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MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Autor: MSc. Christian Lindberg L. do Nascimento (UNICAMP/FAPESP)
Problematização: Embora seja um filósofo
do século XVI, Montaigne elabora uma
importante reflexão filosófica sobre o
ensino da Filosofia. Logo, em que consiste
tal reflexão? É possível extrair dela
contribuições para a contemporaneidade?
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Objetivo geral: Expor elementos
introdutórios da Filosofia da Educação
de Montaigne, dando ênfase à sua
reflexão sobre o ensino da Filosofia.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Objetivos específicos:
1) Apresentar informações biográficas
do autor do Ensaios;
2) Delimitar as bases do ceticismo
montaigneano;
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Objetivos específicos:
3) Expor a concepção montaigneana de
educação;
4) Anunciar a importância do ensino da
Filosofia para Montaigne.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
M o n t a i g n e : v i d a e o b r a
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Michel de Montaigne,
nasceu em Bordeaux
e faleceu na mesma
cidade. Viveu entre
os anos de 1533 e
1592.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Autor: anônimo (1590)
Publica os dois primeiros
volumes de o Ensaios no
ano de 1580. Já o
terceiro e último volume
torna-se público em
1588. A edição definitiva
desta obra foi divulgada
em 1595.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Contracapa da edição de 1580
Ele estudou no Colégio de Guyenne,
que era, na época, o melhor colégio
da França. Por conta disso, recebeu
uma educação direcionada pela
disciplina rígida e composta por
conteúdos eruditos.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Formado em Direito, no ano de
1554, ocupou alguns cargos
públicos. O principal deles foi o
exercício de parlamentar na cidade
de Bordeaux.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Antes de casar-se, em 1565,
dedicou-se aos divertimentos
mundano. Insatisfeito com o
matrimônio, “separa-se” e rende-se à
melancolia.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Foi herdeiro de um dos homens
mais ricos de Bordeaux, Pierre
Eyquem (1568). Por conta disso,
apossa-se de um castelo, local
onde ficou enclausurado e redigiu o
Ensaios.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Peter Burke (1985, p.13) afirma que
o retiro de Montaigne era um
subterfúgio da sociedade e das
suas estruturas.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Além disso, o retiro era uma
preparação para a morte, já que os
homens não ultrapassavam os 40-
50 anos de vida.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Montaigne viveu numa época
extremamente conturbada. Do ponto de
vista econômico, social e político tem-
se o fim do feudalismo e a destruição
das formas vigentes de pensamento,
baseadas no teocentrismo.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Houve o movimento de reforma
religiosa, que, além dos seus
fatores clericais, tinha um
fundamento econômico bastante
forte.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Esse cenário formou um quadro, rico
do ponto de vista intelectual, e cheio
de esperanças, mas, ao mesmo
tempo, dominado pela melancolia e
por dúvidas em relação ao futuro.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Portanto, Montaigne foi ao mesmo tempo
uma criatura do Renascimento e da
Reforma. Foi um humanista completo, com
um vasto interesse pelas ideias e valores
da antiguidade, bem como por sua
aplicação à vida dos homens no mundo.
(POPKIN: 2000, p.89)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Então o que diz o Ensaios?
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
De acordo Plínio Smith (2000, p.63), há
duas interpretações sobre a motivação do
Ensaios. A primeira atesta que Montaigne
o fez para falar se si próprio, a outra, vai
na direção de apontar que, a partir dele
próprio, Montaigne procura compreender
o homem.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
O fato é que Montaigne cria um
modo pessoal de exposição e um
particular para o pensar.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
A f i l o s o f i a d e M o n t a i g n e : o
c e t i c i s m o
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Ceticismo: é uma doutrina filosófica
segundo a qual, do ponto de vista teórico,
não se pode conhecer a verdade e, do
ponto de vista prático, só se chega à
felicidade, entendida como ausência de
inquietação, pela suspensão de todo juízo.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Grosso modo, a filosofia montaigneana é
herdeira da famosa frase atribuída a
Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo.”
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
A primeira concepção montaigneana de
filosofia afirma que o filosofar é aprender a
morrer, mostrando que o conhecimento é
melhor do que a ignorância, uma vez que
por meio da reflexão e do pensamento
constante da morte, perderemos o medo
dela.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Mas o que os interpretes afirmam é
que Montaigne institui uma filosofia
moral, que deve converter-se em
uma descrição de si mesmo.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
A descrição de si mesmo contribui
decisivamente para a realização de
uma vida conforme a natureza, na
medida em que permite a cada um
reconhecer qual é a própria natureza.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Logo, o conhecimento de si e o
conhecimento dos objetos estão em
uma proporção recíproca.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Por isso que a profa. Telma Birchal
(UFMG) refere-se ao Ensaios como
um espelho para Montaigne. Mas o
que fundamenta esta avaliação?
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
O que Montaigne encontra, ao final de
sua reflexão sobre si, é a diversidade,
a variação, a inconstância. O próprio
torna-se lugar da interpretação dos
fatos e de si mesmo.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
A F i l o s o f i a d a e d u c a ç ã o
m o n t a i g n e a n a
Opahle (1949, p.144) afirma que todo o
ensinar e educar é condicionado à
virtude. Mas em que consiste esta
afirmação? Porque o ensinar e o educar
deve nos conduzir à virtude?
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Há dois ensaios que abordam,
diretamente, o tema da educação:
1) Do pedantismo;
2) Da educação da criança.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
O ponto de partida da crítica
montaigneana à educação vigente é
materializada na seguinte expressão.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“Que adianta ter a barriga cheia de
comida se não a digerimos? Se não
assimilamos, se não nos fortalece e faz
crescer!” (MONTAIGNE: 2000, p.141)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“Assim como os pássaros vão às vezes em
busca de grãos que trazem aos filhotes sem
sequer sentir-lhe o gosto, vão nossos mestres
pilhando a ciência nos livros e trazendo na
ponta da língua tão-somente para vomitá-la e
lança-la ao vento.” (MONTAIGNE: 2000,
p.140)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“Seu objetivo não é dar vista ao cego e
sim corrigi-la, e ensinar a andar se as
pernas ainda são direitas e capazes de
esforço.” (MONTAIGNE: 2000, p.144)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“O saber é uma droga, mas não há
droga suficientemente forte para resistir
às falhas do recipiente.” (MONTAIGNE:
2000, p.144)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Então o que propõe o filósofo francês?
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“A maior e mais importante dificuldade
da ciência humana parece residir no
que concerne à instrução e à educação
da criança.” (MONTAIGNE: 2000,
p.150)
“Certamente é muito difícil modificar as
propensões naturais [...] A minha opinião
é que as encaminhamos sempre para as
coisas melhores e mais proveitosas.”
(MONTAIGNE: 2000, p.150)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“Quem segue outrem não segue
coisa nenhuma [...] que cada qual se
governe a si próprio.” (MONTAIGNE:
2000, p.152)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“Não basta fortalecer-lhe a alma,
é preciso também desenvolver-
lhe os músculos.” (MONTAIGNE:
2000, p.154)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Portanto, o processo de
aprendizagem constitui-se, em geral,
não como um armazenamento de
informações, mas como a
internalização de uma atitude.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
M o n t a i g n e e o e n s i n o d a
F i l o s o f i a
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Segundo Montaigne, o ensino
da Filosofia torna-se o subsídio
para o conhecimento de si e
para a moralidade.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
A profa. Maria Cristina Theobaldo
(UFMT) afirma que, do ponto de
vista educacional, as reflexões
filosóficas devem colaborar com a
ação moral e a formação do caráter,
como também nos conduzir em
sociedade.
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“É estranho que em nosso tempo a
filosofia não seja, até para gente
inteligente, mais do que nome vão e
fantástico, sem utilidade nem valor,
na teoria e na prática.” (MONTAIGNE:
2000, p.160)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“A filosofia é a ciência que nos ensina
a viver e que a infância como as
outras idades dela pode tirar
ensinamentos.” (MONTAIGNE: 2000,
p.162)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“Para nosso jovem, um gabinete, um jardim,
a mesa e a cama, a manhã e a tarde, todas
as horas e lugares lhe servirão; em toda
parte estudará, pois, a filosofia, que será
sua principal matéria de estudo [...] tem o
privilégio de se misturar a tudo.”
(MONTAIGNE: 2000, p.163)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
“O verdadeiro espelho de
nosso pensamento é a
maneira de vivermos.”
(MONTAIGNE: 2000, p.166)
MONTAIGNE E A FILOSOFIA COMO CONHECIMENTO DE SI
Aspectos conclusivos: A interface
entre a filosofia e a vida instiga a
experiência da autorreflexão,
motivando o conhecimento de si e
fortalecendo o julgamento moral.
Referências
AZAR FILHO, C.M. Montaigne: o aprendizado da virtude. Kalagatos: Revista de Filosofia
do Mestrado Acadêmico em Filosofia da UECE, Fortaleza, v.1, nº1, inverno/2004. p.57-101.
BIRCHAL, T.S. O eu nos Ensaios de Montaigne. Belo Horizonte; EdUFMG, 2007.
BURKE, P. Montaigne. Madrid: Alianza Editorial, 1985.
MONTAIGNE, M. Ensaios. Tradução Sérgio Millet. São Paulo: Nova Cultural, 2000. 2.v.
OPAHLE, O. La pedagogia de Miguel de Montaigne. Traducción Carlos Witthaus.
Buenos Aires: Editorial Difusion, 1949.
POPKIN, Richard. História do Ceticismo: de Erasmo a Spinoza. Tradução Danilo
Marcondes. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2000.
SMITH, P.J. Ceticismo filosófico. Curitiba: EdUFPR, 2000.
THEOBALDO, M.C. Sobre o “Da educação das crianças”: a nova maneira de
Montaigne. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2008.
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