View
216
Download
3
Category
Preview:
Citation preview
O SENTIDO DA VISÃO E A ILUSÃO DE ÓTICA: ATIVIDADES COMPLEMENTARES
MENEGAZZO, Raquel Cristina Serafin – Prefeitura Mun. Araucária
Prefeitura Mun. Curitiba raquelsrf@yahoo.com.br
Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo
Na atualidade, o sentido da visão, destaca-se frente aos demais sentidos, devido ao número grande de estímulos visuais que recebe diariamente. Porém, a visão também é responsável por algumas ilusões criadas em relação às imagens formadas. Para que os educandos percebam que diversas áreas do conhecimento podem estar relacionadas, utilizou-se de atividades práticas simples que envolviam as ilusões de ótica, relacionando-as ainda ao sentido da visão, aos conceitos de ótica e a geometria. A atividade foi desenvolvida com alunos de 8ª série (nono ano) do Ensino Fundamental, complementando o tema órgãos dos sentidos (sétima série) relacionando-o com o ensino de ótica. Um dos principais problemas encontrados pelos professores de Física e de Química no Ensino Médio, é que muitos educandos chegam receosos com relação a estas disciplinas, principalmente em virtude de relatos desastrosos, quer com relação à aprendizagem, quer com às avaliações de desempenho. Com essa atividade prática objetivava-se o desenvolvimento de atitudes positivas dos educandos frente à disciplina de Física. Palavras-chave: Ensino de ciências. Ensino Fundamental. Ótica. Experimental.
11813
Introdução
Na busca de estratégias que estimulem o interesse dos educandos, do Ensino
Fundamental – Séries Finais, para ensino de Física no Ensino Médio, foram desenvolvidas
atividades envolvendo a ótica.
Muitas são as atividades práticas que podem ser realizadas sobre o tema ótica.
No ensino fundamental é possível relacionar a visão (oitavo ano) e a ótica (nono ano),
onde também o educando é conduzido ao aprofundamento teórico e à aproximação com a
realidade.
Outro objetivo que se buscou com essa atividade foi ressaltar a importância de
questões envolvendo a geometria.
Uma das características inerentes ao educador que ministra a disciplina de Ciências, na
oitava série (nono ano) do Ensino Fundamental, é que tenha conhecimento prévio de diversas
áreas do conhecimento, pois o conteúdo abrange física e química, sendo necessário muitas
vezes relacioná-las com biologia, geografia, matemática e ainda, utilizar-se de interpretação
de texto. Salienta-se ainda, que o educador desse nível escolar pode ser graduado em
Biologia, Física ou Química, e deve ministrar conteúdos relacionados às três áreas.
No ensino fundamental, o ensino de física e química prioriza os conceitos acerca dos
fenômenos químicos e físicos, deixando preferencialmente as resoluções matemática para o
nível escolar subsequente, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s
(BRASIL, 1998).
Outro empecilho encontrado ao ensinar Ciências constitui no número reduzido de
aulas semanais e no número elevado de conteúdos. Fato este que impede o aprofundamento
teórico, apenas em um ano letivo, nos conteúdos de química e física. Desta forma, é
importante que o professor do ensino fundamental interaja com os educandos para despertar
neles o interesse pelas Ciências.
A Física no Ensino Fundamental
Para despertar o interesse dos alunos pelo ensino de física, não é importante utilizar-se
de cálculos e fórmulas, mas sim de instrumentalização e práticas com materiais de baixo
custo, desenvolvidas de forma simples, antes mesmo da teoria (BIÉGAS, DECHANDT e
NASCIMENTO, 2010).
11814
O professor do Ensino Fundamental deve oportunizar aos educandos momentos em
que desenvolvam atividades práticas, despertando-os para o ensino das Ciências
(MENEGAZZO e STADLER, 2010).
No Ensino Médio, com o desmembramento das Ciências nas grandes áreas de Física, à
Química e a Biologia, será aprofundado teoricamente os conceitos gerais vistos
anteriormente. Justifica-se assim, a importância da integração entre os dois níveis escolares.
Ao professor do ensino fundamental cabe a incumbência de despertar o interesse nos
educandos, e ao professor do ensino médio, a responsabilidade é continuar instigando-os. De
maneira contrária esse contato no ensino médio pode passar rapidamente de uma atividade
prazerosa para uma frustrante, que muitas vezes acompanharam o mesmo por um longo
tempo (BONADIMAN e NONENMACHER, 2007).
Ainda sobre a utilização da experimentação, podemos afirmar que oportuniza a
transposição do nível conceitual para o empírico, enriquecendo assim, a vivência dos
educandos (SÉRE, COELHO e NUNES, 2003).
A utilização de experimentação durante os conteúdos de ótica, auxilia o despertar de
interesse, do educando, além de associar a Ciência ao cotidiano.
É possível em uma mesma atividade utilizar-se da interdisciplinaridade, pois ela está
presente em muitos momentos escolares. Associá-las facilita a observação dos educandos que
as disciplinas não atuam isoladamente, que elas se relacionam e interagem continuamente.
Desta forma, pode deixar de ser vistas como gavetas de conhecimento, quando muda o
professor/disciplina, fecha uma gaveta e abre outra.
A importância do sentido visão e a ótica
Atualmente o grande número de estímulos visuais que nos cercam, colocam esse
sentido com maior destaque, comparado com os demais sentidos (MAIA, 2007). O sentido da
visão é um dos mais importantes para o ser humano, porém, em conjunto com os demais
funciona formando um conjunto perfeito.
Com relação ao funcionamento geral do olho humano, Junqueira e Carneiro (1990,
p.360) explicam que eles:
11815
[...] são órgãos fotossensíveis complexos que atingem alto grau de evolução permitindo uma análise minuciosa quanto à forma dos objetos, sua cor e a intensidade de luz refletida. Cada olho fica dentro de uma caixa óssea protetora – a órbita – e apresenta basicamente uma câmara escura, uma camada de células receptoras sensoriais, um sistema de lentes para focalizar a imagem e um sistema de células e nervos para conduzir o estímulo ao sistema nervoso central. [...]
Este fantástico órgão funciona em sintonia para a formação das imagens e em conjunto
com o cérebro, realiza as interpretações.
Ainda sobre esse órgão, Guyton (1988, p.181) explica que:
O sistema óptico do olho, como uma câmara fotográfica, possui uma lente (o cristalino), um mecanismo muscular para a modificação do foco da lente do cristalino e um diafragma (a pupila), que regula a quantidade de luz que passa pela lente do cristalino. Os olhos de crianças podem focalizar objetos colocados tão perto quanto 7 cm e tão longe quanto a distância infinita, mas quando a pessoa atinge a idade de 45 anos, a maior parte dessa capacidade de focalização já foi perdida.
A formação das imagens ocorre em presença de luz. A capacidade visual altera-se com
o avançar da idade, diminuindo a focalização e portanto, a capacidade visual.
Consequentemente os transtornos visuais, em muitas pessoas, iniciam com o avanço da idade.
Com relação à luz e à formação da imagem, Junqueira e Carneiro (1990, p.371)
explicam que:
A luz, quando atinge a retina, após atravessar as suas várias camadas, é parcialmente absorvida pelos cones e bastonetes, iniciando assim o processo visual. Este processo é extraordinariamente sensível, porque um fóton é suficiente para desencadear a produção de potenciais num bastonete. Admite-se que a luz aja promovendo a descoloração dos pigmentos visuais. Esse processo fotoquímico é muito amplificado por mecanismos desconhecidos, causando a produção local de potenciais, que são transmitidos ao sistema nervoso central. [...]
Após entender o funcionamento geral do olho humano, das transmissões dos estímulos
até o cérebro e da decodificação desses dados, é possível perceber que podem, em
determinados momentos, ocorrer algumas falhas nessas informações, as denominadas ilusões
de ótica.
Definindo as ilusões de ótica, Souza (2010) comenta que elas: “são imagens que
enganam a visão humana, fazendo com que o ser humano veja coisas que não estão presentes,
11816
ou fazendo-os ver coisas de forma errada. Normalmente são figuras que podem ter várias
interpretações, podem surgir naturalmente ou até serem criadas”.
As obras de Maurits Cornelis Escher (1898-1972) auxiliam na compreensão do tema
ilusão de ótica, sendo baseadas em conceitos de geometria, envolvem as artes visuais, e ainda
conduzem os envolvidos a pensar nas formas e figuras produzidas pelo autor (BARTH, 2006).
Desta forma, observando as figuras baseadas nas obras do autor, os educandos sentem-se
atraídos pelas ilusões por ele criadas.
Ainda sobre esse tema, as ilusões de ótica, Beviláqua et al (2010, p.7) comentam que:
“elas permitem construir e desconstruir mitos e sensos-comuns sobre os processos sensoriais e
físicos que correspondem ao fenômeno da visão”
Parisoto (2010, p. ) contribui dizendo que:
Não mais podemos dizer que a visão decorre apenas do estímulo do ambiente, pois esses muitas vezes enganam o cérebro (nas ilusões óptico cognitivas) e o aparelho visual (nas ilusões óptico sensorial) ou também as ilusões associadas a algumas características da luz (ilusões óptico ópticas).
As ilusões de ótica estão em foco na atualidade, quer em livros de atividades diversas,
quer em filmes em três dimensões, quer em gravuras diversas. Assim, é um tema que atrai
muito a atenção das pessoas, principalmente dos adolescentes. Descobrir como elas são feitas
é outro atrativo.
Desenvolvimento
Essa atividade foi desenvolvida com alunos acompanhados pela professora durante
dois anos consecutivos, em 2008 (sétima série – oitavo ano) e em 2009 (oitava série – nono
ano), em uma Escola Municipal de Araucária – Paraná.
O conteúdo programático de sétima série é o corpo humano. No quarto bimestre de
2008, enquanto desenvolvido o tema órgãos dos sentidos, os alunos demonstravam grande
interesse em realizar atividades com relação ao tema. Foram realizadas diversas atividades
simples envolvendo os cinco sentidos, e diversas leituras auxiliaram a aprofundar
teoricamente o tema.
Em 2009, com as mesmas turmas, porém, na oitava série, durante o primeiro semestre
o conteúdo programático era física. Ao trabalhar o tema ótica foram desenvolveram-se
11817
algumas atividades práticas, entre elas a ilusão de ótica. O tema ilusão de ótica foi sugerido
pelos alunos, que estavam interessados em algumas reportagens que assistiram na televisão
aberta, sobre o tema.
Desta forma, ratificando o sentido da visão com a inclusão da ótica, desenvolveu-se
assim uma atividade que relacionou os dois temas.
No livro didático utilizado constavam algumas figuras de Maurits Cornelis Escher
para ilustrar as ilusões por ele criadas. A obra ‘uma mão com a esfera refletora’, instigou os
alunos a entender os espelhos e a formação das imagens. Outro fato a destacar foi a
participação dos alunos que pesquisaram na internet, figuras que também geravam ilusões de
ótica. Iniciando pelo site do programa que assistiram na televisão, também depararam-se com
outras figuras de Escher.
Em sala de aula, foram realizadas algumas atividades simples, utilizando retas e
circunferências, que criam ilusões de ótica.
As atividades retiradas de um livro didático de Ciências foram entregues aos
educandos. O objetivo era observar cada figura, e anotar ao lado. Primeiramente o que
acreditavam ser verdadeiro nas figuras. Depois, com o auxílio de uma régua, mediam cada
uma das figuras e anotavam o resultado da obtido.
Figura 1. Verificar nessas figuras se as retas são rigorosamente paralelas.
Fonte: Silva Júnior, Sasson e Sanches (1997)
Figura 2. Verificar se a linha dupla em diagonal é contínua.
Fonte: Silva Júnior, Sasson e Sanches (1997)
11818
Figura 3. Verificar em cada caso, se as linhas horizontais são paralelas
Fonte: Silva Júnior, Sasson e Sanches (1997)
Figura 4. Medir o diâmetro dos dois círculos centrais para confirmar qual é o maior
Fonte: Silva Júnior, Sasson e Sanches (1997)
Figura 5. Verificar qual dos segmentos, AB ou BC, é maior
Fonte: Silva Júnior, Sasson e Sanches (1997)
Figura 6. Verificar qual das duas letras a é maior
Fonte: Silva Júnior, Sasson e Sanches (1997)
A última etapa da atividade foi desenvolvida no grande grupo, comentando os
resultados obtidos e os esperados.
Considerações finais
O professor de Ciências do Ensino Fundamental é peça chave para que o educando
chegue ao Ensino Médio estimulado para as disciplinas de Ciências, desmembrada em
11819
Biologia, Química e Física. O aluno estimulado será capaz de relacionar os fenômenos com os
conceitos, que serão aprofundados.
A dificuldade em entender os conceitos físicos e químicos é percebida já no ensino
fundamental, porém, torna-se menos atuante quando utiliza-se de atividades práticas. Com as
atividades práticas os educandos percebem de forma lúdica, muitas vezes conceitos, que na
maioria das vezes são apenas teorizados.
Muitas são as práticas que podem ser realizadas com o tema ótica, basta o educador
utilizar a criatividade. As aulas práticas permitem que conceitos teóricos possam ser
assimilados com maior facilidade pelo educando, e assim, apreendido será facilmente
associado a cálculos, exigidos nos estudos sequentes.
Ao desenvolver as atividades relacionadas com as ilusões de ótica muitos foram os
comentários e relatos dos alunos. Todos contribuíram com comentários. Muitos dos
educandos lembraram atividades onde já haviam percebido acerca da ilusão de ótica.
Comentaram sobre artistas que fazem figuras, e obtêm ilusões, em muros, no chão, além de
algumas imagens já observadas na internet.
A partir da prática os alunos incorporaram os conceitos com fatos cotidianos,
relacionando ainda, às Ciências com a realidade.
O objetivo do educador é conduzir seus educandos ao conhecimento, auxiliando-os a
tornarem-se cidadãos críticos, capazes de tomar decisões, opinarem e relacionarem-se com o
meio que os cerca. Para tanto é importante criar estratégias a fim de alcançar esses objetivos.
O uso de diversas estratégias e metodologias facilita o envolvimento do educando com o
ambiente.
REFERÊNCIAS
BARTH, Glauce Maris Pereira. Arte e Matemática, subsídios para uma discussão interdisciplinar por meio das obras de M. C. Escher. (Dissertação) Curso de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Paraná. 133p. 2006. Disponível em: http://www.ppge.ufpr.br/teses/M06_barth.pdf Acesso em 29 de maio de 2011. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Ciências Naturais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC / SEF, 1998. 138 p. BEVILAQUA, Diego Vaz. ARAÚJO, Juarez Silva de. SOUZA, Eduardo Oliveira R. de. SILVA, Anna Karla S. da. COLONESE, Paulo H. Ilusões virtuais: sobre o uso de objetos de
11820
aprendizagem para a exploração de ilusões de ótica em um museu. XII Encontro de Pesquisa em Ensino de Física. Águas de Lindóia. 2010. p. 1-12. BIÉGAS, Patrícia Sattin Garrouba. DECHANDT, Iolanda Cristina Justus. NASCIMENTO, Fabiana Cristina. Física: da ilusão à óptica. II SINECT Simpósio Nacional de Ensino de Ciências e Tecnologia. Artigo 70. Ponta Grossa. 2010. BONADIMAN, Helio; NONENMACHER, S. E. B. O gostar e o aprender no ensino de Física: uma proposta metodológica. Caderno Brasileiro de Ensino de Física. v. 24, n. 2: p. 194-223, ago. 2007. GUYTON, Arthur C. Fisiologia humana. Tradução ESBERARD, Charles Alfred. Editora Guanabara Koogan S.A. 6ª ed. Rio de Janeiro. 1988. 564 p. JUNQUEIRA, Luiz Carlos. CARNEIRO, José. Histologia básica. Editora Guanabara Koogan S.A. 7ª ed. Rio de Janeiro. 1990. 388 p. MAIA, Nilson Borlina. Viajando pelos sentidos. Revista Eletrônica de Jornalismo Científico. São Paulo. 2007. Disponível em: http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=28&id=326 Acesso em: 20/02/11. MENEGAZZO, Raquel Cristina Serafin. STADLER, Rita de Cássia da Luz. Construção de experimentos com espelhos planos. II SINECT Simpósio Nacional de Ensino de Ciências e Tecnologia. Artigo 64. Ponta Grossa. 2010. PARISOTO, Mara Fernanda. Ensinar Física a partir de Ilusões de Óptica: reflexão total, dispersão, refração e reflexão. II SINECT Simpósio Nacional de Ensino de Ciências e Tecnologia. Artigo 66. Ponta Grossa. 2010. SÉRÉ, Marie-Geneviève; COELHO, Suzana Maria; NUNES, António Dias. O papel da experimentação no ensino da Física. Caderno Brasileiro de Ensino de Física. v. 20, n.1, p. 30-42, abr. 2003. SILVA JÚNIOR, César da. SASSON, Sezar. SANCHES, Paulo Sérgio Bedaque. O homem no ambiente. Coleção entendendo a natureza. Editora Saraiva. 13ª ed. 1997. SOUZA, Cleber Moreira de. Ilusão de óptica em sala de aula. Webartigos.com. publicado em 22/07/2009. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/21785/1/Ilusoes-de-Optica-em-sala-de-aula/pagina1.html Acesso: 06/03/2011.
Recommended