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Universidade Metodista de São Paulo Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação para o Desenvolvimento Regional
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
PENSACOM BRASIL – São Bernardo do Campo, SP – 16 a 18 de novembro de 2015
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Facebook e Jornalismo: uma discussão sobre a adequação da informação às
características da plataforma digital1
Clarissa Josgrilberg PEREIRA2
Suelen de Aguiar SILVA3
Resumo Partindo da observação do crescimento que a rede social Facebook tem tido,
propusemo-nos a identificar como a informação tem sido lidada por meio desta
plataforma. Partimos da defesa de que o Facebook é hoje a principal porta de entrada
dos usuários ao site de notícias e, por isso, é necessário que a atualização seja contínua,
que a linguagem seja adaptada à plataforma, que os internautas sejam respondidos, entre
outras características que precisam ser levadas em consideração na atualização da
página oficial dos jornais. Após pesquisa bibliográfica sobre o tema, trabalhamos com
algumas exemplificações a partir da análise realizada no perfil do jornal O Globo com
base em alguns dos pressupostos da netnografia. Para isso, examinamos,
principalmente, as últimas dez postagens do dia 23 de outubro e a relação que as
mesmas têm com o site do Jornal. Baptista (2014), Steganha (2010), Crucianelli (2014)
e Kozinets (2014) estão entre os autores que sustentam nossa discussão.
Palavras chave: Facebook; Jornalismo; Netnografia.
Introdução
Na primeira parte do trabalho trazemos uma discussão sobre o Facebook e seu
contexto social a partir de pesquisas sobre a utilização da internet e redes sociais digitais
pela população brasileira. Nesse cenário o Facebook se destaca por estar à frente de
outras redes sociais e por crescer diariamente o número de pessoas que aderem ao
serviço. Apesar de seu papel inicial ser promover o entretenimento e aproximar pessoas,
ao menos virtualmente, hoje a rede desempenha outras funções como divulgação, venda
de produtos, prestação de serviços etc. Já na segunda parte do trabalho discutimos com
base nos autores Baptista (2014), Steganha (2010), Crucianelli (2014), Kozinets (2014),
entre outros, como a informação jornalística tem sido tratada no Facebook. Partimos da
1 Trabalho apresentado no GT Comunicação digital e tecnologias, do PENSACOM BRASIL 2015.
2 Doutoranda em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e professora
na Universidade Regional de Blumenau (Furb). E-mail: clarissa_jpereira@hotmail.com 3 Doutoranda em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). E-mail:
susuaguiar@yahoo.com.br
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defesa de que o Facebook é hoje a principal porta de entrada dos usuários ao site de
notícias e, por isso, é necessário que a atualização seja contínua, que a linguagem seja
adaptada à plataforma, que os internautas sejam respondidos, entre outras características
que precisam ser levadas em consideração na atualização da página oficial dos jornais.
Após pesquisa bibliográfica sobre o tema, na terceira parte do texto trabalhamos
com algumas exemplificações a partir da análise realizada no perfil do jornal O Globo
com base em alguns dos pressupostos da netnografia. Para isso, examinamos,
principalmente, as últimas dez postagens do dia 23 de outubro de 2015.
1 - Facebook e contexto social
O estudo da 13ª edição do F/Radar4 sobre o panorama do Brasil na internet,
realizada no ano de 2013, demonstra que 1 em cada 5 brasileiros costuma comentar,
divulgar ou compartilhar experiências pela internet no exato momento em que elas
acontecem. A pesquisa confirmou também a preeminência do compartilhamento via
Facebook com 71,4 milhões de brasileiros cadastrados na rede social. O número
representava 85% dos internautas brasileiros.
Já a pesquisa da 14ª edição do F/Radar revela que o Facebook detém preferência
entre redes sociais, em todas as idades e classes sociais. Segundo o levantamento, as
redes sociais são apontadas como fonte de informação recorrente e altamente confiável.
Atualmente 107 milhões de brasileiros acessam a internet, ou seja, 65% da
população com mais de 12 anos é o que revela o último estudo do F/Radar, realizado em
maio deste ano. Durante as três últimas edições do F/Radar o Facebook lidera entre as
redes sociais mais utilizadas.
Das atividades mais citadas realizadas na internet lidera o envio de mensagens
instantâneas, em seguida a própria participação em alguma rede e com 67%, o
compartilhamento de conteúdo como textos, imagens ou vídeos. É o que revela a
pesquisa TIC Domicílios5 realizada pelo Centro Regional de Estudos para o
4 A pesquisa F/Radar é realizada desde 2007 pela F/Nazca Saatchi & Saatchi em parceria com o
Datafolha e está na sua 15ª. Para saber mais acesse: <http://www.fnazca.com.br/> 5 O objetivo geral da pesquisa TIC Domicílios é medir o acesso e os usos da população brasileira em
relação às tecnologias de informação e comunicação. O período de realização da pesquisa foi de outubro
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Desenvolvimento da Sociedade da Informação – CETIC.br - com base no percentual de
usuários da internet no ano de 2014, com 94, 2 milhões.
A Pesquisa de Mídia deste ano também mostra que o Facebook é a rede com
maior adesão. “Entre os internautas, 92% estão conectados por meio de redes sociais,
sendo as mais utilizadas o Facebook (83%), o WhatsApp (58%) e o Youtube (17%)”
(BRASIL, 2015).
Todos esses dados acima mostram que o consumo e a interação com a mídia tem
mudado completamente. Conforme aponta Juliana Baptista (2014, p.21), “O século XXI
pode ser considerado como a era digital. As ferramentas da internet como blogs e redes
sociais, e as novas tecnologias da telefonia celular estão influenciando os rumos da
própria cultura”.
Assim sendo, a internet passa a ser onipresente e significa que qualquer um, em
qualquer lugar, pode explorar essa grade informacional móvel, com milhões de ideias se
disseminando de uma tela para outra (PENENBERG, p.74). A qualquer momento o
internauta interage. Ele quer ver sua foto postada nos veículos de comunicação, ele
comenta, curte, compartilha, critica, se posiciona. Sua relação com os veículos mudou
completamente, muito por causa do estímulo da convergência.
1.1 Convergência
Como a própria etimologia da palavra indica, convergência significa convergir, é
possibilitar que caminhos se encontrem. Pensando na convergência midiática, temos
então que as várias mídias, essencialmente de um único veículo, precisam afluir seus
conteúdos. Como aponta Henry Jenkins (2009, p.42) “a convergência envolve uma
transformação tanto na forma de produzir quanto na forma de consumir os meios de
comunicação”.
Convergência é um conceito amplo que envolve muitas vertentes, tem-se a
tecnológica, a midiática, a tecnológica, a da cultura. Não nos cabe aqui aprofundar o
assunto, contudo, cabe expor que hoje, momento em que seguimos uma lógica na qual
equipamentos diferentes se conectam e produtos comunicacionais se inter-relacionam,
de 2014 a março de 2014. Foram realizadas 19.211 entrevistas em 349 municípios brasileiros. Para saber
mais acesse: <http://cetic.br/media/analises/tic_domicilios_2014_coletiva_de_imprensa.pdf>
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passa-se a exigir que as produções midiáticas não sejam mais isoladas. Não basta mais
produzir para um único veículo, as produções precisam ser otimizadas, especialmente,
na esfera digital. Nesse sentido, Jenkins (2009, p.50-51, grifo nosso) aponta:
Estamos entrando numa era de longa transição e de transformação no
modo como os meios de comunicação operam. Não haverá nenhuma
caixa preta mágica que colocará tudo em ordem novamente.
Produtores de mídia só encontrarão a solução de seus problemas
atuais reordenando o relacionamento com seus consumidores. O
público, que ganhou poder com as novas tecnologias, que está
ocupando um espaço na intersecção entre os velhos e os novos meios
de comunicação, está exigindo o direito de participar intimamente da
cultura. Produtores que não conseguirem fazer as pazes com a nova
cultura participativa enfrentarão uma clientela declinante e a
diminuição dos lucros. As contendas e as conciliações resultantes irão
redefinir a cultura pública do futuro.
Para o autor, o sentido que a convergência carrega vai contra o processo
tecnológico que reúne várias funções dentro de um único aparelho. “A convergência
representa uma transformação cultural, à medida que os consumidores são incentivados
a procurar novas informações e fazer novas conexões em meio a conteúdos midiáticos
dispersos” (JENKINS, 2009, p.27-28).
Esse cenário impacta diretamente no desempenho dos veículos Jornalísticos,
muitas vezes, acostumados a escreverem o que queriam e para quem imaginavam, hoje,
o jornalista se vê obrigado a inserir diversos públicos em todo o processo jornalístico e,
ainda, a ficar à espera da reação de seus consumidores.
2. Jornalismo e Facebook
Para compreender a relação entre Facebook e jornalismo a partir da adequação
da informação na plataforma digital é importante que o tema seja visto do ponto de vista
da produção, mas também do consumo, particularmente, na perspectiva da participação
dos consumidores/leitores, pois eles são a razão de existir dos jornais. Jenkins (2009,
p.27) afirma que a circulação de conteúdos por meio de diferentes sistemas midiáticos
depende fortemente da participação dos consumidores.
O Facebook iniciou suas atividades em 04 de janeiro de 2004 e de lá pra cá mais
de um bilhão de pessoas ao redor do mundo se conectaram a rede. Mark Zuckerberg
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fundador e Chefe Executivo do Facebook há 11 anos criava uma das plataformas
digitais mais envolventes e atrativas da história. No início era um site simples, mas
eficiente. Bastava um endereço de correio eletrônico da Universidade de Harvard,
instituição onde Zuckerberg estudava, para que o registro no site fosse efetuado. Os
alunos criavam seus perfis e em seguida poderiam fazer amizade com outros alunos. O
Thefacebook.com decolou rapidamente, cerca de sete mil estudantes haviam se
registrado na rede ao fim do mês. E isso foi só o começo (PENENBERG, 2010, p.180-
183).
Talvez, nem mesmo Zuckerberg cogitava que a experiência do usuário por meio
do Facebook, já sem o “the” pudesse causar tantos impactos de ordem econômica,
social, cultural, política e comunicativa. A missão do Facebook “é dar às pessoas o
poder de compartilhar e tornar o mundo mais aberto e conectado” (FB, online, 20156).
Certamente, as pessoas estão a cada dia mais conectadas. Na rua, em casa, no
supermercado, no trabalho, no cinema, no restaurante e em qualquer lugar, basta um
dispositivo com conexão à internet.
Rede social é comumente utilizada como sinônimo para Facebook, Twitter,
Instagram etc, no entanto, o conceito de rede é amplo e antigo e não está
necessariamente atrelado à internet. Mas como nosso intento neste trabalho diz respeito
à “rede social Facebook”, faremos alguns apontamos. A plataforma Facebook não é
exatamente uma rede social digital. Ela é um site de rede social, que ao agregar pessoas
torna-se uma rede. Recuero (2010, online) corrobora com esse apontamento ao dizer
que rede social é uma metáfora para grupos sociais.
Para Kozinets (2014, p.52-53) uma rede é composta de “um conjunto de atores
ligados por um conjunto de laços relacionais. Os atores, os ‘nodos’, podem ser pessoas,
equipes, organizações, ideias, mensagens ou outros conceitos”. O fato é que ao se
conectar em redes as pessoas ganham visibilidade em seus grupos e exponham suas
identidades, como diz Baptista (2014, p.35) a “visibilidade na rede faz com que os
usuários se comuniquem e tenham impressões uns dos outros. No caso do Facebook o
6 Disponível em <https://www.facebook.com/FacebookBrasil/info/?tab=page_info> Acesso em: 01 de
out. de 2015.
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indivíduo constrói sua personalidade interagindo com páginas de seu gosto”. Assim,
sendo as empresas passam a ficar mais relacionadas com o perfil de seus usários,
partindo disso, utilizamos o próximo tópico para detalhar como alguns autores tem
projetado o uso do facebook para adequá-lo ao processo jornalístico.
2.1 Nem tudo que cai na rede é peixe
O Facebook não foi criado para que atividades jornalísticas fossem
desenvolvidas e otimizadas por meio dele, mas é fato que com o tempo as empresas
jornalísticas e seus funcionários perceberam que esta rede facilitava o processo
jornalístico em suas várias etapas, da produção à apuração, da recirculação à
ressignificação de conteúdos.
Dessa forma, por meio da plataforma do Facebook passa a ser possível encontrar
pautas e fontes, mensurar e propagar a produção jornalística. Alguns livros e pesquisas
já discutem a relevância das mídias sociais para as organizações. Contudo, não
encontramos produções específicas que relacionam detidamente o uso dessas mídias por
organizações que sejam jornalísticas, que possuem algumas particularidades frente aos
outros tipos de empresas. Assim sendo, com base em várias leituras que fizemos
levantamos algumas características que seriam necessárias ao bom uso da rede, as quais
auxiliaram na composição das categorias para a nossa análise que será explicitada mais
adiante.
Primeiro é preciso contextualizar que de fato o uso de redes sociais pelo
jornalismo é algo relativamente novo e que, por consequência, muitos profissionais não
possuem formação para lidar com esta ferramenta. Aliás os próprios cursos e
especializações em mídias digitais ainda são poucos e muito concentrados na região
sudeste. Para se ter uma melhor noção desse cenário, O Estado de São Paulo e a Folha
de São Paulo, dois importantes jornais impressos do país aderiram ao Facebook há cinco
anos atrás.
As páginas analisadas nesta pesquisa, Folha de São Paulo e Estadão,
criaram suas respectivas páginas no Facebook no ano de 2010, quando
um grande número de leitores já estava presente nas redes e tinham a
necessidade de consumir informações naquela plataforma. Já no
Twitter, a Folha aderiu a mesma época, em março do 2010, e o
Estadão em abril de 2009 (BAPTISTA, 2014, p.43).
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Até então o alcance e o aceite das produções jornalísticas eram mensuradas a
partir das assinaturas e das edições impressas vendidas e, hoje, como afirmam Zago e
Bastos (2013, p.117) “[...] novas métricas passam a ser consideradas: acesso às notícias
e o tempo de permanência no site do jornal”. Assim sendo, a quantidade de curtidas, de
compartilhamento e de comentários passam a fazer parte dos novos indicativos que
permitem mensurar o alcance das publicações.
Aliás, levar os comentários em considerações e não deixar os usuários sem
respostas é uma importante atuação dos jornalistas que lidam com as páginas dos jornais
no Facebook. Como explica Baptista (2014, p.13) “saber lidar com interações em tempo
real e usuários críticos que tem poder de opinar e ganhar visibilidade dentro de um
enorme grupo de pessoas”.
Ao lidar com usuários é preciso entender que rapidez e agilidade nas respostas
tornam-se essenciais. Nesta mesma perspectiva, apagar post criticados e excluir críticas
do perfil institucional é um grande erro, pois demonstra falta de transparência e de
aceite de erros por parte do veículo. Além disso, uma vez que algo entra na rede
dificilmente sairá de lá. Para exemplificarmos essa questão, traremos um post feito pela
Folha de São Paulo.
No dia 15 de outubro de 2015 o jornal publicou a notícia ocorrida nos Estados
Unidos intitulada como “Jovem é espancado até a morte pelos pais em Igreja nos EUA”
e como chamada para o conteúdo escreveu: “Coisas que só as igrejas fazem por você”,
conforme mostra a imagem a seguir.
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Como era de se imaginar a chamada para o post gerou muita repercussão e
muitas críticas. Contudo, a Folha nem respondeu aos comentários e nem se desculpou,
ela simplesmente “apagou” o post. Associamos ainda, que tal atitude errônea na rede
está relacionada a outra característica: a não compatibilidade do conteúdo com o perfil
editorial do veículo. Adequar o conteúdo às características da rede é algo importante,
contudo essa adaptação não pode desconsiderar o perfil do veículo, suas posturas e o
tipo de público que possui. Afinal, nem tudo o que cai na rede é peixe, é notícia, é
informação, é conteúdo. Uma vez postado na rede não pode simplesmente ser
silenciado, pois os públicos, já não podemos mais falar em público-alvo (BUENO,
2014) são exigentes e participativos.
Dessa forma, assim como qualquer mídia o Facebook precisa ter seus conteúdos
adaptados a ela, contudo, que sigam a linha editorial da empresa jornalística. No que
tange à adaptação outras duas questões são importantes: o ajuste da linguagem, que
deve ser mais informal, descontraída e está associada a textos mais curtos e o uso de
imagens. Conforme Zago e Bastos (2013, p.130) “o uso de imagens no Facebook, por
exemplo, tende a estar associado a um maior número de “curtidas”, o que pode ajudar a
explicar a quantidade de replicações nas postagens”. Exposto algumas condutas
necessárias para que o jornalista lide com a página institucional do Facebook, passamos
a analisar de que forma elas se fazem presentes em alguns dos posts do jornal O Globo.
3 - Aplicando os conceitos apreendidos em páginas do Facebook
3.1- Contexto metodológico
Por estarmos mergulhadas neste universo ubíquo e veloz buscamos apoio em
procedimentos metodológicos que nos ofertasse arcabouço teórico e prático para às
análises. Para tanto, apoiadas em alguns dos pressupostos da netnografia fizemos uma
observação e análise de dados no Facebook do jornal O Globo.
De forma geral, a netnografia adapta os procedimentos etnográficos comuns da
observação participante às particularidades da interação social mediada por computador.
Conforme aponta Robert Kozinets (2014, p.61-62),
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A netnografia é pesquisa observacional participante baseada em
trabalho de campo online. Ela usa comunicações mediada por
computador como fonte de dados para chegar à compreensão e à
representação etnográfica de um fenômeno cultural ou comunal.
Portanto, assim como praticamente toda etnografia, ela se estenderá,
quase que de forma natural e orgânica, de uma base na observação
participante para incluir outros elementos, como entrevistas,
estatísticas descritivas, coletas de dados arquivais, análise de caso
histórico estendida, videografia, técnicas projetivas como colagens,
análise semiótica e uma série de outras técnicas [...].
Vale frisar que nem todo o tipo de pesquisa que se realiza na internet pode ser
chamado de netnografia, tem-se outras modalidades como a análise de redes,
levantamento, métricas etc. A netnografia, contudo, pode ser mesclada a outros tipos de
pesquisa e requer um conjunto de diretrizes para a sua realização. Planejamento,
entrada, coleta e análise de dados, como veremos adiante, netnografia ética etc fazem
parte dos elementos que compõe este conjunto (Kozinets, 2014).
Durante a coleta e análise de dados três tipos de capturas são importantes: dados
arquivais, dados extraídos e dados de notas de campo (KOZINETS, 2014, p.92).
O primeiro tipo de captura consiste em copiar diretamente de comunicações
mediadas por computador preexistentes, tais como os dados da página, blog, site da
comunidade ou grupo observado, assim como fotografias, trabalhos de arte e arquivos
de som, dados cuja criação e estimulação o pesquisador não esteja diretamente
envolvido.
O segundo tipo refere-se aos dados extraídos que o pesquisador cria por meio da
interação com os membros, tais como: dados levantados por meio de entrevistas por
correio eletrônico, bate-papo, mensagens instantâneas etc.
O terceiro tipo de captura diz respeito às notas de campo extraídas pelo
pesquisador. É um tipo específico de coleta de dados sobre as práticas comunicacionais
dos membros das comunidades ou grupos, sobre as interações, e principalmente a
própria experiência do pesquisador.
No entanto, como temos ciência de que para a realização de netnografia faz-se
necessário uma imersão no universo a ser pesquisado, em nosso caso, a página do Jornal
O Globo no Facebook, optamos pela autonetnografia. Para Adriana Amaral (2009, p.15)
esta técnica é uma ferramenta reflexiva que “possibilita discutir os múltiplos papéis do
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pesquisador e de suas proximidades, subjetividades e sensibilidades na medida em que
se constitui como fator de interferência nos resultados e no próprio objeto pesquisado”.
Já Kozinets (2014, p.168) afirma que autonetnografia “é um estilo mais participativo e
autobiográfico de netnografia, que observa mais de perto a reflexão pessoal em primeira
mão como apreendida em notas de campo”.
Sendo assim, a autonetnografia (AMARAL, 2009, KOZINETS, 2014) pode ser
empreendida não como um tipo particular de netnografia, mas como forma de reflexão
advinda da própria experiência e observação do pesquisador. Indica um dos níveis de
proximidade na relação entre o pesquisador e o(s) grupo(s) online observado(s).
À primeira vista pode parecer limitado expormos nossas impressões,
observações e o resultado da análise dos dados extraídos. No entanto, é só à primeira
vista, pois os dados arquivais e as notas de campo foram coletados e analisados
conjuntamente, pois o processo de análise não está separado da coleta.
No entanto, para a autonetnografia na página do jornal O Globo no Facebook,
trabalhamos com os dados arquivais e com as notas de campo. E optamos por salvar os
dados como imagens de tela capturada, além de transcrever trechos dos comentários que
consideramos pertinentes. Organizamos as mensagens por categorias, dentre as quais
destacamos oito. São elas:
1) Uso de imagens
2) Curtidas
3) Compartilhamento
4) Comentário
5) Respostas aos comentários; Quais, negativos, positivos?
6) Adaptação de linguagem (usa o mesmo texto do site ou foi modificado)?
7) Conteúdo de cobertura real?
8) Conteúdo originado na própria rede?
3.2 Análise e breves considerações
Como exposto no início deste artigo, coletamos e analisamos os últimos dez
posts do dia 23 de outubro de 2015. Na verdade, se trata mais de um exercício de
aplicação das categorias discutidas teoricamente nos itens anteriores que nos permitem
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encontrar alguns indícios sobre a forma como a página oficial do Facebook do O Globo
é ministrada.
A página conta com 4.340.771 curtidas, ou seja, mais de 4 bilhões de pessoas
associam o Jornal ao seu perfil. Contudo, quando pegamos os posts para analisarmos
temos que o conteúdo mais curtido conteve apenas 5.655 curtidas, um número pífio se
comparado a quantidade de usuários que a página possui. O gráfico abaixo mostra a
quantidade de curtidas por postagens:
Se somarmos todas as curtidas temos um pouco mais de 16 mil, um número
ainda muito pequeno se comparado a quantidade de usuários da página. Se analisarmos
o número de compartilhamentos veremos também que os dados são poucos
representativos. O único conteúdo que ultrapassa mil compartilhamentos é o “Furacão
Patrícia chega ao México” que foi também o que obteve mais curtidas.
279 338 1289
5655
500 1381
2065
2180
1194
1713
Curtidas por post
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De todos os dez posts analisados não encontramos respostas do veículo a
nenhum perfil que tenha realizado comentário. Tal postura é contraditória ao que o
veículo anuncia: “Olá! Este é um ponto de encontro, um espaço para a conversa em
torno de ideias e notícias. 'Curta' a nossa página e seja bem-vindo(@)”. Com o silêncio
que mantém em sua página, o veículo para não se incluir na conversa que ele próprio
propõe.
Ainda sobre a interatividade de seu público, o Jornal tenta estabelecer em seu
perfil algumas normas de conduta. Segundo seu perfil oficial:
Aqui, postamos notícias que podem nos fazer rir, chorar, inspirar e
indignar. Queremos a sua opinião, sempre. O debate é necessário e
saudável e nos ajuda a compreender o que vocês pensam e o que
desejam. Discordar faz parte, mas pedimos que as manifestações
sejam pautadas pelo respeito ao outro. Afinal, ninguém gosta de ler
ataques pessoais, palavras obscenas, textos comerciais e spam. Por
isso, comentários contendo insultos, difamações e links que não
estejam relacionados ao assunto discutido no post estão sujeitos à
avaliação da equipe de Mídias Sociais e podem ser deletados.
Notamos que esse cuidado de mediador a que o veículo se propõe, na verdade,
ele não consegue cumprir. Encontramos, além spam, várias palavras de baixo calão
como, por exemplo, “merda”, “caralho” e “fudedor de pepeka”, entre outras. Além
disso, há comentários que se dirigem diretamente a ao perfil e não são respondidos
como o de um usuário que pede autorização para a divulgação de um documentário feito
por ele:
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Há também vários comentários criticando os conteúdos postados, especialmente
o que aborda a novela das 9 da emissora, intitulado “Em A regra do Jogo, Orlando
entrará na mira de Dante”. Nele, há reações como: “com tanta notícia importante, vão
logo postar algo sobre novela”, “me poupem”, “essa notícia acrescentou tanto... Estão
brincando né?!”, “não tenho tempo a perder com porcaria”. Nenhum comentário foi
respondido.
Considerações
Sobre os conteúdos postados no período analisado, verificamos ainda que
nenhum teve origem na própria rede e nenhum deles era uma cobertura real de algum
fato. Por fim, sobre a linguagem não há nenhuma adequação com a da internet, não há o
uso de emoticons, nem de termos mais “leves” ou mais dialogados. Contudo, todas as
postagens seguem um padrão com links embedados e uma frase curta que complementa
o título do conteúdo postado, a qual geralmente compõe a notícia.
Todavia, a linha editorial do jornal segue um padrão, mas não adequa o uso da
rede às suas potencialidades. Serve, na verdade, apenas como repositório de conteúdo.
O que demonstra que nem todos os grandes conglomerados de comunicação estão
atentos as novas dinâmicas do mercado consumidor potencializados pelas tecnologias
de informação e informação. Não basta simplesmente estar na rede é preciso navegar de
acordo com a maré.
Referências
BAPTISTA, Juliana. Jornalismo nas redes sociais: o uso do Facebook pelos jornais
Estadão e Folha de São Paulo. Monografia. Bauru: Unesp, 2014. Disponível em:
http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/118181/000810854.pdf?sequence=1.
Acesso em 30 de outubro de 2015.
BRASIL, Presidência da República. Pesquisa brasileira de mídia 2015: hábitos de
consumo de mídia pela população brasileira. Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República. Brasília: Secom, 2015.
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BUENO, Wilson. Comunicação empresarial: da Rádio Peão às Mídias Sociais. São
Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2014, 239p.
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 1ª reimpressão. São Paulo: Aleph, 2009,
379p.
KOZINETS, Robert. V. Netnografia: Realizando pesquisa etnográfica online. Porto
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LÉVY, Pierre. Cibercultura. 3ª edição – 2ª reimpressão. São Paulo: Editora 34, 2014.
PENENBERG, Adam. Viral Loop: como o crescimento viral transformou o Youtube, o
Facebook e Twitter em gigantes e converteu audiência em receita. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010, 238p.
ZAGO, Gabriela da Silva; BASTOS, Marco Toledo. Visibilidade de notícias no Twitter
e no Facebook: análise comparativa das notícias mais repercutidas na Europa e nas
Américas. Brazilian Journalism Research - Volume 9 - Número 1 – 2013. Disponível
em http://tecjor.net/images/5/5f/Marcotoledobastosgabrielazago.pdf. Acesso em 30 de
outubro de 2015.
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