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33Jornal do ComércioPorto Alegre

Segunda-feira28 de julho de 2008ESPORTE

L I B E R T A D O R E S 1 9 8 3 - 2 5 A N O S

Histórias de uma conquista inesquecívelValdir Espinosa, treinador

Rejane Sikinowski, torcedora

Era dezembro de 1982 quan-do Fábio Koff reuniu a família na sala e avisou: �Vou ficar na presidência do Grêmio por mais um ano, porque sei que seremos campeões da Libertadores e do mundo�. Era uma premonição de que �aquele era o ano� do clube gaúcho, mas só mesmo o mais fanático dos torcedo-res poderia acreditar naquela promessa. Conquistar o prin-cipal campeonato de clubes da América do Sul era um sonho inacessível, já que, apesar de ter um bom time - e de ter sido vice-campeão brasileiro naquele ano -, o Tricolor de Porto Alegre não tinha nenhuma tradição internacional.

Ainda mais porque em seu caminho, apenas na primeira fase, estavam nada mais nada menos que o Flamengo - su-pertime de Zico e companhia, campeão brasileiro de 82 e do mundial do ano anterior - e a altitude de 3.600 metros de La Paz, onde enfrentou o Bo-lívar. Contrariando todas as expectativas, o Grêmio fez uma belíssima campanha, ignorou as adversidades e ficou com a única vaga para a semifinal do grupo, eliminando o favorito Flamengo. �Fomos os primeiros brasileiros a vencer na altitude�, lembra Koff.

A façanha foi muito come-morada pelo grupo, mas a classificação foi apenas um pequeno passo. Agora ainda se-ria necessário passar por Amé-rica de Cali, da Colômbia, e Es-

tudiantes, daArgentina, quefoi responsávelpor protagoni-zar a inesquecí-vel Batalha deLa Plata. ParaKoff, a certezade que ninguémmais segurariao Grêmio veiocontra o Améri-ca, no Olímpico,quando Maza-ropi pegou umpênalti e confirmou a vitóriacontra os colombianos. �A partirdali eu não tinha mais palpite,tinha convicção�, conta.

Com apenas uma derro-ta, contra o próprio Améri-

ca, o Tricolorchegou à finalcom o Peñarol,que havia con-quistado a Li-bertadores noano anterior.E tudo estavaescrito paraque, em 1983,o troféu trocas-se de mãos. Ofato que mais

comprova isso é que os orga-nizadores da competição já tinham defi-nido que a se-gunda partida seria realizada em Montevi-déu. No entan-to, a diretoria do clube uru-guaio pediu o adiamento do jogo, o que

abriu uma brecha para que Koff negociasse a inversão do man-do de campo. A jogada fez com que mais de 70 mil gremistas pudessem acompanhar, ao vivo, a decisão.

Na manhã do dia 28 de julho, Koff acordou e disse para a sua esposa: �Me vê uma roupa que eu não vá lamentar muito se es-tragar. Hoje, vou voltar enchar-cado de champanhe�. Foi assim, vestindo uma calça esporte cor de chumbo, que o presidente comemorou a vitória que co-locou o futebol do Rio Grande do Sul no cenário mundial. E voltou para casa encharcado de champanhe.

Já era madrugada do dia 29 de julho quando o técnico Val-dir Espinosa deixou o estádio Olímpico, enfrentou a euforia existente nas ruas da cidade e chegou à sua casa, localizada no bairro Menino Deus. De forma emocionada, ele relembra a re-cepção dada por seus familiares, que contou até com faixa em sua homenagem.

Todos juntos tomaram cham-panhe e viram o dia amanhecer. �Cada um falou sobre a sua emo-ção. Eu olhava, agradecia e di-zia: �acho que eu sou importante�. Para eles eu fui e acho que para a torcida gremista também.�

Para o treina-dor, a caminha-da de 12 jogos, que começou no empate em 1 a 1 com o Flamengo, em Porto Alegre, no dia 4 de março, marcou para a batalha final o encontro entre duas equipes muito fortes física e tecnicamente. �Se nós estávamos jogando aquela partida com o torcedor do nosso lado, o Peña-rol tinha a vantagem de ser um time mais experiente�, salienta o treinador.

Segundo Espinosa, o momento mais difícil da campanha ocorreu após o empate em 3 a 3 contra o Estudiantes, em La Plata. Em uma verdadeira batalha campal, o Tricolor esteve vencendo por 3 a 1, mas acabou cedendo o empate

para um time com apenas setejogadores. Foi necessário torcerpara que o mesmo Estudiantesnão vencesse o América.

Depois, com a vaga assegu-rada, a preparação para o duelocom o Peñarol ocorreu natural-mente. �Apenas continuamoso trabalho planejado desde aapresentação do grupo, em janei-ro. O foco sempre esteve voltadopara aquele momento. O únicocompromisso que a gente tinhaera de não se entregar e não seassustar�, lembra o comandante,

ressaltando quemuitas mudan-ças no time fo-ram feitas como andamentoda competição,principalmen-te no setor de-fensivo, com asentradas, porexemplo, do go-leiro Mazaropie do zagueiro

Baidek.Como ninguém havia vencido

o jogo em Montevidéu - Tita fezpara o Grêmio e Morena deixoutudo igual -, um novo empate emPorto Alegre levaria a decisãopara um terceiro duelo em camponeutro. A ordem era não deixarde arriscar.

E nem mesmo o empateuruguaio e um instante deturbulência no qual Mazaropibrilhou alteraram a tática.Apenas a entrada do predesti-nado César serviu para coroara conquista.

Certamente cada um dos gremistas que compareceu à decisão em 28 de julho de 1983, há exatos 25 anos, ou aqueles que simplesmente a acompanharam em casa, tem alguma recordação daquele dia histórico. Afinal, não apenas os gremistas, mas tam-bém Porto Alegre viveu algo até então inédito.

Horas antes da partida, faixas de campeão continental já esta-vam sendo vendidas pelas ruas da Capital. À tarde, quando se

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dirigiu ao trabalho, a professora Rejane Sikinowski comprou uma, sabendo que horas depois estaria no jogo e que aquela recordação iria acompanhá-la durante a decisão. �Estava se desenhando que o Grêmio seria campeão. A gente sabe quando o time está brilhando ou ganhando na sorte.�

Depois de jantar, e acompa-nhada de seu noivo, de sua mãe e de seu sobrinho, a fanática torcedora teve que superar o fato de não gostar de caminhar para chegar ao Olímpico. �Não tinha lugar para estacionar. Deixa-mos o carro na Erico Verissimo, próximo à Ipiranga. Dessa vez, andei bastante, mas com muito

prazer�, afirma.Ao ter acesso à social do está-

dio, garante: �vi a coisa mais lindada minha vida�. O que Rejane nãoacompanhou foram alguns lancesdo confronto. �Eu assisti, ou nãoassisti, à boa parte da partida deolhos fechados e com os ouvidostapados. De vez em quando, euabria um olho para ver o queestava acontecendo. Se a coisaestava boa para nós, eu ficava deolhos abertos. Quando havia al-gum lance de perigo, eu fechava.�

Porém, depois de ir ao Olím-pico em todos os jogos daquelaLibertadores e sentir um poucode medo �de que tirassem aquelesonho da gente� no momento emque o Peñarol empatou o dueloatravés de Morena, guardou namemória a última imagem da-quele momento inesquecível: acena do capitão De León erguen-do a taça, com sangue escorrendopelo rosto. Isso graças aos gols deCaio e César, este marcado apóslance em que Renato Portaluppi,próximo à bandeira de escanteio,surpreendeu a todos, levantoua bola e cruzou sem ter a visãoda área. Um desfecho digno decampeão.

A campanhaPrimeira fase

gGrêmio 1 x 1 FlamengoBlooming 0 x 2 GrêmiogBolívar 1 x 2 GrêmioGrêmio 2 x 0 BloomingGrêmio 3 x 1 BolívarFlamengo 1 x 3 Grêmio

Fase Semifinal

Grêmio 2 x 1 EstudiantesAmérica 1 x 0 GrêmioGrêmio 2 x 1 AméricaEstudiantes 3 x 3 Grêmio

Fase Final

Peñarol 1 x 1 GrêmioGrêmio 2 x 1 Peñarol

Fábio Utz Iasnogrodski eIzadora Carvalho

Fábio Koff,presidente

De pé: Ithon Fritzen (prep. físico), Paulo Roberto, Mazaropi, Baidek, China, Casemiro, De León e Espinosa.Agachados: Renato, Caio, Osvaldo, César, Tonho e Tarciso.

Atletas comemoraram a vitória ao lado de 70 mil torcedores

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�Nós não fomosapenas 11 em campo. Havia os jogadores do banco, os torcedores que ficavam rezando ea diretoria, que sem-pre nos apoiou.�

Tarciso, atacante

�Quando umjogador é diferenciado,sempre tira um curinga da manga...�

Renato Portaluppi, atacante, sobre o lancedo gol do título

�No momento emque vi aquele estádiolotado, pensei comigo:de hoje não podepassar.�

Mazaropi, goleiro

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