O movimento anti-DRM tomou pro- Esmola demais, · que não custa nada (só dá lucro, aliás)...

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Paulo Rebêlo é jornalista e cronista, acompa-

nhando os desmandos da música na Internet

desde 1997.

Esmola demais,

PAo incentivar a vendade música digital semDRM, a Apple pareceter enfiado os péspelas mãos. Diversosconsumidores, comum pouco mais deexperiência emtecnologia,perceberam que asmúsicas livres deamarras não eram,afinal, tão livresassim. Um pequenocódigo embutido noarquivo permitia que aApple fizesse a coletade quem estavacomprando as faixas,incluindo nome, e-mail e localidade.

arece besteira, mas ninguém foiavisado. Com esses dados, nãohá garantias que a Apple não re-

passe as planilhas para as gravadoras e,conseqüentemente, comece um rastre-amento para conferir se as mesmas mú-sicas são disponibilizadas em softwaresde troca, como a rede Bitorrent oueMule. O mais interessante, como já vi-mos mês retrasado ao tratarmos do as-sunto, é que as músicas em DRM cus-tam mais caro. Ou seja, supostamenteseria um preço a mais pela privacidade epela liberdade de escolha ao comprar asfaixas sem amarras.

Para quem chega agora, vamos revi-sar um pouco o tema abordado nos últi-mos meses. DRM é a sigla de DigitalRights Management, uma série de tec-nologias para conteúdo multimídia, so-bretudo áudio e vídeo, pela qual a indús-tria ou lojas pode restringir ações com o

arquivo que contém a música. Restriçõescomo, por exemplo, tocar por apenas umnúmero xis de vezes, tocar apenas emplayers portáteis e assim por diante.

O movimento anti-DRM tomou pro-porções gigantescas hoje em dia e, re-centemente, o diretor-presidente daApple, Steve Jobs, escreveu uma cartaaberta sugerindo que as gravadoras per-

mitissem abolir o DRM. Interessantenotar, porém, que a Apple sempre foi – econtinua sendo – uma das principaisincentivadoras de DRM e tecnologiasafins em seus produtos. As músicas semDRM da Apple começaram a ser vendi-das há apenas um mês e a confusão jáestá armada. Os downloads custamUS$ 1,29 contra os US$ 0,99 das músi-cas com DRM.

Zero chance,mas uma iniciativaNo Brasil, tivemos uma jogada interes-

sante recentemente com o novo álbum deVanessa da Mata (“sim”), que foi lançadoem duas versões. A tradicional e uma talde “Zero”, que tem apenas cinco músicasdas treze que o disco normal tem. O tal“Zero”, além de menos músicas, tem em-balagem mais simples, não tem encarte ecusta R$ 9,99. Só não consegui descobrirse tem patrocínio da Coca-Cola tam-bém... agora que tudo “zero” virou moda.

Vale acompanhar o interessante deba-te e colaborações no site Outrolado(www.outrolado.com.br) sobre o assunto,em que vários leitores discutem e expli-

santo desconfia

O mais interessante éque as músicas emDRM custam mais

caro. Ou seja,supostamente seria

um preço a mais pelaprivacidade e pela

liberdade de escolha

É uma iniciativalouvável da indústriafonográfica no Brasil,que finalmente parececomeçar a entenderque não custa nadaoferecer opções ao

consumidor

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e-mail para esta coluna:

imprensa@rebelo.org

cam sobre a ação de propaganda criadapela Agência3 para promover o “Zero” daVanessa da Mata. Aliás, foi de lá que acoluna descobriu o lançamento e come-çou a refletir sobre o assunto.

Por um lado, é uma iniciativa louvávelda indústria fonográfica no Brasil, que fi-nalmente parece começar a entenderque não custa nada (só dá lucro, aliás)oferecer opções ao consumidor. Por outro,a gente precisa ser sincero e cair na realcom o preço, porque R$ 9,99 continuasendo caro para ouvir cinco músicas. Afi-nal, logo ali ao lado vai ter uma barra-quinha de camelô vendendo por R$ 5,00o disco completo com as treze faixas.

É evidente que o preço de um pro-duto original nunca será igual ao doproduto pirata, apesar de muita gentedizer “há controvérsias” sobre isso tam-bém. Embora seja difícil nivelar a dife-rença de qualidade entre produtos ori-

ginais e piratas, com música a história écompletamente diferente. A única di-ferença são os fatores extra música, ou

seja, encarte, álbum bonitinho, capa,etc, porque o conteúdo propriamentedito, a música, vai ser igualzinho noCD pirata, a não ser que seja um came-lô muito sem noção de vender os discos

É evidente que opreço de um produtooriginal nunca seráigual ao do produto

pirata, apesar demuita gente dizer “hácontrovérsias” sobre

isso também

com músicas cheias de ruídos ou depéssima qualidade.

Então, por que não lançar a versãozero pelo preço dos piratas? Afinal, se aedição reduzida também tem embala-gem simples e não tem encarte, qual é adiferença para o pirata? A grife, com cer-teza. E resta ao consumidor optar por le-var a sério a questão da grife e da legali-dade, ou não. O que é válido, evidente-mente, mas até onde é válido não levar asério o bolso? Os céticos poderiam apenasdizer: se é problema financeiro, entãonão compra CD e não escuta músicaboa. Então tá, é uma visão bem mani-queísta, não é à toa que os piratas estãosustentando a família inteira (e até a dosoutros) vendendo CD a cinco reais nomeio da rua.

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