View
3
Download
1
Category
Preview:
Citation preview
1
Pare que eu quero
descer do mundo! ... e outras reflexões
Jorge Mauricio de Castro
Pare que eu quero descer do mundo!
E outras deliciosas reflexões...
Este E-book é uma coleção de crônicas do cotidiano, viagens, angústias, tristezas e alegrias. Divirta-se, reflita e compartilhe.
Jorge Mauricio de Castro
JMC Consultoria e Educação Corporativa
www.jorgemauricio.com.br
2
Introdução
Gosto muito de escrever. Dividir ideias me conecta às pessoas!
E esta conexão é a inspiração para escrever mais e mais.
Já escrevi 6 livros e inúmeros artigos que dividi com o mundo.
E agora compartilho este e-book com você!
Algumas destas crônicas foram escritas para compor os
informativos que a JMC Consultoria envia a seus clientes, amigos
e “prospects”. Caso queira passar a recebê-los, logo abaixo estão
os meus contatos.
Obrigado e boa leitura!
Jorge Mauricio Apoio cultural:
www.jorgemauricio.com.br
www.facebook.com/jmcconsultoria
jmc.consultoria@gmail.com
3
Índice
Vampiros emocionais no trabalho, 04
Cigarras e formigas modernas, 06
Planejar é preciso, viver não é preciso, 08
Pare que eu quero descer do mundo!, 10
Ano novo. Vida nova?, 12
Temos nosso próprio tempo, 14
Guiana ou Goiânia?, 16
Efeito bumerangue, 18
Desabafo de um pai triste e feliz, 20
Existe um lugar assim!, 22
Black Friday: prazer ou loucura?, 24
Você me decepcionou, mas eu te perdoo, 26
As perdas necessárias, 28
Temos mesmo que nos conformar?, 30
Aposentar é preciso?, 32
Em que tempo você vive?, 34
Prefiro Punta Cana, 36
Quero ter meu “Califado”, 38
Sobre casamentos e tecnologias, 40
Um sabático ou um novo propósito de vida?, 42
Comportamento viajante, 44
O que a Olimpíada nos ensina, 46
Metamorfose humana, 48
Cheio ou vazio? Você decide!, 50
A pobreza me abandonou, 52
Na beira do Douro, sentei e chorei, 54
4
Vampiros emocionais no trabalho
Há alguns dias, durante uma longa conexão no aeroporto de
Brasília, reencontrei um colega de Faculdade que não via desde
2010. Tínhamos 3 horas para colocar em dia 6 anos de
distância. E ele falou quase o tempo todo. Precisava desabafar
e me dispus a ouvi-lo.
Ele disse: "Quando me olho no espelho sinto raiva de mim
porque me culpo pelo acontecido. Eu não devia ter acreditado
cegamente nas pessoas que me decepcionaram, nem devia ter
dedicado tanto tempo a um trabalho que não me satisfazia.
Devia ter sido mais previdente e cuidadoso.”.
Foi fácil perceber sua angústia, oriunda de problemas
profissionais. Confiou em quem não merecia, tentou ser
autêntico, não se conformava em fazer do ambiente de
trabalho um teatro de aparências. Se deu mal!
Ambientes de trabalho estão geralmente repletos de hipocrisia.
São pessoas dançando o "Baile das Máscaras", sem assumirem
sua verdadeira identidade. Alguns até se transformam em
vampiros emocionais, sugando a energia daqueles que estão a
sua volta. Conheço vários...
5
Por outro lado, bons ambientes de trabalho são fundamentais
para a produtividade pessoal. Somos mais ou menos sensíveis à
influência do meio sobre nosso desempenho profissional, mas
não conheço ninguém que goste de trabalhar em um ambiente
onde a falsidade esteja sempre em alta. Líderes precisam estar
atentos e atuar decididamente para melhorar a qualidade das
relações internas.
E você, o que pode fazer? Olhe em volta. Procure conhecer as
pessoas que te cercam. Fique atento, analise friamente seus
comportamentos assumidos e escusos. Seja cuidadoso. E
proteja-se. A próxima vítima pode ser você!
6
Cigarras e formigas modernas
Você provavelmente conhece a fábula de La Fontaine sobre a cigarra que vive de prazer enquanto a formiga trabalha duro para suportar o inverno rigoroso. Será possível interpretá-la nos dias de hoje de forma tão maniqueísta? Penso que não. No mundo atual, não é mais plausível vivermos a realidade do "ou" - somos um pouco formiga e cigarra ao mesmo tempo. Salvo exceções, claro. Conheço pessoas que só enxergam o trabalho e a filha de uma amiga angustiada, aos 30 anos, é plena cigarra. Mas estes não são a regra.
Estou atualmente no meu momento "cigarra responsável", após décadas incorporando muito mais a formiga. Uma formiga viajadeira, é verdade. Alada, mas sempre com os pés no chão. Trabalho duro há mais de 30 anos. Perdi a conta das vezes em que viajei durante a noite para trabalhar no dia seguinte, entre outros malabarismos que fiz para proporcionar uma sobrevivência digna. Acumulei atividades e responsabilidades com o prazer inerente aos que constroem algo com significado maior: dar o máximo de oportunidades à família.
Hoje meus filhos estão criados. Ambos independentes e bem sucedidos nas suas escolhas pessoais e profissionais, felizes com a vida, viajando pelo mundo e me presenteando com algo que dinheiro nenhum pode comprar: a sensação do dever cumprido!
Aí pensei: tenho uma carreira estruturada, algum patrimônio para dar segurança, enxergo felicidade nas coisas simples da vida e já vivi 2/3 do tempo provável que me será concedido por Deus. Não estará na hora de agradecer à formiga e incorporar a cigarra?
7
Como escrevi no início, não uma cigarra plena, mas responsável. Até porque amo meu trabalho. Presenteando-me com mais tempo livre, podendo escolher o que fazer e, principalmente, o que não quero fazer. Simplificando, desapegando, viajando mais, me aproximando só do que agrega valor à vida.
Assim como as cigarras, cantando ao cair da tarde pela alegria de ter vivido mais um dia!
8
Planejar é preciso, viver não é preciso
Há alguns dias, durante uma conversa descontraída com amigos
e conhecidos, fui perguntado sobre qual seria minha próxima
viagem – meus amigos sabem o quanto gosto de viajar!
Respondi prontamente: em maio vamos fazer um cruzeiro pelo
Mar Adriático, passando pela Itália, Eslovênia, Croácia e
Montenegro. E na volta curtir um pouco de Veneza e Paris.
Um dos presentes, a quem eu acabara de ser apresentado,
identificou-se prontamente com este meu gostar e passamos
então a conversar sobre viagens. Ele, ainda jovem, mostrava-se
ávido por informações, experiências e possibilidades. Começou
a perguntar.
Algumas das minhas respostas o deixaram intrigado. Quis saber
quantos Estados brasileiros eu conhecia. “Todos, e cada um
deles mais de uma vez” foi o que eu disse. “E quantas viagens
internacionais você já fez?” Respondi sem titubear: 60!
Num misto de espanto e incredulidade, meu novo amigo
desiste das perguntas e exclama: “Então você é rico!” Ficamos
mais uns 30 minutos conversando, na tentativa de convencê-lo
de que não sou rico. “Vivo do meu trabalho e, se parar de
trabalhar, eu quebro” foi o que disse. Fui extremamente
sincero e contei a ele quanto ganho por mês, o que gerou uma
derradeira pergunta: “Como você consegue?”.
Fidelidade aos valores e planejamento foi a minha resposta.
Nesta altura da vida, já sei o que quero e o que não quero no
mundo.
9
O que me faz feliz e ao que sou indiferente. Moro na mesma
casa, simples e confortável, há mais de 20 anos. Dirijo um carro
que não chama a atenção de ninguém. Não tenho coragem de
comprar nada somente pela grife e meu celular vai fazer este
mês seu 6º aniversário. Mas viajo “pra caramba”, que é o que
me importa.
E todas são planejadas, buscando sempre as melhores condições,
ofertas, bônus e promoções. Já cheguei a comprar passagem e
reservar hotel com 280 dias de antecedência. Paguei por eles
30% do que pagaria se o fizesse 15 dias antes da viagem.
Não só para viajar, mas defendo que estes hábitos podem nos
ajudar em tudo na vida. Já que viver não é preciso, pois a vida
flui e não temos como precisar cada nova experiência a ser
vivida, ser fiel ao que nos faz a diferença e dar uma ajudinha ao
destino, planejando o que queremos ser, ter e fazer, é uma
ótima estratégia para transformamos a vida numa prazerosa
viagem dos sonhos.
10
Pare que eu quero descer do mundo!
Acordo cedo para atender à exigência do cliente: a reunião
começará às 8 horas, impreterivelmente. No caminho de muito
trânsito, o individualismo está presente nas manobras
arriscadas pelo ganho de alguns segundos.
Na reunião o cliente reclama da crise, da queda nas vendas, e
propõe uma diminuição dos honorários do contrato de
consultoria. No almoço de preço majorado pela febril
necessidade de lucro fácil, um telejornal insiste em notícias
repetidamente ruins: corrupção, inflação, indecisão.
Telefono para minha mãe, 82 anos, que sente dor nas pernas –
viajou 40 minutos de metrô sem que alguém cedesse o lugar
sentado. Dormiam o sono fingido e conveniente.
11
Chego em casa no fim da tarde. A conta de energia
superfaturada me aguarda na caixa de correio. Desisto da TV e
lembro que hoje é dia de apresentação da Orquestra Sinfônica.
Apesar da conexão com a internet disponível ser muito menor do
que a contratada, consigo comprar um dos poucos ingressos
restantes.
E lá vou eu, ainda feliz, para o teatro. Consigo estacionar num
mundo quase sem vagas, apesar do achacador apelidado de
guardador cobrar um valor aviltante para não cuidar do meu
carro. Luto para não contrair a doença social batizada por
Roberto Crema de “normose”: achar normal aquilo que não
deveria ser normal.
Disparam selfies e conversas no whatsapp antes do início do
espetáculo. E as conversas virtuais continuam durante a
apresentação. E conversas ao vivo também. E fotos para postar.
E a orquestra tocando. Será que essa gente veio aqui para curtir
a boa música?
Confesso que quase fui embora. Chega deste mundo de
vaidades e aparências – eu quero descer! Felizmente persisti. E
como valeu persistir! As agruras de um dia ruim se diluíram a
cada nota do violino, do fagote, do oboé e do piano.
Não há dia ruim que resista a Chopin. E durmo com a sensação
de que não quero mais “descer do mundo”, apesar de tudo.
12
Ano novo. Vida nova?
O ano novo chegou e com ele nossas inevitáveis reflexões a
respeito da vida. Pensamentos que normalmente trazem à tona
a questão das escolhas que fazemos e da nossa
responsabilidade sobre elas.
Nos meus “balanços pessoais” sempre surgem acertos e erros,
objetivos atingidos e outros nem tanto, imperfeições inerentes
ao ato de ser humano. Geralmente fecho este balanço com a
alma leve da certeza que a minha vida hoje é fruto das escolhas
que fiz, nem sempre muito sensatas, mas amplamente refletidas.
Por isso, mesmo que algo dê errado, já deu certo.
Poucos sabem que já fui Auditor Fiscal do Governo Federal,
talvez um dos únicos do Brasil a pedir demissão de uma carreira
almejada por tantos. Qual o motivo de ter saído? Livrar-me do
maniqueísmo do certo ou errado, tão cobrado pela Sociedade,
e decidir sobre a lógica do “o que eu quero de verdade para a
minha vida”.
13
Como diz M. Medeiros, “optar por alternativas não abençoadas
pelo senso comum pode ser apenas uma maneira de levar a vida
como se gosta”.
Aproveite este início de ano meio morno e pense nisso: Você
está vivendo a SUA vida ou a vida que disseram que você
deveria viver?
Feliz vida que sempre se renova!
14
Temos nosso próprio tempo
Acordei cedo numa quinta-feira. Pelo piar dos pássaros e a
posição do sol, estimei o horário: deviam ser seis e quinze,
pouco mais, pouco menos. Há tempos não uso relógio. É um
simbolismo de uma atitude quanto ao processo de deixar ciclos,
movimentos e acomodações acharem seus ritmos.
Céu azul, dia perfeito para várias atividades. Menos enfiar-me
em uma sala fechada em frente à tela de um computador. E
resolvi dedicar este dia inteiramente a mim. Lembrei-me do
Semler, que diz: “Lamentamos a falta de liberdade. Falamos
muito sobre o quanto valorizamos nosso tempo livre, mas
raramente fazemos dele uma prioridade de vida.” Estamos sem
tempo para o ócio, para relaxar e deixar a mente divagar à
vontade. Até nossas férias são planejadas, agendadas, quase
obrigadas.
15
Na trajetória da vida, “normalmente” temos tempo e
disposição quando não temos dinheiro. Na vida adulta falta-nos
o tempo e na velhice a disposição para aproveitar a natureza e
as viagens. Essa é a “reflexão de travesseiro” de hoje!
Resolvi então que este seria um dia de luxo do século XXI. E luxo
nesses novos tempos não tem nada a ver com grifes ou qualquer
tipo de ostentação. Luxo é ter à sua disposição o que a grande
maioria não tem: tempo para usufruí-lo como achar melhor! Li
em algum lugar que a qualidade de vida está muito mais próxima
das estrelas que você consegue ver no céu do que no número de
estrelas do hotel em que você se hospeda...
Harmonize-se com o tempo, seu bem mais precioso. Elimine o
estresse da agenda sobrecarregada, ajuste a semana de
trabalho de modo a respeitar seu biorritmo e não o do relógio.
Cuide de você, esteja atento aos seus valores e lembre-se
sempre que, se não temos o controle sobre a quantidade do
nosso tempo neste mundo, podemos atuar de forma decisiva
na qualidade da sua utilização.
16
Guiana ou Goiânia?
O cenário era muito agradável. Estava com 2 amigos em um
momento “happy hour”, saboreando aquele chope geladinho.
A TV do bar estava ligada e transmitia o jornal. Uma
reportagem nos chamou a atenção.
Um professor de Gana, na África, estava viajando para a Guiana
Francesa, onde faria um curso. O voo era via São Paulo. Sem
dominar bem o português, ao desembarcar em Guarulhos, disse
que estava indo para a Guiana. Foi prontamente embarcado em
um voo para Goiânia.
A solidariedade do brasileiro deu a esta estória um final feliz.
Mas o que me impressionou foi a reação dos meus amigos no
bar.
Amigo 1, meio bravo: “Que irresponsabilidade da Cia. aérea.
Como pode? Alguém tem que ser punido!”
17
Amigo 2, rindo: “Esse cara de Gana devia aproveitar o erro e se
dar bem. Goiânia tem muita mulher bonita!”
Por que opiniões tão diferentes? Provavelmente porque um
enxerga a parte vazia do copo enquanto o outro se concentra
na parte cheia (acho que você conhece essa metáfora).
Inúmeras pesquisas mostram que quem tem uma visão mais
leve da vida e encara os fatos cotidianos com mais humor e
menos amargor vive mais – mais tempo e com mais qualidade!
Não estou defendendo o “jeito Poliana de ser”, que enxerga o
mundo com lentes cor de rosa. É preciso ter senso crítico, lutar
contra as injustiças, não se conformar com os absurdos. Mas
acredito que tudo que nos afeta na vida tem 2 lados: um mais
positivo, outro menos. Até ganhar na Mega Sena gera esta
dualidade. Casamento, emprego, viagens e os mais simples
acontecimentos da vida podem gerar no protagonista um foco
no lado bom. Ou não.
Conheço gente que faz do mau humor um hábito, que carrega
mágoas por décadas, que ama criticar, apontar erros e que
acredita piamente que o mundo conspira contra sua felicidade.
Pelo seu bem, espero que você não seja assim.
Viajar pela vida de forma mais leve, exigindo pouco do mundo
para ser feliz e maximizando todas as coisas boas que
certamente acontecem com você é uma ótima maneira de
agradecermos a Deus por nossa existência. E como disse o
filósofo alemão Friedrich Hegel, “somente das alturas do infinito
bom humor é que você pode observar a eterna tolice dos
homens, ... e rir dela.”
18
Efeito bumerangue
Esta estória começou há mais de uma década, quando me
encontrei com outro palestrante em um evento. Ele, na época
presidente de uma poderosa associação com grande estrutura
de marketing, cobrava 3 vezes mais que eu para ministrar uma
palestra. Ao me encontrar no evento, disse de forma arrogante:
“Vou tentar arranjar uma palestra em que te paguem ao menos
metade do que eu cobro”.
Fiquei tão chocado com o comentário “sem noção” que só
consegui esboçar um tímido “obrigado”. Como arrogância é uma
característica que tenho dificuldade em lidar, fiquei incomodado
com aquele comentário por alguns dias.
Mas o tempo passa, o mundo dá suas voltas e acredito
fortemente que você colhe aquilo que planta. Quem age com
amor, vai receber amor de volta. É o famoso efeito
bumerangue.
19
Passaram-se muitos anos e atualmente aquele profissional
arrogante está preso. Ocupou um cargo público, fez o que não
devia e está pagando pelos atos cometidos. Passei outro dia por
ele no Fórum. Algemado, era conduzido a uma audiência.
Acho que você já sabe o que me deu vontade de dizer a ele
neste momento. Mas não o fiz. Apenas um rápido cumprimento
com o olhar foi suficiente. Se eu resolvesse “dar o troco” e
fizesse uma afirmação parecida com a que ouvi há mais de dez
anos, aproveitando-me de sua fragilidade, estaria me igualando
a ele na arrogância que tanto rejeito.
Aja sempre de forma correta, esteja você em um bom ou mau
momento. Seja solidário, se não por convicção, ao menos por
inteligência. Acredite no efeito bumerangue. Quando fui diretor
de uma faculdade, minha assistente era acadêmica e trabalhava
em troca de uma bolsa de estudos. Formou-se e hoje é
coordenadora de pós-graduação de uma universidade em que
leciono. Praticamente invertemos os papeis. Imagine se eu fosse
um “chefe carrasco”?
Fazer o bem é bom. Não custa nada e você só tem a ganhar.
20
Desabafo de um pai triste e feliz
Hoje estou triste e feliz. Com saudades antecipadas da minha "garotinha" de 30 anos, que vai partir em busca de seus sonhos. Hoje estou triste e feliz também porque a história se repete. Há mais de uma década, meu "garotinho", recém-formado Piloto Comercial, veio novamente morar comigo e por aqui iniciar sua bem sucedida carreira. Saiu daqui para voos literalmente mais altos e hoje corta os céus como Comandante de Airbus.
Senti sua falta, pois formávamos uma boa dupla de, naquela época, "solteiros". A casa ficou vazia demais na sua partida, mas me consolava ao dizer e repetir, para mim e para os outros: "Criamos os filhos para o mundo, não para nós." Falar é tão fácil...
Hoje estou triste e feliz por sentir novamente esta mesma dor, antes mesmo dela se concretizar. Será esse o meu destino paterno? Abrigar de volta filhos que saíram para estudar, viver intensamente a presença deles ao meu lado e depois vê-los partir novamente, em busca de seus sonhos, ideais e da própria vida?
Estou triste por mim, feliz por eles. Uma tristeza egoísta, mas doída. Preocupações tolas me tomam de assalto: Quem vai acordar cedo e preparar o café que ela tanto gosta? Quem vai esperá-la à noite com uma taça de vinho para ouvir as novidades do dia? Alguém, provavelmente. Não eu.
21
Apego-me a Khalil Gibran: "Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma. (...) Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas." Esse é meu doce consolo, que aplaina a saudade dos filhos e da vida.
Ficarão definitivamente incorporadas à minha existência as lembranças dessa amorosa parceria, imunes à distância física e à falta da convivência diária. Há mais de dez anos me enchi de coragem e disse: "Vai Rafael, corre atrás dos teus sonhos." Hoje olho para a Renata e repito a frase.
E eles são corajosos e foram. E com a sensação do dever cumprido, mesmo com o queixo tremendo, posso dizer que hoje estou feliz....e feliz.
22
Existe um lugar assim!
Sempre amei meu “lado professor”. É bem verdade que
abandonei a confortável e estressante carreira executiva para
realizar o sonho de trabalhar como consultor de empresas. Faço
isso há mais de 20 anos e continuo me sentindo muito
estimulado a abraçar projetos de consultoria, conhecer
empresas e ajudá-las no seu desenvolvimento.
Mas a docência é arrebatadora por nos dar a chance de interferir
diretamente na trajetória pessoal e profissional de cada um. A
consultoria é para a empresa, a docência é para o indivíduo. E
fazer diferença positiva na vida das pessoas é minha missão
pessoal.
Semana passada estive em uma cidade do Brasil, bonita por
natureza, realizando um treinamento. Semana árdua de
trabalho delicioso com encerramento em um dos mais
frequentados restaurantes do local, com direito a música ao
vivo e merecido relax.
23
E de repente apareceu uma pessoa e pediu para bater uma foto
comigo. E um casal se animou e também pediu. E mais um...
Espera aí! Não sou artista da Globo nem cantor sertanejo. Sou
professor! O que está acontecendo?
Já vivi muito para me deslumbrar com este tipo de situação, mas
não nego o afago que estas experiências produzem na
autoestima. Reconhecimento pelo bom trabalho e a certeza de
ter feito diferença na vida das pessoas são, para mim, a matéria
prima do que chamo de “felicidade profissional”.
24
Black Friday: prazer ou loucura?
Almocei hoje com um amigo que está horrorizado com a
loucura que se faz para participar da Black Friday. Gente que
acorda de madrugada, no frio de Nova York, e fica horas na fila
apenas para comprar produtos com desconto. Ele me disse:
“Parece loucura!”
Vou além: é loucura mesmo. Não aquela diagnosticada como
distúrbio psiquiátrico, mas uma loucura comportamental,
baseada em pseudo necessidades, em ilusões, em frustrações
mal resolvidas e na busca de uma pretensa felicidade que só é
possível quando se materializa em objeto do desejo.
O que mais pode explicar você fazer um esforço pessoal, até
físico, para comprar um produto que não precisa e que, muitas
vezes, vai deixa-lo endividado? Será o desejo de status? Ou é
simplesmente o tradicional comportamento de massa, onde a
lógica se instala no “se está todo mundo comprando, eu
também vou comprar?” Há algo de estranho neste
comportamento compulsivo.
25
E no Brasil, onde a Black Friday é de mentira? Fiz uma pesquisa
hoje em diversos sites de empresas de renome e encontrei
preços muito próximos da sexta-feira passada. Talvez um ou
dois produtos com desconto real, como chamariz, mas nada
que justifique tamanho estardalhaço.
Soube de gente que faltou ao trabalho, acordou de madrugada,
enfrentou chuva e está neste momento comprando sua 4ª
televisão de LCD. “Por quê?” “Tá barato, é a maior liquidação do
ano!” “E como você vai fazer para pagar?” “Ah, isso eu vejo
depois”.
Loucura, irresponsabilidade, compulsão – chame do que quiser.
E se puder me explique, pois confesso que tenho dificuldade de
entender este modelo mental.
26
Você me decepcionou, mas eu te perdoo
O fim do ano se aproxima e com ele as inevitáveis reflexões
sobre o que somos, o que faremos da vida e como
administramos as emoções no ano que termina.
É uma época em que muitos têm sua espiritualidade elevada e o
pensamento se volta para a harmonia das relações humanas.
Ficamos mais generosos, afetivos e sensíveis. É a hora do perdão.
É muito pouco provável que passemos pela vida sem magoar ou
ser magoado, sem prejudicar ou ser prejudicado.
Intencionalmente ou não, estes verbos algum dia acabam
sendo conjugados. E, neste caso, o substantivo “perdão” tem
de ser chamado a compor o texto, sob pena da vida não
completar sua sintaxe.
27
Como diz meu amigo Eugenio Mussak, “perdoar é o ato de
libertar o outro da culpa, mas é mais que isso. Em sua função
libertária, o perdão liberta quem o pratica. É um ato de grandeza
de espírito, que representa, acima de tudo, uma doação”.
Perdoar é digno, grande e belo. Pense nisso neste ano. Quem
você precisa perdoar? Como fará isso? Uma conversa franca,
uma carta, um presente. Com espírito desarmado, lembrando
sempre que o ser humano é imperfeito e que devemos viver a
vida em toda sua plenitude.
Perdoe. Inclusive perdoe-se. E tenha uma excelente vida!
28
As perdas necessárias
Aprender a lidar com as perdas é uma competência que
precisamos sempre desenvolver. Reconheço que em algumas
situações, como por exemplo, a perda de um filho, torna-se um
ato quase de heroísmo. Mas, ainda assim, é necessário reagir.
Serei mais ameno na dor: vamos falar de trabalho. Esta semana
um de meus mais antigos clientes solicitou a rescisão do nosso
contrato de consultoria. Coisas da crise. O baque inicial é grande
e a notícia nos atordoa, principalmente quando inesperada.
Negação, rejeição, raiva. E a autoestima despenca.
É nesta hora que devemos viver o luto da perda. Não pule esta
etapa! Reconheça seu sofrimento, não se engane, até chore, se
isto te fizer bem. Alivie seu coração de mágoas, de culpas, mas
dê espaço ao sofrimento: estou triste e pronto!
29
Passada esta fase, é hora de reagir. Veja o lado bom da perda –
sempre há um lado bom. Ela te tira da zona de conforto, cutuca
sua criatividade, faz enxergar novas possibilidades, desengaveta
aquele sonho que estava adiado. Você retoma projetos, sua vida,
e começa a perceber que nada é em vão.
Quanto tempo leva cada fase? Impossível pré determinar.
Depende da perda, de você, dos influenciadores externos.
Administre o seu tempo. Sofra, mas não mais que o necessário.
Reaja, coloque energia na sua vida, reflita sobre os
aprendizados da perda, renove seus projetos e vá em frente.
Afinal, o mundo te espera.
A vida de todos nós começa com uma grande perda. Sair do
aconchego do útero materno, onde tudo é fácil, ganhar uma
palmada e começar a se defender das agressões do mundo dos
homens é nossa primeira experiência de perda. E ainda assim
não é tão fascinante viver?
30
Temos mesmo que nos conformar?
Sou muito mais diurno que noturno. Acordo normalmente às
05h30min na pretensão de caminhar pela praça do bairro. Mas
confesso que ultimamente ando meio preguiçoso e o que me
seduz de verdade é fazer o café, servi-lo fartamente numa
velha caneca de ágata e sentar-me no quintal, sob as árvores,
para ver o dia, geralmente multicolorido nesta época do ano, ir
aos poucos surgindo.
31
São apenas 30 minutos, mas sinto que bem vividos. A
passarinhada indócil, o sol acordando o céu, aquele frescor típico
do alvorecer e, pasmem, eventualmente araras e papagaios
ajudando a tecer a manhã. É bom viver próximo ao pantanal. Já
tentei ler, ouvir música, de alguma forma ser “produtivo” neste
momento lúdico. Desisti. O que me fascina é olhar em volta,
para cima, refinar os sentidos e receber a energia da manhã.
O cheiro, a luz, o som e o paladar do café coado
complementando a obra de Deus. Não há como não começar
bem o dia assim. Comunhão total com a Natureza e comigo.
Tomo um banho, me arrumo e sento para comer uma fruta ou
tapioca. Às vezes a TV está ligada no jornal matutino e é
impossível não prestar atenção às notícias deste nosso tão
maltratado Brasil. Nestas horas geralmente quero voltar no
tempo. Não séculos ou décadas, bastam alguns minutos. Preferia
ouvir o canto dos pássaros às manchetes do dia. Sentir o cheiro
do café é muito melhor que o odor fétido das nossas usuais
práticas políticas.
Então desligo a TV, mas, nesta hora, o mal já está feito. É a vida
real. Ou não.
32
Aposentar é preciso?
Sábado de manhã. Fui o primeiro professor a chegar e minha sala era a primeira de um corredor de outras onze, todas destinadas às pós-graduações do fim de semana.
Deixei a porta aberta e comecei a me entender com o emaranhado de cabos e fios que ligam o notebook ao data show, ao som e à eletricidade. Os demais professores foram chegando (sempre antes dos alunos!) e com um rápido “bom dia Jorge, tudo bem?”, também assumiam suas salas.
Seria uma cena absolutamente corriqueira se não fosse por um detalhe: entre os onze demais professores, sete já haviam sido meus alunos!
Num primeiro momento, o fato me alegrou. O ex-aluno e atual colega certamente se inspirou em alguns mestres ao decidir abraçar a carreira docente. Cheguei a cogitar, no auge da explosão de autoestima, ter sido eu essa fonte de inspiração para ao menos uma parte deles. Mas fui dormir preocupado.
Terá chegado a hora de parar ou ao menos diminuir a quantidade de aulas? Dar espaço aos novos talentos? Focar mais nas atividades de consultoria, fisicamente menos desgastantes, em detrimento do treinamento e da docência? Ou ainda, esta uma verdadeira dúvida cruel: devo começar a pensar em me aposentar?
33
Voltei domingo para a sala de aula disposto a buscar o feedback dos alunos. E fizemos dinâmicas, debatemos temas interessantes, analisamos casos empresariais e o dia passou rápido. No caminho de volta pra casa me indaguei: caso pudesse escolher, onde eu teria passado esse domingo? A resposta veio fácil. Seria ali mesmo, interagindo, trocando, crescendo e fazendo crescer.
E nesse momento tive a certeza de que, enquanto for este o meu sentimento e Deus me der forças, a palavra “parar” estará excluída do meu dicionário. Porque cada vez mais, nestes momentos de reflexão, percebo que é através do trabalho que realizo a minha missão pessoal.
34
Em que tempo você vive?
Acompanhando suas postagens nas redes sociais, percebi que um amigo estava gastando acima do seu padrão usual. Muitas viagens, reforma na casa e outras extravagâncias. Conheço-o há muito tempo, sei que é um bom profissional, bem remunerado, mas normalmente comedido nos gastos. Por isso estranhei seus, digamos, "pequenos exageros".
Coincidentemente encontrei-o em um evento. Depois das conversas iniciais e superficiais, tomei a liberdade de perguntar sobre aqueles novos hábitos. Sua resposta me surpreendeu ainda mais.
Disse-me que havia comprado um carro novo por 60 mil reais. Retirou-o da concessionária na 4ª feira à tarde, programando fazer emplacamento, seguro e som na 5ª logo cedo. Ele e a esposa resolveram comemorar a aquisição e foram jantar fora. Na saída do restaurante, o susto que logo virou desespero: haviam furtado seu carro novo. Que prejuízo!
Minha reação foi um mix de emoções: senti pena do amigo pelo azar, critiquei-o internamente pela imprudência e, mais que tudo, não consegui entender a lógica entre este episódio do furto e a explicação prometida pelos gastos excessivos.
Antes que eu pudesse falar alguma coisa, ele disse: "Isso podia ter acontecido, né? Mas felizmente não aconteceu. Nem comprei o carro." E finalmente me explicou sua métrica tão particular. Trabalhou a vida inteira e, nesta trajetória, experimentou muita coisa boa, sem exageros. Em um determinado momento percebeu-se felizardo pois, durante seus quase 50 anos, nada de muito ruim havia acontecido com ele. Os ganhos haviam superado as perdas.
35
Depois de ler uma reportagem sobre pessoas que haviam perdido a poupança de uma vida inteira em negócios mal sucedidos justamente na semana da morte de um colega de trabalho vítima de infarto fulminante, ele resolveu que era hora de pensar mais no hoje que no amanhã. E despediu-se de mim com uma frase enigmática: "Hoje eu sei que existe. E se não houver o amanhã?”.
Fiquei vários dias pensando nesta conversa. Meu amigo encontrou-se no desejo e no direito de transgredir, de ousar, de surpreender. Mas o fez de forma refletida e calculada. Percebeu que a vida acontece agora e é no "carpe diem" que está a nossa felicidade. Sem ser irresponsável ou leviano, ousou. Interpretou, do seu jeito, a divertida frase do escritor Ruy Castro: "Não me incomodo que as pessoas pensem que há vida depois da morte. O difícil é convencer algumas que também há vida ANTES da morte".
Não escrevo para que possamos julgá-lo. O objetivo de dividir com você esta experiência é refletirmos juntos sobre as importantes decisões que tomamos em nossas vidas. Estamos realmente decidindo ou dependentes do piloto automático, do “deixa a vida me levar”?
36
Prefiro Punta Cana
Viajar aos Estados Unidos está cada vez mais complicado.
Apesar das inúmeras tentações que este país gera nos
brasileiros, além de excelentes ofertas de passagens aéreas que
surgem quase todos os dias, o trabalho a que somos
submetidos para ter o direito de pisar em solo americano é
digno de se pensar em Fortaleza como opção.
Tudo começa com o visto. Parece que você está sendo indiciado
pela Polícia Federal. Além do alto custo, principalmente para
quem mora onde não há consulado, você precisa escancarar sua
vida pessoal, profissional e financeira para tentar convencer os
“avaliadores” que sua intenção é só passear e gastar seus
dólares.
Ainda assim, na hora da entrevista, ele pode olhar para você e
dizer simplesmente que “seu visto foi negado”. E não adianta
ponderar que tem emprego, patrimônio e família no Brasil. Está
negado e pronto. Ao invés de espernear, é melhor sair do
consulado, entrar em uma agência de viagens e comprar uma
passagem para Paris.
Mas você conseguiu o visto e vai viajar. Prepare-se! Ainda no
Brasil o embarque para os EUA é muito mais complicado que
para qualquer outro lugar. Até o cadeado da sua mala deve ser
como eles querem. E ao chegar lá, prepare-se de novo: são raios-
X, scanners, revista de malas, filas intermináveis, novas
perguntas na imigração e o risco de, mesmo com visto,
encrencarem com você.
37
Já viajei muitas vezes aos Estados Unidos, nunca tive visto
negado e admiro este país. Lugares como Nova York ou Las
Vegas merecem ser conhecidos. Sem falar na Disney, em São
Francisco e Nova Orleans, entre outras. É um país que deu
certo!
Mas confesso que ando meio cansado de tantos procedimentos.
Como um dos meus lemas de vida é “simplificar sempre”, tudo o
que complica me causa rejeição. Melhor ir à Punta Cana. Da
última vez que estive por lá, minha experiência na imigração foi
bem diferente.
Apresentamos os passaportes ao oficial de imigração da
República Dominicana e, ao constatar que éramos brasileiros,
ele nos pergunta se gostávamos do Roberto Carlos. Dissemos
que sim e aí, ao estilo Luiz Miguel, ele cantou um trecho de
“Amada Amante” e, com um sorriso agradável nos disse:
“Benvenidos à Punta Cana!”. Quanta diferença!
Viajar é sempre bom. Ainda mais quando as únicas preocupações
são bater boas fotos e escolher em qual restaurante vamos
jantar.
38
Quero ter o meu Califado
Temos lido e ouvido ultimamente que estão se proliferando, de forma alarmante, as tentativas de criação de novos países, ou guetos, chamados de Califados. Os maiores genocídios da humanidade, atualmente, propagam este objetivo maior como justificativa - isto está ocorrendo na Síria e região e também na África.
Grupos de pessoas, certamente sem escrúpulos e que acreditam que os fins justificam os meios, sob o falso manto da religiosidade (o Islamismo é uma religião que prega o amor), decidem que querem, a ferro, fogo e bala, criar um novo país onde se pode tudo, desde que o "dono" permita, ou também nada se pode que contrarie o Califa.
Pois bem, já que está "na moda", quero ter também o meu Califado. Vou chamá-lo de Novo Planeta. Lá cada um poderia crer no seu Deus, ou em nenhum, e teríamos tolerância com as escolhas. Haveria ricos e pobres, pois a igualdade absoluta contraria a natureza humana. Mas nunca muito ricos nem muito pobres. Educação, saúde e segurança não seriam problemas emergentes no Novo Planeta, pois seu líder reverteria a grande maioria das contribuições justas e voluntárias da Sociedade para estes setores, sem admitir qualquer desvio.
Não haveria políticos (reconheço que o Novo Planeta não seria muito democrático) e servidores públicos serviriam ao público. Simples assim. Orientação de gênero livre, todos trabalhariam e as palavras da nossa bandeira seriam "Respeito e Amor". Respeito e amor ao outro e a um bem maior chamado Mãe Natureza.
39
Vamos à luta! Pegue suas armas mais poderosas - sua inteligência, seu livre arbítrio e sua generosidade, carregue-as com todo o amor que estiver guardado dentro de você e vamos juntos construir um novo jeito de viver a vida.
40
Sobre casamentos e tecnologias
Meus amigos são sempre pródigos em me abastecer de
histórias interessantes. Esta é de um aluno da pós-graduação
que por acaso encontrei em um evento de degustação de
vinhos italianos da Toscana. Nada mal ouvir boas histórias em
um ambiente desses.
Reconhecemos-nos e sentamos juntos na grande mesa de
madeira, tentando identificar os odores e taninos dos Brunellos,
Chiantis e outros que eram servidos. Terminada a degustação,
escolhemos um deles para apreciar mais detalhadamente,
acompanhado de bruschettas quase tão boas quanto aquelas
preparadas pela Carol.
Depois da segunda taça as emoções começaram a aflorar.
Confidenciou-me que amava a esposa, mas reclamou do
casamento. Culpa da tecnologia, segundo ele. A esposa dedica
boa parte do tempo ao celular, seja no Whatsapp, Facebook,
Instagram ou qualquer outro aplicativo sequestrador de
atenção.
41
Tentava conversar, falar sobre seu dia, angústias e perspectivas,
mas raramente encontrava interlocação. Talvez sua vida não seja
tão interessante quanto imaginava que fosse. O dedilhar dela no
teclado do smartphone sempre vencia. Aí ele resolveu fazer um
teste: percebendo-a entretida com as inúmeras mensagens
“certamente muito importantes que teimavam em chegar” (disse
isso em tom irônico), ele falou: “o Flamengo perdeu”. Não
obteve nenhuma reação.
Diante disso resolveu radicalizar: “Sua mãe morreu”. Reação
zero novamente. Uns 5 minutos mais tarde, ela perguntou: “O
que foi que você disse? Minha mãe perdeu? Perdeu o que? E o
que o Flamengo tem a ver com isso?”.
Ele pensa em desistir, talvez encorajado pela 4ª taça de vinho.
Não se termina uma relação afetiva bacana por uma bobagem
dessas. Mas deixou clara a insatisfação com sua inadequação ao
“novo mundo”. Ela adora receber vídeos e piadinhas pelo
Whatsapp, mas gosta mais ainda de “interromper meu trabalho
para mostrar aquele monte de bobagens”.
Desta vez fiquei sem saber o que dizer a ele. Queria fugir do
lugar comum do “tenha paciência, isso é fase”, ou “já
experimentou ter uma conversa franca com ela” ou ainda “faça
do mesmo jeito, quem sabe ela percebe o incômodo”. Ele
provavelmente já havia pensado nestas alternativas. Preferi
quase calar-me e ser solidário, dizendo apenas: “é amigo, eu te
entendo...”.
42
Um sabático ou um novo propósito de vida?
Confesso que ousei. Até extrapolei. Definitivamente foi um
primeiro semestre diferente para mim. Decidi me presentear
com uma das moedas mais valiosas do mundo moderno:
tempo. Contribuiu para esta decisão uma decepção que tive
com seres humanos que julguei serem amigos, mas confesso
que sou um incorrigível: continuo teimando em acreditar
sempre no lado bom das pessoas.
Comecei este ano com a determinação de experimentar seis
meses de uma rotina mais leve, resgatando alguns prazeres
outrora esquecidos. Mais tempo para ler, estar com pessoas
queridas, renovar, reciclar, aprender, conhecer lugares e
também me permitir prazeres mundanos como regar as plantas
ao nascer do sol, subir para a Chapada dos Guimarães na 4ª feira
ou ainda comprar pão quente no fim da tarde e observar, ao lado
de quem amo, a manteiga nele se derretendo, enquanto o cheiro
do café compõe o cenário de felicidade.
A proposta não era parar de trabalhar neste período, pois o
trabalho é fundamental para que me sinta vivo e pleno. Apenas
retirei-o do eixo central da minha vida. O que coloquei no
lugar? Eu! Foi uma espécie de semestre sabático com marca
própria e definição absolutamente pessoal.
43
Nesta nova lógica de uso do tempo, viajei bem mais que o de
costume. De janeiro a junho fomos (com ela é muito melhor) três
vezes à Europa, além de África do Sul e Caribe. No Brasil
finalmente conheci lugares sonhados como Cambará do Sul e
Inhotim, quase sempre trocados por compromissos profissionais.
Sem falar de Maricá.
De que adianta ter uma casa de praia se usufruí-la não é a
prioridade? Deixei no passado a necessidade de ter por ter.
Hoje tenho menos e aproveito mais. Estive por lá várias vezes
neste período, dormindo na rede e embalado pelo cheiro e o
barulho do mar.
Foram seis meses intensos de vida. Consegui conjugar no mesmo
verbo o trabalhar e o aproveitar. Uma experiência única para
mim, além de deliciosa e tentadora. A partir de agora me sinto
impelido a retornar ao que as pessoas chamam de “vida normal”.
O único problema é que gostei demais dessa tal de “vida
anormal”.
44
Comportamento viajante
“Pense e responda: Você andaria seminu em um país árabe?
Daria um amasso na sua namorada dentro do Vaticano?
Cumprimentaria um japonês com dois beijinhos? Espero que
não!”
Desta forma divertida e questionadora minha amiga blogueira
Adriana Setti começa seu artigo “Gentileza gera gentileza”.
Identifiquei-me com ele, pois ela aborda um aspecto que tem me
incomodado quando viajo para outros países: o comportamento
de alguns brasileiros no exterior.
Diversos amigos estrangeiros espalhados pelo mundo
normalmente comentam que conheceram brasileiros “exóticos,
engraçados, bem humorados” e outros adjetivos politicamente
corretos que demonstram seu espanto e o quanto estranham a
forma peculiar e muitas vezes pouco educada com que alguns
conterrâneos agem em suas viagens de férias a outros países.
Dizem que o parisiense é mal educado. Nunca vivenciei este
suposto clichê. Estive diversas vezes na Cidade Luz e sempre fui
muito bem tratado por onde passei. Fiz até um “quase amigo” –
o Pierre, atendente de um típico Café parisiense que gostamos
de frequentar. Já próximo aos 60 anos, é extremamente
educado, polido e formal, como são a grande maioria dos
franceses.
Mas sua polidez não é mal humorada, é só discreta. Sempre
que vamos embora, após o tradicional “merci”, ele se esforça e
nos devolve um “obrigado” carregado de sotaque e doçura.
45
Certa vez presenciei neste Café uma cena no mínimo esdrúxula.
Estávamos apreciando uma “bièrre” num fim de tarde quente
quando surgiu um grupo de conterrâneos com inúmeras sacolas,
crianças agitadas, falando alto, chamando o garçom de garçom
(?!) e fazendo seu pedido em português, tudo sob o olhar
assustado do Pierre que, com os olhos, me pediu socorro.
Intermediei a conversa e tudo correu bem. Pierre sorriu e
atendeu ao grupo de forma simpática. Assim que se foram (era
só um pit stop antes de continuarem com a fúria comprista) ele
se aproximou de nossa mesa e disse: “Fique tranquilo, Jorge. Os
chineses até cospem no chão”.
Amo o Brasil e amo ser brasileiro. Nossa espontaneidade e
alegria de viver são características apreciadas em todo o mundo.
Mas geralmente nos falta uma visão mais ampliada dos
diferentes hábitos culturais e o entendimento de que poucos são
como nós. É preciso entender que, em visita a outros países, nós
é que devemos nos adaptar aos costumes locais e não eles a nós.
Alegria pode combinar com educação e bom humor com
respeito. Agindo de maneira civilizada, o brasileiro será bem
recebido em qualquer lugar do mundo, espalhando no planeta,
de forma suave, a felicidade de viver que tanto nos caracteriza.
Garanto que funciona.
46
O que a Olimpíada nos ensina
Estamos no hiato entre a Olimpíada e a Paralimpíada. A
primeira nos gerou enorme expectativa, apreensão, vibração,
orgulho e saudade, nesta ordem. Preparemos nossas emoções
para a “Para”, onde superação e resiliência serão as palavras de
ordem.
Quanto aprendizado o mundo corporativo pode ter no esporte!
Vou citar apenas alguns deles, mais evidentes, mas a pesquisa
pode se aprofundar e novos exemplos certamente irão surgir.
PLANEJAMENTO é fundamental. Erramos na hospedagem dos
atletas na Vila Olímpica, acertamos em cheio na cerimônia de
abertura. ÉTICA é um bom negócio. Que o diga a nadadora que
estava em terceiro e quase afogou a provável segunda colocada
na Maratona Aquática, querendo a medalha de prata a
qualquer preço e ficando sem nenhuma, desclassificada.
ARROGÂNCIA atrapalha. Como o francês do salto com vara, que
de tão certo da vitória enxergou fracasso na prata. SUPERAÇÃO é
fundamental e os exemplos são inúmeros. Rafaela e Diego
saíram arrasados de Londres em 2012 e, como a Fênix,
ressurgiram inteiros no Rio, nos emocionando.
47
COMPAIXÃO também tem seu lugar no mundo organizacional.
Como o belo ato do nosso Thiago de ouro, que deixou de lado a
comemoração pelo salto de 6,03 metros para ajudar ao atleta
derrotado a levantar sua autoestima. BRIO como o de Novak
Djokovic, o melhor tenista do mundo que saiu de quadra
chorando por não ter conquistado uma medalha para o seu
país.
A VERDADE deve sempre prevalecer, por mais dolorida que seja.
Os nadadores americanos do revezamento certamente se
arrependeram das mentiras sobre o suposto assalto. LIDERANÇA
forte, tão bem exercida pelo mega campeão Bernardinho no
comando do vôlei brasileiro.
COMEMORAR E VIBRAR como fizeram Kahena e Martine, que
depois de uma vitória apertada jogaram-se nas águas não tão
limpas da Baía de Guanabara, assim como Isaquias, o baiano
mais rápido que conheço, que fez história com suas 3 medalhas
e está comemorando até hoje.
Para finalizar, “ele” não poderia faltar. Palavras como
competência, preparação, superação e tantas outras certamente
comporão sua biografia. Mas quero ressaltar uma em especial.
Tenho a convicção de que seremos extremamente realizados no
trabalho no dia em que, como Usain Bolt, conseguirmos nos
DIVERTIR com ele.
48
Metamorfose humana
Um dos males do nosso tempo é o ativismo. As pessoas, de
uma maneira geral, “precisam” estar sempre de prontidão,
conectadas e ativas, encontrando dificuldade em usufruir de
momentos de reflexão, introspecção, meditação e
relaxamento.
Eu também vivi esta síndrome. Já fui “workaholic”, querendo
sempre mais e mais, criando necessidades não tão necessárias e,
claro, encontrando obstáculos para visitar-me e praticar o
autoconhecimento. Não dava tempo...
Até que um “insight” me perguntou: Por quê? Para que? E
percebi que para vencer o vício do ativismo eu deveria buscar
inspiração, informação e introspecção. Segui então a proposta
da Bíblia – “trabalhamos no campo durante seis anos e
dedicamos o sétimo ao Senhor como ano sabático”. Durante
seis anos a terra é ativa e produtiva, dá frutos, e durante o
sétimo permanece totalmente em pousio.
Em outras palavras: durante nossos anos produtivos,
construímos nossa carreira e criamos nossa família. Agora,
durante um merecido período sabático, podemos recuperar o
fôlego e ouvir meditativamente o que diz nossa intuição.
49
Este ano está diferente. Novos valores incorporados, alguns
descartados. Outra proposta de vida se apresenta e um novo
mundo começa a abrir as cortinas. Romper com paradigmas,
recontextualizar sua vida e fazer a necessária metamorfose são
o percurso necessário para dar vida à vida.
Sigo em frente com a bagagem mais leve. Nela carrego a certeza
de que tudo valeu a pena, que o “se” não existe de fato e que
nós somos os pilotos dessa grande e curta viagem. Com
esperança, coragem e determinação.
50
Cheio ou vazio? Você decide!
Você já leu neste e-book aquela estória de metade cheia e
metade vazia do copo. Que algumas pessoas preferem focar
mais no lado positivo dos acontecimentos e situações,
enquanto outras fazem o contrário. E que toda situação pode
sempre ser vista por diferentes ângulos. Pois é.
Os extremos são perigosos, em alguns casos até patológicos.
Enxergar o mundo com as lentes cor de rosa que te impedem de
encarar os problemas que inevitavelmente surgem é ruim. Você
acaba criando uma bolha de perfeição que não existe na vida
real. Vira alienação.
O outro extremo também aliena, acho que de maneira até mais
sofrida. Achar que tudo é ruim, que nada vale a pena, enxergar
só a mazela e não a possibilidade certamente deixa a pessoa
mais travada e, sem grandes esperanças, com a chance de
acreditar que não vale a pena viver.
51
Resolvi refletir sobre este tema novamente porque há algumas
semanas, após uma seção de coaching de carreira, eu e minha
coachee emendamos um café + broa de milho + bate papo amigo
que girou sobre suas angústias. Ela estava desconsolada com a
forma extremamente pessimista com que seu companheiro
enxergava o mundo.
Ela disse: Uma vez, em Praga, na República Tcheca, fomos a
uma cervejaria especial degustar talvez uma das melhores
cervejas do mundo. Ele provou, aprovou e comentou: “Nossa,
como as cervejas brasileiras são ruins!” Uma experiência
positiva gerou uma percepção e um comentário negativo.
Outra. Trouxemos algumas mudas da Chapada para serem
transplantadas em nosso jardim. As coitadinhas ficaram dois
meses esperando pelo transplante até que um dia acordei bem
cedo, cheia de determinação, e fiz os esperados transplantes.
Pouco mais tarde, ao perceber que as mudas já estavam
plantadas em seu lugar definitivo, ele comentou: “Esta semana
vamos viajar. Era melhor você ter feito isso na volta!”.
Esta minha amiga, que esperava um elogio pela atitude, se
frustrou com o comentário. Mas absorveu e relevou – não
queria conflitos às vésperas de uma viagem romântica.
Terminamos nosso café sem chegar a nenhuma conclusão. Nem
era esse o objetivo. No fundo o que ela queria era desabafar e
eu, como amigo, me dispus a ouvi-la. Tem solução? Acredito
que sim.
Ver o mundo de uma forma mais amplificada, sem blindar as
coisas boas que sempre acontecem e vão acontecer, é um bom
combustível para aumentar nossa taxa de felicidade. Quem tem
sempre uma visão mais amarga da vida sofre mais e nós estamos
aqui é para curtir cada momento que Deus nos concedeu.
Acredite na vida, em você e seja feliz!
52
A pobreza me abandonou
Tenho uma amiga e cliente (atualmente mais amiga que
cliente) com a qual me identifico bastante. Compartilhamos
uma visão de mundo e de vida muito parecida e nossas
conversas fluem de forma leve e tranquila.
Da última vez que nos encontramos ela comentou sobre seus
costumes quase espartanos, deixando claro que, apesar de ser
uma empresária de sucesso, não adquiriu hábitos de ostentação
e que gosta de viver a vida de forma bem simples: “sabe Jorge, a
pobreza me abandonou, mas eu não abandonei a pobreza.”
Rimos muito desta frase espirituosa!
Nossa conversa enveredou por esta área devido a uma situação
cada vez mais comum: fomos interrompidos em nosso
cafezinho por uma empregada de sua empresa que precisava
“desesperadamente” de um adiantamento salarial.
Este exemplo individual reflete uma chaga da sociedade
materialista: pessoas com emprego e bons salários se “apertam”
por absoluto descontrole do orçamento e começam a se
endividar em um círculo vicioso que muitas vezes leva à falência
pessoal.
O que mais me espanta são as causas destas dívidas muitas
vezes impagáveis: o celular mais moderno, a roupa da butique
da moda, a balada que todos frequentam e que precisa ser
postada nas redes sociais além de outras futilidades afins.
53
Minha amiga empresária, depois que voltamos ao cafezinho,
comentou: “Gosto de viver bem. Meu celular é bom, mas não é o
top. Meu carro não é do ano e frequento restaurantes bons e
baratos. Não preciso, não devo e não gosto de mostrar para
ninguém que sou bem sucedida.” Concordei integralmente com
ela.
Dinheiro é servo e não senhor. Se nossa felicidade e prazer de
viver dependem exclusivamente da conta bancária, passamos a
vida correndo atrás do vil metal, numa verdadeira corrida de
ratos (leia “Pai rico, pai pobre”). E aí, provavelmente, a vida vai
passar correndo por nós, sem nos dar tempo de percebê-la nas
suas belezas simples e essenciais.
54
Na beira do Douro, sentei e chorei
Àqueles que me conhecem sabem o quanto as viagens me
emocionam. Descobrir novos lugares, não importa se a 100 ou a
10 mil km de casa é para mim uma renovação da vida, um
redespertar para o mundo, uma oportunidade única de, como
disse Mário Quintana, “trocar a roupa da alma”.
Viagens me tiram da zona de conforto do cotidiano, exigem
pesquisa e planejamento prazeroso desta etapa do porvir. São
tantos lugares me aguardando com seus mistérios que dúvidas
deliciosas me invadem – planejo umas 10 para cada viagem
efetivamente realizada.
Na volta, vivo a terceira etapa igualmente saborosa. Baixar e
selecionar as fotos, reler as anotações, viajar novamente nas
lembranças e retornar à rotina com a sensação de que agora
sou um ser humano mais completo. E começar a planejar a
próxima, num profícuo círculo virtuoso.
Tenho viajado bastante ultimamente e as cidades cortadas por
caudalosos rios me encantam. Amo o mar, as montanhas e tudo
que a Mãe Natureza nos oferece de presente. Mas rios me
emocionam, por razões que a própria razão desconhece.
A vida, sempre generosa comigo, já me possibilitou conhecer
alguns ícones da hidrografia mundial. Já estive junto ao Tibre,
Sena, Tamisa, Neva (São Petersburgo), Nilo, Bósforo, Mississipi,
Danúbio, Tejo, além dos nossos queridos Amazonas e São
Francisco. Entre tantos outros.
No Amazonas me permiti navegar por 20 horas seguidas, de
Macapá à Belém, em uma das mais ricas experiências sensoriais
da minha vida. Céu, água e floresta no mesmo cenário de
contemplação.
55
Há algumas semanas conheci mais um que planejava há
tempos: O famoso Rio Douro, que atravessa a cidade do Porto,
em Portugal. No primeiro dia de viagem, passeando no entorno
da Catedral, de repente percebi meus olhos se encontrarem
com ele, majestoso e lindo, caminhando sem pressa em direção
à sua foz.
Pensei em pegar a máquina para fotografar, mas não consegui.
Estava totalmente tomado por uma emoção já velha conhecida,
que chega arrastando um misto de prazer e gratidão. Feliz por
estar ali, sentei e chorei, deixando fluir a manifestação da vida e
seus muitos mistérios..
56
Obrigado!
Recommended