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Um bom livro para quem quer escrever um bom trabalho de pesquisa, sobretudo se for em ciências biológicas ou naturais.
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Universidade Eduardo Mondlane
Faculdade de Ciências
Departamento de Ciências Biológicas
Accademos
O Supervisor
Como Redigir Trabalhos Científicos
Por Edgar Manuel Cambaza (MSc)
Maputo, Fevereiro de 2015
Ficha técnica
Título: Accademos: o Supervisor
Autor: Edgar Manuel Cambaza
Todos os direitos reservados. Esta obra não deve ser vendida nem alterada e
o seu conteúdo deve ser devidamente referenciado quando usado. Para fins
comerciais, nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer formas ou meios, electrónicos ou mecânicos, incluindo
fotocópias, gravações ou qualquer outro tipo de arquivamento de
informações, sem autorização escrita e assinada do autor.
Foto de capa: Edgar Cambaza
Contacto: +258 82 4494050 (telemóvel)
edycambaza@yahoo.com.br (endereço electrónico)
Atenção: esta obra não segue o novo Acordo Ortográfico.
Declaração de honra
Eu, Edgar Manuel Cambaza, declaro que este trabalho, intitulado Accademos:
o Supervisor, foi inteiramente feito por mim e que a informação aqui apresentada
corresponde à minha compreensão e sensibilidade sobre a realidade. Todo o conteúdo
extraído directa ou indirectamente de outras obras apresenta referências aos devidos
autores. Deste modo, responsabilizo-me por toda ou qualquer consequência moral ou
legal advinda da sua publicação.
Agradecimento e dedicatória
Agradeço e dedico este livro a todos os que moldaram o meu pensamento.
Tive a sorte de ter encontrado grandes mestres e pupilos dedicados, que me fazem
sentir um homem de sucesso. Só não vou escrever nomes porque a lista não acaba e
todos merecem ser mencionados em primeiro lugar. Deste modo, mencionarei todo o
Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Eduardo Mondlane (UEM),
Centro de Ciências Forenses da Universidade da Austrália Ocidental, Centro de
Biotecnologia da UEM, Instituto Nacional da Saúde, Hospital Militar de Maputo,
Centro de Exames Médicos e muitos outros parceiros.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza i
Lista de abreviaturas
CDC – Centro de Controlo de Doenças
coord. – coordenador (es)
DCB – Departamento de Ciências Biológicas, Faculdade de Ciências,
Universidade Eduardo Mondlane
DSD – Direcção de Serviços de Documentação
ECA – Ensaio Clínico Aleatório
FAEF – Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal
GPS – Sistema de Posicionamento Geográfico
HACCP – Hazard Analysis of Critical Control Points
INS – Instituto Nacional da Saúde
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONG – organização não-governamental
SI – Sistema Internacional de Pesos e Medidas
UEM – Universidade Eduardo Mondlane
UP – Universidade Pedagógica
URL – endereço único de páginas da internet
Lista de tabelas
Tabela 1. Lista de verbos frequentemente usados para a construção de
objectivos. ................................................................................................ 53
Tabela 2. Exemplo de cronograma de actividades. .......................................... 72
Tabela 3. Exemplo de uma tabela de orçamento. ............................................ 72
Tabela 4. Critérios de qualidade para avaliar fontes de informação na internet.
................................................................................................................ 107
Tabela 5. Lista de algumas das bases de dados académicas e científicas
gratuitas mais populares no Mundo. ...................................................... 110
Lista de figuras
Figura 1. Hierarquia da evidência: investigações com localização superior
indicam maior força de evidência. Imagem de Sampaio and Mancini
(2007). Não entrei em detalhes sobre as características de cada um destes
tipos de estudo mas há muito material acessível sobre o assunto,
começando pelo próprio artigo onde tirei a imagem. .............................. 11
ii Edgar Manuel Cambaza
Figura 2. Instrução para a quebra de secção. Note-se outras opções, como a
quebra de página. ..................................................................................... 23
Figura 3. Como formatar a mancha gráfica e os parágrafos. ........................... 24
Figura 4. Definir os níveis dos títulos. Note-se a opção à direita no menu em
evidência, destacada dentro de um quadrado. .......................................... 26
Figura 5. Alinhamento do título com o texto. Na imagem à esquerda vê-se
como abrir a janela para a formatação do título e à direita vê-se como se
alinha o texto. ........................................................................................... 26
Figura 6. Exemplo da primeira e segunda capa de um trabalho de fim do curso
no DCB. Trabalho de Mutombene (2014). .............................................. 28
Figura 7. A opção “borders” na barra de ferramentas. ................................... 29
Figura 8. A janela usada para definir as características das bordas. ................ 29
Figura 9. Como ajustar as bordas ao texto. Na opção “measure from” escolha-
se “margin” em vez de “edge of page”. ................................................... 30
Figura 10. Observe-se os ícones de cabeçalho (“header”) e rodapé (“footer”)
na barra de ferramentas. ........................................................................... 31
Figura 11. Ao editar-se o cabeçalho, surge uma opção de configurações na
barra de ferramentas (“header and footer”). Observe-se que em “options”
há uma opção “link to previous” (ligar à secção anterior). Quando não
seleccionada instrução permite que o cabeçalho (ou rodapé) seja diferente
do cabeçalho da secção anterior. .............................................................. 32
Figura 12. O ícone de paginação (page #), próximo de cabeçalho e rodapé. .. 33
Figura 13. Janela básica para a formatação da paginação. .............................. 33
Figura 14. Janela para a formatação avançada da paginação. .......................... 34
Figura 15. Observe-se as opções de “table of contents”, que originam o título.
.................................................................................................................. 35
Figura 16. Como actualizar o índice. ............................................................... 36
Figura 17. Grelha para a criação de tabelas. .................................................... 36
Figura 18 Para seleccionar toda a tabela, aproxima-se o cursor da tabela e
automaticamente aparece um ícone de movimentação no canto superior
esquerdo. É só clicar no ícone que a tabela fica toda marcada como
seleccionada. Extracto do trabalho de Anapakala (em preparação). ....... 38
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza iii
Figura 19. Como inserir legenda. Depois de fazer o clique direito (ou algo
correspondente) sobre a figura ou tabela seleccionada, vê-se a opção
“insert caption” (inserir legenda). ............................................................ 38
Figura 20. Onde se definem as características básicas de uma legenda. ......... 39
Figura 21. Como formatar o texto das legendas. O estilo “caption” (legenda)
encontra-se na barra de ferramentas. ....................................................... 39
Figura 22. Função que permite enquadrar uma imagem em relação ao texto. 40
Figura 23. Janela para a introdução de referências cruzadas. .......................... 41
Figura 24. Janela de configuração das tabelas e figuras. ................................. 43
Figura 25. Pirâmide de autoridades para discussão. ........................................ 81
Figura 26. A estrutura teórica da conclusão deve-se assemelhar a uma
ampulheta. ................................................................................................ 83
Figura 27. Exemplo de um cartaz. Neste caso, não há bibliografia porque todo
o texto foi produzido pelos autores sem a consulta de terceiros. ........... 101
Figura 28. Página do Comité de Ética da UEM. ............................................ 120
Figura 29. Como aceder à plataforma da ética. À esquerda, pode-se ver o link
que dá acesso à plataforma e à direita, a página de criação de conta e
login. ...................................................................................................... 120
Lista de suplementos
Suplemento 1. Tabelas. .................................................................................. 107
Suplemento 2. Como submeter documentos ao Comité de Bioética ............. 119
Suplemento 3. Sobre o autor .......................................................................... 123
iv Edgar Manuel Cambaza
Prefácio
Eu iniciei o trabalho de supervisão em 2008, assim que entrei para o
Departamento de Ciências Biológicas (DCB) da Faculdade de Ciências, Universidade
Eduardo Mondlane (UEM). Eu acabava de me licenciar e tinha algumas dificuldades,
mas fiz os possíveis, com o valioso apoio da doutora Cristina Beatriz. Em poucos
anos fui fazendo este trabalho e melhorando e hoje não há nada que eu mais goste no
contexto académico. Agora, é-me tão natural quanto respirar ou cantar e agradável
como uma bela sinfonia.
A minha experiência permitiu-me ver que tudo o que um supervisor precisa é
de mostrar o caminho do estudante em busca do conhecimento e ajudá-lo a organizar
as ideias. Ele é como um instrutor que se senta no banco de passageiros e vai dizendo
ao estudante como ele deve dirigir a viatura. O supervisor não deve ser
necessariamente dono do conhecimento, do mesmo modo que o instrutor do código de
estrada não é dono da estrada. Ele deve saber identificar os caminhos e desbravá-los
quando necessário para que o estudante possa passar.
Contra factos não há argumentos. O número crescente de profissionais que
supervisionei no fim da licenciatura permite-me medir o valor desta profissão
fabulosa. Tenho até estudantes que continuaram os estudos com sucesso, fazendo o
mestrado e até foram admitidos para programas de doutoramento. A primeira vez em
que trabalhei com quatro estudantes no mesmo ano fiquei receoso que não fosse ser
eficiente, mas tal receio acabou. Supervisão não é mais do que uma gestão de ideias,
pensamentos, conhecimentos. É tão possível supervisionar um bom número do
mesmo modo que um treinador instrui uma equipa inteira de futebol, incluindo os
suplentes. Ele não precisa de saltar tanto quanto o guarda-redes ou rematar com a
mesma força do avançado. Só deve saber ensinar como fazê-lo. Uma vez percebendo
as regras do jogo tudo fica admiravelmente fácil.
Não é preciso ser-se excepcional para se conceber e escrever documentos
científicos. É só necessário cumprir-se rigorosamente com algumas instruções. É
preciso saber-se comunicar. Há bons cientistas que se comunicam mal e maus
cientistas que sabem-se expressar. É necessário que se tenha a humildade de se aceitar
que o processo de aprendizagem nunca acaba.
Como supervisor, aprendo mais do que ensino. Ao orientar o estudante, acabo
entrando em contacto com muito conhecimento. Em primeiro lugar, devo estar por
cima do assunto para esclarecer as suas dúvidas. Em segundo, há circunstâncias em
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza v
que estudante não consegue encontrar informação e eu me vejo obrigado a ajudá-lo.
Neste processo, muito acaba entrando para o meu repertório. Por último, devo
fiscalizar a sua actividade académica, confrontando a sua produção com o que já
existe e a minha experiência pessoal.
Vou chamar a minha metodologia de HACCP 1 . Prefiro assegurar que o
estudante comece bem para que não cometa erros básicos nas etapas mais adiantadas.
Procuro pensar nos erros mais comuns e evitá-los. No que respeita às normas, faço
questão de impor que sejam respeitadas devidamente a todo ou qualquer momento.
Quando o estudante as cumpre só resta discutir o mais importante – a ciência.
Este documento chama-se O Supervisor mas é, na verdade, destinado ao
estudante que quer saber como bem escrever um documento científico. O livro em si é
um supervisor destinado a fazer companhia ao estudante durante a elaboração do seu
documento de culminação do curso. Estou a tentar partilhar os seis anos que dediquei
à orientação dos “novos cientistas”. Tenho a boa ventura de transmitir o que produzi
no contacto com mais de trinta estudantes que acompanhei desde o momento em que
o seu trabalho era apenas uma ideia, passando pela etapa da proposta até à elaboração
do relatório final, usado como requisito para a obtenção da licenciatura.
Preferi não me perder em consultas exaustivas para a elaboração deste
documento para não cair na redundância de ecoar o vasto material sobre escrita
científica. Livros técnicos sobre o assunto não faltam, sobretudo agora em que
testemunhamos a revolução da informação e comunicação. Exijo que o meu livro seja
como um diálogo com o estudante, com o conhecimento das suas verdadeiras
dificuldades. Procurei basear-me no que sei sobre o Regulamento de Culminação dos
Cursos de Licenciatura do DCB (2013), obras que supervisionei ou estou a
supervisionar como exemplos e uma ou outra referência necessária.
Agora, chega de palavras e vamos ao que interessa!
Edgar Cambaza
O autor
1 Hazard Analysis of Critical Control Points – análise feita para verificar que
riscos apresentam os pontos mais críticos durante a produção de alimentos e como
minimizá-los. Por outras palavras, ela permite antecipar e evitar os problemas durante
a produção.
vi Edgar Manuel Cambaza
Índice
1 Introdução .................................................................................................... 1
2 Alguns elementos comuns ou estéticos dos trabalhos académicos .............. 3
2.1 Idioma, linguagem e ortografia ............................................................. 3
2.1.1 Ideias básicas ................................................................................. 3
2.1.2 Sugestões........................................................................................ 5
2.2 Rigor científico ..................................................................................... 6
2.2.1 O valor do rigor científico.............................................................. 6
2.2.2 Minhas recomendações para garantir o rigor científico ................. 7
2.3 Tema e título do trabalho ...................................................................... 8
2.4 O que consultar, como consultar e como referenciar os autores ........... 9
2.4.1 Como selecionar fontes de informação .......................................... 9
2.4.2 Estilo de citação e bibliografia ..................................................... 13
2.4.3 Atenção ao plágio ........................................................................ 17
2.5 Notas de rodapé................................................................................... 18
3 Aspectos técnicos de formatação e acessórios ........................................... 21
3.1 Formatação no Word........................................................................... 22
3.1.1 Criação de secções ....................................................................... 23
3.1.2 Tipo de letra e mancha gráfica ..................................................... 24
3.1.3 Formatação dos títulos ................................................................. 25
3.1.4 Capa ............................................................................................. 27
3.1.5 Cabeçalho e rodapé ...................................................................... 30
3.1.6 Paginação ..................................................................................... 32
3.1.7 Índice............................................................................................ 34
3.1.8 Tabelas e figuras .......................................................................... 36
3.1.9 Anexos ......................................................................................... 43
4 Proposta de projecto ................................................................................... 46
4.1 Elementos pré-introdutórios................................................................ 47
4.2 Introdução ........................................................................................... 47
4.2.1 Generalidades ............................................................................... 47
4.2.2 Problema ...................................................................................... 50
4.2.3 Justificativa .................................................................................. 51
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza vii
4.3 Objectivos ........................................................................................... 52
4.4 Hipóteses, expectativas ou perguntas de pesquisa .............................. 54
4.4.1 Hipóteses ...................................................................................... 54
4.4.2 Expectativas ................................................................................. 56
4.4.3 Perguntas de pesquisa .................................................................. 58
4.5 Área de estudo ou local de actividade ................................................. 59
4.5.1 Área de estudo.............................................................................. 59
4.5.2 Local de actividade ...................................................................... 62
4.6 Material e métodos/metodologia......................................................... 63
4.6.1 Material ........................................................................................ 64
4.6.2 Procedimento ............................................................................... 65
4.7 Resultados esperados .......................................................................... 70
4.8 Cronograma e orçamento .................................................................... 71
4.8.1 Cronograma de actividades .......................................................... 71
4.8.2 Orçamento .................................................................................... 72
4.9 Bibliografia ......................................................................................... 73
4.10 Anexos .............................................................................................. 73
5 Relatório de pesquisa ................................................................................. 74
5.1 Elementos pré-introdutórios................................................................ 74
5.1.1 Agradecimento ............................................................................. 74
5.1.2 Dedicatória ................................................................................... 75
5.1.3 Epígrafe ........................................................................................ 75
5.1.4 Declaração de honra ..................................................................... 75
5.1.5 Resumo (e palavras-chave) .......................................................... 76
5.2 Introdução ........................................................................................... 77
5.2.1 Generalidades ............................................................................... 77
5.2.2 Problema ...................................................................................... 77
5.2.3 Justificativa .................................................................................. 77
5.3 Revisão bibliográfica .......................................................................... 77
5.4 Objectivos ........................................................................................... 77
5.5 Hipóteses, expectativas ou perguntas de pesquisa .............................. 78
5.6 Área de estudo ou local de actividade ................................................. 78
5.7 Material e métodos .............................................................................. 78
viii Edgar Manuel Cambaza
5.8 Resultado............................................................................................. 78
5.9 Discussão ............................................................................................ 79
5.10 Conclusão .......................................................................................... 82
5.11 Limitações/constrangimentos do estudo ........................................... 84
5.12 Recomendações................................................................................. 85
5.13 Bibliografia ....................................................................................... 86
5.14 Anexos .............................................................................................. 86
6 Relatório de estágio.................................................................................... 87
6.1 Capa e elementos pré-introdutórios .................................................... 87
6.2 Apresentação e caracterização de unidade de estágio ......................... 87
6.3 O programa de estágio ........................................................................ 87
6.4 O apoio que a unidade de estágio concedeu ao estudante .................. 88
6.5 Revisão bibliográfica sobre a temática tratada no estágio .................. 89
6.6 Actividades desenvolvidas .................................................................. 89
6.7 Análise crítica da unidade de estágio .................................................. 89
6.8 Conclusões .......................................................................................... 91
6.9 Recomendações................................................................................... 91
6.10 Bibliografia ....................................................................................... 92
6.11 Anexos .............................................................................................. 92
7 Monografia ................................................................................................. 93
7.1 Início e corpo ...................................................................................... 93
7.1.1 O que se deve ter em conta .......................................................... 93
7.1.2 Sobre as revisões críticas ............................................................. 94
7.2 Conclusão ............................................................................................ 98
7.3 Recomendações................................................................................... 98
7.4 Bibliografia ......................................................................................... 98
7.5 Anexos ................................................................................................ 98
8 Outros documentos .................................................................................... 99
8.1 Apresentação em PowerPoint ............................................................. 99
8.2 Cartaz ................................................................................................ 101
9 Comentário final ...................................................................................... 104
10 Obras referenciadas .................................................................................. 106
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza ix
Suplemento 107
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 1
1 Introdução
A escrita científica pode ser definida como a documentação de um projecto de
produção de conhecimento, seja ele uma pesquisa, um estágio, uma revisão crítica da
literatura ou outra modalidade. Tal documentação deve estar coerente e ser
suficientemente precisa para que qualquer pessoa letrada2 tenha a capacidade de ler e
entender. Ela pode-se apresentar em vários tipos de publicações tais como ensaios,
dissertações e teses, artigos científicos, papéis de conferências, posters, etc. Todos
eles têm características específicas mas partilham a necessidade de se respeitar a
coerência, o rigor científico e os elementos de ortografia e gramática.
Não existe uma maneira única de escrever, mas existem elementos
comummente tomados como normas. Cada escola ou disciplina pode ter o seu estilo e
existem até modelos internacionalmente conhecidos. Tais estilos apresentam uma ou
outra diferença no modo de apresentação, certamente relacionada com o que é mais
relevante para cada escola ou disciplina, mas o resultado final deve ser um documento
de fácil legibilidade e consulta e, acima de tudo, autoexplicativo de modo a exigir
pouco de consulta de outros documentos para que o próprio possa ser entendido pelo
público.
Neste livro, dá-se ênfase à preparação de documentos de dissertação de cursos
de licenciatura, sobretudo os mais frequentes nos cursos da Universidade Eduardo
Mondlane (UEM): relatórios de pesquisa, estágio e monografias. Existe um estilo
particular do Departamento de Ciências Biológicas (DCB), semelhante ao da
Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal (FAEF). É este estilo que vou focar.
Entretanto, alguns aspectos ainda não foram uniformizados. Mas não se duvide que
seja apenas uma questão de tempo até que se normalize tudo definitivamente ou se
adopte outra norma de acordo com a conveniência.
Começo por falar sobre alguns elementos exigidos em obras académicas, tal
como aspectos de ortografia, rigor científico, etc.. Depois, debruço-me sobre como
escrever a proposta de um projecto. Pode ser frequente eu enfatizar pesquisa como
exemplo, porque ela é uma tradição no DCB. Em seguida, falarei sobre a redação de
vários tipos de relatórios: de pesquisa, estágio e revisão crítica da literatura
2 Seja ela leiga ou especialista na matéria.
2 Edgar Manuel Cambaza
(monografias). Por fim, falo sobre a apresentação em PowerPoint e a elaboração de
cartazes.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 3
2 Alguns elementos comuns ou estéticos dos trabalhos académicos
Nesta secção, serão descritos alguns elementos que devem constar no trabalho
e requerem atenção especial, quer por serem exigidos, por serem usados comummente
ou ainda simplesmente por serem boas sugestões. Para os que não constam no
Regulamento de Culminação de Cursos de Licenciatura do DCB (2013), é desejável
que um dia constem porque alguns são tão frequentes que às vezes são exigidos por
docentes. Dir-se-á que o senso comum também desempenha um papel importante e
por isso também será levado em conta.
2.1 Idioma, linguagem e ortografia
2.1.1 Ideias básicas
Os trabalhos de licenciatura do Departamento de Ciências Biológicas (DCB)
são geralmente escritos na língua portuguesa. As palavras e expressões latinas e
noutros idiomas devem estar em itálico, exceptuando nomes próprios, acrónimos ou
siglas. Os nomes de obras também devem estar em itálico e com as iniciais dos
substantivos em letras maiúsculas.
A escrita deve respeitar a Gramática Portuguesa. Eventualmente, dever-se-á
respeitar o novo Acordo Ortográfico, mas até ao momento em que estou a digitar
Portugal é o único país a usar o acordo. Deve-se respeitar a sintaxe, a ortografia e
morfologia. Actualmente, este requisito pode ser facilmente cumprido com a ajuda
dos correctores ortográficos dos computadores, apesar de muitos já estarem alinhados
ao novo Acordo Ortográfico.
O texto académico tende a ser impessoal3. O regulamento do DCB (2013) não
fala sobre o assunto mas os textos académicos têm sido assim. Por exemplo, em vez
de se dizer “eu fiz”, diz-se “foi feito”. Não tenho uma posição fixa neste assunto e os
académicos encontram-se divididos quanto a este ponto. Há argumentos fortes para os
dois lados, mas sinto que os académicos só não discutem muito porque há matérias
muito mais relevantes. Eu poderia divagar neste assunto mas prefiro ser prático: o
discurso impessoal predomina e há docentes que levam isto muito a sério, pelo que
recomendo que o estudante use este tipo de discurso evitando qualquer motivo para a
3 Eu sei: “porque o doutor diz que o texto é impessoal se este mesmo
documento tem um discurso pessoal?” Boa pergunta. Porque é um texto de escrita
livre, mesmo sendo académico. Pelo mesmo motivo, usei muito pouca bibliografia.
Isto é uma obra literária, embora predomine conteúdo técnico e tenha uma estrutura
rigorosamente académica.
4 Edgar Manuel Cambaza
perda arbitrária de pontos. Quando muito, conversa com o teu supervisor sobre o
assunto.
Um bom texto científico deve ter linguagem breve, clara e directa. Por
concisão, entenda-se o uso dos termos correctos para se dizer o que se pretende.
Consulte-se dicionários ou enciclopédias se necessário. Um discurso breve é mais
eficaz e construtivo. Falar bem não é falar muito. Não se desperdicem palavras, por
mais que sejamos tentados em florear o texto. Palavreado só perturba a paciência dos
académicos. Por fim, o texto claro não abre espaço para ambiguidades ou mal-
entendidos. O cientista não deve pensar que todos têm a mesma capacidade e
preparação para ler textos como ele. Um texto sem concisão, brevidade e clareza
deteriora o interesse do leitor.
A linguagem deve ser formal e técnica, de acordo com a disciplina. A
linguagem deve ser formal para se evitar as ambiguidades dos vícios de linguagem.
Evitem-se expressões retóricas e idiomáticas, a menos que sejam inevitáveis. Por
exemplo, os respondentes de uma entrevista podem usar calões ou gírias. Se não for
possível revisitá-los em busca de esclarecimento, é recomendável manter-se os termos
usados seguidos por “[sic]”4.
Prefira-se palavras portuguesas sempre que possível, mesmo que não seja raro
usar-se as estrangeiras em textos da língua portuguesa. Por exemplo: prefira-se nomes
como OMS ou ONU em vez de WHO ou UN, respectivamente; prefira-se ADN e
ARN em vez de DNA ou RNA; correio electrónico em vez de email. Mas atenção:
existe, por exemplo, email como endereço ou correio. Nestes casos, podemos traduzir.
Por outro lado, existe o email como a própria mensagem. Nestes casos, use-se a
expressão estrangeira até que haja um bom substituto.
Há também palavras que ainda não foram formalmente aportuguesadas (novas
tecnologias, por exemplo) ou que sempre foram usadas noutros idiomas (por exemplo,
internet, GPS, PCR). Nestes casos não há alternativa senão usá-la, respeitando a regra
descrita no parágrafo acima. Há também circunstâncias em que as palavras novas
podem criar alguma confusão ou mal-entendidos. Por exemplo: “Colocar o rato na
grelha” pode ter significados diferentes dependendo do contexto. “Rato” pode ser o
animal ou dispositivo do computador. “Grelha” pode ser a de cozinha, uma tabela no
4 Expressão latina usada em parentes rectos indicando que determinada
palavra incomum foi redigida com fidelidade.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 5
computador ou qualquer outro objecto com quadradinhos5. Assim, pode ser que às
vezes convenha usar “mouse” em vez de “rato”. Mas estes casos são muito raros e o
Português é suficientemente rico para se escrever confortavelmente.
As abreviaturas requerem cuidado. Sempre que possível é desejável que se
evite, a não ser que se tratem daquelas universalmente conhecidas ou altamente
inconvenientes de se usar por extenso (por exemplo: UNESCO, FRELIMO). Certas
palavras devem ser escritas de maneiras específicas. Por exemplo, pH deve sempre
apresentar a inicial em minúscula seguida pelo “H” em maiúscula, independentemente
se estiver ou não no início de uma frase6.
2.1.2 Sugestões
As formas ativas das frases são geralmente melhores que as passivas. Por
exemplo, em vez de "O método foi validado por Artur" prefiram "Artur validou o
método". Contudo, há casos muito particulares diferentes. Por exemplo, em vez de
dizer "O Governo aprovou a lei" é melhor "A lei foi aprovada" (sem mencionar o
Governo). Ou, em vez de "O docente não deu aula aos estudantes" é muito melhor
"Não houve aula". Procura sempre este cuidado para evitar frases gigantescas e
desnecessárias.
Evite-se ao máximo nomes compostos, porque comprometem a boa
fluência da frase. Se isto é repetido frequentemente, o texto torna-se
entediante. Por exemplo, "A organização responsável pela implementação
das medidas necessárias para que a anemia estivesse sob controlo terminou
o projecto". Tudo isto para dizer que “A organização terminou o projecto
de controlo da anemia”. São essas coisas vezes que nos fazem desistir de
ler um texto. Não é confortável processar-se muita informação
desnecessária antes de entender a principal ideia da frase. O verbo de
acção (predicado) não deve estar longe do início da frase;
Evite-se juntar muitas ideias na mesma frase. Exemplo: "O método será
validado, a experiência será realizada de noite, o objectivo será encontrar a
causa da doença e isso será uma mais valia para o nosso país". Quando
estamos a ler a última, esquecemo-nos da primeira. De acordo com Miller
(1956), o cérebro humano foi concebido para processar uma a três ideias
5 Isto aconteceu comigo ao redigir este documento. 6 pH é uma grandeza química que indica o nível de acidez de uma solução.
6 Edgar Manuel Cambaza
de cada vez, cinco a sete com dificuldade e no máximo nove. Dez, já se
trata de um massacre;
Atenção aos advérbios e locuções adverbiais. Muitas palavras ou
expressões como “naturalmente” e “apesar de tudo” são boas para textos
livres e artísticos mas desnecessárias em textos académicos. Às vezes são
mesmo inconvenientes ou podem baixar a qualidade do texto,
comprometendo o rigor científico. Por exemplo, antes de usares palavras
como “obviamente” deves considerar a possibilidade de algumas pessoas
não considerarem as mesmas coisas óbvias como tu.
Assim, não é necessário escrevermos tudo o que encontramos pela frente, nem
tentar enfeitar muito as frases. De que vale escrevermos tanto o que ninguém se vai
lembrar? Repito: falar bem não é falar muito.
2.2 Rigor científico
2.2.1 O valor do rigor científico
Rigor científico é o respeito pelos elementos de que indicam a precisão da
informação exigida por uma comunidade académica ou científica. Por exemplo, um
mapa sem escala que respeite o Sistema Internacional de Pesos e Medidas (SI) tem
fraco rigor científico; o mesmo problema pode ser visto em cálculos de peso, altura ou
velocidade sem unidades, desrespeito de normas em vigor, métodos não validados,
escritas ilegíveis, imagens incompreensíveis, grandezas arbitrárias, abreviaturas sem
esclarecimento, ideias aparentemente alheias sem referências ou qualquer outro
aspecto do trabalho que ponha em causa a sua aceitabilidade pela comunidade
científica.
Quem não respeita o rigor científico está-se a excluir automaticamente da
comunidade. Só os adivinhos e videntes podem fazer isto. O rigor científico para o
cientista é o que a fita métrica é para o alfaiate. Por mais requintado que seja o seu
gosto e apurada que seja a sua intuição, ele dificilmente fará bons trabalhos e, mesmo
fazendo, terá problemas em conquistar a confiança das pessoas. O rigor é a língua que
o cientista deve falar para ser ouvido pelos demais.
Há diferenças entre aquele que entende as ciências e o cientista. Por mais sábia
ou inteligente que seja a pessoa, por maiores que sejam as suas habilidades com os
reagentes, se ela não souber comunicar efectivamente as suas descobertas ou o seu
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 7
aprendizado não será digna do título de cientista. Por outras palavras, saber e saber
fazer não são suficientes. Há que saber ser. Tive estudantes brilhantes e promissores
que tiveram dificuldades em escrever o trabalho do fim do curso e alguns nem
percebiam bem porquê. Eis a resposta: porque já não se estava a avaliar se eles
entendiam de bioquímica, fisiologia ou genética. Estava-se a avaliar a capacidade
destes comunicarem com a comunidade científica. Para um candidato a músico, dir-
se-ia: já não estamos a tentar ver se sabes ler pauta ou distinguir tons, mas se
consegues compor e tocar uma música. No fim de tudo, é isso que importa, não é?
2.2.2 Minhas recomendações para garantir o rigor científico
Adianto que estas recomendações são arbitrárias, sem ciência alguma e
baseadas na minha experiência. Ninguém é obrigado a segui-las mas, se alguém
perguntar quem sugeriu, digam que fui eu. Eu tenho estado a dizer aos meus
estudantes para evitar que uns façam trabalhos de alta qualidade e outros não. Assim,
garanto sempre um mínimo que tem sido aceitável no seio dos docentes.
2.2.2.1 O que fazer
Cada parágrafo que redigires deverá ter no mínimo 5 referências
académicas exclusivas (que não estejam nos outros parágrafos). Depois
podes acrescentar outras, mas sempre académicas;
Evita ao máximo fontes não académicas;
Procura usar as tuas próprias palavras mas coloca as devidas referências
para evitar o plágio;
Usa frases curtas, claras e diretas (se excederes 30 palavras ou duas linhas,
a frase já é longa). O ideal é menos do que 20 palavras. Não precisas de
escrever tudo o que encontras, com detalhes. Mantém o trabalho e a
linguagem simples. Não precisas de provar a ninguém que tens muito
conhecimento;
Parágrafos com 5 a 9 linhas são o ideal. Evita exceder 10 a menos que haja
grande necessidade. Dá uma vista ao artigo de Miller (1956);
Se vires conceitos muito complexos, deixa de lado ou procura alternativas.
Isso só trará dificuldades ao leitor e provavelmente provocar desinteresse.
A ciência vem para facilitar a vida, não para dificultar.
8 Edgar Manuel Cambaza
2.2.2.2 O que evitar
Artigos científicos e obras académicas com mais de cinco anos. Prefira-se
os com menos de três (exceto os de revisão);
Artigos de revisão, documentos oficiais e livros publicados há mais de dez
anos, a não ser que tenham valor histórico ou sejam indispensáveis;
Livros, documentos do Governo, ONGs e artigos ou teses de licenciatura
moçambicanos com mais de trinta anos, salvo a circunstância que
mencionei logo acima;
Alguns blogues e websites. Se estas fontes te parecerem indispensáveis,
consulta o teu supervisor sobre o assunto ou contacta-me através do
edycambaza@yahoo.com.br. Procura ler também o ponto 2.4.1, onde me
debruço sobre onde encontrar a informação de melhor qualidade e como
lidar com as fontes electrónicas.
2.3 Tema e título do trabalho
A escolha do tema depende, em parte, dos interesses do supervisor, dos
orientadores ou do estudante. Para o estágio, a escolha estará relacionada com as
actividades da unidade, o que é provavelmente mais fácil. Para o caso de pesquisa,
tudo depende dos interesses e das oportunidades. Para os que pretendem fazer
monografias, há mais possibilidades ainda com o tamanho da imaginação, desde que
as temáticas sejam plausíveis e relevantes. Discutir-se-á mais sobre pesquisas, mas
grande parte destes aspectos podem ser aplicáveis para as outras modalidades.
Não há uma regra exacta para se escolher um tema. Tudo pode ser estudado na
natureza e sociedade. Absolutamente tudo. A diferença pode estar na relevância. Vou
roubar o “teste das quatro perguntas” do Rotary Club como um bom ponto de partida
para a reflexão sobre como escolher um tema. As perguntas (adaptadas) são: é
possível fazer esta pesquisa? A pesquisa, em si, respeita a ética e as leis no nosso
contexto? Ela vai promover melhor entendimento sobre o tópico entre os académicos
ou melhores relações entre estes? Será o tema benéfico a todos os envolvidos? O facto
de Moçambique se encontrar em desenvolvimento traz grandes vantagens para quem
pretende desenvolver estudos. Por isso, por enquanto, ainda temos um grande número
de temas em praticamente qualquer área de conhecimento.
O título deve reflectir o que se pretende fazer. Deve ser claro, preciso e
cientificamente rigoroso. A pessoa que lê o título deve ter uma percepção clara sobre
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 9
o que o estudante pretende fazer. Deve-se evitar exagerar ou escrever um título
excessivamente modesto. Deve haver realismo. Quanto mais preciso, melhor.
Não há um número ideal de palavras do título, mas é seguramente um exagero
exceder-se vinte e cinco. A experiência tem-nos mostrado consistentemente que é
possível resumir-se sem se comprometer o conteúdo. Se vires que não consegues
resumir mais o título, conversa com o teu supervisor.
2.4 O que consultar, como consultar e como referenciar os autores
Mesmo que tenhamos boas ideias, é necessário explorar as dos outros. Os
cientistas tendem a respeitar melhor aqueles que demonstram que leram e entenderam
algumas obras de referência no ramo de estudo e que, acima de tudo, estão a dar
continuidade ao tradicional trabalho da comunidade científica. Assim, espera-se que
um documento científico tenha referências a outras obras algures ao longo do texto.
Aliás, a abundância de referências sugere que o estudante pesquisou muito sobre
assunto antes de escrever e que ele esta profundamente envolvido no estudo.
Concluindo, procura explorar documentos relacionados com o assunto que estás a
estudar, sobretudo aqueles elaborados pelas autoridades mais reconhecidas.
Uma advertência: desde já, adianto que um estudante universitário
moçambicano deve entender inglês. Não é necessário ser um Shakespeare, mas muito
vantajoso entender inglês. Graças à actividade científica de brasileiros, portugueses,
alguns moçambicanos ou lusófonos7, temos alguma informação no nosso idioma, mas
esta é muito limitada. Para piorar, mesmo os cientistas lusófonos escrevem
frequentemente em inglês para publicar nas revistas internacionais. Logo, é com dor
no coração que anuncio a necessidade de se aprender o inglês como mais-valia para o
sucesso académico.
2.4.1 Como selecionar fontes de informação
Os documentos científicos podem receber informações de praticamente todo o
tipo de plataforma de comunicação, desde livros, revistas, mapas, seminários, jornais,
filmes, comunicações pessoais, etc.. Obviamente, cada fonte terá o seu peso,
profundamente associado ao rigor e à qualidade com as quais foi produzida, validada
e como foi transmitida. Todas as obras consultadas devem ser rastreáveis e
preferencialmente académicas.
7 E também espanhóis, cubanos, argentinos, mexicanos, etc. também ajudam,
uma vez que o castelhano não é um grande problema para nós.
10 Edgar Manuel Cambaza
Para que uma referência seja rastreável, é necessário que o estudante inclua no
documento informações suficientes para que o leitor a possa encontrar a partir dos
canais comuns de busca. Os elementos de rastreabilidade dependem da obra mas é
frequente registar-se o autor, ano de publicação, título da obra e da obra mãe8, e
outros detalhes mais específicos que podem incluir as páginas em da revista em que se
encontra um artigo ou o endereço online de alguma página.
Uma obra académica é aquela que respeita o rigor científico, geralmente
produzida por académicos ou pesquisadores e publicada em plataformas educacionais
ou científicas. Alguns exemplos típicos são artigos científicos de revistas com revisão
de pares, livros didácticos ou de referência para certas disciplinas, papéis de
seminários ou posters.
Além de fontes académicas, prefira-se também as governamentais, de algumas
organizações internacionais sem fins lucrativos como a OMS ou UNESCO. Na
internet, prefira-se os domínios edu (educacional), gov (governamental) e org (de
organizações sem fins lucrativos) antes de com (comercial). Mas atenção: ignorar o
domínio com (ou qualquer outro) pode ser um erro muito grave. Os antes
mencionados são apenas os mais seguros, mas não necessariamente os únicos cujo
conteúdo é fiável. Por exemplo, grande parte das revistas científicas encontram-se em
bases de dados como www.sciencedirect.com ou www.springer.com. Mas é também
verdade que o mesmo domínio apresenta muitos sites que simplesmente não são
académicos, tais como redes sociais, motores de busca ou alguns blogues. Frise-se
que org também pode albergar informação cuja origem pode ser discutível (por
exemplo, Wikipédia – www.wikipedia.org). Então, como avaliar a fiabilidade de uma
fonte?
A Tabela 4 do Suplemento 1 detalhes sobre como avaliar uma fonte da
internet9 e por isso aqui vou explorar o assunto superficialmente. No mínimo, uma
boa fonte deva apresentar todos os elementos de rastreabilidade acima mencionados.
O autor deve apresentar contacto (endereço, telefone, email, etc.). O autor é
académico (docente, pesquisador, estudante, etc.)? Observa se o documento apresenta
rigor científico. A plataforma – o site, portal ou local ou local onde ele foi adquirido –
8 Para casos, por exemplo, de capítulos de livros ou artigos em revistas
científicas. Há casos em que só se menciona a obra mãe. 9 Por analogia, é possível usar critérios semelhantes para avaliar outras fontes,
não necessariamente electrónicas.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 11
é académica ou educacional ou dedicada à ciência? Tem alguma reputação nesse
sentido? A informação que lá consta é coerente, consistente e bem contextualizada?
Desconfiemos de sites que apresentam publicidades (ads) de carros japoneses,
produtos de beleza, anabolizantes ou programas para fazer o computador funcionar
melhor. Isso é tão estranho como comprar um livro de bioquímica numa mercearia.
O peso das evidências também conta. Quanto maior o cuidado na produção de
uma informação, maior o seu valor. Por exemplo, aquele que descreve uma gaivota é
diferente de quem descreve centenas delas. E quem observa uma vez difere de quem
repete a experiência e observa em épocas diferentes do ano, compara com
observações dos outros, etc.. Prefira-se aquele que traz informação mais completa e
consistente. Existe uma pirâmide que mostra a hierarquia das evidências com base no
peso (Figura 1). Ela foi desenvolvida para contextos de biomedicina mas enquadra-se
perfeitamente noutras disciplinas. Por exemplo, um ensaio clínico compara-se à
observação cuidadosa de indicadores do estado de algum objecto e as conclusões que
de lá advém.
Figura 1. Hierarquia da evidência: investigações com localização superior indicam maior força de
evidência. Imagem de Sampaio and Mancini (2007). Não entrei em detalhes sobre as características de cada um
destes tipos de estudo mas há muito material acessível sobre o assunto, começando pelo próprio artigo onde tirei a imagem.
12 Edgar Manuel Cambaza
De acordo com a hierarquia, prefira-se artigos de revisão porque estes são os
melhores. Estamos a falar de um documento feito com base na análise crítica dos
resultados de várias pesquisas de alta qualidade. Em princípio, este trabalho é feito
por um especialista que explora cuidadosamente uma problemática, respeitando
meticulosamente a informação produzida por outros com similar rigor. Os detalhes
deste tipo de actividade serão descritos no capítulo sobre monografias. É comum as
revistas científicas apresentarem pelo menos uma revisão em cada número e existem
até revistas que só apresentam revisões.
Entretanto, o “padrão” do estudo académico é o uso de artigos científicos,
independentemente da força de evidência. O mais importante é estar claro em que
cada autor se baseou para escrever o seu artigo. Uma vantagem dos artigos sobre os
demais documentos científicos é a revisão “double blinded”10 de pares e o facto de
serem lançados em periódicos, pelo que existem sempre actualidades sobre um ou
outro assunto. Um livro académico editado tende a ter informação muito consistente e
fidedigna mas pode tender a apresentar mais a informação consensual e menos
conflitos por razões didácticas e, uma vez que não aparecem frequentemente como os
periódicos, corre muitas vezes o risco de não estar devidamente actualizado. É sempre
bom prestar atenção em aspectos como o ano de publicação e quão actual é a edição.
É necessário que se preste atenção noutras formas de valor que um ou outro
documento pode ter. Por exemplo, talvez valha a pena dar alguma prioridade a em
documentos desenvolvidos no mesmo contexto com o nosso. Por exemplo, se estamos
a estudar a epidemiologia de uma certa doença em Moçambique, é bom que se dê
alguma prioridade em estudos da mesma natureza desenvolvidos no nosso país,
mesmo que sejam antigos ou desenvolvidos em condições aquém das desejáveis. Isto
é particularmente relevante se estivermos a dar continuidade a alguma pesquisa.
Factores como o meio natural e social podem ter grande impacto sobre as variáveis
que pretendemos observar e, nestes casos, quão aplicável a Moçambique será um
10 Nota 1: Neste tipo de revisão, o autor não sabe quem faz a revisão e o
revisor não sabe quem escreveu o artigo até que este seja publicado. Isto evita
preconceitos ou conflitos pessoais entre os especialistas envolvidos na publicação. É
pela mesma razão que em citações e bibliografias usa-se iniciais dos nomes dos
autores, de modo que não se sabe se são do sexo masculino ou feminino. Nota 2:
Existem casos de revisão double blinded em que a experiência é replicada para se
verificar os resultados da experiência. Estes artigos apresentam a notação “R”
(experiência replicada).
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 13
estudo de ponta desenvolvido num contexto geográfico completamente diferente do
nosso?
Além das bases de dados da Tabela 5, no Suplemento, o site da Direcção de
Serviços de Documentação (DSD) da UEM (http://www.dsd.uem.mz) apresenta links
para:
O Repositório Saber, com uma colecção de teses, dissertações e
monografias moçambicanas, de várias instituições de ensino superior
incluindo a UEM e Universidade Pedagógica (UP);
Uma biblioteca digital que também dá acesso ao Repositório Saber, assim
como teses e dissertações Brasileiras e Portuguesas, além de outras bases
de dados;
Periódicos electrónicos de origens diversas, incluindo a Revista Científica
da UEM e muitas outras internacionais. Também dá acesso a portais e
bases de dados onde grande parte destas revistas se encontram hospedadas.
Além de todas estas bases de dados, podes sempre consultar o teu supervisor
ou orientador, docentes e pesquisadores para saberes onde podes encontrar a melhor
informação sobre o assunto que pretendes estudar. Estas pessoas são geralmente mais
experientes e às vezes já possuem em mãos a informação que procuras. Além disso,
elas podem ter acesso a bases de dados de outras universidades que frequentaram ou
organizações com as quais colaboram. Com tanta informação científica de alta
qualidade à disposição, não se justifica a preguiça pela qual muitos estudantes
limitam-se a buscar banalidades através do Google, da Wikipédia ou ferramenta
semelhantes. Por mais irónico que pareça, as pessoas mais experientes é que têm
melhor capacidade de explorar estes recursos porque melhor conhecem os autores, as
escolas de pensamento, revistas, etc.. A qualidade do material que utilizas define a
qualidade do trabalho que fazes e, no fim, a tua qualidade como académico ou
profissional.
2.4.2 Estilo de citação e bibliografia
O DCB tem um estilo próprio que se assemelha ao APA11. Este estilo é
partilhado pela Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal (FAEF) e
possivelmente outras unidades orgânicas. O estilo do DCB está descrito na parte final
11 Da revista de Associação dos Psicólogos Americanos. Foi o estilo que
escolhi para fazer a referenciação neste documento.
14 Edgar Manuel Cambaza
do seu Regulamento de Culminação de Curso (DCB, 2013). O respeito e a boa
apresentação das citações e da bibliografia são exigidos como parte do rigor técnico e
científico, pelo que a tolerância deve ser zero para quem faz mal. Por outras palavras,
esta parte deve estar perfeita.
As referências no texto são feitas de duas estruturas básicas:
Tudo entre parênteses (Apelido, ano). Esta estrutura é usada quando o
texto principal não menciona o autor como parte do discurso, isto é, o
estudante escreve o que tem de escrever e depois introduz a referência. Por
exemplo: “Um livro académico editado tende a ter informação muito
consistente (Cambaza, 2015)”. Note-se que a referência não faz parte da
frase;
A estrutura Apelido (ano). Esta estrutura é usada para fazer menção ao
autor no texto. Por exemplo: “Cambaza (2015) afirma que um livro
académico editado tende a ter informação muito consistente” ou “de
acordo com Cambaza (2015), um livro académico editado tende a ter
informação muito consistente”. Note-se que o autor é mencionado como
parte integrante da frase.
Em princípio, a escolha de uma ou outra estrutura depende meramente de
como o estudante prefere escrever. O mais importante é que se procure uma boa
fluência textual. Não há problema em usar as duas estruturas ao longo de um texto,
desde que nenhuma frase contenha as duas em simultâneo (seria estranho). Sugiro que
o estilo “Apelido (ano)” seja mais usado naqueles casos em que várias ideias são
retiradas de um mesmo autor. Por exemplo, se um parágrafo inteiro advém das suas
ideias. Isto acontece frequentemente quando se trabalha com livros ou artigos de
revisão, que contêm muita informação em torno de determinado assunto. Um bom
parágrafo poderia ser introduzido usando-se “Segundo Cambaza (2015)...”. Pode-se
continuar adiante com “O mesmo autor acrescentou que...” e assim em diante. Isto
evita o carácter redundante que surgiria se estivéssemos a usar a outra estrutura,
sobretudo não houver qualquer outro autor referenciado no mesmo parágrafo.
Os autores podem ser individuais, em grupos (dois ou mais indivíduos) ou
colectivos (organizações)12. A referenciação de autores individuais é feita como acima
12 Atenção para certos artigos que apresentam muitos autores porque às vezes
são trabalhadores de uma mesma organização. Por exemplo, há trabalhos da OMS ou
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 15
exemplificado. Para grupos de autores há duas possibilidades, dependendo do caso. Se
forem dois, é só escrever só escrever o apelido de um, seguido por “e” e o apelido do
outro [por exemplo: “as indústrias alimentares devem respeitar as aspirações públicas
(Cambaza e Lee, 2013)”; “Segundo Cambaza e Lee (2013), as indústrias...”]. Se
forem mais do que dois, usa-se a expressão latina “et al.” (de et alii = e outros) depois
do primeiro apelido [exemplo: “as indústrias alimentares devem respeitar as
aspirações públicas (Cambaza et al., 2013)” ; “Segundo Cambaza et al. (2013), as
indústrias...”]. Se for um autor colectivo, trata-se como o individual [por exemplo, “a
anemia por deficiência do ferro é a mais frequente (OMS, 2001)”; “A OMS (2001)
declara que a anemia...”]. É possível combinar-se autores individuais e colectivos [por
exemplo: “Gieseker e CDC (2004) reportaram um surto de aflatoxicose...”; “Houve
um surto de aflatoxicose (Gieseker e CDC, 2004)].
Tem sido aceitável usar-se o URL no lugar da referência no texto (sem se
precisar sequer de escrever a data) e até da bibliografia, mas este procedimento é
pouco profissional. O problema é que ele nos dá pouca informação sobre quem pode
ser o autor ou quem publicou o material e, a menos que tenhamos acesso à internet, é
muito difícil avaliar-se a fonte.
Se dois documentos forem citados ao mesmo tempo, devem ser colocados em
ordem crescente de datas, isto é, do mais antigo ao mais actual. Se dois autores
tiverem publicado no mesmo ano, coloque-se os nomes em ordem alfabética. Se o
mesmo autor publicou duas vezes no mesmo ano, usa-se a notação a, b, c... (ver mais
adiante, na explicação sobre a bibliografia.
Cuidado com a referenciação cruzada13. Da mesma maneira que buscamos
ideias dos autores, eles também buscam-se entre si. Eventualmente, podemos tirar
ideias similares de dois autores que parece que chagaram à mesma conclusão, quando
um está a usar a ideia do outro ou ambos estão a tirar de um terceiro. Assim, pode
parecer que estamos a explorar vários autores quando na verdade é só um. Por isso é
que vale sempre a pena procurar fontes primárias, isto é, os autores que produzem as
ideias pela primeira vez. Se não conseguimos, podemos partir para as secundárias e
terciárias e assim sucessivamente, prestando sempre atenção em quem copiou quem.
do CDC em que aparecem os nomes de todos os indivíduos envolvidos na pesquisa.
Nestes casos, podemos usar o nome da organização e evitar o tormento de escrever
nomes de dezenas de autores. 13 Não confundir com as referências cruzadas mencionadas no próximo
capítulo, que servem para indicar tabelas e figuras do texto.
16 Edgar Manuel Cambaza
Há pouca necessidade de se fazer referências do tipo “X, citado por Y”. Além
de tirar a estética do texto, não é assim tão adequado para as ciências naturais. Isso
pode ser mais útil em trabalhos de letras e ciências sociais, onde é muito importante
saber quem disse o quê.
Use-se a comunicação pessoal como o último recurso possível e é necessário
deixar-se claro que se trata deste tipo de fonte. Exemplo: “as chuvas torrenciais
Chókwè ocorrem anualmente (Cambaza, 2015, em comunicação pessoal)” ou
“Cambaza (2015, em comunicação pessoal), afirmou que as chuvas...”
De acordo com o regulamento do (DCB, 2013), o estilo apresenta as seguintes
características:
Artigo: Apelido, N., N. Apelido e N. Apelido (ano). Título do artigo.
Nome da Revista Científica, volume (número): página-página.
Site: Apelido, N., N. Apelido e N. Apelido (ano). Nome da página
(exemplo: as borboletas). Nome do Site (exemplo: Wikipédia).
www.url_da_página.edy, pesquisado a dia/mês/ano.
Livro: Apelido, N., N. Apelido e N. Apelido (ano). Nome do Livro,
volume, edição. Publicador. Cidade. (número de páginas)p.
Capítulo de livro: Apelido, N., N. Apelido e N. Apelido. Nome do
capítulo, in: Apelido, N., N. Apelido e N. Apelido (coord.)14 (ano). Nome
do Livro, volume, edição. Publicador. Cidade. pp. página-página.
Nas referências de livros inteiros não se põe "pp.". Isso é usado para artigos ou
capítulos de livros.
Para livros, teses, etc. (obras inteiras) é p. (página);
pp. - de página x à página y
O "p." também é usado para o que realmente se chama de citação. As
citações devem vir entre aspas. Por exemplo, "A anemia é uma forma de
subnutrição" (Alberto et al., 2009, p. 16). Notem que, neste caso, o "p."
vem antes do número.
Além disto, observem-se as seguintes notas:
Nomes de artigos, páginas e capítulos de livros são escritos normalmente
(sem sublinhar, colocar a negrito ou em itálico);
14 Podem ser coordenadores, editores, autores, etc.. É uma questão de prestar
atenção no que diz o livro.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 17
Nos títulos de livros, jornais ou websites as iniciais devem estar a
maiúscula;
Não se põe nada a negrito ou itálico senão nomes científicos. Contudo, o
regulamento diz que os nomes dos livros, jornais ou websites são
sublinhados;
A lista de obras deve estar em ordem crescente dos nomes dos autores. Se
um mesmo autor publicou pelo menos duas obras no mesmo ano, estas
podem apresentar a notação alfabética a, b, c... juntamente com o ano. Por
exemplo: Mendes (2013a), Mendes (2013b), etc.. Se chegar a z (o que é
raro), passa-se para aa, ab, ac... e assim em diante;
Comunicações pessoais não são registadas a bibliografia;
Evitem-se documentos cujo autor não esteja identificado e prefira-se os
com data (ano de publicação). Ainda assim, quando não se conhece o
autor, pode-se escrever “Anónimo no lugar dos nomes”. Deve-se escrever
“em preparação” nas obras não publicadas. Escreve-se isto entre
parênteses, exactamente onde estaria a data da publicação. Quando a data é
desconhecida, faz-se o mesmo tratamento, escrevendo-se “data
desconhecida”;
Detalhes como volume, edição e páginas podem não constar da
bibliografia quando não encontrados. Mais grave é a falta de título. Nestes
casos, é bom investigar no arquivo como o documento foi catalogado. Por
exemplo, se for de um website, o URL pode ajudar. Entretanto, este tipo de
situação deve ser evitado ao máximo se houver alternativas.
A característica mais importante da bibliografia é a coerência. Mais vale um
erro repetido sistematicamente do que dois modelos usados simultaneamente, por
mais correctos que estejam. Siga-se as instruções que deixei acima com rigor.
2.4.3 Atenção ao plágio
Plágio é o uso de ideias alheias sem o devido reconhecimento. Ele é
considerado uma ofensa muito séria no mundo académico e jornalístico. Há pessoas
que são expulsas de universidades por causa disso. Jayson Blair, jornalista premiado
do New York Times, perdeu o emprego e todos os prémios. Uma estudante do
departamento teve um processo de quase um ano por causa disso. O documento
académico deve ser sempre original! Por isso:
18 Edgar Manuel Cambaza
Evite-se copiar oito palavras seguidas do mesmo documento, mesmo que
se esteja a traduzir. Nem mesmo usar-se sinónimos. É preferível ler, pensar
e escrever. Não há problema se as frases saem. Mas isso não significa que
não se deve fazer referência;
Se eventualmente se pretende copiar palavras do original (às vezes são
muito bem ditas), ponha-se entre aspas. Como opinião pessoal, acho que
isso compromete a estética;
O trabalho deve ser original em;
A referência deve ser feita em frente à ideia extraída e é tolerável no fim
da frase. Nunca no fim do parágrafo como se fosse referência a frases
anteriores;
Faça-se referência à obra de onde tirara a informação e não às suas fontes.
Isso também é plágio. Imagine-se que o autor que copiou tenha
transformado os dados de acordo com a conveniência ou inventado as
referências. A própria escolha e gestão de referências é parte integrante da
obra;
Não se tenha medo de escrever o que se pensa sem referências, sobretudo
se for senso comum, cultura geral ou indiscutível (por exemplo, os
pássaros voam, PCR é reação em cadeia da polimerase, Darwin descobriu
a seleção natural – apesar de esta última ser discutível);
Ideias muito antigas (exemplo: John Snow descobriu a causa da cólera em
1854) ou que foram ouvidas no jornal ou noticiário (por exemplo, houve
cheias no Chókwè) não precisam de referência porque são de domínio
público.
É extremamente trabalhoso seguir estas regras mas no fim vale a pena. E quem
bem segue pode-se orgulhar de cada palavra da declaração de honra dos relatórios de
culminação e assiná-la com toda a convicção.
2.5 Notas de rodapé
As notas de rodapé fazem parte da Gramática Portuguesa, embora não estejam
mencionadas no regulamento de culminação do DCB (2013) 15 . Elas são uma
ferramenta muito preciosa e utilizada em meios académicos e profissionais de todo o
15 Faz sentido. Não é função do regulamento ensinar a língua portuguesa, mas
é parte do bom-senso exigir-se o uso correcto do idioma.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 19
Mundo. No rodapé são colocadas ideias que podem comprometer a boa fluência
textual mas são interessantes ou importantes para a melhor compreensão. São uma
forma de anexo, mas tão pequena que não precisa de ser colocada como suplemento
no fim do trabalho. Se estas notas não são utilizadas no rodapé, o estudante só pode
mantê-las no texto (por exemplo, entre parênteses), ignorar tais ideias ou mandar para
o anexo. Manter todas as ideias no texto pode não ser uma ideia porque este vai
perder a fluência e tornar-se desinteressante, ignorá-las pode implicar a perda de
informação muito valiosa e mandá-las para o anexo pode ser desnecessário por serem
textos muito curtos.
Vamos fazer uma analogia. Estamos numa expedição pelo rio Umbeluzi com o
Doutor Salomão Bandeira. Enquanto caminhamos, tens um bloco de notas numa mão
e uma caneta na outra. Estes objectos são usados para realizar a principal tarefa, que é
fazer apontamentos com base naquilo que o Doutor Bandeira diz e mostra. Além
disso, tens uma pasta com material que podes consultar se necessário. Por exemplo,
tem o livro Árvores da África Austral, dos van Wyk, os teus cadernos, comida, etc.
Este é o anexo, que não abrirás frequentemente as deves carregar. Além disso, tens o
binóculo e a máquina fotográfica pendurados no teu pescoço, o telefone no bolso,
talvez um leitor de GPS no cinto e outros artifícios pendurados pelo teu corpo. Estes
não estão sempre nas tuas mãos, como o bloco de notas, mas sabes que poderás
precisar com certa frequência e terás acesso com esforço mínimo. Estes elementos
seriam como as notas de rodapé.
De facto, as notas de rodapé transcendem a língua portuguesa ou as latinas,
constando de numerosos clássicos até documentos actuais consensualmente aceites
como de sublime qualidade. Aliás, é uma competência académica saber distinguir o
que fica no texto daquilo que vai para o rodapé ou anexo. O Word apresenta a função
“footnote” (nota de rodapé), geralmente no menu “inserir”.
Além desta função, ele apresenta as notas de fim do documento (“endnote”).
Este tipo de anotação é colocado na mesma posição do anexo e até pode estar dentro
deste. Ele apresenta pequenas observações ou referências, como as de notas de
rodapé, mas todas concentradas num único texto suficientemente grande para manter
no anexo. A vantagem é que podem ser postas no anexo, mas não são muito práticas
quando há realmente necessidade de se ler estas notas como acompanhantes do texto.
Deste modo recomendo aos estudantes que tirem proveito das notas de rodapé
sempre que estas lhe pareçam necessárias. Mas cuidemos para não encher o trabalho
20 Edgar Manuel Cambaza
destas anotações porque tal prática em excesso, por mais que melhore a fluência do
texto como tal, pode comprometer a fluência da leitura. Nenhum leitor deseja
interromper a leitura com frequência, olhar para a base da página e voltar. Assim,
utiliza com moderação.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 21
3 Aspectos técnicos de formatação e acessórios
Procura manter o trabalho simples e organizado. Evita detalhes
desnecessários, porque estes podem ser motivos fúteis de desagrado de um ou outro
supervisor. Considera o documento como uma tarefa exigida pelo teu chefe. O que
ele espera é honestidade e profissionalismo. Escrever um documento científico é
como confeccionar um bolo – quem não aquece devidamente terá um bolo cru; quem
exagera queima o bolo. Aposta num conteúdo bom, relevante e bem apresentado.
Atenção: não confundas simples com despachado. Fazer algo simples e à medida é
como produzir um bloco para colocar na parede. O bloco precisa de ter o tamanho
exacto. Se despachamos o bloco comprometemos a qualidade da parede.
Procura ler o Regulamento de Culminação de Estudos (DCB, 2013) e respeitar
tudo o que ele exige. A desobediência das normas é acto de negligência.
Uma recomendação: organiza tudo no início. Os elementos que
incondicionalmente estarão no fim do trabalho podem ser adiantados. Assim, não se
perde muito tempo. Além disso, será muito mais fácil conversar com o supervisor se o
trabalho já estiver minimamente estruturado. Por exemplo, o regulamento já dá uma
ideia clara sobre a organização dos trabalhos. Já se sabe como serão as capas dos
trabalhos, quais serão as secções e como estará organizada a paginação. Na última
secção, pode-se colocar o título no cabeçalho, o nome do autor e a página no rodapé.
A segunda secção também já pode ter paginação. Todo o texto, a partir da segunda
secção, já se sabe que deve estar justificado.
Os trabalhos são feitos inteiramente usando-se a fonte Times New Roman com
12 pt. Exceptuem-se casos em que se usam letras gregas representando grandezas ou
unidades de medidas ou circunstâncias às quais não há alternativa senão usar-se tipos
particulares de letras.
Os parágrafos têm frequentemente tido duas estruturas:
O afastamento na primeira linha, de 1,27 cm, sem separação entre os
parágrafos;
Nenhum afastamento na primeira linha, mas com afastamento de 12 pt
entre os parágrafos.
Se for para respeitar as normas da Gramática Portuguesa, escolha-se o
primeiro tipo de parágrafo. Entretanto, é comum encontrar-se o outro estilo na
literatura e há outros departamentos que usam. Até que o regulamento do DCB (2013)
22 Edgar Manuel Cambaza
decida, deve haver tolerância dos estudantes assim como dos docentes diante de
qualquer um dos estilos. De qualquer modo, é recomendável que o estudante pergunte
ao supervisor que estilo ele tem usado com mais frequência.
A mancha gráfica deve ser em formato de prosa, com texto justificado. A
separação é de uma linha e meia. No subtítulo seguinte, dedicado à formatação no
Word, estes aspectos serão explicados com maior detalhe.
3.1 Formatação no Word
O Microsoft Office Word tem sido incomparavelmente o programa mais usado
para a produção de documentos escritos. Há alternativas, tais como o OpenOffice ou o
KOffice. Similarmente, há quem use outros sistemas operativos e versões do Office
com uma ou outra diferença comparando com aquele concebido para o Microsoft
Windows. Quem se sente mais confortável com estes programas ou sistemas
operativos pode, naturalmente, aplicar o que se diz aqui no seu próprio contexto.
Explicarei para o Windows ou Macintosh mas o que aqui se aplica também vale para
outros sistemas.
Isto está longe de ser uma lição de informática e por isso tentarei ser breve,
cingindo-me ao que é mais relevante e suficiente para se escrever bem os documentos
científicos, de acordo com as normas.
Muitos estudantes veem-se obrigados a recorrer a artifícios para enfrentar as
dificuldades de formatação do texto. Por exemplo, às vezes eles separam o trabalho
em documentos separados porque não conseguem manipular as variações na
paginação. Mas isso não é necessário. Porque saltar de documento em documento
para ler o mesmo trabalho? É muito mais prático preparar completamente o
documento e... escrever! Quando o documento está completo, não é sequer necessário
saltar linhas para criar espaços entre textos e títulos ou passar o texto para outra
página. Há truques brilhantes, mas o Word tem elementos que permitem evitá-los e
escrever muito melhor.
Ao abrir o Word, tem-se uma página branca e geralmente uma formatação
básica que já vem da indústria. Vamos trabalhá-la passo a passo até que fique ao
nosso gosto. É até possível formatar-se definitivamente para que não tenhamos de
fazê-la todas as vezes que queremos escrever um documento ou escrever por cima de
um documento antigo. A estratégia que aqui apresento garante alguma eficiência de
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 23
modo que o estudante passe menos tempo preocupado com a organização e se
dedique mais à própria ciência. Vamos começar?
3.1.1 Criação de secções16
A primeira coisa a fazer é preparar as secções, antes mesmo de escrever
qualquer palavra. Secções são trechos autónomos do documento, que podem
funcionar como se fossem documentos distintos. Por exemplo, é possível conferir a
cada a sua própria paginação, o seu rodapé e cabeçalho. A primeira coisa a fazer é
saltar duas linhas e quebrar a página (Ctrl + Enter). A nova página será a segunda
capa. Depois de saltar novamente duas linhas e fazer uma quebra de secção. Para
quebrar a secção, procure-se page setup (ou similar) > quebra > quebra de página17
(Figura 2). A secção que surge é dedicada aos elementos pré-introdutórios (listas de
abreviaturas, figuras, tabelas, índice, etc.).
Figura 2. Instrução para a quebra de secção. Note-se outras opções, como a quebra de página.
Salte-se duas linhas novamente e quebre-se novamente a secção. Esta será a
última, dedicada ao corpo do trabalho e possivelmente ao anexo. Para se criar novas
16 Publiquei uma explicação sobre a quebra de secções no Youtube. O link é
https://www.youtube.com/watch?v=dpFChKcGgCQ&feature=youtu.be. 17 Cada versão de Word tem as suas próprias características mas é geralmente
no page setup e break onde se encontra a section break.
24 Edgar Manuel Cambaza
páginas em cada secção é só fazer quebras de página (Ctrl + Enter). Não é necessário
saltar as linhas (Enter) até atingir as novas páginas18.
3.1.2 Tipo de letra e mancha gráfica
Em seguida, escolha-se o tipo de letra e a mancha gráfica que vão preencher a
maior parte dos documentos. Para isso, faça-se um clique direito sobre o tipo normal
de letra no menu de estilos da grande barra de ferramentas (Figura 3). Seleccione-se a
opção modificar. A maior parte das alterações pode ser feita na janela que aparece. É
só escolher o tipo de letra (Times New Roman), tamanho (12 pt), a mancha gráfica
(justificado) e separação entre as linhas (1,5).
Figura 3. Como formatar a mancha gráfica e os parágrafos.
18 Embora a quebra de página saltando as linhas seja eficaz, este processo pode
criar problemas na navegação do documento que podem até passar para outros
formatos (por exemplo, pdf).
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 25
No canto inferior direito, tem-se o acesso a um menu que dá acesso a uma
janela onde se formata os parágrafos. De acordo com os modelos que têm vindo a ser
usados pode-se:
Criar um afastamento de primeira linha e (1,27 cm) e eliminar o
espaçamento entre os parágrafos. Este é o estilo presente na Figura 3 e foi
usado na elaboração desta obra. Na figura, observe-se a secção
“identation”, onde se seleccionou a opção “first line” (primeira linha) e
“spacing”, onde as opções “before” e “after” apresentam 0 pt (nenhum
espaço entre os parágrafos);
Não criar afastamento de primeira linha e manter o espaço entre
parágrafos. Para tal, onde se observa “first line” na figura, seleccione-se
“none”. No que diz respeito ao afastamento entre os parágrafos,
acrescente-se 12 pt na opção “after”.
3.1.3 Formatação dos títulos
Os títulos podem ser formatados nesta etapa. Não é necessário que já haja
títulos para se formatá-los. Pode-se preparar de antemão e introduzi-los com a
formatação que desejamos. Todos os títulos e subtítulos a partir da introdução à
bibliografia devem estar a 12 pt, enumerados e a negrito. Não é obrigatório nem que
os títulos estejam inteiramente escritos com letras maiúsculas. É raro os docentes se
preocuparem com este facto mas, até que esteja escrito no regulamento, não é
necessário escrever-se deste modo.
Os subtítulos apresentam as mesmas características dos títulos mas a
enumeração apresenta dois níveis separados por pontos. O primeiro é o do nível acima
e em seguida vem o número de ordem. Os subtítulos vão até quatro níveis. Evite-se
níveis mais abaixo19 mas, em casos extremos, pode-se usar outras notações tais como
o uso de letras ou simplesmente um texto a negrito ou itálico. O mais importante é
manter-se a coerência no texto e usar-se consistentemente as mesmas notações.
A partir do seguinte exemplo, poder-se-á formatar os títulos e subtítulos. Se
não sabemos até que nível de subtítulos vamos descer, podemos configurar três ou
quatro. Para definir-se os níveis, há um ícone que fica geralmente perto dos usados
19 O Word apresenta um número ilimitado de níveis. O quarto nível como
limite para os trabalhos do DCB devem-se ao facto de não ser prático exagerar-se.
26 Edgar Manuel Cambaza
para introduzir marcadores ou enumeração aos parágrafos. Este, porém, define a
enumeração dos títulos (Figura 4).
Figura 4. Definir os níveis dos títulos. Note-se a opção à direita no menu em evidência, destacada dentro de um quadrado.
Uma vez seleccionada a opção correcta, ainda há necessidade de se alinhar os
títulos com o texto. Para quem usa o alinhamento de primeira linha também deve ter
os títulos e subtítulos a 1,27 cm da margem esquerda, exactamente como neste
documento. Os que não criam este afastamento e mantém o espaço entre os parágrafos
podem saltar esta etapa.
Observe-se a Figura 5. A formatação dos títulos assemelha-se à dos
parágrafos. Com um clique direito sobre os estilos selecciona-se modificar.
Figura 5. Alinhamento do título com o texto. Na imagem à esquerda vê-se como abrir a janela para a formatação do título e à direita vê-se como se alinha o texto.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 27
Uma vez aberta a janela, clica-se sobre um ícone que mostra uma seta virada à
direita apontando um parágrafo. O mesmo procedimento pode ser usado para todos os
níveis de subtítulos.
É comum estudantes (e docentes) saltarem uma linha ao terminarem um
capítulo ou subcapítulo, logo antes do título seguinte. É um procedimento prudente
para aproximar cada título do respectivo texto mas não é necessário. O Word já foi
programado para que os títulos apresentem esses espaços, isto é, o título mantém-se
automaticamente mais próximo do texto relacionado. Literalmente, não há motivo
para saltar linhas em parte nenhuma do trabalho, excluindo a capa. Não te esqueças
que mesmo para quebrar as páginas só precisas de ligar Ctrl + Enter.
É uma boa ideia adiantar desde já os títulos que sabemos que estarão no
trabalho. Por exemplo, já sabemos que o trabalho terá introdução, objectivos, área de
estudo/local de actividade, etc. Quem ainda não está bem esclarecido pode ver nos
capítulos seguintes, que mostram como se deve organizar uma proposta ou um
relatório. Pode-se também cada título na sua respectiva página. Não nos esqueçamos
que para saltarmos as páginas não precisamos de saltar parágrafos até chegarmos às
páginas seguintes. É só quebrarmos.
3.1.4 Capa
As capas são os rostos dos trabalhos aqui apresentados. Por isso, não deve ser
subestimada. Existem elementos da capa exigidos pelo regulamento, há outros que
convém ou frequentemente utilizados e considere-se também a mera estética. Mesmo
que o conteúdo seja mais importante, a capa é a primeira parte do trabalho que o leitor
vê. Querendo como não, ela pode afectar a sua disposição para ler o resto. Uma boa
capa compara-se a uma pessoa bem vestida, causando boa impressão. Assim, é
importante que se respeite a apresentação do trabalho, começando pela capa.
Um bom exemplo da primeira e segunda capa está na Figura 6. É importante
que se respeitem as exigências do regulamento mas alguns apectos dependem
meramente do bom gosto do estudante. É desejável que o estilo de texto da capa
concorde com o resto do trabalho, mas não é necessário o espaço de primeira linha. É
desejável que o estudante elimine este aspecto logo antes de começar a fazer a capa.
A primeira capa deve apresentar, de cima para baixo: o nome da universidade,
da faculdade, do departamento, curso, tipo de actividade (por exemplo, “Relatório de
Culminação do Curso”), tema, nome do estudante, data (Figura 6). A segunda
28 Edgar Manuel Cambaza
apresenta os mesmos elementos mas acrescenta-se os nomes dos supervisores depois
do nome do estudante. Note-se que deve estar claro quem é o estudante e quem são os
supervisores.
Figura 6. Exemplo da primeira e segunda capa de um trabalho de fim do curso no DCB. Trabalho de Mutombene (2014).
Tem sido comum a apresentação do logótipo da universidade antes mesmo do
nome da instituição. Não é rara a apresentação do ícone de Eduardo Mondlane do
lado oposto. Os nomes da instituição e a data estão frequentemente centralizados. É
comum estes estarem destacados através do negrito, um tamanho superior ao de
grande parte do texto comum do documento ou letras maiúsculas. O título também
tem sido destacado através de negrito ou letras com tamanho superior às de outras
partes. Muitas vezes, o nome dos docentes está do lado direito, ao lado do nome dos
discentes.
Há estudantes que apresentam uma figura por cima ou debaixo do tema. O uso
da arte abre espaço para a abstração mas espere-se que a figura apresente alguma
relação notória com o tema. Uns apresentam fotografias que mostram a realidade
abordada. Outros podem mostrar um ícone, símbolo, sinal, índice ou seja qual for o
signo. O mais importante é que a figura seja interessante e pertinente.
É também comum o uso de bordas. Estas têm sido frequentemente abstractas,
resumidas em um conjunto de linhas, mas recomende-se o cuidado descrito no
parágrafo acima. Por exemplo, é impertinente uma borda de cerejas se o trabalho fala
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 29
sobre baleias. Para fazê-las, é importante que o cursor esteja nas páginas das capas.
Elas são introduzidas através da opção comummente chamada “borders and shading”
(Windows) ou “borders” (Macintosh) (Figura 7).
Figura 7. A opção “borders” na barra de ferramentas.
Este ícone abre uma janela com três separadores/botões logo em cima (Figura
8). Seleccione-se a opção “page border”. Nesta, pode-se escolher o tipo de borda, ao
gosto do estudante. Só apelo ao bom senso antes de qualquer extravagancia.
Figura 8. A janela usada para definir as características das bordas.
Há dois aspectos a levar em conta. Em primeiro lugar, assegura-te de que as
bordas são apenas para a secção das capas. Para tal, verifica bem onde vem escrito
“aplicar a” ou “apply to” e escolhe “esta secção” ou “this section”. Em segundo lugar,
é importante que as bordas estejam em mais próximas do texto do que os limites da
30 Edgar Manuel Cambaza
folha. Se as bordas estiverem mais próximas dos limites da folha, há riscos de saírem
da área de impressão.
Para tal, clica-se no botão de opções e, na janela que surge, escolher “ajustar a
borda ao texto” ou, no exemplo da Figura 9, escolhe-se “medir (a borda) a partir da
margem”. Uma vez terminada esta etapa, já se tem a borda.
Figura 9. Como ajustar as bordas ao texto. Na opção “measure from” escolha-se “margin” em vez de “edge of page”.
3.1.5 Cabeçalho e rodapé
O cabeçalho e rodapé20 não são obrigatórios mas fazem muita diferença21.
Graças a estes, não precisamos de consultar frequentemente a capa para nos
lembrarmos do título do trabalho e nome do autor. Uma vez que não há normas
específicas até ao momento em que acabei de escrever este documento, o estudante
pode organizar como quiser mas, mais uma vez, apelo ao bom senso. Não vamos
20 Excluindo a paginação, que fica no rodapé. Esta será abordada
separadamente. 21 Atenção: a secção das capas não precisa de cabeçalho nem rodapé.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 31
fazer cabeçalhos e rodapés que distraem ou desconcentram o leitor. Não os julgo.
Simplesmente não me parecem profissionais. É como ver um ministro com panque,
piercings e tatuagens.
A maneira mais simples de se fazer cabeçalho ou rodapé é simplesmente
clicando duas vezes o topo ou a base da página, respectivamente. Alternativamente,
eles podem ser acedidos a partir da barra de ferramentas (Figura 10). Uma vez que
ambos funcionam da mesma maneira, vou-me cingir a falar do cabeçalho. Quando se
está a editar o cabeçalho, o cursor encontra-se lá e as escritas do texto principal
tornam-se pálidas22. O cabeçalho apresenta três posições básicas para a introdução do
texto: esquerda (pré-definida), central e direita. Para saltar da esquerda para o centro é
só utilizar a tecla Tab. A mesma serve para pular do centro à direita.
Figura 10. Observe-se os ícones de cabeçalho (“header”) e rodapé (“footer”) na barra de ferramentas.
Eu vejo frequentemente cabeçalhos com apenas o tema do trabalho
centralizado mas não é raro ver-se este à esquerda com o ano à direita. Eu recomendo
o mesmo tipo de letra com o resto do trabalho por uma questão de coerência, mas
ligeiramente menor (talvez a 10 pt). Quando o cabeçalho e rodapé aparecem a 12 pt e
a impressora produz uma escrita muito escura, às vezes o cabeçalho pode-se
confundir com o texto principal, parecendo que faz parte deste.
Quando o cabeçalho e o rodapé são introduzidos, eles aparecem em todo o
trabalho incluindo a capa. Para evitar isto, deve-se desligar o cabeçalho (ou rodapé)
das secções anteriores. Quando se clica duas vezes no cabeçalho ou rodapé, surge um
separador “header and footer” ou “cabeçalho e rodapé” na barra de ferramentas
(Figura 11). Para que o cabeçalho ou rodapé não apareça nas capas, é necessário
assegurar-se que a opção “link to previous” não esteja seleccionada. Isto deve ser feito
isoladamente para o cabeçalho ou rodapé. É possível um estar ligado e o outro não.
22 Se o estudante obviamente não notará este fenómeno se não tiver começado
a escrever.
32 Edgar Manuel Cambaza
Figura 11. Ao editar-se o cabeçalho, surge uma opção de configurações na barra de ferramentas (“header
and footer”). Observe-se que em “options” há uma opção “link to previous” (ligar à secção anterior). Quando não seleccionada instrução permite que o cabeçalho (ou rodapé) seja diferente do cabeçalho da secção anterior.
Uma nota para o título no cabeçalho: não é estético um cabeçalho de duas ou
três linhas e por isso evitem-se títulos muito longos. O ideal é uma linha. Há revistas
científicas que optam por usar reticências em títulos ou resumi-los para lidar com este
problema. Alguns estudantes preferem diminuir o tamanho das letras. A minha
primeira recomendação vai ao próprio tema. Se não for excessivamente longo, já se
corta o problema pela raiz. No entanto, se houver dificuldade nesta etapa, é
imprescindível que se mude no cabeçalho. Pessoalmente, acho que a técnica das
reticências deixa o leitor desnecessariamente curioso, distraindo mais do que
informando, além de não parecer adequado para um texto científico 23 . Diminuir
demais o tamanho das letras (abaixo de 9 pt) pode não ser prático. Um resumo bem
feito resolve o problema sem comprometer o rigor científico e esta é a minha
sugestão. Não entrarei em detalhes sobre como resumir porque levaria muito tempo,
mas o levantamento das palavras-chave seria um bom começo. Não tenhas medo de
comprometer ligeiramente a precisão do tema, desde que não mude o sentido.
Devemos manter na cabeça que o cabeçalho é mais um lembrete do que a mera
repetição do título.
O rodapé usa a mesma lógica mas os estudantes têm estado a escrever os
nomes completos à esquerda e à direita fica a paginação. Uns começam pelo apelido
mas é provável que grande parte escreva normalmente. Seja como for, o cabeçalho e
rodapé deveriam ser normalizados para evitar-se variações arbitrárias.
3.1.6 Paginação
Os números das páginas são colocados no lado direito do rodapé. As capas não
devem ter paginação. A segunda secção apresenta paginação em numeração romana
23 Talvez seja ideal para um texto literário.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 33
usando-se letras minúsculas (i, ii, iii, iv, etc.). Esta secção vem logo depois da capa
até à página logo antes da introdução24. A partir da introdução, a paginação usa a
numeração regular (1, 2, 3, 4, etc.).
Grande parte dos estudantes já sabe como paginar, mas vou acrescentar aqui
alguns detalhes. Geralmente, o ícone de paginação fica próximos daqueles para
cabeçalho e rodapé (Figura 12). Afinal de contas, o número de página faz parte do
rodapé. Atenção: a paginação deve ser feita por cada secção.
Figura 12. O ícone de paginação (page #), próximo de cabeçalho e rodapé.
O ícone de paginação abre uma janela (Figura 13) onde o estudante selecciona
a posição em que estará o número de página. No nosso caso, ela deve estar no rodapé
(bottom of page) e à direita (right). Assegura-te de que a opção “show number on first
page” esteja seleccionada, senão o a primeira página de cada secção não estará
paginada. Além disto, há opções avançadas necessárias. Para tal, clique-se sobre o
botão “format”.
Figura 13. Janela básica para a formatação da paginação.
A janela que se abre (Figura 14), pode-se escolher o formato do número. Ao
formatarmos a segunda secção seleccionamos i, ii, iii, etc. Se for a terceira,
seleccionamos, 1, 2, 3, etc.. Mais abaixo, seleccione-se “start at” (começar a partir de)
em vez de “continue from previous section” (dar continuidade à secção anterior).
24 No modelo do DCB, esta corresponde à última página do índice.
34 Edgar Manuel Cambaza
Deste modo, a paginação recomeça assim que inicia a secção. Assegura-te de que a
paginação de cada secção deve iniciar com o primeiro número da ordem.
Figura 14. Janela para a formatação avançada da paginação.
3.1.7 Índice
Uma vez tendo-se os títulos e a paginação feita, já se pode fazer o índice25. É
provável que a paginação não venha a ser a definitiva, uma vez que ainda não há texto
até aqui. Assim, far-se-á o índice mas o estudante não se deve esquecer de actualizá-lo
assim que termina todo o trabalho.
O índice fica logo no fim da segunda secção, antes da introdução. Entre o
índice e a introdução, fica a quebra que separa a segunda e terceira secções. Espera-se
que os títulos do índice partam desde a introdução ao último do trabalho. Incluam-se
até quatro níveis, mas não há problema se for mais prático um título de apenas três
níveis (se, por exemplo, o índice cobrir mais do que três páginas26).
O índice pode ser encontrado, às vezes como “tabela de conteúdos” (Figura
15). Cada versão do Word terá uma configuração específica mas é geralmente fácil
encontrar a opção para o índice. Existem ícones demonstrando os diferentes estilos de
índice. O regulamento não especifica nenhum, mas recomendo ao estudante que faça
o mais simples possível e que combine com o resto do texto. É só clicar no ícone que
o índice aparece onde se encontra o cursor.
25 O bom senso é importante. O índice vem para facilitar a consulta, sobretudo
quando o trabalho é longo ou complexo. Talvez não valha a colocar índice (ou mesmo
capa) num trabalho com menos de cinco ou seis páginas. 26 Mais do que duas já são inconfortáveis.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 35
Figura 15. Observe-se as opções de “table of contents”, que originam o título.
O índice aparece com um título, que pode estar em inglês. O estudante só
precisa de traduzir manualmente e conferir a aparência dos demais títulos. Mas
atenção a dois aspectos:
O título do índice pode aparecer com a enumeração dos demais títulos. É
comum ele aparecer como 1, seguido por 2 na introdução, etc.. Elimina
esta enumeração. A introdução deve ser 1;
Não é bom configurar o título do índice como heading 1. Aliás, resolvendo
este problema resolve-se também o acima mencionado. O índice lista os
títulos (headings) que configuraste acima. Se o próprio índice apresentar
esta característica, ele próprio pode aparecer na lista, o que não faz
sentido. Recomendo que o estudante defina o texto do título como
“normal” e depois defina “manualmente” como ele deve ficar.
Se observares a Figura 15 virás, na extremidade direita, o botão “options”
(opções). Noutras versões do Word tal função está possivelmente numa posição
diferente. Seja como for, esta permite definições avançadas do índice. Recomendo
que o estudante explore esta parte com mais cuidado, mas as instruções até aqui
apresentadas já permitem que o estudante faça um bom índice.
De tempos em tempos, e principalmente no fim, é bom que o estudante
actualize o índice. Para tal, pode usar o botão direito do rato sobre o índice e
seleccionar a opção update field (actualizar campo) (Figura 16). Em seguida, aparece
uma janela a perguntar se o estudante deseja actualizar apenas os números das páginas
ou todo o índice. Se ele está seguro que não alterou nenhum título, pode apenas
actualizar os números de páginas. Por vias das dúvidas, é muito mais prudente
seleccionar-se sempre “actualizar todo o índice”.
36 Edgar Manuel Cambaza
Figura 16. Como actualizar o índice.
3.1.8 Tabelas e figuras
As tabelas e figuras são introduzidas de maneiras diferentes, mas o tratamento
das legendas apresenta aspectos comuns. Não vou entrar muito em detalhes sobre
quando e onde apresentar um ou outro tipo de tabela ou figura (talvez noutra ocasião).
Só digo que uma tabela muito simples ou figura pouco ilustrativa são desnecessárias.
Se forem muito grandes ou complexas a ponto de comprometer o fluxo normal do
texto, talvez fiquem melhor no anexo. O bom senso conta. Primeiro vou explicar
como se introduz e depois como escrever as legendas.
Vou começar por falar sobre as tabelas. Para a introdução de uma tabela, usa-
se um ícone que dá acesso a uma grelha (Figura 17).
Figura 17. Grelha para a criação de tabelas.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 37
Arrastando o mouse pela grelha, as células vão mudando de cor. Estas
correspondem ao número de linhas e colunas que se pretende dar à tabela. Se as linhas
ou colunas forem insuficientes, ainda pode-se clicar no link “insert table” (inserir
tabela), que permite que o estudante escolha o número de linhas e colunas que desejar.
Se a tabela for copiada de alguma autoridade, deve-se escrever debaixo dela
qual é a fonte no modelo autor (ano) e, logicamente, esta obra deve constar da lista
de obras consultadas (bibliografia), no fim do corpo do trabalho27.
As figuras podem ser fotos, desenhos (incluindo mapas) ou diagramas28. Em
todas as versões do Word, estes podem ser encontrados no menu “insert” (inserir).
Nas versões recentes para o Microsoft Windows, ele encontra-se como separador da
principal barra de ferramentas. No Macintosh, o “insert” encontra-se no menu
principal do programa, geralmente no topo do ecrã, ou no separador “home” da barra
normal de ferramentas. Nesta versão, há um separador específico para tabelas, um
para gráficos e um para esquemas. No Windows, estes separadores aparecem quando
a figura é introduzida, para permitir a sua edição.
Não entrarei em detalhes sobre como introduzir cada tipo de figura, mas
asseguro que é muito fácil e intuitivo e se um estudante tiver duvidas, não precisa de
hesitar em contactar-me através do edycambaza@yahoo.com.br. Nalguma
circunstância futura farei questão de aprofundar este assunto.
Antes de colocares uma figura, pensa na relevância e no impacto que esta vai
causar sobre os leitores. Há figuras bonitas e tentadoras que não trazem subsídio
algum ao trabalho. Seja qual for o recurso alternativo ao texto, procura por aquele
cuja ausência implicaria explicações fastidiosas.
Talvez seja mais interessante debruçar-me sobre as legendas. Para as tabelas, a
legenda deve ficar por cima e para as figuras por baixo. Insere-se as legendas das
tabelas e figuras da mesma maneira. Entretanto, a tabela é necessário seleccionar-se
toda a tabela para se inserir as legendas. Tal selecção pode ser feita colocando-se o
cursor do rato sobre a tabela até que apareça um pequeno ícone no canto superior
esquerdo da tabela (Figura 18).
27 Se houver anexo, logo antes deste. 28 Atenção: existem fotos e desenhos de diagramas e até mesmo de tabelas. No
que respeita aos diagramas, não há problemas porque o tratamento de fotos, desenhos
e diagramas é parecido. Mas as fotos e os desenhos de tabelas recebem o tratamento
característico de tabelas.
38 Edgar Manuel Cambaza
Figura 18 Para seleccionar toda a tabela, aproxima-se o cursor da tabela e automaticamente aparece um
ícone de movimentação no canto superior esquerdo. É só clicar no ícone que a tabela fica toda marcada como seleccionada. Extracto do trabalho de Anapakala (em preparação).
Tal ícone serve para movimentar a tabela mas, simplesmente por clicá-lo,
seleccionas toda a tabela. Uma vez seleccionada a tabela ou o gráfico, faz-se o clique
direito, onde aparece a opção “inserir legenda” (Figura 19).
Figura 19. Como inserir legenda. Depois de fazer o clique direito (ou algo correspondente) sobre a figura ou tabela seleccionada, vê-se a opção “insert caption” (inserir legenda).
Em seguida, abre-se uma janela onde é possível definir-se as características
das legendas (Figura 20).
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 39
Figura 20. Onde se definem as características básicas de uma legenda.
Na janela, pode-se escrever o texto da legenda, o rótulo (“label”), a posição e
organizar outros detalhes. Se o sistema estiver em inglês, terá rótulos como “table” e
“figure” em vez de “tabela” ou “figura”, respectivamente. Para mudar para português,
é só introduzir o novo rótulo em “new label” e definir se a legenda deve estar por
cima ou por baixo da tabela ou imagem. Não te esqueças: tabela – por cima; figura
– por baixo.
É comum o Word ter legendas coloridas (por exemplo, azuis) e a negrito como
predefinição. O estilo das legendas não consta do regulamento até ao momento, mas
sugiro que se faça exactamente como o texto normal do documento, possivelmente
com tamanho reduzido, em torno de 10 pt.
Na barra de ferramentas, onde estão os botões de “estilos” (styles), encontra-se
também o de “legendas” (caption) (Figura 21). É só fazer o clique direito e definir
todas as características como se faz com o texto normal e o título.
Figura 21. Como formatar o texto das legendas. O estilo “caption” (legenda) encontra-se na barra de
ferramentas.
40 Edgar Manuel Cambaza
O afastamento de primeira linha também deve estar nos trabalhos em que
estiver a ser usado. Recomendo que se crie um espaço (ver a formatação dos
parágrafos) depois da legenda, para que não esteja muito próxima do texto que segue.
Mais uma vez, não é preciso saltar linhas para fazer isto. Já não é tempo de trabalhar
como amador.
Agora, alguns apelos à estética:
Sempre que possível, usa o mesmo estilo de tabelas ou figuras, no que se
refere aos traços e às cores. Uma salada mista denota desorganização e
incoerência;
Procura colocar as figuras alinhadas com o texto. Para tal, há uma função
com um ícone cercado pelo texto. No Word 2013 para Windows, aparece
logo ao clicar-se a figura como um ícone no canto superior direito,
parecendo um arco envolvido por texto (Figura 22)29. Esta função, permite
que o estudante escolha como prefere enquadrar a imagem em relação ao
texto. Ao selecionar-se “alinhada com o texto” (in line with text), a
imagem vai-se comportar como o resto do texto, fazendo parte de um
parágrafo, não havendo texto em torno dela, por frente ou por trás.
Figura 22. Função que permite enquadrar uma imagem em relação ao texto.
3.1.8.1 Referências cruzadas
Regra básica: não pode existir tabela, figura ou anexo sem referência
cruzada30. Estes elementos dão suporte ao texto principal e só podem ser apresentados
se em concordância com partes específicas deste. As referências cruzadas no texto são
aquelas que apelam o leitor a observar uma tabela, figura ou algo em anexo. Podem
ser simples ou compostas. Simples quando indicam directamente o elemento e
29 O ícone pode não aparecer quando o documento não está no formato docx.
Nestes casos, é só fazer o clique direito e o ícone vai aparecer, ou procurar na barra de
ferramentas. Noutras versões do Word o ícone pode ser ligeiramente diferente, por
exemplo, com a silhueta de um cão envolvido por texto ou ainda acompanhado de
nomes diferentes como “wrap text” ou “layout”. 30 A não ser o cronograma ou orçamento da proposta.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 41
compostas quando, por exemplo, a tabela ou figura está dentro do anexo. No caso das
referências compostas é necessário mencionar as duas (por exemplo: ver figura x no
anexo y).
Um detalhe: cuida para que o elemento referenciado esteja o mais próximo
possível da referência. Se for tecnicamente impossível colocar na mesma página, que
não esteja muito longe. Ninguém quer ver uma referência e depois saltar duas
páginas. Além disso, é muitas vezes mais prático ler um texto a olhar para o objecto
ou fenómeno que ele descreve.
É muito melhor elaborar referências cruzadas automáticas porque assim o
estudante não tem de estar a corrigi-la sempre que introduz uma tabela ou figura
destinada a ficar antes das outras. É muito laborioso rever todas as legendas sempre
que se tem de acrescentar apenas uma.
Para introduzires as referências cruzadas, faz-se o seguinte:
1. Coloca o cursos na parte do texto onde pretendes colocar a referencia;
2. Procura a opção “cross-reference” (referência cruzada), geralmente na
barra de ferramentas ou no menu “inserir”, perto da função para inserir
legendas. Isto abrirá uma janela (Figura 23);
Figura 23. Janela para a introdução de referências cruzadas.
3. No canto superior esquerdo, onde está escrito “tipo de referência”
(reference type), selecciona a opção “figura” ou “tabela”, dependendo
daquilo que pretendes referenciar;
4. Selecciona-se a legenda desejada;
42 Edgar Manuel Cambaza
5. No canto superior direito, escolher “letreiro e número” (label and number)
6. Ligar o botão “inserir” (insert) e fechar a janela.
3.1.8.2 Listas de abreviaturas31, tabelas e figuras
O índice não é a única lista de conteúdos. As de abreviaturas, tabelas e figuras
encontram-se na mesma secção, logo antes do índice32. Elas devem apresentar títulos,
como sempre, mas é melhor que estes sejam formatados como texto normal e depois
postos a negrito. Isto porque eles não devem aparecer no índice.
A lista de abreviatura é simples. É só escrever normalmente. Recomendo que
seja feita à medida que o estudante vai escrevendo de modo que, assim que encontra
uma abreviatura aponta na lista. Outras recomendações:
Ela deve estar em ordem alfabética, para facilitar a consulta;
Não precisa de incluir notações matemáticas e estatísticas, siglas do SI
nem símbolos químicos, grandezas (convencionais) ou fórmulas. Se te vês
obrigado a utilizar medidas fora do SI (por exemplo, de uma régua ou
balança americana), cria um anexo a explicar como converter;
Prefira-se trabalhar com nomes em português (por exemplo, como já foi
mencionado, OMS em vez de WHO);
Não precisa de negrito ou qualquer tipo especial de formatação. É só
escrever a palavra, hífen e a explicação.
A lista de tabelas e figuras assemelham-se ao índice, indicando em que página
se encontram os respectivos elementos. Elas baseiam-se no conteúdo da legenda e,
por isso, recomendo que se evite à medida do possível, legendas excessivamente
extensas. Ambas listas são introduzidas através da função “index and tables” (índice e
tabelas). Ela abre uma janela onde se pode configurar vários tipos de mapas de
conteúdos do documento (Figura 2).
31 Não confundir abreviaturas com acrônimos. Acrônimos são abreviaturas,
mas nem todas as abreviaturas são acrônimos. 32 Obviamente, estas listas só existirão se os respectivos elementos existirem.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 43
Figura 24. Janela de configuração das tabelas e figuras.
Selecciona-se o separador “Table of figures” (tabela de figuras). O mais
importante é definir qual será o tipo de legenda “caption label”, que permite ao
estudante escolher se vai fazer uma lista de figuras ou tabelas. Depois de tudo, é só
clicar em “OK” e já está. Estas listas não vêm com título, pelo que o estudante é que
deve colocar. Novamente, não uses Heading 1 para tal, mas sim um texto normal que
vais depois colocar a negrito.
Se não houver tabela ou figura, o campo em que deveria aparecer a lista vai
indicar que há um erro. Isso não é problema. Assim que colocares as tuas tabelas ou
figuras, é só voltares para a lista e actualizar, da mesma maneira que se faz com o
índice.
3.1.9 Anexos
Alguns trabalhos precisam de anexos, onde fica informação suplementar. Por
exemplo, há tabelas indispensáveis ou valores de referência cujo leitor deve consultar
para entender melhor o documento mas que não são realmente assunto central do
trabalho. Há também tabelas tão grandes que comprometeriam o fluxo normal do
texto ou figuras cuja ausência não faz tanta diferença. Pensa assim: se fosses obrigado
a reduzir o conteúdo do teu trabalho, começarias pelo anexo.
3.1.9.1 Como organizar os anexos
Já vi vários tipos de anexos (uma vez que as regras não estão estabelecidas)
mas recomendo o mais simples possível e algo que esteja de acordo com o resto do
trabalho. Organiza um anexo que respeita o estilo ou a estética, as fontes, os
44 Edgar Manuel Cambaza
parágrafos e a mancha gráfica do resto do texto. Não é por ser anexo que as regras
devem mudar.
Se o anexo for muito simples, uma característica que vale a pena mencionar é
que ele não precisa da enumeração característica dos títulos, mas deve apresentar o
mesmo tipo de formatação (“Heading 1”). Ele pode ter subtítulos, que podem ou não
estar enumerados, mas não devem aparecer no índice – deste modo, não devem
apresentar o estilo “Heading”, embora se possa conferir o aspecto dos títulos normais
do trabalho. Há quem organize o anexo em secções chamadas, anexo 1, 2, 3..., o que
parece uma boa ideia. Estes podem ser divididos em anexo para tabelas, figuras,
textos/métodos/documentos, etc.. Organizando-se assim, a referência no texto pode
ser normal (por exemplo, tabela x; o método para a produção de y) e indicar-se que
está no anexo.
3.1.9.2 Tabelas e figuras no anexo
Mesmo no anexo, as tabelas e figuras continuam com a sua enumeração
normal, com as suas legendas e, acima de tudo, bem organizadas. Há aquela tendência
em não se fazer grandes arranjos no material do anexo, por outras palavras, é
frequente estudantes despacharem-no assumindo que se trata dos detalhes menos
relevantes do trabalho.
Pois eu digo que não é uma boa ideia negligenciar esta parte porque
supervisores, orientadores e especialistas estão mais interessados no resultado mais do
que em qualquer outra parte do trabalho. Parta-se do princípio de que os especialistas
conhecem a disciplina e estão dentro do assunto, não precisando tanto de rever as
bases que predominam nos capítulos introdutórias senão para constatar se estão ou
não bem apresentadas. Muitos métodos não requerem tanta atenção porque estão bem
estabelecidos e o estudante só vai repeti-los num novo contexto (às vezes), sobretudo
aqueles que vêm em manuais de instruções dos kits das multinacionais. Talvez o
método seja mais relevante de se ver na proposta. A principal novidade que vem no
relatório está no resultado e talvez daí em diante33. Deste modo é natural que tutor ou
33 O “talvez” é importante na frase. O resultado é, de longe, a parte mais
importante de um relatório de pesquisa. No relatório do estágio, depende porque são
as impressões do estudante – discussão das observações, análise crítica do estágio,
conclusão e recomendações – que nos dizem até que ponto ele conseguiu se integrar
na unidade e compreender a ciência envolvida. Nas monografias, toda a revisão crítica
é relevante, tanto em estrutura como conteúdo.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 45
avaliador consulte o anexo se o resultado fizer referência a este. O anexo pode e deve
ser avaliado, tanto em termos de organização como conteúdo.
Constatei nalguns trabalhos que os estudantes excluem da lista das tabelas ou
figuras aquelas que constavam do anexo. Em vez disto, colocam as legendas destes
elementos na lista de anexos. Isto é compreensível mas incorrecto. É natural que tudo
o que consta do anexo deve estar na lista de anexos, de algum modo. Por outro lado, é
imprescindível que todas as tabelas e figuras devem constar das respectivas listas.
Incondicionalmente! Eis as instruções: faz a lista de tabelas e figuras como foi acima
explicado e não se fala mais no assunto; quanto ao anexo, faz uma lista de elementos
anexados e baseia-te nos subtítulos que tiveres criado lá (por exemplo, tabelas,
figuras, fórmulas, documentos, etc.).
Há várias maneiras de se fazer uma lista automática de anexos. Em condições
normais, o estudante poderia configurá-la na função “field” (campo), frequentemente
encontrado no menu “insert” (inserir), mas tenho uma solução bem mais simples e
rápida. Podem chamá-la de truque. É só colocar o cursor na posição em que se
pretende colocar o subtítulo do anexo. Pode-se até escrever o subtítulo, mas o cursor
deve continuar no parágrafo. Em seguida, é só entrar na função “insert caption”
(inserir legenda). Tecnicamente, criar-se-á uma legenda que não acompanha nenhuma
tabela ou figura. A janela que aparece é a descrita na Figura 20. Clicando no botão
“new label” (novo nome), escreve “anexo” na janela que aparecer. Dá o devido título.
Ao aceitar tudo, as letras vão aparecer com o tamanho e formato das legendas de
tabelas e figuras. Acerta “manualmente” para que se pareça com os títulos34. Voila!
Para fazer referência ao anexo no texto, segue as instruções do ponto 3.1.8.1 acima,
sobre referências cruzadas; para fazer lista de anexos, segue instruções semelhantes às
do ponto 3.1.8.2 sobre lista de abreviaturas, tabelas e figuras. Obviamente, em todos
os casos deve-se escolher o campo “anexo”.
34 Se mudares nos “estilos” da barra de ferramentas, vais alterar as
características das legendas das tabelas e figuras, também, e não é isso que desejamos.
46 Edgar Manuel Cambaza
4 Proposta de projecto
É na proposta (também conhecida como protocolo) que o estudante diz o que
vai fazer como trabalho de culminação do curso. É importante que esteja detalhada de
modo que qualquer pessoa possa reproduzir a actividade e produzir resultados
similares. A proposta pode ser feita no fim de um curso de licenciatura ou como
requisito para a inscrição de uma formação baseada em pesquisa (por exemplo,
muitos mestrados e doutoramentos).
Uma proposta deve conter35:
1. Introdução, com generalidades, problema, justificativa e objectivos;
2. Hipóteses e/ou previsões;
3. Área de estudo e/ou local de actividade;
4. Material e métodos/metodologia;
5. Resultados esperados (facultativo);
6. Cronograma;
7. Orçamento;
8. Bibliografia;
9. Anexo (facultativo).
O prato forte da proposta é a metodologia, mas é importante que tudo o resto
esteja bem redigido. É a metodologia que diz o que será feito durante a actividade,
enquanto as outras partes assistem de maneiras particulares esta componente da
proposta. Por exemplo, a introdução trará o contexto – sobretudo para quem está
pouco familiarizado com o assunto – os objectivos dizem em poucas palavras o que
será feito, etc.. As hipóteses e previsões dão uma vista sobre o que pode vir a
acontecer, sustentado por alguma teoria. Tirando a bibliografia, os resultados
esperados e o anexo, o resto dá-nos uma ideia do ambiente e os recursos necessários
para a realização do estudo. O clímax de tudo é, sem dúvida a metodologia, onde se
explica clara e sucintamente o que será feito.
Não existem palavras específicas ou “ideais” para organizar uma boa proposta,
mas há princípios, algumas regras, boas práticas e ideias construtivas. O bom-senso
também conta muito, mas o regulamento está acima de tudo. Vou apresentar aqui o
35 De acordo com as normas de culminação dos cursos do DCB. Ainda assim,
estas regras são aplicáveis para trabalhos de muitas outras instituições. Uma
particularidade dos trabalhos do DCB é a introdução mais extensa do que o comum,
contendo elementos da revisão bibliográfica, e a ausência da revisão.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 47
que deve ser feito, o que convém ou simplesmente algumas sugestões com base na
experiência pessoal.
4.1 Elementos pré-introdutórios
Os protocolos têm tido poucos elementos pré-introdutórios quando
comparados aos relatórios. Eles apresentam as capas, as listas de abreviaturas, tabelas,
figuras, componentes do anexo e índice (ver como elaborar estes elementos no
capítulo anterior).
4.2 Introdução
Há três elementos necessários para a introdução: (1) o contexto teórico onde se
enquadra o assunto que se pretende explorar, (2) o problema e (3) a justificativa. No
protocolo do DCB não se costuma a escrever a revisão bibliográfica num capítulo
isolado, pelo que ela consta da introdução. Como resultado, a introdução passa a ter
três a cinco páginas em vez de uma ou duas.
A informação deve partir da área de conforto de um leitor leigo até à de
desconforto de um especialista. Por outras palavras, o princípio da introdução deve ser
mera cultura geral e no fim deve constar o desconhecido, onde os mais versados na
área ainda não chegaram, estão a tentar chegar ou poucos chegaram mas ainda
predomina a insegurança.
Atenção: falar bem não é falar muito. A simplicidade é o auge da sofisticação!
O texto científico é para instruir, não impressionar. Se for para impressionar, se calhar
uma música ou pintura será mais eficaz. Não te esqueças que deves ser breve, claro e
directo. Não fales menos do que deves porque o teu trabalho ficará pobre. Não fales
mais do que deves porque parecerás inseguro ou que estás a divagar. Evita
informação irrelevante para o teu trabalho. E evita redundância – o que está dito,
está dito!
4.2.1 Generalidades
Esta é a primeira parte da introdução, onde consta a informação básica para a
compreensão do assunto central. Em princípio, ela vai ocupar duas a três páginas e o
leitor, depois de ler, já deve ter uma compreensão clara do tópico. Por exemplo, ao ler
o título, um leitor leigo que também leu esta secção já deve perceber o que o título
diz.
48 Edgar Manuel Cambaza
Vou apresentar aqui o que tenho dito aos estudantes para redigirem nesta
parte. Tenho trabalhado muito com estudantes dos ramos de Saúde e Biologia
Aplicada, mas vou tentar adequar a explicação para qualquer que seja o ramo. Das
etapas abaixo mencionadas, cada uma vai corresponder aproximadamente a um
parágrafo36:
1. Contexto. Em poucas palavras, escreve alguma informação sobre a origem
da problemática que pretendes explorar. Esta informação pode consistir de
algum historial onde se mostra como a problemática se encontra
enquadrada na sociedade, no ambiente, etc.. O contexto pode ou não estar
associado ao parágrafo seguinte;
2. O parágrafo do “o quê”. Definição do objecto de estudo, que pode ser
uma espécie de animal ou planta, uma doença, um fenómeno ou qualquer
outra coisa. Esta definição pode vir acompanhada sobre a essência do que
vem por detrás do objecto, isto é, uma descrição que nos pode dar uma
ideia mais concreta do que se passa. Vale a pena dizer também, em poucas
palavras, qual é a importância do objecto ou fenómeno;
3. O parágrafo do “como/porquê/para quê”. As circunstâncias em que
ocorre o objecto ou fenómeno ou as suas causas. Por exemplo, podem ser
as circunstâncias que propiciam a ocorrência de uma doença (ou quem é
mais susceptível de contrair) ou o habitat natural de um ser vivo. Se o
assunto fosse a produção de um alimento, falaríamos sobre quem produz,
em que circunstâncias, porquê e para quê;
4. O parágrafo do “onde”. É aqui que se descreve onde (geograficamente) o
fenómeno ou objecto ocorre e em que quantidade, proporção ou amplitude.
Se for doença, vamos falar da epidemiologia incluindo informações como
incidência ou prevalência. Se for um ser vivo, vamos falar sobre a
ocorrência geográfica37. Se for um fenómeno, vamos dizer em que áreas
acontece e onde ele é mais notório (ou zonas de risco, para calamidades).
Vale também a pena falar aqui sobre o impacto socioeconómico ou
36 Respeitem-se as boas regras de escrita que descrevi no capítulo 2. 37 Não se confunda a “ocorrência” neste ponto e no anterior. No anterior, era
ocorrência em termos de condições em que o objecto ou fenómeno ocorre. Neste
parágrafo, já se trata meramente de distribuição geográfica.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 49
ecológico do objecto ou fenómeno tendo-se em conta as suas dimensões
globais (ou no universo considerado pelo estudante);
5. Os parágrafos do “como encontrar ou visualizar”. Neste parágrafo,
descreve-se como observar o objecto ou fenómeno. Existem geralmente
duas vertentes, embora às vezes só uma delas: (a) qual o material usado
para encontrar ou observar; (b) o que observar para termos a certeza que é
ele. A primeira vai-nos descrever os métodos para diagnosticar uma
doença ou encontrar ou estudar um ser vivo, um ciclone, etc. Não é
necessário entrar-se em detalhes, somente mencionar os métodos. Vale a
pena em seguida dizer qual é o princípio do método que será usado no
estudo em questão. A segunda vertente foca aspectos como os principais
sintomas de uma doença, as características distintivas que têm sido
observadas para identificar certos seres vivos, etc.;
6. O parágrafo de “o que fazer em circunstâncias normais”, por exemplo,
como se pode evitar uma doença, conservar um habitat, evitar uma
calamidade natural. É aqui que se vai falar sobre como garantir que uma
situação desejável perdure;
7. O parágrafo do “como lidar com cada caso”. Este é o parágrafo das
soluções a curto e médio prazo, onde quer que haja problemas, isto é,
como aliviar a preocupação nos casos individuais em torno do objecto ou
fenómeno em estudo. Se for uma doença, vai-se falar sobre os tratamentos,
se for uma espécie ameaçada, vai-se falar restauração de habitats naturais
ou infraestruturas depois de uma calamidade, etc.;
8. O parágrafo do “como controlar todos os casos”. Este parágrafo está
profundamente relacionado com o anterior mas trata-se de um nível mais
estratégico, mais abrangente. Por exemplo, se no ponto 6 estivermos a
falar de como tratar uma doença a nível do paciente, aqui já se fala de
como controlar a doença num país inteiro. Quais os planos, as estratégias
que um governo pode usar? Se estivemos a falar sobre como um guarda
pode proteger os rinocerontes num parque, aqui falar-se-á sobre como
pode Moçambique mobilizar recursos para evitar a caça furtiva. Se no
ponto 6 era para pensar localmente, aqui a ideia é pensar globalmente;
9. Os parágrafos do “o que se está a fazer sobre o assunto”. Não importa
simplesmente o que se pode ou não fazer. De tudo o que se pode fazer, o
50 Edgar Manuel Cambaza
que realmente está a ser feito, de um modo geral? Quem está a fazer?
Como? Porque se está a fazer assim? Está a resultar? Até que ponto?
10. O parágrafo de “e no nosso contexto”. Este ponto é como o anterior mas
considera-se o que está a ser feito no contexto em que estamos inseridos.
Tal contexto pode ser a nossa área geográfica – zona climática, continente,
país, província, se na costa ou no interior, etc. –, a faixa etária que estamos
a observar, ou um aspecto que particulariza o estudo que se pretende
desenvolver. As perguntas do ponto anterior também são aplicáveis aqui.
Mais uma vez, atenção à redundância! Pode ser que uma informação seja
encaixável em dois pontos diferentes das generalidades. Isto pode acontecer quando a
informação está muito misturada ou estruturada de forma diferente à aqui descrita. É
desejável que o estudante separe a informação e coloque cada “fatia” no lugar certo.
Se não puder, que use o bom-senso para colocar no local que lhe pareça mais
adequado, mas nunca repita noutra parte do texto. Este trabalho é mais como um
quebra-cabeças em que as peças são ideias (trechos de informação), muitas vezes de
fontes diferentes. Cada peça deve estar só e somente no seu nicho.
4.2.2 Problema
Na verdade, há sempre dois problemas básicos:
O problema do objecto ou do fenómeno que se pretende estudar – vou
designá-lo crise objectiva;
O problema em termos de conhecimento sobre o fenómeno ou objecto –
designarei crise cognitiva.
Embora a crise objectiva seja a mais relevante para a sociedade, é na cognitiva
que o estudante se deve concentrar. Afinal de contas, a academia visa produzir
conhecimento. É certo que a resolução da crise cognitiva favorece à minimização e
eliminação da objectiva, mas os valores intelectuais são ainda a prioridade da
universidade. Assim, o problema só está bem esclarecido no momento em que o
estudante acaba de explicar que conhecimento em falta interessa para a pesquisa.
Talvez por isto em vez de “problema” devêssemos usar o termo
“problemática”. Ele é sempre composto, complexo de natureza. E é frequente a
preocupação apresentar origem e consequências multifactoriais. A descrição de cada
crise pode ser motivo para escrever um ou dois parágrafos, dependendo da dimensão:
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 51
1. É melhor que se descreva muito bem a crise objectiva, em primeiro lugar.
O que é que está a acontecer com o objecto ou fenómeno que vale a pena
estudar? O que está por detrás disto? Qual a gravidade? O esforço para
lidar com ele tem sido suficiente? Porque é que o problema persiste?
Evite-se repetir o conteúdo do fim das generalidades. Enquanto lá dizemos
o que está a acontecer, aqui procuramos responder porque estamos
preocupados;
2. Por fim, a crise cognitiva. Qual a preocupação académica por detrás deste
problema? Porque é que a falta de conhecimento sobre o assunto pode
constituir um problema? Até onde foi o esforço dos investigadores da área
e porque a dúvida persiste?
4.2.3 Justificativa
A justificativa serve para dizer porque este estudo é relevante. Não te esqueças
que o estudo responde à crise cognitiva, não a objectiva – ele visa produzir
conhecimento em torno de alguma problemática, não necessariamente resolver o
problema. Logo, deves explicar porque estás a estudar o assunto.
Eu agrupo a justificativa em três grandes grupos de ideias (geralmente em um
parágrafo ou aproximadamente para cada):
1. Há interesse geral por estudos como este. Se demonstro que autoridades
prestigiadas têm feito esforço para a resolução da problemática que abordo
no estudo, não só mostro que não estou sozinho na causa como ainda que
faço parte de um projecto maior em busca da solução para o problema.
Como evidências, posso mencionar programas governamentais, ONGs não
lucrativas e de outras instituições. É aqui que se pode falar, por exemplo,
dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio ou Programa (ODM) de
Acção para a Redução da Pobreza (PARP). Obviamente, não é só falar.
Trabalha sempre com referências bibliográficas;
2. Está-se a caminhar em busca da solução mas o problema persiste. Os
progressos são encorajadores aos olhos do leitor e a persistência do
problema sugere que a caminhada continua. Para descrever os progressos,
busque-se evidências científicas da literatura. Eu geralmente sugiro a
referência aos estudos mais relevantes, sobretudo em contextos próximos
daquele que o estudante pretende explorar. Para falar sobre a persistência
52 Edgar Manuel Cambaza
do problema é só procurar os pontos fracos de cada um dos estudos: é
recente? Usa métodos melhores que o nosso? É do nosso contexto
(geográfico, económico, sociopolítico)? As medições foram bem feitas?
As interpretações também? Pensa em todas as possíveis lacunas que o
estudo pode apresentar. Atenção, esta parte pode-se confundir com a
apresentação do problema (sobretudo a crise cognitiva). A diferença é que
em quanto lá foca-se o problema como uma preocupação, aqui realça-se o
facto de os cientistas estarem a caminhar para a sua solução e só não a
terem encontrado ainda;
3. Este trabalho representa um passo em busca da solução. Quando
mostramos problemas no sistema, a pergunta que se segue é: o que fazer?
É aqui que vens com a solução. Nesta etapa, tenta demonstrar que a tua
pesquisa vem para ajudar a resolver o problema à medida que trará
conhecimento para tomadas mais informadas de decisões. Não é
necessário exagerar nem dizermos que vamos mudar o Mundo.
Sinceridade e realismo são a chave da credibilidade. Termina a
justificativa explicando quem poderá tirar proveito dos resultados do teu
estudo. Abre a mente e pensa em todos os que podem ser público-alvo,
desde estudante que quer dar continuidade à tua pesquisa ao cientista em
busca de respostas, o cidadão curioso ou o político se quer informar antes
de participar de deliberações.
4.3 Objectivos
Objectivos são um mapa de ideias sobre o percurso que vamos percorrer até
que o estudo esteja completo. Tal como um mapa, têm princípio, meio e fim.
Entretanto, iniciamos o mapa dizendo qual é o destino – objectivo geral – e depois
descrevemos o percurso – objectivos específicos. Obviamente, no fim do o fim do
trajecto é o próprio destino, o que significa que o último objectivo específico tende a
assemelhar-se ao geral.
Vamos pensar assim: o objectivo geral diz em poucas palavras tudo o que
pretendemos fazer; os específicos dizem a mesma coisa com um pouco mais de
detalhe. A metodologia repete a informação com muito mais detalhe. É como se
estivéssemos a abrir um leque. Quanto maior a precisão, melhor a qualidade do mapa.
A precisão depende da escolha das palavras.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 53
Para não perdermos tempos com bolodórios, observa a Tabela 1, que apresenta
os verbos usados para a elaboração de objectivos. Pronto! Parto do princípio que o
léxico tenha deixado de ser um problema. Contudo, acho que este nem chega a ser o
principal problema dos estudantes. O que os tem realmente preocupado é que verbo
escolher para que tipo de actividade.
Tabela 1. Lista de verbos frequentemente usados para a construção de objectivos.
Tipo de objectivo Verbos
Geral Analisar, avaliar, caracterizar, discutir, diagnosticar,
investigar, implantar, estudar, promover, pesquisar,
realizar, determinar
Específico Indicar, desenhar, colaborar, cotejar, descrever,
desenvolver, utilizar, divulgar, elaborar, empreender,
explicar, evidenciar, facilitar, focalizar, fornecer,
identificar, interpretar, investigar, levantar, localizar,
promover, realizar, reconhecer, reunir, sugerir, tratar,
verificar
Fonte: Adaptado de Bueno (2015).
Para escreveres bem os objectivos, penso que valha a pena conheceres a
taxonomia dos objectivos educacionais, ou de Bloom. Ela é usada pelos docentes
considerando o tipo de conhecimento que eles pretendem transmitir aos estudantes.
De um modo semelhante, podes usar para definir os objectivos, considerando que
pretendes transmitir algum tipo de conhecimento.
Antes de se apresentar objectivos, é importante ter-se em conta alguns
aspectos. Um objectivo deve ser:
Executável – não percas tempo se não há condições para realizar um
objectivo. Pensa sempre em actividades que podem ser realizadas;
Realístico – evita exageros. Pode até ser possível que executes uma
determinada actividade, procura sempre fazer o que podes realizar com os
recursos disponíveis dentro do prazo que tens;
Mensurável – devem existir elementos, ou indicadores, que mostrarão
claramente se atingiste ou não cada objectivo. Assim, cada objectivo deve
ser concebido de modo a produzir duas possibilidades: poder ou não ser
concretizado.
54 Edgar Manuel Cambaza
Em condições normais, um objectivo deveria também apresentar o prazo para
o seu cumprimento, mas esta prática não tem sido aplicada nas propostas do DCB.
Entretanto, o cronograma desempenha este papel, como viremos mais tarde.
Geralmente, cada objectivo é iniciado pelo verbo de acção no infinitivo e deve
deixar claras as variáveis a analisar. Quanto mais precisa a informação, melhor (por
exemplo, “Avaliar o estado nutricional de adultos da Cidade de Maputo de 2000 a
2014 com base no índice de massa corporal”).
4.4 Hipóteses, expectativas ou perguntas de pesquisa
A escolha da modalidade que nos vai conduzir em torno da teoria que vamos
explorar deve ser tão lógica quanto o meio de transporte para uma viagem. Sabemos
que é mais prático usar um carro pela estrada, barco pela água e avião pelo ar e a
relação custo-benefício vai determinar como gerir a situação. Do mesmo modo, é
possível formular-se hipóteses, apresentar-se expectativas e elaborar-se perguntas de
pesquisa para virtualmente qualquer estudo, mas cada um destes elementos é mais
prático em determinadas circunstâncias. Não escolhas arbitrariamente porque corres o
risco de fazer algo muito inadequado.
4.4.1 Hipóteses
4.4.1.1 Quando formular hipóteses
Tenho constatado algumas dificuldades na formulação das hipóteses, tanto em
docentes como estudantes. O uso de hipóteses tem parecido arbitrário com crescente
exigência. Isso é natural, porque milhares de hipóteses rondam em torno de cada
teoria (um tema geralmente gira em torno de uma teoria). Mas não há problemas,
porque trarei uma visão sobre o que o estudante deve ter em mente ao formular uma
hipótese.
Nem sempre as hipóteses são necessárias. Antes de decidires se vais usar ou
não, reflecte sobre os seguintes aspectos:
Para que haja uma hipótese, deve haver tese. A hipótese (do grego
ὑπόθεσις – fundação do argumento) vem como uma ferramenta para
validar esta tese. A tese é uma afirmação clara enunciando determinada
teoria (exemplo: As mortes de Chitima foram causadas por
envenenamento);
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 55
Hipóteses são para estudos cujo resultado é simples, claro e com apenas
duas possibilidades bem distintas;
As hipóteses são mais práticas de se utilizar em estudos seriados,
caracterizados por uma dicotomia e nunca estudos isolados.
O tipo de pesquisa que tem predominado no DCB não é adequado para a
formulação de hipóteses porque há tendências a testar-se um número elevado de
variáveis. Por outras palavras, um mesmo trabalho pode apresentar inúmeras teses.
Como consequência, o estudante vê-se obrigado a escrever uma hipótese qualquer “só
para o inglês ver” ou a formular o que arbitrariamente se chamou “hipóteses
secundárias”. Isto é ridículo porque vai contra o próprio conceito de hipótese: ela
deve ser simples, clara e dicotómica. Não existe uma hipótese primária, secundária ou
o tanas. O que existe são centenas de hipóteses que podem sustentar uma teoria, talvez
umas mais ousadas do que as outras. Se vês que o teu trabalho tem muitas variáveis, e
que estas dariam origem a várias hipóteses, considera a possibilidade de apresentar
expectativas ou perguntas de pesquisa.
4.4.1.2 Como formular as hipóteses
Observa bem os objectivos e com base neles podes formular algumas
hipóteses. Se pegares no objectivo principal logicamente vais explorar a raiz do
problema.
1. Selecciona duas variáveis que pretendes relacionar. Vou usar o trabalho da
Mirella, minha ex-estudante, como exemplo. Duas variáveis seriam VHS e
idade;
2. Qual é a suspeita? Exemplo: VHS e idade são directamente proporcionais.
Porquê? Porque, por exemplo, Cavanaugh (2003) observou – hipótese
alternativa;
3. Se não soubéssemos nada sobre o assunto, qual seria a primeira ideia na
cabeça? Exemplo: VHS e idade não têm relação até que se prove ao
contrário – hipótese nula;
4. É só escrever. Mas, antes, devemos fundamentar. Primeiro, fundamenta-se
a hipótese nula (não se sabe de nada até que se prove ao contrário).
Depois, a alternativa (segundo Cavanaugh, são directamente
proporcionais).
56 Edgar Manuel Cambaza
Deve haver cuidado para não se fantasiar muito ao postular-se hipóteses.
Como cientistas, devemos ser muito prudentes e manter sempre “os pés em terra”. Há
uma ferramenta abstracta denominada “navalha de Ocam”. De acordo com ela, as
melhores hipóteses a considerar tendem a ser aquelas que levantam o menor número
possível de suposições. Por outras palavras, escolham-se as ideias mais simples antes
de qualquer extravagância.
4.4.1.3 Vamos ver o exemplo completo
A informação sobre a VHS em adultos da Cidade de Maputo é limitada.
Entretanto, há estudos que sugerem que a VHS aumentam com a idade (Gonçalves e
Gomes, 2012; Shteinshnaider et al., 2010; Cavanaugh, 2003). Deste modo:
H0: É improvável que o de Westergren em indivíduos adultos da Cidade de
Maputo mostre alguma relação entre a idade e VHS;
HA: Um teste Westergren em adultos da Cidade de Maputo demonstrará
que a VHS e a idade são directamente proporcionais.
É só isso. Fundamentar a nula, a alternativa e depois expor as duas.
4.4.2 Expectativas
Sinto a necessidade de distinguir as expectativas (ou previsões) de hipóteses,
visto que ambas consistem de especulações em torno de um resultado:
Expectativas são as ideias mais intuitivas sobre quais podem ser os
resultados da pesquisa. Diga-se que se a hipótese segue a lógica e
tentativa-erro, as expectativas seguem uma intuição informada;
As expectativas abraçam uma teoria e caminham com ela, enquanto as
hipóteses a desafiam. Se formos a ver, a hipótese nula representa o status
quo, onde o conhecimento se encontra no momento, enquanto a alternativa
traz a novidade. Nas expectativas, é o ponto de vista alternativo, produzido
pelas nossas tendências, que conduz o nosso fio de pensamento;
A hipótese sustenta uma teoria. A expectativa confirma uma ou mais
hipóteses.
Vou dar um exemplo. Quando Cristóvão Colombo encontrou a América, ele
tinha em teoria de que a Terra era esférica. Como hipótese alternativa, se ele seguisse
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 57
sem parar através do mar para o oeste, reencontraria a terra firme38. A expectativa que
ele tinha era de encontrar a Índia.
Para expores as tuas expectativas, é importante que estejas bem informado
sobre o assunto que pretendes explorar. As expectativas são ideais para quem já e
encontra dentro de uma linha de pesquisa, devidamente informado sobre os debates
centrais da sua disciplina. Por exemplo, ele pode já ter observado os resultados de um
estudo semelhante, mesmo que tenha sido num contexto diferente. Nestes casos, as
expectativas tornam-se até intuitivas à medida que se vai pesquisando.
O que ter em conta para saberes quando trabalhar com expectativas? Reflecte
sobre os seguintes pontos:
Já houve muita pesquisa sobre o assunto que estás a explorar e até já tens
fortes evidências daquilo que vais encontrar. Trazes certeza para um
caminho parcialmente trilhado em vez de desbravá-lo por tentativa-erro.
Pensa nesta lógica: se não tens conhecimento algum sobre o assunto, deves
esperar por tudo e se tens todo o conhecimento, não há expectativa mas
sim certeza. A expectativa só surge quando há algum conhecimento e
dúvida;
A expectativa aplica-se bem em casos de transferência de tecnologias, por
exemplo. Ela vai prever a eficiência ou eficácia de algo que foi usado num
outro espaço ou tempo, ou que foi melhorado nalgum aspecto que
intuitivamente deve funcionar. A expectativa é mais aguçada do que a
hipótese no sentido de que ela foca um só resultado em vez de dois (não há
dicotomia). Ela tende a ser muito mais específica. Por exemplo, Cristóvão
Colombo esperava encontrar a Índia e não qualquer outro território;
A expectativa é mais prática para repetir um estudo, possivelmente com
alguma diferença no local, método, etc.. Aplica-se bem a estágios,
repetindo o que os outros já fizeram e esperando os mesmos resultados e a
consolidação de conhecimentos bem estabelecidos.
É necessário que a expectativa esteja bem fundamentada, do mesmo modo que
as hipóteses. Obviamente, não é necessário argumentar tanto sobre o que acontece se
a expectativa não se concretizar, embora seja uma vantagem apresentar-se as
38 A nula era obviamente a contrária, de que não haveria nada além do mar,
partindo-se da teoria predominante de que a terra era plana e a Europa, Ásia e África
constituíam um grande arquipélago no meio de um oceano infinito.
58 Edgar Manuel Cambaza
limitações da possibilidade aguardada. Ainda assim, é imprescindível que se recorra a
evidências ou plausibilidade com o maior peso possível.
4.4.3 Perguntas de pesquisa
Seguindo a lógica anterior, se as hipóteses são construídas pela lógica e
tentativa-erro, as expectativas pela intuição informada, de onde vêm as perguntas? Da
dúvida.
As perguntas são despidas de qualquer suposição, embora possam exibir
eventualmente a dicotomia – sim ou não – como as hipóteses ou um número reduzido
de respostas possíveis. Mas esta modalidade oferece maior liberdade na busca de
informação, sobretudo quando se elaboram perguntas abertas. Mas atenção: a abertura
para a subjectividade torna as perguntas frequentemente adequadas para pesquisas
qualitativas. Para se elaborar perguntas de pesquisa, é importante ter-se em conta os
seguintes aspectos:
Evite-se qualquer assunção. As perguntas são feitas exactamente para que
o próprio estudo responda, sem influência do pesquisador. Enquanto a tese
é uma resposta por avanço e as expectativas suposições, a presente
ferramenta cinge-se em manter a nossa mente aberta até que acabe o
estudo;
As perguntas de pesquisa adequam-se a estudos imprevisíveis, cujos
resultados podem admitir muito mais do que duas possibilidades;
Os estudos conduzidos por questões são frequentemente complexos,
subjectivos e multifactoriais. Se for bem consistente e bem desenhado, não
precisará de ser feito em partes, pelo que um pode responder
definitivamente certas questões, a não ser que se trate de variáveis que
flutuam ao longo do tempo.
As perguntas de pesquisa não precisam sempre de fundamentação, mas devem
ser adequadas para as circunstâncias a investigar. Se vamos trabalhar com
respondentes de um questionário ou uma entrevista, é necessário que tais perguntas
tenham um enquadramento prático na pesquisa, no contexto. Deste modo, é desejável
que se conheça o público-alvo, possivelmente através de uma prévia pesquisa
documental.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 59
4.5 Área de estudo ou local de actividade
A informação sobre a área de estudo e o local de actividade podem ser a boia
de salvação se os resultados do estudo forem inconsistentes com a lógica ou as
evidências da literatura. É muito importante conhecer-se o contexto físico em torno do
estudo que pretendemos fazer. O simples facto de se esquecer uma janela aberta pode
resultar na contaminação de amostras no laboratório e comprometer uma experiência
muito promissora.
4.5.1 Área de estudo
A área de estudo é aquela onde é feita a amostragem. Para quem vai fazer a
amostragem no campo, isto está muito claro. Entretanto, há casos em que o
pesquisador colecta informação na base de dados de uma instituição. Não deve haver
confusão entre área e estudo e base de dados. A informação parte da área de estudo e
depois pode talvez ser armazenada banco. Ao retirar a informação do banco, o
estudante deve prestar atenção à fonte primária da informação.
A área de estudo pode ser qualquer tipo de ecossistema ou entidade
geográfica. É importante localizá-la mas é mais importante ainda descrevê-la. A área
pode ser natural (floresta, costa, a Lua, o espaço, etc.) ou artificial (jardim, cidade, um
campo de ensaios, etc.). Ela deve ter tamanho, limites. Vale a pena mencionar-se o
que está à volta porque pode ter algum impacto, a não ser que haja um factor muito
forte de isolamento. Quais as características da tua área de estudo? É habitável?
Habitada? Se o objecto de estudo for o céu, talvez valha a pena dizer visto de que
ponto e este pode ser a área de estudo. Mesmo que a área não afecte a dinâmica dos
astros, as suas nuvens e tudo o resto pode afectar significativamente a observação do
pesquisador ou estudante.
Procura colocar a informação mais relevante para o teu estudo. Não precisas
de descrever toda a geografia da zona que pretendes estudar, senão acabas escrevendo
um livro. Aspectos respeitantes à localização – geográfica e astronómica – devem
sempre constar e, se possível, um mapa. Informação básica como clima e hidrografia
é bem-vinda, embora nem sempre obrigatória. Vale também a pena falar sobre a
política e dinâmica populacional, sobretudo se for uma área densamente habitada (por
exemplo, cidade). Mas quaisquer outros dados que pretendas trazer à tona, pensa na
relevância para as variáveis que pretendes observar e as próprias condições de
observação. Por exemplo, talvez não valha a pena apresentares a pirâmide
60 Edgar Manuel Cambaza
populacional de Inhaca se o que pretendes estudar é a desova das tartarugas ou a
dança das abelhas. Talvez não valha a pena falares sobre o relevo ou tipo de solo se
estiveres a estudar a coinfecção entre HIV e hepatite. Pensa naquilo que pode ter
impacto sobre a tua experiência porque esses são aspectos a levar em conta se os teus
resultados forem imprevisíveis. Tenta imaginar como seria uma linha grossa se fosse
ampliada.
Se apresentares um mapa, presta atenção ao rigor científico. A escala e a rosa-
dos-ventos39 são fundamentais. Um mapa sem estes elementos é como um carro sem
volante. As coordenadas geográficas são também uma grande vantagem. Por questões
de coerência, procura introduzir um mapa no idioma do teu texto, mesmo que para tal
tenhas de fazer um esforço extra. Cuidado com mapas de fontes duvidosas, por mais
interessantes que pareçam. Como é que te vais defender se houver algum problema? E
hoje em dia, há sempre alternativa porque o Google Maps, por exemplo, é uma
ferramenta acessível a todos e academicamente aceitável (para não dizer excelente).
Um estudo pode incluir várias áreas. É natural que um estudo seja feito em
várias áreas e assim até tem-se a vantagem de se poder compará-las. As regras
aplicáveis para o caso de uma área são as mesmas para várias, mas há aspectos a
considerar:
As informações sobre as duas áreas devem ser igualmente bem
apresentadas à medida do possível. Não fica bem detalhar-se uma área e
falar-se superficialmente sobre a outra. Tudo o que se explora numa deve
ser explorado noutra, a menos que não exista. Até é interessante que o
autor comece por fazer algumas comparações relevantes;
Se as áreas forem adjacentes e muito parecidas, considera a possibilidade
de considera-las como apenas uma, sobretudo se não houver uma forte
separação política ou administrativa. Se o clima, a vegetação, os solos ou
até mesmo grupo étnico que lá habita forem os mesmos, poupa-se muito
tempo e palavras se a área for fundida e descrever-se tudo. Em seguida,
pode-se mencionar que ela apresenta a divisão que pretendemos ressaltar;
Se as áreas corresponderem a grande parte de uma maior, talvez valha a
pena considerar se o estudo não pode representar a área maior. Por
39 As escalas e a rosa-dos-ventos devem estar embutidas no mapa. Procura
mapas com escalas nítidas ou pelo menos perceptíveis.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 61
exemplo, um estudo feito em sete províncias (≈ 70% do país) pode ser
representativo para todo Moçambique. Um estudo feito em cinco países da
África Austral – sobretudo se cobrirem os extremos e o centro da região –
pode ser suficiente para que se use o nome desta área. Além disso, é
politicamente mais prudente olhar para um fenómeno e dizer “isto
acontece nesta área” em vez de considerar que “esta área é assim”.
Considera também olhar para conjuntos de áreas como grupos
determinados (por exemplo, zona sul de Moçambique, Europa Central,
Médio Oriente, vale do Zambeze, etc.).
A forma como se apresenta a área de estudo depende de quem vai ler o
trabalho. Isto veio-me à consciência quando estive na Austrália a pesquisar sobre
Maputo. Senti que era difícil descrever a Cidade de Maputo sem falar de Moçambique
e o seu contexto sociopolítico, económico e social. E não podia ignorar este facto
porque muita gente não conhecia Moçambique, por lá. Há quem até pense que África
é um país cuja capital é África do Sul. Se eu tivesse assumido uma postura moral e
lógica assumindo que não sou culpado pela sua ignorância a respeito da geografia
teria corrido o risco de a minha pesquisa ser mal entendida e avaliada. Isto também
aplica-se ao cuidado que se deve ter com o uso inadequado de nomes informais. Nem
todos conhecem os nomes locais de certas áreas, por mais que isso te pareça absurdo.
Nem todas as pesquisas precisam de área de estudo. Se estivermos a estudar
fenómenos universais, a validar um método em laboratório ou se a origem dos
indivíduos que estamos a estudar for imprecisa, talvez não precisemos de área de
estudo. Não há necessidade, por exemplo, se a minha experiência está apenas rever
uma teoria que parte-se do princípio que ocorre da mesma maneira em qualquer lugar
(pode ser um modelo matemático ou o funcionamento de um biorreactor comercial), a
verificar se um teste rápido de HIV ou hepatite funciona. Há também casos de estudos
feitos em determinadas enfermarias quando não há registo da proveniência dos
pacientes40 – neste caso, a nossa enfermaria será a referência mas está mais para local
de actividade do que área de estudo. Não cometamos o erro de pensar que as amostras
do Hospital de Mavalane são apenas oriundas de Mavalane.
40 Por mais estranho que pareça, isto acontece muito nos nossos hospitais.
62 Edgar Manuel Cambaza
4.5.2 Local de actividade
O local de actividade tem estado a ganhar dominância nos trabalhos de
Ciências Biológicas à medida que aumentam estudantes de Biologia e Saúde 41 e
Biologia Aplicada. Isto faz sentido, porque estas são ciências de laboratório. A
imagem do biólogo está a migrar do cientista com estilo de escuteiro, a caminhar
pelas matas, ao vestido de bata branca como médico, que passa todo o dia num
laboratório. O observador de borboletas está-se a transformar no sequenciador de
ADN. A área de estudo está-se a transformar em todo o planeta, como uma “aldeia
global” e a ciência está agora a ser cada vez mais feita nas bancadas de laboratórios e
cabines de fluxo laminar.
Durante muito tempo, o local de actividade foi descrito em “material e
métodos”, partindo-se de princípio que este era um dos requisitos para a realização do
estudo. Há certamente muitos órgãos académicos que trabalham assim e não é raro
ver esta estrutura em trabalhos do DCB. Mas tem-se estado também a separar a
descrição do local de actividades da metodologia num capítulo distinto. Quando há
uma área de estudo, estas duas secções podem ser combinadas em “área de estudo e
local de actividade”.
A lógica do local de actividades é a mesma da área de estudo – procura
apresentar a informação mais relevante, que pode ter impacto directo ou indirecto
sobre o teu trabalho. Por exemplo, se for um laboratório, vale a pena falar sobre os
recursos humanos e materiais, incluindo informações tais como a vocação da unidade
e biossegurança. O local de actividades é muito importante. Não são raras
experiências que correm mal por meros problemas administrativos ou logísticos.
Começa por introduzir o local, contar algum historial, dizendo quem criou o
laboratório ou a instituição e porquê. Vale a pena dar uma vista na visão e na missão.
Mas não exageres. Um parágrafo de cinco a sete linhas é capaz de ser suficiente. Em
seguida, diz onde está localizado e em que tal área pode influenciar a actividade da
instituição. Lembra-te que às vezes até a instituição é instalada numa área por haver
algo conveniente. Não é difícil imaginar porque o INS, Hospital Central, Ministério
da Saúde, Faculdade de Medicina da UEM e algumas clínicas, farmácias, etc. estão na
mesma área. Podes também falar sobre algum programa conhecido de pesquisa ou
extensão que a instituição está a realizar.
41 Será brevemente conhecido como Biomedicina.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 63
No que respeita aos recursos humanos, menciona as pessoas que estão no teu
ramo de pesquisa e áreas afins, sobretudo os que estão a trabalhar directamente
contigo. Fala do seu nível de formação e das suas competências. Espere-se que o
estudo se faça com maior cuidado se tiver assistência de especialistas do ramo,
sobretudo os mais experientes ou com uma formação mais consistente.
Os recursos materiais são também relevantes. Quais são os espaços do
laboratório ou da instituição? Qual o espaço dedicado ao trabalho que se vai fazer? O
local está suficientemente equipado para a actividade? O laboratório é certificado
como seguindo normas que regem o tipo de actividade42? Existem programas de
controlo de qualidade (interno ou externo)? Mas não se confunda esta secção com a
que vem à seguir, sobre o material que vais usar para a experiência. Aqui a ideia não é
fazer uma lista de material nem dizer a quantidade. O mais importante é dar o leitor a
conhecer o que a instituição é capaz de fazer.
4.6 Material e métodos/metodologia
Esta é a secção mais importante de um protocolo. Apenas com esta parte nas
mãos, o estudante pode fazer o trabalho naturalmente e sem ela o protocolo não
funciona. É aqui que se diz detalhadamente o que deve ser feito durante o estudo e
como os resultados serão apresentados.
Os nomes “material e métodos” ou “metodologia” têm sido escolhidos
arbitrariamente, o que não tem parecido um problema. O que vejo é que o nome
“metodologia” era usado com mais frequência no início mas agora o outro está-se a
tornar mais frequente – mesmo nas revistas científicas internacionais. Mesmo assim,
as revistas internacionais não têm estado a descriminar frequentemente o material
numa lista (a não ser algum muito especial), pelo que se deduz a partir da descrição
dos procedimentos. O nome “metodologia”, pela etimologia [do latim methodus
(método) + grego logion (essência, fundamento)], era certamente mais usado quando
grande parte dos cientistas desenvolvia e validava sozinho o método que haveria de
utilizar, pelo que devia sempre dizer qual era o princípio por detrás deste. Hoje em
dia, o equipamento já vem todo validado e existem kits comerciais que poupam o
cientista de todo este processo, pelo menos nas pesquisas quantitativas. Os kits são um
sucesso tal que um estudante já pode praticamente copiar o procedimento de qualquer
42 Por exemplo, ISO/IEC 17025.
64 Edgar Manuel Cambaza
autor do ramo. O que se chama verdadeiramente “metodologia” está a tornar-se raro e
a ser paulatinamente substituído por “material e métodos”.
4.6.1 Material
O material a ser utilizado deve ser apresentado de forma sucinta. Faz uma lista
explicando qual o material e a quantidade. Há estudantes que dividem esta secção em
subtítulos tais como “equipamento de protecção individual”, reagentes, maquinaria,
etc., o que parece boa ideia. Atenção a marcas e nomes comerciais ou vernaculares.
Em todos estes casos, procura deixar claro do que se trata. Não é má ideia especificar
os modelos da maquinaria ou dos instrumentos porque assim todos podem saber mais
concretamente com o que se trabalhará. Não precisas de colocar em itálico nomes
como Eppendorf, Erlenmeyer, Bunsen, Gram ou Petri porque são substantivos
próprios. Entretanto, palavras como kit ou pH meter devem estar em itálico porque
são palavras comuns “emprestadas” da língua inglesa.
Há material que não precisa de ser apresentado na proposta. Isto não é um
grande problema porque muitos estudantes percebem quase instintivamente o que
incluir como material num protocolo experimental. O material de escritório, tal como
caneta, bloco de notas, o papel, etc. não precisa de ser mencionado, em parte porque é
sempre utilizado e porque a sua ausência não compromete necessariamente o
desenrolar de estudos experimentais. Além disso, a ciência só é completa quando
escrita ou registada de qualquer outro modo para a posterioridade. Não é necessário
mencionares o laptop nem a impressora que vais usar 43 . Tecnicamente, deves
apresentar o material indispensável para a tua experiência: vestuário especializado
(máscaras, luvas, etc.), material e instrumentos para o processamento das amostras, de
medição e de impressão ou apresentação dos resultados.
Se o teu estudo não envolve laboratório nem trabalho de campo, não precisas
de apresentar o material. Os “trabalhos de escritório”, cujo esforço é essencialmente
intelectual, não precisam de apresentação do material. Este tipo de trabalhos pertence
ao grupo que não pode apresentar como nome da secção “material e métodos” e sim
“metodologia”. Mas isto não significa de modo algum que estes trabalhos apresentam
43 Contudo, deve-se mencionar os computadores ou as impressoras acoplados
aos instrumentos de processamento das amostras. Por exemplo, o citómetros de fluxo
FACSCalibur estão acoplados a computadores e impressoras especializados para
comandar as operações e imprimir os resultados.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 65
menor qualidade. Aliás, como já disse acima, um bom artigo de revisão pode ser mais
relevante do que uma dezena de pesquisas de campo isoladas.
Às vezes, é necessário prestar algum esclarecimento sobre certo material a ser
usado. A experiência de um protocolo deve ser replicável por parte de quem estiver
interessado. Deste modo, é importante que qualquer cientista – ou candidato – possa
reproduzi-la com o menor esforço de pré-investigação possível. Assim, todo o
material deve estar apresentado de modo compreensível e as misturas incomuns ou
complexas podem precisar de uma explicação sucinta sobre como são preparadas com
base em substâncias mais simples e acessíveis. Recomendo que esta explicação esteja
no anexo.
4.6.2 Procedimento
Vale a pena falar sobre o controlo de qualidade antes de descrever qualquer
actividade. Não é prudente utilizarmos instrumentos não calibradas ou reagentes fora
do prazo. Fala sobre o controlo de qualidade, indicando a validade, fiabilidade,
precisão e exactidão do instrumento que vais utilizar. Até que ponto as medições
correspondem à realidade? Diz como se calibram os instrumentos e da periodicidade
desta prática. Usa-se material certificado de referência44? Além disso, assegura-te de
que a tua experiência apresentará uma amostra positiva e uma negativa. A primeira
apresenta o elemento que garantirá que o resultado da experiência será sempre
positivo, demonstrando assim que os instrumentos estão a funcionar. A segunda está
“em branco”, produzindo um resultado negativo – esta demonstra que a amostra não
está contaminada.
É necessário que se deixe claro que tipo de estudo se está a fazer: prospectivo,
retrospectivo ou misto, descritivo ou experimental, transversal ou longitudinal, etc. [a
pirâmide da Figura 1 apresentam o exemplo de alguns modelos. Ver também o artigo
de Sampaio and Mancini (2007)].
A metodologia deve estar detalhada e respeitar o rigor científico. Se for
baseada nalgum documento, deve-se fazer referência45. É necessário dizer tudo o que
será feito incluindo a duração de cada etapa, passo a passo. Respeite-se a ordem
cronológica porque a experiência deve ter princípio, meio e fim. No entanto, não é
44 Amostras preparadas por entidades acreditadas internacionalmente para
certificar-se que laboratórios distintos produzam resultados similares e aceitáveis. 45 Por questões práticas, podes dizer logo no início em que te vais basear para
realizar a tua experiência.
66 Edgar Manuel Cambaza
necessário enumerar o texto em etapas. Escreve tudo como se fosse uma boa
narrativa, mas sem figuras de estilo. Ambiguidade é a última coisa que se quer num
texto académico, sobretudo quando se pretende descrever aspectos muito concretos.
A análise estatística deve estar descrita e detalhada na metodologia. Não basta
apenas dizeres qual o teste ou pacote estatístico que vais usar. Isso é o mesmo que
dizer que vou ao Chókwè de Toyota. Não é suficiente para os outros saberem como
chegar lá. É necessário indicar todo o caminho com o mesmo nível de detalhe usado
para a descrição da experiência. Sabendo quais as variáveis que vais utilizar, é fácil
saberes como processar a informação.
Os verbos devem estar no futuro. A proposta é um plano e por isso fala
daquilo que irá acontecer. É comum estudantes escreverem instruções no presente,
como se faz com as receitas de bolo, mas não é assim que se deve fazer.
4.6.2.1 Amostragem
Amostragem é o processo pelo qual buscamos a informação necessária para o
nosso estudo, para produzirmos informação. A sua natureza depende do estudo.
Amostra é parte de alguma população cujas características precisamos de conhecer. A
população pode ser de qualquer coisa: plantas, animais, água, pedras ou seja qual for
o nosso objecto de estudo. Mas atenção:
Amostra é mera fonte de informação. Nem sempre é necessário carregar
indivíduos inteiros para o nosso laboratório. O mais importante é obter o
suficiente para conseguires observar as variáveis que procuras. Pode ser
uma simples amostra de sangue, a folha ou o fruto de uma planta, cabelo,
foto ou até opinião sobre um assunto. O auge da excelência é poupar o
máximo possível de recursos mas obter amostras suficientemente boas
para um estudo de alta qualidade;
A amostra deve ser representativa. Se estás a estudar uma população
heterogénea, o ideal é cobrir aqueles que apresentam grande parte das
características, das variáveis que pretendes estudar. Por exemplo, se estás a
estudar os hábitos alimentares da Cidade de Maputo e entrevistas os
primeiros dez indivíduos que encontras, o que farás se quase todos forem
vegetarianos? O que farás se forem diabéticos? Ou se estiverem sob dietas
especiais? Não é difícil conceber uma amostra representativa. Falarei
abaixo com mais detalhe, mas há princípios a tomar em conta. Por
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 67
exemplo, a amostra é mais representativa quanto maior for, quanto maior a
área que cobrir, quanto mais dispersa for pela área, se for feita
aleatoriamente, etc.. Há uma máxima de Bruce Lee que nos pode ajudar a
pensar: a amostra deve ser “como a água, que toma a forma de todos os
objectos onde a colocamos”;
O processo de amostragem não deve danificar ou alterar substancialmente
a estrutura da população. Se isso acontece, o que é que estamos a estudar?
É preciso ter-se muito cuidado com isso, sobretudo em pesquisas
qualitativas ou quando o objecto é muito sensível. Se vamos entrevistar
pessoas, é que saibamos interagir com elas. Se é material vivo, é bom que
saibamos manter a integridade. Se for inerte, devemos saber conservar;
Cuida para que a amostra não se altere substancialmente durante o
processo de colecta, transporte ou armazenamento. Ainda estamos no
ponto anterior. Mesmo que a amostra não seja perecível, é ainda
importante garantirmos que se trata de uma amostra fidedigna, isto é, que
na hora da análise represente o que realmente estamos a estudar e ainda
assim forneça-nos o tipo de informação que estamos à procura;
Nem todas as amostras produzem informações extrapoláveis. Existem
estudos de caso, baseados num único sujeito, por exemplo. Por mais
elucidativos que estes sejam, são vulneráveis a erros de julgamentos se
tentamos generalizar as observações para uma população inteira. Um
estudo destes só pode ser qualitativo e demonstrativo de que existe uma
situação como a descrita. Foi num estudo desta natureza que Einstein
demonstrou a veracidade da teoria da relatividade;
Nem todos os estudos precisam de amostras. Um exemplo típico são as
revisões críticas, descritas no DCB como monografias. Diga-se que os
estudos mais abstractos, que focam mais o mundo das ideias e menos o
físico. Por isso, não te preocupes se o teu estudo não apresentar alguns dos
elementos mais comuns nos trabalhos dos teus colegas. Existem centenas
de maneiras de se buscar conhecimento e todas elas são relevantes.
Há uma questão que tem aparecido com certa frequência: como determinar o
tamanho de uma amostra? Vou deixar aqui alguns comentários:
68 Edgar Manuel Cambaza
1. Nem sempre é necessário. Só se calcula quando se está a estudar uma
população. A maioria dos trabalhos enquadra-se neste grupo. No entanto,
não é necessário para quem quer validar um método ou testar uma teoria.
Por exemplo, por exemplo, quem quer ver se um teste rápido funciona ou
se um microrganismo é resistente a um antibiótico. Nesses casos, procura-
se o número mínimo de amostras com significância estatística (geralmente
8);
2. Quando se estuda uma população, determina-se o tamanho considerando-
se um determinado intervalo de confiança (IC). Vamos pensar assim: IC é
o número de vezes que a experiência deve ser repetida para que os
resultados sejam idênticos, sem tirar nem por. Vocês têm a liberdade de
escolher o valor, mas 4 a seis são frequentes. O IC é muito poderoso. Por
exemplo, uma população de 15.000.000 de habitantes e IC = 4 só precisa
de uma amostra de 600 pessoas;
3. Uma vez com o IC podem calcular o tamanho da amostra com base no
Sample Size Calculator (AAPOR & AMA, 2012), um website em que se
calcula quase instantaneamente o tamanho da amostra. Ele é altamente
credenciado e foi internacionalmente premiado. Não te esqueças de fazer
referência ao site. Alternativamente, podes ler alguns livros ou artigos de
estatística a respeito. Alguns exemplos são as publicações de Eng (2003),
Israel (2013) e Naing, Winn, and Rusli (2006), gratuitamente encontradas
na internet e cujos títulos constam da bibliografia deste documento. Se
preferes o conforto do idioma de José Craveirinha, podes ler o artigo de
Miot (2011). Os princípios usados para estudos de saúde aplicam-se aos
demais;
4. O tamanho do controlo: o mínimo é 8. Pronto! Explicação: o controlo é
usado para certificar se o método está a funcionar e enquadram-se no que
eu disse no ponto 1.
Em trabalhos de saúde, ou outros semelhantes, é necessário que se considerem
os critérios de inclusão dos sujeitos experimentais. Isto é muito importante para se
evitar que factores indesejáveis influenciem o estudo. Por exemplo, se estamos a
estudar a sintomatologia de uma doença, não podemos ter sujeitos positivos para outra
doença com sintomas e sinais semelhantes. Além disso, o critérios de inclusão
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 69
permitem “afunilar” melhor o grupo-alvo e a focar o cientista nos sujeitos que mais
interessam.
Os aspectos éticos também são importantes. Um trabalho científico não deve
infringir as leis nem causar danos físicos desnecessários nem morais à sociedade ou
ao ambiente. Embora o aparelho legal moçambicano ainda esteja a desenvolver, o
respeito pela ética e boa conduta fazem parte das competências de um cientista. Exijo
que os meus estudantes, sobretudo de saúde, incluam uma pequena secção a falar
sobre ética no seu trabalho e que nela conste uma expressão mais ou menos como a
seguinte:
Por questões éticas, garantiu-se a confidencialidade dos indivíduos envolvidos,
substituindo-se os nomes por códigos numéricos. Além disso, o estudo não faz distinção de
raça, religião, etnia ou inclinações políticas, não é patrocinado por nenhum grupo de interesse
nem tem o potencial de ferir sensibilidades. O género foi estudado por propósitos meramente
académicos46.
A preocupação com a ética é tão grande que é necessário submeter-se
trabalhos que envolvam seres humanos ao Comité Institucional de Bioética em Saúde
da Faculdade de Medicina & Hospital Central de Maputo (CIBS FM&HCM). Vou
deixar as instruções para a submissão dos protocolos ao comité no Suplemento 2,
mas preste-se atenção que este aplica-se aos trabalhos feitos no Hospital Central, na
Faculdade de Medicina da UEM ou conduzidos em coordenação com estas
instituições. É possível que através de memorandos outras organizações recorram aos
seus serviços. Com o tempo, é provável que surja um comité maior e capaz de avaliar
outros aspectos relacionados com ética, higiene e segurança na ciência.
4.6.2.2 Experiência
Um conselho: lê muito bem o documento de onde estás a tirar a informação.
Procura ver se condiz exactamente com o que pretendes fazer, em termos de recursos
e as respectivas quantidades. Tenta verificar se o método vai-te permitir obter as
variáveis que procuras. Recomendo que pesquises bem para perceber o papel de cada
46 A última frase, sobre o género, pode ser usada para mencionar qualquer
outra variável que venha a ser usada mas que pode, nalguns contextos, causar algum
desconforto moral. De qualquer modo, toda a expressão pode ser rearranjada de modo
a enquadrar-se no tema a ser estudado. Nalguns temas relacionados com o ambiente,
talvez valha a pena, por exemplo, deixar-se claro que não se vai danificar espécies
ameaçadas ou comprometer o bom funcionamento de um ecossistema.
70 Edgar Manuel Cambaza
reagentes que vais utilizar, porque assim podes até perceber melhor como usá-los com
maior eficiência.
É também importante falares sobre os resultados e sobretudo as suas
propriedades como variáveis: se serão contáveis ou não, discretas ou contínuas,
ordinais ou cardinais, etc.. Se algo será medido ou observado, o que se deve ter como
elemento de análise no fim. O resultado será impresso, fotografado ou simplesmente
observado? Ele aparecerá temporariamente ou definitivamente? É preciso ter-se uma
ideia concreta porque só assim o pesquisador saberá como lidar com ele.
A descrição das análises estatísticas (quando necessárias) constam desta parte
do protocolo. Tal como todo o resto da experiência, elas devem ser descritas
detalhadamente. É comum os estudantes mencionarem um ou dois testes de hipóteses
sem sequer detalhar para que servirão, mas assim a pesquisa não será totalmente
reprodutível. A estatística começa com o lançamento dos dados, seguido por testes de
hipóteses e descrições das observações. É desejável que o estudante deixe claras as
regras de decisão e sugira as implicações teóricas daquilo que acabou de observar. Há
vários pacotes estatísticos, alguns dos quais muito específicos para uma ou outra
actividade. Dois pacotes frequentemente utilizados são o Microsoft Excel e o SPSS,
mas há outros (Stata, Statistica, Epi Info, etc.). Quem quiser ver algumas
demonstrações básicas sobre o uso do SPSS pode consultar as explicações que deixei
no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=RDHd3_JOpKU e
https://www.youtube.com/watch?v=s7aVh7tsFp8.
4.7 Resultados esperados
Esta parte não tem sido obrigatória de se apresentar em grande parte dos
trabalhos do DCB. Entretanto, é importante para relatórios de estágio. Pense-se que
esta ferramenta é aplicável a trabalhos cujos resultados são previsíveis, isto é, quando
o pensamento é construído a partir de expectativas. Não é adequado a estudos em que
se propõe hipóteses ou lança-se perguntas de pesquisa porque estaríamos a forçar um
ponto de vista sobre casos em que se deve manter a mente aberta.
Há uma pergunta que pode naturalmente surgir daqui: se já apresentei as
expectativas, que diferença estas terão com os resultados esperados? A resposta
simples é que a diferença está no nível de detalhe, de aprofundamento. Da mesma
maneira que a metodologia é uma ampliação dos objectivos, os resultados esperados
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 71
são uma ampliação das expectativas. Até hoje, ainda não vi resultados esperados bem
apresentados. Todos têm estado a despachar ingenuamente (sem ofensa, colegas).
Não nos esqueçamos que resultados esperados são, antes de tudo, resultados.
Só não são os factuais. Deste modo, eles devem ser apresentados à medida do possível
tão bem detalhados quanto aqueles que serão os resultados no relatório. Se for para
incluir gráficos e tabelas, que assim seja, desde que estejam bem fundamentados. Se
for para ocupar uma ou dez páginas, isso só depende daquilo que o pesquisador se
propôs a estudar. Condolências para quem tiver proposto um assunto muito exigente.
Se os resultados esperados exigem fundamentação, é natural que apresentem
referências a diversas autoridades, raciocínio lógico e todos os elementos para que se
mostrem plausíveis.
4.8 Cronograma e orçamento
O cronograma de actividades e o orçamento tem sido frequentemente
apresentados em tabelas não legendadas. Geralmente, não intervenho sobre este facto
mas defendo que não haveria problema algum se estes elementos apresentassem
legendas, até porque em regra todas as tabelas e figuras devem apresentar. Por outro
lado, estas secções tendem a ser diferentes da maioria. Por exemplo, não são
acompanhadas de texto e, por extensão, estas tabelas não são referenciadas.
De qualquer modo, estas particularidades não têm constituído qualquer
problema prático, uma vez que sempre se sabe onde encontrá-los. Além disso, para
que legendar tabelas cujo conteúdo já é bem conhecido? Seja como for, o mais
importante é um diálogo constante com os docentes da disciplina de culminação do
curso de modo a evitar-se mal-entendidos sobre o assunto.
4.8.1 Cronograma de actividades
O cronograma apresenta as etapas através das quais o estudo será realizado ao
longo do tempo. É frequente indicar-se em meses, provavelmente por causa da
natureza de diversas actividades, mas o cronograma é uma ferramenta aberta para
qualquer modelo eficaz de apresentação, desde que corresponda a verdade e seja
consideravelmente fácil de se perceber. Além disso, ele é altamente dependente das
etapas. Um exemplo simples de cronograma é a Tabela 2, abaixo.
72 Edgar Manuel Cambaza
Tabela 2. Exemplo de cronograma de actividades.
Actividades/Meses Jul Ago Set Out Nov Dez
Colecta de dados
Análise
Redacção do relatório final
Revisão do texto
Entrega do relatório
Fonte: Chambisse (2014).
Atenção para não incluir a elaboração do protocolo no cronograma. Isto
simplesmente não faz sentido porque o protocolo é aprovado depois da entrega. E só
se entrega quando está pronto. Como é que vais entregar um protocolo que diz que ele
ainda será elaborado? Aliás, não vejo razão alguma para se mencionar o protocolo no
cronograma. Ele deve listar as etapas do estudo em si até à entrega do relatório.
4.8.2 Orçamento
Orçamento é a lista detalhada do material que precisarás para o teu estudo e o
respectivo custo (observa a Tabela 3). Desta vez, não só incluis o material para
concretizares a experiência (em caso de pesquisa), como ainda tudo o resto incluindo
os recursos de escritório, transporte, contingências, dinheiro de bolso, etc..
Tabela 3. Exemplo de uma tabela de orçamento.
Itens Custo unitário (Meticais) Quantidade Total (Meticais)
Consumíveis de escritório Não aplicável Não aplicável 3 000,00
Impressão de documentos Não aplicável Não aplicável 2 500,00
Comunicação Não aplicável Não aplicável 1 700,00
Transporte 100 Não aplicável 1 500,00
Dinheiro de bolso Não aplicável Não aplicável 2 000,00
Subtotal 10 700,00
Imprevistos (15%) 1 605,00
Total 12 305,00
Fonte: Chambisse (2014).
Mas atenção:
Não te esqueças de nada. Se submetes um orçamento incompleto a um
financiador corres o risco de teres de procurar sozinho os recursos que
faltam;
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 73
Não faças da tua experiência uma fonte de rendimento. Não incluas no
orçamento dinheiro que não seja para o projecto;
O orçamento não deve incluir salários, a não ser que precises de
subcontratar alguma entidade para a prestação de algum serviço
necessário para o estudo;
Não precisas de incluir o que terás gratuitamente. Por exemplo, podes estar
a trabalhar no meio de um projecto já custeado. O exemplo da tabela acima
é bom, dado que a pesquisadora eliminou todo o material do laboratório
que foi financiado pela própria instituição de onde ela obteve os dados
para o estudo.
4.9 Bibliografia
Ler 2.4.2 – Estilo de citação e bibliografia, na página 13.
4.10 Anexos
Ler 3.1.9 – Anexos, na página 43.
74 Edgar Manuel Cambaza
5 Relatório de pesquisa
Uma vez que muitos elementos encontrados neste tipo de documento já foram
mencionados, vou-me dedicar sobretudo aos que não existem no protocolo. Nas
secções comuns, vou fazer referências de modo que encontres facilmente a
informação.
5.1 Elementos pré-introdutórios
O relatório de pesquisa apresenta mais elementos pré-introdutórios do que o
protocolo. Estes incluem todos do protocolo (4.1 – Elementos pré-introdutórios, na
página 47) e outros, típicos do documento que reflecte a conclusão de um projecto:
agradecimento, dedicatória, etc.. Quem lê tem também uma visão de detalhes não
científicos do projecto incluindo o sentimento do estudante.
5.1.1 Agradecimento
Geralmente, não digo aos estudantes como escreverem esta parte nem leio até
que o presidente do júri (do grupo que vai avaliar o trabalho) me entregue de volta a
versão final. Na verdade, esta é última parte que leio por duas razões:
A escrita deve ser livre, de acordo com o sentimento do estudante. Cada
um sabe a quem e como agradecer;
Só posso ver o meu nome no agradecimento no fim de tudo, quando este
não puder ser alterado. Não é que isso possa influenciar o meu julgamento,
mas prefiro não correr remotamente o risco de comprometer a minha
imparcialidade.
Só apelo ao estudante que respeite devidamente a Gramática Portuguesa e
escreva frases bem construídas com a clássica estrutura sujeito + predicado +
complemento directo/indirecto + restantes complementos (se necessário). É
também um bom gesto de cortesia dizeres às pessoas porque agradeces.
Quando digo que a escrita é livre, é mesmo! Podes usar os calões, as gírias e
os estrangeirismos que quiseres, mas atenção: não subestimes o impacto que eles
podem ter na tua reputação. É certo que qualquer docente sensato não vai avaliar esta
secção sentimental com um olho académico, mas ninguém quer saber das tuas
bebedeiras com os bradas ou circunstâncias embaraçosas. Realisticamente, tudo isto
pode afectar como as pessoas falem contigo, mesmo que mostres a mais sofisticada
retórica científica no corpo do texto. Por isso, a modéstia é sempre uma boa atitude.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 75
5.1.2 Dedicatória
A dedicatória é também de escrita livre e depende da criatividade.
Basicamente, o que se aplica para o agradecimento é válido para esta parte. A grande
diferença é que o remetente da dedicatória não tem necessariamente de ser alguém
que te ajudou a escrever o relatório. Dedicas a quem quiseres, movido pelos teus
sentimentos. Podem até ser pessoas já mencionadas no agradecimento. Esta parte é,
obviamente a mais pessoal e muitos estudantes dedicam à família ou outras pessoas
muito chegadas.
5.1.3 Epígrafe
A epígrafe é um pequeno texto – provérbio, parábola, etc. – colocado numa
página por razões meramente estéticas. Não é obrigatório mas confere alguma beleza
ao relatório. Pode ser a citação de um filósofo antigo, poeta, uma autoridade ou até
pessoal. Seguramente, ainda estamos no âmbito da escrita livre.
Uma boa epígrafe vai abrir a mente do leitor e convidá-lo à exploração da
dissertação (ou tese), sobretudo se em sintonia com a temática central. Ele pode
mostrar a imaginação ou criatividade do estudante, a sua sensibilidade ou até reflectir
quão nobres são as suas aspirações.
Entretanto, por favor, procura reconhecer devidamente as autoridades se a
ideia não for tua. Nem é necessário colocares o nome na bibliografia (fica
descansado), mas não dói nada mencionares quem disse as palavras bonitas. Aliás,
quem não ficará impressionado ao saber que tens estado a ler Platão ou Kant?
5.1.4 Declaração de honra
A declaração de honra representa um termo de responsabilidade em que o
estudante assume a autoria da dissertação (ou tese), afirma que as ideias extraídas de
outros autores estão acompanhadas pelo devido reconhecimento e que os resultados
da pesquisa são verdadeiros. Ela é, literalmente, um atestado de originalidade. Uma
vez assinada, ela confere protecção legal do estudante como autor pode ser usado em
contextos jurídicos caso haja alguma implicação relacionada com o seu conteúdo.
Uma boa declaração pode ter uma expressão como a seguinte:
Eu, (nome), declaro que este trabalho, intitulado (título), foi inteiramente feito por
mim e que os resultados aqui apresentados correspondem à realidade. Ele foi elaborado sob
supervisão de pelo menos um profissional que confirmou a sua fidedignidade e prontidão para
a publicação. Todo o conteúdo extraído directa ou indirectamente de outras obras apresenta
76 Edgar Manuel Cambaza
referências aos devidos autores. Deste modo, responsabilizo-me por toda ou qualquer
consequência moral ou legal advinda da sua publicação.
Em seguida, deves assinar a declaração. O trabalho não pertence a ninguém
até que tenha sido assinado. Há universidades em que até ensaios e pequenos
trabalhos feitos durante o curso exigem a assinatura do estudante, exactamente para
protegê-lo e evitar o plágio.
O trecho que incluí, no exemplo acima, mencionando o supervisor, não tem
sido incluída nas declarações do DCB, mas devia. A lógica dela é que há quem se
possa defender em caso de fraude, dizendo que cometeu ingenuamente, por falta de
conhecimento sobre as leis. Parta-se de princípio que um profissional esteja mais
familiarizado com a lei de propriedade intelectual.
5.1.5 Resumo (e palavras-chave)
Se durante o trabalho lutaste pare ser breve, claro e directo, aqui deves ser
mais breve, mais claro e mais directo. Um bom resumo não precisa de exceder 250
palavras. Escreve o essencial. Evita advérbios como “sensivelmente” ou expressões
como “… é interessante saber-se que…”. Elas são inúteis e só aumentam o volume do
teu texto, por mais agradáveis que pareçam. Usa a voz activa sempre que puderes. Ela
aumenta a dinâmica do texto e reduz o esforço de leitura.
Começa por usar tuas próprias palavras. Pensa no que dirias se tivesses um
máximo de dois minutos para explicares a tua experiência a um público leigo. Em
poucas palavras, expõe o problema, o principal objectivo, o objecto de estudo (ou os
sujeitos), a metodologia, os resultados, a conclusão e principais recomendações. É
natural que tenhas medo de negligenciar um ou outro detalhe, mas a experiência
mostra que é possível resumir todo ou qualquer estudo.
No DCB não se tem usado palavras-chave mas elas são uma mais-valia para o
trabalho. Esta pequena lista, logo debaixo do resumo, apresenta as principais palavras
ou expressões que os leitores devem usar como referência em busca da pesquisa ou
trabalhos relacionados. Elas são “pistas” deixadas intencionalmente para quem te
quiser seguir. Assegura-te de que estás a produzir as pistas certas. Pensa nas
principais variáveis envolvidas no teu estudo, no público-alvo, na área de estudo e
outros elementos que farão aquele que busca o teu trabalho no Google encontrá-lo.
Não enchas o teu trabalho de palavras-chave. Quatro a seis podem ser uma boa ideia.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 77
Os resumos predominantes nos artigos científicos apresentam apenas um
parágrafo, mas há outros – abstracts plus – que são miniaturas do trabalho,
apresentando uma clara divisão entre os principais capítulos (introdução, objectivo
central, metodologia, etc.).
5.2 Introdução
5.2.1 Generalidades
Esta parte é mais simples quando comparada à do protocolo. É só questão de
apresentar os pontos 1, 2, 9 e 10 da secção 4.2.1 sobre Generalidades, na página 47. O
mais importante é trazer o leitor ao contexto do tópico que o estudante esteve a
pesquisar. Grande parte da informação anteriormente nesta parte da introdução vai à
revisão bibliográfica.
5.2.2 Problema
Ler 4.2.2 – Problema, na página 50.
5.2.3 Justificativa
Ler 4.2.3 – Justificativa, na página 51.
5.3 Revisão bibliográfica
Esta secção, o estudante mostra o quanto se apresenta informado sobre o
tópico, trazendo noções, controvérsias, pontos de vista de vários autores e como o seu
trabalho se encaixa no meio da produção científica geral. Aqui, preste-se mais atenção
aos pontos 3 a 8 da secção 4.2.1 sobre Generalidades, na página 47.
Esta secção não pode exceder 25% de todo o texto do relatório. O problema é
que nela predominam informações advindas de outros autores. Se esta secção torna-se
grande em demasia compromete a originalidade do relatório. Tecnicamente, não é
plágio mas considera-se47 . O mais importante a saber é que não é politicamente
correcto fazer isso.
5.4 Objectivos
Ler 4.3 – Objectivos, na página 52.
47 Este tratamento é específico para relatórios e trabalhos de estágio, onde
espera-se que o maior contributo advenha das observações do próprio estudante. Os
trabalhos de monografia devem aceitar um volume maior de informação alheia, mas
sempre devidamente referenciada.
78 Edgar Manuel Cambaza
5.5 Hipóteses, expectativas ou perguntas de pesquisa
Ler 4.4 – Hipóteses, expectativas ou perguntas de pesquisa 54.
5.6 Área de estudo ou local de actividade
Ler 4.5 – Área de estudo ou local de actividade, na página 59.
5.7 Material e métodos
Basicamente, o que deves ter em conta é que o estudo já foi feito e tu só estás
a reportá-lo. Deste modo, todas as acções devem-se encontrar no pretérito, como
numa boa narrativa. Tirando isso, esta secção é idêntica à descrita para o protocolo,
no ponto 4.6 (Material e métodos/metodologia), página 63.
5.8 Resultado
Não basta apenas dizeres o que observaste na experiência. A qualidade dos
resultados também é importante. Se usaste um método e algumas ferramentas de
validação, tais como calibragens ou controlos, é importante dizer o que aconteceu
com estes elementos. Nas análises estatísticas, não basta apenas fazer as descrições ou
apresentar os resultados dos testes de hipótese. O nível de significância dá-nos a
ideia do rigor na medição. Se for fixo para todo o trabalho, podes anunciar no início
do resultado que tudo foi feito assim. O nível descritivo p é também importante para
se ter uma ideia de até que ponto as descrições podem corresponder à realidade.
Eis as dicas que tenho dado aos meus estudantes: evita pôr duas ferramentas
(gráficos e tabelas) com a mesma informação básica no texto. A mais resumida fica
no texto e a detalhada vai para o anexo, com referência no texto. Podes usar a tua
própria linguagem mas, para cada gráfico/tabela, num ou dois parágrafos, recomendo
que:
1. Reapresentes o problema geral numa frase simples e directa. Exemplo:
Explorou-se a questão sobre o impacto da estação do ano sobre o nível de
hemoglobina.
2. Apresentes o resultado do teste de hipótese que dá relevância estatística à
comparação. Exemplo: De acordo com uma análise qui-quadrado a alfa =
0,05, há diferenças significativas entre os níveis de hemoglobina nas
estações distintas do ano.
3. Faças uma "introdução" do gráfico/tabela, como as variáveis foram
comparadas e as unidades usadas. Exemplo: O gráfico de caixas 3 aborda
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 79
este assunto através da comparação dos níveis nos diferentes meses. É
possível observar os intervalos de confiança, as médias...
4. Os casos mais extremos, facilmente notáveis, se observa-se algum padrão
ou alguma tendência, etc.
5. Um parecer sobre o que o gráfico/tabela contém num contexto mais
teórico. Não tenhas receio em dar opinião, desde que não seja muito
radical ou irrealista. Não te esqueças que o teu trabalho é produzir teorias.
Esgota cada assunto, mas mantém o texto impessoal.
Nota: No ponto 5 ainda não iniciaste a discussão mas terás dado uma
apreciação completa sobre as tuas observações antes de comparares com outros
autores. Segue todos estes pontos sistematicamente para cada análise, mas usa a tua
própria retórica. Quando tiveres esta parte concluída, o resto será muito mais fácil.
É lógico que as etapas podem ser ligeiramente diferentes variando de pesquisa
para pesquisa. Por exemplo, há pesquisas qualitativas ou de catalogação, em que pode
não se recorrer à estatística. Há casos em que a informação não é produzida em
gráficos ou tabelas, mas em fotos ou outros tipos de ferramentas. O mais importante é
seguir um raciocínio lógico que cubra, à medida do possível, etapas similares às em
cima descritas. Quem tiver dúvidas sobre o assunto poder-me-á contactar através do
edycambaza@yahoo.com.br ou através do Facebook.
5.9 Discussão
Deves discutir todos os teus resultados. Tudo! Nem que discutas
sistematicamente, parágrafo por parágrafo dos resultados. Mesmo aqueles que não
focam directamente o problema que pretendes estudar. Eventualmente, essa pode até
ser a parte mais interessante para alguns leitores. Por exemplo, em estudos de
epidemiologia, vale sempre a pena considerar aspectos demográficos (sexo, idade,
residência, etc.). Sempre recordo aos estudantes que uma experiência pode até ser
comprometida pelo facto de o técnico do laboratório ter-se esquecido das chaves ou o
termiciclo ter avariado e, querendo como não, esse tipo de erro pode-nos perseguir até
ao fim. Este tipo de assunto não deve ser ignorado, mesmo que não tenha ciência.
Para cada resultado, faz o seguinte:
1. Repete a ideia central do resultado.
2. Diz o que ele sugere. Não tenhas receio de dar a tua opinião, desde que
esteja bem fundamentada.
80 Edgar Manuel Cambaza
3. Procura as limitações da tua ideia (o que pode não estar correcto) ou se há
algum problema nas observações. Aqui já podes verificar se algum autor
também observou esse problema. Por outras palavras, tenta ver se há algo
a contrariar o teu resultado e autores que pensam assim.
4. Procura os pontos fracos daqueles que não te apoiam. Exemplo: Os
estudos podem ser antigos, de áreas diferentes, grupo-alvo diferente,
metodologias com problemas, amostras menores, etc. A lógica disto é
tentares defender porque tu estás provavelmente certa e eles errados.
5. Observa os pontos fortes e argumentos a teu favor. Procura também os
autores que te apoiam. Esta secção deve ser pelo menos o dobro em
conteúdo (número de autores, etc.) comparando com os que estão contra.
Não te esqueças que pretendes reforçar a tua posição.
6. O teu parecer final sobre o respectivo resultado. Procura ser precisa, clara,
directa e, acima de tudo, procura valorizar o que observaste. Faz isso para
todos os resultados e a tua discussão vai ficar impecável. Para cada
resultado, deves ter pelo menos cinco autores na discussão (dois contra e
três a favor). Quantos mais, melhor.
Vendo assim, parece fácil, mas há uma pergunta que os estudantes fazem
frequentemente: o que fazer quando não se encontra referências suficientes para a
discussão? A pergunta é pertinente e legítima porque, em Moçambique, as ciências
encontram num estado embrionário e há uma falta quase generalizada de informação
científica local. Mas isso é o que gosto de chamar “crise dos pioneiros”. O pioneiro
está condenado a um “isolamento intelectual” pelo facto de ninguém mais ter
explorado o assunto. Eu dou sempre a mesma resposta: “Parabéns! És um pioneiro!”
O vazio que o estudante sente parte do pensamento erróneo de que ele só pode
usar livros e artigos científicos. Estes devem ser prioritários mas de modo algum
devem ser a única fonte. Um dia, a doutora Cristina Beatriz me disse “quem não tem
cão , caça com gato”, isto é, na falta do melhor, o pior serve. Se a lógica for só
procurar, os artigos e livros, haverá certamente “becos sem saída”. Mas existem
centenas de fontes: jornais públicos, a experiência pessoal, bom-senso, etc.
Para lidar com esta situação, criei a pirâmide de autoridades (Figura 25), que
representa uma hierarquia de tipos de fontes a selecionar para discussão com base no
peso.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 81
Figura 25. Pirâmide de autoridades para discussão.
Em primeiro lugar, vamos procurar evidências. Estas podem ser vistas, por
exemplo, nos documentos científicos e governamentais: artigos, livros etc.. Vamos
também enquadrar a experiência pessoal nesta categoria, sobretudo se for indiscutível.
Que artigo convenceria a um habitante do Chókwè que nunca houve inundação
naquele município. As evidências são mais consistentes do que qualquer teoria, por
mais que a contrariem. São as teorias que devem ser construídas com base nas
evidências e não ao contrário.
Se o estudante não encontra evidências suficientes para apoiar uma hipótese,
ele pode buscar, opiniões de especialistas, isto é, a sensibilidade construída por
especialistas com base nas suas experiências pessoais. Quem trabalha na UEM bem
sabe que há trabalhos fantásticos não publicados e especialistas que foram produzindo
um vasto conhecimento que permanece no silêncio das gavetas. Deste modo, vale a
pena ouvir a voz dos académicos, sobretudo os mais experientes.
Se não for possível explorar-se as fontes académicas sobre o assunto, podemos
observar o que têm dito a imprensa sobre o assunto. Mesmo que estas fontes não
sejam baseadas no método científico, os jornalistas que se importam com a reputação
dificilmente mentem, por mais que possam omitir ou exagerar em prol do
sensacionalismo. Os comunicados de autoridades administrativas, ou decretos, mesmo
sendo documentos governamentais, se não tiverem sido claramente baseados em
elementos científicos, podem ser enquadrados nesta categoria.
Evidências
Opiniões de especialistas
Documentos da imprensa e sociopolíticos
Lógica
Opinião pessoal
82 Edgar Manuel Cambaza
Na ausência de qualquer documentação, o estudante pode recorrer à lógica. É
aqui onde pode entrar o raciocínio e os cálculos para ajudar a esclarecer os pontos
onde o conhecimento não chega. É por esta razão que o estudante deve desenvolver a
capacidade de deduzir e induzir as ideias que tem para os cenários mais prováveis de
se encontrar. Se a inteligência desempenha um papel na vida académica do estudante,
é aqui que ela tem mais relevância.
Por fim, se a lógica não trouxer as respostas que o estudante procura, ele ainda
tem a alternativa mais elementar: a própria opinião. É difícil de crer que um estudante
que se tenha debruçado profundamente em torno de um conjunto de disciplinas
relacionadas durante alguns anos não tenha qualquer opinião sobre os tópicos dessas
disciplinas. Ainda assim, é preciso ter-se cuidado com as plausibilidade de tais
opiniões, isto é, é importante conhecer-se as dimensões e limitações das ideias que
temos.
Só finalmente faltando a opinião pessoal é que podemos dizer que nenhum
comentário pode ser traçado em torno de um assunto. É provável que nunca se chegue
a este extremo mas é natural não se ter certos conhecimentos. Não se deve ter
vergonha nem inventar absurdos. Aliás, a falta de certos conhecimentos pode indicar a
necessidade de criação de todo um campo de conhecimentos. Por isso, orgulha-te se
fores pioneiro.
5.10 Conclusão
Finalmente, chegou a hora do veredicto! Se a pesquisa fosse um julgamento, a
conclusão seria a leitura da sentença, depois de teres escutado os jurados (na
discussão). Como juiz, deves ser claro e directo para evitar mal-entendidos. Além
disso, deves ser justo às constatações, realista, imparcial e sério. É o momento de
“colocar o preto sobre o branco” e dizer “sem rodeios” o que aprendeste com o
trabalho.
Esta parte do trabalho requer muita concentração por ser sensível. Desmarca
todos os compromissos, vai para um lugar silencioso, prepara um café e umas
bolachas e concentra-te48. Se não gostas de café, pode ser sumo ou chocolate quente.
Se sentes que não é um bom dia, vai “tchilar” ou ver novela e volta quando tiveres
melhor disposição.
48 Mas nunca de madrugada. Já existem morcegos que bastem e com a ébola
só têm estado a receber conotação negative.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 83
Todo o trabalho foi feito para chegares aqui. E é aqui que viremos se o dardo
que lançaste acertou o alvo. Por outras palavras, este deve ser o melhor pedaço de
escrita que alguma vez produziste até ao momento, bom em todos os aspectos. Nem
interessa o resultado. Mesmo que não encontres nada, deves ter algo a dizer e tal
mensagem deve ser bem escrita. Pensa assim: não encontraste porque não existe ou
algo correu mal? Se algo correu mal, o que foi? Porquê? Há sempre algo a dizer. Uma
conclusão mal escrita denota fraco poder de julgamento.
A conclusão responde aos objectivos, às hipóteses, expectativas ou perguntas
de pesquisa. Seja qual for o elemento que escolhemos, devemos estar certos que este
cobriu toda a temática da pesquisa. Por exemplo, a formulação das hipóteses, no
DCB, geralmente não cobre toda a problemática, pelo que a melhor ideia
(honestamente) seja ignorá-las sumariamente. Se tens dúvidas sobre o papel que as
tuas hipóteses, expectativas, etc. se enquadram na tua pesquisa, envia-me um email:
edycambaza@yahoo.com.br e vamos discutir. Cada caso é um caso.
O fluxo das ideias de uma conclusão deve ser como uma ampulheta. Observa a
Figura 26, abaixo.
Figura 26. A estrutura teórica da conclusão deve-se assemelhar a uma ampulheta.
Reflexão sobre o objectivo geral
Revisão do problema cognitivo
Breve revisão do resultado
Reflexões sobre os objectivos
específicos:
1o
2o
etc.
84 Edgar Manuel Cambaza
No momento em que pomos a ampulheta a funcionar toda a areia está na
cabine de cima e, através do canal, ela cai para a outra. Isto é, temos areia em pouca
quantidade, depois em pouca e novamente em grande. Do mesmo modo, o início e o
fim da conclusão devem ter maior peso. De acordo com o modelo, estes são os passos
que deves seguir49:
1. Revisita brevemente o problema cognitivo (a dúvida que motivou a
pesquisa);
2. Em seguida, revisita o resultado e deixa claro o seu enquadramento face ao
problema. Se possível, trás algumas ideias da discussão para discriminar
até que ponto o resultado pode corresponder à verdade. Todo este processo
ajuda a relocalizares-te antes de tomares a tua posição definitiva;
3. Põe os objectivos específicos diante de ti. Falo a sério! Literalmente, põe
uma cópia impressa do teu protocolo ao teu lado e relê os objectivos. Vais
escrever esta parte da conclusão enquanto olhas para eles. Para cada
objectivo, diz em poucas palavras para onde cada variável50 está a apontar,
ciente de todo o conhecimento que adquiriste durante a discussão. Não te
preocupes com todo o palavreado da discussão (ler 5.9, que começa na
página 79). Apenas precisas da sexta etapa. É sensato reservar um
parágrafo para cada objectivo;
4. Por fim, só precisas de fazer com o objectivo geral o mesmo que fizeste
com os outros. Esta é a conclusão da tua conclusão!
Não entres em pânico se as tuas conclusões não forem de acordo com o que
esperavas. A natureza sabe ser, às vezes, imprevisível. Comporta-te como um
jornalista, comprometido com a verdade e a comunidade científica receber-te-á de
braços abertos.
5.11 Limitações/constrangimentos do estudo
Nas limitações, menciona todas as coisas desejáveis que não pudeste fazer no
trabalho. Menciona as causas e agravantes de todos os problemas. Olha para os
49 Cada um vai corresponder a aproximadamente um ou dois parágrafos,
dependendo das circunstâncias. 50 Procura ser sistemático e olha para cada variável. Tenta ser o mais
qualitativo possível, isto é, procura explorar mais o significado das observações em
vez de meramente mencioná-las. Já não se está à procura de meros números ou
nomes. Quer se saber o que tais contagens ou designações representam no contexto da
ciência, sociedade, ambiente, etc..
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 85
artigos de referência para o teu tópico, porque eles certamente apresentarão um ou
outro elemento que gostarias de ter introduzido na tua pesquisa. Pergunta aos teu
orientador, supervisor, técnico do laboratório ou outro especialista que te apoiou na
pesquisa. A sua experiência os permite pensar melhor naquilo que poderia ter sido
mais adequado para o tipo de pesquisa que pretendes fazer.
Enquadram-se também nas limitações os sujeitos que não colaboraram
devidamente no estudo, comprometendo o desempenho. Similarmente, certos estudos
requerem permissão de um comité de ética ou outro tipo de autoridade. Pode até ser a
própria instituição onde o estudante se encontra a estagiar a fazer certas exigências ou
restringir o uso de determinados recursos. Ou até pode ser o exemplo já mencionado,
de que o simples facto de o técnico ter-se esquecido das chaves do laboratório pode
comprometer o trabalho, principalmente se for um estudo que acompanha factores
periódicos ou muito dependentes do tempo.
Fala também dos riscos nos aspectos que correram bem mas envolveram
vulnerabilidades. Por exemplo, podes falar de reagentes cujo prazo expirou ou
estavam quase, mesmo que tenham sido aparentemente eficazes. Fala de grandes
riscos que poderão constituir um problema no futuro. Por exemplo, é relevante saber-
se sobre o reagente que está para acabar ou a máquina à beira da avaria.
5.12 Recomendações
Esta é a continuação lógica do texto sobre limitações ou constrangimentos.
Nesta etapa, deves explicar como evitar ou eliminar os factores que comprometeram a
experiência se um dia alguém estiver a pesquisar em torno da mesma temática. O que
deve a pessoa fazer para que o seu estudo tenha maior qualidade. As recomendações
estão mais voltadas ao problema cognitivo, isto é, a aspectos relacionados com
pesquisa, não necessariamente sobre como curar uma doença ou proteger uma espécie
ameaçada, a não ser que a tua pesquisa tenha sido para responder a estas questões.
Ainda assim, não negligencies as recomendações para a sociedade civil e todos
os grupos que podem tirar proveito delas. Entretanto, não sejas mais um eco que se
limitará a dizer o que as pessoas gostam de ouvir. As recomendações devem partir da
experiência que adquiriste com a pesquisa. Não há nada mais ridículo do que
recomendações sem relação com o trabalho, sobretudo se de algum modo contradizem
os resultados. Nestes casos, é até preferível não escreveres nada. Uma frase
86 Edgar Manuel Cambaza
frequentemente atribuída a Lincoln ou Mark Twain diz “mais vale ficares calado e
suspeitarem que és tolo do que falares e tirarem as dúvidas”.
Mas não acabemos esta secção com pensamentos negativos. O mais importante
é criares uma plataforma intelectual para que o próximo pesquisador – que podes ser
tu – tire o melhor proveito. E não te esqueças, mais uma vez, de ser breve, claro e
directo.
5.13 Bibliografia
Ler 2.4.2 sobre Estilo de citação e bibliografia na página 13.
5.14 Anexos
Ler 3.1.9 sobre Anexos na página 43.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 87
6 Relatório de estágio
No estágio profissional, todos saímos a ganhar. A unidade de estágio beneficia
de mão-de-obra qualificada, frequentemente não remunerada, o estudante ganha
experiência e a universidade produz mais um quadro. Acima de tudo, o estudante
entra em contacto com o mercado de trabalho, conhecendo aqueles que poderão ser os
seus futuros colegas. Nalgumas circunstâncias, não raras, o estudante acaba
trabalhando definitivamente na unidade de estágio, o que é bom para si e para as
relações entre a universidade e a instituição que o acolhe.
Em termos de rigor e estrutura, este relatório apresenta muitas semelhanças
com o de pesquisa. Acaba-se tornando mais semelhante ainda porque os docentes que
acompanham a culminação dos cursos de biologia preferem que o estagiário também
pesquise na sua unidade51. Assim, o relatório de estágio terá duas componentes: a
discrição das actividades como estagiário e a análise de algumas das variáveis
produzidas durante o treinamento.
6.1 Capa e elementos pré-introdutórios
Ver como conceber a capa no ponto 3.1.4 (página 27) e os elementos pré-
introdutórios nos pontos 4.1 (página 47) e 5.1 (página 74). Preste-se atenção que na
capa, declaração de honra, etc. é importante deixar-se claro que se trata de um
relatório de estágio e não de pesquisa ou qualquer outro tipo de documento.
6.2 Apresentação e caracterização de unidade de estágio
Esta parte não difere da apresentação do local de actividades apresentado no
ponto 4.5.2, página 62.
6.3 O programa de estágio
Em princípio, programa do estágio é fornecido pela unidade com o
conhecimento do supervisor. Honestamente, acho que esta parte também deveria
constar na proposta de estágio e lá seria bem mais relevante. De qualquer modo, não
há grandes problemas partindo-se do princípio que a proposta apresenta um
cronograma de actividades. Esta secção pode revisitar o cronograma e dizer o que foi
feito, quando e onde.
O programa é mais detalhado do que o cronograma mas menos do que a
metodologia. Seria um casamento dos dois elementos. Apresenta datas concretas,
51 E levam muito a sério esta exigência. É melhor cumprires.
88 Edgar Manuel Cambaza
como a cronologia e a lista das principais actividades, como a metodologia, mas não
apresenta o material utilizado. No que respeita as datas, tende a ser mais preciso do
que o cronograma, indicando todas as datas. Além disso, o programa vai indicar as
formações, palestras e os seminários que o estudante frequentou, as viagens e os
locais onde realizou as diferentes actividades, etc.. Mas não exageres a ponto de
mencionar as conversas com o supervisor ou orientador, as compras de reagentes que
fizeste ou os cortes de bolo no fim do mês.
6.4 O apoio que a unidade de estágio concedeu ao estudante
É muito importante saber-se qual foi o subsídio material e intelectual que a
unidade te ofereceu de modo a aprimorar as tuas aptidões profissionais. Isto é
importante para a avaliação do relatório na universidade porque o este não pode ser
desvalorizado se as condições do estágio forem precárias, nem supervalorizado pelo
facto de ter estado num laboratório muito sofisticado, quando tudo o que ele
realmente fez foi observar uma máquina a fazer todo o trabalho.
Procura ser realista e divide o apoio em material, financeiro e humano (mão-
de-obra ou assistência). Em termos de material, fala do espaço, transporte,
equipamento, reagentes, fichas e obras didácticas (mesmo em formato electrónico), e
tudo o resto que for aplicável. Diz também se tal material foi suficiente para as
actividades ou tiveste, de algum modo, de acrescentar 52 . Em termos de recursos
financeiros, diz qual o valor e os propósitos para os quais eles foram dados.
Competências como disciplina e responsabilidade podem ser avaliadas através da tua
capacidade de gerir tais valores53. Em termos de assistência e orientação, menciona
quem te apoiou, indicando as credenciais da pessoa (formação, experiência, cargo,
etc.) e como. Os orientadores e técnicos valorizam muito o teu trabalho porque, além
de mestres, eles são testemunhas. Além disso, é altamente desejável que te tenhas
52 Mas atenção! Há que o laboratório não dar o suficiente e há que ele dar mas
tu decidires aumentar só para que a tua experiência tenha mais “substância”. Por
exemplo, há laboratórios que usam o material mais barato ou antigo para propósitos
de treinamento como forma de preservar aquele usado profissionalmente. Se o
laboratório está a fazer um favor, devemos respeitar a sua necessidade de minimizar
os gastos. 53 Procura ser honesto porque o trabalho não será aceite no departamento para
a apresentação sem a aprovação e avaliação por escrito do teu orientador da unidade
de estágio. Isto também sugere que pode não ser uma boa ideia falares mal da
unidade, mesmo que sejas obrigado a apresentar no fim uma apreciação crítica.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 89
socializado com muitos profissionais e o teu trabalho será provavelmente melhor com
o apoio destas pessoas.
6.5 Revisão bibliográfica sobre a temática tratada no estágio
Esta não difere muito da revisão bibliográfica do relatório de pesquisa, na
secção 5.3, página 77.
6.6 Actividades desenvolvidas
Em termos práticos, o que se quer aqui é uma lista dos materiais e todos os
procedimentos laboratoriais praticados durante o teste. Esta é a parte mais parecida
com o capítulo sobre “material e métodos”. Por esta razão, repito o que escrevi na
secção sobre o relatório de pesquisa:
“Basicamente, o que deves ter em conta é que o estudo já foi feito e tu só estás a
reportá-lo. Deste modo, todas as acções devem-se encontrar no pretérito, como numa boa
narrativa. Tirando isso, esta secção é idêntica à descrita para o protocolo, no ponto 4.6
(Material e métodos/metodologia), página 63.”
6.7 Análise crítica da unidade de estágio
Outro benefício da unidade de estágio por ter acolhido o estudante é a sua
opinião, como uma pessoa de fora cujo conhecimento sobre as bases da disciplina
ainda se encontra “fresco”. Espera-se que a sua opinião seja “virgem”, despida dos
“vícios” do mercado do trabalho, resultantes de imperativos sociopolíticos e
financeiros. Se ele se tiver comportado bem, não será movido por qualquer rivalidade,
inveja ou qualquer tipo de preconceito.
É aqui que que deve constar a tua percepção e sensibilidade sobre a
experiência que teve no estágio. Deves ser imparcial e deixar críticas construtivas.
Não sejas muito severo porque o teu orientador vai-te avaliar e ninguém gosta de
pessoas rudes ou arrogantes. Além disso, não te esqueças que há muito poucos
laboratórios com as condições ideais para pesquisas da qualidade mais desejável. Não
sejas muito superficial e “agradável” porque notar-se-á que estás a mentir. Procura ser
honesto, modesto e realista, como um bom profissional. No fim de tudo, é isso que os
empregadores procuram e os avaliadores apreciam.
A análise da unidade de estágio assemelha-se a uma revisão crítica e espera-se
que não cubra menos do que uma página. Deste modo, ela deve apresentar um
encadeamento bem estruturado de ideias. É preciso que esteja claro se as metas, em
90 Edgar Manuel Cambaza
termos de aprendizagem54, foram atingidas e que factores influenciaram o alcance ou
não de tais metas. Depois da reflexão, o estudante dá uma apreciação sobre o que o
estágio significou para si e o quanto foi importante para a sua formação. A análise
crítica deve conter os seguintes elementos:
1. Contexto – narra sobre a motivação para fazer o estágio, porque escolheste
esta instituição, quanto tempo durou e outros aspectos que pareça
interessante mencionar;
2. Plano – o que pretendias aprender com o estágio e porquê. Que relevância
teria o estágio para a tua formação? Que visão tinhas no início sobre a
unidade de estágio? O que esperavas sobre o local, o ambiente e as
condições? E sobre os recursos (materiais, electrónicos, financeiros, etc.)?
Sobre os trabalhadores, incluindo técnicos e o teu orientador, o ambiente
de trabalho e a relação entre as pessoas?
3. Discussão sobre o aprendizado – menciona o que aprendeste de mais
relevante em termos técnicos, tecnológicos e sociais. Existem três tipos de
competência que deves aprender: saber, saber fazer e saber ser. O saber já
vem contigo da faculdade mas espera-se que consolides alguns
conhecimentos. No estágio, está em voga o saber fazer mas não se negue
que seja uma oportunidade única para aprender a ser um indivíduo
integrante da classe profissional que anseias. Discrimina muito bem onde
falarás sobre cada tipo de competências e fala sobre os prós e contras. Para
cada, diz o que poderia ter sido melhor, o que foi aceitável, bom ou
excelente;
4. Discussão sobre a unidade – fala sobre como a unidade alterou a sua visão
sobre a disciplina e como o conhecimento é produzido. Gostaste do local?
Até que ponto era como esperavas? O que achas que deve ou não mudar?
Notaste alguma evolução, algum crescimento – em recursos humanos ou
materiais – durante o tempo em que lá estiveste? Havia alguma perspectiva
de crescimento, segundo o chefe do departamento? O que achaste do local,
do equipamento? Os instrumentos eram calibrados diariamente? E com
material de referência certificado? O local está integrado nalgum programa
54 Usei o termo “metas” para não se confundir com os objectivos do estudo
feito durante o estágio. Espera-se que o estudante adquira certas competências depois
do estágio e estas é que devem ser analisadas na revisão crítica.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 91
de controlo de qualidade? Eles apresentaram as normas (escritas) e os
protocolos antes de qualquer actividade? Como é que eles lidavam com
aspectos como assepsia e boas práticas laboratoriais? Eles deram alguma
pré-formação sobre as actividades? Sobre biossegurança primeiros
socorros? Que impressão tiveste sobre o ambiente de trabalho? Sobre os
técnicos? Sobre o teu orientador? Ele era muito presente? Deu-te
oportunidade para realizares tudo sozinho? Eles apresentavam a formação
e as competências que esperavas ver neles? A relação entre eles e o teu
supervisor foi boa, poderia ter sido melhor ou não notaste interacção entre
eles?
5. Parecer geral sobre a unidade – até que ponto a unidade parece estar
preparada para resolver os problemas com os quais se comprometeu? E
que potencial notaste a curto e longo prazo? Que aspectos que esperavas
mostraram-se como sendo a realidade? E o que não te agradou tanto? A
unidade é excelente, boa ou razoável55? Recomendarias a unidade a outro
estudante do teu ramo?
6.8 Conclusões
A conclusão de um relatório do estágio, de acordo com as exigências práticas
do DCB, deve responder a duas perguntas básicas:
Como foi o estágio? A perspectiva crítica do estágio, no ponto 6.7 acima,
pode-te ajudar a responder esta questão. Procura dizer em um parágrafo
como correu o estágio e o que significou para ti. Não precisas de rebuscar
toda a perspectiva crítica. Toma o último ponto (5 – “parecer geral sobre a
unidade”) como base para a tua reflexão.
Que conhecimento produziu o estudo que desenvolveste na unidade?
Esta parte da conclusão pode ser idêntica ao que escrevi no ponto 5.10, na
secção sobre o relatório de pesquisa.
6.9 Recomendações
Ler sobre recomendações em 5.12, na página 85.
55 Não se confunda esta apreciação com a anterior, sobre as competências
adquiridas.
92 Edgar Manuel Cambaza
6.10 Bibliografia
Ler 2.4.2 sobre Estilo de citação e bibliografia na página 13.
6.11 Anexos
Ler 3.1.9 sobre Anexos na página 43.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 93
7 Monografia
A monografia é outra modalidade do DCB que permite terminar o curso como
requisito parcial. Esta fundamenta-se no facto de que um licenciado deve ter a
capacidade de fazer a apreciação crítica de um problema integrando adequadamente
as teorias e os conceitos do seu ramo. Além disso, espera-se que ele possa escrever
com rigor científico, demonstrar a criatividade, actualidade do seu conhecimento e o
domínio de tecnologias de informação e comunicação.
Monografias bem feitas têm o potencial para constituírem trabalhos de alta
qualidade, talvez até intelectualmente mais ricos do que os relatórios de pesquisa e
estágio 56 . Elas carregam a vantagem de se basear em dados já trabalhados e
“amadurecidos” de artigos, relatórios e outros tipos de documentos, estando desde o
princípio um degrau acima de todos. Este posicionamento as eleva a um patamar mais
alto da abstracção, sobretudo quando utiliza informação de qualidade, em quantidade
e, sobretudo, bem explorada.
7.1 Início e corpo
7.1.1 O que se deve ter em conta
Há muitos aspectos em comum com o relatório de pesquisa. Por exemplo, os
elementos pré-introdutórios (ver o ponto 5.1 na página 74) e a introdução (ponto 5.2
na página 77) assemelham-se. Recomendo também uma revisão bibliográfica idêntica
(ponto 5.3 da página 77) antes da principal análise documental.
O corpo principal apresenta a estrutura do corpo de um livro, sendo a
organização dos títulos e das ideias ao teu critério, desde que tenha lógica e respeite o
rigor científico. É bom iniciar com uma secção de perguntas (ver 4.4.3, na página 58),
como acontece numa típica pesquisa qualitativa. Não nos esqueçamos que o trabalho
procurar respostas em torno de algum assunto aparentemente mal esclarecido.
A chave para escrever uma boa monografia é conhecer bem a estrutura de uma
revisão crítica e encontrar a bibliografia mais adequada para a discussão. A
monografia não é mais do que um conjunto de revisões críticas da produção
56 Mas esteja claro que a qualidade varia muito de trabalho para trabalho e
depende do acesso a determinadas informações e da capacidade de pesquisa
bibliográfica do estudante. Além disso, o facto de se tratar de uma monografia não
garante que a análise será impecável, do mesmo modo que um estares ao volante de
um Mercedes não garante que vais dirigir bem.
94 Edgar Manuel Cambaza
académica de determinadas autoridades. Quem domina este tipo de análise tem a
força motriz para escrever indefinidamente textos de alta qualidade.
7.1.2 Sobre as revisões críticas
Pensa na monografia como um debate em que tu és o moderador, ou um
julgamento é que és o juiz. De qualquer modo, tens grupos de autoridades que
defendem pontos de vista contraditórios 57 . No fim, és obrigado a apresentar um
veredicto com base nas alegações e evidências. Para se evitar a anarquia, escolhe-se
determinadas autoridades – uma de cada posição – reconhecidas como referências no
tópico. São sobretudo os argumentos destas que serão apresentados e confrontados
com pontos de vista de outros autores. Por fim, fazes a síntese que será o
conhecimento que pretendes produzir.
Procura ser extremamente crítico. Como disse Karl Marx, questiona tudo.
Tudo! Duvida até da tua própria sombra. Pensa sobre o que dizem (e o que não
dizem) as autoridades e orienta-te com as perguntas dos jornalistas:
Quem diz? – O autor está identificado? Desconfia de quem não estiver.
Além de identificado, deve apresentar o contacto. É vantajoso quando
conhecemos o publicador e o local onde o podemos encontrar. É cientista?
O que é? Deves ter cuidado com opiniões fomentadas por interesses. Não
sejas ingénuo a ponto de acreditar que todos são igualmente honestos. Por
exemplo, um político pode não pensar como um ambientalista 58 . Um
empresário de fast food não vai pensar como um nutricionista. Mesmo
cientistas muito bem reputados podem ser influenciados por financiadores,
por exemplo. Vai sempre aos agradecimentos para ver quem pode estar por
detrás de uma pesquisa. Além disso, autores podem ser influenciados por
sentimentos como vergonha, orgulho, etc.. Será um pesquisador sénior
com décadas de trabalho capaz de renunciar tudo o que fez e conseguiu ao
descobrir que esteve sempre errado?
57 Tais posicionamentos não têm necessariamente de ser dois, como acontece
com as hipóteses. É natural que uma pergunta possa ter três ou mais respostas
alternativas. Explora todas ou pelo menos as seguramente mais plausíveis (mas deves
explicar por “1 + 1 = 2” porque tais respostas são mais aceitáveis). 58 Se assim fosse, não teríamos os afogamentos ou o fim de mangais na Costa
do Sol.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 95
O que diz? – É uma ideia plausível? Está bem fundamentada? A ideia é
imparcial? Cuidado com propagandas 59 , que podem possuir vários
formatos, até os mais inimagináveis;
Quando? – Dá prioridade a publicações mais recentes, a não ser que
estejas à procura de documentos históricos, clássicos ou que haja poucos
documentos recentes com bom nível de evidência ou boa qualidade de
informação. A antiguidade de um documento é algo a criticar, sobretudo se
estiveres a estudar variáveis que mudam substancialmente ao longo do
tempo. Muitos concordariam que a realidade de hoje não é exactamente a
de ontem;
Onde? –A opinião é de alguém que tenha pesquisado na tua área de
estudo? Se não, pelo menos tal área apresenta alguma semelhança natural
ou socioeconómica? E não é simplesmente o espaço físico. As diferenças
genéticas e culturais entre as populações também devem ser levadas em
conta. Amostras de um hospital podem ser diferentes das que encontramos
em escolas, serviços públicos e na população, em geral. Assim, lança um
olhar crítico sobre os locais onde estudou cada autoridade;
Como? – A mensagem está clara? Completa? Atenção, que há aspectos
relevantes que podem ter sido omitidos. Quantos não escondem os
resultados indesejáveis da sua experiência? Além disso, há que avaliar o
veículo de comunicação. A publicação foi num contexto académico?
Apresenta rigor científico? São apresentadas evidências convincentes?
Atenção a documentos muito bonitos e estruturados que não constituem a
verdade. Na década de cinquenta, a BBC publicou um vídeo que
convenceu muitas pessoas adultas que o esparguete crescia em árvores, por
mais absurdo que isto possa parecer (MySwitzerland, 2013);
Porquê? – Não te iludas com as mais nobres justificativas, porque neste
mundo hipócrita justificar é o que as pessoas melhor sabem fazer. O que
foi que motivou cada autoridade a adquirir a sua postura ou o seu
59 Não confundir com publicidades. Enquanto a publicidade é feita para
promover um produto ou serviço (comercial), a propaganda é feita para incutir ideias
nas pessoas e fomentar determinadas atitudes. A propaganda pode ser política,
religiosa, cívica ou social (por exemplo, para pagares a taxa da rádio), ambientalista,
desportiva (para apoiares uma equipa), etc..
96 Edgar Manuel Cambaza
posicionamento intelectual? Terá sido a mesma motivação com a tua?
Nem todos fazem a mesma coisa com a mesma razão. É muito natural
numa equipe um indivíduo ser movido pela curiosidade enquanto o
companheiro só está a pensar no dinheiro. Que desempenho terá o
ganancioso assim que consegue o seu dinheiro? E que impacto terá isso
sobre os resultados? E o que impede que ele manipule os resultados “para
o inglês ver”, se os seus interesses apontarem para essa direcção? Então,
embora seja difícil, tenta sempre perceber quais podem ser verdadeiras
intenções do pesquisador;
Para quê? – Outra pergunta a fazer a uma opinião que estás a criticar é
“onde é que o autor pretende chegar com tal ideia”? Para ajudar a
comunidade ou a si mesmo? Procura ser realista. Não me é raro aparecer-
me de tempos em tempos um estudante a despachar o trabalho para acabar
rapidamente o curso. Outros agem da mesma maneira por terem recebido
uma proposta de emprego. Até que ponto podemos confiar na opinião de
alguém que tenha trabalhado assim? Alguém me chamou “sonhador” por
aceitar desafios que a maioria teme ou não entende. Em vez de ofendido,
fiquei feliz porque trabalhar com entusiasmo, paixão e coragem é uma
virtude. Prefiram pesquisadores assim e não aqueles que só pensam em
benefícios materiais.
Cada revisão crítica deve apresentar as seguintes etapas60:
1. Contexto – debruça-te sobre o assunto partido da formulação do problema
central a estudar na monografia à pergunta de pesquisa que originou esta
revisão. Por outras palavras, tenta explicar qual a relação entre o tema que
escolheste e este aspecto em particular que estás prestes a discutir;
2. Ponto de vista do autor – menciona o documento que usarás como
referência para a revisão, identifica o autor (é cientista, político, jornalista,
militar, civil, etc.?) qual o seu assunto central, como ele abordou a
temática que estás prestes a discutir (experiência ou opinião; num jornal,
numa revista científica, etc.) e qual o seu ponto de vista. Em que se baseou
para tomar esta posição?
60 Vimos algo semelhante na análise crítica do estágio (ponto 6.7, página 88).
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 97
3. Argumentação – quem diz? O que diz? Em que se baseia? Tenta explorar
bem cada argumento, talvez num parágrafo inteiro. Usa a pirâmide que
sugeri para a discussão (ver Figura 25 e o texto relacionado em 5.9). Evita
trazer autores que só vão repetir ideias dos outros sem acrescentar nada61.
Isso é uma perda de tempo, como uma discussão em que todos ecoam o
primeiro que falou. Não mistures opiniões opostas. Primeiro, apresenta
todas a favor e em seguida as contra62;
4. Síntese – nesta etapa, produzes textos de reflexão explorando o melhor de
cada opinião, respeitando o “peso” que ela teve em todo o contexto
teórico. É como se usasses as melhores peças de carros diferentes para
construir um carro mais interessante. A síntese tem de ser coerente e
plausível com a realidade. É provável que algumas opiniões não tenham
enquadramento na síntese, enquanto as restantes tenham mas com
diferentes;
5. Conclusão – responde à pergunta de pesquisa de acordo o que aprendeste
de toda a análise crítica. Fala também das implicações da tua conclusão na
natureza e sociedade;
6. Recomendações – o que deve ser feito diante do problema analisado,
tendo-se em conta a conclusão. O que poderá ser feito diferentemente se
alguém quiser fazer uma pesquisa documental em torno da mesma
temática? E o que deve ser feito como passo seguinte, uma vez concluída
esta etapa?
Sejamos metódicos. Cada pergunta de pesquisa vai requerer revisões críticas –
uma para cada posicionamento alternativo sobre o tópico em questão. Quanto maior o
número de perguntas, maior a quantidade de revisões. Evita as circunstâncias
repetitivas que podem surgir pelo facto de reusares o conteúdo de um ou outro artigo.
Procura ser imparcial e moderado. Estas competências estão entre as
principais de um bom académico. Não caias em radicalismos arbitrários na ilusão de
impressionares os avaliadores como “o grande crítico”. É provável que cries o efeito
61 É sempre melhor privilegiar aqueles que chegaram às mesmas conclusões
por caminhos diferentes. 62 Dica: põe em maior quantidade ou peso alguma posição, se a pretendes
favorecer. Este é o local ideal para tal.
98 Edgar Manuel Cambaza
oposto. A História tem-nos mostrado frequentemente que atitudes radicais só criam
problemas.
7.2 Conclusão
Ler sobre conclusão em 5.10, na página 82. Mas preste-se atenção que em vez
responder a objectivos (menos frequentes neste tipo de actividade), a conclusão da
monografia vai-se debruçar sobre as perguntas centrais do estudo.
7.3 Recomendações
Ler sobre recomendações em 5.12, na página 85.
7.4 Bibliografia
Ler 2.4.2 sobre Estilo de citação e bibliografia na página 13.
7.5 Anexos
Ler 3.1.9 sobre Anexos na página 43.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 99
8 Outros documentos
8.1 Apresentação em PowerPoint
PowerPoint está na moda. Ninguém é obrigado a utilizá-lo, mas é quase
impensável uma apresentação sem este aplicativo do Microsoft Office. Quando bem
utilizado, pode tornar memorável a apresentação dos resultados de algum estudo.
Não vou perder muito tempo a explicar o que é PowerPoint e como se utiliza,
mas vou deixar algumas recomendações para quem vai apresentar o trabalho do fim
de curso:
Não faças mais do que quinze slides – só tens vinte minutos. Eu sei que
queres mostrar muita coisa, mas não é prático. Com quinze slides, podes
apresentar pelo menos um por minuto e ainda sobra tempo para casos em
que vais demorar um pouco mais. Já vi casos ridículos de estudantes que
criam muitos slides e (por regra) não conseguem apresentar tudo. Outros
cometem o erro depois de avisados. É para rir ou para chorar?
Tens direito de ficar nervoso, mas não deixes que isso estrague a
apresentação – controlar o nervosismo é mais do um acto de coragem. É
uma responsabilidade. A bagagem do cientista inclui a capacidade de
comunicar e pode ser que as apresentações te persigam por toda a vida. Por
isso, habitua-te. Já vi muitos truques para controlar o nervosismo – desde
beber água fresca, massajar áreas com muitos nervos, etc. – mas quem vai
fazer isso durante toda a vida? Eu recomendo o truque mais simples do
Mundo – parares de fingir que não estares nervoso, porque isso chega a ser
ridículo. Todos sabem esperam que fiques nervoso e isso é normal. Até os
presidentes ficam (quem tem dúvidas que pergunte Nyusi). Treme e chora,
só não desmaies. Com a experiência, cedo ou tarde superarás os nervos;
Explora bem os recursos visuais – usa tabelas, figuras, vídeos, sons, etc..
Usa criativamente as ferramentas de comunicação de modo a entreter a
audiência. Não sejas pouco académico mas faz uma apresentação
memorável. Traz alguns artefactos e modelos, desde que não produzam
odores desagradáveis ou outros tipos de embaraços. Nós temos cinco
sentidos que podem ser bem aproveitados. Quem se esquecerá da
apresentação sobre o malambe, se o estudante tiver trazido algumas
amostras para a audiência provar? Por outro lado, quem se lembrará de
100 Edgar Manuel Cambaza
mais uma apresentação previsível e funesta, dominada pelo medo de se
soltar a imaginação?
Escreve pouco texto – leitura exige silêncio e concentração, o que
contraria a essência de uma apresentação. Não há nada pior do que ler e
simultaneamente escutar alguém. Nessas situações, vejo-me obrigado a
escolher e a componente oral tende a ser sacrificada. Escreve muito pouco
texto, apenas quando não é possível recorreres a recursos gráficos e
visuais. Não tenhas medo de esquecer as coisas. Sei que muitos
estudantes enchem os slides de texto por medo de se esquecer aspectos
importantes. Mas a minha experiência diz que isso raramente acontece.
Vai por mim: só te esquecerás de coisas irrelevantes. Além disso, quando
os slides estão cheios de texto, a consequência lógica é passares o tempo
todo a ler;
Não te limites a ler os slides – ao leres os slides, não só parecerás
inseguro. Acabarás interagindo pouco com a audiência. Além disso, se
vais simplesmente reproduzir o que dizem os slides, não será melhor
passares o texto para o pessoal e poupares-te da leitura?
Não informa, comunica – não “despejes” a informação a assumir que
todos estão a entender. Vais parecer aquele docente que chegava, punha-se
a falar e ia embora, sem se importar se os estudantes aprenderam ou não.
Em vez disso, vai perguntando algumas vezes se as pessoas estão a
entender, sobretudo quando falas sobre assuntos complicados. E quando
perguntares se entenderam, não olhes para um dos teus colegas. É lógico
que entendem porque são do teu ramo. Olha para familiares e convidados.
Por mais que finjam estar a entender, pelo menos descobres que estão
atentos;
Apresenta como se fosse para leigos – seguindo a linha do pensamento
acima, também precisas de ser breve, claro e directo nas apresentações.
Usa linguagem simples, que possa ser entendida por todos. Pensa em
filmes, por exemplo. Pensa na decepção de um filme cujo conteúdo não
entendes, sobretudo se pagaste os zilhões para ver no cinema do shopping
em 3D. É assim que se sentirá a audiência se usares palavras difíceis sem
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 101
esclarecê-las. Além disso, estás-te a preparar para servir a um país cuja
maioria nem sequer sabe ler;
Mantém o contacto visual com o público – olha para a audiência. Vai
olhando para uns e outros à medida que falas. No fim, é desejável que
tenhas olhado para todos. Nunca dês as costas ao público. Só parecerás
inseguro. A maior piada seria fazeres isso e descobrires que estás sozinho
na sala. Uns dizem para não olhares para ninguém. Assim não despertarás
a simpatia de ninguém e não poderás monitorar o ânimo da audiência.
Outros dizem para olhares para uma só pessoa. Não faz isso, que só vais
assustar o coitado.
8.2 Cartaz
O cartaz é um documento científico que exige muita criatividade e capacidade
de sintetizar informação. É necessário um alta capacidade de sumarização, de mapear
ideias e uma certa sensibilidade para a estética ou bom-gosto. Ele deve ser
suficientemente para atingir as emoções do leitor, mas também rigorosamente
científico e bem-estruturado para produzir respeito no seio da comunidade científica.
Figura 27. Exemplo de um cartaz. Neste caso, não há bibliografia porque todo o texto foi produzido pelos autores sem a consulta de terceiros.
102 Edgar Manuel Cambaza
O tamanho, as cores e orientação (retrato ou paisagem) são ao critério do
estudante63, mas é importante ter-se em conta alguns aspectos. Quanto maior melhor,
mas tenta garantir que as pessoas possam lê-lo há pelo menos dois metros. Se for para
usar A4, talvez um panfleto seja mais interessante. A3 é maior mas talvez se destaque
com muita dificuldade numa exposição com certo número de cartazes. Quanto às
cores, evita radicalidades. Cores berrantes podem não conferir um aspecto académico
ao teu cartaz ou “roubar a atenção” que deveria ser dedicada à leitura. Procura usar
um bom contraste de cores entre as letras e o fundo de modo que o texto esteja bem
legível. A disposição retrato/paisagem é opcional, mas o bom senso é importante.
Reflecte sobre o melhor formato capaz de acolher o conteúdo do teu trabalho,
incluindo os gráficos e as figuras.
O bom texto do cartaz pode ter o tamanho do resumo aumentado (abstract
plus), com palavras entre 200 e 250. Não há norma qualquer sobre a elaboração de
cartazes no DCB, mas deve-se pensar nas circunstâncias em que eles são
apresentados. Deve ser muito raro alguém dedicar muito tempo à leitura do cartaz no
meio de uma feira, por exemplo. Deves preparar um texto claro, directo e, acima de
tudo, breve. A beleza do teu trabalho deve ser capaz de atrair a atenção de um leitor e
o seu texto deve ter a capacidade de informá-lo rapidamente. Assim, um bom cartaz
deve constituir uma experiência rápida e memorável para o leitor e este é o poder
deste tipo de documento: em poucos segundos podes conquistar a admiração e o
respeito eterno de algum colega.
O cartaz não é necessariamente uma miniatura do teu relatório. É um
documento independente e autoexplicativo. Ele não é “filho” do teu relatório, mas sim
“irmão”, porque ambos foram “paridos” pelo teu estudo. Não há problemas em
refazeres os mapas, gráficos ou as tabelas, se necessário. A lista de referências pode
ser diferente. Até podes pesquisar de novo, se necessário.
Tal como outros documentos académicos, o cartaz tem princípio, meio e fim.
No cabeçalho tem geralmente o nome da instituição em que o estudo foi realizado, o
título, os nomes do autor e a data. É desejável que se coloque, nalgum canto, o
contacto do autor correspondente64 . Coloca as principais secções de um relatório
(Figura 27). Por exemplo, se for de pesquisa, apresenta a introdução (com o principal
63 A não ser que o objectivo seja expor nalgum evento com exigências
específicas. 64 A pessoa a quem podemos fazer perguntas a respeito do cartaz.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 103
objectivo escrito no fim), área de estudo (o mapa já basta, se bem visível),
metodologia, resultados (tabelas e figuras), conclusão, recomendações, bibliografia e
agradecimentos.
104 Edgar Manuel Cambaza
9 Comentário final
Pronto! Falei! Agora chega! Só darei estes dedinhos de prosa porque fica mal
não me despedir. É uma tradição entre os círculos académicos e científicos deixar-se
aquelas palavras que devem ser lembradas. Eu sou tradicionalista nalguns aspectos,
embora não pareça. Assim, estás convidado a acompanhar as palavras que se seguem.
Consulta o teu supervisor sempre que a dúvida bater as portas. Não esperes até
que estejas sob pressão para consultares o teu supervisor. Além de seres obrigado a
disputar a tua vez com os colegas, o tu supervisor pode estar ocupado nessa época.
Outro problema pode surgir se esperares demais e algo passar do prazo, estragar-se ou
alguém viajar e comprometer a tua experiência. Não deixes nada para depois. É muito
melhor apresentares a tua dúvida enquanto ainda está “fresca”.
Lê atentamente o Regulamento de Culminação do DCB (2013) (ou do teu
departamento, se não estiveres nas biologias da UEM) e cumpre com tudo o que é
exigido. Não há nada pior do que trabalhar com um estudante que não conhece o
regulamento. Isso não só denota negligência como falta de interesse pelas normas. O
regulamento é supremo e está acima das instruções de qualquer supervisor, orientador
ou docente. Ignora tudo o que o contraria e usa-o como teu escudo se te sentires
injustiçado.
Este livro não vem para contrariar ninguém. Se o teu supervisor não for de
acordo com um ou outro aspecto do livro, respeita-o. Há um velho provérbio que diz
“não discutas com o teu mestre senão ele come os frutos e dá-te as sementes”. Pensa
no livro como um professor e o supervisor como o teu pai. O professor ensina e,
mesmo estando certo, quem toma as decisões é o pai. Os progenitores têm sempre as
suas razões para impor certas coisas. O bom filho deve ouvi-los. Se os pais forem
loucos, só posso desejar as mais profundas condolências ao rebento.
Descansa quando estiveres sem pachorra para escrever. Não há nada pior do
que escreveres quando a inspiração já não está em dia. É como espremeres uma
laranja que já não tem sumo – ainda acabas bebendo ácido cítrico. Eu exijo sempre
alguma criatividade dos meus supervisionados. O texto deve ter beleza e criar gosto
na leitura. Uma mente cansada tem dificuldades em conceber algo original, pelo que
recomendo o total repouso nessas circunstâncias. John Nash, um matemático
premiado, esperou tempo considerável por uma “ideia original” que revolucionou a
economia e valeu-lhe um prémio Nobel.
Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 105
Como cientista, mantém a mente sempre aberta para novos conhecimentos,
mesmo que estes contrariem a tua visão sobre o Mundo. Aprende a defender as tuas
ideias enquanto não houver uma melhor, mas não confundas firmeza com cabeça
dura. Atenção, que esta é a essência do saber ser cientista. Não te afeiçoes aos
conhecimentos porque eles não têm amigos nem inimigos. Se estiveres errado, aceita
e muda de ideias. Tens direito de não saber algumas coisas. Nas escrituras sagradas,
temos em Provérbios 9:7 “corrige o tolo, que ele vai-se revoltar” e em 9:9 “instrui ao
sábio, que ele se tornará mais sábio”.
Exercita a leitura. Há uma tendência quase generalizada em se subestimar a
leitura. A leitura é como exercícios físicos – melhoramos com a prática. Um bom
leitor desenvolve a capacidade de compreensão e raciocínio. Lê tudo o que te
interessar, pelo menos dez páginas por dia. É desejável que tenha conteúdo científico
ou didáctico, mas pode naturalmente se uma revista Maria ou Patinhas. Quem não
tem prática enfrenta um duplo desafio – o primeiro é a leitura e o segundo é a ciência.
Para qualquer problema, não hesites em contactar-me através do endereço
electrónico edycambaza@yahoo.com.br. Também podes-me encontrar no Facebook,
Tweeter, etc. além do site www.accademos.com (em construção), onde pretendo
colocar material similar a este e outro científico. Podes usar o Whatsapp, só não sei se
estarei sempre disponível. Não tenho bolodórios e aquela frescura desnecessária de
uns e outros supervisores. Até que eu entre para a política, não há razão para te
assustares comigo. Não sou mais nem menos especial do que ninguém. Sou apenas
um “tipo porreiro”. Trata-me como amigo. Tchau!
106 Edgar Manuel Cambaza
10 Obras referenciadas
AAPOR, & AMA. (2012). Sample Size Calculator. The Survey System. Retrieved
25/07, 2013, from http://www.surveysystem.com/sscalc.htm
Anapakala, E. M. (em preparação). Perfil de Sensibilidade aos Antibióticos de
Escherichia coli isolada de Pacientes com Infecção Urinária atendidos no
Laboratório de Análises Clínicas Zenith. (LSc research), Universidade
Eduardo Mondlane.
Bueno, F. P. (2015). Elaboração de objetivos - geral e específicos. Curso de Turismo
- Trabalho de graduação I, (MAT03092013174529). Centro de Ensino
Superior do Amapá, Amapá.
Chambisse, I. (2014). Prevalência da Neutropenia e Tendências na População Adulta
da Cidade de Maputo. (LSc Research Proposal), Universidade Eduardo
Mondlane, Maputo.
DCB. (2013). Regulamento de Culminação de estudos nos Cursos de Licenciatura
ministrados no Departamento de Ciências Biológicas. Maputo: Departamento
de Ciências Biológicas, Faculdade de Ciências, Universidade Eduardo
Mondlane.
Eng, J. (2003). Sample size estimation: how many individuals should be studied?
Radiology, 227(2), 309-313. doi: 10.1148/radiol.2272012051
Israel, G. D. (2013). Determining sample size PEOD6. Gainesville, FL 32611:
Institute of Food and Agricultural Sciences (IFAS), University of Florida.
Miller, G. A. (1956). The magical number seven, plus or minus two: some limits on
our capacity for processing information. Psychological Review, 63, 81-97.
Miot, H. A. (2011). Tamanho da amostra em estudos clínicos e experimentais. J Vasc
Bras, 10(4), 275-278.
Mutombene, M. L. B. (2014). Efeito do Extracto de Acridocarpus natalitius, Casearia
gladiiformis e Cissampelos hirta sobre o Perfil Migratório e Activação das
Células Mononucleares do Sangue Periférico. (LSc internship report),
Universidade Eduardo Mondlane, Maputo.
MySwitzerland. (2013). BBC: Spaghetti-Harvest in Ticino. Youtube. Retrieved
18/02, 2015, from https://http://www.youtube.com/watch?v=tVo_wkxH9dU
Naing, L., Winn, T., & Rusli, B. N. (2006). Practical issues in calculating the sample
size for prevalence studies. Archives of Orofacial Sciences, 1, 9-14.
Sales, R. d., & Almeida, P. P. d. (2007). Avaliação de fontes de informação na
internet: avaliando o site do NUPILL/UFSC. Revista Digital de
Biblioteconomia e Ciência da Informação, 4(2), 67-87.
Sampaio, R. F., & Mancini, M. C. (2007). Estudos de revisão sistemática: um guia
para síntese criteriosa da evidência científica. Brazilian Journal of Physical
Therapy, 11, 83-89.
Sevene, E. (2014). Lista de Documentos a Submeter para Revisão de Protocolos.
Maputo.
Tomaél, M. I., Catarino, M. E., Valentim, M. L. P., Júnior, O. F. d. A., Silva, T. E. d.,
Alcará, A. R., . . . Godoy, P. A. d. (2001). Avaliação de fontes de informação
na internet: critérios de qualidade. Informação & Sociedade: Estudos, 11(2),
1-14.
Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 107
Suplemento
Suplemento 1. Tabelas.
Tabela 4. Critérios de qualidade para avaliar fontes de informação na internet.
Critérios Subcritérios
Informação de
identificação
Endereço electrónico do site e da fonte de informação
E-mail do site (organização que disponibiliza a fonte)
Título da fonte de informação
Endereço electrónico da fonte de informação
Objetivos da fonte e a que público se destina
Disponibilização de informações adequadas sobre a fonte
Identificação da tipologia da fonte e de sua origem
Consistência
das
informações
Cobertura da fonte
Validez do conteúdo
Resumos ou informações complementares
Coerência na apresentação do conteúdo informacional
Oferta de informações filtradas ou com agregação de valor
Apresentação de informação original
Confiabilidade
das fontes
Dados completos de autoria (como mantenedor)
Autoria reconhecida em sua área de actuação
Organização que disponibiliza o site
Conteúdo informacional relacionado com a área de atuação do autor
Observância de outras informações como: referências bibliográficas dos trabalhos do autor; endereço para contacto com
autor; origem da informação
Verificação de datas
108 Edgar Manuel Cambaza
Links
Links internos
Clareza para onde conduzem
Tipos disponíveis
Atualização dos links
Links externos
Clareza para onde conduzem
Devem apontar apenas para sites confiáveis
Tipos disponíveis mais comuns: informações
Complementares, ilustrações, portais temáticos, etc.
Revisão constante dos links
Facilidade de
uso
Links Que possibilitem fácil movimentação
Que possibilitem avançar e retroceder
Quantidade de cliques para aceder a fonte e a
informação
Da página inicial até a fonte são recomendados três cliques
Da fonte à informação são três ou menos cliques
Disponibilidade de recursos da pesquisa na fonte
Função de busca
Lógica booleana
Índice
Arranjo
Outros
Recursos auxiliares à pesquisa
Tesauros, listas, glossários, mapa do site, guia, ajuda na
pesquisa, outros
Instruções de uso
Manuais da fonte de informação para download ou impressão
Layout da
fonte
Os media utilizados devem ser interessantes
Tipos de media utilizados
A harmonia entre a quantidade dos media
Coerência entre as vários media
Imagens com função de complementar o conteúdo e não apenas
ilustrar
Pertinência com os propósitos da fonte
Legibilidade
Clara identificação das imagens
Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 109
Na estrutura do layout e arranjo é importante que
Haja coerência na utilização de padrões
Os recursos sirvam a um propósito e não apenas decoração
As imagens facilitem a navegação
O design do menu seja estruturado para facilitar a busca
A criatividade contribua para a qualidade
Evite-se o frame, que limita o uso da fonte
Restrições
percebidas
Pequena quantidade de acessos simultâneos
Alto custo de acesso à fonte de informação
Mensagens de erro durante a navegação
Direitos autorais impedindo o acesso à informação completa
Suporte ao
usuário
Contacto com o produtor da fonte
Informações de ajuda na interface
Outras
observações
percebidas
Recursos que auxiliam o deficiente no uso da fonte
Opção de consulta noutras línguas
Fonte: Tabela de Sales and Almeida (2007), baseados em Tomaél et al. (2001).
110 Edgar Manuel Cambaza
Tabela 5. Lista de algumas das bases de dados académicas e científicas gratuitas mais populares no Mundo.
Nome Disciplina Descrição Fornecedor
AGRIS: Agricultural
database Agricultura
Apresenta literatura sobre agronomia,
engenharia florestal, pecuária,
ciências aquáticas e pesqueiras,
nutrição humana e extensão de mais
de 100 países participantes.
O material inclui uma literatura mista
exclusiva que inclui relatórios
técnicos e científicos não publicados,
teses, papéis de conferencias,
publicações governamentais e mais.
Oferecido pela Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e Agricultura
(FAO). http://agris.fao.org AGRIS
Analytical sciences
digital library Química analítica
National Science Digital Library e
Analytical Chemistry Division da
American Chemical Society
Arnetminer Ciências de computação Serviço online usado para a mostra e
busca de redes sociais académicas Tsinghua University
arXiv
Física, matemática, ciências
de computação, ciências
não-lineares, biologia
quantitativa e estatística
Cornell University
Astrophysics Data
System Astrofísica, geofísica, física Harvard University
AULIMP: Air
University Library's
Index to Military
Periodicals
Ciências militares Air University
Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 111
BASE: Bielefeld
Academic Search
Engine
Multidisciplinar Bielefeld University
Bioinformatic
Harvester Biologia, bioinformática
Um meta motor de busca para 50
grandes projectos e bases de dados
Disponível a partir do Liebel-Lab KIT
Karlsruhe Institute of Technology
CHBD: Circumpolar
Health Bibliographic
Database
Medicina University of Calgary
ChemXSeer Química Pennsylvania State University
Citebase Search Matemática, ciências de
computação e física
Índice semiautónomo de pesquisas
gratuitamente dispostas online University of Southampton
CiteSeerX
Ciências de computação,
estatística, matemática, com
trabalhos multidisciplinares
Pennsylvania State University
CiteULike Ciências de computação
CogPrints:
Cognitive Sciences
Eprint Archives
Ciências (geral) University of Southampton
DBLP Ciências de computação
Lista compreensiva de artigos de
grandes conferências e revistas
científicas sobre computação
University of Trier, Germany
Directory of Open
Access Journals Revistas científicas
O Directório de Revistas Científicas
de Acesso Gratuito (DOAJ)
apresenta mais de 10.000 revistas de
acesso gratuito (Setembro de 2014)
em várias áreas de pesquisa
Lund University
EconBiz Economia EconBiz apoia pesquisas e o ensino
da economia com um ponto central
Produced by the ZBW- German National
Library of Economics– Leibniz
112 Edgar Manuel Cambaza
de entrada para todos os tipos de
informações específicas de assuntos e
acesso directo a textos completos
Information Centre for Economics
(ZBW)
ERIC: Educational
Resource
Information Center
Educação
Education literature and resources.
Provides access to over 1.3 million
records dating back to 1966.
Literatura e recursos de educação. Dá
acesso a mais de 1,3 milhões de
registos que partem desde 1966
Produzido pelo United States Department
of Education. Também disponível através
da subscrição em OCLC, CSA.
GENESIS História feminina
Descrições de coleções de histórias
das mulheres a partir de fontes do
Reino Unido, assim como websites
sobre a história das mulheres
London Metropolitan University
Google Scholar Multidisciplinar Google
GoPubMed Medicina
GoPubMed, o primeiro motor de
busca baseado no conhecimento para
a indústria das ciências da vida
Transinsight
HubMed Medicina Uma interface alternativa para a
literatura médica da PubMed Alf Eaton
Index Copernicus Ciência multidisciplinar
A base de dados de revistas
científicas – a IC Master List –
contém mais de 2.500 revistas
científicas de todo o Mundo,
incluindo 700 revistas da Polónia. As
revistas registadas nesta base de
dados recebem uma parametrização
rigorosa e multidisciplinar que
confere alta qualidade. O Ministério
da Ciência e do Ensino Superior
Index Copernicus International
Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 113
reconheceu a IC Journal Master List
colocando-a na lista de bases de
dados premiadas, pelo que a presença
dos jornais nesta base de dados
implica pontuação adicional no
processo de avaliação do Ministério
Information Bridge:
Department of
Energy Scientific
and Technical
Information
Multidisciplinar
A Information Bridge: DOE
Scientific and Technical Information
oferece acesso público gratuito a
mais de 266.000 documentos
completos e citações bibliográficas
da literatura usada para a produção
do relatório de pesquisa do
Departamento de Energia (DOE). Os
documentos são primariamente de
1991 em diante e foram produzidos
pelo DOE, a comunidade contratada
pelo DOE e/ou bolseiros do DOE.
Documentos de legado são
acrescentados, tornando-se
disponíveis em formato electrónico
United States Department of Energy,
Office of Scientific and Technical
Information
Jurn Multidisciplinar
Jurn é um motor de busca gratuito
para a busca e descarga de trabalhos
académicos gratuitos e completos.
Em 2014, o Jurn expandiu-se para
além das revistas científicas de artes
e letras, acrescentando a ecologia,
ciências gerais, biomédicas, gestão e
economia
Jurn
114 Edgar Manuel Cambaza
MedlinePlus Medicine
Produced by the United States National
Library of Medicine, the United States
National Institutes of Health, and the
United States Department of Health and
Human Services
Mendeley Multidisciplinar
O catálogo de pesquisa Mendeley é
uma base de dados de documentos de
pesquisa oriundos de muitas fontes.
Os pesquisadores já enviaram cerca
de 100 milhões de documentos para o
catálogo com contribuições
adicionais vindo directamente de
repositórios de como Pubmed Central
e Arxiv.org ou web crawls.
Mendeley
Microsoft Academic
Search
Ciências de computação e
uma certa quantidade
dedicada a ciências de
informação
Oferece muitas formas inovadoras de
se explorar papéis científicos,
conferencias, revistas científicas e
autores
Microsoft
National Criminal
Justice Reference
Service
Criminologia, sociologia
Resumos de artigos académicos,
relatórios de agências e ONGs e
publicações de conferencias
United States Department of Justice,
Office of Justice Programs
NBER: National
Bureau of Economic
Research
Economia National Bureau of Economic Research
OAIster Multidisciplinar OCLC
OpenSIGLE Literatura mista Apresenta literatura mista europeia Institut de l'information scientifique et
technique
PhilPapers Filosofia PhilPapers
POPLINE Estudos de população, A POPLINE® contém a coleção Knowledge for Health, Center for
Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 115
planeamento familiar, saúde
reprodutiva
mais compreensiva de literatura
relacionada com população,
planeamento familiar e a reação entre
saúde reprodutiva e
desenvolvimento. Como um recurso
internacional, a POPLINE ajuda
gestores de programas, fazedores de
normas e fornecedores de serviços
em países em desenvolvimento e
agências que apoiam o
desenvolvimento ou organizações no
acesso a artigos científicos e outras
publicações, técnicas, científicas ou
publicações dos programas
Communication Programs, Johns
Hopkins Bloomberg School of Public
Health
Psychology's
Feminist Voices Psicologia
Um arquivo digital online de
multimédia que contém os perfis de
250 psicólogas feministas que
moldaram e continuam a transformar
a disciplina da psicologia. Os perfis
estão organizados em duas secções:
“O passado das Mulheres” e a
“Presença Feminista”. Todos os
perfis da secção de Presença
Feminista contêm transcrições
originais de entrevistas e vídeos com
a psicóloga a discutir o seu
desenvolvimento feminista e a sua
carreira académica
Baseado na York University, Toronto,
Canada.
PubChem Química National Center for Biotechnology
116 Edgar Manuel Cambaza
Information e a U.S. National Library of
Medicine
PubMed Biomedicina National Institutes of Health e a U.S.
National Library of Medicine
PubPsych Psicologia
A PubPsych é um sistema de
exploração de recursos psicológicos.
Ela oferece uma selecção
compreensiva e balanceada de
recursos de um número crescente de
bases de dados internacionais com u
foco europeu, cobrindo as
necessidades dos psicólogos
académicos e profissionais
Leibniz Institute for Psychology
Information
RePEc: Research
Papers in Economics Economia Volunteer Collaboration
Retina medical
search Biomedicina
Recursos biomédico com foco
especial em profissionais de
medicina. Apresenta um motor de
busca de material médico eliminando
material a nível dos pacientes
Retina medical search
SafetyLit Multidisciplinar
Citações e resumos de artigos
científicos e relatórios de
pesquisadores trabalhando em mais
de 35 disciplinas profissionais
distintas (arquitetura – zoologia),
relevantes para a prevenção de danos,
violência e automutilação
Graduate School of Public Health, San
Diego State University e o Department of
Violence and Injury Prevention da
Organização Mundial da Saúde
SciDiver.com Multidisciplinar A SciDiver é um motor de busca de
documentos académicos de ciências SciDiver.com
Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 117
físicas. O serviço mantém
actualmente um índice associado ao
arXiv, o serviço dedicado a
matemática, física, astronomia,
ciências de computação, finanças
quantitativas e disciplinas
relacionadas; a expansão para outros
repositórios espera-se no decurso da
continuação do desenvolvimento do
site
SciELO Artigos científicos
A SciELO é uma base de dados
bibliográfica originalmente brasileira
e um modelo para a publicação
cooperativa electrónica nos países em
desenvolvimento. Ela contém 985
revistas científicas de diferentes
países com acesso gratuito e
universal com textos completos
FAPESP, CNPq e BIREME
Science Accelerator Multidisciplinar
Um portal de resultados da pesquisa
e desenvolvimento da DOE e
principais realizações da organização
United States Department of Energy,
Office of Scientific and Technical
Information.
Science.gov Multidisciplinar
Um portal para informação científica
governamental e resultados de
pesquisa. A Science.gov permite a
busca de 45 bases científicas e 200
milhões de páginas de informação
científica num só motor, e é um
portal de mais de 2000 websites
científicos
Science.gov Alliance, 18 organizações
técnicas e científicas de 14 agências
federais que contribuem para a
Science.gov. O United States Department
of Energy, Office of Scientific and
Technical Information serve como o
agente operativo da Science.gov
118 Edgar Manuel Cambaza
SearchTeam Multidisciplinar
Os estudantes podem buscar juntos e
em colaboração artigos e recursos
científicos
Zakta
SPIRES-HEP Física (alta energia) Stanford Linear Accelerator Center e
parceiros
SSRN: Social
Science Research
Network
Ciências sociais
Contém uma base de dados de
resumos e uma colecção de
documentos académicos, organizados
de acordo com disciplinas
Social Science Electronic Publishing, Inc.
SSRRN: Social
Science Research
Resources Network
Ciências sociais Apresenta conjuntos de dados e
códigos estatísticos
Social Science Research Resources
Network
The Collection of
Computer Science
Bibliographies
Ciências de computação Alf-Christian Achilles
VET-Bib Ciências sociais e educação Literatura sobre educação e ensino
vocacional europeu (VET)
European Centre for the Development of
Vocational Training
WorldWideScience Multidisciplinar
A WorldWideScience é um portal
global de ciências composto por
bases de dados e portais científicos.
A WorldWideScience acelera
descobertas científicas e o progresso
oferecendo buscas direccionadas de
bases de dados de todo o Mundo. A
WorldWideScience multilíngue
oferece busca e tradução em tempo
real de literatura científica
multilíngue globalmente dispersa
A WorldWideScience Alliance, uma
parceria multileateral, consiste de países
membros participantes e oferece uma
estrutura de governação para a
WorldWideScience. O United States
Department of Energy, Office of
Scientific and Technical Information
serve como agente operativo da
WorldWideScience
Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 119
Suplemento 2. Como submeter documentos ao Comité de Bioética
As instruções abaixo são baseadas em documentação de Sevene (2014).
A. Lista de documentos a submeter
Carta a solicitar a revisão científica do protocolo;
Carta de cobertura da instituição;
Carta de cobertura do local onde vai-se realizar o estudo;
Cópia física e electrónica65 do protocolo completo do projecto, contendo:
o Capa com o título, investigadores, instituições, introdução,
objectivos, métodos, resultados esperados e prováveis benefícios
do estudo e proposta de orçamento por rubricas;
o Folha de informação ao participante e folha de consentimento
informado;
o Instrumentos de recolha de dados.
Declaração de suporte do supervisor a dizer que o protocolo está apto a ser
avaliado;
Curriculum vitae do investigador principal;
Declaração de conflito de interesse;
Declaração do cumprimento da conduta ética.
B. Procedimento de envio de documentos via RhinoEthics
1. Abrir o navegador;
2. Ir ao endereço http://medicina.uem.mz;
3. Seleccionar o separador “comité de ética” (Figura 28);
65 A versão electrónica deve ser enviada a anasofiaarminda@gmail.com ou
isaurarungo@gmail.com.
120 Edgar Manuel Cambaza
Figura 28. Página do Comité de Ética da UEM.
4. Quase ao fundo da página, do lado direito, clica no link “acessar”, que
abrirá a página para criar uma conta/fazer login na plataforma da ética66.
Figura 29. Como aceder à plataforma da ética. À esquerda, pode-se ver o link que dá acesso à plataforma e à direita, a página de criação de conta e login.
5. Uma vez tendo a conta, o resto do processo é intuitivo. Ao submeteres pela
primeira vez, clica em “submissão de novo protocolo”, se quiseres
emendar o protocolo, clica “submissão de emenda/subestado/extensão” e
também tens a opção de renovar o protocolo.
Em caso de dúvidas, contacta o Dr. Jatito Sacara através do seu endereço
electrónico: jahityash2002@yahoo.com.br.
66 Podes não encontrar a página exactamente como aqui explicada, porque
existem épocas de submissão de protocolos, mas é só ficares atento e ir abrindo a
página de tempos em tempos.
Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 121
C. Modelos de documentos do Comité de Ética
C. I. Declaração de Conflitos de Interesse
Eu, (nome), investigador principal do estudo “(título do protocolo)”, declaro
que participei na elaboração do protocolo de pesquisa e estarei directamente
envolvido na recolha de dados, analise e apresentação dos resultados da pesquisa
acima citada, Esta pesquisa não trará nenhum beneficio financeiro. Não existe
nenhum vinculo com companhias farmacêuticas que produzam fármacos ou outras
tecnologias usadas no estudo. Esta pesquisa e levada a cabo pelo seu interesse
científico e pela sua importância para a saúde publica (acrescentar outras áreas se
aplicável). Assim declaramos que não antevemos nenhum tipo de conflito de interesse
em relação à pesquisa que lidero com a investigador principal.
Maputo, aos (dia) de (mês) de (ano)
____________________________
Assinatura
(Investigador principal)
C. II. Termo de Compromisso do Investigador
Eu, (nome), investigador principal do estudo (título do
protocolo),comprometo-me, em cumprir todos os requisitos éticos nacionais e
internacionais estipulados para pesquisa envolvendo humanos, respeitar a autonomia
individual dos participantes do estudo, maximizar os benefícios e minimizar os riscos,
bem coma proteger a privacidade e manter a confidencialidade de todos os
participantes da pesquisa. Comprometo-me igualmente em não efetuar qualquer
alteração ao protocolo aprovado pelo Comité Institucional de Bioética em Saúde da
Faculdade de Medicina & Hospital Central de Maputo (CIBS FM&HCM), do
consentimento informado de cada participante ao meu estudo e processar toda
informação obtida com toda a confidencialidade. Finalmente, comprometo-me que
todos os dados recolhidos no âmbito deste estudo não serão usados para qualquer
outros fins que não sejam os referidos no protocolo de pesquisas submetidos ao
CNBS.
Maputo, aos (dia) de (mês) de (ano)
Assinatura
122 Edgar Manuel Cambaza
_____________________________
(Investigador principal)
Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 123
Suplemento 3. Sobre o autor
Edgar Manuel Cambaza é Mestre em
Ciências dos Alimentos, depois da sua Licenciatura
em Ciências Biológicas orientadas à Biologia
Aplicada. Foi um dos candidatos selecionados para
o Programa de Doutoramento em Ciências de
Sustentabilidade da Biosfera na Universidade de
Hokkaido, Japão.
Leciona Micologia e Biotecnologia
Bacteriana e Micológica (Microbiologia Aplicada)
no Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).
Além destas disciplinas, já lecionou Biologia do Desenvolvimento, Genética Clássica,
Zoologia dos Vertebrados, Bioquímica e Biologia Celular. Também supervisionou
estudos de Biologia Molecular, Imunologia e Microbiologia.
Actualmente, encontra-se a supervisionar pesquisas em Hematologia,
Nutrição, Biologia Molecular, Tratamento de Resíduos, Parasitologia e
Microbiologia. Já esteve envolvido na supervisão de várias pesquisas da UEM em
parceria com a Coca-Cola Sabco, o Departamento do Imunologia do Instituto
Nacional da Saúde, Centro de Biotecnologia da UEM, Laboratório Nacional de
Referência de Tuberculose, Comunidade Santo Egídio e Laboratório de Microbiologia
do Hospital Militar de Maputo.
Pesquisas
Cambaza, E. (2013). Double Burden of Malnutrition since the Beginning of
the Millennium in Adults from Maputo City. Dissertação de Mestrado.
The University of Western Australia.
Cambaza, E. (2013). Estudo dos níveis de hemoglobina e prevalência de
anemia na população adulta da Cidade de Maputo. Accademos, 1: 1-30.
Cambaza, E. (2013). O desporto e o índice de massa corporal em jovens
adultos da Cidade de Maputo. Accademos, 1: 31-54.
Cambaza, E., Beatriz, C., Neves, L., e Pedro, O. (2008). Detecção Molecular
de Erlichia ruminantium nos Três Estágios de Desenvolvimento de
124 Edgar Manuel Cambaza
Amblyomma hebraeum. Relatório de Culminação de Licenciatura
em Ciências Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.
Supervisão
Mutombene, M. L. B., Cambaza, E. M., Matavele, R. J. e Castiano, C.
(2014). Efeito do Extracto de A. natalitius, C. gladiiformis e C. hirta
sobre o Perfil Migratório e Activação das Células Mononucleares do
Sangue Periférico. Relatório de Culminação de Licenciatura em
Biologia e Saúde. Universidade Eduardo Mondlane.
Selemane, U. R., Cambaza, E. M. (2014). Estudo de Prevalência da
Esquistossomiase no Bairro da Matola A na Cidade da
Matola. Relatório de Culminação de Licenciatura em Biologia e Saúde.
Universidade Eduardo Mondlane.
Chaguala, V., Cambaza, E. M., Dumbo, J. (2014). Análise de Parasitoses
Intestinais nas Crianças dos 0 aos 4 Anos de Idade que Frequentam as
Creches da Cidade da Matola. Relatório de Culminação de Licenciatura
em Biologia e Saúde. Universidade Eduardo Mondlane.
Pale, M., Cambaza, E. M. (2014). Estudo da Velocidade de
Hemossedimentação e Prevalência de Níveis Patológicos em Adultos da
Cidade de Maputo. Relatório de Culminação de Licenciatura em
Biologia e Saúde. Universidade Eduardo Mondlane.
Maphossa, V., Cambaza, E. M. (2014). Estudo do Impacto do Nível
Académico sobre o Índice de Massa Corporal em Jovens Adultos da
Cidade de Maputo. Relatório de Culminação de Licenciatura em
Biologia e Saúde. Universidade Eduardo Mondlane.
Mendes, I., Cambaza, E. M. (2013). Avaliação do Hematócrito e
Hemoglobina, Prevalência e Estimativas (2008 – 2017) das taxas de
Anemia em Indivíduos dos 18 aos 60 anos de Idade da Cidade de
Maputo. Relatório de Culminação de Licenciatura em Ciências
Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.
Sineque, A. R., Cambaza, E. M. (2013). Sazonalidade da Prevalência da
Anemia em Adultos da Cidade de Maputo, Moçambique. Relatório de
Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos
Edgar Manuel Cambaza 125
Culminação de Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade
Eduardo Mondlane.
Mabasso, A., Cambaza, E. M. (2013). Perfil Hematológico em Indivíduos dos
16 a 59 anos de Idade na Cidade de Maputo. Relatório de Culminação
de Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade Eduardo
Mondlane.
Augusto, M. G., Cambaza, E. M., Parruque, M. M., Viegas, S., e Cadir, N.
(2013). Avaliação do MGIT TBc na Identificação Rápida do
Complexo Mycobacterium tuberculosis no Laboratório Nacional de
Referência da Tuberculose de Maputo. Relatório de Culminação de
Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.
Zita, E. A., Cambaza, E. M., e Sitoe, N. (2012). Avaliação e Comparação da
Testagem de Proficiência de FACSCalibur e FACSCount na Contagem
de Linfócito TCD4 em Laboratórios de Moçambique Durante o Período
de 2009 a 2011. Relatório de Culminação de Licenciatura em Ciências
Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.
Mombi, S. E., Cambaza, E. M., Macucule, P., e Neves, L. (2011). Avaliação
de Resistência ao Aceturato de Diminazeno em 4 Isolados do
Trypanosoma congolense, usando os Métodos SDMT e PCR-RFLP.
Relatório de Culminação de Licenciatura em Ciências Biológicas.
Universidade Eduardo Mondlane.
Semo, A. C., Cambaza, E. M., Ceffa, S., e Paturso, G. (2010). Diagnostico
Precoce do HIV-1 em crianças nascidas de mães em terapia
antiretroviral nas Cidades da Matola e Maputo. Relatório de
Culminação de Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade
Eduardo Mondlane.
Nhavene, E. P. F., Cambaza, E. M., Matavele, R. J., e Manhiça, I. (2010).
Impacto da Co-Infecção HIV-1/ HTLV-1 sobre a Frequência de
diferentes Subpopulações Linfocitarias em Crianças Infectadas pelo
HIV-1 na Enfermaria Pediátrica do Hospital Geral de Mavalane.
Relatório de Culminação de Licenciatura em Ciências Biológicas.
Universidade Eduardo Mondlane.
Luís, L. A., Cambaza, E. M., e Neves, L. (2010). Epidemiologia e Diagnostico
Molecular da Parvovirose Canina em Maputo (Cidades de Maputo e
126 Edgar Manuel Cambaza
Matola). Relatório de Culminação de Licenciatura em Ciências
Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.
Jossefa, A. A, Beatriz, C., e Cambaza, E. (2009). Análise Microbiológica dos
Refrigerantes da Coca-Cola Sabco, Maputo. Relatório de Culminação
de Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade Eduardo
Mondlane.
Muchanga, C., Beatriz, C., e Cambaza, E. (2009). Avaliação da Eficácia dos
Métodos Sorológico e Baciloscopia na Detecção Precoce da Infecção
por Mycobacterium tuberculosis, no Laboratório de Análises Clínicas
do Hospital Militar de Maputo. Relatório de Culminação de
Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.
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