PINTO E BUFFA, 2009. p. 122).
20
Figura 8- Fluxograma de distribuição do campus
Fonte: (RIBEIRO, 2012)
Além do caráter social do campus, o resultado dessa
organização será base para a concepção e desenho do campus
universitário da Universidade de Brasília, porque com uma nova
circulação consequentemente se tem uma nova conformação do
espaço arquitetônico.
2.3.2 O projeto urbanístico e arquitetônico
O plano pedagógico e o projeto urbanístico foram
realizados ao mesmo tempo, para que a Universidade de Brasília
começasse a ser construída de modo mais rápido possível. Após
dois anos da inauguração de Brasília e do início do estudo do
plano orientador da UnB, Lucio Costa elabora um projeto
urbanístico para o campus da universidade de Brasília. (Figura 9).
Neste projeto, o campus estaria de frente para a via L4,
sob a qual seria a porta de entrada da universidade com a
configuração da Praça Maior no centro. Nessa praça estariam os
principais edifícios representativos que levariam aos Institutos
Centrais (ICs), na parte central do campus e, mais tarde, se
configurariam as faculdades, localizadas em áreas intermediárias.
A implantação dos edifícios seria feita de forma dispersa com
grandes espaços abertos, como se fossem parcelados em
quadras internas. (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998).
Figura 9 - Croqui de Lucio Costa para o campus
Fonte: (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 11)
21
Figura 10 - Croqui de Niemeyer com o ICC no campus
Fonte: (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 13)
É importante perceber que para a elaboração desse projeto,
o urbanista Lucio Costa tem como referência para a configuração
dos espaços, o modelo das universidades americanas e também
às características do movimento urbanístico moderno. A
configuração de grandes áreas verdes e espaços abertos para a
divisão desses edifícios são elementos fundamentais desses dois
pensamentos. Logo após essa proposta de Lucio Costa, é criado
o CEPLAN – Centro de Planejamento da Universidade de Brasília,
para dar continuidade ao projeto e ao planejamento do campus
sob a coordenação de Oscar Niemeyer. A partir de então, o
projeto de Costa vai sofrer algumas alterações em relação aos
Institutos Centrais, onde Niemeyer vai unir esses institutos em
apenas uma única edificação: o Instituto Central de Ciências (ICC)
em detrimento do caráter da Praça Maior, que seria a de ser uma
porta de entrada marcante para o campus, para ter como
referência principal o ICC na parte central do campus.
O projeto físico e a localização dos edifícios, tal como proposto
e executado à época, criaram um núcleo de ocupação em meio
à grande gleba concedida para a sua fundação. Essa decisão
veio a mostrar-se valiosa para o ulterior planejamento da
expansão da Universidade nos seus setores ao sul e ao norte do
núcleo central dominado pelo Minhocão - ICC. O padrão de
distribuição dos demais edifícios assemelhava-se à proposta de
Lúcio Costa: isolados, num mosaico para o setor urbano em que
o sistema viário seria o principal delimitador dos espaços, na
escala geral da nova cidade universitária. (FLÓSCULO, FARIA, et
al., 1998, p. 13).
Consequentemente, Niemeyer atribui ao Instituto Central
um caráter simbólico e de forte identidade do campus da UnB.
Sua edificação vai estar disposta no terreno de forma centralizada
e emoldurando a Praça Maior, que vai ser executada
posteriormente.
O principal e mais icônico prédio da UnB, que abriga a maioria
dos institutos, faculdades, salas de aula, laboratórios e
anfiteatros, teve seu início em 1963. De acordo com o professor
aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, José
Carlos Coutinho, a espinha dorsal da Universidade, de quase
700 metros de cumprimento, dividido em duas alas, com três
andares cada, foi inaugurado em 1971, após oito anos de obras.
A partir de estruturas pré-moldadas, foi ocupado em partes, na
medida em que as seções ficavam prontas. “Sem dúvida, uma
concepção admiravelmente inovadora: praticamente toda a
Universidade é alojada ao longo de uma rua.” (UNB AGÊNCIA,
2012)
.
22
Figura 12 - Ocupação do campus nas décadas de 60-70
Fonte: (ABREU, 2013, p. 34)
2.4 A evolução do espaço físico do Campus
2.4.1 Período de 1960-1970
O ICC e os pavilhões de serviços gerais foram construídos
de imediato para abrigar as principais atividades da UnB. Os
primeiros prédios que são construídos são realizados com
rapidez de forma a começar a utilizar o espaço físico do campus,
para que não fosse preciso mais o uso do Ministério da Educação
para ministrar as aulas da universidade. Sendo assim, com uma
inovação e praticidade, os pavilhões são concebidos na parte
noroeste em relação ao ICC, também na área central do campus.
Dentre eles, estava o Instituto Central de Artes (SG1), o
Departamento de Música (SG2) e o prédio do CEPLAN (SG10).
Os pavilhões de Serviços Gerais compõem um dos mais
significativos e emblemáticos conjuntos arquitetônicos da UnB.
Expressivos não apenas do ponto de vista funcional, mas
também do sistema construtivo, a intenção de Niemeyer foi
constituir um espaço multifuncional, flexível e econômico.
Seguindo essa concepção, as unidades de apenas um
pavimento, a partir de estruturas pré-moldadas de concreto
armado, assumiam versatilidade ao possibilitarem diversos
arranjos internos. Como regra geral, os prédios dispõem de um
jardim em cada extremidade e pelo menos mais um na porção
central. (UNB AGÊNCIA, 2012).
O campus universitário de Brasília funcionava como um
lugar onde se expunham as ideias e se colocavam em prática
experimentos educacionais, arquitetônicos e tecnológicos; agindo
como um verdadeiro canteiro de obras, passava por um
momento onde todas as propostas eram levadas em
consideração para alcançar o objetivo de uma universidade
moderna. Entretanto, o golpe militar de 1964 acabou por
desacelerar esse desejo da formação do campus e caracterizou
um período de paralisação das obras e estudo na universidade.
2.4.2 Período de 1970-1980
Após um período de grandes tensões entre os estudantes
e o governo militar, no final da década de 60, tem-se o
reaparecimento de algumas propostas e, aos poucos, vai se
retomando o discurso da organização universitária e do
estabelecimento de diretrizes para a continuação dos projetos.
Sendo assim, a partir de 1969, são elaboradas propostas de
implantação de edifícios na Praça Maior (Reitoria, Biblioteca, Aula
Magna e área de convivência) e no Centro Olímpico, que atendia
23
Figura 13 - Ocupação do campus nas décadas de 70-80
Fonte: (ABREU, 2013, p. 38)
às aspirações iniciais dos arquitetos Costa e Niemeyer anos antes.
Apesar de estarem em projeto, a Aula Magna e a área de
convivência não foram construídas nessa época.
Nesse momento também aparecem o Hospital
Universitário – HUB, que está localizado na parte mais alta e
mais próxima à cidade em relação ao campus por estar situado
entre as vias da L2 e L3 norte, o conjunto de habitações da
Colina, mais a leste em relação ao ICC e o Centro Olímpico
perto do Lago Paranoá. Construções que na época se
caracterizaram por serem as primeiras a estarem afastadas
desse núcleo principal, consequentemente, aumentando as
distâncias relativas do espaço do campus.
A ocupação com longos afastamentos dos edifícios acabou por
revelar um espaço com aspecto despovoado e de difícil
circulação. As áreas de vivência não eram utilizadas e o aspecto
de desolamento prevalecia. A alternativa foi redirecionar o
plano de ocupação no sentido de adensar as massas dos
edifícios. (PINTO e BUFFA, 2009, p.127).
No início da década de 70, os projetos continuam a ser
elaborados e o espaço do campus vai se configurando a partir de
decisões tomadas pelo CEPLAN. Determina-se, então, a locação
do restaurante universitário acima do ICC e não na praça maior,
configurando assim um novo eixo importante para o campus,
que mais tarde será chamado de eixo de vivências, enquanto o
do ICC será chamado de eixo de ensino e pesquisa. Além dos
edifícios principais, tem-se a construção da Faculdade de
Tecnologia, da Faculdade de Ciências da Saúde e da Faculdade
de Estudos Sociais Aplicados sempre próximos ao ICC,
intensificando assim, ainda mais, o caráter de centralização do
Instituto Central de Ciências, em relação ao campus.
Além disso, a partir da figura 14, é possível observar a
configuração das edificações existentes até então e se destacam
também nesse momento o espaço dedicado aos
estacionamentos nessa porção central do campus. Esses eixos
que são áreas de importantes centralidades para os estudantes e
trabalhadores do campus, também são áreas de intensa
concentração de estacionamentos em detrimento de um espaço
para o pedestre.
24
2.4.3 Período de 1980-1990
Na década de 80, segundo FLOSCULO et. al, (1998), o
campus passa por um período sem grandes investimentos
significativos e sem um planejamento efetivo, desde as grandes
obras realizadas em 1974. Somente em 1986, é então criada a
Prefeitura do Campus, com os objetivos de planejar e promover a
manutenção do campus sob a coordenação do prof. Arq. Erico
Weidle. Nesse período desenvolvem-se estudos como a “Ideia de
Desenvolvimento Físico Espacial do Campus da UnB” e o
“Planejamento da Extremidade Sul do Campus”, para a definição
de um plano viário e ocupação da parte sul do campus.
A Prefeitura passa a ser o órgão responsável por obras, pela
manutenção e pela coordenação de projetos no Campus,
realizando o conjunto de edifícios de múltiplo uso, o
Laboratório de Física Experimental (que, ao lado do módulo
inicial do Centro de Vivência inaugurado em 94, amplia a
ocupação da “rua do restaurante”) e a expansão de edifícios
residenciais na Colina (que, ao lado da sede da Prefeitura,
amplia a ocupação das áreas do Campus ao longo da via L3).
Outros empreendimentos também marcam os primeiros anos
de trabalho da Prefeitura, como as construções de edifícios de
habitação multifamiliar nas superquadras de propriedade da
Fundação Universidade de Brasília – FUB (SQN 109, SQN 309 e
SQN 310). (FLÓSCULO, FARIA, et al., 1998, p. 17).
Figura 15 - Localização
das novas edificações
na área central do
campus e a composição
dos eixos.
Fonte: FLOSCULO et. al.
1998 p.17
Figura 14 - Localização das
edificações na área central do
campus e a composição dos
eixos.
Fonte: FLOSCULO et. al. 1998
p.16
25
Figura 16 - Ocupação do campus nas décadas de 90 a 2000
Fonte: (ABREU, 2013, p. 44) Figura 17 - Ocupação do campus no presente
Fonte: (ABREU, 2013, p. 56)
2.4.4 Período de 1990-2000
Na década de 90, a universidade procurou
institucionalizar o planejamento, criando medidas e instrumentos
para isso. Foram criadas comissões para estudo e coordenamento
do campus e, em 1995, inicia-se a elaboração do Plano Diretor
Físico do campus. Nesse mesmo ano, recebe a denominação de
“Campus Universitário Darcy Ribeiro”, em uma homenagem ao
seu primeiro reitor e idealizador da Universidade de Brasília.
Além disso, nessa época a universidade começa a
considerar diversas parcerias com organizações públicas e
privadas dentro do campus, com a construção da AUTOTRAC
(empresa privada de monitoramento de transporte de cargas por
satélite, 1994), da FINATEC (Fundação privada de fomento à
pesquisa, 1997) e do CEFTRHU (Centro de Formação de Recursos
Humanos em Transportes Urbanos, organização pública, 1998),
sendo essas edificações localizadas na parte sul do terreno.
2.4.4 Período de 2000 até hoje
Já no início dos anos 2000, tem-se uma grande expansão
da parte sul do campus em relação à parte central do campus.
Edifícios como o CESPE – Centro de Seleção e Promoção de
eventos, CME – Centro de Manutenção de Equipamentos
Específicos e algumas empresas privadas foram localizadas nessa
parte sul, sem que houvesse um planejamento de integração com
o espaço físico do campus, e que acabaram se tornando isoladas.
Uma década mais tarde, também foram implantados os
MASCs – Módulos de Apoio e Serviços Comunitários, que seriam
unidades pequenas de serviços para evitar a concentração de
barracas e quiosques que ocupam uma área irregular nas áreas
do campus.
26
Além disso, foram criadas novas edificações perto dos pavilhões
e da Colina para abrigar as faculdades de Computação, Direito,
Contabilidade e outros cursos. Estratégia realizada para atribuir
mais espaço físico para o crescente número de estudantes dentro
da universidade, em que o Instituto Central não consegue mais
proporcionar o espaço para todas as atividades acadêmicas.
É preciso ressaltar que existe um alto nível de
complexidade para a elaboração de um campus universitário, e
com isso a configuração do espaço muitas vezes gera um
resultado inesperado ao usuário e ao desenho urbano da
universidade. O desenvolvimento do campus Darcy Ribeiro partiu
da ideia principal de que as instituições mais importantes ficariam
no centro do espaço físico, para depois ir sistematizando os
edifícios auxiliares ao redor dessa área. É possível notar que as
disposições dos edifícios ocorrem de forma radial em relação à
Praça Maior em que estão as principais edificações, o Instituto
Central de Ciências, o Restaurante Universitário, a Biblioteca e a
Reitoria.
Logo, podemos prever que as relações dos edifícios com
os espaços abertos e os percursos configurados no campus vão
ter uma relação direta com esses edifícios e principalmente com
o ICC, que é a principal composição do campus. Porém, a leitura
da Praça como um todo ainda é dificultada pelo fato das grandes
áreas abertas e da articulação entre esses edifícios. Cabe avaliar
agora como será a solução da universidade na articulação e
integração do espaço a partir de percursos que os interliguem.
2.5 O espaço do pedestre dentro do Campus
O pedestre é muito importante para qualquer espaço
urbano, pois a forma como ele se relaciona com esse espaço já é
um indicador da qualidade desse ambiente, isto é, se ele é
intensamente utilizado, significa que existe algo ali que agrada o
usuário de alguma forma. Cabe então entender quais são as
características desse espaço, que faz dele um local agradável para
as pessoas que passam por ali. Segundo Gehl (2013), o potencial
de uma cidade, para ser considerada uma cidade viva, é quando
as pessoas se sentem convidadas a caminhar, pedalar ou
permanecer nos espaços dela. Além disso, o autor salienta que o
fato de percorrer o espaço e nele permanecer “é muito mais uma
questão de se trabalhar cuidadosamente com a dimensão
humana”. (Gehl, 2013, p.17).
Trazendo o conceito que o autor se refere de uma “cidade
viva” para o nosso objeto de estudo seria como observar em uma
microescala o que proporciona o campus em ser “vivo”. Em que
“vivo” seria no sentido de que pessoas compartilham o espaço
público, circulam pelo campus e tem uma vivência com o espaço
a elas destinado. Sendo assim, para perceber se existe a vivência
do espaço ou não, seria interessante observar atentamente o
comportamento da dimensão humana.
Esse termo que Gehl utiliza como “dimensão humana”
seria justamente para o aspecto da grandeza do ser humano, em
que se coloca em evidência o pedestre como principal elemento
de um espaço, pois ele representa a menor e mais frágil parte de
todo o sistema de uma cidade, como se fosse o átomo da cidade
em que o organismo seria a cidade. O caráter sociológico,
27
também implícito, expressa que, apesar de utilizarmos diversos
meios de transporte, todos os seres humanos nunca deixam de
ser primordialmente um pedestre dentro de uma cidade, sendo
ela grande ou pequena. Com isso, atentando-se a “dimensão
humana”, é possível entender uma série de aspectos que vão
atribuir qualidade a esses espaços, o que vai ser determinante
para a escolha do pedestre na forma como ele vai usar ou não
aquele espaço.
A boa qualidade ao nível dos olhos deve ser considerada como
direito humano básico sempre que as pessoas estejam nas
cidades. Na escala menor, a paisagem urbana dos 5km/h, é que
as pessoas se encontram de perto com a cidade. Aqui o
pedestre tem tempo para fruir a qualidade ou sofrer com sua
falta. (GEHL, 2013, p. 118).
Percebe-se que o pedestre tem um papel muito
importante no que diz respeito ao uso dos espaços públicos.
Apesar de a sua importância ter sido aparentemente reduzida
pelo intenso consumo do automóvel, em que grande parte das
cidades e, consequentemente do campus, priorizaram a máquina,
a valorização do pedestre ainda é essencial para qualquer espaço
e deve ser tratado como um direito a ser preservado. (GEHL,
2013).
A partir do estabelecimento do pedestre como elemento
fundamental de um espaço público, é necessário entender o seu
papel dentro do campus. A construção e a disposição, ao longo
dos anos, das edificações dentro da universidade, resultaram em
uma configuração espacial que é caracterizada pelos grandes
espaços abertos entre uma edificação e outra. A partir dessas
características urbanísticas é que o pedestre vai desenvolver o
seu ato de caminhar pelas áreas do campus. Sendo assim,
teoricamente, não existem barreiras que impeçam o pedestre em
caminhar no campus, mas cabe agora entender se os percursos
elaborados para ele no espaço universitário condizem com as
suas necessidades na prática e se são realmente livre de barreiras
físicas. Para isso, foram traçadas diretrizes para analisar a
qualidade desses espaços e se esses espaços atingem seus
objetivos propostos.
28
Diretrizes para análise do espaço do pedestre
A partir do cenário traçado para contextualizar o leitor
dentro do espaço físico do campus, é necessário agora
estabelecer as diretrizes que caracterizam a qualidade de um
espaço público ou de um percurso que seja agradável e
confortável para o pedestre. A discussão sobre a importância da
qualidade dos espaços públicos já vem sendo tratada há muitos
anos por arquitetos e estudiosos e é crescente o debate desse
tema que, atualmente, compõe uma característica fundamental
para atribuir um valor positivo a uma cidade.
Jane Jacobs, em seu livro Morte e Vida de Grandes
Cidades (1961), vai abordar essa temática de forma intensa para
criticar a forma de projetação dos urbanistas em relação ao
planejamento da cidade. Segundo a jornalista, o planejamento
realizado, a partir de conceitos do movimento moderno, vai
29
caracterizar a morte dessas grandes cidades por não valorizar o
que acontece na “altura dos olhos”, ou seja, em um projeto que
inicialmente se pensa na macroescala e no desenho urbano da
cidade, para depois ser pensado no usuário dessa cidade e os
bairros que configuram a microescala. Essa crítica se refere aos
urbanistas que, em meados do século XX, utilizaram o
modernismo como premissa para conceber as cidades
planejadas. Apesar de o urbanismo moderno apresentar pontos
negativos como todas as premissas urbanísticas a serem
implantadas, Jacobs não leva em consideração o contexto
histórico e os paradigmas da época, que resultaram nessa forma
de projetação. Gehl, em Cidade para Pessoas (2013), vai ser outro
importante autor a discriminar e criticar esse modelo como sendo
sem qualidade urbanística, não buscando compreendê-lo.
No presente estudo, não se pretende entrar no mérito de
avaliação dos diferentes tipos de concepção urbanística para as
cidades. Entretanto, cabe dizer que Brasília é resultado de uma
concepção urbanística moderna, idealizada por uma época em
que esse modelo apresentava uma solução projetual para a
capital do país. Sendo assim, apresenta uma configuração
espacial com baixas densidades demográficas e espaços públicos
com grandes áreas verdes de intenso valor simbólico, que a
caracterizam como sendo uma cidade dispersa ou cidade parque,
denominada por Jacobs. Essa configuração vai influenciar
diretamente no traçado urbano da cidade e, consequentemente,
no campus universitário que se insere nessa cidade.
Portanto, serão apreendido dos autores, Jacobs e Gehl,
aspectos que influenciam no conforto e na qualidade urbana da
microescala, em que vão discorrer sobre a importância das
calçadas e da dimensão humana dentro de uma cidade,
reforçando indicadores que são fundamentais para atingir tal
conforto e qualidade. Mais tarde, Echavarri, Daudén, Schettino;
(Architecture & Pedestrians, 2013); vão se concentrar dentro
desse mesmo discurso, sempre se atentando para o papel da
cidade como uma ferramenta para estimular e valorizar o
pedestre dentro do seu meio, ou seja, para que o usuário da
cidade possa percorrer e interagir com seu espaço. Sendo assim,
a partir da leitura desses autores e das suas respectivas análises
dos espaços públicos é que são elaboradas as diretrizes deste
capítulo. Para a análise do espaço do pedestre, devem ser
levados em consideração vários critérios que vão influenciar na
configuração do espaço e na sua utilização pelo pedestre.
Echavarri, Daudén, Schettino (2013), para organizar esses
critérios, fazem uma divisão em 4 principais dimensões para
análise que são definidas pela (1) Acessibilidade, (2) Segurança
e Proteção, (3) Conforto Ambiental e (4) Atratividade. Com a
composição desses quatro grandes grupos, os autores vão
relacionar os elementos, dentro de cada dimensão, com as
principais necessidades do pedestre em relação ao percurso em
que ele está inserido. A partir da Figura 18, nota-se de imediato
que são vários os elementos que interferem na dinâmica e na
interação do pedestre em um espaço público, isto é, a frequência
e a maneira como é utilizado o espaço depende de um conjunto
de fatores físicos, ambientais, sociais e estético.
30
Figura 18 - A influência dos elementos projetuais arquitetônicos no caminhar.
Fonte: Autoria própria realizada através da tradução da tabela elaborada por (ECHAVARRI, DAUDÉN e SCHETTINO, 2013, p. 16 e 17)
31
3.1 Aspecto da acessibilidade
Utilizando como parâmetro a divisão realizada por
(ECHAVARRI, DAUDÉN e SCHETTINO, 2013) é possível
compreender os fatores que influenciam e caracterizam cada
dimensão. A primeira a ser tratada é sobre a dimensão da
acessibilidade. Pela sua definição, o dicionário Michaellis
descreve que acessibilidade seria a facilidade de acesso, de
obtenção e a facilidade no trato. Para garantir a facilidade no
âmbito do pedestre, essa dimensão se concentra principalmente
nas condições da pavimentação que o indivíduo vai percorrer ao
longo do seu caminho, atentando-se sempre se esse caminho
favorece a acessibilidade para todos que o utilizam, incluindo
pessoas com mobilidade reduzida, para que possa ser garantido
um desenho de calçadas que seja universal por meio do uso de
rampas e de percursos mais suaves quando necessário.
As características físicas da pavimentação é o primeiro
aspecto que surge, a ser abordado quase que naturalmente, para
evidenciar a qualidade desse espaço. A falta de uma
pavimentação adequada e bem instalada ou a falta de um espaço
delimitado de calçadas para o pedestre já configura uma grande
deficiência do percurso para o pedestre, pois reduz e dificulta a
sua mobilidade no espaço.
É claro que a pavimentação tem um papel importante no
conforto do pedestre. No futuro, a qualidade da pavimentação
e das superfícies será essencial, para um mundo com mais
idosos e pedestres com mobilidade reduzida, mais tráfego de
cadeirantes e mais pessoas querendo levar crianças para a
cidade. É necessário ter superfícies niveladas e não
escorregadias. Paralelepípedos tradicionais e cacos de pedra
ardósia têm muita personalidade, mas raramente atende às
exigências modernas. (GEHL, 2013, p. 132-133).
O tipo de piso, como salienta Gehl, é fundamental para
favorecer a caminhada confortável do pedestre; além disso, a
preocupação com os nivelamentos das calçadas é a característica
primordial para garantir a total acessibilidade do sistema. Dentro
do aspecto do nivelamento de calçadas, também deve ser
avaliada a existência de rampas em lugares em que o acesso se
dá por meio de escadas ou degraus. O acesso para aqueles que
possuem mobilidade reduzida ou por portadores de
necessidades especiais deve ser garantido através de rampas, que
respeitem as normas de acessibilidade, para que todos possam
circular em todos os espaços.
O estado de conservação da pavimentação é outra característica
importante para garantir a utilização devida do pedestre. Sem
uma boa manutenção das calçadas, o pedestre fica suscetível a
perigos que podem resultar em acidentes e até quedas. Além
disso, o espaço destinado apenas ao pedestre é determinante
para o caminhar livre de barreiras e obstáculos, sem que haja a
dificuldade de locomoção. Porém, muitas vezes não é o que
acontece. (GEHL, 2013, p. 123), em seu livro, pontua que “... sinais
de tráfego, postes de iluminação, parquímetros, todos os tipos de
aparelhos de controle são colocados na calçada. Bicicletas,
anúncios, placas.” Isso é resultado de um paradigma em que é
evidente a prioridade dada ao carro e seus equipamentos viários,
em detrimento da circulação do pedestre nas calçadas.
32
Calçadas com nove ou dez metros de largura são capazes de
comportar praticamente qualquer recreação informal – além
de árvores para dar sombra e espaço suficiente para a
circulação de pedestres e para vida pública e o ócio dos
adultos. Há poucas calçadas com largura tão farta.
Invariavelmente, a largura delas é sacrificada em favor da
largura da rua para os veículos; em parte, porque as calçadas
são tradicionalmente consideradas um espaço destinado ao
trânsito de pedestres e ao acesso a prédios. No entanto,
continuam a ser desconsideradas e desprezadas na condição
de únicos elementos vitais e imprescindíveis na segurança da
vida pública e da criação de crianças nas cidades. (JACOBS,
2011, p. 95).
Com a invasão dos carros, os pedestres foram empurrados.
Primeiramente contra as fachadas dos prédios e, depois,
apertados em calçadas cada vez menores. Calçadas lotadas
são inaceitáveis e é um problema no mundo todo. (GEHL,
2013, p. 122).
A partir das afirmações dos autores, conclui-se que é
necessário observar, então, se esses equipamentos urbanos
constituem uma barreira dentro do espaço que é destinado ao
pedestre e se essa calçada compõe uma dimensão confortável
para todos os pedestres que a utilizam simultaneamente, ou não.
Além de promover o passeio de pedestres, essa calçada pode ser
dimensionada de forma mais generosa para proporcionar ao
usuário a permanência no local, a partir da disposição de cadeiras
ou de um ponto de parada que permita ao pedestre conversar
sentado, admirar as pessoas ou somente descansar da
caminhada.
Outro aspecto que é importante ser analisado, também,
está na existência de uma continuidade do percurso do usuário, a
partir do ponto de encontro entre o sistema viário e o das
calçadas. Dependendo da forma em que isso é implantado, pode
haver uma barreira ou diferença do tratamento do piso nesses
pontos de encontro, que pode resultar em uma dificuldade para
o pedestre, na travessia dessa rua ou avenida. Ainda se atentando
para a conexão da pavimentação, a mudança do tipo de piso
entre diferentes calçadas também pode ser evidenciada como
outro impedimento para o pedestre. Portanto, esses possíveis
desencontros entre o sistema viário e as calçadas, ou entre duas
calçadas diversas, que são realizados de forma indevida, vão ser
denominados como “pontos de desconexão”.
Com isso, elaboram-se de maneira geral os aspectos a
serem analisados no que diz respeito à acessibilidade. (1) Tipo
de piso, (2) nivelamento de piso, (3) conservação do piso, (3)
dimensão da calçada, (4) existência de barreiras e (5)
existência de “pontos de desconexão” serão critérios para que
sejam avaliados os aspectos físicos das calçadas, para a plena
acessibilidade. Esta dimensão compõe a primeira análise do
espaço do pedestre, em que a partir do diagnóstico in loco das
calçadas já é possível estabelecer percepções e resultados
tangíveis em relação às condições do espaço analisado.
33
3.2 Aspectos da segurança e proteção
Ao se tratar do aspecto da segurança, pretende-se
observar se o pedestre vai ter ou não a sensação de segurança ao
usar o seu espaço. Sendo assim, por ser uma questão pessoal e
subjetiva, onde um usuário pode se sentir inseguro ou não no
mesmo espaço, atribuem-se algumas características que são
consideradas indicadores que podem levar à sensação de
insegurança do pedestre. O primeiro indicador seria a questão da
movimentação das ruas e das calçadas em que o usuário vai
promover sua caminhada. Segundo Jane Jacobs, uma rua
movimentada consegue garantir a segurança de um lugar
enquanto uma rua deserta, não; e ainda acrescenta que:
...devem existir olhos para rua, os olhos daqueles que podemos
chamar de proprietários naturais das rua. Os edifícios de uma
rua preparada para receber estranhos e garantir a segurança
tanto deles quanto dos moradores devem estar voltados para a
rua. Eles não podem estar com os fundos ou um lado morto
para a rua e deixa-la cega. (JACOBS, 2011, p.35 e 36)
Fazendo um paralelo entre o discurso de Jacobs para as
cidades e trazendo para o campus universitário, seria possível
transferir a ideia de que as edificações acadêmicas e institucionais
devem ser “fachadas vivas” e devem interagir com o espaço
urbano de forma que proporcionem a sensação de segurança ao
pedestre. A arquitetura que deve ser evitada e que traz
insegurança é aquela arquitetura que Jacobs cita como “cegas”.
Essas fachadas “cegas” seriam edificações em que sua arquitetura
não permite uma interação do edifício com o espaço e que
geralmente se caracteriza por fachadas sem janelas e portas ou
com poucas janelas ou nenhuma porta que, consequentemente,
são definidas como fachadas sem função social, para promover a
agradabilidade e a segurança para o espaço público. O percurso
escolhido pelo pedestre geralmente é o mais agradável e seguro
e não necessariamente o mais curto.
Outro indicador que pode trazer a insegurança para o
pedestre está no tratamento de passarelas e passagens
subterrâneas ao longo do percurso do pedestre. Essas formas de
caminhos constituem uma solução para se evitar o conflito do
automóvel com o pedestre. Com isso, o carro, para ter seu acesso
desimpedido, vai ocasionar a construção desses tipos de recursos
para evitar que o pedestre atravesse pelo sistema viário. Segundo
Gehl (2013), essa construção, além de colocar o pedestre de
frente com novos obstáculos, como escadas, ela parte de uma
solução em que não prioriza o pedestre e apenas mantém a
cultura do carro em primeiro plano e do pedestre em segundo.
Além disso, o problema das passagens subterrâneas, segundo
Gehl (2013), é que
Passagens subterrâneas para pedestres tinham ainda
desvantagens de serem escuras e úmidas, e se as pessoas, em
geral, ficam inseguras se não podem ver muito à frente. Em
suma, as passagens subterrâneas e passarelas para pedestres,
em geral caras, conflitavam com a premissa básica de uma boa
paisagem para pedestres. (GEHL, 2013, p. 122)
Através da provável dificuldade gerada pelas passagens
subterrâneas, esse aspecto já entra em outra questão a ser
abordada: a iluminação. O espaço deve ser projetado para que o
seu uso seja feito em qualquer momento do dia e, com isso em
mente, dependendo da forma como se resolve a iluminação do
34
espaço e da frequência do seu uso, ele pode acabar perdendo
seu potencial de utilização em determinadas partes do dia,
principalmente à noite, em que não existe a iluminação solar.
A iluminação é crucial à noite. Uma boa iluminação sobre as
pessoas e rostos e uma iluminação razoável em cantos e recuos
é necessária nas principais vias de pedestre, para reforçar a
sensação de segurança, a real e a percebida; é preciso ainda
haver iluminação nos pisos, superfícies e degraus, para que o
pedestre possa se movimentar com segurança. (GEHL, 2013, p.
133)
Poder enxergar com clareza o percurso e não ter
eventuais surpresas nele já propicia ao pedestre uma noção de
segurança, e sendo assim, ele se sente mais confortável a andar
por esse espaço com mais frequência e naturalidade. Além disso,
a boa iluminação noturna de edificações, e a forma como ela está
projetada, contribuem para estimular ainda mais o bem-estar e
confiança do usuário para percorrer o espaço interno das
edificações e, portanto, em seu entorno.
Coloca-se como um aspecto incorporado à segurança, o
tópico da proteção. Além de todos os indicadores estarem
relacionados com a sensação de proteção do usuário, nesse caso,
ela vai estar relacionada ao cuidado e cautela com o pedestre
dentro do sistema viário do campus universitário. Para isso, é
preciso analisar se durante o percurso do pedestre, em que se
tem o encontro entre pedestre e ciclistas ou pedestres e
automóveis, existe uma situação de perigo, que caracterize
determinado ponto em uma área que coloque o pedestre em
risco. A possibilidade de acidentes ou de impedimento à
mobilidade fluida do pedestre é denominada como um “ponto
de conflito viário” e constitui um parâmetro para a avaliação da
proteção do pedestre em relação ao seu meio.
Elaboram-se, então, as diretrizes para a segurança e
proteção do pedestre dentro do seu espaço. Resumidamente,
têm-se a análise: (1) passagens subterrâneas e passarelas, se
existirem; (2) tratamento das fachadas, (3) iluminação das
calçadas e (4) dos “pontos de conflito viário”. Todos esses
aspectos são ferramentas para a análise da sensação de
segurança do pedestre em relação ao meio externo, que vai
compor um cenário de bem-estar, ou não, ao usuário.
3.3 Aspecto Ambiental
O aspecto climático é fundamental para incentivar, ou
não, a caminhada do pedestre em uma determinada área do
espaço, isto é, a condição climática em que as calçadas estão
inseridas, pode definir se o pedestre vai optar por caminhar ali,
ou não. Segundo (GEHL, 2013),
Poucos tópicos tem maior importância para o conforto e bem-
estar no espaço urbano do que o clima no local onde se está
sentado, caminhando ou andando de bicicleta. O trabalho com
clima e proteção climática concentra-se em três níveis:
macroclima, clima local e microclima. O macroclima é o clima
regional geral. O clima local é o clima das cidades e do
ambiente construído, moderado pela topografia, paisagem e
construções. O microclima é o clima numa zona atmosférica
local. Pode ser tão pequeno como uma única rua, em
reentrâncias e recuos, ou em torno de um banco no espaço
público. (GEHL, 2013, p. 168).
35
Figura 19 - Elementos do clima a serem controlados. (ROMERO, 2000, p. 51)
Através da divisão definida por Gehl, ao analisar o espaço
do pedestre, atenta-se principalmente para o clima local e o
microclima específico. É possível considerar o campus
universitário como sendo o clima local do objeto em estudo e os
trechos de passagem do pedestre, dependendo da sua
localização no percurso dentro do espaço universitário, como o
microclima. Para avaliar esse clima, encontram-se quesitos em
que é possível estabelecer se determinada área é confortável, ou
não, climaticamente. Os autores (ECHAVARRI, DAUDÉN e
SCHETTINO, 2013) dividem em quatro os quesitos,
resumidamente: sombreamento, vento, radiação solar e
intempéries. Gehl relembra que, para esses fatores de clima e
conforto, devem ser levadas em consideração as estações do ano
e a localização geográfica. O sol é um grande atrativo e é
valorizado nas regiões temperadas, enquanto que a sombra é
uma qualidade muito importante para regiões em que o clima é
quente e seco.
Sendo assim, para países em que o clima é quente e com
altas temperaturas durante todo o ano, a necessidade de um
caminho, para o pedestre, que seja sombreado é fundamental
para que traga conforto para seus usuários. Além disso, ventos
relativamente rápidos podem compor um cenário de
36
agradabilidade e bem-estar. A radiação solar acaba por compor
um fator a ser evitado para a promoção da caminhada do
pedestre nessas regiões.
A radiação solar refletida pelas superfícies num espaço
densamente ocupado pode ser minorada pelo uso de materiais
e cores pouco refletidos, de vegetação que absorve a radiação
solar e a utiliza na evaporação que se processa nas folhas, sem
elevar a temperatura de suas superfícies e aumentando a
umidade do meio. (ROMERO, 2000, p. 50).
Para regiões quentes, em que o espaço não é
densamente ocupado, a solução para a intensa radiação está
relacionada, principalmente, ao fator da arborização do espaço,
isto é, o sombreamento de percursos para o pedestre a partir da
arborização do espaço público. Além de estimular a caminhada
confortável do percurso, a arborização pode ser uma ferramenta
de acessibilidade, para identificação dos percursos em locais com
grandes áreas públicas e, se realizada de forma intencional, para
delimitar áreas em um espaço urbano disperso.
A partir da tabela realizada por Romero (2000), que
resume os elementos do clima a serem controlados a partir de
cada situação climática, é possível compreender o que deve ser
levado em consideração para se atinja um conforto térmico para
cada tipo de região.
Além da busca pelo conforto térmico, o conforto sonoro
é outro fator que influencia no bem-estar de um usuário.
Dependendo da intensidade de uma atividade ou do tipo de
atividade desenvolvida em um determinado espaço, isso vai ser
importante para a pessoa escolher caminhar por aquele espaço
ou não. Também, deve-se atentar para áreas em que o intenso
tráfego urbano caracteriza um desconforto ao pedestre. Segundo
Gehl,
O passeio nas ruas de tráfego intenso é uma experiência
totalmente diferente. O ruído de carros, motocicletas e,
principalmente, ônibus e caminhões rocheteia entre as
fachadas, criando um nível de ruído contínuo praticamente
impossibilita a conversa. (...) Não só a comunicação efetiva
entre as pessoas perde o sentido, como também o nível de
estresse. (GEHL, 2013, p. 153).
A partir desses indicadores, é possível elaborar as diretrizes para
análise ambiental que são definidas pela (1) radiação solar, (2)
sombreamento, (3) vento, (4) chuvas e (5) ruído. O clima é um
fator importante para estimular as atividades e o uso do espaço
público. De acordo com Gehl, sem uma boa condição climática
para se realizar uma caminhada, é possível que as atividades ao
ar livre sejam reduzidas ou até tornem-se impossíveis.
3.4 Aspecto da Atratividade
O último aspecto a ser discutido é o aspecto da
atratividade. A sensação de atratividade por um lugar, apesar de
ser um aspecto subjetivo e ter um caráter psicológico individual,
pode ser atribuída à qualidade de um determinado espaço
traçado a partir de alguns critérios, que podem estimular ou até
mesmo intensificar o uso de calçadas e do espaço público do
pedestre. Segundo Gehl (2013), esses critérios vão desde a
qualidade visual do espaço projetado, e do mobiliário urbano, às
atividades que um determinado local oferece; dependendo da
sua configuração esses elementos são determinantes para que o
37
pedestre se sinta confortável a percorrer um determinado
espaço.
A qualidade visual de um determinado espaço é o
primeiro aspecto que traz atratividade a um local. A configuração
de um espaço público ordenado e bem projetado em conjunto
com as edificações arquitetônicas, que evidenciam o belo, é
fundamental para atraírem pessoas a caminhar ou permanecer
por ali. Jacobs (2001) salienta que “é preciso haver pontos que
simplesmente atraiam o olhar”; o que vem através de recortes
visuais das ruas, ou do tratamento de fachadas, com a utilização
de uma cor, já podem proporcionar um interesse e realce do
espaço por meio dessa sugestão.
Nada fala mais alto sobre a “vida entre edifícios” como um
atrativo do que as perspectivas dos arquitetos. Não importa se
a dimensão humana, nos projetos, é tratada com cuidado ou
completamente negligenciada; os desenhos estão cheios de
pessoas alegres e animadas. As pessoas ali retratadas
emprestam aos projetos uma aura de felicidade e atratividade,
enviando um sinal de que ali são encontradas boa qualidades
humanas em abundância, seja esse o caso ou não. É evidente
que as pessoas constituem a maior satisfação das pessoas- pelo
menos nos desenhos! (GEHL, 2013, p. 25).
Porém, devido aos inúmeros critérios que definem uma
arquitetura como bela ou não, observar-se-á a qualidade daquela
que se preocupa com a interação da edificação e a conexão com
o espaço público. Outros critérios, relativos à qualidade visual,
como cor, escala, proporção, por exemplo, serão reconhecidos no
estudo como elementos fundamentais para a atratividade de um
local, porém não serão avaliados, para que não se desvie da
principal temática do estudo. Todavia, pode-se dizer que a partir
de um espaço físico que se preocupe com a qualidade visual, os
pedestres sentem o bem-estar para utilizar aquele espaço e,
consequentemente, passam a utilizá-lo ainda mais, fazendo com
que seja um espaço de uso frequente e que renda uma atração
ainda maior para o local. Como dito por Gehl, as pessoas são
fundamentais para que outras pessoas sejam atraídas para
aquele espaço.
Para isso, retoma-se a ideia das “fachadas vivas” definidas,
previamente, como elemento de segurança para o espaço
público e, agora, também como elemento de atratividade a um
local. A forma como são implantadas, as edificações são
fundamentais para estabelecer uma conexão entre o espaço
público e o privado, garantindo assim uma permeabilidade do
espaço. Com isso, procura-se analisar se os acessos e aberturas a
ela são bem definidos e bem localizados para que possa
promover a interação do edifício com seu meio.
A existência de um mobiliário urbano de qualidade vai ser
fundamental para definir pontos de encontro entre pedestres que
utilizam esse espaço diariamente. A partir de um fluxo bem
estabelecido e uma estrutura física, mesmo que mínima, que
possibilitem a permanência no espaço, vai ser revelado, quase
que espontaneamente, um ponto de encontro dentro do
percurso de pedestre, sendo assim considerado um aspecto
positivo e qualitativo do espaço desse pedestre.
Outro aspecto a ser notado está em relação às distâncias
percebidas e às reais que o pedestre apreende ao caminhar por
38
certo percurso, e se este o conduz ao destino que se pretende
alcançar.
A distância que a maior parte dos pedestres considera
aceitável é a de quinhentos metros, mas essa não é uma
verdade absoluta, já que o aceitável sempre é uma combinação
de distância e qualidade do percurso. Se o conforto for baixo, a
caminhada será mais curta, ao passo que se o percurso for
interessante, rico em experiências e confortável, os pedestres
esquecem a distância e fruem das experiências que ocorrem.
(GEHL, 2013, p. 127).
A partir de Gehl, é possível perceber que a noção de
distância de um caminho percorrido vai ser relativa, e vai entrar
em correspondência com todos os indicadores que atribuem
qualidade e atratividade de um determinado local e a demais
aspectos já citados, principalmente ao ambiental. Para resumir e
adotar como quesitos de análise da atratividade de um espaço
vão ser considerados os tópicos da (1) permeabilidade do
edifício, (2) qualidade do mobiliário urbano, (3) “pontos de
encontro” (4) distâncias relativas percebidas.
3.5 Síntese das diretrizes a serem analisadas
A definição de diretrizes para a obtenção de um modelo
metodológico, para aplicação em um estudo de casos, é
fundamental para se alcançar resultados tangíveis e para
entender o comportamento de determinado espaço.
A partir disso, pode-se elaborar uma tabela-resumo que
irá compor os aspectos abordados e os respectivos indicadores a
serem analisados. Porém, antes da sua aplicação, é importante
ressaltar que um indicador pode estar colocado de forma
abreviada para descomplicar a leitura da análise, mas que pode
representar alguns critérios que estão implícitos a ele. Para
exemplificar isso, pode-se usar o indicador do mobiliário urbano
como um quesito que depende de vários outros intrínsecos a ele.
Ao avaliar um mobiliário urbano, estamos levando em
consideração sua estética, ergonomia, funcionalidade e relação
com o espaço em que está inserido. Sendo assim, ao atribuir um
valor positivo ou negativo a certo mobiliário, em determinado
lugar do percurso do pedestre, estão sendo levados em
consideração todos esses outros aspectos também.
Tendo isso dito, é possível traçar um panorama da
aplicação da metodologia elaborada através do seguinte
proposição (Figura 20).
Com isso, tem-se o conteúdo para que seja possível
realizar o estudo de campo, no Campus Universitário Darcy
Ribeiro na Universidade de Brasília, em que, a partir de
documentação fotográfica, será razoável analisar a qualidade do
espaço a partir das diretrizes estabelecidas.
39
Figura 20 - Síntese dos aspectos a serem analisados
40
Figura 21- Mapa de localização dos edifícios do campus
Estudo de Casos:
Campus Darcy Ribeiro - UnB
Após a elaboração das diretrizes para análise do
percurso do pedestre, parte-se agora para a aplicação do
modelo sugerido para diagnosticar a situação do pedestre em
seu espaço. Portanto, utiliza-se o campus universitário Darcy
Ribeiro para exemplificar e aplicar o método descrito a partir da
definição de um percurso importante dentro desse espaço
universitário. A partir da configuração atual do campus (Figura
21), será traçado um percurso longitudinal que escolhido pela
sua importância dentro do campus ao longo de sua história.
BAES - Bloco de Salas de Aula Eudoro de Sousa
BCE - Biblioteca Central
BSAS - Bloco de Salas de Aula Sul
CC – Centro Comunitário
CDT - Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico
CESPE - Centro de Seleção e de Promoção de Eventos
CET - Centro de Excelência em Turismo
CIC/EST – Departamento de Ciências da Computação e
Estatística
CO - Centro Olímpico
FD - Faculdade de Direito
FE - Faculdade de Educação
FEF - Faculdade de Educação Física
FM - Faculdade de Medicina
FS - Faculdade de Saúde
FT - Faculdade de Tecnologia
FUB - Fundação Universidade de Brasília
HUB - Hospital Universitário
IB - Instituto de Biologia
ICS –Instituto de Ciências Sociais
ICC - Instituto Central de Ciências
IQ - Instituto de Química
MASC - Módulos de Apoio e Serviços Comunitários
MDR – Memorial Darcy Ribeiro
NMT – Núcleo de Medicina Tropical
PAT - Pavilhão Anísio Teixeira
PJC - Pavilhão João Calmon
PRC - Prefeitura do Campus
REI -Reitoria
RU - Restaurante Universitário
SG 9,11,12 – Laboratórios da Engenharia
SG 2,4 e 8 – Departamento de Música e Auditório
SG10- Centro de Planejamento Oscar Niemeyer
41
Figura 22 - Mapa esquemático do percurso longitudinal
4.1 Percurso Longitudinal
Tem-se como ponto de partida, a observação do eixo
longitudinal da universidade, que se inicia no lado sul e vai até
o lado oposto, lado norte do campus, (Figura 22). Traçando-se o
eixo que permeia o percurso realizado, procura-se percorrer
esse espaço para perceber aonde esse percurso nos conduz e
como se configura, a partir dos critérios estabelecidos, a
qualidade desse caminho ao longo desse espaço que foi
d
e
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a
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P
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l
hor compreensão do percurso, utilizam-se pontos de parada,
denominadas estações e nomeadas de A a H, para que seja
possível entender a progressão e o desenvolvimento do
pedestre na sua trajetória ao longo do caminhar. Esses pontos-
chave são escolhidos estrategicamente para que se possa
avaliar com mais cuidado e minuncia elementos, que se
evidenciam ali, que interferem no espaço do pedestre.
Tendo isso dito, inicia-se a partir do
Instituto de Biologia, para depois chegar ao
Instituto Central de Ciências, que é o principal
edifício articulador do campus, para então
seguir para os Pavilhões e as novas
edificações implantadas nos anos 2000,
localizadas na parte leste do campus.
42
Figura 23 - Vista Geral da Estação "A"
4.1.1 Estação “A”
O início desse percurso é o extremo sul do campus
universitário, e a primeira estação está localizada ao lado da via
L4 Norte, no estacionamento que dá acesso à parte posterior
do Instituto de Biologia e à lateral do Instituto de Química. Esse
estacionamento possui apenas esse acesso, e por se localizar na
parte posterior do IB, preserva a fachada frontal do edifício para
os pedestres, valorizando a escala humana e reforçando a
relação do Instituto com o ICC. Aqui é possível observar a
preocupação com o tratamento do piso na entrada do IB pelo
nivelamento e conservação do piso para o pedestre. Esse
percurso nos leva até o outro lado da edificação de forma
planejada e livre de barreiras. A acessibilidade às edificações é
garantida por meio de uma pavimentação que direciona o
pedestre ao interior dos dois pavilhões dentro do Instituto de
Biologia.
Apesar de ter o acesso bem resolvido a partir da entrada
da edificação, a existência da grade ao redor do Instituto de
Biologia, delimita o espaço físico do complexo de edifícios,
dificultando o acesso ao Instituto de Química e impedindo a
circulação transversal. Sendo assim, o pedestre que deseja
passar de um instituto ao outro tem que usar o estacionamento
como espaço de locomoção, pois não existem calçadas que
conectem completamente o pedestre de uma entrada a outra,
ocasionando assim em um conflito viário entre pedestre e
automóvel. Isso de reflete na questão da segurança e proteção
do pedestre, e a um ponto de desconexão entre as calçadas.
Instituto de Biologia
O Instituto de Biologia foi projetado no ano de 2004,
pela coordenação do arquiteto e professor Frederico Flósculo, e
inaugurado em 2009. Nessa época, procurava-se a expansão do
campus da UnB a partir da construção de novas áreas devido à
necessidade de salas e laboratórios maiores para que fossem
proporcionadas melhores condições de trabalho.
Foi levado em consideração, para a implantação do
projeto, a relação com as edificações existentes e,
principalmente, o Instituto Central de Ciências (ICC). Portanto, o
complexo de edifícios é concebido de maneira longitudinal, em
forma de um “H”, para ter sua entrada principal voltada para a
43
Figura 25 –Mobiliário
urbano do Instituto de
Biologia
Figura 26 – Marcação do
acesso transversal do IB
Figura 24 – Detalhe da configuração dos percursos das estações A. B e C
Figura 27 – Espaço de
permanência do IB
ala sul do ICC. No outro acesso, na parte posterior da
edificação, o acesso se encontra voltado para o estacionamento
do complexo. Sendo assim, a entrada principal do IB prioriza o
acesso exclusivo aos pedestres e ciclistas.
Na parte intermediária, que divide o complexo em dois
blocos principais, existe uma marcação do acesso transversal a
partir de uma cobertura metálica que permite o acesso às
laterais do edifício. Com isso, o caminho do pedestre por meio
das edificações do IB é agradável no ponto de vista do aspecto
ambiental e da atratividade. O percurso entre os edifícios
fornecem um sombreamento ao pedestre, com uma circulação
de ar adequada e um paisagismo diferenciado o que
proporciona ao pedestre uma caminhada tranquila. Além disso,
o espaço fornece mobiliário urbano para o pedestre
permanecer nesse espaço, estimulando o percurso a ser um
ponto de encontro e permanência.
A permeabilidade da edificação e o tratamento das
fachadas são outros pontos que acrescentam à atratividade do
local, pois o pedestre caminha por esse espaço sem precisar se
importar com a real distância entre um ponto e outro da
edificação.
44
4.1.2 Estação “B”
A estação B está na entrada principal do Instituto de
Biologia. Após ter percorrido todo o complexo do IB
longitudinalmente, depara-se com a região central do campus
Darcy Ribeiro. Nesse momento, o pedestre consegue alcançar
uma grande amplitude visual e percebe diversas edificações ao
logo do seu horizonte, entre eles o ICC.
Porém ao chegar nesse ponto de conexão com os outros
edifícios do campus, o caminho do pedestre se ramifica em
vários percursos de pequenas dimensões, para então ser
direcionado para cada edificação a que se pretende chegar.
Com isso, o eixo do pedestre sofre uma abrupta quebra de
continuidade e, consequentemente,em uma desconexão de seu
percurso. Assim, depara-se com o momento de escolha de um
trajeto, sem que necessariamente faça o uso de uma calçada,
dependendo de onde ele quer chegar.
Um dos pontos de desconexão está entre o IB e a nova
edificação implantada recentemente, o Blocos de Salas de Aula
Sul, BSAS. O edifício que está ao lado esquerdo da entrada do
IB não possui uma calçada que dê acesso direto ao Instituto de
Biologia,dificultando assim a circulação de pedestres entre essas
edificações. Tem-se também uma obstrução visual, por meio de
um estacionamento improvisado na frente o edifício do BSAS,
que separa essas duas edificações e o transforma um ponto de
conflito viário.
Outro ponto de conflito viário que se nota é na travessia
do pedestre para chegar ao Instituto Central. Para isso o usuário
é forçado a interromper a sua ação natural de prosseguir em
linha reta para acessar o edifício do outro lado da rua. Ao invés
disso, o pedestre deve percorrer uma calçada implantada
diagonalmente ao seu destino para poder passar na faixa de
pedestre em relativa segurança.
Dentre os aspectos desfavoráveis estão a má
conservação dessa pavimentação, e a dimensão insuficiente
para acolher a quantidade de pessoas que passam por ali no dia
a dia das atividades acadêmicas.
Figura 28- Vista Geral da Estação "B"
45
Além disso, um outro critério a ser levado em
consideração, é o aspecto ambiental. A cobertura da entrada do
Instituto de Biologia e da configuração da edificação promove o
sombreamento em partes do percurso do pedestre, o que
rende conforto para o caminhante. Já nesse ponto, depara-se
com um espaço a ser percorrido, em qualquer direção do
campus, com intensa radiação solar e altas temperaturas. A
necessidade de um sombreamento por meio de uma
arborização ou de uma cobertura melhoraria as condições de
caminhada nesse espaço.
4.1.3 Estação C
Ao atravessar a faixa de pedestres e se aproximar do
Instituto Central de Ciências, a questão do sombreamento e da
radiação solar já se inverte, e com isso existe um maior conforto
do usuário em relação aos aspectos ambientais. Porém, um
outro conflito que se observa é o conflito viário entre bicicleta e
pedestre. Antes da entrada do ICC existe uma ciclovia que
interrompe abruptamente esse percurso, sem qualquer
sinalização ou medida para evitar o choque entre o pedestre e
ciclista. A situação ainda se agrava no momento em que o
pedestre começa a usar a própria ciclovia para caminhar e
alcançar a entrada do ICC. Isso acontece pelo motivo da calçada
não existir mais, apenas a ciclovia e com isso o pedestre se vê
obrigado a utilizar esse sistema viário.
Esse conflito entre ciclovia e percurso do pedestre existe
em alguns pontos da área central do campus, onde há
Figura 29- Calçada que dá
acesso à faixa de
pedestres
Figura 30- Estacionamento
implantado na frente da BSAS
Figura 31- Cobertura da entrada
do Instituto de Biologia
46
Figura 34- Mobiliário urbano
Figura 33- Conflito viário
descontinuidade entre calçadas, ou onde não existem calçadas
para o pedestre caminhar. Devido à falta de calçada para o
caminhante, o usuário opta pela ciclovia para percorrer os
espaços.
Nessa mesma estação, existem alguns pontos de
desconexão e de conflito viário deste tipo Mesmo assim, apesar
desses problemas, esse mesmo ponto constitui um lugar de
encontro no espaço universitário. A ampla área sombreada por
árvores e algumas “barracas” de alimentação ao redor do
edifício contribuem para dinamizar e atrair pessoas para esse
espaço. Além disso, existe a possibilidade de permanecer no
espaço a partir de um mobiliário urbano improvisado, mas que
propicia o bem estar do usuário nessa região. Percebe-se que
mesmo não existindo uma estrutura de qualidade arquitetônica
e conforto, esse espaço se configura como um ponto de
encontro do campus Darcy Ribeiro. O verde na fachada do ICC,
a própria configuração do edifício e do espaço público lateral
contribui para conferir agradabilidade ao local.
Figura 32 - Vista Geral da Estação "C"
47
Instituto Central de Ciências
O Instituto Central de Ciências, como já dito
anteriormente – ver capítulo 2, é o principal edifício que
caracteriza e identifica o campus na cidade de Brasília. O início
da sua construção, em 1963; realizado pelo arquiteto Oscar
Niemeyer; foi importante para a composição do espaço físico
da universidade e da consequente definição dos principais
percursos do pedestre por meio e ao redor do ICC.
Trata-se de um volume baixo, linear e curvo, com 696m de
extensão, composto de dois blocos paralelos, afastados um do
outro por uma faixa ajardinada de 15m. O bloco voltado para
oeste apresenta 25 m de largura e foi pensado para abrigar,
ao longo de seus dois pavimentos e subsolo, os anfiteatros e
as salas de professores. Já o bloco leste, com 30m de largura,
apresenta parte de sua área com pé direito duplo, e foi
pensado para abrigar, em dois pavimentos, os diferentes
laboratórios da instituição e as salas de aula (com dimensões
variáveis). (Schlee et al. 2014, pg 50- 52)
Pela sua relativa dimensão, a edificação do Instituto
Central acaba, então, por compor um verdadeiro espaço para o
caminhar do pedestre ao longo desses quase 700m de
extensão, em que, mais tarde, o prédio vai ser dividido em Ala
Sul e Ala Norte para facilitar a orientação do usuário no espaço.
Fica evidente que, a partir de um programa de necessidades
variado, o edifício vai se estabelecer como uma centralidade
chave e, consequentemente, como um ponto de encontro para
os usuários desse campus.
Iniciando-se pela Ala Sul do ICC, o trajeto do pedestre
pelo edifício é feito através de pórticos estruturais que
proporcionam o sombreamento, a proteção a radiação solar e
às chuvas. Além disso, o jardim central e os jardins de inverno,
que se concentram ao lado do percurso do pedestre,
contribuem para o bem-estar do pedestre e para a atratividade
do local.
Figura 35- Vista Geral do Instituto Central de Ciências
48
Como outros aspectos relativo à atratividade do local,
pode-se citar a qualidade do mobiliário urbano e as distâncias
percebidas para o caminhante. Ao longo do percurso, existem
vários momentos em que o pedestre pode parar e permanecer,
tanto nos bancos que se repetem frequentemente durante o
percurso e nos jardins centrais. Além disso, é possível caminhar
por esse espaço sem perceber a distância percorrida devido à
quantidade de atividades que o edifício oferece e de pessoas
que utilizam o ICC. O caminhar pode ser lento ou rápido
dependendo da intenção do pedestre.
4.1.4 Estação D
Durante o percurso do ICC, existem dois pontos
estratégicos intermediários que conectam e que fazem o acesso
à esse grande prédio longitudinal, o “Udefinho” e o “Ceubinho”,
que foram assim nomeados pelos estudantes. A estação “D”,
ponto relativo ao espaço do “Udefinho”, é o principal acesso à
Ala Sul da edificação e à passagem lateral para edifícios
localizados na parte leste do campus, como a Reitoria e
Biblioteca. Essa marcação do acesso, por meio de amplas
aberturas transversais do edifício nesse ponto, permite que o
pedestre opte por continuar caminhando pelo ICC ou
simplesmente possa acessar outras áreas a que se pretende
alcançar.
Esse espaço configura um verdadeiro nó entre o eixo
transversal e longitudinal do campus. A quantidade de pessoas
que fazem o uso desse espaço é fundamental para render a ele
um grande potencial de atratividade e de permanência. Estas
características acabaram por atrair uma concentração de
atividades comerciais informais nesse espaço, que se
estabelecem nesse nó para proporcionar ao estudante ou ao
trabalhador uma opção de alimentação e de serviços ligados à
atividade estudantil, como copiadoras, papelaria, alimentação
entre outros. Com essa variedade de atividades, o usuário fica
convidado a permanecer ali e a utilizar esses serviços. Porém, ao
mesmo tempo que isso amplia a atratividade do espaço,
Figura 36- Vista Geral da Estação “D”
49
Figura 37- Vista do percurso do pedestre na Ala Sul
compromete sua acessibilidade plena e limpa, pois estes
estabelecimentos configuram barreiras físicas e visuais que
dificultam o caminhar do pedestre dentro desse espaço.
4.1.5 Estação “E”
O mesmo acontece caminhando mais a frente, com o
“Ceubinho”, que é o ponto de conexão e acesso ao espaço da
Ala Norte no Instituto Central. A permeabilidade da edificação
permite atravessar transversalmente a edificação de um lado a
outro, assim como no “Udefinho”. Entretanto, existem também
pontos de barreiras e equipamentos localizados no percurso
desse pedestre.
É evidente que esses serviços são importantes e
fundamentais para o usuário que permanece no edifício durante
as suas atividades acadêmicas, porém em termos de
acessibilidade, compõem um aspecto não desejável ao espaço.
Além disso, a maneira improvisada como são instalados esses
equipamentos, acaba por denegrir a imagem visual dessa
edificação que é tão importante ao campus universitário.
Figura 38- Vista Geral da Estação “E”
50
Ainda percorrendo o ICC, pode-se dizer de forma geral, que o
edifício proporciona segurança e proteção ao usuário, pois se
configura como uma via essencialmente destinada para os
pedestres. Sendo assim, a dimensão humana, que foi ponto de
grande atenção e importância dado pelo autor Gehl (2013), se
apresenta dentro do campus na forma de uma única e grande
edificação, onde que o pedestre é o personagem mais
importante para o seu espaço.
4.1.6 Estação “F”
Ao fim de todo o percurso do ICC, chega-se ao lado
oposto da edificação, onde o pedestre novamente se encontra
em um espaço público amplo e aberto, com várias
possibilidades de percurso. Essa variedade de percursos, porém,
não se reflete por meio de calçadas bem definidas que
conduzam naturalmente o pedestre para o outro lado, isto é, os
percursos sofrem rompimentos em suas conexões e o piso não
é uniforme e nivelado. A falta de sinalização informando onde
estão localizadas as edificações dessa região também é outro
aspecto que causa a desorientação do pedestre.
A partir desta saída do ICC o pedestre pode acessar o
estacionamento à sua esquerda, outras edificações à sua frente
e a Biblioteca Central à sua direita. Essa possibilidade de
caminhos confere ao pedestre em uma indecisão de um
percurso, já que não apresenta muito bem uma leitura do
espaço e nem de uma dimensão de calçada satisfatória para o
usuário.
Figura 39- Perspectiva da Ala Norte - ICC
Figura 40- Vista Geral da Estação “F”
51
Ao prosseguir para as edificações à sua frente, o
pedestre se depara com um conflito viário fruto da estrutura
viária que privilegia os automóveis, onde a passagem é feita por
meio de uma faixa de pedestres, mal sinalizada e pouco
iluminada. Entretanto, na lateral do ICC, ainda se preserva o
mesmo aspecto de ponto de encontro observado na outra
extremidade do ICC. O espaço com a presença de algumas
árvores e um ponto de alimentação é ideal para promover o
encontro e a permanência de pessoas nesse lugar.
4.1.7 Estação “G”
A estação “G”, foi colocada no mapa, no início deste
capítulo, como um ponto disperso e fora do percurso
longitudinal do estudo de caso em análise. A explicação para
isso é que o pedestre, ao chegar nesse ponto, se depara com
uma grande barreira formada pelos estacionamentos da
Faculdade de Economia e Contabilidade, FACE; dos Pavilhões
Anísio Teixeira e João Calmon; dos Institutos de Relações
Internacionais e Ciências Política; e o prédio do Departamento
de Ciências da Computação e Estatística, CIC e EST. Esta
situação se caracteriza como um grande conflito viário que
gera, inevitavelmente, uma dificuldade de acesso à essas
edificações. Portanto, ao estabelecer esse estacionamento como
principal elemento de conformação desse espaço, o pedestre
não compreende, de imediato, qual o espaço é dedicado a ele,
nem qual caminho percorrer para acessar as edificações dessa
área.
É importante salientar que todas as edificações possuem
um acesso com calçadas e uma delimitação do espaço do
pedestre. Porém, todos esses acessos são alcançados a partir
desse conflito viário. O estacionamento se transforma, então, no
principal lugar de locomoção do pedestre.
Figura 42- Detalhe da configuração dos percursos das estações F. G e H
Figura 41- Espaço de
permanência no final
da Ala Norte
52
Pavilhões Anísio Teixeira e João Calmon
Para continuar esse percurso longitudinal, utiliza-se
então o Pavilhão Anísio Teixeira; PAT; que é a edificação mais
próxima ao ICC. O PAT, assim como o PCJ, foram construídos
simultaneamente nos anos de 1999 e 2000 em uma tentativa
emergencial para suprir uma carência de espaço de diversas
unidades acadêmicas dentro do Instituto Central. (Schlee et al.
2014, pg 110).
O autor do projeto, o arquiteto e professor Cláudio
Queiroz, procurou implantar esses edifícios de forma harmônica
com o projeto do Minhocão. Pode-se perceber que, apesar de a
sua implantação estar dentro de um grande estacionamento, o
acesso à esse edifício busca se conectar ao ICC, por meio da
continuação do eixo da edificação consolidada, o ICC, com a
nova, o Pavilhão. Em relação à acessibilidade e permeabilidade
do edifício, ele permite a continuação do percurso do pedestre
de forma coerente e integradora, mas suas condições externas
de conservação da pavimentação não são adequadas para o
pedestre.
Módulo de Apoio e Serviços Comunitários
Ao atravessar o Pavilhão Anísio Teixeira para o MASC,
Módulo de Apoio e Serviços Comunitários, encontra-se,
novamente, o estacionamento como um conflito viário para o
pedestre alcançar a outra edificação. O MASC, realizado pelo
CEPLAN, sob a coordenação do diretor e arquiteto Alberto Faria,
foi construído em 2012 com o objetivo de abrigar e centralizar
em pontos estratégicos no campus as funções relacionadas às
atividades de serviço e comércio da UnB, (Schlee et al. 2014, pg
142).
É uma edificação térrea configurada a partir de um
pátio central que dispõe de um mobiliário destinado para
refeições e lanches. A sua planta, em forma retangular, distribui
ao longo de suas laterais atividades como lanchonetes, bancas e
fotocopiadoras. O edifício apresenta acessibilidade em emtrês
das suas quatro fachadas e contribui em um espaço de
passagem do pedestre por meiodele. A permeabilidade do
espaço permite o contato visual do edifício com a FACE,
Faculdade de Economia e Contabilidade, com os pavilhões PAT
e PJC.
Figura 43- Vista Geral da Estação “G”
53
Figura 44- Acesso à FACE
Porém, apesar de apresentar acessibilidade para todas
as faces de seu edifício, a implantação do MASC em uma base
retangular dentro de um estacionamento, conforma em um
espaço totalmente rodeado pelo sistema viário e com isso, o
pedestre acaba por se concentrar em uma área “ilhada” e sem a
existência de um percurso definido e dimensionado para o
pedestre continuar o seu caminhar nesse eixo.
4.1.8 Estação “H”
Ao chegar à estação “H”, observa-se que, ao se deparar
com as últimas edificações na parte norte do campus,
consequentemente, o pedestre também se depara com o fim
do seu percurso por meio da inexistência de qualquer calçada
depois do sistema viário. A edificação que está sendo
construída à sua frente ainda não possui uma indicação de seu
acesso, e as edificações recentemente inauguradas; o BAES -
Bloco de Salas de Aula Eudoro de Sousa, à direita; e o Instituto
de Ciências Sociais – ICS; à esquerda; não possuem acesso a
partir dessa estação. A locomoção nesse espaço, então, é feita
apenas a partir da estrutura viária dedicada aos carros,
enquanto que o pedestre não tem mais o espaço físico da
calçada para poder caminhar.
Esta implantação infeliz é sintomática do privilégio que o
automóvel possui em nossas cidades e, infelizmente, também
no campus universitário. O acolhimento experimentado até
então no percurso escolhido se dissolve completamente na
parte norte do campus, uma área projetada e construída
recentemente, e onde fica clara a perda de qualidade espacial
das áreas públicas/abertas do campus, e o completo abandono
do homem como referência projetual do espaço urbano.
Figura 45- Acesso do
estacionamento ao MASC
54
Figura 48- Vista Geral da Estação “H”
Figura 46- Fim do percurso do
pedestre
Figura 47- Acesso ao BAES
4.2 Quadro Resumo
No sentido de sintetizar todas as informações coletadas, criou-se uma
tabela-resumo onde todos os itens foram avaliados segundo três critérios:
ótimo/bom; regular/satisfatório; ruim/insatisfatório. Pode-se exemplicar a
partir do critério do sombreamento que a definição de ótimo/bom será
atribuído para espaços em que existam um bom sombreamento,
regular/satisfatório para áreas relativamente sombreadas e
ruim/insatisfatório pela ausência de sombras. O contrário, por exemplo,
pode ser estabelecido na avaliação dos conflitos viário. Se existirem vários
conflitos viários este critério será avaliado como ruim/insatisfatório, onde
ocorrem alguns conflitos será considerado como regular/satisfatório e
quando não houver nenhum conflito, ou poucos, será atribuído ao espaço
o critério de ótimo/bom. A intenção está em resumir todos os aspectos
avaliados durante o percurso em uma única tabela para que se estabeleça
o comparativo entre a qualidade espacial de cada estação.
55
Figura 49- Quadro-Resumo Avaliação Final das Estações
56
Considerações Finais
O estabelecimento de uma contextualização histórica, a
partir do panorama da criação dos campi universitários no
mundo, para se chegar ao Brasil, foi realizado para se adquirir o
entendimento dos paradigmas que deram fundamento à
elaboração e construção do campus Darcy Ribeiro. O espaço
físico do campus foi o resultado da concepção urbanística da
cidade de Brasília com a união de um pensamento acadêmico
voltado para a concepção uma universidade-modelo para o
Brasil. Sendo assim, percebe-se a importância da qualidade
desse espaço tanto para os estudantes e trabalhadores que
fazem o uso dessa universidade diariamente, quanto para
manter o seu caráter simbólico para a cidade de Brasília e
também como modelo para as outras universidades do Brasil.
Com isso, a partir da compreensão da configuração do
espaço da universidade de Brasília, foram traçadas as diretrizes
para a análise do espaço do pedestre dentro do campus. Essas
diretrizes, obtidas por meio da leitura de importantes
referências bibliográficas, foram importantes para a composição
de um quadro-resumo de critérios a serem analisados no
estudo de caso, presente mais tarde nesse trabalho. Os critérios
estabelecidos, para cada dimensão analisada, podem ser
aplicados a qualquer área sob o qual se queira obter um
levantamento do espaço físico em estudo e resultados da
qualidade da configuração de um determinado espaço. Para
isso, basta apenas aplicar a metodologia elaborada de forma
criteriosa e analítica.
Diante da análise realizada a partir do estudo de caso do
principal percurso do campus, foi possível perceber que o lugar
do pedestre na universidade apresenta diferentes qualidades
que dependem da sua localização no espaço. Isto é, em
determinados lugares onde a implantação da edificação em
relação ao espaço público é bem resolvida, contribui para que o
espaço do pedestre seja mais bem tratado e ofereça uma
qualidade adequada. Enquanto que, em lugares em que a
edificação não procura se conectar com o espaço à sua volta, o
espaço para o pedestre perde a sua qualidade, sendo pouco
utilizado e até mal conservado.
Outro padrão que pode ser observado, é que as
primeiras edificações construídas no campus mostram uma
relação maior com o espaço público por meio da busca por
uma acessibilidade coerente e uma maior permeabilidade do
seu edifício com o entorno. Estas edificações estabelecem
57
relações não apenas com seu entorno imediato, mas
consideram e se integram com os principais caminhos do
campus, conectando as diversas edificações umas às outras por
meio dos percursos dos pedestres.
Enquanto que, atualmente, pela necessidade da
construção de novas áreas para atender às demandas
institucionais do campus, as edificações perderam o caráter de
ser parte da composição do espaço público do campus, para
compor um sistema de prédios onde cada curso tem a sua
edificação, sem necessariamente se relacionar com as demais.
Obviamente que, não se pode fazer disso uma regra, pois
existem alguns espaços já consolidados na área central do
campus que ainda apresentam irregularidades em seus
percursos, mas as áreas mais antigas do campus oferecem,
geralmente, maior qualidade de percurso e permanência aos
pedestres
A partir da análise da configuração do espaço no
campus Darcy Ribeiro, pode-se perceber que em determinados
lugares, principalmente na área central do campus, o espaço do
pedestre existe como um lugar confortável, atraente e
dimensionado para ele. As primeiras edificações do campus, e
algumas mais recentes, se preocupam com o pedestre dentro
do seu espaço e do conforto ambiental que a ele devem ser
garantidos. Porém, os espaços públicos intermediários que
conectam essas edificações ainda devem ser aprimorados para
garantir segurança ao pedestre minimizando o conflito viário
com bicicletas e carros, a partir da atribuição do ser humano
como a escala de maior importância dessa hierarquia.
Os percursos, de forma geral, devem ser mapeados e
fiscalizados para que haja a constante renovação, atualização e
troca de piso para promover a sua conservação. Além disso, a
arborização e a delimitação do percurso a partir de calçadas
que definam o espaço do pedestre, especialmente em regiões
menos consolidadas do campus, devem ser projetadas para a
permanência da boa qualidade do espaço em todo o campus.
Diante disso, deve-se atribuir mais valor à universidade,
não só como um ensino acadêmico, mas também como um
ensino à sociedade, a partir da composição de um espaço
urbano de excelente qualidade e bons parâmetros, para que
assim possam ser levados à sociedade, e consequentemente, às
cidades, como um modelo de espaço e conformação a ser
seguido e implementado.
A escolha de um campus universitário, para exemplificar
essa análise, é justificada pelo fato de que esse espaço é uma
referência para a sociedade, pois abriga uma série de unidades
acadêmicas em que se procura, constantemente, pesquisar,
estudar e aprimorar determinados cenários urbanos que
precisam ser melhorados ou modificados. Logo, a universidade
possui uma responsabilidade social por ser uma ferramenta de
disseminação de ideias e de mudança de paradigmas, que são
definidas a partir das soluções encontradas no mundo
acadêmico.
58
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